globalização e poder de estado: circulação internacional ... ·...

30
A ascensão de agentes portadores de maior capital internacional no espaço do poder político e econômico tem sido destacada por es- tudos que enfocam o perfil e os recursos mobilizados pelos grupos di- rigentes, especialmente nos países periféricos 1 . A formação acadêmica no exterior e a inserção em redes internacionais de comércio, de mili- tância política e de cooperação científica contribuem para a emergên- cia ou o reforço de posições de poder no âmbito nacional. A repercussão no espaço doméstico das diversas espécies de capital in- ternacional mobilizadas pelas elites políticas, burocráticas e acadêmi- cas está diretamente relacionada a outras modalidades de recursos, dentre os quais podemos destacar: o capital escolar, o capital familiar e os trunfos acumulados em trajetos profissionais anteriores e combina- dos com a “passagem internacional”. Logo, uma das possibilidades de apreender a importância adquirida por essa forma de recurso é verifi- car sua presença nos trajetos dos agentes que ocupam posições de elite em um campo social determinado. 487 * Este artigo resulta do projeto de pesquisa Globalização e Rule of Law: as disputas em tor- no do sentido político do sistema judicial brasileiro que contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agradeço as sugestões apresentadas pelos pareceristas anônimos da DADOS que contribuíram muito para o en- riquecimento da versão final. DADOS – Revista de Ciências Sociais , Rio de Janeiro, vol. 55, n o 2, 2012, pp. 487 a 516. Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias do Campo Jurídico Brasileiro* Fabiano Engelmann Professor do Departamento de Ciência Política e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: [email protected].

Upload: vandan

Post on 08-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A ascensão de agentes portadores de maior capital internacional noespaço do poder político e econômico tem sido destacada por es-

tudos que enfocam o perfil e os recursos mobilizados pelos grupos di-rigentes, especialmente nos países periféricos1. A formação acadêmicano exterior e a inserção em redes internacionais de comércio, de mili-tância política e de cooperação científica contribuem para a emergên-cia ou o reforço de posições de poder no âmbito nacional.

A repercussão no espaço doméstico das diversas espécies de capital in-ternacional mobilizadas pelas elites políticas, burocráticas e acadêmi-cas está diretamente relacionada a outras modalidades de recursos,dentre os quais podemos destacar: o capital escolar, o capital familiar eos trunfos acumulados em trajetos profissionais anteriores e combina-dos com a “passagem internacional”. Logo, uma das possibilidades deapreender a importância adquirida por essa forma de recurso é verifi-car sua presença nos trajetos dos agentes que ocupam posições de eliteem um campo social determinado.

487

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

* Este artigo resulta do projeto de pesquisa Globalização e Rule of Law: as disputas em tor-no do sentido político do sistema judicial brasileiro que contou com apoio do ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Agradeço as sugestõesapresentadas pelos pareceristas anônimos da DADOS que contribuíram muito para o en-riquecimento da versão final.

DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 55, no 2, 2012, pp. 487 a 516.

Globalização e Poder de Estado: CirculaçãoInternacional de Elites e Hierarquias do CampoJurídico Brasileiro*

Fabiano EngelmannProfessor do Departamento de Ciência Política e do Programa de Pós-Graduação em CiênciaPolítica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail:[email protected].

O presente artigo pretende discutir a relevância do capital internacio-nal na hierarquização de um segmento específico tradicionalmente de-tentor de grande fatia do poder de Estado: os juristas. Ao estudar seuspercursos e a relação com as expertises jurídicas, tem-se uma portaaberta para investigar a reconfiguração do poder de Estado. Como as-sinala Abel (1998), o Estado age através do Direito e, consequentemen-te, pode ter sua autoridade direcionada por sentidos do Direito queprevalecem em determinados contextos.

“GLOBALIZAÇÃO POLÍTICA”, CAPITAL INTERNACIONAL ERECOMPOSIÇÃO DO CAMPO DO PODER

O fenômeno da produção e difusão de expertises sobre o Estado – bemcomo os efeitos de resistência às “prescrições globais” – pode ser estu-dado a partir do grau de investimento das diversas configurações deelites no espaço internacional. Nesse sentido, a “globalização política”é abordada como um prolongamento das “guerras palacianas”, nasquais as batalhas em torno de definições de modelos institucionais sãovinculadas à disputa dos diversos grupos dirigentes pelo poder políti-co em um espaço crescentemente internacionalizado.

Conforme a definição de Bourdieu (1989), as “guerras palacianas” im-plicam não apenas disputas pelo controle do Estado, mas também defi-nições legítimas das instituições. Logo, para a compreensão das “pres-crições globais”, a análise do “conhecimento científico” a respeito dosmodelos institucionais e das condições de sua apropriação são dimen-sões fundamentais no estudo do acesso de indivíduos e grupos ao es-paço decisório.

Pode-se afirmar que o grau de internacionalização de um campo espe-cífico é diretamente proporcional à variação da relevância do capitalinternacional na trajetória dos grupos dirigentes. Esta espécie de capi-tal pode ser definida como o conjunto de recursos detidos por grupos eindivíduos, certificado em títulos acadêmicos, honoríficos ou deriva-do de contatos e relações estabelecidas com elites e instituições estran-geiras.

Quando se pauta como objeto a relação entre dinâmicas centrais naprodução de conhecimento e países que podem ser considerados peri-féricos, a circulação internacional das elites e sua afirmação como me-diadora de formatos institucionais assumem um papel-chave. Os benssimbólicos importados são redefinidos pelas diversas estratégias enta-

488

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

buladas nas disputas entre os segmentos da elite política e intelectual,tal como referem Badie e Hermet (1990) e Badie (1992), ao examinaremo longo processo de “ocidentalização da ordem política” em contextosperiféricos.

A análise da diversidade das condições de legitimação do capital inter-nacional acumulado por elites cosmopolitas também contribui paraevitar-se uma associação mecânica entre a “globalização” e a formaçãodos grupos dirigentes e especialidades acadêmicas. Ou seja, em deter-minados espaços, frações mais cosmopolitas das elites não se super-põem necessariamente a camadas com menor capital internacionalcom condições de movimentar recursos derivados de relações sociais,educacionais, políticas e profissionais ancoradas localmente. Essa va-riedade de mecanismos mobilizados corresponde às diversas disputaspelo sentido das instituições e princípios que permeiam as esferaspolíticas.

O reconhecimento do modelo americano de gestão do Estado e da ma-croeconomia na América Latina nas décadas de 1980 e 1990 pode serrelacionado à disputa entre elites pelo controle de recursos estatais edo saber legítimo sobre a gestão pública, em especial entre juristas quemobilizam uma tradição humanística e economistas relacionados aum saber-fazer econômico calcado na modelização matemática2.

Em grande medida, a legitimação internacional do modelo americanode gestão passa pela obtenção – por think-thanks3 – de posições no âm-bito de universidades, fundações de financiamento de pesquisa eagências financeiras nacionais de fomento, como o Banco Mundial e oFundo Monetário Internacional (FMI). Assim, sedimentam-se interna-cionalmente modelos relacionados à história específica do desenvolvi-mento das multinacionais americanas, como analisa Dezalay (2004).

No caso do Brasil, um conjunto de trabalhos que tem por foco a circula-ção internacional de elites4 e o intercâmbio universitário mostra a im-portância das estratégias internacionais na recomposição dos gruposdirigentes e o espaço universitário como lócus de redefinições do senti-do das instituições.

No que concerne aos cientistas políticos, Forjaz (1997) e Canedo (2009)indicam a ação da Fundação Ford através da concessão de bolsas de es-tudo para a formação da primeira geração de acadêmicos brasileiros,recrutada majoritariamente entre alunos da Universidade Federal de

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

489

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

Minas Gerais (UFMG) e com formação de pós-graduação em universi-dades americanas. O grupo que construiu o espaço da ciência políticano âmbito das ciências sociais brasileiras foi fundamental para a liga-ção com centros acadêmicos americanos e para a recepção de modelosde ciência política no Brasil. Em especial, evidenciou-se a batalha noâmbito das ciências sociais pela abordagem da “política como variávelautônoma”, bem como fundamentou a formação de outras geraçõesvinculadas a diversas agências americanas. O processo de legitimaçãodesse grupo e da autonomia disciplinar da ciência política envolveu adisputa com grupos acadêmicos já constituídos que detinham o mono-pólio do estudo das instituições brasileiras, como os bacharéis em Di-reito e os sociólogos ligados, por exemplo, à Universidade de SãoPaulo (USP).

Com maior êxito do que os cientistas políticos ao elaborarem espaçosno interior de arenas decisórias, os economistas, como indica Loureiro(1997), legitimaram-se na construção do monopólio da formulação econdução de políticas macroeconômicas no Brasil ao longo da décadade 1970. A intensificação da formação em universidades americanascoadunou-se com o deslocamento dos modelos de cultura econômica eseus representantes, vinculados a uma geração desenvolvimentistapelo grupo formado na linha monetarista. Esta última, ao ascender aposições-chave nos ministérios que definem as políticas macroeconô-micas na década de 1990, contribuiu para a recepção no Brasil dos mo-delos das agências de ajuda ao desenvolvimento e para a propagaçãodas teses do ajuste das economias na América Latina.

