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  • 8/3/2019 GESTO DE CRISES NO ATENDIMENTO INICIAL A EMERGNCIAS COM RUPTURA DE BARRAGENS: ANLISE E PROPOSTA

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    POLCIA MILITAR DO ESTADO DE SO PAULO

    CENTRO DE APERFEIOAMENTO E ESTUDOS SUPERIORES

    CAES CEL PM NELSON FREIRE TERRA

    CURSO DE APERFEIOAMENTO DE OFICIAIS CAO-I/09

    GESTO DE CRISES NO ATENDIMENTO INICIAL A EMERGNCIAS

    COM RUPTURA DE BARRAGENS: ANLISE E PROPOSTA

  • 8/3/2019 GESTO DE CRISES NO ATENDIMENTO INICIAL A EMERGNCIAS COM RUPTURA DE BARRAGENS: ANLISE E PROPOSTA

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    POLCIA MILITAR DO ESTADO DE SO PAULO

    CENTRO DE APERFEIOAMENTO E ESTUDOS SUPERIORES

    CAES CEL PM NELSON FREIRE TERRA

    CURSO DE APERFEIOAMENTO DE OFICIAIS CAO-I/09

    GESTO DE CRISES NO ATENDIMENTO INICIAL A EMERGNCIAS

    COM RUPTURA DE BARRAGENS: ANLISE E PROPOSTA

    Capito PM Rogrio Gago

  • 8/3/2019 GESTO DE CRISES NO ATENDIMENTO INICIAL A EMERGNCIAS COM RUPTURA DE BARRAGENS: ANLISE E PROPOSTA

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    POLCIA MILITAR DO ESTADO DE SO PAULO

    CENTRO DE APERFEIOAMENTO E ESTUDOS SUPERIORES

    CAES CEL PM NELSON FREIRE TERRA

    CURSO DE APERFEIOAMENTO DE OFICIAIS CAO-I/09

    Capito PM Rogrio Gago

    GESTO DE CRISES NO ATENDIMENTO INICIAL A EMERGNCIAS

    COM RUPTURA DE BARRAGENS: ANLISE E PROPOSTA.

    Data de Aprovao: ___/___/___

    Nota:_____________

    Banca E aminadora

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    AGRADECIMENTOS

    Ao Grande Arquiteto do Universo, pela sade e fora em todos os momentos de

    minha vida;

    Ao meu orientador Tenente Coronel PM Antnio Marcos da Silva pela orientao

    segura e, ainda, pelas importantes contribuies para o desenvolvimento da

    pesquisa;

    Ao Tenente Coronel PM Jos Guerxis de Aguiar, pelo apoio no incio desta jornada

    de estudos que culminou na presente dissertao, bem como por ter me dado a

    oportunidade de retornar ao Corpo de Bombeiros e, acima de tudo, de permitir que

    trabalhasse ao seu lado;

    Ao engenheiro Dr. Ronaldo Lus dos Santos Izzo, pesquisador da Universidade

    Federal do Rio de Janeiro, pela disponibilidade das informaes tcnicas

    necessrias ao bom desenvolvimento do trabalho;

    Ao engenheiro Dr. Rogrio de Abreu Menescal, Gerente Executivo da Agncia

    Nacional da gua (ANA), pela transmisso de suas experincias e, ainda, pela sua

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    RESUMO

    Gesto de Crises no Atendimento Inicial a Emergncias com Ruptura deBarragens: Anlise e Proposta, por meio de pesquisa bibliogrfica e levantamentode campo, dentro do mtodo hipottico-dedutivo, traz um compndio tcnicocontendo os procedimentos operacionais para a gesto de crises pelo Corpo deBombeiros, como uma das primeiras instituies a ser empregada oficialmente noatendimento inicial de grandes emergncias envolvendo ruptura de barragens, demodo que haja padronizao das atividades preventivas e de socorro scomunidades afetadas. Trata-se de uma fonte de consulta onde se agrupou asdiversas normas e estudos sobre o assunto, criando facilidades para o desempenhodas funes de comando e gerenciamento das emergncias, uma vez que acomplexidade desses atendimentos e a necessidade das foras de respostas locaistrabalharem de forma harmnica e perfeitamente integradas, proporcionam umaumento do potencial operacional e, conseqentemente, a reduo dos efeitos

    danosos de um desastre junto s comunidades jusante. Tem ainda, a pretensode que se torne algo realmente til e de fcil consulta, possibilitando a melhorpreparao dos Oficiais e praas do Corpo de Bombeiros da Polcia Militar doEstado de So Paulo ao desempenho das suas atividades, proporcionando ascondies tcnicas ideais consecuo das suas misses institucionais. Por fim,este trabalho abordou um conjunto de princpios que serviro de base cientfica paraa formulao de planos de emergncia, planos de contingncia e planos particularesde interveno.

    Palavras-chave: Segurana de Barragem. Ruptura de Barragens. Gerenciamento deDesastres Naturais.

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    ABSTRACT

    Management of Crises in Initial Emergencies Attendance to Dams Failure: Analysisand Proposal, by means of bibliographical research and field survey, inside of thehypothetical-deductive method, it brings a technical compendium containing theoperational procedures for crises management by the Fire Department, since it is thefirst institution to be used officially in the initial care of major emergencies involving

    dams rupture, so there is standardization of the preventive activities and assistanceto affected communities. It is a source of consultation that brings together manystandards and studies on the subject of this work, creating facilities for the functionsof emergencies command and management, since the complexity of this cases andthe need of the local response forces working in harmony and perfectly integrated,provides a increase in the operational potential and, consequently, reducing theharmful effects of a disaster in the communities downstream. This work also has theintention of becoming something really useful and easy to consult, allowing the better

    preparation of the Fire Brigade Officers and soldiers of Military Police from So PauloState to carry out its activities, providing the ideal technical conditions to perform theirinstitutional mission. Finally, this study broached a set of principles that provide thescientific basis for the formulation of emergency plans, contingency plans andparticular plans of intervention.

    Key-words: Dam Safety. Dams Failure. Natural Disaster Management.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 01 - Pases com maior nmero de barragens.............................................28

    Figura 02 - Seo tpica de barragem de terra.......................................................34

    Figura 03 - Barragem de Terra...............................................................................35

    Figura 04 - Seo transversal tpica da Barragem de Enrocamento......................37 Figura 05 - Vista geral da Barragem de Enrocamento...........................................37

    Figura 06 - Vista lateral de um reservatrio Barragem Concreto. .......................38

    Figura 07 - Barragem de Concreto.........................................................................38

    Figura 08 - Barragem de Concreto - Arco..............................................................39

    Figura 09 - Barragem de Concreto Contraforte...................................................40

    Figura 10 - Esquema vertedouro em barragem. ....................................................42

    Figura 11 - Vertedouro. ..........................................................................................42

    Figura 12 - Aquecimento Global entre 2020 e 2029...............................................44

    Figura 13 - Aquecimento Global entre 2090 e 2099...............................................45

    Figura 14 - Mapa retratando os tipos de acidentes naturais por regio do globo no

    ano de 2008. ......................................................................................................57Figura 15 - Mapa retratando o nmero de desastres naturais por pas: 1976 -

    2005.......... .........................................................................................................57

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    Figura 25 - Rompimento da barragem. ..................................................................71

    Figura 26 - Perfil de ruptura da barragem. .............................................................71Figura 27 - Distncia entre Paraguau Paulista e Maraca. ...................................72

    Figura 28 - Danos e interrupo de rodovias. ........................................................73

    Figura 29 - Destruio de pontes...........................................................................73

    Figura 30 - Danos nas cabeceiras das pontes.......................................................73

    Figura 31 - Alagamento da rea rural.....................................................................74

    Figura 32 - Alagamento da cidade de Maraca. .....................................................75

    Figura 33 - Residncia atingida pelo alagamento. .................................................75

    Figura 34 - Danos causados pelo alagamento.......................................................75

    Figura 35 - Residncia atingida pelo alagamento. .................................................76

    Figura 36 - Comprometimento do meio ambiente. .................................................76

    Figura 37 - Apoio policial aos moradores...............................................................77Figura 38 - Operao limpeza................................................................................78

    Figura 39 - Cadastramento de vtimas e prejuzos.................................................78

    Figura 40 - Reunio do gabinete de crise. .............................................................79

    Figura 41 - Instabilidade de Barragem por Percolao. .........................................85

    Figura 42 - Ruptura de Barragem por Piping. ........................................................86

    Figura 43 - Instabilidade da Barragem por trincas. ................................................87

    Figura 44 - Ruptura de Barragem por Galgamento................................................88

    Fig ra 45 Ca sas de r pt ra de barragens 89

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    Figura 59 - Deslizamento ou colapso no paramento de jusante. .........................103

    Figura 60 - Infiltrao no paramento a jusante.....................................................103Figura 61 - Formao de cavidades ou colapsos no paramento de jusante. .......104

    Figura 62 - Eroso no paramento de jusante.......................................................105

    Figura 63 - Infiltrao de gua no sop a jusante. ...............................................106

    Figura 64 - gua parada no sop a jusante. ........................................................106

    Figura 65 - reas midas ou surgimento de gua no paramento de jusante.......107

    Figura 66 - Vegetao excessiva nos taludes......................................................108

    Figura 67 - Atividade animal.................................................................................109

    Figura 68 - Mapa da sismicidade natural brasileira..............................................116

