gestão ambiental de uma cidade-indústria: o caso madre de deus

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Página da W 1 de 38 http://intranet/monografias/cidade_industria/completa.htm 13/07/00 Dedicamos este trabalho às nossas famílias, pela compreensão e por terem sabido suportar nossas ausências e sempre nos incentivando a enfrentar os desafios do dia a dia. Agradecemos aos moradores, trabalhadores e a Prefeitura Municipal de Madre de Deus pelas informações cedidas que enriqueceram o nosso trabalho. Agradecemos aos nossos professores e palestrantes, com especial atenção ao Prof. Asher Kiperstok, I. Dedicatória e agradecimentos II. Resumo III. Abstract IV. Mapas, figuras e fotos "O propósito final de comércio não é, nem deveria ser, simplesmente fazer o dinheiro. Também não é meramente um sistema de fabricação e venda das coisas. A promessa de comércio é o aumento do bem-estar geral da humanidade através de serviço, engenho criativo e filosofia ética. Fazer dinheiro é, por si só, totalmente sem sentido, uma busca insuficiente para o mundo complexo e em deterioração em que vivemos" Paul Hawken The Ecology of Commerce Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTOS

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Page 1: Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus

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http://intranet/monografias/cidade_industria/completa.htm 13/07/00

Dedicamos este trabalho às nossas famílias, pela compreensão e por terem sabido suportar nossas ausências e sempre nos incentivando a enfrentar os desafios do dia a dia.

Agradecemos aos moradores, trabalhadores e a Prefeitura Municipal de Madre de Deus pelas informações cedidas que enriqueceram o nosso trabalho.

Agradecemos aos nossos professores e palestrantes, com especial atenção ao Prof. Asher Kiperstok,

I. Dedicatória e agradecimentos

II. Resumo III. AbstractIV. Mapas, figuras e

fotos

"O propósito final de comércio não é, nem deveria ser, simplesmente fazer o dinheiro. Também não é meramente um sistema de fabricação e venda das coisas. A promessa de

comércio é o aumento do bem-estar geral da humanidade através de serviço, engenho criativo e filosofia ética. Fazer dinheiro é, por si só, totalmente sem sentido, uma busca

insuficiente para o mundo complexo e em deterioração em que vivemos"

Paul Hawken The Ecology of Commerce

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de DeusDEDICATÓRIA E AGRADECIMENTOS

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coordenador, orientador e amigo, que mostrou como dedicação e comprometimento fazem toda a diferença.

Agradecemos aos nossos colegas de curso pelo privilégio de dividir conosco suas experiências durante todo o curso.

Agradecemos a presença sempre marcante e atenciosa do Sr. Jose Mariano da Silva, que a todo momento nos providenciava o que precisávamos.

Sean Patrick BradleyZidalva Moraes Dantas

Monica Gualberto Saldanha

Os sistemas de gerenciamento estão se tornando parte fundamental de quase todas as organizações. Por conseguinte, uma discussão a respeito da validade de sistemas de gerenciamento se faz oportuno. No geral,

o foco desta discussão baseia-se na relação entre os sistemas e seus meios. A Ilha de Madre de Deus foi escolhida por ter um perfil único que traz à luz essa relação contextual. Na Ilha coexistem simultaneamente a cidade, a indústria e o meio ambiente, com seus problemas, conflitos básicos, riscos, angústias relacionadas

à falta de espaço, poluição, alterações no habitat e ao mesmo tempo, as vantagens dessa convivência.

No início de 1999, a Petrobrás, principal atividade produtiva, ocupa metade da Ilha e deixa pouco espaço para alternativas de planejamento, além de oferecer riscos reais à população local, que convive entre

tanques, dutos e uma série de produtos inflamáveis em transporte.

Através de revisão bibliográfica, enquete, entrevistas e outras formas de pesquisa, esse trabalho procurou tanto identificar as interrelações existentes quanto prever possíveis cenários futuros. Realizou-se uma

análise básica dos sistemas gerenciais permitindo-se visualizar como estes sistemas poderiam se adaptar à situação real.

Identificou-se barreiras às mudanças em escala macro e foram propostas algumas linhas de ação para iniciar o debate em torno dos efeitos de sistema gerenciais, como a ISO, e Planos Diretores voltadas para as

realidades biofísicas de uma localidade, beneficiando a comunidade aí inserida.

Esse trabalho não propõe-se a desenvolver um sistema gerencial em si, porém trata de situações reais e fornece alternativas de soluções para um microcosmo onde atualmente convivem a população, a indústria e

o meio ambiente.

Management systems are becoming a fundamental part of all organisations. As a result, a discussion about the validity of such management systems becomes more and more pertinent. In general, this discussion

focuses on the relationship between the systems and their contexts. Madre de Deus Island was chosen as the focus of the study because its unique characteristics bring to light this contextual relationship. On the Island there coexists city, industry and natural environments whose interrelationship has brought about problems,

risks, stresses as well as certain advantages.

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de DeusRESUMO

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de DeusABSTRACT

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Furthermore, basic conflicts have arisen with respect to lack of space, taxing, pollution, habitat loss and others. The fact that the main industry, the petrochemical company Petrobas, occupies half of the island

leaves little room for negotiation and planning, as well as offering real risks for the local population that lives amongst tanks, ducts and a series of flammable products in transport.

Through literary reviews, questionnaires, interviews and other research this work has tried to paint a picture of the current existing interrelationships as well as identify possibly future scenarios. A basic analysis of current management systems was undertaken and an indication was given to how these systems could better adapt

to the situation at hand.

Certain barriers to change were identified on the macro scale and a number of lines of action were proposed to help initiate debate about the affects of management systems such as ISO and Urban Master Plans on the

biophysical realities of a site and the community that resides therein.

Though this paper does not develop a management system in itself, it addresses real situations and supplies representative examples of the types of solutions a contextualised process can bring. In sum, the importance of the study lies in the fact that the island in question can represent a microcosm of the urban, industrial and

environmental relationships of a not so distant future.

• MAPA – Contexto geral

• MAPA – Região Metropolitana de Salvador

• MAPA – Madre de Deus

• Riscos e inconvenientes relacionados ao ar

• Riscos e inconvenientes relacionados a água

• Fatores que geram impactos ao solo

• Impactos nos habitats terrestres

• Impactos nos habitats aquáticos

• Percepção da poluição sonora

• Percepção da poluição visual

• Impactos sócio-econômicos

• Riscos ambientais

• TEMADRE 1

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de DeusMAPAS E FIGURAS

FOTOS

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• TEMADRE 2

• Aproximação Industrial/Urbana

• Dutovia

• Contra Costa – O Canal/Suape

• Convivência com a Indústria

• Emissões

• Lançamento de Esgotos na Praia

Desde o surgimento da produção em larga escala, a indústria teve que se situar frente às comunidades antrópicas e biológicas. Tendo de compartilha seu espaço físico com as comunidades de um determinado

contexto, teve que sempre estabelecer postura agressiva diante do dilema da produção contra impactos. O resultado dessa postura agressiva, é a quebra da sustentabilidade do ambiente, têm levado a sociedade a

longas e intermináveis discussões, que embora sempre levem à conclusão genérica da necessidade de conservação do ambiente, poucos resultados práticos têm trazido, visto que a destruição de ecossistemas

importantes é contínua.

Para a cidade industrializada, existe o momento onde é questionado seu papel como consumidor de energias e gerador de poluição. Tanto no sistema industrial como no urbano prevê-se a adoção de procedimentos

para controlar seus processos de crescimento e interações negativas com o mundo natural. Atualmente, as indústrias nacionais e internacionais vêm adotando sistemas voluntários de gerenciamento ambiental do tipo ISO 14000, enquanto que as cidades utilizam o planejamento urbano como método de controle. Observa-se

que o planejamento urbano normalmente adotado pouco tem se adequado à realidade, pois geralmente segue os passos de desenvolvimento baseado em um plano diretor que apenas limita o uso do solo. É visível

que, tanto as cidades quanto as indústrias gerenciam a aquisição e a troca de energia e informações de tal forma que a continuidade desse processo a longo prazo causa danos ambientais irreversíveis. No final, seus sistemas controlam somente problemas devidos a atos isolados de desenvolvimento e tendem a ignorar os

problemas conjuntos.

As mudanças pelas quais a humanidade passou nos últimos anos, exigiram que as formas de organização social se adaptassem às novas realidades. O comércio como transformador de recursos naturais para o benefício do homem (Domasio, J. 1998), deve abrir os horizontes de sua atuação e considerar todas as cadeias complexas de interação assumindo a responsabilidade de uma entidade que faz parte de uma

sociedade regenerativa. Dessa forma, o comércio não seria simplesmente a transformação do recurso, mas também a transformação do homem e da relação homem/ambiente, até que os benefícios não sejam só

econômicos, como também socio-ambientais.

As adaptações por parte das indústrias e centros urbanos para que convivam melhor com o meio ambiente e entre si, implica em mudanças lentas mas fundamentais. Hoje em dia, todos percebem que os conflitos gerados entre indústria, centro urbano e meio ambiente são cada vez mais alarmantes, trazendo muitas

preocupações a respeito do futuro da ocupação humana na Terra. O uso intensivo de energia e o conseqüente impacto ambiental fazem com que cada vez mais ecossistemas sejam atingidos, pois como

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus1. INTRODUÇÃO

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estes apresentam limites na sua capacidade de uso e recuperação, tendem a romper sua estabilidade levando a condições diferentes da original ou até irreversíveis. Em toda parte, podem ser identificados danos e passivos ambientais dessa natureza que alteram a qualidade de vida e deixam os sistemas naturais cada

vez mais frágeis.

Essa situação se repete em municípios, estados e países. Diante de problemas desta magnitude, o cidadão contemporâneo sente-se impelido a assumir responsabilidades, porém sem noção prática de como reagir

adequadamente. A resposta dos movimentos ambientalistas a essa postura desencorajadora foi a reflexão: "pense globalmente, aja localmente". Esta expressão pode representar um modismo sem muito sentido,

porém pode ser um caminho para entendimento e a busca de soluções para diversos contextos. Mais especificamente, a idéia de ‘pensar globalmente’ pode-se levar, a necessidade de encontrar soluções através

de sistemas em rede, que representarão uma das principais ferramentas conceituais de um gerenciamento híbrido e um tema que será repetido ao longo de todo o trabalho.

A democratização da informação permitirá a adoção de sistemas saudáveis de interações naturais e antrópicas, envolvendo um processo de mudança gradual em vários setores. Além de reformulações dos

próprios mecanismos de gerenciamento, será necessário: a reavaliação das trocas energéticas e a estruturação econômica como um todo; a ampliação da percepção ambiental e das repercussões em

educação e, no geral, a identificação e contextualização dos problemas nos seus sistemas dinâmicos reais e de forma transparente (Pacheco, R.S. 1992). Portanto, o primeiro passo a ser dado é enfrentar os problemas sócioeconômicos maiores para deixar um caminho mais realista para a implantação de sistemas de interação

social/ambiental inovadores.

Isso tudo é parte integrante da busca do entendimento e da percepção guardada por comunidades, urbanas e naturais, sobre como elas se auto regulamentam, trocam informações e energia entre si, através de instinto,

normas e legislações. A base desse entendimento depende da adoção de novas perspectivas para mudanças. A principal fonte de novos conceitos para sistemas novos é o mundo natural, porque apesar de todo o conhecimento coletivo humano, os sistemas naturais continuam sendo o mais perfeito exemplo de

interações eficientes e democráticas. Nesse sentido, Friende habilmente coloca o seguinte::

".. considere o mais complexo e sofisticado sistema que conhecemos: a Biosfera. Essa película fina de vida, e os ecossistemas contidos nele – o resultado de três e meio bilhões de anos de "P&D" (pesquisa e desenvolvimento) de sucessão ecossistêmica e seleção natural – apresenta características chaves que o mundo industrial se daria bem em estudar e emular.

¡ Ele vive e prospera "dentro de seus meios" mantido pela entrada de energia solar (em vez de energia armazenada nos combustíveis fósseis).

¡ Ele demonstra tanto uma diversidade espantosa quanto uma extensa interconexão de constituintes, coordenada por competição e cooperação.

¡ Não há desperdício. O produto de cada processo metabólico é o alimento de um outro organismo."

