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Gestao de Pessoas e TalentosTRANSCRIPT
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REFLEXES SOBRE A IMPORTNCIA DAS PESSOAS NAS
ORGANIZAES
REFLEXIONS ON THE IMPORTANCE OF PEOPLE IN ORGANIZATIONS
REFLEXIONES SOBRE LA IMPORTANCIA DE LAS PERSONAS EN LAS ORGANIZACIONES
Micheli Rodolfo de Lima [email protected]
Luz Maria Romero
RESUMO
O presente artigo apresenta uma reflexo luz da dignidade da pessoa humana sobre a evoluo da viso e do gerenciamento de pessoas nas organizaes, ainda que em linhas gerais. O objetivo o de analisar a maneira como o ser humano ganhou importncia, enquanto trabalhador e fora motriz das corporaes. O estudo visa ainda compreender a relevncia da gesto de pessoas como meio de buscar a valorizao dos profissionais e do ser humano, mitigando as caractersticas retrgradas da antiga viso do departamento de recursos humanos. A nova gesto de pessoas ganhou espao nas organizaes. Com isso, facilitou tanto para a empresa quanto para o colaborador avaliar se o novo modelo concretizou. Isso, na prtica, pode ser compreendida como a valorizao do colaborador, no somente como um profissional essencial organizao, mas tambm enquanto pessoa e ser humano dotado de personalidade e dignidade. Palavras-chave: Gesto de Pessoas. Recursos Humanos. Dignidade da pessoa humana. Capital intelectual humano.
ABSTRACT
The present article presents a reflection in the light of the dignity of the human person about the evolution of the vision and people management in the organizations, yet in general lines. The goal is to analyze how the human being has gained in importance as a worker and driving force of the corporations. The study also aims to understand the relevance of people management as a means to seek the professionals valorization and of the human being, mitigating the reactionary characteristics of the former vision of the human resources department. The new people management won space in the organizations. This made it easier for both the company and the employee to evaluate if the new model was implemented. In practice, it can be understood as the employee valorization, not only as an essential professional to the organization, but also as a person and human being endowed with personality and dignity. Key words: People management. Human Resources. Dignity of the human person. Intellectual human capital.
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REFLEXES SOBRE A IMPORTNCIA DAS PESSOAS NAS ORGANIZAES
Revista Organizao Sistmica | vol.4 n.2 | jul/dez 2013
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RESUMEN
El presente artculo presenta una reflexin a la luz de la dignidad de la persona humana sobre la evolucin de la visin y la gestin de personas en las organizaciones, aunque en lneas generales. El objetivo es lo de analizar cmo el ser humano gan importancia, como trabajador y fuerza motriz de las corporaciones. El estudio pretende entender la relevancia de la gestin de personas como un medio de buscar la valorizacin de los profesionales y del ser humano, mitigando las caractersticas retrgradas de la antigua visin del departamento de recursos humanos. La nueva direccin de personas gan espacio en las organizaciones Con esto, facilit tanto para la empresa como para el empleado evaluar si el nuevo modelo se concretiz. As, en la prctica, puede ser entendido como la valorizacin de los empleados, no slo como un profesional esencial a la organizacin profesional, sino tambin como persona y ser humano dotado de personalidad y dignidad.
Palabras-clave: Gestin de Personas. Recursos Humanos. Dignidade de la persona humana. Capital intelectual humano.
INTRODUO
Por muito tempo, as organizaes valorizaram nica e exclusivamente a
obteno de lucros, acreditando que o sucesso e competitividade estavam centralizados
no aproveitamento do tempo e na exigncia de produo em massa. Neste momento,
pouco se pensava no colaborador que, at ento, era conhecido como empregado e no
havia gesto de pessoas, mas to somente um setor chamado Recursos Humanos, que
representava uma rea cuja funo se reduzia a fiscalizar, controlar e administrar a
burocracia do departamento pessoal.
Com o tempo e reconhecimento do homem, enquanto ser humano e foco central
de importncia dos discursos ligados defesa dos direitos do homem e do cidado, s
organizaes tambm coube o dever de trazer o empegado, isto , o ser humano
profissional ao centro das atenes, solicitando destaque para uma nova gesto dos
recursos humanos. Ao longo da histria, algumas teorias explicam essa evoluo,
chegando importncia das Relaes Humanas dentro das organizaes.
