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0 7º PRÊMIO PREVIC-ABRAPP DE MONOGRAFIAS DA PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR TEMA 1: Criação de mecanismos para o gerenciamento de expectativas GERENCIANDO AS EXPECTATIVAS DOS PARTICIPANTES: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS GERENCIAIS EM UM PLANO DE BENEFÍCIO ALVO Autores: Danilo Barbosa Eduardo Lima João Gonçalves Vitor Souza Junho 2017

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7º PRÊMIO PREVIC-ABRAPP DE MONOGRAFIAS DA PREVIDÊNCIA

COMPLEMENTAR

TEMA 1: Criação de mecanismos para o gerenciamento de expectativas

GERENCIANDO AS EXPECTATIVAS DOS PARTICIPANTES:

A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS GERENCIAIS EM UM

PLANO DE BENEFÍCIO ALVO

Autores:

Danilo Barbosa

Eduardo Lima

João Gonçalves

Vitor Souza

Junho 2017

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TEMA 1: Criação de mecanismos para o gerenciamento de expectativas

TÍTULO: Gerenciando as expectativas dos participantes: a utilização de ferramentas

gerenciais em um plano de benefício alvo

Resumo

O contexto econômico e social observado no Brasil e em diversos países tem levado

a indústria de fundos de pensão a enfrentar desafios para disponibilizar aos seus

participantes planos de benefícios que correspondam às suas expectativas.

O presente trabalho tem como escopo apresentar características de um modelo

alternativo de plano de benefícios: o plano de benefício alvo. Partindo de conceitos

aplicáveis aos fundos de pensão brasileiros, enfatiza-se o arcabouço teórico que

levaria à modelagem de um plano de benefícios com esses aspectos.

Foi realizado estudo de caso simulando um plano que teria mecanismos essenciais

para o gerenciamento das expectativas, tanto dos patrocinadores quanto dos

participantes. Os principais pilares desse plano seriam a definição de um retorno

alvo para os gestores de investimentos e um benefício alvo para os participantes.

Mostra-se, por meio de simulações econométricas, que seria possível aumentar a

previsibilidade em relação aos benefícios auferidos para os participantes submetidos

a esse regime, que poderia ser uma alternativa aos atuais planos de benefício

definido e de contribuição definida.

Palavras-Chave: Plano de benefícios, benefício alvo, retorno alvo.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 4

2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 5

2.1. Plano de benefício alvo ......................................................................................... 6

2.2. Melhores práticas para definição de um retorno alvo (benchmark) ...................... 9

2.3. Fronteira Eficiente .............................................................................................. 12

2.4. Índice de Sharpe ................................................................................................ 14

2.5. VaR .................................................................................................................... 15

2.6. Cadeia de Markov .............................................................................................. 16

2.7. Função Cópula ................................................................................................... 16

3. METODOLOGIA ................................................................................................. 17

3.1. Modelagem do cadastro de participantes do plano ............................................ 17

3.2. Seleção e modelagem dos ativos presentes na simulação ................................ 24

4. ESTUDO DE CASO – MODELAGEM DE UM PLANO DE BENEFÍCIOS ALVO 34

4.1. Ferramentas de controle ..................................................................................... 34

4.2. Metodologia dos planos de maximização do benefício alvo ............................... 37

4.3. Simulação da estratégia de benefício alvo e uso de ferramentas de controle .... 41

4.4. Resultado das simulações .................................................................................. 43

5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 47

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 50

ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Riscos de uma carteira............................................................................13 Gráfico 2 – Fronteira Eficiente....................................................................................14 Gráfico 3 – Quantidade de participantes por gênero.................................................19 Gráfico 4 – Quantidade de participantes por tempo de contribuição (delta)..............20 Gráfico 5 – Simulação de crescimento salarial..........................................................21 Gráfico 6 – Fluxo de salários dos participantes X Fluxo de retorno dos invest..........22 Gráfico 7 – Exemplo de fatoração de Cholesky.........................................................30 Gráfico 8 – Correlações das séries de retorno...........................................................30 Gráfico 9 – Simulação de Monte Carlo com Cholesky...............................................31 Gráfico 10 – Simulação da geração de retornos........................................................33 Gráfico 11 – Correlações das séries de retornos utilizando o método de cópulas....33 Gráfico 12 – Participação das contribuições e da rentabilidade na reserva de poupança dos participantes........................................................................................35 Gráfico 13 – Relação do crescimento salarial, tempo de contribuição e retorno dos investimentos..............................................................................................................37 Gráfico 14 – Distribuição dos percentuais do último salário dos participantes (estratégia simulação 1).............................................................................................45 Gráfico 15 – Distribuição dos percentuais do último salário dos participantes (estratégia simulação 2).............................................................................................46 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Esquema ilustrativo de funcionamento do plano de benefício alvo hipotético....................................................................................................................38 Figura 2: Estratégia Central do Target Plan...............................................................39 Figura 3: Estratégia benefício alvo – Corrigir a reserva por ajuste na contribuição do participante.................................................................................................................40

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Figura 4: Estratégia benefício alvo – Corrigir a reserva por ajuste no tempo contribuição do participante........................................................................................40 Figura 5 – Simulação 1...............................................................................................41 Figura 6 – Simulação 2...............................................................................................42

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1. INTRODUÇÃO

Faz alguns anos que discussões sobre envelhecimento populacional, problemas

econômico-financeiros, baixas taxas de juros e mudanças no perfil dos participantes

dos fundos de pensão têm merecido atenção de diversos países, constituindo-se em

desafio para a sustentabilidade dos sistemas previdenciários no mundo.

Nesse contexto, um dos principais problemas enfrentados pelos fundos de pensão

está associado ao fato de que os participantes em idade ativa não têm conseguido

poupar o suficiente para atingir um nível desejado de benefício para constituição de

uma aposentadoria satisfatória.

A ocorrência desses problemas tem estimulado a realização de mudanças nos

planos de benefícios, com o objetivo de permitir que os recursos das instituições

sejam capazes de suportar os compromissos previdenciários assumidos.

Um plano sustentável deve disponibilizar, em quaisquer circunstâncias, benefícios

apropriados aos seus participantes, baseado em uma sólida compreensão a respeito

dos fatores de riscos e dos custos envolvidos no processo de constituição das

reservas.

As discussões a respeito da criação de alternativas aos planos de benefícios

tradicionais giram em torno da adoção de modelos capazes de maximizar a renda

dos participantes, ajustando os níveis de contribuição, alocação de investimentos e

formas de pagamento dos benefícios.