Percebe-se que o foco da gestão ambiental de uma cidade industrial é a descoberta de meios de aprendizagem e a disseminação desses princípios fundamentais para as populações numa forma

sistematizada, mas ainda maleável e dinâmica. Pode-se notar que Friend, G. (1994) destaca tanto a competição como a cooperação, representando uma indicação de como pode-se mudar a postura mercantil. Parcerias e simbioses entre as comunidades envolvidas são aspectos fundamentais a serem desenvolvidos e acompanhados com instrumentos gerenciais em cadeias para a criação de espaços e sistemas funcionais.

Em resumo, o estabelecimento de qualquer sociedade sustentável será, então, fundamentada em uma sociedade que percebe o mundo não como uma fonte inesgotável de riquezas, mas como uma unidade,

onde as metas e a dinâmica da sociedade são semelhantes àquelas dos sistemas naturais.

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A maior ilha do município, Madre de Deus, apresenta uma densa ocupação populacional e a presença de uma indústria petrolífera de relevante importância econômica. Contudo, a Ilha de Madre de Deus possui hoje

condições muito longe da ideal. Quando a indústria foi instalada na década de 40, não haviam sequer condições limitantes para a sua implantação e operação. Imagina-se que a população deveria ter sido

relocada numa época em que ainda era mínima ou então hoje a indústria não seria instalada nesse local, devido ao potencial turístico crescente da Bahia de Todos os Santos. Porém, a realidade é outra e as

conseqüências dessa implantação estão sendo gradativamente percebido como conflitante e perigosa.

Consequentemente, os desequilíbrios existentes são quase todos oriundos da interação industrial/urbana que se estabeleceu. Na Ilha de Madre de Deus, 50% de sua área é ocupada por uma indústria petroquímica, a Petrobrás, e 33% pela malha urbana (UMK e Conder. 1991). Estes dados refletem como a ocupação pela

industrialização sobrepujou a urbanização. Os 10.626 habitantes (PMD, 1997), existentes em Madre de Deus ocupam quase todo o espaço não utilizado pela Petrobrás. Em certas zonas urbanas na região central do

município, constata-se as taxas de urbanização chegam a 95,75%. (PMD,1996).

Em torno da ilha existem outras indústrias que indiretamente participa do quadro ambiental local. Próximos estão a Refinaria Landulpho Alves da Petrobrás, o Centro Industrial de Aratu, a mineração Boquira, com fábrica nas proximidades de Santo Amaro/São Francisco do Conde e Pólo Petroquímico de Camaçari.

Encontra-se instalado diretamente no município, o Terminal Marítimo da Petrobrás – TEMADRE que serve de base para o escoamento e recebimento de toda a produção da Refinaria Landulpho Alves. Outras

instalações incluem a fábrica de asfalto e áreas de estocagem e armazenamento de produtos derivados do petróleo, com a presença de tanques e esferas, além de uma extensa rede dutoviária que contorna todo o

município. Este complexo industrial contrasta com a área urbana, além de gerar suspeitas sobre a periculosidade e os riscos de acidentes.

MadreDeus

MadreDeus

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus2. JUSTIFICATIVA: UMA ILHA NUM MUNDO

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Em função de um contexto densamente ocupado, é possível o surgimento de conflitos, até porque a própria sustentabilidade dos ecossistemas encontra-se gravemente ameaçada à medida que suas áreas,

inadequadamente, são ocupadas e fragmentadas. A área não-ocupada da ilha, 12%, corresponde aos poucos manguezais, já descaracterizados, e a uma faixa central da ilha indicada como "área de preservação ambiental" que, julgando por sua forma regular e localização arbitrária, foi escolhida para esse fim por ainda

estar desocupada e não por sua função ambiental.

Uma breve análise sócio-econômico revela um paradoxo: na população local predomina a falta de emprego. Depois de anos de "downsizing", apenas 2,1 % da população trabalha na indústria (UMK e Conder. 1991), incluindo o Terminal e a Refinaria da Petrobrás. Esta discrepância foi constatada e documentada no Plano

Diretor de Madre de Deus ao identificar que: "os benefícios gerados pela nova realidade industrial não foram suficientes para superar os impactos negativos gerados" (UMK e Conder. 1991). Obviamente, algumas

setores econômicos paralelos foram fortemente prejudicados pela presença da Petrobrás como foi o caso do turismo. Restou uma relação econômica entre a cidade e a indústria que é, no mínimo, complexa. Existe uma dependência fiscal do município em relação à indústria, pois o terminal Marítimo da Petrobrás ainda

representa a principal atividade econômica e é o grande gerador da arrecadação municipal, e minoritariamente empreiteiras.

Portanto, foi exatamente a identificação desse panorama pouco convencional que motivou à escolha do Município Madre de Deus como tema desse estudo. Assim, existe a oportunidade de entender os

mecanismos de como, tanto a indústria quanto a cidade, pode seguir rigorosamente seus respectivos planos de gerenciamento, ignorando a convivência com as situações graves que existem no município ou mesmo criar novas. O enfoque deste estudo voltado para uma área de pequeno porte, onde convivem a indústria,

habitação e as áreas naturais restantes contribuirá para visualizar possíveis cenários futuros onde exista uma convivência industrial/urbana mais contextualizada e integrada. Madre de Deus, apesar de ser uma pequena

ilha na Baia de Todos os Santos, representa um microcosmo no contexto mundial e onde em um futuro próximo, será impensável que as fábricas fechem suas portas e/ou escondam seus processos produtivos das comunidades próximas. Globalmente, as áreas preservada do planeta são cada vez mais restritas associado

a um aumento significativo da população.

O estudo da Ilha de Madre de Deus, portanto, configura-se, como um laboratório por ter detectado problemas que se tornarão ou já são comuns em todo o planeta., O estudo também apresenta-se como oportunidade

para observar de perto, de forma interativa, a interação entre cidade, indústria e meio ambiente.

As Ilhas de Madre de Deus e Maria Guarda que compõe o município de Madre de Deus estão situadas ao fundo e na posição norte da Baía de Todos os Santos (PMD, 1996). Integrantes da Bacia do Recôncavo, as

ilhas apresentam uma situação geo-ambiental específica, devendo ser tomadas para efeito de análise, como uma única unidade ambiental dado a sua homogeneidade fisiográfica. Por conseguinte, a topografia é pouco

movimentada, atingindo cotas máximas de 69 metros em relação ao nível do mar e a geomorfologia é bastante simplificada com a presença de planicies litorâneas e áreas com relevo ondulado, de pequenos

morros de formato achatado circular (UMK e Conder. 1991).

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 3.1 Localização e Situação

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A busca energética linear levou à criação de três mundos diferentes na Ilha de Madre de Deus com poucos elementos fundamentais de cooperação de que a Biosfera depende. Basicamente, o município de Madre de

Deus está dividido entre a indústria de petróleo moderna, a ocupação urbana em sua maioria empobrecida, e pelas áreas verdes restantes.

Além da falta de interrelação entre as partes, são marcantes as proporções relativas dos vários componentes que as caracterizam. A população é pequena mas, ocupa densamente a parte urbanizada da ilha. Conforme

dito anteriormente, e segundo os dados do Plano Diretor do Município de Madre de Deus, os 10.626 habitantes dispostos em várias partes da ilha ocupam 33% da área, e a Petrobrás ocupa outra metade da

ilha, deixando poucos áreas abertos(UMK e Conder. 1991). A presença da indústria parece ser maior que o contabilizado, devido a sua presença em todos os locais, seja através dos dutos e tanques que contornam

toda a cidade, ou seja através da presença dos navios petroleiros, confere o município as características de uma cidade-indústria.

A cidade preenche o espaços vazios que a indústria deixa fora de seus domínios. Como é praxe em todo Brasil, acontece ocupação espontânea em áreas geralmente inadequadas, e os poderes públicos as ignoram, e eventualmente consolidam as invasões implantando infra-estrutura. Apesar de sua área restrita, Madre de

Deus não ficou imune a este processo. As casas aparecem próximas as instalações industriais, dutos, tanques e estradas indistintamente.

A falta de localização apropriada contribui fortemente para os problemas urbanos. O Levantamento Sócio Econômico e Ambiental do município toma uma posição bastante pontual (PMD, 1997) indicando que a

maior parte da população apresenta "casa própria com alvenaria, rede de água, fornecimento de energia elétrica e rede parcial de esgoto". Porém, visto num contexto mais amplo estes dados não representam uma

garantia de boa qualidade de vida porque a mera existência de casas não indica que o sistema como um todo está em ordem. A forma e disposição dos conjuntos, vizinhanças e bairros, em equilíbrio com o meio

onde se insere, é fundamental. Inumerável são as publicações que deixa claro que a forma e disposição da estrutura urbana pode fomentar ou impedir a formação de grupos sociais e então a participação efetiva dos

cidadãos na vida social e política da cidade (Alexander, C. 1977, Lynch, K. 1960, Kaplan, S e Kaplan, R. 1982). Assim, implantações urbanas espalhadas aleatoriamente sobre todo território indicam um descuido,

não somente da saúde física dos moradores mas também da sua saúde social.

No caso em questão, a cidade também deveria ser beneficiada com a atividade industrial refletindo um equilíbrio entre espaço social e segurança. Como se trata de uma ilha com pouco espaço disponível,

encontrar esse equilíbrio é difícil. Existe pouca liberdade no ato de implantar novas estruturas e assim

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 3.2 O quadro atual: uma ilha dividida

3.2.1 Cidade

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aumenta-se a importância do planejamento de cada mudança urbana. Hoje, a maneira como as estruturas se adequam aos fatores ambientais pode beneficiar ou destruir os poucos ecossistemas restantes. Enfim, os sucessivos incrementos de uma cidade-indústria devem ser planejados como elementos de construção da malha urbana e não como de desestruturação (Alexander, C. 1977). Visto dessa forma, a construção de

habitação desordenada que ignora a realidade industrial da cidade, ou interfere no equilíbrio já bem afetado dos ciclos ambientais, ou resolve uma necessidade imediata criando um sério problema para ser

administrada no futuro.

Numa escala mais detalhada, a concentração urbana que existe combinada com certas práticas construtiva tendem a agravar todos os problemas urbanos. A prática de pavimentação excessiva, por exemplo, acelera a

velocidade de escoamento e reduz recarga de aqüíferos e indiretamente afeta de forma negativa a temperatura, a drenagem e a vegetação. No geral, a exclusão de sistemas naturais dentro da cidade,

prejudica todas os sentidos do homem (Hough, M. 1984, Machado, I.F. et al. 1986). A zona urbana de Madre de Deus poderia ser classificada geograficamente como um deserto. Quando enquadra-se isso na perspectiva de Madre de Deus como microcosmo do mundo maior, observa-se como esse fator é conceitualmente importante. A Ilha pode ser considerada um aviso para outras áreas urbanizadas

demonstrando o resultado de ocupação sem equilíbrio.

Considerando a ilha como um sistema fechado politicamente e fisicamente, a infra-estrutura básica demonstra alguns ciclos abertos que acabam exportando problemas para outras áreas. Além de poluentes

industriais, existem impactos oriundos da condição do sistema de saneamento. O Plano Diretor (UMK e Conder. 1991) indica a necessidade da implementação de saneamento básico afirmando que seria condição indispensável para reestruturação físico-territorial e ordenamento da malha urbana. Os custos de qualquer

infra-estrutura de porte são onerosos, porém seriam compensatórios, principalmente quando contrapostos a situação de risco que envolve toda a comunidade. Citam também os ganhos indiretos com a melhoria da

saúde pública e a elevação da qualidade ambiental. Desde 1991, a época da elaboração deste Plano, constata-se modificações favoráveis na área de saneamento. Agora, a grande maioria das casas e ruas

estão com padrões básicos de micro-drenagem e saneamento e já pode ser visto o sistema de tratamento de esgotos em implantação na cidade, que faz parte do projeto Bahia Azul. Entretanto, o sistema ainda não está

em funcionamento e sabe-se que uma das áreas comprometidas para a implantação da Estação de Tratamento de esgotos é uma área de manguezais, talvez uma das últimas áreas ainda existente no

município (EIA/RIMA. 1996).

