gestÃo e gerenciamento de risco ambiental ihso.com.br/textotecnico/textoma2.pdf · 2 2. conceito e...

Download GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RISCO AMBIENTAL Ihso.com.br/TextoTecnico/textoMA2.pdf · 2 2. Conceito e Definições Apesar de ser difícil a sua conceituação, o risco é inerente a

If you can't read please download the document

Upload: dodan

Post on 06-Feb-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 1

    GESTO E GERENCIAMENTO DE RISCO AMBIENTAL I

    1. Introduo O estudo de risco ambiental apareceu como disciplina formal nos Estados Unidos de 1940 a 1950, paralelamente ao lanamento da indstria nuclear e tambm para a segurana de instalaes (safety hazard analyses) de refinao de petrleo, indstria qumica e aeroespacial. No Brasil, especificamente em Cubato com o Plano de Controle da Poluio de Cubato em 1983 desencadeou-se uma srie de exigncias para garantir a boa operao e manuteno de processos e tubulaes e terminais de petrleo e de produtos qumicos das 111 unidades industriais locais, dando-se incio ao uso institucional desse tipo de estudo de risco. No caso de risco sobre a sade, por outro lado, mais recente a sua aplicao e somente foi acelerada com a publicao do EPA Carcinogenic Risk Assessment Guidelines (1976) e dos trabalhos de remediao do solo na dcada de 80. No Brasil, em So Paulo, a Agncia Estadual do Meio Ambiente (CETESB) realizou de forma esparsa estudos de relao causa-efeito (txico-epidemiolgico) para algumas empresas com grandes impactos sobre a sade da populao vizinha, como no caso do chumbo, mas sem um aplicao como plano, programas e projetos como, por exemplo, no caso americano para os 189 poluentes perigosos do ar (Hazardous Air Pollutants List/US EPA-The Clean Air Act Amendments of 1990, title III, Section 112 (b)). Para o risco ecolgico podemos afirmar que o mesmo encontra-se na sua infncia ao nvel internacional e praticamente inexistente aqui no Brasil. Entretanto, o significativo aumento do seu interesse ao nvel de toda a populao do planeta, face os riscos eminentes que esto sendo mostrados, faz com que possamos tomar mais ateno e assumirmos mais comprometimentos em funo das valiosas reservas de recursos naturais ainda aqui existentes. Face a extenso dos assuntos nas trs reas de interesse do risco ambiental: segurana, sade humana e ecolgico. Vamos neste artigo somente incluir o item da segurana (safety hazard analyses) e os dois outros (sade humana e ecologia no gerenciamento do risco ambiental II) na prxima edio.

  • 2

    2. Conceito e Definies Apesar de ser difcil a sua conceituao, o risco inerente a nossa vida diria e em todas as decises que tomamos. No tempo do homem da caverna, ele j tinha que lev-lo em conta cada vez que saa para caar animais para o seu alimento. Tambm nos planos estratgicos de guerra so levados em conta at a humilhao das perdas das vivas para os vencedores, h milhares de anos atrs. O estudo ou anlise de riscos significa coisas diferentes para pessoas diferentes, por exemplo, o risco financeiro de se aplicar na bolsa de valores, o risco das empresas de seguro, as fatalidades de um acidente de uma planta de energia nuclear, o risco de cncer associado com as emisses poluidoras da indstria ou at de se fumar por 5 anos um determinado tipo de cigarro. Todos estes exemplos se mostram, apesar de muito diferentes um dos outros, como noes mensurveis do fenmeno chamado risco. De forma unificada podemos definir o estudo de risco como um processo de estimativa da probabilidade de ocorrncia de um evento e a magnitude provvel de seus efeitos adversos (econmicos sobre a sade e segurana humana, ou ainda ecolgico) durante um perodo de tempo especificado. Dentro das vrias facetas do risco podemos ainda exemplificar os danos econmicos de uma contaminao do subsolo nos centros industrializados do pas, danos econmicos rea turstica dos 8.500 km de extenso do nosso litoral por vazamento de leo ou limpeza de tanques de navios, vazamentos ou estouros de tanques ou reatores de indstria qumica, aplicao inadequada de pesticidas com conseqente contaminao de alimentos com danos sobre a sade dos consumidores e seus gastos decorrentes.