    Figura 69 - Mecanismo de formao dos sismos induzidos por reservatrio.......117

    Figura 70 - Visita a Secretaria Nacional de Defesa Civil por ocasio da I Jornada

    Nacional de Polcia Comparada.......................................................................120Figura 71 - Estrutura da Defesa Civil Brasileira ...................................................122

    Figura 72 - Segurana Global da Populao. ......................................................124

    Figura 73 - Fases da Defesa Civil........................................................................128

    Figura 74 - Organograma funcionamento do SICOE. ..........................................139

    Figura 75 - reas de trabalho para o SICOE. ......................................................140

    Figura 76 - Posto de Comando para o SICOE.....................................................141

    Figura 77 - Linhas de ao para emergncias com ruptura de barragens...........164

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 - Desastres naturais no Brasil (1970 - 2005)............................................63

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    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Quantidade de vezes que a regio sob jurisdio do SGB enfrentou

    problemas com chuvas intensas no perodo chuvoso......................................151

    Grfico 2 - Problemas registrados durante os perodos chuvosos na regio sob

    jurisdio do SGB.............................................................................................151Grfico 3 - As causas dos problemas registrados durante os perodos chuvosos na

    regio sob jurisdio do SGB...........................................................................152

    Grfico 4 - Local onde ocorrem os problemas registrados durante os perodos

    chuvosos na regio sob jurisdio do SGB......................................................153

    Grfico 5 - Existncia de registros estatsticos de atendimento a emergncias com

    ruptura de barragens na regio sob jurisdio do SGB....................................153

    Grfico 6 - Existncia de mapeamento das barragens na regio sob jurisdio do

    SGB..................................................................................................................154

    Grfico 7 - Existncia de Plano de Gerenciamento de Emergncia Local (PGEL)

    na regio sob jurisdio do SGB......................................................................155

    Grfico 8 - Facilidade de mobilizao e disponibilizao de recursos paraatendimento de emergncia com barragens na regio sob jurisdio do

    SGB..................................................................................................................155

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 01 - Registro das primeiras barragens brasileiras ...................................29

    Quadro 02 - Relao dos integrantes da Defesa Civil municipal (COMDEC) de

    Paraguau Paulista, participantes do gerenciamento da crise...........................79

    Quadro 03 - Nmero de mortos causados em acidentes com ruptura debarragens...........................................................................................................83

    Quadro 04 - Classificao da potencial consequncia da ruptura de barragens..84

    Quadro 05 - Categoria e causas de falhas em barragens..................................110

    Quadro 06 - Principais causas de comportamento insatisfatrio de barragens e

    sistemas usuais de observao .......................................................................111

    Quadro 07 - Roteiro para construo de cenrios de riscos ..............................132

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    NOME SIGNIFICADO

    ANA AGNCIA NACIONAL DA GUA

    APELL AWRENESS AND PREPARADNESS FOR

    EMERGENCY AT LOCAL LEVELAVADAN RELATRIO DE AVALIAO DE DANOS

    BB BASE DE BOMBEIRO

    BTL BATALHO

    CB CORPO DE BOMBEIROS

    CCB COMANDO DO CORPO DE BOMBEIROS

    CEDEC COORDENADORIA ESTADUAL DE DEFESA CIVIL

    CGE CENTRO DE GERENCIAMENTO DE EMERGNCIAS

    CESP COMPANHIA ENERGTICA DE SO PAULO

    CIA COMPANHIA

    CMT COMANDANTE

    COMDEC COORDENADORIA MUNICIPAL DE DEFESA CIVILCORDEC COORDENADORIA REGIONAL DE DEFESA CIVIL

    CREA CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA E

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    IBGE INSTITUTO BRASIKEIRO DE GEOGRADIA E

    ESTATSTICAICOLD INTERNATIONAL COMMISSION ON LARGE DAMS

    IMPE INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS

    INMET INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA

    IPCC INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE

    CHANGE

    IPT INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLGICAS

    MIN MINISTRIO DA INTEGRAO NACIONAL

    MO MATRIZ ORGANIZACIONAL

    NOB NORMA OPERACIONAL DE BOMBEIROS

    NUDEC NCLEO DE DEFESA CIVIL

    OBSI OBSERVATRIO SISMOLGICOONU ORGANIZAO DAS NAES UNIDAS

    OPM ORGANIZAO POLICIAL-MILITAR

    PAM PLANO DE AUXLIO MTUO

    PAP PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO-PADRO

    PB POSTO DE BOMBEIROS

    PCDC PLANO DE CONTINGNCIA DE DEFESA CIVIL

    PEL PLANO DE EMERGNCIAS LOCAL

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    RINEM REDE INTEGRADA DE EMERGNCIAS

    SABESP COMPANHIA DE SANEAMENTO BSICO DO ESTADODE SO PAULO

    SEDEC SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL

    SGB SUBGRUPAMENTO DE BOMBEIROS

    SICOE SISTEMA DE COMANDO E OPERAES EM

    EMERGNCIAS

    SINDEC SISTEMA NACIONAL DE DEFESA CIVIL

    UnB UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    UOp UNIDADE OPERACIONAL

    WCD WORLD COMMISSION ON DAMS

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    SUMRIO

    RESUMO ...................................................................................................5

    ABSTRACT ...............................................................................................6

    INTRODUO.........................................................................................20

    1 ASPECTOS TCNICOS E CONSTRUTIVOS DE BARRAGENS NO

    BRASIL ..............................................................................................26

    1.1 Histrico ........................................................................................27

    1.2 Conceituao de barragens..........................................................30

    1.3 Finalidade......................................................................................32

    1.4 Tipos de barragens.......................................................................32

    1.4.1 Barragens de terra ........................................................................33

    1.4.1.1 Barragens homogneas de terra ................................................34

    1.4.1.2 Barragens zonadas.....................................................................35

    1.4.2 Barragens de enrocamento ..........................................................361.4.3 Barragem de Concreto .................................................................37

    1 4 3 1 Barragens de concreto gravidade 37

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    2.3.1.1 Desastres de nvel I ....................................................................53

    2.3.1.2 Desastres de nvel II ...................................................................53

    2.3.1.3 Desastres de nvel III ..................................................................53

    2.3.1.4 Desastres de nvel IV ..................................................................54

    2.3.2 Quanto origem ...........................................................................54

    2.3.2.1 Desastres naturais ......................................................................54

    2.3.2.2 Desastres humanos ou antropognicos.....................................55

    2.3.2.3 Desastres mistos.........................................................................56

    2.4 Desastres no mundo.....................................................................56

    2.5 Desastres no Brasil.......................................................................61

    3 ESTUDO DE CASO...........................................................................64

    3.1 O Rompimento da Barragem do Balnerio da Estncia Turstica

    de Paraguau Paulista..................................................................64

    3.1.1 Aspectos histricos e caractersticas do municpio......................64

    3.1.2 Descrio do Desastre .................................................................67

    3.1.3 Lies aprendidas.........................................................................804 FUNDAMENTOS PARA AUXILIAR O PLANO DA GESTO DE

    CRISES EM EMERGNCIAS COM RUPTURA DE BARRAGENS 82

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    4.2.1.1 Sistema Nacional de Defesa Civil.............................................120

    4.2.1.2 Sistema Estadual de Defesa Civil.............................................122

    4.2.1.3 Segurana global da populao ...............................................124

    4.2.2 Fases do atendimento aos desastres.........................................125

    4.2.2.1 Preventiva .................................................................................125

    4.2.2.2 Socorro......................................................................................125

    4.2.2.3 Assistencial ...............................................................................126

    4.2.2.4 Recuperativa .............................................................................126

    4.2.3 Plano de Emergncia .................................................................128

    4.3 Estrutura Operacional de Atendimento Emergencial do Corpo de

    Bombeiros do Estado de So Paulo...........................................132

    4.4 Aspectos legais para atuao do CB no local de crise..............134

    4.4.1 O Posto e a Base de Bombeiros frente s Emergncias...........134

    4.4.2 Sistema de Comando e Operaes em Emergncias (SICOE) 137

    4.4.3 Fora-Tarefa ...............................................................................141

    4.4.4 Participao de outros rgos no local de Emergncia.............1424.4.5 Capacidade de resposta da regio frente ao desastre ..............144

    4 4 6 Tomada de deciso pelo Cmt do UOp/CB 145

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    6.2.3 Aes operacionais.....................................................................167

    6.2.3.1 Fase preventiva.........................................................................168

    6.2.3.2 Evacuao das populaes ribeirinhas....................................171

    6.2.3.3 Operaes de salvamento........................................................172

    6.3 Formulrio de segurana de barragens .....................................174

    CONCLUSES......................................................................................175

    REFERNCIAS .....................................................................................182

    APNDICE A QUESTIONRIO COMANDANTES DE SGB............190

    APNDICE B FICHA CADASTRO DE BARRAGENS .....................196

    ANEXO A LISTA DE ACIDENTES COM BARRAGENS NO BRASIL

    ANOS DE 2007 E 2008....................................................................198

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    INTRODUO

    As barragens so obras de engenharia que existem desde a Antigidade e

    que acompanharam o desenvolvimento do homem, permitindo sua fixao a terra

    atravs do fornecimento de gua para o consumo humano e animal, o

    desenvolvimento da agricultura atravs da irrigao e o avano da industrializaopor meio do fornecimento de energia eltrica. Esto intrinsecamente associadas ao

    desenvolvimento e, em muitos pases, foram utilizadas como fomentadoras do

    crescimento.

