globalização e direitos humanos

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Globalização e Direitos Humanos Licenciatura em Relações Internacionais Sociologia das Relações Internacionais Discente: Joana Rodrigues, 2015249430 Docente: António Casimiro Ferreira

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Page 1: Globalização e Direitos Humanos

Globalização e Direitos

HumanosLicenciatura em Relações InternacionaisSociologia das Relações Internacionais

Discente: Joana Rodrigues, 2015249430Docente: António Casimiro Ferreira

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Os direitos humanos, como os pensamos hoje – universais, interdependentes e juridicamente garantidos a nível internacional –, nasceram no pós-II Guerra Mundial.

A ONU incluiu entre os seus objetivos a promoções desses direitos e que os Estados ajam em colaboração com ela para promover a sua observância.

A DUDH de 1948 proclama-se «como ideal a atingir por todos

os povos e todas as nações».

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Tipo de Direitos Humanos

Direitos Humanos de carácter civil e político/direitos civis e políticos (direitos que associamos à democracia política).

Direitos Humanos articulados com os direitos económicos, sociais e culturais.

Direitos Humanos coletivos associados à tutela, à proteção do ambiente, património comum da humanidade, etc.).

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Estado de Direito

Na sociedade civil laica e democrática o que fundamenta a moral é o Direito.

Na sociedade civil laica e democrática os Direitos são os Direitos do outro, não os do ‘nós’.

Uma sociedade que assenta nos Direitos é uma sociedade que assenta no reconhecimento dos Direitos do outro.

Nesta relação está presente a ideia de que todos somos iguais.

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Dignidade Humana: Fundamental VS Mera retórica

É o direito de cada ser humano de ser respeitado e valorizado, como um indivíduo e social, com suas características particulares e condições, pelo simples facto de ser uma pessoa. O dever do seu respeito está inserido na Constituição.

Dignidade da pessoa humana - partindo da pessoa, parte-se de uma dimensão culturalmente assumida.

A sociedade como uma orquestra. A sociedade vale mais do que a soma das individualidades.

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Crítica da Declaração dos Direitos do Homem por Vaneigem1. A história das liberdades concedidas ao homem sempre se confundiu com a história das liberdades concedidas pelo homem à economia.

2. Os direitos do homem são simples extensões particulares do direito

de sobrevivência de uma economia totalitária, que se impôs

falaciosamente como único meio de subsistência da espécie humana.

3. O direito de sobrevivência (…) actua antes de mais como uma

suspensão de pena e um recurso contra a condenação à morte que a

economia pronuncia para com quem não trabalha para aumentar o seu

poderio.

Page 7: Globalização e Direitos Humanos

As liberdades mercantis esboçam e negam as liberdades humanas

1. A liberdade que (o capitalismo) concede ao servo tornado proletário

estipula por contrato que essa deve servir primordialmente um saber-fazer

e uma habilidade mecânica (…) e não pode ser malbaratada ou contrariada

por qualquer veleidade que a afaste do caminho recto do trabalho. P.e., o Habeas corpus de 1679 (…) funciona como uma garantia contra as

perseguições, as detenções, as prisões abusivas.

4. «Que a liberdade de imprensa é um dos mais poderosos bastiões da

liberdade e só pode ser limitada por governos despóticos».

Page 8: Globalização e Direitos Humanos

6. A declaração dos direitos do homem e do cidadão (…) 1789 (…) põe

fim juridicamente ao Antigo Regime e inaugura (…) as liberdades (…). A

primeira parte do artigo 1º, «os homens nascem livres e iguais em

direito» revoga para sempre o odioso privilégio de nascimento dos

pretensos aristocratas, e só ela seria suficiente para a sua glória. (…)

«As distinções socias só podem basear-se na utilidade comum» (…) A

sua radicalidade terá como particular consequência o decreto da

Convenção francesa de 4 de Fevereiro de 1794 que aboliu a

escravatura, embora este só tenha entrado em vigor em 1848 (...). A

escravatura legal perpetuada pelo trabalho assalariado não foi, até

agora, abolida.»

Page 9: Globalização e Direitos Humanos

Não existem direitos adquiridos, há apenas direitos a conquistar

1. A luta contra as tiranias reclamou-se do humanismo com uma

liberdade que o liberalismo espezinhou.

2. As tiranias antigas nunca dissimularam o seu desprezo pelo homem,

considerando que este merecia sofrê-las uma vez que as tolerava, ou

até que desejava.

3. O humanismo propugna a dignidade do homem abstracto até à pior

indignidade do homem concreto.

i. Aqui surge a frase de Manon Philippon-Roland, «liberdade, quantos crimes

se cometem em teu nome».

Page 10: Globalização e Direitos Humanos

4. Se o humanismo repõe o homem no centro do universo, coloca-o no

cerne de um mundo que o aliena.

5. O contrato social segundo o qual o Estado concede ao homem um

estatuto de cidadão consubstancia um conto do vigário conforme ao

espírito mercantil.

