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  • EDUCAR PARA PRESERVAR: REPRESENTAES DE MEIO AMBIENTE EM DOCENTES DE

    EDUCAO BSICA

    Helder Jaime Kus1Elisete Guimares2

    Edival Sebastio Teixeira3

    RESUMO: O artigo apresenta resultados de uma pesquisa desenvolvida com professores de Ensino Mdio, cujo objetivo foi identifi car e analisar as representaes sociais de meio ambiente dos sujeitos no intuito de verifi car possveis relaes entre essas representaes e suas prticas pedaggicas em educao ambiental. Participaram do estudo 24 professores de duas escolas pblicas urbanas localizadas na cidade de Clevelndia, Paran, Brasil. Os dados foram coletados atravs de um questionrio composto por uma questo de evocao livre, cujo termo indutor era meio ambiente, e questes dissertativas sobre educao, educao ambiental e prtica pedaggica em educao ambiental. Os resultados apontam que as representaes sociais dos sujeitos da pesquisa expressam uma postura conservacionista, caracterizada por preocupaes sobre as consequncias da degradao ambiental. Observou-se relao entre essa concepo dos professores e suas prticas pedaggicas em educao ambiental, as quais focalizam aspectos pontuais da problemtica ambiental.

    Palavras-chave: Representaes sociais. Prtica pedaggica. 1 Mestre em Desenvolvimento Regional pela UTFPR. Professor da rede estadual de educao do Para-n. E-mail: [email protected] Doutora em Qumica pela UFPR. Docente do Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional da UTFPR. E-mail: [email protected] Doutor em Educao pela USP. Docente do Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Re-gional da UTFPR. E-mail: [email protected].

    p. 91 - 110 Jun. 2012. Recebido em: 15 jun. 2012 Aprovado em:19 jun. 2012R. de Cincias HumanasFredererico Westphalen v. 13 n. 20

  • EDUCAR PARA PRESERVAR: REPRESENTAES DE MEIO AMBIENTE EM DOCENTES DE EDUCAO BSICA

    R. de Cincias Humanas Frederico Westphalen v. 13 n. 20 p. 91 - 110 Jun. 201292

    Educao ambiental.

    INTRODUO

    De acordo com Reigota (2007), no h consenso na comunidade cientfi ca sobre a defi nio de meio ambiente e, por essa razo, esse autor prefere consider-lo como representao e no como conceito. Para Reigota nas investigaes sobre representao social de meio ambiente que tm adotado a linha da psicologia social, o ambiente tem sido representado mais comumente sob trs concepes: antropocntrica, globalizante e naturalista.

    Os sujeitos que representam meio ambiente na concepo antropocntrica focalizam sua ateno na utilidade dos recursos naturais para a sobrevivncia do ser humano, que dispe destes para garantir melhor condio de vida para si. Os que se pautam na concepo globalizante observam as relaes de reciprocidade entre a sociedade e a natureza, enfocando aspectos naturais, polticos, sociais, econmicos, fi losfi cos e culturais, compreendendo o ser humano, portanto, como parte do meio. J na terceira concepo, os aspectos ressaltados so os da natureza, como se o meio ambiente estivesse voltado apenas para o que natural, envolvendo, desta forma, conceitos tais como os de ecossistema, habitat e ecologia. Nessa viso, o ser humano seria um observador passivo que estaria fora do contexto da fauna, da fl ora e do meio abitico, no tendo com essas instncias laos de responsabilidade ou pertencimento.

    Embora tenha constatado que no se esgotam os mais variados conceitos de meio ambiente e suas defi nies, Reigota (2007), contudo, considera que o termo parece indicar uma amplitude maior do que a noo de ecossistema sugere.

    Um ecossistema pode ser compreendido como o conjunto dos seres biticos e abiticos que interagem entre si em determinado espao, trocando insumos e energia de modo equilibrado e interdependente. Por sua vez, a noo de meio ambiente implica considerar a insero humana como parte desse espao, interagindo com os demais componentes e inserindo a dimenso social em seus vrios aspectos, tais como o histrico, o cultural, o poltico e o econmico. Essa parece ser a concepo defendida nos Parmetros

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    Curriculares Nacionais (PCN). Com efeito, nesses documentos afi rma-se que o termo meio ambiente tem sido utilizado para indicar um 'espao' (com seus componentes biticos e abiticos e suas interaes) em que se vive e se desenvolve, trocando energia e interagindo com ele, sendo transformado e transformando-o (BRASIL, 2001, p. 31).

    Por sua vez, Raynaut (2004, p. 27) considera que a palavra meio ambiente designa o mundo fsico e bitico encarado nas suas relaes com o homem. Para o autor, trata-se de uma noo multicntrica que se aplica conforme as perspectivas adotadas, a indivduos, grupos, organismos e populaes de seres vivos. Assim, concordando-se com Raynaut, entender-se-ia o meio ambiente como um espao de interaes entre elementos naturais e culturais, as quais so passveis de serem compreendidas a partir de determinadas perspectivas de tempo, de espao e de concepes de mundo.

