gestÃo estratÉgica de custos

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1199801072 . 11111111111111111 I I 1111111111111111 11 111 GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS ESTUDO EXPLORATÓRIO DA UTILIZAÇÃO DO ABC/ABM NO BRASIL BASEADO NA EXPERIÊNCIA DE EMPRESAS DE CONSULTORIA Banca examinadora: Prof. Orientador: Jacob Ancelevicz Prof.: ............................................ . Prof.: ............... \; ........................... .

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GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

ESTUDO EXPLORATÓRIO DA UTILIZAÇÃO DO ABC/ABM

NO BRASIL BASEADO NA EXPERIÊNCIA DE

EMPRESAS DE CONSULTORIA

Banca examinadora:

Prof. Orientador: Jacob Ancelevicz

Prof.: ............................................ .

Prof.: ............... \; ........................... .

Page 2: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

11

Aos meus pais, Ernesto e Auxy,

pelo incentivo.

A Cristina N orões,

pela compreensão e apoio.

Page 3: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

111

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

NELSON LOPES PUCCINI

GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

Estudo exploratório da utilização do ABC/ ABM no Brasil baseado na experiência de

empresas de consultoria

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da FGV IEAESP Área de Concentração: Contabilidade, Finanças e Controladoria, como requisito para obtenção do título de mestre em Administração.

Orientador: Prof Jacob Ancelevicz

SÃO PAULO 1998

( .

i I

Fundação Getulio Vargas Escola de Administração de Empresas de sao Paulo

Bihlioteca

Page 4: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

PUCCINI, Nelson Lopes. Gestão Estratégica de Custos - Estudo

exploratório da utilização ABC/ ABM no Brasil baseado na experiência de

empresas de consultoria. São Paulo: EAESP/FGV, 1998. 107 p.

(Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação da

EAESP/FGV, Área de Concentração: Contabilidade, Finanças e

Controladoria).

Resumo: O trabalho apresenta uma evolução dos sistemas gerenciais de

custos. Analisa as principais mudanças que estão ocorrendo no ambiente

competitivo e seus reflexos na deterioração da qualidade das informações de

custos dos sistemas gerenciais. Discute conceitos relacionados ao custeio­

baseado em atividades (ABC) e à gestão-baseada em atividades (ABM), que

podem constituir-se em instrumentos para melhoria dessas informações.

Realiza ainda um estudo exploratório sobre o estágio de utilização desses

conceitos em empresas situadas no Brasil, com base na experiência de

empresas de consultoria que implementam esses projetos nos mais diversos

setores da economia.

Palavras-Chave: Custeio-Baseado em Atividades (Activity-Based Costing­

ABC) - Gestão-Baseada em Atividades (Activity-Based Management -

ABM)- Direcionadores de Custos (Cost Drivers)- Processos- Atividades­

Custos Indiretos ( Overhead) - Implementação etc.

Page 5: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

IV

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO 1

2 - EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE CUSTOS 5

2.1 - Histórico 5

2.1.1 - A Contabilidade de Custos até 1920 5

2.1.2 -Empresas de múltiplas atividades 10

2.1.3 -Empresas multidivisionais 13

2.1.4 - A Contabilidade de Custos - dos anos 20 aos 80 15

2.2- Sistemas de Custeio Tradicionais 17

3 -MUDANÇAS NO AMBIENTE COMPETITIVO 22

3.1 -Fatores de Mudança 23

3. 1. 1 - Globalização 23

3 .1.2 - Desregulamentação e Privatização 24

3 .1. 3 - Automação 29

3.1.4- Tecnologia da Informação 30

3 .1. 5 - Menores Ciclos de Vida 32

3.2 - Novas Filosofias 33

3 .2.1 - Just-In-Time (llT) 33

3 .2.2 - Total Quality Management (TQM) 35

3. 3 - Estratégia Competitiva 36

Page 6: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

v

3. 4 - Implicações para a Gestão de Custos 40

4 - ACTIVITY -BASED COSTING I ACTIVITY-BASED MANAGEMENT 44

4. 1 - Histórico 44

4.2- Modelo Conceitual do ABC I ABM 46

4.2.1 - Activity-Based Costing (ABC) 46

4.2.2 - Activity-Based Management (ABM) 55

4.2.3- Evolução do ABC I ABM 57

4.2.4- Hierarquia das Atividades 60

4.3- Implementação de Sistemas ABC I ABM 63

4. 3 .1 - Considerações para o projeto do sistema 63

4.3.2- Abordagens de Implementação 67

4.4 - ABC no Brasil 74

5 - ESTUDO EXPLORATÓRIO - ABC I ABM EM EMPRESAS NO BRASIL 79

5. 1 - Metodologia 79

5.2- Resultados 81

5.3 -Análise dos Resultados 88

6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 92

ANEXOS 99

BIDLIOGRAFIA 105

Page 7: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

AGRADECIMENTOS

Ao prof. Jacob Ancelevicz, além da orientação, pelo incentivo e conselhos,

a Wang Homg e Thelma Rocha, pela contínua motivação,

às empresas de consultoria: Arthur Andersen, Emest & Y oung, Price Waterhouse e KPMG Peat Marwick, pelas entrevistas concedidas.

VI

Page 8: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

1

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

As mudanças nas últimas décadas caracterizam-se por maior competição

global, expansão e uso da tecnologia da informação, preocupação com a qualidade,

crescimento da automação, mix de produtos, diminuição de estoques, inovações na

organização das operações e menores ciclos de vida dos produtos. Isso explica em

grande parte por que muitos sistemas de contabilidade gerencial - projetados para

atender necessidades existentes numa realidade bastante distinta da atual - podem não

atender aos principais objetivos internos da empresa: controle das atividades

operacionais e/ou custeio de produtos.

O gerenciamento de custos utiliza a informação de custos para avaliar

com que eficiência e eficácia os recursos da empresa são consumidos no processo de

produção. Por utilizar dados contábeis, tal gerenciamento é freqüentemente

denominado "contabilidade gerencial". Portanto, neste trabalho, a exemplo do que foi

feito por BRÁS (1992), utilizaremos o conceito de gerenciamento de custos como

sinônimo de contabilidade gerencial.

O objetivo de avaliação de estoques - visando fornecer relatórios

financeiros de curto prazo - tem norteado as práticas dos sistemas gerenciais, que se

justificaram no passado em função da necessidade de informar investidores e governo

sobre o resultado da empresa, através de medidas auditáveis e conservadoras.

Page 9: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

2

Atualmente, porém, considerando-se que a importância relativa dos estoques está

decrescendo, já que tendem a ser minimizados ou mesmo eliminados (filosofiajust-in­

time - JIT), tal procedimento é injustificável.

A falta de convergência entre os sistemas gerenciais de custos e os

sistemas contábeis de custos é natural, pois ambos procuram, a partir da mesma fonte

(dados contábeis para avaliação de estoques), atender objetivos completamente

distintos. Enquanto a contabilidade de custos enfatiza o uso de dados contábeis para o

cálculo dos custos dos produtos nos relatórios financeiros, a contabilidade gerencial

utiliza-se deinformações de custos para avaliar a eficiência na alocação de r~cursos e

a eficácia do negócio na geração de produtos e serviços que agreguem valor aos

clientes.

Por muitos anos, a contabilidade de custos foi a principal fonte de

informações para a contabilidade gerencial, que começou a ser questionada a partir

da década de 80, por não fornecer informações relevantes para a tomada de decisão

na empresa. Acrescentem-se as severas críticas que a contabilidade gerencial vem

sofrendo por parte dos estudiosos do assunto.

Com o objetivo de solucionar esse problema, surgiram conceitos e

metodologias como o Custeio-Baseado em Atividades - ABC (Activity-Based

Costing) e a Gestão-Baseada em Atividades - ABM (Activity-Based Management),

que podem constituir-se em instrumento de orientação para a empresa, bem como

Page 10: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

3

possibilitar melhor compreensão da situação atuai· e· futura, já que trazem embutida

uma visão de longo prazo.

Para JOHNSON e KAPLAN (1987), o gerenciamento de custos deve se

adaptar à nova realidade e os sistemas de contabilidade gerencial não se limitar a mero

armazenamento de dados, mas atuar como propulsores das mudanças para que a

empresa alcance seus objetivos no longo prazo. Os indicadores não-financeiros

voltam a ter importância fundamental nesse novo contexto. Para os autores, propor o

uso mais difundido desses indicadores equivale a propor o retorno aos indicadores

operacionais que deram origem aos sistemas de contabilidade gerencial.

Este trabalho objetiva realizar uma avaliação crítica desses conceitos e

metodologias, além de um estudo exploratório do conhecimento e utilização dos

mesmos no Brasil, com base na experiência de empresas de consultoria. Apesar das

limitações decorrentes da utilização desta fonte - opinião, tipo de informação

fornecida e região abrangida - acreditamos ser possível atingir nosso objetivo.

No segundo capítulo, expõe-se e analisa-se a evolução dos sistemas

tradicionais de custos, procurando ressaltar as influências que tornaram o

desenvolvimento nessa área tão inexpressivo nas últimas décadas.

No terceiro capítulo discutem-se questões como o impacto da automação,

globalização e maior competitividade, entre outras mudanças, que justificam uma

revisão dos métodos empregados nos sistemas gerenciais de custos.

Page 11: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

4

No quarto capítulo apresentam-se os conceitos do ABC (Activity-Based

Costing) e ABM (Activity-Based Management), indicando as diferenças em relação

aos sistemas tradicionais bem como os principais aspectos ligados à sua

implementação.

No quinto capítulo, efetua-se uma avaliação preliminar do atual estágio de •

conhecimento e utilização dos sistemas ABC I ABM, mediante pesquisa exploratória

junto às principais empresas de consultoria em São Paulo.

No sexto capítulo, apresenta-se a conclusão do trabalho, com base nos

conceitos. apresentados e na análise dos resultados da pesquisa exploratória, avaliando

a importância dos sistemas ABC I ABM para a contabilidade gerencial, além de

fornecer sugestões para novos trabalhos.

Page 12: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

5

CAPÍTUL02

EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE CUSTOS

Neste capítulo será analisada a evolução da Contabilidade de Custos,

utilizando como principal referência a obra Relevance Lost, 1 que fornece uma visão

bastante detalhada e abrangente.

2.1 -HISTÓRICO

"O conhecimento das tendências e do desenvolvimento da

Contabilidade de Custos no passado é importante na medida em que

pode nos fornecer uma perspectiva para a avaliação das práticas e

dos pensamentos atuais" (OLIVEIRA, 1991, p. 7).

2.1.1- A Contabilidade de Custos até 1920

Para JOHNSON (1981), muitos autores- entre os quais Scott, Gamer e

Littleton - consideram que a origem da Contabilidade de Custos está ligada ao

crescimento do sistema fabril, na chamada Revolução Industrial que começou na

Inglaterra no século XVIIT, quando muitos contadores se defrontaram, pela primeira

vez, com a maioria dos problemas que ainda hoje afligem a Contabilidade Gerencial.

Para o autor, não é procedente a explicação tradicional que relaciona a

Revolução Industrial com o desenvolvimento da Contabilidade de Custos. Para ele, o

1 JOHNSON, H.T., KAPLAN, R. S. Relevance Lost. Boston, Harvard Business School, 1987.

Page 13: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

6

surgimento de novos métodos de organização da atividade econômica é que explica o

desenvolvimento de procedimentos contábeis de custos nas empresas industriais nesse

período. Com a introdução de um novo modo de organização da produção, foi

necessário o desenvolvimento de um novo tipo de registro contábil, o registro de

custos, pois o mercado já não fornecia todas as informações para a coordenação do

processo produtivo, centralizado em um único local de trabalho.

As primeiras organizações americanas a desenvolverem sistemas de

contabilidade gerencial foram as tecelagens de algodão mecanizadas e integradas,

surgidas após 1812. As contas de custos de partida dobrada diferiam radicalmente de

quaisquer registros contábeis previamente usados.

As informações de custos fornecidas por essas contas visavam suportar o

gerenciamento das atividades internas da organização, decisões ·de curto prazo e

controlar a conversão de matérias-primas em produtos acabados. Isso decorreu da

substituição da taxa de pagamento por unidade produzida por contrato salarial,

originando a questão da produtividade. As informações auxiliavam os gerentes na

avaliação dos processos internos e no estímulo aos trabalhadores para cumprirem as

metas de produtividade.

No setor siderúrgico, as operações industriais do final do século XIX

eram bem mais vastas e complexas que as operações da indústria têxtil da Nova

Inglaterra do início do mesmo século. Não obstante, a maioria das organizações fabris

continuava oom uma. única atividade básica: a conversão de matérias-primas em

Page 14: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

7

produtos ,acabados. ·Assim; ·essàs ··em:presas·Utilizàràfu versões refinadasie elabor~d~s.

dos mesmos sistemas de custos de conversão originários das primeiras fábricas

têxteis. A depreciação de ativos e estimativas de retorno do investimento ainda não

eram consideradas importantes para merecer maior atenção por parte dos

administradores.

As ferrovias de meados do século XIX atingiram proporções bem maiores

que as maiores fábricas têxteis. Na década de 1880, chegaram mesmo a ultrapassar o

tamanho das gigantescas siderurgias. Ao contrário das primeiras empresas industriais,

as ferrovias criaram sistemas especiais de informações, registrando e· sintetizando com

eficiência imensos volumes de transações diárias e suas consequências. Assim como

as indústrias, conceb~rapt,~istemªs de;cop.tabilidade,de custos para avaliar e controlar

os processos internos, ~onvertendo insumos intermediários em serviços.de transporte.

Usando a tonelada-milha como unidade básica de produção, criaram complexos

procedimentos contábeis internos para calcular o custo por tonelada-milha.

Distribuidores de grande escala - atacadistas e varejistas - como Macy e

Sears, desenvolveram novos sistemas de contabilidade gerencial no século XIX. No

final do século, o mercado americano foi inundado por produtos padronizados,

fabricados em grandes volumes. Para operar eficientemente, esses distribuidores .

criaram sistemas para a administração interna do alto volume, alta rotatividade e

baixas margens - características inerentes ao negócio. Para monitorar e avaliar. seus

gerentes, eram coletadas informações contábeis departamentais de resultado bruto e

rotação dos estoques. Os indicadores contábeis específicos da eficiência dos

Page 15: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

9

Os administradores de algumas empresas metalúrgicas avançaram um

passo em relação aos colegas dos demais ramos industriais, concentrando sua atenção

na predetenninação de padrões de consumo de matéria-prima e mão-de-obra, nas

tarefas de fabricação. Os métodos utilizados incluíam o estudo do projeto de

engenharia (relações de matérias-primas) e o estudo de tempos e movimentos.

As informações sobre os padrões de consumo foram utilizadas por

engenheiros e contadores com três diferentes propósitos:

a) avaliar o rendimento de tarefas ou processos, para minimizar os

desperdícios de materiais e de tempo, conforme planejamento do fluxo

de trabalho proposto por Frederick Taylor;

b) controlar custos reais através do desenvolvimento de sistemas

detalhados de análise de divergências entre o desempenho-padrão e o

real. Harrington Emerson talvez tenha sido o primeiro a enfatizar que

essas informações pennitiriam diferenciar condições controláveis e não

êontroláveis pelos administradores, idéia associada anos depois ao

orçamento flexível, e

c) simplificar o processo de avaliação de estoques, como propunham os

contadores financeiros do início do século.

Engenheiros e administradores desenvolveram, a seguir, nova meta para a

Contabilidade de Custos: avaliar a rentabilidade global da empresa. Alexander

Page 16: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

10

Church, contemporâneo de Taylor, defendeu o uso de informações de custos de

produtos para remontar a rentabilidade global de uma empresa aos lucros obtidos dos

produtos individuais. No entanto; o próprio Church já havia vislumbrado prováveis

deficiências em relação aos procedimentos de distribuição de despesas gerais dos

"contadores comerciais" - com cálculos de custos médios - no caso de linha de

produtos diversificada usar recursos da fábrica em proporções muito variáveis.

Para CHURCH, citado por JOHNSON e KAPLAN (1987), esse esquema

é inteiramente equivocado, porque poucas das despesas da conta de lucros e perdas

guardam qualquer relação entre si, com salários ou com o tempo. Assim, confiar

numa percentagem arbitrariamente estabelecida pode ser um bom expediente para se

livrar dos números e dar um ar de finalidade à contabilidade de custos. Como um guia

de rentabilidade real de classes específicas de trabalho, é desprovido de valor e mesmo

pengoso.