    Entretanto, estas obras de engenharia tambm podem ser a causa de

    grandes catstrofes. Acidentes envolvendo a ruptura de barragens podem implicar

    no alagamento de vastas reas jusante e causar danos imensurveis, gerando

    perdas humanas, patrimoniais e ambientais, criando srios prejuzos e transtornos

    para o dia-a-dia das populaes atingidas, bem como para os rgos responsveis

    pelo atendimento emergencial, especialmente os rgos locais. Diversas so as

    causas de desastres e catstrofes desta natureza, sendo mais constantes em umasdo que em outras regies, diversificando-se nas intensidades e nas conseqncias

    geradas, porm, invariavelmente, resultando situaes bastante inconvenientes e

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    barragens, pois na maioria das vezes so surpreendidos com a emergncia,

    momento em que contam, a princpio ou to somente, com a boa vontade esolidariedade dos rgos pblicos e da comunidade daquela localidade, que

    geralmente no est preparada para situaes que ultrapassam sua capacidade de

    resposta, ocasionando perda de tempo em momentos em que cada minuto

    precioso e o, conseqente, aumento das probabilidades de se cometer erros,

    expondo a figura das autoridades constitudas de forma desnecessria, podendo

    inclusive gerar crises polticas ou institucionais.

    O objetivo do presente trabalho foi demonstrar que os desastres e as

    catstrofes com rupturas de barragens no tm hora nem lugar para ocorrer, este

    trabalho tem por objetivo geral a elaborao de um compndio tcnico, contendo os

    procedimentos operacionais para a gesto de crises pelo Corpo de Bombeiros noatendimento inicial a emergncias com ruptura de barragens, de modo que haja

    padronizao das atividades preventivas e de socorro s comunidades afetadas.

    Ser uma fonte de consulta onde se pretende agrupar as diversas normas e estudos

    sobre o assunto, criando facilidades para o desempenho das funes de comando e

    gerenciamento das emergncias, com a pretenso de que se torne algo realmente

    til e de fcil consulta. Possibilitar uma melhor preparao dos Oficiais e praas do

    Corpo de Bombeiros da Polcia Militar do Estado de So Paulo ao desempenho das

    s as ati idades proporcionando as condies tcnicas ideais consec o das

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    desastres repentinos dessa natureza, despidos de qualquer possibilidade de

    antecipao e portadores de situaes de caos social, possam deixar asorganizaes locais, de apoio ao desastre, em pnico, desprovidas da capacidade

    de resposta.

    A metodologia adotada consistiu em uma ampla abordagem dos

    documentos existentes, buscando associar, de forma sistmica e integrada, as

    caractersticas construtivas bsicas dos diversos tipos de barragens, com as

    probabilidades de acidentes, bem como a atuao do profissional policial militar

    bombeiro neste tipo de emergncia.

    Em uma etapa preliminar estabeleceu como hiptese que o presente

    trabalho necessrio, pois a Constituio da Repblica, no capitulo da "SeguranaPblica" artigo 144, 5 determina: "- aos corpos de bombeiros militares [...]

    incumbe a execuo de atividades de defesa civil", portanto, claro est que durante

    um desastre, todos os esforos devem convergir para que o profissional policial

    militar bombeiro saiba identificar o perigo iminente e aplicar os procedimentos

    emergenciais para o socorro das comunidades atingidas, estando amparado

    tecnicamente para a tomada de deciso, exercendo desta forma papel fundamental

    na soluo do evento desastroso.

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    E como ltima hiptese, os acidentes com barragens so uma

    preocupao permanente, tanto por sua importncia econmica especfica comopelo risco potencial que representa a possibilidade de ruptura ou outro evento grave,

    em termos de vidas humanas, impacto ao meio ambiente, prejuzos materiais e o

    reflexo econmico financeiros. Os acidentes com barragens no Brasil tm se

    agravado nos ltimos anos; os eventos meteorolgicos adversos, combinados com a

    falta de manuteno de infra-estrutura hdrica, resultaram na ruptura de centenas

    barragens de diversos tamanhos e tipos, causando diversas mortes e os mais

    variados danos materiais, ambientais e sociais. Os maiores problemas advm das

    pequenas e mdias barragens que num efeito domin, podem vir a comprometer

    obras maiores.

    Esta monografia apresenta-se dividida em seis captulos, um anexo e doisapndices. Na Introduo so expostas as bases e a motivao para os estudos

    desenvolvidos no que tange as emergncias envolvendo rupturas de barragens.

    O Captulo 1 relata os aspectos tcnicos e construtivos de barragens no

    Brasil, abordando historicamente a concepo da construo de barragens no Brasil

    e suas principais finalidades scio-econmicas. Apresenta os conceitos tcnicos e

    principais tipos de barragens e aborda a importncia dos vertedouros. Este captulo

    tem como objeti o principal introd ir os princpios constr ti os e geotcnicos

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    conceitos relacionados aos desastres e as repercusses dos desastres naturais no

    meio urbano.

    O Captulo 3, relata o acidente ocorrido no municpio de Paraguau

    Paulista/SP, quando chuvas constantes e de alta pluviometria provocaram a ruptura

    da barragem do Balnerio Parque Aqutico Benedicto Bencio, ocorrendo o

    extravasamento completo do lago de forma repentina e violenta jusante da

    represa, provocando grandes danos em pontes, estradas, estaes de tratamento

    de guas e esgotos, bem como alagamento de residncias ribeirinhas, imveis e

    vias pblicas, principalmente no municpio de Maraca/SP, comprometendo de forma

    impiedosa o meio ambiente.

    O Captulo 4, contempla os fundamentos para auxiliar o plano da gesto de

    crises em emergncias com rupturas de barragens pelo Corpo de Bombeiros da

    Polcia Militar do Estado de So Paulo, onde o sucesso do atendimento s situaes

    que envolvam tais ocorrncias estar ligado ao preparo tcnico do profissional

    policial militar bombeiro e da relao com a comunidade local, adotando

    procedimentos padronizados para uma resposta eficiente e rpida, dotando-se demaior grau de suportabilidade e de mobilizao de recursos para a mitigao dos

    desastres.

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    Nas concluses, sero delineadas as etapas deste trabalho, onde se

    pretende, aps a apresentao das propostas, atingir as hipteses apresentadas,verificando viabilidades e sugestes para o desenvolvimento de pesquisas futuras

    na rea de concentrao do tema estudado.

    O Anexo A traz a relao dos principais acidentes e incidentes com

    barragens ocorridos no Brasil nos dois ltimos anos.

    O Apndice A faz juntar ao trabalho o questionrio encaminhado a todos os

    comandantes de Subgrupamentos de Bombeiros do Estado de So Paulo,

    importante ferramenta que deu credibilidade e sustentao s hipteses elencadas.

    Finalmente, o Apndice B apresenta uma proposta de formulrio decadastro das barragens, constando dados importantes para uma anlise de risco e

    vulnerabilidade, que possibilitar ao comandante do Posto ou Base de Bombeiro

    local antever possveis emergncias e suas conseqncias.

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    1 ASPECTOS TCNICOS E CONSTRUTIVOS DE

    BARRAGENS NO BRASIL

    A segurana em barragens deve constituir como objetivo primordial

    concepo do projeto, os aspectos construtivos e, principalmente, a fase de

    operao dos sistemas de barragens, onde devero seguir parmetros especficos

    de engenharia e de qualidade das tcnicas empregadas na construo e

    manuteno desses barramentos.

    As conseqncias de um acidente com barragens, qualquer que seja seu

    tipo construtivo ou utilizao, podem ter conseqncias imensurveis em termos de

    impactos scio-econmicos e ambientais, sendo que so registradas inmeras

    rupturas de barragens no mundo e no Brasil.

    Relacionam-se alguns dados relativos a rupturas de barragens que foramobtidos do Boletim 99 (ICOLD, 1995):

    Captulo

    1

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    1.1 Histrico

    Desde os tempos mais remotos o homem sente a necessidade de represar

    gua, principalmente as das chuvas, para suprir sua falta durante a poca de

    estiagem, portanto fator primordial para a sua sobrevivncia. Com essa crescente

    necessidade, o homem desenvolveu a percepo de que a maioria dos rios tambm

    no conseguiam manter suas vazes durante todo o ano, sendo ento criado um

    sistema, a princpio rstico e arcaico, de represamento de gua, o que mais tarde

    deu origem as barragens.

    Segundo Jansen1 (1983, p. 01, traduo nossa), A engenharia de barragens

    uma parte vital da histria da civilizao. Reservatrios de abastecimento de guaforam, sem dvida, entre as primeiras estruturas concebidas pela humanidade.

    Demonstrando ainda que as barragens foram intimamente ligadas ascenso e

    declnio das civilizaes, especialmente para as culturas altamente dependente da

    irrigao.

    A histria no registra exatamente quando sistemas de irrigao e barragens

    foram construdas primeiro, porm em Costa (2001), a primeira barragem que se tem

    t i f i d S d El K f E it t d i d t 4 800

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    Segundo Word Commission on Dams2 (2000)

    Os cinco pases onde mais se construram barragens so responsveis pormais de trs quartos de todas as grandes barragens em todo o mundo,sendo que cerca de dois teros de todas as grandes barragens do mundoesto localizadas em pases em desenvolvimento. A energia hidreltrica responsvel por mais de 90% da produo total de eletricidade em 24pases, entre eles o Brasil e a Noruega. Metade das grandes barragens domundo foi construda exclusivamente para irrigao e estima-se que asbarragens contribuam com 12% a 16% da produo mundial de alimentos.Alm disso, em pelo menos 75 pases, grandes barragens foram

    construdas para controlar inundaes e em muitas naes barragenscontinuam como os maiores projetos individuais em termos de investimento.[] Hoje quase metade dos rios do mundo tem ao menos uma grandebarragem.