Existem outros elementos funcionais da cidade que devem ser considerados, visando a melhoria da qualidade de vida interagindo com a atividade industrial e o meio ambiente. A limpeza do município,

segundo o Levantamento Sócio-Econômico (PMD. 1997) ocorre normalmente durante a semana, sendo o lixo enviado para o aterro do Ferrolho, no município de Candeias. A remessa do lixo para outro município, e

a disposição final do esgoto tratado deverá ser questionado a médio prazo (Lagrega et al. 1994). A ilha importa sua água que provém do Rio Paraguaçu/Barragem Pedra do Cavalo. O município tem garantido o

abastecimento de água através da EMBASA e atende 80% da população (PMD. 1997). Sendo uma ilha com 50% de sua superfície ocupada por áreas industriais, especializadas em produção energética, os sistemas de infra-estrutura atuais que seguem caminhos típicos merecem ser revistos a luz do estabelecimento de novos

modelos para o futuro.

A presença da Petrobrás e outras indústrias afins, predominam na ilha. A indústria restringe o crescimento e limita as possíveis soluções urbanísticas. Ainda mais, há necessidade de ampliação das áreas industriais. Assim, empreendimentos hoteleiros ou turísticos, seriam de difícil implantação no local, apesar da beleza

natural estimular estas atividades paralelas.

Um aspecto relevante considerado em relação a ocupação industrial é o nível de periculosidade que ela oferece à população local. Riscos fazem parte da indústria petroquímica e a Petrobrás atua cada vez de

maneira mais preventiva e eficiente, particularmente na área interna da unidade produtiva. Porém, questiona-se a atuação da empresa no entorno das áreas de Petrobrás. Toda a infra-estrutura do Terminal da

3.2.2 Infra-estrutura Disponível

3.2.3 Indústria

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Petrobrás apresenta áreas de periculosidade elevada e de possíveis derramamentos como foi visto em abril de 1992 (Maia, M. 1992). Contudo, a sua área de tancagem pode ser destacada pelo elevado grau de risco

que fornece, e a dutovia pelo nível de contato com a malha urbana.

Existem vários outros pontos de risco mais difusos que são fontes de emissão de poluentes atmosféricos: o "flare" do Parque do GLP, a Fábrica de Asfalto, e na a Refinaria Landulpho Alves próxima da ilha. Um pouco

mais afastados, mas com alguma influência, estão o Centro Industrial de Aratu e o Pólo Petroquímico de Camaçari que também podem contribuir pela carga atmosférica total.

O poder público e a indústria podem atuar conjuntamente se responsabilizando em alertar a comunidade sobre o risco inerente à proximidade da indústria e habitação, uma vez que os próprios moradores não estão

cientes da situação real. Segundo o trabalho de Silva, G.H. (1996) os moradores da ilha confundem risco ambiental, ou de acidentes, com incômodo e também desconhecem os processos da indústria. Como pode ser evidenciado em relatos do tipo: "Há risco de dormir e não acordar mais" (Pintor - Madre de Deus). Este perspectiva foi confirmada em nossos questionários com metade dos entrevistados apontando para ‘mau cheiro’ como o principal aspecto negativo da convivência com a indústria, ignorando as possibilidades de

explosões (5%) e incêndios (9%). O principal impacto que parece ter marcado a percepção da população são os derramamentos que aconteceram no passado, sendo responsável para 25% das indicações de riscos e

aparecendo em 84% dos questionários.

Em parte, pode-se diagnosticar que a indústria nos seus projetos de implantação não considerou amplamente os seus efeitos na estruturação de uma forma urbana saudável. Existem perigos reais e outros pouco explícitos que requerem ação preventiva contínua. A disposição das instalações industriais restringem

a formação de espaços públicos novos, as dutovias impede circulação, os tanques impedem vistas e a ventilação adequada para as residências. Aproximadamente 30% dos entrevistados indicam a dutovia como

uma significativa fonte de poluição visual. As instalações que fazem parte da indústria contornam toda a cidade. E é como se a indústria não inserisse a cidade como parte de sua realidade. A despeito de algumas

tentativas de implantação de programas e trabalhos urbanísticos realizados pela indústria na cidade é questionável até que ponto ela tem participado do sistema urbanístico que molda Madre de Deus. O Plano

Diretor afirma que o conjunto formado pelo meio natural, com suporte do solo e do mar e pelo meio antrópico, não passa de simples substrato, ou seja, de uma base física sobre a qual opera esta economia; desse ponto de vista, pode se entender o DTBASA como um enclave no contexto urbano e natural da ilha.

(UMK e Conder. 1991).

A ocupação portuguesa há quase 500 anos e particularmente os últimos 50 anos de expansão industrial, deixou pouco espaço para os sistemas naturais do município sobreviverem, e nenhum cuidado foi tomado

para garantir a implantação de sistemas urbanos/industriais sustentáveis. Nota-se que, a ocupação urbana e industrial está inviabilizando o funcionamento dos ciclos bioenergéticos e materiais, interferindo na estrutura e dinâmica natural que promova a continuação da biodiversidade local. Se for considerado mais uma vez,

3.2.4 Meio Físico e Biológico

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Madre de Deus como um microcosmo, como um ecossistema, os 12% restantes de área aberta incluindo a pequena área de ‘preservação ambiental’, já estão além de recuperação por causa do reduzido tamanho,

fragmentação e forma inadequada dos mesmos (Almeida, A. 1997). Dr. Almeida A. (1997, pg. 11) cita uma metáfora descrevendo essas áreas de preservação inadequadas assim: "teríamos aí uma reserva, uma

fauna toda extinta – é como se fosse uma estrela que explodiu! Você olha para o céu e continua vendo a estrela, só que ela é virtual – já foi destruída - e essa reserva funciona do mesmo jeito, você olha e está lá o verde, só que está morta, não tem mais possibilidade de renovação...". Na ilha, toda a cobertura vegetal, em

especial os bosques de mangues, já em 1991 apresentavam-se bastante descaracterizadas pela ação antrópica, através da ocupação urbana e industrial (UMK e Conder. 1991). E esses ecossistemas, garantem a existência de vários gradientes bióticos através da reprodução de vegetais e animais e seres aquáticos. A princípio, a ilha já ultrapassou seu limite crítico de desequilíbrio e somente os manguezais poderiam ainda

sustentar uma cadeia alimentar.

Os mangues ainda cobrem toda a contra costa da ilha acompanhando o canal do bairro de Suape. Esse frágil ecossistema requer cuidados especiais de preservação de forma a assegurar o restabelecimento de matas biologicamente sustentáveis. No entanto, os planos para expansão habitacional também incluem utilização

de grandes partes destas áreas. Por sua vez, a Petrobrás interfere nestes ecossistemas através de derramamentos de óleo, causando sérios inconvenientes e prejuízos a população que vive da mariscagem e pesca. "Se não fosse a Petrobrás, o mar seria menos poluído, teríamos muitos mariscos, muitos peixes e nós

dormiríamos sossegados." (Pescador - Madre de Deus apud Silva, G.H. 1996)

Se fosse adotar para Madre de Deus um processo de planejamento ecológico do tipo utilizado por McHarg, I. (1969) ou Steiner, F. (1991) o modelo biogeomorfológico apresentaria sérias limitações à ocupação da Ilha.

Além de tentar estabelecer uma base de continuidade ecológica, seria considerado uma serie de outros fatores como: a predominância de planícies de acumulação, a drenagem superficial insuficiente,

declividades, além da surgência do lençol freático, geralmente muito raso. Do ponto de vista pedológico, os três tipos de solo: pedzol vermelho-amarelado, halossolos e areias quartzosas indicam diferentes usos e

finalidades. Em particular, os solos podzólicos nos morros não são adequados para uso, apresentando riscos a erosão e deslizamento (UMK e Conder. 1991).

Os ecossistemas marinhos ainda estão predominantemente em estado de preservação. Nestes, as baias funcionam como pontos de ligação entre a região oceânica e costeira, podendo sofrer acumulações de

poluentes de dois vetores. Segundo a EIA/RIMA (1990), esses ecossistemas vem sofrendo constantemente, um grande aporte de poluentes através da extração e refino de petróleo, exploração de sal-gema e calcário, agrotóxicos de várias fontes da Região Metropolitana de Salvador e despejos dos portos como o TEMADRE.

Com relação a água do mar, esse sistema aquático tem sofrido constantes agressões da Refinaria Landulpho Alves e o Terminal Petrolífero de Madre de Deus, segundo Maia, M. et al (1992). Atualmente, os

hidrocarbonetos tantos os alifáticos como os aromáticos são considerados um dos maiores perigos para a flora e fauna aquáticas da ilha.

As conclusões dos Estudos de Avaliação por Maia, et al. (1992) indicam a existência de concentrações significativas de metais pesados nos organismos bentônicos, enquanto nos sedimentos foram extremamente baixos. Esses resultados aparentemente conflitantes são freqüentemente encontrados devido as influências da hidrodinâmica local. Maia afirma que o petróleo se constitui no principal poluente dessa área, através dos

processos da extração de óleo, do transporte de petróleo e seus derivados em navios tanques. No final, representa mais uma indicação do estado de estresse a estes sistemas naturais encontradas nas

proximidades de Madre de Deus são submetidos, seja através da indústria ou da urbanização.

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Madre de Deus representa um sistema híbrido que vem sofrendo bastantes pressões e tensões entre as principais forças antrópicas atuantes: cidade e indústria. A tendência ao crescimento apresentada pela

indústria e a expansão urbana causa ao município principalmente prejuízos ambientais. A percepção de que os sistemas naturais estão sendo degradados, torna relevante a interação urbano/industrial/ambiental,

subsidiando tomadas de decisões que devem atuar de maneira integrada, viabilizando um sistema de gestão ambiental híbrido para assegurar a continuidade dos habitats naturais presentes e do bem estar da

população.

Os seres humanos sem meio de sobrevivência ou regras sociais podem se tornar uma espécie devastadora, lançando mão do meio ambiente, sem nenhuma preocupação em preservá-lo visando apenas suprir suas

necessidades mais imediatas (Baranov, A. 1997). Assim, o desemprego pode ser considerado um dos maiores problemas que aflige o município e que consequentemente reflete no meio ambiente. O município

de Madre de Deus apresentava (em 1991) um quadro com 65% da população trabalhando formalmente, sendo que 26% recebia apenas um salário mínimo e só 3% recebia mais de 10 salários mínimos (PMD.

1997). O desemprego era ao mais citado preocupação sócio-econômico (27%) e foi destacado em 90% dos questionários como um problema prioritário. No município, pode-se perceber a dependência de empregos ligados diretamente a Prefeitura e não a indústria ali instalada ou até mesmo as empreiteiras que prestam serviços a indústria. Assim o sistema fica bastante instável flutuando entre a contratação e a dispensa de

funcionários, fato já ocorrido anteriormente. A segunda questão mais comentada nos questionário foi a falta de educação (15%) seguido por falta de participação política da comunidade (11%) e de lazer (11%). Isso reforça a idéia de um trabalho conjunto entre a indústria e os poderes públicos avaliando as necessidades

mais emergentes da comunidade.

O setor educacional se encontra numa situação alarmante, pois a maioria da população possui apenas instrução primária e só 1% possui formação superior completa (PMD. 1997). O município dispõe de cinco estabelecimentos de ensino pré-escolar, sete de ensino de primeiro grau e um de ensino de segundo grau,

além de dispor de uma pequena rede educacional de escolas particulares. O que se constata é que as escolas apenas cumprem um currículo básico estadual sem procurar preparar as pessoas para atuar

responsavelmente na ecossistema local ou para se enquadrar no meio produtivo local, ou seja a indústria. O que se propõe atualmente é um trabalho em conjunto entre a Prefeitura e a indústria com o objetivo de

melhorar a educação ambiental porém, não existe um retorno por parte da indústria, a Petrobrás, que deixa a cidade, segundo dados do Plano Diretor, sem qualquer garantia de oferta de empregos diretos (UMK e

Conder. 1991). É visível que a empresa oferece uma contra partida muito pequena para o município diante do grande impacto gerado pela sua presença. E fica evidente que nada adianta em realizar um profundo

trabalho de conscientização em uma população carente, que para sobreviver não tende a se preocupar com a saúde do sistema como um todo.

