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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL: ELABORAÇÃO DE UM PLANO PARA UMA EMPRESA LOCALIZADA NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL-RN Rodolfo Fernando Carvalho Vieira (UFRN ) [email protected] Tatiane Emanuele Brito de Oliveira (UFRN ) [email protected] Luana Vanessa de Carvalho Nobrega (UFRN ) [email protected] Joyce Elanne Mateus Celestino (USP ) [email protected] A importância da indústria da construção civil é indiscutível, sendo um importante marco para o desenvolvimento dos municípios, só que esse nicho mercadológico apresenta fragilidades na geração dos resíduos sólidos. Visando essa problemática, este artigo objetiva elaborar o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos para uma empresa do ramo da Construção Civil (PGRSCC), localizada na região metropolitana de Natal - Rio Grande do Norte. A metodologia é caracterizada de natureza aplicada, com objetivos exploratório e foi utilizado o método do estudo de caso com abordagens quali-quantitativo. Nos resultados é perceptível a importância e estruturação adequada para execução do PGRSCC, ficando evidentes os ganhos advindos dessa prática, tantos ambientais, sociais como econômicos para a organização e a sociedade. Palavras-chaves: Plano de Gerenciamento, construção civil, resíduos sólidos XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA

CONSTRUÇÃO CIVIL: ELABORAÇÃO DE UM

PLANO PARA UMA EMPRESA LOCALIZADA NA

REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL-RN

Rodolfo Fernando Carvalho Vieira (UFRN )

[email protected]

Tatiane Emanuele Brito de Oliveira (UFRN )

[email protected]

Luana Vanessa de Carvalho Nobrega (UFRN )

[email protected]

Joyce Elanne Mateus Celestino (USP )

[email protected]

A importância da indústria da construção civil é indiscutível, sendo um

importante marco para o desenvolvimento dos municípios, só que esse nicho

mercadológico apresenta fragilidades na geração dos resíduos sólidos.

Visando essa problemática, este artigo objetiva elaborar o Plano de

Gerenciamento de Resíduos Sólidos para uma empresa do ramo da

Construção Civil (PGRSCC), localizada na região metropolitana de Natal - Rio

Grande do Norte. A metodologia é caracterizada de natureza aplicada, com

objetivos exploratório e foi utilizado o método do estudo de caso com

abordagens quali-quantitativo. Nos resultados é perceptível a importância e

estruturação adequada para execução do PGRSCC, ficando evidentes os

ganhos advindos dessa prática, tantos ambientais, sociais como econômicos

para a organização e a sociedade.

Palavras-chaves: Plano de Gerenciamento, construção civil, resíduos sólidos

XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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1.Introdução

A crescente preocupação com a questão do desenvolvimento sustentável faz com que as

empresas repensem na forma do seu processo produtivo, bem como começam a gerir seus

processos pautados na reutilização, reciclagem e minimização dos desperdícios dos seus

resíduos. E tendo em vista a importância da indústria da Construção Civil e a quantidade de

resíduos que é gerada no decorrer do empreendimento, foi proposto esse estudo em uma obra

da construtora em estudo, localizada na região metropolitana do Natal - Rio Grande do Norte.

A Plano de Gerenciamento de resíduos sólidos (PGRS) foi desenvolvido para uma obra, cuja

área do terreno é 27.051 m², após finalizada possuirá como áreas de uso comum: playground,

espaço fitness, salão de jogos, quadra gramada, churrasqueira, estação de ginástica, espaço

gourmet, piscinas adulto e infantil. No total, serão 712 apartamentos e 716 vagas de garagens.

O trabalho objetiva elaborar o plano de gerenciamento de resíduos sólidos (PGRS) para a

construtora em estudo, por meio de técnicas que atinjam a excelência, visando minimizar a

geração dos resíduos, bom como destinação adequada dos resíduos. Para isso, vai verificar os

tipos de resíduos existentes, categorizar, analisar o acondicionamento, coleta/transporte dos

insumos e dos resíduos gerados internamente na construtora, segregação, tratamentos

existentes internamente para os resíduos gerados e verificar a disposição final. Por fim dos

dados obtidos e o entendimento da problemática, foi elaborado o plano de gerenciamento de

resíduos sólidos.