    Na figura 01, percebe-se a diviso dos pases com maior nmero de

    barragens, onde o Brasil ocupa a stima posio.

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    Quadro 01 - Registro das primeiras barragens brasileiras

    BARRAGEM ANO DECONCLUSO LOCALIZAO FINALIDADE TIPO

    Ribeiro doInferno 1883 MG Hidreltrica Terra

    Salo 1918 CE Combate ssecas Terra

    Rio do Peixe 1922 BA Abastecimentodgua Terra

    Rio dasPedras 1927 MG Hidreltrica

    ArcosMltiplos

    Rio Grande 1928 SP Hidreltrica Terra

    Rio Novo 1932 SP Hidreltrica ConcretoGravidade

    Rio do Cobre 1933 BA AbastecimentodguaConcretoGravidade

    Saco I 1936 PE

    Abastecimento

    dgua

    Alvenaria de

    PedraBugres/Salto 1951 RS Hidreltrica ConcretosGravidade

    Salto 1952 RS Hidreltrica ConcretoGravidade

    Salto Grande 1957 MG Hidreltrica ConcretoGravidade

    Rio Bonito 1958 ES Hidreltrica

    Concreto

    GravidadeSabugi 1965 RN Irrigao Terra

    Fonte: modificado do Ministrio do Interior, (1982, p. 279).

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    1.2 Conceituao de barragens

    Vrios autores definem o termo Barragem observando os critrios

    construtivos e utilizaes, onde se pode verificar que h vrios entendimentos sobre

    o termo em estudo, sendo que para a clareza de comunicao cabe estabelecer a

    aplicao dos conceitos segundo os autores abaixo:

    Para o Ministrio da Integrao Nacional, constando no Manual de

    Preenchimento da Ficha de Inspeo de Barragens (2005, p. 5), conceitua-se

    barragem como sendo qualquer obstruo em um curso permanente ou temporrio

    de gua, ou talvegue, para fins de reteno ou acumulao de substncias lquidas

    ou misturas de lquidos e slidos, compreendendo a estrutura do barramento, suas

    estruturas associadas e o reservatrio formado pela acumulao. Diques para

    proteo contra enchentes e aterros-barragem de estradas tambm se incluem

    nesta definio;

    No dicionrio Aurlio3, temos:

    Estrutura construda num vale e que o fecha transversalmente,proporcionando um represamento de gua; represa. A que se destina arepresar gua para utilizao no abastecimento de cidades em irrigao ou

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    Marangon (2004, p. 1), define barragem como: [...] um elemento estrutural,

    construdo transversalmente direo de escoamento de um curso dgua,destinado a criao de um reservatrio artificial de acumulao de gua.

    O Departamento de guas e Energia Eltrica do Estado de So Paulo -

    DAEE (2006, p. 35), esclarece que as barragens, tambm, so conhecidas como

    barramentos ou paramentos:

    So estruturas construdas transversalmente aos cursos dgua, com oobjetivo de modificar o fluxo, pela necessidade de elevao do nvel e/oupara acumular volumes com a finalidade como derivao das guas,controle de cheias, gerao de energia, navegao, lazer, etc. todomacio cujo eixo vertical esteja num plano que intercepte um curso d`gua erespectivos terrenos marginais, alterando suas condies de escoamentonatural, formando reservatrio de gua a montante, o qual tem finalidadenica ou mltipla (Portaria. DAEE 717/96).

    Segundo Menescal et al (2004, p. 935), barragem :

    [...] qualquer obstruo em um curso permanente ou temporrio de gua,talvegue, para fins de conteno ou acumulao de substncias lquidas oumisturas de lquidos e slidos, compreendendo a estrutura do barramento,suas estruturas associadas e o reservatrio formado pela acumulao.

    Esta mesma definio est sendo utilizada pela Cmara dos Deputados no

    Projeto de Lei n 1181/20035 em trmite naquela Casa.

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    1.3 Finalidade

    Existem vrios motivos para a construo de uma barragem, como ensinam

    Costa e Lana (2001):

    a) Controle de cheias - devido ocupao humana e degradao da bacia

    h necessidade de reter temporariamente grandes volumes de gua de modo a

    evitarem-se inundaes;

    b) Rejeitos ou mineraes - Comuns em reas mineiras, essas barragens

    destinam-se a conter as guas provenientes das mineraes e dos processos fabris,

    com a finalidade de evitar que as substncias qumicas invadam os mananciais ajusante;

    c) Correo torrencial - Embora de pequeno porte destinam-se a mudar o

    regime do rio, diminuindo-lhe a velocidade causadora de eroses e sedimentaes

    nocivas jusante;

    d) Conservao da gua - Destina-se a armazenar as guas pluviais

    fi d t l d d i d

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    conseqentemente, do material empregado na construo.

    Cabe ao corpo da barragem a funo de conteno do volume de gua

    represada, sendo considerado que a construo desse elementopode ocorrer em

    locais com caractersticas topogrficas e geotcnicas bastante diversificadas e com

    o uso de diferentes tipos de materiais. A partir desses materiais empregados na

    construo pode-se classificar o barramento.

    Dentre as principais estruturas se destacam: concreto, terra, enrocamento e

    mistas. Na construo civil brasileira encontram-se as barragens homogneas de

    terra, as zonadas de terra-enrocamento, as de enrocamento com face de concreto e

    as barragens de concreto.

    1.4.1 Barragens de terra

    Segundo Marangon (2004):

    [ ] b d i l b d b

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    Na figura 2, tem-se a seo tpica de uma barragem constando as

    nomenclaturas tcnicas a serem utilizadas, pelos policiais militares bombeiros,quando do atendimento de ocorrncias emergenciais envolvendo este tipo de

    estrutura.

    Fonte: DAEE. (2006, p. 37).Figura 02 - Seo tpica de barragem de terra.

    Existe certa variabilidade no tipo de barragem de terra, que poder ser

    dividida em duas classes.

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    A principal desvantagem desta construo est no fato de que ela se

    danifica ou pode ser destruda sob ao erosiva de ondas de cheia, caso acapacidade do vertedouro no seja suficientemente dimensionada.

    Fonte: Jornal do CREA/RS (2008, p. 08).6Figura 03 - Barragem de Terra

    Devido ao seu baixo custo em relao aos outros tipos de barragens, torna

    seu uso bastante freqente no Brasil, sobretudo para pequenos empreendimentosvoltados ao armazenamento de gua e de irrigao.

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    Estas barragens permitem muitas combinaes de aterros disponveis no

    canteiro de obra e com caractersticas geotcnicas diversas. Geralmente, estasbarragens so construdas em locais onde existam rochas ss, sem muito

    recobrimento de solo. As zonas permeveis so constitudas de areia, fragmentos de

    rochas ou cascalho, ou uma mistura desses materiais.

    De forma anloga s barragens homogneas de terra, estas obras esto

    sujeitas a danos ou destruio decorrentes das grandes cheias e, assim, devem ter

    uma capacidade adequada de escoamento.

    1.4.2 Barragens de enrocamento

    Cita Marangon (2004, p. 5):

    Esse tipo de barragem aquele em que so utilizados blocos de rocha detamanho varivel e uma membrana impermevel na face de montante.Devemos lembrar que a rocha de fundao adequada para uma barragemde enrocamento pode no ser aceit el para ma de concreto

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    Fonte: Fusaro (2007, P. 90).Figura 04 - Seo transversal tpica da Barragem de Enrocamento.

    Fonte: Fusaro (2007 p 89)

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    Fonte: SALES (2006, apud FRANCO, 2008, p.23).Figura 06 - Vista lateral de um reservatrio Barragem Concreto.

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    construo somente possvel quando a estrutura engastada em vales fechados,

    conforme figura 08. So mais raras, uma vez que o comprimento dessas barragensdeve ser pequeno em relao sua altura, o que exige a presena, nas encostas do

    vale, de material rochoso adequado e de grande resistncia, capaz de suportar os

    esforos a elas transmitidos. Essas barragens no so comuns no Brasil, pois

    dependem de vales profundos e fechados.

    Fonte: HCB Hidreltrica Cahora Bassa (2009)8Figura 08 - Barragem de Concreto - Arco.

    1.4.3.3 Barragem de concreto estrutural com contraforte

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    Fonte: US Reclamation Boreau (2001)9Figura 09 - Barragem de Concreto Contraforte.

    1.5 Vertedouros

    O vertedouro uma das partes mais importantes de uma barragem, seja ela

    de abastecimento, irrigao, navegao, usina hidreltrica, mineradora ou outras.

    uma obra de engenharia hidrulica, que possui um canal construdo artificialmente,

    com a finalidade de conduzir a gua de forma segura atravs de um barramento,

    servindo como sistema de vazo, impedindo a passagem da gua por cima da

    barragem quando ocorrem chuvas ou aumento da vazo.