A revisão bibliográfica das técnicas atuais de gestão e dos estudos ambientais locais foi de fundamental importância, constituindo-se na ferramenta principal para caracterizar o quadro atual de Madre de Deus,

complementado com a percepção "in locu" através de uma série de visitas, imprescindíveis para aprofundar o diagnóstico. A elaboração do diagnóstico visou destacar as interações entre a cidade, indústria e meio ambiente, colocando em perspectiva os principais problemas inerentes a este contexto. Menos ênfase foi

dado à percepção ambiental das pessoas em contato com a indústria de petróleo porque já foi bem discutido no trabalho de Silva, G.H. (1996) .

Por ser uma pesquisa que aborda sistemas de interações sócio-ambientais foi necessário enquadrar o problema sob vários pontos de vista e comparar a situação encontrada em Madre de Deus com vários modelos e conceituações encontradas na revisão bibliográfica. Os princípios expostos nos trabalhos de

3.2.5 Social

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Hawken, P. (1993), Lyle J. T. (1994), e Alexander, C. (1977), influenciaram sobremaneira este estudo.

4.1 Ocupação energética: breve histórico

4.2 Gestões isoladas

A Ilha de Madre de Deus convive há séculos com uma realidade de exploração econômica, iniciada com os colonizadores portugueses. Historicamente, as ações dos ocupantes já degradavam os ambientes naturais em terras que foram divididas em sesmarias e vistas unicamente como fonte de riqueza através do plantio intensivo da cana de açúcar. Nesta época, a Ilha de Cururupeba, como era chamada a Ilha de Madre de Deus (PMD. 1996), fazia parte de uma grande Capitania de cinqüenta léguas cuja doação foi feita por D.

João III a Francisco Pereira Coutinho para exploração e colonização.

Pouco se conhece dos habitantes anteriores a este fato. Em 1559, os índios foram expulsos da Ilha de Cururupeba, pelo Governador Geral da Colônia, Men de Sá, por "praticarem canibalismo". A população que antes era formada apenas por indígenas, passou a ser composta quase unicamente por brancos e negros.

Instalou-se nas ilhas um sistema ocidental europeu que dominaria os processos de ocupação até hoje. Politicamente, este evento foi marcado pela adoção de Madre de Deus do Boqueirão como o novo nome da

Ilha.

Assim, a primeira fonte de energia, e riqueza a ser produzida foi a cana-de-açúcar plantada em todo o Recôncavo Baiano. A cultura organizada da cana-de-açúcar fez com que a ilha se tornasse em um ponto

estratégico na rota marítima resultando, em um crescimento da vila de Madre de Deus.

Os séculos de extração madeireira e produção agrícola exauriram os recursos naturais modificando fisicamente grandes áreas do Recôncavo e reduzindo sua produtividade. Com as primeiras marcas da

indústria, nesse último século, acelerou o ritmo de crescimento começou e iniciou os processos que caracterizam a ilha hoje. Na segunda metade da década de 50, a Petrobrás instalava-se em Mataripe,

município de São Francisco do Conde, com a Refinaria Landulpho Alves, começando a utilizar Madre de Deus, devido aos locais de grande profundidade oceânica, como o terminal marítimo para embarque e

desembarque de petróleo e derivados.

Na década de 60, houve uma corrente imigratória acentuada, motivada pela oferta de empregos da indústria petrolífera. Surgiram no município inúmeros problemas de ordem ambiental devido a ocupação territorial

desordenada. Inicialmente, houve a ocupação de áreas planas, evitando-se as áreas de encostas e as áreas encharcadas. Mas, devido a área restrita existente na Ilha, o adensamento levou a aterros em áreas de

mangue e ocupação de encostas, evidenciando um grave problema e as primeiras indicações de incompatibilidade entre os três ocupantes da ilha: cidade, indústria e meio natural.

Visando atender as exigências do progresso, a feição da ilha foi fortemente modificada. Ligada ao continente através de uma ponte, a população que ocupava poucas casas e em sua maioria composta de pescadores, artesões e veranistas, deu lugar a um crescimento urbano desordenado, e mudou o perfil sócio-econômico

dessa população.

É neste clima de crescimento populacional e acentuada deterioração da infra-estrutura urbana, administrado como distrito periférico da cidade grande, surgiu o desejo de emancipação que ocorreu em 13 de junho de

1989 dando origem ao município de Madre de Deus (PMD. 1996). Após a emancipação, o município recebeu atenção específica e direcionada através de um Plano Diretor, em 1992, e demais estudos mais tarde. O

poder de decisão ficou mais próximo e acessível à população nativa, que tinha interesse de ver o local mais

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4.1 Ocupação energética: breve histórico

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saudável.

Entretanto, a priorização de interesses individuais em detrimento dos coletivos, deixou como herança: um habitat desarticulado, um ocupação desordenada e uma visão estreita dos meios de participação de cada um

na formação do ambiente comum. Consequentemente, a ocupação territorial dos tempos remotos deixou para Ilha de Madre de Deus uma estruturação espacial e uma percepção ambiental de ampla significância

para a Ilha de hoje, constituindo-se em grandes desafios a serem superados.

Os processos de internacionalização e integração de economias e culturas se intensificam cada vez mais. Hoje, os padrões de qualidade ambiental de uma determinada empresa ou instituição não são mais

comparados aos padrões regionais ou até mesmo nacionais, pois agora a referência é mundial. Novas são as necessidades das organizações e consequentemente, novos serão os requisitos para se inserir num contexto

com recursos naturais e energéticos cada vez mais escassos e com comunidades conscientes desse fato. Por outro lado, não existem soluções padronizadas para resolver problemas ambientais, devido à

diversidade de situações sociais, políticas, jurídicas e ideológicas. É exatamente a luz dessa aparente contradição que se insere a discussão a respeito de gestão ambiental e planejamento urbano, entre as

tendências globais e o entendimento ambiental localizado e contextualizado.

Em Madre de Deus, os dois grandes participantes da estruturação ambiental são a cidade, representada pela prefeitura, e a indústria através da Petrobrás. Essa indústria utiliza técnicas globais de gerenciamento

ambiental como a ISO 14000 e uma política ambiental própria da empresa, efetiva em todo Brasil (Silva, G.H. 1996). No caso da Prefeitura, o gerenciamento ambiental está incluído no Plano Diretor, onde

problemas são identificados e áreas de uso de solo delimitadas, além de uma legislação ambiental que segue os padrões da Legislação Estadual.

O processo de globalização em paralelo com as mudanças nas percepções e o acesso a informações impõem grandes modificações tanto no ambiente de trabalho quanto nas vizinhanças. Porém, o perfil que está sendo desenhado pela sociedade internacionalizada, possui características que na maioria das vezes não capta a diversidade do contexto real. Os sistemas de convivência local desenvolvem maneiras únicas

para sua sobrevivência e naturalmente se orientam para o contexto e não em função de normas.

Com essa perspectiva, os planos de gestão ambiental podem ser meramente um mecanismo para a melhoria da imagem da empresa ou podem realmente compor o núcleo da reestruturação da empresa,

diante dessa situação. Existem, basicamente, três caminhos para o futuro de uma empresa em relação ao seu meio. O primeiro, apesar de algumas vezes incluir SGA’s no seu contexto, continua com metas de

atendimento à legislação vigente freqüentemente com soluções tipo ‘fim de linha’. Talvez não acreditem que há motivo para preocupação, pois o mercado e/ou o governo, com a introdução de novas tecnologias,

resolveriam automaticamente os problemas ambientais. O segundo acredita que os problemas podem ficar mais críticos do que estão e assim dão mais ênfase a idéia de melhoria continua e consideram a legislação simplesmente como um ponto de partida. O terceiro caminho, contempla grandes mudanças na postura das

indústrias, no sentido de diminuir radicalmente ou eliminar totalmente os impactos provenientes dos seus processos. Muitos dos proponentes da Ecologia Industrial como. Ayres, R. U. (1999) e Tibbs H. (1993)

seguem esta linha e tratam de explorar outros meios de interação entre organizações mercantis e entre organizações e comunidades.

A metodologia adotada pela maioria das indústrias tem como base a estrutura da Norma ISO 14001 e BS 7750 que representam respectivamente Sistemas de Gestão Ambiental formais. Em muitos casos, a norma

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4.2 Gestões isoladas

4.2.1 A Norma ISO 14.000

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ambiental assume o papel intermediando os interesses entre a empresa e o meio ambiente. As normas ambientais são uma resposta da indústria às pressões que vem surgindo desde a Eco 72 em Estocolmo e

representam um passo em direção ao desenvolvimento auto-sustentável. A ISO 14000 teve sua elaboração iniciada em junho de 1993 na Suíça, tornou-se semi-oficial em Toronto em maio de 1994 e hoje é a mais

utilizada nas Américas. A Norma tem como estrutura básica um sistema de gestão ambiental com os principais itens: requisitos gerais; política ambiental; planejamento; implementação e operação; verificação e

ação corretiva e por fim a análise crítica pela administração.

Essa estrutura organizacional estabelece uma serie de objetivos e metas que, em principio, amenizará ou até eliminará os impactos oriundos do processo de transformação de insumos em produtos. A norma não

identifica possíveis impactos por causa da diversidade desses, mas segundo Pereira, F.A. (1998) geralmente os impactos se enquadram em emissões atmosféricas, lançamento de efluentes líquidos, gerenciamento de resíduos perigosos, uso de matérias-primas e recursos naturais, incineração de resíduos e o destino de lodos

biológicos e lamas industriais. Uma vez identificados os possíveis impactos, a Norma procura orientar a empresa para que sistematize internamente soluções e melhorias contínuas que visem atingir um objetivo

economicamente viável.

Observa-se que mesmo identificando vários problemas ambientais, a eficiência dos resultados depende totalmente das metas estabelecidas pela empresa e que, apesar de cumprir toda a estrutura básica da

norma, não há garantias de melhorias ambientais (Pereira, F.A. 1998). Segundo Pringle, J. e Fitzgerald, M. (1998) a Norma ISO é um conjunto de sistemas gerenciais e não um padrão de perfomance. Portanto, uma

empresa não é realmente obrigadada a melhorar o seu desempenho ambiental. No final, existe a possibilidade de empresas serem indevidamente beneficiadas com o reconhecimento da certificação da ISO,

e a Norma ser usado como falsa testemunha de seu compromisso em proteger o meio ambiente.

Num nível mais amplo pode se observar que a ISO não leva em consideração alguns problemas ambientais de escala internacional. Por exemplo, para Hawken, P. (1993, p. 13) "os mercados, tão efetivos em

estabelecer preços, não são preparados atualmente para reconhecer os custos verdadeiros da produção de bens de consumo". Isto é, com ou sem um SGA, o mercado não distingue entre produtos conseguidos de maneira sustentável ou predatória. Custos associados a geração de resíduos ou a extração de recursos podem ser externalizados, baixando o preço final do produto, mas gerando custos em outros setores ou

épocas. Assim, quando a cidade tem que pagar para tratar água poluída pela indústria está assumindo os custos da empresa e subsidiando o preço final do produto. De maneira parecida, recursos naturais podem ser

explorados ou passivos ambientais gerados que terão que ser recuperados posteriormente.

A capacidade da empresa em estabelecer limites para si mesmo e voluntariamente assumir responsabilidades ambientais e custos se constitui numa outra dificuldade para a implantação da Norma. A ISO 14001 tentou solucionar esta dificuldade através da prática da melhoria continua que, em tese, pode levar as empresas, voluntariamente, a utilizar recursos naturais de maneira mais eficaz. Porém, como a

Norma "não exige qualquer requisito especifico para melhor performance ambiental" (Pringle, J. e Fitzgerald, M. 1998) e segundo Ridley, M. e Low, B.S. (1993) os indivíduos, para cooperarem, necessitam de motivos

que possam se reverter em benefícios diretos, a conclusão lógica é que as pessoas e as empresas dificilmente pagarão para o bem geral, especialmente quando os benefícios são abstratos e difusos como é o caso de benefícios ambientais. Portanto, o que pode ser esperado da maioria das empresas são as melhorias

ambientais que sigam os padrões estabelecidos pelo governo, adicionalmente a programas que tragam benefícios para a imagem da empresa no mercado consumidor.

Por outro lado, Samson P. (1997) afirma que existem razões para que as empresas sigam as políticas ambientais tais como: estratégia de marketing apoiado na demanda de consumidores "verdes", reação a regulação governamental e uma atitude da indústria em buscar inovação, eficiência e competitividade.