    Em Saber Ambiental, Leff (2001, p. 17) afi rma que o ambiente emerge como um saber integrador da diversidade, de novos valores ticos e estticos e dos potenciais sinergticos gerados pela articulao dos processos ecolgicos, tecnolgicos e culturais.

    Assim, considerando autores como Leff (2001), Raynaut (2004) e Reigota (2007), o conceito de meio ambiente envolve elementos biogeoqumicos, sociais e culturais, avanando-se, assim, para uma viso que vai alm de uma perspectiva meramente naturalista. Aceitando-se essa noo, toma-se neste artigo o conceito apresentado por Marcos Reigota, ou seja, a concepo de meio ambiente como referente a um lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais esto em relaes dinmicas e em interao. Essas relaes implicam processos de criao cultural e tecnolgica e processos histricos e sociais de transformao do meio natural e construdo. (2007, p. 154).

    Enquanto espao determinado (REIGOTA, 2007), o conceito de meio ambiente incorpora uma dimenso temporal. Desta forma, considerando-se todos os cuidados necessrios para a generalizao de resultados de investigao cientfi ca, possvel utilizar o recurso do recorte para que seja possvel obter um conhecimento contextual mais aprofundado.

    Enquanto lugar percebido, esse conceito de meio ambiente leva

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    em conta que cada sujeito o delimita a partir de suas representaes, informaes especfi cas, experincias e vivncias cotidianas em seu tempo e espao (REIGOTA, 2007).

    E enquanto espao de interaes dinmicas, nessa concepo se aceita que as constantes transformaes propiciadas pelas interaes entre fatores biticos e abiticos, entre grupos sociais e o meio natural ou construdo implica transformaes no prprio homem (REIGOTA, 2007). Com efeito, interagindo com os elementos do seu ambiente num processo criativo que ao mesmo tempo interno (no sentido subjetivo) e externo, ao transformar o ambiente o ser humano tambm modifi ca sua prpria viso a respeito da natureza e do meio em que vive (BRASIL, 2001). Em outras palavras, ao transformar seu ambiente a humanidade transforma-se a si mesma.

    Assim, ao se aceitar o conceito de meio ambiente enquanto espao onde seres humanos e natureza tecem relaes, ao invs de um espao em que tais elementos apenas intercambiam, se pretende salientar que o estudo do meio ambiente e daquilo a ele relacionado exige ultrapassar limites disciplinares, principalmente do campo da biologia e considerar outros campos, como os das cincias sociais.

    nesse sentido que se pode compreender ressalvando-se a possibilidade de outras leituras a afi rmao de Reigota (2007, p. 14) acerca de que o primeiro passo para a realizao da educao ambiental deve ser a identifi cao das representaes das pessoas envolvidas no processo educativo.

    O autor faz essa afi rmao mencionando o contexto de um curso de formao de educadores ambientais por ele ministrado na dcada de 1990. Na opinio de Reigota, ao se identifi carem tais representaes, melhor podem ser programadas atividades de capacitao tendo em vista que as prticas pedaggicas so executadas conforme as concepes de mundo, de homem e de educao dos professores. E as representaes a que se refere o autor em questo so as de meio ambiente e de educao ambiental.

    Nos Parmetros Curriculares Nacionais, tambm, observa-se como fundamental trabalhar a educao ambiental a partir da viso que as pessoas tm sobre o termo meio ambiente, tendo em vista a importncia de se identifi car qual representao social cada parcela da sociedade tem do meio ambiente, para se trabalhar tanto com os

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    alunos como nas relaes escola-comunidade (BRASIL, 2001, p. 31).

    Por essa razo, desenvolveu-se a pesquisa relatada no presente artigo, cujo objetivo era identifi car as representaes sociais de meio dos professores de ensino mdio e analisar as relaes existentes entre essas representaes e suas prticas pedaggicas em educao ambiental. O estudo foi desenvolvido em duas escolas pblicas localizadas na cidade de Clevelndia, Paran.

    REPRESENTAES SOCIAIS E PRTICA PEDAGGICA Por representaes sociais compreende-se tanto um fenmeno

    cognitivo que orienta condutas, quanto teoria que o explica (S, 1996). Enquanto modelo explicativo trata-se da ideia de que os sujeitos buscam explicaes e criam teorias prprias sobre uma srie infi nita de assuntos, procurando explicar como esse fenmeno do homem acontece a partir de uma perspectiva coletiva, mas sem perder de vista a individualidade.

    De acordo com Moscovici (2003), as representaes sociais podem ser compreendidas como um conjunto de conceitos, explicaes e afi rmaes que se originam no decurso das interaes sociais da vida diria. Foi Denise Jodelet, uma das mais importantes seguidoras de Moscovici, quem estabeleceu um conceito operacional de representaes sociais, o qual vem sendo amplamente utilizado (S, 1998).

