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GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS: UMA ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA Tainan Rodrigues de Oliveira Neves (PUCPR) [email protected] Everton Drohomeretski (FAE/PUCPR) [email protected] Sergio E. Gouvea da Costa (PUCPR/UTFPR) [email protected] A gestão da cadeia de suprimentos, mais conhecida como supply chain management (SCM), tem sido amplamente estudada e discutida tanto no ambiente profissional quanto acadêmico. Por apresentar uma característica de integração dos processos-chhave dos negócios, o SCM abrange diversas áreas do conhecimento com intuito de gerar vantagem competitiva aos seus agentes. A literatura existente acerca desse campo indica pesquisas em várias dessas áreas de SCM. Dessa forma, este artigo apresenta uma análise da literatura de SCM, com objetivo de identificar as principais características de pesquisa em artigos científicos publicados em periódicos internacionais, no período de 1996 a março de 2012. Para atingir esse objetivo, os artigos foram mapeados e utilizou-se a metodologia de análise bibliométrica, que forneceu informações para identificar quais áreas de SCM tem sido mais explorada nesses artigos, além de identificar número de periódicos, autores e métodos mais utilizados. A análise foi baseada em dois pontos principais: a) um estudo quantitativo em relação à frequência de artigos no período determinado, número de publicações por periódico e métodos de pesquisa utilizados; e b) a criação de categorias para as áreas de pesquisa mais latentes com síntese dos autores relacionados a cada tema. Como resultado principal desse artigo tem-se a apresentação da evolução no campo de SCM e as áreas de pesquisa mais discutidas no universo de publicações estudado. Palavras-chaves: Gestão da cadeia de suprimentos, bibliometria, SCM XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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GESTÃO DA CADEIA DE

SUPRIMENTOS: UMA ANÁLISE DA

PRODUÇÃO CIENTÍFICA

Tainan Rodrigues de Oliveira Neves (PUCPR)

[email protected]

Everton Drohomeretski (FAE/PUCPR)

[email protected]

Sergio E. Gouvea da Costa (PUCPR/UTFPR)

[email protected]

A gestão da cadeia de suprimentos, mais conhecida como supply chain

management (SCM), tem sido amplamente estudada e discutida tanto

no ambiente profissional quanto acadêmico. Por apresentar uma

característica de integração dos processos-chhave dos negócios, o

SCM abrange diversas áreas do conhecimento com intuito de gerar

vantagem competitiva aos seus agentes. A literatura existente acerca

desse campo indica pesquisas em várias dessas áreas de SCM. Dessa

forma, este artigo apresenta uma análise da literatura de SCM, com

objetivo de identificar as principais características de pesquisa em

artigos científicos publicados em periódicos internacionais, no período

de 1996 a março de 2012. Para atingir esse objetivo, os artigos foram

mapeados e utilizou-se a metodologia de análise bibliométrica, que

forneceu informações para identificar quais áreas de SCM tem sido

mais explorada nesses artigos, além de identificar número de

periódicos, autores e métodos mais utilizados. A análise foi baseada

em dois pontos principais: a) um estudo quantitativo em relação à

frequência de artigos no período determinado, número de publicações

por periódico e métodos de pesquisa utilizados; e b) a criação de

categorias para as áreas de pesquisa mais latentes com síntese dos

autores relacionados a cada tema. Como resultado principal desse

artigo tem-se a apresentação da evolução no campo de SCM e as áreas

de pesquisa mais discutidas no universo de publicações estudado.

Palavras-chaves: Gestão da cadeia de suprimentos, bibliometria, SCM

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

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1. Introdução

A gestão da cadeia de suprimentos, conhecida amplamente como Supply Chain Management

(SCM), tem recebido atenção desde o início dos anos 1980. Desde então muitos autores tem

destacado a importância desse novo modelo colaborativo e atribuído-lhe conceitos e

elementos determinantes para ganhar vantagem competitiva.

A evolução no campo da gestão da cadeia de suprimentos foi impulsionada, principalmente,

pelas mudanças rápidas na prática global dos negócios. Bales et al. (2004) confirmam que

esse novo contexto tem forçado as empresas a constantemente reavaliarem, em um nível

estratégico, as formas que objetivam agregar valor e reduzir os custos ao longo do negócio.