    TIPOS E INDICADORES DE RISCO - Segurana do Trabalho - agudo - Sade humana - subcrnico - Ambiental/Ecolgico - crnico - Financeiro - risco de cncer (adverso) - Imagem empresarial - efeitos sistmicos - Ocupacional/trabalhador (sem cncer) - Ambiental/Comunidade - Consumidor

    Tabela 1 Tipos e Indicadores de Risco.

  • 3

    3.Tipos de Anlises de Risco Os trs tipos de estudo de risco so: 3.1Anlise de Risco na Segurana (Processos e Instalaes) Tipicamente de baixa probabilidade, acidentes de alta conseqncia; agudo, efeitos imediatos. Relao causa-efeito bvia. O foco deve ser dado na segurana do trabalhador e na preveno de perdas, principalmente dentro dos limites do ambiente de trabalho. 3.2Estudo de Risco sobre a Sade Tipicamente de alta probabilidade, baixa conseqncia, contnuos, exposies crnicas; latncia longa, efeitos retardados. As relaes de causa e efeito no so facilmente estabelecidas. O foco dado para a sade de seres humanos, principalmente fora dos ambientes de trabalho. 3.3Estudo de Risco Ecolgico Uma complexidade de interaes entre populaes, comunidades e ecossistemas (incluindo cadeia alimentar) ao nvel micro e macro; grande incerteza na relao causa-efeito. O foco dado em impactos de habitats e ecossistemas que podem se manifestar bem distantes das fontes geradoras do impacto. importante aqui definirmos perigo (hazard) pois muito usado na rea ambiental mas podendo significar coisas diferentes, dependendo do contexto. Todos os estudos comeam com a identificao dos perigos ou definio do problema. O perigo um agente qumico, biolgico ou fsico (incluindo a radiao eletromagntica) ou um conjunto de condies que se apresentam com uma fonte de risco mas no o risco propriamente dito. Por exemplo, anlise de perigo na segurana do trabalho da indstria petroqumica e nuclear geralmente se refere a todos os passos a partir da identificao do perigo at a avaliao do risco. Por outro lado, o estudo do risco sobre a sade humana, a anlise do perigo considerado com primeiro passo envolvendo a avaliao dos dados e a seleo dos produtos qumicos que causam o dano. O estudo e a anlise de risco (risk assessement and risk analysis) so usadas geralmente como sinnimos, mas a anlise de risco algumas vezes usada mais geralmente para incluir os aspectos do gerenciamento de risco. Depois dos perigos serem definidos, o prximo passo identificar a populao de receptores potenciais e os locais de exposio. A exposio ocorre quando algum toma contato com o perigo, ou seja, ocorrncia em tempo e espao do perigo e o receptor. Conclumos assim, que o perigo s constitui um risco se houver o contato entre eles e, consequentemente, na fase de caracterizao do risco, a natureza e a magnitude das conseqncias da exposio so formalizadas.

  • 4

    Na anlise de perigo da segurana do trabalho, os efeitos finais so bem definidos: fatalidades, danos e perdas econmicas. O impacto imediato e transparente; a causa-efeito est clara no seu relacionamento. Podemos citar os bem conhecidos exemplos de acidentes catastrficos como de Seveso, Bhopal, Chernobyl, Vila Soc (Petrobrs Cubato), grandes vazamentos de petrleo no Brasil, Plataforma da Petrobrs P-36, etc. Em contraste, grandes incertezas ainda invadem a anlise de riscos sobre a sade humana devido as causas multifatoriais, rudo de fundo e perodos de longa latncia, onde as relaes de causa-efeito so no mnimo tnues. Por exemplo, ns estamos expostos a milhares de produtos qumicos todos os dias, a maioria dos quais no so passveis de causar doenas em baixas concentraes. Algumas doenas, especialmente cncer, tem um perodo de latncia de 10 a 20 anos. Os riscos ecolgicos so talvez em ordem de magnitude mais complexos e mais incertos e seus efeitos podem no ser evidentes exceto, de forma retrospectiva. Apesar dessas diferenas, os riscos esto interrelacionados. O acidente de Chernobyl, por exemplo, resultou em poucas mortes imediatas mas a radiao continuou a impactar a sade de milhares de pessoas com o tempo. Uma vez que os seres humanos fazem parte do ecossistema (seres humanos, fauna e flora fazem uso dos recursos naturais ar, gua e solo continuamente) a sade humana pode ser afetada indiretamente por, por exemplo, o consumo de peixe contaminado, especialmente nos casos de alta bioacumulao de pesticidas ou outros compostos solveis em gordura dos tecidos de peixe comestveis encontrados em guas contaminadas.