2.1.2 - Empresas de múltiplas atividades

No início do século XX ocorreu uma onda de incorporações, produzindo

grandes empresas, integradas verticalmente, que passaram a desempenhar várias

atividades antes conduzidas por empresas individuais: fabricação, compras, transporte

e distribuição. Surge a necessidade de um sistema de controle gerencial que facilitasse

o controle e coordenação das diversas atividades.

Page 17: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

11

A complexidade e a diversidade das atividades exigiram novas formas

organizacionais. As empresas eram centralizadas, sendo as operações globais

estruturadas em departamentos distintos: produção, vendas, finanças e compras. Os

gerentes departamentais procuravam agir de modo a maximizar o desempenho de seus

departamentos. Desse modo, a alta gerência dispunha de mais tempo para a

coordenação das diversas atividades da empresa, procurando obter o máximo de

sinergia das atividades integradas.

Tal estrutura organizacional exigia um sistema de medida de desempenho

para motivar, orientar e avaliar cada departamento, conforme a estratégia global da

empresa. A alta gerência -dessas empresas adotou duas novas evoluções na

contabilidade gerencial, para atenuar os problemas oriundos da motivação e controle

dos gerentes departamentais. A primeira, a projeção de orçamentos para coordenar

e equilibrar os fluxos internos de recursos. A segunda, através do desenvolvimento de

um novo indicador, o retomo do investimento (retum on investment- ROI), para

medir o desempenho departamental, permitindo comparação com o desempenho

global.

A Du Pont Powder Company ilustra bem como evoluíram os sistemas de

contabilidade gerencial das primeiras empresas americanas de múltiplas atividades.

Após ser adquirida pelos primos Du Pont, foi desenvolvida nova estrutura

administrativa (após 1903), através da consolidação de suas operações, formando

uma empresa centralizada e departamentalizada.

Page 18: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

12

A Du Pont priorizou a utilização do ROI, indicador praticamente

ignorado até então. Um sistema de contabilização de ativos foi o principal

instrumento que permitiu a utilização do ROI como ferramenta da contabilidade

gerencial naquela época.

A fórmula do ROI originou-se dos estudos e aplicações de Donaldson

Brown, que combinou dois indicadores contábeis de desempenho que as empresas de

única atividade de fabricação e de distribuição haviam desenvolvido em separado no

século XIX- a margem operacional e a rotação do investimento (talvez adaptada da

rotação dos estoques usada pelos distribuidores).

Na Du Pont, ocorreu nítida divisão de informações entre gerência

operacional e alta administração. As informações dadas aos superintendentes de

fábrica enfatizavam a eficiência física dos processos de produção dentro da fábrica.

Estudos e avaliações de rentabilidade eram tarefas reservadas ao Comitê Executivo.

Somente a partir de 1920, ao adotar uma estrutura multidivisional descentralizada (em

virtude da complexidade e variedade de produtos e operações), a empresa começou a

usar indicadores brutos de lucratividade e investimentos para medir o ROI em cada

uma de suas divisões, responsabilizando os gerentes divisionais pelos resultados.

O sistema de contabilização das vendas para monitorar a complexa

operação de comercialização era talvez a parte mais nova e sofisticada do sistema

gerencial da Du Pont. Contribuía para o controle centralizado mas, ao contrário do

Page 19: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

13

sistema de contabilidade industrial, estimulava a máxima descentralização da tomada

de decisão.

2.1.3 - Empresas multidivisionais

Nos anos 20, devido à incapacidade da da General Motors (GM) em

solucionar problemas internos decorrentes da administração de uma firma

diversificada, Pierre Du Pont sucedeu a William Durant, o fundador da GM, na

presidência da empresa.

Com as contribuições de Alfred Sloan e Donaldson Brown, Du Pont

desenvolveu a estrutura multidivisional da GM, entregando à alta administração a

responsabilidade pela coordenação, avaliação e planeja.inento das atividades

diversificadas, delegando aos gerentes gerais de cada divisão a supervisão das

operações rotineiras.

Essa forma de organização e os sistemas de avaliação e confecção de

relatórios, elaborados na GM, no início dos anos 20, serviram de modelo a muitos

sistemas atualmente em uso. O sistema de contabilidade gerencial da GM

desempenhava três importantes tarefas: fornecia previsão operacional anual,

permitindo comparar metas operacionais ex-ante de cada divisão com os objetivos

financeiros; proporcionava informes de vendas e orçamentos flexíveis, que indicavam

desvios dos resultados reais em relação aos planejados, e permitia à alta administração

Page 20: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

14

a distribuição de recursos e remuneração dos gerentes pelas divisões com base em

critérios de desempenho uniformes.

O principal objetivo da empresa era atingir um ROI satisfatório (20%) no

longo prazo, operando em média com 80% da capacidade de produção. Administrar

uma empresa tão complexa, atuando em um setor que apresentava grande volatilidade

de vendas e lucratividade, consistia, sem dúvida, num dos maiores desafios gerenciais

nos anos 20. Por essa razão, Brown projetou um ''Estudo de Preços" anual, que

permitia à alta administração da GM coordenar os planos operacionais anuais de cada

divisão com as políticas de longo prazo de retomo do investimento e de volume­

padrão.

Dois importantes aspectos foram decisivos para tomar o ROI um

indicador de desempenho divisional:

a) política de preços de transferência, baseada em preços de mercado a

partir do início da década de 20~ as divisões, em suas inter-relações,

eram estimuladas a agir como fariam com fontes externas, e

b) participação conjunta da alta administração e gerências divisionais na

elaboração dos planos de expansão~ à previsão anual incentivava o

gerente divisional a alcançar as metas de ROI sem restringir os planos

de expansão, eliminando o perigo de desinvestimentos para melhorar o

ROI de alguma divisão.

Page 21: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

15

2.1.4- A Contabilidade de Custos- dos anos 20 aos anos 80

Neste período, o desenvolvimento da Contabilidade de Custos foi

marcado por poucas mudanças significativas. Os sistemas de contabilidade gerencial

distanciaram-se de seus objetivos originais de controle da eficiência dos processos e

dos custos de produção, procurando atender regras impostas pela legislação

governamental. Os custos passaram a ser analisados de forma agregada, o que acabou

por limitar sua capacidade informativa. As empresas precisavam apresentar relatórios

de curto prazo para o público externo, ao qual não interessava a informação de custos

para tomada de decisão, mas seu impacto na avaliação dos estoques e lucros

publicados.

O desaparecimento dos sistemas de custos industriais do final do século

XIX e início do século XX está associado aos custos de processamento existentes à

época. As informações sobre custos de produtos e linhas individuais eram

aparentemente caras demais para que as empresas administrassem linhas de produtos

diversificadas e monitorassem de forma precisa o consumo de recursos de cada

produto.

Isso não significou, porém, o desaparecimento da avaliação de custos dos

produtos. A disciplina conhecida por Contabilidade de Custos floresceu após a

Primeira Guerra Mundial, não visando acompanhar o consumo de recursos de cada

produto para fins gerenciais, mas à avaliação de estoques para os informes

financeiros. Esses procedimentos de avaliação de estoques adotados pelos contadores

Page 22: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

16

públicos - privilegiando quantias objetivas, auditáveis e conservadoras no cálculo dos

custos dos produtos - acabaram por exercer profundo efeito sobre a Contabilidade

Gerencial até o início da década de 80.

A grande diferença entre a avaliação dos custos dos produtos por

engenheiros e auditores reside no tratamento dado aos custos indiretos e despesas

gerais. Os engenheiros procuravam relacionar os custos indiretos às atividades

específicas causadoras de tais custos. Os contadores, que consideravam esse nível de

detalhe desnecessário, distribuíam os custos aos produtos com base num divisor

comum, geralmente horas de trabalho ou custo de mão-de-obra.

No ·período compreendido entre 1920 e 1980 houve um predomínio da

Contabilidade Financeira, que se refletiu até no perfil do administrador, originário

predominantemente da área financeira, sem conhecimento do processo produtivo.

A literatura do período inclui muitos trabalhos, especialmente de autores

da área econômica. Em 1923, J.M. Clark apresenta extensa discussão sobre a

natureza dos custos indiretos e seu uso para decisões gerenciais, além de ter

defendido a relevância de diferentes custos para diferentes propósitos. Na década de

30, surgem as contribuições da "London School ofEconomics", reforçando a ênfase

dada por Clark à irrelevância do uso dos dados de custo obtidos dos livros contábeis

para a tomada de decisão, por incorporarem custos fixos ao custo do produto. Outra

contribuição foi a introdução do conceito de custo de oportunidade, por Ronald

Coase.

Page 23: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

17

Na década de 50, William Vatter propõe sistemas de contabilidade

gerencial mais objetivos, orientados para monitorar a eficiência interna das empresas.

À semelhança de Clark, advoga o uso de diferentes custos para objetivos específicos.

Outra importante contnlmição de Vatter foi a consideração da dimensão temporal

(agilidade) no processo de geração de informações, privilegiando a acurácia e não a

exatidão.

Para Johnson e Kaplan, apesar das várias contribuições, a literatura

acadêmica recente sobre Contabilidade Gerencial não apresenta referências a

organizações reais, dado que os modelos foram desenvolvidos por economistas, que,

na sua maioria, teriam pouco conhecimento do que estavam modelando.

Assim, dos anos 20 a 80, os sistemas de contabilidade de custos foram

preponderantemente orientados para a avaliação de estoques e para atender às

necessidades de um público externo à empresa. Esse predomínio da Contabilidade

Financeira sobre. a Gerencial fez com que os dados de custos perdessem parte de sua

confiabilidade.

2.2 - SISTEMAS DE CUSTEIO TRADICIONAIS

Atualmente, o sistema adotado em relatórios financeiros externos é o

custeio por absorção, cuja metodologia considera que todos os custos rateados têm

o mesmo comportamento, ou seja, aumentam na razão direta do volume de produção.

Page 24: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

18

No entanto, muitos custos variam com a diversidade e complexidade dos produtos, e

não com o volume.

"Ao defininnos um tratamento fonnal para as infonnações de

custos, para atender aos objetivos de utilização estabelecidos pelos

usuários, estamos elaborando um sistema de custos. [ ... ] Qualquer

abordagem sempre empregará critérios não exatos e suscetíveis de

critica, pois a Contabilidade de Custos não é uma ciência exata"

(OLIVEIRA, 1991, p. 43).

Esse sistema,. ao apropriar custos indiretos de fabricação aos produtos

utilizando como base de apropriação a mão-de-obra direta ou hora-máquina, pode

apresentar deficiências para o controle dos processos (informações atrasadas e

agregadas) e custeio dos produtos. Ao introduzir subsídios cruzados entre os

mesmos, pode levar os gestores a tomar decisões incorretas no que se refere a preços,

rentabilidade, mix, corte ou adição de produtos ou linhas de produtos.

Podem surgir situações "estranhas", nas quais, comparando as

demontrações de resultado de períodos subseqüentes, observa-se que menores vendas

podem implicar em resultado melhor, unicamente porque naquele período mais

unidades foram produzidas. Assim, o custo total calculado afetará o resultado do

período em que os produtos forem vendidos.

"Por não dizerem respeito a este ou àquele produto ou a esta ou

àquela unidade, são quase sempres distribuídos à base de critérios

de rateio, que contêm [ .. .] quase sempre. grandes graus de

Page 25: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

19

arbitrariedade. [ ... ] Por se alterar um procedimento de distribuição

de custos fixos, pode-se fazer de um produto rentável um não

rentável (aparentamente) e vice-versa" (MARTINS, 1988, p. 198).

Devido à falta de sintonia entre o volume de produção e as vendas

realizadas, foi desenvolvido o custeio direto (ou custeio variável), onde a parcela fixa

dos custos indiretos de fabricação é tratada como despesa do período, associada a um

período de tempo e não à quantidade produzida. Só são considerados custos do

produto os custos variávejs diretamente relacionados com a produção.

No custeio direto, os custos variáveis são deduzidos da receita de vendas

para se obter a margem de contribuição, que, segundo HORNGREN ( 1986), fornece

importante auxílio na determinação do mix de produtos, nas decisões de precificação,

descontos, investimentos e eliminação de produtos. Contribui para rapidez em

estabelecer as relações entre custo, volume e lucro, suportando a tomada de decisão.

No custeio por absorção, os custos indiretos são apropriados por um ou

mais critérios de distribuição, o que acarreta dependência do . custo total do produto

em relação ao critério selecionado. Todos os custos (de fabricação) transitam pelos

estoques, excetuando as despesas gerais e administrativas, lançadas diretamente a

resultado no final do período.

Qual seria o melhor sistema? A discussão é antiga e já dura algumas

décadas. Os adeptos do custeio por absorção dizem que os lucros são maiores, .

quando a produção excede as vendas porque as instalações· fisicas são mais utilizadas

Page 26: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

20

e produzem beneficios futu.ros na formá de· estóques. Pru-a os que d~fendéro, o custeio

direto, os ciJstos indiretos de fabricação fixos fornece~ capacidade para produzir,

sendo irrelevante se a mesma é totalmente usada ou rião, em termos de ocorrência

desses custos no período.

A variação do resultado do exercício na mesma direção das vendas està.ria

entre as vantagens do custeio direto. Os dados assim obtidos·seriam mais proveitosos

para planejamento, análise, controle e tornada de decisão. A identificação clara dos

itens que compõem cada grupo de custos facilita a percepção dos fatores relevantes

que afetam a tomada de decisão.

Os defensores do custeio poi'' absorção rebatem essas colocações em

relação à separação dos custos e à simplificação da demonstração de resultado.

Alegam que a classificação dos custos é dificil e problemática, sendo feita muitas

vezes por mera conveniência. Corno exemplo citam alguns custos variáveis que

podem ser maiores, quando o volume de produção· fot mais baixo, e a existênCia de

custos semivariáveis que apresentam ambos os componentes e que teriam que ser

decompostós para fins de análise.

Um grande • desafio a ser enfrentado pelos sistemas atuais de contabilidade

de custos é a detetrnifiação de uma forma mais adequada de apropriar os custos

indiretos de fabricação aos produtos, dado que tais custos estão crescendo em relação

aos custos variáveis e aos custos totais.

Page 27: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

21

HOWELL e SOUCY (1987) defendem que um único sistema de custos

não pode servir. a todas as necessidades dos administradores. Mais ainda, acreditam

que um sistema de custos deve ser capaz de identificar outros custos que não os de

fabricação apenas, tais como custos de projeto, compras, marketing e vendas.

Concluem que pelo menos dois sistemas são necessários: um, para controle de custos

com base de tempo real (indicadores operacionais de eficiência), e outro, para

determinação de custo do produto, indo além da fabricação.

Em One Cost System Isn't Enough, KAPLAN (1988) também considera

que somente um sistema de custos pode não ser suficiente para atender todas as

necessidades, já que nas três funções de custos - controle de processos, avaliação de

custos de produtos e informes financeiros - os períodos informativos, os conjuntos de

custos relevantes e os públicos são diferentes.

Um único sistema de custos dificilmente atenderá todas as necessidades.

O mais importante, portanto, não é saber qual o melhor sistema de custos, mas qual

sistema é mais adequado para atender a determinada necessidade.

A proposta levantada por alguns autores utiliza os conceitos do

ABC/ ABM para atender outras necessidades que não o fornecimento de dados para

os informes financeiros direcionados ao público externo.

Page 28: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

22

CAPÍTUL03

MUDANÇAS NO AMBIENTE COMPETITIVO

Em Competing for the Future, HAMEL e PRAHALAD (1994)

argumentam que poucas empresas que iniciaram a década de 80 como líderes a

terminaram com sua liderança intacta e não reduzida. IBM, Texas Instruments,

Philips, TW A, Xerox, Boeing, Du Pont e muitas outras viram o sucesso erodido por

mudanças tecnológicas, demográficas e regulatórias, além de ganhos de qualidade e

produtividade significativos obtidos por competidores não tradicionais.

Para HOWELL e SOUCY (1987), às empresas cabe transformar-se cada

vez mais rapidamente para alcançar padrão de produtividade e q~alidade que lhes

assegure competitividade nos mercados de atuação. Os clientes exigem maior

qualidade, confiabilidade, rapidez na entrega e atendimento, diversidade de produtos,

entre outros fatores. Para atendê-los, as empresas estão criando um novo ambiente

fabril, com menores estoques, linhas orientadas por produto, automação e uso efetivo

da tecnologia da informação.

A seguir, apresentamos os principais fatores que influenciaram nas

mudanças ocorridas no ambiente competitivo, bem como as novas filosofias e técnicas

de gestão que também auxiliaram esse processo de mudanças. Finalmente, será

descrito o papel da estratégia competitiva das empresas considerando-se esse novo

ambiente.

