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GESTÃO DE RISCOS NA MOVIMENTA
MANUAL DE CARGA: UMA
APLICAÇÃO DA NORMA ABNT NBR
ISO 31000
Livia Cavalcanti Figueiredo (FeMASS)
Moacyr Amaral Domingues Figueiredo (UFF)
Gilson Brito Alves Lima (UFF)
Resumo: A dor lombar é um dos principais problemas dos
trabalhadores que manuseiam e movimentam cargas pesadas. Ela é
classificada como LER/DORT (Lesões por Esforços
Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) e é
respoonsável pelos altos índices de absentismo e custos gerados. A
complexidade dos fatores de risco, diagnóstico, tratamento e
prevenção da dor lombar tem sido objeto de inúmeros estudos. Todavia
existem poucas pesquisas sobre a aplicação da gestão de risco na
MMC. A gestão de risco pode ser uma ferramenta importante para
minimizar os efeitos adversos da MMC. Este trabalho apresenta os
resultados da aplicação do processo de gestão de risco da Norma
ABNT NBR ISSO 31000 na Movimentação Manual de Carga (MMC).
No âmbito de uma pesquisa exploratória foram selecionados os
aspectos considerados mais relevantes para aplicação de cada etapa
do processo. Abstract: Low back pain is one of the major problems for
workers who handle and move heavy loads. It is classified as Repetitive
Strain Injury (RSI) / Work Related Musculoskeletal Disorders (WRMD)
and is responsible for high rates of absenteeism and costs incurred.
The complexity of risk factors, diagnosis, treatment and prevention of
low back pain has been the subject of numerous studies. However there
is little research on the application of risk management in Manual
Materials Handing (MMH). Risk management can be an important tool
to minimize the adverse effects of MMH. This paper presents the results
of applying the risk management process of ABNT NBR ISO 31000 in
the MMH. As part of an exploratory research we selected the most
relevant aspects for application of each process step.
Palavras-chaves: Risk management; Manual Materials Handing; low
back pain; ISO 31000.
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
As organizações de todos os tipos e tamanhos enfrentam influências de fatores internos e
externos que tornam incertos se elas atingirão seus objetivos. O efeito que essa incerteza tem
sobre os objetivos da organização é chamado de “risco”. Todas as atividades das organizações
envolvem risco e elas podem gerenciar esse risco, identificando-o, analisando-o e, em
seguida, avaliando se ele deve ser tratado a fim de atender a seus critérios de risco
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2009).
A norma ISO 31000 estabelece um conjunto de princípios que devem ser atendidos para
tornar a gestão de risco das organizações eficaz.
O gerenciamento dos riscos aumenta substancialmente a chance da organização alcançar o
sucesso desejado e pode ser seu principal diferencial competitivo, pois reduz as incertezas, a
ocorrência de surpresas e problemas inesperados (SOUZA, 2000).
O manuseio de cargas pesadas sem considerar as limitações do ser humano pode trazer sérios
riscos à saúde. Entre os muitos riscos que afetam a saúde do trabalhador destaca-se a
lombalgia que pode se transformar em problemas crônicos e agudos.
No Brasil, ainda é baixa a conscientização quanto aos problemas sérios acarretados pelo
manuseio de cargas acima dos níveis máximos a saúde dos trabalhadores. Apesar dos avanços
da tecnologia e da mecanização das tarefas, muitas atividades continuam sendo realizadas
manualmente e o manuseio de cargas além dos limites tolerados ainda é comum (MERINO,
1996).
A movimentação manual de cargas comporta inúmeros riscos, notadamente ao nível dorso-
lombar. Os resultados do Terceiro Inquérito Europeu sobre as condições de trabalho indicam
que 33% dos trabalhadores europeus sofrem de problemas dorsais (SLIC, 2007).
No Brasil existem diversos estudos sobre a lombalgia e sua associação com a movimentação
manual de carga (MMC). Entretanto existem poucos estudos sobre a aplicação da gestão de
risco na MMC. Apesar de existirem varias ferramentas para a identificação e análise de risco
na MMC, elas não são utilizadas no contexto da gestão de risco.