O SCM caracteriza-se, portanto, pela integração de processos-chave que agregam valor aos

produtos ou serviços desde os fornecedores primários até o cliente final. Tan et al. (2002)

argumentam que SCM é uma filosofia de gestão que se estende além das atividades intra-

empresariais, e que busca por meio da colaboração e parceria alcançar um objetivo comum a

todos os agentes envolvidos, além de apresentar uma importante estratégia organizacional

com intuito de melhorar o desempenho a longo prazo da cadeia como um todo.

Cambra e Polo (2008) consideram o SCM como um fator determinante para o sucesso dos

negócios, e destacam que o mesmo exige uma visão macro da cadeia de abastecimento que

integra todos os elementos e áreas principais do sistema. Quanto à concepção da cadeia,

existem autores discutindo SCM relacionado a diversas áreas, dentre elas, atividades

logísticas, integração ao longo da cadeia, compartilhamento de informações, e práticas de

sustentabilidade (CROOM et al., 2000).

O objetivo deste artigo é identificar quais são as principais características das pesquisas

ligadas ao gerenciamento da cadeia de suprimentos entre os anos de 1996 e 2012. Tem,

portanto, como contribuição a categorização de áreas do SCM que têm sido mais discutidas

em periódicos internacionais, identificadas a partir de uma revisão e mapeamento da

literatura.

Estudos correlatos em SCM já foram realizados por autores como Seuring e Müller (2006) e

Giannakis (2012), que desenvolveram uma análise estruturada da literatura acerca do tema

nos últimos anos. O artigo está estruturado em 5 seções: introdução, seguida pela

fundamentação teórica acerca do campo de SCM e apresentação da metodologia de pesquisa,

a análise das publicações estudadas e as considerações finais do artigo.

2. Gestão da Cadeia de Suprimentos (SCM)

Segundo Cooper et al. (1997), apesar do conceito de cadeia de suprimentos ter surgido em

torno de 1980, seus pressupostos fundamentais como gerenciamento de operações inter-

organizacionais, sistemas integrados e troca de informações são mais antigos.

O termo gestão da cadeia de suprimentos ganhou maior relevância e tornou-se um campo de

estudo emergente. O número de sessões abordando o SCM na Annual Conferece of the

Council of Logistic Management, além de publicações e revistas dedicadas ao SCM, tem

crescido nos últimos anos. No entanto, mesmo ganhando destaque, ainda há uma considerável

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confusão quanto ao significado do termo SCM. Autores como Cooper, Lambert e Pagh (1997)

apontaram a existência de múltiplas perspectivas relacionadas a logística e SCM, observando

que profissionais e educadores têm abordado vários conceitos sobre a cadeia de suprimentos,

tais como: definindo-a como a própria logística, como uma extensão da logística, ou como

uma abordagem mais abrangente para integração de negócios.

Cooper et al. (1997) argumentam que a logística e SCM não têm a mesma definição, portanto,

não há necessidade de substituir os termos, como defende a perspectiva de renomeação do

campo da logística para SCM. Os autores explicam ainda que na realidade, esse conceito

intensifica a confusão no campo ainda emergente da SCM e reduz a importância de atingir um

nível mais amplo de integração entre as empresas. Construir e gerenciar o relacionamento

entre os membros da cadeia constitui um fator importante no conceito de SCM, pois uma

cadeia integrada por parceiros deve ser gerenciada de maneira diferente de uma organização

que atua de forma isolada.

Definições como a do Centro Internacional de Excelência Competitiva de 1994 já contribuiam

com essa afirmação, identificando SCM como a integração dos processos do negócio desde o

usuário final até os fornecedores primários de matéria-prima, serviços e informações que

agregam valor para os clientes.

Ballou (2007) confirma que a SCM não é uma abordagem nova e reconhece que muitas áreas

da logística foram incorporadas e formam a base da SCM, inferindo que a transferência de

mercadorias de uma entidade empresarial para outra requer coordenação de demanda e

fornecimento ao longo do canal. Dessa forma, autores como Ballou acreditam que SCM é um

processo evolutivo, como demonstra a Figura 1.

Figura 1 – Processo evolutivo SCM

Fonte – Ballou (2007)

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O Council of Supply Chain Management Professionals (CSCMP) determina que SCM

engloba o planejamento e a gestão de todas as atividades envolvidas na terceirização e

aquisição, transformação e gestão das atividades logísticas. Além disso, também inclui a

coordenação e colaboração com parceiros de canal, os quais podem ser fornecedores,

intermediários, prestadores de serviços terceirizados e clientes.

