glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · quer saber bem mais que os meus vinte e...

146
---------------------------------------------------------- Glicoconjugados sulfatados presentes na matriz gelatinosa dos óvulos de ouriços-do-mar ---------------------------------------------------------- Leonardo Paes Cinelli Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Química Biológica, como parte dos requisitos à obtenção do grau de Doutor em Ciências UFRJ / Instituto de Bioquímica Médica Hospital Universitário Clementino Fraga Filho Programa de Glicobiologia Laboratório de Tecido Conjuntivo Orientador: Paulo Antônio de Souza Mourão Rio de Janeiro, março de 2009

Upload: phungkhanh

Post on 19-Jan-2019

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

----------------------------------------------------------

Glicoconjugados sulfatados presentes na matriz gelatinosa dos óvulos de ouriços-do-mar

----------------------------------------------------------

Leonardo Paes Cinelli

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Química Biológica,

como parte dos requisitos à obtenção do grau de Doutor em Ciências

UFRJ / Instituto de Bioquímica Médica Hospital Universitário Clementino Fraga Filho Programa de Glicobiologia Laboratório de Tecido Conjuntivo Orientador: Paulo Antônio de Souza Mourão Rio de Janeiro, março de 2009

Page 2: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

ii

Glicoconjugados sulfatados presentes na matriz gelatinosa dos óvulos de ouriços-do-mar

Leonardo Paes Cinelli Tese preparada durante o curso de Pós-Graduação em Química Biológica e apresentada ao Instituto de Bioquímica Medida da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Ciências. Membros da Banca Examinadora: .............................................................................................................................

Prof. Adriane Regina Todeschini

Professor Adjunto do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho/CCS/UFRJ

.............................................................................................................................

Prof. Eliana Barreto Bergter Professor Titular do Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes/CCS/ UFRJ

.............................................................................................................................

Prof. Marcio Lourenço Rodrigues Professor Adjunto do Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes/CCS/UFRJ

.............................................................................................................................

Prof. Mario Alberto Cardoso da Silva Neto Professor Adjunto do Instituto de Bioquímica Médica/CCS/UFRJ

.............................................................................................................................

Prof. Leonardo Nimrichter Professor Adjunto do Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes CCS/UFRJ

.............................................................................................................................

Prof. Paulo Antônio de Souza Mourão Professor Titular do Instituto de Bioquímica Médica/CCS/UFRJ

Page 4: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

iii

Ficha catalográfica

Glicoconjugados sulfatados presentes na matriz gelatinosa dos óvulos de ouriços-do-mar

xv ; 128(f) Tese de Doutorado em Ciências (Química Biológica) 1- ouriço-do-mar 2- polissacarídeo sulfatado 3- fucana sulfatada 4- biossíntese 5- estrutura 6- reação acrossômica I- Universidade Federal do Rio de Janeiro II- Glicoconjugados sulfatados presentes na matriz gelatinosa dos óvulos de ouriços-do-mar

Page 5: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

iv

Agradecimentos:

“Faça do lugar em que você está o melhor lugar do mundo!” Meu primeiro agradecimento será para uma pessoa na qual impressionantemente não foi homenageada na Monografia de graduação e nem da Dissertação de mestrado... Será para mim mesmo. E, por favor, não fiquem pensando que sou egocêntrico, pois não sou!!!! O fato é que eu, sem sombra de dúvidas, fui à pessoa que mais se esforçou (vocês não imaginam quanto) para que essa Tese de doutorado se materializasse. Além disso, essa será a última vez que terei a chance de fazer agradecimentos em uma Tese. Exatamente por esse motivo esta sessão será longa, por favor, tenham paciência... Ao Prof. Mourão que me orientou, não só durante a minha IC e toda pós-graduação, como também nos momentos oportunos me deu orientações pessoais e acalmou a meu senso de injustiça. A Profa. Ana Cristina, que mesmo na Itália, mantemos contato (dentro da medida do possível). Pela paciência em ler meus longos e-mails e respondê-los. E principalmente por me apoiar silenciosamente e me explicar que fazer o que achamos correto, com garra e dedicação, sem esperar nada dos outros, nos ajuda a alcançar nossos sonhos!

Você Já Sabe Me Conhece Muito Bem, Eu Sou Capaz De Ir Vou Muito Mais Além

Do Que Você Imagina Eu Não Desisto Assim Tão Fácil Meu Amor,

Das Coisas Que Eu Quero Fazer E Ainda Não Fiz

Na Vida Tudo Tem Seu Preço Seu Valor E Eu Só Quero Dessa Vida É Ser Feliz

Eu Não Abro Mão

Nem Por Você, Nem Por Ninguém, Eu Me Desfaço Dos Meus Planos

Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos Nem Por Você Nem Por Ninguém, Eu Me Desfaço Dos Meus Planos

Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos

Tem Gente Ainda Me Esperando Pra Contar, As Novidades Que Eu Já Canso De Saber

Eu Sei Também Que Tem Gente Me Enganando, Mas Que Bobagem Já É Tempo Pra Crescer

(20 e Poucos Anos / Fabio Jr.)

Page 6: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

v

Aos meus colaboradores (que foram, são e continuarão sendo muitos, principalmente se eu passar em um concurso para Docente, torçam por mim!!!) e que me fizeram ver que existe “vida” além da fertilização do Instituto de Microbiologia: Fabiane, Fernanda, Débora, Prof. Marcio Rodrigues e Prof. Leonardo Nimrichter, do Instituto de Anatomia e Histologia: Prof. Nathan, Leonardo Salgado, Mair, Adriana Pelli, Profa. Lycia, Prof. Leonardo Andrade, Prof. Farina, Prof. Gilberto Amado (Jardim Botânico), do IBCCF: Profa. Eleonora, Gabriel Limaverde, Prof. Pedro Pascutti

“O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra” (Aristóteles)

Aos amigos conjuntivos: Adilson, Cris, João Marcelo, Samuel, Prof. Luiz Cláudio, Eliene, Cris, Angélica, Rodrigo Rocha, Amanda, Priscila, Celso, Cintia, Mario Gandra, Aline (BiDuPan), Prof. Mauro Pavão, Marianinha, Lisandra, Jardel, Ricardo Pereira, Rafael Aquino, Eduardo (Miúdo), Eduardo (Bolo), Vitor, Bruno, Lívia, Nelson, Fabio, Bianca, Robertino, Stephan, Gustavo, Laína, Profa. Ana Tovar, Profa. Mariana, Adriana (Brigite), Sônia.

“já falei, quando tiver dúvida pergunta pro Leonardinho!” Sábado, 29/07/2006 Jornal O Globo, lido na casa do Rodrigo em Búzios durante o

SIMEC.

Aos meus alunos Gabriele, Priscila e Mario, muito obrigado pela confiança que depositam em mim, me dando a oportunidade de aprender e ensinar. Em Juiz de Fora, a UFJF, ao Prof. Raúl, a Daniela e a Carla, que me mostraram que Ensino, Pesquisa e Extensão podem ser feitos de várias formas, independente das condições que lhe são oferecidas. A Banca Examinadora que aceitou meu convite com muita felicidade em participar desta grande Festa. E que nem mesmo titubeou por conta do carnaval.

Page 7: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

vi

Aos Confrareiros, Dezinho, Manú, Tatu, Marianinha, Pedro, Carol, Gabriel e Camila, amigos de bom bate-papo mensal. Aos meus bons amigos do Garriga, Paulo, Aline, Anderson, Carla, Sergio, Carol, Rodrigo, Luciano, Ricardo, Letícia, Marcelo, Tatiana, Leandro e Michele. As inesquecíveis festinhas na casa do Anderson e todas as outras farras que fizemos e ainda vamos fazer...

mais uma dose, é claro que eu estou afim

a noite nunca tem fim Porque, agente é assim ...

Agora fica comigo, e não, não desgruda de mim

vê se ao menos me engole BABY ... não me mastigue assim

(Por que que a gente é assim / Barão Vermelho)

A Dona Mara, Seu Isaias, Juninho, Patrícia, Maria Julia, e Yasmin (que eu conheci esta semana), vamos pro pula-pula, vamos?!!!! Tia Lucia, Sergio,Giovanna, Tia Leda, Carol e Vovô Sebastião, muito obrigado pelo apoio e pelas palavras nas horas importantes. E é claro pelas cervejinhas! Ao Tio Lupércio que me ensinou a sempre pensar e questionar. “Quem tem preguiça de pensar tem que voltar pra árvore!” A Tia Rosangela, Bruno, Camila, Eduardo, Aline e Vovó Neusa, as inúmeras risadas motivadas pelas inúmeras estórias da nossa própria família. A gente ri da gente mesmo!!! Marcelo e Rafaela, meus primeiros grandes amigos. Muito obrigado por terem deixado eu fazer a leitura no Casamento de vocês... Vocês não sabem como isso foi importante pra mim!!!! Ao meu sobrinho Felipe, ao maior guerreiro que conheço e pessoa que mais vontade de viver... Ao meu irmão e Zoraide, é curioso como a vida passa e a “mesma paisagem“ muda e a gente fica sem saber se é porque ela realmente mudou e/ou os nossos olhos que mudaram... Ao meu pai, o meu exemplo de compromisso. Sempre que acho que estou trabalhando pouco lembro de você falando... “Ninguém morre de trabalhar muito menos de estudar e nessa idade se dormir bem uma noite tá novo de novo”. Eu lembrei muito disso para escrever essa Tese e deu certo!!!! Obrigado pelas

Page 8: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

vii

broncas na infância e conversas na juventude, com certeza parte disso tem como produto essa Tese.

“Nunca satisfeito, sempre incomodado” A minha Mãe, a pessoa mais fantástica que eu conheço. Só você poderia ter sido minha mãe mesmo. Com qualquer outra teria dado errado. As coisas que acontecem na vida da gente têm de servir para o nosso bem, mesmo que num primeiro momento pareça ruim (e muitas vezes são), mas temos que tirar uma boa lição disso tudo e encarar a vida com dignidade, ajudando o próximo e acima de tudo com felicidade.

Primeiro levaram os negros

Mas não me importei com isso Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis

Mas não me importei com isso Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados

Mas como tenho meu emprego Também não me importei

Agora estão me levando

Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém

Ninguém se importa comigo. (Bertolt Brecht, (10.02.1898 - 04.08.1956). Teatrólogo e poeta alemão)

A minha esposa, Maisa, que transforma meus dias ruins em dias melhores e meus dias bons num Reveilon!!! Me faz enxergar horizontes que antes não havia admirado. E aprimorou a minha visão sobre o devido valor que se deve dar aos pequenos momentos, bons e ruins, da vida... A minha filha (que ainda não nasceu), mas vai ser tão linda quanto à mãe dela!!!! Tomará que se essa capacidade de transformação seja genética e entre um crossing over e outro, a Maria Flor tenha herdado essa característica. E por último, a tudo que eu não consigo explicar, nem ver ou tocar, mas existe, me apóia e me energiza.

Page 9: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

viii

Resumo

A matriz gelatinosa que recobre o óvulo (EJC) de ouriços-do-mar contem

glicoconjugados sulfatados responsáveis por induzir a reação acrossômica (RA)

em espermatozóides. A fucana e o sialoglicoconjugado sulfatados do EJC são

capazes de induzir e potencializar a RA, respectivamente, de maneira espécie-

específica. Essas fucanas sulfatadas oriundas de ouriço-do-mar possuem

estruturas simples, bem definidas e cada espécie tem seu padrão de sulfatação

próprio e, estruturalmente, eles dividem algumas características com os

proteoglicanos de vertebrados, exceto pela descrição da cadeia protéica. Vários

estudos sobre o EJC de ouriços-do-mar vêem sendo publicados, mas não há

informações sobre a estrutura nativa dessas fucanas sulfatadas e poucos dados

sobre a composição de açúcares do sialoglicoconjugado sulfatado. Nessa Tese

nós reportamos pela primeira vez a ocorrência de uma proteofucana sulfatada no

EJC do ouriço-do-mar Lytechinus variegatus. Além disso, nós mostramos a

caracterização parcial do sialoglicoconjugado sulfatado da mesma espécie e a

elucidação da fucana sulfatada de Paracentrotus gaimardi. Todas as amostras

foram purificadas através de técnicas cromatográficas. A proteofucana sulfatada e

a fucana sulfatada apresentam alto peso molecular, enquanto o

sialoglicoconjugado sulfatado apenas ~ 8kDa. A composição de açúcar do

sialoglicoconjugado é Neu5Gc, glucose, manose, fucose e galactose e a fucana

sulfatada de P. gaimardi é composta majoritariamente por [3-α-Lfucp-

4(OSO3)1]n. Esses achados mostram novas estruturas de polissacarídeos

sulfatados e abordam novos questionamentos sobre a biossíntese e secreção das

fucanas sulfatadas de invertebrados marinhos. O possível, papel destes

glicoconjugados sulfatados encontrados na manutenção da arquitetura do EJC e

na indução da RA são discutidos nessa Tese.

Page 10: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

ix

Abstract The eggs jelly coat (EJC) of sea urchins contains sulfated glycoconjugates

responsible for triggers sperm acrosome reaction (AR). Purified sulfated fucan and

sialoglycoconjugate in EJC are able to inducing and potentiate AR, respectively, in

a species-specificity fashion. These sulfated fucans from sea urchins have simple,

well defined repeating structures, and each species represents a particular pattern

of sulfate substitution and, structurally, they share some characteristics with

vertebrate proteoglycan, except for the description of a protein core. Several

studies about the EJC of sea urchins have been published, but there is no

information about the native structure of sulfated fucan and little information about

sugar composition of sulfated sialoglycoconjugated. In this thesis we report for the

first time the occurrence of proteo-sulfated fucan in EJC of sea urchin Lytechinus

variegatus. Moreover, we show a partial characterization of sialoglycoconjugate

from the same specie and elucidation structure of sulfated fucan from

Paracentrotus gaimardi. All samples were purified by chromatography techniques.

Proteo-sulfated fucan and sulfated fucan show high molecular weight, while

sialoglycoconjugate has ~8 kDa. The sugar composition of sialoglycoconjugate is

Neu5Gc, glucose, manose, fucose, galactose and the sulfated fucan from P.

gaimardi is mostly composed of [3-α-Lfucp-4(OSO3)1]n. These findings show

new structures of sulfated polysaccharides and raise questions concerning the

biosynthesis and secretion of sulfated fucans from marine invertebrates. Possible

roles of these sulfated glycoconjugate in EJC architecture and in AR are discussed

in this thesis.

Page 11: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

x

Índice Geral: 1) Introdução.............................................................................................. 01 1.1 Importância da Glicobiologia........................................ 01 1.2 Polissacarídeos sulfatados........................................... 03 1.2.1 Homopolissacarídeos sulfatados.................................. 05 1.2.1.1 Homopolissacarídeos sulfatados em ouriços-do-mar... 06 1.2.2 Heteropolissacarídeos ................................................. 09 1.2.3 Glicoconjugados sulfatados.......................................... 14 1.2.2.1 Heteropolissacarídeos sulfatados em ouriços-do-mar. 19 1.3 Echinodermata.............................................................. 19 1.3.1 Ouriço-do-mar como modelo de estudo....................... 20 1.3.2 Processos de ativação do espermatozóide de ouriço-

do-mar.......................................................................... 22

1.3.2.1 Ativação da motilidade.................................................. 23 1.3.2.2 Quimiotaxia................................................................... 24 1.3.2.3 Reação Acrossômica.................................................... 25 1.3.2.4 Bloqueio da poliespermia............................................. 29 2) Objetivos..................................................................................................

31

3) Material e Métodos..................................................................................

32

3.1 Obtenção dos ouriços-do-mar e dos gametas............ 32 3.2 Isolamento da matriz que envolve o óvulo de ouriço-

do-mar......................................................................... 32

3.3 Obtenção do plasma seminal...................................... 32 3.4 Solubilização da matriz gelatinosa que recobre o

óvulo............................................................................ 33

3.5 Quantificação das amostras........................................ 34 3.6 Purificação dos glicoconjugados sulfatados................ 34 3.7 Eletroforese em gel de agarose.................................. 35 3.8 Eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de

SDS em condições redutoras (SDS-PAGE)................ 35

3.9 Eletroforese em gel de poliacrilamida em tampão barbital.........................................................................

36

3.10 Depolimerização de polissacarídeos sulfatados utilizando enzimas e ácido nitroso...............................

36

3.11 Identificação dos açúcares constituintes dos polissacarídeos sulfatados..........................................

36

3.12 Ressonância Magnética Nuclear................................. 37 3.13 Hidrólise do sialoglicoconjugado sulfatado.................. 37 3.14 Análise de ácido siálico e HPTLC............................... 37

Page 12: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

xi

3.15 Análise das hexoses em cromatografo a gás acoplado a espectrômetro de massa..........................

38

3.16 Espectrometria de massas com ionização por “electrospray” (ESI-MS)...............................................

38

3.17 Preparo da amostra para microscopia de luz.............. 39 3.18 Coloração por azul de Alcian....................................... 39 3.19 Coloração por ácido periódico + reativo de Schiff

(PAS)............................................................................ 39

3.20 Coloração para lectinas............................................... 40 4) Resultados...............................................................................................

41

4.1 Expressão de polissacarídeos sulfatados na matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus....................................................................

41

4.2 Purificação e caracterização parcial da proteofucana sulfatada presente na matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus.......................

53

4.3 Localização e composição de açúcares do sialoglicoconjugado sulfatado presente na matriz do óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus.............................

61

4.4 Caracterização da fucana sulfatada presente na matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar P. gaimardi..................................................................

73

4.5 Caracterização parcial de proteoheteropolissacarídeos sulfatados presentes no plasma seminal de L. variegatus.................................

82

5) Discussão.................................................................................................

89

5.1 Expressão sazonal da fucana sulfatada em L. variegatus ...................................................................

89

5.2 Proteofucana sulfatada em ouriços-do-mar................. 92 5.3 Caracterização do sialoglicoconjugado do EJC de

ouriço-do-mar.............................................................. 94

5.4 Fucana sulfatada em morfotipos de ouriços-do-mar P. gaimardi...................................................................

95

5.5 Proteoheteropolissacarídeos sulfatados no plasma seminal.........................................................................

97

6) Perspectivas............................................................................................

98

6.1 Proteofucana sulfatada................................................ 98 6.2 Sialoglicoconjugado sulfatado..................................... 99 6.3 Fucana sulfatada em P. gaimardi................................ 100

Page 13: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

xii

7) Referências.............................................................................................. 102 8) Anexos aceitos ou publicados...............................................................

111

8.1 Dermatan sulfate is the major metachromatic glycosaminoglycan in the integument of the anuran Bufo ictericus……………………………………………..

112

8.2 Expression of two different sulfated fucans by females of Lytechinus variegatus may regulate the seasonal variation in the fertilization of the sea urchin

114

8.3 The influence of brown algae alginates on phenolic compounds capability of ultraviolet radiation absorption in vitro………………………………………..

123

8.4 Self-aggregation of Cryptococcus neoformans capsular glucuronoxylomannan is dependent on divalent cátions…………………………………………..

125

8.5

A vanadium bromoperoxidase catalyzes the formation of high molecular weight complexes between brown algal phenolic substances and alginates…………………………………………………..

127

Indice de Tabelas: Tabela 1 Principais características estruturais dos

glicosaminoglicanos.................................................................... 12

Tabela 2 Classificação de alguns proteoglicanos segundo sua localização...................................................................................

17

Tabela 3 Deslocamento químico de prótons para resíduos de -L-fucose

da -L-fucana sulfatada de L. variegatus e compostos padrões

50

Tabela 4 Deslocamento químico de carbono dos resíduos de -L-fucose

da -L-fucana sulfatada de L.variegatus e compostos padrões

51

Tabela 5 Características da solubilização da matriz gelatinosa em diversos tampões........................................................................

54

Tabela 6 Quantificação de proteínas, polissacarídeos sulfatados e hexoses em 1mg/ml presentes após cada etapa purificativa...................................................................................

60

Tabela 7 Deslocamento químico de prótons para resíduos de α-L-fucose da α-L-fucana sulfatada de P. gaimardi......................................

80

Tabela 8 Deslocamento químico de carbono para resíduos de α-L-fucose da α-L-fucana sulfatada de P. gaimardi...........................

81

Tabela 9 Possível resultado de ensaio de fertilização in vitro entre os gametas de L. variegatus e P. gaimardi......................................

97

Page 14: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

xiii

Indicie de Figuras: Figura 1 Etapas da interação adesiva de linfócitos com o endotélio de

veias dos linfonodos.................................................................. 2

Figura 2 Distribuição de glicosaminoglicanos sulfatados no Reino Animal........................................................................................

4

Figura 3 Estrutura da fucana sulfatada encontrada na parede do corpo do pepino-do-mar L. grisea.......................................................

5

Figura 4 Estrutura da galactana sulfatada presente na matriz extracelular da grama marítima R. marítima...........................

6

Figura 5 Estruturas de α-L-fucanas sulfatadas e α-L-galactana sulfatada da matriz gelatinosa que recobre o gel do óvulo de ouriços-do-mar........................................................................

7

Figura 6 Estruturas das galactanas sulfatadas isoladas do gel que envolve o óvulo e do ovário do ouriço-do-mar E. lucunter......

9

Figura 7 Unidades dissacarídicas dos glicosaminoglicanos................. 11 Figura 8 Estrutura da glucuronoxilomanana encontrada em diferentes

sorotipos.................................................................................... 13

Figura 9 Diversidade estrutural de ácidos siálicos................................ 14 Figura 10 Esquema de um proteoglicano............................................... 15 Figura 11 Representação esquemática da estrutra do proteoglicano de

perlecan.................................................................................. 18

Figura 12 Foto do ouriço-do-mar L. variegatus....................................... 20 Figura 13 Posição filogenética dos ouriços-do-mar em comparação com

outros organismos................................................................... 21

Figura 14 Esquema evidenciando as semelhanças morfológicas entre o espermatozóide do ouriço-do-mar e camundongo..................

22

Figura 15 Esquema evidenciando algumas semelhanças morfológicas entre os gametas femininos de camundongo e ouriço-do-mar.........................................................................................

22

Figura 16 Esquema evidenciando as primeiras etapas do processo de fertilização de ouriço-do-mar...................................................

25

Figura 17 Esquema evidenciando as etapas da reação acrossômica............................................................................

26

Figura 18 Relação espécie-específica existente na indução da reação acrossômica em ouriços-do-mar de três espécies distintas.....

28

Figura 19 Diagrama esquemático do receptor da fucana sulfatada localizada na matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar eo processo de ativação do óvulo.................................

29

Figura 20 Representação esquemática dos dois eventos hierarquicos do reconhecimento entre gametas de ouriço-do-mar................

30

Figura 21 Processo de extração dos polissacarídeos totais a partir da matriz gelatinosa (MG) que recobre o óvulo.............................

41

Figura 22 Purificação dos polissacarídeos sulfatados da matriz gelatinosa que recobre o gel do óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus..................................................................................

42

Page 15: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

xiv

Figura 23 Eletroforese em gel de agarose dos polissacarídeos sulfatados de L. variegatus purificados em DEAE - celulose

44

Figura 24 Purificação dos polissacarídeos sulfatados da matriz gelatinosa que recobre o gel do óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus. ................................................................................

45

Figura 25 PAGE das -L-fucanas sulfatadas de L. variegatus.................. 46

Figura 26 Expansão dos espectros de uma dimensão (1H) das fucanas sulfatadas de L. variegatus. ......................................................

49

Figura 27 Expansão do espectro de COSY da fucana sulfatada P3 de L. variegatus. ...............................................................................

50

Figura 28 Espectro 1H / 13C HMQC da fucana sulfatada P3 de L. variegatus..................................................................................

51

Figura 29 Comparação entre as duas fucanas sulfatadas obtidas da matriz gelatinosa que recobre o óvulo de L.variegatus.............

52

Figura 30 Purificação da proteofucana sulfatada da matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus.................

56

Figura 31 Eletroforese em gel de agarose do extrato bruto matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus................................................................................

56

Figura 32 Eletroforeses em gel de poliacrilamida (7.5%) em condição redutora...................................................................................

58

Figura 33 Purificação da proteofucana sulfatada da matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus..............

59

Figura 34 Purificação da proteofucana sulfatada da matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus..............

59

Figura 35 Purificação dos polissacarídeos sulfatados da matriz gelatinosa que recobre o gel do óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus................................................................................

62

Figura 36 Eletroforeses do sialoglicoconjugado sulfatado purificado a partir de matriz gelatinosa que recobre o óvulo de ouriço-do-mar L. variegatus....................................................................

63

Figura 37 TLC do ácido siálico purificado do sialoglicoconjugado sulfatado obtido do EJC de L. variegatus...............................

64

Figura 38 ESI do ácido siálico purificado do sialoglicoconjugado sulfatado do ouriço-do-mar L. variegatus................................

65

Figura 39 HPTLC do ácido siálico purificado do sialoglicoconjugado sulfatado obtido do EJC de L. variegatus...............................

66

Figura 40 TLC das hexoses do sialoglicoconjugado sulfatado obtido do EJC de L. variegatus..........................................................

67

Figura 41 Análise do sialoglicoconjugado obtido da matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar da espécie L. variegatus por GC-MS............................................................

68

Figura 42 Espectro de uma dimensão (1H) do sialoglicoconjugado sulfatado obtido da matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar da espécie de L. variegatus.............................

69

Figura 43 Microscopia de luz dos óvulos de L. variegatus. O óvulo foi corado com azul de Alcian (pH 2.5) e com PAS.....................

70

Page 16: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

xv

Figura 44 Microscopia de luz dos óvulos de L. variegatus...................... 72 Figura 45 Purificação dos polissacarídeos sulfatados da matriz

gelatinosa que recobre o óvulo dos três morfotipos do ouriço-do-mar da espécie P. gaimardi..................................................

74

Figura 46 Eletroforese em gel de agarose dos polissacarídeos sulfatados de morfotipos de P. gaimardi purificados em DEAE-celulose........................................................................

75

Figura 47 Eletroforeses das fucanas sulfatadas presentes na matriz gelatinos que recobre o óvuklo dos três morfotipos de ouriço-do-mar da espécie P. gaimardi..................................................

75

Figura 48 Esquema representativo do resultado da cromatografia em papel da fração P2 obtida do EJC de morfotipos de P. gaimardi...................................................................................

76

Figura 49 Espectro de RMN 1H unidimensional a 600 mHz da fucana sulfatada de P. gaimardi.........................................................