Embasado nos argumentos supracitados, a principal questão a ser respondida por esta
pesquisa é: “Como a Norma ABNT NBR ISO 31000 pode ser aplicada na gestão da
Movimentação Manual de Carga?”.
Nos próximos itens primeiro é feita uma contextualização da MMC e da gestão de risco.
Segundo, é apresentada a metodologia de pesquisa utilizada. Terceiro, são apresentados os
resultados da aplicação. Por fim são apresentadas as conclusões e sugestões para pesquisas
futuras.
2. Movimentação manual de carga
A movimentação manual de materiais é inevitável em qualquer local de trabalho, já que
alguns movimentos só podem ser realizados pelo homem (MOURA, 1978).
O deslocamento, levantamento e transporte de cargas é definido como os movimentos e
esforços desprendidos por uma ou mais pessoas, objetivando movimentar cargas dos mais
diversos tipos, formas ou tamanhos, pelo processo manual (BANKOFF, 1994). Este tipo de
operação de transporte e sustentação de carga, por um ou mais trabalhadores, comporta riscos
devido a características ou condições ergonômicas desfavoráveis. As atividades de manusear
cargas pesadas, sem considerar as limitações do ser humano, podem trazer sérios riscos à
saúde.
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A Movimentação Manual de Carga (MMC) constitui-se numa das principais causas de
distúrbios osteomusculares que acometem os trabalhadores, principalmente quando é
associada a cargas elevadas e a esforços repetitivos por longos períodos. Outros fatores, como
empurrar, puxar, levantar, abaixar cargas e posturas inadequadas, também estão diretamente
relacionados com o surgimento desses distúrbios (BANKOFF, 1994).
3. A Norma ABNT NBR ISO 31000:2009
As organizações têm enfrentado problemas quanto ao seu desempenho frente às constantes
mudanças ocorridas no cenário competitivo. Cada vez mais os estudiosos e administradores
estão em busca de modelos para melhorar o desempenho organizacional. Atualmente, o
mercado passou a exigir que as organizações agreguem aos seus produtos e serviços o
comprometimento no atendimento a padrões de normas internacionais de qualidade,
sustentabilidade ambiental e proteção à integridade física e saúde de seus trabalhadores.
Assim, o gerenciamento das questões ambientais e de saúde e segurança do trabalho, com
foco na prevenção de acidentes e no tratamento dos problemas potenciais, passaram a ser
vitais para a sobrevivência do empreendimento (FRANZ, 2008).
A ABNT NBR ISO 31000:2009 - Gestão de Riscos - Princípios e Diretrizes é a norma da ISO
que contem os procedimentos para a integração dos processos de gestão de riscos nas
organizações. Ela fornece os princípios e diretrizes genéricos para a gestão de riscos e pode
ser aplicada numa ampla gama de atividades das organizações, incluindo estratégias, decisões,
operações, processos, funções, projetos, produtos, serviços e ativos.
Os componentes necessários da estrutura para gerenciar riscos e são apresentados na Figura 1
e podem ser consultados na Norma ABNT NBR ISO 31000:2009.
Figura1: Relacionamento entre os componentes da estrutura para gerenciar riscos
(Fonte: ABNT NBR ISO 31000)
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Esta pesquisa focaliza o item 5 da Norma 31000 que trata do processo de gestão de riscos.
Esse processo deve ser parte integrante da gestão e ser adaptado aos processos de negócios da
organização, ele também deve ser incorporado à cultura e as práticas organizacionais.
Na Figura 2 é apresentada uma visão geral do processo de gestão risco, segundo a ABNT
NBR ISSO 31000:2009 e em seguida é feita uma descrição de cada uma de suas etapas.
Figura 2: Processo de Gerenciamento de Risco (Fonte: ABNT NBR ISO 31000)
Etapa de comunicação e consulta
Compreende a identificação das partes interessadas que podem afetar ou ser afetadas pelo
processo de gestão de risco e a elaboração do plano de comunicação e consulta. O plano trata
de questões relacionadas com o risco propriamente dito, suas causas, suas consequências e as
medidas que estão sendo tomadas para tratá-lo.
Etapa de estabelecimento dos contextos
Compreende a definição dos parâmetros externos e internos a serem considerados no
gerenciamento de riscos e estabelece o escopo e os critérios de risco para o restante do
processo.