O estudo de Larson et al. em 1999 surgiu de uma discussão entre os autores sobre a

diferenciação entre logística e SCM, e propõe quatro perspectivas conceituais: a

tradicionalista, a visão de reclassificação da logística para SCM, a unionista e a perspectiva de

interseção. A Figura 2 ilustra essas quatro perspectivas.

Figura 2 – Diferentes perspectivas da Logística e o SCM

Fonte – Adaptado Larson et al. (1999)

Larson et al. (1999) ainda consideram que se a logística e a SCM são campos que compõem o

âmbito dos negócios, então essas quatro perspectivas demonstram quais as formas possíveis

de os dois campos ser relacionarem. Dessa forma, a logística pode ter o mesmo conceito que a

SCM (reclassificação), pode englobar a SCM (tradicionalista), pode estar contida no universo

da SCM (unionista) ou a logística e a SCM podem se sobrepor parcialmente (interseção).

Neste sentido, Larson et al. (1999) explicam que a visão tradicionalista define SCM como

uma função ou subconjunto da logística, que trata do ambiente externo à organização, ou

entre organizações, e inclui clientes e fornecedores. A perspectiva de interseção defende que

SCM não é um subconjunto da logística, mas sim uma estratégia ampla, que passa através de

processos de negócios e através dos canais. Tan et al. (2002) veem a SCM como uma

abordagem estratégica integrada no gerenciamento de áreas funções.

Já a perspectiva unionista é definida por Larson et al. (1999) como um campo amplo, que

engloba os elementos estratégicos e táticos em várias áreas funcionais do negócio, como

compras, logística, operações e marketing. Já a visão de reclassificação implica simplesmente

em uma mudança de nome, sem alterações na descrição dessa área e suas atividades.

Por fim, a perspectiva unionista é defendida pelo (CSCMP), a principal organização de

profissionais, pesquisadores e acadêmicos da área, que considera que a logística corresponde

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à parte da SCM que planeja, implementa e controla o transporte, fluxo reverso, armazenagem

de mercadorias e informações relacionadas entre o ponto de origem e o ponto de consumo,

com intuito de atender as necessidades dos clientes.

A SCM como uma filosofia de gestão procura a sincronização e convergência das

competências estratégicas e operacionais dos agentes externos e internos à cadeia. Neste

sentido, Mentzer (2001) sugere que os limites do SCM incluem não somente a logística, mas

também outras funções dentro da firma ou dentro da cadeia, objetivando criar valor e

satisfação para os consumidores.

Dessa forma, é possível identificar que o SCM abrange diversos elementos-chave, e, portanto,

diversas áreas do conhecimento. Segundo Croom et al. (2000), a gestão da cadeia de

suprimentos envolve características de pesquisa como atividades logísticas, integração ao

longo da cadeia, compartilhamento de informações, sustentabilidade, entre outras.

O trabalho de Marra et al. (2012) apontou como resultado de uma análise estruturada da

literatura de gestão do conhecimento na gestão da cadeia de suprimentos, baseada em 58

artigos publicados entre os anos de 2000 e 2010, quais áreas têm sido comumente estudadas e

aplicadas: terceirização, desenvolvimento de novos produtos, construção, apoio à decisão,

gerenciamento de riscos, agilidade, aquisição e desempenho organizacional. A Figura 3

apresenta essas áreas específicas do SCM.

Figura 3 – Áreas de SCM

Fonte – Marra (2012)

Cambra-Fierro e Ruiz-Benítez (2011) também desenvolveram trabalho semelhante ao

identificar fatores-chave para o gerenciamento da cadeia de suprimentos. Dentre esses fatores

estão áreas de: atendimento ao cliente, integração da SC, produção e operação, distribuição e

armazenagem, tecnologia, logística reversa e green supply chain, e alianças estratégicas.

Ainda Cambra-Fierro e Ruiz-Benítez (2011) argumentam que todas as áreas específicas

devem ser devidamente gerenciadas em prol de um objetivo comum a toda cadeia e que

deverá gerar maior valor aos clientes e stakeholders em geral. Está bem estabelecido que a

gestão da cadeia de suprimentos consiste em um fator importante para o sucesso dos negócios

envolvidos (MACFARLAND et al., 2008).