Surgia, portanto, um novo modelo para gerir o pessoal, os empregados das
organizaes, nascia a Gesto de Pessoas, focada na busca da valorizao humana do
profissional, compreendida a partir da proteo da dignidade da pessoa humana.
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COMPREENDENDO A RELAO ENTRE DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DIREITOS
FUNDAMENTAIS
Em linhas gerais, a abordagem deste trabalho est focada em demonstrar a
proteo nacional dos direitos da pessoa humana, tendo em vista que a Constituio da
Repblica elevou a dignidade da pessoa humana, no s categoria de princpio
fundamental, como tambm lhe concedeu o status de fundamento constitucional
unificador de toda a ordem jurdica interna.
A dignidade da pessoa humana considerada como o princpio mais importante
de toda a ordem jurdica brasileira, estabelecido constitucionalmente como um dos
fundamentos da Repblica Federativa do Brasil (art. 1, III, da CF/88).
Neste sentido, Sarlet demonstra que:
[...] Num primeiro momento, a qualificao da dignidade da pessoa humana como princpio fundamental traduz a certeza de que o art. 1, inc. III, de nossa Lei Fundamental no contm apenas uma declarao de contedo tico e moral, mas que constitui norma jurdico-positiva com status constitucional e, como tal, dotada de eficcia, transformando-se de tal sorte, para alm da dimenso tica, em valor jurdico fundamental da comunidade. Neste contexto, na condio de princpio fundamental, a dignidade da pessoa humana constitui valor-guia no apenas dos direitos fundamentais, mas de toda a ordem constitucional, razo pela qual se justifica plenamente sua caracterizao como princpio constitucional de maior hierarquia axiolgico-valorativa. (SARLET, 2001, p. 111-112).
Compreende-se, portanto, que os direitos fundamentais instrumentalizam as
concretizaes das exigncias do princpio da dignidade da pessoa humana, o que
somente tornar-se- possvel mediante a construo de uma ordem jurdica que
corresponda s exigncias desse princpio.
Identifica-se, desse modo, que no h como se pensar em concretizao do
princpio da dignidade da pessoa humana, sem definir a existncia de uma Constituio
fundada no reconhecimento do carter normativo do citado princpio.
Nesse sentido, a Constituio Federal de 1988, ao elencar a dignidade no rol dos
fundamentos da Repblica Brasileira (art. 1, III, CF/88), objetivou caracteriz-la como
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direito intangvel do ser humano e, ao mesmo tempo, tornar exigvel dos poderes
pblicos e dos particulares o dever de proteg-la e respeit-la.
Assim, a correlao existente entre a Constituio, direitos fundamentais e a
dignidade da pessoa humana, pode ser explicada da seguinte forma:
Assumindo a Constituio o status de pedra fundamental da organizao poltica, todos os direitos nela consagrados sero oponveis, em maior ou menor medida, mas de forma indefectvel, ao Estado. De igual modo, sendo o homem o epicentro da referida organizao, quaisquer deveres imputados ao Estado, direta ou indiretamente, a ele alcanaro, da resultando a existncia de direitos correlatos. Assim, consagrando o dever do Estado ou contemplando o direito do homem, alcanar a Constituio efeitos axiolgicos paritrios. A positivao de ambos, no entanto, longe de ser uma superfetao de termos, reala o compromisso tico-jurdico do Estado em velar pela dignidade da pessoa humana [...]. (GARCIA, 2005, p.96).
Desta forma, o princpio da dignidade da pessoa humana assume o carter de
princpio unificador da ordem jurdica brasileira, pois constitui no apenas a garantia
negativa de que a pessoa no ser objeto de ofensas ou humilhaes, mas implica
tambm, num sentido positivo, o pleno desenvolvimento da personalidade de cada
indivduo. (PEREZ LUO, 1995, p.318).
Partindo dessa afirmao e considerando ser o princpio da dignidade da pessoa
humana um dos fundamentos da Repblica Brasileira, tem-se que tal princpio possui
eficcia jurdica por excelncia.
Assim, Klaus Stern, apud Sarlet (2001, p. 112), afirma que:
[...] toda a atividade estatal e todos os rgos pblicos se encontram vinculados pelo princpio da dignidade da pessoa humana, impondo-lhes, neste sentido, um dever de respeito e proteo, que se exprime tanto na obrigao por parte do Estado de abster-se de ingerncias na esfera individual que sejam contrrias dignidade pessoal, quanto no dever de proteg-las contra agresses por parte de terceiros, seja qual for sua procedncia [...].