2.Referencial Teórico

2.1. Caracterização e classificação dos resíduos da construção civil

Segundo a Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA(2002), os

resíduos de construção civil são:

“os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de

obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação

de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral,

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solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados,

forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos,

tubulações, fiação elétrica etc., comumente quatro chamados de

entulhos de obras, caliças ou metralha” (CONAMA, 2002).

A referida resolução, define para a construção civil quatro classes de resíduos, que deverão ter

tratamentos distintos, como é mostrada na tabela 1 a classe, definição, exemplo e, por fim, a

destinação correta.

Tabela 1: Classificação dos RCC

Fonte: adaptado da resolução CONAMA 307 (2002)

É importante a avaliação das classes dos resíduos da construção civil, visto que ao analisar

desde a exploração da matéria prima até o acabamento das obras, conclui-se que a área da

construção civil é uma das maiores consumidoras de matérias-primas naturais. Estima-se que

a construção civil utilize cerca de 20 a 50% do total de recursos naturais consumidos pela

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sociedade e que cerca de 80% da energia utilizada na produção de um edifício seja consumida

na produção e transporte de materiais Cassa, Brum e Carneiro (2001). O macro complexo

industrial da construção civil ainda é responsável por cerca de 50% do CO2 lançado na

atmosfera John (2000) e por cerca de 40% dos resíduos gerados na economia (JOHN et al.,

2001).

2.2. Geração de resíduos na construção civil

Na Construção civil, em cada uma das etapas de uma obra acontecem perdas e desperdícios

de materiais, gerando assim os resíduos da construção civil, a tabela 2 apresenta taxas de

desperdícios de materiais, sendo possível analisar que as diferenças entre o mínimo e o

máximo, ocorrem às variações entre metodologias de projeto, execução e controle de

qualidade da obra.

Tabela 2: Taxas de Desperdício de Materiais

Fonte: Adaptado Espinelli, (2005)

A geração de resíduo na construção civil pode ocorrer nas diferentes fases do ciclo de vida

dos empreendimentos - construção, manutenção e reformas e demolição. Na fase de

construção, a geração está relacionada às perdas nos processos construtivos - parte dessas

perdas é incorporada nas construções e parte se converte em resíduo John e Agopyan, (2003).

A fase de manutenção e reformas, está relacionada a ações corretivas nas edificações,

reformas ou modernizações de parte ou de toda a edificação e do descarte de componentes

que atingiram o final de sua vida útil.

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2.3. Plano de gerenciamento de resíduos

O Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil conforme a Resolução

307/2002, CONAMA (2002), é o sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar ou reciclar

resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos e recursos para

desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das etapas previstas em

programas e planos.

O Projeto de Gerenciamento deve, de forma sumária, seguir às exigências das seguintes

etapas da Resolução CONAMA nº 307/2002. No art. 9º da referida resolução, os Projetos de

Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil deverão contemplar as seguintes etapas:

I - caracterização: nesta etapa o gerador deverá identificar e quantificar os resíduos;

II - triagem: deverá ser realizada, preferencialmente, pelo gerador na origem, ou ser realizada

nas áreas de destinação licenciadas para essa finalidade, respeitadas as classes de resíduos

estabelecidas no art. 3º desta Resolução;

III - acondicionamento: o gerador deve garantir o confinamento dos resíduos após a geração

até a etapa de transporte, assegurando em todos os casos em que seja possível, as condições

de reutilização e de reciclagem;

IV - transporte: deverá ser realizado em conformidade com as etapas anteriores e de acordo

com as normas técnicas vigentes para o transporte de resíduos;

V - destinação: deverá ser prevista de acordo com o estabelecido na referida Resolução.