    A pesquisadora francesa defi ne sinteticamente as representaes sociais como

    uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prtico, e que contribui para a construo de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como saber do senso comum ou ainda saber ingnuo, natural, esta forma de conhecimento diferenciada, entre outras, do conhecimento cientfi co. Entretanto, tida como um objeto de estudo to legtimo quanto este, devido sua importncia na vida social e elucidao possibilitadora dos processos cognitivos e das interaes sociais (JODELET, 2001, p. 22).

    Do ponto de vista individual, as representaes sociais se sustentam em dois processos cognitivos: a ancoragem e a objetivao.

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    So esses processos que ajudam os indivduos a se familiarizarem com o novo, primeiro inserindo-o no seu quadro de referncia, onde pode ser comparado e interpretado e depois o reproduzindo e o colocando sob controle (MOSCOVICI, 2003).

    A ancoragem tem a ver com o processo pelo qual o sujeito ajusta e compara o desconhecido s categorias, ideias e imagens j contextualizadas relativamente a algo familiar. Ou seja, mediante esse processo o sujeito ajusta o que lhe perturbador e intrigante em seu prprio sistema de categorias, comparando-o com paradigmas ou categorias que pensa ser mais apropriadas.

    A respeito da ancoragem Moscovici (2003, p.70) afi rma que sua teoria exclui a ideia de pensamento ou percepo que no possua ancoragem, ao mesmo tempo em que os sistemas de classifi cao e nomeao no so simplesmente meios para rotular ou graduar pessoas ou objetos. Com efeito, diz Moscovici,

    no podemos esquecer que interpretar uma idia ou um ser no-familiar sempre requer categorias, nomes, referncias, de tal modo que a entidade nomeada possa ser integrada na sociedade de conceitos de Gombrich. Ns os fabricamos com esta fi nalidade, na medida em que os sentidos emergem, ns os tornamos tangveis e visveis e semelhantes s idias e seres que ns j integramos e com os quais ns estamos familiarizados (MOSCOVICI, 2003, p. 70).

    Enfi m, a ancoragem se refere assimilao de imagens, pensamentos, ideias, etc. s anteriores propiciando dessa forma o surgimento de novas representaes sociais (MOSCOVICI, 2003). Ou seja, este processo consiste na incorporao de novos elementos de conhecimento numa rede de categorias familiares. Na ancoragem os acontecimentos so incorporados e reinterpretados mediante um processo que se d a partir de trs condies: a primeira condio a atribuio de um sentido ao objeto novo que se relacione com algum sentido j estabelecido, j portador de um signifi cado; a segunda condio tem a ver com a instrumentalizao do saber, mediante a qual o sujeito interpreta o conhecimento novo dando-lhe uma nova forma, traduzindo-o e incorporando-o ao seu universo socialmente vivido; fi nalmente, a terceira condio consiste no enraizamento, isto , uma espcie de organizao estrutural do objeto novo ao sistema de pensamento do sujeito.

    J a objetivao, o processo pelo qual as ideias abstratas

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    transformam-se em algo concreto, algo quase tangvel nas palavras de Moscovici. por esse processo que se d a passagem de um ente imaginrio a um ente quase material, isto , de uma cognio a um ato manifesto.

    Moscovici (2003, p. 71-72) entende que a objetivao responsvel pela unio daquilo que no familiar com a realidade, tornando o no familiar em realidade. Assim, percebida primeiramente como um universo puramente intelectual e remoto, a objetivao aparece, ento, diante de nossos olhos, fsica e acessvel. [...] objetivar descobrir a qualidade icnica de uma ideia; reproduzir um conceito em uma imagem.

    Denise Jodelet (2001) afi rma que a objetivao subdivide-se em trs fases. A primeira uma construo seletiva que ocorre a partir do contato com os conhecimentos cientfi cos. As pessoas se apropriam desses conhecimentos, incorporando-os ao seu universo conceitual de acordo com suas interpretaes.

    A segunda fase chamada de esquematizao. Trata-se do processo pelo qual se fundamenta determinada representao atribuindo-lhe um signifi cado e uma forma de organizao, mediante a qual a ideia bsica da representao ser veiculada. Por fi m, na terceira fase da objetivao ocorre a atribuio de uma funo representao que seja capaz de produzir um efeito, isto , que seja capaz de orientar condutas.

    De acordo com Franco (2004), toda objetivao que se cristaliza passa a constituir o ncleo central de determinada representao. Esse ncleo central composto por um ou vrios elementos cuja fi nalidade , ao mesmo tempo, dar uma signifi cao e uma espcie de organizao representao. Assim, a presena de determinados elementos centrais que asseguram a permanncia de uma representao (S, 1996).

    pela identifi cao desse ncleo que se infere a existncia de consensos relativamente compartilhados acerca de algum objeto. Por essa razo, entende-se que o ncleo central repercute a memria coletiva, o que implica admitir que sua formao seja marcada pelas condies histricas inerentes ao contexto do grupo social que o manifesta (S, 1996; FRANCO, 2004; CROMACK, BURSZTYN & TURA, 2009).