Etapa do processo de avaliação de riscos
Compreende a identificação, a análise e a avaliação de riscos. O processo fornece aos gestores
um melhor entendimento dos riscos que podem afetar a realização dos objetivos, bem como
uma maior adequação e eficácia dos controles já existentes.
Etapa de tratamento dos riscos
Envolve a identificação do conjunto de opções para o tratamento de riscos, a avaliação dessas
opções e a preparação e execução de planos de tratamento.
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Etapa de monitoramento e análise crítica
O monitoramento e a análise crítica da organização devem ser planejados como parte do
processo de gestão de risco e envolve vigilâncias regulares. Podem ser periódicos ou
acontecerem em resposta a um fato específico.
5. Metodologia
Para a classificação da pesquisa, tomou-se como base a taxionomia utilizada por Vergara
(1990) que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios.
Quanto aos fins, a pesquisa foi classificada como exploratória e aplicada. Exploratória porque
há pouco conhecimento acumulado sobre a aplicação da norma ABNT NBR ISO 31000 –
Gestão de Riscos, e o estudo visou obter maior familiaridade sobre ela. Aplicada porque visa
operacionalizar a implementação da norma especificamente na MMC.
Quanto aos meios, a pesquisa foi classificada como bibliográfica porque a aplicação da norma
na Movimentação Manual de Carga (MMC) foi realizada com informações coletadas na
literatura.
6. Resultados
Neste item são apresentados os resultados da aplicação das etapas do Processo de
Gerenciamento de Risco na Movimentação Manual de Carga.
Para cada uma das etapas são apresentados os aspectos considerados relevantes para sua
aplicação na MMC e um diagrama com a visão geral dos aspectos levantados para a etapa
considerada.
Nesse estudo não foi realizada a aplicação da etapa Monitoramento e análise crítica porque
não foi encontrado na literatura exemplos de sua aplicação na MMC.
No final do item é apresentado um diagrama com a síntese dos aspectos considerados para a
aplicação do processo de gerenciamento de risco na MMC e suas inter-relações.
6.1. Etapa de Comunicação e Consulta
Na aplicação desta etapa foram considerados relevantes os aspectos a seguir.
Quanto à identificação das partes interessadas
- Condições de trabalho
- Realizar um levantamento relativo ao trabalhador na organização, considerando
a jornada de trabalho, a experiência anterior do trabalhador, as exigências pré-
admissionais e os programas de treinamento e reciclagens oferecidos pela
empresa.
- Perfil do trabalhador
- Conhecer o perfil do trabalhador e sua opinião a respeito do trabalho realizado
e suas implicações na movimentação de carga, considerando as seguintes
variáveis: tempo na organização, tempo na função, estado civil, número de
filhos, idade, escolaridade, origem, vícios, jornada de trabalho etc.
- Saúde do trabalhador
- Analisar as condições de saúde do trabalhador, considerando as doenças que o
acometem, os problemas de lombalgia na função, as horas de sono diárias, a
existência de medicamentos de primeiros socorros nas frentes de trabalho, a
existência de planos de saúde mantidos pela organização e o uso de drogas e
medicamentos sem prescrição médica (ALVES, 2000).
Quanto ao Plano de Comunicação e Consulta
- Riscos
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- Identificar os riscos associados à movimentação de carga, considerando os
danos cumulativos que são devidos à deterioração gradual e cumulativa do
sistema musculoesquelético, dores lombares; LER/DORT (Lesões por
Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) e
os traumatismos agudos, como cortes ou fraturas devidos a acidentes.
- Fatores de risco (causas)
- Identificar os fatores de risco associados a MMC, considerando os fatores
externos (características da carga, esforço físico necessário, características do
ambiente de trabalho e das atividades realizadas pelos trabalhadores) e os
fatores individuais (inaptidão física, vestuário, conhecimentos ou formação
insuficiente).
- Consequências
- Identificar as consequências associadas às lesões musculoesqueléticas,
considerando o absentismo de vítimas difíceis de serem substituídas devido às
suas qualificações específicas e a fragilização do trabalhador, cujo rendimento
pode ser afetado, conflitos e stress.