  • 5

    Anlise de Riscos de

    Segurana Estudo de Risco Sade

    Humana Estudo de Risco Ecolgico

    O processo passo a passo: 1.Identificao do Perigo a) Materiais, equipamentos, procedimentos. Por exemplo localizao e tamanho dos inventrios, materiais combustveis, reativos e txico agudo. b) Incio de eventos, por exemplo, equipamentos com mal funcionamento, erro humano, falhas de containers. 2. Estimativa de Probabilidade e Freqncia Por exemplo, probabilidade de iniciar eventos e acidentes (causas internas e externas) 3. Anlise de Conseqncia Natureza e magnitude dos efeitos adversos, por exemplo, fogos, exploses, liberao repentina de materiais txicos. 4. Avaliao e Determinao de Risco Integrao de probabilidades e conseqncias para estimativas quantitativas de riscos de segurana. Finalizaes Tpicas: Fatalidades, danos e perdas econmicas. Aplicaes Tpicas: - Segurana de processos qumicos e petroqumicos. - Transporte de materiais perigosos - Segurana de processos ocupacionais - Gerenciamento de segurana e meio ambiente.

    1. Anlise dos Dados e Identificao do Perigo Quantidade e concentraes de agentes qumicos, fsicos e biolgicos no meio ambiente do local ou rea em estudo. 2. Estudos de Dose-Resposta ou Toxicidade Relacionamento entre exposio e dose e efeitos adversos sobre a sade. 3. Estudo de Exposio Caminhos e rotas, receptores potenciais incluindo subgrupos sensveis, taxas de exposio e tempo. 4. Caracterizao de Risco Integrao da toxicidade e dados de exposio para expresso qualitativa e quantitativa de riscos sobre a sade; anlise de incertezas. Finalizaes Tpicas: Sade humana, por exemplo, risco de cncer individual e populacional, perigos de doenas no cancergenas. Aplicaes Tpicas: - Contaminao de subsolo. - Licenciamento ambiental - Aditivos de alimentos e remdios - Contaminao alimentcia por peixes e frutos do mar.

    1.Formulao do Problema Flora e fauna existente, especialmente espcies ameaadas de extino; levantamentos terrestres e aquticos; contaminantes e geradores de stress na rea em estudo. 2. Estudos de Exposio Caminhos, habitats ou populaes receptoras, especialmente em perigo ou ameaadas de extino; concentraes de exposio. 3. Estudos de toxicidade e efeitos ecolgicos Testes aquticos, terrestres e microbiais, por exemplo, estudos de campo de LC50 (concentrao letal para 50% da populao exposta). 4. Caracterizao do Risco e Ameaa Integrao dos levantamentos de campo, toxicidade e dados de exposio para caracterizao de riscos ecolgicos significativos, relao causal e incertezas. Finalizaes Tpicas: Impacto de habitats e ecossistemas, por exemplo, abundncia de populaes, diversidade de espcies. Aplicaes Tpicas: - Estudos ambientais - Stios contaminados - Seleo de locais para industriais - Estudos em mangues - Licenciamento/registros de pesticidas - Controle da fabricao de substncias txicas,

    Tabela 2 Quadro Geral e Comparao dos Trs Tipos de Anlises de Risco

  • 6

    Figura 1 Modelo Americano de Estudo de Gerenciamento de Risco.