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    O ncleo central organiza-se como uma estrutura hierarquizada, que se determina pela natureza do objeto e pelo sistema de valores e normas sociais que constituem o contexto ideolgico do grupo. Este ncleo formado por um ou mais elementos que do o signifi cado representao, de modo que se constitui como seu elemento essencial.

    De acordo com S (1996; 1998), em torno dos atributos centrais de uma representao orbitam um conjunto de elementos perifricos passveis de captao e compreenso.

    O ncleo central confere uma base relativamente estvel representao, de modo que se caracteriza por ser um tanto resistente mudana. Por isso, assegura a continuidade e a permanncia de uma representao por tempos mais ou menos longos (POLLI et al., 2009), a despeito do contexto imediato no qual a representao posta em evidncia.

    J o sistema perifrico mais malevel e suscetvel mudana e, por essa razo, consegue integrar experincias particulares, a heterogeneidade e as idiossincrasias. Cromack, Bursztyn & Tura (2009, p. 628) afi rmam que o sistema perifrico promove a interface entre a realidade concreta e o ncleo central, atualizando-o e contextualizando-o constantemente, da resultando sua mobilidade e fl exibilidade, permitindo a expresso individualizada e tornando possvel que a representao social se ancore na realidade do momento.

    Para fi nalizar este tpico, argumentamos que em sendo o objeto de investigao dos estudos de representao social como se formam e como funcionam os sistemas de referncia que utilizamos para classifi car assuntos, pessoas e grupos e para interpretar condutas e acontecimentos da realidade cotidiana, perfeitamente pertinente a utilizao dessa teoria na pesquisa educacional.

    Por suas relaes com a linguagem, com a ideologia, com o imaginrio social e, principalmente, por seu papel na orientao de comportamentos e prticas sociais e educacionais, a teoria aporta elementos essenciais anlise dos mecanismos que interferem na efi ccia do processo educativo.

    Assim, considerando-se que as aes humanas so ancoradas em determinadas concepes de mundo, de homem, de sociedade, etc., e

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    que tais representaes tm a capacidade de orientar condutas, pode-se admitir que as representaes sociais de um grupo de professores sobre determinado tema orientam suas prticas pedaggicas a respeito do mesmo. Em outras palavras, se as representaes sociais enquanto fenmenos cognitivos so capazes de orientar prticas pedaggicas escolares no mbito da educao ambiental, parece correto supor a importncia e pertinncia da utilizao da teoria ora apresentada para se identifi car o que professores pensam sobre meio ambiente, na linha do que afi rma Reigota (2007).

    Almeida (2005, p. 183) entende como prtica pedaggica um conjunto aes, comportamentos, atitudes, intencional e conscientemente ordenados por um ou mais agentes, com a fi nalidade infl uenciar outrem visando interferir em sua forma de agir, pensar, se comportar ou se expressar. Considerando esse conceito, tais prticas esto, portanto, nos mais diversos contextos sociais, sendo que o que nos interessou nesta pesquisa eram as prticas pedaggicas escolares. Isto , aquelas que so intencionalmente pensadas e desenvolvidas visando consecuo dos objetivos da educao escolar.

    Nesse contexto, as prticas pedaggicas so, portanto, o principal meio para a veiculao do conhecimento cientfi co, mas, ao mesmo tempo, para veicular um conjunto de comportamentos, valores e atitudes esperados de quem detm, ou de quem passar a deter determinados saberes e atitudes, estejam os docentes conscientes disso ou no.

    Assim, o planejamento pedaggico e a conduo da disciplina de cada professor, esto ligados, por um lado a determinados interesses que sustentam as escolhas de que conhecimentos devem ser estudados, bem como de que mtodos se devem lanar mo e, por outro lado, s concepes de mundo, de sociedade, de homem e de educao dos docentes. Essas escolhas podem derivar das diretrizes que ordenam os sistemas de ensino e dos documentos pedaggicos das escolas e certamente esto mais ou menos explcitas na forma como a disciplina conduzida.

    Da mesma forma, essas escolhas tambm tm a ver com as representaes sociais de educao dos professores, considerando-se tais representaes enquanto processos que tm a capacidade de orientar condutas. Logo, representaes sociais de meio ambiente

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    podem sustentar prticas pedaggicas escolares no mbito da educao ambiental, ainda que os professores no tenham se dado conta desse fato.