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O objetivo deste trabalho é pesquisar o estado da arte e as principais características

do plano de benefício alvo, através da realização de um estudo de caso no qual é

apresentado um modelo teórico de um plano dessa modalidade, que poderia ser

adotado no mercado brasileiro de Entidades Fechadas de Previdência

Complementar (EFPC).

O presente estudo está dividido em cinco capítulos. Além da introdução, no

referencial teórico são abordados aspectos relevantes sobre o plano de benefício

alvo, as principais referências sobre o assunto e a descrição das teorias utilizadas.

Na sequência, é apresentada a metodologia empregada no estudo de caso e os

resultados da modelagem teórica de um plano de benefício alvo. Por fim, a

conclusão sintetiza os principais pontos abordados, analisa os resultados obtidos e

indica sugestões de pesquisas futuras sobre o tema.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Nas últimas décadas, as turbulências dos mercados têm colocado em xeque a

capacidade dos fundos de pensão em disponibilizar aos seus participantes, de forma

adequada, planos de benefícios sustentáveis. Ao mesmo tempo, um significativo

movimento de transição de modalidades de planos de Benefício Definido (BD) para

planos de Contribuição Definida (CD), mais sensíveis às oscilações de mercado, tem

sido observado em diversos países.

Atualmente, os planos de benefícios se diferenciam, entre outros fatores, pela

responsabilidade dos riscos dos investimentos. Nos planos BD, essa obrigação cabe

ao patrocinador, enquanto nos planos CD, essa tarefa é atribuída aos participantes.

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O declínio dos planos BD está associado, entre outros motivos, à percepção dos

patrocinadores de que a combinação da alta volatilidade dos mercados com um

ambiente de baixas taxas de juros representa custos significativos para os fundos de

pensão.

Há que se considerar que os planos CD também apresentam dificuldades

relevantes, como o baixo grau de educação previdenciária, a influência das taxas de

administração sobre os recursos do plano, o nível de contribuição dos participantes

e as decisões estratégicas de alocação de ativos.

2.1. Plano de benefício alvo

No cerne das discussões a respeito das mudanças nos planos de benefícios um

novo conceito surgiu, sendo conhecido por plano de benefício alvo (target benefit

plan), que combina fundamentos de planos BD e CD. Os planos de benefício alvo

estão entre as opções que têm sido adotadas como solução para os problemas de

sustentabilidade dos planos de benefícios tradicionais.

Segundo Gros, Hall e Lockhead (2013), um plano de benefício alvo possui

contribuições fixas, a definição de um nível de benefício alvo e uma política de

benefícios/financiamento que determina métodos de mensuração para o atingimento

dos benefícios em função da sua variabilidade.

De acordo com informações do Instituto Canadense de Atuários (CIA)1, de um dos

países onde esse tipo de plano é adotado, um plano de benefício alvo agrega tanto

1 Report of the Task Force on Target Benefit Plans – Canadian Institute of Actuaries (June 2015).

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riscos econômicos quanto riscos demográficos, com uma meta predefinida de renda

de aposentadoria (benefício alvo), em que a responsabilidade financeira do

empregador se limita ao pagamento de contribuições e as projeções de benefícios

dos participantes podem ser periodicamente ajustadas, para cima ou para baixo, em

relação ao alvo original.

Nesse tipo de plano, o benefício de aposentadoria projetado é estabelecido através

de cálculo como ocorre em um plano BD e as contribuições são determinadas com

base no benefício alvo, sendo realizados testes regulares que mostram o grau de

atingimento dos percentuais projetados, com a realização de ajustes para assegurar

o equilíbrio financeiro do plano.

Um dos principais aspectos em relação a esse tipo de plano, segundo o CIA, diz

respeito à tolerância ao risco. Assim como em um plano CD, cada participante de um

plano de benefício alvo é responsável pelo risco assumido. Os participantes podem

suportar uma parte do risco através de um aumento limitado das contribuições,

porém a maioria dos riscos é sustentada por ajustes nos benefícios.

Em um plano de benefício alvo as contribuições do patrocinador são calculadas por

meio de uma fórmula predefinida, como ocorre em um plano CD, embora seja

possível que as contribuições variem dentro de um intervalo relativamente limitado e

predefinido. Dessa forma, um resultado direto da limitação da responsabilidade do

empregador é que os participantes sejam os potenciais tomadores dos riscos do

plano.

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Esse modelo de plano é semelhante ao plano CD, mas com uma importante

diferença. No plano CD tradicional os riscos são assumidos por cada participante

individualmente, enquanto que em um plano de benefício alvo os riscos são

coletivos, sendo os ativos financeiros reunidos em um fundo coletivo, onde os riscos

são compartilhados.

Os elementos básicos que constituem um plano de benefício alvo são descritos pelo

CIA, conforme itens a seguir:

• Taxa de contribuição: uma das principais características dos planos de benefício

alvo diz respeito à definição das regras referentes à taxa de contribuição do plano,

de forma que os benefícios são derivados do que pode ser oferecido por esse nível

de contribuição.

• Nível de benefício pretendido: uma vez que o nível de contribuição é definido, um

benefício alvo é escolhido, com base no que é determinado como sendo viável, dada

a tolerância ao risco das partes interessadas. Os benefícios reais podem diferir do

alvo e o próprio alvo pode ser redefinido de tempos em tempos.

• Política de benefícios/financiamento: conjunto de regras que regem a avaliação

periódica dos benefícios em relação ao objetivo (ou o ajustamento do próprio

objetivo). A definição dessa política é fundamental para o desenho e para a

manutenção dos planos de benefício alvo, fornecendo transparência para que as

partes interessadas identifiquem o equilíbrio entre os custos, os riscos e as

estratégias de gestão dos riscos.

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2.2. Melhores práticas para definição de um retorno alvo (benchmark)

Uma etapa importante para a modelagem de um plano de benefício alvo envolve a

definição de um retorno alvo, que funcionará como uma meta de rentabilidade, ou

benchmark, a ser perseguida pela gestão dos investimentos do plano.

Nesse sentido, uma das atividades do trabalho envolveu pesquisas sobre guias e

normas que devem ser observados pelas Entidades Fechadas de Previdência

Complementar para a elaboração de Políticas de Investimentos, definição de

benchmarks e demais aspectos relacionados.

Foram consultadas entidades como a Superintendência Nacional de Previdência

Complementar (PREVIC), o Conselho Monetário Nacional (CMN), a Comissão de

Valores Mobiliários (CVM), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE), além de estudos acadêmicos relacionados ao assunto.