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Diversos autores apontam ganhos que o SCM pode proporcionar às empresas envolvidas

nesse arranjo colaborativo. O trabalho de Wilson (1996) se propôs a examinar o paradigma do

SCM no contexto de alimentos frescos, no caso bananas, pois a natureza perecível implica na

exigência em movimentação de forma rápida e eficiente do produtor ao varejista. Alguns dos

benefícios encontrados nesse estudo foram: economia de escala, redução do número de

fornecedores, maior controle dos produtos, maior envolvimento com os fornecedores,

participação em atividades como pesquisa e desenvolvimento, menor obsolescência,

rastreabilidade do produto, e investimentos compartilhado por vários agentes da cadeia.

Outro trabalho desenvolvido por Gunasekaran et al. (2004) aplicou um survey com intuito de

estudar as medidas de desempenhos e métricas usadas em um ambiente de SCM. Quando

indagados sobre as vantagens proporcionadas pela gestão da cadeia de suprimentos, foi

identificado que, de acordo com os entrevistados, o esforço focado em gerir cuidadosamente a

SCM produziu benefícios financeiros e competitivos para as empresas participantes,

aumentando o retorno sobre o investimento, além de conquistar os clientes e melhorar o

serviço prestado.

De acordo com Kotzab et al. (2011), em seu trabalho para o desenvolvimento de um modelo

conceitual de SCM, há evidências de que a execução eficaz de SCM pode resultar em

melhorias no desempenho das empresas, e isso ocorre principalmente devido à maior

integração de processos de negócios internos e externos. Li et. al. (2006), em um estudo com

cerca de 200 empresas, também concluíram que níveis mais elevados de SCM podem

conduzir a uma maior vantagem competitiva e melhor desempenho das empresas envolvidas

na cadeia.

3. Metodologia

Segundo Rann e Leeuwen (2002), a geração de conhecimento deve iniciar com a pesquisa do

que já foi previamente publicado com relação ao tema proposto para estudo. Para gerar esse

conhecimento, utiliza-se da disponibilidade de bases de dados para o processo de busca e

seleção de artigos acerca de uma área de conhecimento.

No entanto, com o grande volume de informações geradas nos últimos anos, faz-se necessário

o uso de métodos que permitam construir e sistematizar o entendimento, a fim de extrair

conclusões sobre o conjunto de resultados analisados. A análise bibliométrica constitui um

desses métodos e fornece a descrição dos aspectos difundidos na literatura.

Esse estudo segue o método da análise bibliométrica, que segundo Pilkington e Fitzgerald

(2006) e Pereira et al. (2011), corresponde a uma análise quantitativa da literatura, a qual

permite uma análise mais objetiva da produção científica. Essa mensuração da produção

científica, que pode estar na forma de artigos, publicações, citações, patentes, entre outros,

utiliza a aplicação de técnicas estatísticas e matemáticas para capturar informações como

pontos relevantes da literatura, ou autores e periódicos mais citados.

Seuring e Müller (2008) também realizaram uma pesquisa utilizando métodos quantitativos

no campo da sustentabilidade e gestão da cadeia de suprimentos. Em seu estudo os autores

seguiram a metodologia de análise bibliométrica para realizar uma análise descritiva,

avaliando os aspectos formais do material, como o número de publicações por ano,

proporcionando um cenário-base para estudos subsequentes, além de trabalhar com seleção de

categorias, ou seja, dimensões estruturais aplicadas ao material coletado.

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Para coleta de dados foram utilizadas as seguintes bases de dados: Academic Search Premier

– ASP (EBSCO), Cambridge Journals Online, Emerald Fulltext (Emerald), Environmental

Engineering Abstracts (CSA), Oxford Journals (Oxford University Press), ScienceDirect

(Elsevier), IEEE Xplore, SCOPUS (Elsevier), SpringerLink (MetaPress), Web of Science

(Thomson Scientific / ISI Web Services), e Wiley Online Library. A pesquisa nas bases de

dados ocorreu entre os meses de Março e Abril de 2011, adotando as seguintes palavras-

chave: Supply Chain, Supply Chain Management, SCM, Network Supply e Extended

Enterprise.

A partir da busca nas bases de dados, foram selecionados 154 artigos referentes ao SCM para

serem estudados. A análise dos artigos segue na seção seguinte e refere-se tanto a uma análise

quantitativa, como em relação a frequência e percentagem de publicações ao longo dos

últimos anos, relação de periódicos, e métodos de pesquisa relacionadas a gestão da cadeia de

suprimentos (SCM), quanto consiste em uma síntese teórica sobre as áreas de SCM que têm

sido mais estudadas entre os anos de 1996 e março de 2012.

