GUTIÉRREZ: LIBERTAÇÃO E SALVAÇÃO

A relação entre a salvação e o processo de libertação do ser humano ao longo da história se dá na ação de Cristo e pelo dom do Espírito.

De acordo com Gutiérrez, para se entender essa relação, é necessário esclarecer que a noção de salvação deve ser entendida como “uma realidade intra-histórica [...] comunhão dos seres humanos com Deus e entre si”1, salvação esta que “orienta, transforma, e leva a história à sua plenitude."2

A noção de libertação também deve ser entendida em três níveis de significado: libertação política, libertação da pessoa humana ao longo da história e libertação do pecado e entrada em comunhão com Deus, sendo que esses três níveis, segundo Gutiérrez, “condicionam-se mutuamente, mas não se confundem; um não ocorre sem o outro, mas são distintos: fazem parte de um processo salvífico único global, porém situam-se em profundidades diferentes.”3

Para Gutiérrez, a globalidade do processo libertador alcança seu pleno sentido em Cristo e pelo Espírito.

Para sintetizar a tese citada acima, lanço mão da seguinte asserção de um missionário latino-americano:

Todo o dinamismo do cosmos e da história humana, o movimento pela criação de um mundo mais justo e fraterno, pela superação das desigualdades sociais entre os homens, os esforços – tão urgentes em nosso continente – por libertar o homem de tudo aquilo que o despersonaliza: a miséria física e moral, a ignorância, a fome, assim como a tomada de consciência da dignidade humana (GD 22), têm sua origem, são transformados e atingem sua perfeição na obra salvífica de Cristo. Nele e por ele a salvação está presente no coração da história dos homens, e não existe ato humano que, em última análise, não se defina a partir dela.4

1 GUTIÉRREZ, Gustavo. Libertação e salvação. In: Teologia da libertação: perspectivas. São Paulo: Loyola, 2000, p.204.2 GUTIÉRREZ, 2000, p. 204.3 GUTIÉRREZ, 2000, p. 236-237.4 Citado por GUTIÉRREZ, 2000, p. 238-239.