6. Ao homem (…) sucede o cidadão, posto ao serviço do Estado ao

abrigo de um contrato cujos termos não escolheu. (…) O humanismo é o

culto do homem alienado.

7. Os direitos humanos, sendo supostos precaver-nos contra tudo o que

tente violá-los, sancionam de facto o carácter opressivo de uma

comunidade cujos interesses lesam ou contrariam os dos seus membros.

Page 11: Globalização e Direitos Humanos

Dos direitos sem deveres à criação de um estilo de vida

1. «É indispensável fazer uma declaração dos direitos para pôr cobro às

devastações do despotismo» Barnave.

5. Queremos substituir a negociata que implicava o preceito «não há

direitos sem deveres» pelo princípio « não há direitos sem desejos, não

há desejos sem direitos».

6. O direitos humanos lembram-nos de viver, eliminando o tempo de «memento mori».

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8. A mutação económica em curso conduz a uma mutação de

civilização. (…) A única maneira de combater o pior é obstinarmo-

nos a querer o melhor.

9. O cidadão (…) é a consciência crítica da instituição política e

social que o produz. (…) Os direitos do homem nunca ultrapassam

os direitos do cidadão.

10. Reconhecemos como único poder a supremacia do vivente. (…)

Basta-nos ser humanos para atingirmos a consciência de nunca o

sermos suficientemente.

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Direitos Humanos ao serviço de uma Política Progressista e Emancipatória

TENSÕES DIALÉTICAS NA MODERNIDADE OCIDENTAL

• Regulação Social VS Emancipação Social• Estado VS Sociedade Civil

• Estado Nação VS Globalização

Page 14: Globalização e Direitos Humanos

Globalização

Processo pelo qual determinada condição, ou entidade local, estende

a sua influência a todo o globo e, ao fazê-lo, desenvolve a capacidade

de designar como local outra condição social ou entidade rival.

Os conjuntos diferenciados de relações sociais dão origem a

diferentes fenómenos de globalização. Não existe uma entidade única

chamada globalização. Existem, em vez disso, globalizações.

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Modos de produção de Globalização

Globalização hegemónica

Localismo globalizado

Globalismo localizado

Globalização contra-

hegemónica

Cosmopolismo subalterno insurgente

Património comum da

humanidade

Page 16: Globalização e Direitos Humanos

Reconstrução Intercultural dos Direitos Humanos

Enquanto forem concebidos como universais em abstrato, os Direitos Humanos tenderão a operar como localismo globalizado e, portanto, como uma forma de globalização hegemónica.

Concebidos como direitos universais, os Direitos Humanos tenderão sempre a ser um instrumento do «choque de civilizações».

«Os polos de invisibilidade e de supervisibilidade estão intimamente

correlacionados com os imperativos da política externa norte-

americana». Richard Falk

Page 17: Globalização e Direitos Humanos

O multiculturalismo emancipatório é a pré-condição de uma relação

equilibrada e mutuamente potenciadora entre a competência global e

a legitimidade local, os dois atributos de uma política contra-

hegemónica de direitos humanos no nosso tempo.

A questão da universalidade dos DH é uma questão cultural do

Ocidente. Logo, os estes são universais apenas quando interpretados

de um ponto de vista ocidental. A questão da universalidade nega a

universalidade do que questiona.

Page 18: Globalização e Direitos Humanos

A marca ocidental liberal do discurso dominante dos direitos humanos pode ser facilmente identificada na Declaração Universal de 1948, elaborada sem a participação da maioria dos povos do mundo; no reconhecimento exclusivo de direitos individuais, com a única exceção do direito coletivo à autodeterminação, o qual, no entanto, foi restringido aos povos subjugados pelo colonialismo europeu; na prioridade concedida aos direitos cívicos e políticos sobre os direitos económicos, sociais e culturais; e no reconhecimento do direito de propriedade como o primeiro e, durante muitos anos, o único direito económico.

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Premissas de uma Política Contra-Hegemónica de Direitos Humanos

1. Superação do debate sobre universalismo e relativismo cultural.

2. Todas as culturas possuem conceções de dignidade humana, mas nem todas elas a concebem em termos de direitos humanos.

3. Todas as culturas são incompletas e problemáticas nas suas conceções de dignidade humana.

4. Nenhuma cultura é monolítica.

5. Todas as culturas tendem a distribuir as pessoas e os grupos sociais entre dois princípios competitivos de pertença hierárquica: o da igualdade e o da diferença.

Page 20: Globalização e Direitos Humanos

A hermética diatópica

A conceção ocidental dos direitos humanos está contaminada

por uma simetria muito simplista e mecanicista entre direitos e

deveres.

A fraqueza fundamental da cultura ocidental consiste em

estabelecer dicotomias demasiado rígidas entre o individuo e a

sociedade. De igual modo, a das culturas hindu e islâmica deve-se

ao facto de nenhuma delas reconhecer que o sofrimento

humano tem uma dimensão individual irredutível.