4. Análise dos Dados

A análise dos dados segue por meio da utilização de meios quantitativos e qualitativos.

Quanto a análise quantitativa, tem-se a frequência dos artigos distribuídos pelos anos

estudados e a quantidade de artigos publicados em cada periódico.

Dos 154 artigos selecionados, nota-se que até 2000 somente 10 artigos relacionado com SCM

foram publicados. Entre os anos de 2001 e 2009 foram publicados 84 artigos, representando

aproximadamente 54,5% de todos os artigos analisados. Já nos anos de 2010 e 2011, o

número de publicações anual aumentou para 21 e 30 artigos, respectivamente. Os dois últimos

anos representam em conjunto aproximadamente 33% do universo de artigos selecionados. A

Figura 4 apresenta essa evolução do número de publicações por ano.

Figura 4 – Publicações por ano

Também foi quantificado o número de publicações em cada revista estudada. Ao analisar as

publicações quanto às revisas mais frequentes, nota-se que entre os 154 artigos, a maioria foi

publicado na revista Supply Chain Management: An International Journal, a qual sozinha

apresenta um total de 41 artigos, ou seja, em torno de 27% de todos os artigos estudados.

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Foi possível observar ainda que 8 revistas, com entre 4 e 9 publicações, somaram 46 artigos e

16 revistas publicaram 40 artigos do total. Já as revistas com somente uma publicação

representaram 17,5%, com 27 artigos, de acordo com a Tabela 1.

Revista Publicações

Supply Chain Management: An International Journal 41

International Journal of Physical Distribution&Logistics Management 9

Journal of Cleaner Production 7

International Journal of Production Economics 7

European Journal of Purchasing & Supply Management 6

The Journal of Supply Chain Management 5

Transportation Research Part E 4

Business Strategy and the Environment 4

International Journal of Operations & Production Management 4

Tabela 1 – Publicações por revista

Revista Publicações

The International Journal of Logistics Management 3

Journal of Economic Geography 3

The Journal of Supply Chain Management: A Global Review of Purchasing and

Supply 3

Benchmarking: An International Journal 3

Journal of Manufacturing Technology Management 3

International Journal of Productivity and Performance Management 3

Corporate Social Responsibility and Environmental Management 3

Omega - The Internacional Journal of Management Science 3

Decision Sciences 2

Journal of Business Logistics 2

Industrial and Corporate Change 2

Journal of Operations Management 2

Industrial Management & Data Systems 2

Management Research Review 2

Decision Support Systems 2

Procedia Social and Behavioral Sciences 2

Outros 27

Tabela 1 (Continuação) – Publicações por revista

Foram levantados também os métodos utilizados em cada um dos 154 artigos. Observa-se que

o método mais utilizado nesse universo foi o teórico-conceitual, somando 66 artigos, o

referente a aproximadamente 43% do total. Seguido desse método foram utilizados também

estudos de caso, survey e modelagem matemática, cada um representando respectivamente

23%, 22% e 5% dos artigos analisados, conforme mostra a Figura 5.

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Figura 5 – Metodologias de pesquisa

A partir da seleção dos 154 artigos e com base na análise de conteúdo, foi possível categorizar

essas publicações de acordo com as principais características das pesquisas. Dessa forma, a

leitura dos resumos permitiu identificar tanto as metodologias utilizadas, como a identificação

do foco específico de cada artigo, de acordo com a Figura 6. Os artigos foram distribuídos em

8 categorias:

- Green supply chain management (GSCM): Publicações que objetivam mostrar a

integração das preocupações ambientais com o SCM. Essa sub-área que representa a

sustentabilidade na cadeia de suprimentos é amplamente explorada como Green Supply

Chain Management;

- SCM (Modelos e Conceitos): Artigos que buscam conceituar a gestão da cadeia de

suprimentos e propor modelos para sua implementação;

- Parceria e Colaboração: Artigos que abordam uma relação de parceria e colaboração

nesse modelo integrado do SCM, explicitando o estabelecimento e compromisso como

fator-chave da cadeia. Os autores que tratam desse tema mostram ainda os riscos e

benefícios envolvidos na criação dessa relação de compartilhamento e alinhamento

estratégico;