77

Figura 50 Expansão do espectro de COSY da fucana sulfatada do EJC de P. gaimardi...........................................................................

78

Figura 51 Espectro 1H / 13C HMQC da fucana sulfatada do EJC de P. gaimardi...................................................................................

78

Figura 52 Estrutura da fucana sulfatada isolada do EJC dos três morfotipos de P. gaimardi analisados.....................................

79

Figura 53 Eletroforese em gel de agarose do extrato bruto do plasma seminal L. variegatus intacto e tratado com enzima proteolítica.................................................................................

82

Figura 54 Purificação dos proteoheteropolissacarídeos sulfatados do plasma seminal de L. variegatus. .............................................

83

Figura 55 Eletroforese em gel de agarose do extrato bruto do plasma seminal L. variegatus intacto.....................................................

84

Figura 56 PAGE 6% em tampão barbital sódico....................................... 85 Figura 57 Eletroforese em gel de agarose dos

proteoheteropolissacarídeos sulfatados do plasma seminal de L. variegatus..............................................................................

87

Page 17: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

1

INTRODUÇÃO

1.1) Importância da Glicobiologia:

O termo glicobiologia foi cunhado em 1988 e definido como uma nova

fronteira da biologia molecular e bioquímica que visa estudar a estrutura, a

biossíntese, e a biologia dos carboidratos. O entendimento do papel biológico

desempenhado por carboidratos cresceu nos últimos anos, demonstrando que

estão envolvidos em processos como desenvolvimento, fertilização,

envelhecimento, (re)construção da matriz extracelular (MEC), regulação da

atividade de fatores de crescimento e de enzimas importantes nos mais variados

eventos biológicos (Varki et al., 1999 ; Bernfield et al., 1999 ; Kawashima , 2006 ;

Volpi, 2006 ; Vilela-Silva et al., 2008).

Atualmente é uma área do conhecimento com relevância crescente na

pesquisa básica, aplicada, e biotecnológica. Atrai grandes investimentos do setor

privado, principalmente porque muitas patologias são caracterizadas por

alterações na biossíntese ou degradação de carboidratos. Além disso, diversas

interações e funções biológicas importantes são mediadas por essa família de

moléculas (Lehmann et al., 2006 ; Hardingham e Fosang, 1992).

Uma das enfermidades cuja patogenia envolve carboidratos é a

aterosclerose. Essa é uma doença degenerativa de grande incidência nos dias

atuais. Altos níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e baixos níveis de

lipoproteína de alta densidade (HDL) estão associados com o aumento do risco de

lesões ateroscleróticas dos grandes vasos, favorecendo o infarto do miocárdio e

outras doenças cardiovasculares. As primeiras fases do desenvolvimento da lesão

se caracterizam pela entrada de monócitos na região subendotelial dos vasos

sangüíneos. Há evidências de que no rolamento de monócitos ocorre a expressão

de P-selectina no endotélio, que reconhece uma glicoproteína conhecida como “P-

selectin glycoprotein ligant-1”, presente no monócito circulante (Furie e Furie,

1995). Além disso, a LDL nativa, e principalmente a oxidada, liga-se a

proteoglicanos (PG) da parede das artérias. Esse complexo é posteriormente

fagocitado por macrófagos arteriais, formando as chamadas células esponjosas ou

Page 18: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

2

“foam cells”. Essas células podem sofrer lise celular, devido ao grande conteúdo

citoplasmático adquirido, e complicar o quadro da doença devido ao

extravasamento do seu conteúdo (Kaplan e Aviram, 2001).

Outro exemplo de patologia associada aos carboidratos é a doença de

Alzheimer, muito estudada atualmente. Essa patologia decorre de placas

amilóides emaranhadas às neurofibrilas, causando a morte neuronal. O heparam

sulfato (HS), está implicado na patogenia da lesão. Investigações mostram uma

alta afinidade entre PGHS e precursores amilóides. (GrIffith e SchmItz, 1995 ;

Lindahl et al., 1995) Esse dado indica que cadeias de HS podem ter um papel

importante na patogênese da doença de Alzheimer (Verbeek et al., 1999).

Outro evento que envolve carboidratos é a chamada “recirculação

linfocitária”, em que linfócitos movem-se do sangue para órgãos linfóides

secundários e vice-versa, permitindo que o sistema imune reconheça antígenos

externos. Glicanas sulfatadas estão presentes nos dois primeiros passos desse

processo. O primeiro é o rolamento linfocitário, proveniente da interação específica

entre L-selectinas, presentes nos linfócitos, e glicoproteínas sulfatadas expressas

no endotélio de veias dos linfonodos. O segundo é a ativação linfocitária,

promovida por quimiocinas apresentadas por PGHS, também expressos no

endotélio (Figura 1) (Yeh et al., 2001). Existem evidências de que o ácido siálico

(Sia) e a fucose (Fuc) exerçam papel crítico na interação entre as células

endoteliais e a L-selectina (Homeister et al., 2001).

Figura 1 - Etapas da interação adesiva de linfócitos com o endotélio de veias dos linfonodos. Retirado de Kawashima, 2006.

Page 19: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

3

A participação dos carboidratos em processos biológicos também é

observada durante a fertilização animal. Para que ocorra a fertilização, o

espermatozóide precisa ser capacitado durante sua passagem pelo trato

reprodutivo feminino até o local de fertilização (Visconti e Kopf, 1998; Visconti et

al., 1998). Esse processo envolve remoção e modificação de proteínas da

membrana do espermatozóide (Suarez, 1996), ativação da motilidade do gameta

(Cross, 1998), perda do colesterol da sua membrana plasmática (Visconti e Kopf,

1998) e outras modificações bioquímicas. HDL, glicosaminoglicanos (GAG) e

albumina sérica são algumas das moléculas que participam do processo de

capacitação dos espermatozóides (Cross, 1998).

A concentração de condroitim sulfato (CS) e de ácido hialurônico (HA) no

fluido folicular humano, de pacientes submetidos à estimulação hormonal para

fertilização in vitro, está aumentada. Além disso, observa-se o aumento da

motilidade dos espermatozóides tratados com esses GAG. A manipulação dessas

moléculas in vitro, durante tratamentos de infertilidade humana, poderia

aperfeiçoar esses procedimentos, elevando as possibilidades do seu sucesso

(Hamamah et al., 1996).

No fluido seminal de ouriços-do-mar também já foi relatada a presença de

polissacarídeos sulfatados complexos, compostos por galactose (Gal),

glucosamina e manose (Man), ligados covalentemente à cadeia protéica. Não se

conhece a função desses polissacarídeos no fluido seminal de ouriços-do-mar,

mas sugere-se que possam retardar a indução da reação acrossômica (RA)

espontânea e/ou aumentar a motilidade dos espermatozóides (Cinelli et al,

submetido). Por fim esses são alguns exemplos da participação de carboidratos

em processos fisiológicos e patológicos.

1.2 - Polissacarídeos sulfatados:

Os polissacarídeos sulfatados apresentam longas cadeias, formadas por

açúcares com característica ácida, devido à presença de cargas negativas, que

provem de ésteres de sulfato e/ou carboxilas. Essas moléculas são amplamente

distribuídas no Reino Animal (Figura 2) e em algumas plantas marinhas. Possuem

Page 20: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

4

grande variedade estrutural e diversas funções em seus tecidos de origem

(Medeiros et al., 2000 ; Aquino et al., 2005). Além disso, podem ser expressos

tanto no espaço extracelular – MEC ou lâmina basal - quanto na célula - superfície

das células ou em grânulos intracitoplasmáticos (Chen et al., 2008).

Figura 2: Distribuição de glicosaminoglicanos sulfatados no Reino Animal. Fonte: Mederios et al. 2000.

Uma das formas clássicas de se classificar esse conjunto de moléculas é

de acordo com a sua composição de monossacarídeos, sendo chamadas de

homopolissacarídeos ou heteropolissacarídeos.

Nessa Tese serão abordadas três classes distintas de glicoconjugados

sulfatados, presentes na matriz gelatinosa que recobre o óvulo dos ouriços-do-mar

(EJC): 1) fucanas sulfatadas (FS), considerada como homopolissacarídeo, 2)

sialoglicoconjugado sulfatado (SGCS), considerado um heteropolissacarídeo e 3)

proteofucana sulfatada (pFS), um homopolissacarídeo ligado a uma cadeia

protéica.

Nessa introdução vamos discutir exemplos de função e localização de

moléculas pertencentes a esses três grupos de macromoléculas que

Page 21: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

5

mencionamos anteriormente. Focaremos a maioria de nossos exemplos na fauna

marinha, habitat dos ouriços-do-mar que é o modelo utilizado nessa Tese.

1.2.1 - Homopolissacarídeos sulfatados:

Homopolissacarídeo sulfatado é um polímero composto por uma única

unidade de açúcar, contendo ésteres de sulfato. Alguns exemplos são as

galactanas sulfatadas e FS, compostas exclusivamente por galactose (Gal) e Fuc,

respectivamente.

A parede do corpo do pepino-do-mar Ludwigothurea grisea contém uma FS,

que foi estudada por metilação e ressonância magnética nuclear (RMN). Esta FS é

constituída por unidades tetrassacarídicas repetitivas, como mostrado na Figura 3

(Mulloy et al., 1994 ; Ribeiro et al., 1994).

Figura 3: Estrutura da fucana sulfatada encontrada na parede do corpo do pepino-do-mar L. grisea. Fonte: Mulloy et al., 1994.

Os polissacarídeos sulfatados são amplamente distribuídos no Reino Animal,

mas aparentemente ausentes em plantas superiores. Entretanto, recentemente foi

relatado que a grama marinha da espécie Ruppia marítima, contém uma galactana

sulfatada, com a seguinte estrutura: [3-β-D-Gal-2(OSO3)-14-α-D-Gal-14-α-D-

Gal-13-β-D-Gal-4(OSO3)-1]n (Figura 4). Esse foi o primeiro relato da presença

de polissacarídeos sulfatos em vegetais superiores (Aquino et al, 2005).

Page 22: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

6

Figura 4: Estrutura da galactana sulfatada presente na matriz extracelular da grama marítima R. maritima. Fonte Aquino et al., 2005.

1.2.1.1 - Homopolissacarídeos sulfatados em ouriços-do-mar:

Alves e colaboradores (1997) isolaram e purificaram os polissacarídeos

sulfatados do EJC de três espécies de ouriços-do-mar. Esses compostos possuem

estruturas bastante simples, constituídas por unidades repetitivas bem definidas. A

espécie Echinometra lucunter possui um homopolímero, formado de -L-Gal,

sulfatada na posição O-2 e unidas por ligação do tipo 13 (Figura 5). As espécies

Arbacia lixula e Lytechinus variegatus possuem polissacarídeos lineares, formados

de unidades tetrassacarídicas regulares, repetitivas, de -L-Fuc, que diferem

apenas no padrão de sulfatação (Figura 5) (Mulloy et al., 1994).

Page 23: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

7

Figura 5: Estruturas de α-L-fucanas sulfatadas e α-L-galactana sulfatada da matriz gelatinosa que recobre o gel do óvulo de ouriços-do-mar. São mostradas nove estruturas de polissacarídeos sulfatados da matriz gelatinosa que recobre o gel do óvulo de ouriços-do-mar completamente caracterizadas. O padrão de sulfatação, posição da ligação glicosídica e constituição monossacarídica são evidenciadas na figura. Fonte Vilela-Silva et al., 2008.

Page 24: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

8

O EJC do ouriço-do-mar Strongylocentrotus franciscanus possui uma

homofucana sulfatada, constituída de resíduos de -L-Fuc, unidos por ligação

13 e sulfatados na posição O-2 (Figura 5) (Vilela-Silva et al.,1999).

Também foram descritos os polissacarídeos sulfatados no EJC dos ouriços-

do-mar das espécies Strongylocentrotus droebachiensis e S. pallidus.

Surpreendentemente, os óvulos das fêmeas de S. droebachiensis possuem duas

FS, que se diferem na sulfatação do C2. A FS I (Figura 5, idem FS de A. lixula) é

composta majoritariamente por uma seqüência regular de quatro resíduos, ao

passo que a FS II (Figura 5) é um homopolímero constituído por uma única

unidade repetitiva. Curiosamente, as fêmeas de S. pallidus contem um FS

semelhante ao isotipo I de S. droebachiensis (Figura 5)(Vilela-Silva et al., 2002).

Assim como em S. droebachiensis, as fêmeas do ouriço-do-mar S.

purpuratus também contêm dois isotipos de FS no seu EJC, compostas de

unidades de -L-Fuc unidas através de ligações do tipo 13. Uma dessas FS é

completamente sulfatada na posição O-2 e apresenta 80% de sulfatação na

posição O-4 (Figura 5). O outro isotipo é composto por uma seqüência repetitiva

de três resíduos de -L-fucopiranose, unidos por ligações do tipo 13, com o

primeiro resíduo apresentando sulfatação nas posições O-2 e O-4 e os dois

restantes apenas com sulfatação na posição O-4 (Figura 5) (Alves et al., 1998).

Cerca de 90% das fêmeas analisadas apresenta apenas um dos isotipos de FS no

seu EJC e os 10% restantes uma mistura das duas FS.

A espécie L. variegatus, durante os meses de junho, junho e agosto, além de

expressar a sua FS habitual (Mulloy et al., 1994), também sintetiza outra FS

distinta. Esse composto contém resíduos de -L-Fuc sulfatados na posição 4 e

unidos por ligação 13. Curiosamente, essa FS de variação sazonal não induz a

RA nos espermatozóides homólogos (Cinelli et al., 2007).

A gônada feminina do ouriço-do-mar E. lucunter apresenta dois isotipos de

galactana sulfatada. Uma delas é igual à encontrada no EJC (Figura 6A) e a outra

apresenta uma sulfatação extra no C6 (Figura 6B). Ocorre uma alta concentração

de polissacarídeos sulfatados dentro de grânulos localizados no interior do

ovócito. Todavia, a região perimembranar, local onde irá se localizar o EJC,

Page 25: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

9

praticamente não possui polissacarídeo sulfatado. Após a liberação do óvulo na

água do mar, a concentração de polissacarídeo sulfatado no interior do citoplasma

cai e aumenta no EJC. O papel desse polissacarídeo com unidades de Gal

dissulfatadas ainda não está esclarecido. Também desconhecemos seu

mecanismo de exocitose/secreção para formação do EJC como um precursor da

galactana monosulfatada encontrada no EJC (Cinelli et al., dado não publicado).

-O3SO

HO

OOCH2

O3SO

-O3SO-O

3SO

HO

OOCH2

O3SOCH2

O3SOO

3SO

-O3SO

HO

OOCH2

O3SO

-O3SO-O

3SO

HO

OOCH2

O3SOCH2

O3SOO

3SO

1.2.2 - Heteropolissacarídeos:

Heteropolissacarídeo é um polímero composto por duas ou mais unidades

monossacarídixas distintas. Os melhores representantes dessa classe de

carboidratos vastamente estudada de moléculas são os GAG, embora existam

outros compostos que não constituem uma família definida.

Os GAG são formados por unidades dissacarídicas repetitivas, distribuídos

linearmente ao longo do polímero. Essas unidades dissacarídicas são constituídas

por uma hexosamina, que pode ser glucosamina ou galactosamina, unida através

de ligação glicosídica a um açúcar não-aminado, que geralmente é um ácido

hexurônico, [ácido glucurônico (GlcA) ou o ácido idurônico (IdoA)], ou então, um

açúcar neutro [Gal] (Figura 7). As hexosaminas inseridas na cadeia de GAG

podem apresentar grupos O- e/ou N-sulfato em diferentes posições que,

Figura 6: Estruturas das galactanas sulfatadas isoladas do gel que envolve o óvulo (A) e do ovário (B) do ouriço-do-mar E. lucunter. O polissacarídeo (A) apresenta sulfatação no C2 e (B) uma sulfatação adicional no C6.

3

H

A)

B)

Page 26: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

10

juntamente com as carboxilas dos ácidos urônicos, são responsáveis pela carga

altamente negativa dessas moléculas.

De acordo com os tipos de unidades dissacarídicas, os GAG podem ser

divididos nos grupos, descritos na Tabela 1, (Jeanloz, 1960).

Na pele da enguia elétrica Electrophorus electricus ocorre um dermatan

sulfato (DS) composto por unidades não sulfatadas, monosulfatadas e

dissulfatadas. Ainda não conhecemos o papel fisiológico dessa molécula, mas

sabemos que possue alta atividade anticoagulante (Souza et al., 2007).

Na parede do corpo do pepino-do-mar, L. grisea, ocorrem três frações de

polissacarídeos sulfatados que se diferenciam pelo seu peso molecular e

composição química. A fração majoritária destes polissacarídeos possui uma

estrutura do tipo CS, com ramificações de Fuc sulfatada, que impedem a sua

degradação pelas condroitinases. A utilização de anticorpos monoclonais revelou

que, além das ramificações de Fuc sulfatada, este CS fucosilado do pepino-do-

mar contém ésteres de sulfato na posição 3 dos resíduos de GlcA (Vieira et al.,

1991). O CS fucosilado ocorre no tecido conjuntivo do pepino-do-mar como um

PG (Vieira et al., 1993). Esse foi o primeiro estudo detalhado de um PG de

invertebrado marinho.

Page 27: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

11

R 1 R

2

Figura 7: Unidades dissacarídicas dos glicosaminoglicanos: A, B e F possuem ácido glucurônico; C possui ácido idurônico e D pode apresentar além do ácido glucurônico, o ácido idurônico como seu componente do açúcar não aminado. Quanto ao constituinte de hexosamina, A, B e C são formados por N-acetilgalactosamina e D, E e F por N-acetilglucosamina. Substituição de ácido urônico por galactose é encontrada em E.

A)

B)

E)

D)

C)

F)

açúcar não aminado

hexosamina glicosaminoglicano

Condroitim 6-sulfato

Condroitim 4- sulfato

Dermatam- sulfato

R 1

R 2

= =

o

ou

Heparam-S / heparina

Queratam- sulfato

Ácido hialurônico

-

-

-

-

-

Page 28: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

12

Tabela 1: Principais características estruturais dos glicosaminoglicanos: (Jeanloz, 1960 ; Kim et al., 1996). a - Peso molecular médio varia neste intervalo de acordo com a origem dos glicosaminoglicanos; b - Todos os açúcares estão na configuração D, exceto o ácido idurônico que está na configuração L.

GAG P.M.a

(Da) MONOSSACARÍDEOS

b

POSIÇÃO DO

SULFATO

LIGAÇÃO

GLICOSÍDICA

5 - 50 x 105

Ácido

hialurônico

N-acetilglucosamina

Ácido glucurônico

-

-

(1-4)

(1-3)

2 - 5 x 104

Condroitim

4-sulfato

N-acetilgalactosamina

Ácido glucurônico

4

-

(1-4)

(1-3)

2 - 7 x 104

Condroitim

6-sulfato

N-acetilgalactosamina

Ácido glucurônico

6

-

(1-4)

(1-3)

Dermatam

sulfato 2 - 5 x 10

4

N-acetilgalactosamina

Ácido idurônico

4

-

(1-4)

(1-3)

Queratam

sulfato 1 - 3 x 10

4

N-acetilglucosamina

Galactose

6

-/6

(1-3)

(1-4)

Acharam

sulfato 2,9 x 10

4

Glucosamina

Ácido idurônico

2/-6

-2

(1-4)

Heparam

sulfato 1 - 6 x 10

4

Glucosamina

N-acetilglucosamina

Ácido glucurônico

Ácido idurônico

2/6

-/6

-

-/2

(1-4)

(1-4)

(1-4)

(1-4)

Heparina 0.5 -5 x 104

Glucosamina Ácido glucurônico Ácido idurônico

2/6 -

-/2

(1-4)

(1-4)

(1-4)

Page 29: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

13

Outros polissacarídeos sulfatados foram isolados da alga vermelha

Pterocladia capilacea. Esses compostos foram fracionados em seis componentes,

utilizando coluna de troca iônica eluída com concentrações crescentes de NaCl.

As duas principais frações foram caracterizadas estruturalmente, utilizando

metilação e espectroscopia de RMN. Uma delas possui uma região central,

formada por unidades alternadas de -D-Gal, ligados através de posição 3 e

unidades de 3,6-anidro- -L-Gal, ligados pela posição 4. A outra fração é um

polissacarídeo complexo, sulfatado principalmente em C6 das unidades de -D-

Gal e no C3 de -L-Gal (Errea e Matulewicz, 1994).

O fungo Cryptococcus neoformans é envolvido por uma cápsula rica em

polissacarídeos. Um desses polissacarídeos, conhecido como

glucuronoxilomanana, tem uma estrutura complexa, esquematizada na Figura 8.

Esse glicano é responsável pela imunosupressão em pacientes, podendo levar à

morte dos mesmos (McFadden et al., 2006).

Figura 8: Estrutura da glucuronoxilomanana encontrada em diferentes sorotipos. Qualquer cepa de Cryptococcus neoformans pode conter uma ou mais unidades destas. Cada possível repetição é composta por três manoses (círculos), um ácido glucurônico (losango) e xiloses (triângulos). Fonte McFadden et al., 2006.

Os Sia são uma família açúcares, com 9 átomos de carbonos, comumente

encontrados no terminal não redutor de cadeia oligossacarídica ligada as

glicoproteínas e aos glicolipídeos (Figura 9). Os Sia também podem ocorrer livres

na natureza, mas geralmente são ligados glicosidicamente a outros resíduos de

Page 30: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

14

açúcar. O mais comum são ligações através nas posições 3 ou 6 da Gal ou na

posição 6 da GalNAc ou GlcNAc. Também podem formar homopolímeros,

conhecidos como ácidos polisiálicos.

Os Sia possuem uma extraordinária diversidade estrutural, com uma família

de pelo menos 50 membros, que ocorrem na natureza. A expressão de Sia é

amplamente distribuída na natureza, sendo encontrados tanto em

deuterostemados, como em bactérias (Schauer e Kamerling,1997 ; Angata e

Varki, 2002).A maior variação estrutural ocorre no C5, o qual pode ser substituído

por um acetoamido, hidroxilacetoamido ou hidroxil e, assim, formar, ácido 5-N-

acetil neuramínico (Neu5Ac), ácido 5-N-glicolil neuramínico (Neu5Gc) ou ácido

deaminado neuramínico (KDN), respectivamente. Essas modificações também

podem ocorrer nas hidoxilas dos C4, C7, C8 e C9 (Fig. 9).

Figura 9: Diversidade estrutural de ácidos siálicos. Fonte Lehmann et al., 2006.

1.2.3) Glicoconjugados sulfatados:

Os glicoconjugados sulfatados são moléculas contendo homopolissacarídeo

ou heteropolissacarídeo sulfatado, ligados covalentemente a lipídeo ou proteína.

Os exemplos mais conhecidos são os PG, já possuem um heteropolissacarídeo

sulfatado, o GAG, ligado a um “core” proteíco.

Os PG formam um grupo heterogêneo de glicoconjugados, amplamente

distribuído nos tecidos animais, desde os filos mais primitivos até os mais recentes

(Nader et al., 1999).

Todos os PG identificados são compostos por GAG, covalentemente ligados

a um “core” protéico (Rodén, 1980). Essas macromoléculas apresentam uma

Page 31: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

15

grande diversidade estrutural, que resulta das muitas possibilidades de inserção

da cadeia polissacarídica no “core” protéico, do grande e crescente número de

proteínas passíveis dessa substituição e, finalmente, da própria diversidade

estrutural dos GAG, os quais contribuem para o envolvimento dos PG numa

grande variedade de funções biológicas.

Com exceção do HA, todos os outros GAG são sintetizados como PG. Esse

processo inicia-se no retículo endoplasmático rugoso, com a adição de um resíduo

de Xyl aos aminoácidos serina ou treonina do “core” protéico (Kjellen e Lindahl,

1991 ; Salmivirta et al., 1996). Em seguida, duas unidades de Gal e uma de GlcA

são adicionadas por glicosiltransferases específicas da porção cis e mediana do

complexo de Golgi, formando o tetrassacarídeo de ligação, comum à maioria dos

GAG. No caso do queratam sulfato, a cadeia de GAG pode estar ligada à proteína

através da ligação O ou N-glicosídica da GlcNAc aos resíduos de serina ou

asparagina, respectivamente. O tetrassacarídeo de ligação funciona como uma

sequência iniciadora, fundamental para a polimerização da cadeia de GAG (Figura

10).

Figura 10: Esquema de um proteoglicano. Na esquerda é mostrada a formação do monossacarídeo e na direita formação do tetrassacarídeo de ligação responsável pela ligação da cadeia de glicosaminoglicano. Retirado de do site de Sasisekharan Laboratory.

Page 32: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

16

O alongamento da cadeia ocorre através da adição alternada de uma

hexosamina e um açúcar não aminado, a partir de seus respectivos nucleotídeos

difosfatos, em reações em catalizadas por glicosiltransferases específicas da

membrana da porção mediana do complexo de Golgi. Após a polimerização, a

cadeia de GAG é modificada pela ação de epimerases – que alteram a

conformação ao redor do átomo de carbono de algumas unidades de GlcA do HS,

DS e heparina, originando o IdoA. A formação dos GAG se completa pela ação de

sulfotransferases, que adicionam ésteres de sulfato à cadeia glicídica a partir de

fosfoadenosilfosfosulfato. As sulfotransferases estão situadas na porção trans do

Golgi. Quando a estrutura final do PG é obtida, a molécula é, transportada para a

superfície celular (Jackson et al., 1991 ; Almond, 2007 ; Gotting et al., 2007).

A superfamília dos PG contém mais de trinta moléculas descritas, que atuam

como organizadores de tecidos, influenciam o crescimento e a maturação das

células de tecidos especializados, funcionam como filtros biológicos, modulam a

atividade de fatores de crescimento, regulam a fibrilogênese do colágeno e afetam

a invasão e o crescimento das células tumorais. A maioria das funções dos PG

estão relacionadas com a estrutura dos GAG.

Muitas de suas funções permanecem desconhecidas. (Iozzo, 1998). Na

Tabela 2 são citados alguns PG com as suas respectivas localizações, famílias e

funções.

Page 33: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

17

Tabela 2: Classificação de alguns proteoglicanos segundo sua localização (KJELLÉN e LINDAHL, 1991).