- Medidas de prevenção (FACTS, 2007)
- Eliminação da MMC
- Utilização de medidas técnicas, como dispositivos de apoio (carrinhos e
dispositivos de elevação pneumáticos).
- Utilização de medidas organizacionais, como rotatividade de tarefas e
introdução de pausas de duração suficiente.
- Programas de prevenção para informar sobre os riscos e os efeitos negativos da
MMC para a saúde e capacitação sobre a utilização de equipamento e as
técnicas corretas de movimentação.
A Figura 3 apresenta um diagrama contendo os principais aspectos a serem considerados para
aplicação da etapa de Comunicação e Consulta na MMC.
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Figura 3: Principais aspectos da aplicação da etapa de Comunicação e Consulta na MMC (Fonte: Os Autores)
6.2. Etapa de Estabelecimento do contexto
Para a aplicação desta etapa foram considerados relevantes os aspectos a seguir.
Quanto ao estabelecimento do contexto externo
- Aspectos legais e regulatórios
- Considerar principalmente as normas regulamentadoras que tratam
especificamente da MMC.
- NR-5 – Comissão interna de prevenção de acidentes - CIPA
- NR-9 – Riscos ambientais
- NR-11 – Transportes, movimentação, armazenagem e manuseio de
materiais
- NR-15 – Atividades e operações insalubres
- NR 17 – Ergonomia
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- Aspectos sociais e culturais
- Considerar que pessoas de diferentes culturas e grupos sociais possuem
diferentes crenças sobre as causas relacionadas à saúde e doença. Em relação à
lombalgia, o trabalhador acredita que a dor nas costas é algo comum e que o
acompanha há vários anos. A maioria dos profissionais de saúde vê a
lombalgia apenas como uma dor física comum que acomete grande parte da
população e que na maioria das vezes é passageira (FERREIRA, 1994).
- Aspectos econômicos
- Considerar que cerca de 80% da população em algum momento da vida, já
experimentou ou queixou-se de dores na coluna. A incidência e a prevalência
deste sintoma é de tal modo frequente que deve ser estudado como desordem
epidêmica social e que causa grande prejuízo econômico pois é principal causa
de afastamento do trabalho e de benefícios requeridos à Previdência
(SCHMIDT; KOHLMANN, 2005).
Quanto ao estabelecimento do contexto interno
- Cultura Organizacional
- Considerar que o comportamento do trabalhador pode ser influenciado pelas
normas, valores, atitudes e crenças da organização.
- Fatores culturais e sociais
- Considerar que fatores sociais e culturais tais como relacionamento inadequado
no trabalho, falta de apoio da empresa, falta de treinamento, omissão,
cobrança, etc., podem ter traduções somáticas no trabalhador que afetam sua
saúde. (DACUL, 2001).
Quanto aos critérios de risco
Os níveis de risco são determinados pela avaliação da relação entre a consequência do risco e
a probabilidade do risco. A matriz consequência/probabilidade é um meio de combinar
avaliações qualitativas ou semiquantitativas da consequência com a probabilidade de
ocorrência de um nível de risco.
- Escala de probabilidade
- Considerar a probabilidade de ocorrência em relação à frequência indicativa
(expectativa de ocorrência)
- Tipos de consequências
- Considerar os níveis de gravidade em relação às seguintes consequências:
redução dos lucros, segurança e saúde, e jurídicas.
A Figura 4 apresenta um diagrama contendo os principais aspectos a serem considerados para
aplicação da etapa de Estabelecimento do Contexto na MMC.
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Figura 4: Principais aspectos da aplicação da etapa de Estabelecimento do contexto na MMC
(Fonte: Os Autores)
6.3. Etapa do Processo de avaliação de riscos
Para a aplicação desta etapa foram considerados relevantes os aspectos a seguir.
Quanto à identificação dos riscos
Existem várias ferramentas que podem ser usadas na identificação do risco. Neste trabalho
foram selecionadas aquelas que mais se adequam a MMC e que são apresentadas a seguir:
- Lista de Verificação (Checklists),
- Ela pode ser utilizada para enumerar os itens que devem ser considerados na
avaliação das condições de segurança da instalação ou dos processos.
- Técnica do Incidente Crítico
- É uma técnica utilizada para identificar os erros e as condições inseguras que
contribuem para os acidentes com lesão, tanto reais como potenciais.