    ESTUDO DE RISCO

    IDENTIFICAO DO PERIGO

    ESTUDO DE ESTUDO DE

    TOXICIDADE EXPOSIO

    CARACTERIZAO DO RISCO

    GERENCIAMENTO DE RISCO

    DESENVOLVIMENTO E ESCOLHA DE ALTERNATIVAS

    SELEO DA REMEDIAO

    PROJETO E IMPLEMENTAO

    MONITORAMENTO E REVISO

  • 7

    4. Usos dos Estudos de Risco O Brasil no tem ainda feito uso dos estudos de risco para sade humana e para sistemas ecolgicos, mas somente para lanamentos emergenciais (emergency releases) tendo em vista principalmente algumas situaes crticas vividas no Plano de Controle de Poluio Ambiental do Municpio de Cubato SP, envolvendo oleodutos, tanques de cloro e amnia, etc. e por exigncia da CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Nos Estados Unidos, as agncias federais que rotineiramente usam anlise de risco incluem o FDA (Federal Drug Administration), EPA (Environmental Protection Agency), OSHA (Occupational Safety and Health Administration), a Comisso de Segurana dos Produtos ao Consumidor (CPSC Consumer Products Safety Commission) e os departamentos federais de agricultura, energia, defesa, transporte e energia nuclear. Uma forma mais operativa do controle do risco feita atravs da Lei de Controle de Substncias Txicas (TSCA Toxic Substances Control Act) que exige que as empresas notifiquem o EPA sempre que houver o conhecimento da existncia de qualquer risco significativo ainda no sabido pela agncia ambiental, principalmente nos desenvolvimentos de novos produtos. Tais aplicaes tem sido expandidas a partir das dcadas de 70 e 80. 5. Usos e Vantagens No Brasil, como j aplicado nos Estados Unidos, poderamos ter na anlise de risco mais completa, incluindo risco sade humana e ecolgico, os seguintes usos:

    Estimar os benefcios (efeitos teraputicos) versus riscos (efeitos colaterais ou txicos) dos novos remdios;

    Julgar os benefcios (produo agrcola maior, menos perdas) versus riscos (contaminao do meio ambiente e dos produtos agrcolas) pelo uso dos pesticidas;

    Avaliar a escolha de locais para indstrias, segurana de processos e perigos de transporte, melhorando o projeto e a construo das instalaes.

    Conduzir anlises de deciso sobre a necessidade de descontaminao do subsolo bem como sua extenso.

    Gerar cenrios (what-if), por exemplo, para comparar o impacto potencial de alternativas de controle ambiental, estabelecendo prioridades para aes emergenciais e corretivas.

    Avaliar tecnologias existentes e novas para o controle, preveno e/ou mitigao de perigos e riscos ambientais.

    Desenvolver base cientfica para o fechamento de unidades poluidoras ou a sua abertura sob certas condies.

    Prover informaes tcnicas e consistentes sobre questes ambientais, de sade pblica ou ecolgicas para as comunidades envolvidas, suprindo suas expectativas e promovendo a sua adequada participao.

    Gerar bases cientficas para a reduo de qualquer risco corporativo e o gerenciamento de planos, programas e projetos de custo-benefcio.

    Identificar perigos emergentes na ecosfera (exemplo, oznio, estufa, etc) e promover ao mundial a respeito.

  • 8

    Como podemos ver as vantagens do uso da anlise de risco para segurana de processos, sade humana e fins ecolgicos so inmeras e oferecem uma base consistente para priorizar problemas, alocar recursos e reduzir riscos. A possibilidade de vantagens obtidas nos projetos so da ordem de 5% a 20% do custo total desses projetos. Limitaes no Brasil Como j mencionado s temos usado no Brasil a anlise de risco para lanamentos emergenciais (vazamento, exploso, acidentes de tanques, dutos, reatores, etc) e talvez a limitao mais crucial est na pequena quantidade de profissionais que tenham um treinamento mais amplo e que possam sair do livro de receitas e dar foco em assuntos crticos tanto para Sade Pblica quanto para o Corporativo do Setor Privado. 6. O Estudo de Risco e o seu Gerenciamento Atravs da figura 1 podemos verificar como se desenrola o estudo e o gerenciamento do risco. Em geral o estudo de risco se constitui nas seguintes fases:

    1) Identificao das fontes de perigo 2) Estimativa da dose resposta 3) Estimativa da exposio 4) Caracterizao do risco