Um ponto importante que deve ser considerado na criação de um benchmark é

levantado no Guia PREVIC de Melhores Práticas em Investimento (artigo 46), e no

Guia de Melhores Práticas em Fundos de Pensão (artigo 35). Esses artigos

ressaltam que a Política de Investimentos deve ser orientada pelo passivo atuarial,

sendo elaborada com o objetivo de compatibilizar a necessidade de rentabilidade e o

fluxo financeiro com a projeção de pagamento dos benefícios previdenciários.

O Guia de Melhores Práticas em Fundos de Pensão destaca ainda (artigo 36) que

as metas dos segmentos de aplicação devem ser determinadas por fatores como:

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A modalidade do plano de benefícios;

O grau de maturação do plano de benefícios;

As características e especificidades das obrigações do plano de benefícios;

O cenário macroeconômico.

Considerando os fatores apontados e a orientação pelo passivo atuarial, que

comumente é corrigido pela taxa atuarial/índice de referência, temos que qualquer

benchmark deve perseguir retornos superiores à referida taxa/índice, visando o

equilíbrio dos planos de benefícios.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico publica guias de

boas práticas para as mais diversas indústrias, dos quais destacam-se dois

especificamente voltados para os fundos de pensão. O “OECD guidelines on

pension fund asset management”, que trata de recomendações para a gestão de

ativos e o “OECD guidelines for pension fund governance”, que tem foco em

aspectos relacionados à governança dos fundos.

Os dois guias da OCDE discorrem sobre o estabelecimento de benchmarks para

investimentos de fundos de pensão. O primeiro relata que a política de investimentos

deve conter metas de rentabilidade apropriadas aos objetivos dos fundos, à luz de

sua responsabilidade fiduciária e das condições de mercado, enquanto o segundo

ressalta que as medidas de performance estabelecidas devem ser objetivas e

regularmente avaliadas. Além disso, recomenda-se que os benchmarks sejam

revisados periodicamente, a fim de garantir sua consistência com os objetivos dos

fundos de pensão.

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Na literatura sobre o estabelecimento de benchmarks e métricas de mensuração do

desempenho de investimentos foram encontradas orientações semelhantes às

retratadas na legislação.

O estabelecimento de benchmarks por investidores institucionais foi estudado por

Blake e Timmermann (2002). No artigo, os autores levantam pontos importantes

como a dificuldade ou facilidade para os gestores atingirem os benchmarks

definidos, a frequência de divulgação desses índices (mensal, trimestral), bem como

a aderência ao passivo atuarial dos fundos de pensão.

Rudolph e Sabat (2016) discorrem sobre os desafios de se estabelecer um

benchmark para portfólios de longo prazo em fundos de pensão. Segundo os

autores, o benchmark de uma carteira em fundo de pensão deve ter o objetivo de

otimizar o valor dos benefícios no longo prazo.

Os autores analisam ainda a importância de se buscar um excesso de retorno em

relação aos benchmarks estabelecidos, sempre de forma alinhada aos limites de

risco desejados. Segundo eles, existem três elementos essenciais para o

estabelecimento de benchmarks:

Um objetivo claro;

Governança;

Uma metodologia apropriada para a confecção do benchmark.

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Os fatores apontados na revisão bibliográfica serão levados em conta quando do

estabelecimento do retorno alvo para o plano de benefícios modelado no presente

estudo.

Em suma, a definição de um benchmark adequado não deve ter viés ou correlação

com um determinado grupo de ativos dentro de sua classe, sendo indicado que ele

replique, da forma mais fiel possível, todo aquele grupo que se pretende mensurar.

Os principais instrumentos empregados na construção do modelo teórico de um

plano de benefício alvo foram Fronteira Eficiente, Índice de Sharpe VaR, Cadeia de

Markov e Função Cópula, cujas características são apresentadas na sequência do

trabalho.

2.3. Fronteira Eficiente

O conceito de Fronteira Eficiente deriva da Teoria de Markowitz, também conhecida

como Teoria da Carteira. Segundo Markowitz (1952), o risco de uma carteira não é

dado pela média dos riscos dos ativos individuais, tendo em vista que é preciso

considerar a correlação existente entre os ativos.

A Teoria de Markowitz mostra que na medida em que um investidor diversifica sua

carteira, escolhendo ativos com correlação negativa, ele consegue reduzir, ou até

eliminar o chamado risco diversificável (risco não sistemático). A razão pela qual a

diversificação melhora a relação risco e retorno é que, na medida em que novos

ativos são adicionados a uma carteira de investimentos, o risco total é reduzido.

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O risco diversificável é aquele que pode ser eliminado por meio da diversificação da

carteira. Já o risco não diversificável é decorrente de questões sistêmicas, como

crises e problemas econômicos.

Gráfico 1 – Riscos de uma carteira

Fonte: Elaboração própria

Outro importante aspecto relacionado ao conceito de Fronteira Eficiente diz respeito

ao Princípio da Dominância, que Luce e Moraes Jr. (1979) definem como a

preferência pelo investidor racional por um investimento que proporcione o maior

retorno esperado para o mesmo nível de risco ou um menor nível de risco para

o mesmo retorno esperado.

A aplicação do Princípio da Dominância sobre a seleção de carteiras determina um

dos pontos principais da Teoria de Markowitz, conhecido como a Carteira de Mínima

Variância, que representa a escolha do portfólio de menor desvio-padrão entre todas

as combinações possíveis.

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Gráfico 2 – Fronteira Eficiente

Fonte: Elaboração própria

Dessa forma, a seleção de todas as combinações de ativos que possuem o menor

nível de risco (desvio-padrão) para qualquer retorno superior ao da Carteira de

Mínima Variância permite a construção da Fronteira Eficiente de Markowitz.

2.4. Índice de Sharpe

Segundo Sharpe (1966), o Índice de Sharpe (IS) é uma medida adimensional que

tem por objetivo avaliar o desempenho de um ativo ou carteira de ativos através da

relação entre o risco e o retorno, com o objeto de verificar se o retorno obtido condiz

com os riscos assumidos.

A fórmula básica do índice é a seguinte:

Onde:

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rsr é a taxa de juros sem risco;

E(rc) é o retorno esperado do ativo;

σc é a volatilidade do ativo.

O princípio básico do cálculo do IS é que quanto mais alto for o seu valor, maior será

a eficiência do ativo ou da carteira em relação ao risco assumido. Nesse sentido,

tendo determinado quais as carteiras ótimas, o investidor deve apenas selecionar

aquela que proporciona a relação risco-retorno mais adequada às suas demandas

pessoais.