No final, a utilização de SGA’s na comunidade industrial não indica claramente que soluções reais serão trazidos à comunidade em questão. Frente as forças do mercado e a natureza humana, serão necessárias

outras ferramentas e mudanças em várias escalas organizacionais.

4.2.2 O Plano Diretor

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Atualmente, observa-se um questionamento sobre a utilização de Planos Diretores como ferramentas de planejamento e controle do uso do solo. Tradicionalmente, os planos quase sempre produziram diretrizes

generalizadas com a meta de congelar a cidade num estado ideal que não se aproxima da realidade dinâmica do ambiente urbano. Dessa forma, o planejamento aplica-se melhor em gestões mais participativas

e para planos mais localizados. Segundo o Roteiro de Desenvolvimento Urbano e Gestão Municipal do Ministério da Integração Regional (Santos A. et al. 1994), o planejamento ideal é aquele que exercita com qualificação crescente o planejamento participativo como instrumento avançado do desenvolvimento local,

que tem como base as expectativas comunitárias, projetando assim a cidadania plena a ser alcançada. Porém, existem muitas variações nos tipos de estudos que podem fazer parte de um processo de

planejamento tais como: estudos de saturação de mercados, corredores de vistas, ou a de percepção ambiental desenvolvidos por Lynch, K. (1960) que consiste na identificação daquelas partes da cidade que

possuem significância para os moradores e sugerindo mudanças compatíveis.

Para a elaboração de um Plano Diretor tradicional, realiza-se um diagnóstico da dinâmica de toda a área urbana, caracterizando áreas industriais, residenciais, áreas verdes e de lazer, fluxos de tráfego, visando

adequá-los as normas afim de evitar conflitos de uso e fomenta saúde humana e comércio.

Entretanto, essa interação proposta nos Planos Diretores geralmente se-restringe a um instrumento de controle de uso sem buscar soluções diversificadas e compatíveis com a realidade. No análise de Sampaio,

H. (1991) todas os grandes planos urbanísticos do Região Metropolitano de Salvador, incluindo o PLANDURB e o plano do CIA, acabam em "mitos de uma racionalidade perseguida". Essa racionalidade não é considerada completamente negativa se for qualificada e aplicada na proporção e escala certa: "A forma urbana como totalidade é uma idealização, logo um mito, que se por um lado gera situações ambíguas, as

vezes próximas da utopia, por outro lado permite ao planejamento um mínimo de racionalidade, na previsão e correção de rumos ao longo do tempo, daí a necessidade de um processo de planejamento que reveja

rumos, distorções e inadequações da forma idealizada." (Sampaio, H. 1991, p. 583). Portanto, o planejamento deveria se situar em algum ponto intermediário entre os planos rígidos sem aplicação prática

idealizados do passado e o abandono que caracteriza muitos municípios agora.

No plano ambiental, o processo de tomada de decisão tem que ser, por natureza, mais rígido e intensivo por causa da dificuldade de recuperação dos recursos naturais. A ocupação e uso adequado do solo é

fundamental para o crescimento urbano ordenado, porém, o que predomina são decisões baseadas em legislações ambientais elaboradas fora da realidade, desconsiderando os conflitos de interesses

normalmente encontrados nos municípios. Pacheco, R. S. et al.(1992, p. 50) mostram que os grupos sociais organizados buscam aumentar a responsabilidade coletiva para a gestão, a defesa de interesses particulares

ou assumem posturas defensivas contra a internalização dos custos ambientais, indicando a própria estruturação do corpo político como causa principal desses problemas. "O tratamento setorial das políticas

públicas característico da administração pública no Brasil, passa a ser questionado com a introdução da dimensão ambiental, que enfatiza as interfaces entre as várias políticas setoriais... Assim a luta se trava por

melhor posicionamento institucional e maior influencia nas discussões orçamentárias". Portanto, com conflitos internos, o setor político não está numa situação de estabelecer as articulações necessárias para enfrentar os grupos de interesse social e assim freqüentemente reage em conformidade com as pressões

que não representam o bem maior.

A comunidade, por outro lado não tem condições de por si só apresentar planos de controle ambiental, o que predomina são apenas seus próprios interesses no processo de tomada de decisão. Ridley, M. e Low, B.

(1993, p. 201) advertem que "o movimento ambientalista tem estabelecido para si um obstáculo desnecessário em ignorar o fato que as pessoas são motivadas pelos seus próprios interesses ao invés do interesse coletivo." E Baranov, A. (1997) concluiu que as pessoas começam a pensar em ecologia quando sua qualidade de vida é alta. Quando a vida é tênue simplesmente não é natural pensar em melhorar a sua qualidade e esta afirmação deixa claro que a população local também não pode agir independentemente.

O ponto de interação entre população e o meio ambiente deveria ser em tese o planejamento urbano e o processo educativo, elaborado pelo governo que representa a comunidade. Mas a realidade mostra a dificuldade encontrada em aplicar planos elaborados de forma intransigente. Por exemplo, a grande

diferença entre a legislação e o modo de ocupação, mostrando que o setor político tem conseguido apenas uma aproximação dos fatores complexos envolvidos. Em decorrência da falta da especificidade dos planos gerais, surgem as organizações não governamentais (ONG’s) que se esforçam em solucionar os problemas

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pontuais que afloram. Tentam representar a natureza nas decisões políticas, muitas vezes com sucesso, mas de fato participam apenas de maneira esporádica. Parece óbvio que, os instrumentos de gestão apresentam desdobramentos de ordem social, cultural e tecnológica tão complexos que o controle em escala local será

quase impossível.

Pode-se concluir que um planejamento torna se real e aplicável, à medida que tem uma base comunitária combinada com ações governamentais que priorizem controles e ações específicas que mereçam uma

coordenação maior. Diante do exposto, torna-se evidente que os primeiros passos no estabelecimento de qualquer sistema de gestão utilizado por instituições teriam que considerar o atendimento das necessidades atuais. Isto é, manter um certo controle dos acontecimentos urbanos e adaptar às novas formas de interagir

com as partes interessadas na comunidade em questão.

A situação ambiental do município de Madre de Deus é crítica, pois a prefeitura administra a sua comunidade com modelo de gestão urbano característico de uma cidade como qualquer outra, quase

ignorando a presença de instalações industriais, como o Terminal Marítimo da Petrobrás, uma das maiores empresas do País. Para a prefeitura a indústria atua em casos de eventualidades, momentos de conflito, e

geração de impostos.

Por outro lado, a empresa se estabeleceu sem a preocupação de interação e também viveu uma situação de isolamento administrativo. Apesar dos diversos estudos realizados na região, alguns inclusive elaborados

pela própria empresa, revelando a sua influência no município, pouco ou nenhuma mudança estrutural implementam na relação com a comunidade atuando apenas com alguns programas sócio-ambientais-

culturais, geralmente temporários. Em Madre de Deus é comum a ocupação de locais impróprios, indicando que existe uma grande diferença entre a legislação vigente e o comportamento dos moradores e até da

Petrobrás.

Ocorre em Madre de Deus uma série de conflitos que resultam tanto da aproximação física quanto dos sistemas de gestão isoladas que foram desenvolvidos. Um dos principais conflitos consiste na falta de

espaço. Não há como evitar esse conflito pois não existe mais espaço para crescimento. Tanto a comunidade como a Petrobrás tem crescido nos últimos anos e estudos indicam tendência ao aumento do crescimento populacional. Desse modo, o que se percebe claramente é a ocupação de locais impróprios,

resultam em conflitos de interesse de uso. O poder público, diante desse quadro de ocupação, não consegue controlá-lo. Este problema decorre de uma gestão ineficaz que não levou em consideração a probabilidade

de crescimento tanto para a indústria como para a população.

A própria natureza dos processos industriais ligados ao petróleo estabelece limitações no que se refere ao uso do solo. Esses processos não se adaptam bem ao espaço compartilhado, pelo perigo que representam as atividades desenvolvidas pela indústria: armazenamento, estocagem e transporte marítimo e rodoviário diário de material inflamável. Ainda assim, muitas áreas que poderiam ser de uso múltiplo, ficam excluídas da cidade. Percebe-se, então, a dependência do município aos planos e estratégias adotadas pela empresa.

O Plano Diretor atual do município, nem o sistema gerencial da Petrobrás detalham ações concretas e conjuntas no sentido de ordenar o uso do solo.

4.2.3 Madre de Deus e Sistemas Administrativos

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Um outro conflito bastante crítico para o município é o convívio permanente com o perigo das atividades da Petrobrás. Existe riscos não somente para os funcionários que trabalham diretamente em atividades de alta periculosidade mas também os moradores vizinhas. Não há indicação de que a população tenha adquirido

noções básicas de como proceder num eventual acidente com proporções além dos limites da fábrica e alcançando a comunidade. Isto é demonstrado nas respostas dos questionários, onde os riscos de acidentes são percebidos somente pela freqüência do acontecimento ao invés do perigo previsto. Deve-se notar que, derramamentos são registrados com freqüência, enquanto incêndios e explosões foram pouco e quase não comentados. Deve ficar claro também que a proximidade das instalações industriais para as residências é a menor possível, havendo casos em que residências estão imediatamente abaixo dos dutos que transportam carga inflamável. A ineficiência do plano diretor para este item fica completamente evidente, visto que não se comenta nada a respeito a nível de soluções ou propostas para serem colocados em prática. Do mesmo modo, o sistema de gestão da indústria não deixa o perigo evidente para a comunidade, e se existe alguma parte que trata do assunto não está amplamente divulgado para a população. É curioso que se saiba que a

cidade não apresenta nenhuma brigada de segurança, nem por parte da empresa nem por iniciativa da prefeitura.

Outros pontos críticos no município tratados sem planejamento intrasistêmico são da poluição atmosférica e por efluentes líquidos. Os resultados obtidos através dos questionários demonstram que a qualidade do ar

constitua-se em um dos itens mais polêmicos. O mau cheiro foi citado como incômodo, seguido por poeira, por mais da metade das respostas dos entrevistados. As primeiras indicações dos estudos de Tavares, T.

(1996) também apontam para problemas de poluição de ar. Em uma outra cidade ou município, é provável que os níveis de poluição apresentados em Madre de Deus seriam suportados pela população sem tanta

polêmica, porque constatou-se estarem dentro dos padrões estabelecidos. Porém, a proximidade das residências das instalações industriais no caso específico de Madre de Deus torna os moradores mais

vulneráveis.

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Os efluentes líquidos são citados pela comunidade como problema, detectada principalmente na poluição de praias e a morte de peixes. O esgoto urbano é lançado diretamente nas praias. Os impactos causados pela indústria já foram diagnosticados por muitos estudos realizados sobre a contaminação de mariscos e peixes da região (Tavares, T. 1996). Para o município, seu compromisso é tratar dos esgotos domésticos, enquanto

que a empresa deve comprometer-se com a preservação dos ambientes aquáticos naturais adotando técnicas de tratamento de seus efluentes industriais e de esgoto da fábrica. Os problemas estão sendo

resolvidos de maneira isolada, cabendo a cada uma das partes o que normalmente é estabelecido. Esta seria mais uma oportunidade para se encontrar soluções simbióticas entre o município e a indústria.

A geração de renda para o município limita-se aos projetos sociais e culturais imediatos. Não existe um investimento a longo prazo para formação profissional da sua população jovem que facilitaria atuarem

diretamente ou indiretamente na própria indústria aí instalada. Não existe programa de qualificação profissional oferecido pelas empresas para a comunidade. A geração de renda se resume a empregos

adquiridos em órgãos públicos para melhoria do município, eventos culturais e de lazer, campanhas para prevenção de alguma doença, onde apenas uma parcela consegue salários melhores e a sua maioria ficará com a menor ou nenhum renda. No geral, a indústria e outras empresas presentes no município oferecem

poucos empregos aos moradores locais, e quando se consegue, são para funções com salários baixos. Para os altos cargos, seguramente não se encontra pessoas com qualificação adequada no município.