Conclusivamente, Sarlet enuncia que o princpio da dignidade da pessoa
humana no apenas impe um dever de absteno (respeito), mas tambm condutas
positivas tendentes a efetivar e proteger a dignidade do indivduo. (SARLET, 2001, p.112).
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Outro aspecto relevante do princpio da dignidade da pessoa humana a sua
funo orientadora da atividade hermenutica, enquanto parmetro para a aplicao e
interpretao no somente dos direitos fundamentais, mas tambm das demais normas
constitucionais, bem como, de todo o ordenamento jurdico, conferindo coerncia e
unidade ordem jurdica interna.
Esta coerncia deve ser mantida mesmo em se tratando de direitos fundamentais
recepcionados na ordem jurdica, por intermdio da abertura proporcionada pelo artigo
5, 2, da CF/88, desde que os direitos fundamentais no-escritos originalmente no texto
constitucional sejam reconduzidos de forma direta e correspondente ao valor maior da
dignidade da pessoa humana, a fim de que tais direitos sejam efetivamente alcanados
pelo status jurdico conferido aos direitos fundamentais originariamente reconhecidos no
texto da Constituio.
Esses direitos fundamentais ditos no-escritos so aqueles direitos e garantias
constantes de tratados internacionais dos quais a Repblica Federativa do Brasil faa
parte e cuja Constituio Federal os reconhea como tal.
Assim, no que se refere dignidade da pessoa humana e aos princpios
fundamentais como um todo, Sarlet escreve que tais princpios
[...] alm de atuarem como fundamento para eventual deduo de direitos no-escritos (mais especificamente, dos direitos decorrentes dos quais fala o art. 5, 2, da CF), devero servir de referencial obrigatrio para o reconhecimento da fundamentalidade material dos direitos garimpados fora do catlogo, os quais devem guardar sintonia com os princpios fundamentais de nossa Carta. (SARLET, 2001, p. 118).
Finalmente, embora no haja disposio expressa sobre a intangibilidade do
princpio da dignidade da pessoa humana, no quer dizer que tal princpio possa ser
relativizado, pois medida que os direitos fundamentais representam a concretizao do
princpio em estudo, significa que, de forma indireta, o ncleo essencial dos direitos
fundamentais constitui limite material ao poder de reforma da Constituio, ao passo que
os direitos fundamentais, elevados categoria de clusulas ptreas (art. 60, 4, inc. IV,
da CF/88), possuem seu contedo intocvel pela ao erosiva do constituinte derivado.
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Conclui-se, destarte, que de forma indireta, a dignidade da pessoa humana est
protegida enquanto contedo essencial de todo direito fundamental, e,
consequentemente, quando definida como clusula ptrea, por fora do artigo 60, 4,
inc. IV, da CF; o texto constitucional lhe confere proteo expressa. Proteo que
tambm se verifica, quando, de forma direta, a Repblica Federativa Brasileira estabelece
a dignidade da pessoa humana, como um de seus princpios fundamentais.
Por todo o exposto, pode-se afirmar que a Constituio da Repblica Brasileira
uma constituio da pessoa humana, pautada eminentemente no respeito e na proteo
da dignidade da pessoa humana, constituindo-se o aludido princpio como uma norma
legitimadora de todo o ordenamento jurdico ptrio.
Apesar da exposio sucinta sobre o tema, verifica-se que toda a interpretao
dos direitos fundamentais e sua consequente aplicao somente se daro mediante a
construo de uma estrutura interpretativa definida por contornos essencialmente
constitucionais, sem a qual no ser possvel estabelecer uma interpretao que
contemple todo o ordenamento jurdico, nas suas mais variadas esferas.
Logo, no se h de falar em aplicao de direitos fundamentais sem a realizao
de uma interpretao sistemtica que tenha como fundamento maior, o princpio da
dignidade da pessoa humana.
GESTO DE PESSOAS E RECURSOS HUMANOS: VALORIZAO DO CAPITAL HUMANO
Com a velocidade de informaes disponibilizadas diariamente e a globalizao,
evidente que a sociedade tem experimentado os reflexos dos avanos tecnolgicos,
razo pela qual, em qualquer rea da vida, inevitvel admitir que a todos necessrio
passar por um contnuo processo de mudanas e de modernizao, e isso no foi
diferente para a Gesto de Pessoas como resultado de uma relevante mudana ocorrida
no modo de se compreender e desempenhar as funes atribudas antiga rea de
Recursos Humanos.