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    barragem ou de forma totalmente independente. Quanto forma deoperao, os vertedouros podem ser classificados como principal (deservio) ou de emergncia. O vertedouro principal aquele destinado adescarregar as vazes mais freqentes no dia-a-dia do funcionamento dabarragem e o de emergncia, as vazes de cheia devidas s precipitaesintensas ou outros eventos externos e no usuais. Convm ressaltar que osvertedouros podem ter, ou no, dispositivos de controle de vazo(comportas).

    Um vertedouro deve possuir as seguintes caractersticas:

    a. resistncias adequadas eroso e cavitao, bem como uma altura

    adequada dos muros laterais para a passagem segura das cheias

    ocasionadas pelo perodo chuvoso;

    b. adequada dissipao de energia, a fim de prevenir solapamentos e/oueroses que poderiam pr em risco o vertedouro ou a barragem;

    c. capacidade para suportar a passagem de entulho flutuante durante as

    cheias, ou proviso de uma barreira efetiva contra entulhos;

    d. confiabilidade nos mecanismos de abertura das comportas durante

    grandes cheias, incluindo o fornecimento de energia, controle e

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    Fonte: Universidade Federal de Gois (2003, p.25)10.Figura 10 - Esquema vertedouro em barragem.

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    2 MUDANAS CLIMTICAS E AS REPERCUSSES

    DOS DESASTRES NATURAIS NO MEIO URBANO

    2.1 Mudanas climticas

    2.1.1 No mundo

    A humanidade vem enfrentando, nos dias de hoje, graves ameaas

    ocasionadas pelas alteraes climticas, sendo que a mais grave a possibilidade

    do aquecimento global. As conseqncias estaro relacionadas s alteraes

    drsticas dos padres climticos, com repercusses significativas na maneira comovivem os seres humanos, provocando desastres naturais que causaro srios

    prejuzos s atividades econmicas e comprometimento da integridade fsica e da

    Captulo

    2

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    capacidade tanto de prever, como de entender os processos climticos, aexemplo dos efeitos El Nino e La Nina. [...] Atravs dessas informaes, foipossvel conhecer a seqncia de concentraes de GEE na atmosfera decerca de 500 mil anos. Sabemos que a concentrao de CO 2 na atmosferanos ltimos 200 anos aumentou em cerca de um tero. Para o perodoconsiderado, nunca essa variao ocorreu to rapidamente. Ao mesmotempo, a concentrao atual equivale a um recorde de 160.000 anos e,alm disso, o ano de 1998 foi o ano mais quente registrado at hoje. [...]Essa alterao dever provocar um aumento da temperatura media noplaneta entre 3 e 5 0C nos prximos 100 anos, o que ir provocar impactossignificativos no nosso modo de vida atual.

    O Relatrio de Desenvolvimento Humano12 (RDH) 2006, lanado pelo

    Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), j apontava,

    conforme podemos visualizar nos mapas constantes das figuras 12 e 13, que as

    alteraes climticas decorrentes do aquecimento global deveriam atingir o rtico,

    sendo esta rea a mais afetada do planeta, podendo sofrer um aumento de

    temperatura superior a 7,5 C entre 2090 e 2099. Na Amrica do Norte, a regio dosgrandes lagos deve concentrar as maiores elevaes na temperatura. Na frica, o

    Saara e os pases prximos frica do Sul sero os mais afetados.

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    Fonte: ONU (2007).Figura 13 - Aquecimento Global entre 2090 e 2099.

    Portanto os efeitos desse aumento tem o potencial de serem desastrosos.

    Alm disso, o estudo prev que tendem a ser mais freqentes desastres naturais

    como ondas de forte calor, secas, inundaes, ciclones e furaces, como se pode

    verificar na matria jornalstica13 que segue:

    A tendncia de longo prazo que observamos continua: a mudana climtica j comeou, e muito provavelmente contribui para estas catstrofesnaturais", comentou Torsten Jeworrek, membro do diretrio da Munich Re,em comunicado. A prxima cpula da ONU sobre o clima, prevista paradezembro de 2009 em Copenhague, "deve definir claramente o caminho

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    2.1.2 O futuro climtico do Brasil

    Podemos notar ainda nos mapas das figuras 12 e 13 que, as estimativas

    prevem, uma rea que abrange o norte da Bahia, todo o serto nordestino, boa

    parte dos Estados do Par, do Amazonas e do Mato Grosso, regies que podem

    sofrer um acrscimo de at 1,5 C na temperatura mdia entre 2020 e 2029 e de at

    3,5 C entre 2090 e 2099.

    Muitos pesquisadores esto procurando prever o que poder acontecer com

    o clima do Brasil daqui a alguns anos. Pela anlise dos resultados encontrados

    pode-se verificar o consenso de que est havendo alteraes importantes no clima e

    principalmente no que se refere ao aumento da temperatura mdia das regies do

    pas. Este aquecimento poder gerar diversas conseqncias, sendo que uma delas

    o aumento dos eventos atmosfricos extremos, como as tempestades severas e

    concentradas em determinadas regies.

    Apesar, de no haver ainda um panorama sobre a relao direta entre as

    instabilidades atmosfricas e as mudanas climticas globais, verifica-se quetambm houve um aumento das tempestades nas ltimas dcadas, principalmente

    em escala regional

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    Vinculado ao aquecimento global, como uma das conseqncias diretas das

    mudanas climticas, nas ltimas dcadas, as pesquisas tm demonstrado que

    houve um aumento considervel no s na freqncia dos desastres naturais, mas

    tambm na intensidade destes desastres, o que resultou em srios danos e

    prejuzos scio-econmicos.

    Diversas reas do globo j esto sendo seriamente impactadas pelos

    desastres naturais, principalmente aqueles desencadeados por fenmenosatmosfricos extremos, causados em sua maioria pelas tempestades severas, sendo

    que nos ltimos relatrios do Intergovernmental Panel on Climate Change14 - IPCC

    (2006), apontam um aumento das precipitaes nas regies Sul e Sudeste do Brasil.

    A tendncia que essas precipitaes fiquem a cada ano mais intensas,

    concentradas e mal distribudas, podendo desencadear srios desastres naturais,

    como as inundaes e os escorregamentos.

    Esses fenmenos so praticamente impossveis de serem erradicados. Os

    esforos humanos devem ser direcionados para a elaborao e adoo de medidas

    preventivas e mitigadoras que possam amenizar o impacto causado pelos desastres

    naturais.

    No est do reali ado por Al es e Ojima (2008) concl ram q e

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    nico dia, o que tambm agrava a vulnerabilidade social, principalmente nasreas mais pobres.

    Neste contexto, sero abordados na prxima sesso alguns temas sobre

    desastres, com o objetivo de fornecer uma base conceitual slida, sem esgotar o

    assunto, que permita estabelecer um relacionamento entre as mudanas climticas

    e os desastres.

    2.2 Desastres

    Segundo Silva (1999), ao termo desastre associa-se uma multiplicidade de

    definies e analogias. Em linguagem corrente desastre surge como sinnimo dedesgraa, de infortnio e de m sorte. Este usualmente entendido como algo de

    natureza ruinosa e desoladora que se traduz numa situao de emergncia, para a

    qual imprescindvel uma interveno imediata.

    Para que se possam entender as circunstncias que dizem respeito aos

    desastres, torna-se necessria a padronizao de alguns conceitos especficos,

    retirados do Glossrio de Defesa Civil15 :

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    c. Calamidade:

    Desgraa pblica, flagelo, catstrofe, infortnio muito grande.

    d. Calamidade pblica:

    Situao anormal que provoca intensos e srios comprometimentos a rotina

    diria da comunidade afetada, ocasionando prejuzos incolumidade e vida das

    pessoas.

    e. Dano:

    Medida que define a severidade ou intensidade da leso resultante de um

    acidente ou evento adverso.

    Perda humana, material ou ambiental, fsica ou funcional, que pode resultar,

    caso seja perdido o controle sobre o risco.

    Intensidade das perdas humanas, materiais e ambientais induzidas s

    pessoas com nidades instit ies instalaes plantas ind striais e/o

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    muito superiores s possibilidades locais, exigindo a interveno coordenada dos

    trs nveis do Sistema Nacional de Defesa Civil (SEDEC).

    g. Danos suportveis ou superveis:

    Danos humanos, materiais e/ou ambientais menos importantes, intensos e

    significativos, normalmente de carter reversvel ou de recuperao menos difcil.

    Em conseqncia destes danos menos intensos e menos graves, resultam prejuzos

    econmicos e sociais menos vultosos e mais facilmente suportveis e superveis

    pelas comunidades afetadas.

    Nessas condies, os recursos humanos, institucionais, materiais e

    financeiros, necessrios ao restabelecimento da situao de normalidade, mesmoquando superiores s possibilidades locais, podem ser facilmente reforados com

    recursos estaduais e federais j disponveis.

    h. Desastre:

    Resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre

    um ecossistema vulnervel causando danos humanos materiais e ambientais e

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    Reconhecimento legal pelo Poder Pblico de situao anormal, provocada

    por desastre, causando srios danos comunidade afetada, inclusive

    incolumidade e vida de seus integrantes.

    j. Percepo do risco:

    Impresso ou juzo intuitivo sobre a natureza e a grandeza de um risco

    determinado.