LOCALIZAÇÃO FAMÍLIA NOME ALGUMAS FUNÇÕES

Extracelulares

Matriz Extracelular

Hialectanos Agrecam Funcionam como pontes entre os componentes da matriz a superfície celular

Versicam Neurocam Brevicam

Ricos em Leucina Decorina

Controle da fibrilogênese do colágeno

Regulação da hematopoiese

Biglicam Fibromodulina Epificam (proteoglicano-Lb) Lumicam

Facultativos Colágeno 2 (Tipo IX)

Integridade estrutural da matriz extracelular

Fosfocam Testicam Apicam

Membrana Basal Membrana Basal Perlecam Bamacam Agrim

Diferenciação celular e morfogênese tecidual

Celulares

Grânulos Citoplasmáticos

Serglicim Serglicim Participam de eventos imunológicos

Facultativo Cromogranina A

Membrana Plasmática

Sindecans Sindecam 1 Reconhecimento de

moléculas extracelulares Regulação da proliferação

celular

Sindecam 2 (Fibroglicam) Sindecam 3 (N-sindecam) Sindecam 4 (Anfiglicam)

Glipicam Glipicam 1 Participam de processos de comunicação de célula

a célula ou com componentes da matiz extracelular

Glipicam 2 (Cerebroglicam) Glipicam 3 (OCI-5) Glipicam 4 (K-glipicam) Glipicam 5

Facultativos Betaglicam

Receptores de superfície celular

Trombomodulina Cadeia Invariante CD44 Receptor de Transferrina Integrina 5 1

Page 34: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

18

Embora a cadeia de GAG seja o protagonista da maioria das funções

relacionadas aos PG, existem algumas situações em que o “core” proteíco possui

papel bem definido. O perlecan é um exemplo. È considerado um dos PG mais

complexos devido ao seu peso molecular elevado, ao número de modificações

pós-traducionais que sofre até estar maduro e por possuir 5 domínios bem

definidos (Figura 11).

O domínio II contém 4 repetições da porção ligante do receptor de LDL,

mostrado na Figura 11 como LA, sendo capaz de ligar fisiologicamente a LDL. O

domínio III é homólogo aos subdomínios da laminina-1 e consegue promover

adesão celular mediada por integrina. O domínio IV é o mais longo e apresenta 21

repetições de “Ig-like” humana, que estão associadas com a sua dimerização e

associação intermolecular (Iozzo, 1998).

Figura 11: Representação esquemática da estrutra do proteoglicano de perlecan. Retiado de Iozzo, 1998.

Ainda não foi descrito um homopolisscarídeo sulfato ligado ao um “core”

proteíco. No entanto, veremos nos resultados desta Tese, a primeira descrição

parcial de uma molécula com esta característica.

Page 35: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

19

1.2.2.1 - Heteropolissacarídeos sulfatados em ouriços-do-mar:

Os embriões do ouriço-do-mar S. purpuratus sintetizam grandes

quantidades de DS na passagem do estágio de blástula para gástrula. Esse GAG

possui a seguinte unidade repetitiva: [4- -L-IdoA-13- -D-GalNAc-1]n

dissulfatada no C4 e C6 das unidades de galactosamina. O papel deste DS não é

totalmente claro, mas sugere-se sua participação na estabilidade da MEC (Vilela-

Silva et al., 2001). O ouriço-do-mar Clypeaster japonicus também é capaz de

sintetizar DS, mas somente na fase de gástrula (Yamaguchi et al., 1989).

Um novo dissacarídeo foi isolado do EJC de ouriço-do-mar da espécie

Pseudocentrotus depressus. As análises químicas mostram que ele é formado por

um resíduo de Fuc (14) ligado a um NeuGc (Hotta e Kurokawa, 1972).

Outro SGCS, nomeado de flagelasialina, foi obtido do flagelo do ouriço-do-

mar S. purpuratus. Sua massa molecular pode variar de 40 – 80 kDa, contendo 96

aminoácidos, altamente O-glicosilado. Sua estrutura é composta por ligação 2,9

de NeuGc. Esse SGCS é altamente expresso em gônadas masculinas, mas não

foi detectada no ovário. O tratamento dos espermatozóides com um anticorpo anti-

flagelasialina resulta na elevação do Ca++ intracelular e inibição da motilidade

(Miyata et al., 2006).

1.3) Echinodermata:

O filo Echinodermata é constituído por invertebrados marinhos; dentre eles

há cerca de 7.000 espécies distribuídas em seis classes distintas: Crinoidea,

Asteroidea, Ophiuroidea, Echinoidea, Holothuroidea e Concentricycloidea. O nome

do filo é derivado de duas palavras gregas: echinos, que significa espinho, e

derma, que significa pele, e se refere às projeções em forma de espinhos ou

tubérculos, presentes na superfície do corpo desses invertebrados. Trata-se de

um grupo muito antigo, filogeneticamente relacionado ao Chordata (Ettensohn et

al., 2004).

A classe Echinoidea reúne dois tipos bem característicos. Um deles tem

forma hemiesférica globosa, representado pelo ouriço-do-mar ou ouriço regular.

Vivem especialmente sobre fundos consolidados, cavando-o através de um

Page 36: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

20

desgaste provocado pelo contínuo movimento rotatório dos espinhos, mas

também podem ocorrer em fundos não consolidados. O outro tipo tem forma

discóide achatada, representada pela bolacha-do-mar ou ouriço irregular, o qual é

típico de fundos não consolidados, existindo, inclusive, algumas espécies que

vivem enterradas na areia. Todos, independentemente da sua forma, podem se

alimentar de algas e/ou gramas marinhas (Klinger e Lawrence, 1985; Ogden et al.,

1973).

Os ouriços-do-mar regulares são dióicos, possuem reprodução sexuada e

fecundação externa. Distribuem-se desde a região entre marés até

aproximadamente 4.800 m de profundidade, com cerca de 950 espécies descritas.

São animais de movimentos livres, apresentam simetria radial e cobertura de

espinhos móveis, algumas vezes longos. As espécies diferenciam-se pela

coloração, forma e tamanho do endoesqueleto calcário e dos espinhos Esses

invertebrados apresentam cinco gônadas e de cada uma delas estende-se um

gonoducto, que conduz os gametas para fora do seu corpo quando expelidos

através do gonoporo. Uma fêmea típica expulsa cerca de três a seis milhões de

óvulos enquanto um macho libera aproximadamente um trilhão de

espermatozóides (Barnes e Ruppert, 1996).

1.3.1) Ouriço-do-mar como modelo de estudo:

Os ouriços-do-mar são um bom modelo para estudos experimentais, já que

são animais pequenos, um único espécime é capaz de liberar grandes

Figura 12: Foto do ouriço-do-mar L. variegatus

Page 37: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

21

quantidades de gametas, são de fácil manuseio e captura (Figura 12). São

estudados há algumas décadas por vários grupos em todo mundo (Rothschild,

1949). Sua biologia molecular ainda é pouco explorada embora o genoma da

espécie Strongylocentrotus purpuratus tenha sido totalmente seqüenciado

recentemente (Sea Urchin Genome Sequencing Consortium, 2006).

Esses organismos são os mais utilizados para estudos de embriologia

experimental, porque o desenvolvimento pode ser facilmente acompanhado desde

o ovo até a fase de larva (Horstadius, 1973). É um modelo animal barato, por não

necessitar de biotério. Todavia, se necessário, pode-se usar tanques e aquários.

Também são utilizados em estudos de movimento flagelar (Gibbons, 1996 ; Imai e

Shingyoji, 2003), RA (Darszon et al., 2001 ; Neill e Vacquier, 2004), quimiotaxia

por moléculas liberadas pelo óvulo (Ward et al., 1985 ; Garbers, 1989 ; Kaupp et

al., 2003), e observa-se uma ligação do espermatozóide com o óvulo espécie-

específica (Glabe e Lennarz, 1979 ; Metz et al., 1994 ; Kamei e Glabe, 2003).

Na escala evolutiva é um animal que merece destaque por estar próximo dos

vertebrados (Figura 13), além de apresentar semelhanças morfológicas entre os

gametas masculinos (Figura 14) e femininos (Figura 15). Os eventos que

precedem sua fertilização são semelhantes aos dos mamíferos (Darszon et

al.,1999).

Figura 13: Posição filogenética dos ouriços-do-mar em comparação com outros organismos. Retirado de Special Section Nature, 2006.

Page 38: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

22

Figura 14: Esquema evidenciando as semelhanças morfológicas entre o espermatozóide do ouriço-do-mar (esquerda) e camundongo (direita). Retirado de Darszon, 1999.

Também pode-se estabelecer uma similaridade entre o EJC dos ouriços-do-

mar com a zona pelúcida dos óvulos de mamíferos (Mengerink e Vacquier, 2001),

pois ambas as estruturas possuem alta concentração de glicoconjugados

sulfatados, que induzem a RA nos respectivos espermatozóides (Liu et al., 1997).

1.3.2) Processos de ativação do espermatozóide de ouriço-do-mar:

O processo de fertilização de todas as espécies necessita da interação entre

os gametas masculino e feminino completamente maduros e capazes de fertilizar.

A atuação de moléculas no meio extracelular desencadeia mudanças morfológicas

e bioquímicas nos espermatozóides. Os tipos de interações e de moléculas

Figura 15: Esquema evidenciando algumas semelhanças morfológicas entre os gametas femininos de camundongo (esquerda) e ouriço-do-mar (direita). Os números indicam eventos relacionados à fertilização que serão abordados adiante. Retirado do site www.luc.edu/depts/biology/dev/seamouse.htm

Page 39: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

23

envolvidas no processo de fertilização são fundamentais para sua espécie-

específidade.

A proposta desse capítulo é descrever brevemente os eventos essenciais

que ocorrem no espermatozóide e garantem o sucesso da fertilização.

1.3.2.1) Ativação da motilidade:

Os espermatozóides dos ouriço-do-mar são imóveis enquanto residem nas

gônadas, mas assim que são ejaculados para a água do mar começam a nadar

vigorosamente devido ao batimento flagelar. Modificações iônicas que ocorrem

somente quando o espermatozóide entra em contato com água do mar são

responsáveis por induzir mudanças fisiológicas requeridas para ativação da sua

motilidade. Dentro da gônada masculina, a alta tensão de CO2 mantém o pH

interno em torno de 7,2 (Jonhson et al., 1983). A ATPase – dineína, que conduz a

motilidade flagelar, é inativa e com pH interno próximo de 7,2, tanto a respiração

quanto a motilidade estão abaixo do pH 7,3 inibidas (Christen et al., 1982 , Lee et

al., 1983). Quando o espermatozóide é ejaculado na água do mar, a tensão de

CO2 diminui, prótons são liberados e o pH interno eleva-se para aproximadamente

7,6. O aumento do pH interno resulta na ativação da ATPase – dineína, iniciando-

se os processos de motilidade e o aumento da concentração interna de ADP. Em

resposta ao aumento da concentração de ADP, ocorre o estimulo da respiração

mitocondrial (Christen et al., 1982). Além disso, a queda da tensão de CO2 e a

ejaculação causam hiperpolarização da membrana plasmática do espermatozóide.

A hiperpolarização provavelmente contribui para o aumento do pH interno e

para a atividade da adenilil ciclase, a qual é ativada por potencial de membrana

(Bookbinder et al., 1990; Beltran et al., 1996). Conseqüentemente, há aumento de

AMPc, que pode ativar proteínas quinases dependente de AMPc. Essas quinases

fosforilam proteínas no axonema flagelar e estimulam a sua motilidade (Garbers,

1989; Morisawa, 1994).

Page 40: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

24

1.3.2.2) Quimiotaxia:

Quimiotaxia é definida como movimento celular em resposta a um gradiente

de concentração (Ward e Kopf, 1993). É um mecanismo utilizado para direcionar

diversos tipos celulares, como bactérias, neutrófilos e fungos para um alvo

específico (Devreotes e Zigond, 1988). A quimiotaxia do espermatozóide em

resposta a moléculas quimioatratoras liberadas pelos óvulos, já foi observada em

diversas espécies animais (Eisenbach, 1999).

As moléculas ativadoras do espermatozóide dos ouriços-do-mar (SAP) são

pequenos peptídeos, de 10 a 15 aminoácidos, encontrados no EJC. Esses

peptídeos difundem facilmente na água do mar e conseguem interagir com o

espermatozóide a uma distância do óvulo ainda não conhecida. O SAP causa

ativação celular quando se liga ao espermatozóide, resultando em quimiotaxia de

maneira espécie-específica (Figura 16).

O primeiro SAP purificado e caracterizado foi isolado da espécie

Hemicentrotus pulcherrimus (Suzuki, 1995). Trata-se de um decapeptídeo

(GFDLNGGGVG), denominado inicialmente como speract e atualmente conhecido

como SAP-1. Em concentrações picomolares e com o pH externo de 6,6, o SAP-1

induz o aumento do metabolismo de fosfolipídeos, da respiração e da motilidade

do espermatozóide (Kopf et al., 1979; Garbers e Kopf, 1980; Hansbrough et al.,

1980). Na água do mar, com o pH habitual de 8,0, o SAP-1 induz diversas outras

mudanças no espermatozóide, como o aumento do influxo de Na+ e Ca++, e do

efluxo de K+ e H+ e o aumento na concentração de AMPc e GMPc (Darzon et al.,

1999 e 2001).

Page 41: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

25

Existem relatos sobre a capacidade de indução da RA por SAP (Hirohashi e

Vacquier, 2002b). Entretanto, o mesmo grupo de pesquisa já publicou outros

trabalhos afirmando que seu papel restringe-se a potencializar a indução da RA

por outras moléculas (Hirohashi e Vacquier, 2002a).

O receptor para speract foi identificado utilizando marcação com 125I. Sua

massa molecular é de 77 kDa, estimada por SDS-PAGE em condições redutoras

(Dangott e Garbers, 1984).

1.3.2.3) Reação Acrossômica:

A RA em espermatozóides de ouriços-do-mar foi descrita pela primeira vez

no início dos anos 50. Trata-se de um passo crucial na fertilização e ocorre

quando o espermatozóide entra em contato com o EJC (Dan 1952, 1954a, 1967).

Alguns anos depois foram caracterizados os dois principais eventos fisiológicos

que ocorrem durante a RA: a exocitose de vesículas acrossomais e a extensão do

processo acrossomal.

O primeiro desses processos leva à liberação de enzimas hidrolíticas pelas

vesículas acrossomais, que degradam o EJC do ouriço-do-mar. O segundo é a

formação de um feixe contendo filamentos de actina polimerizada. A formação do

processo acrossomal é dependente do pH intracelular. Possui aproximadamente 1

m de comprimento e se forma na cabeça do espermatozóide. O acrossoma é

recoberto pela proteína bindina, que interage com receptores específicos na linha

Figura 16: Esquema evidenciando as primeiras etapas do processo de fertilização de ouriço-do-mar. Quando os espermatozóides são ejaculados na água do mar eles iniciam a motilidade e começam a nadar (1). Pequenos peptídeos da matriz que recobre o óvulo servem como ativadores da motilidade e atratores (2). E quando o espermatozóide se aproxima e entra em contato com o polissacarídeo sulfatado encontrado na matriz é induzida a reação acrossômica (3). Retirado Neill e Vacquier, 2004.

Page 42: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

26

vitelínica do óvulo e, dessa forma, leva à fusão das membranas dos gametas

(Figura 17).

O indutor da RA nos ouriços-do-mar é o polissacarídeo sulfatado encontrado

no EJC. O polissacarídeo sulfatado presente no EJC das espécies de ouriços-do-

mar E. lucunter, A. lixula e L. variegatus são indutores espécie-específicos da RA.

A ligação glicosídica do polímero e o padrão de sulfatação dos açúcares são os

requisitos que determinam a espécie-especificidade da RA (Hirohashi et al., 2002,

Vilela-Silva et al. 2002). Incubações dos polissacarídeos sulfatados com os

espermatozóides de cada espécie mostram que a RA é induzida somente pelo

polissacarídeo sulfatado com o espermatozóide da espécie homóloga (Figura 18).

A RA é induzida pelo polissacarídeo puro, sem qualquer associação com

proteínas (Alves et al., 1997).

Em questão de segundos, o polissacarídeo sulfatado induz o influxo de Na+ e

Ca2+, e o efluxo de K+ e H+ (Darszon et al., 1999 e 2001). O movimento desses

íons resulta em mudanças no potencial de membrana do espermatozóide

(Schackmann et al., 1984; Gonzalez-Martinez e Darszon, 1987) e num segundo

aumento de Ca2+ (Guerreiro e Darszon, 1989b).

A ligação do polissacarídeo sulfatado à superfície do espermatozóide

acarreta muitas outras modificações fisiológicas, tais como o aumento substancial

do inositol 1,4,5-trifosfato (Domino e Garbers, 1988), a ativação de adenil ciclase

Figura 17: Esquema evidenciando as etapas da reação acrossômica. Durante a reação acrossômica ocorre no espermatozóide fluxo intenso de íons (3a) que causa a exocitose de vesículas acrossomais (3b) e polimerização de actina, formando o processo acrossomal que liga o espermatozóide à membrana vitelínica do óvulo (3c). Posteriormente, a bindina interage com seu receptor na membrana plasmática do óvulo auxiliando na fusão das duas membranas plasmáticas (3d). N, núcleo; M, mitocôndria. Retirado de Neill e Vacquier, 2004

Page 43: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

27

dependete de Ca2+ (Watkins et al., 1978), o conseqüente aumento de AMPc

(Garbers e Kopf, 1980) e o aumento de óxido nítrico (Kuo et al., 2000).

O SGCS, outro componente do EJC de ouriço-do-mar, tem o papel de

potencializar a RA e aumentar o pH interno dos espermatozóides (Hirohashi e

Vacquier, 2002b).

A proteína localizada na membrana plasmática do espermatozóide, que

interage e reconhece o polissacarídeo sulfatado, é conhecida como suREJ. Já

foram descritas mais de dez suREJ em diversos ouriços-do-mar, embora seu

estudo concentre-se na espécie S. purpuratus (Gunaratne et al., 2007). Estudos

cristalográficos mostraram que todas as regiões da suREJ que reconhecem

carboidratos apresentam a mesma conformação (Taylor e Drickamer, 2003).

Surpreendentemente, proteínas homólogas dessa família são encontradas em

mitocôndrias e na face interna da membrana plasmática (Mengerink et al., 2000 ;

Neill et al., 2004 ; Galindo et al., 2004).

O uso de anticorpos monoclonais (Mabs) que reagem com a suREJ da

espécie S. purpuratus permitiu demonstrar que essa glicoproteína está presente

no flagelo e cobrindo a vesícula acrossomal do espermatozóide. Esses Mabs

foram capazes de induzir a RA e competir com o efeito do polissacarídeo sulfatado

(Moy et al., 1996). O gene que codifica a suREJ1 já foi clonado. A região N-

terminal da proteína tem dois domínios de ligação de carboidratos e um domínio

cálcio-dependente, lectina tipo C (Taylor et al., 1990 ; Drickamer e Fadden, 2002).

Após a indução da RA, o próximo passo para a fertilização é a ligação entre

duas proteínas, a bindina e seu receptor específico, localizados no processo

acrossomal e na linha vitelínica do óvulo, respectivamente.

A bindina é uma proteína de 24 kDa isolada pela primeira vez do ouriço-do-

mar S. purpuratus (Vacquier e Moy, 1977; Glabe e Vacquier, 1978; Glabe e

Lennarz, 1979). Partículas isoladas de bindina aglutinam preferencialmente ovos

homólogos de ouriços-do-mar (Glabe e Vacquier, 1977; Glabe e Lennarz, 1979).

Existe uma alta-afinidade (Kd = 10-8M) entre a bindina e os polímeros de FS

encontrados no EJC de ouriço-do-mar, embora esses carboidratos não sejam os

ligantes específicos da proteína (Glabe e Vacquier, 1978; Glabe et al., 1982;

Page 44: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

28

Rossignol et al., 1984). Ainda não se conhece a via exata de transdução de sinal

que leva à ativação do óvulo no momento da fertilização. Todavia, o papel central

do cálcio é evidenciado no esquema da Figura 19 (Ohlendieck e Lennarz, 1995 ;

Neill e Vacquier, 2004 ; Hirohashi et al., 2008).

Figura 18: Relação espécie-específica existente na indução da reação acrossômica em ouriços-do-mar de três espécies distintas. Retirado de Vilela-Silva et al., 2008.

Em algumas espécies de ouriços-do-mar, os espermatozóides podem

promover fecundação não específica, quando pré-estimulados com o EJC da

espécie homóloga e, em seguida, colocados em contato com os óvulos da espécie

heteróloga, Essas espécies não diferem na estrutura da bindina e pode ocorrer

fertilização não específica, se a etapa de indução da RA for ultrapassada (Vilela-

Silva et al., 2002). Entretanto, esse evento dificilmente ocorrerá naturalmente.

O esquema da Figura 20 mostra, resumidamente, os dois eventos

hierarquicos que os gametas de ouriço-do-mar devem vencer para que o processo

de fertilização ocorra.

Page 45: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

29

Figura 19: Diagrama esquemático do receptor da fucana sulfatada localizada na matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar eo processo de ativação do óvulo. Retirado de Ohlendieck e Lennarz, 1995.

1.3.2.4) Bloqueio da poliespermia:

Dois mecanismos evoluíram para reduzir a ocorrência de poliespermia. O

primeiro é a ligação do espermatozóide ao óvulo, causando a entrada de íons de

Na+, provocando a despolarização da membrana e, dessa forma, bloqueando de

forma transiente a ligação de um espermatozóide adicional. Esse evento é

conhecido como “bloqueio rápido”. Essa despolarização pode ser bloqueada pela

adição de nicotina (Jaffe, 1980). Além disso, a ligação do espermatozóide ao óvulo

também estimula a liberação de íons Ca++ do retículo endoplasmático, em paralelo

Page 46: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

30

com a fusão de umas séries de vesículas exocíticas - os grânulos corticais - com a

membrana plasmática. O conteúdo desses grânulos, inclusive proteases “tripsina-

like”, é liberado consequentemente destroem ou separam os sítios de ligação para

os espermatozóides da membrana vitelínica (Vacquier et al., 1972 e 1973).

No segundo mecanismo para evitar a poliespermia é a formação do envelope

de fertilização, produzindo um bloqueio mais longo da poliespermia, o “bloqueio

lento”. Esse mecanismo decorre da clivagem proteolítica da proteína de

membrana p160 e a ação da água do mar, levando ao destacamento entre a

membrana plasmática e a linha vitelínica. (Haley e Wessel, 2004 a e b).

Figura 20: Representação esquemática dos dois eventos hierarquicos do reconhecimento entre gametas de ouriço-do-mar. Em (A) o reconhecimento baseado nos polissacarídeos sulfatados; a reação acrossômica ocorre assim que receptor específico interage com o polissacarideo sulfatado correto e esta reação expõe a bindina. Em (B) o reconhecimento baseado na bindina; a bindina localizada no processo acrossomal reage e liga-se ao seu receptor específico na linha vitelínica e ocorre a ligação e fusão dos gametas. Retirado de Biermann et al., 2004.

Page 47: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

31

2. OBJETIVOS:

Os objetivos dessa Tese envolvem os seguintes aspectos:

1.) Monitorar ao longo do ano a expressão de polissacarídeos sulfatados na

matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar da espécie L. variegatus.

2.) Demonstrar que a FS encontrada no EJC do ouriço-do-mar L. variegatus

está ligada à proteína, constituindo moléculas semelhantes aos PG de

vertebrados.

3.) Obter dados estruturais do SGCS encontrado no EJC do ouriço-do-mar L.

variegatus.

4.) Determinar a estrutura da FS encontrada no EJC do ouriço-do-mar

Paracentrotus gaimardi.

5.) Isolar e caracterizar parcialmente os proteoheteropolissacarídeos

sulfatados presentes no plasma seminal do ouriço-do-mar da espécie L.

variegatus.

Page 48: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

32

3. MATERIAL E MÉTODO:

3.1 Obtenção dos ouriços-do-mar e dos seus gametas:

Os ouriços-do-mar das espécies Lytechinus variegatus e Paracentrotus

gaimardi foram coletados por mergulho em apnéia a 5 metros de profundidade na

enseada da Urca, Rio de Janeiro, (RJ) e Praia de Itaipu, Niterói (RJ),

respectivamente. Os invertebrados foram transportados vivos até o laboratório em

galões com água do mar. A identificação do sexo foi feita a partir da liberação dos

gametas dos indivíduos coletados. Foram injetados 2 mL de KCl 0,5 M na

cavidade intracelômica de cada ouriço-do-mar. As fêmeas e machos foram

identificados, respectivamente, pela coloração alaranjada e esbranquiçada dos

seus gametas.

3.2 Isolamento da matriz que envolve o óvulo do ouriço-do-mar:

Os gametas femininos foram lavados com água do mar artificial sem cálcio,

(NaCl 480 mM, KCl 10 mM, MgCl2 27 mM, MgSO4 29 mM, NaHCO3 2 mM e EDTA

10 mM) em pH 8,0 e à temperatura de 4 C. Modificou-se o pH de 8,0 para 5,0 e

mantendo-se nessa condição por cinco minutos. Logo após, elevou-se o pH

novamente para 8,0. Centrifugou-se o material por 30 min a 10.000 x g à

temperatura de 4 C. O sobrenadante, rico em polissacarídeo sulfatado, foi

dializado contra água destilada, por 24 h, à temperatura de 4 C (SeGall e Lennarz,

1978).

3.3 Obtenção do plasma seminal:

Os gametas masculinos foram centrifugados por 15 minutos a 1000 x g em

temperatura ambiente. O sobrenadante foi recolhido e colocado em sacos de

diálise, com exclusão de 12 kDa, contra água destilada a 4 C durante 48 horas e

liofilizados ou estocados a - 20 C. A diálise é necessária para desalinizar o

material para sua posterior aplicação na coluna de troca-iônica e, além disso, não

é possível fazer a liofilização do material altamente salino. Adaptado de Yamada e

Aketa, 1982.

Page 49: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

33

3.4 Solubilização da matriz gelatinosa que recobre o óvulo:

a) Para a preparação da proteofucana sulfatada

O peso seco da matriz gelatinosa que recobre o óvulo foi anotado.

Posteriormente, o material foi rehidratado em diversos tampões, para a escolha do

solvente mais adequado para sua solubilização. Os tampões utilizados foram: 1.)