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Para melhor compreenso do foco deste trabalho, importante, ainda que
resumidamente, destacar a evoluo da viso e do foco do gerenciamento de pessoas,
conforme ensina KNAPIK (2006, p.40) que:
[...] No Departamento Pessoal a gesto est focada na burocracia e no controle das pessoas. A empresa mais centralizadora, e o setor de Recursos Humanos visto como um rgo fiscalizador. Na Administrao de Recursos Humanos, a gesto mais dinmica e focada no desenvolvimento e na motivao das pessoas. Preocupa-se com os interesses dos colaboradores. Na Gesto de Pessoas, a gesto est focada no gerenciamento com e para as pessoas. Considera os colaboradores como talentos dotados de capacidades, habilidades e com inteno de levar a empresa ao sucesso. [...].
Tomando por base a anlise sob a tica da Gesto de Pessoas, possvel aferir
que o gerenciamento para e com as pessoas revela que as organizaes passaram a se
preocupar com a valorizao e segurana do ser humano, buscando meios para
corresponder no s s expectativas dos empregados, como tambm, a criar condies
mais favorveis de trabalho. Neste sentido, conforme ensina ORLICKAS (2010, p. 176), as
pessoas so determinantes para a modernizao da gesto de recursos humanos.
[...] As mudanas ocorrem por iniciativa das pessoas e se consolidam por meio delas. Isso pressupe que as organizaes precisam estar atentas a novos modelos de gesto de pessoas, pois a utilizao pioneira e singular de um novo modelo que favorea comportamentos adequados dinmica do ambiente est se tornando um diferencial competitivo.
A partir desse entendimento, tem-se que as pessoas constroem relaes sociais
que resultam na origem de fatos sociais e, consequentemente, surge o direito. por este
motivo que a histria necessitou construir um novo modelo de gesto de pessoas, pois
novos direitos, garantias e deveres tambm foram criados.
Assim, para a concretizao dessas mudanas necessrio que todas as
polticas e prticas estejam em conformidade com as leis e regulamentaes do pas,
estado ou distrito no qual opera a organizao. (ROBBINS, 2000, p.229).
Compreendidas a importncia do papel das pessoas nos processos de mudana,
sem esgotar o tema, destacam-se as diferenas entre a viso mecanicista, muito voltada
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para a antiga concepo de recursos humanos e a viso holstica, voltada para a
concepo contempornea do que representa a gesto de pessoas, destacando
importncia e valorizao do capital intelectual humano.
O mtodo antigo de gerir pessoas era representado pelo setor de recursos
humanos que atuava meramente em carter burocrtico, responsvel apenas pela
fiscalizao das tarefas executadas pelos empregados, cuidava da folha de pagamento,
executava os procedimentos de contratao do trabalhador e controlava os registros da
jornada de trabalho.
Uma viso mecanicista, pois, at mesmo nas contrataes, no se considerava a
capacitao e a qualificao profissional do candidato, exigindo simplesmente tcnica e
experincia. No existia, portanto, dedicao s atividades de treinamento e
desenvolvimento profissional do empregado, por exemplo. O empregado, no tinha
qualquer participao ativa ou voltada para tomada de decises, apenas deveriam
executar suas tarefas. O foco no estava na pessoa, mas sim na produo. Quanto mais o
empregado produzisse, melhor para a empresa.
Nesse contexto, sem o pretexto de analisar todas as teorias, pode se dizer que
a partir da Teoria das Relaes Humanas, desenvolvida por Mayo (1933), que se verifica o
grande avano no que diz respeito importncia da pessoa. Essa teoria contribuiu para
afastar o individualismo existente dentro das organizaes, pois o resultado, agora,
deveria ser perseguido por todos, de modo que a equipe como um todo, se beneficiasse
do sucesso.
Assim, em 1933, com a publicao do livro The human problems of an industrial
civilization, Mayo apresentou, sinteticamente, as seguintes concluses,
[...] o desempenho das pessoas depende muito menos dos mtodos de trabalho, segundo a viso da administrao cientfica, do que fatores emocionais ou comportamentais. Destes, os mais poderosos so aqueles decorrentes da participao do trabalhador em grupos sociais. A fbrica deveria ser vista como sistema social, no apenas econmico ou industrial, para a melhor compreenso de seu funcionamento e de sua eficcia. (MAXIMIANO, 2009, p. 154).
