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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS FACULDADE DE DIREITO - DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL PENAL E PENAL. VIOLÊNCIA EPIDÊMICA E HOMICÍDIOS NO BRASIL: A PRÁTICA DE HOMICÍDIOS DE JOVENS NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE PB. (2010- 2013). GISINALDO LOPES DA SILVA CAMPINA GRANDE 2013

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

FACULDADE DE DIREITO - DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL PENAL E PENAL.

VIOLÊNCIA EPIDÊMICA E HOMICÍDIOS NO BRASIL: A PRÁTICA DE

HOMICÍDIOS DE JOVENS NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE – PB. (2010-

2013).

GISINALDO LOPES DA SILVA

CAMPINA GRANDE

2013

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GISINALDO LOPES DA SILVA

VIOLÊNCIA EPIDÊMICA E HOMICÍDIOS NO BRASIL: A PRÁTICA DE

HOMICÍDIOS DE JOVENS NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE – PB. (2010-

2013).

Monografia apresentada à Universidade Estadual da

Paraíba, como Trabalho de Conclusão do Curso de

Pós- Graduação em Direito Processual Penal e

Penal.

ORIENTADOR: PROF. MESTRE, JOSÉ CRISTOVÃO

DE ANDRADE

CAMPINA GRANDE, 2013.

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL – UEPB

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GISINALDO LOPES DA SILVA

VIOLÊNCIA EPIDÊMICA E HOMICÍDIOS NO BRASIL: A PRÁTICA DE

HOMICÍDIOS DE JOVENS NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE – PB. (2010-

2013).

Monografia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação em Direito Processual

Penal e Penal, submetido à Faculdade de Direito de Campina Grande - PB.

Como requisito para obtenção do título de Especialista.

Orientador: Prof. Mestre, José Cristovão de Andrade.

Aprovada em 13 de dezembro de 2013

BANCA EXAMINADORA

Prof. Mestre José Cristovão de Andrade – Orientador

Profª. Drª. Aline Lobato Costa – Examinadora

Prof. Mestre Severiano Pedro N. Filho – Examinador

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha namorada pelo amor incondicional. Aos meus filhos pelo incentivo, ao meu orientador pela dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Em especial a Deus, pela graça concedida e por ter permitido chegar até aqui. Pois

sei que a até aqui me ajudou o Senhor.

À minha mãe (in memorian) Ivonete pela dedicação na história da minha vida.

Ao meu pai, Lopes, a quem devo tudo que tenho e do que sou, agradeço a

dedicação e amor.

A minha namorada, Samara, pelo apoio, compreensão nos momentos de ausência,

atenção e amor.

Aos meus filhos, Pedro e Yuri, pelo carinho.

Ao meu orientador, Andrade, pela oportunidade, orientação, incentivo e apoio.

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EPÍGRAFE

Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós

sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma

coisa. Por isso aprendemos sempre.

PAULO FREIRE.

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RESUMO

Esta monografia trata a problemática da Violência Epidêmica e Homicídios no Brasil,

com ênfase sobre a situação o município de Campina Grande. Os homicídios

apresenta-se de forma crescente, cujas facetas são objeto de apreensão no

cotidiano. Ela também passa a ser objeto de reflexão por parte de várias áreas do

saber, entre elas a Saúde Pública. O homicídio como uma das principais causas de

morte dos jovens coloca-se como uma verdadeira endemia. Violência sempre existiu

em todas as sociedades e em todos os tempos como forma de resolver conflitos

entre pessoas, na família, na comunidade e entre os países. Atualmente, convive-se

com as formas tradicionais de violência e as novas, para as quais ainda há uma

certa perplexidade. A mortalidade dos jovens coloca-se como um desafio não

apenas pelo aspecto quantitativo, mas principalmente pela complexidade da

problemática e suas consequências de ordem demográfica, econômica, social e de

saúde. A violência urbana é atualmente um dos temas priorizados nos estudos das

cidades, especialmente dos grandes aglomerados urbanos. Além das implicações de

ordem econômica, social e territorial, a morte por homicídio vem se colocando no

mundo atual como uma verdadeira endemia. As estatísticas mundiais apontam para

a problemática da mortalidade de jovens entre 15 e 29 anos, vítimas de homicídios

nas cidades. Tema / Campina Grande / dados.

Palavras chave: Violência Epidêmica – Homicídios – Jovens

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ABSTRACT

This monograph investigates the problem Epidemic of Violence and Homicide in

Brazil. With emphasis on the situation of the municipality and Campina Grande. The

homicides presents increasingly, whose facets are subject to seizure in the everyday.

She also happens to be reflected by various disciplines, including public health. The

murder as a leading cause of death among young people stands as a true endemic.

Violence has always existed in all societies and at all times as a way of resolving

conflicts between people, the family, the community and between countries.

Currently, coexists with the traditional forms of violence and new, for which there is

still some perplexity. Mortality of young stands as a challenge not only the

quantitative aspect, but mainly by the complexity of the problem and consequences

of demography, economic, social and health. Urban violence is currently one of the

priority topics in the study of cities, especially in conurbations. In addition to the

implications of economic, social and territorial order, homicide has been putting in the

current world as a true endemic. Worldwide statistics point to the problem of mortality

of young people aged 15 to 29 years, homicide victims in the cities. Theme /

Campina Grande / data.

Key words: Epidemic Violence – Murders – Young

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LISTA DE ABREVIAÇÕES

DCCP – DELEGACIA DE CRIME CONTRA A PESSOA

DRPC – DELEGACIA REGIONAL DE POLÍCIA CIVIL

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

CAPÍTULO I

1.1 A VIOLÊNCIA EPIDÊMICA E HOMICÍDIOS NO BRASIL ................................... 14

1.2 JOVENS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE ............................................ 17

1.3 ÍNDICES DE ENCARCERAMENTO ................................................................... 25

CAPÍTULO II

2.1 HOMICÍDIOS EM CAMPINA GRANDE ............................................................... 27

METODOLOGIA ........................................................................................................ 29

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS ........................................................................ 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 34

ANEXOS ................................................................................................................... 36

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INTRODUÇÃO

O fenômeno da violência tem ocupado, não só nos meios acadêmicos, mas

também no senso comum, lugar de destaque e preocupação. Tendo em vista essa

ampla abordagem do tema nos mais diferentes meios, torna-se cada vez mais

essencial compreendê-lo de forma criteriosa, principalmente nas escolas, pois ali é o

lugar privilegiado para o desenvolvimento da sociabilidade e da cidadania dos jovens

e tal lugar deve sempre primar por uma ambiente no qual as relações de conflito,

comuns a todo convívio humano, sejam compreendidas e resolvidas de uma forma

pacífica e construtiva. Os homicídios masculinos, por exemplo, prevalecem no

espaço público (como ruas e bares) e estão, hoje, fortemente relacionados à

criminalidade; já os homicídios femininos ocorrem, preferencialmente, no espaço

privado, e estão mais relacionados a conflitos de ordem familiar (Schraiber, Gomes,

Couto, 2005; Souza, 2005), sendo que, em ambos os casos, os agressores são

predominantemente homens.