    MATERIAIS E MTODOS

    A investigao foi desenvolvida em duas escolas pblicas de Ensino Mdio, localizadas na cidade de Clevelndia, regio sudoeste do Paran. Os professores foram informados dos objetivos da pesquisa e aqueles que se dispuseram a participar assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

    Os dados foram coletados atravs de um questionrio de 3 partes. A primeira parte iniciava com uma pequena mensagem esclarecendo os sujeitos acerca de objetivo do estudo e, logo em seguida, algumas questes de resposta opcional visando estabelecer um perfi l dos sujeitos quanto idade, sexo, tempo de experincia no magistrio, formao e disciplina de atuao.

    A segunda parte era composta de sete questes dissertativas focalizando as concepes de educao ambiental. As questes eram: 1) O que voc entende por educao? 2) O que voc entende por educao ambiental? 3) Existem temas/contedos tpicos de educao ambiental? Justifi que sua resposta. 4) Existem disciplinas mais adequadas para desenvolver a educao ambiental na escola? Justifi que sua resposta. 5) Em sua opinio, qual a fi nalidade da educao ambiental? 6) Na sua disciplina possvel desenvolver atividades de educao ambiental? - Em caso afi rmativo citar exemplos; em caso negativo justifi car a resposta. 7) Descreva alguma atividade de educao ambiental que tenha desenvolvido.

    A terceira parte do instrumento era composta por uma questo de evocao livre, cujo termo indutor era meio ambiente e mais duas questes dissertativas, conforme explicitado em S (1996). Essa tcnica tem sido largamente utilizada nas pesquisas que visam identifi car o ncleo central de uma representao social, tais como os estudos de Cromack, Bursztyn & Tura (2009); Polli et al. (2009).

    Aos sujeitos era pedido que escrevessem em um pequeno quadro as 4 primeiras palavras que lhes viessem mente mediante a expresso meio ambiente. A seguir pedia-se que assinalassem as

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    duas que consideravam como sendo as mais importantes dentre as quatro evocadas e que justifi cassem a razo dessas escolhas.

    Para aplicao do instrumento foram utilizados os momentos em que os professores estavam em hora-atividade em seu turno de trabalho. Os sujeitos tinham total liberdade, no ocorrendo induo de respostas, nem mesmo esclarecimentos sobre as perguntas.

    Os dados obtidos pela questo de evocao livre foram organizados e tratados com o auxlio do programa Excel, seguindo-se os seguintes procedimentos: 1) transcrio das respostas em uma planilha, usando-se uma linha e 4 colunas para cada sujeito; 2) organizao dos termos evocados em 13 categorias, conforme a proximidade semntica ou os sentidos dos termos conforme as justifi cativas dadas pelos sujeitos em relao s suas escolhas; 3) clculo da frequncia mdia de evocao por categoria e clculo da mdia das ordens mdias de evocao, a qual foi obtida, por sua vez, pela diviso da somatria das frequncias ponderadas pelo nmero de categorias.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Participaram voluntariamente da pesquisa 24 docentes de diferentes disciplinas do Ensino Mdio. O grupo fi cou composto 21 (87,5%) sujeitos do sexo feminino e 3 sujeitos (12,5%) do sexo masculino. A faixa etria situa-se entre 21 e 48 anos.

    A partir do termo indutor meio ambiente, os sujeitos fi zeram 98 evocaes, utilizando 55 palavras diferentes. Considerando a proximidade semntica entre as mesmas, mas principalmente os sentidos com que os termos foram utilizados nas justifi cativas dadas pelos sujeitos a respeito de suas escolhas, o conjunto de evocaes foi organizado em 12 categorias distintas. A mdia de evocao por categoria encontrada foi igual a 7,54. A mdia das ordens mdias de evocao encontrada foi de 2,87.

    O conjunto dos dados foi disposto no quadro apresentado abaixo, de acordo com o procedimento usual em estudos sobre o ncleo central das representaes sociais, tais como os de Cromack, Bursztyn & Tura (2009) e Polli et al. (2009.

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    QUADRO 1 Distribuio das categorias segundo a frequncia mdia de evoca-o, a frequncia e a ordem mdia de evocao.

    Fme Categorias f ome< 2,87

    Categorias f ome 2,87

    7 DegradaoNatureza

    Preservao

    gua

    20

    19

    15

    9

    2,50

    2,26

    2,33

    1,73

    Conscien zao 12 3,00

    7 Vida DesmatamentoComida

    772

    2,862,292,50

    Cadeias

    Diversidade

    Guerra

    Urbanizao

    1111

    4,003,003,004,00

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Esses dados demonstram que o ncleo central da representao social de meio ambiente dos sujeitos da pesquisa formado pelas categorias Degradao, Natureza, Preservao e gua. Essas categorias, alm de estarem entre as mais prontamente evocadas abaixo da ome so tambm as mais lembradas a se julgar pela frequncia absoluta e, principalmente, porque seus elementos foram considerados como os mais importantes dentre todas as evocaes entre 58% e 100% das vezes em que foram citados.