    Costuma-se tambm manter o estudo de risco separado do gerenciamento de risco uma vez que este ltimo acaba envolvendo consideraes sobre dados de risco, assim como informaes polticas, sociais, tcnicas e econmico-financeiras, todas elas importantes para o desenvolvimento de opes alternativas para o equacionamento dos riscos envolvidos. Deve-se tambm tomar cuidado para que a fase de estudos/caracterizao do risco esteja terminada para que aps isso se inicie a fase de gerenciamento do problema, sob pena de se ter implicaes econmicas e polticas alterando sua direo e concluses. O problema pode piorar se a fase de estudo/caracterizao se demorar demais (5 a 10 anos) at o incio das primeiras aes concretas na fase de gerenciamento. Durante este perodo podemos ter mudana de consultorias, de exigncias de governo e novas estruturas polticas das agncias ambientais etc. 7. Medida, ndices e Indicadores de Risco As medidas ou indicadores de risco para fontes de perigo na segurana (processos, ambientes de trabalho, comunidades) so as fatalidades, danos sobre a sade, invalidez e perdas econmicas. Na rea de risco para sade humana os riscos so expressos em termos de cncer e doenas no cancergenas tais como efeitos na reproduo humana, trato respiratrio, circulatrio e neurolgico. Os riscos tambm podem ser expressos tanto como individual como populacional. O risco individual a probabilidade de dano ou doena no caso de indivduos altamente expostos em uma populao (Um risco de cncer individual de 10-6 ou 1E-6 significa, por exemplo, um incremento de chance em um milho de desenvolver cncer da exposio a uma fonte de perigo no mesmo nvel de uma vida inteira de 70 anos). O risco populacional um estimativa da incidncia no total da populao que potencialmente exposta.

  • 9

    8. Aceitabilidade do Risco Se formos seguir o princpio do risco zero, nenhum risco seria tolerado no interessando quo pequeno fosse ele ou quais seriam os benefcios para a sociedade. Na prtica, entretanto, ns no vivemos em um mundo livre de riscos. Haver sempre um risco de fundo para fontes naturais e um pequeno risco ser prefervel se um risco maior puder ser evitado. Exemplo deste tipo de risco pode ser a toxicidade de um aditivo de alimento usado para prevenir a sua deteriorao versus o risco do alimento ser envenenado pela toxicidade do aditivo. Outro exemplo que podemos citar seria o risco de usarmos raio X para diagnstico precoce de cncer versus o risco de dano ao tecido exposto ao raio X ou at cncer. 9. Concluses Considerando a diversidade, complexidade e escopo dos problemas ambientais de hoje em dia, e mais ainda a dificuldade dos Governos Federal e Estadual (Agncias Estaduais de Meio Ambiente) em analisar, conceber e implantar planos, programas e projetos que valorizem os poucos recursos ainda disponveis para as reas ambientais (incluindo aqui o saneamento ambiental: gua, esgoto, resduos, habitao, etc) a ferramenta da gesto e gerenciamento de risco se mostra como uma sada extraordinria para a manuteno da belssima biodiversidade de recursos naturais brasileiros, invejados internacionalmente e mal reconhecidos por ns. Essencialmente, as polticas nacionais e estaduais relacionadas com o meio ambiente precisam se tornar mais integradas e mais focadas em oportunidades para a melhoria ambiental do que tem sido no passado. Cada problema ambiental apresenta alguma possibilidade de dano sade humana, ecologia, ao sistema econmico ou qualidade da vida humana, o gerenciamento do risco ambiental tem comprovadamente reduzido eficazmente estes riscos ambientais e valorizados os recursos pblicos nele invertidos. Objetivamente, o conceito, as terminologias e metodologias analticas tm ajudado, ao nvel do Primeiro Mundo, a equacionar discusses disparatadas com linguagens prticas e simples, quer ao nvel das comunidades, Ministrio Pblico, Governanas Corporativas, Agncias Ambientais e profissionais da rea ambiental, promovendo viso nica, comprometimentos, intencionalidades e alinhamento para obteno de realizaes nunca antes vistas (Breakthrough results), ou seja, propiciar a nossa nao polticas e diretrizes ambientais de forma consistente e sistemtica. Assim, se recursos finitos so gastos em problemas de baixa prioridade ao invs de riscos de altas prioridades, da ento a nossa sociedade continuar enfrentando desnecessariamente altos riscos.

  • 10

    De forma exemplificada podemos citar algumas dvidas que nos perseguem e que deveriam ser esclarecidas a nossa sociedade com a ajuda da ferramenta de anlise de risco ambiental:

    1. O uso de pesticida (inseticidas, fungicidas, raticidas, etc) em nossos ambientes de trabalho, residncias, lavouras, etc j foram estudados pela anlise de risco de forma eficaz ? Quais foram os resultados obtidos ? (Exemplo: caso Shell em andamento e outros.)

    2. Os nossos leos combustveis industriais e automotivos (exemplo: leo combustvel 3A e diesel) esto constitudos de que porcentagem de Hidrocarbonetos poliaromticos (Pah) ? Qual o impacto disso sobre nossas vidas ?