água do mar artificial, 2.) tampão acetato de sódio 100 mM (pH 5.0), 3.) tampão

HEPES 10 mM (pH 8.0), 4.) tampão HEPES 10 mM (pH 8.0) com EDTA 20 mM,

5.) tampão HEPES 10 mM (pH 8.0) com Uréia 6 M, 6.) tampão HEPES 10 mM (pH

8.0) com NaCl 3 M, 7.) tampão HEPES 10 mM (pH 8.0) com Triton X-100 2%, 8.)

tampão HEPES 10 mM (pH 8.0) com Nonidet P-40 2%, 9.) tampão HEPES 10 mM

(pH 8.0) com guanidina 4 M. Após a mistura do EJC com esses solventes em

concentração final de 1 mg/mL a mistura foi mantida em agitação durante 24 h à

4°C. Em seguida, dializou-se esse material exaustivamente contra água destilada,

seguido de liofilização. O extrato bruto, contendo a proteofucana sulfatada, foi

purificado por cromatografia de troca iônica.

b) Para a obtenção dos polissacarídeos sulfatados (fucana sulfatada e

sialoglicoconjugado sulfatado)

O peso seco da matriz gelatinosa que recobre o óvulo foi anotado após

liofilização. Posteriormente, foi rehidratado em tampão de digestão (0,1 M de

acetato de sódio, 5 mM de cisteína, 5 mM de EDTA, pH 6,0). Após 1 h foi

adicionado papaína, o correspondente a 10% do peso seco, a mistura foi incubada

por 24 h a 60 C. O material insolúvel foi removido por centrifugação e os

polissacarídeos sulfatados, presentes no sobrenadante, foram precipitados com

três volumes de etanol absoluto por 24 h a 4 C, seguido por centrifugação durante

15 min a 2000 x g. O precipitado contendo os polissacarídeos totais, foram

purificados por cromatografia de troca iônica.

Page 50: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

34

3.5 Quantificação das amostras:

A solubilização do EJC em diferentes solventes foi avaliada pela

transparência e presença de precipitado nas soluções de 1 mg/mL, após agitação

por 24 h, a 4°C. As amostras também foram monitoradas pela sua propriedade

metacromática, misturando-se 1 mL de uma solução de 1,9-dimetil azul de

metileno, 50 μL da amostra solubilizada e medindo a A525nm (Farnadale et al.,

1986). Proteína foi determinada pelo método de Bradford, utilizando-se 200 μL de

reagente de Bradford concentrado, 800 μL da amostra solubilizada e medindo a

A595nm. As hexoses foram determinadas pela reação de Dubois (Dubois et al.,

1956). O peso seco foi determinado pela pesagem do material liofilizado.

3.6 Purificação dos glicoconjugados sulfatados:

a) para obtenção da proteofucana sulfatada

Para a purificação da proteofucana sulfatada, o EJC solubilizado em tampão

HEPES 10 mM + uréia 6 M foi inicialmente submetido a cromatografia de iônica

DEAE-celulose (Sigma). A coluna foi equilibrada em tampão HEPES 10 mM, Uréia

6 M (pH 8,0) e eluída em concentrações crescentes de sal NaCl 0 4 M na

mesma solução. O fluxo utilizado foi de 60 mL/h e o volume das frações de 1 mL.

A segunda etapa purificativa foi em cromatografia de troca iônica Mono Q

(Pharmacia). A coluna foi equilibrada em TRIS-HCl 20 mM, (pH 8,0) e eluída com

concentrações crescentes de NaCl 0 3 M na mesma solução. O fluxo utilizado

foi de 30 mL/h e o volume das frações de 0,5 mL. A terceira etapa foi uma

cromatografia de filtração em Superose 12, equilibrada e eluída em gradiente

isocrático TRIS-HCl 20 mM contendo NaCl 250 mM (pH 8,0). O fluxo utilizado foi

de 15 mL/h e o volume das frações recolhidas foi de 0,25 mL. Todas as

cromatografias foram acopladas a um sistema de HPLC. As frações foram

monitoradas pela sua metacromasia, absorção a 280 ou 220 nm e condutividade,

quando necessário.

Page 51: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

35

b) para obtenção da fucana sulfatada e do sialoglicoconjugado sulfatado

Após o tratamento do EJC com papaína, os polissacarídeos sulfatados foram

purificados em coluna de troca iônica em DEAE-celulose (Sigma) e Mono Q

(Pharmacia), esta acoplada a um sistema de FPLC. Ambas as colunas foram

equilibradas em tampão acetato de sódio 0,1 M, contendo EDTA 10 mM (pH 5,0) e

eluídas em concentrações crescentes de NaCl 0 2M para a resina de DEAE –

celulose e 0 4M para a Mono Q - FPLC. O fluxo utilizado foi de 10 mL/h para a

colunas DEAE – celulose e 30 mL/h para a coluna Mono-Q. As frações foram

monitoradas pela sua propriedade metacromática, utilizando-se 1 mL de uma

solução de 1,9-dimetil azul de metileno e 50 uL de cada fração (Farnadale et al.,

1986) e pelo seu conteúdo de ácido siálico pelo ensaio de Ehrlich (Werner e Odin ,

1952). As frações foram agrupadas, dializadas exaustivamente contra água

destilada e liofilizadas.

3.7 Eletroforese em gel de agarose:

As frações de polissacarídeos sulfatados ou de proteofucana sulfatada foram

analisadas por eletroforese em gel de agarose, como descrito (Dietrich e Dietrich,

1976). O volume ideal a ser utilizado em cada poço do gel de agarose foi estimado

misturando-se volumes crescentes da solução da amostra a 1 mL de DMB até que

a solução adquirisse tom róseo. As amostras foram aplicadas num gel de agarose

0,5 %, preparado em tampão 1,3 diaminopropano acetato 0,05 M (pH 9,0). O gel

foi submetido a 100 V por 1 h. Os polissacarídeos sulfatados no gel foram fixados

por 12 h com Cetavlon 0,1 % em água destilada. Em seguida, o gel foi desidratado

e corado com azul de toluidina 0,1 % e descorado por ácido acético / etanol / água

(0,1 : 5 : 5, v/v).

3.8 Eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de SDS em condições

redutoras (SDS-PAGE):

Aproximadamente 15 g da amostra diluída no volume máximo de 15 L,

foram misturadas com 5 L de tampão de amostra desnaturante contendo β-

mercaptoetanol e mantidos a 100 C por 5 min. Após essa etapa, as amostras

Page 52: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

36

foram aplicados em gel de poliacrilamida 7,5%, com “stacking” gel de 4,0%. O gel

foi submetido à voltagem de 100 V por 2 h em sistema de eletroforese Mini – gel

da Bio – Rad e corado posteriormente com azul de comassie 0,1% e/ou por azul

de toluidina 0,1%.

3.9 Eletroforese em gel de poliacrilamida em tampão barbital:

Aproximadamente 20 g de polissacarídeos sulfatados, no volume máximo

de 10 L, foram aplicados em gel de poliacrilamida 6%, em tampão barbital sódico

0,02 M (pH 8,6). O gel foi submetido a voltagem de 100 V por 40 min, em sistema

de eletroforese Mini – gel da Bio – Rad. Em seguida, o gel foi corado com azul de

toluidina 0,1% preparado em ácido acético 1%.

3.10 Depolimerização de polissacarídeos sulfatados utilizando enzimas e

ácido nitroso:

As digestões com condroitinases AC e ABC foram realizadas conforme

descrito por Saito et al., 1968. Aproximadamente, 100 μg de polissacarídeos

sulfatados foram incubados com 0,3 unidades de condroitim AC ou ABC liases por

12 horas a 37 °C em 100 μL de tampão 50 mM Tris - HCl (pH 8.0) contendo 5 mM

EDTA e 15 mM acetato de sódio. A enzima condroitim AC liase cliva

especificamente condroitim sulfato enquanto a condroitim ABC liase dermatam

sulfato e condroitim sulfato. A clivagem deaminativa com ácido nitroso em pH 1,5

ocorreu conforme descrito por Shively e Conrad, 1976. Brevemente,

aproximadamente 100 μg de polissacarídeos sulfatados foram incubados com 200

μL de ácido nitroso a temperatura ambiente por 90 minutos. A reação foi

neutralizada adicionando 1,0 M Na2CO3. Este ácido tem a capacidade de clivar

resíduos de glucosamina N-sulfatados e \ ou N-livres.

3.11 Identificação dos açúcares constituintes dos polissacarídeos

sulfatados:

Os polissacarídeos sulfatados foram hidrolisados em ácido trifluoroacético 6,0

M (concentração final) por 6 h a 100 C. Os açúcares liberados foram identificados

Page 53: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

37

por cromatografia descendente em papel Whatmann 1 MM. O solvente utilizado foi

ácido isobutírico / hidróxido de amônia 1 N, na proporção (5 : 3, v/v) por 24 h e

reveladas com nitrato de prata. Esse solvente separa hexosaminas (glucosamina

e galactosamina) da galactose e ainda todos os açúcares neutros, exceto

galactose de glucose. O solvente butanol : piridina : água na proporção (3 : 2 : 1,

v/v) por 48 horas foi utilizado para diferenciar glucose de galactose.

3.12 Ressonância Magnética Nuclear:

Os espectros foram obtidos em um espectrômetro Bruker DRX 600 MHz

utilizando uma sonda de tripla ressonância de 5 mm. Utilizou-se de 1,5 a 10 mg de

amostra dissolvidas em 0,5 a 0,7 mL de D2O 99,9%. Os experimentos foram

realizados a 60 C com supressão de HDO por presaturação. Foram realizados

espectros unidimensional (detecção direta de 1H) e bidimensional de HMQC

(“Heteronuclear Multiple Quantum Coherence”) e COSY (“Correlation

Spectroscopy”).

3.13 Hidrólise do sialoglicoconjugado sulfatado:

O sialoglicoconjugado sulfatado purificado de L. variegatus foi hidrolisado sob

condições distintas. Para a obtenção do ácido siálico livre e posterior

caracterização estrutural, o sialoglicoconjugado foi solubilizado em água, e o pH

ajustado para 2,0 com ácido fórmico 1 M. A amostra foi então mantida a 80oC e

fracionada como descrito no item abaixo. Para análises cromatográficas com o

objetivo de detectar os monômeros ou oligômeros de ácido siálico, o

sialoglicoconjugado foi hidrolisado em ácido triofluoroacético 0,1 N a 80°C por 1 h

(obtenção de monômeros) ou em tampão AcNa 50 mM a 80°C, 60°C, 37°C por 2 a

6 h (obtenção de oligômeros). Tanto o ácido siálico livre quanto a sua forma

oligomérica foram analisados por TLC (placas de silica) (Kitazume et al., 1996).

3.14 Análise de ácido siálico e HPTLC:

Depois da incubação em água acidulada com ácido fórmico a 80°C durante 1

h, a suspensão foi resfriada e centrifugada durante 10 min a 900 x g. O

Page 54: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

38

sobrenadante foi centrifugado a 50.000 x g por 30 min (4°C). O sobrenadante foi

coletado e liofilizado, e o resíduo seco foi ressuspenso em 1 mL de água e

separado das macromoléculas com o auxílio de Centricon 3 Micropartition

(Amicon). A camada inferior foi passada em 2 mL de coluna catiônica Dowex 50 W

X 8 (100 to 200 mesh, forma protonada). A resina foi lavada com 6 mL de água e

tanto o eluato e quanto a lavagem foram unidos e liofilizados. Finalmente a

amostra foi purificada por cromatografia de gel filtração (BioGel P2) (100 x 0.5 cm,

400 mesh). A eluição foi feita com ácido acético 0.01 M, com fluxo de 1 mL/h.

Frações de 0.4 mL foram coletadas e as que continham ácido siálico foram

identificadas e quantificadas pelo método colorimétrico do ácido tiobarbitúrico

(Warren, 1959). As amostras positivas para o ácido siálico foram analisadas em

HPTLC (placas de silica), através de separação em mistura solvente contendo n-

propanol-1; amônia 1 M; água (6:2:1; v/v/v). As bandas foram visualizadas pela

reação com Resorcinol-HCl. Foram utilizados como padrão Neu5Gc e Neu5Ac, na

concentração de 1 mg/mL (Rodrigues et al., 1997).

3.15 Análise das hexoses em cromatografo a gás acoplado a espectrômetro

de massa:

O sialoglicoconjugado (~ 5 mg) foi hidrolisado com ácido triofluoroacético 6 M

durante 5 h a 100°C, reduzido com borohidreto de sódio e os alditols obtidos foram

acetilados com anidrido acético:piridina (1:1, v/v) (Kircher, 1960). Os alditols

acetatos foram dissolvidos em clorofórmio e analisados em um aparelho de

cromatografia gasosa, acoplado a um espectrômetro de massa. A coluna utilizada

foi a ZB-5ms, com o injetor a 270°C e a interface a 230°C. A temperatura inicial da

corrida foi de 110°C e a final de 250°C, com aumento de 2°C /min (Alves et al.,

1997).

3.16 Espectrometria de massas com ionização por “electrospray” (ESI-MS):

As amostras de ácido siálico e padrões relacionados foram analisados por

ESI-MS usando o equipamento ion trap Finnigan LCQ-Duo (Thermo Electron, San

Jose, CA). As amostras foram introduzidas no espectrômetro de massas sob um

Page 55: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

39

fluxo de 5 – 10 uL/min, com o auxílio de uma microbomba infusora (Harvard

Apparatus, Cambridge, MA, USA). As análises ocorreram no modo positivo (ESI+).

A fonte e a voltagem do capilar foram de 4.5 kV and 3 V (ESI+). A temperatura do

capilar foi mantida em 200°C e os espectros foram coletados na faixa de 200 a

1000 m/z. A dissociação induzida pela fonte (SID) foi de 25 V. O experimento de

dissociação por colisão induzida do íon capturado (ESI-MS/MS ou ESI-MSn) foi

feita de 20 – 60 % (1 – 3 eV) e normalizado por colisão de energia relativa. O

espectro foi processado utilizando o programa Xcalibur (Thermo Electron).

3.17 Preparo da amostra para microscopia de luz:

Óvulos frescos foram fixados com uma solução aquosa de formol neutro

tamponado a 10%, por aproximadamente uma semana, e/ou no líquido de Bouin

(Kiernan, 1990). As células foram desidratadas utilizando-se concentrações

crescentes de álcool etílico (álcool 70%, 80%, 90% e 100% - dois banhos de 20

min cada). Após a desidratação foram clarificados em dois banhos sucessivos de

xilol (15 min cada), impregnado em dois banhos de parafina (15 min cada) e,

finalmente, emblocados em parafina.

3.18 Coloração por azul de Alcian:

Os cortes foram desparafinados em três banhos de xilol, hidratados e lavados

em água destilada. Procedeu-se a coloração pelo azul de Alcian (1% de azul de

Alcian solubilizado numa solução aquosa de ácido acético 3%) em pH 2,5, por 30

min e diferenciados em HCl 1N. Posteriormente, os cortes foram contra-corados

pelo nuclear fast red e lavados em água destilada. Os cortes foram desidratados,

clarificados em três banhos de xilol e montados com lamínulas, usando-se entelan

(Entellan® new, Merck). O método identifica de polímeros ácidos carboxilados e

sulfatados, com características de glicosaminoglicanos (Kiernan, 1990).

3.19 Coloração com ácido periódico + reativo de Schiff (PAS)

Os cortes foram desparafinados em três banhos de xilol, hidratados e lavados

em água destilada. A seguir procedeu-se a oxidação com a solução do ácido

Page 56: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

40

periódico à 1% por 10 min. Os cortes foram lavados em água destilada, imersos

no reativo de Schiff durante 10 min e lavados em água corrente por 5 min. A

seguir, os cortes foram mergulhados em solução sulfurosa de 2 a 3 min e depois

lavados em água corrente por mais 5 min. Finalmente, os cortes foram

desidratados, clarificados em três banhos de xilol e montados com lamínulas,

usando-se entelan (Entellan® new, Merck). As glicoproteínas neutras contendo

hexoses e/ou ácido siálico são visualizadas em magenta (Kiernan, 1990).

3.20 Coloração para lectinas:

As lectinas biotiniladas (fonte da lectina e especificidade), AAA (Aleuria

aurantia; α-L-fucose), LCA (Lens culinaris; α-mannose) e PNA (Arachis hypogaea;

β-D-galactose) (Burlingame CA, USA). Uma vez desparafinizados e hidratados, os

cortes foram lavados em H2O2 3% por 10 min para bloquear a atividade da

peroxidase endógena e então, lavados em tampão PBS 0.05 M, pH 7.4, e

incubados em solução de lectinas em diluições apropriadas (1:4,000) por 1 h em

temperatura ambiente. Após três lavagens em PBS, os cortes foram incubados em

solução contendo 3,3’-diaminobenzidine (DAB) a 0.05% e H2O2 a 0.005% em PBS

0.05 M (pH 7.4) por 1 min a temperatura ambiente antes da desidratação e

montagem da lâmina. Como controle foi utilizado meio de incubação com o

tampão sem lectina, como controle negativo.

Page 57: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

41

Resultados:

1.) Monitorar ao longo do ano a expressão de polissacarídeos sulfatados na matriz

gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar da espécie L. variegatus

Após a coleta e mudança de pH a que os óvulos do ouriço-do-mar foram

submetidos, pode-se obter a matriz gelatinosa que os recobre. Esta matriz foi

tratada com enzima proteolítica e posteriormente precipitada com etanol. Desta

forma, foram obtidos os polissacarídeos totais desta matriz (Figura 21).

Sobrenadante

EJC

digestão

proteolítica

Papaína

60º C

Polissacarídeos totais

precipitaçãoEtanol P. A.

4º C

Sobrenadante

EJCEJC

digestão

proteolítica

Papaína

60º C

Polissacarídeos totais

precipitaçãoEtanol P. A.

4º C

Ao longo do ano, mês a mês, essas matrizes foram sendo estocadas para

que se acompanhasse a expressão dos polissacarídeos sulfatados.

Com esse objetivo, os polissacarídeos totais obtidos ao longo dos meses

foram submetidos à cromatografia de troca iônica, DEAE – celulose, em tampão

acetato de sódio 100 mM, 5 mM EDTA (pH 6) e eluida em gradiente linear de NaCl

(0 2 M) apresentado nos resultados da Figura 22. As frações obtidas foram

monitoradas quanto a sua propriedade metacromática.

MG

Figura 21: Processo de extração dos polissacarídeos totais a partir da matriz gelatinosa (MG) que recobre o óvulo.

Page 58: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

42

0 20 40 60 80 100

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

propriedade metacromática

condutividade

0 20 40 60 80 100

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

AB

S 5

25

nm

[NaC

l] (M)

[NaC

l] (M)

AB

S 5

25

nm

frações

P1

P1

P2

P2

P3

agosto

- maio

junho -

julho

0 20 40 60 80 100

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

0 20 40 60 80 100

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

propriedade metacromática

condutividade

propriedade metacromática

condutividade

0 20 40 60 80 100

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

0 20 40 60 80 100

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

AB

S 5

25

nm

[NaC

l] (M)

[NaC

l] (M)

AB

S 5

25

nm

frações

P1

P1

P2

P2

P3

agosto

- maio

junho -

julho

Pode-se verificar que as amostras obtidas no período entre agosto até maio

do ano seguinte mostraram os perfis de eluição similares, apresentando sempre

dois componentes. A primeira fração, denominada como P1, foi eluida com 0,7 M

A

)

B)

(Verão)

(Inverno)

Figura 22: Purificação dos polissacarídeos sulfatados da matriz gelatinosa que recobre o gel do óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus. Os polissacarídeos totais foram aplicados e purificados em DEAE – celulose, como descrito em Material e Método. Os quadrados brancos e a linhas pontilhadas indicam, respectivamente, a propriedade metacromática e o gradiente linear de NaCl. Os meses estão indicados no lado direito de cada gráfico.

Page 59: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

43

de NaCl enquanto a segunda fração, denominada como P2, foi removida da

coluna com 1,3 M (Figura 22A).

Ainda observamos que a primeira fração reagiu positivamente na reação de

Ehrlich, o que evidência a presença de ácido siálico (dado não mostrado). A

segunda fração, foi positiva na reação de Dubois, evidenciando a presença de

hexoses como constituinte do polímero (dado não mostrado). Estes resultados

corroboram com aqueles obtidos em 1997 por Alves et al., mostrando a presença

de sialoglicoconjugado e fucana sulfatada no gel do óvulo do ouriço-do-mar L.

variegatus.

Entretanto, nos meses de junho e julho (correspondente ao inverno),

verificamos a presença de três frações (Figura 22B). As duas primeiras eluiram da

coluna com as mesmas molaridades de NaCl usadas para remover P1 e P2 no

experimento anterior. A terceira fração eluiu em concentração mais elevada de

NaCl, aproximadamente 1,8 M, mostrou-se negativa para a dosagem de ácido

siálico e positivo para reação de Dubois.

A cromatografia da Figura 22A é representativa do que foi obtido em todos os

meses de agosto a maio, já que para cada mês foi feita uma cromatografia

obedecendo todos os parâmetros descritos em metodologia de pesquisa.

Não se deve fazer especulação sobre a quantidade desses polissacarídeos

na matriz que recobre o óvulo ao longo do ano, pois a massa de polissacarídeos

total aplicada em cada cromatografia variou. Por isso, a única conclusão que se

pode obter é quanto ao aparecimento de um componente adicional nos meses de

junho e julho e o fato de que P2 e P3 estão em concentrações proporcionais

nestes meses, já que as áreas dos dois picos cromatográficas são semelhantes.

Além disso, a área de P3 maior do que P2 da Figura 22B não reflete seu

rendimento quando é liofilizado. A massa obtida do P3 é bem inferior a de P2.

Obviamente, não podemos excluir a possibilidade da fração P3 estar

presente nos meses de verão, mas em quantidades não detectáveis pela

metodologia utilizada, obscurecidas por concentrações muito elevadas de P1 e

P2.

Page 60: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

44

As frações obtidas nas cromatografias de troca iônica foram agrupadas,

dializadas contra água destilada, liofilizadas e submetidas à eletroforese em gel de

agarose em tampão propilenodiamino conforme mostrado na Figura 23. P1 e P2

obtidas no período do verão co-migram com as mesmas frações coletadas do

ouriço-do-mar durante o inverno, indicando que correspondem ao

sialoglicoconjugado e a fucana sulfatada (Figura 23).

Estes resultados indicam fortemente que as frações obtidas são

polissacarídeos puros, que devem se diferenciar nas suas densidades de carga.

Na eletroforese em gel de agarose a migração dos polissacarídeos sulfatados

depende da sua interação com o tampão propilenodiamino (Dietrich e Dietrich,

1976). Porém a eluição destes compostos da coluna de troca iônica é dependente

da sua densidade de carga.

Figura 23: Eletroforese em gel de agarose dos polissacarídeos sulfatados de L.

variegatus purificados em DEAE - celulose. As frações (~ 10 g de cada) foram aplicadas em gel de agarose 0,5%, submetidas a eletroforese como descrito em Material e Método e coradas com azul de toluidina.

Origem

+

P2 P3 P1 P2 P1

Origem

+ +

P2 P3 P1 P2 P1

junho / julho junho / julho junho / julho ago / maio ago / maio ago / maio

Page 61: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

45

Todavia, a fração P3, obtida no período do inverno poderia ser um artefato

resultante de uma remoção parcial das cadeias polipeptídicas ligadas ao

polissacarídeo ou mesmo um artefato na coluna de DEAE - celulose. Com o

objetivo de esclarecer esta questão, a fração P3 foi tratada exaustivamente com

enzima proteolítica e recromatografado utilizando uma metodologia mais refinada

para sua análise.

0 20 40 60 80

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0

1

2

3

4

propriedade metacromática

condutividade

0 20 40 60 80

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0

1

2

3

4

AB

S 5

25 n

m

[NaC

l] (M)

[NaC

l] (M)

AB

S 5

25 n

m

frações

P2

P3

0 20 40 60 80

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0

1

2

3

4

0 20 40 60 80

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0

1

2

3

4

propriedade metacromática

condutividade

propriedade metacromática

condutividade

0 20 40 60 80

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0

1

2

3

4

0 20 40 60 80

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0

1

2

3

4

AB

S 5

25 n

m

[NaC

l] (M)

[NaC

l] (M)

AB

S 5

25 n

m

frações

P2

P3

Com este propósito, utilizamos uma troca – iônica forte, a Mono-Q, acoplada

a um sistema de FPLC. O tampão e o monitoramento foram os mesmos utilizados

da cromatografia em DEAE - celulose, com diferença apenas na progressão do

Figura 24: Purificação dos polissacarídeos sulfatados da matriz gelatinosa que recobre o gel do óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus. P2 obtido de diferentes meses e P3 obtido de junho – julho foram aplicadas em cromatografia Mono Q – FPLC como descrito em material e método. Os quadrados brancos e a linhas pontilhadas indicam respectivamente a propriedade metacromática e o gradiente linear de NaCl.

Jan - dez

Jun - jul

Page 62: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

46

gradiente utilizado, que foi de 0 4 M de NaCl. Nestas novas condições de

cromatografia os dois polissacarídeos sulfatados continuaram a mostrar uma

eluição muito distinta, com diferenças muito significativas na concentração de

NaCl necessária para remoção dos dois polissacarídeos sulfatados da coluna

(Figura 24).

Estes resultados confirmam que P2 e P3 são polissacarídeos distintos.

Provavelmente o P3 apresenta densidade de carga negativa mais elevada do que

P2, já que eluiu em concentração de NaCl mais elevada. As frações P2 e P3 não

apresentam diferenças significativas de peso molecular quando analizadas por

eletroforese em gel de poliacrilamida (Figura 25). Os dois polissacarídeos

apresentam um peso molecular de aproximadamente 290 kDa.

Origem

+

padrões Ago/maio Jun/jul

C 6-SDex-S 500 KD

a

C 4-S

Dex-S 8 KDa

Fuc-S L. v

P2P2

P3

Origem

+

Origem

+

padrões Ago/maio Jun/jul

C 6-SDex-S 500 KD

a

C 4-S

Dex-S 8 KDa

Fuc-S L. v

P2P2

P3C 6-S

Dex-S 500 KDa

C 4-S

Dex-S 8 KDa

Fuc-S L. v

C 6-SDex-S 500 KD

a

C 4-S

Dex-S 8 KDa

Fuc-S L. v

P2P2

P3P2P2

P3

Figura 25: PAGE das -L-fucanas sulfatadas de L. variegatus: Frações purificadas de -L-fucanas sulfatadas foram aplicadas em gel de poliacrilamida 6% em tampão barbital sódico 0,02 M (pH 8,6) e coradas com azul de toluidina. Os marcadores de peso molecular foram dextran sulfato de 500 kDa e 8 kDa, fucana sulfatada de L. variegatus (290 kDa), condrotim 6 sulfato (60 kDa) e condroitim sulfato 4 (40 kDa).