    Percepo sobre a importncia ou gravidade de um risco determinado, com

    base no repertrio de conhecimentos que os indivduos acumulou durante seu

    desenvolvimento cultural e no juzo poltico e moral de sua significao.

    k. Prejuzo:

    Medida de perda relacionada com o valor econmico, social e patrimonial de

    um determinado bem, em circunstncias de desastres.

    l. Risco:

    Medida de danos o prej os potenciais e pressa em termos de

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    n. Sismo:

    um fenmeno de vibrao brusca e passageira da superfcie da terra,

    resultante de movimentos subterrneos de placa de rochas, de atividade vulcnica,

    ou por deslocamento (migrao) de gases no interior da terra, principalmente

    metano. O movimento causado pela liberao rpida de grandes quantidades de

    energia sob a forma de ondas ssmicas. Entre os efeitos dos terremotos esto as

    vibraes do solo, abertura de valas, deslizamentos de terras, tsunamis, alm deefeitos deletrios em construes feitas pelo homem.

    o. Situao de Emergncia:

    Reconhecimento legal pelo Poder Pblico de situao anormal provocada

    por desastres, causando danos suportveis e superveis pela comunidade afetada.

    p. Vulnerabilidade:

    Condio intrnseca do corpo ou sistema receptor que, em interao com a

    magnitude do evento adverso, determina a intensidade dos danos provveis.

    Relao e istente entre a magnit de de ma ameaa caso ela se

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    2.3.1 Quanto intensidade

    2.3.1.1 Desastres de nvel I

    Os desastres de pequena intensidade ou acidentes so caracterizados

    quando os danos causados so pouco importantes e os prejuzos pouco vultosos e,

    por estes motivos, so mais facilmente suportveis e superveis pelas comunidades

    afetadas. Nestas condies, a situao de normalidade facilmente restabelecida

    com os recursos existentes e disponveis na rea (municpio) afetada e sem

    necessidade de grandes mobilizaes.

    2.3.1.2 Desastres de nvel II

    Os desastres de mdio porte ou de intensidade mdia so caracterizados

    quando os danos causados so de alguma importncia e os prejuzos, embora no

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    preparadas, participativas e facilmente mobilizveis. Nessas condies, a situao

    de normalidade pode ser restabelecida, desde que os recursos mobilizados na rea

    (municpio) afetada sejam reforados com o aporte de recursos estaduais e federais

    j disponveis.

    2.3.1.4 Desastres de nvel IV

    Os desastres de muito grande porte ou intensidade so caracterizados

    quando os danos causados so muito importantes, graves e os prejuzos so muito

    vultosos e considerveis. Nessas condies, estes desastres no so superveis e

    suportveis pelas comunidades, mesmo que bem informadas, preparadas,participativas e facilmente mobilizveis, a menos que recebam ajuda (meios

    humanos, materiais e financeiros) de fora da rea afetada. Nessas condies, o

    restabelecimento da situao de normalidade depende da mobilizao e da ao

    coordenada dos trs nveis do Sistema Nacional de Defesa Civil e, em alguns casos,

    de ajuda internacional.

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    2.3.2.2 Desastres humanos ou antropognicos

    So aqueles provocados por aes ou omisses humanas. Relaciona-se

    com o prprio homem, enquanto agente e autor. Por isso so produzidos por fatores

    de origem interna. Podem produzir situaes capazes de gerar grandes danos

    natureza, aos habitats humanos e ao prprio homem.

    Normalmente, estes desastres so conseqncias de: aes desajustadas

    geradoras de desequilbrios scio-econmicos e polticos entre os homens;

    profundas e prejudiciais alteraes de seu ambiente ecolgico.

    Esses desastres podem ser classificados em desastres humanos denatureza:

    a. Tecnolgica: conseqncias indesejveis do desenvolvimento

    tecnolgico e industrial, sem preocupaes com a segurana contra sinistros.

    Tambm se relacionam com o intenso incremento demogrfico das cidades, sem ocorrespondente desenvolvimento de uma infra-estrutura compatvel de servios

    bsicos e essenciais como desastres com meios de transporte com produtos

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    2.3.2.3 Desastres mistos

    Ocorrem quando as aes e omisses humanas contribuem para

    intensificar, complicar e/ou agravar fenmenos naturais. Caracterizam-se, tambm,

    quando fenmenos adversos de origem natural provocam desastres, por atuarem

    em ambientes alterados e degradados pelo homem.

    2.4 Desastres no mundo

    O panorama mundial vem demonstrando o aumento considervel dosdesastres, abrangendo uma variedade de ocorrncias de diversas naturezas e

    intensidades, uma vez que as diferenas regionais fazem com que existam cenrios

    diferenciados quanto vulnerabilidade e complexidade do evento, o que sem dvida

    ir refletir em menor ou maior impacto nas comunidades afetadas.

    Primeiramente, os desastres tinham suas causas em fenmenos naturais,

    tais como os terremotos, enchentes, vulces, furaces, maremotos, geadas,

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    Para melhor ilustrar o cenrio mundial, as figuras 14 e 15 mostram a

    distribuio dos acidentes causados por fontes naturais no mundo e suas

    conseqncias com relao s comunidades afetadas.

    Fonte: Munich Re Group17 (2008)Figura 14 - Mapa retratando os tipos de acidentes naturais por regio do

    globo no ano de 2008.

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    magnitude pode ser parcialmente explicado pelo aumento da notificao de

    desastres e especialmente pelas alteraes climticas. Verificamos, tambm na

    figura 17, o nmero de vtimas entre os anos de 1976 e 2005, onde o Brasil

    encontra-se com registros entre 1 e 4,9 vtimas por 100.000 habitantes.

    Fonte: Universit Catholique de Louvain Belgium (2007, p. 18).

    Figura 16 - Grfico de anlise do nmero de desastres naturais no mundo 1987 2006.

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    Na figura 18 so apresentados os nmeros de vtimas (mortos mais pessoas

    afetadas), em vez de separar nmeros de mortos e de pessoas afetadas, sendo que

    esta opo deve-se porque pases desenvolvidos e em desenvolvimento variam

    significativamente estes nmeros. Por exemplo, o nmero de mortes causadas por

    terremotos so geralmente mais elevadas nos pases em desenvolvimento e menor

    nos pases desenvolvidos, sendo que o inverso verdadeiro para o nmero de

    afetados. Desta maneira, pode-se compreender o impacto humano mundial nas

    catstrofes naturais. Durante o perodo analisado, o nmero de vtimas variava entre100.000 e 300.000 pessoas em quase todos os anos.

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    Fonte: Universit Catholique de Louvain Belgium (2008)Figura 19 - Mapa retratando o nmero de pessoas afetadas por desastres

    naturais em 2007.

    Segundo Scheuren et al., (2008, p. X), em 2007, foram notificadas 414

    catstrofes naturais no mundo. Os desastres naturais mataram 16.847 pessoas,

    afetando mais de 211 milhes de outras e U$ 74,9 bilhes de prejuzos econmicos.

    No ano passado, o nmero de catstrofes mundiais confirmou a tendncia

    ascendente na ocorrncia de desastres naturais. Esta tendncia foi impulsionadaprincipalmente pelo aumento do nmero de inundaes (fenmenos hidrolgicos) e

    tempestades (fenmenos meteorolgicos) Na ltima dcada o nmero de

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    Continua O Globo, enfocando sua matria jornalstica sobre as causas dos

    desastres naturais e os prejuzos causados a economia mundial:

    A totalidade dos danos econmicos, avaliados em US$ 200 bilhes, foi duasvezes e meia maior que em 2007 (US$ 82 bilhes), mas ficou abaixo dorecorde de US$ 232 bilhes registrado em 2005. Os danos asseguradosaumentaram 50% em relao a 2007, atingindo US$ 45 bilhes."A tendncia de longo prazo que observamos continua: a mudana climtica j comeou, e muito provavelmente contribui para estas catstrofesnaturais", comentou Torsten Jeworrek, membro do diretrio da Munich Re,

    em comunicado. A prxima cpula da ONU sobre o clima, prevista paradezembro de 2009 em Copenhague, "deve definir claramente o caminhopara chegar a uma reduo de pelo menos 50% das emisses de gases deefeito estufa daqui a 2050", acrescentou Jeworrek, avisando: "no podemosesperar, para no prejudicar as futuras geraes".

    Os nmeros mostram que os desastres naturais no mundo continuam a

    crescer e o grande desafio estar preparado para superar os impactos dessas

    emergncias, minimizando-os ao mximo, fomentando a adoo de medidas globaisde conscientizao desse tema.

    2.5 Desastres no Brasil

    Para Repulho (2005, p. 34), o Brasil devido ao seu tamanho geogrfico, s

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    problemas bem caracterizados nesta regio: as enxurradas, que alagam emminutos as cidades de So Paulo, do Rio de Janeiro e outras, com mortos,pnico e danos econmicos, e tambm os grandes e srios alagamentos

    dos municpios da Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro.

    A BBC Brasil19 (2003), em matria jornalstica informa que O Brasil o

    pas do continente americano com o maior nmero de pessoas afetadas por

    desastres naturais, segundo estudo divulgado pela Federao Internacional da Cruz

    Vermelha e do Crescente Vermelho. Alega que cerca de 12 milhes de brasileirosforam afetados por diferentes desastres, como enchentes ou secas entre 1993 e

    2002, sendo que nesse mesmo perodo, 2.056 pessoas morreram no pas em

    conseqncia dessas mesmas causas. Esses nmeros so explicados pela grande

    populao e pela extenso territorial do Brasil, porm agravada pelas

    desigualdades sociais. Os nmeros derrubam o mito de que o Brasil um pas

    protegido, pois mesmo no tendo desastres naturais de grande repercusso como

    terremotos ou furaces, a populao esta sujeita a inmeras outras ocorrncias

    provocadas pela natureza.