Page 29: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

23

3.1- FATORES DE MUDANÇA

Entre os principais fatores que influenciam na mudança do cenário

competitivo, citamos a globalização, a desregulamentação dos mercados I

privatização de empresas estatais, a automação dos processos e os avanços na

tecnologia da informação.

3.1.1 - Globalização

KENNEDY (1993, p. 47) observa que empresas com interesses

internacionais não representam novidade; já existiam, ainda que de forma embrionária,

nos bancos privados cosmopolitas do final do século XIX. A globalização de hoje

distingue-se das anteriores pelo número e proporção de empresas multinacionais,

decorrente da nova ordem econômica do pós-guerra, que reduziu o protecionismo e

estimulou a recuperação da economia mundial. A partir da década de 70, com a

decisão dos Estados Unidos de abandonar o padrão-ouro, seguida pela liberalização

geral dos controles cambiais, houve maior liquidez no comércio mundial, com

aumento do fluxo de investimentos de capitais transnacionais.

Por trás desse aumento no fluxo de investimentos estão a

desregulamentação dos mercados monetários mundiais e a revolução nas

comunicações globais. Notadamente, o avanço tecnológico dos computadores, a

evolução dos programas (softwares), a comunicação via cabos de fibra ótica e

Page 30: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

24

satélites, as transferências eletrônicas de alta velocidade e outras tecnologias

permitiram a quebra de barreiras no mercado mundial.

A eliminação de barreiras alfandegárias permitiu a intensificação do

comércio exterior, com crescimento das empresas multinacionais, que passaram a

atuai em diversos países simultaneamente, colaborando para disseminação de hábitos,

gostos e marcas universais. Os padrões de moda e comportamento não ficam restritos

a mercados específicos, mas são aceitos nos mais diversos países.

O barateamento dos bens manufaturados, decorrente do uso intensivo de

novas tecnologias e da maior competição com concorrentes externos, tem levado

algumas regiões à especialização na fabricação de produtos, com os quais adquiram

maior competitividade. A China, por exemplo, ganhou grande participação no

mercado mundial de brinquedos e calçados, por possuir menores custos dentro destes

segmentos.

A globalização é um processo inexorável, isto é, sem retomo. Seus efeitos

estarão cada vez mais presentes no dia-a-dia das pesS(>as e das empresas nos diversos

países.

3.1.2 Desregulamentação e Privatização

Indústrias que anteriormente repassavam todos os custos ao cliente

enfrentam hoje um ambiente diferente. Segundo JOHNSON e KAPLAN (1987), a

Page 31: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

25

desregulamentação forçou as empresas a se tomarem mais eficientes e competitivas.

Mesmo aquelas que jamais se preocuparam com o custo e rentabilidade de seus

produtos tiveram que aprender a fixar preços competitivos e a reagir a iniciativas

agressivas não só de competidores tradicionais, como também de novos participantes,

antes com acesso vedado ao mercado.

No Brasil, os mais diversos setores - alimentos, informática, bancos,

siderurgia etc. - passaram a enfrentar nova realidade competitiva, especialmente a

· partir do início da década de 90. As privatizações estão ocorrendo em setores antes

considerados "intocáveis", como telecomunicações e energia. A abertura do mercado

brasileiro (e mundial) é uma realidade. Em conseqüência, os produtos importados

assumem participação cada vez maior, forçando as empresas a se tomarem mais

competitivas.

Alguns exemplos ilustram como tais mudanças na economia brasileira

alteraram as características de vários mercados.

Desregulamentaçio - Setor Moageiro do Trigo

O setor moageiro (trigo) foi regulamentado até 1990, com cotas

estabelecidas pelo governo. Com suas vendas garantidas, as empresas moageiras

estabeleciam as quantidades e condições comerciais para seus clientes, que eram

obrigados a aceitá-las para não ficar sem produto, cuja falta era constante.

Page 32: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

26

FARINA e BRAGA (1996).avaliam que, a partir da desregulamentação, a

reestruturação das empresas tornou-se condição obrigatória para a sobrevivência - o

consumidor passou a ser mais exigente e seletivo, além de contar com oferta maior

que a demanda. Os autores estimam que, dos 189 moinhos existentes no sul do país

antes da desregulamentação, restam apenas 80 em operação.

Desregulamentação - Setor de Telecomunicações

Em todos os países ocorreram ou estão ocorrendo mudanças na

regulamentação das telecomunicações2, em função das profundas alterações de

cenários trazidas pela evolução tecnológica. O ponto comum é a passagem de

situações monopolísticas, de fato ou de direito, para estímulo e garantia da

competição entre prestadores de serviços, com a privatização total ou parcial das

antigas operadoras estatais.

Até 1996, os serviços públicos de telecomunicações no Brasil eram

explorados pelo Sistema TELEBRÁS, conglomerado estatal, criado por lei em 1972 e

consolidado ao longo da década de 70.

Ao longo desses vinte últimos anos, a TELEBRÁS não conseguiu manter

padrão de qualidade de nível internacional - medido pela taxa de congestionamento do

sistema interurbano - com exceção dos primeiros anos da década de 80. Tampouco

2 MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES. As Telecomunicações e o Futuro do Brasil: Flexibilização do Modelo Atual. Secretaria Executiva, Abrill995. 69p.

Page 33: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

27

conseguiu gerar recursos necessários à sua expansão em ritmo adequado às exigências

da demanda.

Era indispensável o aporte de recursos adicionais, possível através da

participação da iniciativa privada, o que exigia a flexibilização do sistema, que "deve

perseguir o objetivo principal de introduzir o regime de competição na prestação

desses serviços, visando, em última análise, ao beneficio do usuário e ao aumento de

produtividade da economia brasileira. ''3

Atualmente, é possível observar os efeitos, ainda que em estágio inicial,

da flexibilização no setor de telecomunicações, especialmente através das

concorrências para concessões para fornecimento de serviços de telefonia celular

móvel, utilizando a banda B. Os consórcios (associações entre empresas brasileiras e

grandes operadoras de telecomunicações internacionais) vencedores já têm um

cronograma para entrada em operação no final de 1997.

Privatizaçio - Setor Siderúrgico (Subsetor Aços Planos)

Devido à falta de capacidade financeira dos empresários nacionais e não

participação de investidores estrangeiros em grandes projetos de infra-estrutura, até

1991, todas as empresas do subsetor eram estatais, formando o sistema Siderbrás.

Como em outros setores de infra-estrutura (energia, rodovias, comunicação), o

governo realizou, no setor siderúrgico, grandes investimentos entre fins dos anos 70 e

3 In As Telecomunicações e o Futuro do Brasil ... op. cit. p.47.

Page 34: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

28

início dos anos 80. A previsão de grande crescimento do mercado interno não se

materializou e acabou por dirigir grande parte da produção para o mercado externo.

Durante . esses anos, o governo manteve uma política de subsídio indireto

aos setores consumidores de aço (especialmente o setor automobilístico) através de

preços inferiores aos do mercado internacional. Os produtores nacionais de carvão

mineral eram fornecedores exclusivos do governo, embora com preços menos

competitivos que os do mercado externo.

A falta de condições financeiras do Estado para continuar investindo no

setor siderúrgico levou à privatização nos anos 90. O processo foi rápido: entre 91 e

93, começando pela Usiminas, foram privatizadas todas as siderúrgicas nacionais de

aços planos, o que acirrou a competição entre as principais empresas do setor -

Usiminas, Siderúrgica Nacional, Siderúrgica Tubarão, Acesita e Cosipa.

Com a liberalização das importações, os preços internos adequaram-se

aos do mercado internacional. As siderúrgicas começaram a importar a totalidade de

suas necessidades de carvão mineral, sendo que o correspondente nacional, de menor

qualidade, passou a ser utilizado nas usinas termoelétricas e indústrias de cimento.

A desregulamentação continua atingindo os mais diversos setores da

economia, aumentando a demanda por indicadores de custos e sistemas

administrativos para controlar e avaliar os custos dos produtos, bem como contribuir

para a melhora na eficiência das operações.

Page 35: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

29

3.1.3 - Automação

Muitos processos industriais estão tendo sua capacidade expandida pelo

uso de tec.nologias de produção integradas por computador (CIM - computer­

integrated manufacturing): máquinas de controle numérico, robôs, fabricação

auxiliada por computador (CAM - computer-aided manujacturing) e sistemas

flexíveis de manufatura (FMS- flexible manujacturing systems).

Para se manterem competitivas, as empresas adotam cada vez mais os

sistemas FMS, que são sistemas integrados para o processamento flexível de

unidades, através de estações de trabalho semi-independentes e uma rede de

computadores de supervisão.

FOSTER e HORNGREN (1988) apontam como principais vantagens dos

sistemas FMS:

• custos: menores níveis de estoque e redução de custos de mão-de-obra

direta, sucata e retrabalho, além de menores custos para coleta de

informações;

• tempo: redução do tempo do ciclo dos processos, do projeto à entrega

do produto (redução nos tempos de setup dos equipamentos, de

movimentação, da espera em filas etc.);

Page 36: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

30

• mercado: mudanças rápidas nos produtos e produção em escala

adequada ao cliente - sustentando a competitividade com base na

economia de escopo;

• qualidade: nível de qualidade bastante elevado decorrente da

tecnologia utilizada, reduzindo custos da não qualidade (refugos e

retrabalho) e

•· tecnologia: possibilita criar e/ou manter a competitividade, sustentando

todas as vantagens anteriores.

Tais sistemas ajudam a mudar a estrutura dos custos de manufatura,

reduzindo custos diretos, como mão-de-obra, e aumentando custos indiretos, além de

possibilitar o rastreamento de custos diretos dos produtos anteriormente não

identificáveis.

3.1.4- Tecnologia da Informação

A flexibilidade e o tempo de resposta rápido são regras do mercado. O

sucesso das empresas está em saber responder às mudanças rápidas nas necessidades

dos clientes. A tecnologia da informação exerce papel decisivo nessas mudanças, ao

reduzir as restrições de tempo e espaço para adquirir, interpretar e agir sobre a

· informação.

HAECKEL e NOLAN (1993) consideram que turbulento ambiente de

negócios exige estratégias implementadas em um horizonte de tempo tático. Em

Page 37: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

31

resposta a essé desafio~ a alta· administração deve encarar a tecnologia da inforrrtação

sob uma nova ótica. Ao invés de i11vestir em sistemas . de. informação isolados, a

empresa deve investir em capacitações de tecnologi~ d~ informação. que p~tam ·à

empresa reagir prontamente, de acordo com as mudanças ocorridas no ambiente

externo.

A Internet - conjunto de redes de computadores que servem. a milhões de

pessoas em todo o mundo - representa uma revolução no meio empresarial. Para

LAQUEY e RYER (1994), a Internet criou "uma nova dimensão, um mundo

eletrônico e virtual em que.tempo e espaço praticamente não .têm. significado". De

fato, ao permitir a comunicação .instantânea de dados, imagens e voz, a Internet abre

novas persp~cti~as · para as empresas.\ As jnformaçq~s podem ser, obtidas e

disponibilizadas de forma quase instantânea. A diversificação . de produtos e serviços . ; . .

oferecidos abrem perspectivas para o comércio: muitas compras passam a ser

realizadas através do computador, sem necessidade de proximidade dos fornecedores.

Nos últimos anos presenciamos a democratização da Internet, que conecta

os principais laboratórios de pesquisas, universidades, bibliotecas, grandes . empresas,

pequenos estabelecimentos comerciais e de ensino e, também, milhões de usuários

individuais (consumidores potenciais) espalhados pelo mundo. A Internet continuará

fazendo. parte de nossa vida cotidiana, de forma cada vez mais intensa.

Page 38: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

32

3.1.5- Menores Ciclos de Vida

Muitos produtos têm apresentado significativa redução de sua vida útil A

rápida obsolescência dos produtos pode ser verificada em diversos setores da

economia. A indústria automobilística fornece um claro exemplo dessa tendência.

Veículos que anteriormente apresentavam longo ciclo de vida, hoje, em menos de

cinco anos após o lançamento, já são postos fora de linha. O constante lançamento de

produtos tem obrigado os fabricantes a inovar continuamente, para permanecer no

mercado.

Com a redução da vida útil dos produtos, o custeio do ciclo de vida toma­

se cada vez mais importante. BERLINER e BRIMSON (1992, p. 151) consideram

que "o gerenciamento do ciclo de vida é orientado àquelas atividades que ocorrem

antes da produção, para assegurar o menor custo total possível para o ciclo de vida

do produto". Segundo os autores, o custeio do ciclo de vida é necessário para:

o definir rentabilidade do produto a longo prazo;

o mostrar a eficiência do planejamento de ciclo de vida;

o quantificar o impacto dos custos da alternativa escolhida durante a fase

de engenharia e desenho e

o atribuir os custos de tecnologia para os produtos que a utilizam.

Page 39: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

33

3.2- Novas Filosofias

Para NAKAGA W A ( 1993 ), a excelência empresarial, respaldada pelas

filosofias do Just-In-Time (llT) e do Total Quality Management (TQM), tem dois

princ.ípios fundamentais: aperfeiçoamento contínuo e eliminação do desperdício. O

primeiro implica em reconhecer que a produtividade, a qualidade, a flexibilidade e os

serviços aos clientes devem melhorar continuamente. O segundo, que o desperdício é

algo que, para o consumidor, não adiciona valor ao produto.

3.2.1- Just-In-Time (JIT)

Até alguns anos, nas empresas e escolas americanas, predominava a

concepção de que a otimização . dos estoques minimiza os custos totais. Assim,

engenheiros e. analistas de custos calculavam os valores ótimos, ou lotes econômicos,

que permitiriam a redução dos custos de setup, pedido, armazenagem e manutenção,

entre outros.

Para os japoneses, os estoques representam desperdício e falta de

capacidade de planejamento. Por essa razão, ao invés de otimizarem os níveis dos

estoques, questionam as principais razões de sua manutenção:

• proteção contra a má qualidade: se uma máquina quebra, o operador

do próximo estágio de produção precisa ter itens em estoque para não

interromper o trabalho;

Page 40: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

34

• longos tempos de setup: no caso de modificação de produto em

determinada linha de produção, os equipamentos americanos exigiam

várias horas para troca de ferramentas, ocasionando falta de matéria­

prima para os estágios seguintes - os estoques eram utilizados também

para suprir essa deficiência - e

• irregularidade das entregas pelos fornecedores: os atrasos ou mesmo

falhas na entrega das matérias-primas também comprometiam o fluxo

produtivo.

Os japoneses, na linha da qualidade total, reduziram significativamente os

tempos de setup dos equipamentos, conseguindo adaptá-los em questão de minutos,

quando os americanos levavam horas. Passaram também a desenvolver relações de

parceria com os fornecedores, priorizando o longo prazo.

Para JOHANSSON (1990), o flT é uma filosofia operacional abrangente

cujo objetivo básico é a eliminação do desperdício. Sob a ótica do llT, é considerado

desperdício qualquer outra coisa que não a quantidade mínima de recursos -

equipamentos, materiais, componentes, espaço, tempo dos funcionários - que é

absolutamente essencial para adicionar valor ao produto.

Todo programa llT apresenta algumas características comuns: ênfase na

visibilidade; oferta sincronizada com a demanda; busca da simplicidade; abordagem

holística e processo contínuo (a jornada flT não acaba nunca).

Page 41: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

35

3.2.2 - Total Quality Management (TQM)

Segundo NAKAGAWA (1993), a partir a década de 70, iniciou-se nova

forma de competição, particularmente em países do Extremo Oriente, sustentada pela

conscientização da importância da qualidade. A percepção da empresa como um

sistema dinâmico possibilita entender como os componentes funcionais interagem,

influenciando o desempenho total, em termos de custos, qualidade, serviços e

diferenciação.

Tradicionalmente, as empresas americanas enfatizavam o controle

estatístico da qualidade, fixando limites superiores para os níveis aceitáveis de

produtos defeituosos. Assim, tanto as matérias-primas oriundas de fornecedores como

os produtos destinados aos clientes eram inspecionados e, se o percentual estimado de

defeitos fosse menor que o nível pré-estabelecido, seriam aceitos. Essa prática, que

deixava passar produtos defeituosos para aumentar a produtividade, acabou por

acarretar altos níveis de estoques, rejeições, reparos, sucatas e despesas com garantia.

De acordo com JOHNSON e KAPLAN (1987), as empresas do Japão e

algumas da Alemanha, Suíça e Suécia adotaram uma filosofia de qualidade total, cujo

único nível de qualidade aceitável era zero defeitos. A meta era diminuir o número de

peças defeituosas e, mesmo, a previsão da facilidade de fabricação

(manufacturability) para novos produtos, ainda no estágio de projeto.