    Ressalta-se que pesquisadores que se debruam sobre o tema das representaes sociais tm considerado como elementos mais suscetveis de pertencer ao ncleo central aqueles que, alm de estarem no quadrante superior esquerdo, so tambm considerados como mais importantes em pelo menos 50% das vezes em que so evocados, conforme S (1986), por exemplo.

    A categoria Degradao foi a mais mencionada, com 20 evocaes, sendo que em 60% das vezes seus elementos foram considerados mais importantes que os demais. Essa categoria foi constituda pelos elementos lixo, poluio, efeito estufa, aquecimento global, agrotxicos, industrializao, ar, gua contaminada. Justifi ca-se esse agrupamento, pois, como dissemos, para a categorizao foi

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    utilizado o recurso da aproximao semntica, mas, sobretudo, o recurso da observao dos sentidos dados pelos sujeitos quando das justifi cativas das escolhas feitas.

    Assim, por exemplo, a evocao dos elementos industrializao e ar, que em termos de semntica esto distantes entre si e ambos distantes do vocbulo Degradao foram includos nessa categoria porque ambos, quando apareceram, estavam ligados s evocaes dos elementos aquecimento global e lixo; sendo que estes dois ltimos elementos, que por sua vez claramente lembram degradao ambiental embora no sejam semanticamente prximos sempre apareceram juntos e/ou com outros elementos que tambm lembram degradao tais como gua contaminada, agrotxicos e aquecimento global.

    A categoria Natureza, com 19 evocaes e 58% das vezes consideradas as mais importantes pelos sujeitos que a mencionaram, comporta os elementos natureza, terra, homem, humano, fatores abiticos, fatores biticos, solo, ecologia, planeta, animais, fl orestas e mata. Tal como na categoria anterior, nem todos esses elementos so necessariamente prximos entre si do ponto de vista semntico. Contudo, sempre que apareceram estiveram juntos e as justifi cativas dos sujeitos para suas escolhas sugerem o que afi rmamos, conforme se demonstra nos fragmentos de resposta apresentados a seguir:

    Eu escolhi natureza, homem, fatores abiticos, fatores biticos, pois se trata do meio em que ns homens vivemos e a integrao dos componentes fsicos e vivos num equilbrio que propicie a vida com qualidade, sade, bem estar (S9CB - Sujeito 9 do Colgio CB).

    Esse sujeito atribuiu maior importncia aos dois primeiros elementos justifi cando que a natureza tem

    [...] componentes fsicos (ar, gua, solo) e seres vivos (animais, vegetais e microrganismos em interao e equilbrio), indispensveis ao ser humano. E que o homem o responsvel pela degradao, reduo de lixo, mundo capitalista, atitudes irresponsveis, etc. o nico capaz de reverter a situao usando sua inteligncia e bom senso (S9CB).

    Por sua vez, o S3TR (Sujeito 3 do Colgio TR.) mencionou ecologia, preservao, natureza, homem, nessa ordem, escolhendo os dois ltimos termos com o mais importantes. Para esse sujeito,

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    essas quatro palavras

    [...] nos lembram que o homem precisa se preocupar mais com a ecologia num aspecto geral, pois o meio ambiente est em todo lugar, no s l nas fl orestas, mas a preservao da natureza deve comear inclusive dentro de nossas casas, pois como gerimos a nossa vida, infl ui diretamente na preservao da natureza, comeando pela reciclagem do lixo (S3TR).

    Esse participante da pesquisa justifi cou a importncia dada s duas ltimas alegando que

    O homem est esquecendo que precisa ter um relacionamento humano com a natureza, a sua infl uncia negativa sobre ela est destruindo. E esse homem esquece que veio da natureza e para ela voltar. Portanto, urge mudar o comportamento do homem em relao natureza, preservando os seus interesses e o das geraes futuras (S3TR).

    O que se pode observar nesses fragmentos de resposta, que h certa aproximao entre o que pensam esses sujeitos sobre o que seria o meio ambiente e os conceitos de autores como Raynaut (2004) e Reigota (2007), e conforme se encontra nos PCN (BRASIL, 2001).

    Os elementos preservao, conservao, reciclagem e refl orestamento, agrupados na categoria Preservao, foram mencionados ao todo 15 vezes e destas, em 67% das evocaes foram considerados os mais importantes pelos sujeitos que os lembraram.

    O que chama ateno nesse ponto a coerncia encontrada entre esses dados e o que os sujeitos da pesquisa disseram quando lhes foi perguntado sobre o que entendem por educao ambiental, como se demonstrar na sequncia deste texto. Por hora diremos apenas que os pesquisados consideram educao ambiental como um conjunto de prticas educativas voltadas ao desenvolvimento de atitudes para a preservao do meio onde vivem.

    gua a categoria cujos elementos so menos evocados em relao aos das demais categorias do ncleo central. Seus elementos so: gua e rios. Porm, a categoria mais prontamente evocada, o que atestado pela sua ome igual a 1,73. Ou seja, seus elementos poucas vezes so evocados na segunda ou posterior posio dentre as quatro palavras solicitadas no instrumento de coleta de dados. Alm disso, em 100% das vezes seus elementos so considerados como mais importantes que os demais dentre os evocados pelos sujeitos.