    A tabela 01 mostra a quantidade e tipo de eventos naturais, bem como o de

    pessoas afetadas por desastres naturais no Brasil. Nesta, verifica-se que o Brasil se

    destaca entre os pases que mais possuem populao afetada por desastres

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    Tabela 01 - Desastres naturais no Brasil (1970 - 2005)

    Tipo dodesastre Quantidadede eventos

    Nmero

    demortes

    Nmero

    deferidos

    Nmero deafetados Nmero dedesabrigados

    Nmero

    total deafetados

    Vendaval 15 343 1.588 154.800 7.740 164.128Escorregamento/Deslizamento

    21 1.615 214 4.085.000 147.100 4.232.314

    Seca 16 20 0 47.252.000 0 47.252.000Terremoto 1 1 0 15.000 8.000 23.000Temperaturaextrema 7 323 600 0 0 600

    Inundao/Enchente 85 5.814 11.910 11.897.096 1.206.138 13.115.144Epidemia 10 2.029 0 532.664 0 532.664Infestao deinsetos 1 0 0 2.000 0 2.000

    Incndioflorestal 3 0 0 12.000 0 12.000

    Total 159 10.145 14.312 63.950.560 1.368.978 65.333.850Fonte: EM-DAT: (2005)20.

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    3 ESTUDO DE CASO

    3.1 O Rompimento da Barragem do Balnerio da Estncia Turstica de

    Paraguau Paulista

    O presente estudo de caso foi em decorrncia da experincia pessoal deste

    autor na citada emergncia, tem como objetivo passar aos leitores uma pequenaparcela das situaes e preocupaes vivenciadas na gesto deste desastre que foi

    considerado pela Defesa Civil do Estado o maior acidente envolvendo barragens do

    Estado de So Paulo. Todo o captulo foi baseado nos relatrios confeccionados

    pela Polcia Militar na presente ocorrncia.

    3.1.1 Aspectos histricos e caractersticas do municpio

    Captulo

    3

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    Caigangs.

    Domingos Paulino Vieira realizou nos primeiros anos da dcada de 1910, o

    loteamento das terras no entorno da estao ferroviria denominada "Estao de

    Monte Alegre", que se instalava na regio, dando origem ao povoado que ficou

    conhecido como "Moita Bonita", distante 6 Km de Conceio de Monte Alegre.

    O trafego ferrovirio foi aberto em 1916 o que possibilitou o desenvolvimentoda agricultura, expandindo as reas cultivadas, atraiu povoadores, provocando o

    crescimento demogrfico e econmico do novo povoado. Em 18 de dezembro de

    1923 foi criada a Vila Paraguau, elevada a categoria de Distrito de Conceio de

    Monte Alegre. Em 30 de dezembro de 1924, tornou-se unidade poltico-

    administrativa independente, com a sua elevao categoria de municpio, tendo

    sido instalado em 12 de maro de 1925. Em 1948, teve a sua organizao poltico-

    administrativa definida com o Distrito Sede de Paraguau Paulista e os Distritos de

    Bor, Conceio de Monte Alegre e Sapezal.

    A origem de "Paraguau" refere-se a ndia Tupinamb, esposa de Diogo

    lvares, o Caramuru, tendo em vista que a regio era habitada por indgenassilvcolas da tribo Caigangues.

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    O Municpio servido pelas rodovias estaduais: SP 270, SP 421, SP 284,

    todas asfaltadas e por rodovias municipais, sendo algumas asfaltadas e outras de

    cascalho ou terra, sendo que est distante 462 Km por rodovia e a 588 Km por

    ferrovia da capital do Estado.

    A temperatura anual oscila em torno de 22 C e no h variao ao longo do

    ano. Sua hidrografia firma-se no Rio Capivara e Ribeiro do Alegre.

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    Fonte: Google Earth (2009).Figura 21 - Municpio de Paraguau Paulista.

    3 1 2 Descrio do Desastre

    PARAGUAU PAULISTA

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    Fonte: Google Earth (2009).Figura 22 - Localizao da barragem.

    BARRAGEM

    PARAGUAU

    PAULISTA

    Espelho dgua

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    primeiro dia do ano, provocaram no municpio da Estncia Turstica de Paraguau

    Paulista inmeras ocorrncias de danos causados em conseqncia dos eventos

    naturais que se sucederam. Vrias represas situadas nos municpios de Joo

    Ramalho e Bor vieram a se romper, desaguando no lago artificial (Grande Lago) do

    Balnerio Parque Aqutico Benedicto Bencio, situado na Rodovia de Acesso a

    Paraguau Paulista, rea rural do municpio. Onde pelo acmulo das guas

    provenientes dessas outras represas, incluindo as das chuvas, houve o

    comprometimento do vertedouro, iniciando-se o alerta da possibilidade de ruptura dareferida barragem.

    Foi necessrio o emprego da Defesa Civil municipal e regional, prefeituras

    municipais e outros rgos pblicos e privados para aes em conjunto de

    conteno da emergncia e de socorro s populaes atingidas.

    Diante da situao crtica, o Comandante da Primeira Companhia do 32

    Batalho de Polcia Militar do Interior que tambm era Coordenador da

    Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC), respondendo naquele

    momento pela Regional de Defesa Civil do Interior 11 (REDEC/I-11), uma vez que

    seu titular estava de frias, bem como se somando a condio de formaoacadmica na rea de Engenharia Civil do citado Oficial, pois era o nico engenheiro

    presente ao e ento j ntamente com rios ol ntrios foi efet ado em primeiro

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    Companhia da Polcia Militar que o vertedouro estava comprometido e entraria em

    colapso em poucas horas.

    Apesar dos esforos em aumentar vazantes adicionais, para manter o nvel

    da represa, diminuindo assim a referida presso no dique de conteno (barragem),

    o vertedouro, conforme apresentao nas figuras 24, 25 e 26, no suportou a

    presso das guas e veio a romper-se em 06 de janeiro de 2007, por volta das

    10h00min, provocando o extravasamento completo do lago.

    Local de Ruptura da Barragem

    Vertedouro

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    Fonte: Acervo do Grupamento de Rdio Patrulha Areada PMESP, Base da cidade de Bauru (2007).

    Figura 25 - Rompimento da barragem.

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    Fonte: Google Earth (2009).Figura 27 - Distncia entre Paraguau Paulista e Maraca.

    As estradas locais como a Rodovia Raposo Tavares (SP-270), no Km 485,

    no cruzamento sobre o Ribeiro So Mateus, foi interditada nos dois sentidos devido

    a cheia do rio; na Rodovia Prefeito Jorge Bassil Dower (SP-421), Km 61 + 350m,cederam as cabeceiras de uma das pontes (20 metros de comprimento) em ambos

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    Fonte: Acervo do Grupamento de Rdio PatrulhaArea da PMESP, Base da cidade de Bauru (2007).Figura 28 - Danos e interrupo de rodovias.

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    Tambm, foram comprometidos o sistema de abastecimento de gua de

    Paraguau Paulista, com a paralisao da estao de tratamento de gua (ETA)

    afetando aproximadamente quarenta mil pessoas, bem como a estao de

    tratamento de esgoto (ETE) do municpio de Maraca, que ficou totalmente inundada,

    afetando aproximadamente treze mil pessoas.

    Foram contabilizados no municpio de Paraguau Paulista o cadastramento

    de trezentas e cinqenta e trs pessoas desalojadas que foram encaminhadas pararesidncias de parentes e amigos e sete pessoas desabrigadas, removidas Escola

    Municipal Alexandrina Penna, sendo que no municpio de Maraca foram

    cadastradas 261 pessoas desalojadas que foram encaminhadas para residncias de

    parentes e amigos e 48 pessoas desabrigadas, removidas ao Ginsio de Esporte

    Municipal, sendo necessrio a disponibilizao do estoque estratgico do Estado

    pela CEDEC, onde foram encaminhados aos municpios atingidos cestas bsicas,

    colches, lenis, cobertores, produtos de higiene pessoal e de limpeza, Kits de

    agasalhos.

    As figuras de 31 a 36 do mostras dos danos causados pela ruptura da

    barragem, onde alm da inundao de reas rurais, a rea urbana, principalmenteda cidade de Maraca foi drasticamente afetada pelo alagamento.

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    Fonte: Acervo do Grupamento de Rdio PatrulhaArea da PMESP, Base da cidade de Bauru (2007).Figura 32 - Alagamento da cidade de Maraca.

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    Figura 35 - Residncia atingida pelo alagamento.

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    O Sistema Municipal de Defesa Civil teve papel preponderante no

    assessoramento e fornecimento de informaes aos Prefeitos, aos Secretrios

    Municipais e para a Casa Militar do Palcio dos Bandeirantes sobre o gerenciamento

    da emergncia, na elaborao e coordenao dos planos contingenciais, na

    coordenao e superviso das aes, assim como na capacitao dos recursos

    humanos para as aes de enfrentamento ao evento.

    A atuao da Polcia Militar, como visto na figura 37, foi imprescindvel paraas aes de alerta e retirada de pessoas de reas de risco, interdio dos locais que

    seriam rota da enxurrada provocada pelo rompimento da represa, apoio aos

    Departamentos Municipais de Assistncia Social de ambos os municpios,

    levantamento e transmisso de dados aos rgos de gerenciamento de desastres

    do Estado, contabilizao de estragos e registro de ocorrncias de danos e suporte

    de logstica aos tcnicos da Defesa Civil do Gabinete do Governador, provando com

    estas atitudes que a presena da Corporao, atravs de seus profissionais, a

    garantia de eficcia e qualidade nos servios prestados sociedade.