. 1

Page 42: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

36

O pessoal era treinado para alcançar zero defeitos, delegando-se a

responsabilidade pela qualidade para os funcionários de linha. A manutenção contínua

dos equipamentos e maquinários visava mantê-los em condições estipuladas de

utilização. Dos fornecedores exigia-se que todas as peças e matérias-primas

compradas atendessem às especificações - livres de defeitos.

A adoção dessa filosofia na empresa não é tarefa simples, pois exige

mudança cultural. Nesse contexto, um sistema de gestão de custos pode ser essencial

para comunicar de forma lógica e objetiva os beneficios da mudança. De fato, "sem o

adequado suporte de um sistema de gestão estratégica de custos, dificilmente a

empresa conseguirá incorporar em sua cultura organizacional a filosofia de

manufatura TIT /TQC, para tornar-se manufaturadora de classe mundial"

(NAKAGAWA, 1993, p. 28).

3.3 - Estratégia Competitiva

Segundo PORTER (1986, p. 49), a estratégia competitiva é a busca de

uma posição competitiva lucrativa e sustentável em uma indústria, contra as forças

que determinam a concorrência, envolvendo dois aspectos: a atratividade do setor e a

posição competitiva da empresa.

Page 43: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

37

O crescimento rápido tende a mascarar erros estratégicos e permite que a

maioria das empresas sobrevivam e, até mesmo, prosperem em termos financeiros. No

entanto, a maturidade do setor geralmente pode expor falhas estratégicas.

POR TER (1986, p. 229) considera que a análise de custos toma-se cada

vez mais importante na maturidade para racionalização de mix e fixação de preços. É

necessário tratamento adequado no cálculo dos custos do produto para supressão de

itens não lucrativos e para concentrar a atenção naqueles com vantagem competitiva

(tecnologia, custo, imagem etc).

O subsídio cruzado implícito encobre os resultados de produtos cujos

mercados rtão conseguem suportar· seus. custos reais e redt1Z lucros em situações em

que os compradores são menos sensíveis ao preço.

O autor indica que é fundamental para o desempenho acima da média a

longo prazo a vantagem competitiva sustentável. Embora a empresa possa ter

inúmeros pontos fortes e fracos em relação a seus concorrentes, existem dois tipos

básicos de vantagem competitiva: baixo custo e diferenciação.

Para liderança em custos, a empresa procura tomar-se o produtor de

mais baixo custo em seu setor. A vantagem de custos pode ser obtida via economia de

escala, tecnologia patenteada, acesso preferencial a matérias-primas, entre outras

formas. Embora conte com sua liderança no custo como vantagem competitiva, o

Page 44: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

38

líder de custo deve obter paridade ou proximidade de preços com base na

diferenciação relativa de seus concorrentes, sob risco de perder mercado.

Para diferenciação, a empresa procura ser únicaem seu setor, através de

dimensões amplamente valorizadas pelos compradores. Ela seleciona um ou mais

atributos, posicionando-se singularmente para satisfazer às necessidades dos clientes,

obtendo um preço superior. Em relação aos seus concorrentes, o diferenciador visa à

paridade de custos, reduzindo-os em todas as áreas que não afetam a diferenciação.

De acordo com SHANK e GOVINDARAJAN (1993), a forma de

administração de custos sob a perspectiva estratégica requer visão ampla e externa à

empresa, o que envolve a cadeia de valores.

Toda empresa realiza atividades para projetar, produzir, comercializar,

entregar e sustentar seus produtos, podendo ser representadas pela cadeia de valores.

O nível relevante para a construção de uma cadeia de valores são as atividades de uma

empresa em um setor.

Para HAMEL e PRAHALAD (1994), a utilização do modelo de Porter

apresenta limitações para análise da competitividade futura. Isso porque o problema

da competitividade deve-se mais à competição "não tradicional" do que à competição

"externa". Além disso, o mercado que a empresa domina hoje, seja qual for, deverá

mudar substancialmente nos próximos dez anos.

Page 45: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

39

A desregulamentação, a globalização, os avanços na ciência e a

importância estratégica da tecnologia da informação, entre outros fatores, estão

tomando menos claras as fronteiras em uma grande variedade de setores. Há uma

tendência para a desintermediação e para as "confederações corporativas", fugindo ao

modelo de integração vertical e horizontal, como ocorre com a Toyota e seus

fornecedores. O resultado é uma "estrutura" na industria extremamente complexa e

quase indefinida.

A maneira pela qual as empresas poderão tomar-se competitivas no futuro

é através do contínuo aperfeiçoamento de suas core competencies, além da

descoberta de novas competências, e consequente utilização em outras industrias e

mercados. Para os autores, a core competence é um conjunto de habilidades e

tecnologias que permitem à empresa oferecer um beneficio específico aos seus

clientes. Na Sony, por exemplo, o beneficio é a portabilidade e a competência é a

miniaturização.

O conceito de core competence não diminui a importância da

produtividade e redução de custos, já que a empresa deve ser capaz de fazer mais por

menos, independentemente da estratégia adotada pela empresa.

Em mercados cada vez mais competitivos, a diferenciação entre produtos

toma-se mais tênue, considerando apenas os atributos fisicos dos produtos. A

equiparação tecnológica entre os concorrentes toma extremamente dificil a utilização

Page 46: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

40

de características fisicas dos produtos como criadora de vantagem competitiva

sustentável. Para POR TER (1986), ainda que a fase de crescimento caracterize-se por

rápidas descobertas de novos produtos e aplicações, a habilidade em dar continuidade

às mudanças nos produtos torna-se cada vez mais limitada à medida que a indústria

vai atingindo sua maturidade.

O gerenciamento estratégico de custos é fundamental para as empresas

que pretendem ter sucesso nos seus mercados. Isso exige profundo entendimento da

composição dos custos atuais e futuros nos negócios da empresa, permitindo melhor

tomada de decisões estratégicas e operacionais.

3.4 - Implicações para a Gestão de Custos

Como mostrado anteriormente, as modificações ocorridas no ambiente

competitivo acabaram por também alterar as técnicas e procedimentos operacionais

nas mais diversas indústrias, no decorrer das últimas décadas. Tais evoluções,

entretanto, não foram acompanhadas pelos sistemas gerenciais de custos. Porém, de

acordo com DRUCKER (1995}, essa separação entre conceitos e técnicas não é

natural, já que ambos são interdependentes. Portanto, as mudanças ocorrem no

sentido de equilibrá-los.

"Concepts and tools, history teaches again and again, are mutually

interdependent and interactive. One changes the other. That is now

happening to the concept we ca1l a business and to the tools we ca1l

information" (DRUCKER. 1995, p. 54).

Page 47: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

41

JOHNSON e KAPLAN (1987) ponderam que a perda de relevância

ocorre quando há uma falta de sincronia entre os sistemas contábeis gerenciais e o

ambiente que os mesmos pretendem suportar.

A todas essas mudanças, concomitantemente à pressão por eficiência,

acrescente-se a exigência para que as empresas ofereçam novos produtos e serviços, o

que leva à maior complexidade na execução do trabalho em toda a organização:

engenharia, funções de apoio, operações, serviços aos clientes, e, consequentemente,

ao aumento generalizado de custos.

A análise e compreensão minuciosa dos custos é importante, qualquer que

seja a estratégia da empresa. De acordo com Porter, a vantagem de custos é um dos

tipos de vantagem competitiva que uma empresa pode ter. Mesmo para as empresas

que buscam na diferenciação sua fonte de vantagem competitiva, os custos também

são de vital importância, já que a empresa diferenciadora tem que manter seus custos

próximos aos dos competidores.

Os sistemas de contabilidade de custos e controle gerencial tradicionais

são de pouca valia na determinação de custos dos produtos, no aumento no controle

de custos ou no incentivo à criação de riqueza econômica de longo prazo. Isso não

surpreende, se recordarmos que esses sistemas são derivados dos sistemas projetados

no início do século, em ambiente industrial e competitivo totalmente diferente do

atual. A mão-de-obra representava a parte mais custosa dos insumos de produção.

Page 48: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

42

Custos indiretos e despesas gerais, baixos quando comparados à mão-de-obra, eram

distribuídos com base no volume de mão-de-obra dos produtos. A diversidade de

produtos não era grande naquele período, o que fazia com que a distribuição dos

custos indiretos pela média não distorcesse os custos relativos dentro de uma linha de

produtos.

A partir da década de 80, a nova organização e tecnologias operacionais,

o ambiente mais competitivo decorrente da desregulamentação dos mercados e a

crescente representatividade dos custos indiretos em relação aos custos totais

acabaram por solapar os pressupostos da época em que os sistemas de custos foram

concebidos.

Mesmo com grandes mudanças na natureza das organizações, nas

dimensões da competição global, no panorama macroeconômico mundial, poucas

inovações surgiram, nos últimos 60 anos, nos sistemas de contabilidade de custos e

controle gerencial. Para JOHNSON e KAPLAN (1987), esses sistemas não atendem

aos objetivos de determinação de custo do produto e de controle e tomada de

decisão.

As falhas detectadas em relação aos sistemas tradicionais acabaram por

levar ao desenvolvimento de abordagens mais flexíveis para o projeto de sistemas de

de custos, de controle gerencial e de avaliação de desempenho. Essa evolução acabou

por culminar no surgimento do custeio baseado em atividades - ABC (Activity-Based

Page 49: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

43

Costing} "' e da· gestão baseadà~ em· atividades ~ J\BM (ActiVitY-Bâsed Mi:ÍfÚ:lgemen_t), ·

que serão objeto de estudo no próximo capítulo.

Page 50: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

CAPÍTUL04

CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES (ABC) I

GESTÃO BASEADA EM ATIVIDADES (ABM)

4.1 - IDSTÓRICO

44

Em 1985, Miller e Vollmann, pesquisadores da Boston University, em

artigo intitulado The Hidden Factory, apresentam um conceito realmente inovador do

que posteriormente seria chamado custeio baseado em atividades (Activity-Based

Costing).

O objetivo era analisar as causas dos custos indiretos e seu alto

crescimento. O estudo constata, através de pesquisas, que o crescimento dos custos

indiretos não é fenômeno cíclico. Tais custos vêm subindo na indústria norte­

americana, em termos absolutos e relativos, há mais de cem anos.

Os autores criticam a forma tradicional de custeio (por absorção) usada

na maioria das empresas, que considera como base de cálculo para o rateio dos custos

indiretos a mão-de-obra direta, á matéria-prima ou as horas-máquina. Tal

procedimento é inadequado, já que os custos indiretos podem estar correlacionados

com as unidades produzidas, o que não significa que estas sejam suas únicas causas.

Miller e Vollmann imaginam uma "fãbrica oculta", onde a maior parte dos

custos indiretos ocorre, a partir das transações, que envolvem trocas de materiais e/ou

Page 51: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

45

informações necessárias à continuidade da produção, não resultando diretamente em.

produtos fisicos. Eles definem quatro tipos de transações que respondem pela maior

parte dos custos indiretos de fabricação: logística, balanceamento, qualidade e

mudança.

custos:

Os autores apontam três grandes diretrizes para gerência mais eficaz dos

a) analisar as transações necessárias e aperfeiçoar os métodos para

executá-las~

b) aumentar a estabilidade das operações e

c) utilizar a automação e integração de sistemas.

Em 1986, algumas empresas industriais, associadas com empresas de

consultoria e contabilidade, universidades e agências governamentais, formaram um

consórcio denominado Consortium for Advanced Manufacturing - lntemational

(CAM-1)4, com o objetivo de superar as deficiências encontradas nos sistemas

tradicionais de contabilidade de custos.

O principal produto do CAM-1 foi o desenho conceitual, arquitetura e

implementação de um sistema de gerenciamento de custos - Cost Management System

(CMS). O custeio baseado em atividades (ABC) é a espinha dorsal desse sistema, que

também se sustenta na análise dos processos de negócio e na melhoria contínua.

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46

Seguiram-se inúmeras críticas à forma tradicional de custeio. H. T.

JOHNSON (1988) pondera que os registros de custos incorporam atividades sem

valor, em itens como refugos/sucata (sinal de excesso), estoques (sinal de atraso) e

horas extras (sinal de desbalanceamento). Essas informações de custos não

identificam as atividades que não adicionam valor, pouco ajudando na eliminação dos

desperdícios nas atividades operacionais e obtenção de maior competitividade.

Conforme NAKAGAWA (1994, p. 41), o conceito do ABC já era

conhecido e usado na década de 60. Entretanto, as críticas aos sistemas tradicionais

de custos somente se intensificaram a partir da década de 1980, por questões de

conveniência, economia e dificuldade anteriormente existente em coletar e tratar as

informações sobre as atividades.

4.2- MODELO CONCEITUAL DO ABC/ABM

4.2.1- Custeio Baseado em Atividades (ABC)

COOPER e KAPLAN (1988), pesquisadores da Harvard Business

School, dirigiram os primeiros estudos de casos na linha dos conceitos de Miller e

Vollmann. Eles identificaram muitos produtos cujos custos excediam os preços de

venda e produtos de alto volume, cujos custos eram bem menores do que se pensava.

Tais estudos mostraram o impacto estratégico das imprecisões no custeio, nas

4 Berliner, Brinsom e Ostrenga utilizam o termo Computer Aided Manufacturing. (vide Bibliografia)

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decisões de mix de produtos, de preços, de eliminação ou criação de produtos e de

promoções, o que pode comprometer a lucratividade da empresa a longo prazo.

A filosofia do método é relativamente simples: as atividades geram custos

(ao consumir recursos) e os produtos consomem atividades. COOPERe KAPLAN

(1991) dividem o sistema ABC em dois estágios:

a) os gastos com os recursos da empresa são distribuídos para as

atividades (ou grupos de atividades) realizadas com esses recursos;

b) os custos das atividades são distribuídos aos produtos baseados na

demanda individual de cada produto em relação a cada uma das

atividades.

A quantidade de cada atividade fornecida aos produtos é estimada através

de direcionadores de custos (cost drivers) como o número de horas de setup, de

ordens de compra processadas, de pedidos, de horas-máquina e número de

componentes.

Os quadros 4.1 e 4.2 mostram as diferenças entre os dois sistemas.

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Figura 4.1 Processo de Apropriação em Dois Estágios: Sistema de Custos Tradicional

Apropria os ·· CIF aos

centros de custos

Apropria os custos dos centros de custos aos produtos

Fluxo de Apropriação

Custos de Ene.rgia

Custos de Espaço

'

Custos de Pessoal Ind.

r--------------- -~--------··-------• I ••••••••••••••••"•,. •••••••• ,,1,,,,,,,,,,,.,,,,,,,,,,,,,,,,,, ,,,,I. I : I • 1

.---.....J.--1.' __,_: --, ' ,---J'--'·-~--, Centro de Custos 1

Produto 1

Figura 4.2 Processo de Atribuição em Dois Estágios: Sistema ABC

Determina o custo das atividades

realizadas c/ recursos da

empresa

Atribui os custos aos produtos com base no consumo de atividades

F luxo de A tribuiçã~

Depart. de Setup

D cp.Estoque de Materiais

Dep. Engenha­ria Fabricação

r-------------------,-------------------~ I '••••••••·•···:·····:•·•••••• ·····:·· •'!

,-----1--'-""'"'---, .----''--'----, Setup das Suportar Administrar Máquinas Pessoal Direto Componentes

S /oetnp s 1 horas M OD : S I componente i ;--- --------- ------~-1-~-~---- .. ----------

Produto 1

• • • Outros

CIF

• • • Outros

Centros de Custos

• • • Outros

Produtos

• • • Outros

Recursos Indiretos

• • • Outros Grupos de Atividades

••• Outros

Produtos

48

Fonte: Cooper, R, Kaplan, R S., The Design ofCost Management Systems. Prentice-Hall, 1991. p.269

Page 55: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

49

Para os autores, ainda que os sistemas ABC utilizem um procedimento de

dois estágios, como nos sistemas tradicionais de custeio, a natureza dos centros de

custos (ou de atividades) usados para acumular as despesas operacionais no primeiro

estágio e o método de alocação (ou rastreamento) das despesas dos centros de custos

para os produtos são bastante diferentes nos dois sistemas. No sistema ABC, os

"produtos", ou objetos de custos, também têm ·sua abrangência aumentada, podendo

representar produtos, serviços, clientes, canais de distribuição, entre outros.

O ABC não deve ser visto, segundo NAKAGAWA (1994, p. 28-29),

como mais um· sistema de acumulação de custos para fins contábeis, mas como um

novo método de análise de custos que busca "rastrear" os gastos da empresa para

monitorar as diversas rotas de consumo de recursos "diretamente identificáveis" com

suas atividades mais relevantes, relacionando-as aos produtos e serviços.