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Essa percepo revolucionou as concepes a respeito das organizaes, dos
trabalhadores e do papel dos administradores, pois fez com que as pessoas passassem a
valorizar a interao social dentro do ambiente empresarial, isto , revelando a
importncia das pessoas se relacionarem umas com as outras, ensinando-as a lidar com as
diferenas existentes, o que trouxe tambm mudanas em termos de comportamento
organizacional, a exemplo das reflexes acerca das relaes interpessoais.
A teoria proposta por Mayo surgiu de um importante experimento que deu
origem Escola das Relaes Humanas. Esse experimento ficou conhecido como
Hawthorne, realizado entre os anos de 1927 a 1933 cujos estudos estiveram voltados para
o enfoque organizacional, destacando a importncia do grupo sobre o desempenho dos
indivduos, demonstrando, ainda que timidamente, traos do princpio da solidariedade,
por meio do qual, dentro da proposta analisada, a cooperao mtua se tornou um dos
fatores mais importantes para o desempenho individual, baseada na troca de
informaes e colaborao mtua, fortalecendo as relaes no s entre colegas como
tambm entre o os empregados e os administradores.
A prtica continuada da cooperao alterou at mesmo o modo de se referir ao
empregado, pois no fazia mais sentido cham-lo dessa forma, merecendo ser
considerado e elevado categoria de colaborador.
Este mesmo no representa apenas os trabalhadores tcnicos ou operacionais,
mas o prprio nvel gerencial est representado pelo colaborador, ou seja, os gerentes e
lderes no so mais a chefia, mas tambm colaboradores. Esta concepo adveio a partir
da compreenso de que as pessoas compem a organizao e que proporcionar um
ambiente participativo e sadio resulta numa atividade cooperativa entre os colaboradores
e seus pares, dentro dos mais variados nveis de cargos ou tipos de atividades
desempenhadas em uma organizao. Logo, a organizao se tornou o reflexo das
pessoas.
Em outros termos, o ser humano mais importante, demonstrando que at
mesmo nas relaes empresariais, o sujeito transcendeu ao objeto, ou seja, no o
trabalho ou a produo o essencial, mas sim a pessoa, motivo pelo qual se tornou
imprescindvel estudar o comportamento humano dentro das organizaes.
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Eis a o diferencial entre fazer gesto de recursos humanos e fazer gesto de
pessoas, conforme entendimento de Likert, apud Sertek, que distingue a organizao
voltada para as tarefas daquela que est voltada para a valorizao da sua maior riqueza,
as pessoas: h dois modos de conceber a empresa: como uma organizao centrada nas
tarefas que devem fazer os homens ou como uma organizao centrada nos homens que
devem fazer as tarefas. (SERTEK 2006, p. 105).
Quando a organizao est focada nas pessoas concretiza a premissa de que sua
origem est nas pessoas e por mais avanada que esteja a tecnologia, tudo gira em torno
das pessoas, pois o trabalho realizado pelas pessoas e o produto desse trabalho
destinado s pessoas. Neste sentido, a rea de Recursos Humanos tornou-se to
importante quanto os recursos financeiros e tecnolgicos e, hoje, as empresas valem
muito mais pelo seu capital intelectual humano do que pelo capital financeiro.
Nessa esteira, ORLICKAS (2010, p.192), apropriadamente considera que:
[...] sem as pessoas, no seria possvel a criao de empresas e, por isso, o ser humano constitui o elemento comum a todas elas. Se entendermos a organizao como um conjunto de indivduos que, vinculado aos demais recursos financeiros e materiais, persegue objetivos comuns, constataremos que so os seres humanos que tm em suas mos a direo e o destino de uma organizao. Por isso as pessoas so preciosas dentro das organizaes e devem ser tratadas como tal. [...].
Tal entendimento ressalta a razo pela qual passou a exigir-se da rea de
Recursos Humanos uma dimenso mais tcnica, destinada ao desenvolvimento e ao
aproveitamento do potencial humano. Assim, ocorre a especializao da rea e surgem
os seguintes subcomponentes: cargos e salrios, desenvolvimento e treinamento,
recrutamento e seleo, avaliao de desempenho, relaes sindicais, assistncia social,
qualidade de vida no trabalho e na vida pessoal. (SERTEK, 2006, p. 180).