Page 21: Globalização e Direitos Humanos

As dificuldades da reconstrução dos Direitos Humanos

Um dos mais problemáticos pressupostos da hermenêutica diatópica é a conceção das culturas como entidades incompletas.

Se uma cultura se considera inabalavelmente completa, não tem nenhum interesse em envolver-se em diálogos interculturais; se, pelo contrário, admite, como hipótese, a incompletude que outras culturas lhe atribuem e aceita o diálogo, perde confiança cultural, torna-se vulnerável e corre o risco de ser objeto de conquista.

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Condições para uma Reconstrução Intercultural dos Direitos Humanos Da completude à incompletude.

Das versões culturais estreitas às versões amplas.

De tempos unilaterais a tempos partilhados

De parceiros e temas unilateralmente impostos a parceiros e temas escolhidos por mútuo acordo.

Da igualdade ou diferença à igualdade e diferença.

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Direitos Humanos Interculturais e Pós-Imperiais

O direito de levar o capitalismo global a julgamento num tribunal mundial.

O direito à transformação do direito de propriedade segundo à trajetória do colonialismo para a solidariedade.

O direito à autodeterminação

democrática.

O direito à organização e participação na criação de direitos.

O direito à concessão de direitos a entidades incapazes de terem deveres, nomeadamente a natureza e as gerações futuras.

O direito ao conhecimento

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Conclusão

As políticas de direitos humanos baseiam-se na supressão

maciça de direitos constitutivos.

Na forma como têm sido usualmente concebidos, os direitos

humanos são um localismo globalizado.

Foram delineados os fundamentos para uma conceção intercultural das políticas emancipatórias de direitos humanos. Estas políticas devem basear-se em duas reconstruções radicais: intercultural ou pós-imperial.

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Direitos Humanos em Portugal

“Portugal é Parte em muitos dos principais tratados de direitos humanos existentes”. Este tornou-se Parte, sem a aposição de quaisquer reservas, de todos os principais tratados de direitos humanos da ONU, à exceção da CDF e da CMW.

1º a entrar em vigor: 1 de Dezembro de 1923 – Convenção Internacional para a Supressão do Tráfico de Mulheres e Crianças.

Último a entrar em vigor: 1 de Junho de 2010 – Protocolo nº14 à Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais (CoE), que, por sua vez, entrou em vigor a 9 de novembro de 1978.

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Enquanto Estado Parte na CEDH e em todos os seus Protocolos Adicionais atualmente em vigor à exceção do nº12, Portugal encontra-se ainda sujeito à jurisdição do TEDH.

Entre 1959 e 2010, 2074 queixas foram apresentadas contra Portugal, mas a maioria (1597) foi declarada inadmissível e, por fim, rejeitada. Foram proferidas 206 sentenças e em 138 o TEDH concluiu ter havido violação da CEDH ou dos seus Protocolos.

A 1 de Janeiro de 2011, encontravam-se pendentes no TEDH 271 processos contra Portugal.

Page 27: Globalização e Direitos Humanos

Os problemas mais comuns em Portugal segundo a

comunidade internacional são a violência policial, situação

prisional e pessoas de etnia cigana.

Ainda assim, Portugal é visto como “exemplo de boas

práticas” no que respeita à integração de imigrantes. No

entanto, é também criticado por não dispor de um plano

nacional de direitos humanos nem de estratégias para

implementação da CDC.

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O processo de Revisão Periódica Universal da situação de Portugal (2009) A situação portuguesa em matéria de DH foi discutida pelo Conselho

de Direitos Humanos da ONU. Foram, neste âmbito, dirigidas a Portugal 89 recomendações concretas das quais apenas 3 foram rejeitadas:

1) Ratificar a Convenção Internacional para a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das Suas Famílias (Egito, Argélia, Nigéria, Filipinas e Argentina);

2) Reforçar as medidas destinadas a prevenir o uso desproporcionado da força pela polícia mediante a integração de representantes das minorias étnicas nas forças de segurança, assim como as medidas destinadas a punir esses atos (Argentina);

3) Desenvolver um plano nacional para os direitos humanos em conformidade com a Declaração e Programa de Ação de Viena (Irão).

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Bibliografia

Santos, Boaventura de Sousa, 2006, “Para uma concepção intercultural dos direitos humanos” in A Gramática do Tempo para uma nova cultura política volume 4 capítulo 13. Porto: Edições Afrontamento.

Santos, Boaventura de Sousa, 2014, Se Deus Fosse um Activista dos Direitos

Humanos. Coimbra: Edições Almedina.

Tavares, Raquel, 2013, Direitos Humanos, De Onde Vêm, o Que São, e para Que

Servem?. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Vaneigem, Raoul, 2003, Declaração Universal dos Direitos do Ser Humano. Lisboa: Antígona.