3. Aspectos metodológicos

Este estudo é de natureza aplicada, segundo Appolinário (2006) a pesquisa aplicada seria

suscitada por objetivos comerciais através do desenvolvimento de novos processos ou

produtos orientados para as necessidades do mercado.

Seus objetivos de pesquisa é caracterizado como exploratório Turrioni; Melo (2012) define

que visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou

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a construir hipóteses, envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que

tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem

a compreensão.

Então, pode-se dizer que a pesquisa obteve-se abordagem quali-quantitativo, de acordo com

Oliveira (2005) e Cesar (2010) enfatizam que esses dois tipos de abordagens não são

excludentes, é possível em uma pesquisa quantitativa, recorrer a dados qualitativos para

melhor análise e vice versa, portanto um trabalho pode ser de natureza qualitativa,

quantitativa ou dos dois métodos combinados. O método da pesquisa é o estudo de caso, visto

que ele é útil para investigar novos conceitos, bem como para verificar como são aplicados e

utilizados na prática elementos de uma teoria (YIN, 2009).

Nas visitas in loco foi possível coletar dados, através de entrevistas informais com os

trabalhadores da obras, para alimentação do estudo e conhecer profundamente o trabalho

efetivo realizado na obra, além de observações realizadas durantes as visitas. De posse dos

dados e as observações feitas, foi desenvolvido o PGRSCC para a obra em estudo.

4.Estudo de Caso

4.1. Identificação da empresa e da obra

Para a empresa continuar crescendo está desenvolvendo a sua política de sustentabilidade

baseada em três dimensões: econômica, ambiental e social. A primeira reflete o investimento

em gestão sistêmica e a difusão de boas práticas, a segunda reflete o investimento para a

redução de impactos negativos e à preservação do meio ambiente e a última reflete

investimentos em apoio e incentivo à educação infantil e à formação de mão de obra.

Por possuir certificado PBQP-H nível A e ISO 9001 já existem procedimentos padrões de

treinamento, armazenamento, análise de fornecedores de forma a atender aos requisitos da

norma, e estar em busca da melhoria contínua.

A área do terreno de construção da obra é de 27.051 m², possuirá como áreas de uso comum:

playground, espaço fitness, salão de jogos, quadra gramada, churrasqueira, estação de

ginástica, espaço gourmet, piscinas adulto e infantil. No total, serão 712 apartamentos e 716

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vagas de garagens.

4.2. Caracterização dos resíduos gerados

Para compreender os resíduos gerados na obra, no decorrer de todas as etapas necessárias para

a construção, foi realizada o preenchimento da seguinte tabela 3 com um dos engenheiros

responsáveis pela obra, na qual é possível ter uma compreensão global dos possíveis resíduos

gerados. O preenchimento foi realizado do da seguinte maneira: NE: não existe resíduos

gerados no decorrer dessa etapa; VB: valor baixo; SG: significativo e MSG: muito

significativo.

Tabela 3: Resíduos Gerados no decorrer de toda obra

Fonte: Adaptadas pelos autores (2014)

Na tabela acima, a terceira coluna de resíduos gerados está caracterizada como outros metais,

estes podem ser: sucata proveniente do corte de tubos de cobre; sucata metálica de latas de

tintas ou massas de correr, tubos metálicos de silicone para rejunte ou espuma expansivas, etc.

Ao analisar esta tabela, foi possível constatar que os possíveis resíduos com maiores gerações

no decorrer da obra são: o solo, proveniente da escavação; blocos de concreto, advindo da

estrutura e por fim, na realização do acabamento tem-se o gesso como rejeito muito

significativo. Verificou-se também os que são significativos no decorrer da obra, são:

madeira, tintas, solventes e óleo.

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4.3. Caracterização, acondicionamento, transporte e destinação dos resíduos gerados

Durante a realização das visitas à obra observou-se que o RCC no âmbito da alvenaria

estrutural é em maior quantidade proveniente de entulho, principalmente, de blocos de

concreto, pois a empresa se utiliza de alvenaria estrutural, esses blocos são quebradiços e

tendem a se esfarelar.