2.5. VaR

Jorion (1997) define VaR (value at risk) como a maior (ou pior) perda esperada de

um investimento dentro de determinados período de tempo e intervalo de confiança.

De acordo com o autor, o VaR deve ser tratado como procedimento essencial, mas

não deve ser utilizado de forma isolada para controlar o risco. Segundo ele, o ideal é

que a utilização do VaR seja complementar a outras formas de limites e controles,

como funções independentes de gerenciamento de risco.

O uso mais geral do VaR consiste em fornecer uma medida padronizada de risco

que possibilite a comparação do risco entre vários mercados. Uma outra aplicação

dessa ferramenta consiste em fornecer a uma instituição uma ideia geral da pior

perda que esta pode sofrer.

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2.6. Cadeia de Markov

De acordo com Chung (1967), uma Cadeia de Markov é um processo estocástico no

qual seu estado futuro depende apenas do seu estado atual. Dessa forma, diferente

de outras técnicas estatísticas, na Cadeia de Markov os estados futuros não sofrem

influência dos estados passados.

Na prática, um processo de Markov Xt pode ser desenhado da seguinte maneira:

dado o valor de Xt, os valores de Xs para t<s não são influenciados pelos valores

de Xu para u<t. Dessa forma, não haverá alteração do comportamento futuro no

processo de Markov, em função do conhecimento sobre seu passado, desde que

seu estado atual seja conhecido.

2.7. Função Cópula

Segundo Nelsen (2006), uma função Cópula é usada como método geral para

formular distribuições multivariadas de maneira que diversos tipos de dependência

possam ser representados. A integração desses fatores não é realizada de forma

direta, sendo necessário estudar como eles podem ser associados e qual seria a

relação de dependência entre eles.

As Cópulas expressam a dependência em uma escala de quantil, que é útil para

descrever a dependência de resultados extremos. Cada Cópula de distribuição

conjunta contém a descrição dos acontecimentos marginais dos riscos e suas

estruturas de dependência. Pode-se dizer que a Cópula é uma maneira de se isolar

as estruturas de dependência das variáveis.

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3. METODOLOGIA

3.1. Modelagem do cadastro de participantes do plano

Na construção das simulações, que foram realizadas com o software Matlab 2015b,

e no desenvolvimento de ferramentas de acompanhamento do plano de benefício

alvo foi utilizado um cadastro sintético de participantes. Essa base, formada por

indivíduos fictícios, foi criada utilizando-se algumas variáveis aleatórias e processos

estocásticos para descrever características dos participantes, tais como:

Idade;

Gênero;

Evolução salarial;

Reserva inicial de poupança;

Tempo de contribuição.

Algumas premissas foram utilizadas para nortear a construção do cadastro sintético,

dentre as quais destacam-se:

A idade mínima de aposentadoria, para ambos os gêneros, foi fixada em 65

anos;

A aposentadoria ocorre somente por idade e, no mínimo, com 30 anos de

contribuição;

A tábua atuarial utilizada é a AT-2000 suavizada;

A meta atuarial na fase de aposentadoria é de 5% a.a. (taxa real) para todos

os participantes;

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As faixas salarias foram geradas de forma “ad hoc” e estão descritas na

tabela 1.

Tabela 1 – Descrição de cargos e salários fictícios

Código Cargo Salário Dotação no

patrocinador

0 3.500,00 200

1 3.570,00 200

2 3.641,00 200

3 4.005,00 60

4 4.085,00 60

5 4.167,00 60

6 4.250,00 40

7 4.336,00 40

8 4.769,00 40

9 4.817,00 20

10 4.865,00 20

11 4.914,00 20

12 5.405,00 10

13 5.432,00 10

14 6.519,00 10

15 8.475,00 5

16 16.000,00 5

Fonte: Elaboração própria

Os salários dos participantes são reais e estão apresentados em unidade fictícia,

sem necessidade do preenchimento de todos os cargos durante o ciclo de

simulações.

A definição dos aspectos referentes às idades dos participantes, tempo de

contribuição, evolução na carreira e o valor de reserva inicial estão descritos nos

próximos itens.

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3.1.1. Idade

A idades dos participantes seguem a seguinte equação:

Sendo x uma variável aleatória inteira que segue uma distribuição de Bernoulli2

(Papoulis,2002) .

Gráfico 3 – Quantidade de participantes por gênero

Fonte: Elaboração própria com o software Matlab

O processo de construção da base de participantes gerou mais indivíduos do sexo

masculino do que do sexo feminino.

3.1.2. Tempo de contribuição necessário para aposentadoria (delta)

Para a modelagem apresentada no capítulo 4 foi utilizada uma faixa de contribuição

entre 30 e 35 anos e o tempo de contribuição foi estimado com base em uma

variável aleatória inteira que segue uma distribuição uniforme (Papoulis,2002).

2 Distribuição discreta de espaço amostral {0,1}, que apresenta valor 1 quando a probabilidade de sucesso é p e valor 0 quando a probabilidade de falha é q=1-p.

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Gráfico 4 – Quantidade de participantes por tempo de contribuição (delta)

Fonte: Elaboração própria com o software Matlab

Os dados gerados mostram relativa uniformidade na incidência de participantes por

delta, com ligeira maioria de indivíduos com tempo de contribuição de 35 anos.

3.1.3. Evolução na Carreira

A modelagem da evolução de carreira foi gerada por meio de um processo de

Poisson3 (Doob,1953). A utilização deste modelo foi feita considerando que durante

a carreira do participante existem promoções (mudanças nos níveis salariais). Para

3 Processo estocástico a tempo contínuo que conta o número de eventos de interesse até um tempo t.

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simplificar o processo foram consideradas somente mudanças positivas, ou seja,

nesta simulação não ocorre redução de salários.

A equação a seguir representa este processo:

Onde, Snt é o nível de salário do funcionário n em t, Wnt é o nível de salário do

funcionário n em t - 1 e g(x,t) uma variável aleatória contínua em tempo discreto, que

segue uma distribuição de Poisson ρ(λt). A frequência máxima das mudanças nos

níveis de salário (λt) foi estimada levando como base a dotação do patrocinador

(tabela 1) e o tempo máximo de contribuição.

Gráfico 5 – Simulação de crescimento salarial

Fonte: Elaboração própria com o software Matlab

O crescimento salarial foi calculado considerando um tempo restante de carreira

igual para todos os participantes. Para manter o caráter heterogêneo da simulação

foi considerado como salário inicial o valor no ponto do delta de cada um dos

participantes.

