giridhari das - ciência espiritual

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  • 8/3/2019 GIRIDHARI DAS - Cincia Espiritual

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    Cincia EspiritualViso Geral e Manual de Prtica

    GIRIDHARI DAS

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    Prefcio ................................................................. 7

    Parte 1 Viso Geral

    1. Introduo: a necessidade de umconhecimento superior infalvel ................... 91.1 Cincia Espiritual? ............................... 111.2 Dvida cega e f cega .......................... 141.3 Quatro abordagens para Deus .............. 16

    2. Voc no o seu corpo ............................... 20

    2.1 Somos todos iguais............................... 232.2Karma................................................... 242.3 Um outro fator que determina

    sua situao .......................................... 282.4 Alm do corpo: nossa natureza

    verdadeira ............................................. 293. Compreendendo os conceitos bsicos

    da natureza material ................................... 313.1 Os elementos bsicos da natureza

    material ................................................. 323.2 Analisando nossos corpos .................... 34

    Sumrio

    2006 Todos os direitos reservados.Permitida a reproduo total ou parcial deste livro desdeque citados a fonte e o autor.

    Diagramao: Radha-Govinda dasa(Rogrio Fernandes Guimares)Reviso: Antonio Cordeiro Filho

    Os interessados no assunto deste livro esto convidados

    a se corresponderem com o autor atravs do endereo:[email protected] livros citados neste trabalho podem ser encontrados em:www.harekrishna.com.br

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    3.3 Aplicando este conhecimentona sua vida ............................................ 36

    3.4 Os trs modos da natureza material ..... 393.5 Os trs modos e voc ........................... 423.6 Cosmografia ......................................... 443.7 Tempo ................................................... 463.8 O mundo espiritual ............................... 48

    4. Compreendendo Deus ................................ 494.1 Muitas manifestaes de um

    nico Deus ........................................... 544.2 Deus desce ao mundo material............. 564.3 Deus aparece em Sua forma

    de Deidade ............................................ 594.4 Os benefcios de se conhecer Deus ...... 60

    5. Sua posio atual ........................................ 615.1 A futilidade dos empreendimentos

    materiais ............................................... 635.2 O futuro est em nossas mos .............. 63

    5.3 As condies materiais no soum obstculo ........................................ 65

    6. Aplicaes prticas ..................................... 676.1 Comendo alimento espiritual ............... 706.2 Aprendendo a diferena entre

    material e espiritual .............................. 736.3 A plataforma espiritual ......................... 746.4 A aproximao de um mestre

    espiritual garante o sucesso .................. 766.5 Os santos nomes de Deus so todo-

    poderosos ............................................. 78

    6.6 Cincia espiritual.................................. 797. Palavras finais ............................................ 79

    Apndice

    1.Parampara: Sucesso discipular demestres espirituais ...................................... 83

    Parte 2 Manual de Bhakti-yoga1. Introduo .................................................. 872. Prticas de bhakti-yoga .............................. 90

    2.1 Ouvir .................................................... 922.2 Cantar ................................................... 95

    Instrues sobre como cantarjapa....... 982.3 Lembrar .............................................. 1012.4 Servir .................................................. 104

    Prasadam oferecendo alimentosao Senhor ............................................ 105Servindo a Deidade ............................ 106

    Ilimitadas oportunidades de serviodifundindo o amor a Deus .................. 108

    3. Prticas materiais ..................................... 110Os quatro princpios ................................. 1123.1 No violncia ..................................... 1123.2 Austeridade ......................................... 1133.3 Veracidade .......................................... 1143.4 Pureza ................................................. 115

    4. Concluso ................................................. 116

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    Neste livro apresento a filosofia e a prtica da es-sncia do clssico conhecimento vdico.

    Primeiramente, Viso Geraltem o propsito demostrar, de forma resumida e coerente, a complexae detalhada cincia espiritual e a viso da nossa exis-tncia contida nos Vedas. Por ser muito diferente, emvrios aspectos, da nossa atual noo da realidade,notei que certas pessoas, at mesmo estudiosos do

    assunto, tm grande dificuldade de combinar as mui-tas explicaes vdicas sobre a realidade, numa visosucinta e simples. Esse texto, portanto, visa a ajudaraqueles interessados em entender como os seguidoresdos Vedas vem a vida, o universo, o fator tempo, asleis da existncia, Deus, etc.

    Em seguida temos o Manual de Bhakti-yoga,quenos apresenta instrues de como pr em prtica esseconhecimento. Afinal, conhecimento apenas terico de pouca utilidade, especialmente em se tratandode conhecimento que visa a nos elevar a estados

    Prefcio

    Parte 3 Entendendo o que Vdico

    1. Introduo ................................................ 1192. Aspectos externos ..................................... 121

    2.1 Roupas ................................................ 1222.2 Msica ................................................ 1232.3 Cultura do piso ................................... 1252.4 Comida ............................................... 125

    2.5 Dana, arte e arquitetura .................... 1263. Concluso ................................................. 126

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    1. Introduo: a necessidade deum conhecimento superiorinfalvel

    Existe uma necessidade na vida humana de umconhecimento superior autorizado que transcendaas matrias grosseira e sutil. Sem este saber, somoslevados ignorncia ou especulao mental. O

    conhecimento espiritual no se constitui de tolicecaprichosa e sem sentido. Ele a realidade maisimportante e prtica da vida. Se voc no sabequem ou o que , ou onde voc est, como poderagir apropriadamente? impossvel. Podemosargumentar que para termos uma vida bem sucedidanecessariamente precisamos obter conhecimentoespiritual de uma fonte genuna, caso contrrioestaremos essencialmente limitando nossa existnciaao campo meramente material, corporal, exatamentecomo fazem os animais.

    superiores de conscincia e comportamento. EsseManual nos mostra, etapa por etapa, como qualquerum pode experimentar os poderosos resultados debhakti-yoga, a mais avanada prtica vdica, in-dependente de praticamente qualquer qualificaoprvia e da atual situao de vida.

    Por ltimo, Entendendo o que Vdico visa a es-

    clarecer certos conceitos errneos sobre o significadodo termo vdico, em especial no que diz respeito aconceitos externos, de roupas arquitetura.

    Os Vedas formam a base de toda espiritualidadeoriental, que cada vez mais encanta o mundo, e que,devido a sua riqueza e complexidade, tm sido malinterpretados por muitos, tanto no mundo acadmicoformal como por bem-intencionados aventureiros daNova Era. um conhecimento que vem com instru-es de como deve ser compreendido, exatamentecomo um remdio vem com bula. Este guia, de forma

    resumida e simples, apresenta esse conhecimento te-rico e prtico da essncia dos Vedas sem distores,fruto da fiel adoo das recomendaes contidas nostextos originais para se adquirir tal conhecimento.

    Esperamos que este livro possa abrir caminhopara as imensurveis experincias e conseqnciasque podemos obter do conhecimento e prticas aquicontidas.

    PARTE 1

    Viso Geral

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    Uma fonte genuna aquela isenta de erros esua origem pode ser encontrada na raiz da questoem estudo. Quando o assunto a cincia espiritual,deve-se assim remontar ao prprio Deus, pois Ele logicamente a raiz de todos os assuntos espirituais. Naverdade, Deus a raiz de tudo que existe, mas isto serdiscutido mais tarde. Se a pessoa estudar a totalidade

    de todas as informaes disponveis acerca do espri-to, ver que os Vedas, especialmente oBhagavad-gitae o Srimad-Bhagavatam, so as mais ricas e profundasfontes de conhecimento cientfico espiritual. Nestas li-teraturas sagradas, encontramos a mais antiga, extensae abrangente filosofia. Elas so capazes de respondera todas as perguntas relevantes concernentes a Deuse alma, como eles se relacionam ao universo e atudo contido nele, e como devemos nos comportar afim de obtermos o mais elevado benefcio para nsmesmos e para todas as entidades vivas. Nenhuma

    outra fonte fidedigna apresenta to minuciosamenteas descries de Deus, Seus nomes, Sua morada,Seus associados, Suas atividades, e Seus ensinamen-tos. Estes ensinamentos no tm quaisquer limitesculturais, geogrficos ou temporais. Caso tivessem,no transcenderiam o reino material, e, portanto, noseriam uma cincia plenamente espiritual.

    Veda vem da palavra snscrita ved, que

    significa saber. Assim, veda significa co-

    nhecimento. O conhecimento vdico no

    sectrio, nem a doutrina dos hindus. Seria

    um grande incmodo, no apenas para mim,

    mas para todos vocs, falarmos sobre uma

    doutrina indiana ou hindu, a qual poderia ser

    de interesse apenas para os indianos, antrop-

    logos ou pessoas apaixonadas por culturas ex-

    ticas. No entanto, este conhecimento vdico

    realmente interessante porque ele transcendeas limitaes da cultura mundana e atinge um

    nvel universal. E qualquer coisa universal

    interessante para todo mundo. Os Vedas so

    eternos e no tm origem mundana. Os estu-

    diosos materialistas jamais encontraram um

    incio ou um ponto de partida para os Vedas,

    porque o conhecimento vdico tem sempre

    existido. No algo que pertena a alguma

    seita, pas, religio ou perodo de tempo.

    Hridayananda das Goswami

    1.1 Cincia espiritual?

    Cincia definida no dicionrio Oxford comoum ramo do conhecimento que requer estudo emtodo sistemticos, e espiritual como do espritoou alma humana, no fsico ou mundano. Contrrio crena comum, espiritualidade no algo quedepende apenas do praticante, o que absurdo.Isto significaria que o aspecto mais fundamental da

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    realidade, Deus e todas as coisas relacionadas comEle estariam sujeitas ao ponto de vista individual;seriam definidos pelo capricho pessoal. Em outraspalavras, acreditar dessa forma possuir uma nooinflada de autograndeza at o ponto de crer que Deusseja definido pelo indivduo, e no ao contrrio.

    muito mais racional compreender que Deus no

    muda, porm nosso prprio conceito dEle pode variarde acordo com os nossos atuais desejos, situaes econhecimento acerca dEle, etc. Um exemplo disso o Sol. A qualquer momento, o Sol o mesmo paratodas as pessoas na Terra; no entanto, para algumele pode parecer muito brilhante e quente, e paraoutra pessoa, apenas uma luz vaga e fria que penetraatravs de uma espessa camada de nuvens, e aindapara outrem, ele est completamente ausente (noite).Ademais, a noo de que o meu Deus pode vencer oseu Deus, como observado nos casos de guerras e

    perseguies religiosas; o meu caminho o nico,siga-o ou seja condenado para sempre, um usopervertido da espiritualidade no mundo para satis-fazer as causas polticas, pessoais e mundanas.

    Deve-se notar que para usar o termo cinciano implica que, por conseqncia, devemos aplicaras mesmas tcnicas que utilizamos para estudar osseres inferiores ou a matria inerte, as leis fsicas,etc. Voc no pode aplicar as tcnicas materiais e osinstrumentos e sentidos materiais imperfeitos paraestudar aquilo que, por definio, no material.

    Se, por cientfico, nos referirmos cincia

    mundana, ento as regras para as provas e

    verificao devem fornecer apenas resultados

    materiais sem quaisquer resultados espirituais.

    Por exemplo, se eu afirmo que apenas os ter-

    mmetros podem testar objetivamente a reali-

    dade, logo fica preestabelecido que eu concluo

    que a nica coisa real no mundo a tempe-ratura. Se, por outro lado, por cientfico nos

    referimos simplesmente a um observador com-

    petente que capaz de verificar a verdade de

    uma afirmao em particular, ento devemos

    abranger a rea da experincia espiritual.

    Hridayananda das Goswami

    A caracterstica bsica de todo estudo cientficomaterial que o assunto de estudo est, de uma formaou de outra, sob o controle do cientista, atravs da

    fora ou da submisso. Isto se aplica inclusive ao estudode foras mais poderosas, tais como o cosmos ou aenergia nuclear. O assunto nestes casos pode ser es-tudado com um nmero de diferentes instrumentos emtodos. Isto acontece porque, como entidades vivas,possumos, em graus variados, poder sobre a materialinerte e sobre as entidades vivas inferiores.

    Este mtodo, contudo, no pode ser aplicado a umser superior, material ou espiritual. Deus o Ser Su-premo, e dessa forma, certamente no podemos for--lO submisso de nossa anlise. Caso desejemos

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    saber algo sobre Ele, devemos seguir o Seu mtodo,nos submetendo aos Seus termos. Devemos nos sub-meter a Ele, e no ao contrrio. Este princpio nonos totalmente estranho. At mesmo na nossa expe-rincia diria podemos observar este fato. Por exemplo,se algum deseja obter uma educao universitria,a pessoa tem que se submeter, de boa vontade, a lite-

    ralmente milhares de regras, normas de conduta, pro-gramaes, ordens, testes, obrigaes financeiras, etc.Voc tem que revelar informaes pessoais e pediruma oportunidade para obter conhecimento.

    De uma maneira muito interessante, as pessoaspensam que para obter conhecimento acerca de Deus,o mais elevado e importante conhecimento, no sonecessrias quaisquer qualificaes ou esforos, oque implicaria que as universidades so superioresao prprio Deus! E Deus estabeleceu Suas regras:se voc quer Me conhecer, leia Minhas escrituras,

    busque conselhos dos Meus devotos, renda-se a Mim.O conhecimento acerca de Deus s pode vir de Deus.Quem mais poderia produzir tal conhecimento?Logicamente, impossvel abordar esta questo dequalquer outra forma.

    1.2 Dvida cega e f cega

    Parece que nossa cultura moderna teme a

    crena falsa muito mais que a dvida falsa,

    pois h na nossa cultura algo intelectualmente

    provocante em relao duvida, um fenmeno

    que interpreto como igual e oposto, e com

    freqncia no considerado, resposta histria

    religiosa europia.

    Hridayananda das Goswami

    Na abordagem de tpicos espirituais, devemosser cuidadosos quanto aos dois extremos: f cega edvida cega. Devemos ter a cautela de trilhar o cami-nho do meio, caso desejemos desenvolver uma vidaespiritual saudvel. A f cega nos levar a aceitarinverdades apoiadas puramente na crena daquelapessoa ou instituio da qual se depende para umaorientao espiritual. A dvida cega nos levar anegligenciar verdades espirituais com base unica-mente nas prprias opinies pessoais. A psicologiamoderna explica este fenmeno. Um psiclogo da

    Hungria me escreveu dizendo que as pessoas tmconstrudo seu mundo cognitivo-emocional em tornoda crena ordem-zero (esta crena seu fulcro deArquimedes, embora ilusrio; e do tipo inquestio-nvel e indubitvel), e circundado seu preciosomundo com filtros de mo-nica. O que quer quese encaixe na sua linha de pensamento-sentimento admitido; o restante simplesmente excludo.Tudo isso inteiramente normal, e na psicologia denominado condicionamento. As pessoas no sonecessariamente conscientes do que est ocorrendo;

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    afinal de contas, um processo que acontece ao longode certo perodo de tempo. Em outras palavras, con-vencidas de que Deus no existe, por quaisquer quesejam suas razes pessoais/emocionais, tais pessoassimplesmente consideram todos os assuntos relacio-nados com a espiritualidade nada mais que imaginaoe, portanto, so incapazes de questionar seriamente o

    tpico da espiritualidade, o que falar da dedicao detempo e esforo necessrios para de fato comearema compreender estes elevados temas.

    1.3 Quatro abordagens para Deus

    Um determinado grupo de pessoas deseja negara existncia de Deus, negando automaticamentetodas as escrituras e informaes relativas a Ele, esubseqentemente todos os tpicos, apresentaes

    e concluses espirituais. Essas pessoas insistem na prova material de verdades espirituais. Espiritual, pela prpria definio da palavra, no-material.Por conseqncia, como podem provas materiais detpicos espirituais serem apresentadas? Em outraspalavras, colocando-se como muito cientficas e eru-ditas, as pessoas predispostas a negar Deus atacam osassuntos espirituais com o argumento de que a vidaespiritual apenas baseada em f, e no em fatos. baseada em fatos, porm de natureza espiritual, oque exige a elevao de ns mesmos plataforma

    espiritual para obter confirmao. Uma vez queaceite este fato, voc ainda mantm sua intelignciae bom senso. Voc ainda capaz de racionalizar,analisar e pensar. Voc no se tornar um zumbi eaceitar cegamente tudo que colocarem para voc.Isto definido como fanatismo (uma aceitao semcrtica de informao) e mesmo as escrituras adver-

    tem contra este procedimento, posto que ele no uma prtica espiritual saudvel. Portanto, aqueles quedesejam seguir este atesmo radical, por definio,excluem a si mesmos de qualquer discusso espiritualsignificativa e s podem recorrer definies e emexplicaes de Deus e da vida espiritual a um nvelcom o qual sintam-se confortveis, utilizando-se determos como imaginao, mito, pio do povo,etc. Essas pessoas, portanto, aceitam enormes e pro-fundos buracos em sua viso de mundo, como nuncatendo acesso a importantes questes, tais como: qual

    o significado da vida, como so criadas e mantidasas leis da natureza, etc.

    Um segundo grupo aceita, em variados graus, queDeus e a alma existem, possuem uma vaga, mas forteimpresso de que existe algo alm da matria, pormnegam a validade de qualquer escritura conhecida.Isto freqentemente acontece ao ver a larga variedadede religies, suas inglrias histrias, e suas deficin-cias em transmitir uma cincia espiritual clara elgica. Como resultado, tornam-se confusas e deses-timuladas. Infelizmente, essas pessoas condenam a

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    si prprias a um infindvel oceano de especulaomental. Pois, como pode um ser humano, limitado emtodos os aspectos, obter por seus prprios esforosqualquer compreenso acerca do Senhor Supremo,deliberadamente negando informaes fornecidaspor Ele mesmo? Como elas podero obter tal conhe-cimento sutil e profundo? Esse tipo de pensamento

    to-s o produto do orgulho, uma das maiores bar-reiras na vida espiritual.

    Uma outra classe adota uma abordagem maissectria a Deus, convencida de que sua religio e suaescritura a nica fonte da verdade. A confuso que de fato existe um processo cientfico para abor-dar e compreender Deus, cujos elementos podemser vistos em todas as religies, contudo nenhumareligio padro (Cristianismo, Judaismo, Islamismo,etc.) formalmente o apresenta ou explica de formaclara e completa. Assim, o praticante srio dessas re-

    ligies, mesmo sem estar ciente do aspecto cientficode sua prtica, realmente alcana vrios nveis deauto-realizao, os quais, por sua vez, o convencemda verdade e validade de sua religio. Sem identificaros elementos desse processo no universo geral de seuconhecimento religioso em particular (a qual poderou no incluir inverdades, dogmas ilgicos, prticasculturais, etc.), e assim no o percebendo em outrasreligies, ou mesmo em outras denonimaes de suaprpria religio, ele ento afirma que seu caminho o nico. Isto, naturalmente, muito frustrante para

    algum que esteja seriamente empenhado em pes-quisar Deus, pois o desestimula a prosseguir adiante.Porm, a soluo no descartar todas as religiescomo incapazes de nos auxiliar a compreender Deus,mas nos aprofundarmos para vermos no subestratode todas as religies qual o processo. Fazendo partedessa classe, os mais mundanos so apegados sua

    crena exatamente como os outros, ou eles prprios,podem ser apegados sua nao, vizinhana, clubesde esportes favoritos, famlia, etc. Em outras pala-vras, sua religio serve como mais uma designaomaterial de quem eles so, um outro rtulo paraadicionar sua lista (humano, homem/mulher, tal equal nome, essa profisso, americano, chins, etc.).Como resultado deste tipo de identificao, em nveismais extremos, considera-se os outros fundamental-mente diferentes ou separados. Conseqentemente,isto abre as portas para todos os tipos de atrocida-

    des, pois se voc no se identifica de forma algumacom algo, ento voc no se incomodar se aquilofor danificado ou destrudo. Racismo, sexismo,perseguio religiosa e especiesmo (matana deanimais inocentes para prazer e destruio do meioambiente) so exemplos deste tipo de mentalidade.Naturalmente que a religio apenas um dos rtu-los que conduzem a esta mentalidade, contudo istopor si s tem feito com que um grande nmero depessoas evite as prticas espirituais como perigosase sem sentido.

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    Por ltimo, h um conjunto de pessoas que acei-tam a possibilidade da existncia de Deus e da almae querem obter mais informaes, no por sua frtilimaginao, mas por meio de sua sinceridade einteligncia. Pessoas que buscam uma informaouniversal, concisa e clara que satisfaa todas asdvidas espirituais e explique cada aspecto bsico

    da existncia em suma, pessoas que buscam umacincia espiritual.

    2. Voc no o seu corpo

    A primeira coisa que deve ser entendida que vocno o seu corpo. Voc uma entidade espiritual eter-namente consciente. Krishna, um nome de Deus usadonas literaturas vdicas, afirma noBhagavad-gita:

    Nunca houve um tempo em que Eu no existis-se, nem voc, nem todos esses reis; e no futuro

    nenhum de ns deixar de existir. (Bhagavad-

    gita, 2.12)

    Assim como, neste corpo, a alma encarnada

    passa seguidamente, neste corpo, da infncia

    juventude e velhice, similarmente, a alma

    passa para um outro corpo aps a morte. Uma

    pessoa sbria no se confunde com tal mu-

    dana. (Bhagavad-gita, 2.13)

    O primeiro exemplo que Krishna nos d aqui bastante prtico. Numa certa poca, voc tinha umcorpo de beb. Mais tarde, voc adquiriu um corpode criana. Se voc comparar seu corpo de beb comseu corpo de criana, perceber que tudo relacionadocom eles diferente. So corpos diferentes. Em se-guida, voc obtm um corpo de um adulto jovem.

    Novamente, aquele corpo totalmente diferente,mesmo em termos das clulas contidas nele, docorpo que voc possua como criana. Bem maistarde, voc ter um corpo muito velho, o qual sercompletamente diverso daquele seu corpo jovemadulto. Dessa forma, o processo de transmigraoda alma est visivelmente ocorrendo.

    Similarmente, at mesmo no momento da morte,voc obtm um novo corpo. Talvez voc no sejacapaz de perceber esse fenmeno, mas Deus podenos relatar porque Ele pode ver. Este um bom exem-

    plo do por que ns precisamos de um conhecimentosuperior. Por meio de nossas prprias tentativas emalcanarmos esta informao, somos incapazes dediscriminar o que ocorre no momento da morte.No importa por quanto tempo e quo arduamen-te tentemos, ainda assim no seremos capazes decompreender, mas Krishna, Deus, que sabe de tudo,revela a verdade para ns aqui, e portanto, podemosimediatamente compreender.

    Uma outra maneira de compreender que vocno seu corpo atravs da anlise de suas partes.

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    Ningum pode contradizer o argumento de que vocno suas pernas. Se voc perder suas pernas, certa-mente voc no se tornar uma outra pessoa. Vocpermanecer a mesma pessoa, agora apenas seu cor-po no ter mais as pernas. O mesmo se aplica aosseus braos, nariz, lngua, orelhas e olhos. A medi-cina moderna nos permite o transplante de rgos,

    de forma que possamos ter confirmao cientfica deque no somos nossos crebros, fgados, estmagos,pulmes, corao, intestino, etc. Dessa forma, vocpode identificar cada parte ou rgo de seu corpo ecompreender claramente que voc no parte algumadele. Conseqentemente, mais uma vez, voc no o seu corpo.

    Algum pode afirmar que, embora seja verdadeque ns no somos nossos corpos, num sentidomais sutil, somos nossa conscincia. Isto per-feitamente verdadeiro. De fato, a conscincia o

    sintoma da alma. Onde h conscincia, no importaquo limitada seja, tal como aquela encontrada empequenos micrbios, existe a alma. No obstante,os materialistas declararo que a conscincia existecomo o resultado de nosso crebro. Isto no umfato. Um crebro perfeitamente formado, num corpoperfeitamente constitudo, poder no manifestar aconscincia, caso a alma tenha abandonado aquelecorpo.

    Os estudos modernos tm identificado pessoasdesprovidas quase completamente de substncia ce-

    rebral, as quais, no entanto, so pessoas inteiramenteconscientes e seres humanos capazes. Um casoparticular na Inglaterra foi de um homem jovem quehavia se graduado com louvor em matemtica numauniversidade inglesa de prestgio. Mais tarde, se des-cobriu que ele tinha apenas entre 2-3% de massa cin-zenta que normalmente encontrada nos humanos. O

    crebro de fato um condutor da conscincia, e noum gerador dela. como uma televiso, a qual porsi s no gera imagens, mas conduz aquelas imagenstransmitidas at ela. Seu verdadeiro eu, a alma, oeterno gerador da conscincia.

    2.1 Somos todos iguais

    As diferenas que vemos entre uma entidade vivae uma outra so diferenas materiais e no espirituais.

    O melhor modo para entendermos isto tomarmoso exemplo da eletricidade. A mesma energia eltricanum determinado aparelho gera frio e num outro geracalor. A energia a mesma, mas os resultados soexatamente opostos. Igualmente, a energia de umausina eltrica que usada para acender uma lmpadade 20W nos traz pouca iluminao, mas a mesmausina eltrica pode acender grandes refletores deestdios, com imenso poder de iluminao.

    Analogamente, conquanto todas as almas sejamiguais, temporariamente uma assume o corpo de

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    um germe insignificante e uma outra a do ser maispoderoso do universo (Senhor Brahma). De acordocom o corpo material assumido e o tipo de crebropresente, aquela mesma conscincia, alma, refletirum particular tipo de comportamento. como umalmpada branca, que pode ser coberta com um filtrovermelho e emitir luz vermelha. A mesma lmpada

    branca, quando coberta com um filtro verde, emitirluz verde.

    Assim, a mesma fonte de conscincia, a alma,no corpo de um cachorro latir, e no corpo de umpoeta recitar poemas. Isto fcil de compreender,se novamente lembrarmos nossos diferentes corposnesta vida e os diversos comportamentos que exi-bimos, tais como chorar quando beb, desejar estarprximo me enquanto criana ou estar ocupadoem alguma profisso quando adulto.

    2.2 Karma

    A compreenso deste simples ponto, ou seja, deque no somos nossos corpos, nos levar a imaginarpor quanto tempo estamos a transmigrar de um corpopara outro, quais corpos temos obtido e a razo disso.Mais importante, se formos realmente inteligentes,desejaremos saber como pararmos com este processo.Por agora, deixaremos esta ltima questo sem respos-ta, e discutiremos brevemente os primeiros pontos.

    As literaturas vdicas explicam que ns temosestado transmigrando de um corpo para o outro desdetempos imemoriais. O caminho da alma no pode servasculhado em termos prticos. Estende-se muito,muito alm da existncia deste universo temporrio,o qual de acordo com as escrituras h existido pormais de 150 trilhes de anos. O nmero real sim-

    plesmente inconcebvel, alm do mbito da nossaconcepo de tempo. Os Vedas tambm explicam queexiste um total de 8.400.000 diferentes categorias devida, e que j passamos por todas elas, incontveisvezes. E qual o motivo para esta fatigante e dolo-rosa jornada? Nossos prprios desejos materiais e assubseqentes reaes que eles tm causado, determi-nando o que conhecido como a lei do karma.

    Em snscrito, karma significa simplesmente ao.Portanto, a lei do karma significa literalmente a leide ao (e sua subseqente reao). Qualquer ativi-

    dade material ter uma conseqncia material. Umapretensa atividade boa ou piedosa ter um resultadobom ou piedoso, e uma atividade m ou pecaminosaacarretar um mau resultado. Esses resultados noso sempre imediatos e, portanto, ultrapassam o pe-rodo de existncia do presente corpo habitado pelaalma. s vezes, as pessoas comentam que no justosofrer os resultados de vidas passadas nesta vida atu-al, pois, afinal de contas, no conseguimos lembraraquelas vidas ou as atividades que nos levaram asofrer no momento. Este, entretanto, um argumento

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    pueril. Se algum enlouquece completamente sob ainfluncia de txicos, tais como drogas ou o lcool,e comete assassinato, ela pode muito bem no relem-brar suas aes ao tornar-se sbria. Isto significa queela seja inocente? No, ela utilizou seu livre arbtrioem prejuzo de outrem assim ela responsvel. Seessa pessoa houvesse salvo as vidas de criancinhas,

    em seu estado de estupor, de um edifcio em chamas,ainda assim ela seria homenageada como um grandeheri, mesmo se no lembrasse do fato. Pensar quevoc no responsvel pelas suas atividades dasvidas passadas o resultado da no-compreenso deque voc no o seu corpo. Conseqentemente, vocacredita que as atividades que voc executou numcorpo anterior foram realizadas por outra pessoa.No foram. voc mesmo. A psicologia modernanos mostra que, muito embora no possamos, cons-cientemente, lembrar todas as nossas atividades,

    inconscientemente elas nos influenciam. Logo, con-quanto voc no seja capaz de lembrar todas as suasvidas prvias e suas atividades relativas a ela, vocas transporta no seu inconsciente, e isto influenciaseus desejos e atividades do presente. Ademais, seDeus nos infligisse os resultados de nossas atividadesimediatamente aps realiz-las, ento nosso livrearbtrio seria sem sentido. Temos o livre arbtrio esomos responsveis por nossas aes. As duas andamjuntas. No existe uma independente da outra.

    Assim, de acordo com seus desejos, voc age de

    certa forma. Estas aes geram um determinado tipode responsabilidade. Para sermos simplistas, comouma conta bancria onde as atividades piedosas soos depsitos, e as atividades pecaminosas constituemas retiradas. O balano determina sua vida atual, ecomo voc se comporta determina seu destino, seuprximo corpo. Sua conta crmica determina quanta

    felicidade e quanto sofrimento voc experimentar.O ponto central que voc gradualmente aprender ase comportar de forma adequada, como desenvolverqualidades nobres, e, portanto, livrar-se- de desejosinferiores e nocivos.

    A compreenso apropriada do conceito de kar-ma proporciona liberao e autonomia. Quandoapropriadamente compreendido, voc verificarque no h tal coisa como uma vtima, somos osnicos responsveis pelo o que nos acontece. Noimporta o que estamos passando, no importa quais

    sejam as circunstncias imediatas, o simples fato que somos os nicos responsveis pelo o que estejaacontecendo. Ningum, exceto o prprio Deus, tema capacidade ou o poder de causar-lhe algum bemou mal, o qual voc no tenha provocado. E vistoque Deus todo-bondoso, e seu real melhor amigo,Ele certamente no lhe causar dano algum; logo,voc no tem nada a temer exceto seu prprio eu,suas prprias decises e aes. Voc tem completopoder para decidir sobre seu futuro. Ele est inteira-mente em suas mos. Para saber como agir para seu

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    contnuo progresso, voc deve novamente dependerde um conhecimento superior, da mesma forma quevoc deve consultar seu advogado para saber o que legal ou ilegal. As opinies pessoais e o voto popularno sero teis nas tomadas das decises voc deveconsultar uma autoridade no assunto.

    2.3 Um outro fator que determinasua situao

    O Senhor Krishna explica noBhagavad-gita que,alm do seu karma, seus pensamentos no momentoda morte tambm determinam seu futuro. Este um tremendo poder que Ele nos concedeu, o qualtemos, infelizmente, feito mau uso desde temposimemoriais. Caso o tivssemos utilizado em suatotalidade, no estaramos aqui. Krishna explica no

    Bhagavad-gita:

    E todo aquele que, no fim de sua vida, aban-

    done seu corpo, lembrando-se unicamente

    de Mim, no mesmo instante alcana Minha

    natureza. Quanto a isto, no h dvida. (Bhaga-

    vad-gita, 8.5)

    Os Vedas do um exemplo comum de mau usodeste poder, quando um homem no seu leito de mortefixa seus pensamentos em sua esposa. Como resultado,

    ele ter que assumir o corpo de uma mulher no seuprximo nascimento. Naturalmente que o tipo decorpo de mulher, a famlia e quais as espcies deprazeres e dores ela experimentar na sua vida serodeterminados pelo seu karma acumulado. Ademais,se ele assumir um corpo humano imediatamenteaps a morte ou depois de uma longa jornada atravs

    de corpos infernais e aqueles de animais inferiores,tambm ser determinado pelo seu karma. Observe,entretanto, que Deus muito gentilmente enuncia quese ns morrermos pensando nEle, iremos adquirirSua natureza de imediato. No importa o que te-nhamos feito, no importa qual seja o nosso karma.Isto nos d uma pista de como devemos nos com-portar nesta vida para o nosso benefcio supremo, oque ser explicado mais tarde.

    2.4 Alm do corpo: nossa naturezaverdadeira

    Devemos assim tentar compreender qual nossaverdadeira natureza, tendo estabelecido que no somosnossos corpos. O Senhor Krishna diz noBhagavad-

    gita:

    Para a alma, em tempo algum existe nasci-

    mento ou morte. Ela no passou a existir, no

    passa a existir e nem passar a existir. Ela

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    no nascida, eterna, sempre-existente e pri-

    mordial. Ela no morre quando o corpo morre.

    (Bhagavad-gita, 2.20)

    Ele tambm nos descreve como Minhas eternaspartes fragmentrias (Bhagavad-gita 15.7). Os Vedasclaramente explicam que somos partes integrantes

    de Deus. Isto significa que somos qualitativamenteiguais a Deus, e quantitativamente diferentes. Nssempre existimos como seres individuais, eternamen-te relacionados com Deus. Nunca perdemos nossasidentidades ou nos fundimos em Deus para nos tornar-mos o nada. Como tais, somos naturalmente ligados aDeus como Seus eternos servos amorosos. A palavraservo adquiriu uma conotao negativa devido aonosso orgulho e a nossa restrita concepo materialis-ta do mundo em termos de um trabalhador inferior.No entanto, quando falamos de um servo amoroso,

    nos referimos a algum que serve uma outra pessoamotivada pelo amor, e no porque forado a assimfazer. O melhor exemplo material pode ser observa-do na relao entre uma me e seus filhos, ou entreuma pessoa e seu animal de estimao. Uma meamorosa verdadeira superar quaisquer dificuldadespara servir seu filho e dar a ele tudo que ele preci-sar. Um dedicado dono de um animal de estimaopacientemente esperar enquanto ele faz suas neces-sidades fisiolgicas e, s vezes, tambm faz o asseio,mesmo se tal dono for um poderoso lder poltico ou

    uma pessoa de negcios. Portanto, por amor, aquelapessoa, de boa-vontade, se submete a uma posioinferior. claro que servir a Deus infinitamentemais prazeroso que qualquer um desses exemplosde servio por numerosas razes. Uma razo osimples fato de que qualquer que seja a qualidadeatrativa que possamos encontrar num determinado

    objeto de nosso servio amoroso ser encontrada emum grau infinito em Deus.

    3. Compreendendo os conceitosbsicos da natureza material

    Tendo compreendido claramente quem voc real-mente , uma alma espiritual eterna e no o seu corpo,agora devemos tentar entender alguns conceitos bsi-cos da natureza material. Este conhecimento impor-

    tante a fim de saber como agir enquanto estamos nanatureza material. O Senhor possui ambas as energiasmaterial e espiritual, e progresso adequado na cinciaespiritual significa avano de conhecimento de ambas.Contudo, mais uma vez, a aquisio de conhecimentomaterial adequado no significa unicamente dependerde nossos sentidos imperfeitos, instrumentos e cre- bro, mas tambm aceitar o conhecimento perfeitoproveniente de Deus atravs da sucesso discipular demestres espirituais (ver Apndice). As vtimas da pre-tensa educao moderna comumente se sentem muito

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    transtornadas neste ponto. Infelizmente, tal educaomoderna nos ensina que negar a existncia de Deus uma deciso pessoal perfeitamente aceitvel vistoque o assunto no de grande importncia pormno depositar inteira f nos grandes cientistas umclaro sinal da absurda ignorncia primitiva. Entretanto,na verdade, o conhecimento material nas escrituras

    vdicas muito til para a humanidade e no temsido desacreditado pela cincia moderna. Tal conhe-cimento lida com os aspectos estruturais mais sutisda realidade material, um campo que a cincia atualtem dificuldades de explorar e compreender.

    3.1 Os elementos bsicos danatureza material

    Primeiro vamos compreender alguns elementos

    bsicos desta energia material. Deus, Krishna, afirmanoBhagavad-gita:

    Terra, gua, fogo, ar, ter, mente, inteligncia

    e falso ego juntos, todos estes oito elementos

    formam Minhas energias materiais separadas.

    Alm dessas, Arjuna de braos poderosos,

    existe outra energia, Minha energia superior,

    que consiste nas entidades vivas que exploram

    os recursos dessa natureza material inferior.

    (Bhagavad-gita, 7.4-5)

    Portanto, aqui aprendemos vrios pontos impor-tantes da estrutura da realidade. Em primeiro lugar,aprendemos que Deus tem duas energias principais a espiritual (as entidades vivas, as almas, que so aenergia superior), e a material (inferior, energia semvida). Embora sejamos energia espiritual, nossoscorpos so feitos de energia material. No obstante,

    deve-se perceber que ambas so energias de Deus.No devemos nos deixar ser enganados pela apa-

    rente simplicidade das cinco primeiras categorias deelementos materiais, apresentados para ns no noestilo dos livros textos de qumica, mas da perspecti-va fenomenolgica. Este texto est explicando obvio nossos sentidos podem perceber as cincoprincipais categorias da natureza material: slidos,lquidos, gases, energia radiante e espao. importan-te notar as trs energias materiais remanescentes, asaber, mente, inteligncia e falso ego.

    Que a mente, a inteligncia e o falso ego so ele-mentos materiais muito revelador e til sabermos.Primeiramente, podemos observar que as oito ener-gias materiais variam da grosseira para a sutil. Depoisdo ar (gases), o qual podemos ainda perceber, existeo ter (espao ou vcuo) que imperceptvel por sermuito sutil, porm ainda mensurvel. Alm deste esta mente, a qual muitssimo sutil para ser tocada oumedida por nossos instrumentos materiais grosseiros,no entanto, sabemos de sua existncia, pois estamosconstantemente utilizando-a. A inteligncia, como

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    um elemento material, ainda mais sutil e no podeser estudada num laboratrio, mas ainda pode ser percebida por seu controle sobre a mente (quandoutilizada!). Por ltimo, o mais sutil de todos os ele-mentos materiais o falso ego, ou em outras palavras,nossa falsa concepo de quem e o que ns somos.

    3.2 Analisando nossos corpos

    Podemos entender ento que, na realidade, nossoscorpos so formados de duas partes. Uma parte ocorpo grosseiro, composto de cinco elementos mate-riais (slidos, lquidos, gases, energia radiante e espa-o). Este corpo aquele que podemos tocar, sentir,etc. A outra parte o nosso corpo sutil, compostode mente, inteligncia e falso ego. Este corpo no destrudo no momento da morte, acompanha-lhe ao

    prximo corpo. aqui que so mantidas as experin-cias inconscientes de suas vidas passadas. Voc sabandona seu corpo sutil de forma definitiva quandoseu ciclo de nascimento e morte chega ao fim. At l,voc est preso a ele. Naturalmente, alm de tudoisso e mais sutil que qualquer outra coisa est seu euverdadeiro, espiritual. E ainda mais sutil o prprioDeus. Dessa forma, podemos compreender porquea cincia material jamais descobrir os segredos doesprito, muito menos aqueles do prprio Deus. Esteconhecimento muito sutil para ser percebido por

    qualquer mtodo material. como tentar isolar umtomo com uma colher. O instrumento assaz gros-seiro para o objetivo almejado.

    A compreenso destes elementos mais sutis danatureza material ajuda a esclarecer uma idia err-nea de que mentalidade material ou atividade ma-terial significa apenas aquilo que envolve dinheiro,

    poder, etc., ao passo que os assuntos emocionais,artsticos e filantrpicos no so de certa formamateriais. No assim. Os assuntos emocionais,artsticos e filantrpicos, como qualquer outra coi-sa, se no forem canalizados para a espiritualidade,tambm so materiais. Pois a mente e a intelignciaso ambas materiais. Portanto, seus subprodutosso to materiais quanto os subprodutos de outroselementos materiais.

    De uma forma muito interessante, isto tambmsoluciona o mistrio de fantasmas e espritos. s

    vezes, devido a um grande erro de nossa parte, talcomo o apego excessivo a nossa casa ou ao nossocorpo, ou algum outro desejo menos inteligente, nosencontraremos temporariamente desprovidos de umcorpo grosseiro, com apenas um corpo sutil. Nessacondio, agiremos como um fantasma ou esprito.Estes seres so usualmente muito infelizes e frus-trados, e, portanto, tendem a ser um distrbio paraaquelas pessoas que se deparam com eles. Por outrolado, alguns tendem a ser muito teis, como podeser visto no caso de curadores espirituais. Outros

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    tentam compartilhar suas percepes, e assim, tentamcontatar os seres humanos, que acreditam falsamenteque esto ouvindo vozes do mundo espiritual. Esteno o fato verdadeiro. Se voc realmente desejaouvir vozes do mundo espiritual, e voc deveria,voc tem que escutar aquelas faladas por um mestreespiritual autntico, ou aquelas faladas por Deus e

    registradas em escrituras genunas. uma verdadeeterna que a revelao espiritual existe e vem doseu corao, mas para evitar complicaes, maisseguro aceitar a orientao do mestre espiritual comrelao a este assunto, para que voc no interpretemal alguma elucubrao de sua mente material ouaquela proveniente de um ser espectral como sendouma revelao real de Deus.

    3.3 Aplicando este conhecimento

    na sua vida

    Compreendendo melhor quem somos, e quais soas subdivises de nossos corpos, nos capacitamos aassumir o real controle de nossas vidas. Os Vedasexplicam que temos cinco sentidos funcionais (osps, as mos, o nus, os genitais e a boca) e cincosentidos cognoscitivos (ouvidos, olhos, mos, lnguae pele). Acima destes est a mente, a qual tambmcontada como um dos sentidos, mas tambm agecomo o controlador deles. Superior mente est a

    inteligncia, que pode controlar a mente. Acima dainteligncia est o falso ego que controla a intelign-cia. Contudo, quando voc comea a progredir nacincia espiritual, voc compreende que seu falso egono seu aspecto mais elevado. Voc entende quevoc de fato uma alma espiritual. E quando voccompreende que uma partcula espiritual eterna,

    um servo amoroso de Deus, ento voc conseguesuperar seu falso ego. Portanto, seu eu verdadeiro,sua alma, est acima de todos os outros aspectos deseu corpo. Por conseqncia, voc tem o poder decontrolar sua inteligncia e, subseqentemente, suamente e seus sentidos. Isto coloca voc no comando.At que voc entenda isto, as mesas esto viradas eos sentidos do corpo dominam voc. Eles subjugamsua mente e sua inteligncia, para no falar de seueu, sua alma. Assim, sua vida se perde.

    Exceto por aqueles que so avanados em cincia

    espiritual, a maioria das pessoas na terra, nos dias dehoje, so totalmente dominadas pelos seus sentidos.Embora este fato no seja sempre evidente, umaobservao mais atenta revelar esta verdade. Vicia-dos em drogas, fumantes, alcolatras, jogadores eos sexualmente descontrolados so casos claros depessoas dominadas pelos sentidos. A intelignciadelas est basicamente ausente. Neste ponto, nemmesmo o falso ego est atuando, os sentidos estoagindo desenfreadamente. Entretanto, no devemosnos enganar, pensando que a distino to simples.

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    Mais uma vez, a natureza no to grosseira. mui-tssimo sutil. Na verdade, como explicaremos maistarde, toda escolha que voc faa, toda ao quevoc empreenda se no estiver baseada no seu euverdadeiro como uma alma espiritual eterna, partefragmentria integrante de Deus, est certamenteditada pelos seus sentidos, mente descontrolada,

    inteligncia desvirtuada ou falso ego. Sempre queisso ocorre decerto voc est se prejudicando, pelasimples razo de que aqueles so todos elementosmateriais inferiores, os quais no tm relao dire-ta com voc. Voc est acima deles, uma energiasuperior. Pela prpria definio da palavra, algosuperior no deve ser controlado por algo inferior.Um professor na sala de aula no est sob o controlede seus alunos. As crianas no podem se sobrepors decises de seus pais. Um soldado no pode darordens ao seu superior. Quando isto acontece, cer-

    tamente h problemas.Significativamente, o termo auto-realizao

    quer dizer que voc realiza quem voc realmente ,quem seu eu verdadeiro. O termoswami significamestre. Ns tambm encontramos o termogoswami,no qualgo significa sentidos. Embora alguns gostemde usar o ttulo livremente, na verdade, ele s se apli-ca quelas almas auto-realizadas que se tornarammestres de suas mentes (assim, automaticamente,conquistando os sentidos e o corpo), inteligncia efalso ego. Isto s pode ser alcanado quando voc

    compreender que a mente, a inteligncia e o falsoego so elementos materiais da criao e que o seueu verdadeiro est alm deles. A no-compreensodeste fato a base para toda espcie de elucubraomental e idias errneas concernentes aos nossosobjetivos e necessidades verdadeiros, individual ecoletivamente.

    3.4 Os trs modos da naturezamaterial

    Os Vedas aprofundam-se na estrutura da naturezamaterial e explicam o que est subjacente at mesmoa estas oito energias materiais separadas. O SenhorKrishna afirma noBhagavad-gita:

    A natureza material consiste em trs modos

    bondade, paixo e ignorncia. Ao entrar emcontato com a natureza, Arjuna de braos

    poderosos, a entidade viva eterna condicio-

    nada por estes modos. (Bhagavad-gita, 14.5)

    O assunto acerca dos modos da natureza material pode ser um pouco difcil de compreender noincio, visto que sua influncia todo-penetrante eprofunda. Uma forma de compreend-los um tantosimplista, mas til. At o momento, temos explicadoque ns somos a alma, a entidade viva real, e que

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    somos circundados por estas oito energias materiaisseparadas. Agora, as energias materiais no sovivas, so inertes. Sem a fora da entidade viva e/ouDeus, estas energias so neutras e imutveis. Para opropsito de nosso exemplo, podemos imagin-lascomo uma grande bola de argila. As entidades vivasso ao, fora, objetivo, etc., e para nosso exemplo,

    podemos imagin-las como os oleiros. Quando voccombina argila e um oleiro, voc espera algum tipode atividade e os conseqentes resultados. O que no bvio qual a qualidade da atividade, e qual o tipode resultados que voc pode obter. Aqui, tipo e quali-dade representam os trs modos da natureza material.Os modos determinam a natureza da atividade e seuresultado. Krishna explica isto quando Ele diz:

    Confusa, a alma espiritual que est sob a

    influncia do falso ego julga-se a autora das

    atividades que, de fato, so executadas pelostrs modos da natureza material. (Bhagavad-

    gita, 3.27)

    Estes trs modos so de certa forma como as trscores primrias, vermelho, azul e amarelo. Exatamentecomo possvel obter qualquer cor atravs da misturadestas trs, similarmente, uma infinidade de varia-es de atividade e qualidades pode ser produzidapela combinao destes trs modos. Vamos agoratentar entender algumas das qualidades bsicas de

    cada modo. Krishna, Deus, afirma no Srimad Bha-gavatam:

    Controle da mente e dos sentidos, tolerncia,

    discriminao, adeso ao prprio dever pres-

    crito, veracidade, misericrdia, estudo cuidado-

    so do passado e futuro, satisfao em qualquer

    condio, generosidade, renncia ao gozo dossentidos, f no mestre espiritual, embarao

    diante de ao inconveniente, caridade, simpli-

    cidade, humildade e satisfao dentro de si

    mesmo so qualidades do modo da bondade.

    Desejo material, grande af, audcia, insat-

    isfao mesmo no ganho, orgulho falso, orar

    por avano material, considerar-se diferente

    e melhor que os outros, gozo dos sentidos,

    impetuosa avidez por lutar, gostar de ouvir

    elogios, tendncia a ridicularizar os outros,

    proclamar as prprias faanhas e justificarsuas aes pela prpria fora so qualidades

    do modo da paixo. Ira intolerante, avareza,

    falar sem se referir a autoridade escritural,

    dio violento, viver como parasita, hipocrisia,

    fadiga crnica, desavena, lamentao, iluso,

    infelicidade, depresso, sono exagerado, falsas

    expectativas, temor e preguia constituem as

    principais qualidades do modo da ignorncia.

    (Srimad Bhagavatam, 11 Canto, Captulo 25,

    versos 2-5)

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    Visto que tudo dentro deste universo material influenciado pelos trs modos, muito importante re-conhecer em qual modo algo se encontra, ou em qualcombinao. H inmeros exemplos na literaturavdica, incluindo oBhagavad-gitae o Srimad-Bhaga-vatam, os quais nos do um melhor entendimento des-tes trs modos. A leitura destes escritos proporciona ao

    estudante srio uma compreenso cada vez mais apro-fundada destes importantes princpios espirituais.

    3.5 Os trs modos e voc

    importante compreender os modos por umarazo muito simples as qualidades dos modos noqual voc age ou se associa tero influncia diretano seu estado presente e destino futuro. O SenhorKrishna afirma:

    O resultado da ao piedosa puro, e se diz

    que est no modo da bondade. Mas a ao

    feita no modo da paixo resulta em misria, e

    a ao executada no modo da ignorncia re-

    sulta em tolice. Do modo da bondade, desen-

    volve-se o verdadeiro conhecimento; do modo

    da paixo, desenvolve-se a cobia; e do modo

    da ignorncia, desenvolvem-se a tolice, a lou-

    cura e a iluso. Aqueles situados no modo da

    bondade gradualmente elevam-se aos planetas

    superiores; aqueles no modo da paixo vivem

    nos planetas terrestres e aqueles no abominvel

    modo da ignorncia descem para os mundos

    infernais. (Bhagavad-gita, 14.16-18)

    Qualquer coisa que voc faa, coma, durma,oferea, escute... tudo tem uma certa qualidade que

    est mudando e lhe influenciando a todo instante. Ainfluncia dos modos da natureza no to demoradacomo aquela do karma, seus efeitos so muito maisperceptveis na sua vida atual. A escolha do modo dabondade em tudo que voc faz, evitando a paixo ea ignorncia, tanto quanto possvel, lhe dar o poderde melhorar sua vida rapidamente para seu grandebenefcio.

    Quanto mais voc se comportar num determinadomodo, mais aquele modo influenciar seus desejose atividades. Portanto, se, como a maior parte do

    mundo, voc se encontra basicamente nos modosda paixo e da ignorncia, a princpio, ser um tantodifcil optar pelo modo da bondade. No obstante,gradualmente, medida que voc se tornar influen-ciado pelo modo da bondade, suas aes e desejosestaro naturalmente na qualidade da bondade. Noentanto, devemos lembrar que como servos amoro-sos de Deus, como Suas partes integrantes, estamosoriginalmente alm dos modos da natureza; somossuperiores a eles. Dessa forma, como explicaremosmais adiante, quando agimos naquele estado original,

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    automaticamente superamos at o modo da bondade,o que falar da paixo e da ignorncia.

    3.6 Cosmografia

    Por ltimo, devemos dar uma rpida olhada na

    descrio bsica do universo e o que existe alm dele.O universo comparado a um ovo. Sua casca com-posta das oito energias materiais separadas, a saber,slidos, lquidos, gases, energia radiante, espao, men-te, inteligncia e falso ego. Comeando com terra,cada camada dez vezes mais espessa que a anterior.Logo, mesmo se voc pudesse tentar, no poderiaultrapassar o universo enquanto ainda se encontra,de uma forma ou de outra, condicionado por estasenergias materiais. No interior deste ovo universal,h bilhes e bilhes de planetas e estrelas.

    Os Vedas explicam que a vida abunda ao longode todo o universo, mesmo em lugares como o sol.A existncia dos pretensos aliengenas jamais foi umproblema para aqueles avanados na cincia espiri-tual. Como mencionado anteriormente, a cinciaespiritual, diferentemente da religio mundana, deforma integral aplicvel a todos esses seres vivos.No restrita a algum clculo terreno acerca do quepode ou no existir, nem tampouco exclusivamente prpria Terra. Uma anlise da informao apresen-tada nesta viso geral esclarecer este ponto.

    Os planetas deste universo so divididos emtrs categorias. Os planetas superiores, comoenunciado na ltima citao do Bhagavad-gita,so denominados planetas celestiais. Eles nodevem ser confundidos com o mundo espiritual.Eles so planetas materiais onde o padro de vida milhares de vezes superior ao nosso planeta

    terreno. O poder, longevidade, inteligncia, beleza,opulncia, e outras qualidades dos habitantes dosplanetas superiores so muitssimo superiores aosnossos. A segunda categoria inclui os planetasterrestres, como o nosso, onde experimentamosalgum sofrimento e algum prazer. E, por ltimo,temos os planetas inferiores. Entre os planetasinferiores, existem os mundos infernais, para ondeKrishna diz que aqueles que morrem no mododa ignorncia devem ir. Na verdade, o infernono um lugar mtico para onde as almas ms

    so destinadas a permanecer por toda eternidade,mas um dos muitos planetas terrveis aos quaisvoc pode ser enviado de acordo com seu karmae pensamentos no momento da morte. Visto que aalma est sempre transmigrando de um corpo paraoutro, o sofrimento experimentado nos mundosinfernais ter uma durao limitada, de acordo coma gravidade das atividades pecaminosas realizadas.Naturalmente que situaes infernais e sofrimentono so exclusivos queles mundos, como qualqueraluno de histria e eventos atuais poder saber.

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    Juntamente com este universo, existem incont-veis bilhes de outros universos. Os Vedas enunciamque este universo, onde nos encontramos, um dosmenores. Os mesmos princpios se aplicam a todosos universos. Portanto, mais uma vez, podemos verque, diferentemente das religies, a cincia espiritualno sequer limitada a este universo.

    Todos estes universos existem por um perodode tempo fixo de aproximadamente 311 trilhes dosnossos anos terrenos. Depois deste tempo, todos elesso destrudos, e o total de energia material conden-sado num estado uniforme, o qual tecnicamentechamado de mahat-tattwa. As entidades vivas queainda estejam no universo, no momento da disso-luo, so temporariamente absorvidas num estadode suspenso. Aps um certo tempo, os universos socriados novamente e as entidades vivas comeam apartir de onde elas haviam parado.

    3.7 Tempo

    Visto que o termo anos terrestres foi utilizado, faz-se necessria aqui uma breve descrio do tempo. A lite-ratura vdica explica que o tempo uma representaode Deus. Os Vedas tambm explanam, como a fsicaquntica moderna, que o tempo no se comporta da mes-ma forma em todas as partes. Nos planetas superiores, ainfluncia do tempo muito menor que na Terra.

    Especificamente, dito que um dia nos planetascelestiais igual a seis meses na Terra. Brahma, aprimeira e mais poderosa criatura do universo, vivedurante toda a durao do universo. Entretanto, todaa durao da criao universal igual a apenas cemdos seus anos. Em outras palavras, um dia e umanoite no seu planeta igual a 8,6 bilhes de nossos

    anos terrestres. Cada dia de Brahma dividido emmil kalpas (ou ciclos).

    Cada kalpa dividido em quatro yugas (oueras):satya, treta, dvarapa e kali. Satya yuga dura1.780.000 anos terrestres, e predominada pelomodo da bondade; a durao de vida de 100.000anos. Treta yuga dura 1.296.000 anos e predomi-nada pelo modo da paixo; a durao de vida de10.000 anos.Dvapara yuga dura 864.000 anos e predominada pelo modo da paixo e ignorncia; otempo de vida de 1000 anos.

    Interessante notar que alguns dos personagensdo Velho Testamento, que viveram na era anterior,chegaram a algumas centenas de anos. E finalmente,

    Kali yuga (nossa presente era a era das desavenas ehipocrisia), dura 432.000 anos e predominada pelomodo da ignorncia (qualquer dvida sobre isto, porfavor, consulte seu jornal local); a durao de vida de aproximadamente 100 anos.

    No presente, estamos a um pouco mais de 5.100anos de Kali yuga na 525akalpa do 50 ano de Brah-ma. Os Vedas fornecem posies astronmicas e

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    datas muito precisas para estas eras. Kali yuga, porexemplo, comeou no dia 18 de fevereiro de 3102a.C. Este ciclo de tempo est se repetindo em todosos universos materiais.

    3.8 O mundo espiritual

    Alm desses universos materiais temporriosencontra-se o mundo espiritual, conhecido como Vai-kuntha. E no por coincidncia Vaikuntha significasem ansiedade em snscrito. Como tal, no existepassado, presente ou futuro. O mundo material umreflexo pervertido do mundo espiritual. Portanto, huma variedade similar de atividades no mundo espi-ritual. A antiga concepo do reino espiritual comoum lugar onde as pessoas se sentam nas nuvens odia todo para tocar harpa, absolutamente entediadas,

    est totalmente errada. O divertimento verdadeiro experimentado l, naquele reino transcendental. Aliteratura vdica afirma que o mais elevado prazerque possa ser experimentado fora do reino de Vai-kuntha (sendo milhes de vezes mais elevado queos maiores prazeres deste planeta), como a guacontida na pegada de uma vaca, quando comparadoao ilimitado oceano de prazer experimentado nos pla-netas espirituais por seus habitantes. Voc no precisaesperar at morte para entrar em Vaikuntha e secertificar deste fato. medida que o estudante srio

    da cincia espiritual progride, ele gradualmente senteuma crescente bem-aventurana enquanto ainda estno corpo atual, rapidamente superando os prazeresmundanos deste mundo. No mundo espiritual, h umnmero ilimitado de planetas espirituais, cada umpresidido por uma forma particular de Deus. Entretodos esses planetas, est a morada mais elevada co-

    nhecida como Krishnaloka, o planeta de Krishna.

    4. Compreendendo Deus

    At agora, discutimos alguns tpicos muito impor-tantes: a diferena entre o corpo e a alma, as energiasmateriais separadas, os trs modos da natureza ma-terial, o universo e o que est alm dele e o mundoespiritual. No centro de tudo isto est Deus. Os Vedasso a nica extensa fonte de informao verdadeira

    acerca de Deus. Nenhuma outra escritura forneceuma riqueza to grande de detalhes. Visto que Deus infinito, e ns somos to diminutos e limitados, impossvel compreend-lO integralmente. Todavia,por Sua graa, poderemos compreender alguns deSeus aspectos mais importantes, quando Ele assimnos revelar. Vamos agora observar alguns dessesaspectos principais.

    O Senhor Supremo Krishna, conhecido como

    Govinda. Sua forma eternidade, bem-aven-

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    turana e conhecimento, e Ele a causa original

    de todas as causas. (Brahma-samhita, 5.1)

    Aqui, aprendemos trs pontos interessantes acercade Deus. Primeiro o nome dEle: Krishna (que emsnscrito significa todo-atrativo) e Govinda (que sig-nifica aquele que d prazer aos sentidos ou s vacas).

    Em outra oportunidade veremos porque se d estaimportncia vaca. Em segundo lugar, aprendemosque a forma de Deus sac-cid-ananda, eternidade,bem-aventurana e conhecimento. Esta a formado esprito puro eternidade, bem-aventurana econhecimento. Aqui no mundo material, estamoshabituados s formas feitas de uma combinao dasoito energias materiais separadas, mas o espritopuro sempresac-cid-ananda. Deus sempre temesta forma. Ele jamais assume uma outra forma di-ferente desta. At mesmo quando Ele vem ao mundo

    material, Ele permanecesac-cid-ananda.Ele jamaisassume uma forma material feita das oito energiasmateriais separadas. Vamos lembrar que estas oitoenergias materiais separadas so Sua energia infe-rior, no Sua energia espiritual original superior.Devemos lembrar agora que somos Suas partesintegrantes fragmentrias. Portanto, nossa naturezaoriginal tambm de eternidade, bem-aventuranae conhecimento. Agora, comeamos a perceber quetremenda e trgica perda de tempo ignorarmos nos-sa natureza espiritual, no sermos auto-realizados.

    Somos constitudos de eternidade, bem-aventuranae conhecimento e, contudo, inutilmente buscamosprazer neste mundo material, num corpo material. como ser a pessoa mais rica do mundo e, entre-tanto, esquecer este fato e levar a vida em absolutapobreza, na rua mais suja, obtendo comida das latasde lixo e dormindo na sarjeta. Esta nossa situao,

    e a razo pela qual este conhecimento o que h demais importante em toda existncia. E, por ltimo,aprendemos neste verso que o Senhor Krishna acausa original de todas a causas.

    Krishna tambm afirma noBhagavad-gita:

    Eu sou a fonte de todos os mundos materiais

    e espirituais. Tudo emana de Mim. Os sbios

    que conhecem isto perfeitamente ocupam-se

    em Meu servio devocional e adoram-Me de

    todo o corao. (Bhagavad-gita, 10.8)

    Deus no apenas a Pessoa Suprema. Ele a Ver-dade Absoluta. Como explicamos antes, tudo que existe Sua energia, produzido por Ele. Ele pleno detodas as opulncias, a saber, fora, riqueza, fama,beleza, conhecimento e renncia em graus infinitos.Esta a razo pela qual Sua supremacia comple-tamente inquestionvel. Ele a fonte de tudo, a causade todas as causas. Nada acontece que no tenhasido sancionado pelo Senhor, nada existe que noseja Sua energia.

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    Vamos agora entender melhor como Krishna aVerdade Absoluta:

    Os transcendentalistas eruditos que conhecem

    a Verdade Absoluta chamam esta substncia

    no-dual de Brahman, Paramatma e Bhagavan.

    (Srimad Bhagavatam, 1 Canto, Captulo 2,

    verso 11)

    Krishna afirma tambm noBhagavad-gita:

    E Eu sou a base do Brahman impessoal,

    que imortal, imperecvel e eterno e a

    posio constitucional da felicidade ltima.

    (Bhagavad-gita, 14.27)

    Eu sou a Superalma, Arjuna, situado nos

    coraes de todas as entidades vivas. Eu sou

    o princpio, o meio e o fim de todos os seres.(Bhagavad-gita, 10.20)

    Portanto, Deus realizado em trs aspectos: Im-pessoal (Brahman), localizado (Paramatma ou Su-peralma), e como a Suprema Personalidade de Deus(Bhagavan). Em Seu aspecto como Brahman, Ele pene-tra toda a existncia e o objeto de adorao de todasas prticas impersonalistas, tais como o Budismo emonismo. Onde quer que voc veja algum buscandouma forma vaga do Divino, uma energia csmica,

    etc., compreenda que ela est unicamente buscando oBrahman, a forma impessoal de Deus. No obstante,esta no uma concepo muito avanada.

    Mais avanada que esta a compreenso de queDeus est presente numa forma localizada em todosos seres vivos e todos os tomos. Esta a realizaoParamatma, onde se compreende que Deus est real-

    mente presente no prprio corao da pessoa, e no fi-gurativamente, e tambm no corao de todos os seresvivos, bem como em todos os tomos da criao.

    Acima de todas, entretanto, est a compreensode Deus em Sua forma pessoal suprema, Bhagavan,com Seu nome, atividades, moradas, associados, etc. todos de naturezasac-cid-ananda.A realizao deDeus como Bhagavan inclui os outros dois aspectosde Deus, Brahman e Paramatma, e portanto a com-preenso mais perfeita da Verdade Absoluta.

    O aspecto mais elevado desta Verdade Absoluta

    o Senhor Krishna, Govinda. No Srimad-Bhaga-vatam, encontramos centenas e centenas de pginasunicamente descrevendo Krishna e Sua forma, passa-tempos, associados eternos, moradas, etc. Aqui temosalguns versos de uma outra importante escritura,o Brahma-samhita, a qual tambm O descreve deforma breve:

    Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, o

    primeiro progenitor que est apascentando

    as vacas, satisfazendo todos os desejos, em

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    moradas construdas com gemas espirituais,

    cercado de milhes de rvores dos desejos,

    sempre servido com grande reverncia e afei-

    o por centenas e milhares de laksmis ou

    gopis. (Brahma-samhita, 5.29)

    Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, que

    adora tocar Sua flauta, com belos olhos de florde ltus e com a cabea decorada com penas

    de pavo, da cor de nuvens azuis e Sua singu-

    lar formosura que cativa milhes de cupidos.

    (Brahma-samhita, 5.30)

    Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, cujo

    pescoo porta uma guirlanda de flores, as mos

    esto adornadas com a flauta e ornamentos

    preciosos, que est sempre Se revelando em

    passatempos amorosos, cuja graciosa forma

    Syamasundara se dobra em trs partes e se ma-nifesta eternamente. (Brahma-samhita, 5.31)

    Eu adoro Govinda, o Senhor primordial, cuja

    forma transcendental plena de bem-aventu-

    rana, verdade, substancialidade, e est portan-

    to pleno do mais refulgente resplendor. Cada

    um dos membros daquela pessoa transcenden-

    tal possui em Si mesmo todas as funes de-

    senvolvidas de todos os rgos, e eternamente

    v, mantm e manifesta os universos infinitos,

    tanto espirituais como mundanos. (Brahma-

    samhita, 5.32)

    4.1 Muitas manifestaes de umnico Deus

    Tendo descrito brevemente o Senhor Krishna,Govinda, a forma original de Deus, deve-se entenderque Ele Se expande em muitas formas.

    Eu adoro a Suprema Personalidade de Deus,

    Govinda, que a pessoa original no-dual, in-

    falvel e sem princpio. Embora Ele Se expanda

    em ilimitadas formas, Ele ainda original,

    e embora Ele seja a pessoa mais velha, est

    sempre em Sua plena juventude. (Brahma-

    samhita, 5.33)

    Krishna Se expande em formas infinitas paralidar diretamente com infinitas situaes. O aspectopessoal do Senhor, Bhagavan, foi descrito como oaspecto mais elevado da Verdade Absoluta. A partirdisto, podemos compreender que a relao pessoalentre Deus e Suas energias o aspecto mais elevadoda Verdade Absoluta, sendo esta a razo pela qualEle Se expande em tantas formas. No Srimad

    Bhagavatam encontramos milhares e milhares depginas descrevendo as principais formas que o

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    Senhor assume, Suas respectivas atividades, mo-radas, parafernlia, associados e ensinamentos. Osbenefcios desta leitura so assim inconcebveis.

    Deus tambm Se expande para a criao dosuniversos materiais. Visto que a criao material uma preocupao secundria para Krishna, ela realizada por uma expanso de uma expanso de

    uma poro plenria dEle, tecnicamente conhecidacomo Maha-Vishnu. A partir de Maha-Vishnu, umaoutra expanso dEle entra em cada e todo universo,e ainda outra expanso entra no corao de todas asentidades vivas e tomos daquele universo particularna forma de Paramatma. No devemos nos confundirneste ponto. Como enunciado acima, a natureza daVerdade Absoluta que ela no-dual. Isto significaque no h absolutamente qualquer diferena entreuma forma do Senhor e uma outra.

    Como o Senhor Se encontra nos coraes de todas

    as entidades vivas e em cada tomo, e visto que Ele acausa de todas as causas e a origem de tudo, segue-selogicamente que Ele o controlador, a testemunhae o conhecedor supremo:

    Deve-se meditar na Pessoa Suprema como

    aquele que sabe tudo, como aquele que o mais

    velho, que o controlador, que o menor dos

    menores, que o mantenedor de tudo, que est

    alm de toda a concepo material, que incon-

    cebvel e que sempre uma pessoa. Ele lumi-

    noso como o Sol e transcendental, situado alm

    desta natureza material. (Bhagavad-gita, 8.9)

    4.2 Deus desce ao mundo material

    Um aspecto especialmente misericordioso de

    Deus, e para ns de suprema importncia, que Elepessoalmente vem a este mundo material. Krishnaexplica as razes para isto:

    Para libertar os piedosos e aniquilar os malfei-

    tores, bem como para restabelecer os princ-

    pios da religio, Eu mesmo venho, milnio

    aps milnio. (Bhagavad-gita, 4.8)

    Algumas pessoas, devido a no terem conheci-mento apropriado da cincia espiritual, tm grandes

    dificuldades em aceitar que Deus pode pessoalmentevir a este universo material, o que falar de nossopequeno planeta. Aqueles que pensam desta formageralmente possuem uma concepo de Deus muitovaga e quase impersonalista, como um Ser Supremomuito distante, ou eles simplesmente pensam queDeus no existe. Mas, como explicado aqui, Deusrealmente existe (na verdade, nada existe exceto Deus)e Ele tem uma natureza muito pessoal. Ademais,como j explicado, Deus sempresac-cid-ananda

    eternidade, bem-aventurana e conhecimento, em

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    qualquer posio. Como Paramatma, no coraode todas as entidades vivas, Ele sac-cid-ananda assim no h qualquer dificuldade para Ele advirpessoalmente a este mundo material, visto que Elej est presente aqui de tantas formas diferentes. Istono significa que Ele Se torne material de algumaforma em contato com o material. A energia espiritual

    superior energia material, assim quando Ele vem,tudo que est em contato com Ele espiritualizado, eno mais material. Visto que o Senhor Absoluto,tudo acerca dEle absoluto e da mesma naturezaeterna e bem-aventurada. Logo, Suas atividades aquiso tambm completamente espirituais. Realizando-as aqui, Ele nos atrai de volta at Ele. Simplesmenteouvindo e falando sobre estas atividades, nos torna-mos purificados, porque isto nos permite entrar emcontato com Deus. Temos uma oportunidade, de pri-meira mo, de ver quo melhor o mundo espiritual

    quando comparado ao mundo material. Para darum exemplo grosseiro, como um anncio na TV.Vemos o produto, vemos as pessoas usando-o, e quofelizes elas so com ele, e assim desejamos compar-tilhar daquela experincia. Deus usa a mesma tcnicapara nos tirar da iluso. Ademais, este conhecimentosuperior da cincia espiritual no poderia existir nomundo material se o prprio Deus no o trouxessepara ns, pois de certo no temos a capacidade deobt-lo atravs de qualquer outro processo, comomencionamos antes. Sendo espiritual, ele est alm

    do alcance do reino material.A ltima vez que Krishna manifestou Seus pas-

    satempos como Govinda neste planeta foi h apro-ximadamente 5.100 anos, no final da era anterior.Ele tambm apareceu em 1486 disfarado de Seuprprio devoto, Sri Krshna Chaitanya Mahaprabhu.Um relato autorizado de Sua vidasac-cid-ananda,

    instrues e passatempos pode ser encontrado nafamosa obra-prima do sculo XVI, Sri ChaitanyaCaritamrta. Estes dois aparecimentos do Senhorem Seu aspecto mais elevado so muito especiaise apenas ocorrem uma vez em cada dia de Brahma,ou uma vez em cada 8,6 bilhes de anos. Em ambasas vezes, este conhecimento da cincia espiritualfoi confirmado e plenamente explicado pelo prprioSenhor. Portanto, nosso dever aproveitar esta opor-tunidade rarssima para o nosso benefcio eterno.

    4.3 Deus aparece em Sua forma deDeidade

    Uma outra forma muito importante que o Senhorassume Sua forma de Deidade, tecnicamente co-nhecida de arca-vigraha. O Senhor aceitar uma for-ma feita de pintura, madeira, pedra, metal, ou dentroda mente da pessoa, posto que esteja de acordo comos procedimentos e descries contidas nas escriturasreveladas. Aceitando tal forma, o Senhor Se torna

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    visvel aos nossos olhos materiais, e tocvel s nossasmos materiais. Portanto, misericordiosamente, Elepermite que nos aproximemos dEle, nos curvemosdiante dEle, prestemos servio a Ele, ofereamoscomida, flores e incenso a Ele, entre outras coisas.Isto no adorao a dolos. Adorar dolos significaadorar formas imaginrias do Senhor. Esta uma

    adorao direta ao prprio Deus. Deus no-dual,absoluto, assim no h diferena entre a forma deDeidade encontrada nos templos autorizados e Suaforma original no mundo espiritual.

    4.4 Os benefcios de se conhecerDeus

    Pode-se saber infinitamente mais sobre o Senhor,porm at mesmo um pouco de informao sobre

    Ele suficiente para se obter o maior dos benefcios,como o prprio Deus explica:

    Aquele que conhece a natureza transcendental

    do Meu aparecimento e atividades, ao deixar o

    corpo no volta a nascer neste mundo material,

    mas alcana Minha morada eterna, Arjuna.

    (Bhagavad-gita, 4.9)

    Quem tem plena conscincia de Mim, conhe-

    cendo-Me como o beneficirio ltimo de todos

    os sacrifcios e austeridades, o Senhor Supremo

    de todos os planetas e semideuses, e o benfei-

    tor e benquerente de todas as entidades vivas,

    alivia-se das dores e misrias materiais. (Bha-

    gavad-gita, 5.29)

    No se surpreenda se tudo isto parecer um tanto

    confuso, e voc realmente no compreender. Krishnaexplica a razo para isto:

    unicamente atravs do servio devocional

    que algum pode compreender-Me como sou,

    como a Suprema Personalidade de Deus. E

    quando, mediante essa devoo, ele se absorve

    em plena conscincia de Mim, ele pode entrar

    no reino de Deus. (Bhagavad-gita, 18.55)

    5. Sua posio atual

    Devemos agora novamente voltarmos nossa aten-o para onde nos encontramos no momento, luzdo que nos foi apresentado at o presente.

    Basicamente, voc tem sido forado a aceitar umcorpo material, devido aos desejos materiais e aokarma. Isto explicado pelo Senhor Krishna:

    Dessa forma, a entidade viva dentro da na-

    tureza material segue os caminhos da vida,

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    desfrutando os trs modos da natureza. Isto

    decorre de sua associao com essa natureza

    material. Assim, ela se encontra com o bem

    e o mal entre as vrias espcies de vida.

    (Bhagavad-gita, 13.22)

    E um grande devoto expressou nossa situao

    muito bem:

    Devido aos insaciveis desejos materiais, eu

    estava sendo levado pelas ondas das leis da

    natureza material, e assim ocupado em dife-

    rentes atividades, lutando pela existncia em

    vrias formas de vida. (Srimad Bhagavatam,

    7 Canto, Captulo 13, verso 24)

    Em outras palavras, influenciado pelos trs modosda natureza material, voc desenvolve uma certa qua-

    lidade de comportamento e desejos. Estes desejos svezes lhe levam para se deparar com boas situaes,s vezes com ms, em todos os tipos de diferentescorpos materiais ou espcies. No apenas diferentesespcies deste planeta, mas em todos os planetasdeste universo material, e outras antes desta criaouniversal. Visto que temos estado condicionados pela natureza material desde tempos imemoriais,os Vedas afirmam que temos estado em todos estesplanetas, superiores, terrestre e inferiores, e atravsde todas as 8.400.000 espcies de vida, incontveis

    vezes. Krishna explica mais detalhadamente nossaposio atual:

    As entidades vivas neste mundo condicionado

    so Minhas eternas partes fragmentrias. Por

    fora da vida condicionada, elas empreendem

    rdua luta com os seis sentidos, entre os quais

    se inclui a mente. (Bhagavad-gita, 15.7)

    5.1 A futilidade dos empreendimentosmateriais

    Conseqentemente, torna-se evidente que, comono somos nossos corpos, e nossos corpos so tempo-rrios, qualquer arranjo empreendido para melhorarnossa situao dentro da natureza material , emltima anlise, uma luta rdua e intil . Mesmo que

    sejamos capazes de atingir os planetas superiores evivamos vidas maravilhosas por l, por milhes deanos, com o tempo, a morte vir, e seremos foradosnovamente a nascer nestes planetas terrestres.

    5.2 O futuro est em nossas mos

    Neste momento, nos encontramos num corpo hu-mano, neste planeta Terra, em Kali yuga, um poucoaps a metade da durao deste universo. Estarmos

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    num corpo humano neste planeta uma ocorrnciamuito rara e importante na nossa jornada. O corpohumano aqui como uma juno csmica, a quallhe permite decidir seu futuro. No plano material,trs coisas podem ocorrer: voc pode ser promovidoaos planetas superiores, voc pode permanecer aqui,ou voc pode cair numa forma inferior de vida, de

    acordo com o modo da natureza que voc se deixouser mais influenciado. Ainda mais importante, vocpode dar um fim a tudo isso e voltar ao lar, voltar aoSupremo, e nunca mais ser forado a nascer num cor-po material. O Senhor Krishna explica este ponto:

    Aps Me alcanarem, as grandes almas, que

    soyogis em devoo, jamais retornam a este

    mundo temporrio que cheio de misrias,

    porque obtiveram a perfeio mxima. (Bha-

    gavad-gita, 8.15)

    Portanto, o corpo humano tem essa oportunidadede ouro, no disponvel em qualquer outra situao,de jamais retornar a este mundo temporrio, que cheio de misrias. Aqueles que se encontram nosplanetas superiores tm prazeres materiais to ini-maginveis (deve-se lembrar que so infinitesimaisquando comparados bem-aventurana da vidaespiritual) que eles no podem desenvolver o de-sapego material necessrio para avanar na cinciaespiritual. Nas fomas de vidas infernais, isto tambm

    impossvel devido ao intenso sofrimento. E nasespcies vegetais e animais, voc no desenvolvesuficiente conscincia para tal.

    Se voc adicionar a esta situao que j favo-rvel, a misericrdia de viver numa poca em queKrishna veio duas vezes a este planeta nos ltimoscinco mil anos, a ltima vez apenas quinhentos e

    poucos anos atrs, em Sua encarnao mais misericor-diosa, Sri Krishna Chaitanya, ento pode ter certezade que voc uma das mais afortunadas entidadesvivas do universo inteiro. Por outro lado, se voc per-der esta oportunidade, certamente voc um dosmais desafortunados.

    Em resumo, depois de um vastssimo tempo, porgrande e rara fortuna, voc recebeu um corpo huma-no, o qual lhe d a oportunidade de indagar sobreo Absoluto, e assim dar uma soluo definitiva aosproblemas de nascimento, morte, velhice e doena.

    Se bem utilizado, seu corpo humano pode lhe resta-belecer em sua posio original de eternidade, bem-aventurana e conhecimento, levando-o de volta aolar, de volta ao Supremo.

    5.3 As condies materiais noso um obstculo

    Qualquer que possa ser sua posio material pre-sente, ela o resultado de suas aes e mentalidade

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    passadas. Portanto, no d tanta importncia a ela.No desperdice seu precioso tempo, tentando so-lucionar seus problemas materiais, pois no h fimpara eles. No importa quo arduamente voc possatentar, por seus prprios esforos, voc no mudar aquantidade de felicidade e sofrimento materiais quelhe esto destinados nesta vida.

    filho de Kunti, o aparecimento transitrio da

    felicidade e da aflio, e seu desaparecimento

    no devido tempo, so como o aparecimento e

    o desaparecimento das estaes do inverno e

    do vero. Eles surgem da percepo sensorial,

    descendente de Bharata, e preciso aprender

    a toler-los sem se perturbar. (Bhagavad-gita,

    2.14).

    Alm disso, quanto mais voc progredir na cincia

    espiritual, mais Deus cuidar pessoalmente de voc,levando at voc o que voc precisa e preservando oque voc tem, assim todas as suas necessidades seroautomaticamente supridas por Ele. Lembre-se de queEle est em seu corao e tem sido sempre assim.Ele tem uma relao muito, muito pessoal com voc.Quando Ele v que voc deseja ser restabelecido emsua posio original, Ele naturalmente fica muitosatisfeito e vido para ajudar, exatamente como umpai faria qualquer sacrifcio para recuperar um filhoextraviado.

    Por conseguinte, no faz qualquer diferena asua situao particular, se voc rico ou pobre,americano, chins, cristo, judeu, mulumano, forte,deficiente fsico, branco, negro, etc. O processo cientificamente aberto a todos, sem discriminaode qualquer espcie. Tudo que voc tem a fazer coloc-lo em prtica na sua vida, que o assunto da

    prxima seo. Contudo, se voc no der um fim aisto, se voc no desenvolver inteligncia espirituale praticar esta cincia da conscincia de Deus, vocsimplesmente passar toda sua vida servindo estasdesignaes temporrias, este corpo material tem- porrio, e seu verdadeiro eu ser completamenteignorado. Sua vida ter sido desperdiada, e maisuma vez voc ser forado a aceitar um outro corpomaterial apenas voc no sabe onde ou qual o tipode corpo ele ser.

    6. Aplicaes prticas

    Se voc trocar o eterno pelo temporrio, ficar

    desprovido de ambos. (Chanakya Pandita, fa-

    moso ministro da corte do Rei Chandragupta,

    o adversrio de Alexandre, o Grande).

    De posse da compreenso verdadeira da realidade,podemos agora saber como agir em prol do nossobenefcio maior e daqueles que esto ao nosso lado.

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    Este poderoso conhecimento pode ser usado por qual-quer tipo de pessoa:

    Uma pessoa que tenha mente ampliada, quer

    tenha muitos desejos materiais, quer no pos-

    sua desejos materiais ou deseje liberao, deve

    de qualquer maneira adorar o todo supremo, a

    Personalidade de Deus. (Srimad Bhagavatam,2 Canto, Captulo 3, verso 10)

    Naturalmente, o desejo de benefcios materiaisno muito inteligente pela simples razo de queeles so impermanentes e so apenas benficosao corpo material atual que voc est ocupando eno tem nenhuma utilidade para seu eu verdadeiro.De qualquer forma, mesmo neste caso, voc devese aproximar de Deus para tais benefcios, poisEle , em ltima anlise, o nico com real poder

    de conced-los. Alm do mais, ao se aproximarde Krishna, Deus, para tais benefcios, voc estautomaticamente avanando espiritualmente, cadavez mais prximo da perfeio, aproximando-se doseu estado original de eternidade, bem-aventuranae conhecimento.

    Todavia, os alunos mais avanados da cinciaespiritual imediatamente desejam obter este nvelde perfeio, sabendo que isto lhes trar o maiorbenefcio, e portanto no se aproximam de Deus nabusca de favores mundanos. Em qualquer um dos

    casos, o Senhor Krishna pessoalmente nos instrui acomo nos aproximar dEle:

    Pense sempre em Mim e torne-se Meu de-

    voto. Adora-Me e oferece-Me homenagens.

    Agindo assim, voc vir a Mim impreteri-

    velmente. Eu lhe prometo isto porque voc

    Meu amigo muito querido. (Bhagavad-gita,18.65)

    Isto o que chamamos de servio devocional ouconscincia de Krishna, que significa agir de acordocom a realidade, como parte integrante fragmentriade Deus, como Seu amoroso servo eterno com ou noseu presente corpo (que como voc pode lembrarinclui sua mente e inteligncia), e no apenas agindocomo se voc fosse seu corpo.

    Srila Prabhupada explica este ponto:

    O servio devocional no se trata de espe-

    culao sentimental ou xtase imaginativo.

    Sua essncia a atividade prtica. (Nctar da

    Instruo, Verso 3, significado)

    Deus ainda afirma:

    Tudo o que voc fizer, todo o que comer, tudo o

    que oferecer ou der para os outros, e quaisquer

    austeridades que voc executar faa isto,

  • 8/3/2019 GIRIDHARI DAS - Cincia Espiritual

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    C I N C I A E S P I R I T U A L70 71V I S O G E R A L

    filho de Kunti, como uma oferenda a Mim.

    (Bhagavad-gita, 9.27)

    Portanto, tudo pode ser canalizado para a conscinciade Krishna. Por isso, no importa qual sua posio possaser. Voc pode permanecer onde est, e gradualmenteligar cada aspecto de sua vida com Krishna. Torne

    Krishna o centro de tudo, pois esta a verdadeiranatureza da existncia. Existe uma concepo errneade que as atividades espirituais significam a vida demonge num templo recluso ou um sacerdote ocupadoapenas em atividades ritualsticas. No entanto, este no o caso, como qualquer estudante da cincia espiritualsabe. Este o erro de confundir religio ou atividadereligiosa com a espiritualidade verdadeira ou atividadeespiritual. Dessa forma, voc pode ser uma pessoa denegcio, uma dona-de-casa (ou dono-de-casa), um sol-dado (como Arjuna, para quem Krishna est falando o

    Bhagavad-gita), um mdico, um professor, um varredorde rua ou um advogado e ser um praticante avanado dacincia espiritual, experimentando gradualmente cadavez mais a bem-aventurana espiritual em sua vida, e nofinal, voltar ao lar, voltar ao mundo espiritual, mesmoo mais elevado planeta de Krishna.

    Krishna explica porque devemos sempre pensarnEle e dirigir todas as atividades para Ele:

    Brahmana, tudo que parecer ser de valor, se

    estiver sem relao coMigo, no tem realida-

    de. Saiba que isto Minha energia ilusria,

    aquele reflexo que parece estar na escurido.

    (Srimad Bhagavatam, 2 Canto, Cpitulo 9,

    verso 34)

    Em outras palavras, voc tem duas opes: agirde acordo com a realidade, e assim conectar tudo

    com Krishna, ou agir sob o encanto da iluso, achan-do que as coisas so separadas de Krishna. Agir nailuso jamais benfico em qualquer que seja a cir-cunstncia, e geralmente muito perigoso.

    6.1 Comendo alimento espiritual

    Nossa alimentao, sendo uma atividade centralem nossas vidas, deve ser especialmente espirituali-zada se desejarmos avanar na compreenso espiri-

    tual. O Senhor Krishna diz:Os devotos do Senhor libertam-se de todas as