- Na MMC ela pode ser usada em reuniões com trabalhadores que executam esse
tipo de tarefa e coletadas informações sobre situações a que eles são expostos
durante a jornada de trabalho.
Quanto à análise do risco
- Existem diversas ferramentas para a análise de risco. No caso da MMC foram
consideradas como mais apropriadas às seguintes ferramentas:
- Análise Preliminar de Riscos (APR),
- Análise da Causa e Efeito,
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- Ferramenta KIM (Kit Item Method) e
- Método da equação do NIOSH para avaliar a MMC.
Quanto à avaliação do risco
- Existem algumas ferramentas para a avaliação de risco. No caso da MMC foi
considerada como a mais apropriada à ferramenta Matriz de avaliação de
riscos.
A Figura 5 apresenta um diagrama contendo os principais aspectos a serem considerados para
aplicação da etapa Processo de Avaliação de Risco na MMC.
Figura 5: Principais aspectos da aplicação da etapa Processo de avaliação de risco na MMC (Fonte: Os Autores)
6.4. Etapa de tratamento do risco
Para a aplicação desta etapa foram considerados relevantes os aspectos a seguir.
Quanto à identificação dos riscos a serem tratados
- Níveis de risco
- Considerar a identificação das opções para o tratamento de riscos, a avaliação
dessas opções e a preparação e execução de planos de tratamento.
- Os riscos podem ser tratados de acordo com os seguintes critérios:
- BAIXOS (aceitáveis): Tratamentos opcionais para diminuir ainda mais
o nível de risco e tornar a operação mais segura independente da
aceitabilidade do risco.
- MODERADOS (não aceitáveis): Tratamentos obrigatórios para tornar
os riscos identificados aceitáveis.
- ALTOS (não aceitáveis): Tratamentos obrigatórios emergenciais, para
tornar os riscos identificados aceitáveis.
Quanto às opções de tratamento
- Prevenção
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- Considerar a identificação inicial dos indivíduos sob risco, utilizando a ficha de
prevenção e segurança. Para isso, o médico e a equipe de saúde devem estar
capacitados para avaliar riscos, auxiliar no planejamento e implantação de
programas de prevenção de lesões no trabalho, além do tratamento e
reabilitação dos trabalhadores lesionados.
- Para reduzir a ocorrência e prevenir a incidência de lesões relacionadas ao
manuseio de cargas, considerar também as modificações das condições de
trabalho.
- Biomecânica
- Considerar os aspectos relativos ao estudo dos movimentos
musculoesqueléticos, desenvolvimento de critérios para a avaliação da
adequação de tarefas e a análise mecânica de cargas sobre as várias estruturas
do corpo humano.
- Análise e intervenção ergonômica
- Considerar os aspectos relativos à apreciação ergonômica, diagnose
ergonômica, análise de tarefa, projeto de um novo sistema homem-tarefa-
máquina e a validação do projeto.
A Figura 6 apresenta um diagrama contendo os principais aspectos a serem considerados para
aplicação da etapa Tratamento de Risco na MMC.
Figura 6: Principais aspectos da aplicação da etapa Tratamento de risco na MMC (Fonte: Os Autores)
A Figura 7 apresenta uma visão geral da aplicação do processo de gerenciamento de riscos na
MMC com os quatro diagramas agrupados. A montagem do diagrama teve por base o
processo de gestão de risco preconizado pela Norma e apresentado na Figura 2. Esse diagrama
final fornece uma síntese da aplicação do processo de gestão de riscos na MMC.
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Figura 7: Diagrama final do processo de gerenciamento de risco aplicado a MMC (Fonte: Os Autores)
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7. Conclusões e sugestões para estudos futuros
O principal objetivo desse trabalho foi apresentar a aplicação do Processo de Gestão de
Riscos da Norma ABNT NBR ISO 31000 na gestão de Movimentação Manual de Carga
(MMC).
A questão da pesquisa “Como a Norma ABNT NBR ISO 31000 pode ser aplicada na gestão
da movimentação manual de carga?”, definiu uma linha de trabalho e sua resposta foi
sustentada pela revisão da literatura realizada. A seguir são apresentadas as respostas a
questão formulada, de acordo com os resultados da aplicação realizada.