    3. Os aditivos colocados em nossos lubrificantes tm sido analisados quanto ao seu potencial de danos, face aos seus elementos constitutivos ?

    4. Os metais chumbo, cdmio, etc. adicionados aos plsticos como estabilizantes, etc. podem causar danos s nossas vidas ? Como ?

    5. As matrias primas refugadas como H2SO4 (subproduto de outros processos) e usados para a produo de sulfato de alumnio, assim como o cloro usado no tratamento de guas de estaes pblicas e privadas, podem causar danos sobre nossas vidas ? Como ?

    6. A permisso do uso de PCBs (Bifenilas policloradas) de 50 ppm em rerefino de leos lubrificantes de motores, conforme resoluo 9 do CONAMA de 31/08/93 (artigo 13) bem como a disposio de suas lamas cidas, causam danos s nossas vidas ou no ? Houve algum estudo de anlise de risco disso ?

    7. Os contaminantes do ar como oznio causam danos s grandes populaes urbanas expostas a ele ? As concentraes so conhecidas ? Os danos sobre a sade humana so adversos ou no ?

    Ou seja, poderamos fazer uma lista de pelo menos 100 questes atualmente em desconhecimento ou ao prtica por todos ns, no significando ser s o governo responsvel, mas principalmente o setor privado e o indivduo propriamente dito que no se dedica ao conhecimento e cuidado com as suas geraes futuras. O Science Advisory Board do US EPA fez 10 recomendaes sobre este assunto h 10 anos atrs:

    1. Dar foco nos esforos de proteo ambiental nas oportunidades de maior reduo de risco ambiental.

    2. Promover tanta importncia na reduo de riscos ecolgicos como naqueles de reduo de riscos sobre a sade humana.

    3. Melhorar os dados e metodologias analticas que suportem o estudo, comparao e reduo de diferentes riscos ambientais.

    4. Utilizar nos processos de planejamento estratgico do governo e do Setor Privado, prioridades baseadas em estudos de risco ambiental.

    5. Utilizar nos processos oramentrios do governo e do Setor Privado, prioridades baseadas em estudos de risco ambiental.

    6. Fazer maior uso das ferramentas disponveis de risco ambiental em toda a nao. 7. Uso e emprego adequado da Preveno da Poluio (P2) como uma forte opo para a

    reduo do risco ambiental.

  • 11

    8. Aumentar os esforos para integrar as consideraes de risco ambiental de forma mais abrangente nos aspectos de polticas pblicas de forma to prioritria como os aspectos econmicos.

    9. Trabalhar para melhorar a compreenso pblica dos riscos ambientais e treinar uma fora de trabalho profissional que ajude a reduzi-los.

    10. Desenvolver mtodos analticos melhorados para valorar os recursos naturais e contabilizar efeitos ambientais de longo prazo nas anlises econmicas.

  • 12

    ANLISE DE RISCO DE SEGURANA APLICADA NO BRASIL 1 INTRODUO

    O crescimento industrial nas ltimas dcadas, alm de demostrar um grande avano tecnolgico, passou a representar um grande avano para a sociedade moderna, devido no s a gerao de novos empregos, como tambm pela necessidade do ser humano utilizar os bens produzidos pela indstria, alguns considerados essenciais para o modo de vida praticado em nossos tempos. Por outro lado a competitividade e a necessidade do aperfeioamento dos processos industriais tornaram as plantas cada vez maiores e mais complexas, com a introduo de novos produtos qumicos no mercado mundial, levando a srios problemas ambientais. Alm da poluio crnica, os acidentes industriais passaram a preocupar as entidades governamentais e no governamentais, a comunidade como um todo e a prpria indstria, tornando patente a necessidade de se incrementar os investimentos na preveno e controle da poluio e acidentes ambientais.

    2 CONCEITOS E DEFINIES Ao longo do tempo os estudos relacionados preveno de acidentes vem sendo aperfeioados, com a introduo de novas tcnicas, culminando, na dcada de 80, principalmente, aps a ocorrncia de acidentes de propores catastrficas (Seveso, Cidade do Mxico, Bhopal, Vila Soc-Cubato), com a incorporao dos Estudos de Anlise de Riscos pela indstria qumica e petroqumica. Estes estudos passaram ser desenvolvidos semelhantemente ao que j se praticava na rea militar e aeronutica, em termos de engenharia de confiabilidade e programas de segurana. O foco das anlises de riscos so os perigos agudos, condies qumicas e fsicas que apresentam potencial para causar mortes ao homem, alm das perdas econmicas. As questes bsicas relacionadas diretamente aos estudos de anlise de riscos podem ser apresentadas da seguinte forma: O que pode dar errado e por qu? Quanto provvel seria? Quanto negativo poderia ser? O que pode ser feito sobre isto?