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    voluntrios alimentados e em condio de manter o trabalho de ajuda humanitria

    (figuras 38 e 39).

    Figura 38 - Operao limpeza.

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    Figura 40 - Reunio do gabinete de crise.

    No quadro 02 constam pessoas que fizeram parte do atendimento ao

    desastre de ruptura de barragens, onde se somou a presente estrutura mais 46policiais militares, 11 bombeiros, 13 guardas municipais, 19 funcionrios municipais

    e 02 voluntrios da comunidade.

    Quadro 02 - Relao dos Integrantes da Defesa Civil Municipal (COMDEC) de Paraguau

    Paulista, participantes do gerenciamento da crise.

    continua

    NOME CARGOFUNO NA DEFESA

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    Concluso

    NOME CARGOFUNO NA DEFESA

    CIVIL DO MUNICPIO

    Mauro Godin Assistente GabineteSub-Coordenador I

    Transportes/Veculos

    Nilson Carlos Itelvino Assistente GabineteSub-Coordenador IITransportes/Veculos

    Maria ngela CenciQueiroz Diretora DepartamentoAssistncia Social

    CoordenadoraAlojamentos e ServiosSociais

    Walquria DonizeteVieira de Souza Assistente Social

    Sub-Coordenadora II Servio Social

    Dalva Aparecida do RioGonalves Assistente Social

    Sub-Coordenadora III Alojamentos

    Ronny Emerson Gomes 2 Tenente Comandantedo 1 Peloto PM deParaguau Paulista

    Coordenador deSegurana Pblica

    Emlio Carlos CrystalJnior

    2 Sargento do 1 PelotoPM de Paraguau Paulista

    Sub-Coordenador I deSegurana Pblica

    Jos Alexandre Santos

    Dias Antunes

    Comandante Guarda

    Municipal

    Coordenador Vigilncia

    Municipal PatrimonialFonte: COMDEC Paraguau Paulista.

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    fossem amenizados e atuaram na linha da preveno, buscando, com eficincia, a

    retirada da populao vulnervel, ou seja, a populao ribeirinha, culminando paraque no houvesse vtimas.

    Atravs das aes de Defesa Civil e do emprego do Sistema de Comando e

    Operaes em Grandes Emergncias (SICOE), foi possvel coordenar as operaes

    no desastre, tendo como principal objetivo o de garantir a segurana e preservao

    de vidas humanas, desenvolvendo atividades para amenizar os estragos provocadospelas chuvas e garantir condies para socorro de vtimas.

    Como pde ser constatado no estudo do caso apresentado, foram

    detectados dificuldades para a gesto da crise, uma vez que o coordenador das

    aes de emergncia se viu muitas vezes isolado por falta da atuao de

    representantes de alguns rgos de emergncias, fato este ocorrido talvez pela faltade entrosamento entre as equipes, tendo que atuar pessoalmente nos diversos

    cenrios operacionais de desastres na regio, inclusive como porta-voz; o sistema

    de comunicaes apresentou falhas, dificultando a delegao e transmisso de

    tarefas e recepo de informaes; houve falta de um plano de emergncia que

    abordasse acidentes com barragens, informando as caractersticas tcnicas das

    partes construtivas e de sustentao da barragem, procedimentos de avaliao da

    estabilidade estrutural bem como procedimentos para situaes de emergncia o

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    4 FUNDAMENTOS PARA AUXILIAR O PLANO DA

    GESTO DE CRISES EM EMERGNCIAS COM

    RUPTURA DE BARRAGENS.

    4.1 Anlise de risco e segurana da barragem

    Para Silva (1999), [...] Ruptura de barragens est entre o conjunto de riscos

    classificados como de baixa probabilidade de ocorrncia e com um potencial

    catastrfico elevado. As barragens so geralmente associadas a um elevado

    potencial de risco devido possibilidade de um eventual incidente ou acidente, com

    conseqncias significativas para as suas prprias estruturas e, ao meio scio-

    econmico-ambiental inserido em sua regio de influncia.

    Devido a inmeros incidentes relatados ao redor do mundo, ao aumento nasdimenses das novas barragens e ao envelhecimento de uma grande

    Captulo

    4

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    possibilidade, mesmo que remota, de ser, em resultado de um acidente, a causa de

    tragdias provocadas por cheias sbitas.

    Alguns acidentes que ocorreram no mundo e que mereceram destaque pelo

    nmero de vtimas fatais, na segunda metade do sculo XX, obrigaram a

    comunidade tcnica a refletir no risco nos vales a jusante e na preveno contra os

    potenciais efeitos de rupturas de barragens. Citam-se, a ttulo de exemplo, as mais

    importantes:

    Quadro 03 - Nmero de mortos causados em acidentes com ruptura de barragens

    Barragens Pas e ano Altura (m)Nmero de

    mortos estimado

    South Fork USA (1889) 22 4.000

    Saint Francis USA (1928) 55 2.000

    Veja de Terra Espanha (1959) 34 400

    Malpasset Frana (1959) 66 700

    Ors Brasil (1960) 54 1000

    Baldwin Hills USA (1963) 18 3

    Teton USA (1979) 83 6Hirakud ndia (1980) 61 118

    F t ICOLD (1997)

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    dependem das caractersticas do reservatrio e do tipo do barramento e,

    fundamentalmente, das caractersticas da ocupao para jusante das margens do

    rio.

    A existncia de represas em cascata ao longo de um rio pode agravar,

    significativamente, os danos causados pela ruptura de uma das barragens

    localizadas mais a montante. Com efeito, as barragens a jusante podem ir sendo

    destrudas pela passagem da onda de cheia, sobrepondo-se, assim, os efeitos de

    sucessivas rupturas em cadeia.

    Para Menescal et al. (2001, p.65), Os maiores problemas observados

    advm dos pequenos barramentos que, num efeito domin, podem vir a

    comprometer obras maiores e at causar mortes e grandes prejuzos econmicos.

    O Ministrio da Integrao Nacional (2002 c), em seu manual de Segurana

    e Inspeo de Barragens, utilizado obrigatoriamente para barragens destinadas a

    reter e/ou represar guas ou rejeitos, com altura superior a 15 (quinze) metros, do

    ponto mais baixo da fundao crista; ou capacidade total de acumulao do

    reservatrio igual ou maior que 1 (um) milho de metros cbicos, faz a seguinte

    classificao, conforme tabela 04, de acordo com as conseqncias de sua ruptura,

    baseando-se no potencial de perdas de vidas e nos danos econmicos:

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    se enquadrem na definio acima, mas que possam provocar danos em caso de

    ruptura ou acidente.

    Para o entendimento das anomalias que podem provocar emergncias com

    rupturas de barragens, necessita-se que os profissionais policiais militares

    bombeiros saibam os seguintes conceitos:

    a. Percolao: Passagem da gua pelo macio e fundao, conforme

    visto na figura 41, sendo que se torna problema quando o solo do

    macio ou da fundao carreado pelo fluxo de gua, ou quando

    ocorre um aumento de presso na barragem ou na fundao. O

    aumento de poropresses e saturao no macio e na fundao

    causam perda de resistncia.

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    barragem e este poro cresce, por eroso, para todos os lados, at

    ocorrer o colapso (ver figura 42).

    Fonte: MENESCAL (2008).Figura 42 - Ruptura de Barragem por Piping.

    c. Depresses: Podem ser causadas por recalque no macio ou fundao.

    Tais recalques podem resultar na reduo da borda livre (folga) e

    representa um potencial para o transbordamento da barragem durante o

    perodo das cheias. A ao das ondas no talude de montante pode

    remover o material fino do macio ou da camada de apoio (transio) do

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    concentrado. Indicam a presena de recalques diferenciais dentro do

    aterro ou da fundao; e

    3) Trincas longitudinais: Ocorrem na direo paralela ao comprimento

    da barragem. Podem indicar: comeo de instabilidade do talude,

    permitindo a penetrao de gua no macio. Quando a gua penetra no

    macio, a resistncia do material junto trinca diminuda. A reduo

    da resistncia pode acelerar o processo da ruptura do talude.

    Fonte: MENESCAL (2008).Figura 43 - Instabilidade da Barragem por trincas.

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    macio, por saturao do talude, por percolao ou pelo fluxo

    superficial.

    2) Ruptura profunda: sria ameaa integridade da barragem. As

    rupturas profundas, tanto no talude de montante como de jusante,

    podem ser indicaes de srios problemas estruturais. Na maioria

    dos casos, ir requerer o rebaixamento ou drenagem do reservatrio

    para prevenir possveis aberturas do macio.

    f. Galgamento: O galgamento (overtopping), visto na figura 44, a

    passagem da gua sobre a barragem. O galgamento pode ser causado

    pelo mau dimensionamento do descarregador de superfcie, ocorre

    quando entra no reservatrio um grande volume de gua originado por

    uma forte precipitao ou pela formao de uma onda dentro doreservatrio, de origem ssmica ou provocada pelo deslizamento de

    uma grande quantidade de terra das encostas.

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    cresce com o tempo, por eroso, numa velocidade que depende do material da

    barragem e das caractersticas do reservatrio.

    Entende-se por