A norma ISO 31000 pode ser aplicada por qualquer organização que deseje gerenciar seus
riscos. No caso específico da MMC ela pode auxiliar na identificação, análise, avaliação e
tratamento dos riscos associados às tarefas que envolvem transporte e manuseio de cargas.
Quanto à aplicação da etapa de comunicação e consulta, a identificação das partes
interessadas pode abranger o conhecimento do perfil e das opiniões dos trabalhadores
envolvidos nas atividades de movimentação de carga, a análise das condições de saúde do
trabalhador e o treinamento oferecido pela organização. No plano de comunicação e consulta
pode ser identificado os riscos associados à movimentação de carga, suas causas,
consequências e possíveis ações preventivas.
As consequências sociais e financeiras associadas às lesões musculoesqueléticas são bastante
significativas, já que um percentual considerável de trabalhadores que atuam em áreas que
praticam a movimentação manual de cargas sofre esses tipos de lesões.
Quanto à aplicação da etapa do estabelecimento do contexto, deve ser considerado três
aspectos: o estabelecimento do contexto externo, contexto interno e a definição dos critérios
de risco.
Para o contexto externo podem ser levantados os aspectos legais associados à movimentação
de carga e os fatores sociais e culturais que influenciam este tipo de atividade. Em relação aos
aspectos legais, as legislações pertinentes ao assunto são: NR5, NR9, NR11, NR-15 e a NR17.
Em relação aos aspectos sociais e culturais, verificou-se que muitas pessoas consideram a dor
lombar como normal e que os profissionais de saúde em geral olham a lombalgia como uma
causa física e muitas vezes é vista como uma dor comum que acomete grande parte da
população e que na maioria das vezes é passageira. Em relação aos aspectos econômicos,
estudos apontaram que a dor na coluna causa grandes prejuízos econômicos, pois é a principal
causa de afastamento do trabalho e de benefícios requeridos à Previdência em razão da
deficiência causada.
No estabelecimento do contexto interno, um ambiente de trabalho envolve inúmeros fatores
que interferem direta ou indiretamente nas atitudes dos trabalhadores. A angústia e a emoção
podem ter traduções somáticas como, por exemplo: aumento na pressão arterial, tremores,
poliúria, fadiga muscular, entre outros e portanto podem influenciar o nível de dor lombar.
A ISO 31000 preconiza também que a organização defina os critérios a serem utilizados para
avaliar a significância do risco. Os níveis de risco são determinados pela avaliação da relação
entre a consequência do risco e a probabilidade do risco. No caso da MMC os tipos de
consequências a serem consideradas podem ser a redução de lucros, segurança e saúde e
consequências jurídicas. A probabilidade de risco pode variar de quase certo até improvável.
Quanto à aplicação da etapa do processo de avaliação de risco, a atividade de identificação
pode ser realizada utilizando-se a lista de verificação e a técnica do incidente crítico.
As ferramentas de Análise Preliminar de Risco (APR), Análise de Causa e Efeito, Ferramenta
Kim e o método da equação do NIOSH foram consideradas como as mais úteis para avaliar o
risco na MMC.
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Após a identificação e análise do risco, a atividade de avaliação de risco pode ser feita com a
utilização da ferramenta matriz de avaliação de risco.
Quanto à aplicação da etapa de tratamento de risco, existem várias opções de tratamento de
risco para a MMC. As opções consideradas mais relevantes para a MMC foram a utilização
de programas de prevenção, a biomecânica que estuda os movimentos musculoesquelético e
desenvolve critérios para a avaliação adequada das tarefas e a análise e intervenção
ergonômica.
Apesar de neste trabalho não ter sido realizada a aplicação da etapa Monitoramento e análise
crítica, a ISO 31000 recomenda que seja feita uma revisão sistemática do processo de gestão
de risco para garantir que o plano de gestão continue a ser pertinente.
Como direcionamento para futuras pesquisas relativas ao presente tema, sugere-se que sejam
realizados estudos longitudinais, tais como, estudos de caso e/ou pesquisa-ação com
organizações interessadas para verificar as especificidades da gestão de risco quando aplicada
a MMC.
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