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    Esse dado compatvel com os encontrados por Polli et al. (2009, p. 535). Esses autores concluram seu estudo afi rmando que seus dados mostram que so mais comuns populao estudada caractersticas positivas da gua, tendo sido enfatizada a preveno de problemas relacionados com esse recurso natural.

    Em relao a nossa prpria investigao, a palavra gua aparece ligada a todas as demais categorias do ncleo central. Por exemplo, um sujeito mencionou gua juntamente com lixo reciclado, agrotxicos e desmatamento, sendo estes ltimos elementos da categoria Degradao. Para esse participante,

    [...] preciso a conscientizao do ser humano em relao ao uso incorreto das palavras citadas, difcil, mas no impossvel que devemos tentar melhorar a situao atual, e se trabalharmos tais assuntos a tendncia que as novas geraes sejam mais consciente a assuntos relacionados a educao ambienta ( S2CB).

    Um sujeito tambm mencionou gua juntamente com outros elementos da categoria Degradao, especialmente, devastao e efeito estufa. Esse professor evocou seus quatro elementos, levando em considerao que

    a discusso acerca destes assuntos nos meios de comunicao tem ganhado espao, porm as aes prticas no tm acontecido na mesma proporo (S3CB).

    E atribuiu maior importncia aos elementos gua e reciclagem (categoria Preservao) porque a gua

    fundamental para a vida, necessria a todos e prioridade quando se pensa em preservao do meio ambiente (S3CB).

    Outro sujeito, ainda, ligou a palavra rios (categoria gua) s palavras natureza (categorias Natureza), poluio e aquecimento global (categoria Degradao). Para esse participante todas essas palavras esto juntas, pois

    [...] uma completa a outra, e os rios lembram gua, natureza, a nossa casa, e se ns no cuidarmos perderemos nossa casa e gua (S4TR).

    Com relao categoria Conscientizao, que pertence ao ncleo perifrico e cuja evocao foi superior media de evocao, a mesma foi constituda pelos elementos conscientizao, conscincia,

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    ensino, educao, educao ambiental, lixo reciclado, reciclar, respeito, mas, por outro lado, essa categoria foi considerada de pouca importncia pelos sujeitos da pesquisa, alm de ter seus elementos evocados na maioria das vezes na terceira ou quarta posio, dentre quatro possibilidades.

    Quando perguntados sobre a possibilidade de desenvolver atividades de educao ambiental em sua disciplina, quase a totalidade dos docentes respondeu afi rmativamente. Os exemplos citados foram: anlise de textos sobre meio ambiente; produo de texto sobre efeito estufa; pesquisa sobre o acmulo do lixo; a reciclagem de papel e caixas de leite para sacolas de presente. Os prprios alunos recolhem os materiais para serem reaproveitados na confeco dos produtos; campanha de coleta e destino do lixo reciclvel; dilogos explicativos so promovidos, bem como so realizadas discusses a respeito do tema aquecimento global e suas consequncias nos ambientes; outras atividades como debates, cartazes, quebra-cabea com jornais e revistas, manuteno da sala de aula limpa, gincana ambiental atravs de textos e vdeos.

    Alguns sujeitos descrevem de modo amplo suas prticas, ao passo que outros apenas as citam, por exemplo:

    Na rea de lngua portuguesa ou inglesa pode-se trabalhar com todos, msica, fi lmes, fazer discusso a respeito, gosto muito de trabalhar com fi lme e que gosta de trabalhar com pardias com relao gua, por exemplo, com fi lmes fazer debates, roteiro do fi lme etc. interpretaes de textos como aquecimento global (S1TR).

    Esclarecer aos discentes a necessidade da preservao ambiental (S11TR).

    Usando a reciclagem (S1CB).

    Vrias situaes do dia a dia, quando os alunos questionam sobre algum assunto (TV, jornais, revistas, dia a dia). Ainda sobre gua, lixo e reciclagem, agrotxicos, queimadas, desmatamento, transgnicos, poluio sonora, visual, automotores, etc. Um dilogo explicativo a melhor maneira de conscientizao ambiental. J fi z projeto sobre o lixo e o material que pode ser reaproveitado, levando os alunos no lixo da cidade e tentando a conscientizao sobre este assunto. Diariamente quando se fala de assuntos especfi cos podemos trabalhar sobre educao ambiental (S2CB).