Page 63: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

47

Embora as frações P2 e P3 tivessem mostrado reatividade positiva quando

analisadas pelo método de Dubois, ainda não conhecíamos a composição de

monossacarídeos destes polímeros. Com a finalidade de determinar quais as

unidades sacarídicas que compõem as frações P2 e P3, estas amostras foram

submetidas à hidrólise ácida e os açúcares liberados foram identificados por

cromatografia em papel, com posterior coloração por prata, conforme descrito em

Material e Método. Este experimento revelou que o único açúcar componente das

frações P2 e P3 é fucose.

A estrutura química da fucana sulfatada (fração P3) foi determinada por

espectrometria de ressonância magnética nuclear. Nestes experimentos

analizamos, em paralelo a fração P2, embora a estrutura deste polissacarídeo já

seja conhecida (Alves et al., 1997). A fração P2 apresentou quatro sinais de próton

anomérico em proporções aproximadamente equivalentes (Figura 26A), como

esperado. Este polissacarídeo é constituído por uma unidade tetrassacarídica

repetitiva (ver Figura 5). Surpreendentemente, a fração P3 mostrou um espectro

de RMN muito simples, com um único sinal de próton anomérico (Figura 26B).

A fração P3 foi analisada através de espectros bidimensionais como 1H / 1H

COSY (Figura 27) e 13C / 1H HMQC (Figura 28). A análise destes espectros nos

permitiu determinar o valor de deslocamento químico de 13C e 1H das unidades de

fucose encontradas na fração P3, como relatadas nas tabelas 3 e 4.

Os resultados da Tabela 3 indicam claramente um deslocamento do sinal de

H4 da fração P3 de ~0,7 ppm para campo baixo quando comparado com sinal de

H4 de resíduos não sulfatados. Em contraste, todos os deslocamentos químicos

dos outros prótons apresentam valores compatíveis com resíduos não sulfatados.

Estes dados indicam claramente que a fucana sulfatada P3 é constituída por um

único tipo de unidade, com sulfato na posição O-4. A posição de ligação

glicosídica foi esclarecida pela analise do deslocamento químico de 13C.

Claramente, o C3 apresentou um deslocamento químico (76,6 ppm) compatível

com a ligação glicosídica 13. Isto é evidenciado por comparação com os valores

obtidos por fucanas sulfatadas unidas por ligação glicosídica 14 (~71 ppm) e

13 (76 – 79 ppm) ver Tabela 4.

Page 64: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

48

Em síntese, nossos resultados indicam que durante o período do inverno os

ouriços-do-mar L. variegatus apresentam no gel que recobre o óvulo um outro tipo

de fucana sulfatada, constituída por unidades unidas por ligação 13 e sulfatadas

na posição 4 (Figura 29A). Esta fucana co-existe com aquela constituída por

unidades tetrassacarídicas repetitivas, conforme descrita em nosso laboratório

(Figura 29B).

Page 65: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

49

Fuc-CH3

H1 H4

Fuc-CH3

H1 H4

Figura 26: Expansão dos espectros de uma dimensão (

1H) das fucanas

sulfatadas de L. variegatus. Em (A) a fucana sulfatada nomeada de P2, em (B) a fucana sulfatada nomeada de P3 e em (C) todo espectro de P3. H1 e H4 indicam respectivamente os deslocamentos químicos de prótons ligados ao carbono 1 e carbono 4. E Fuc-CH3 é assinalado para confirmar a presença de fucose no carboidrato.

A)

C)

B)

H1

H4

H1

H4

Page 66: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

50

Tabela 3: Deslocamento químico de prótons para resíduos de -L-fucose da -L-fucana sulfatada de L. variegatus e compostos padrões.

Espécie de

ouriço-do-mar Tipo de resíduo Polissacarídeo Deslocamento químico (ppm)

a

H1 H2 H3 H4 H5 H6

L. variegatus Trabalho atual P3 5,10 3,86 4,02 4,72 4,45 1,25

L. variegatus -3- -L-Fucp-(2SO3-)-1-b P2 5,40 4,51 4,25 4,05 4,31 1,23

L. variegatus -3- -L-Fucp-(2,4SO3-)-1-b P2 5,38 4,54 4,22 4,77 4,51 1,25

L. variegatus -3- -L-Fucp-(2SO3-)-1-b P2 5,31 4,54 4,12 4,06 4,44 1,24

L. variegatus -3- -L-Fucp-(4SO3-)-1-b P2 5,08 3,87 3,98 4,78 4,45 1,27

A. lixula -4- -L-Fucp-(2SO3-)-1-c 5,31 4,56 4,23 4,01 4,52 1,35

A. lixula -4- -L-Fucp-(2SO3-)-1-c 5,25 4,51 4,16 4,01 4,56 1,38

S. purpuratus -3- -L-Fucp-(4SO3-)-1-d 5,14 3,90 4,07 4,76 4,55 1,32

a

Os espectros unidimensionais foram feitos a 500 MHz, 60 C em 99,8% de D2O. Os deslocamentos químicos têm como referência o ácido trimetilsilpropiônico. Valores em negrito indicam a posição de ligação do sulfato. b Alves et al., 1997

c Mulloy et al., 1994

d Alves et al., 1998

Figura 27: Expansão do espectro de COSY da fucana sulfatada P3 de L. variegatus. Os valores de deslocamento químico de prótons estão reportados na Tabela 3.

1H deslocamento químico

1H

de

slo

ca

men

to q

uím

ico

H

1

H2 H1

H3 H4

H5

H6

Page 67: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

51

H1

H2

H3

H4

H5

H1

H2

H3

H4

H5

Tabela 4: Deslocamento químico de carbono dos resíduos de -L-fucose da -L-fucana sulfatada de L.variegatus e compostos padrões:

Espécie de

ouriço-do-mar Tipo de resíduo Deslocamento químico (ppm)

a

C1 C2 C3 C4 C5 C6

L. variegatus Trabalho atual (P3) 98,5 68,8 76,6 79,9 67,0 15,8

S. franciscanus -3- -L-Fucp-(2SO3-)-1-b 96,77 75,52 75,94 74,16 69,00 18,00

S pallidus -3- -L-Fucp-(4SO3-)-1-c 97,20 70,05 78,55 81,80 69,13 15,00

S pallidus -3- -L-Fucp-(4SO3-)-1- c 95,70 70,05 78,55 81,80 69,13 15,00

S.droebachiensis -4- -L-Fucp-(2SO3-)-1- c 101,97 77,90 70,97 83,40 69,96 13,00

S.droebachiensis -4- -L-Fucp-(2SO3-)-1- c 101,60 77,90 71,40 83,40 69,96 13,00

a

Os valores de deslocamento químico de 13

C foram obtidos por espectros bidimensionais tendo como referencia o ácido trimetilsilpropiônico. Valores em negrito indicam a posição envolvida na ligação glicosídica. b Vilela-Silva et al., 1999

c Vilela-Silva et al., 2002

1H deslocamento químico

Figura 28: Espectro 1H /

13C HMQC da fucana sulfatada P3 de L. variegatus. O assinalamento

foi baseado no COSY. Os valores de deslocamento químico de carbono estão reportados na Tabela 4.

13C

de

slo

ca

men

to q

uím

ico

Page 68: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

52

O

-O3SO

-O3SO

O-O

3SO

CH3

HO

O -O3SO

HO

CH3

OO

CH3

O

-O3SO

O

HO

CH3 O

-O3SO

HO

CH3O

O

-O3SO

HO

CH3O

O

-O3SO

HO

CH3O

O Fucana do trabalho presente

Fucana descrita por Alves et al., 1997

O

-O3SO

-O3SO

O-O

3SO

CH3

HO

O -O3SO

HO

CH3

OO

CH3

O

-O3SO

O

HO

CH3 O

O

-O3SO

-O3SO

O-O

3SO

CH3

HO

O -O3SO

HO

CH3

OO

CH3

O

-O3SO

O

HO

CH3 O

-O3SO

HO

CH3O

O

-O3SO

HO

CH3O

O

-O3SO

HO

CH3O

O Fucana do trabalho presente

Fucana descrita por Alves et al., 1997

Figura 29: Comparação entre as duas fucanas sulfatadas obtidas da matriz gelatinosa que recobre o óvulo de L.variegatus.

A)

B)

Page 69: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

53

2.) purificação e caracterização parcial da proteofucana sulfatada pesente na matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus.

A injeção de uma solução de KCl 0,5 M na cavidade intracelômica dos

ouriços-do-mar da espécie L. variegatus leva à liberação dos seus gametas. Os

gametas femininos são identificados pela coloração amarelada, e foram usados

para a preparação do EJC. O processo consiste inicialmente na mistura dos

óvulos em uma solução de água do mar artificial, sem cálcio e contendo 10 mM de

EDTA (pH 8,0). Posteriormente, o pH da solução é diminuído para 5, durante 5

minutos e, em seguida, elevado novamente para 8 (conforme descrito em Material

e Método).

O EJC não se solubiliza facilmente em água do mar. Portanto, o primeiro

desafio para purificarmos moléculas encontradas nessa preparação é procurar

métodos adequados para a sua solubilização. Foram testados nove soluções

distintas, sempre utilizando 1 mg de EJC por mL: 1) água do mar artificial, 2)

acetato de sódio 100 mM (pH 5.0), 3) HEPES 10 mM (pH 8.0), 4) HEPES 10 mM

(pH 8.0) + 20 mM de EDTA, 5) HEPES 10 mM (pH 8.0) + 6 M de uréia, 6) HEPES

10 mM (pH 8.0) + 3 M de NaCl, 7) HEPES 10 mM (pH 8.0) + 2% de TX-100, 8)

HEPES 10 mM (pH 8.0) + 2% de NP-40 e 9) HEPES 10 mM (pH 8.0) + 4M de

guanidina. Essas soluções foram avaliadas considerando a presença de

precipitado e sua transparência. Também foram avaliados pela recuperação do

material solubilizado em peso seco e pelas dosagens de proteína pelo método de

Bradford e de polissacarídeo sulfatado pelo método de Farndale.

Page 70: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

54

Tabela 5: características da solubilização da matriz gelatinosa em diversos tampões. A amostra foi solubilizada nos tampões descritos acima com concentração final de 1 mg/mL com posterior avaliação dos parâmetros citados na tabela. Legenda: (*) Interferência do detergente na leitura ; A, ausente ; P, presente ; 0, ausência ; +, valor subjetivo e crescente da presença de precipitado ; ASW, água do mar artificial ; Ac Na, acetato de sódio.

Tampões Transparência

da solução

Presença de precipitado

Peso seco (recuperação %)

Dosagem de metacromasia

(mg/mL)

Dosagem de proteína (mg/ml)

ASW (pH 8.0) A ++ 39 0,0042 0,1876

Ac Na 100 mM (pH 5.0) A +++ 10 0,0005 0,0292

HEPES 10 mM (pH 8.0) A ++ 30 0,0408 0,2668

HEPES 10 mM (pH 8.0) + EDTA 20 mM A ++ 42 0,0810 0,1942

HEPES 10 mM (pH 8.0) + Uréia 6 M P 0 59 0,1067 0,4384

HEPES 10 mM (pH 8.0) + NaCl 3 M A ++ 42 0,0701 0,2272

HEPES 10 mM (pH 8.0) + TX-100 2% A +++ ND * 0,0591 * 1,6134 *

HEPES 10 mM (pH 8.0) + NP-40 2% A ++ ND * 0,2165 * 6,7355 *

HEPES 10 mM (pH 8.0) + Guanidina 4 M A ++ 35 0,0920 0,4451

Page 71: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

55

Os resultados obtidos indicam que a solução HEPES 10 mM (pH 8.0),

contendo 6 M de uréia, é a mais apropriada para a solubilização do EJC, em

quatro dos cinco parâmetros testados (Tabela 5). Curiosamente, quando

dobramos a concentração de EJC no tampão escolhido, esse resultado não se

mantém (dado não mostrado).

Em seguida, uma solução de EJC do ouriço-do-mar, na concentração de 1

mg/mL em HEPES 10 mM (pH 8.0), contendo 6 M de uréia, foi aplicada em uma

coluna de troca iônica (DEAE – celulose), acoplada a um sistema de HPLC. As

frações obtidas foram monitoradas pela sua metacromasia, A280nm e

condutividade, conforme mostrado na Figura 30. Observamos a presença de

quatro frações. A primeira, denominada como P1, foi eluida com 0,4 M de NaCl,

apresentou A280nm mas sem metacromasia. Outras frações, denominadas como P2

e P3, apresentaram metacromasia e A280nm intensas e foram eluidas com 0,8 e 1

M de NaCl, respectivamente. Por fim, a fração P4, eluida com 1,3 M de NaCl

mostrou, metacromasia e ausência de A280nm.

As quatro frações foram dializadas exaustivamente contra água destilada e

posteriormente liofilizadas. Após esse processo, foram submetidas à eletroforese

em gel de agarose (Figura 31) e SDS-PAGE em condições desnaturantes (Figura

32).

A eletroforese em gel de agarose foi corada com azul de toluidina, para

visualizar os polissacarídeos sulfatados (Figura 31). A fração P1 não mostrou

nenhuma banda metacromática, ao passo que as demais frações mostraram a

presença de polissacarídeos sulfatados metacromáticos. A fração P2 apresentou

mobilidade eletroforética semelhante ao SGCS. As frações P3 e P4 apresentaram

migração similar à FS. Esse dado sugere que, mesmo quando esses

polissacarídeos sulfatados estão ligados a uma cadeia protéica, suas mobilidades

eletroforéticas não se alteram.

Page 72: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

56

Figura 30: Purificação da proteofucana sulfatada da matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus. O extrato bruto foi aplicado em cromatografia DEAE – HPLC como descrito em Material e Método. Os quadrados brancos, a linha continua e linha pontilhada indicam respectivamente a propriedade metacromática, a absorção a 280 nm e o gradiente linear de NaCl. As posições em que o sialoglicoconjugado e fucana sulfatada eluem estão indicadas por setas no topo do cromatograma.

Figura 31: Eletroforese em gel de agarose do extrato bruto matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus. e das frações obtidas na DEAE- HPLC: As frações obtidas foram aplicadas em gel de agarose 0.5% e coradas com azul de toluidina, assim como descrito em material e métodos. Legenda EB; extrato bruto.

A 280 nm

SGCS

FS

Page 73: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

57

No SDS-PAGE, corado com azul de toluidina, não foi visualizada nenhuma

banda relativa à fração P1. Por outro lado, as demais frações, P2 – P4

apresentaram uma única banda de alto peso molecular (Figura 32A), coerente

com dados prévios que mostram o alto peso molecular da FS, aproximadamente

290 kDa (Alves et al., 1997). Adicionalmente, coramos a mesma eletroforese com

azul de Comassie, para a visualização de proteínas. Com a utilização desse

corante, conseguimos visualizar uma série de bandas de baixo peso molecular

presente na fração P1, mas, curiosamente, as frações P2 – P4 não apresentaram

nenhuma coloração (Figura 32B).

Os dados obtidos para as frações P1 e P4 são coerentes. Na cromatografia

de troca-iônica, P1 não mostrou metacromasia, mas A280nm. O inverso foi

observado para P4, alta metacromasia e ausência de A280nm. As frações P2 e P3

foram positivas para as duas dosagens e também não foram coradas com azul de

Comassie nas eletroforeses.

Nossa interpretação é de que a presença de grande quantidade de cadeias

de polissacarídeos sulfatados nas frações P2 e P3 impedem o acesso do corante

azul de Comassie à cadeia peptídica, não permitindo sua visualização no SDS-

PAGE.

Com o intuito de obter a pFS purificada, submetemos a fração P3 a outra

cromatografia de troca-iônica, mas utilizando uma coluna de Mono Q, acoplada a

um sistema de HPLC. Novamente, monitoramos as frações obtidas pela

metacromasia, A220nm e condutividade. O resultado obtido mostra uma fração

eluida com ~ 1,5 M de NaCl, apresentando metacromasia e A220nm (Figura 33).

Finalmente, essa fração foi cromatografada por exclusão (Superose 12),

acoplada a um sistema de HPLC. Novamente, as frações foram monitoradas pela

metacromasia e A220nm. Observamos a presença de quatro frações, mas apenas

aquela eluida no volume de exclusão, continha metacromasia e A220nm, como o

esperado para a pFS, Figura 34.

Page 74: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

58

Figura 32: Eletroforeses em gel de poliacrilamida (7.5%) em condição redutora. A lavagem, a fração de 11 – 25 e os picos P1, P2, P3 e P4 foram analisadas. Em (A) o gel foi corado com azul de Comassie e em (B) com azul de toluidina, como descrito em Material e Método.

L AV

F 11 - 25

P1 P2 P3 P4L AV

F 11 - 25

P1 P2 P3 P4P4L A

VP1 P2 P3

F 11 - 25

A) B)

Page 75: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

59

Figura 33: Purificação da proteofucana sulfatada da matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus. O pico P3 obtido na cromatografia de DEAE-HPLC foi aplicado na Mono Q-HPLC como descrito em Material e Método. Os quadrados brancos, a linha continua e linha pontilhada indicam respectivamente a propriedade metacromática, a absorção a 280 nm e o gradiente linear de NaCl. A posição em que a fucana sulfatada elui é mostrada com uma seta no topo do croromatograma.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

F R AÇ ÃO

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

0,50

0,55

AB

S 5

25

nm

P rop. metacromática

0

100

200

300

400

500

600

AB

S 2

20

nm

P roteína

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

F R AÇ ÃO

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

0,50

0,55

AB

S 5

25

nm

P rop. metacromáticaP rop. metacromática

0

100

200

300

400

500

600

AB

S 2

20

nm

0

100

200

300

400

500

600

AB

S 2

20

nm

P roteínaP roteína

Figura 34: Purificação da proteofucana sulfatada da matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus. O pico obtido na cromatografia de Mono Q-HPLC foi aplicado em Superose 12-HPLC como descrito em Material e Método. Os quadrados brancos, a linha continua e linha pontilhada indicam respectivamente a propriedade metacromática, a absorção a 280 nm e o gradiente linear de NaCl. A posição em que a fucana sulfatada elui é mostrada com uma seta no topo do cromatograma.

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

NaC

l (M)

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

AB

S(5

25n

m)

0

1000

2000

3000

4000

AB

S(2

20n

m).

10

3

Prop. metacromática

Proteína

Fração

0 10 40 60 8020 30 50 70 90

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

NaC

l (M)

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

NaC

l (M)

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

AB

S(5

25n

m)

0

1000

2000

3000

4000

AB

S(2

20n

m).

10

3

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

AB

S(5

25n

m)

0

1000

2000

3000

4000

AB

S(2

20n

m).

10

3

0

1000

2000

3000

4000

0

1000

2000

3000

4000

AB

S(2

20n

m).

10

3

Prop. metacromática

Proteína

Prop. metacromática

Proteína

Fração

0 10 40 60 8020 30 50 70 90

Fração

0 10 40 60 8020 30 50 70 900 10 40 60 8020 30 50 70 90

Page 76: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

60

Tabela 6: Quantificação de proteínas, polissacarídeos sulfatados e hexoses em 1mg/ml presentes após cada etapa purificativa. Dosagem de proteína, polissacarídeos sulfatados e hexose realizadas pelos Bradford, Farnadale e Dubois respectivamente. ND – Não detectado.

Etapa

Característica

Proteína Polissacarídeos

sulfatados

Hexose

Extrato bruto 15,1 26,1 113,9

DEAE-celulose 12,6 13,9 14,3

MONO-Q 0,5 3,5 2,4

Superose-12 ND 0,2 0,1

Os valores de proteína, polissacarídeos sulfatados e hexose, obtidos ao

longo dos passos de purificação podem ser visualizados na Tabela 6.

A FS extraída do EJC, com o tratamento proteolítico é eluida nas colunas de

troca-iônica e gel filtração próximo à pFS. Essa coincidência indica que o “core”

protéico não altera drasticamente o tempo de retenção nestes dois tipos de

cromatografia, nem o caráter aniônico da molécula, como o observado para PG de

vertebrados.

O desafio atual no estudo dessa molécula é identificar o tipo de ligação

carboidratos-aminoácido e descobrir métodos adequados para o rompimento

dessas ligações, mantendo intacta a cadeia polipeptídica. Outro desafio é obter

métodos cromatográficos que permitam distinguir a FS da pFS, ou seja, separar o

polissacarídeo livre do ligado à proteína.

Page 77: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

61

3.) Localização e elucidação da composição de açúcares do sialoglicoconjugado sulfatado presente na matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus

O EJC, do ouriço-do-mar da espécie L. variegatus, foi submetido à digestão

proteolítica e os polissacarídeos totais obtidos foram separados numa

cromatografia de troca iônica (DEAE – celulose). As frações obtidas por

monitoradas por metacromasia, conteúdo de Sia e condutividade (Figura 35).

Observamos a presença de duas frações. A fração denominada como P1 eluiu

com ~0,6 M de NaCl e apresenta metacromasia e Sia. A fração P2 eluiu com

maior concentração de NaCl (1,4 M), apresenta metacromasia, mas sem Sia

(Figura 35). As duas frações foram dializadas exaustivamente contra água

destilada e posteriormente liofilizadas. Após esse processo as frações foram

submetidas à eletroforese em gel de agarose e PAGE, ambas coradas com azul

de toluidina.

Na eletroforese em gel de agarose foram visualizadas bandas

metacromáticas, referente a cada uma das frações obtidas na cromatografia em

DEAE-celulose. As frações P1 e P2 apresentaram mobilidades eletroforéticas

similares aos padrões de SGCS e FS, respectivamente (Figura 36A). Na PAGE,

utilizada para estimar o peso molecular da macromolécula, surpreendentemente, o

SGCS mostrou peso molecular baixo, aproximadamente 8 kDa, em contraste com

a FS desta espécie, que possui aproximadamente 290 kDa (Alves et al., 1997)

(Figura 36B).

O SGCS foi submetido à hidrólise ácida com ácido triofluoroacético 0,1 N, à

80°C, durante 1 h. O produto obtido foi submetido a cromatografia de exclusão em

Bio Gel P2 e, posteriormente, em uma cromatografia de troca-iônica em Dowex

(50 W X 8). Esse procedimento permitiu a purificação do Sia liberado pela hidrólise

ácida.

Page 78: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

62

Figura 35: Purificação dos polissacarídeos sulfatados da matriz gelatinosa que recobre o gel do óvulo do ouriço-do-mar L. variegatus. Os polissacarídeos totais foram aplicados e purificados em DEAE – celulose, como descrito em Material e Método. A linha azul, amarela e preta, respectivamente, a propriedade metacromática e o ensaio de Erlich e o gradiente linear de NaCl.

Page 79: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

63

Dex-S 500 KDa

C 6-SC 4-S

Heparina

Dex-S 8 KDa

A. lixula

E . lucunter

L . variegatus

P . depressus

P adrões Amostras

Dex-S 500 KDa

C 6-SC 4-S

Heparina

Dex-S 8 KDa

A. lixula

E . lucunter

L . variegatus

P . depressus

P adrões Amostras

Dex-S 500 KDa

C 6-SC 4-S

Heparina

Dex-S 8 KDa

A. lixula

E . lucunter

L . variegatus

P . depressus

P adrões Amostras

Figura 36: Eletroforeses do sialoglicoconjugado sulfatado purificado a partir de matriz gelatinosa que recobre o óvulo de ouriço-do-mar L. variegatus: Em (A) os picos obtidos da DEAE-celulose foram aplicados em eletroforese em gel de agarose, enquanto em (B) a fração rica em sialoglicoconjugado sulfatado foi aplicadas em gel de poliacrilamida 6% em tampão barbital sódico 0,02 M (pH 8,6. Os marcadores de peso molecular foram dextran sulfato de 500 kDa e 8 kDa, condrotim 6 sulfato (60 kDa) e condroitim sulfato 4 (40 kDa) e heparina (35 kDa). Ambas as eletroforese foram coradas com com azul de toluidina. Em (B) foram submetidos outros sialoglicoconjugados obtidos de outras espécies de ouriços-do-mar.

A) B)

Page 80: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

64

Os Sia purificados a partir do SGCS do ouriço-do-mar foi identificado através

de HPTLC As bandas visualizadas através do corante Resorcinol-HCl revelaram a

presença de NeuGc. Além disso, outra evidência da presença desse Sia foi o tom

mais arroxeado que esta banda apresentou, como o padrão (Figura 37).Esse

material foi também analisado por espectroscopia de massa. O resultado mostrou

que o íon molecular obtido possui a mesma massa e mesma fragmentação que o

Neu5Gc, provando de forma inequívoca a presença desse Sia na composição do

SGC sulfatado (Figura 38).

Figura 37: TLC do ácido siálico purificado do sialoglicoconjugado sulfatado obtido do EJC de L. variegatus. Nos poços foram aplicados; 1 padrão de Neu5Ac , 2 padrão de Neu5GC , 3 ácido siálico constituinte do sialoglicoconjugado.

Page 81: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

65

Figura 38: ESI do ácido siálico purificado do sialoglicoconjugado sulfatado do ouriço-do-mar L. variegatus.

Page 82: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

66

O Sia pode ocorrer na forma mono- ou poli-sialilada. Essas formas já foram

observadas em EJC de ouriços-do-mar (Kitazume et al., 1994). Para determinar

esse aspecto estrutural, submetemos o SGCS à hidrólise ácida branda, utilizando

dois períodos de tempo e temperaturas distintas. Os produtos de cada

experimento foram analisados por TLC. Independente do tempo ou da

temperatura de hidrólise utilizados uma única banda com mobilidade igual a do

padrão de Neu5Gc é visualizada. Esse resultado prova que o SGCS é um

composto mono-sialilado (Figura 39).

Figura 39: HPTLC do ácido siálico purificado do sialoglicoconjugado sulfatado obtido do EJC de L. variegatus. O sialoglicoconjugado foi extraído com ácido triofluoroacético 0.1 N durante 15 ou 30 min e a temperatura de 37

0C ou 60

0C ou 80

0C.