Para entendimento do modelo ABC, faz-se necessário analisar alguns

conceitos e características:

• recursos

• atividades I processos

• rateio x rastreamento

• direcionadores de custos (cost drivers)

• acurácia x exatidão

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Recunos

Segundo o glossário do CAM-P, recuno é um elemento econômico que

é aplicado ou utilizado na performance de atividades, como salários, materiais,

viagens, aluguéis, depreciação e seguros.

Atividades I Processos

A visão de processo, contrastando com a visão funcional, é importante

característica associada ao ABC. Atividades e processos são denominadores comuns

da organização horizontal, sendo fontes de criação de valor para clientes e acionistas.

Os processos são os principais elementos de trabalho a serem realizados para o

funcionamento da empresa, sendo divididos em subprocessos, que ainda se dividem

em atividades. É no nível dos processos e atividades organizacionais que acontece a

verdadeira competição.

Mll.,LER ( 1991) considera que as atividades são, na essência, agregação

de tarefas (performadas por pessoas ou máquinas) para satisfazer as necessidades dos

clientes (internos ou externos). Os processos, por sua vez, ·são atividades relacionadas

para performar um objetivo específico.

Para BRIMSON ( 1991 ), atividade é uma combinação de pessoas,

tecnologias, materiais, métodos e ambiente, que gera um produto ou serviço. As

5 Esse gloSSário pode ser encontrado no livro Jmplementing Activity-Baséd Management in Daily Operations (MILLER, 1991).

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atividades descrevem o que a empresa faz. Fechar uma venda, produzir um material

de propaganda, montar um produto ou cobrar um cliente são exemplos de atividades.

Rateio x Rastreamento

O rateio é definido como apropriação ou distribuição; processo de atribuir

custos para uma atividade ou objeto de custo, quando não existe medida direta, não

requerendo relação causal para ser utilizado.

Já o rastreamento é o processo de atribuir custos para uma atividade ou

objeto de custo, utilizando uma medida observável de consumo de recursos (cost

driver) pela atividade ou objeto de custo.

NAKAGAWA (1994, p. 27-28) destaca a importância do correto

entendimento desses dois conceitos, pois cada qual tem sua área de aplicação. O

rateio procura alocar os CIF aos produtos, assumindo que os custos variam em

função do volume de produção. Sua utilização é justificável na medida em que as

empresas têm que obedecer às normas impostas pela legislação fiscal e societária.

Neste caso, o rateio serve para apurar custos dos produtos vendidos e dos estoques

mantidos, apresentados nos balanços e relatórios financeiros direcionados ao público

externo.

O ABC utiliza o conceito de rastreamento para analisar e monitorar as

rotas de consumo dos recursos e das atividades mais relevantes. A sua utilização

Page 58: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

52

torna-se cada vez mais importante para fins de controles gerenciais, se considerarmos

que os custos indiretos estão crescendo, à medida que as tecnologias evoluem. O

ABC é um facilitador para apropriação direta dos custos indiretos, sendo o rateio

utilizado só em última instância, para efeito de tomada de decisão.

As restrições ao rateio somente serão válidas, se os custos apurados para

fins contábeis forem também utilizados para controle gerencial e tomada de decisão,

uma vez que podem atender a diversos objetivos.

Diredonadores de Custos (Cost Drivers)

Para TURNEY (1992), direcionadores de custos (cost drivers) são

fatores que determinam a carga de trabalho e o esforço requerido para realizar uma

atividade, sendo divididos em dois estágios.

Os direcionadores de primeiro estágio, também conhecidos como

direcionadores de recursos, atribuem os custos indiretos, como manutenção e

qualidade, às atividades, representando uma medida da quantidade de recursos

consumida pelas atividades. No caso de salários, o direcionador pode ser o tempo

gasto em cada atividade~ para aluguéis e custos da planta, a área (m2) utilizada para

realização de. cada atividade.

Já os direcionadores de segundo estágio, ou direcionadores de

atividades, atribuem os custos acumulados nas atividades aos objetos de custos, que

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normalmente são produtos, serviços, clientes ou canais de distribuição. Refletem uma

medida da freqüência e intensidade da demanda das atividades por parte dos objetos

de custos. Alguns direcionadores utilizados são: quantidade de material, horas de

mão-de-obra direta (MOD), números de horas-máquina, testes e inspeções,

componentes, expedições, programações e setups.

O número de componentes é usado para medir o consumo de atividades

relacionadas ao recebimento e inspeção de matéria-prima, além da armazenagem de

componentes. Já o número de pedidos do cliente mede o consumo de atividades

relacionadas à entrada de pedidos.

Os direcionadores de atividades determinam a complexidade e acurácia do

sistema ABC, diferenciando-o dos sistemas de custos tradicionais.

Acurácia x Exatidão

"The use of second.-stage drivers is the greatest difference between

the traditional cost system and ABC. Second-stage drivers

determine the system accuracy and comp1exity" (O'GUIN, 1991, p.

89).

Outra importante diferenciação a ser feita é entre exatidão e acurácia,

conceitos muitas vezes confundidos entre si.

"Enquanto o que se espera da exatidão (teoria da mensuração) dos

números de um sistema relaciona! numérico é a eficiência do

processo decisório, o que se espera da · acuiácia (teoria da

Page 60: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

54

comunicação) dos mesmos números é a eficácia do processo

decisório" (NAKAGAWA, 1994, p. 22).

Os modelos de gestão, que predominavam até o final da década de 70,

privilegiavam a exatidão dos números. A suposição era de que os densos relatórios

representavam adequadamente os eventos, objetos e transações da empresa. Esse tipo

de gestão ficou conhecido por gestão baseada em números (MBN - Management By

Numbers), tornando-se alvo de várias criticas pelas seguintes razões:

• os números contidos nos relatórios financeiros nem sempre representam

adequadamente os esforços que a diversidade dos produtos e

complexidade dos processos requerem da empresa.

• a falta de acurácia dos números não. permite explicar melhor como os

recursos da empresa são consumidos no processo de produção.

• apesar de permitir explicação das variações de eficiência e de gastos no

processo de produção, em relação a parâmetros estabelecidos, pouco

ajuda na mudança da atitude das pessoas para a prática do

aperfeiçoamento contínuo (kaizen) e eliminação de desperdícios.

Somente a partir da diwlgação do modelo Toyota (após 1970) é que se

tornou conhecida uma nova forma de gestão, denominada gestão baseada em

atividades (ABM • Activity Based Management), que tem no ABC um de seus pilares

e que prioriza a acurácia dos números contidos nos relatórios.

Page 61: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

55

4.2.2- Activity·Based Management (ABM)

A utilização sistemática da informação gerada pelo ABC para direcionar a

empresa para melhoria contínua é denominada ABM (Activity-Based Management).

Segundo TURNEY (1992), o ABM utiliza as informações do sistema ABC para

identificar estratégias apropriadas, melhorar o projeto dos produtos e eliminar

desperdícios das atividades operacionais. O ABM tem dois objetivos, comuns a toda

empresa: melhorar o valor recebido pelos clientes e aumentar os lucros pelo

fornecimento desse valor. Assim, o ABM permite eliminar as atividades

desnecessárias, reduzir o tempo e o esforço empregados nas atividades (melhoria do

processo ou do produto) e selecionar atividades de menor custo.

O custeio baseado em atividades foi alardeado como a nova contabilidade

de custos no final dos anos 80 e início dos anos 90. Para OSTRENGA e outros

(1993), entretanto, a excessiva importância dada ao custeio dos produtos (foco do

ABC) colocou em segundo plano outras considerações que permitiriam um

gerenciamento mais eficaz da empresa (ABM).

O ABC fornece informações e o ABM as utiliza em várias análises· para

suportar o processo de melhoria: projeto de produtos, identificação de estratégias

apropriadas e eliminação do desperdício das atividades operacionais.

O gerenciamento de atividades requer estudo contínuo e metódico que

aponte as atividades a serem realizadas e como executá-las, de modo a minimizar os

Page 62: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

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desperdícios. Nessa busca pela melhoria da performance das atividades, TURNEY

(1993) considera três passos:

a) analisar as atividades para identificar oportunidades de melhoria:

• identificar atividades não-essenciais; uma atividade é considerada

essencial, se tem valor para o clientt; ou se é fundamental para o

funcionamento da empresa;

• analisar as atividades significativas, que respondem pela maior

parte dos custos;

• comparar as atividades com as melhores práticas (benchmark),

visando determinar o escopo para melhoria, e

• examinar o link entre as atividades, já que as mesmas trabalham

em cadeia para atingir objetivos comuns.

b) identificar os drivers que causam desperdício: somente conhecendo os

cost drivers das atividades não-essenciais é que as mesmas poderão ser

melhoradas ou eliminadas.

c) medir o que é relevante: os esforços devem ser direcionados para o

monitoramento de recursos, atividades e objetos de custos relevantes .

. '·· ,. ... 1

B\k~ ...... in~Pt

Page 63: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

57

4.2.3 - Evolução do ABC/ ABM

Para JOHNSON (1988), dois tipos de informações baseadas em

atividades devem formar a espinha dorsal de um sistema gerencial:

• informações não-financeiras sobre fontes de valor competitivo

(qualidade e flexibilidade) das atividades operacionais, que devem

indicar a eficiência da entrega de valor ao cliente, e

• informações estratégicas de custos, para estimar a lucratividade de

longo prazo da empresa, baseada no mix de produtos e atividades

existentes, e se as atividades externas são cost-effective, quando

comparadas com alternativas fora da empresa.

Essas informações não surgiram a um só tempo no desenvolvimento do

modelo ABC/ ABM. Sua evolução apresenta fases diferenciadas, sendo possível

destacar duas "gerações", cada qual com características diversas.

Primeira Geração

Enfatiza principalmente o custeio de produtos, tendo como principal

contribuição um melhor sistema de custeio. No entanto, não permite avaliação para

melhoria dos processos, que exige informações (atributos e desempenho) mais

específicas sobre as atividades .

Page 64: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

58

"A primeira limitação era a ausência de informações diretas sobre

as atividades nos centros de custos · (cost pools), porque elas se

apresentavam de forma agrupada. [ ... ] possibilitava, quase

exclusivamente, apenas o melhor custeio e pricing de produtos"

(NAKAGAWA, 1994,p. 69).

Figura 4.3 Primeira Versão do ABC

Primeira Versão do AB C

Cost pool de grupo

de atividades

Recursos

Cost pool de grupo

de atividades

Cost pool de grupo

de atividades

Produtos I Clientes I Projetos

Fonte: Nakagawa, Masayuki. ABC - Custeio Baseado em Atividades. p.68

Essa geração possibilitou contribuição significativa para a identificaÇão

dos cost drivers internos, mas não trabalhou com cost drivers fora da unidade de

negócios. Os cost drivers estavam associados com o consumo de recursos, e não com

os processos. As atividades não eram relacionadas, mas consideradas independentes

umas das outras, o que levava· a melhor custeio dos produtos, porém, pouco ajudava

na implementação da filosofia flT e do aperfeiçomento contínuo.

Page 65: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

59

Segunda Geração

Para que a empresa tenha lucratividade no longo prazo é necessário obter

informações sobre os processos, além dos custos dos produtos. Somente a visão de

custeio· de produtos não permite à empresa planejar. e controlar métodos e

procedimentos para aperfeiçomento contínuo.

Para alcançar tais objetivos, os sistemas evoluíram para a segunda

geração, considerando recursos e processos, sendo dada atenção às medidas de

desempenho e ao custeio de produtos. Nos sistemas desta geração os processos

devem ser identificados e as atividades, relacionadas com os mesmos. Também o

escopo das atividades internas é bastante ampliado.

Figura 4.4 Segunda Versão do ABC

Segunda Versão do ABC Visio econômica e de custeio

Vis I Recursos I io de aperfeiçoamento do processo Direcionadores

de Recursos

Direcionadores 1-~ Mensuração de de Custos Atividades desempenhos

I Direcionadores de Atividades

Objetos de Custeio

Fonte: Nakagawa, Masayuki. ABC- Custeio Baseado em Atividades. p.70 (adaptado)

Page 66: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

60

A visão de aperfeiçoamento dos processos, ao utilizar os indicadores não­

financeiros, é útil para ajudar na eliminação dos desperdícios. O tempo transcorrido

num processo ou atividade, distância de movimentação, espaço ocupado, número de

componentes são alguns indicadores de competitividade. Ao diminuí-los, os gastos

não irão cessar automaticamente, podendo ocorrer liberação de capacidade, que deve

ser usada de forma produtiva ou eliminada.

Para MECIMORE e BELL (1995), tais sistemas ainda falham, ao

considerar somente as atividades internas à empresa, deixando de fornecer

infonnações importantes para o planejamento estratégico. Para os autores, há uma

terceira geração, que tem como foco a unidade de negócios e suas relações com

outras unidades. Os cost drivers seriam utilizados para aumentar a vantagem

competitiva da empresa através da análise da cadeia de valor.

Muitos autores6, entretanto, recomendam o uso do benchmarking das

atividades internas (comparando-as com as melhores práticas do mercado) e não

consideram, em nenhum momento, como 'lerceira geração".

4.2.4- Hierarquia das Atividades

Os sistemas ABC necessitam definir e identificar atividades de lote e de

sustentação (de produto e de instalação) para explicar as demandas dos produtos em

6 BRIMSON; JOHNSON, KAPLAN, O'GUIN, NAKAGAWA e MILLER.

Page 67: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

61

relação aos recursos organizacionais e suplementar as tradicionais atividades unitárias

de consumo de MOD, de materiais e tempo de máquina.

Atividades relacionadas com lote, como o preparo de máquinas (setup)

para produzir um produto diferente, são performadas, cada vez que um lote é

processado, ocasionando consumo de recursos, que independe do número de

unidades produzidas após completada a operação.

As atividades de sustentação de produtos são performadas para que

produtos sejam produzidos e vendidos. As despesas com essas atividades podem ser

alocadas aos produtos individuais, mas os recursos consumidos independem do

número de unidades ou lotes produzidos. São atividades relacionadas com

especificação de produtos, engenharia de processos e aperfeiçoamento de produtos.

São realizadas mais freqüentemente ou de modo mais intenso na medida em que o

número de produtos na planta aumenta.

Há também as atividades com sustentação das instalações, necessárias

para produzir os produtos na planta, mas que não mantêm relação com volume e mix

de produtos individuais: gerenciamento da planta, contabilidade de chão-de-fábrica,

limpeza, manutenção, segurança e energia. Os custos associados a essas atividades

devem ser considerados custos comuns a todos os produtos fabricados na planta.

Page 68: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

Figura 4.5 Modelo hierárquico do ABC

Hierarquia de Atividades

Administração da planta $­

Edificação e manutenção tl'!!!>.

Engenharia de processos ~·

Especificação de produtos ~·

Setups ·~.

Movimentação de materiais m;>

Mão-de-obra direta $

Materiais G$>

Ativ. de . sustentação de instalações

I Ativ. de

sustentação de produtos

I Atividades

relacionadas a lotes

I

Atividades unitárias

<$9· Segurança

o$ Limpeza

4:ti: Mudanças da engenharia

~ Aperfeiçoamento de produtos

$Ordens de compra

$Inspeções

$ Horas-máquina

$.Energia

Fonte: COOPER, Robin, KAPLAN,Robert S. The Design ofCost Management Systems. Prentice Hall, 1991. p. 272

62

Para COOPERe KAPLAN (1991, p. 272), as despesas com sustentação

das instalações devem ser tratadas como despesas de operação no período, não sendo

alocadas aos produtos, sob pena de introduzir distorções nos resultados.

Os autores sugerem como método alternativo e mais acurado agregar

todas as despesas do produto - unitária, lote e sustentação - à despesa total do

produto, o que não implica que todas as despesas sejam variáveis de acordo com a

quantidade produzida.

Page 69: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

63

Os sistemas · AllC pressupõem que, em períodos maiores de tempo

(medidos em meses ou anos), mudanças no consumo de recursos são seguidas por

mudanças nos gastos a eles associados. Ass~ para prever tendências de gastos

futuros, os sistemas ABC estimam as quantidades de recursos consumidos pelas ·

atividades organizacionais.