Pode-se mencionar também, como caso representativo da estreita rela-ção entre a formação estrangeira e a recomposição de expertises no es-paço doméstico, a formação mais recente dos especialistas em Admi-nistração. Os conhecimentos em administração e gestão são perme-ados por processos de diversificação e recomposição homólogos à ex-pansão das empresas brasileiras que, ao longo da década de 1990 e emfunção dos processos de abertura da competição econômica interna-cional, passam a se adequar com maior velocidade às regras de compe-tição. A passagem dos executivos por Master Business of Administration(MBAs) nos Estados Unidos torna-se obrigatória, assim como paraprofissionais oriundos de outras especialidades disciplinares, que sereconvertem a “gestão” e se afinam com a recomposição das organiza-ções empresarias e dos perfis dos patrons brasileiros (Grün, 2004;López-Ruiz, 2007).

490

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

Nesse contexto geral, de estreitamento da relação entre formação devínculos internacionais, absorção de modelos e conquista de espaçosde poder no âmbito doméstico, pode-se perguntar como fica o caso dosjuristas, cujo poder é fortemente ancorado na força do Estado nacional.

CAPITAL INTERNACIONAL DOS JURISTAS E HIERARQUIZAÇÃO DOCAMPO JURÍDICO

Em trabalho sobre a América Latina, Dezalay e Garth (2002) enfocam opapel da circulação internacional das tecnologias institucionais e dasdefinições do Direito, em que se firmam um polo produtor (Europa e,mais recentemente, Estados Unidos) e um polo importador (Brasil eAmérica Latina). Esse fluxo de modelos e problemáticas envolve suaassimilação e uso para a legitimação de determinados grupos dirigen-tes nacionais. Uma das dimensões mais evidentes desse fenômeno,conforme Dezalay e Garth (ibidem), são as estadas acadêmicas em paí-ses centrais, que proporcionam a acumulação de capital internacionale que, em muitos casos, projetam grupos como intermediários na ex-portação de modelos e tecnologias dos países centrais para os periféri-cos.

Para uma melhor verificação da hipótese dos autores quanto à circula-ção dos juristas brasileiros e à reconversão das modalidades de capitalinternacional acumulado em posições de poder doméstico, há necessi-dade de incluir indicadores que apontem maior detalhamento das re-lações estabelecidas entre os importadores e sua validade em camposespecíficos. Essas estratégias de importação podem envolver tanto areconversão de setores tradicionais, mas com posições sociais ameaça-das, quanto a legitimação de novos grupos de juristas.

A definição de campo jurídico desenvolvida por Bourdieu (1986) aten-ta para o estudo da relação entre os recursos acumulados pelos agentese as posições e os sentidos atribuídos às suas práticas. Conforme Bour-dieu (ibidem), este campo funciona a partir da concorrência entre osagentes que definem o sentido da justiça e o conhecimento jurídicoconstruído na forma de doutrinas:

As práticas e os discursos jurídicos são, com efeito, o produto do fun-cionamento de um campo cuja lógica específica está duplamente deter-minada: por um lado, pelas relações de força específicas que lhe confe-rem a sua estrutura e que orientam as lutas de concorrência, ou maisprecisamente, os conflitos de competência que nele têm lugar e, por ou-

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

491

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

tro lado, pela lógica interna das obras jurídicas que delimitam em cadamomento o espaço dos possíveis e, deste modo, o universo das solu-ções propriamente jurídicas (Bourdieu, 1986:3-4).

No Brasil, a tradição de escolas de pensamento, a produção doutriná-ria e a legitimidade política do monopólio de enunciar a justiça desde oImpério5 estão diretamente relacionadas à posição ocupada (perma-nente ou passageira) no âmbito do Estado e com os vínculos mantidoscom a matriz europeia de sistema jurídico. Entretanto, a emergência desetores especializados em produção intelectual – como o ensino depós-graduação e a expansão de grandes sociedades de advogados – in-troduz novas categorias de atores, ampliando a batalha simbólica quecerca o espaço da justiça. Destaca-se a crescente concorrência de insti-tutos típicos do Direito anglo-americano, particularmente no domínioda regulação econômica e nas práticas de arbitragem comercial.

No caso do campo jurídico, os efeitos da internacionalização – tantono sentido da redefinição das instituições judiciais, quanto no au-mento da relevância do capital internacional na sua hierarquização –demandam estudos mais aprofundados. Nesse sentido, pretende-se,através da exposição de uma análise de percursos dos ocupantes deposições de destaque nesta área, propor questões de pesquisa sobreessa temática.

NOTA SOBRE A CONSTRUÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA

Consideraram-se para a construção da pesquisa, três grandes dimen-sões do campo jurídico brasileiro: o espaço acadêmico, o espaço do po-der judicial e o espaço da advocacia.

A inclusão do espaço acadêmico justifica-se pela crescente importân-cia e exponencial aumento da titulação acadêmica de pós-graduaçãoem Direito e pelo fenômeno da profissionalização deste espaço a partirda segunda metade da década de 1990 (Engelmann, 2006). Assim,nota-se que aqueles que concentram maior número de atributos pro-priamente acadêmicos (titulação de doutorado, publicações em revis-tas acadêmicas, circulação internacional, entre outros que são funda-mentais para a ocupação da posição de docente em pós-graduação) re-presentam um grupo relativamente pequeno em relação ao conjuntodos professores posicionados no ensino de graduação e com titulação eatributos acadêmicos menores6.

492

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

O espaço judicial é composto por todos aqueles que exercem a funçãoda magistratura e outras carreiras jurídicas de Estado, incluindo tam-bém a advocacia. Tendo em vista a hierarquização institucional do po-der Judiciário, pode-se afirmar que uma das principais posições de eli-te é dada pela ocupação de postos de ministros em tribunais supe-riores. Dentre estes, optou-se por enfocar como representativos os mi-nistros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal deJustiça (STJ) – posicionados nas duas mais importantes cortes – consi-derando a diversidade de matérias e a repercussão pública das deci-sões. Neste caso, a posição na elite jurídica é assegurada, principal-mente, pelos recursos institucionais de exercício de um poder de Esta-do que estes indivíduos concentram.

Finalmente, a inclusão do espaço dos advogados justifica-se pelo con-junto de estudos7 que evidenciam o crescimento de um modelo de ad-vocacia no Brasil, relativamente próximo ao das grandes firmas ameri-canas. Conforme esses trabalhos, o crescimento de escritórios de advo-cacia com um grande número de sócios, sedes no exterior e vinculadosà representação de interesses de empresas multinacionais gera impac-to na redefinição do mercado advocatício no Brasil. Dessa forma, osprincipais sócios posicionados nessas sociedades, podem ser tomadoscomo representativos da elite da advocacia, em relação a escritóriosmenores com atuação local e com menor presença no mercado interna-cional.

Para fins de operacionalização da pesquisa, a exploração dos trajetosprofissionais e acadêmicos apresentada neste texto resulta de três po-los da elite jurídica brasileira: (1) os professores de Direito atuando noscursos de pós-graduação entre 2006 e 2007; (2) os advogados membrosdas sociedades de advogados brasileiras; e (3) os ministros do STJ e doSTF atuando entre 2007 e 2008.

A pesquisa parte de uma primeira fase predominantemente objetivis-ta. Busca-se – através da comparação sistemática das trajetórias uni-versitárias, profissionais, políticas e informações biográficas gerais –identificar padrões de recursos e indicativos dos princípios de estrutu-ração da ascensão à cúpula do espaço jurídico dos segmentos estuda-dos. Uma segunda fase centra-se na análise qualitativa da produção in-telectual e nas tomadas de posição pública dos agentes, tendo por focoa relação dessa dimensão perspectivista com os dados construídos eapreendidos na primeira parte. Os dados que subsidiam o presente ar-

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

493

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

tigo não são apresentados de forma linear em função da disparidade elimitações das fontes utilizadas.

Para os professores universitários, foi realizada uma coleta de infor-mações na plataforma Lattes, do CNPq, no segundo semestre de 2006 eno início de 2007. Foram pesquisados os currículos de todos os profes-sores registrados em pós-graduações stricto sensu em universidadesbrasileiras. O total chegou a 650 casos (grandeza aproximada), vistoque diversos contêm informações incompletas, múltipla inserção emprogramas ou discrepâncias entre a listagem de professores fornecidano site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-rior (Capes) e os dados da plataforma. Do número analisado, che-gou-se a 123 casos que apresentaram alguma modalidade de estudo noexterior declarada no currículo, para os quais foram construídos osdados.

Para os advogados, foi utilizado, principalmente, o Anuário AnáliseAdvocacia 2007, que contém um ranking e um perfil das 474 maiores so-ciedades de advogados do Brasil. Este anuário é uma publicação comfins jornalísticos e fornece também um perfil dos sócios dos escritórios.Entretanto, não contém informações homogêneas e completas paratoda a população. Foram usadas fontes complementares, como a con-sulta ao site do Centro de Estudos das Sociedades de Advogados(CESA) e à revista Advogados-Mercados e Negócios do número 1-2005 aonúmero 8/ ano 2-2006.

Para os ministros do STF e STJ, foram consultadas as publicações Aná-lise Justiça de 2007 e a publicação Anuário da Justiça de 2008 e 2009. Asobras contêm dados biográficos relativamente homogêneos e perfis dedecisões judiciais a respeito de temas considerados jornalisticamentede “maior repercussão” ao longo do ano.

Para a construção dos dados sobre os percursos dos segmentos analisa-dos, foram feitos quadros comparativos com as seguintes categorias:(1) formação acadêmica (títulos universitários nacionais); (2) forma-ção no exterior (títulos universitários e escolares); (3) domínio de idio-ma estrangeiro; (4) carreira profissional e política (ocupações, postospúblicos ocupados, exercício de mandatos); e (5) informações indicati-vas de participações de ocupação de postos políticos ou em entidades.A comparação desses percursos permitiu relacioná-los às posiçõesocupadas e fornecer indicações sobre os recursos mobilizados pelosagentes pesquisados.