Tempo (min): 15 30 15 30 15 30

Neu5Gc

37 60 80 Temperatura (0C)

Page 83: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

67

Numa segunda etapa identificamos os outros monossacarídeos presentes no

SGCS. Para esse experimento o composto foi submetido a hidrólise ácida forte

(ácido triofluoroacético 6 M durante 5 h a 100°C) e os açúcares liberados foram

identificados por TLC (Figura 40).

Observamos cinco bandas, sendo que três delas co-migram com os padrões

de Gal, Glu e Man. A outras duas não co-migram com nenhum dos padrões de

açúcar e provavelmente são produtos de degradação, formados durante a

hidrólise ácida. Esse resultado indica que o SGCS contém Gal, Glu e Fuc em

proporções semelhantes, além do Neu5Gc.

Figura 40: TLC das hexoses do sialoglicoconjugado sulfatado obtido do EJC de L. variegatus. O sialoglicoconjugado sulfatado foi hidrolisado com ácido triofluoroacético 6 M durante 5 h a 100C. O material hidrolisado foi aplicado e corado com Resorcinol-HCl.

Fuc

Glu

Gal

contaminantes

__Origem

Page 84: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

68

Alguns monossacarídeos co-migram em TLC. Por exemplo, Man dificilmente

se distingue de Glu. Por essa razão, os monossacarídeos liberados pela hidrólise

ácida foram derivatizados em alditol acetato e analisados por cromatografia a gás,

acoplada a um espectrômetro de massa (GC-MS). No cromatograma foram

visualizados 4 sinais, com tempo de retenção semelhantes aos padrões de fucose,

manose, glucose e galactose, na proporção de 0,3 : 0,55 : 0,5 : 0,3 (Figura 41). Os

espectros de fragmentação confirmam a presença desses açúcares.

Figura 41: Análise do sialoglicoconjugado obtido da matriz gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar da espécie L. variegatus por GC-MS. Análise revela a presença de fucose, manose, glucose e galactose.

Fuc

Man

Glu

Gal

Page 85: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

69

Uma vez determinada a composição de açúcares do SGCS, o próximo

desafio é estabelecer a sua estrutura, ou seja, a seqüência desses

monossacarídeos, posição da ligação glicosídica, sítios de sulfatação, possíveis

ramificações, etc. Com esse objetivo analisamos o SGCS por 1H RMN. Os

espectros obtidos são muito complexos e indicam estruturas heterogêneas, sem

padrão repetitivo evidente (Figura 42). Os espectros bidimensionais de COSY,

TOCSY e HMQC são muito complexos, heterogêneos e de interpretação muito

difícil.

1.52.02.53.03.54.04.55.05.5 ppm1.52.02.53.03.54.04.55.05.5 ppm1.52.02.53.03.54.04.55.05.5 ppm

Figura 42: Espectro de uma dimensão (1H) do sialoglicoconjugado sulfatado obtido da matriz

gelatinosa que recobre o óvulo do ouriço-do-mar da espécie de L. variegatus.

Page 86: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

70

Após estabelecer algumas características estruturais do SGCS, tentamos

localizá-lo no EJC do ouriço-do-mar. Os óvulos da espécie L. variegatus foram

fixados e corados com azul de alcian (pH 2,5) e PAS. Esses corantes permitem

visualizar carboidratos carboxilados e/ou sulfatados e carboidratos neutros,

respectivamente. Com o uso do azul de alcian podemos visualizar uma coloração

azul intensa na superfície dos óvulos. Com o PAS observamos uma intensa

marcação vermelha por todo o óvulo, exceto no núcleo (Figura 43). Esses

resultados mostram que óvulo possui grande concentração de carboidratos

neutros no seu citoplasma, provavelmente glicogênio. O EJC possui

preponderantemente carboidratos carregados negativamente.

Figura 43: Microscopia de luz dos óvulos de L. variegatus. O óvulo foi corado em (A) com azul de Alcian (pH 2.5) e em (B) com PAS.

Alcian Blue pH 2.5 PAS

Page 87: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

71

A informação sobre a localização dos carboidratos sulfatados no EJC a partir

da coloração com azul de alcian, não nos fornece informações definidas sobre a

localização do SGCS. Tanto a FS quanto o SGC podem ser corados pelo azul de

alcian. Com o objetivo de definir a localização exata do SGCS, utilizamos lectinas

específicas. A lectina AAA reconhece Fuc e permite localizar a FS e o SGCS. As

lectinas LCA e PNA, que reconhecem Man e Gal, respectivamente, devem se ligar

apenas ao SGCS.

As micrografias mostram que todas as lectinas utilizadas interagiram com os

carboidratos do EJC do ouriço-do-mar L. variegatus de maneira homogênea

(Figura 44). Com essas observações microscópicas podemos concluir que o

SGCS está presente homogeneamente no EJC desta espécie de ouriço-do-mar.

Page 88: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

72

AA

AL

CA

PN

AA

AA

LC

AP

NA

Figura 44: Microscopia de luz dos óvulos de L. variegatus. Os óvulos foram corados com lectinas biotiniladas em (A) AAA, em (B) LCA e em (C) PNA.

Page 89: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

73

4.) Caracterização parcial da fucana sulfatada presente nos óvulos do ouriço-do-mar P. gaimardi.

Os ouriços-do-mar P. gaimardi ocorrem como cinco morfotipos, que são

distinguidos pela sua coloração. Nesta Tese os polissacarídeos do EJC de três

morfotipos dessa espécie de ouriço-do-mar foram extraídos e analisados por

cromatografia de troca-iônica (DEAE-celulose), em tampão Ac Na 50 mM, (pH

5,0), eluída com gradiente linear de NaCl (0 2 M). As frações foram coletadas e

monitoradas pela sua metacromasia, presença de Sia e condutividade. A fração

eluída com 0,65 M de NaCl foi denominada como P1, enquanto a fração removida

da coluna com aproximadamente 1,5 M de NaCl foi denominada como P2.

Podemos observar que as duas frações têm propriedade metacromática, mas

apenas P1 é positiva para a reação de Erlich. Portanto, P1 é o SGCS dessa

espécie. Esses resultados foram similares para os três morfotipos analisados

nessa Tese (Figura 45).

As frações obtidas através das cromatografias de troca-iônica foram

dializadas contra água destilada, liofilizadas e submetidas à eletroforese em gel de

agarose, tampão diaminopropano;acetato. Após a coloração com azul de toluidina,

notamos que os polissacarídeos obtidos do EJC dos três morfotipos analisados

contêm dois componentes distintos. O SGCS apresenta uma banda eletroforética

mais delgada enquanto o polissacarídeo sulfatado mostra uma migração

eletroforética mais polidispersa. As mobilidades eletroforéticas das frações P1 e

P2 dos três morfotipos foram semelhantes, sugerindo, preliminarmente, a

existência de polissacarídeos sulfatados semelhantes no EJC dos três morfotipos

de P. gaimardi (Figura 46).

As frações P2 dos três morfotipos foram submetidas à PAGE e coradas com

azul de toluidina. Notamos que os polissacarídeos sulfatados dos três morfotipos

possuem pesos moleculares similares ao da FS presente no EJC do ouriço-do-

mar da espécie L .variegatus, isto é, aproximadamente 290 kDa (Figura 47).

Page 90: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

74

Figura 45: Purificação dos polissacarídeos sulfatados da matriz gelatinosa que recobre o óvulo dos três morfotipos do ouriço-do-mar da espécie P. gaimardi. Os polissacarídeos totais foram aplicados e purificados em DEAE-celulose, como descrito em material e métodos. Propriedade metacromática (■); presença de ácido siálico (○); condutividade (------). Gráfico representativo de três experimentos realizados independentemente.

Page 91: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

75

Figura 46: Eletroforese em gel de agarose dos polissacarídeos sulfatados de morfotipos de P. gaimardi purificados em DEAE-celulose. As frações (~ 10µg de cada) foram aplicadas em gel de agarose 0.5%, submetidas à eletroforese, como descrito em material e métodos, e coradas com azul de toluidina. Gel representativo de três experimentos realizados independentemente.

Figura 47: Eletroforeses das fucanas sulfatadas presentes na matriz gelatinos que recobre o óvuklo dos três morfotipos de ouriço-do-mar da espécie P. gaimardi.Os picos P1 obtidos da DEAE-celulose referentes a cada morfotipo foram aplicados em gel de poliacrilamida 6% em tampão barbital sódico 0,02 M (pH 8,6) e corado com azul de toluidina. Os marcadores de peso molecular foram dextran sulfato de 500 kDa, condrotim 6 sulfato (60 kDa) e condroitim sulfato 4 (40 kDa) e heparina (35 kDa).

As frações P2 obtidas dos três morfotipos de P. gaimardi foram submetidas à

hidrólise ácida e os açúcares liberados identificados por cromatografia em papel,

Page 92: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

76

através da sua coloração com nitrato de prata. Esse experimento revelou Fuc

como o único açúcar presente na fração P2 dos três morfotipos analisados (Figura

48).

Figura 48: Esquema representativo do resultado da cromatografia em papel da fração P2 obtida do EJC de morfotipos de P. gaimardi, correspondente a três experimentos realizados independentemente. Utilizou-se solvente butanol / piridina e corante nitrato de prata.

Com o intuito de determinar a estrutura química das FS, foi utilizado

espectrometria de RMN. Os espectros de 1H-RMN das FS obtidos dos três

morfotipos foram idênticos. Todos apresentaram um único sinal correspondente ao

próton anomérico e ao grupamento metil, ressonando em 5,04 e 1,23 ppm,

respectivamente (Figura 49).

A presença do grupo metil neste polissacarídeo sulfatado corrobora a análise

da composição química, indicando a presença de Fuc. A presença de um único

próton anomérico indica que o polissacarídeo é formado por um único tipo de

unidade de fucopiranose. A Figura 40 mostra a região do espectro do próton

correspondente ao H1 e H4 das FS obtidas dos três morfotipos de P. gaimardi.

Claramente, notamos que esses sinais apresentam deslocamentos químicos

semelhantes nos polissacarídeos obtidos dos três morfotipos, indicando a

similaridade dos compostos.

Page 93: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

77

Figura 49: Espectro de RMN 1H unidimensional a 600 mHz da fucana sulfatada de P. gaimardi (A) e expansão das regiões 5.2 – 4.4 ppm dos espectros H1 unidimensionais das fucanas sulfatadas dos morfotipos amarronzado, esverdeado e rosado (B - D). H1 indica o deslocamento químico do próton ligado ao carbono 1; Fuc-CH3 = fucose

Adicionalmente, foram realizados espectros bidimensionais 1H/1H COSY e

1H/13C HMQC para elucidar a posição da ligação glicosídica e o sítio de sulfatação

dessas FS. A ocorrência de 4-sulfatação foi determinada pelo intenso

deslocamento de H4 para campo baixo (~ 0.7 - 0.8 ppm) quando comparado com

sinais de prótons não sulfatados (Figura 50). Esses dados foram comparados com

deslocamentos químicos de prótons para resíduos de α-L-fucose de FS de outras

espécies de ouriços-do-mar e indicam claramente a presença de éster sulfato na

posição O-4 (Tabela 7).

A posição da ligação glicosídica foi esclarecida pela análise dos

deslocamentos químicos dos 13C. O espectro 1H/13C HMQC apresentou seis sinais

principais e foi interpretado utilizando-se informações obtidas no espectro COSY e

por comparação com os valores de deslocamento químico de outras FS de

ouriços-do-mar, analisados anteriormente (Tabela 8). O intenso deslocamento

químico de C3 para campo baixo é indicativo da ocorrência de ligações 1→3

Page 94: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

78

(Figura 51). O único aspecto ainda não esclarecido sobre a FS de P. gaimardi é a

presença de dois sinais no C1, como revela o espectro de 1H/13C HMQC (Figura

51).

Figura 50: Expansão do espectro de COSY da fucana sulfatada do EJC de P. gaimardi.

Figura 51: Espectro 1H/

13C HMQC da fucana sulfatada do EJC de P. gaimardi. O

assinalamento foi baseado no COSY.

Page 95: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

79

Nossos resultados indicam que as FSs obtidas dos três morfotipos de

ouriços-do-mar P. gaimardi contém o mesmo polissacarídeo sulfatado, com a

seguinte unidade repetitiva: [1→3-α-L-fucp-4(SO3)]n (Figura 52).

Figura 52 – Proposta da estrutura majoritária encontrada na fucana sulfatada isolada do EJC dos três morfotipos de P. gaimardi analisados. A fucana sulfatada é um polímero linear 1→3 ligado, sulfatado na posição 4.

Page 96: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

80

Tabela 7 - Deslocamento químico de prótons para resíduos de α-L-fucose da α-L-fucana sulfatada do EJC de P. gaimardi e compostos padrões. Os espectros unidimensionais foram feitos a 600 MHz, 50°C em 99.9% de D2O. Os deslocamentos químicos têm como o ácido trimetilsilpropiônico. Valores em negrito indicam a posição do sulfato.

Espécie de ouriço-do-mar Tipo de resíduo Deslocamento químico (ppm)

H1 H2 H3 H4 H5 H6

P. gamardi (este trabalho) -3-α-L-Fucp-(4SO3

-

)-1- 5.04 3.82 4.02 4.74 (4.66)

4.40 1.23

S. purpuratus -3-α-L-Fucp-(4SO

3

-

)-1- 5.14 3.90 4.07 4.76 4.55 1.32

L. variegatus (sazonal) -3-α-L-Fucp-(4SO3

-

)-1- 5.10 3.86 4.02 4.72 4.45 1.25

L. variegatus (constitutivo)

-3-α-L-Fucp-(4SO3

-

)-1- 5.08 3.87 3.98 4.78 4.45 1.27

-3-α-L-Fucp-(2SO3

-

)-1- 5.40 4.51 4.25 4.05 4.31 1.23

-3-α-L-Fucp-(di2,4SO3

-

)-1- 5.38 4.54 4.22 4.77 4.51 1.25

A. lixula -4-α-L-Fucp-(2SO

3

-

)-1- 5.25 4.51 4.16 4.01 4.56 1.38

Page 97: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

81

Tabela 8 - Deslocamento químico de carbono dos resíduos de α-L-fucose da α-L-fucana sulfatada do EJC de P.gaimardi e compostos padrões. Os valores de deslocamento químico de

13C foram obtidos por espectros

bidimensionais tendo como referência o ácido trimetilsilpropiônico. Valores em negrito indicam a posição envolvida na ligação glicosídica.

Espécie de ouriço-do-mar Tipo de resíduo Deslocamento químico (ppm)

C1 C2 C3 C4 C5 C6

P. gamardi (este trabalho) -3-α-L-Fucp-(4SO3

-

)-1- 98.4 95.6

67.2 76.6 79.4 66.7 15.7

L. variegatus

(sazonal) -3-α-L-Fucp-(4SO3

-

)-1- 98.5 68.8 76.6 79.9 67.0 15.8

S. franciscanus -3-α-L-Fucp-(2SO

3

-

)-1- 96.77 75.52 75.94 74.16 69.00 18.00

S. pallidus -3-α-L-Fucp-(4SO

3

-

)-1- 97.20 70.05 78.55 81.80 69.13 15.00

S. droebachiensis -4-α-L-Fucp-(2SO

3

-

)-1- 101.97 77.90 70.97 83.40 69.96 13.00

Page 98: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

82

5.) Evidência da presença de proteoheteropolissacarídeos no plasma

seminal de ouriço-do-mar da espécie L. variegatus:

Após a obtenção dos gametas masculinos, a partir da injeção de KCl

na cavidade intracelômica, estes foram mantidos a 4 C. Os gametas foram

centrifugados e o sobrenadante foi dializado e liofilizado. Uma pequena

quantidade do extrato bruto foi tratada com enzima proteolítica e outra parte

foi estocada intacta a - 20 C. Essas frações foram submetidas à eletroforese

em gel de agarose em tampão propilenodiamino / acetato para avaliar a

presença de polissacarídeos sulfatados no liquido seminal. Após a coloração

do gel com azul de toluidina, pode-se visualizar diferença na migração entre

o material antes e depois do tratamento com papaína.

O retardo da migração eletroforética dos polissacarídeos sulfatados

antes do tratamento com protease, indica a possível ligação covalente

destes compostos com proteínas (Figura 53).

Origem

++

Ext. bruto

Pd. GAG

Ext. bruto

tratamento com papaína

- +-

O resultado anterior (Figura 53) sugere a presença de estruturas

compostas por polissacarídeos sulfatados ligados covalentemente a uma

cadeia protéica. Com o objetivo de elucidar essa questão a amostra intacta foi

aplicada em coluna de troca – iônica, Mono-Q, acoplada a sistema de FPLC. O

Figura 53: Eletroforese em gel de agarose do extrato bruto do plasma seminal L. variegatus intacto e tratado com enzima proteolítica: As frações obtidas foram aplicadas em gel de agarose 0.5% e coradas com azul de toluidina, assim como descrito em Material e Método. Legenda CS (condroitim sulfato), DS (dermatam sulfato) e HS (heparam sulfato).

CS

─ DS

─ HS

Page 99: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

83

tampão utilizado foi acetato de sódio 100 mM, 5 mM EDTA (pH 6,0) e a coluna

eluida com gradiente linear de NaCl (0 2 M) representado no gráfico em

linha pontilhada. As frações obtidas foram monitoradas quanto a sua

metacromasia, representada por quadrados abertos e a absorção a 280 nm por

quadrados negros.

Dentre todas as frações obtidas durante o monitoramento da coluna em

apenas duas houve coincidência entre a propriedade metacromática e

absorção a 280 nm. A terceira fração, a qual apresentou apenas metacromasia

também foi recolhida. Estas três frações eluiram, respectivamente, nas

seguintes molaridades de NaCl: 1,0 , 1,6 e 2,0 (Figura 54).

As três frações obtidas na cromatografia de troca iônica foram dializadas a

4 C, liofilizadas e submetidas à eletroforese em gel de agarose em tampão

propilenodiamino / acetato.

Os resultados obtidos a partir do gel sugerem que as três frações contêm

polissacarídeos purificados (Figura 54 e 55).

Para avaliarmos o peso molecular das frações intactas e tratadas com

papaína, utilizamos a eletroforese em gel de poliacrilamida em tampão barbital

sódico. Como padrão utilizamos dextram sulfato 500 e 8 kDa, fucana sulfatada

encontrada na matriz que recobre o óvulo da espécie Lytechinus variegatus

(290 kDa), condroitim 6 sulfato (60 kDa) e condroitim 4 sulfato (40 kDa).

propriedade metacromática

ABS 280 nm

condutividade0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

frações

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

[Na

Cl] (M

)AB

S (

nm

)

P1

P2

P3

propriedade metacromática

ABS 280 nm

condutividade

propriedade metacromáticapropriedade metacromática

ABS 280 nmABS 280 nm

condutividadecondutividade0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

frações

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

[Na

Cl] (M

)AB

S (

nm

)

P1

P2

P3

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

frações

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

[Na

Cl] (M

)AB

S (

nm

)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

frações

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

[Na

Cl] (M

)AB

S (

nm

)

P1

P2

P3

Page 100: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

84

Fuc-S de L.v.

P1 P2 P3Pd. GAG

Origem

+

Fuc-S de L.v.

P1 P2 P3Pd. GAG

Origem

+

Origem

+

Figura 55: Eletroforese em gel de agarose do extrato bruto do plasma seminal L. variegatus intacto: As frações obtidas foram aplicadas em gel de agarose 0.5% e coradas com azul de toluidina, assim como descrito em material e métodos.

Figura 54: Purificação dos proteoheteropolissacarídeos sulfatados do plasma seminal de L. variegatus. O extrato bruto intacto foi aplicado em cromatografia Mono Q – FPLC como descrito em Material e Método. Os quadrados brancos, a linha pontilhada e os círculo fechados indicam respectivamente a propriedade metacromática, o gradiente linear de NaCl e a absorção a 280 nm.

Page 101: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

85

Fuc-S de L.v.

C 6-S

Dex-S 500 KDa

C 4-S

P1 P2 P3

Origem

+

Fuc-S de L.v.

C 6-S

Dex-S 500 KDa

C 4-S

P1 P2 P3

Origem

+

Origem

+

Dex-S 500 KDa

C 6-S

C 4-S

P1 P2 P3Dex-S 8 KDa

Origem

+

Dex-S 500 KDa

C 6-S

C 4-S

P1 P2 P3Dex-S 8 KDa

Origem

+

C 6-S

C 4-S

P1 P2 P3Dex-S 8 KDa

Origem

+

Origem

+

Fuc-S de L.v.

C 6-S

Dex-S 500 KDa

C 4-S

P1 P2 P3

Origem

+

Fuc-S de L.v.

C 6-S

Dex-S 500 KDa

C 4-S

P1 P2 P3

Origem

+

Origem

+

Dex-S 500 KDa

C 6-S

C 4-S

P1 P2 P3Dex-S 8 KDa

Origem

+

Dex-S 500 KDa

C 6-S

C 4-S

P1 P2 P3Dex-S 8 KDa

Origem

+

C 6-S

C 4-S

P1 P2 P3Dex-S 8 KDa

Origem

+

Origem

+

Figura xx: Eletroforese em gel de

poliacrilamida 6% em tampão

barbital:

As amostras P1, P2 e P3 intactas

(em cima) e tratadas com

papaína (embaixo) foram

submetidas a PAGE e coraddas

com azul de toluidina.

Figura 56: PAGE 6% em tampão barbital sódico. As amostras P1, P2 e P3 antes (A) e após o tratamento com enzima proteolítica (B) foram submetidas a PAGE e coradas com azul de toluidina, como descrito em Material e Método. Em (A) os padrões de peso moleulares utilizados foram dextram sulfato 500 kDa, fucana sulfatada de L. variegatus, condroitim 6 e 4 sulfatos e em (B) foram dextram sulfato 500 e 8 kDa, condroitim 6 e 4 sulfatos

A)

B)

Page 102: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

86

O resultado sugere que as três amostras intactas apresentam pesos

moleculares muito próximos da fucana sulfatada encontrada na matriz que

recobre o óvulo da espécie Lytechinus variegatus, isto é 290 kDa (Figura 56A)

enquanto as três amostras tratadas com enzima proteolítica apresentam pesos

moleculares similares ao dextran 8 kDa (figura 56B).

Este resultado nos fez supor duas hipóteses: ou a cadeia protéica desta

molécula é muito grande e contém poucas cadeias glicídicas ou a cadeia

protéica é pequena, mas contém muitas cadeias de polissacarídeos.

A fim de avaliarmos quais cadeias glicídicas estavam ligadas

covalentemente ao core protéico, tratamos as amostras com papaína e após o

termino de sua ação proteolítica utilizamos duas enzimas, a condroitinase AC

que cliva especificamente condroitim sulfato e condroitinase ABC que cliva

tanto condroitim sulfato quanto dermatam sulfato. Ainda utilizamos ácido

nitroso que cliva polissacarídeos contendo unidades de glicosamina com o

aminogrupo livre ou N-sulfatado, como ocorre nos heparinóides (heparam

sulfato e heparina).

Curiosamente, P1 não foi sensível a nenhum dos tratamentos citados

acima, enquanto, P2 e P3 foram exclusivamente sensíveis à quebra

deaminativa com o ácido nitroso (Figura 57).

Este resultado sugere que P1 não é um proteoglicano, mas P2 e P3

apresentam na sua estrutura cadeias glicídicas contendo N-sulfatação ou

grupamento N-livre, a semelhante do heparam sulfato.

Page 103: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

87

Origem

+

P1 + papaína

Origem

+

Origem

+

P1 + papaína

Origem

+

Origem

+

P2 + papaína

Origem

+

Origem

+

P3 + papaína

Pd. GAG

CTR (-)

CHASE AC

CHASE ABC

HONO

Figura 57: Eletroforese em gel de agarose dos proteoheteropolissacarídeos sulfatados do plasma seminal de L. variegatus, tratados previamente com papaína P1 (A), P2 (B) e P3 (C) e posteriormente com condroitinase AC (CHASE AC), condroitinase ABC (CHASE ABC) e ácido nitroso (HONO). O padrão de glicosaminoglicanos é composto por condroitim 4-sulfato, dermatam sulfato e heparam sulfato.

A)

B)

C)

Page 104: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

88

Para avaliarmos as unidades monosacarídicas que compõem estes

glicoconjugados, submetemos as três frações a hidrólise ácida e análise por a

cromatografia em papel em solvente ácido isobutírico:amônia dos açúcares

liberados. Os três picos apresentaram três monossacarídeos: galactose,

manose e glicosamina (dado não mostrado).

O solvente utilizado não é capaz de resolver glicose e galactose. Com a

finalidade de esclarecer a presença destes dois açúcares, os hidrolisados das

três frações foram submetidos à cromatografia em papel em solvente butanol :

piridina : água, capaz de resolver estes dois monossacarídeos. Neste

experimento, todas as três frações apresentaram três açúcares constituintes, a

galactose, manose e glicosamina em concentrações aproximadamente

equimolares, não revelando a presença de glicose.

Page 105: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

89

5. DISCUSSÃO :

1.) Expressão sazonal da fucana sulfatada em L. variegatus:

A caracterização de um polissacarídeo sulfatado presente na matriz

gelatinosa que recobre o óvulo de ouriço-do-mar da espécie L. variegatus

apenas durante inverno pode ser um importante passo para a melhor

compreensão da reprodução desses animais, já que carboidratos sulfatados

estão diretamente relacionados com o processo de fertilização destes

invertebrados, induzindo a reação acrossômica.

Até o momento não há relatos sobre o período reprodutivo de espécies de

ouriço-do-mar do litoral brasileiro nem mesmo de clima tropical. Estes dados

são mais conhecidos para espécies que ocorrem no litoral europeu e

australiano. A espécie Paracentrotus lividus (Echinodermata: Echinoidea) que

habitam o litoral noroeste da Espanha, Galícia, apresenta período de

reprodução de maio a agosto (verão no hemisfério norte). Interessantemente,

durante esses meses ocorre aumento da concentração de proteína – de 36%

para 60% do peso seco da gônada - e este elevado nível protéico coincide com

níveis mínimos de glicogênio (Montero-Torreiro & Garcia-Martinez, 2003). Em

outra espécie de ouriço-do-mar, Holopneustes purpurascens (Temnopleuridae :

Echinodermata), coletado em Sidnei, Austrália, também o período de

reprodução foi descrito ocorrer do final da primavera até o verão (Williamson &

Steinberg, 2002). Em outros estudos que monitoravam o ciclo reprodutivo do

ouriço-do-mar da espécie Strongylocentrotus droebachiensis, foi verificado que

a desova ocorria majoritariamente durante a primavera e uma pequena

população liberava seus óvulos durante o inverno (Meidel e Scheibling, 1998).