4.3- IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMAS ABC/ABM

Para MILLER (1991), os passos genéricos para a implementação de um

projeto ABM/ ABC são os mesmos, não importa como a informação seja utilizada, o

escopo do projeto, o tamanho da empresa ou o objetivo da implementação. Uma série

de ações devem ser realizadas: especificar e definir as atividades~ determinar

mensurações e outputs das atividades; avaliar o valor das atividades~ estabelecer

medidas de performance das atividades~ rastrear custos dos recursos às atividades e

dessas aos objetos de custo; desenvolver e instalar o sistema contínuo de informações

baseado em atividades.

4.3.1- Considerações para o projeto do sistema

A primeira consideração no projeto de um sistema de informações ABM é

seu objetivo e uso. Eles é que irão direcionar tanto a quantidade de informações que

deve ser coletada quanto o nível de detalhe que deve ser obtido. As aplicações ABM

que são relacionadas com melhoria de processos, reengenharia, performance de .

Page 70: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

64

atividades e benchmarking exigem maior detalhe e freqüência de arualização do que

as aplicações relacionadas com custeio de produtos, investimentos e custo-meta.

Acurácia

O nível de acurâcia do sistema ABM é uma consideração-chave no

projeto. Os dados de entrada, que são a base do sistema de informação, em muitos

casos, apresentam distorções e erros. A seleção e uso dos drivers de recursos e

atividades também afetam a acurâcia do sistema. Um exemplo comum ocorre no

rastreamento dos custos dos salários às atividades. Por meio de questionários,

realizam-se estimativas para apurar o tempo dispendido para realização das

atividades, o que nem sempres corresponde à realidade.

O nível de acurácia do sistema deve ser avaliado, ponderando-se dois

fatores: os custos de mensuração e os custos dos erros de decisão. Os custos· de

mensuração são associados à coleta, verificação, análise e cálculo dos atributos do

sistema. Já os custos dos erros de decisão são decorrentes da utilização de dados não

acurados para tomada de decisão. Segundo COOPER (1988), a acurácia ótima para o

sistema é aquela que permite mininúzar a soma desses dois tipos de custos, como

ilustra a Figura 4. 6.

Page 71: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

65

Figura 4.6 Sistema ótimo de custos

Custos Totais x Acurácia

Acurácia

Freqüência de atualização

A freqüência de atualização dos dados do sistema ABC/ ABM depende

dos objetivos estabelecidos. Para as empresas que vêem o ABM somente como

ferramenta estratégica, as informações geralmente são atualizadas e usadas

anualmente para estabelecer objetivos, alinhar recursos, decidir sobre mix, preços e

capacidades de produtos e serviços.

Outras empresas, além de reconhecerem o valor estratégico do ABM,

complementam seu uso com atualizações trimestrais, para monitorar a performance

das atividades e custear produtos e serviços.

Page 72: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

66

Em alguns casos, a informação ABM é utilizada operacionalmente, sendo

as atividades, produtos e serviços custeados mensalmente. Algumas atividades exigem

medidas em tempo real, monitoradas a cada hora, dia ou semana. Portanto, a decisão

sobre atualização está muito ligada aos objetivos que se quer atender.

Relevância

O pilar de um sistema de informações efetivo é a simplicidade. A

complexidade deve ser evitada, sempre que possível, pois acrescenta custos e não

melhora a funcionalidade do sistema.

Os sistemas ABC/ ABM devem ser projetados· de modo a permitir aos

usuários comparar custos internos e medida de performance de atividades relevantes

com as melhores práticas (benchmarking).

Hardware I Software

A questão-chave, ao se examinar hardware e software, é implementar o

sistema ABC/ABM o.ff-line, através de computador pessoal (stand-alone ou em rede)

ou integrar o sistema on-/ine como parte dos sistemas financeiro e operacional

existentes.

Muitas empresas, pelo menos no início, teriam melhores resultados, se

implementassem um sistema ABM stand-alone com software ABC oferecidos no

Page 73: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

67

mercado. Esta abordagem permite aos. projetistas ganhar experiência e conhecimento

sobre gerenciamento de atividades, sem exigir mudança nos sistemas existentes.

4.3.2 - Abordagens de Implementação

MILLER ( 1991) considera como abordagem comum de implementação a

que apresenta as características:

• projetos-piloto, com equipe multifuncional (5 a 7 pessoas)~

• período de implementação de 3 a 6 meses para o projeto-piloto;

• plano de implementação cobrindo os passos de análise das atividades e

custeio de atividades I produtos e

• relatório final com observações, recomendações e próximos passos.

Uma vantagem do projeto-piloto é fornecer subsídios para avaliar a

utilidade das informações ABM. Não faz sentido entrar em uma implementação de

grande escala sem a segurança de que a informação resultante será útil. Entre suas

deficiências destaca-se identificar sistemas eficientes, procedimentos e métodos de

coletar e reportar informações baseadas em atividades em base contínua. Outra

dificuldade é identificar as necessidades da organização como um todo e em preparar

um plano de implementação mais abrangente.

Para o autor, uma abordagem completa de implementação ABM deve

passar pelas etapas:

Page 74: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

68

a) avaliação geral e plano de implementação;

b) implementação em quatro passos e

c) desenvolver um sistema contínuo de reporte e coleta de dados.

Avaliação geral e plano de implementação

Implementar um novo sistema de informações ABM exige muito esforço

e planejamento. É preciso estabelecer os objetivos, especificar exigências e

necessidades, identificar os recursos e estabelecer prioridades. A avaliação geral

deve fornecer:

· a) mapa de relacionamento dos-processos de negócio: documentação e

relação dos processos-chave existentes;

b) lista preliminar das atividades-chave: identificação das principais

atividades, inclui possíveis medidas de performance e cost drivers

potenciais;

c) custeio preliminar de atividades e processos de negócio: a partir da

identificação preliminar dos processos e atividades relevantes, faz-se o

custeio dos mesmos para fornecer noção da magnitude dos custos

envolvidos;

d) estimativa de atividades que não agregam valor e seus custos: das

atividades identificadas inicialmente separam-se as que não adicionam

valor (apontando seus custos), fornecendo uma idéia· da possibilidade

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69

de redução de custos, ao eliminar ou reduzir o consumo dessas

atividades;

e) aplicabilidade do custeio ABC de produtos e serviços: a partir da

avaliação dos dados anteriores, verifica-se a adequação do custeio

ABC aos produtos e serviços da empresa;

f) disponibilidade de dados e informações: verificada a validade do

custeio ABC, levanta-se a disponibilidade de dados e informações que

serão necessários no decorrer da implementação;

g) capacitações do sistema existente e habilidade para integrá-lo com

informações sobre as atividades: verificam-se possíveis restrições -

detalhamento do sistema atual, freqüência de atualização, transferência

de dados entre os sistemas, capacidade de processamento - que

deverão ser atacadas para permitir a troca efetiva de informações entre

os sistemas;

h) principais usos das informações baseadas em atividades: avaliação

sobre os principais usos das informações baseadas em atividades -

custeio de produtos, performance de atividades, rentabilidade de

clientes etc.;

i) recursos disponíveis e necessidades da implementação: comparam-se

os recursos disponíveis com aqueles necessários à implementação;

j) recomendações para a implementação, passos a seguir e horizonte de

tempo: após a avaliação geral, faz-se a recomendação do plano de

implementação, com detalhamento dos passos a serem seguidos bem

como o horizonte de tempo para conclusão da implementação.

Page 76: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

70

Implementação em quatro passos

Para MILLER (1991), o modelo de quatro passos representa alicerce

básico para implementação ABM. Pode ser aplicado em escala menor, em

departamento, ou, em maior escala, como em planta ou unidade de negócios. Esse

modelo pode ser visualizado na Tabela 4.1.

Tabela 4.1 Modelo de implementação em quatro passos

Planejamento Análise de Atividades Custeio de Documentação Produtos/ Atividades de Resultados

Propósito Especificar atividades e Selecionar ou Preparar relatório processos de negócio desenvolver software

Objetivos Fazer recomendações Outputs e suas Especificar os

Escopo medições drivers de recursos Definir as ações

Tempo Análise do valor Especificar os Refinar os dados agregado drivers de atividades

·Recursos Identificar os Identificar os Rastrear os custos próximos passos

Expectativas cost drivers Desenvolver o Monitorar melhoria

Desenvolvimento da Performance das modelo de custeio dos resultados Equipe atividades

Fonte: MILLER, John A lmplementing Activity-Based Management in Daily Operations. p.39

A análise de atividades é um dos passos mats importantes na

implementação, exigindo a identificação e descrição das atividades relevantes na

empresa. Envolve a determinação das atividades a serem realizadas em um

departamento ou área de negócios, quantas pessoas performam as atividades, quanto

tempo .levam para executá-las, os recursos necessários, os dados que melhor refletem

sua performance e o valor da atividade para a empresa. Geralmente é feita por meio

de entrevistas e questionários.

Page 77: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

71

Inicialmente, deve-se definir os processos de negócio e atividades

relevantes. Há duas opções para defini-los: top-down - especificando os processos e,

depois, as atividades~ botton-up - especificando as atividades e agrupando-as em

processos de negócio.

Os cost drivers identificam· a causa dos custos das atividades e são

importantes, pois ajudam na decisão das ações a serem realizadas nas raízes dos

problemas. A análise implica no exame, quantificação e entendimento dos efeitos dos

cost drivers. Os resultados são geralmente usados . para ajudar a reduzir o tempo do

ciclo, melhorar a qualidade e reduzir custos.

Na determinação da performance das atividades, cada elemento deve ser

considerado:

• qualidade: a qualidade pode ter diferentes significados para diferentes

pessoas. Julgar a performance de qualidade de uma atividade significa

conformidade às especificações.

• tempo de ·ciclo: é uma medida do tempo total decorrido para

completar uma atividade ou processo. São melhor aplicados no nível

dos processos, nos quais a integração entre diversas atividades é critica

para reduzir o tempo de cliclo.

Page 78: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

72

• satisfação dos clientes: é medida crucial, já que, sem a satisfação dos

clientes, todas as outras medidas perdem importância. A satisfação

deve ser medida e quantificada, para atividades relevantes.

Muitos sistemas de medida de performance limitam-se à empresa (visão

interna), não permitindo dizer se as melhorias são boas o suficiente. Assim, para

mensurar efetivamente os desempenhos das atividades e processos, os gestores

precisam compará-los (benchmark) com os melhores desempenhos praticados no

mercado.

Desenvolver sistema contínuo de informação e coleta de dados

Para ter utilidade, as informações sobre átividades devem ser coletadas e

atualizadas continuamente, para o que o desenvolvimento de um sistema de

informações e coleta de dados eficiente é primordial.

Há dois estágios para implementação de um sistema contínuo de

informações ABM. No primeiro, são implementados os procedimentos, sistemas e

métodos necessários para atualização contínua. No segundo estágio, realiza-se a

manutenção do sistema ABM, uma vez que as atividades mudam ao longo do tempo.

Muitas implementações ABC/ ABM são conduzidas em projetos-piloto

(testes), em alguns setores de gra.itdes organizações. Decisões sobre software,

sistemas, métodos e procedimentos são tomadas para satisfazer as necessidades do

Page 79: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

73

projeto-piloto. Em muitos casos, é recomendável uma abordagem holística à

implementação, que inclua ênfase na seleção e desenvolvimento de sistemas no nível

de detalhe e freqüência exigidos pelos usuários das informações.

Algumas empresas desenvolvem sistemas de informações mais simples,

utilizando planilhas eletrônicas, para rastrear os custos dos recursos às atividades e os

custos destas aos objetos de custo. Apesar de funcionarem a contento nas fases inicial

e de análise da implementação, geralmente não são satisfatórias como solução de

longo prazo porque são limitadas aos custos. Cost drivers, medidas de performance

das atividades, não são capturados e monitorados.

Outras empresas · integram os elementos de custos de um sistema

ABCI ABM diretamente aos sistemas internos de contabilidade e finanças. Os dados

de custos são codificados para as atividades, definidas e especificadas nos registros

contábeis. Apesar de mais evoluído que o sistema citado, as informações ainda são

restritas aos custos e os sistemas não são capazes de monitorar cost drivers, medidas

de performance e resultados de cada atividade.

Para integração total, o sistema ABC I ABM deve ser integrado aos

sistemas de medição de desempenho, iniciativas de melhoria, compensação I

premiação e outros sistemas de controle gerenciais.

Page 80: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

74

4.4 - ABC NO BRASIL

V árias estudos foram sido realizados, no Brasil, sobre o custeio baseado

em atividades, procurando avaliar o conhecimento sobre o tema, o potencial para sua

utilização e resultados de implementações em empresas de diversos setores da

economia. Serão citados apenas alguns desses estudos, sem a pretensão de abordar

todos os-temas.

YAMAGATA (1995) discute as mudanças ocorridas no ambiente

competitivo, em especial, nas instituições financeiras, avaliando que a metodologia de

custeio tradicional utilizada pelos bancos pode causar distorções e apresenta o ABC

como .altenativa para custeio de produtos ,e serviços bancários. Argumenta que, com o

nível crescente de competitividade, inclusive internacional, está havendo redução do

spread financeiro. Assim, essas instituições não podem ser consideradas apenas

interrnediadoras financeiras, mas também prestadoras de serviços, tomando necessária

a apuração correta dos custos dos serviços bancários para análise de rentabilidade e

precificação.

LIMA ( 1997) avalia a utilização do sistema de custeio baseado em

atividades em hospitais. A partir de exemplos do mercado americano, o autor avalia o

potencial de sua utilização em hospitais no Brasil. Conclui que o ABC apresenta

vantagens em relação a outros sistemas, uma vez que reflete o consumo de recursos

com maior precisão e identifica de maneira mais direta o consumo de atividades por

objeto de custo (tratamentos, grupos de pacientes ou médicos etc.).

Page 81: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

75

CORBETT NETO (1996) compara o ABC com a Teoria das Restrições

(TOC - Theory of Constraints) e, através da análise dos resultados de um exemplo

teórico, chega à conclusão de que o ABC é menos eficaz do que a TOC para suportar

decisões que visem à maximização dos lucros. Para o autor, o ABC e qualquer

sistema que se baseie no rateio de despesas aos produtos não podem fornecer

informações confiáveis, já que é falso o pressuposto de que ótimos locais levam ao

ótimo global.

..Muitas pessoas ainda advogam o uso do rateio, através do ABC,

esquecendo que ele foi primeiro criado para podermos reduzir o

número de classificações, de produtos e categorias de despesas para

apenas produtos, simplificando o processo de tomada de decisão.

Agora, essas pessoas[ ... ], tentando salvar o rateio, fazem com que a

tomada de decisão se torne mais complexa e menos eficiente"

(COBERTT NETO, 1996, p. 87).

KHOURY (1997), em pesquisa realizada junto a 283 dentre as 500

maiores empresas não financeiras que operam no território brasileiro, constantes da

Revista Exame - Melhores e Maiores ( ago/96), fornece um quadro do conhecimento e

utilização dos sistemas de custos ABC no Brasil.

Das empresas que responderam, 78% eram indústrias, 16%, comerciais e

6%, de serviços. Das indústrias, destacam-se os setores de alimentos, automotivo,

eletro-eletrônico, químico e petroquímico, siderúrgico e metalúrgico.

Page 82: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

76

Quanto à utilização e conhecimento do ABC em empresas no Brasil,

Khoury encontrou os resultados apresentados naTabela 4.2.

Tabela 4.2 Número de empresas pelas experiências que tiveram com o Sistema de

Custos ABC e setor de atuação

Indústria Comércio Serviços Total 9 8 2 19

Não ouviram falar 4?0/o 42% 11% 100% 4% 18% 11% ?O/o 69 19 7 95

Não se interessaram 73% 20% 7% 100% 31% 43% 39% 34% 66 6 8 80

Estão avaliando 83% 8% 10% 100% 30% 14% 44% 28% 23 2 1 26

Decidiram não utilizar 88% 8% 4% 100% 10% 5% 6% 9%

9 2 o 11 Decidiram utilizar 82% 18% 0% 100%

4% 5% 0% 4% 27 6 o 33

Estão atualmente implantando 82% 18% 0% 100% 12% 14% 0% 12% 16 1 o 17

Estão utilizando 94% 6% 0% 100% 7% 2% 0% 6% 2 o o 2

Decidiram abandonar 100% 0% 0% 100% 1% 0% O% 1% 221 44 18 283

TOTAL 78% 16% 6% 100% 100% 100% 100% 100%

Observa-se que 7% não ouviram falar do sistema ABC. Embora tenham

ouvido falar sobre o ABC, 34% das empresas não se interessaram em adotá-lo.

Outras, 9%, decidiram não utilizar o sistema ABC, devido à alta complexidade e ao

alto custo de implantação do sistema.