Entre as diferentes manifestações de violência identificadas na pesquisa,

concluiu-se, que na sua maioria os homicídios são praticados no período da noite e

com arma de fogo. No que diz respeito ao crescimento dos homicídios no país, no

Estado, e na Cidade, em especial na população entre 15 a 29. Conforme dados do

Ministério da Saúde (SIM/DATASUS), os homicídios aparecem como a primeira

causa de morte entre os jovens já na década de 1990, e não só ocupam a primeira

posição dentre as causas externas, mas ultrapassam todos os outros grupos de

causas.

Os grandes centros urbanos à exemplo de Rio de Janeiro, São Paulo,

Recife, João Pessoa, Campina Grande entre outros, foram os mais afetados por esta

tendência, consolidando um caráter “endêmico” com um padrão desigual de

distribuição das mortes por homicídio, como resultado de um conjunto de processos

sociais que se tornam mais proeminentes nessas áreas, como as desigualdades nas

condições de vida (Gawryzewski, Costa, 2005;Cardia, Adorno, Poleto, 2003; Barata,

Ribeiro, 2000) e o estabelecimento de um mercado de atividades ilícitas e

criminosas, sobretudo em torno do tráfico de armas e drogas (Zaluar, 2004).

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Necessariamente a violência saiu das telas e invadiu o cotidiano dos

brasileiros, expandiu-se a tal ponto que se torna difícil confiar até nos melhores

amigos, muitas vezes na própria família, ou seja, a realidade bruta e cruel está cada

vez mais inserida no cotidiano, e por ventura faz uma crescente nos índices de

violência, ou seja, no âmbito social, cultural, político, religioso entre outros, já não há

escolha, nem precisa de motivos coerentes para se cometer o próximo crime.

O crescimento da violência urbana é uma de suas expressões, as taxas de

mortalidade por homicídios, têm incidido preferencialmente sobre adolescentes e

adultos jovens, em várias partes do mundo, apresentando impacto negativo sobre a

esperança de vida. O crescimento da mortalidade por arma de fogo foi intenso, como

podemos observar na tabela.

Tabela 1 – Número de vítimas letais por armas de fogo na população total e na

jovem, segunda causa básica. 2008 – 2010.

ANO POPULAÇÃO TOTAL 15 A 29 ANOS

2008 35.676 21.475

2009 36.624 21.912

2010 36.792 21.843

Fonte: SIM-SUS-MS

Os homicídios com envolvimento de adolescentes inscrevem-se em uma

problemática abrangente, que diz respeito ao crescimento da violência e sua

expressão em diversos contextos de sociedade. Muitas vezes, os homicídios são

consequências dessas formas menos visíveis de violência, resultantes das

transformações estruturais e das relações sociais econômicas e culturais que

ocorrem nas cidades. O crescimento dos índices de violência fazem com que a

população se divida em diversas opiniões. Enquanto muitos acreditam que a

violência não pode ser combatida com mais violência, outros defendem ações

severa do Estado contra o crime organizado e até mesmo mudanças na legislação,

em busca de punição aos acusados de crimes hediondos.

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A violência na cidade de Campina Grande tem crescido consideravelmente

nos últimos anos, por práticas e ações como: acertos de contas, rixas, implicância do

tráfico de drogas, ou qualquer que seja a nomenclatura, tem levado famílias a

perderem seus entes queridos na maioria jovens entre 15 à 29 anos de idade.

Campina Grande já se tornou uma das cidades mais violentas do nosso

Estado. Nos últimos anos, a sociedade campinense tem vivido situações de caos,

infelizmente, assaltos, sequestros, fazem parte do cotidiano dessa gente. O mapa da

violência dos bairros de Campina Grande no ano de 2008, elaborado pela Segunda

Delegacia Regional de Policia Civil, indicou que a maioria dos homicídios tem como

destaque o tráfico de drogas concentrando-se na Zona Oeste da cidade e que as

maiores vítimas são jovens entre 15 e 29 anos, do sexo masculino.

Neste trabalho teremos como objetivos: contextualizar a violência e os

índices de homicídios de jovens em Campina Grande, identificar os homicídios no

âmbito nacional e local, caracterizar os homicídios de jovens em Campina Grande

com a violência urbana e avaliar os períodos de incidência dos homicídios na

respectiva cidade.

No primeiro capítulo abordaremos a Violência Epidêmica e Homicídios no

Brasil. O segundo tratará dos Homicídios em Campina Grande.

Os dados apresentam um aumento significativo dos índices de homicídios

em Campina Grande, de jovens entre 15 e 29 anos. ANEXO B. Esses números nos

preocupam, o que exige da sociedade e dos poderes públicos ações mais eficazes,

comprometidas com a qualidade de vida de todo cidadão.

O interesse pelo tema aconteceu na minha vivência frente como profissional

no sistema de segurança pública. Por outro lado, como bacharel em direito e

conhecedor desse processo, vimos que não foi fácil tratar do assunto, em razão de

estarmos invadindo a privacidade do outro.

Esta pesquisa justifica-se pela necessidade de reflexão sobre os programas

de segurança pública e do aprendizado das pessoas, uma vez que, a incidência de

homicídios ainda é elevada (JONH; LOTT,1999), dando resposta sobre o porquê dos

grandes esforços desenvolvidos e os objetivos não serem alcançados.

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Comprovando-se o reconhecimento da importância da segurança pública e

sua eficácia, homicídio é uma realidade em todo mundo, não tendo sido suficiente

criadas ou intensificadas ações que minimizem essas práticas de homicídios.

Dentro desse contexto, objetiva-se com esse trabalho analisar a

problemática dos homicídios em Campina Grande, partindo dos dados

evidenciados.

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CAPÍTULO I

1.1 VIOLÊNCIA EPIDÊMICA E HOMICÍDIOS NO BRASIL

De acordo com Dr. Dráuzio Varella (2013), a violência urbana é uma

enfermidade contagiosa. Embora possa acometer indivíduos vulneráveis em todas

as classes sociais, é nos bairros pobres que ela adquire características epidêmicas.

A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades de um mesmo

país, mas, como regra, começa nos grandes centros urbanos e se dissemina pelo

interior. A incidência nem sempre é crescente; mudança de fatores ambientais e

medidas mais eficazes de repressão, por exemplo, podem interferir em sua

escalada.

As estratégias que as sociedades adotam para combater a violência flutuam

ao sabor das emoções, raramente o conhecimento científico sobre o tema é levado

em consideração. Como reflexo, a prevenção das causas e o tratamento das

pessoas violentas evoluíram muito pouco no decorrer do século XX, ao contrário dos

avanços ocorridos no campo das infecções.

A agressividade impulsiva é consequência de perturbações nos mecanismos

biológicos de controle emocional. Tendências agressivas surgem em indivíduos com

dificuldades adaptativas que os tornam despreparados para lidar com as frustrações

de seus desejos.

A violência urbana é uma doença com múltiplos fatores de risco, dos quais

os mais relevantes são a pobreza e a vulnerabilidade biológica.