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    Os dados apresentados como exemplo sugerem que h coerncia entre o que os docentes entendem por meio ambiente, por educao e por educao ambiental. Com efeito, demonstramos acima que a representao social de meio ambiente dos sujeitos da pesquisa se estrutura em torno de elementos naturais e da importncia de sua conservao em detrimento de aspectos sociais, histricos, polticos e econmicos. Por sua vez, sua concepo de educao ambiental enfatiza a importncia da conscientizao para a preservao. E ento, essa representao social e concepo de educao ambiental vem objetivar-se nas prticas pedaggicas anunciadas.

    E no parece haver diferena signifi cativa entre os que descreveram as prticas e os que apenas as citaram. Ou seja, o que se vislumbra nas respostas um conjunto de prticas pontuais que expressam uma tendncia concepo conservacionista de meio ambiente, caracterizada pela preocupao dos ecologistas com os problemas ambientais e as refl exes sobre as causas e consequncias da degradao ambiental e para o engajamento em movimentos de gesto ambiental (SORRENTINO, 1998, p. 29).

    CONSIDERAES FINAIS

    Podemos dizer que o ncleo central da representao social de meio ambiente dos sujeitos da pesquisa se estrutura e se estabiliza em torno da importncia atribuda preservao dos recursos naturais, com destaque para a gua e a uma forte chamada de ateno para a questo da degradao ambiental.

    Nesse sentido, parece haver certa concordncia entre a concepo de meio ambiente defendida por autores como os mencionados neste texto e suas repercusses nas normativas brasileiras para a educao ambiental. Por outro lado, os sujeitos da pesquisa se distanciam da concepo de meio ambiente defendida nesses mesmos autores e normativas ao enfatizar apenas elementos naturais e a grande importncia de sua conservao em detrimento da tambm grande importncia do aspecto social do conceito de meio ambiente.

    Com relao s prticas pedaggicas, no se pode ignorar que as

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    mesmas refl etem os modelos de ensino com os quais os professores, quase todos os professores e inclusive outros que no apenas os desta pesquisa tiveram contato durante toda a sua formao. Isto , uma formao que parece ter privilegiado uma viso disciplinar de mundo; um posicionamento menos crtico que no d a devida importncia s conexes entre as disciplinas; que parece ignorar que a realidade se compe fundamentalmente de movimento; que o meio ambiente um espao de interaes entre elementos naturais e culturais, que se compreendem a partir de determinadas perspectivas de tempo, de espao e de concepes de mundo.

    Por isso, os dados apresentados sugerem uma prtica pedaggica em educao ambiental que leve a tratar os acontecimentos da realidade social de forma fragmentada e desvinculada das experincias signifi cativas dos educandos; uma prtica que d pouco valor aos aspectos culturais, sociais, polticos e econmicos envolvidos no modo como o ambiente tem sido pensado e utilizado e que a degradao ambiental menos uma questo de conscincia do que uma questo poltica econmica e, por isso mesmo, social.

    EDUCATING TO PRESERVE: BASIC EDUCATION TEACHERS ENVIRONMENTAL

    REPRESENTATIONS

    ABSTRACT: The article presents results of a survey carried out with high school teachers. Its aim was to identify and analyze the social representations of subject environment in order to verify possible relationships between these representations and their teaching practices in environmental education. The study included 24 teachers from two urban public schools located in Clevelndia, Paran, Brazil. Data were collected through a questionnaire consisting of a of free evocation question, whose inducing term was environment, and essay questions on education, environmental education and pedagogical practice in environmental education. The results suggest that representations of the study subjects expressed a conservationist posture, characterized by concern about the consequences of environmental degradation. A relationship between

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    R. de Cincias Humanas Frederico Westphalen v. 13 n. 20 p. 91 - 110 Jun. 2012 109

    teacher conception on environmental education (which focuses on specifi c aspects of environmental issues) .and their teaching practices was observed.

    Keywords: Social representations. Pedagogical practice. Environmental education

    REFERNCIAS

    ALMEIDA, Leda Maria de. Representaes sociais e prtica pedaggica no processo de construo identitria. In: SANTOS, M. F. S.; ALMEIDA, L. M. (Org.). Dilogos com a teoria da representao social. Recife: Editora Universitria da UFPE, 2005, p. 161-200.

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    JODELET, Denise. As representaes sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 2001.

    LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrpolis: Vozes, 2001.

    MOSCOVICI, Serge. Representaes sociais: investigaes em psicologia social. 4. ed. Petrpolis: Vozes, 2003.

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    POLLI, Gislei Mocelin et al. Representaes sociais da gua em Santa Catarina. Psicologia em Estudo, Maring, v. 14, n. 3, p. 529-536, jul./set. 2009.

    RAYNAUT, Claude. Meio ambiente e desenvolvimento: construindo um novo campo do saber a partir da perspectiva interdisciplinar. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 10, p. 21-32, jul./dez. 2004.

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    S, Celso Pereira. A construo do objeto de pesquisa em representaes sociais. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998.

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    Agradecimento: Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfi co e Tecnolgico CNPq, Brasil, pelo apoio fi nanceiro concedido pesquisa.