Page 83: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

77

28% das empresas estavam avaliando o sistema ABC por considerarem

que proporcionaria melhor entendimento das causas do aumento ou redução dos

custos bem como maior acurácia, sobretudo para precificação de produtos e serviços.

Outras, 4%, decidiram utilizar o sistema ABC, após sua avaliação. 18% das empresas

pesquisadas estavam implantando ou já utilizando o sistema ABC.

As principais razões apontadas pelas empresas para a utilização do

sistema de custos ABC foram "análise do lucro mais apurada para tomada de decisões

sobre que produto produzir e que serviços fornecer" e "discernimento das causas do

aumento ou redução dos custos, incluindo a habilidade de identificar os

direcionadores de custos".

Outra importante constatação é que as empresas não se desfizeram das

informações dos sistemas tradicionais de custos, já que o sistema ABC suplementou

as informações em 64% dos casos.

Apenas duas empresas decidiram abandonar o ABC (entre as que estariam

implantando ou utilizando). Essa desistência (4%) é decorrente de razões como a

manutenção trabalhosa do sistema, dificuldade na identificação dos direcionadores de

custos e mudança de cultura na empresa.

A proporção de empresas que decidiram não utilizar sistemas ABC

(34% }, apesar de conhecer seu conceito, é indicativo de que tais sistemas nem sempre

Page 84: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

78

atendem todas as necessidades. A complexidade do sistema tem que ser dimensionada

desde o início, sob pena de tomar os custos com implantação e manutenção elevados,

além de reduzir a credibilidade do sistema por este ser muito "complicado" sob o

ponto de vista dos usuários.

Page 85: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

CAPÍTULOS

PESQIDSA EXPLORATÓRIA­

ABC I ABM EM EMPRESAS NO BRASll..

5.1. METODOLOGIA

79

A análise empírica consistiu de uma pesquisa exploratória conduzida a

partir de entrevistas estruturadas, realizada junto aos gerentes de empresas de

consultoria, responsáveis pela implantação de projetos ABC/ ABM. O instrumento de

coleta de dados foi o questionário (Anexo 1), preenchido através de entrevistas

pessoais.

A opção por empresas de consultoria objetivou obter informações

concentradas através de uma amostra limitada, entretanto que abrange grande número

de empresas. Desse modo foi possível obter rapidez e maior abrangência no

levantamento das informações, uma vez as empresas de consultoria têm experiências

em diversos projetos de implementação de sistemas ABC/ ABM. Seus clientes são

empresas atuantes em vários setores da economia, o que possibilita aos consultores

um bom entendimento dos aspectos inerentes à implementação desses sistemas, objeto

deste estudo.

As empresas que participaram do trabalho de pesquisa foram a Price

Waterhouse, Arthur Andersen, Emest & Young e KPMG Peat Marwick, por se

Page 86: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

80

disponibilizarem a fornecer entrevistas e apresentarem muitos projetos - concluídos

ou em andamento - na área em estudo, o que não ocorreu com outras empresas

contatadas.

O principal objetivo da pesquisa exploratória foi verificar os aspectos mais

relevantes relacionados à implementação de sistemas ABC/ ABM, de forma a permitir

um insight &obre o atual estágio de conhecimento e aplicação dessas ferramentas

gerenciais nas empresas situadas no Brasil. Entre esses aspectos, destacamos:

• motivação par~ implementação do novo sistema;

• conhecimento do assunto por parte dos gerentes das empresas;

• escopo do projeto;

• objetivos do projeto;

• produtos (de/iverables) do projeto;

• eficácia da implementação;

• aspectos comportamentais relacionados à implementação 7;

• definição da hierarquia das atividades;

• métodos para escolha dos cost drivers.

Após o detalhamento das variáveis descritas, foi realizado um

levantamento de algumas implementações específicas, a título de exemplificação, mas

permitindo cotejar os dados com as informações apresentadas na primeira parte.

7 Os aspectos comportamentais na implementação são discutidos por M.D. SHIELDS e M. S. YOUNG (1989).

Page 87: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

81

Quanto aos exemplos de implementação, recorremos ao trabalho de Cooper e

Kaplan8 e os resultados são ilustrados no Anexo 2.

5.2. RESULTADOS

A partir das entrevistas realizadas com os consultores, sócios ou gerentes,

foi possível relacionar os dados com o tópico em questão. A seguir são apresentados

os . resumos de cada um dos assuntos, para abordagem comparativa entre as várias

consultorias ou entre as empresas clientes, quando o tópico analisado assim o permitir

(objetivos da implementação, escopo do projeto e recursos empregados).

8 Cooper; R, Kaplan,R.S, lmplementing ABM I ABC. Montvale, lMA, 1992.

Page 88: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

82

5.2.1. Perfil das Empresas

,. :il. 'J;onsUJ.toria·,: ·"::. ~ · :-:·~·~ . ~~~ : :<< · :perm das En:l~>resas cti~ês · . ~ _ .. , " ~-.. ~.'

Arthur Andersen Empresas de médio e grande porte, nac10mus e multinacionais

Ernest & Young Grandes e médias empresas (com faturamento anual maior que 20 milhões de dólares), naCIOnaiS e multinacionais

Price Waterhouse Empresas de grande porte

KPMG Peat Marwick Grandes e médias empresas (com faturamento anual maior que 1 O milhões de dólares)

5.2.2. Motivo I Necessidade

Consultoria ~ .. _ .. . :: ;. ·Motivo l Neéessidade -. ·. ' . .t·""

' ~ ,, ..... .. ..

Arthur Andersen Falta de experiência por tratar-se de uma operação complexa (envolvendo várias áreas da organização); alguns são motivados pelo modismo e por histórias de sucesso

Ernest & Young Mudança de mentalidade; aperfeiçoamento do processo

Price Waterhouse Decisão gerencial da matriz (sem conhecimento específico); em outros casos, para atender objetivos específicos, determinados pela filial

KPMG Peat Marwick Enxergam o ABC como solução para o problema de custos; em alguns casos, por ordem da matriz

Page 89: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

83

5.2.3. Percepção dos Conceitos

Arthur Andersen

Emest & Young

Price Waterhouse

KPMG Peat Manvick

5.2.4. Objetivos.do Projeto

Arthur Andersen

Emest & Young

Price Waterhouse

KPMG Peat Manvick

Alguns sem conhecimento específico~ outros vêem o ABC como instrumento para custeio de produtos e formação de preços

Grande parte dos clientes só vêem o ABC como técnica de custeio, faltando conhecimento conceitual

Sem conhecimento profundo dos conceitos~ vêem o ABC como instrumento para mudança e redução de custos (inclusive da qualidade)

Maior parte vê o ABC como ferramenta técnica para o custeio de produtos, mas não possuem visão completa do conceito

Novo. modelo de gestão~ suporte à Reengenharia, a novas estruturas e à terceirização (em menor escala)

Custeio de produtos e avaliação da rentabilidade por produtos ou famílias de produtos~ em poucos casos já visam inicialmente ao aperfeiçoamento de processos