494

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

OS PROFESSORES E A EXPANSÃO DO CONHECIMENTO ACADÊMICOSOBRE O DIREITO

As condições de profissionalização e autonomização da carreira dosdocentes no ensino jurídico até a década de 1990 eram raras. O exercí-cio da docência representou historicamente uma honraria para os“bons práticos” ou “grandes juristas”, como apontam os trabalhos deAdorno (1988) sobre a Academia do Largo de São Francisco e VenâncioFilho (1977) sobre a história do ensino jurídico no Brasil, incluindo operíodo republicano. Na maioria dos casos, uma forma complementarde renda ou acúmulo de prestígio para detentores de postos no Judiciá-rio ou de escritórios de advocacia.

A profissionalização na atividade docente iniciou-se com mais força apartir da década de 1990, no contexto de mudança nas exigências de re-conhecimento dos cursos jurídicos por parte do Ministério da Educa-ção e de expansão do ensino privado de graduação e pós-graduação.Tais efeitos de conjuntura propiciaram a valorização dos títulos uni-versitários e a aposta de diversos bacharéis em Direito na dedicação aoensino como atividade principal8. A emergência da docência e o cresci-mento dos programas de pós-graduação acompanharam a recomposi-ção e o aumento do poder judicial, além da legitimação do monopóliodos juristas como “guardiões da Constituição” e das diversas “ques-tões sociais” formalizadas no contexto da redemocratização.

A ampliação da população com titulação de doutorado e ocupante daposição de professor integral em cursos de pós-graduação levou a umamaior valorização da qualificação no exterior. O uso da titulação dedoutorado e dos contatos acadêmicos obtidos em outros países, aliadoà apreensão e domínio das regras do jogo institucional das instânciasreguladoras, projetou grupos de docentes para o topo da carreira aca-dêmica.

O predomínio de estadas nos países europeus e a formação majorita-riamente vinculada ao Direito Público, entretanto, indicam a estreitavinculação do campo acadêmico do Direito com as demandas das prá-ticas judiciais advindas do contexto da redemocratização no Brasil. Ouseja, a redefinição das funções de Estado e a expansão do poder políti-co da magistratura e de outras carreiras jurídicas afinaram-se à legiti-mação dos produtos acadêmicos e à expansão massiva de programasde pós-graduação em Direito Público.

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

495

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

São importantes as indicações que mostram que diversos “juristas-práticos” investem em titulação acadêmica de pós-graduação e man-têm uma carreira híbrida, posicionando-se simultaneamente na cúpu-la do ensino universitário e nas carreiras de Estado. A análise do perfildos estudos no exterior e dos trajetos profissionais dos docentes contri-bui para melhor apreensão da natureza do capital internacional acu-mulado por esse segmento.

O estabelecimento de uma cronologia a partir da data de conclusão dosestudos no exterior permite indicações relevantes. Entre os casos anali-sados, o mais antigo concluiu curso no exterior em 1950 e o mais recen-te, em 2006. É no intervalo entre 1996-2006 que se concentra o maiornúmero de docentes com passagem pelo exterior. Predominam os paí-ses da Europa – Itália, Alemanha, Portugal, Espanha e França – comoos mais procurados. Os Estados Unidos aparecem em oito casos e o Ca-nadá em dois casos. A escolha desses países pode ser contrastada aocaso dos advogados fundadores dos maiores escritórios, majoritaria-mente sem atuação acadêmica. Eles realizam estudos no exterior, pre-dominantemente nos Estados Unidos, e com apoio financeiro familiarou mesmo das sociedades de advogados às quais se vinculam.

Observa-se, entre os docentes, que as estadas sem bolsa se concentramna Espanha, Itália e Portugal – os países mais procurados nesse inter-valo. Dos 17 casos que não declaram ter bolsa, dez têm cargo públicode magistrado ou procurador. Entre os docentes que partem para o ex-terior, a maioria realiza doutorado, título de entrada para a ascensão àcúpula da carreira acadêmica que, no caso do ensino jurídico, assumegrande peso em função de sua maior raridade no universo mais amplode docentes.

Há grande diversidade dos temas de estudo com predomínio do “di-reito internacional”. Temas de “filosofia do direito”, “teoria do direi-to” e “sociologia do direito” aparecem com frequência maior do quenos períodos anteriores. Os temas mais abstratos e distantes do univer-so dos práticos, como a filosofia e a sociologia do direito, são mais re-gulares entre juristas com dedicação exclusiva à carreira acadêmica.

A análise dos países que apresentam maior frequência entre os juristasé uma dimensão importante na apreensão das modalidades de impor-tação de modelos institucionais. Pode-se relacionar a escolha com a in-serção no Brasil e a legitimação de seus produtos, assim como o papelde importadores de tecnologias institucionais. As escolhas dos juristas

496

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

497

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

Re

vis

taD

ad

os

–2

01

2–

Vo

l.5

5n

o2

Re

vis

ão

:0

4.0

7.2

01

2

Clie

nte

:Iu

pe

rj

–P

ro

du

çã

o:

Te

xto

s&

Fo

rm

as

Qu

adro

1

Per

fil

dos

Est

ud

osn

oE

xter

ior

dos

Juri

stas

Inte

rval

op

orA

no

Con

clu

são

Cu

rso

no

Ext

erio

r

1950

-198

019

81-1

995

1996

-200

6

mer

od

eca

sos

2138

64

Paí

ses

pre

dom

inan

tes

EU

A,F

ranç

a,A

lem

anha

Fran

ça,I

táli

a,A

lem

anha

Itál

ia,A

lem

anha

,Esp

anha

,Por

tuga

l

Uni

vers

idad

esp

red

omin

ante

s*P

aris

I(F

ranç

a)U

n.La

Sapi

enza

(Itá

lia)

Div

ersi

fica

do

–U

nD

egli

Stud

iDiM

ilano

(Itá

lia)

Inst

.Atu

ação

Bra

sil

USP

Reg

ião

Sud

este

Reg

ião

Sul(

UFP

R)

Mod

alid

ade

de

estu

do

60%

Dou

tora

do

40%

Mes

trad

oe

esp

ecia

liza

ção

66%

Dou

tora

do

18%

Pós

-Dou

tora

do

16%

Mes

trad

o,es

pec

iali

zaçã

oou

aper

feiç

oam

ento

44%

Dou

tora

do

39%

Pós

-dou

tora

do

3%D

outo

rad

osa

ndw

ich

14%

Mes

trad

oou

aper

feiç

oam

ento

Tem

asd

ees

tud

oD

irei

toin

tern

acio

nal,

Dir

eito

blic

oD

irei

toin

tern

acio

nal,

Ciê

ncia

scr

imin

ais

Dir

eito

inte

rnac

iona

l,C

iênc

ias

crim

inai

s,T

eori

ae

Filo

sofi

ad

oD

irei

to

Bol

sa20

%B

rasi

l

30%

Est

rang

eiro

50%

Sem

bols

a

52%

Bra

sil

16%

Est

rang

eiro

32%

Sem

bols

a

53%

Bra

sil

20%

Est

rang

eiro

5%B

olsa

Uni

vers

idad

eP

riva

da

2%B

olsa

Min

isté

rio

blic

od

eSã

oP

aulo

20%

Sem

bols

a

Atu

ação

pro

fiss

iona

lp

red

omin

ante

75%

Ad

voga

do

25%

Car

reir

aac

adêm

ica

48%

Car

reir

aac

adêm

ica

(v.

pri

vad

as)

40%

Ad

voga

dos

12%

Sem

pre

cisã

o

50%

Car

reir

aac

adêm

ica

DE

16%

Ad

voga

dos

13%

Mag

istr

ados

11%

Pro

cura

dor

esd

oes

tad

o/p

refe

itu

ra/

gove

rno

10%

Pro

mot

ores

ouP

rocu

rad

ores

de

Just

iça

Font

e:P

lata

form

aLa

ttes

cons

ult

ada

emju

nho

2007

.*U

nive

rsid

ades

com

mai

sd

e3

cita

ções

.

opõem-se, no espaço da aquisição de expertises as dos economistas9. Nocaso destes, predominam como polo de formação os Estados Unidos ea Inglaterra, o mesmo ocorrendo para o caso da Administração10. Paraos juristas, aparecem como polos fundamentais a França, a Itália e aAlemanha, embora não se possa descartar a significativa presença dosEstados Unidos com os incentivos das bolsas Fulbright.

Além da aquisição de expertises, que permitem a “atualização” dos sa-beres de Estado vinculados ao Direito Público e demandados no con-texto da reconstrução do papel político das instituições judiciais noBrasil, a inserção em redes de cooperação acadêmica estrangeiras am-plia a ocupação de espaços e a aproximação com segmentos da eliteuniversitária vinculados a outras especialidades.

O bom domínio das regras do jogo institucional e o investimento emuma carreira nova entre juristas favorecem o posicionamento dessesagentes na vanguarda da formação de novos programas de mestrado edoutorado, que alimentam o boom do ensino jurídico de pós-gradua-ção a partir da segunda metade da década de 1990. Até 1990, existiamno Brasil, 16 cursos de mestrado em Direito e quatro cursos de doutora-do. Em 2006, são 58 cursos de mestrado e 16 cursos de doutorado, re-presentando um exponencial aumento dos produtos intelectuais vol-

498

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

Quadro 2

País de Realização dos Estudos

(Docentes)

País Frequência %

França 27 20,9

Itália 23 17,82

Estados Unidos 21 16,27

Alemanha 19 14,72

Espanha 14 10,85

Portugal 9 6,97

Inglaterra 5 3,87

Canadá 3 2,35

Japão 2 1,55

Holanda 1 0,77

Suíça 1 0,77

Bélgica 1 0,77

Fonte: Plataforma Lattes consultada em junho 2007.

tados ao espaço jurídico, assim como dos postos para os docentes commaior investimento acadêmico.