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3.1.4. Reserva inicial

A geração de diferentes deltas implica que cada participante no instante t (início da

simulação) apresenta reservas iniciais distintas. Essas reservas foram calculadas

utilizando a diferença entre o tempo máximo de contribuição e o delta. A evolução da

reserva no período anterior à simulação é atualizada pelo crescimento salarial e pela

taxa mínima de retorno para garantir o percentual do último salário (benefício alvo).

Gráfico 6 – Fluxo de salários dos participantes X Fluxo de retorno dos investimentos

Fonte: Elaboração própria com o software Matlab

A reserva inicial é formada pela soma dos fluxos das contribuições capitalizadas

pelos retornos da carteira dos ativos. Para este trabalho foi utilizada uma taxa fixa

mínima necessária para garantir um benefício com percentual determinado em

relação ao último salário e o tempo de formação dessa reserva é igual à diferença

entre o delta máximo da série e o delta de cada participante.

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3.1.5. Determinação da taxa mínima de crescimento da reserva matemática

Parte importante na confecção deste trabalho foi a modelagem da equação da taxa

mínima de crescimento anual da reserva matemática. O desenvolvimento surge de

uma pergunta: considerando que o fator atuarial é determinístico, é possível

estabelecer uma taxa de rendimento dos investimentos durante o período de

formação da reserva que seja capaz de garantir que o participante saiba o

percentual do último salário em atividade laboral que ele vai receber no momento da

aposentadoria?

E avançando no questionamento: Dado que é possível definir essa taxa, é possível

desenvolver métricas de controle que ajudem tanto o gestor, quanto o participante a

atingirem os objetivos pactuados na contratação do plano, em um cenário com

algum nível de certeza?

Diante destes questionamentos a taxa mínima foi estabelecida da seguinte forma:

Onde:

R0= Reserva inicial;

Fα= Fator Atuarial usado para calcular o valor do benefício;

S0= Salário no início do exercício da simulação;

Ps0= Percentual do salário destinado a contribuição;

is= Taxa ex ante do crescimento salarial;

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d= Tempo estimado de contribuição, em anos;

m= Quantidade de contribuições anuais;

rm= Taxa mínima de crescimento da reserva matemática.

3.1.6. Consolidação do cadastro sintético

Para os exercícios de simulação realizados neste trabalho, criou-se um cadastro

sintético com 1.000 indivíduos fictícios dos gêneros masculino e feminino, com

tempo restante de contribuição entre 30 e 35 anos e expectativa de se aposentarem

com 70% do último salário (benefício alvo), que cresce de forma linear a taxa de 1%.

Para se chegar a um benefício alvo de 70% do último salário, levou-se em conta

informações OCDE, que indica em 76% a taxa de reposição brasileira. Contudo,

para efeito do cálculo da taxa de reposição do plano de benefício alvo, foi utilizado o

percentual de 70%, desconsiderando a renda de aposentadoria do sistema

previdenciário brasileiro. A taxa de reposição é diretamente proporcional ao

crescimento do salário e inversamente proporcional ao tempo de contribuição.

3.2. Seleção e modelagem dos ativos presentes na simulação

3.2.1. Base de dados

Para o exercício de simulação foram utilizados quatro segmentos de investimentos

previstos na resolução CMN 3.792/2009: renda fixa, renda variável, imóveis e

investimentos estruturados. Os segmentos de investimentos no exterior e de

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operações com participantes não foram considerados, em função das características

específicas em termos de alocação, sendo que a ausência desses não tem

relevância no atendimento do objetivo do estudo.

Para limitar o universo de possibilidades de seleção de ativos de cada segmento,

optou-se por trabalhar com índices financeiros. Na carteira de renda fixa foram

utilizados os Índices de Mercado ANBIMA (IMA) da Associação Brasileira das

Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA). Um outro ativo de

renda fixa utilizado nesse estudo foi o Certificado de Depósito Interbancário (CDI).

Apesar de ser possível a alocação em títulos privados, não foram localizados índices

desta modalidade com as características necessárias para integrar o presente

trabalho.

Os índices utilizados foram:

IMAB5 – Carteira teórica constituída por títulos da dívida pública brasileira

atrelados à inflação e com vencimento inferior a cinco anos;

IMAB5+ – Carteira teórica constituída por títulos da dívida pública brasileira

atrelados à inflação e com vencimento superior a cinco anos;

IRFM – Carteira teórica constituída por títulos da dívida pública brasileira pré-

fixados e com vencimento de até um ano;

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IRFM+1 – Carteira teórica constituída por títulos da dívida pública brasileira

pré-fixados e com vencimento superior a um ano.

No segmento de renda variável foram utilizados índices produzidos pela Bolsa de

Valores de São Paulo (BM&FBovespa): um índice de renda variável tradicional; um

índice constituído por empresas consideradas boas pagadoras de dividendos e outro

formado por empresas com menor capitalização.

Índice Brasil 100 (IBrX-100) – Carteira teórica formada pelas cem ações com

maior representatividade e negociabilidade no mercado acionário brasileiro;

Índice de Dividendos (IDIV) – Carteira teórica que acompanha a evolução dos

preços dos ativos que mais distribuem dividendos aos seus detentores;

Índice Small Caps (Small) – Carteira teórica que acompanha a evolução dos

ativos com a menor capitalização negociados na BM&FBovespa.

Os ativos do segmento Imobiliário estão representados pelo Índice Geral do

Mercado Imobiliário - Comercial (IGMI-C), produzido pela fundação Getúlio Vargas

(FGV).

Não foi identificado nenhum indicador nacional para o segmento de investimentos

estruturados. A solução utilizada no presente trabalho foi “tropicalizar” o índice de

private equity estrangeiro LPX-50, por meio da aplicação do modelo de apreçamento

de ativos internacional (International Capital Asset Price Model).

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3.2.2. Séries temporais utilizadas e tratamentos aplicados em caso de dados

faltantes (missing data)

O estudo utilizou séries temporais mensais de janeiro de 2007 até maio de 2017.

Para a apuração do retorno foi utilizada a seguinte fórmula:

Onde, rt é o retorno mensal, Pt o preço do ativo no instante t e Pt-1 o preço do ativo

no instante t-1.

Foram usados dois métodos para tratar os dados faltantes. Para séries que

começaram depois do período estudado foram utilizados processos de suavização

por meio de uma regressão linear, que considera como variável independente outro

índice do mesmo segmento com a série completa e com o maior coeficiente de

correlação de Pearson4 (Papoulis,2002).

A função geradora dos valores faltantes é a seguinte:

,

4 Mede o grau de correlação entre duas variáveis e se esta é positiva ou negativa.

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Onde, Pm é o valor faltante, Ps o valor do ativo com maior correlação do segmento

da série do valor faltante e ε o componente do valor não capturado pela regressão.

Para séries com periodicidade diferente das definidas foi utilizado um método de

interpolação. Por se tratar de séries financeiras, optou-se pelo uso do método spline

cúbica5 (Morares e Marins,1989). O único caso em que foi aplicado este método foi

na série do segmento Imobiliário, convertendo a série trimestral em mensal.

3.2.3. Processo gerador de retornos

Na literatura existem várias formas de se gerar retornos sintéticos para ativos

financeiros. Os mais conhecidos são os métodos não paramétricos de

reamostragem Jackknife e Bootstrap e os métodos paramétricos de geração

aleatória, como o algoritmo de Monte Carlo.

A reamostragem Jackknife (Quenouille, 1956) é um método não paramétrico que

tem por objetivo estimar o enviezamento em uma amostra e, por meio de um método

numérico, remover essa característica, quanto maior for o tamanho da nova

sequência gerada.

Segundo Efron (1979), o Bootstrap é uma técnica não paramétrica que tem a

finalidade de construir uma distribuição empírica por meio da retirada de amostras

de forma aleatória e com reposição. O uso dessa técnica necessita de um gerador

aleatório para a formação de um novo conjunto de amostras.

5 Método de interpolação polinomial para aproximar uma função contínua de terceira ordem.

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O uso dessas técnicas tem por função substituir a estatística de análise multivariada,

com o uso da capacidade de processamento de computadores em situações onde o

número de amostras é insuficiente para se entender ou reproduzir o comportamento

de uma determinada variável.

A Simulação de Monte Carlo (MC), proposta por Metropolis e Ulam (1949) é um

método numérico paramétrico que emprega um gerador de números aleatórios para

simular prováveis valores da variável de estudo e, pela lei dos grandes números,

convergir para a distribuição geradora da amostra. Seu uso ganhou força com a

popularização dos computadores a partir da década de 1970.

Os processos supracitados são adequados para o estudo de variáveis individuais

em função do tratamento de forma independente. No caso específico desse trabalho

é necessário levar em consideração tanto o comportamento temporal de cada série

como a correlação entre as séries de ativos financeiros.

Uma solução é apresentada em Gill e Murray (1974), Higham (1988, 1990), Schlick

(1993) e Schnabel e Eskow (1990), que incorporam a fatoração de Cholesky para

correlacionar as variáveis simuladas.

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Gráfico 7 – Exemplo de fatoração de Cholesky

Fonte: Elaboração própria com o software Matlab

O processo transforma as variáveis independentes em uma distribuição Gaussiana6

multivariada com média µ0 e matriz de covariância Ʃ0. Um exemplo pode ser

observado no gráfico 7.

Gráfico 8 – Correlações das séries de retorno

6 Assemelha-se a uma distribuição Normal.

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Fonte: Elaboração própria com o software Matlab

O gráfico 8 apresenta a estrutura de correlações das séries originais. Na diagonal

principal observa-se a distribuição amostral de frequência.

Gráfico 9 – Simulação de Monte Carlo com Cópulas

Fonte: Elaboração própria com o software Matlab

O gráfico 9 apresenta a simulação de Monte Carlo utilizando Cópulas, onde é

possível observar que as correlações lineares e não lineares foram preservadas.

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A limitação do uso da simulação de Monte Carlo com Cholesky está no fato dela não

capturar as correlações não lineares, de forma que as séries geradas são

aproximadas a uma distribuição Gaussiana. Este último fato remove características

peculiares às séries financeiras, como a presença de assimetria e de curtose e a

presença de cauda pesada.

Um abordagem alternativa proposta por Sklar (1959), são as cópulas, modelos que

apresentam uma grande capacidade de expressar a dependência multivariada. O

uso deste método trouxe resultados consideráveis aos estudos econométricos de

Sargent e Christopher (1977), gerenciamento de risco de Creal e Tsay (2015) e

simulação computacional de séries temporais, permitindo a construção de cenários

financeiros mais robustos de Firmino, Neto e Ferreira (2014).

De acordo com Harry e Xu (1996), os modelos Cópula são estimados em duas

fases:

1ª Fase – Os modelos marginais univariados são estimados de forma a tornar

os dados independentes e distribuídos de forma independente;

2ª Fase – A distribuição multivariada (Cópula) é estimada com base nos

dados de entrada transformados na primeira fase.

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Gráfico 10 – Simulação da geração de retornos

Fonte: Elaboração própria com o software Matlab

O gráfico 10 apresenta o resultado do processo gerador de retornos pelos métodos

de Monte Carlo Multivariado e por Cópulas. O resultado, pelo segundo método,

apresenta a distribuição de frequências mais próxima à série original. Dessa forma,

optou-se por utilizar o processo gerador de retornos pelo método de Cópulas no

estudo de caso.

Gráfico 11 – Correlações das séries de retornos utilizando o método de cópulas

Fonte: Elaboração própria com o software Matlab

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O gráfico 11 apresenta o resultado das correlações das variáveis financeiras

geradas por Cópulas, que apresentam maior similaridade com a base de dados

original. Este processo de simulação será utilizado, principalmente, na modelagem

de risco e retorno, que serão a base de tomada de decisão do gestor do plano de

benefícios hipotético na seleção dos ativos a serem alocados.

4. ESTUDO DE CASO – MODELAGEM DE UM PLANO DE BENEFÍCIOS ALVO

4.1. Ferramentas de controle

Uma das principais incertezas dos planos de contribuição definida é a falta

previsibilidade do valor do benefício do participante. Pinheiro (2005) enumera as

variáveis que influenciam a situação financeira e atuarial de um plano de benefícios:

a) Variáveis Econômicas:

Taxa de juros;

Rentabilidade dos investimentos;

Salários (incluindo escala de mérito e ganhos de produtividade);

Valor do benefício da previdência social;

Inflação.

b) Variáveis Demográficas:

Mortalidade (de válidos e inválidos);

Entrada em invalidez;

Geração futura de novos entrados;

Rotatividade;

Composição familiar.

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c) Outras Variáveis:

Idade de aposentadoria;

Idade de entrada no emprego;

Taxa de contribuição.

A maior parte dessas variáveis não são determinísticas e são geradas e

administradas por diferentes stakeholders, o que torna a determinação do valor do

benefício uma variável aleatória na visão do participante de um plano de

contribuição definida.

Algumas estratégias são adotadas para tentar reduzir essa imprevisibilidade. Um

exemplo é o Ciclo de Vida (Bagliano et al., 2010), modelo de plano que tem por

objetivo ajustar o nível de risco ao tempo de contribuição. Existem basicamente

duas fontes geradoras de reserva: os aportes mensais dos participantes e os

rendimentos sobre a reserva gerada durante a fase de acumulação.

Gráfico 12 – Participação das contribuições e da rentabilidade na reserva de

poupança dos participantes

Fonte: Elaboração própria

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O gráfico 12 mostra que a partir do 17º ano de contribuição, os rendimentos

superam os valores de contribuição, o que torna a reserva do participante mais

volátil dependendo da estrutura de alocação. No modelo Ciclo de Vida, na medida

que o tempo passa, a carteira de investimento é ajustada de forma a se expor

menos ao risco, reduzindo assim a incerteza quanto a reserva futura. Até mesmo

essa estratégia apresenta incertezas sobre o quanto o participante receberá no

futuro.

O plano de benefício alvo representa uma outra estratégia, que tem por objetivo dar

uma maior previsibilidade ao participante quanto ao valor do benefício. Este se

assemelha em partes com um plano de benefício definido, mas sem o compromisso

firmado naquele plano.

A proposta desse estudo de caso é apresentar alternativas para melhorar a precisão

no atingimento do benefício alvo, por meio de estratégias sistemáticas e controles,

de maneira a minimizar o risco de perda financeira e aproveitar ao máximo o tempo

e o encarreiramento do participante.

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4.2. Metodologia dos planos de maximização do benefício alvo

Gráfico 13 – Relação do crescimento salarial, tempo de contribuição e retorno dos

investimentos

Fonte: Elaboração própria com o software Matlab

O gráfico 13 mostra a conjugação dos três principais fatores de um plano de

benefícios: carreira, tempo e retorno dos investimentos.

Para a construção de um plano de benefício alvo foi estabelecida uma taxa de

reposição. Essa taxa é uma proxy de quanto deveria ser um benefício de

aposentadoria, de forma a manter o mesmo nível de renda relativa de um

funcionário.

Pela própria observação do gráfico 13 é possível verificar que existem relações

lineares que podem ser utilizadas a favor de uma construção de reserva mais

robusta e, como consequência, reduzir a incerteza.

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Nos planos de contribuição definida a fase de acumulação é feita de forma

desintegrada, onde os participantes contribuem, muitas vezes, pela contrapartida da

entidade patrocinadora e por benefícios fiscais. Os gestores por sua vez aplicam as

melhores práticas para maximizar o retorno dos investimentos e as entidades de

previdência investem na formação previdenciária dos participantes, além de

executar controles rígidos e estabelecer metas de rentabilidade para alcançar o

Ótimo de Pareto para a carteira de participantes que administra.

Figura 1 – Esquema ilustrativo de funcionamento do plano de benefício alvo

hipotético

Fonte: Elaboração própria

A figura 1 é um esquema que resume bem a proposta deste trabalho, no qual cada

participante exerce o controle sobre a geração de reserva. Tornando assim o ciclo

de acumulação em um processo virtuoso.

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O cerne dessa metodologia é a integração entre os participantes, as entidades de

previdência e os gestores de investimentos, para que a reserva acumulada ao final

do período laboral seja suficiente para garantir um benefício apropriado aos

participantes dos planos de benefícios, de forma individualizada.

A ferramenta de controle do benefício alvo tem função primordial para o sucesso da

estratégia. Na contratação do plano o participante determinará quais são as suas

expectativas quanto o valor que deseja receber do último salário e em caso de

movimentos desfavoráveis da economia interna qual seria o tempo máximo de

trabalho adicional para atingir o benefício almejado, bem como a faixa de

contribuição mensal que pode suportar. Com base nestas informações a entidade de

previdência calcula três curvas de controle.

Figura 2: Estratégia Central do benefício alvo

Fonte: Elaboração própria

A primeira é a Estratégia central (figura 2), a qual o crescimento da reserva deve

ficar sempre acima, caso no final do período de acumulação a reserva estiver sobre

a linha o benefício final será igual a expectativa inicial do participante.

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Figura 3: Estratégia do benefício alvo – Corrigir a reserva por ajuste na contribuição

do participante

Fonte: Elaboração própria

A segunda curva (área em cinza na figura 3), têm a função de corrigir os desvios

negativos na acumulação da reserva via aumento na contribuição mensal do

participante, que passa a ser variável dentro dos limites estabelecidos na

contratação e o uso deste instrumento leva garante que ao final a expectativa de

benefício seja alcançada.

Figura 4: Estratégia do benefício alvo – Corrigir a reserva por ajuste no tempo

contribuição do participante

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Fonte: Elaboração própria

A terceira curva (área em cinza na figura 4) tem uma função mais estrutural, dado

que ocorreram fatos que promoveram uma acumulação de reserva bem inferior ao

projetado, a curva ajusta o tempo de contribuição de forma a corrigir o desvio de

reserva via aumento do tempo, dentro do limite estabelecido na contratação. Ou

seja, o tempo adicional em condições normais de mercado corrigirá o desvio da

reserva.

4.3. Simulação da estratégia de benefício alvo e uso de ferramentas de

controle

Para avaliar a eficácia da proposta foram realizadas duas simulações utilizando o

software Matlab.

Figura 5 – Simulação 1

Fonte: Elaboração própria

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42

A primeira simulação utilizou a estratégia tradicional, alocando o recurso de cada

participante em uma carteira ótima, obtida por meio da composição de ativos que

garante o máximo Sharpe, em uma Fronteira Eficiente estimada com os retornos até

o instante anterior a alocação.

Figura 6 – Simulação 27

Fonte: Elaboração própria

A segunda simulação aplica os conceitos supracitados, alocando os recursos de

cada participante em uma carteira que apresenta a taxa de retorno esperada igual a

taxa mínima de crescimento da reserva. Além disso, todo o excedente gerado por

esta estratégia será apartado em um fundo que remunera com uma taxa real fixa de

1% ao ano.

7 A Simulação não usou a estratégia por aumento de tempo de contribuição

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As ferramentas de controle por tempo são ativadas caso o montante apartado não

seja suficiente para cobrir o valor faltante da reserva mínima necessária, limitado a

cinco anos, esgotado essa possibilidade é realizado um ajuste na taxa de

contribuição.

Os resultados das simulações são comparados pelo número de participantes que

atingiram o benefício alvo.

Essa simulação foi realizada com mil participantes fictícios e com mil series

temporais, com o uso do gerador de retorno dos ativos financeiros apresentados na

seção 3.2.3 - processo gerador de retornos.