Todos esses dados sugerem fortemente que o período de reprodução desses

animais ocorre na primavera e principalmente no verão.

Além disso, procurando informações sobre temperatura, salinidade,

disponibilidade de comida e luminosidade nas quatro estações do ano no Rio

de Janeiro, descobriu-se que nos meses de junho e julho há uma queda brusca

da temperatura da água do mar e das chuvas no litoral norte do estado do Rio

de Janeiro, entretanto sem uma alteração que acompanhe modificações na

salinidade das águas. Em maio e agosto a média de temperatura da água do

Page 106: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

90

mar é de 25 C, enquanto que em junho e julho cai para 20 C e as chuvas

chegam próximo de zero nestes dois meses (Godoy et al., 2002).

A partir dessas observações e dos nossos achados, sugerimos que este

novo polissacarídeo encontrado no gel do óvulo do ouriço-do-mar, sintetizado

no final de maio até meados do inverno, possa inibir o processo de reação

acrossômica de uma pequena população de ouriços-do-mar que por ventura

tenha liberado os gametas nesse período e desta forma ter um papel

modulador na sua reprodução, servindo como mais uma barreira a favor de

processos de fertilização fora da estação propícia. A sulfatação na posição 2 é

requisito importante para que ocorra reação acrossômica nesta espécie (Vilela-

Silva et al., 1999). Para testar tal hipótese pretendemos avaliar a potência de

indução da reação acrossômica com as duas fucanas sulfatadas juntas e

separadas em espermatozóides coletados no verão e no inverno.

Não foram feitas coletas sempre no mesmo dia de cada mês, já que

impossibilidades como chuva, falta de transporte, entre outros contra tempos

impossibilitou uma coleta sempre no mesmo dia de cada mês.

Outro objetivo futuro do nosso trabalho é coletarmos fêmeas de ouriços-

do-mar, mantê-los em aquários, modificar artificialmente a temperatura da água

e avaliar o tipo de polissacarídeos sulfatados encontrados na sua matriz que

recobre o óvulo. Desta maneira, poderemos determinar se a temperatura da

água influência na expressão das fucanas sulfatadas encontradas no gel do

óvulo desta espécie. Além disso, pretendemos verificar o sinergismo entre

temperatura da água e luminosidade, pois dias longos (período de iluminação)

reduzem a taxa de gametogêneses ao passo que dias curtos induzem o

aumento do desenvolvimento gonadal (Shpigel et al., 2004). Em algas

marinhas já foi relatado que em diferentes meses a mesma espécie sintetiza

tipos distintos de carboidratos sulfatados (Percival e McDowell, 1967) e ainda

que a salinidade possa influenciar no processo de sulfatação de vários

glicídeos (Aquino et al., dado não publicado).

Além disso, pretendemos saber se essa fucana recém descoberta é

sintetizada por todas as fêmeas ou somente por algumas durante o inverno e

outono. Nossos dados não permitem essa conclusão, porque utilizamos um

“pool” de matrizes que recobriam os óvulos. Nos próximos experimentos

pretendemos extrair os polissacarídeos sulfatados de cada fêmea

Page 107: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

91

separadamente durante todos os meses do ano. A expressão diferenciada de

polissacarídeos sulfatados ocorre em ouriços-do-mar do gênero

Strongylocentrotus que habitam o oceano Pacífico (Vilela-Silva et al., 2002).

Também pretendemos fazer um “screening” coletando ouriços-do-mar de

outras espécies mês a mês encontrados no Rio de Janeiro, a fim de

verificarmos se existe expressão diferenciada de polissacarídeos sulfatados de

acordo com a estação do ano.

Até o momento não foi descrito nenhum homopolissacarídeo sulfatado

com estrutura semelhante à fração P3 em ouriço-do-mar, embora haja

polímeros, como da própria fração P2 de L. variegatus que contem esse tipo de

resíduo (Alves et al., 1997). Polissacarídeos sulfatos são reconhecidamente

uma classe de macromoléculas que pode apresentar promissora atividades

anticoagulante e antitrombótica (Mourão e Pereira, 1999). Por está razão,

pretendemos avaliar se estas duas atividades estão preexistentes neste

composto comparando-se com a heparina e com outras fucanas e galactanas

sulfatadas já conhecida (Pereira et al., 2002).

Existem alguns requisitos já conhecidos que favorecem a atividade

anticoagulante como: grau de sulfatação, posição de sulfatação, tamanho do

polímero entre outros (Pavão et al.,1998; Vicente et al., 2001). Utilizando um

novo polissacarídeo sulfatado pode-se obter mais informações sobre esse

importante evento fisiológico.

Page 108: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

92

2.) Proteofucana sulfatada em ouriços-do-mar:

A presença de PG e GAG na MEC é amplamente estudada (Tatari, 2007 ;

Whitelock et la., 2008 ; Kwok et al., 2008 ; Seider e Dreier, 2008 ; Khan et al.,

2008). Entretanto, os estudos no EJC de ouriços-do-mar se limitam a descrever

a estrutura da cadeia polissacarídica de FS e galactanas sulfatadas, mas sem

informações sobre uma possível ligação a cadeia protéica (Vilela-Silva et al.,

2008).

A similaridade estrutural e funcional entre os GAG e as FS indica que os

polissacarídeos do EJC de ouriços-do-mar também devem estar ligados

covalentemente a cadeia protéica, à semelhança dos PG. Nessa Tese a FS

ligada a cadeia polipeptídica foi denominada como pFS.

A extração da FS do EJC dos ouriços-do-mar requer a digestão com

protease, indicando que esse polissacarídeo ocorra no tecido covalentemente

ligada à proteína. Entretanto, ainda não tínhamos evidências diretas da

ocorrência deste polissacarídeo na forma de pFS.

Dentre os métodos testados para a solubilização do EJC, optamos pelo

uso do tampão HEPES (pH 8.0), contendo uréia 6 M, que mostrou os melhores

resultados. Classicamente os PG de vertebrados são extraídos dos tecidos

com guanidina 4 M e/ou uréia 6 M, mas esse protocolo não foi apropriado para

solubilizar o EJC. Tentativas de utilizar detergentes (TX-100 ou NP-40) e alta

concentração de NaCl não se revelaram adequada. O tampão HEPES

contendo 20 mM de EDTA, que usamos para dissociar o EJC do óvulo,

também não mostrou bons resultados.

Nossos resultados sugerem que o EJC de L. variegatus contém uma pFS

de alto peso molecular (Figura 18). O estudo dessa pFS apresenta uma

complexidade adicional para sua investigação em comparação com os PG de

vertebrados. As cadeias de GAG possuem massa molecular de ~10 – 60 kDa,

enquanto os PG possuem massa molecular elevada (> 100 kDa). Desta forma,

é fácil distinguir experimentalmente a molécula de PG intacta da cadeia de

GAG liberada após tratamento proteolítico ou pelo rompimento da ligação

açúcar-aminoácido. Em contraste, a cadeia de FS é muito longa (> 100 kDa)

tornando experimentalmente difícil a separação entre o polissacarídeo livre e

aquele covalentemente ligado ao peptídeo. Os géis para cromatografia de

Page 109: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

93

filtração não são apropriados para distinguir carboidratos com peso molecular

tão elevado, como a FS e pFS.

Curiosamente, a pFS não foi corada no SDS-PAGE com o azul de

comassie, mas é detectável com o azul de toluidina. Esse dado pode ser

explicado pelo fato da pFS conter uma quantidade muito elevada de

carboidratos em comparação a porção protéica, impedindo o acesso do azul de

comassie. Os PG de vertebrados que possuem relação GAG/proteína elevada,

como o agrecam, apresentam o mesmo problema.

Especulamos que somente uma parcela da FS exista sob a forma de pFS

no EJC. Possivelmente, a FS ocorre no EJC de ouriços-do-mar como uma

mistura de moléculas, contendo diferentes proporções de carboidrato e

proteína. Essa proposta explica os resultados do experimento da Figura 16,

mostrando que duas frações de pFS são obtidas quando o EJC é solubilizado

com HEPES + uréia 6 M e aplicado na coluna de troca-iônica. Quando a FS é

extraída do EJC com tratamento proteolítico e aplicada na mesma coluna,

observamos uma única fração de FS.

Ainda não conhecemos o significado biológico da ocorrência de duas

frações de pFS quando o EJC é solubilizado com o tampão HEPES + uréia 6

M. Uma possível explicação seria que a FS enquanto está retida em grânulos

intracitoplasmáticos do óvulo possui seu “core” protéico intacto. À medida que é

secretada para a face externa do óvulo formar o EJC, sua porção protéica é

removida. Um mecanismo similar ocorre durante a degranulação de mastócitos

em resposta à inflamação. Dentro dos grânulos secretórios há uma série de

proteases (exopeptidases, carboxipeptidases, triptase, catepiscina G, granzima

B) ligadas ionicamente a heparina, que se apresenta sob a forma PG de

serglicina, em pH ácido. Todavia, a ligação dessas proteínas à heparina as

mantém inativas (Matsumoto et al., 1995 ; Henningsson et al., 2005 ; Stevens e

Adachi, 2007). Quando os mastócitos entram em contato com o sistema

complemento (frações C3a e C5a), citocinas, histamina, entre outros fatores –

ou in vitro com compostos como 48/80, ionóforos do cálcio (Criado et al., 2005),

ocorre a degranulação dos componentes presentes nos grânulos secretórios. O

conteúdo granular em pH neutro ou básico dissocia-se do complexo protease-

PG e conseqüentemente há a clivagem do “core” protéico da serglicina. Em

Page 110: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

94

conseqüência, a heparina é liberada para o meio extracelular (Kolset e Tveit,

2008 ; Stevens e Adachi, 2007).

Vieira e colaboradores (1993) estudaram detalhadamente o “core”

proteíco do CS fucosilado. Esse composto é classificado como um

proteoheteropolissacarídeo sulfatado. Esta Tese mostrou pela primeira vez a

caracterização parcial de um proteohomopolissacarídeo sulfatado.

3.) Caracterização do sialoglicoconjugado do EJC de ouriço-do-mar:

O foco do trabalho do nosso laboratório é o estudo da estrutura de FS e

galactanas sulfatadas de ouriços-do-mar e seus efeitos na fertilização desse

invertebrado. O SGCS ainda não foi estudado em detalhe pelo nosso grupo.

Esse composto contém Sia, mas sua identidade ainda era desconhecida.

Também possui baixo PM, quando comparado com os demais polissacarídeos

sulfatados encontrados no EJC dos ouriços-do-mar (Figura 22). Existem alguns

trabalhos sobre a caracterização e função de SGCS presente no EJC de outras

espécies de ouriços-do-mar (Kitazume et al., 1994 e 1997 ; Hirohashi e

Vacquier, 2002 ; Maehashi et al., 2003).

Nessa Tese mostramos que o SGCS da espécie L. variegatus contém

Neu5Gc, fucose, manose, glucose e galactose, sendo os quatro últimos em

proporção aproximada de equivalente a 0,3 : 0,55 : 0,5 : 0,3. No SGCS da

espécie S. purpuratus também é relatada a presença de Neu5Gc > Fuc >

Man/Xyl > GlcNAc > GalNAc > Gal. Aparentemente o SGCS presente no EJC

de L. variegatus possui uma mistura de monossacarídeos menos complexa do

que aquela encontrada na espécie S. purpuratus (Hirohashi e Vacquier, 2002).

Existem muitos relatos sobre glicoconjugados contendo Neu5Gc com

modificações, tais como acetilação ou metilação em determinadas posições. O

SGCS presente no EJC de L. variegatus apresenta estrutura mais simples, sem

qualquer substituição e polimerização. A metodologia utilizada para sua

identificação é bem conhecida e os demais trabalhos utilizaram metodologias

semelhantes.

Os SGCS e a FS distribuem-se de forma homogênea no EJC como

indicado por análises morfológicas. É relatado que durante o processo de

fertilização em ouriços-do-mar cerca de 1 trilhão de espermatozóides e 3 - 6

bilhões de óvulos sejam liberados por cada indivíduo (Barnes e Rupperts,

Page 111: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

95

1996). Isso dá uma relação de 1 óvulo para ~25.000 espermatozóides. Devido

à grande espessura do EJC é improvável que os primeiros espermatozóides

que alcancem o EJC, e conseqüentemente tenha a RA induzida, consigam

ligar-se e fusionar-se com o óvulo, porque suas enzimas acrossomais

provavelmente não são capazes de clivar toda a extensão do EJC até a

membrana plasmática do óvulo. Sendo assim, a clivagem inicial deve ser feita

pelos primeiros espermatozóides e a clivagem final do EJC, concluída pelo

espermatozóide “fecundador”.

A indução da RA e potencialização nos espermatozóides que se

aproximam precocemente ou tardiamente do óvulo devem ser semelhante

porque o SGCS e a FS estão homogeneamente dispersos no EJC (Hirohashi e

Vacquier, 2002). Portanto, os espermatozóides com aproximação precoce ou

tardia têm chances iguais de clivar o EJC e fecundar o óvulo. Caso a

distribuição não fosse homogênea, dificilmente a RA seria induzida nos

espermatozóides lentos, reduzindo a possibilidade de fecundação.

4.) Fucana sulfatada em morfotipos do ouriços-do-mar P. gaimardi

As estruturas das FS e galactanas sulfatadas de invertebrados marinhos

são tão fascinantes quanto suas atividades biológicas, principalmente pela

indução espécie-específica da RA durante o processo de fertilização em

ouriços-do-mar. Por essas razões, tentamos estender as informações sobre a

estrutura desses compostos.

A fertilização é o resultado de uma série de interações entre moléculas

localizadas nas superfícies do óvulo e do espermatozóide (Lennarz et al.,

1993). Em organismos que liberam seus gametas para o ambiente externo,

como os ouriços-do-mar, o sucesso da fertilização depende da perfeita

sincronização de etapas que visam evitar a hibridização. O primeiro nível de

reconhecimento é um evento chamado de RA, que depende da interação entre

polissacarídeo sulfatado e suREJ específicos, seguido da ligação e fusão dos

gametas, que depende da interação da proteína bindina e seu receptor

específicos (Vilela-Silva et al., 2008).

Utilizando técnicas de RMN, pode-se concluir que a FS presente no EJC

de três morfotipos da espécie P. gaimardi é composta exclusivamente de

resíduos de α-L-Fuc, unidos por ligação 13 e sulfatados na posição 4.

Page 112: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

96

Entretanto, não conseguimos explicar o sinal adicional de carbono anomérico

visualizado no HMQC (Figura 36). Pode-se observar que a FS caracterizada

nesse trabalho possui exatamente a mesma estrutura da FS presente na EJC

da espécie L. variegatus, coletados entre junho e agosto. Nos demais meses

do ano, esse ouriço-do-mar possui um polissacarídeo constitutivo com a

seguinte unidade repetitiva: [3-α-L-Fucp-2(OSO3)-13-α-L-Fucp-4(OSO3)-

13-α-L-Fucp-2,4(OSO3)-13-α-L-Fucp-2(OSO3)-1]n.

A expressão de uma estrutura diferenciada no EJC de L. variegatus, em

meses específicos, pode estar relacionada a períodos do ciclo reprodutivo

dessa espécie, podendo ser influenciada por fatores ambientais.

Em contraste com isotipos de FS encontradas em outras espécies de

ouriço-do-mar, o polissacarídeo que ocorre exclusivamente nos meses de julho

a agosto não é capaz de induzir RA em espermatozóides de L. variegatus

(Cinelli et al., 2007). Mas possivelmente deve ser capaz de induzir a RA em

espermatozóides de P. gaimardi, se ocorresse encontro dos gametas

heterólogos. (Tabela 9). O encontro entre os gametas destas duas espécies

pode ocorre, pois eles co-habitam o mesmo nicho biológico, embora tenham

sido coletados em locais distintos.

Mesmo que ocorra o processo de indução da RA, o mecanismo de

reconhecimento dependente da bindina pode bloquear o processo de

fertilização, se suas bindinas e os respectivos receptores não forem capazes

de se ligar de maneira heteroespecíficas.

O período de reprodução desta classe de animais é normalmente o verão

(Montealegre e Gaspar, 2005). Os dados de época de reprodução da espécie

P. gaimardi não é conhecida. Apenas a espécie P. liviuds é amplamente

estudada no Mediterrâneo e no norte dos EUA (Barbaglio et al., 2007).

Page 113: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

97

Tabela 9 - Possível resultado de ensaio de fertilização in vitro entre os gametas de L. variegatus e P. gaimardi para avaliação da ocorrência de reação acrossômica entre essas duas espécies de ouriço-do-mar.

Indução da reação acrossômicaSptz

FS

Espécie de

ouriço-do-mar

L. varie

gatus

P. gaim

ardi

L. variegatus P. gaimardi

SIM NÃO

SIMNÃO

NÃO SIM

Indução da reação acrossômicaSptz

FS

Espécie de

ouriço-do-mar

L. varie

gatus

P. gaim

ardi

L. variegatus P. gaimardi

SIM NÃO

SIMNÃO

NÃO SIM

5.) Proteoheteropolissacarídeos sulfatados no plasma seminal:

Nós relatamos pela primeira vez a ocorrência de polissacarídeos

sulfatados complexos presents no plasma seminal de ouriço-do-mar. Esses

polissacarídeos sulfatados apresentam uma estrutura única. Primeiro, ele

contém uma cadeia curta de carboidrato (~ 8 kDa) quando comparado com

cadeias de glicosaminoglicanos de vertebrados e outros polissacarídeos

sulfatados de invetebrados marinhos (Mulloy, 2005; Pomin and Mourão, 2008),

mas um alto peso molecular é conferido devido a ligação da sua cadeia

glicídica a proteína. Segundo, eles apresentam composição de

monossacarídeos complexa, contend galactose, glucosamine e manose, o que

também difere dos glicosaminoglicanos e outros polissacarídeos sulfatdos

previamente reportados (Vilela-Silva et al., 2008). Finalmente, eles ocorrem

como três frações, as quais separam em cromatografia de troca iônica e

diferem na relação do conteúdo polissacarídeo sulfatado/proteína.

A ocorrência de polissacarídeos sulfatdos no plasma seminal de ouriços-

do-mar levanta questões interessantes sobre o papel fisiológico desses

carboidratos. A ligação entre gametas é um passo critic durante o processo de

Page 114: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

98

fertilização (Vjugina and Evans, 2008). No caso de ouriços-do-mar, o

espermatozóide e o óvulo estão envolvidos por polissacarídeos sulfatados – a

fucana sulfatada da matriz gelatinosa que recobre o óvulo e polissacarídeos

sulfatdos complexos do plasma seminal. A concentração de polissacarídeos

sulfatados é ~ 25 vezes maior na matriz que recobre o óvulo do que no plasma

seminal. O papel fisiológico da fucana sulfatada está bem estabelecido como

indutor espécie-especifico da reação acrossômica (Alves et al., 1997; Vilela-

Silva et al., 2008).

Nós especulamos sobre o possível papel fisiológico desses

polissacarídeos sulfatdos complexos presentes no plasma seminal desse

invertebrado, mas não possumos nenhuma evidência nesse estudo. Nós

traçamos algumas analogias com glicoproteínas encontradas no plasma

seminal humano. Uma glicoproteína com composição monossacarídica similar

vêem sendo sugerida em aumentar a viabilidade e/ou motilidade do

espermatozóide ou mesmo retardar a fertilização devido a inibição da reação

acrossômica (Drisdel et al., 1995; Chiu et al., 2005; Seppälä et al., 2007). Outra

glicoproteína do plasma seminal altamente glicosilada possivelmente contribui

para a diminuição da imunogenicidade do espermatozóide (Morris et al., 1996).

Entretanto, estas glicoproteínas não possuem grupamentos sulfato na sua

estrutura.

Perspectivas:

1.) Proteofucana sulfatada:

Os dados dessa Tese mostram uma caracterização ainda parcial da pFS.

Naturalmente ainda restam muitos aspectos importantes a serem esclarecidos,

como a caracterização do tipo de ligação glicosídica entre carboidrato-proteína,

a identificação do “core” protéico, incluindo a análise por homologia estrutural

com outras cadeias polipeptídicas de PG de vertebrados, etc.

A ligação da FS à cadeia protéica não é essencial para seu efeito

biológico como indutor da RA em espermatozóides de ouriços-do-mar. Esses

resultados baseiam-se nos testes biológicos utilizando FS exaustivamente

tratadas com proteases. Entretanto, sabemos que o mesmo o tratamento

proteolítico exaustivo não assegura a retirada completa dos peptídeos ligados

Page 115: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

99

ao carboidrato. Ao contrário, a porção de carboidratos tem um efeito

bloqueador da digestão da cadeia protéica.

Um experimento que poderia ser feito é induzir a RA em espermatozóides

de ouriço-do-mar utilizando a FS obtida por extração proteolítica e as duas

frações de pFS extraídas com tampão HEPES + uréia 6 M. Existem relatos

mais antigos que mostram que a porção protéica poderia ter um papel

importante na indução da RA na espécie H. pulcherrimus (Mikami-Takei et al.,

1991).

Mais significativo é o aspecto funcional que poder ser explicado pela

ocorrência da pFS. Por exemplo, a secreção de moléculas para o meio externo

pode envolver a remoção preliminar do seu “core” protéico. Esse tipo de

abordagem permitiria conhecer o mecanismo de secreção de polissacarídeos

sulfatados que formam o EJC dos ouriço-do-mar.

Estudos sobre secreção de carboidratos para a formação de cápsula de

fungos já possuem alguns mecanismos conhecidos e testados (Rodrigues et

al., 2007 e 2008). Porém, especialmente no caso dos ouriços-do-mar, a

secreção de polissacarídeos sulfatados ainda não foi estudada. A FS poderia

ser armazenada na forma de PG e secretada somente durante a clivagem no

seu “core” protéico, a semelhança ao processo de degranulação de mastócitos.

2.) Sialoglicoconjugado

A única função biológica atribuída ao SGCS no EJC de ouriços-do-mar é a

potencialização da indução da RA pela FS (Hirohashi e Vacquier, 2002).

O principal desafio na estrutura desse SGCS é a elucidação da sua

estrutura química. Os espectros de RMN mostraram grande complexidade,

difícil interpretação. Informações adicionais podem ser obtidas fazendo

derivatizações no composto e análise em GC-MS.

Existe uma variedade de eventos biológicos envolvendo Sia (Munster-

Kuhnel et al., 2004 ; Lehmann et al., 2006). Conhecendo a estrutura completa

do SGCS é possível, a partir da utilização de enzimas específicas e hidrólise

ácida branda, determinar quais açúcares e o tamanho mínimo do

oligossacarídeo que são necessários para a potencialização da indução da RA.

Page 116: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

100

3.) Fucanas sulfatadas dos morfotipos de P. gaimardi

A ocorrência de FS com a mesma estrutura no EJC de três morfotipos

de P. gaimardi e o fato de existir espécie-especificidade dependente de

polissacarídeo sulfatado no processo de RA nos motiva a realização de

ensaios de indução da RA.

Experimentos de compatibilidade gamética entre os morfotipos de P.

gaimardi mostram uma alta taxa de fertilização, o que sugere um

reconhecimento entre suas bindinas e receptores específicos entre morfotipos

distintos (Ventura et al., dados não publicados). Portanto, o mecanismo de

reconhecimento a espécie-especificidade dependente do mecanismo da

bindina não deve ocorrer entre estes morfotipos. Nosso dado mostra a

presença da FS com estruturas idênticas nos 3 morfotipos estudados. Persiste

um desafio a ser esclarecido: que mecanismo assegura a diferença desses

morfotipos de ouriço-do-mar?

O isolamento e caracterização parcial dos proteoheteropolissacarídeos

presentes no plasma seminal de L. variegatus precisa de maior refinamento tal

como sequenciar o core protéico e elucidar completamente a estrutura da sua

parte glicídica, para se concluir algo definitivo sobre estas macromoléculas.

Relatos sobre proteoheteropolissacarídeos sulfatados são pouco

freqüentes (Leushner, 1987; Katzman & Kang, 1972; Katzman & Oronsky,

1971). Todavia, os dados obtidos com utilização das enzimas condoitinase AC

e condoitinase ABC e clivagem deaminativa por ácido nitroso merecem

atenção. Podemos afirmar que P2 e P3 apresentam na sua estrutura ou N-

sulfatação ou grupamentos N-livre, em razão da sua susceptibilidade a quebra

deaminativa com ácido nitroso.

Outros proteoheteropolissacarídeos sulfatados relatados na literatura

apresentam colágeno como o componente da sua cadeia protéica. Porém

nossos dados indicam que o colágeno não é um componente significativo dos

proteoheteropolissacarídeos de ouriços-do-mar, pois a papaína consegue clivar

sua cadeia protéica diminuindo seu peso molecular (Figura 24).

Os três proteoheteropolissacarídeos foram submetidos à ressonância

magnética nuclear. Contudo, os espectros obtidos foram extremamente

Page 117: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

101

complexos (dados não mostrados), necessitando assim, da realização de

espectros em 2D, e da análise da cadeia glicídica purificada e separação da

cadeia protéica mais detalhada.

Em síntese, acreditamos que os glicoconjugados sulfatados encontrados

no EJC de ouriços-do-mar são importantes para o conhecimento do processo

de fertilização em invertebrados. Naturalmente, esse evento está diretamente

relacionado com o processo de diferenciação das espécies. Também constitui

um modelo adicional de organização de MEC, constituída por moléculas

distintas daquelas presentes na matriz de vertebrados. Por fim, esses

glicoconjugados sulfatados são moléculas que podem ser testadas em

sistemas de vertebrados, com a possibilidade de levar a descoberta de novos

compostos com efeito terapêutico.

Page 118: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

102

Referências:

Abildgaard U. Structure and anticoagulant activity of a fucosylated chondroitin sulfate from echinoderm. Sulfated fucose branches on the polysaccharide account for its high anticoagulant action. J Biol Chem. 1996 Sep 27;271(39):23973-84.

Almond A. Hyaluronan.Cell Mol Life Sci. 2007 Jul;64(13):1591-6. Review.

Alves AP, Mulloy B, Moy GW, Vacquier VD, Mourão PA. Females of the sea urchin Strongylocentrotus purpuratus differ in the structures of their egg jelly sulfated fucans. Glycobiology. 1998 Sep;8(9):939-46

Angata T. and Varki A. (2002) Chemical diversity in the sialic acids and related alpha-keto acids: an evolutionary perspective.Chem. Rev. 102: 439–469.