OS ADVOGADOS DE NEGÓCIOS E O DIREITO A SERVIÇO DA ECONOMIA

Em um sentido diferente dos usos do capital internacional – acumula-do em percursos acadêmicos pelos professores de Direito –, os advoga-dos de negócio têm nas relações internacionais um forte componentede hierarquização. A internacionalização das sociedades de advoga-dos, semelhante aos trajetos de seus sócios, é diretamente proporcionalà posição ocupada na advocacia.

Os estudos sobre o espaço profissional evidenciam a relação direta en-tre a internacionalização das sociedades de advogados e o tamanhodestas, indicado pelo número de sócios e amplitude de atuação no mer-cado. No trabalho de Dezalay (1992), tem-se uma das primeiras pes-quisas que destacou o papel das grandes firmas americanas na redefi-nição dos modelos de advocacia na Europa. A pesquisa mostrou o pre-domínio dos business-lawyers (vinculados a grandes sociedades de ad-vogados), sobre o modelo tradicional do advogado generalista (cha-mado pelo autor de gentleman du droit) e centrado em recursos deriva-dos da sua posição local.

No caso brasileiro, as sociedades de advogados também são hierarqui-zadas, tendo-se por critério principal o número de sócios. Conformeindicam os trabalhos de Bonelli et alii (2007) e Dezalay e Garth (2002), arelação deste fenômeno com a hierarquização do campo repercute naformação e no recrutamento dos profissionais da advocacia com a va-lorização de diferentes formas de capital internacional ao longo dasdécadas de 1990 e 2000. Os dados presentes para as 500 maiores socie-dades no Anuário Análise Advocacia 2008 mostram que os escritóriosmenores – formados por até 20 sócios – possuem abrangência local ebaixa presença internacional, tanto na sua atuação, quanto na forma-ção dos sócios.

Os advogados com maior inserção internacional compõem um núme-ro relativamente pequeno em relação aos milhares de escritórios de ad-vocacia brasileiros. Localizadas majoritariamente em São Paulo, asgrandes sociedades expandiram-se no cenário dos processos de priva-tização de empresas estatais na década de 1990, o que fica evidenciadono aumento dos números de associados e no quantitativo das que fo-ram fundadas no período.

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

499

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

As sociedades se diferenciam do modelo tradicional dos pequenos es-critórios – individuais ou com até cinco sócios e cuja atuação permane-ce restrita no âmbito de municípios ou região – conforme indicam osdados presentes nos Anuários Análise Advocacia 2007 e 2008. Conside-rando os perfis biográficos dos maiores sócios apresentados nos anuá-rios, verifica-se a presença do capital internacional detido na forma decursos no exterior e habilitações para advogar no estrangeiro, assimcomo a presença em organismos e associações que evidenciam sua vin-culação com o mercado financeiro-corporativo, além do domínio deexpertises relacionadas à técnica das operações financeiras e dosnegócios.

O perfil das cem maiores sociedades de advogados – definidas a partirdo critério do número de sócios – permite detectar forte padrão de in-ternacionalização. Tal fenômeno pode ser medido especialmente pordois fatores inter-relacionados: (1) a realização de cursos de pós-gra-duação no exterior pelos principais sócios, majoritariamente nos Esta-dos Unidos, nas universidades de Harvard, Columbia, Nova Iorque,Califórnia e Chicago; e (2) a manutenção de sedes e atuação em outrospaíses; especialmente nos Estados Unidos (Miami ou Nova Iorque); eem Portugal (Lisboa). Pode-se mencionar também a existência de acor-dos com escritórios estrangeiros associados e a relação com redes inter-nacionais de escritórios de negócios como a American Bar Association,International Bar Association, Lex mundi e redes de arbitragem comercialinternacional.

A especificidade do espaço das grandes sociedades de advogados apa-rece na presença de sócios e na especialização na atuação em câmarasnacionais e estaduais de mediação e arbitragem comercial, que repre-sentam a configuração de práticas de justiça “fora do Estado”. Ainda, ainserção dos advogados em câmaras de comércio-exterior se combinacom sua atuação na intermediação de negócios internacionais, que in-cluem a instalação de empresas estrangeiras e a representação judicialde corporações multinacionais.

Tomando-se as características das vinte maiores firmas de advocacia,definidas pelo número de sócios11 (que varia de 125 a 440 advogados),percebe-se que sete entre estas possuem filial no exterior. Três em NovaIorque, duas em Miami e outras duas em Lisboa. As filiais em NovaIorque ficam concentradas entre os cinco maiores escritórios, entre osquais, apenas um não possui filial no exterior. A sede majoritária des-

500

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

sas sociedades é São Paulo, em 11 casos; Rio de Janeiro detém sete ca-sos; e Belo Horizonte (MG) e Joinville (SC), um caso cada. Não há umarelação direta entre o tempo de atuação e o tamanho da sociedade, exis-tindo escritórios fundados na década de 1990 que figuram entre os dezmaiores.

As atuações predominantes ocorrem nas áreas de “fusões e aquisi-ções”, “mercado de capitais” e “direito financeiro e bancário”, repre-sentando grandes corporações nacionais e internacionais. A atividaderegistrada no resumo presente no anuário Análise Advocacia 2007 ilus-tra a participação em fusões milionárias de empresas nacionais e es-trangeiras e a presença nos processos de privatização da década de1990. Os litígios com diversas instituições estatais representando“grandes clientes” são indicativos do poderio dos escritórios. Desta-cam-se ações que põem diretamente em disputa o sentido de normasregulatórias do mercado financeiro, ou mais amplamente, do direitoeconômico em ações contra o Banco Central e na representação de cli-entes envolvidos nos processos de privatização estaduais e nacionais.

A construção do capital internacional dos advogados de negócios temna passagem por cursos de pós-graduação no exterior um de seus pon-tos mais importantes. O perfil no anuário Análise Advocacia destaca afluência em idioma estrangeiro, na maioria dos casos inglês, francês eespanhol. Da mesma forma, é ressaltada a habilitação para advogar emoutros países, em especial, Estados Unidos e Portugal. Apesar dos in-vestimentos acadêmicos no exterior, a presença simultânea dos advo-gados no ensino universitário é ausente entre os principais sócios, oque contrasta com a cúpula do Judiciário.

Em contrapartida, diversos sócios aparecem como diretores ou mem-bros de câmaras de arbitragem, câmaras de comércio exterior e orga-nismos extrajudiciais regulatórios do mercado econômico, como a Co-missão de Valores Mobiliários, a Bolsa de Valores de São Paulo e o Con-selho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). A inserção nessesorganismos indica uma espécie de capital político estreitamente vincu-lado à posição de elite que une a condição de intermediário de negóci-os com a expertise jurídica. Esse posicionamento dos agentes na frontei-ra do campo jurídico e econômico permite a legitimação necessáriapara atuação em instituições que definem regras relacionadas a diver-sas esferas das relações econômicas.

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

501

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

502

Fabiano Engelmann

Re

vis

taD

ad

os

–2

01

2–

Vo

l.5

5n

o2

Re

vis

ão

:0

4.0

7.2

01

2

Clie

nte

:Iu

pe

rj

–P

ro

du

çã

o:

Te

xto

s&

Fo

rm

as

Qu

adro

3

Ilu

stra

tivo

da

Atu

ação

das

Qu

atro

Mai

ores

Soc

ied

ades

de

Ad

voga

dos

Nom

eS

ínte

sed

aat

uaç

ãop

rin

cip

ald

esta

cad

a

Toz

zini

,Fre

ire,

Tei

xeir

ae

Silv

aA

sses

soro

ua

Exp

eria

n,na

aqu

isiç

ãod

e65

%d

aSe

rasa

.Aem

pre

sa,q

ue

era

cont

rola

da

por

um

cons

órci

od

eba

ncos

,equ

ete

mco

mo

pri

ncip

ais

acio

nist

as,B

rad

esco

,Ita

úe

Uni

banc

o,fo

iad

quir

ida

por

1,2

bilh

ãod

ed

ólar

es.P

rest

ouas

sess

oria

aO

ntár

ioin

corp

orad

ora,

veíc

ulo

de

inve

stim

ento

oO

ntár

ioT

each

ersP

lan,

um

dos

mai

ores

fun

dos

de

pen

são

cana

den

ses,

naqu

alid

a -d

ed

eac

ioni

sta

vend

edor

ana

ofer

tap

úbl

ica

pri

már

iae

secu

ndár

iad

eA

ções

da

Mul

tipl

anE

mp

reen

dim

ento

sim

obil

iári

os,

cap

tand

oap

roxi

mad

amen

te92

3m

ilhõ

esd

ere

ais.

Aop

eraç

ãofo

icon

clu

ída

emju

lho

de

2007

.Ori

ento

ua

Cia

Val

ed

oR

ioD

oce

naem

issã

op

úbl

ica

de

deb

êntu

res

cap

tand

o5,

5bi

lhõe

sd

ere

ais

des

tina

dos

aop

agam

ento

de

par

ted

oem

pré

sti-

mo-

pon

teob

tid

oju

nto

ain

vest

idor

eses

tran

geir

osp

ara

ofi

nanc

iam

ento

da

aqu

isiç

ãod

aca

nad

ense

Inço

Lim

ited

.Aop

eraç

ãofo

icon

clu

ída

emd

ezem

bro

de

2006

.Pre

stou

assi

stên

cia

aos

cred

ores

fina

ncei

ros

AB

NA

mro

Rea

l,D

euts

cheT

rust

eeC

ompa

nyLi

mit

ede

Stan

dard

Cha

rter

edB

ank

nop

roce

sso

de

recu

per

ação

jud

icia

lda

Par

mal

atB

rasi

l,qu

ere

sult

ouna

tran

sfer

ênci

ad

ese

uco

ntro

lep

ara

ofu

ndo

de

inve

stim

ento

sLa

tin

Am

eric

aE

quit

yP

artn

ers.