Como a obra está com aproximadamente 1/5 de operações finalizadas então ainda não

possuem resíduos de gesso. Os resíduos produzidos nesta etapa são: entulho (resíduos de

demolição, blocos de concreto, encanamento), papelão, plástico, madeira, tintas e solventes

(são gerados na obra); eletrônico e papel (são gerados no escritório); material orgânico

(resíduos da cozinha).

No que tange a coleta, a empresa terceirizada X é a atual responsável pelo transporte de todos

os resíduos gerados na obra. Contudo, deve-se salientar que não existe a separação dos

resíduos na obra. Já a destinação final dos resíduos fica sob a responsabilidade da terceirizada

Y, a qual assume total controle e destinação adequada para todos os tipos de resíduos gerados

na obra.

Realizou-se a categorização dos resíduos analisados, a definição mais apropriada da

classificação é exposta pela Resolução 307 do CONAMA. A resolução 348, de 16 de Agosto

de 2004, e a Resolução 431, de 24 de maio de 2011, remodelaram a classificação da

Resolução 307, adicionando, como material perigoso na classe D, o amianto e alterando a

posição do gesso, de Classe C para a Classe B. A Tabela 4 mostra a classificação dos resíduos

encontrados na obra, conforme a CONAMA 307.

Tabela 4: Classificação, origem, transporte e destinação dos resíduos usados na obra de acordo com a CONAMA

307

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Fonte: Adaptado pelos autores (2014)

O acondicionamento atual dos resíduos classe A e B na obra é feito em caçambas de cinco

metros cúbicos (5 m³) e não existe a segregação efetiva, não existe local fixo para a

disposição das caçambas, podendo mudar de local de uma semana para outra. Para os da

classe D não existe uma armazenagem, pois a empresa alega não gerar resíduos significantes.

O transporte interno é feito por carrinho de mão e Caterpillar e o transporte externo é feito

pela terceirizada X que conta com caminhões guindastes que carregam as caçambas até a

terceirizada Y que dará a destinação final.

Portanto, demonstra-se a importância da realização do Plano de Gerenciamento dos Resíduos

na construtora em estudo, para que se tenha um melhor aproveitamento dos seus resíduos

gerados, procurando otimizar a rentabilidade da obra, bem como, a produtividade geral,

ocasionando em lucros.

4.4. Plano de gerenciamento dos resíduos

A necessidade de se aproveitar os Resíduos da Construção Civil, não é resultante apenas para

o pressuposto de economizar recursos financeiros, trata-se de uma fundamentação bem mais

sólida, que além de economizar os recursos financeiros ainda se torna uma atitude

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fundamental para a preservação do meio ambiente, resultando em maior eficiência produtiva,

visto que com um canteiro limpo e organizado, bem estruturado em seu layout, as

movimentações tornarão mais viáveis e rápidas.

O importante a ser implantado na obra em questão é a gestão do processo produtivo,

objetivando a diminuição na geração dos resíduos sólidos e o seu correto gerenciamento no

canteiro de obras. Isto tudo deve ter como princípio a conscientização e a sensibilização dos

envolvidos.

Dentre os objetivos pretendentes a serem alcançados na obra, preferencialmente e em ordem

de prioridade, deve-se:

1. Reduzir os desperdícios e o volume de resíduos gerados;

2. Segregar os resíduos por classes e tipos;

3. Reutilizar materiais, elementos e componentes que não requisitem transformações;

4. Reciclar os resíduos, transformando-os em matéria-prima para a produção de novos

produtos.

Com isso, pode-se citar algumas vantagens da redução dos resíduos, sendo elas: diminuição

do custo de produção; redução da quantidade de recursos naturais e energia a serem gastos;

diminuição da contaminação do meio ambiente; redução dos gastos com a gestão dos

resíduos; aumento da eficiência produtiva local; canteiros de obras limpos; evitar acidentes,

além de prolongar a durabilidade e manutenção dos edifícios construídos.