  • 13

    Estas quatro questes embasam toda a anlise de riscos, incluindo a identificao dos perigos, estimativa da possibilidade de ocorrncia de eventos causadores de acidentes, potenciais conseqncias de cada acidente e as medidas/sistemas a serem adotados visando a reduo ou eliminao dos riscos. Para um melhor entendimento, apresenta-se abaixo algumas definies bsicas sobre o assunto. Perigo: situao (incndio, exploso ou vazamento de substncias txicas) que

    ameaa a existncia de uma pessoa ou a integridade fsica de instalaes e edificaes. Alternativamente, pode tambm ser definida como sendo as condies de uma varivel com potencial para causar danos ou leses.

    Risco: possibilidade de ocorrncia de um perigo.

    Anlise de Riscos: identificao e avaliao de elementos e/ou situaes que

    possam causar eventos potencialmente perigosos. Avaliao de Riscos: utilizao de metodologias de carter experimental e/ou

    matemtico para a determinao dos valores dos riscos provocados por uma instalao ou atividade industrial populao exposta.

    3 Etapas do Estudo de Anlise de Riscos

    Genericamente so determinadas quatro etapas bsicas no desenvolvimento dos estudos de anlise de riscos: Identificao dos perigos; Estimativa de freqncias e probabilidades; Anlise de Conseqncias e Vulnerabilidade; Avaliao e Gerenciamento dos riscos.

    3.1 Identificao dos Perigos

    Nesta etapa so explorados os riscos inerentes e relacionados operao da planta industrial, bem como as prticas e procedimentos existentes. Existem diversas metodologias e tcnicas utilizadas podendo ser caracterizadas como qualitativas ou quantitativas. No Quadro 1, a seguir, encontram-se indicadas as aplicaes tpicas e as metodologias mais consagradas mundialmente.

  • 14

    Dentre os eventos mais comumente encontrados como iniciadores de acidentes em processos, destacam-se: perda de inventrio de materiais inflamveis, reativos ou txicos durante armazenamento, manuseio ou processamento; desvios de processo, principalmente aqueles relacionados aos reagentes e energia da reao; vazamentos perigosos ou condies inseguras provocados por falhas mecnicas ou erros humanos.

    Quadro 1 - Metodologias e suas Aplicaes Tpicas

    Reviso de Segurana Checklist / What-If APP HAZOP FMEA

    FTA / ETA

    Projeto conceitual Operao de Planta Piloto Projeto detalhado Construo / start-up Operaes rotineiras Ampliao ou Modificao Investigao de Incidentes Descomissionamento OBS.: APP = Anlise Preliminar de Perigos HAZOP = Estudo de Perigo e Operabilidade FMEA = Anlise por Modos de Falhas e Efeitos FTA = Anlise por rvore de Falhas ETA = Anlise por rvore de Eventos

  • 15

    Identificao do Perigo

    Auditoria de segurana

    Reviso de What-if

    Checklist

    Brainstorming

    FMEA

    HazOp

    Pior caso

    Estimativa da Probabilidade

    Dados histricos (internos e externos)

    rvore de falhas/rvore de eventos

    FMEA

    Confiabilidade humana

    Julgamento de especialista

    Anlise de Consequncias

    Condies da fonte e modelo de liberao

    Modelos de disperso atmosfrica

    Modelos de energia trmica e exploso

    Zona de efeito vulnervel

    Mitigao

    Receptores potenciais

    Avaliao de Risco

    Risco individual

    Riscos sociais

    Curva F-N

    Perfil do risco

    Contorno do risco

    Figura 1 - Estudos de Anlise de Riscos / Fluxograma Esquemtico

    SISTEMA DE MELHORIA

    IDENTIFICAO DO PERIGO

    ESTIMATIVA DA PROBABILDADE/FREQUNCIA

    Causas Probabilidade

    Modelo Estimada

    Objetivos definidos

    ANLISES DE IMPACTO/CONSEQUNCIA

    Efeitos Impactos Modelo Estimados

    AVALIAO DO RISCO DADOS P/ DECISO

    AO E PLANEJAMENTO

  • 16

    3.2 Estimativa de Freqncias e Probabilidades

    Esta fase envolve a estimativa das probabilidades de ocorrncia dos eventos e situaes identificadas na etapa anterior. Existem organizaes nacionais e internacionais que disponibilizam para consulta, bancos de dados de falhas de componentes dos processos industriais. Entretanto, tais informaes podem ser complementadas, s vezes, por extrapolao de dados reais provenientes da prpria indstria e experincia da equipe responsvel.