Os conflitos existentes são sempre agravados quando os habitantes não percebem a existência de problemas ambientais decorrente da atividade indústria ou quando não consideravam como problemas que pudessem prejudicá-los. Conforme respostas obtidas nos questionários aplicados, poucos habitantes estão cientes dos impactos ambientais que a ilha sofre e dessa forma não saberiam identificar quais os fatores

diretos que podem afetar suas vidas, muito menos através do conceito abstrato de disfunção ambiental. Em Madre de Deus, a preocupação constante da população é a instalação do sistema de saneamento básico que causa impactos evidentes nas praias. O que constitua um problema para os habitantes ainda está bastante restrito aos problemas de infra-estrutura básica e isto tende a desviar a atenção da seriedade da situação

atual.

Lançamento de Esgotos na Praia

Diante do exposto, torna-se evidente que os primeiros passos no estabelecimento de qualquer sistema de gestão utilizado por instituições, além do atendimento das necessidades atuais, ou seja para manter o

controle nos acontecimentos urbanos, é investir em educação técnica e ambiental para elevar a consciência da comunidade. A concepção de uma estrutura de interligação entre o município e a indústria é

imprescindível para começar reestruturar uma nova cidade-indústria. Desenvolver um modelo de cooperação entre os setores envolvidos e saber quais são as características e meios fundamentais de comunicação. Saber eliminar as barreiras ao processo de cooperação e contextualização é o início dessa nova etapa.

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus5. MÉTODO DE ANÁLISE

5.1 Coleta dos dados

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Essa monografia propõe-se a avaliar a contextualização do sistema híbrido de cidade, indústria e meio ambiente na Ilha Madre de Deus, identificando os problemas e propondo soluções para alguns casos onde os

instrumentos de Gestão e Planejamento vigentes se mostram inadequados.

A coleta dos dados visou delimitar os problemas existentes sintetizados nas seguintes questões:

l Qual a situação atual de interação entre cidade, indústria e meio ambiente? l Quais os instrumentos atuais utilizados na gestão da ilha? l Qual é a percepção da comunidade diante do convívio com a indústria? l Quais são os conflitos principais existentes na ilha? l Como os estresses desse sistema híbrido podem ser minimizados ou previstos?

As respostas dessas perguntas forneceram dados interessantes e peculiares. Embora a situação de proximidade urbano/industrial seja bastante específica, podem ser identificados padrões comuns a outras

realidades urbanas.

A principal fonte de dados foi da revisão bibliográfico, porém também foi necessário o auxílio da enquete, uma vez que nos pareceu fundamental buscar as percepções e até soluções dos moradores e trabalhadores

da Ilha de Madre de Deus. Desenvolveu-se um questionário (Anexo 01) que não foi aplicada de forma aleatória ou extensiva porque a abordagem utilizada, no curto tempo disponível, foi de reduzir a população

entrevistada mas escolher informantes representativos de vários setores e localidades da Ilha. Assim, foram entrevistados representantes dos seguintes grupos sociais: funcionários públicos, pescadores,

adolescentes/estudantes, desempregados, domésticos, veranistas, agentes sociais, setor comercial, setor industrial secundário e funcionários do Petrobrás. Espacialmente, entrevistados foram escolhidos de todas as

localidades que compreendem o Município de Madre de Deus incluindo as duas faces principais da Ilha.

Foram escolhidos vinte informantes com tempos de moradia relativamente altos. Os tempos de moradia foram sempre entre oito e trinta e cinco anos com uma extrema baixa de três anos e uma superior de quarenta e quatro anos. Os informantes foram acompanhados, obtendo-se um bom grau de confiança relativo ao entendimento das perguntas pela população. As pessoas foram encorajadas a colocar suas

constatações pessoais e possíveis soluções para iniciar o hábito da participação comunitária. O conteúdo do questionário foi elaborado baseando-se nas características locais, associado-se diferentes aspectos da vida

urbana e os impactos ambientais.

Todos os dados obtidos em campo ou na revisão bibliográfica foram analisados e integrados com o objetivo de embasar recomendações de mudanças no sentido de aperfeiçoar o sistema de gestão contextualizado. Inicialmente, abordou-se os problemas em escala macro em áreas de influencia somente parcialmente no

âmbito desse município. Em seguido, detalhou-se a problemática no âmbito local.

Os dados gerados e integrados não puderam ser aplicados aos modelos já existentes devido a peculiaridade do contexto estudado, nem tão pouco desenvolveu-se um modelo específico para a área estudada, por fugir

do escopo desse trabalho.

Entretanto, os dado obtidos serviram para trazer à tona a problemática da Ilha e abrir uma discussão mais abalizada quanto ao funcionamento das gestões vigentes.

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus5. MÉTODO DE ANÁLISE

5.2 Resultados obtidos

5.2.1 Aspectos Físico-ambientais

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Fig. 4: Fatores que geram inconvenientes ou riscos à população através do meio físico relacionados ao ar:

Fig. 5: Fatores que geram inconvenientes ou riscos à população através do meio físico relacionados a água:

Fig. 6: Fatores que geram impactos ao solo:

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Fig. 7: A percepção dos principais impactos nos habitats terrestres:

Fig. 8: A percepção dos principais impactos nos habitats aquáticos:

5.2.2 Aspectos Biológicos

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Fig. 9: A percepção dos principais impactos ao conforto ambiental da cidade quanto a poluição sonora:

Fig. 10: A percepção dos principais impactos da poluição visual:

Fig.11: A percepção dos principais impactos socio-econômicos:

5.2.3 Aspectos de Conforto Ambiental

5.2.4 Aspectos Sócio Econômicos

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Fig.12: A percepção dos principais riscos e acidentes para a população:

O levantamento de dados indica que os fatores responsáveis pela geração de inconvenientes ou riscos à população através do ar (Fig. 4) são:

50% para o mal cheiro evidenciando um incômodo perceptível relevante. 35% é atribuída a poeira que, associada a 10% de fumaça, pode acarretar problemas respiratórios (pouca evidenciada na pesquisa). Além

5.2.5 Riscos Ambientais

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus6. SÍNTESE

6.1 Interpretação dos dados

6.1.1 Aspectos Físico-ambientais

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disso, estes resultados indicam que um incômodo freqüentemente pesará mais forte na percepção dos moradores do que um perigo pela presença cotidiana que exerce.

Os fatores responsáveis pela geração de inconvenientes ou riscos à população relacionados ao água (Fig. 5) são:

A poluição das águas das praias (25%), é o incômodo mais relevante, seguido por lançamento de esgoto doméstico (24%), mortandade de peixes e prejuízos ao lazer que se eqüivalem a 15%. A água consumida evidencia, segundo os depoimentos, odores (8%) e coloração indesejável (5%). Mais uma vez, o que se

destacou foram os impactos que afetam o cotidiano dos moradores.

Os impactos relacionados ao solo através do meio físico (Fig. 6) são:

Solo descoberto e a pavimentação em excesso, ambos com apenas 11% e assim mais evidenciados pela população. A compactação do solo também é constatado como processo de conseqüência negativa para a comunidade (5%). Elevado percentual (73%) da população entrevistada demonstrou um desconhecimento

dos impactos ambientais sobre o solo que as atividades produtivos locais provocam.

O levantamento de dados indica que os fatores responsáveis pela geração de impactos aos habitats terrestres locais (Fig. 7) são:

A falta de abrigo (25%) sendo o principal impacto relevante para as entrevistadas, logo seguido por 21% para falta de áreas de preservação e a falta da presença de animais silvestres. 11% dos entrevistados também cita o processo de introdução de espécies exóticas como impactante. Estes dados indicam que existe uma

proporção relativa urbano/natural que já chegou a limites excessivos. Um percentual notável (18%) de entrevistados indica que não existe impacto algum ao habitat terrestre, demonstrando como área naturais já

foram relegadas a segundo plano. O fato que o desmatamento não foi escolhido em nenhum momento é provavelmente decorrente de um certa estabilidade territorial vigente na parte interna da Ilha.

O quadro descrito sobre o estado do habitat aquático (Fig. 8) é bastante simplificado. Principalmente é demonstrada uma preocupação com o processo de pesca predatória (43%) destacando a importância na

comunidade desse recurso em exaustão. 30% das citações nas entrevistas indicam que existe fontes excessivas de poluição que afetam o habitat aquático e um outro 20% são preocupados com a destruição

dos mangues. Comparando com a falta de citações de desmatamento (Fig. 7), ficou evidente que os vetores de expansão urbana agora se concentram nestas áreas ecologicamente importantes.

A poluição sonora (Fig. 9) não pesa muito nas respostas dos entrevistados com 63% indicando nenhuma fonte de poluição sonora como médio ou muito incomodo. Das fontes de ruído citados, 16% são provenientes de tráfego de carros e 16% de tráfego industrial pesado enquanto 5% dos processo industriais. Dessa forma pode ser conjeturado que o problema de poluição sonora se concentra na faixa central no entorno do acesso

principal da ilha.

As fontes relevantes de poluição visual (Fig.10) são:

As linhas e dutovias (28%) são claramente a principal fonte de poluição visual e segundo os entrevistadas sua presença realmente marca a ilha. Várias outras fontes têm peso como a falta de paisagem (21%) e o aspecto das instalações industriais (17%). Dois outros fatores negativos citados, não independentes, são o

aspecto das casas e a presença de obras ambos com 13% das citações. Por ultimo 8% para a falta de limpeza.

6.1.2 Aspectos Biológicos

6.1.3 Aspectos de Conforto Ambiental

6.1.4 Aspectos de Sócio-Econômicos

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Os fatores responsáveis pela geração de inconvenientes ou impactos à população relacionados aos aspectos sócio-ecnômicos (Fig. 11) são:

O desemprego é o mais citado incomodo sócio-econômico (28%) e o fator que mais consistentemente aparece nos questionários (93%). O seguinte é a educação inadequado e assim Madre de Deus enquadra

plenamente no cenário nacional a respeito dessas duas preocupações. Porém, em contraste ao quadro nacional, a falta de Postos de Saúde não foi identificado como problema relevante, indicando um

atendimento satisfatório nesse âmbito. Outros fatores de destaque são a falta de espaço para lazer (11%) e a falta de participação política (11%). O fato que a ilha tem uma área reduzida ressalta a importância que

espaço livre deve tomar e também identifica uma contradição: a participação publica deve ser até facilitado numa área restrita. Outros incômodos em evidência são a aparência da cidade (10%), falta de marcos

históricos (5%) falta de habitação e esgotamento (5 e 8% respectivamente).

O que mais marca a percepção dos habitantes são os derramamentos/vazamentos (25%) devido à freqüência da ocorrência desses (Fig 12.). A presença dos produtos tóxicos também é preocupante (18%).

Outros riscos, alguns até bem mais perigosos do que derramamentos tiveram menos citações. A estocagem de produtos químicos (9%) foi tão citado quanto acidentes de trânsito. Danos de embarcações e riscos provenientes de efluentes (7%). Explosões, apesar da gravidade desse risco compõe somente 5% das

citações.

Diante desses resultados pode ser esclarecido que, no geral, a presença da industria é marcante para os habitantes. Porém, a falta de conhecimento a respeito de riscos ambientais faz com que vários danos sérios

passam despercebidos enquanto outros fatores as vezes relativamente menos prioritários tomam fortes proporções na percepção comunitária.

Certos fatores são destacados que somente a população conhece e dificilmente técnicos de fora perceberiam como o incomodo causado pela poeira e o perigo de tráfego. Enfim, as observações feitas por informantes chaves são fundamentais para o desenvolvimento de novos modelos de gerenciamento e qualquer sistema

proposto deveria trata de incluir e instruir os habitantes locais.

O estabelecimento de qualquer sistema de gestão adotado por instituições deveria levar em consideração, a proteção do bem comum e público. Ridley, M. e Low, B (1993) segundo Hardin indica que o bem comum pode ser protegido de duas formas: privatização ou regularização. Se uma hipótese econômica for aceita, trabalhos de gestão ambiental não podem ser resumidos apenas em discussões em torno de ocupação de

áreas verdes, ou em preocupações constantes com saneamento básico. Uma das principais finalidades dos procedimentos de gerenciamento híbrido deve ser direcionada ao aumento de senso de auta-proteção das

pessoas e empresas. A implantação de um sistema de gestão ambiental híbrido deve levar em consideração a inserção de sistemas no contexto econômico do mundo global e do Brasil. Diante do quadro apresentado para Madre de Deus que é bastante crítico, as decisões relacionadas ao planejamento devem começar a

dirigir-se para a base dos problemas e com perspectiva de retorno a longo prazo.