4.4.1. Plano de gerenciamento de resíduos

A Resolução 307 do CONAMA aponta no art. 10 que os RCC classificados como classe A

devem ser reutilizados ou reciclados como agregados. Em última situação, podem ser

destinados para áreas de aterro de resíduos da construção civil. A obra em estudo está com um

moinho em construção para reciclar os resíduos dessa classe.

O “entulho” de concreto que não passar por beneficiamento, pode ser empregado na

construção de estradas ou como material de aterro, a vantagem dessas aplicações é que exige

menor tecnologia no processo, o que implica em menor custo. Caso seja moído, deve ser

posteriormente separado em agregados de diferentes tamanhos, pode ser usado como

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agregado para produção de concreto asfáltico, de sub-bases de rodovias e de concreto com

agregado reciclado.

Para moer esse entulho pode-se utilizar vários tipos de máquinas, um exemplo seria o

triturador queixada, pois possui um uma grande gama de utilizações com os modelos 200 e

300 gerando: um material triturado fino que pode ser reciclado em misturas para – contra

piso, nivelamento de laje, argamassa de assentamento de alvenaria, solo-cimento e chapisco; e

um material grosso, a brita, pode ser utilizada como base para piso Inter travado, calçada,

contra piso, revestimento de estradas e como aglomerante na fabricação de blocos, tijolos,

mourões, tubos e concreto magro usado como base. A tabela abaixo contém as seguintes

especificações técnicas.

Tabela 5: Especificações técnicas do triturador queixada – modelos 200 e 300

Fonte: disponível em <www.vegedry.com.br>

Como no momento a obra em questão ainda não está com o moinho finalizado então, o

entulho é transportado por uma terceirizada X onde é pago R$ 95,00 por cada caçamba, que

possui 5 metros cúbicos de capacidade, e enviado para a terceirizada Y que funciona como

uma usina de reciclagem de resíduos (utiliza a britagem).

A chapa plastificada é reutilizada algumas vezes em diferentes lajes, evitando desperdício,

podendo ser reutilizada ao término da obra em outras obras até a sua degradação, quando não

puder mais ser reutilizada deverá ser triturada para fazer papel ou papelão ou ainda pode ser

utilizada como combustível.

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Os resíduos B, C e D a norma não especifica formas de reciclagem e reutilização para cada

tipo de resíduo. Mas ela aponta que devem ser armazenados, transportados e destinados em

conformidade com as especificações técnicas.

Os resíduos classe B – da administração: o papel, o plástico e o papelão pode ser doados para

catadores ou encaminhados para cooperativas; da copa: o orgânico pode ser doado para

empresas que trabalham com fertilizantes, para fazer compostagem, o alumínio e o plástico

podem ser doados para cooperativas; da construção: os sacos de cimento devem retornar à

fábrica para utilização como combustível na produção de cimento, o gesso pode ser

reutilizado para produzir pó de gesso novamente ou pode ser utilizado como corretivo do solo,

madeira no geral pode ser triturada para fazer papel ou papelão ou ainda pode ser usada como

combustível, com a política de kits a empresa estudada tenta evitar gerar o resíduo tanto de

instalações elétricas (eletroduto – pode ser utilizado em filtros anaeróbios para substituir a

brita no fundo, fios) como hidrossanitárias (encanamentos – PVC, pode ser utilizado em

filtros anaeróbios para substituir a brita no fundo), como gera o mínimo de resíduo que é

transportado pela terceirizada X e, segundo o engenheiro, é enviado a terceirizada Y, os cabos

trifásicos são utilizados como extensão pela dimensão (tamanho) até que seja finalizada cada

torre que então ficam fixos na edificação, os pregos, arame e aço (tela) podem ser devolvidos

para o fornecedor, o solo pode ser utilizado para aterro, o pó de serra quando molhado pode

ser utilizado para preencher a caixa octogonal para não deixar que o concreto entre; o

almoxarifado – telha Brasilit e madeira são reutilizadas em outros canteiros ao final da obra.