4.4. Resultado das simulações

As simulações foram realizadas com o uso do software Matlab. Para ganhar em

escala a simulação foi realizada nas seguintes etapas:

1º - Um cadastro fictício contendo mil participantes foi gerado, seguidos os critérios

apresentados na seção 3.1. O resultado foi armazenado para utilização em etapa

posterior;

Para Cálculo da taxa mínima de crescimento da reserva foi considerado um

crescimento salarial de 1% ao ano real.

2º Foram criados 50 cenários de retornos dos ativos constantes em 3.2 no horizonte

de 37 anos.

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3º Os retorno foram transformados em séries temporais e utilizados para estimar

fronteiras para os 37 anos, sempre considerando os retornos até o período anterior

ao da estimação. Para caracterizar como um plano de previdência faria na realidade.

Onde na política de Investimento ela determina as diretrizes para os anos seguintes

com base em toda a informação colhida até aquele momento.

4º Foram estimados cada ponte me máximo Sharpe de cada uma das 37 fronteiras,

e determinado os ativos e pesos deles em cada uma destas carteiras. Nesta mesma

etapa forma identificados a composição do portfólio no retorno correspondente ao

retorno mínimo de crescimento da reserva para o participante atingir um benefício de

70% do último salário para cada um participante nos 37 anos.

5º Com a composição e as séries temporais foram calculados os rendimentos de

todas as umas das estratégias (Sharpe e Target)8 nos 37 anos para os 50.

6º Com os retornos dos 37 anos, as curvas de progressão de carreira e o deltas de

cada participante se iniciou o cálculo da reversa nos 50 cenários.

7º No plano Target todo o excesso de retorno sobre a taxa mínima era apartado da

carteira e investido em um título hipotético com juros real de 1% e em casos de

retornos menores foram adotados aumento limitado a 30% do percentual da

contribuição do salário.

8 Benefício alvo

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8º Ao completar o período contributivo foram apuradas as reservas alcançadas, no

caso do plano Target a reserva é o resultado da carteira de investimento mais o

montante aplicando no título fictício. Na estratégia apresentada 4.3, existia a

possibilidade de postergação da aposentadoria para atingir a aposentadoria alvo.

Não foi adotada esta possibilidade na Simulação. Quando o participante atingia a

aposentadoria automaticamente o resultado foi apurado.

Gráfico 14 – Distribuição dos percentuais do último salário dos participantes

(estratégia simulação 1)

Fonte: Elaboração própria

O gráfico 14 apresenta o resultado das simulações usando a estratégia Sharpe, o

mesmo modelo adotado por planos CD, o que se observa é que o resultado dos

percentuais de último salários alcancados é bem disperso e a maior parte receberia

menos de 70% do salário, cerca de 62% da população. Por outro lado 3% da

população teria percentuais acima de uma vez o último salário.

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Gráfico 15 – Distribuição dos percentuais do último salário dos participantes

(estratégia simulação 2)

Fonte: Elaboração própria

Na figura acima o resultado da estratégia simulação 2 (target), é possível notar que

a dispersão é bem menor que a comparada a simulação por Sharpe e 60% da

população receberia um percentual superior a 70% do último salário. Lembrando

que este resultado não leva em consideração uma possível postergação da

aposentadoria, prevista como uma das formas de se alcançar o target de benefício.

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5. CONCLUSÃO

A indústria de previdência complementar fechada enfrenta desafios no Brasil e no

mundo em função das mudanças sociais e demográficas ocorridas nas últimas

décadas. Nesse contexto, torna-se desafiador o atingimento das expectativas das

partes interessadas, com destaque para os participantes dos planos de benefícios.

O objetivo deste estudo foi apresentar de forma conceitual e com um estudo de caso

(modelagem econométrica) um novo tipo de plano de benefícios que poderia ser

adotado futuramente no Brasil: o plano de benefício alvo.

Esse tipo de plano pode ser modelado de forma que, ao ingressar no plano de

benefícios, o participante possa ter uma expectativa do valor do benefício futuro,

com base em um mecanismo que garanta ajustes no valor de contribuição ou no

tempo de acumulação.

A partir de um valor de benefício alvo, sabe-se com antecedência a rentabilidade

que os ativos que compõem as reservas dos participantes devem ter para cumprir

aquele objetivo, de forma que o plano seria reavaliado anualmente para verificação

do equilíbrio e cumprimento dos objetivos propostos.

No caso de rentabilidades inferiores ao mínimo projetado para atingimento do

benefício alvo, os participantes poderiam ser orientados a aumentar o valor de

contribuição para que as projeções de benefícios voltem a se aproximar do alvo.

Numa situação de rentabilidades superiores ao mínimo projetado para atingimento

do benefício alvo, os valores excedentes seriam direcionados para um fundo com

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baixo risco, que evitaria um eventual aumento do valor de contribuição em função de

desequilíbrios futuros e, caso o excedente se mantivesse ao longo de toda a fase de

acumulação, esses valores seriam incorporados às reservas individuais de

poupança dos participantes, que poderiam optar por integrar esse valor ao benefício

auferido ou sacar o valor excedente no momento de concessão da aposentadoria.

Apenas em um cenário de estresse, no qual as rentabilidades mínimas não fossem

alcançadas de forma estrutural ao longo do período de acumulação, o valor do

benefício alvo não seria atingido. Mesmo assim, o acompanhamento anual permitiria

que esse tipo de desvio fosse identificado e, sendo do interesse do participante, este

poderia aumentar sua contribuição, fazendo com que o valor de seu benefício não

ficasse muito abaixo do alvo estabelecido no momento de sua filiação ao plano de

benefícios. Em outra situação, o tempo de contribuição do participante poderia ser

aumentado, para que o benefício alvo fosse atingido.

Por fim, entende-se que os planos de benefício alvo, como o exposto no presente

estudo, podem representar uma alternativa aos atuais planos BD e CD. Sugere-se,

para futuros estudos sobre o tema, que suas características sejam cada vez mais

pesquisadas e que novas simulações sejam realizadas, a fim de verificar a

viabilidade de implantação desses planos no Brasil.

Os resultados apresentados pelas duas simulações mostram que um plano baseado

em target desde o período da arrecadação torna muito mais previsível o benefício de

aposentadoria. Além de trazer o participante para mais perto da gestão do plano e

dividindo as responsabilidades entres as partes envolvidas na fase de acumulação.

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O fato de se trabalhar por objetivo de benefício facilita na hora de aproveitar as

oportunidades do mercado sempre primando pelo princípio da parcimônia, ou seja,

buscando somente o retorno necessário ao objetivo.

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