- Lean supply chain management (LSCM): Objetiva a integração de conceitos de

produção enxuta, conhecida como lean manufacturing com intuito de melhorar o valor

percebido pelos clientes, eliminação de fontes de desperdício e aumento da eficiência da

cadeia como um todo;

- Medição de Desempenho: Publicações com objetivo de propor modelos/sistemas de

medição de desempenho para toda cadeia de suprimentos;

- Gerenciamento de riscos: Buscam ampliar o conceito de gerenciamento de riscos na

cadeia de suprimentos e propor uma nova metodologia para capturar aspectos tanto de

operações, quanto de questões financeiras de tomada de decisão;

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- TI e Gestão do Conhecimento: Esses artigos referem-se a criação de estruturas que

combinam elementos de recursos tecnológicos e gestão do conhecimento humano ao longo

da cadeia, para auxiliar nas operações e tomadas de decisão;

- Agile SCM: Artigos que focam em cadeias de suprimentos ágeis, as quais, por meio da

integração de parceiros de negócios para desenvolvimento de novas competências, possam

responder rapidamente às mudanças de mercado.

De acordo com a Figura 6, é possível verificar que entre os 154 artigos selecionados, mais de

35% correspondem a publicações que discutem o GSCM, evidenciando sua importância,

práticas e modelos de implementação dessa perspectiva sustentável nas cadeias de

abastecimento. Em seguida tem-se artigos que visam expandir o conceito de SCM e os

benefícios de sua implementação, a qual é proposta por muitos autores por meio de

modelos/frameworks que são testados em estudos de caso.

É importante destacar que a categoria de GSCM engloba publicações que abordam a

sustentabilidade como assunto central, distribuída em artigos que focam em práticas do green

supply chain, outros que focam especificamente em logística reversa e outros que tratam da

sustentabilidade nos seus três pilares.

A segunda categoria que apresentou maior número de artigos está relacionada a definições de

gestão da cadeia de suprimentos com propostas e estudo de modelos para sua implementação,

além de particularidades como discussões sobre cadeias de suprimentos globais, modelos de

SCM flexíveis e da discussão em torná-lo uma disciplina.

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Figura 6 – Distribuição por categorias

5. Considerações Finais

Este artigo propôs a identificação de características de pesquisa no campo de SCM entre 1996

e março de 2012, por meio do processo de seleção e análise do referencial teórico de

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periódicos internacionais acerca do tema. A contribuição que o artigo apresenta está no

conhecimento dessas características, mostrando quais sub-áreas do SCM estão sendo mais

exploradas a partir da amostra analisada.

A análise bibliométrica permitiu visualizar que as publicações no campo de SCM tem

crescido ao longo dos últimos anos (aproximadamente 40% dos artigos foram publicados nos

últimos dois anos), evidenciando que este demonstra-se um campo emergente e corresponde a

um fator importante para criação de vantagem competitiva das organizações envolvidas.

Dessa maneira, tem sido amplamente discutido e implementado.

Entre as áreas categorizadas, nota-se que dos 154 artigos selecionados, mais de 60% deles

corresponde a difusão dos conceitos e modelos de implementação de SCM e gerenciamento

de cadeias de suprimentos que abordam a questão da sustentabilidade. A maioria desses

artigos foca em gerenciamento de cadeias sustentáveis (GSCM) que incorporam práticas e

questões estratégicas integradas ao longo do negócio.

Ainda conforme a categorização realizada, identifica-se que poucos artigos representam a

preocupação com gerenciamento dos riscos inerentes à cadeia de suprimentos (cerca de 5%),

que consiste em uma questão importante no campo de SCM, pois a incapacidade de gerenciá-

los torna as empresas mais propensas a reduzir o desempenho geral da cadeia.

Portanto, com esse estudo foi possível inferir que o campo de SCM tem crescido na literatura

e no âmbito profissional, impulsionado pelos casos de sucesso e ganhos que o mesmo pode

proporcionar. Além disso, o campo apresenta diversas características de pesquisa, as quais

sugere-se para trabalhos futuros pesquisas ligadas às áreas do SCM elencadas para que, em

conjunto, possam compor o sistema na busca pela constante melhoria no desempenho global

da cadeia de suprimentos.

Referências

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Management: An International Journal. Vol. 16, N. 2, p. 148-154, 2011.

COOPER, M. C.; LAMBERT, D. M. & PAGH, J. D. Supply chain management: More

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