Ferramenta para a Reehgenharia

Custei<> de produtos~ redução de custos, visando aumento de rentabilidade

Page 90: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

5.2.5. Escopo do Projeto

Arthur Andersen

Ernest & Young

Price Waterhouse

KPMG Peat Marwick

5.2.6. Produtos (Deliverables)

~~~?:~~i!~~S~tiôi~~~-~

Arthur Andersen

Ernest & Young

Price Waterhouse

KPMG Peat Marwick

84

Projeto-piloto: considera todos os processos, mas não todos os produtos; a metodologia pode ser estendida futuramente para produtos relevantes

No geral, a empresa como· um todo; no caso de empresas maiores, já é comum fazer um projeto-piloto (ex.: unidade de negócios)

Foco nos processos; é possível selecionar poucos processos para entender a metodologia, podendo-se ampliar o escopo

Projeto-piloto: algumas atividades (e não produtos); numa primerra fase faz-se uma classificação ABC dos custos por atividade, visando identificar onde estão as melhores oportunidades de redução de custos

&~~m'-?,~~'~Bíl~ti~~~~/:Wf.1qi'~i ''"'"'~·-· %t ·ll'""·', ' {i&:i(~.,,)L;~.; .. ~."···-"·· . ·-" "'"'~. •• "'~:í'"Jl&<-<i-..

Viabilizar a implementação da nova filosofia; prover o sistema e treinamento necessãrios

Custeio de produtos (especialmente para resolver distorções), análise de rentabilidade e, no caso de empresas mais maduras, definição de medidas (indicadores) de desempenho

Repasse de tecnologia e implementação da filosofia ABC,- fornecendo a base para a Gestão Baseada em Atividades (ABM)

Custeio de produtos; rentabilidade por cliente I canal: ·Ex.: empresa na área de telefonia - estudo do resultado nos segmentos bancário, residencial e comercial

Page 91: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

85

5.2.7. Treinamento

ConsUitôria · · •····· .. · · ... ·•:;>~.< }> ~:," . ....

':~reinatneltto .·•··. '_:·: . .. . . '.<·~:';:·: · .. , .... -

Arthur Andenen Dois níveis: mobilização, com divulgação das informações para todos os níveis e treinamento da equipe de implementação

Ernest & Young Em duas etapas, para a equipe do projeto: nivelamento conceitual e treinamento específico para a utilização do software

Price Waterhouse Visando ao repasse de tecnolo~a, com trabalho de equipe multidisciplinar

KPMG Peat Marwick Duas fases: palestras para o corpo gerencial e também treinamento específico para a equipe de implementação e para os facilitadores

5.2.8. Processo de Mudanças

Consuhorla .· . ·.;,•: ProCessó dt ... •- .~.

Arthur Andenen Participativo, com responsabilidades atribuídas - figura do sponsor (responsável pelo projeto)

Ernest & Young Participativo, com coordenação e apoio da alta gerência

Price Waterhouse Participativo

KPMG Peat Marwick Participativo, modificando a idéia de que custos é um assunto somente da controladoria, exigindo um trabalho de equipe multifuncional. Isso ajuda no modelamento das informações necessárias para cada um dos participantes

Page 92: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

86

5.2.9. Escolha dos Cost Drivers

Artbur Andersen

Emest & Young

Price Wate~house

KPMG Peat Marwick

5.2.10 .. Modelo de Custeio

Arthur Andersen

Ernest & Young

Price Waterhouse

KPMG Peat Marwick

Dicionário (lista) de geradores, elaborado a partir de experiências passadas, e entrevistas, quando necessário

Para escolha dos cost drivers de 2° nível (relação atividades-produtos) utiliza-se a experiência passada ("dicionário" de cost drivers) onde for possível~ frente a uma nova situação; utilizam-se entrevistas para defini-los

Decisão com o auxílio de workshops, com a participação de várias pessoas, até obtenção de consenso

Entrevistas com os funcionários. Anteriormente era mais CÓmum o refinamento dos cost drivers, com testes de correlação. A experiência mostrou que as entrevistas já fornecem base razoável para efeito de análise, fazendo­se posteriormente os ajustes necessários

Sistema de. custeio por absorção (fui/ cost), procurando alocar todos os custos aos produtos

Sistema de custeio por absorção (fui/ cost)

Sistema de custeio por absorção (fui/ cost)

Sistema misto: só considera como custo direto as atividades que apresentam correlação direta com o consumo de recursos~ os custos que não permitem clara associação são alocados para a estrutura: avaliação por linha, por cliente ou por divisão

Page 93: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

87

5.2.11. Sistema de Informação .

Arthur Andersen

Ernest & Young

Price Waterhouse

K.PMG Peat Marwick

Sistema on-line, mas não em tempo real. Avaliações mensms

Sistema stand-alone ou em rede. Avaliações mensais. A cada seis meses ou um ano reavaliam-se os drivers de primeiro nível (dos centros de custos para as atividades)

Sistema stand-alone para protótipo e análise das atividades, atualizado mensalmente a partir da base de dados (sistema integrado)

Sistema stand-alone: importação e exportação de dados, gerando relatórios mensais

5 .2.12. Dificuldades na Implementação

Ernest & Young

Price Waterhouse

K.PMG Peat Marwick

Pequenas, · em decorrência da mobilização das· pessoas desde o início do processo. O maior problema encontra-se na disponibilidade de acesso às informações necessárias -mais cresce menor for a ,.ft'l,nrP·I1.~ De maneira geral são pequenas, sendo qoe a maioria dos projetos conseguem atender aos ·objetivos propostos. Em poucos casos surgem problemas com pessoas menos preparadas para aceitar as novas informações, por romper com valores tradicionais Dependem dos objetivos: para um modelo de gestão baseado em atividades, a resistência é menor~ para redução de custos, é um pouco maior em função da expectativa que

de funcionários I de Pequenas, em função do trabalho desenvolvido · no treinamento. Uma das maiores dificuldades para a equipe é a definição de atividades, tarefas e processos. Pode ocorrer algum atraso, especialmente quando há outros processos em andamento

Page 94: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

88

5.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

De acordo com o que foi apresentado é possível verificar importantes

aspectos relacionados à implementação de sistemas ABC I ABM em empresas

situadas no Brasil.

As empresas que estão empregando o ABC I ABM são, na maior parte,

empresas de grande porte e algumas de médio porte, com faturamento anual maior

que dez milhões de dólares.

Entre os motivos e necessidades para a implementação, levantados pelas

· empresas de consultoria, destacamos: as decisões por parte das matrizes (no caso de

multinacionais); impera~ivo de mudança de mentalidade; aperfeiçoamento de

processos, modismo e histórias de sucesso.

Com relação aos conceitos do ABC I ABM, há variação da percepção por

parte dos gestores das empresas. A maior parte vê o ABC como ferramenta técnica

para custeio, faltando conhecimento conceitual mais completo. Alguns o vêem como

instrumento para mudanças e redução de custos. A visão embutida no ABM, com

foco nos processos e medidas de desempenho, não foi ressaltada de forina

contundente.

Dois objetivos genéricos destacam-se para os projetos ABC I · ABM

implementados: custeio/ análise de rentabilidade de produtos,.serviços, clientes etc., e

Page 95: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

89

o suporte à Reengenharia. · O aperfeiçoamento de processos e redução de custos são

citados, porém, em menor escala. Os exemplos do Anexo 2 suportam essas

avaliações. As implementações citadas objetivaram: custeio I análise de rentabilidade

(dez casos), suporte à Reengenharia (dois casos) e redução de custos (três casos). O

aperfeiçoamento de processos não foi mencionado nos exemplos de implementação.

O escopo dos projetos é delimitado no projeto-piloto, podendo variar de

alguns processos a todos os processos de uma única vez, o que não implica em

custeio de todos os produtos, mas apenas dos processos relevantes.

Entre os principais "produtos" (deliverables) dos projetos, destacamos:

sistema de custeio de produtos; análise de rentabilidade de clientes e/ou canais de

distribuição; implantação de uma nova filosofia; treinamento e, em menor grau,

definição de medidas de desempenho.

É evidente a divisão dos treinamentos em dois estágios distintos: no

primeiro, faz-se um nivelamento conceitual (mobilização), procurando explicitar os

conceitos de forma ampla para permitir uniformização de conhecimento; no segundo,

faz-se um treinamento específico para a equipe de implementação, com conceitos

mais aprofundados e com ênfase na utilização do software ABC I ABM.

O processo de mudanças é conduzido de forma participativa, sempre com

apoio da alta gerência e, em alguns casos, com a figura do sponsor. Exige trabalho de

Page 96: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

90

equipe multifuncional para auxiliar no modelamento das informações necessárias e dar

credibilidade ao trabalho.

De modo geral, as empresas de consultoria realizam a escolha dos cost

drivers a partir de um "dicionário de geradores" - que acumula resultados de

implementações anteriores. Se surge uma nova situação, realizam-se entrevistas e

workshops com os funcionários, até conseguir consenso junto à equipe de

implementação.

Três das quatro empresas de consultoria pesquisadas adotam o modelo de

custeio por absorção, no qual todos os custos (e despesas) são alocados aos produtos.

Com abordagem diferenciada, a consultoria KPMG utiliza um sistema misto. São

considerados custos diretos, ou seja, alocáveis aos produtos, os custos relacionados

às atividades que apresentam correlação direta com o consumo de recursos. Os custos

(atividades) que não permitem clara associação são alocados para a estrutura,

permitindo a análise por linha de produto, por cliente ou por divisão.

A maioria dos sistemas de informação utilizados nos projetos ABC/ ABM

são sistemas stand-alone, permitindo importação e exportação de dados. Os dados

são processados mensalmente, emitindo-se os relatórios gerenciais com a mesma

freqüência. Anual ou semestralmente faz-se uma reavaliação do sistema,

especialmente dos cost drivers de primeiro nível (dos centros de custos para as

atividades). Em alguns casos, é possível encontrar sistemas on-line, mas não em

tempo real.

Page 97: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

91

As dificuldades para implementação de projetos ABC I ABM foram

consideradas pequenas pela maior parte das consultorias. Problemas com a

disponibilidade das informações (maiores quanto menor a empresa) e a definição de

tarefas, atividades e processos estão entre as dificuldades citadas. De acordo com a

consultoria Price Waterhouse, se o objetivo do projeto é um modelo de gestão

baseado em atividades, a resistência é menor; se redução de custos, já é um pouco

maior em função das expectativas que acaba por gerar.

A partir dos exemplos citados, podemos constatar que a (falta de)

disponibilidade de informação é a principal dificuldade para implementação de

projetos ABC I ABM, provocando aumento em seu prazo e custo .. Isso ajuda a

explicar a falta de comentários sobre a utilização do ABC I ABM em pequenas

empresas, que quase nunca possuem base de informações detalhada que permita

implementação com custo compatível com seu porte.

Page 98: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

92

CAPÍTUL06

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os sistemas gerenciais de custos devem fornecer informações confiáveis e

acuradas. para custeio dos produtos e serviços e para controle de processos das

atividades operacionais. As informações de custos para relatórios financeiros

externos, fornecidas pela contabilidade, não devem ser utilizadas para tomada de

decisões, já que envolvem alocação de custos, de acordo com critérios exigidos pela

legislação fiscal e societária.

Os sistemas de custos tradicionais (custeio por absorção), preponderantes

até o início da década de 1980, falham ao não fornecer informações confiáveis sobre

custos dos produtos, já que utilizam método arbitrário de rateio dos custos indiretos

(geralmente horas- MOD ou horas-máquina). Essa distorção acaba por levar a

decisões equivocadas no que se refere à precificação, análise de rentabilidade e

descontinuidade de produtos, especialmente em ambientes diversificados, nos quais

são introduzidos subsídios entre as diversas linhas.

O método de custeio direto (ou variável) só reconhece os custos

variáveis. Evitando qualquer tipo de alocação dos custos indiretos, não permite

avaliação do modo como os recursos da empresa são consumidos nem da

rentabilidade de produtos. Num ambiente no qual os custos 'indiretos tomam-se cada

Page 99: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

93

vez maiores e mais significativos, ignorar como ocorre essa utilização equivale a

miopia gerencial. Tratar tais custos como fixos no período não auxilia no

gerenciamento de processos e atividades e tampouco contribui para eliminação de

desperdícios.

As mudanças provocadas pela globalização, avanços na tecnologia da

informação e na automação, desregulamentação de mercados e menores ciclos de vida

dos produtos requerem das empresas maior agilidade e flexibilidade, além de

profundo entendimento dos processos de negócio. Somente conhecendo e medindo a

performance dos processos e atividades relevantes, a empresa terá condições de

ofertar produtos de sucesso em um mercado altamente competitivo.

O Activity-Based Costing (ABC) surgtu como forma alternativa ao

custeio por absorção tradicional, representando uma evolução. Traz embutido, porém,

o conceito de rastreamento, que procura identificar as rotas de consumo das

atividades relevantes relacionadas aos produtos e serviços. Ao hierarquizar as

atividades (unitária, lotes, sustentação de produtos e de instalações), o ABC leva em

conta tipos distintos de custos.

Após avaliar os conceitos do sistema ABC, considero que representam

uma grande evolução do custeio por absorção tradicional, fornecendo maior nível de

acurácia às informações de custos e .suportando melhor os processos de tomada de

decisão - especialmente aqueles relacionados à análise de rentabilidade e de

precificação de produtos e serviços. O ABC não representa uma ''revolução", como

Page 100: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

94

muitos autores defendem, já que incorpora certo grau de subjetividade, dependendo

de como a implementação é conduzida (quantidade e seleção de cost drivers),

podendo introduzir algumas distorções, embora em menor grau que nos sistemas

tradicionais, pois o número de bases de "rastreamento" é bem maior.

A avaliação da performance de processos e atividades, fornecida pelo

Activity-Based Management (ABM), é coerente com a visão da organização

horizontal, voltada aos processos de negócio. O ABM representa, para empresas

industriais e, especialmente, de serviços, papel fundamental, por permitir o

acompanhamento de processos e atividades, bem como de seu impacto no custo total

de produtos, serviços, clientes, canais de distribuição etc. A introdução de medidas de

desempenho das atividades operacionais, foco do ABM, é passo fundamental para a

otimização de processos e eliminação de desperdícios, embora tenha sido pouco

mencionada nas entrevistas realizadas.

A pesquisa exploratória indica que as empresas que estão implementando

sistemas ABC/ ABM são de médio e grande porte, até em função dos investimentos

. para isso necessários. Assim, pouco sabemos sobre a possibilidade de utilizar o ABC

em pequenas empresas, o que deve ser investigado em pesquisa específica.

A percepção dos conceitos ABC e ABM não é clara. Alguns conseguem

ver somente um instrumento que fornece melhores informações de custos (visão

ABC); outros, indo além, também vêem um instrumento para mudanças e redução de

custos (visão ABM). Nos projetos avaliados os objetivos estão quase sempre

Page 101: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

95

relacionados a custeio de produtos e suporte à Reengenharia. Medidas de

desempenho de processos e atividades, foco do ABM, não são enfatizadas, o que

indica que o objetivo de custeio de produtos tem desviado atenção de outras

possibilidades inerentes ao ABM, como as medidas de desempenho e a visão de

aperfeiçoamento de processos (apesar desta última ser colocada pelas consultorias

entre os motivos para a implementação).

As implementações têm sido realizadas na unidade industrial ou na

empresa como um todo (em seis das doze empresas citadas), ou em setores

específicos, através de projetos-piloto (nas outras seis empresas), onde os processos

relevantes são mapeados e custeados. Os treinamentos são desenvolvidos em duas

etapas. Na primeira, objetiva-se a uniformização de conceitos para todos os

funcionários envolvidos de alguma forma com o projeto. Na segunda, mais específica

para a equipe de implementação, aprofundam-se os conceitos e enfatiza-se a

utilização do software ABC.

A escolha dos cost drivers é feita de forma padronizada, isto é, para

atividades comuns a várias empresas (ex.: entrada de pedidos, preparo de máquinas,

inspeção etc.) são sugeridos drivers utilizados em outros projetos. Somente quando

ocorre nova situação é que são realizadas entrevistas e/ou workshops para obter

consenso junto aos participantes.

A maior parte das empresas de consultoria implanta o ABC, em seus

projetos, procurando rastrear todos os custos aos produtos. Somente uma das

Page 102: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

96

empresas deixou claro que utiliza o procedimento misto, recomendado por COOPER

e KAPLAN (1991 ), no qual se evita o rateio de custos que não sejam "diretamente

identificáveis". No primeiro caso, ocorre maior distorção, já que, ao final, é feito

rateio dos custos indiretos não identificáveis. Essa distorção será menor à medida que

a parcela dos custos indiretos for menor relativamente aos custos totais.

A grande maioria dos sistemas implantados são stand-alone, permitindo

importação e exportação de dados. As informações são atualizadas e os relatórios

apresentados mensalmente. Os sistemas são revisados semestral ou anualmente, para

revisar os processos e os cost drivers.

A pesquisa realizada por KHOURY (1997) apresenta resultados

semelhantes aos deste trabalho. Ele constata que, das empresas que responderam ao

questionário enviado (261 ), 7% não ouviram falar do sistema ABC - e isso entre as

500 maiores do país. 34%. não se interessaram pelo sistema, apesar de já o

conhecerem e outras 90/o decidiram não utilizá-lo, por sua complexidade e alto custo

de implementação.

Entre as empresas que decidiram implantar, estão implantando ou já

utilizam o sistema ABC, no setor industrial, esse percentual é de 23%, no setor

comercial, 21% e, no de serviços, 0%. O resultado é curioso na medida em que as

empresas do setor de serviço apresentam, teoricamente, um dos maiores campos para

aplicação do ABC, especialmente para análise de rentabilidade e precificação. Quanto

Page 103: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

97

às empresas que estão avaliando o sistema ABC (28% do total), 44% são de serviços,

indicando grande interesse pelo sistema ABC.

Considerando que a pesquisa exploratória mostra a visão da

implementação de sistemas ABC/ ABM sob a ótica· das empresas de consultoria, as

informações obtidas podem apresentar limitações. Opiniões pessoais podem ter sido

manifestadas, o que não toma a pesquisa inválida ou tendenciosa. Em futuros

trabalhos, seria importante explorar mais detalhadamente os seguintes tópicos:

• viabilidade de. uti1izar o ABC em pequenas empresas, pois à primeira

vista parece que os custos de implementação e a falta de informações mais detalhadas

podem tomar o projeto inviável;

• utilização de medidas de performance, embutidas na visão do ABM, em

empresas no Brasil, já que. parece haver um enorme espaço para aperfeiçoamento

nessa área;

• avaliação criteriosa dos cost drivers utilizados. O pressuposto básico do

sistema ABC é que os cost drivers irão refletir o consumo de recursos e de atividades.

Assim, é essencial que se verifique até que ponto os cost drivers tirados de

"dicionários de geradores" refletem, estatisticamente, o real consumo de recursos,

além de permitir avaliar o grau de distorção introduzido no sistema, e

• analisar a eficácia dos sistemas em utilização. É necessário cotejar os

resultados das consultorias com os das empresas usuárias dos sistemas para verificar

se foram atingidos os objetivos esperados e se o ABC tem realmente atendido às

expectativas e objetivos estabelecidos.

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98

O ABC não é apenas um modismo, mas desempenhará importante função

como instrumento para melhor gestão dos negócios, além de apresentar custos de

implementação cada vez menores, decorrentes da redução de preços de hardware e

software que suportam o sistema, aumentando o universo de empresas que poderão

utilizá-lo.

As informações de custos necessitam ser acuradas para suportar o

processo de tomada de decisão, especialmente se considerarmos que os mercados

tómam-se cada vez mais competitivos e, as operações, mais diversificadas e

complexas. O profundo entendimento dos processos de negócio e atividades, inclusive

de seus ~ustos e ·medidas de desempenho, é fator crucial para a sobrevivência das

empresas no longo prazo.

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99

ANEXO 1 - Questionário

ABC/ABM

EXPERIÊNCIA GERAL NA IMPLEMENTAÇÃO

1. Qual o motivo pelo qual a Consultoria é procurada pelas empresas para implementação de um Projeto ABC? Qual o porte das empresas, em geral? É implementado isoladamente ou em conjunto com outros Projetos (TQM, llT, Reengenharia, ... )?

ex.: necessidade de redução de custos, ordem da matriz etc.

l. Qual a percepção dos conceitos por parte dos clientes? Chegam a ver no ABC um facilitador para os processos de avaliação de desempenho e de melhoria contínua?

ex.: ferramenta técnica p/ custeio, instrumento de gestão, etc.

3. Na maior parte dos projetos ABC, como a implementação tem ocorrido:

3 .1. Em relação ao treinamento (público, tempo, ... ) ?

3.2. Em relação ao escopo (limitado no início ou abrangendo a empresa como um todo) ?

3.3. Em relação aos objetivos?

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3.4. Em relação aos "produtos"?

3.5. Em relação ao processo de mudanças (participativo ou "de cima para baixo") ?

100

4. Com que "sucesso" tem sido implementados esses projetos? Quais as principais dificuldades encontradas (técnicas ou comportamentais) na implementação?

5. Quais os critérios de escolha dos cost-drivers (entrevistas c/ funcionários, métodos estatísticos, 11 efeito comportamental", outros)?

6. Como é encontrado o número ótimo de cost-drivers, de forma a não cair num nível de detalhes muito grande, o que "poluiria" as informações ?

7. Nos projetos ABC é realizado o fu/1-cost ou custeio por absorção dos "custos indiretos" que são identificáveis aos diversos objetos de custo? Os "custos" são considerados em sua forma mais ampla (vendas,distribuição, suporte ao cliente)?

8. Como geralmente é estruturado o sistema de informação? On-line ou stand-alone ?

Page 107: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

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Consultoria Perfil Ramo de Empresa Negócios

(N ac./Mult.)

Arthur Andersen

Empresa 1 N Siderurgia

Empresa2 N Autopeças

Empresa3 M Bens de. consumo

------

Emest& Young

Amex M Cartão de crédito

Plast. Pizani Belga- Artigos brasileira plásticos

Condor N Higiene e limpeza

Somente ajustes, pois já havia a base pronta.

101

ANEXO 2.1- Exemplos de Implementação

ABC/ABM

EXPERIÊNCIAS DE IMPLEMENTAÇÃO

Porte Pessoas envolvidas no Projeto Prazo Dificuldades na (Faturamento) projeto concluído? implementação

(em tempo integral) Funcionários I Consultores

..

G 4 4 Sim . 8 meses Comportamento e supervisão

M 2 2 Sim 7 meses Disponibilidade de informação

M(a unidade 3 3 Sim 4 meses Definição de de negócio} (piloto) prioridades i --··-- -

G 3 2 Sim 3,5 meses Não citado

M 1 1 Sim 4,5 meses Não citado ~

M - - Sim 1 mês* Não citado

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102

ANEXO 2.2 - Exemplos de Implementação

ABM/ABC

EXPERIÊNCIAS DE IMPLEMENTAÇÃO

Consultoria Escopo Objetivos Produtos (Deliverables) Empresa

Arthur Andersen Empresa 1 Inicialmente projeto-piloto, Suportar a Reengenharia e permitir a Implementação, pessoal treinado e o

depois estendido para toda a análise de rentabilidade por linha de sistema gerando relatórios empresa produto e por segmento de mercado

Empresa2 Toda a empresa Rentabilidade por produtos e Idem renegociação de contratos

Empresa3 Projeto-piloto, com incumbência Custeio de produtos (havia duas Desenho conceitual, treinamento do de diagnosticar, fazer o desenho unidades produtivas com tecnologias pessoal e protótipo conceitual e prototipar diferentes)

Emest & Youn2 Amex ABC por unidade de negócio Custos e rentabilidade por produtos; Custeio por produtos e processos, além

(Brasil), depois expandido para custos por processos da análise de rentabilidade América Latina

Plast. Pizani Toda a unidade industrial Custo e rentabilidade por produto Custeio e análise de rentabilidade por (decisão estratégica - continuidade produtos de linhas)

Condor Toda a empresa Custos por produtos I famílias de Custeio de produtos produtos

-

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103

ANEXO 2.3 - Exemplos de Implementação

ABM/ABC

EXPERIÊNCIAS DE IMPLEMENTAÇÃO

Consultoria Perfil Ramo de Porte Pessoas envolvidas no Projeto Prazo Dificuldades na Empresa Negócios (Faturamento) projeto concluído? implementação

· (Nac./Mult.) (em tempo integral) Funcionários I Consultores

Price Waterhouse

Empresa 1 M Gases industriais G 8 5 Sim 4 meses Disponibilidade de informação

Empresa2 N Varejo G 4 6 Sim 3 meses Disponibilidade de informação

Empresa 3 .N Autopeças G 4 4 Sim 3 meses Disponibilidade de informação

KPMG Telepar N Telecomunicações G 4 3 Parcialmente 12 meses Pessoal~ empresa

política Unipac N Embalagem M 2 4 Sim 8 meses Não citado

Usiminas N Siderurgia G 5 5 Em 2 meses Não citado andamento

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104

ANEXO 2.4 - Exemplos de Implementação

ABM/ABC

EXPERIÊNCIAS DE IMPLEMENTAÇÃO ~

Consultoria Escopo Objetivos Produtos (Deliverables) Empresa

Price Waterhouse Empresa 1 Uma filial (modelo) e dois níveis Rentabilidade de filiais e de Modelo de rentabilidade

corporativos (matriz e holding) clientes

Empresa2 Holding -como partilhar os Distribuição de overhead Custos para as unidades custos entre as várias unidades

Empresa 3 Toda a unidade industrial Redução de custos Planejamento para a redução de custos

KPMG Telepar Toda a empresa Redução de custos e aumento Custos por segmento de mercado

de rentabilidade (convencional, celular, dados e voice-mail); plano de contas por atividades, por região, i

por natureza e por centro de responsabilidade

Unipac Inicialmente projeto-piloto, depois Conhecimento dos custos dos Custos dos processos; rentabilidade' por ampliado para toda a empresa processos, servindo de apoio à produtos e clientes

Reengenharia e ao TQM I

Usiminas Projeto-piloto Custos de processos Custos e rentabilidade de processos e !

produtos .... [ ____ -- -------------------------------------- ·-

Page 111: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS

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