Obt

eve

vitó

ria

afa

vor

de

um

imp

orta

nte

clie

nte

cont

rao

Ban

coC

entr

alem

pro

cess

oad

min

istr

ativ

oen

volv

end

om

ult

ad

em

ais

de

300

mil

hões

de

reai

s.

Dem

ares

t&

Alm

eid

aP

rest

ouas

sess

oria

emas

pec

tos

fisc

ais,

ambi

enta

is,t

raba

lhis

tas,

pre

vid

enci

ário

,soc

ietá

rio

ere

gula

tóri

op

ara

aem

pre

saIn

dia

naH

idal

cona

com

pra

da

Nov

elis

por

seis

bilh

ões

de

dól

ares

.Ass

esso

rou

oG

rup

oT

avar

esd

eM

ello

naaq

uis

ição

pel

afr

ance

saLo

uis

Dre

yfus

nos

negó

cios

do

gru

po

rela

tivo

sa

açú

car,

álco

ole

etan

ol,l

ocal

izad

osno

ses

tad

osd

eP

erna

mbu

coe

Mat

oG

ross

o.A

tran

saçã

ote

veva

lord

e50

0m

ilhõ

esd

ed

ólar

es.A

sses

soro

ua

Goo

dyea

rdo

Bra

sil,

nave

nda

pel

aG

oody

earT

ire

&R

ubbe

rC

ompa

nyd

asu

ad

ivis

ãod

een

genh

aria

de

pro

du

tos

aogr

up

oC

arly

le.A

oper

ação

real

izad

aem

mar

çod

e20

07,f

oiav

alia

da

em1,

4bi

lhão

de

dól

ares

.Atu

aem

pro

cess

oad

min

istr

ativ

oem

que

aR

ecei

taFe

der

alqu

esti

ona

pro

ced

imen

tosr

efe-

rent

esa

pre

ços

de

tran

sfer

ênci

ad

aM

onsa

nto

do

Bra

sil.

Ad

iscu

ssão

agu

ard

ad

ecis

ãofi

nalp

elos

trib

una

isfe

der

ais

adm

inis

-tr

ativ

os.N

oin

ício

de

2007

rep

rese

ntou

oG

rup

oH

avas

/Eur

oR

SCG

,um

dos

mai

ores

gru

pos

pu

blic

itár

iosm

und

iais

,em

lití

gio

envo

lven

do

sua

subs

idiá

ria

bras

ilei

ra,a

agên

cia

de

pu

blic

idad

eC

aril

oP

asto

reE

rud

oR

SCG

.

(con

tinu

a)

503

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

Re

vis

taD

ad

os

–2

01

2–

Vo

l.5

5n

o2

Re

vis

ão

:0

4.0

7.2

01

2

Clie

nte

:Iu

pe

rj

–P

ro

du

çã

o:

Te

xto

s&

Fo

rm

as

Qu

adro

3

Ilu

stra

tivo

da

Atu

ação

das

Qu

atro

Mai

ores

Soc

ied

ades

de

Ad

voga

dos

Nom

eS

ínte

sed

aat

uaç

ãop

rin

cip

ald

esta

cad

a

Pin

heir

oN

eto

Ad

voga

dos

Rep

rese

ntou

oC

arre

four

,em

abri

lde

2007

naaq

uis

ição

do

Ata

cad

ãop

or1,

1bi

lhão

de

dól

ares

.OC

arre

four

torn

ou-s

eo

pri

-m

eiro

colo

cad

ono

seto

rno

Bra

sil,

emte

rmos

de

fatu

ram

ento

.Rep

rese

ntou

,em

abri

lde

2007

,tod

osos

ind

ivíd

uos

das

cinc

ofa

míl

ias

que

cont

rola

mo

Gru

po

Ipir

anga

,qu

efo

iad

quir

ido

por

um

cons

órci

ofo

rmad

op

elos

Gru

pos

Pet

robr

as,B

rask

eme

Ult

rap

orap

roxi

mad

amen

te4

bilh

ões

de

dól

ares

.Rep

rese

ntou

aem

pre

saB

5S/

Ae

aC

iaE

nerg

étic

aSa

nta

Eli

sana

aqu

isiç

ãop

ela

B5

S/A

de

açõe

sre

pre

sent

ativ

asd

e63

,98%

do

cap

ital

da

Cia

Açu

care

ira

Val

ed

oR

osár

io,o

segu

ndo

mai

orp

rod

uto

rde

etan

old

op

aís.

Rep

rese

ntou

aJB

SS/

Ae

oac

ioni

sta

vend

edor

naof

erta

blic

ain

icia

lde

açõe

sor

din

ária

sno

Nov

oM

erca

do

da

Bov

esp

a,no

valo

rde

1,6

bilh

ãod

ere

ais,

sem

cons

ider

aro

lote

sup

lem

enta

r.P

rest

ouas

sess

oria

jurí

dic

aem

um

aop

eraç

ãod

ese

curi

tiza

ção

de

flu

xosf

utu

rosr

elac

iona

da

are

cebí

veis

der

ivad

osd

ave

nda

de

bilh

etes

de

trem

par

au

suár

iosd

aC

iaP

au-

list

ad

eT

rens

-CP

TM

.Ess

afo

iap

rim

eira

oper

ação

de

secu

riti

zaçã

od

essa

natu

reza

nom

erca

do

bras

ilei

ro.O

valo

rda

oper

a-çã

ore

aliz

ada

emse

tem

bro

de

2006

foid

e15

0m

ilhõ

esd

ere

ais.

Mac

had

o,M

eyer

,Se

ndac

ze

Op

ice

Rep

rese

ntou

aU

ltra

par

naaq

uis

ição

do

cont

role

acio

nári

od

aIp

iran

gap

elo

cons

órci

ofo

rmad

op

ela

Pet

robr

as,U

ltra

par

eB

rask

em.A

sses

soro

uo

BID

emu

mfi

nanc

iam

ento

de

135

mil

hões

de

dól

ares

par

aC

entr

ais

Elé

tric

asd

oP

ará

(Cel

pa)

eC

en-

trai

sE

létr

icas

Mat

ogro

ssen

ses

(Cem

at),

par

afi

nanc

iaro

sp

rogr

amas

de

inve

stim

ento

emd

istr

ibu

ição

de

ener

gia

elét

rica

noP

ará

eno

Mat

oG

ross

o,ap

arte

do

pro

jeto

Lu

zp

ara

Tod

os;a

tuou

pel

osba

ncos

que

coor

den

aram

aof

erta

de

deb

êntu

res

da

BN

DE

Spar

,em

dez

embr

od

e20

06.A

sses

soro

ua

Cia

de

Ene

rgia

Elé

tric

aP

auli

sta

(CT

EE

P)e

msu

aaq

uis

ição

,por

mei

od

ele

i-lã

od

ep

riva

tiza

ção,

pel

ogr

up

oIn

terc

onex

ion

Elé

tric

a(I

SA)d

aC

olôm

bia.

Atu

oup

elo

gru

po

que

lid

erou

oem

pré

stim

osi

n-d

ical

izad

op

ara

aC

iaV

ale

do

Rio

Doc

e(C

VR

D)a

dqu

irir

am

iner

ador

aca

nad

ense

Inço

.

Font

e:A

nuár

ioA

náli

seA

dvo

caci

a,20

07.

(con

tinu

ação

)

No que concerne ao perfil de carreira profissional dos advogados, ape-sar da inserção em organismos e conselhos, há uma menor circulaçãoem postos no setor público-estatal. As indicações biográficas tambémpermitem afirmar que se está distante de um padrão de reprodução degrandes famílias de juristas. Entre as indicações, nesse sentido, a análi-se dos sobrenomes dos principais sócios das 100 maiores sociedadesaponta apenas cinco como nitidamente administradas por herdeiros.

MINISTROS DO STJ E STF E A JUSTIÇA DE ESTADO

Entre os três segmentos da elite jurídica analisados, os ministros doSTF e STJ tomados como representativos da cúpula do Judiciário são osque mobilizam menos capital internacional nas suas trajetórias. Os da-dos dos percursos universitários e profissionais indicam que o recursoao espaço internacional não se apresenta fundamental para a hierar-quização das carreiras destes “juristas de Estado”. Em contrapartida,ocorre a predominância da acumulação de trunfos vinculados ao espa-ço doméstico centrados na ocupação de postos no setor público, com-binada com a inserção acadêmica nacional.

Os casos que apresentam inserção internacional por titulação acadê-mica no exterior ou por integrar redes internacionais temáticas, taiscomo os “juízes pela democracia”12, invariavelmente têm uma carreiraacadêmica paralela e complementar aos postos ocupados no Estado.Se compararmos os caminhos profissionais e os meios mobilizados pe-los agentes posicionados na cúpula do Judiciário brasileiro, teremosque o peso de inserção em redes regionais – como direção de associa-ções de juízes, combinada com uma longa carreira de magistrado ouprocurador – tem peso predominante em relação à mobilização dequalquer espécie de capital internacional.

Aanálise dos perfis de formação acadêmica de 10 ministros do STF atu-ando em 200713 indica que apenas três realizaram algum tipo de forma-ção no exterior. No mesmo sentido, encontra-se o domínio de idiomas:dos 10 casos analisados, somente metade declaram ter fluência em al-gum idioma estrangeiro. No caso do STJ, entre 33 ministros, nenhumrealizou estudos no estrangeiro. Mesmo os ministros do STJ que possu-em maior inserção internacional não parecem constituir um capital in-ternacional relevante que repercuta no conjunto das suas trajetórias deascensão à cúpula judicial, tampouco em uma carreira acadêmica pa-ralela a suas atividades jurisdicionais.

504

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

505

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

Re

vis

taD

ad

os

–2

01

2–

Vo

l.5

5n

o2

Re

vis

ão

:0

4.0

7.2

01

2

Clie

nte

:Iu

pe

rj

–P

ro

du

çã

o:

Te

xto

s&

Fo

rm

as

Qu

adro

4

Min

istr

osd

oS

TJ

com

Mai

orC

apit

alIn

tern

acio

nal

Nom

eO

rige

mD

ados

Soc

iais

Tra

jeto

Un

iver

sitá

rio

Car

reir

aA

cad

êmic

aIn

serç

ãoIn

tern

acio

nal

Car

reir

aP

rofi

ssio

nal

eP

olít

ica

Ou

tras

Info

rmaç

ões

Hél

ioQ

uag

lia

Bar

bosa

São

Pau

lo/

SP

*25/

11/

1941

–G

rad

uaç

ãoC

iênc

ias

Jurí

dic

as,U

SP,

1966

–P

rofe

ssor

Dir

eito

Civ

il,F

ac.D

irei

toA

rara

quar

a(1

971/

1983

)

–P

rofe

ssor

Dir

eito

Ad

min

istr

ativ

od

aFa

culd

ade

de

Dir

eito

Ara

raqu

ara

(197

3/19

83)

–P

rofe

ssor

Secu

ndár

ioL

iceu

Mar

echa

lDeo

dor

o/SP

(196

4/19

67)

–L

íngu

ae

Lit

erat

ura

fran

cesa

sU

nive

rsit

éde

Nan

cy,F

ranç

a,19

58

–M

inis

tro

do

STJ

nom

ead

op

orL

ula

,Abr

il/

2004

–D

iret

orE

scol

ap

auli

sta

de

Mag

istr

atu

ra(2

002/

2004

)

–D

esem

barg

ador

TJ/

SP(1

993/

2004

)

–Ju

izd

o2o

Tri

buna

lda

Alç

ada

Civ

il(1

984/

1993

)

–Ju

izd

eD

irei

tod

a19

aV

ara

Cri

min

ale

4aV

ara

Faze

nda

da

Mu

nici

pal

(197

8/19

84)

–Ju

izA

uxi

liar

Cor

rege

dor

ia-G

eral

da

Just

iça

do

Est

ado

de

SP(1

976/

1977

)

–Ju

izd

eD

irei

toA

uxi

liar

da

Cap

ital

–3

Ent

rânc

ia(1

973/

1978

)

–Ju

izD

irei

toSã

oSi

mão

(197

0/19

73)

–Se

mfi

liaç

ãop

arti

dár

iap

révi

a

–L

ivro

sp

ub

lica

dos (con

tinu

a)

506

Fabiano Engelmann

Re

vis

taD

ad

os

–2

01

2–

Vo

l.5

5n

o2

Re

vis

ão

:0

4.0

7.2

01

2

Clie

nte

:Iu

pe

rj

–P

ro

du

çã

o:

Te

xto

s&

Fo

rm

as

Qu

adro

4

Min

istr

osd

oS

TJ

com

Mai

orC

apit

alIn

tern

acio

nal

Nom

eO

rige

mD

ados

Soc

iais

Tra

jeto

Un

iver

sitá

rio

Car

reir

aA

cad

êmic

aIn

serç

ãoIn

tern

acio

nal

Car

reir

aP

rofi

ssio

nal

eP

olít

ica

Ou

tras

Info

rmaç

ões

Cas

tro

Filh

oN

ova

Pon

te/

MG

*26/

08/

1937

Viú

vo

3Fi

lhos

–G

rad

uaç

ãoD

irei

to,U

FGO

,196

7

–M

estr

ado

Dir

eito

,UFG

O,2

000

–P

rofe

ssor

–E

xten

são

Un

iver

sitá

ria

Dir

eito

Civ

il,U

nive

rsit

éP

anth

éon

Sorb

onne

,Fr

ança

,199

1

–E

xten

são

Dir

eito

Agr

ário

Com

par

ado,

Uni

vers

idad

eC

atól

ica

de

Ávi

la,E

span

ha,1

999

–M

inis

tro

do

STJ

nom

ead

op

orFH

C,D

ezem

bro/

2000

–M

embr

od

oC

onse

lho

Sup

erio

rd

aM

agis

trat

ura

de

GO

(199

8/20

00)

–D

esem

barg

ador

TJ/

GO

(198

7/20

00)

–P

resi

den

ted

asC

âmar

asC

ívei

sR

euni

das

do

TJ/

GO

(199

7/19

98)

–P

resi

den

ted

oT

RE

/G

O(1

994/

1996

)

–Ju

izD

irei

toG

O(1

971/

1987

)

–Ju

izC

orre

ged

orT

J/G

O(1

983/

1984

e19

87)

–A

dvo

gad

o(1

967/

1971

)

–Se

mfi

liaç

ãop

arti

dár

iap

révi

a

–L

ivro

sp

ub

lica

dos

Font

e:A

nuár

iod

aJu

stiç

a20

08.

(con

tinu

ação

)

No STF, os três ministros que realizaram estudos no exterior o fizeramem três países diferentes: Estados Unidos, França e Alemanha. Das in-formações biográficas apresentadas no Anuário da Justiça 2008, pode-sedestacar a “publicação de livros”, evidenciando a importância do in-vestimento em produção intelectual como componente da construçãoda posição de “grande jurista”, que contribui para a ascensão ao STF.

Em significativo número de trajetórias, aparece o pertencimento a di-versas espécies de conselhos e diretorias de associações – penitenciá-rio, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Instituto dos AdvogadosBrasileiros (IAB) e diretoria de associações estaduais e nacional de ma-gistrados –, combinado com a ocupação de postos de chefia de depar-tamentos jurídicos e assessorias em organismos do poder Executivo.Essa forma de ocupação de postos evidencia a importância de um capi-tal político imbricado à carreira jurídica e distinto da ocupação demandatos parlamentares e dos exercícios de cargos eletivos.

A passagem predominante por departamentos jurídicos preenchidospor indicações políticas nos três poderes denota também a relação en-tre a expertise jurídica afinada com um caráter de “saber de Estado”, ga-rantindo historicamente posições para os juristas no âmbito do poderpolítico, mesmo em um contexto de crescente concorrência com outrasespecialidades, como a economia, a gestão pública e, ainda, a ciênciapolítica14.

O início da carreira dos ministros do STF ocorre majoritariamente atra-vés do cargo de magistrado, promotor ou advogado em escala estadu-al. Este padrão favorece maior investimento em redes de cunho localis-ta15. As exceções são os que iniciam em cargos de grande projeção eabrangência, como o de Procurador da República. Os ministros do STJseguem um percurso semelhante aos do STF, com uma tendência a ma-ior endogeneização ao campo da magistratura, tendo em vista que doisterços dos ministros do STF são recrutados entre magistrados de se-gundo grau, da justiça federal e dos tribunais estaduais, respectiva-mente. Tal regra não existe para o STF, onde o presidente da Repúblicaescolhe os ministros que passam pelo aval do Senado.

Os ministros do STF que possuem maior capital internacional têm umperfil de carreira menos localista, além de manterem carreira acadêmi-ca paralela às atividades jurisdicionais, conforme ilustra o quadroabaixo.

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

507

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

508

Fabiano Engelmann

Re

vis

taD

ad

os

–2

01

2–

Vo

l.5

5n

o2

Re

vis

ão

:0

4.0

7.2

01

2

Clie

nte

:Iu

pe

rj

–P

ro

du

çã

o:

Te

xto

s&

Fo

rm

as

Qu

adro

5

Min

istr

osd

oS

TF

com

Mai

orC

apit

alIn

tern

acio

nal

Nom

eO

rige

me

Dad

osS

ocia

isT

raje

toU

niv

ersi

tári

oC

arre

ira

Aca

dêm

ica

Inse

rção

Inte

rnac

ion

alC

arre

ira

Pro

fiss

ion

ale

Pol

ític

aO

utr

asIn

form

açõe

s

Gil

mar

Men

des

Dia

man

tino

/M

T

*30/

12/

1955

Sep

arad

o

2fi

lhos

Pro

fiss

ãod

oP

ai:

pol

ític

oe

pro

pri

etár

ioru

ral

–G

rad

uaç

ãoD

irei

to,

UnB

,197

8

–M

estr

ado

Dir

eito

do

Est

ado,

UnB

,198

7

–P

rofe

ssor

Inst

itu

toB

r.D

eD

irei

toP

úbl

ico

(199

8/at

ual

)

–P

rofe

ssor

UnB

(199

5/at

ual

)

–M

estr

ado

eD

outo

rad

op

ela

Wes

tfäl

isch

eW

ilhe

lms

–U

nive

rsit

ätzu

Mün

ster

(RFA

),19

89

–Id

iom

as:

Ale

mão

eIn

glês

–M

inis

tro

do

STF

nom

ead

op

orFH

C,m

aio/

2002

–A

dvo

gad

o-G

eral

da

Uni

ão(2

000/

2002

)

–S

ub

chef

eC

asa

Civ

ilp

ara

assu

nto

sju

ríd

icos

(199

6/20

00)

–A

sses

sor

técn

ico

do

Min

isté

rio

da

Just

iça

(199

5/19

96)

–A

sses

sor

técn

ico

naR

elat

oria

da

Rev

isão

Con

stit

uci

onal

da

Câm

ara

dos

dep

uta

dos

(199

3/19

94)

–C

onsu

ltor

Jurí

dic

od

aSe

c.G

eral

da

Pre

sid

ênci

a(1

991/

1992

)

–A

dju

nto

da

Subs

ecre

tari

a-ge

ral

da

Pre

sid

ênci

ad

aR

epú

blic

a(1

990/

1991

)

–P

rocu

rad

ord

aR

epú

bli

ca(1

985/

1988

)

–Se

mfi

liaç

ãop

arti

dár

ia

–L

ivro

sp

ub

lica

dos (con

tinu

a)

509

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

Re

vis

taD

ad

os

–2

01

2–

Vo

l.5

5n

o2

Re

vis

ão

:0

4.0

7.2

01

2

Clie

nte

:Iu

pe

rj

–P

ro

du

çã

o:

Te

xto

s&

Fo

rm

as

Qu

adro

5

Min

istr

osd

oS

TF

com

Mai

orC

apit

alIn

tern

acio

nal

Nom

eO

rige

me

Dad

osS

ocia

isT

raje

toU

niv

ersi

tári

oC

arre

ira

Aca

dêm

ica

Inse

rção

Inte

rnac

ion

alC

arre

ira

Pro

fiss

ion

ale

Pol

ític

aO

utr

asIn

form

açõe

s

Joaq

uim

Bar

bos

aP

arac

atu

/M

G

*07/

10/

1954

Solt

eiro

1fi

lho

Pro

fiss

ãod

oP

ai:

Ped

reir

o

8ir

mão

s

–G

rad

uaç

ãoD

irei

toU

nB,1

979

–E

spec

iali

zaçã

od

irei

toe

Est

ado,

UnB

,19

82

–P

rofe

ssor

Lic

enci

ado

UE

RJ

–M

estr

ado

eD

outo

rad

oem

Dir

eito

blic

op

ela

Uni

vers

idad

ed

eP

aris

-II

(Pan

théo

n-A

ssas

),(1

993)

–V

isit

ing

Scho

lar

naU

nive

rsit

yof

Cal

ifór

nia,

Los

Ang

eles

Scho

olof

Law

(200

2/20

03)

–V

isit

ing

Scho

lar

noH

uman

Rig

hts

Inst

itut

ena

Col

umbi

aU

nive

rsit

ySc

hool

ofLa

w(1

999/

2000

)

–Id

iom

a:In

glês

,Fr

ancê

s,A

lem

ãoe

Ital

iano

–M

inis

tro

do

STF

nom

ead

op

orL

ula

,Ju

nho/

2003

–P

rocu

rad

ord

aR

epú

blic

a(1

988/

2003

)

–C

hef

ed

aC

onsu

ltor

iaJu

ríd

ica

do

Min

isté

rio

da

Saú

de

(198

5/19

88)

–O

fici

ald

eC

hanc

elar

iad

oM

inis

téri

od

asR

elaç

ões

Ext

erio

res

naE

mba

ixad

ad

oB

rasi

lna

Finl

ând

ia(1

976/

1979

)

–A

sses

sor

Jurí

dic

od

oSe

rviç

oFe

der

ald

eP

roce

ssam

ento

de

Dad

os–

Serp

ro(1

979/

1984

)

–Se

mfi

liaç

ãop

arti

dár

ia

–L

ivro

sp

ub

lica

dos

Font

e:A

nuár

iod

aJu

stiç

a20

08co

mp

lem

enta

da

com

Ban

cod

eD

ados

Pro

jeto

“Est

ud

osno

exte

rior

dos

juri

stas

bras

ilei

ros

ea

imp

orta

ção

de

mod

elos

inst

itu

cion

ais”

–C

NP

q(2

007-

2009

).

(con

tinu

ação

)

A repercussão pública das tomadas de posição política dos ministrosGilmar Mendes e Joaquim Barbosa ao longo da década de 2000 é indi-cativa da importância desses agentes no STF. Embora não se possa afir-mar, com base nos dados disponíveis, que a formação acadêmica inter-nacionalizada de ambos tenha sido determinante na ascensão à cúpulado Judiciário, seria interessante considerar essa dimensão na análiseda construção de seus posicionamentos políticos através do estudodos conteúdos de suas decisões judiciais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dificuldade de apreender as diversas bases da relação entre a produ-ção do conhecimento sobre as instituições e a legitimação de grupos so-ciais no espaço de poder político amplia-se com a diversificação e a ex-pansão da produção acadêmica e dos grupos que concorrem pelo sen-tido das instituições. A disseminação das redes de intercâmbio univer-sitário e a circulação dos grupos dirigentes entre centros produtores ecentros predominantemente importadores de conhecimento científicotornam mais complexa a tarefa de relacionar esses conjuntos de conhe-cimentos com os espaços e instituições que seus porta-vozes constro-em ou remodelam em contextos específicos.

Um dos desafios postos aos estudos que partem das ciências sociais so-bre as instituições é dar conta da complexificação deste campo de po-der, formado, de um lado, por espaços crescentemente diversificadosde expertises, e de outro, pela competição entre as elites que detêm va-riadas formas de poder político derivado do conhecimento técnico.

Com um ponto de partida próximo em seus estudos universitários(majoritariamente em universidades federais ou estaduais centrais,nos casos de São Paulo e Rio de Janeiro), os três segmentos da elite judi-cial que foram analisados dividem-se em seus percursos em diferentesmodalidades de investimentos a partir do início da carreira profissio-nal.

Evidentemente que uma apreensão detalhada desses diversos cami-nhos envolve também considerar as disposições adquiridas a partirdas origens e trajetórias até o ingresso na Universidade, como a proce-dência e as espécies de capitais derivados do grupo familiar ou as dis-posições para atuar no setor público ou privado. O mesmo ocorre nocaso dos professores universitários, carreira ainda recente no meio dosjuristas. Nesta encontra-se uma relação forte entre a ascensão social e o

510

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

investimento em titulação, muitas vezes combinada com a ocupaçãode um posto no setor público (Engelmann, 2006).

Este perfil de investimento insere profissionais do Direito voltadospara a carreira acadêmica em um processo de profissionalização comodocente, presente cada vez mais em outros domínios das “ciências so-ciais aplicadas”.

Investimentos bastante distintos realizam os advogados de negócios,na medida em que a inserção no mercado de trabalho se dá ainda comoestagiários de escritórios, e a familiaridade com o saber-fazer do mun-do dos negócios afasta o direcionamento para longos cursos de douto-rado no exterior ou no Brasil. Os cursos realizados no estrangeiro, in-variavelmente, são curtos e financiados pelas sociedades de advoga-dos nas quais esses bacharéis estão pré-inseridos. O capital internacio-nal é formado mais por redes de contatos que afirmam a posição de re-presentante judicial de multinacionais e menos pela acumulação deum capital internacional propriamente acadêmico.

O caso dos ministros do STF e STJ apresenta um padrão de longo per-curso vinculado a carreiras no interior de diversas esferas estatais. Aaprovação em um concurso público ou o início da prática de advogadoem escala local denotam a importância do acúmulo de recursos deriva-dos da experiência da prática judicial tradicional. Os deslocamentospara cidades do interior e as exigências para a construção da imagemde “bom juiz”, assim como a ocupação de postos em associações, dire-ção de foros ou cargos na burocracia judiciária, inevitavelmente difi-cultam os investimentos em uma carreira acadêmica internacionaliza-da. Nesses casos, a acumulação de capital internacional tem um custodesproporcional aos resultados que outras espécies de recursos mobi-lizados na ascensão mais rápida à cúpula do Judiciário.

As conclusões presentes na análise dos trajetos internacionais dessestrês segmentos, tomados como amostras da elite jurídica brasileira,fornecem indicações da complexidade do estudo da relação entre o ca-pital internacional e a hierarquização de espaços de poder. Evidenci-am as diferentes formas em que este capital internacional pode apare-cer e ser mobilizado nas distintas frações da elite jurídica; seja certifica-do em títulos acadêmicos – como tende a predominar entre os segmen-tos que investem no ensino de pós-graduação –, seja na forma de umcapital de contatos comerciais e profissionais presente na esfera dosadvogados de negócios.

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

511

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

A melhor compreensão do significado desta complexa relação entre in-ternacionalização do espaço de expertises sobre o Estado com a constru-ção da legitimidade doméstica de determinados grupos passa pela ne-cessidade de um estudo fino dos diversos campos de poder, em que a“técnica” das elites se confunde com os diversos modelos de relaçõespolíticas.

(Recebido para publicação em maio de 2010)(Reapresentado em setembro de 2011)

(Aprovado para publicação em maio de 2012)

512

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

NOTAS

1. Para uma discussão dos caminhos de análise desses estudos, ver Dezalay e Garth(2002) e Popeau (2004).

2. A análise de Dezalay (2001) retrata a disputa entre a tradição jurídica de gestão doEstado e a cosmovisão econômica a partir do efeito de internacionalização dos sabe-res do Estado e exportação das disputas internas ao espaço de poder americano.

3. Para um panorama sobre a atuação dos think thanks, perfil de consultores que circu-lam no mundo das fundações privadas e como conselheiros de governantes, ver Bou-cher e Royo (2006).