Os mais vulneráveis são os que tiveram a personalidade formada num ambiente

desfavorável ao desenvolvimento psicológico pleno. A revisão dos estudos

científicos já publicados permite identificar três fatores principais na formação das

personalidades com maior inclinação ao comportamento violento:

1) Crianças que apanharam, foram abusadas sexualmente, humilhadas ou

desprezadas nos primeiros anos de vida;

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2) Adolescência vivida em famílias que não lhes transmitiram valores sociais

altruísticos, formação moral e não lhes impuseram limites de disciplina;

3) Associação com grupos de jovens portadores de comportamento antissocial.

Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crianças que se

enquadram nessas três condições de risco. Associadas à falta de acesso aos

recursos materiais, à desigualdade social, à corrupção policial e ao péssimo exemplo

de impunidade dado pelos chamados criminosos de colarinho-branco, esses fatores

de risco criam o caldo de cultura que alimenta a violência crescente nas cidades.

Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a resposta do

aprisionamento. Embora pareça haver consenso de que essa seja a medida ideal e

de que lugar de bandido é na cadeia, não se pode esquecer de que o custo social de

tal solução está longe de ser desprezível. Além disso, seu efeito é passageiro: o

criminoso fica impedido de delinquir apenas enquanto estiver preso. Ao sair, estará

mais pobre, terá rompido laços familiares e sociais e dificilmente encontrará quem

lhe dê emprego. Ao mesmo tempo, na prisão, terá criado novas amizades e

conexões mais sólidas com o mundo do crime.

Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda. Para agravar,

obrigados a optar por uma repressão policial mais ativa, aumentaremos o número de

prisioneiros a ponto de não conseguirmos edificar prisões na velocidade necessária

para albergá-los. As cadeias continuarão superlotadas, e o poder dentro delas, nas

mãos dos criminosos organizados. Seria mais sensato investir o que gastamos com

as cadeias em educação, para prevenir a criminalidade e tratar os que ingressaram

nela. Mas, como reagir diante da ousadia sem limites dos que fizeram do crime sua

profissão sem investir pesado no aparelho repressor e no aprisionamento. Na

verdade, não existe solução mágica a curto prazo. Precisamos de uma divisão de

renda menos brutal, motivar os policiais a executar sua função com dignidade, criar

leis que acabem com a impunidade dos criminosos bem sucedidos e construir

cadeias novas para substituir as velhas, mas isso não resolverá o problema

enquanto a fábrica de ladrões colocar em circulação mais criminosos do que nossa

capacidade de aprisioná-los.

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Para o citado autor a tranquilidade nas ruas só acontecerá quando

entendermos que ela depende do envolvimento de cada um de nós na educação

das crianças especificamente as nascidas na periferia, por estarem desprovidas do

acesso ás políticas sociais públicas.

Ressalta-se que, enquanto não aprendemos a educar e oferecer medidas

preventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão capazes de criar, cabe

a nós a responsabilidade de integrá-los na sociedade por meio da educação formal

de bom nível, das práticas esportivas e da oportunidade de desenvolvimento

artístico.

A tabela 1.1 permite verificar a enorme heterogeneidade de situações na

evolução da mortalidade por armas de fogo (AF). Podemos observar um crescimento

da mortalidade na Região Norte, Nordeste, Norte. Já no Nordeste, o destaque foi o

Maranhão, cujo número de vítimas cresce. Mas também Alagoas, Bahia, Ceará e

Paraíba mostram taxas de crescimento. O único estado da região a evidenciar

queda nos números foi Pernambuco. Já na região Centro-Oeste, os quantitativos

permanecem praticamente estagnados, com quedas no Mato Grosso e Mato Grosso

do Sul, baixo crescimento no DF e crescimento moderado em Goiás. Já a região Sul

teve um crescimento moderado.

Tabela 1.1 Número de óbitos por AF. Brasil. 2005/2010*

REGIÃO 2005 2006 2007 2008 2009 2010

ACRE 125 155 133 133 152 144

AMAPÁ 196 203 171 211 191 259

AMAZONAS 598 697 711 827 915 1.067

PARÁ 1.926 2.073 2.204 2.868 2.997 3.498

RONDÔNIA 552 589 435 480 536 541

RORAIMA 94 110 116 105 117 123

TOCANTINS 202 236 224 232 284 311

NORTE 3.693 4.063 3.994 4.856 5.192 5.927

ALAGOAS 1.211 1.617 1.839 1.887 1.872 2.084

BAHIA 2.823 3.278 3.614 4.765 5.383 5.288

CEARÁ 1.692 1.793 1.936 2.031 2.168 2.514

MARANHÃO 903 925 1.092 1.243 1.387 1.478

PARAÍBA 740 819 861 1.021 1.269 1.454

PERNAMBUCO 4.307 4.478 4.560 4.431 3.954 3.412

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PIAUÍ 386 437 406 387 398 427

RIO GRANDE DO NORTE

408 450 594 720 791 727

SERGIPE 492 597 526 574 663 689

NORDESTE 12.962 14.394 15.428 17.059 17.885 18.073

ESPIRITO SANTO

1.600 1.774 1.885

1.948 1.974 1.385

MINAS GERAIS

4.208 4.155 4.103 3.869 2.779 2.629

RIO DE JANEIRO

7.098 7.122 6.313 5.395 4.592 4.219

SÃO PAULO 8.727 8.166 6.234 6.118 4.216 3.845

SUDESTE 21.633 21.217 18.535 17.330 13.161 12.078

PARANÁ 2.981 3.095 3.112 3.453 2.800 2.759

RIO GRANDE DO SUL

2.015 1.964 2.174 2.367 1.954 1.741

SANTA CATARINA

616 656 632 789 573 531

SUL 5.612 5.715 5.918 6.609 5.297 5.031

DISTRITO FEDERAL

745 796 815 873 766 651

GOIÁS 1.398 1.410 1.426 1.754 1.253 1.320

MATO GROSSO

907 899 892 942 617 603

MATO GROSSO DO SUL

628 678 699 690 468 363

CENTRO-OESTE

3.678 3.756 3.832 4.259 3.104 2.937

Fonte: SIM/SVS/MS. *2010: dados preliminares

1.2 JOVENS EM SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE

É possível supor que a vulnerabilidade dos jovens à violência relaciona-se,

atualmente, às conformações gerais da "modernidade reflexiva" (nos termos de

Beck, 1997) e, portanto, às consequências que este processo traz para a trajetória

individual dos sujeitos. De um lado, porque obriga o sujeito a tomar decisões de

forma solitária e a responsabilizar-se pelos resultados de suas "escolhas" (as quais

não estão livres de constrangimentos, uma vez que mediadas pelos processos

sociais em curso), o que, embora proporcione certa margem de liberdade ao sujeito,

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ao abrir novas possibilidades, impõe o árduo peso de uma responsabilização

individual. Nesse contexto, o controle dos riscos passa cada vez por estratégias

individuais, já que, socialmente, há uma maior isenção em relação à

responsabilidade coletiva de gestão dos riscos, jogando para os indivíduos o ônus

pelos possíveis efeitos negativos (Mitjavila, Jesus, 2004; Peralva, 2000). De outro

lado, porque desfaz os limites simbólicos capazes de dar suporte a um sentimento

de identidade – e é na busca desses limites que muitos jovens acabam por lançar-se

em situações de risco, onde a confrontação com a morte (de forma imaginária ou

real) pode tornar-se elemento fundamental na afirmação do valor de sua existência

(Le Breton, 2000).

Segundo Le Breton (2000), a transição para a vida adulta representa, na

modernidade, um momento crítico onde essas condutas de risco tornam-se

emblemáticas e fortemente adotadas. Diante da indeterminação social instaurada

pela modernidade, não há mais ritos de passagem que possam simbolizar e

legitimar a entrada na vida adulta e, sobretudo, referenciar o futuro e remover a

incerteza sobre a condução da existência, a exemplo das sociedades tradicionais.

Esta simbolização da passagem fica a encargo dos próprios jovens que precisam

encontrar uma resposta a suas expectativas. E é nesse momento que as condutas

de risco ganham um valor essencial, na forma de um rito, por meio do qual os jovens

buscam achar um sentido que justifique suas vidas.

De acordo com La Mendola (2005), os significados dos comportamentos de

risco, inclusive os mais destrutivos, relacionam-se também à desconfiança em

relação aos mecanismos sociais de distribuição de sucesso. A modernidade, ao

fazer do risco a forma exclusiva de persecução de fins na sociedade

contemporânea, estabelece, como mensagem fundamental, que aqueles que se

empenham necessariamente obterão sucesso. Contudo, essa fórmula acaba não se

confirmando na realidade, uma vez que a obtenção de sucesso submete-se a regras

sociais de reconhecimento que escapam constantemente aos critérios racionais de

seleção dos melhores.

Lança-se, assim, aos indivíduos, a necessidade de adotarem atitudes de

risco, para aquisição de sucesso sem, contudo, enfatizar o elemento que lhe é

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complementar, ou seja, a segurança, abrindo margem para comportamentos

destrutivos. Ressalta-se, portanto, a existência de um sistema social que legitima o

risco, inclusive na esfera do trabalho (Sennet, 2005), ocultando a necessidade das

redes de proteção para prevenir os efeitos negativos que podem conter a ação de

arriscar-se, especialmente na fase da juventude, caracterizada como um momento

de forte indeterminação social e identitária.

Ademais, soma-se a esse processo geral, que atinge a juventude como um

todo, a existência de diferenças profundas na vivência dessa fase de acordo com a

posição social desses jovens, inclusive quando consideramos a exposição à

violência. Assim, embora os desafios sejam semelhantes, os contextos e os recursos

disponíveis no seu enfrentamento não são os mesmos, abrindo espaço para

diferentes situações de vulnerabilidade.

Como define Pais (2005), a situação social dos jovens na modernidade é

caracterizada, cada vez mais, pela imprevisibilidade. As novas conformações sociais

marcadas por tendências globalizantes, avanço tecnológico e mutações do trabalho

(Telles, 2006; Sennet, 2005; Giddens, 2002) transformam o futuro em algo indefinido

e arriscado, lançando desafios para a sociedade em geral e, especialmente, para as

novas gerações. Nesse sentido, surge, como problema crucial, o processo de

transição para a vida adulta e as possibilidades de os jovens conseguirem lograr sua

inserção social. Embora esse problema atinja todos os jovens, as desigualdades

econômicas e sociais, por certo, imprimem diferenciações importantes nos recursos

existentes e nas formas possíveis de se alcançar essa inserção.

Segundo Telles (2006), são as novas gerações que colocam em evidência

os pontos nevrálgicos das novas configurações sociais. De um lado, os jovens já

entram num mundo social marcado pelo trabalho precário e o desemprego, em

tempos de dissolução do capitalismo fordista e surgimento do capitalismo flexível

(Sennet, 2005). Por outro, vivenciam uma experiência, inimaginável para gerações

anteriores, dos capitais globalizados que fazem expandir os circuitos do consumo de

bens materiais e simbólicos para além das fronteiras das grandes nações, atingindo

os mercados populares. E é no centro dessa nova realidade, a qual redefine novas

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dinâmicas locais, novas redes sociais, novas sociabilidades, que os mais jovens

acabam traçando seus percursos, cada vez mais instáveis e precários (Telles, 2006).

As trajetórias dos jovens tornam-se, nesse contexto, trajetórias não lineares,

já que sujeitas a diferentes contingências, imprevistos, incertezas (Pais, 2005), cuja

característica principal é a retomada de caminhos já percorridos. As incertezas que

compõem essas trajetórias gravitam com intensidade na esfera do trabalho. A

flexibilização que caracteriza o capitalismo na modernidade faz com que a

experiência dos jovens, no mundo do trabalho, não se dê a partir de uma rotina

estável ou de uma carreira previsível, e estes acabam por inventar diferentes formas

de ganhar dinheiro ou de "ganhar a vida". Ainda de acordo com Pais (2005), essa

flexibilização do trabalho, que atinge a todos, acaba sendo vivida pelos jovens como

aventura ou, mesmo, desventura. Isto porque, para alguns, essa flexibilidade acaba

por representar viver na precariedade, com todos os aspectos negativos que advêm

dessa situação; para outros, essa flexibilidade representa a abertura de novas

oportunidades, a possibilidade de trajetórias sociais ascendentes. Entretanto, é a

incerteza e a improvisação que pautam seus percursos. É nesse sentido que

conseguir um emprego, muitas vezes, é tido como um lance de sorte e a própria vida

passa a ser vivida nos moldes de um jogo, onde a necessidade de astúcia e os

elementos de aleatoriedade e sorte tornam-se centrais.

De acordo com Sennet (2005), o capitalismo flexível institui o risco como

algo necessário. Esse é um tempo, portanto, que valoriza o desempenho, a

performance e o sucesso. Correr riscos, tentar a sorte torna-se uma necessidade

diária para todos, e essa atitude acaba por ser valorizada: "A moderna cultura do

risco é peculiar naquilo que não se mexer é tomado como sinal de fracasso,

parecendo a estabilidade quase uma morte em vida. O destino, portanto, conta

menos que o ato de partir" (Sennet, 2005, p.102). O risco, nessa cultura, passa a ser

um teste de caráter, é preciso correr risco mesmo que, racionalmente, se saiba que

é possível fracassar. Especificamente para os jovens, sua situação limiar acaba por

torná-los mais flexíveis, inclusive em termos de assumirem riscos. Contudo, como

indica Pais (2005), a propensão a assumir riscos e jogar com a própria vida seria

mais forte entre os sujeitos em que a própria vida apresenta-se mais cheia de

indeterminações. Assim, no jogo da vida, muitos jovens seriam levados a desafiarem

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o próprio destino, como no caso de jovens inseridos em trajetórias de exclusão

social. Desse modo, os recursos que os jovens possuem (títulos escolares, redes de

conhecimento e, também, astúcia) variam como variam as formas inventadas pelos

jovens, a partir desses recursos ou na sua ausência, no empenho de ganhar a vida.

A criminalidade, fortemente atrelada a essa expansão do tráfico de drogas,

tem se apresentado cada dia mais presente nas periferias e favelas, inclusive a partir

da década de 1990, tornando-se parte das "opções" e "escolhas" apresentadas aos

moradores desses locais. Configura-se, assim, como um aspecto de vulnerabilidade

para muitos jovens, embora apenas uma minoria aceda às atividades criminais

(Feltran, 2007; Peralva, 2000). Em presença das inúmeras dificuldades encontradas

pelas pessoas, especialmente pelos jovens, ao tentarem uma inserção no mercado

de trabalho, a "escolha" por esta "opção", apesar de se colocar, por um lado, como

uma forma de acesso – a bens de consumo, a renda, a ampliação do status

individual no grupo – também se insere em um contexto de risco de morte

onipresente, ou seja, num contexto marcado pela violência resultante tanto da

instituição policial como da comercialização ilegal de drogas (Feltran, 2007; Peralva,

2000).

As estratégias de resposta a este risco de morte podem ser variadas, desde

a tentativa de contorná-lo até o engajamento no próprio narcotráfico. Isso revela uma

dinâmica que vai além de aspirações a uma mobilidade social desviante,

compreendendo diferentes sentidos de existência e alternativas de vida para melhor

lidar com a experiência do risco, diante da falta de padrões estáveis de organização

familiar, social e política, incluindo a ausência de ordem pública legítima (Feltran,

2007; Peralva, 2000).

Segundo Jesus (2009) a violência urbana, que faz vítimas todos os dias, em

pequenas ou grandes cidades, consiste em assaltos, agressões físicas, seqüestros

relâmpagos, extorsões mediante sequestro, furtos, chantagens, homicídios e tantos

outros delitos, não e nova, a não ser quanto aos instrumentos empregados na

execução, hoje muito sofisticados.

Atualmente, as naturezas destes crimes expressam-se conforme as

condições sociais e econômicas das cidades, consideradas estas os aglomerados

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urbanos com mais de 25 mil habitantes. Assim, nas populações desenvolvidas, são

cometidos em maior numero delitos contra o patrimônio, enquanto nas pobres e em

desenvolvimento, mais comuns são os contra a pessoa, como lesões corporais e

homicídios.

O plano constitucional brasileiro compete ao Estado, e não ao Município ou

a União, a repressão à atividade delinquencial urbana. Dado o aumento da

população, os Estados, diante do insuficiente valor dos tributos por eles recebidos e

arrecadados pela União, não tem condições de proteger os cidadãos nas sua

comunidades. Os municípios, também por razões legais e financeiras, são quase

inertes em termos de segurança pública, mostrando-se prostrados diante dos furtos

e sequestros. O resultado é desastroso, transformando-nos em vítimas pacatas e

sem esperança. (JESUS, 2009).

Segundo o Professor Rosler (2004):

Em termos de resposta penal, o sistema jurídico brasileiro não traz soluções adequadas, apresentando diversos problemas estruturais. Nossa legislação penal parece sofrer a grave esquizofrenia. De um lado, temos uma constituição “cidadã” que nos oferece um extenso rol de direitos e garantias individuais. Por outro uma legislação penal e processual deficiente e arcaica, oriunda de uma época de exceção, de um Estado totalitário. Além disso, o legislador atual ainda furioso, legislando sem parar, atendendo aos anseios do movimento da lei e da ordem. Resultado disso é a ofensa direta aos fundamentos constitucionais do Estado Democrático do Direito.

A violência ao lado do desemprego é a principal preocupação da população,

que a cada dia sente prisioneira, refém de suas próprias residências, uma vez que

as ruas tornam-se um lugar inseguro, onde andar de carro ou sozinho significa uma

possibilidade de ser assaltado ou até morto, por pessoas que não respeitam as leis

previamente existentes (ROSA 1999).

A impunidade apresenta-se hodiernamente como um dos principais fatores

que contribuem para a escalada da violência e da criminalidade no país. O

descrédito da grande maioria da população em relação às instituições que compõem

o Sistema de Justiça Criminal é patente (SOUSA, 2006).

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Assim sendo, vários são os fatores que exsurgem os crimes urbanos, dentre

eles, encontramos a impunidade, a fome, a miséria, a falta de educação, ausência

de políticas públicas de combate à criminalidade.

O professor Sousa Neto (2006) assevera:

Cada ente que compõe esse sistema procura colocar no outro ou nos outros à culpa pela ineficiência e ineficácia próprias. A Polícia Civil, a porta de entrada do poder de persecução criminal estatal, muitas das vezes procura transparecer à opinião pública que faz a sua parte – efetua prisões, desvenda crimes – mas esse trabalho é prejudicado quando os magistrados concedem liberdades provisórias e relaxam prisões em flagrantes. O judiciário, por sua vez, defende-se, alegando que a culpa está na baixa qualidade dos inquéritos policiais, desprovidos de provas materiais contundentes ou, quando as têm, muitas das vezes foram obtidas através de meios ilícitos.

As principais causas da violência urbana segundo a revista Science são a

desigualdade econômica, uso de armas, quebra dos laços familiares,

encarceramento e seu alto índice de encarceramento, bem como o uso de drogas,

em especial o crack.

Há muito se admite que a má distribuição de renda crie ambiente favorável à

disseminação da violência urbana. De fato, a desigualdade parece funcionar como

caldo de cultura para a disseminação do comportamento agressivo. Sociedades que

vivem em estado de pobreza generalizada tendem a ser menos violentas do que

aquelas em que há pequeno número de ricos e uma grande massa de pobres.

A diferença de poder aquisitivo, no entanto, não é causa única. A violência

urbana é uma doença multifatorial. As diferenças sociais existentes em nosso país

podem explicar por que ocorrem mais crimes no Brasil do que na Suécia, por

exemplo. Não explica, porém, por que os índices de criminalidade suecos

começaram a aumentar na mesma época que nas cidades brasileiras ou

americanas. Não explica, também, as razões pelas quais a criminalidade dos

grandes centros americanos vem caindo consistentemente de 1992 para cá, período

em que a concentração de renda se agravou naquele país.

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Além disso, a desigualdade não explica por que num bairro pobre, e até

numa mesma família, somente alguns se desviam para o crime, enquanto os demais

respeitam as regras de convivência social.

A alta concentração de armamento em certas áreas da cidade cria, segundo

J. Fagan, da Universidade de Colúmbia, uma “ecologia do perigo”. Depois de

entrevistar 400 jovens nos bairros mais perigosos de Nova York, o pesquisador

constatou que a violência é realmente contagiosa. No período de 1985 a 1995, o uso

de revólveres nessas comunidades se disseminou como doença transmissível.

Jovens desarmados sentiam-se inseguros e acreditavam que, se carregassem uma

arma, imporiam mais respeito aos adversários. No mundo do crime, as armas são o

poder.

Como os que vivem do crime precisam dispor de armas competitivas em

relação às da polícia e de quadrilhas rivais, instala-se nas cidades uma corrida por

armamentos sem fim, responsável pelos ferimentos mais letais que os plantonistas

de hoje enfrentam nos hospitais da periferia de São Paulo, em Washington ou Nova

York.

No mundo todo cresce o número de filhos criados sem apoio paterno. São

crianças concebidas por mães solteiras ou mulheres abandonadas por seus

companheiros. No Brasil, o problema da gravidez na adolescência é especialmente

grave nas áreas mais pobres: nas regiões norte e nordeste, de cada três partos uma

das mães está entre 10 e 19 anos. Mesmo no sul e no sudeste, o número de

parturientes nessa faixa etária é muito alto: cerca de 25%. Os estudos mostram que

os filhos dessas jovens apresentam maior probabilidade de serem abandonados,

mal cuidados e sofrer espancamento doméstico. O nascimento dessas crianças

sobrecarrega a mãe, provoca abandono dos estudos, dificuldade de conseguir

emprego e reduz o poder aquisitivo da família materna, obrigada a manter a criança.

Além disso, é bem provável que aquelas crianças nascidas com maior

vulnerabilidade a desenvolver comportamentos agressivos, criadas por mães

despreparadas para educá-las com coerência, possam tornar-se emocionalmente

reativas e impulsivas, condições de alto risco para a violência.

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1.3 ÍNDICES DE ENCARCERAMENTO

Muitos dos programas adotados no mundo todo e em nossas “Febems”1

para controlar a agressividade juvenil, podem ser piores do que simplesmente

inúteis.

O agrupamento de jovens de periculosidade variável não acalma os mais

agressivos: serve de escola para os ingênuos. Todos parecem estar de acordo com

o fato de que nossas cadeias funcionam como universidades do crime, mas é

importante saber que diversos estudos confirmam essa impressão. T. Dishion,

do Oregon Social Learning Center, acompanhou um grupo de 200 adolescentes por

um período de 5 anos. Os meninos que não fumavam cigarro, maconha e não

bebiam álcool antes dos 14 anos, mas ficaram amigos de outros que consumiam

essas drogas, tornaram-se usuários dois anos mais tarde, de forma estatisticamente

previsível. O autor concluiu: “é um erro terrível alojar jovens delinquentes no mesmo

lugar”. Uma fruta estragada parece mesmo contaminar o cesto inteiro, como diziam

nossos avós.

Em 1990, P. Chamberlain e seu grupo, do mesmo centro de Oregon,

conduziram um estudo com jovens delinquentes de 13 a 14 anos. Ao acaso, os

meninos foram distribuídos para cumprir pena em dois locais: albergados em

instituições ou colocados individualmente em casas de família que recebiam ajuda

financeira para mantê-los. Enquanto 57,8% dos meninos institucionalizados fugiram,

apenas 30,5% dos que ficaram com as famílias o fizeram. Um ano depois de serem

postos em liberdade, os que ficaram em casas de família tinham passado 60% a

menos de dias na cadeia. O custo de manutenção dos jovens em prisões foi cerca

de dez vezes maior.

No calor da emoção que esse tema provoca, a sociedade chega a defender

posições antagônicas: muitos acham que se todos os delinquentes fossem para a

prisão (ou fuzilados, como preferem alguns) a paz voltaria às ruas. Ao contrário, há

1 FEBEM – Fundações Estaduais de Bem-Estar de Menores, criados nos Estados do País a partir de

1964.

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quem diga que nossas cadeias são centros de pós-graduação e que a sociedade

ganharia mais construindo escolas do que novos presídios.

A verdade é que os índices de encarceramento guardam relação com o

número de crimes. R. Rosenfeld, da Universidade de Missouri, estudou os índices de

homicídios nas áreas mais perigosas de Saint Louis e Chicago. Para cada aumento

de 10% na população carcerária, concluiu que havia queda de 15% a 20% nos

homicídios.

Outros pesquisadores obtiveram resultados bem mais discretos. O

economista S. Levitt, da Universidade de Chicago, estudou as consequências da

pressão que um movimento de defesa dos direitos civis exerceu sobre o judiciário

americano, nos anos 1980. Por causa desse movimento, em alguns estados

americanos os juízes decidiram cortar o número de prisioneiros, enquanto em outros

a população de presos continuou a crescer. Levitt concluiu que uma queda relativa a

10% da massa carcerária, provocava aumento de 4% na criminalidade.

Para ilustrar novamente a complexidade de temas como esse, o

criminologista R. Rosenfeld, citado há pouco, recomenda cuidado ao considerar

esses dados. O encarceramento não deve ser visto como panaceia para o crime

violento, diz ele na Science. E, continua, a curto-prazo a prisão tem um “efeito

incapacitador”, impedindo momentaneamente o prisioneiro de praticar novos crimes

nas ruas. A longo prazo, entretanto, índices altos de encarceramento podem

aumentar os índices de homicídios. Apesar da grande dificuldade em encontrar

alternativas ao modelo prisional clássico, é preciso ter claro que o encarceramento

em massa é um experimento de consequências mal conhecidas, com potencialidade

para fortalecer o crime: empobrece e desorganiza famílias, desagrega vínculos

sociais, expõe o presidiário ao contágio com a violência das cadeias e dificulta sua

inclusão posterior no mercado de trabalho.

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CAPÍTULO II

2.1 HOMICÍDIOS EM CAMPINA GRANDE

Quanto à sua localização, Campina Grande, também conhecida como

Rainha da Borborema, está situada na parte Oriental do Planalto da Borborema, na

Microrregião que leva o mesmo nome. (Anexo A). Limita-se entre os municípios de

Lagoa Seca, Massaranduba, Pocinhos e Puxinanã, ao Norte; Boqueirão, Caturité,

Fagundes e Queimadas, ao Sul; Riachão do Bacamarte, a Leste Boa Vista.

Localizada 132 km da capital João Pessoa.

Campina Grande já se tornou um dos pontos mais violentos do nosso

estado. Nos últimos anos, a sociedade campinense tem vivido situações de caos,

infelizmente, assaltos, sequestros, e guerra, entre traficantes e policiais fazem parte

do cotidiano dessa gente. O mapa da violência dos bairros de Campina Grande em

2008, elaborado pela Segunda Delegacia Regional de Policia Civil, indicou, que a

maioria dos homicídios se encontra na Zona Oeste da cidade e que as vítimas são

jovens entre 15 e 29 anos, do sexo masculino. Homicídios que segundo dados as

Delegacia de Crime Contra a Pessoa e Delegacia Regional de Polícia Civil de

Campina Grande apresentou os seguintes dados: 2005 (113); 2006 (127); 2007

(117); 2008 (116); 2009 (141); 2010 (196); 2011 (176); 2012 (170) e 2013 (170, até o

dia 09 de dezembro), em 2013, 15 mulheres foram assassinadas em Campina

Grande.

O quadro de violência acima relatado vem sendo alvo de discussões por

diversos segmentos da sociedade. Os meios utilizados pela polícia para conter o

crescimento dos índices de violência fazem com que a população se divida em

diversas opiniões. Enquanto muitos acreditam que a violência não pode ser

combatida com mais violência, outros defendem ações severas do Estado contra o

crime organizado e até mesmo mudanças na legislação, em busca de punição aos

acusados de crimes hediondos.

As pessoas que vivem na periferia da cidade sofrem com a violência de

forma intensa. Quando essa violência extravasa a periferia chega à classe média, há

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um grau de sensibilidade maior. O ser humano não pode ser comparado em termos

de grandeza, integralidade e importância.

Entre os bairros da Zona Oeste de Campina Grande, Jeremias, Araxá,

Promorar, Bodocongó e Monte Santo, registram índices alarmantes de mortes por

homicídios. Entretanto, o estudo aponta números elevados de mortes violentas em

outros bairros da mesma cidade acaba não tendo uma perspectiva de vida.

No período de janeiro à dezembro de 2010, 196 pessoas foram

assassinadas em Campina Grande. Já em 2011 esse número caiu para 176. Em

2012 foram 170 assassinatos, e em 2013 de janeiro até o mês de outubro 162

pessoas foram assassinadas nesta cidade.

Estes números indicam que a violência vem crescendo em ritmo

considerável em todo o País. Contudo, as análises a respeito destas taxas de

crescimento devem considerar a necessidade de se observar estas frequências com

base em diferentes variáveis – por exemplo, a região, estado ou município em que

ocorrem e a distribuição na população segundo sexo, faixa etária ou nível

socioeconômico, de modo que se torne possível observar a distribuição desigual

destes crimes.

De acordo com dados da Delegacia Regional de Polícia Civil, pudemos

identificar na pesquisa que a onda de violência que toma conta do nosso município

tem ocorrido mais no período da noite. As planilhas anexadas nesse trabalho

mostram indicadores que apontam os bairros mais violentos dessa cidade. Anexo B,

Anexo C, Anexo D e Anexo E.

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METODOLOGIA

O presente trabalho de pesquisa foi desenvolvido no período de 13 de março

de 2013 á 31 de Dezembro do Corrente ano, tendo como instrumentos de coleta de

dados, a abordagem através do método dedutivo, justificado pelo fato de

desenvolver o trabalho por conceitos, ideias e entendimentos a partir de padrões

encontrados nos dados, ao invés de coletar dados para comprovar teorias, hipóteses

e modelos preconcebidos.

Segundo Cervo (1996), a dedução e a argumentação com que torna

explícitas verdades particulares contidas em verdades universais. O ponto de partida

é a antecedente que afirma uma verdade universal, é o ponto de chegada é o

consequente que afirma uma verdade menos geral ou particular implicitamente no

primeiro. Para o citado autor o método dedutivo leva:

“... leva o pesquisador do conhecido ao desconhecido com pouca margem de erro, por outro lado é de alcance limitado pois a conclusão não pode possuir conteúdos que excedam o dos premissos...”

O método dedutivo permitiu observar a violência no âmbito geral da

realidade brasileira para melhor compreender a situação local de Campina Grande.

O procedimento adotado foi uma pesquisa bibliográfica, elaborado a partir de

material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos. Entretanto,

citamos alguns autores: Cardia, Feltran, Guimarães, Damásio, Drauzio Varella.

Quanto à coleta de dados, o presente estudo baseou-se apenas na leitura

de dados secundários, assim classificados por já terem passado pelo crivo

acadêmico, tais como, Constituição Federal, Leis Codificadas, da legislação

ordinária, livros e jurisprudência.

Os dados da pesquisa aqui proposta tiveram uma abordagem qualitativa,

cujos dados secundários resultaram em uma revisão bibliográfica, por ter apreendido

as percepções concernentes ao tema proposto através da interpretação.

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Escolhemos como amostra os jovens de 15 a 29 anos, uma vez que a

análise e estudo dos altos índices de homicídios são de relevância para o

conhecimento da população. Na coleta de dados foi fundamental os dados da

Delegacia Regional de Polícia Civil de Campina Grande.

Os dados apresentados no período de estudo ficaram assim: em 2010 foi de

196 homicídios

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CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS

A problemática da violência epidêmica e dos índices de homicídios no Brasil

um canário crítico, com dados cada vez mais crescentes e geradores de

preocupações para toda sociedade. Ao longo de trabalho, pudemos perceber nas

análises dos autores citados.

De acordo com o jornal Estadão o Estado da Paraíba é o terceiro do Brasil

entre os Estados mais violentos, atrás de Alagoas e Espirito Santo, superando Pará,

Bahia e Pernambuco.

Nos últimos 20 anos, a problemática da violência tornou-se objeto de

interesse e discussão de especialistas, formadores de opinião e da população em

geral, ocupando lugar central em suas preocupações, conforme indicam as

pesquisas de opinião. Além de indicar o medo crescente com que convivem as

populações dos centros urbanos, estas pesquisas também têm apontado para a

existência de outro fenômeno: a baixa credibilidade das instituições de segurança e

justiça junto a população. Por um lado, a sociedade tem acompanhado o aumento

da violência e da criminalidade; por outro, observa a ausência de respostas por parte

das polícias e da justiça, que se expressa no despreparo das forças policiais para o

enfretamento do crime e nas altas taxas de impunidade.

Segundo o delegado de Polícia Civil da Paraíba, Professor Severiano Pedro,

o problema da violência em Campina Grande não tem apenas uma causa, mas sim

um conjunto muito complexo de fatores que se inicia com um quadro de profunda

desigualdade social, que perdura desde o seu descobrimento. Predomina nas

grandes cidades brasileiras uma visão de segurança pública que tem na

criminalização da pobreza, o seu principal fator de sustentação teórica. O Estado

brasileiro deve buscar produzir uma política de segurança pública nos moldes do

Estado de direito democrático, que não compreende tão somente o aspecto policial

repressivo, mas engloba também uma política social de redução crescente das

desigualdades sociais.

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As estatísticas oficiais não permitem conhecer a ocorrência destes crimes,

pois estas práticas não constituem crimes capitulados no Código Penal. As ações

delas decorrentes figuram como homicídios, tentados ou consumados, sem que se

possa num primeiro olhar dizer quem foram os agentes envolvidos. Para contornar

estas limitações dos dados oficiais temos trabalhado com casos noticiados pela

imprensa desde 2010 até os dias atuais. Todo o material recolhido encontra-se

armazenado num banco de dados eletrônico que reúne vários casos de violência

policial.

Pela análise dos dados extraídos das notícias, foi possível observar que, a

despeito de todas mudanças que ocorrem no cenário político brasileiro, as práticas

policias sofreram poucas mudanças. Sua principal característica tem sido o uso

excessivo da força, expresso, por um lado, na desproporcionalidade de agentes por

caso, em média, e, por outro, nas altas taxas de letalidade em que resultam os

confrontos. A despeito dos esforços das polícias militares estaduais de incorporar ao

treinamento de seus agentes os conceitos de promoção e respeito aos direitos

humanos, o que se observado na pratica e a atuação violenta destes mesmos

agentes, além do abuso de autoridade e de seu envolvimento de praticas delituosas,

por exemplo, o envolvimento de polícias com o crime organizado e extorsões. Outra

característica destes crimes, através da imprensa escrita, é a impunidade. Muito

pouco se ouve falar a respeito da punição aplicada a agentes envolvidos em

confrontos que resultam em mortes, muito deles caracterizados como execuções. A

ausência de resposta do poder público nestes casos somente contribui para agravar

o quadro de descrédito destas instituições junto à população.