Uma perspectiva ampla das condições organizacionais não se resolve com a privatização e a regularização. Nem a privatização nem a regularização por se só fornece as ferramentas organizacionais ou o quadro

motivacional completo. As barreiras a ação cooperativa existem em vários níveis de planejamento e em âmbitos de controle. Neste momento, esse trabalho tratou de identificar os principais rumos de

estabelecimento de sistemas de gestão inovadoras. Decorrente disso, pode identificar que será sempre

6.1.5 Riscos Ambientais

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus6. SÍNTESE

6.2 Eliminando barreiras

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necessário a combinação de alguns ou até de todos, dos seguintes fatores:

1. Custos e Retorno 2. Legislação 3. Educação Ambiental 4. Estruturação Comunitária. 5. Sistemas Gerenciais e Intercomunicação.

No comércio, normalmente as empresas têm motivos econômicos para repassar os custos ambientais, enquanto que as pessoas buscam comprar os produtos mais baratos. O impasse criado tem como

conseqüência a degradação dos recursos naturais e dessa forma, os sistemas e atos altruísticos serão sobrepassados pelas determinações do mercado. Este é um problema em escala internacional, mas

representa o problema principal e que não deve ser esquecido. Para um município, isso pode implicar em tomadas de decisão bastante difíceis. Por exemplo, se a economia local for organizada para que as

empresas assumam todos os custos associados ao produção, ficarão em desvantagem em relação a uma outra área que não as exigiu e provavelmente não permanecerão neste município, buscarão áreas com menos exigências e o município sofrerá perdas em diversos setores, como na sua arrecadação fiscal.

Hawken, P. (1993) identifica dois tipos de custos que precisam ser incorporados aos preços finais dos produtos. Primeiro são os custos dos danos reais causados por um sistema de produção em um outro

sistema, pessoa ou local. Segundo, são os custos para gerações futuras ligados à exaustão de recursos naturais. Assim, os sistemas de avaliação de impactos devem ser cada vez mais eficazes para avaliar os

preços desses impactos e tentar repassar para os produtos de forma mais justa possível.

Para adotar um sistema que aproxime as realidades do comportamento do ser humano, o quadro motivacional não pode estar apenas relacionado aos custos da transformação de recursos em bens de

consumo, mas também a percepção de retorno. Os bens comuns devem apresentar uma escala que possa ser percebida, os regulamentos e estruturas governamentais devem ser compatíveis com essa realidade.

Nesse âmbito, a privatização de uma área pode fornecer o incentivo ao manejo correto. O proprietário pode imaginar que o retorno virá num tempo determinado, só que se aplicado de maneira isolada, a privatização

pode não levar a um retorno, mas a própria destruição do bem. Considerando a pesca, um exemplo típico de um bem comum. Sem o seu controle instala-se a pesca predatória que leva a destruição do bem. Pode ser privatizada, dando licença para que cada pescador controle um ponto de pesca especifico com sistema de

rotação (Ridley, M. e Low, B. 1993). Também pode ser legislado com uma série de cotas e controles, épocas de fechamento etc. Existem vantagens para os dois sistemas e provavelmente devem ser instalado em conjunto. A questão do entrosamento comunitário é fundamental e a escala local contribui para ter auto-

fiscalização e percepção do retorno direto.

A divisão do bem comum em partes individuais ou comunitárias extremamente restritas ainda está limitada pela percepção ambiental dos envolvidos. Na cidade de Madre de Deus, além de poder-se perceber com relativa freqüência a presença da pesca predatória, também obseva-se casas que apresentam quintais e

áreas cimentadas, quando poderiam serem utilizados como áreas produtivas ou simplesmente para manter o habitat natural. Fica claro que, tanto no nível do bem comum como no nível bem mais próximo do cidadão

tem pouca percepção ambiental do contexto em que vive e do tipos de impactos que podem atingi-los.

A legislação ambiental tem sido o principal instrumento para estabelecer limites e controlar as ações de uma comunidade local. Durante um período de transição, o bem comum deve ser protegido através da

implantação e divulgação dos regulamentos urbanos. Assim, ao se criar diretrizes, é necessário a sua divulgação em linguagem e forma popular.

O município de Madre de Deus dispõe de uma legislação ambiental muito similar a legislação estadual e

6.2.1 Custos e Retorno

6.2.2 Legislação

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realmente sofre com uma apresentação técnica que limita sua disseminação. Pelo fato da cidade possuir problemas pouco comuns a maioria dos demais municípios, alguns dos problemas ficam sem a devida cobertura legal. Independente da legislação local, é importante ressaltar que não somente os infratores

devem ser punidos pelas leis dos gestores públicos. Também é possível beneficiar diretamente aqueles que plantam, preservam, ou trabalham de maneira eficiente.

A legislação e educação ambiental devem andar lado a lado, pois enquanto a educação ambiental tenta esclarecer e tornar as pessoas mais conscientes para os benefícios do ambiente saudável, a legislação deve

garantir a proteção e permanência desse ambiente.

Existem algumas linhas de pensamento que abordam as mudanças necessárias no sistema educativo para incluir os conceitos ambientais. De modo geral, existem aqueles que destacam pequenas mudanças no

sistema produtivo com a finalidade de chegar ao "desenvolvimento sustentável" tão amplamente discutido em seminários e encontros mundiais. Outros acham necessária uma mudança a nível de percepção mental e espiritual do ser humano representados pelas pessoas tipo "ecologia profunda" como Devall, B. e Sessions,

G. (1985) ou a Capra, F. (1984). No entanto, sabe-se que a questão da percepção/educação do ser em relação ao seu meio é o fator principal, pois é através da consciência que ocorre a modificação do meio. De

fato, é preciso trabalhar o ser de maneira total e pode-se conseguir isto através da aprendizagem constante e contextual.

O processo educacional aplicado na comunidade deve ser permanente e dirigido, de forma que desenvolva e aperfeiçoe a capacidade de cada cidadão, ajudando-o a crescer e a contribuir efetivamente para o

desenvolvimento da cidade como um todo. Isso pode ser feito através da fábrica aberta e cursos que tratem de assuntos como ecologia aplicada, geração de renda e treinamentos de procedimentos em casos de

acidentes e emergências.

Uma preocupação fundamental para a educação ambiental é tratar com a percepção de benefícios abstratos, visto que as pessoas demonstram posturas estreitas referentes a seus interesses (Ridley, M. e Low, B. 1993).

Desta forma, é interessante o uso de práticas que as tornem capazes de perceber além de seus desejos e necessidades imediatas. A cidade que valoriza os bens comuns e os sistemas naturais tem mais chance de

criar uma percepção mais abrangente em seus cidadãos.

O diálogo entre as principais partes envolvidas na comunidade, incluindo as organizações não governamentais, habitantes, empresas e o governo é fundamental e faz parte do processo educativo pois, é

mister que processos de negociação e resolução de conflitos sejam conhecidos.

Como mencionado acima, a própria forma urbana pode fazer parte do processo educativo. Isso deixa claro que as ruas e praças não formam substrato neutro por convivência humana. Por outro lado, está ficando

mais claro que, no sistema econômico vigente, as decisões técnicas estão sendo marginalizadas em favor das decisões econômicas restritas e assim a relação urbana/humana está sendo relegada (Pacheco, R.S. et

al. 1992).

Como no caso dos ‘custos ambientais totais’ levantados por Hawken não é para se esperar mudanças nesse quadro se não fossem encaixadas no próprio sistema mercantil. No caso, tem que existir incentivos para estudar e estabelecer formas urbanas positivas e socialmente adequadas e existir penalidades para a o

desprezo da forma urbana.

No final, é imprescindível saber quais são as estruturas urbanas fundamentais que permitem a comunicação entre populações e com os sistemas naturais. Alexander, C. (1977) e Hough, M. (1984) entre outros, já iniciaram este levantamento, porém será necessário que sejam enquadrados em estruturas econômicos

atuais.

6.2.3 Educação Ambiental

6.2.4 Estruturação Comunitária

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O sistema de gestão ambiental mais adotado pelas indústrias, a ISO 14001, pode ser considerado como uma norma que dá ênfase aos meios de comunicação, quando deixa claro que: "com relação aos seus aspectos

ambientais e sistema de gestão ambiental, a organização deve estabelecer e manter procedimentos para: a) comunicação interna entre vários níveis e funções da organização; b) recebimento, documentação e

resposta a comunicações pertinentes das partes interessadas externas." (ISO 1400. 1996).

Entretanto, no caso de Madre de Deus não é suficiente o simples recebimento de reclamações comunitárias ou anúncios isolados de programas ambientais. A troca de informações deveria aproximar o sistema da

empresa e a comunidade. O aumento de contatos formais entre comunidade, empresa e governo é fundamental para a criação de redes sistemáticas de soluções de problemas que podem resultar na

diminuição de erros que surgem pela falta de informações. Os sistemas de SGA, se não fazem parte de um programa mais pró-ativo, podem ser desconhecidos e assim levar a duas visões distintas muito comum no

Brasil: a visão expressa pelo sistema e a atuação no dia a dia que forma a base da criação de danos ambientais. E é através de intercomunicação que empresas adquirem a sensibilidade em relação às

características locais. Conclui-se que, uma das mais importante vertentes do SGA deveria ser o trabalho comunicativo.

Um elevado grau de contato entre empresas e comunidade invariavelmente leva à discussão de qual é a função de uma instituição privada na comunidade. Neste ponto, volta-se à perspectiva de Hawken, P. (1993) que a simples geração de dinheiro é completamente inadequado para nosso mundo moderno e mais ainda

para uma cidade-indústria. É verdade que em muitos pontos as organizações estão mais preocupadas com o seu desempenho econômico do que com a qualidade das relações com sua comunidade e seu contexto

físico. Todavia, tendências para a nova economia parecem prestes a inverter essa realidade mas, sem fugir muito do sistema econômico atual (Hawken, P. 1993). Então, fica a questão de quem antecipará as

mudanças e qual será o papel dos sistemas gerenciais nessa nova estrutura. Essa nova consciência não se tornará uma realidade com a criação de novas áreas de preservação ambiental mas com um profundo entendimento de nós mesmos. Portanto, além da preocupação com os impactos ambientais, os SGAs

deveriam incluir em seus processos analíticos, o próprio sistema mercantil.

Diante da discussão dos processos e sistemas apresentados até então, Madre de Deus vive hoje uma situação onde não existem soluções padronizadas que possam ser apresentados num trabalho simplesmente

dissertativo. Qualquer município deve procurar adequar seu processo de tomada de decisões para desenvolver uma estrutura organizacional especifica para aquele local. Não obstante, em Madre de Deus é muito mais difícil conciliar tantos problemas gerados em fontes bastante diferenciadas para então adotar e

modelar sistemas gerenciais tradicionais.

O capítulo anterior deixou claro que, para estabelecer um sistema ideal localizado, é necessário atuar em vários setores, eliminado as barreiras que existem tanto no âmbito político, econômico e social, deixando aberto o caminho para fornecer soluções. É fundamental começar a tarefa com os problemas que existem em escala macro, antes de propor mudanças do sistema. Apesar dessa dificuldade, os conflitos principais

decorrentes dessa situação única existente em Madre de Deus e identificadas anteriormente, foram revistos, iniciando uma discussão mais concreta das diversas maneiras com que a sociedade organizada da ilha pode

trabalhar em conjunto nesse contexto híbrido.