    3.3 Anlise de Conseqncias e Vulnerabilidade Tomando-se por base as hipteses acidentais definidas na fase de identificao, cada uma delas dever ser estudada em termo das possveis conseqncias que podem ser ocasionadas por esses eventos, mensurando-se, tambm, os impactos e danos causados. Desta forma, a anlise de conseqncias pode ser dividida em cinco atividades, a saber: caracterizao da quantidade, forma e taxa de emisso do material e energia

    para o meio ambiente; estimativa, atravs de medies e/ou modelagem, do transporte de materiais e

    propagao de energia, na direo dos receptores de interesse; estudar os efeitos quanto a sade e segurana relacionados com os nveis de

    exposio projetados, especialmente no que se refere s concentraes atmosfricas; identificao dos impactos ambientais; estimativa de perdas (danos materiais) e outros impactos econmicos.

    3.4 Avaliao e Gerenciamento dos riscos

    Para se chegar estimativa dos riscos, os resultados da anlise de probabilidades e conseqncias so integrados, considerando-se que o risco classicamente definido como o produto entre a probabilidade de ocorrncia e as conseqncias geradas por um evento indesejvel. Normalmente os riscos so apresentados sob a forma de risco individual e risco social. Os riscos identificados ou calculados passam por uma avaliao, a fim de se permitir a definio das medidas e procedimentos a serem implementados, visando sua reduo e/ou gerenciamento. A forma de apresentao dos resultados deve ser realizada por uma linguagem simples, de fcil entendimento, sendo mostradas a seguir, as trs formas mais utilizadas. curvas de iso-risco em torno da planta (fonte de risco) apresentando os vrios

    nveis de fatalidades e/ou ferimentos; grfico de risco, mostrando as freqncias esperadas em funo da distncia

    ou freqncia em funo das conseqncias;

  • 17

    curva F-N, tambm trata-se de um grfico, onde encontra-se a freqncia "F" acumulada dos eventos causando "N" ou mais fatalidades ou outros efeitos.

    Figura 2 - Exemplo de Contorno de Risco Individual

    Figura 3 Risco Social F-N exemplo de curva.

    10-4

    10-5

    10-6

    rea da unidade

    industrial

    industrial

    Residencial

    Residencial Comercial

    Probabilidade de um indivduo ser impactado ou incremento de risco de cncer

  • 18

    RANKING EPA RANKING PBLICO Ecolgico/ Sade Pblica e Meio Ambiente Sade Pblica Preocupaes

    Ambientais Destruio e alterao - Poluio do ar ambiente - Poluio do ar em amb. internos do habitat de fontes estacionrias e -Radiaes de Extino de espcies e mveis. Microondas e raioX perda de diversidade biolgica - exposio do trabalhador (no nuclear) Exausto do oznio a substncias qumicas na -Produtos de consumo Estratosfrico indstria e agricultura Mudanas climticas - Poluio em ambientes -Pesticidas Globais internos, incluindo -gua Potvel radom e produtos de -Exausto da cmada de oznio Pesticidas combusto e orgnicos -Derramamentos acidentais Txicos, nutrientes e DBO volteis nos produtos -Exposio do trabalhador a guas superficiais consumidos. substncias qumicas Deposio cida -Poluentes na gua potvel, Txicos em suspenso como chumbo, clorofrmio -Poluio do ar

    e micrbios -Acidentes em plantas qumicas Derramamento de leo -Poluio das guas por Poluio de guas - Resduos de pesticidas resduos industriais subterrneas nos alimentos. -Locais de resduos perigosos em Radionucldeos - Substncias txicas nos uso ou abandonados Chuva cida produtos de consumo Poluio trmica Baixo

    Alto Baixo

    Alto

    A L O C A O D E R E C U R S O S

    EPA

    Alto