4. Para um panorama desses trabalhos, ver Almeida et alii (2004) Santamaria e Vecchioli(2008).

5. Indicações sobre a configuração do espaço dos juristas no Império em especial suaparticipação na conformação dos modelos de instituições política podem ser encon-tradas em Adorno (1988), Carvalho (1996) e Koerner (1998).

6. Para um panorama da configuração dos cursos jurídicos no Brasil, ver Rodrigues(1992) e Engelmann (2006).

7. Ver para o campo dos advogados, Dezalay e Garth (2002), Bonelli et alii (2007).

8. Para maiores detalhes sobre as condições de profissionalização do ensino jurídico noBrasil a partir da década de 90, ver Engelmann (2006).

9. Para um panorama dos recursos e expertises mobilizados pelos economistas para aocupação de espaços no estado, ver Loureiro (1997).

10. Para o caso dos padrões de formação e a expansão das faculdades de Administração,ver Vasconcellos (1998) e para o ensino de pós-graduação nesta disciplina, ver Engel-mann (2008).

11. Os dados foram retirados das informações contidas no ranking Análise-Advoca-cia-2007: os mais admirados do Direito, que contém informações para as 474 maiores fir-mas de advocacia do país.

12. Magistrados que integram a Associação dos Juízes pela Democracia, associação comsede em São Paulo e que mantêm intercâmbio com associações similares na Europa.Para maior detalhamento sobre o ativismo da AJD, ver Targa (2010).

13. O STF é composto por 11 ministros. Durante o período da pesquisa há uma vaga emaberto. As informações sobre o perfil dos ministros do STF e do STJ foram obtidas noAnuário da Justiça, 2008 e na publicação Análise Justiça, 2007.

14. Nesse sentido ver o trabalho de Dezalay e Garth (2000) e (2002) e a análise das oposi-ções entre os “político-bacharéis” e os “técnico-políticos”.

15. Um comparativo por distintos períodos históricos dos padrões de carreira dos mi-nistros do STF pode ser encontrado no trabalho de Da Ros e Marenco (2007).

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

513

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABEL, Richard. (1998), “Speaking Law to Power: Occasions for Cause Lawyering”, in A.Sarat e S. Scheingold (eds.), Cause Lawyering: Political Commitments and ProfessionalResponsabilities. New York, Oxford University Press.

ALMEIDA, Ana M. et alii. (2004), Circulação Internacional e Formação Intelectual das ElitesBrasileiras. Campinas, Editora da Unicamp.

ADORNO, Sergio. (1988), Os Aprendizes do Poder: O Bacharelismo Liberal na Política Brasile-ira. Rio de Janeiro, Paz e Terra.

BADIE, Bertrand e HERMET, Guy. (1990), Política Comparada. México, FCE.

. (1992), L’État Importe: L’Occidentalisation de l’Ordre Politique. Paris, Fayard.

BONELLI, Maria da Glória. (2002), Profissionalismo e Política no Mundo do Direito. São Car-los, EdUFSCar.

et alii. (2007), “Sociedades de Advogados e Tendências Profissionais”. Revista Dire-ito GV, vol. 3, pp. 111-138.

BOUCHER, Stephen e ROYO, Martine. (2004), Les Think Tanks: Cerveaux de la Guerre desIdées. Paris, Félin.

BOURDIEU, Pierre. (1986), “La Force du Droit: Éléments pour une Sociologie du ChampJuridique”. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, nos 2/3, pp 2-114.

. (1989), La Noblesse d’État. Paris, Minuit.

CARVALHO, José Murilo de. (1996), A Construção da Ordem: A Elite Política Imperial. Riode Janeiro, Relume Dumará.

DA ROS, Luciano e MARENCO, André. (2007), Caminhos que Levam a Corte. Trabalhoapresentado no 31�Encontro Anual da Anpocs, de 22-26 de outubro, Caxambu, MG.

DELPEUCH, Thierry.(2006) “La Cooperation Internationale au Prisme du Courant deRecherche ‘Droit et Développement’”. Droit et Societé, no 62, pp. 89-104.

DEZALAY, Yves. (1992), Marchand du Droit: La Restructuration de l’Ordre JuridiqueInternational par les Multionationales du Droit.

e GARTH, Bryant. (2000), “A Dolarização do Conhecimento Técnico e Profissionaldo Estado: Processos Transnacionais e Questões de Legitimação na Transformaçãodo Estado (1960-2000)”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 15, no 43, pp. 12-25.

. (2002), The Internationalization of Palace Wars: Lawyers, Economists and the Contest toTransform Latin American States. Chicago, University of Chicago Press.

ENGELMANN, Fabiano. (2006), Sociologia do Campo Jurídico: Juristas e Usos do Direito.Porto Alegre, SAFE.

. (2008), “Internacionalização e Legitimação da Formação Acadêmica em Adminis-tração no Brasil nas Décadas de 90 e 2000”. Revista Tomo, no 13, pp. 239-263.

FORJAZ, Maria Cecília Spina. (1997), “A Emergência da Ciência Política no Brasil”. Re-vista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 12, no 35.

GRÜN, Roberto. (2004), “O MBA como um Brevê de Internacionalização e de Moderni-dade Profissional entre Engenheiros”, in A. M. Almeida et alii (orgs.), Circulação

514

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

Internacional e Formação Intelectual das Elites Brasileiras. Campinas, Ed. da Unicamp,pp. 282-298.

KOERNER, Andrei. (1998), Judiciário e Cidadania na Constituição da República Brasileira.São Paulo, Hucitec.

LÓPEZ-RUIZ, Osvaldo Javier. (2007), Os Executivos das Transnacionais e o Espírito do Capi-talismo. Rio de Janeiro, Azougue Editorial.

LOUREIRO, Maria Rita. (1997), Os Economistas no Governo: Gestão Econômica e Democra-cia. Rio de Janeiro, Ed. FGV.

.(2004-2005), “Circulation Internationale des Économistes Brésiliens”. Cahiers duBrésil Contemporain, n. 57/58-59/60. pp. 151-175.

PILAR, Domingo e SIEDER, Rachel. (2001), Rule of Law in Latin America: The InternationalPromotion of Judicial Reforms. London, Institute of Latin American Studies/Univer-sity of London Press.

POPEAU, Franck. (2004), “Sur deux formes de capital international”. Actes de la Rechercheen Sciences Sociales, no 151-152, pp. 127-130.

RODRIGUES, Horácio W. (1992), A Crise do Ensino Jurídico de Graduação no BrasilContemporâneo: Indo Além do Senso Comum. Tese de Doutorado em Direito, Uni-versidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis.

SANTAMARIA, Ângela e VECCHIOLI, Virgínia (org). (2008), Derechos humanos en Ame-rica latina. Mundialización y Circulación Internacional del Conocimiento Experto Jurídico.Bogotá, Ed. Universidad Del Rosário.

TARGA, Leandro G. (2010), A Politização do Direito na Magistratura: Ativismo JurídicoVia Associativismo de Juízes, uma Análise da AJD e da Militância pelos Direitos Hu-manos. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais,Universidade Federal de São Carlos.

VASCONCELLOS, Maria Drosila. (1998), “L’Internationalization des Écoles de Gestionau Brésil”. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, nos. 121-122, pp. 123-137.

VENÂNCIO FILHO, Alberto. (1977), Das Arcadas ao Bacharelismo: 150 Anos de Ensino Jurí-dico no Brasil. São Paulo, Perspectiva.

VIANNA, Luiz Werneck et alii. (1999), A Judicialização da Política e das Relações Sociais noBrasil. Rio de Janeiro, Ed. Revan.

Globalização e Poder de Estado: Circulação Internacional de Elites e Hierarquias...

515

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas

ABSTRACTGlobalization and State Power: International Circulation of Elites andHierarchies in the Brazilian Legal Field

Based on the issue of globalization of state expertise, the article intends toanalyze the conditions in the internationalization of the Brazilian legal field,with a focus on the relationship between the international capital mobilized byjurists and the field’s hierarchical structuring. The basis for the analysisconsists mainly of the comparison between the university, professional, andpolitical backgrounds of the three representative segments of the legal elite:faculty members in the graduate studies programs in law, partners in theleading law firms, and justices of the Superior Court of Justice and theSupreme Court. The various links to the international sphere can be related tothe different positions in the Brazilian legal field and their relationship to thepolitical and economic sphere.

Key words: legal elites; internationalization; state power

RÉSUMÉMondialisation et Pouvoir d’État: Circulation Internationale des Élites etHiérarchies du Champ Juridique Brésilien

Prenant comme point de départ la problématique de la mondialisation destravaux d’experts concernant l ’État , on examine les condit ionsd’internationalisation du champ juridique brésilien visant surtout le rapportentre le capital international mobilisé par les juristes et la hiérarchisation dansce champ. Cette analyse part surtout de la comparaison des trajectoiresuniversitaires, professionnelles et politiques de trois segments représentatifsde l’élite juridique: enseignants dans les cours de doctorat en droit, avocatsassociés aux plus importants cabinets juridiques et ministres du SupérieurTribunal de Justice et du Supérieur Tribunal Fédéral. Les divers liens avecl’espace international peuvent être rapportés aux différentes positions dans lechamp juridique brésilien et à leur relation avec l’espace politique etéconomique.

Mots-clés: élites juridiques; internationalisation; pouvoir d’État

516

Fabiano Engelmann

Revista Dados – 2012 – Vol. 55 no

2

1ª Revisão: 04.07.2012

Cliente: Iuperj – Produção: Textos & Formas