Identificadas algumas das novas atribuies, a valorizao do potencial
intelectual humano, se tornou diferencial competitivo e fator de sucesso dentro no s
da organizao, como tambm, para destaque no mercado de trabalho. Por isso, hoje, a
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gesto de pessoas se faz baseada na gesto de talentos, voltada para o aprimoramento
do capital intelectual humano e bem estar dos colaboradores.
Isso fez com que as organizaes investissem na rea de Recursos Humanos,
criando um setor de consultoria interna, preocupado com as pessoas, motivo pelo qual as
organizaes que possuem esta mentalidade, incluem estrategicamente no seu
oramento, considerveis cifras para investir na capacitao profissional dos seus
colaboradores e, consequentemente, para aumentar a sua competitividade no mercado.
Conclui-se, ento, que a valorizao humana e profissional das pessoas tornou-se uma
estratgia de competitividade e crescimento das organizaes.
Sob essa perspectiva, CHIAVENATO (1999, p.43) destaca que as pessoas revelam
o real fator de diferenciao entre as empresas de sucesso e as empresas que fracassam.
[...] Bens humanos, portanto, nos apresentam um paradoxo. Como as pessoas constituem a sua vantagem competitiva, a empresa precisa investir nelas, desenvolv-las e ceder-lhes espao para seus talentos. Quanto mais ela fizer isto, mais enriquecer seus passaportes e aumentar a mobilidade potencial das pessoas. No h, entretanto, como escapar do paradoxo, pois no se pode se dar ao luxo de deixar de investir nesses bens mveis. J se pode perceber a transformao nas culturas de nossas empresas. Atualmente, a organizao no pode exigir lealdade de seu prprio pessoal. Pelo contrrio, ela precisa conquistar essa lealdade, pois no h razo lgica ou econmica para que esses bens no passem para um canto melhor, se o encontrarem. [...].
O entendimento de Chiavenato merece destaque, pois a organizao somente
atingir o objetivo de adquirir a lealdade de seus colaboradores se a mesma possuir uma
viso estratgica focada nas pessoas, direcionada para uma reformulao continuada da
gesto de pessoas, mediante o reconhecimento do potencial humano como o recurso
estratgico mais importante para o sucesso e desenvolvimento da organizao.
Entretanto, no se deve esquecer que esse recurso estratgico dotado de
personalidade e dignidade humanas, no podendo ser reduzido a mero recurso financeiro
humano.
Assim
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[...] A nova rea de Recursos Humanos modificou e ampliou sua atuao, atualizou-se com a realidade socioeconmica e adotou novas tecnologias e ferramentas. Com isso, tornou-se um centro de investimento, inteirando-se do negcio da empresa e participando de decises que envolvem o cliente externo. Alm disso, adotou a estratgia de capacitar e oferecer coaching a seus executivos. Seu planejamento estratgico passou a ter estreito vnculo com os resultados da empresa, entendendo que esses resultados s podem ser obtidos com as pessoas e no por meio delas e com qualidade de vida. [...] (ORLICKAS, 2010, p. 181).
Sob este enfoque, a autora apresenta de maneira muito feliz e apropriada que as
organizaes, na busca do sucesso, no podem e no devem sobrepujar a qualidade de
vida dos seus colaboradores. Em outros termos, fazendo um paralelo com a proteo dos
direitos da pessoa humana, a organizao, mesmo quando investe em seus talentos, nas
pessoas, sempre dever concretizar humanisticamente a prevalncia da dignidade da
pessoa humana.
Traadas as consideraes sobre o reconhecimento da pessoa e do capital
intelectual humano como fatores de maior importncia para o crescimento no s da
organizao como do prprio profissional, necessrio destacar que a transformao do
modo de gerir as pessoas e a reformulao da rea de recursos humanos ocorreu de
forma mais acentuada graas tutela dos direitos do ser humano, principalmente a partir
da concretizao do valor maior da dignidade da pessoa humana.
Afere-se, portanto, que a valorizao da pessoa tambm proporcionou a
valorizao do trabalho, uma vez que a atividade laborativa est diretamente relacionada
ao ser humano e s suas condies de subsistncia. Assim, alm de tutelar a vida dos
seres humanos, imposto aos particulares e ao Estado o dever de concretizar a dignidade
da pessoa humana e a efetivao dos direitos sociais, dentre eles, o direito ao trabalho.
Alm disso, a tutela desses direitos um dever reclamado, inclusive, no plano normativo
internacional com a Declarao Universal dos Direitos do Homem (DUDH), sendo
tutelados os direitos sociais ao trabalho, conforme descrito no artigo 23, DUDH.