Aquino RS, Landeira-Fernandez AM, Valente AP, Andrade LR, Mourão PA. Occurrence of sulfated galactans in marine angiosperms: evolutionary

Barbaglio A, Sugni M, Di Benedetto C, Bonasoro F, Schnell S, Lavado R, Porte C, Candia Carnevali DM. Gametogenesis correlated with steroid levels during the gonadal cycle of the sea urchin Paracentrotus lividus (Echinodermata: Echinoidea). Comp Biochem Physiol A Mol Integr Physiol. 2007 Jun;147(2):466-74

Barnes,RD, Ruppert, EE. Zoologia dos Invertebrados (1996) 6ª edição, Editora Roca

Bernfield M, Götte M, Park PW, Reizes O, Fitzgerald ML, Lincecum J, Zako M. Functions of cell surface heparan sulfate proteoglycans. Annu Rev Biochem. 1999;68:729-77.

Bradford, M M. Analytical Biochemistry, 72:248-254, 1976

Cinelli LP, Castro MO, Santos LL, Garcia CR, Vilela-Silva AC, Mourão PA. Expression of two different sulfated fucans by females of Lytechinus variegatus may regulate the seasonal variation in the fertilization of the sea urchin. Glycobiology. 2007 Aug;17(8):877-85.

Cinelli LP, Vilela-Silva ACES, Mourão PAS. Seminal fluid from sea urchins contains complex sulfated polysaccharides linked to protein. Submetido a Comparative Biochemistry and Physiology, part B 2009

Criado PR, Criado RF, Maruta CW, Martins JE, Rivitti EA. Urticária. An. Bras. Dermatol. 2005 Dec; 80(6): 613-630.

Cross NL. Role of cholesterol in sperm capacitation. Biological Reproduction. 1998 Jul;59(1):7-11. Review

Page 119: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

103

Dan JC. Acrosome reaction and lysins. In fertilization: Comparative Morphology, Biochemistry and Immunology 1967pp237-293 Eds CB Metz & A Monroy. San Diego: Academic Press

Dan JC. Sperm entrance in echinoderms, observed with the phase contrast microscope. Biological Bulletin 1954a 107 399-411.

Dan JC. Studies on the acrosome I. Reaction to egg-water and other stimuli. Biological Bulletin 1952 103 54-66

Darszon A, Beltran C, Felix R, Nishigaki T, Trevino CL. Ion transport in sperm signaling. Developmental Biology. 2001 Dec 1;240(1):1-14 Darszon A, Labarca P, Nishigaki T e Espinosa F. Ion channels in sperm physiology. Physiological Review. 1999 Apr;79(2):481-510

Errea MI, Matulewicz MC. Cold water-soluble polysaccharides from tetrasporic Pterocladia capillacea. Phytochemistry (1994) Nov;37(4):1075-8

Ettensohn CA, Wessel GM, Wray GA. The invertebrate deuterostomes: an introduction to their phylogeny, reproduction, development, and genomics. Methods in Cell Biology. 2004;74:1-13. Review

Furie B, Furie BC. The molecular basis of platelet and endothelial cell interaction with neutrophils and monocytes: role of P-selectin and the P-selectin ligand, PSGL-1. Thrombosis Haemostasis (1995) Jul;74(1):224-7

Galindo BE, Moy GW, Vacquier VD. A third sea urchin sperm receptor for egg jelly module protein, suREJ2, concentrates in the plasma membrane over the sperm mitochondrion. Dev Growth Differ. 2004 Feb;46(1):53-60.

Garbers DL. Molecular basis of fertilization. Annual Review Biochemistry. 1989;58:719-42. Review Gibbons IR The role of dynein in microtubule-based motility. Cell structure and function. 21 (5): 331-342 OCT 1996 Glabe CG, Lennarz WJ. Species-specific sperm adhesion in sea urchins. A quantitative investigation of bindin-mediated egg agglutination. Journal of Cell Biology. 1979 Dec;83(3):595-604.

Götting C, Kuhn J, Kleesiek K. Human xylosyltransferases in health and disease. Cell Mol Life Sci. 2007 Jun;64(12):1498-517

Griffith LS, Schmitz B. O-linked N-acetylglucosamine is upregulated in Alzheimer brains. Biochem Biophys Res Commun. (1995)213: 424 – 431

Hamamah S, Wittemer C, Barthélemy C, Richet C, Zerimech F, Royere D, Degand P. Identification of hyaluronic acid and chondroitin sulfates in human follicular fluid and their effects on human sperm motility and the outcome of in vitro fertilization. Reprod Nutr Dev. 1996;36(1):43-52.

Page 120: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

104

Hardingham, T. E., Fosang, A. J. Protoglycans: many forms and many functions. FASEB J. 6: 861-870; 1992.

Hirohashi N, Kamei N, Kubo H, Sawada H, Matsumoto M, Hoshi M. Egg and sperm recognition systems during fertilization. Dev Growth Differ. 2008 Jun;50 Suppl 1:S221-38.

Hirohashi N, Vacquier VD. Egg sialoglycans increase intracellular pH and potentiate the acrosome reaction of sea urchin sperm. J Biol Chem. 2002 Mar 8;277(10):8041-7.

Homeister JW, Thall AD, Petryniak B, Malý P, Rogers CE, Smith PL, Kelly RJ, Gersten KM, Askari SW, Cheng G, Smithson G, Marks RM, Misra AK, Hindsgaul O, von Andrian UH, Lowe JB. The alpha(1,3)fucosyltransferases FucT-IV and FucT-VII exert collaborative

Horstadius, V. 1973. Experimental Embryology of Echinoderms. Oxford: Clarendon Press.

Hotta K, Kurokawa M, Isaka S. A novel sialic acid and fucose-containing disaccharide isolated from the jelly coat of sea urchin eggs. J Biol Chem. 1973 Jan 25;248(2):629-31.

Ijuin T, Kitajima K, Song Y, Kitazume S, Inoue S, Haslam SM, Morris HR, Dell A, Inoue Y. Isolation and identification of novel sulfated and nonsulfated oligosialyl glycosphingolipids from sea urchin sperm. Glycoconj J. 1996 Jun;13(3):401-13.

Imai H, Shingyoji C Effects of trypsin-digested outer-arm dynein fragments on the velocity of microtubule sliding in elastase-digested flagellar axonemes. Cell structure and function. 28 (1): 71-86 FEB 2003

Iozzo RV. Matrix proteoglycans: from molecular design to cellular function. Annu Rev Biochem. 1998;67:609-52.

Jackson RL, Busch SJ, Cardin AD. Glycosaminoglycans: molecular properties, protein interactions, and role in physiological processes. Physiol Rev. 1991 Apr;71(2):481-539. Review

Jeanloz RW. The nomenclature of mucopolysaccharides. Arthritis Rheum. 1960 Jun;3:233-7.

Kamei N, Glabe CG The species-specific egg receptor for sea urchin sperm adhesion is EBR1, a novel ADAMTS protein. GENES & DEVELOPMENT 17 (20): 2502-2507 OCT 15 2003

Kaplan M, Aviram M. Retention of oxidized LDL by extracellular matrix proteoglycans leads to its uptake by macrophages: an alternative approach to study lipoproteins cellular uptake. Arterioscler Thromb Vasc Biol (2001) Mar;21(3):386-93

Page 121: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

105

Kaupp UB, Solzin J, Hildebrand E, Brown JE, Helbig A, Hagen V, Beyermann M, Pampaloni F, Weyand I. The signal flow and motor response controling chemotaxis of sea urchin sperm. Nat Cell Biol. 2003 Feb;5(2):109-17.

Kawashima H. Roles of sulfated glycans in lymphocyte homing. Biol Pharm Bull. 2006 Dec;29(12):2343-9. Review.

Kawashima H. Roles of sulfated glycans in lymphocyte homing. Biol Pharm Bull. 2006 Dec;29(12):2343-9. Review.

Khan IM, Gilbert SJ, Singhrao SK, Duance VC, Archer CW. Cartilage integration: evaluation of the reasons for failure of integration during cartilage repair. Eur Cell Mater. 2008 Sep 3;16:26-39.

Kim, Y. S., Jo, Y. Y., Chang, I. M., Toida, T., Park, Y., and Linhardt R. J. (1996) J. Biol. Chem. 271, 11750–11755.

Kircher, H. W. (1960) Anal. Chem. 32, 1103–1106

Kitazume S, Kitajima K, Inoue S, Haslam SM, Morris HR, Dell A, Lennarz WJ, Inoue Y. The Occurrence of Novel 9-O-Sulfated N-Glycolylneuraminic Acid-capped α25-Oglycolyl-linked Oligo/PolyNeu5Gc Chains in Sea Urchin Egg Cell Surface Glycoprotein. J Biol Chem. 1996 Mar 22;271(12):6694-6701.

Kitazume S, Kitajima K, Inoue S, Troy FA , Cho JW, Lennarz WJ, Inoue Y. Identification of polysialic acid-containing glycoprotein in the jelly coat of sea urchin eggs. Occurrence of a novel type of polysialic acid structure. J Biol Chem. 1994 Sep 9;269(36):22712-8.

Kitazume-Kawaguchi S, Inoue S, Inoue Y, Lennarz WJ. Identification of sulfated oligosialic acid units in the O-linked glycan of the sea urchin egg receptor for sperm. Proc Natl Acad Sci U S A. 1997 Apr 15;94(8):3650-5.

Kjellen L, Lindahl U. Proteoglycans: structures and interactions. Annu Rev Biochem. 1991;60:443-75. Review.

Klinger TS e Lawrence JM. Distance perception of food and the effect of food quantity on feeding behavior of Lytechinus variegatus (Lamarck) (Echinodermata: Echinoidea). Mar. Behav. Physiol. 11 (1985), pp. 327–344.

Kolset SO, Tveit H. Serglycin--structure and biology. Cell Mol Life Sci. 2008 Apr;65(7-8):1073-85.

Kramer JM. Basement membranes. WormBook. 2005 Sep 1:1-15. Review.

Kwok JC, Afshari F, García-Alías G, Fawcett JW. Proteoglycans in the central nervous system: plasticity, regeneration and their

Lam RM, Hawkins ET, Roszka J. Cardiac myxoma: histochemical and ultrastructural localization of glycosaminoglycans and proteoglycans.

Page 122: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

106

Lehmann F, Tiralongo E, Tiralongo J. Sialic acid-specific lectins: occurrence, specificity and function.Cell Mol Life Sci. 2006 Jun;63(12):1331-54.

Lindahl B, Eriksson L AND Lindahl U. Structure of heparan sulphate from human brain with special regard to Alzheimer´s disease. Biochem. J. (1995) 306: 177 - 184

Liu C, Litscher ES, Wassarman PM. Zona pellucida glycoprotein mZP3 bioactivity is not dependent on the extent of glycosylation of its polypeptide or on sulfation and sialylation of its oligosaccharides. Journal Cell Science (1997) Mar;110 ( Pt 6):745-52

Maehashi E, Sato C, Ohta K, Harada Y, Matsuda T, Hirohashi N, Lennarz WJ, Kitajima K. Identification of the sea urchin 350-kDa sperm-binding protein as a new sialic acid-binding lectin that belongs to the heat shock protein 110 family: implication of its binding to gangliosides in sperm lipid rafts in fertilization. J Biol Chem. 2003 Oct 24;278(43):42050-7.

McFadden D, Zaragoza O, Casadevall A. The capsular dynamics of Cryptococcus neoformans. Trends Microbiol. 2006 Nov;14(11):497-505.

Medeiros GF, Mendes A, Castro RA, Baú EC, Nader HB, Dietrich CP. Distribution of sulfated glycosaminoglycans in the animal kingdom: widespread occurrence of heparin-like compounds in invertebrates. Biochim Biophys Acta. 2000 Jul 26;1475(3):287-94.

Mengerink KJ e Vacquier VD. Glicobiology of sperm-egg interactions in deuterostomes. Glycobiology (2001) 11(4) : 37R – 43R

Mengerink KJ, Moy GW, Vacquier VD. suREJ proteins: new signalling molecules in sea urchin spermatozoa. Zygote. 2000;8 Suppl 1:S28-30.

Metz EC, Kane RE, Yanagimachi H, et al. Fertilization between closely-related sea urchins is blocked by incompatibilities during sperm-egg attachment and early stages of fusion. Biological Bulletin 187 (1): 23-34 1994

Mikami-Takei K, Kosakai M, Isemura M, Suyemitsu T, Ishihara K, Schmid K. Fractionation of jelly substance of the sea urchin egg and biological activities to induce acrosome reaction and agglutination of spermatozoa. Exp Cell Res. 1991 Jan;192(1):82-6.

Miyata S, Sato C, Kumita H, Toriyama M, Vacquier VD, Kitajima K. Flagellasialin: a novel sulfated alpha2,9-linked polysialic acid glycoprotein of ea urchin sperm flagella. Glycobiology. 2006 Dec;16(12):1229-41

Montealegre Quijano S, Gómez Gaspar A. Reproductive cycle of Lytechinus variegatus (Echinoidea: Toxopneustidae) in the south of Margarita Island, Venezuela. Rev Biol Trop. 2005 Dec;53 Suppl 3:305-12.

Page 123: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

107

Mulloy B, Ribeiro AC, Alves AP, Vieira RP, Mourao PA. Sulfated fucans from echinoderms have a regular tetrasaccharide repeating unit defined by specific patterns of sulfation at the 0-2 and 0-4 positions. Journal of Biological Chemistry. 1994 Sep 2;269(35):22113-23

Mulloy B, Rider CC. Cytokines and proteoglycans: an introductory overview. Biochem Soc Trans. 2006 Jun;34(Pt 3):409-13.

Münster-Kühnel AK, Tiralongo J, Krapp S, Weinhold B, Ritz-Sedlacek V, Jacob U, Gerardy-Schahn R. Structure and function of vertebrate CMP-sialic acid synthetases. Glycobiology. 2004 Oct;14(10):43R-51R.

Nader HB, Chavante SF, dos-Santos EA, Oliveira TW, de-Paiva JF, Jeronimo SM, Medeiros GF, de-Abreu LR, Leite EL, de-Sousa-Filho JF, Castro RA, Toma L, Tersariol IL, Porcionatto MA, Dietrich CP. Heparan sulfates and heparins: similar compounds performing the same functions in vertebrates and invertebrates? Braz J Med Biol Res. 1999 May;32(5):529-38. Review

Neill AT, Moy GW, Vacquier VD. Polycystin-2 associates with the polycystin-1 homolog, suREJ3, and localizes to the acrosomal region of sea urchin spermatozoa. Mol Reprod Dev. 2004 Apr;67(4):472-7.

Neill AT, Vacquier VD. Ligands and receptors mediating signal transduction in sea urchin spermatozoa. Reproduction. 2004 Feb;127(2):141-9

Ogden JC, Brown RA e Salesky N. Grazing by the echinoid Diadema antillarum Philippi: formation of halos around West Indian patch reefs. Science 182 (1973), pp. 715–717.

Ohlendieck K, Lennarz WJ. Role of the sea urchin egg receptor for sperm in gamete interactions. Trends Biochem Sci. 1995 Jan;20(1):29-33.

Ribeiro AC, Vieira RP, Mourao PA, Mulloy B. A sulfated alpha-L-fucan from sea cucumber. Carbohydrate research. 1994 Mar 4;255:225-40

Rodén L. The biochemistry of glycoprotein and proteoglycans. 1980 Ed. W.J. Lennarz, pp267 – 231, New York; Plenum.

Rodrigues ML, Alvarez M, Fonseca FL, Casadevall A. Binding of the wheat germ lectin to Cryptococcus neoformans suggests an association of chitinlike structures with yeast budding and capsular glucuronoxylomannan. Eukaryot Cell. 2008 Apr;7(4):602-9.

Rodrigues ML, Nimrichter L, Oliveira DL, Frases S, Miranda K, Zaragoza O,Alvarez M, Nakouzi A, Feldmesser M, Casadevall A. Vesicular polysaccharide export in Cryptococcus neoformans is a eukaryotic solution to the problem of fungal trans-cell wall transport. Eukaryot Cell. 2007 Jan;6(1):48-59.

Page 124: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

108

Rodrigues ML, Rosental S, Couceiro NSS, Angluster J, Alviano CS, Travassos LR. Identification of N-Acetylneuraminic Acid and Its 9-O-Acetylated Derivative on the Cell Surface of Cryptococcus neoformans: Influence on Fungal Phagocytosis. Infection and Immunity (1997) p. 4937–4942 Vol. 65, No. 12

Rothschild. The metabolism of fertilized and unfertilized sea-urchin eggs; the action of light and carbon monoxide. J Exp Biol. 1949 May;26(1):100-111.

Salmivirta M, Lidholt K, Lindahl U. Heparan sulfate: a piece of information. FASEB J. 1996 Sep;10(11):1270-9. Review

Schauer R. and Kamerling J. P. (1997) Chemistry, biochemistry and biology of sialic acids. In: Glycoproteins II, pp. 243–402, Montreuil J., Vliegenhart J. F. G. V. and Schachter H. (eds.), Elsevier, Amsterdam.

Sea Urchin Genome Sequencing Consortium, Sodergren E, Weinstock GM, Davidson EH, Cameron RA, Gibbs RA, Angerer RC, Angerer LM, Arnone MI, Burgess DR, Burke RD, Coffman JA, Dean M, Elphick MR, Ettensohn CA, Foltz KR, Hamdoun A, Hynes RO, Klein WH, Marzluff W, McClay DR, Morris RL, Mushegian A, Rast JP, Smith LC, Thorndyke MC, Vacquier VD, Wessel GM, Wray G, Zhang L, Elsik CG, Ermolaeva O, Hlavina W, Hofmann G, Kitts P, Landrum MJ, Mackey AJ, Maglott D, Panopoulou G, Poustka AJ, Pruitt K, Sapojnikov V, Song X, Souvorov A, Solovyev V, Wei Z, Whittaker CA, Worley K, Durbin KJ, Shen Y, Fedrigo O, Garfield D, Haygood R, Primus A, Satija R, Severson T, Gonzalez-Garay ML, Jackson AR, Milosavljevic A, Tong M, Killian CE, Livingston BT, Wilt FH, Adams N, Bellé R, Carbonneau S, Cheung R, Cormier P, Cosson B, Croce J, Fernandez-Guerra A, Genevière AM, Goel M, Kelkar H, Morales J, Mulner-Lorillon O, Robertson AJ, Goldstone JV, Cole B, Epel D, Gold B, Hahn ME, Howard-Ashby M, Scally M, Stegeman JJ, Allgood EL, Cool J, Judkins KM, McCafferty SS, Musante AM, Obar RA, Rawson AP, Rossetti BJ, Gibbons IR, Hoffman MP, Leone A, Istrail S, Materna SC, Samanta MP, Stolc V, Tongprasit W, Tu Q, Bergeron KF, Brandhorst BP, Whittle J, Berney K, Bottjer DJ, Calestani C, Peterson K, Chow E, Yuan QA, Elhaik E, Graur D, Reese JT, Bosdet I, Heesun S, Marra MA, Schein J, Anderson MK, Brockton V, Buckley KM, Cohen AH, Fugmann SD, Hibino T, Loza-Coll M, Majeske AJ, Messier C, Nair SV, Pancer Z, Terwilliger DP, Agca C, Arboleda E, Chen N, Churcher AM, Hallböök F, Humphrey GW, Idris MM, Kiyama T, Liang S, Mellott D, Mu X, Murray G, Olinski RP, Raible F, Rowe M, Taylor JS, Tessmar-Raible K, Wang D, Wilson KH, Yaguchi S, Gaasterland T, Galindo BE, Gunaratne HJ, Juliano C, Kinukawa M, Moy GW, Neill AT, Nomura M, Raisch M, Reade A, Roux MM, Song JL, Su YH, Townley IK, Voronina E, Wong JL, Amore G, Branno M, Brown ER, Cavalieri V, Duboc V, Duloquin L, Flytzanis C, Gache C, Lapraz F, Lepage T, Locascio A, Martinez P, Matassi G, Matranga V, Range R, Rizzo F, Röttinger E, Beane W, Bradham C, Byrum C, Glenn T, Hussain S, Manning G, Miranda E, Thomason R, Walton K, Wikramanayke A, Wu SY, Xu R, Brown CT, Chen L, Gray RF, Lee PY, Nam J, Oliveri P, Smith J, Muzny D, Bell S, Chacko J, Cree A, Curry S, Davis C, Dinh H, Dugan-Rocha S, Fowler J, Gill R, Hamilton C, Hernandez J, Hines S, Hume J, Jackson L, Jolivet A, Kovar C, Lee S, Lewis L, Miner G, Morgan M, Nazareth LV, Okwuonu G, Parker D, Pu LL, Thorn R, Wright R. The genome of the sea

Page 125: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

109

urchin Strongylocentrotus purpuratus. Science. 2006 Nov 10;314(5801):941-52. Erratum in: Science. 2007 Feb 9;315(5813):766.

Seidler DG, Dreier R. Decorin and its galactosaminoglycan chain: extracellular regulator of cellular function? IUBMB Life. 2008 Nov;60(11):729-33.

Souza ML, Dellias JM, Melo FR, Silva LC. Structural composition and anticoagulant activity of dermatan sulfate from the skin of the electric eel, Electrophorus electricus (L.). Comp Biochem Physiol B Biochem Mol Biol. 2007 Jul;147(3):387-94. Epub 2007 Feb 14.

Stevens RL, Adachi R. Protease-proteoglycan complexes of mouse and human mast cells and importance of their beta-tryptase-heparin complexes in inflammation and innate immunity. Immunol Rev. 2007 Jun;217:155-67.

Suarez SS. Hyperactivated motility in sperm. Journal of Andrology. 1996 Jul-Aug;17(4):331-5. Review.

Tatari H. The structure, physiology, and biomechanics of articular cartilage: injury and repair. Acta Orthop Traumatol Turc. 2007;41 Suppl 2:1-5.

Varki A, Jefrrey Esko, Jamey Marth; (1999) Essentials of Glycobiology. Cold Spring Harbor Laboratory Press, New York.

Verbeek MM, Otte-Holler I, van den Born J, van den Heuvel LP, David G, Wesseling P, de Waal RM. Agrin is a major heparan sulfate proteoglycan accumulating in Alzheimer's disease brain. Am J Pathol. 1999 Dec;155(6):2115-25

Vieira RP, Mulloy B, Mourão PA. Structure of a fucose-branched chondroitin sulfate from sea cucumber. Evidence for the presence of 3-O-sulfo-beta-D-glucuronosyl residues. J Biol Chem. 1991 Jul 25;266(21):13530-6.

Vieira RP, Pedrosa C, Mourão PA. Extensive heterogeneity of proteoglycans bearing fucose-branched chondroitin sulfate extracted from the connective tissue of sea cucumber. Biochemistry. 1993 Mar 9;32(9):2254-62.

Vilela-Silva AC, Alves AP, Valente AP, Vacquier VD, Mourão PA. Structure of the sulfated alpha-L-fucan from the egg jelly coat of the sea urchin Strongylocentrotus franciscanus: patterns of preferential 2-O- and 4-O-sulfation determine sperm cell recognition. Glycobiology. 1999 Sep;9(9):927-33.

Vilela-Silva AC, Castro MO, Valente AP, Biermann CH, Mourao PA. Sulfated fucans from the egg jellies of the closely related sea urchins Strongylocentrotus droebachiensis and Strongylocentrotus pallidus ensure species-specific fertilization. J Biol Chem. 2002 Jan 4;277(1):379-87.

Vilela-Silva AC, Hirohashi N, Mourão PA. The structure of sulfated polysaccharides ensures a carbohydrate-based mechanism for species recognition during sea urchin fertilization. Int J Dev Biol. 2008;52(5-6):551-9. Review.

Page 126: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

110

Vilela-Silva AC, Werneck CC, Valente AP, Vacquier VD, Mourão PA. Embryos of the sea urchin Strongylocentrotus purpuratus synthesize a dermatan sulfate enriched in 4-O- and 6-O-disulfated galactosamine units. Glycobiology. 2001 Jun;11(6):433-40.

Visconti PE, Galantino-Homer H, Moore GD, Bailey JL, Ning X, Fornes M, Kopf GS. The molecular basis of sperm capacitation. J Androl. 1998a Mar-Apr;19(2):242-8. Review

Visconti PE, Kopf GS. Regulation of protein phosphorylation during sperm capacitation. Biol Reprod. 1998b Jul;59(1):1-6. Review

Volpi N., (2006). Therapeutic applications of glycosaminoglycans. Curr Med Chem.;13(15):1799-810.

Ward GE, Brokaw CJ, Garbers DL, Vacquier VD. Chemotaxis of Arbacia punctulata spermatozoa to resact, a peptide from the egg jelly layer. J Cell Biol. 1985 Dec;101(6):2324-9

Whitelock JM, Melrose J, Iozzo RV. Diverse cell signaling events modulated by perlecan. Biochemistry. 2008 Oct 28;47(43):11174-83. Epub 2008 Oct 1.

Yamaguchi M, Kinoshita S, Suzuki N. Dermatan sulfate formation in gastrulae of the sea urchin Clypeaster japonicus. J Biochem. 1989 Jul;106(1):158-62.

Yeh JC, Hiraoka N, Petryniak B, Nakayama J, Ellies LG, Rabuka D, Hindsgaul O, Marth JD, Lowe JB, Fukuda M. Novel sulfated lymphocyte homing receptors and their control by a Core1 extension beta 1,3-N-acetylglucosaminyltransferase. Cell. 2001 Jun 29;105(7):957-69.

Page 127: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

111

ANEXO 01

Page 128: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

112

Page 129: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

113

Anexo 02

Page 130: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

114

Page 131: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

115

Page 132: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

116

Page 133: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

117

Page 134: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

118

Page 135: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

119

Page 136: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

120

Page 137: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

121

Page 138: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

122

Page 139: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

123

ANEXO 03

Page 140: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

124

Page 141: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

125

ANEXO 04

Page 142: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

126

Page 143: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

127

ANEXO 05

Page 144: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

128

Page 145: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 146: Glicoconjugadoslivros01.livrosgratis.com.br/cp121093.pdf · Quer Saber Bem Mais Que Os Meus Vinte E Poucos Anos ... (Por que que a gente é assim / Barão Vermelho) A Dona Mara, Seu

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo