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Grupo de Profissionais em Informação e Documentação Jurídica do Rio de Janeiro – GIDJ/RJ
Grupo de Discussão em Coleções Especiais Jurídicas – GDCEJ
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ACERVOS EM PAPEL E
SITUAÇÕES DE RISCO EM
AMBIENTES DE GUARDA:
BREVES CONSIDERAÇÕES
SOBRE AÇÕES ANTES DO
DANO POR INCÊNDIO
Thiago Cirne
Mestre em Biblioteconomia pela
Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro (PPGB/UNIRIO). Possui
Especialização em Jornalismo Cultural
pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (FCS/UERJ). Bibliotecário do
Centro de Estudos Jurídicos da
Procuradoria Geral do Estado do Rio de
Janeiro (CEJUR/PGE-RJ). Integra a
diretoria do Grupo de Profissionais em
Informação e Documentação Jurídica
(GIDJ/RJ), onde também coordena o
Grupo de Discussão em Coleções
Especiais Jurídicas (GDCEJ).
RESUMO
O objetivo deste artigo é motivar uma
reflexão sobre os riscos de perda e dano,
causados por incêndio, presentes em
instituições responsáveis pela guarda de
acervos em papel, mais destacadamente,
bibliotecas e arquivos. Considera a
abordagem pretérita sobre o tema, a
partir das observações de Costa (1943) e
Albani (1968) e as aproximações
pertinentes com trabalhos mais recentes.
A ênfase, portanto, concentra-se sob a
ótica da gestão do espaço-acervo,
revelando a importância de uma postura
de prevenção constante, diálogo e
participação, tanto do profissional de
informação como dos demais atores da
instituição.
1 INTRODUÇÃO
O título deste artigo não pretende
oferecer ao leitor a ideia de atributos
heroicos e inatingíveis. Não há, sequer,
satisfação em seu debate, embora de
grande necessidade, principalmente se
considerarmos as circunstâncias nas
quais sua escrita se elabora: decorre,
aproximadamente, quatro meses após o
incêndio de grandes proporções que
destruiu o Museu Nacional, localizado
na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro.
Este fato motivou o tema da 8ª reunião
do Grupo de Discussão em Coleções
Especiais Jurídicas (GDCEJ), vinculado
ao Grupo de Profissionais em
Informação e Documentação Jurídica do
Rio de Janeiro (GIDJ/RJ).
O objetivo deste encontro e, por
desdobramento, deste artigo, passa a ser
uma reflexão sobre os riscos de possíveis
perdas por incêndio, bem como os danos
causados pela ação do fogo, presentes
em instituições responsáveis pela guarda
de acervos em papel, mais
destacadamente, bibliotecas e arquivos.
A ênfase, portanto, concentra-se sob a
ótica da gestão do espaço-acervo a partir
da prevenção.
Para isto, é necessário buscar
respostas a perguntas simples e
fundamentais: Como gestores de
unidades que armazenam testemunhos
materiais bibliográficos e arquivísticos,
qual a nossa função? Até onde vai nossa
responsabilidade? Qual o nosso olhar
sobre essa questão? Despertar a
consciência, consequentemente,
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alertando o profissional para uma
postura de diligência é o que desejamos.
De maneira breve, ressaltamos
importantes contribuições para este
tema, a partir das análises de Joaquim
Costa (1943), Jan Albani (1968), Jayme
Spinelli e José Luiz Pedersolli Jr. (2010).
Incluímos ainda, em anexo, uma
entrevista com o Tenente Coronel do
Corpo de Bombeiros Militar do Estado
do Rio de Janeiro, Fábio Braga, guiada
por perguntas elaboradas com o auxílio
de profissionais e estudantes das áreas de
Arquivologia e Biblioteconomia.
Embora os autores mencionados narrem
experiências no campo
biblioteconômico, há em comum, com as
outras áreas como a Arquivologia, a
fragilidade dos itens em papel, a despeito
de sua tipologia.
A eleição deste tema se dá em
função não apenas do fato ocorrido ao
Museu Nacional, mas das frequentes
notícias sobre perdas da mesma natureza,
em diferentes proporções, mas com a
mesma capacidade: causar a perda, quase
sempre irreversível, do patrimônio
público e privado.
2 PREVENÇÃO COMO PRIMEIRO
RECURSO
É sempre relevante lembrar ao
gestor de espaços de guarda de itens em
papel que a precaução pode ser o melhor
recurso antes do dano. “É doloroso
constatar que o quadro funcional de
instituições culturais muitas vezes só
toma conhecimento das vantagens da
prevenção de emergências depois de
sofridas experiências, mas não há por
que permitir que estas acabem sempre
em calamidade” (OGDEN, 2001, p. 7).
Esta é uma discussão presente
entre profissionais de informação há
algumas décadas. Naturalmente, muito
se produziu nos últimos anos, e em
grande qualidade; questionamos,
todavia, se hoje os gestores e curadores
de acervos têm dado a devida
importância ao tema. Observamos, de
fato, os riscos de incêndio como algo que
nos é próximo? Subestimamos causas e
efeitos de um desastre? Uma rápida
leitura pretérita, de alguns profissionais
que atuaram no século passado, revela tal
inquietação.
Na obra Elementos de
Biblioteconomia, publicada em Portugal,
Joaquim Costa (1943, p. 18-20) analisa
alguns riscos. Dizia, categoricamente,
que “um dos maiores flagelos a combater
nas Bibliotecas (...) é a ameaça e o perigo
dos incêndios”. Assim, considerava o
autor:
1. Convém (...) adoptar severas
medidas de protecção a estes
Estabelecimentos [bibliotecas] e a
prática de actos de previdência que
conduzam aos melhores resultados.
2. De um modo geral, deverá ser
banido o uso do fumo em todas as
dependências onde houver pavimentos
que não sejam incombustíveis, porque
uma imprudência pode fazer deflagrar
uma catástrofe.
3. Deverá igualmente velar-se, o
mais possível, pelo estado das
instalações eléctricas, evitando-se o
perigo dos curto-circuitos.
4. Fora das horas regulares de
trabalho, impôr-se-á o corte da corrente
eléctrica, conservando desligada essa
corrente, sempre que as circunstâncias
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do seu imediato aproveitamento não
exijam que a ligação se restabeleça.
5. A vigilância dos técnicos é
sempre de aconselhar em todos os casos
em que as instalações não tenham sido
providas de tubos de aço ou o material
eléctrico não tenha sido renovado
periòdicamente, como a prudência
aconselha.
6. Toda a economia das
administrações em matéria de segurança
nas instalações eléctricas, será, não só
contraproducente, mas ainda perigosa e
ameaçadora para estes estabelecimentos
e para os tesouros que nêles se recolhem.
7. Como medida de recurso
extremo, convém que as Bibliotecas
sejam providas, nas suas dependências,
de extintores de incêndio, que funcionem
de preferência com pó, pois os de carga
líquida são altamente nocivos para os
livros; mas uns e outros se aceitam, pela
necessidade de combater, de súbito, um
tão terrível flagelo, que se não deve, em
caso algum, deixar alastrar.
8. É ainda muito de aconselhar a
vigilância, durante a noite, por meio de
guardas, de probidade indiscutível, que
dêem alarme, ao mínimo sinal de
incêndio que venha a manifestar-se na
Biblioteca ou na sua vizinhança.
9. O facto de poder dar-se um
incêndio em prédios ou instalações
contíguos de uma Biblioteca aconselha,
naturalmente, a manter isolados os
institutos desta índole.
10. Não será nunca de bom
critério manter perto estabelecimentos
ou edifícios que, por todos os motivos,
possam vir a tornar-se funestos.
11. Quando se origina um
incêndio, nunca se sabe a extensão que
êle poderá atingir; e a melhor decisão a
tal respeito consistirá em o evitar, por
todas as formas.
Um bom exemplo a destacarmos
na literatura latino-americana está no
livro Manual de Bibliotecología, editado
em Buenos Aires. Nesta obra, Juan
Albani (1968, p. 54-55, tradução nossa)
chamava a atenção para os efeitos
causados pelo incêndio, ressaltando
importantes tópicos sobre prevenção
praticados e difundidos à época:
1. A extinção do fogo tende a ter
efeitos tão devastadores para as coleções
quanto o próprio incêndio.
2. O edifício deve estar longe de
fábricas e, na medida do possível,
cercado por jardins.
3. Em sua construção, você deve
preferir alvenaria e ferro, mesmo para
portas e janelas. Pequenos ambientes
permitem controlar melhor os incêndios.
Para-raios serão colocados. Toda a
chaminé ficará do lado de fora do prédio.
4. A instalação elétrica será
protegida e embutida, com fusíveis e
uma chave geral, que será desligada à
noite.
5. As dependências de apoio
(oficina de encadernação, sala de
higienização, etc.) estarão no subsolo e
separadas.
6. Se velará pela ordem. Nenhum
documento será tolerado no chão. Como
é inútil proibir fumar, o uso de cinzeiros
será obrigatório.
7. Em locais estratégicos, serão
colocados extintores químicos ou, na
falta deste, baldes de areia (não de água).
Grandes bibliotecas devem ter um corpo
de bombeiros permanente.
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8. É aconselhável contratar
seguro contra o incêndio do edifício e as
coleções.
Já na literatura atual, podemos
citar, entre outras publicações, o livro
Biblioteca Nacional: Plano de
gerenciamento de riscos: salvaguarda &
emergência, (2010). Nele, Jayme
Spinelli e José Luiz Pedersolli JR
ressaltam algumas deficiências e a
necessidade de corrigi-las:
1. As instituições patrimoniais no
país, em não poucos casos, se encontram
sob elevado risco de incêndio, devido a
deficiências na sua prevenção, detecção
e contenção.
2. Fatores como a falta de
manutenção preventiva em edificações e
equipamentos, a natureza dos acervos
(materiais altamente combustíveis) e dos
edifícios (sem compartimentação e,
muitas vezes, construídos em madeira), a
falta de sistemas de detecção e supressão
automática de incêndios e a falta de
capacitação de funcionários para
responder em caso de (princípio de)
incêndio contribuem para esse risco.
3. Os incêndios podem ser de
pequenas proporções até a queima total
do edifício e dos materiais existentes em
seu interior. Suas causas podem ser
naturais ou antropogênicas.
4. As consequências da ação do
fogo sobre acervos e outros elementos
patrimoniais incluem a queima total ou
parcial, deposição de fuligem e
deformação.
5. Danos colaterais por forças
físicas (devido a explosões e ao colapso
de estruturas afetadas pelo fogo) e por
água (utilizada no combate ao fogo)
também podem ocorrer.
6. Evitar as fontes e atratores dos
agentes de deterioração. Inclui a
remoção, na medida do possível, das
fontes de ignição (incêndio) [...], de
materiais combustíveis desnecessários
[...]; manutenção preventiva dos
sistemas de segurança eletrônica, de
detecção de presença e de detecção e
alarme de incêndio.
As recomendações e
apontamentos enumerados nos dão uma
dúbia impressão de alívio e preocupação.
Se, por um lado, temos possíveis
caminhos para resolução de problemas
de diversas ordens, que vão da estrutura
do edifício ao pessoal responsável por
tomar decisões na iminência de um
incêndio, precisamos também gerar
ações.
Atualmente, vários estudos
corroboram a preocupação já sinalizada
em outras épocas. A tomada de decisão
centrada, com conhecimento sobre
métodos e práticas de prevenção
apresenta-se, sempre, como um recurso
razoável. “Um número cada vez maior
de profissionais sabe que as pequenas
emergências podem ser contidas quando
os membros da equipe estão preparados
para agir com rapidez. Os danos podem
ser limitados, mesmo em casos de
calamidades de grande alcance”
(OGDEN, 2001, p. 7).
3 ACERVO: PERDAS RECENTES
Neste tópico foi realizado um
levantamento das últimas notícias
publicadas na internet sobre incêndios
em locais de guarda de acervos em papel.
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*Informações apresentadas nas reportagens. Compilação: Thiago Cirne, 2018.
Levantamento realizado em novembro de 2018.
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No levantamento foram
analisadas as cinco primeiras páginas de
resultados no serviço de busca do
Google, para a expressão “incêndio”
seguida de “biblioteca”, “arquivo” e
“centro de documentação”, no Brasil,
pesquisados separadamente.
Houve grande repercussão de
notícias sobre sinistros deste gênero em
espaços de guarda de acervos em papel
no ano de 2018. Observou-se que tanto
bibliotecas como arquivos ou centros de
documentação sofreram danos com
basicamente duas motivações.
Das 8 matérias, 5 apresentam
possíveis causas. Destas, 3 se referem a
“pane elétrica” ou “curto-circuito”; 2
mencionam incêndios possivelmente
causados por terceiros.
De fato, o caso do Museu
Nacional, na noite de 2 de setembro do
mesmo ano, pautou esta abordagem em
diversos veículos de comunicação. No
entanto, as datas sinalizadas em
vermelho destacam matérias publicadas
no período anterior ao caso do MN,
afastando a hipótese de uma “caça às
notícias com essa temática” e reforçando
as perdas de patrimônios públicos e
privados.
4 EDIFÍCIO, INSTALAÇÕES E
RECURSOS
Devemos considerar que muitos
edifícios que abrigam acervos não foram
construídos com esse propósito em uma
época em que os requisitos de segurança
tinham pouca importância em seus
projetos originais. Além disso, um
tombamento de um edifício também
restringe alterações a menos que se possa
obter autorização legal (RESOURCE,
2003). Essa é uma, realidade bastante
comum, vivida por arquivos, bibliotecas
e museus.
Este panorama deve implicar em
preocupações constantes. Algumas delas
podem ser destacadas (OGDEN, 2001, p.
8):
Dentro do prédio, os sistemas de proteção
contra incêndio e os sistemas elétrico,
hidráulico e ambiental constituem
preocupação primária. Os extintores de
incêndio são em número suficiente e
inspecionados regularmente? O prédio
dispõe de alarmes contra incêndio e de
um sistema de extinção de incêndio? É
boa sua manutenção? São monitorados
24 horas por dia? As saídas de incêndio
estão desbloqueadas? Qual a idade da
fiação elétrica? As redes elétricas estão
sobrecarregadas? Os aparelhos elétricos
são desligados das tomadas à noite?
Além dos bibliotecários ou
arquivistas responsáveis, vários atores
devem participar do preparo do espaço
que receberá ou irá manter os acervos.
Desta forma, “projetistas e órgãos
fiscalizadores da segurança contra
incêndio (departamento de edificações e
obras e/ou corpo de bombeiros)
deveriam verificar se os métodos de
segurança adequados a cada tipo de
edifício sob sua jurisdição estão sendo
implementados corretamente”
(EVANGELISTA, 2008, p. 25).
Entretanto, como destaca
Evangelista, somente essa fiscalização
não garante a segurança necessária aos
edifícios que abrigam patrimônio
histórico, artístico ou cultural – dadas as
peculiaridades dos acervos. Para a
autora, “faz-se imprescindível uma
completa integração dos órgãos
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envolvidos, seja no projeto, na execução,
na fiscalização ou na manutenção da
segurança contra incêndio desses
edifícios” (EVANGELISTA, 2008, p.
25).
Outro documento fundamental é
o Plano de Emergência, que tem como
objetivo
identificar a vulnerabilidade do edifício
às possíveis situações de emergência,
antecipar seus potenciais efeitos, apontar
maneiras de preveni-los, delegar
responsabilidades e sugerir um plano de
ação e de recuperação em caso de
emergência. O plano possui um papel
essencial na proteção do patrimônio, pois
além de contar com um programa de
prevenção contra incêndios, deve possuir
um programa de salvamento e
recuperação deste patrimônio, prevendo,
inclusive, como minimizar os efeitos
causados pela própria supressão do
incêndio. O plano deve ser documentado
e disponibilizado a todos os funcionários
da instituição (EVANGELISTA, 2008, p.
26-27).
A preocupação do responsável
pelo acervo e espaço deve girar em torno
dos sistemas elétrico, hidráulico,
ambiental e de segurança contra
incêndio. “A manutenção destes
sistemas deve ser realizada
regularmente, a fim de garantir que suas
condições sejam as melhores possíveis”
(EVANGELISTA, 2008, p. 29).
No caso da possibilidade de
incêndio, principal sinistro tratado neste
artigo, destacamos alguns dos principais
sistemas da categoria “ativa”:
SISTEMAS DE PROTEÇÃO ATIVA:
Rápida detecção do incêndio, o alerta aos ocupantes da biblioteca (abandono em segurança) e/ou o eficiente combate e controle do fogo.
a) Sistema de alarme manual de incêndio
(botoeiras)
Modelo de Botoeira Acionador Manual
b) Sistema de detecção e alarme
automáticos de incêndio (detector de
fumaça, temperatura, raios
infravermelhos, entre outros, ligados a
alarmes automáticos)
Detectores de fumaça com a emissão de raios
infravermelhos
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c) Sistemas de combate manual de
incêndio (extintores e hidrantes)
Extintores e caixa de hidrante
d) Sistemas de extinção automática de
incêndio (chuveiros automáticos –
sprinklers – e outros sistemas especiais
de água ou gases)
Chuveiros Automáticos ou Sprinklers
e) Sistema de iluminação de emergência
Modelos de iluminação de emergência
f) Sistema de controle/exaustão da
fumaça de incêndio
Liberação de vapor, fumaça e ar em
ambientes fechados
Fonte: ONO, 2004, apud EVANGELISTA,
2008, p. 30.
Adaptação: Thiago Cirne, 2018.
Imagens: Reprodução.
Há ainda a categoria de proteção
passiva, que são soluções incorporadas
ao sistema construtivo de uma
edificação, formadas por um conjunto de
materiais resistentes ao fogo, como
destacam Santos e Musardo (2014).
“Quanto mais investimentos em
proteção menor será o prejuízo no caso
de incêndio e mais rapidamente a
edificação poderá retornar as suas
atividades”.
A proteção passiva inclui as medidas de
proteção incorporadas ao edifício - não é
necessário acioná-las; por exemplo, a
acessibilidade ao edifício, elemento
poucas vezes considerado pelo projetista,
é fundamental à rapidez das atividades de
salvamento e combate ao fogo pelos
bombeiros; rotas de fuga estabelecidas
durante o projeto de construção ou
restauração do edifício; escolha de
materiais de construção que apresentem
alto grau de resistência ao fogo, a fim de
limitar ou conter o crescimento do
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incêndio; o controle da qualidade e da
quantidade de materiais combustíveis
utilizados no acabamento interno e no
conteúdo do edifício – designado como
reação ao fogo, já que estes materiais são
decisivos na velocidade de
desenvolvimento, intensidade e duração
do incêndio (EVANGELISTA, 2008, p.
30).
A partir dos grandes incêndios da
década de 1970, como do Edifício
Joelma (1974) e Edifício Andraus
(1972), ambos em São Paulo, foram
intensificadas as medidas de proteção e
combate a incêndio em edificações com
foco na proteção ativa, exemplificados
anteriormente (PROTEÇÃO..., [2018?]).
Os sistemas de proteção passiva
passaram a ser aplicados no Brasil no
setor de indústria, a partir de 2001. Nesse
mesmo ano foram criadas as Its –
Instruções Técnicas do Corpo de
Bombeiros de São Paulo. Em 2013 foi
publicada a Norma de Desempenho das
Edificações e essas soluções chegaram
até edifícios comerciais, residenciais e de
atração ao público (PROTEÇÃO...,
[2018?]).
5 CONCLUSÕES
Podemos considerar 2018 como
um “ano cinza” no que diz respeito à
grande ocorrência de incêndios em
instituições que atuam na guarda de
acervos em papel. Uma postura alerta,
positivamente questionadora e até
mesmo curiosa, aliada a um diálogo
permanente com setores como brigada
de incêndio, vigilância e administração,
são essenciais à prática da gestão
responsável em bibliotecas, arquivos e
centros de documentação.
Não há neste artigo a pretensão
de assumirmos responsabilidades que
não cabem à formação biblioteconômica
e arquivística, mas agregar informações
relevantes aos detalhes do dia a dia;
formas simples e práticas de mitigar a
perda e dano por incêndio, não
menosprezando, desta forma, o risco
real.
Respeitadas as atribuições de
cada setor dentro de um órgão público ou
privado, vale sempre ressaltar que
ninguém conhece melhor o ambiente de
trabalho que aquele que nele desenvolve
suas atividades diárias. Assim,
problemas como curto-circuitos, panes
recorrentes, estado de conservação de
fios e tomadas e oscilações na energia
podem ser indicativos da necessidade de
manutenção preventiva – notada pela
equipe e pelo gestor do local.
Outro fator relevante é o
conhecimento da edificação na qual está
instalada a unidade de informação.
Administrar bibliotecas ou arquivos é
lidar com fluxo de pessoas e de materiais
naturalmente combustíveis. Saber
colaborar diante de uma necessidade de
rápido abandono do edifício ou mesmo
ter noções básicas de como utilizar
extintores ou as rotas de emergência,
ainda que pareçam ações simples, podem
otimizar toda uma situação antes que se
instale um quadro de pânico,
favorecendo a ação da equipe brigadista.
Incentivamos, ainda, a
participação de todos da equipe em
eventos como treinamentos e palestras
ministrados pelo Corpo de Bombeiros
Militar da cidade ou por empresa
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especializada, que ocorram na
instituição.
Desta maneira, consideramos
que, entre todas as posturas necessárias,
a prevenção é a mais importante, pois
gera desdobramentos positivos,
resultando em um círculo virtuoso.
Negligenciar o espaço, o
movimento de visitantes e os detalhes de
segurança gera um círculo vicioso. A
responsabilidade deve ser compartilhada
a partir de bons exemplos. Como
profissionais de informação, somos
levados a pensar a construção, em todos
os sentidos possíveis, do ambiente onde
exercemos nossas funções.
REFERÊNCIAS
ALBANI, Juan. et al. Manual de Bibliotecología.
Buenos Aires: Kapelusz, 1968.
COSTA, Joaquim. Elementos de Biblioteconomia.
Porto: Tavares Martins, 1943.
EVANGELISTA, Fernanda Mayer. Incêndios em
bibliotecas: a perda da memória patrimonial e os
prós e contras dos métodos de prevenção e controle.
Porto Alegre: UFRGS, 2008. Trabalho de Conclusão
de Curso apresentado na Faculdade de
Biblioteconomia e Comunicação da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
OGDEN, Sherelyn. Administração de emergências.
2.ed. Rio de Janeiro: Projeto Conservação Preventiva
em Bibliotecas e Arquivos; Arquivo Nacional, 2001.
MARTINS, Fábio Braga. Entrevista - informações
[sobre guarda de acervos e situações de risco,
mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
<[email protected]> em 31 out. 2018.
PROTEÇÃO Passiva Contra Incêndio X Proteção
Ativa Contra Incêndio. In: HD Portas, [2018]?
Disponível em: <http://www.hdportas.com.br
/blog/prote% C3%A7%C3%A3o-passiva-contra
-inc%C3%AAndio-x-prote%C3%A7%C3%A3o-
ativa-contra-inc%C3%AAndio>. Aceso em: 7 dez.
2018.
SANTOS, Sergio Roberto; Tatiane Musardo. O que é
proteção passiva contra incêndio (PPI). In:
Abracopel, 2014. Disponível em: <http://abracopel.
org/artigos-tecnicos/o-que-e-protecao-passiva-contra-
incendio-ppi/>. Acesso em: 07 dez. 2018.
SPINELLI, Jayme; PEDERSOLLI JR, José Luiz.
Biblioteca Nacional: Plano de gerenciamento de
riscos: salvaguarda & emergência. Rio de Janeiro:
Fundação Biblioteca Nacional, 2010.
Nota: Este artigo foi texto-base em uma das
palestras promovidas pelo GDCEJ. As opiniões
expressas nas publicações são de responsabilidade
de seus respectivos autores.
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ANEXO: ENTREVISTA
Para atender de forma mais
específica às dúvidas comuns de
profissionais e estudantes que atuam em
ambientes que armazenam acervos em
papel, foi realizada uma entrevista,
modelo questionário, com Fábio Braga
Martins, Tenente Coronel do Corpo de
Bombeiros Militar do Estado do Rio de
Janeiro e Assessor de Segurança da
Procuradoria Geral do Estado do Rio de
Janeiro.
Quais as situações de risco mais
comuns? E os principais pontos que o
gestor de bibliotecas e arquivos deve
observar para evitar desastres como o
que ocorreu ao Museu Nacional?
O acumulado de papéis e o uso de
materiais combustíveis... Também a falta
de investimento em sistema de prevenção
contra incêndio e pânico e a legalização
do estabelecimento. O principal será
buscar junto ao Corpo de Bombeiro a
legalização do seu estabelecimento.
Como o bibliotecário/arquivista
podem colaborar na gestão do espaço
e no fluxo de pessoal em um caso de
evacuação, por exemplo? Como o
senhor analisa a participação destes
profissionais em brigadas
voluntárias?
Ele tem que buscar uma capacitação na
área. Contratar uma empresa que faça a
preparação da equipe em casos de
evacuação... essa é a melhor forma de
reação a qualquer ameaça. A
participação deve focar na prevenção.
Buscar legalização do estabelecimento e
se preparar para análise de risco,
mitiga-los e em caso de necessidade,
fazer a evacuação do local.
Conhecer o edifício, rotas de fuga,
saídas de emergência é fundamental.
Ainda é comum funcionários
desconhecerem o local onde
trabalham? Por quais razões?
É comum o desconhecimento. A
principal razão é não acreditar que
possa ocorrer um sinistro.
Como o bibliotecário/arquivista
podem auxiliar na conscientização de
colegas e usuários?
Prepararando as pessoas através de
palestras, folder e simulados, orientado
por equipes especializadas, toda a
equipe na área de prevenção, análise de
risco e na evacuação. A principal
conscientização é acreditar que o
sinistro pode ocorrer.
Em caso de irregularidades como, por
exemplo, falta de manutenção elétrica,
como proceder de forma eficaz? Quais
os principais canais de contato para
quem observar irregularidades?
Nesse caso, é importante buscar
orientações com o Corpo de Bombeiros
e empresas credenciadas por este órgão.
No estado do Rio de Janeiro, através do
http://www.cbmerj.rj.gov.br/148-
diretoria-geral-servicos-tecnicos ou
entrar em contato com o quartel da área
operacional do seu estabelecimento.
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Grupo de Profissionais em Informação e Documentação Jurídica do Rio de Janeiro – GIDJ/RJ
Grupo de Discussão em Coleções Especiais Jurídicas – GDCEJ
GDCEJ | dezembro de 2018 Acesse: gidjrj.com.br | www.gdcej.wordpress.com
Existe a necessidade de um plano
específico de emergência para espaços
que armazenam acervos em papel?
Quem irá orientar quais dispositivos
necessários é o Corpo de Bombeiros e
empresas credenciadas. Mas existem
extintores específicos que podem agir de
forma mais eficiente. Porém a prevenção
é sempre a melhor opção.
As brigadas de incêndio adotam
alguma tomada de decisão específica
para acervos com obras raras? Existe
algum tipo de mobiliário mais
adequado para o armazenamento
acervos em papel?
Lembro sempre que a ações de
prevenção são as melhores medidas,
como manutenção da parte elétrica, não
fumar nesses recintos ou uso de qualquer
agente combustível ou de ignição. Para
reação existem extintores específicos
como CO2, FM200 e detectores de
fumaça. Construir uma sala segura com
portas corta fogo e materiais
retardantes, para obras de raridade, de
grande valor... E a principal medida da
brigada em caso de incêndio é solicitar
apoio ao Corpo de Bombeiros e fazer a
evacuação do estabelecimento, após
combate ao incêndio. O ideal é
transformar [o espaço] em uma sala
segura...
Até onde vai nossa responsabilidade?
Quais os nossos limites na gestão de
espaços desta natureza?
A responsabilidade maior está na falta
de legalização do estabelecimento. Caso
tenha alguma irregularidade, é
importante a notificação ao órgão
fiscalizador ou correção do problema.
Colaboraram na elaboração das perguntas: Alessandra
Oliveira (Bibliotecária), Jamille Passalini
(Arquivista), Nathália Leal e Luis Gustavo Souza
(Estudantes de Biblioteconomia).