Por fim, tratar as relaes humanas dentro das organizaes e cumprir as
exigncias legais de proteo ao ser humano proporciona uma viso solidria entre os
colaboradores e os gestores. No sentido de acentuao da cooperao para a busca
satisfatria do desenvolvimento do trabalho, na obteno de resultados e crescimento
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humano e profissional, baseados em princpios bsicos da ordem social na dimenso da
organizao e da sociedade.
Alm disso, objetiva-se um comportamento organizacional tico, desde os nveis
gerenciais aos nveis operacionais, de modo a harmonizar os valores, as necessidades e as
diferenas de cada pessoa, atribuindo na medida das diferenas existentes, um
tratamento igualitrio para todos, pois segundo PETER SINGER (2002, P. 30) a igualdade
um princpio tico bsico.
Assim, a nova gesto de pessoas deve estar voltada para o desenvolvimento de
um gerenciamento para e com as pessoas, visando concretizar nas organizaes a
valorizao e segurana do ser humano, devendo sempre buscar meios para atender no
s as expectativas dos colaboradores, como tambm, a proporcionar condies mais
favorveis de trabalho.
CONCLUSO
Apresentada a anlise sobre a importncia do ser humano nas organizaes e a
concretizao da dignidade da pessoa humana, a este propsito foi necessrio apresentar
a relevncia da dignidade da mesma e de seus direitos fundamentais na construo do
novo modo de gerir as pessoas.
Esta importncia no surgiu por acaso, dentre outros acontecimentos histricos
importantes, a Declarao Universal dos Direitos do Homem (ONU/1948) consolidou a
preocupao com o gnero humano e questes comuns e gerais a toda humanidade.
Surgiam, desta forma, os direitos nascidos sob a gide do princpio da solidariedade, que
refletiriam no modo de atuao das organizaes para com a gesto das pessoas,
ensinando que a cooperao mtua contribuiria de maneira significativa para o
desenvolvimento profissional do colaborador e o aumento da competitividade
empresarial.
Constatou-se, portanto, que a nova Gesto de Pessoas est diretamente ligada
dignidade da pessoa humana. Assim, medida que as organizaes reconheceram a
importncia do ser humano, as relaes de trabalho e as organizaes tambm tiveram
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de se adaptar aos novos valores sociais, os quais se tornaram valores constitucionais,
devido consagrao da valorizao da pessoa humana nas cartas polticas.
Desta forma, construram-se alguns dos principais direitos fundamentais
aplicveis s relaes de trabalho e, consequentemente, para a relao existente entre
colaborador e empresa enquanto manifestao da dignidade da pessoa humana e da
solidariedade, entendida como o dever de cooperao recproca entre colaboradores e
gestores, revelando uma relao humana social e complexa, pois para sua efetivao
essencial que o ser humano integrante da organizao tambm queira contribuir para o
sucesso mtuo.
Finalmente, cabe organizao e s pessoas repensarem se as prticas de
valorizao da pessoa, desenvolvimento do capital intelectual humano e o agir com
cooperao tm sido aplicados diariamente nas organizaes, ou seja, verificar se as
organizaes (re) conhecem os seus funcionrios como pessoa e se os mesmos (re)
conhecem a sua importncia.
Propositalmente, os verbos aqui empregados so correlatos e convergem para o
mesmo significado, pois para se conhecer imprescindvel reconhecer o objeto
cognoscente e, ento, conhec-lo. Em outras palavras, perceber que a pessoa do
colaborador a mesma pessoa que est revestida das caractersticas da organizao a
qual representa enquanto fora de trabalho. analisar quem , como e o que este ser
chamado colaborador, ou ainda, saber que dentro deste rtulo existe uma pessoa que
merece ser valorizada e protegida como tal.
Da breve anlise deste trabalho, restou pacfico o entendimento de que as
pessoas formam as organizaes, ou seja, o capital humano a prpria personificao da
organizao, por isso, a importncia da gesto de pessoas. Entretanto, mister destacar
que essa relevncia adquirida pode facilmente ser perdida tanto pelo colaborador quanto
pela organizao, quando os interesses colocados em jogo no convergem para o bem
comum, seja do colaborador ou da organizao, ou ainda, quando organizao ou
colaborador no esto propensos a contribuir para o dever de cooperao mtua.