O reflexo deste descrédito está representado na permanência de práticas

como linchamentos e grupos de extermínio na sociedade brasileira. Mais do que sua

permanência, o que chama a atenção nestes crimes é o grau de tolerância da

população em relação a eles.

Os dados revelam que os homicídios de jovens em Campina Grande, tem se

tornado preocupante para a sociedade, uma vez que a cada dia ouvimos falar nos

jornais da prática de homicídios na cidade. A sociedade está preocupada e pede

medidas das autoridades para solucionar este problema que atinge toda população

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Campinense. Necessitamos de ações emergenciais de políticas públicas como:

emprego, educação de qualidade, saúde, lazer, cultura, entre outros. Só assim os

jovens terão uma qualidade de vida melhor.

AUTOR: SEBASTIÃO DIAS, POETA, COMPOSITOR, REPENTISTA, CANTADOR.

A PAZ QUE O MUNDO JÁ ESPEROU TANTO, TOMBOU FERIDA E ESTÁ POR

ENQUANTO, ENTRE OS ENTULHOS DA DESTRUIÇÃO, MAS FOI O HOMEM

QUE ARRISCOU PALPITES, VOOU DEMAIS, ULTRAPASSOU LIMITES,TIROU

DEUS DA MENTE E DO CORAÇÃO. QUANDO ALGUÉM PENSA QUE DE TUDO É

DONO, O ÓDIO TENTA DERRUBAR O TRONO, QUE O AMOR É DONO MAS NÃO

PODE USAR. CERTAS PESSOAS DE ALGUM MAL DOENTES APAGAM

SONHOS, MATAM OS INOCENTES E ATÉ CONSEGUEM FAZER DEUS

CHORAR. SE A NATUREZA CHORA PELAS VIDAS, QUE SEM MOTIVOS FORAM

DESTRUÍDAS SOB OS REQUINTES DA PERVERSIDADE, TALVEZ UM DIA O

SENHOR SE ZANGUE QUANDO SEUS PÉS TOCAREM NO SANGUE DOS QUE

JÁ MORRERAM VÍTIMAS DA MALDADE. NÃO É PRECISO DESTRUIR A TERRA

NÃO ADIANTA INVESTIR NA GUERRA BASTA OS ESTRAGOS QUE A MISÉRIA

FAZ, PARA QUE TODOS TENHAM LIBERDADE, SÓ É PRECISO QUE A

HUMANIDADE DÊ PELO MENOS UMA CHANCE À PAZ. LEVANTEM TODOS QUE

ESTÃO CAÍDOS, NEM TODOS SONHOS FORAM DESTRUÍDOS, NOVOS

CAMINHOS TEMOS QUE SEGUIR... CHEGOU A HORA DE FERIR OS OMBROS,

SOMAR ESFORÇOS, REMOVER ESCOMBROS, QUE É TEMPO AINDA DE

RECONSTRUIR. LARGAR AS ARMAS E PEDIR PERDÃO, SERÁ SEM DÚVIDA A

MELHOR LIÇÃO, QUE EM VEZ DE BOMBA, ATIREM UMA FLOR. EU PEÇO EM

NOME DAS NOSSAS CRIANÇAS; HÁ MUITAS FORMAS DE FAZER MUDANÇAS

E A MELHOR DELAS É ATRAVÉS DO AMOR.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO A

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ANEXO B

CAMPINA GRANDE

HOMICÍDIOS

DOLOSOS

2010 2011 2012

JANEIRO 10 7 26

FEVEREIRO 7 11 11

MARÇO 14 16 11

ABRIL 15 18 13

MAIO 20 8 7

JUNHO 22 24 11

JULHO 14 15 13

AGOSTO 16 21 9

SETEMBRO 15 16 13

OUTUBRO 25 15 17

NOVEMBRO 14 12 20

DEZEMBRO 18 13 19

TOTAL 196 176 170

FONTE: DCCP 2ª DRPC

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ANEXO C

HOMÍCIDIOS EM CAMPINA GRANDE POR BAIRRO

BODOCONGÓ 12

SANTA ROSA 09

TAMBOR 09

JOSÉ PINHEIRO 08

JEREMIAS - RAMADINHA 07

ALTO BRANCO - PEDREGAL 06

LIBERDADE - CATOLÉ 05

SÃO JOSÉ DA MATA 07

MONTE SANTO – MALVINAS – CENTENÁRIO - SANTO

ANTÔNIO - DISTRITO DE GALANTE

04

ROSA CRUZ – QUARENTA – DISTRITO MECÂNICO –

JARDIM VERDEJANTE - NOVA BRASÍLIA - TRÊS IRMÃS -

BELA VISTA

03

ITARARÉ- FEIRA CENTRAL – MONTE CASTELO –

SEVERINO CABRAL – SÍTIO ESTREITO – ARAXÁ – SÍTIO

LUCAS – JARDIM PAULISTANO – GLÓRIA –

CATINGUEIRA – JARDIM CONTINENTAL -

02

JARDIM EUROPA – BAIRRO DAS CIDADES – NOVO

HORIZONTE – CATOLÉ DE ZÉ FERREIRA – SÍTIO

COVÃO – VILA DOS TEIMOSOS – PRESIDIO DE

SERROTÃO – PRÓMORAR – ROSA MÍSTICA –

DINAMERICA – LAGOA DE DENTRO – VILA CABRAL DE

SANTA TEREZINHA – PALMEIRA – JARDIM TAVARES –

DISTRITO INDUSTRIAL – SITIO SALGADINHO –

ESTAÇÃO VELHA

01

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HOMÍCIDIOS EM 2013 POR DIA DA SEMANA

DOMINGO 42

SEXTA 27

SÁBADO 23

QUINTA 22

TERÇA 19

QUARTA 17

SEGUNDA 17

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ANEXO D

HOMÍCÍDIOS EM CAMPINA GRANDE POR IDADE

MENOR DE 18 ANOS 11

18 A 24 ANOS 61

25 A 29 ANOS 32

30 A 34 ANOS 19

35 A 64 36

ACIMA DE 65 ANOS 02

TIPOS DE ARMAS EMPREGADAS NOS HOMÍCIDIOS

ARMA DE FOGO 143

FACA 18

PAULADA 05

PEDRADA 03

ESPANCAMENTO 03

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ANEXO E

HOMICÍDIOS EM CAMPINA GRANDE POR MÊS

HOMICÍDIOS 2013

JANEIRO 23

FEVEREIRO 20

MARÇO 21

ABRIL 10

MAIO 16

JUNHO 12

JULHO 11

AGOSTO 17

SETEMBRO 6

OUTUBRO 19

NOVEMBRO 13

DEZEMBRO 16