7.1 Mudança de Posturas e Procedimentos

7.2 Redes

6.2.5 Sistemas Gerenciais e Intercomunicação

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus7. PROPOSTAS PARA UM SISTEMA HÍBRIDO

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7.3 Níveis de Planejamento

7.4 Soluções no Espaço

7.5 A Reestruturação Econômica

7.6 Novas Inter-relações

A realização de todo um sistema proposto dependerá de um processo de mudança de postura gerencial das entidades envolvidas para se tornarem capazes de perceber peculiaridades e semelhanças existentes dentro do contexto em que estão inseridas, requerendo uma tomada de consciência para convivência neste espaço

comum. No final, todos os conflitos existentes passam a serem visto sob a ótica industrial e urbana.

l Revisão dos sistemas

E necessário uma revisão tanto no Plano Diretor quanto no SGA da Petrobrás visando a adoção de ações conjuntos. O Plano Diretor do Município e o SGA da Petrobrás poderiam ter características e estruturações

parecidas ou até idênticas.

l Educação Técnico e Ambiental

Investir em educação técnica e ambiental para elevar a consciência da comunidade e sua efetiva participação na resolução de problemas deve começar nas fases iniciais da educação local. Não existe impedimento ao município tomar um novo rumo no currículo geral das escolas. Cursos como: ecologia

aplicada, gerenciamento ambiental, química industrial, energias alternativas, etc. devem ser incorporadas aos poucos no sistema educativo.

l Percepção ambiental

Além da mudança no setor de educação formal diversos "workshops", palestras e programas podem ser instituídos que tratam de reverter o quadro evidenciado nos questionários. A importância do solo, as

estruturas básicas de habitat terrestre e o entendimento de impactos ambientais são entre as questões que podem ser discutidas diretamente com a comunidade, ampliando a percepção ambiental local.

l A Contextualização dos Problemas

O estabelecimento de redes de solução será iniciada com a identificação dos problemas locais em vários níveis de escala. Cada problema identificado deve ser estudado e fichados de forma transparente com a

devida divulgação. Este sistema não somente deixaria clara a postura tomada pelos poderes, mais também

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus7. PROPOSTAS PARA UM SISTEMA HÍBRIDO

7.1 Mudança de postura e procedimentos

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus7. PROPOSTAS PARA UM SISTEMA HÍBRIDO

7.2 Redes

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identificaria todas as ligações com setores de influencia.

l A Identificação das Interligações

Devem ser identificadas as principais ligações entre os mais diversos segmentos implantados na ilha, visando a criação de tabelas de causas e efeitos múltiplos e ramificadas. Este sistema assim destacará as

conexões entre cidade e indústria e entre escalas macro, meso, e micro.

l O Processo

Recapitulando, o processo de estabelecimento de redes de soluções envolva a identificação de problemas, conflitos ou impactos; a elaboração de soluções e procedimentos com fundamentos; a contextualização de

problemas através de um banco de dados e a divulgação destas soluções em linguagem acessível. (Alexander, C. 1977)

As duas principais vantagens da adoção de redes de soluções são primeiramente, a ligação flexível entre escalas e a segunda, a previsão e correção de rumos ao longo do tempo. O fato do sistema gerencial ser desestruturado em partes semi-independentes permite o aperfeiçoamento de soluções e a sua divulgação

sem a mudança do sistema como um todo.

l Ações Governamentais

Numa rede existe a possibilidade de estabelecer diferentes âmbitos de controle a depender da escala do problema em questão. Certos problemas identificados numa rede terão raios de impacto mais amplos como a poluição do mar. Estes problemas que merecem uma coordenação maior seriam abordados não somente

pelo município e a industria mais também governos estaduais e até nacionais.

l Planejamento Com Base Comunitária

A maior parte das questões abordadas numa rede de soluções teriam caracter local. Com a divulgação possível num sistema semi-independente as comunidades podem identificar, trabalhar, e formular soluções para os problemas que interessam. O estabelecimento de reuniões entre a comunidade e representantes da

industria permitiria a busca de soluções únicas mas conjuntas.

Dado uma abordagem de tomada de decisão que é em parte decentralizada e participativo. Podem ser identificados alguns problemas principais imediatos que devem faz parte de uma rede de soluções e devem ser discutidos pelas partes interessadas. A identificação e a gestão híbrida dos problemas identificados seria

feito em parceria pela prefeitura, Petrobrás e uma mobilização comunitária. Cada grupo deveria incluir formalmente na rede de soluções o compromisso de fiscalizar e melhorar a ilha como se fosse parte de seu

sistema interno. A Petrobrás e a comunidade seria beneficiada convivendo na busca de um equilíbrio

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus7. PROPOSTAS PARA UM SISTEMA HÍBRIDO

7.3 Níveis de planejamento

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus7. PROPOSTAS PARA UM SISTEMA HÍBRIDO

7.4 Soluções no espaço

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dinâmico e a elevação da qualidade de vida comunitária.

l Disputa pelo Espaço

Identificou-se que a disputa pelo espaço existente na ilha somente poderia ser minimizado com a restrição ao crescimento populacional, particularmente, pela imigração. Para isso, os terrenos novos poderiam ser

taxadas de modo que seus valores fossem elevados. Mais importante, seria controlar a ocupação clandestina, através de censos detalhados e cadastramento, estabelecendo um controle rígido de terrenos

baldios e regras de crescimento interno dos lotes, inibindo suas divisões. Apesar das dificuldades em compatibilizar áreas de interesse da indústria petrolífera com a comunidade, algumas delas, de domínio da

Petrobrás poderiam prestar-se ao uso múltiplo como áreas de lazer ou reflorestamento com ênfase em recuperação de ecossistemas.

l Periculosidade

Os conflitos que envolvem diretamente os processo industriais também podem ser tratados em conjunto. No caso especifico da periculosidade, a empresa pode adotar um Plano de Contingência além dos limites da

fábrica. Alem da sua divulgação na rede deve ser estabelecido treinamentos e ensino dos regulamentos das normas de saúde e segurança através de implantação de programas efetivos de Educação Ambiental. O

reconhecimento de que a cidade e a indústria formam um conjunto indivisível pode resultar na aceitação de um sistema de segurança atípico de cidades comuns. Um programa de treinamento pode fazer parte dos programas de ensino e programas comunitários, incluídos a identificação de rotas de fuga e medidas de

primeiros socorros.

l Emissões

Devido as incógnitas que ainda cercam os efeitos adversos da exposição a baixo nível e tempo de exposição prolongada (Ayres, R.U. 1999), a emissão de partículas poluentes e o despejo de efluentes líquidos na ilha

deveriam ser minimizados visando obter-se níveis de emissão abaixo dos estabelecidos na legislação estadual e nacional. Para isso, a empresa poderia investir em pesquisa constante para o aperfeiçoamento e a implantação de tecnologias limpas. Tanto a empresa quanto o município poderia investir na formação de pesquisadores através de parcerias com a universidade, a promoção de cursos tecnológicos e bolsas de

estudo orientadas especificamente para os problemas da indústria local.

l Simbioses Industriais

A visão da ilha como um sistema único também permite a formação de simbioses industriais. Além de trocas de materiais e energias entre a comunidade e a Petrobrás pode ser promovidos programas que trazem

outros empreendimentos que utilizem os resíduos da Petrobrás e da cidade.

l Energias alternativas

A longo prazo, deveria ser considerado de que maneira a Petrobrás e a ilha irão enfrentar o fim da tecnologia baseada em petróleo. Pode se imaginar a ilha como um grande laboratório de produção energética seja em tecnologia de petróleo ou seja em tecnologia solar ou outros. Seria até possível a implantação de um núcleo

de pesquisa em energias alternativas.

l Diversificação

Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus7. PROPOSTAS PARA UM SISTEMA HÍBRIDO

7.5 A reestruturação econômica

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Caberia a todas estabelecer um plano estratégico de diversificação das empresas e da ilha como um todo. A diversificação das empreendimentos na ilha e da própria Petrobrás representará uma base de estabilidade

contra as mudanças do mercado. A mudança da enfoque da Petrobrás da simples extração para uma abordagem tecnológica mais ampla permitirá investimentos no município em outras áreas que agora estão

inviáveis como na área de turismo. O plano de saúde e meio ambiente (PMD, 1997) sugere a pesquisa visando a possibilidade de beneficiamento das algas marinhas á nível industrial.

l Geração de Renda

Além de resolver problemas pontuais o sistema híbrido deve envolver questões mais generalizados como a geração de renda, requerendo a implantação de um programa de treinamento e capacitação. Poderia ser

formadas cooperativas que desenvolvem trabalhos numa linha compatível com o novo perfil da ilha, fomentando a especialização da população e atraindo interesse para o local.

l Marketing

A investimento e promoção de uma nova imagem para a ilha é fundamental. Por exemplo, Madre de Deus poderia promover-se como um centro tecnológico nacional em vez de pólo de extração. Aos poucos poderia ser montadas escolas modelos e especializadas que daria um outro impulso para a ilha e diminuiria a relação dependente do município num único recurso com vida útil limitada. Um outro exemplo se encontra no Plano Diretor (UMK e Conder, 1991) que reforça a idéia de mudar a imagem da cidade para uma cidade portuária.

De qualquer forma, é necessário investimentos iniciais em áreas culturais e econômicos para começar as mudanças de imagem necessárias. Ideais facilmente implantadas como a "fábrica aberta" e um museu da

Petrobrás que mostre todo o processo da indústria como uma atração poderiam ser um primeiro passo.

l Sistema Único

O desenvolvimento de uma rede de soluções permite que cada setor envolvido trata de seus problemas de maneira pelo menos entendido pelos outros setores. Numa hipótese mais abrangente seria o

estabelecimento de um sistema único de solução de problemas acessível a todos e até sistemas de educação e treinamento aplicado tanto na cidade quanto na fábrica. A padronização da resolução de

problemas e conflitos fortaleceria o entendimento entre as partes. Além disso, a fiscalização mútua seria facilitado. A relação entre instituições publicas, particulares e a população seria de gestores parceiros de um

único sistema em vez de atores antagônicos lutando por uma área restrita.

l Cooperação

A concepção de uma estrutura de interligação entre a comunidade a prefeitura e a indústria teria base numa rede de soluções. Porém poderiam ser desenvolvidos outros modelos de cooperação entre os setores

envolvidos. O que é fundamental é a necessidade de ver comercio e indústria no contexto de seu papel maior, de gerador do "bem estar geral da humanidade através de serviço, engenho criativo e filosofia

ética" (Hawken, P. 1993)

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7.6 Novas inter-relações

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A superação dos problemas existentes na ilha de Madre de Deus requer um investimento de tempo, energia, ética e criatividade visando trazer resultados a longo prazo. Mudanças dependerão da passagem por várias

etapas, iniciado por um fundamental redirecionamento de perspectiva seguido pela eliminação de barreiras e finalmente a instituição de soluções fundados nas etapas anteriores mas centrados numa rede de soluções

interdependentes.

Cada um dos atores no cenário de Madre de Deus terá que se reformular de alguma maneira para adaptar as condições atípicas da Ilha e frente a gravidade da soma de impactos num ecossistema confinado e numa população que vive ‘dentro da fábrica’. Aqui, soluções típicas não fornecem o respaldo necessário para

manter a saúde e bem estar nem da comunidade nem do meio ambiente.

Dessa maneira, o município terá que adotar posições firmes e decisivas para tratar com a falta de espaço e todos as suas repercussões. Mais importante será um esforço sem limites que capacite a população para

adotar sua posição efetiva num sistema democrático, mas bastante delicado. Além disso, cabe principalmente a Prefeitura a eliminação de barreiras relatadas acima.

As empresas terão que buscar uma interação ambiental saudável, seja na forma de controle de poluição ou através da preservação e estabelecimento de áreas verdes. Performance ambiental da industria e de todos deve ultrapassar todo os padrões estabelecidos. Mais do que tudo, é necessário que haja um entendimento dos sistemas de interação existentes nas comunidades antrópicas e naturais e a busca de se encaixar no

mercado externo estabelecido enquanto cumpre um papel social maior.

Os moradores também devem comprometer-se para viver de acordo com os condições locais. Deve ser entendido que morar em Madre de Deus envolverá uma esforço a mais, tanto a nível de participação social

quanto a conformação com as regras de convivência e o tempo investido na sua comunidade.

Enfim, seja na criação de uma rede de interação, num plano de gestão ambiental, ou o estabelecimento de um grupo comunitário onde nível de exigência deve ser o mais alto possível. O desenvolvimento de soluções

para a coexistência pró-ativa e sadia entre cidade, meio ambiente e indústria devem servir de modelo conceitual para outras localidades e futuras ações. Neste momento, este trabalho pretende delimitar os

problemas e barreiras macros, elevar o tom da discussão e constituir um passo inicial ao estabelecimento de um sistema híbrido de gerenciamento. Uma vez estabelecido o sistema de gerenciamento híbrido, crê-se que

será formado a estrutura e os meios de convivência harmônica entre comunidades, indústrias e sistemas naturais.

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Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de Deus8 CONCLUSÃO

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Gestão Ambiental de uma cidade-indústria: o caso Madre de DeusANEXO 01

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