Significa, em outros termos, que o prprio colaborador deve reconhecer-se como
fundamental para a organizao e, acima de tudo, que essa fundamentalidade no pode
jamais estar desprovida de qualquer proteo.
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A valorizao da pessoa e do capital intelectual humano um dever de ambos,
empresa e funcionrio. Portanto, ambos devem contribuir para a busca de meios que
atendam no s as expectativas da organizao, como tambm, proporcionem condies
mais favorveis de trabalho. Logo, esse comprometimento um sinal da exigncia do
dever de cooperao mtua e deve ser buscado por todos no ambiente organizacional.
O colaborador deve tomar muito cuidado para, na nsia de crescimento, no
escolher caminhos que ao invs de lhe valorizar, o reduzam a simples fora de trabalho,
ou seja, evitar se posicionar como um mero recurso hbil ao atingimento dos fins
econmico-lucrativos propostos pela organizao, esquecendo-se de sua condio de ser
humano, uma vez que, egoisticamente, visa to somente busca de suas realizaes
materiais e o status social que representa na empresa, no se preocupando com a
coletividade que o cerca e que tambm dependem do seu trabalho. Engana-se e esquece-
se de si prprio e no considera os outros que ao seu redor esto.
Noutros termos, age friamente movido pela necessidade capitalista do progresso
e no percebe a cilada de um grande retrocesso, no sentido de ganhar o mundo e perder
a sua prpria identidade enquanto ser humano integrante de uma sociedade, seja interna
organizao ou de propores macro, no concretizando os princpios de cooperao.
Em verdade, um paradoxo difcil de explicar que mistura individualismo e exerccio de
solidariedade; ou, ainda, quando a prpria organizao no se prope a conhecer e
reconhecer que o ser humano posto sua disposio o reflexo de um potencial
intelectual dotado de integridade, personalidade e dignidade humanas. Assim,
sutilmente, a organizao acaba usurpando da fragilidade e ambio de colaboradores
que se deixam manipular e que aceitam representar to somente recursos, como um
mobilirio qualquer, que abre mo de sua qualidade de vida, sem vida pessoal e sem
opinio, isto , reduzem quase nada sua personalidade e dignidade.
Finalmente, a discusso e a dialtica so essenciais para o desenvolvimento no
s acadmico como tambm para a sociedade, de modo que aqui fica uma sugesto: cabe
a cada pessoa, independente do papel que assuma seja na organizao ou na sociedade,
refletir e considerar a importncia em conhecer as prerrogativas que lhes so colocadas
disposio, bem como, reconhecer o potencial humano que possui, de modo a se
questionar se efetivamente tem valorizado as pessoas, se tem cooperado para com os
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REFLEXES SOBRE A IMPORTNCIA DAS PESSOAS NAS ORGANIZAES
Revista Organizao Sistmica | vol.4 n.2 | jul/dez 2013
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outros e se tem valorizado a si prprio, e que haja interesse em buscar essas respostas e
propor novas discusses, pois a concretizao da dignidade da pessoa humana est nas
mos das pessoas e, portanto, representa o fator mais importante para esta realizao.
REFERNCIAS CHIAVENATO, Idalberto. Gesto de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizaes. Rio de Janeiro: Campus, 1999. GARCIA, Emerson. Dignidade da pessoa humana: referenciais metodolgicos e regime jurdico. Revista de Direito Privado, vol X, n. 21, 2005. KNAPIK, Janete. Gesto de pessoas e talentos. Curitiba: Ibpex, 2006. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administrao. 1. ed. So Paulo: Atlas, 2009. ORLICKAS, Elizenda. Modelos de Gesto: das teorias da administrao gesto estratgica. Curitiba: Ibpex, 2010 (Srie Administrao estratgica). PEREZ LUO, Antonio-Enrique. Derechos Humanos, Estado de Derecho y Constitucin. 5.ed. Madri: Ed. Tecnos, 1995. ROBBINS, Stephen Paul. Administrao: mudanas e perspectivas; (traduo Cid Knipel Moreira). So Paulo: Saraiva, 2000. SARLET, Ingo Wolfgang. A eficcia dos direitos fundamentais. 2. Ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. SERTEK, Paulo. Responsabilidade social e competncia interpessoal. Curitiba: Ibpex, 2006. SENGE, Peter. tica Prtica; (traduo Jefferson Luiz Camargo). 3 ed. So Paulo: Martins Fontes, 2002.