A obra não gera resíduos de classe C ainda, mas o resíduo do gesso quando for gerado deve

ser armazenado em um local seco, pode ser em caixa com piso concretado ou em caçambas, o

transporte deve ser realizado por empresas autorizadas por órgãos municipais a circular, e será

destinado a áreas de transbordo e triagem.

O resíduo de classe D gerado é o desmoldante que possui uma textura semelhante a uma tinta

e deve ser enviado a empresa de recuperação ou para a incineração. A empresa afirmou que,

nesta obra, nada está indo para incineração, também alegou que não existe sobras desse

composto.

O armazenamento proposto baseou-se no descrito pela SindusCon-SP (2005), na qual foi

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fundamentada e descrita a adequada maneira de armazenar os resíduos, dando uma adequação

inicial de acordo com a característica de cada tipo de resíduo. Segue na tabela 6 a proposta

para os resíduos oriundos da construção.

Tabela 6: Acondicionamento adequado dos Resíduos gerados na obra

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Fonte: Adaptado pelos autores (2014)

Já para os resíduos não oriundos da construção, segue as seguintes recomendações de acordo

com a tabela 7.

Tabela 7: Acondicionamento adequado dos resíduos não oriundo da construção

Fonte: Adaptado pelos autores (2014)

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4.4.2 Programa de educação ambiental

Foi desenvolvido um plano de educação ambiental para propor melhores condições

ambientais no canteiro de obra, procurando conscientização e comprometimento dos

envolvidos na construção civil. Este projeto foi dividido em três partes, sendo elas:

apresentação do PGRSCC em conjunto com o mutirão de limpeza; disponibilização de

recursos visuais; e realização de palestras quinzenais.

A apresentação do PGRSCC objetiva expor o trabalho desenvolvido a todos os colaboradores

ligados diretamente com os trabalhos operacionais e estratégicos da obra, para isso, poderia se

utilizar vídeos sobre o tema ou até mesmo realizar uma oficina, que permita apresentar o

conteúdo e estimule os colaboradores a produzir cartazes sobre o tema; também poderia ser

efetuada uma apresentação abordando o PGRSCC, buscando apresentar o volume de resíduos

sólidos oriundo do canteiro de obra, mostrando a responsabilidade social de cada um, a

composição dos resíduos e seu potencial para a reciclagem, além de mostrar o que pode ser

produzido a partir da reciclagem dos resíduos.

O segundo passo, seria elaborar cartazes contendo: a classe dos resíduos segundo a resolução

CONAMA 307 e o local adequado para depositar cada tipo de resíduo, procurando

disponibilizar esses cartazes em locais bem visualizais e estratégicos.

E por fim, realizar palestras quinzenais, com tempo máximo de 20 minutos, sobre o tema em

questão, podendo abortar assuntos como: apresentação de novas práticas construtivas; mostrar

os resultados das ações realizadas pelos funcionários; apresentar os indicadores de resíduos

gerados na obra; evidenciar os ganhos produtivos com as ações realizadas pelo PGRSCC;

ações inovadoras realizadas no decorrer da semana, procurando diminuir a utilização de ações

que gerem resíduos; bem como, poderia mostrar vídeo sobre os resíduos da construção civil.

Portanto, pode-se concluir que o plano de educação ambiental está voltado para a

conscientização dos profissionais envolvidos no processo de trabalho no canteiro de obras.

Procura-se minimizar os resíduos gerados, e ainda melhorias para proporcionar maiores

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eficiências produtivas no decorrer da obra. O responsável por cada etapa desse plano seria o

engenheiro ou responsável pelo PGRSCC elaborado.

5.Conclusão

O objetivo de elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Para alcançar esse

objetivo foi realizado um estudo bibliográfico sobre a construção civil, os resíduos da

construção civil e o PGRSCC, e um estudo de caso com visitas regulares a empresa para

conhecer o empreendimento e analisar os resíduos para assim poder realizar um PGRSCC,

depois dessa fase concluída, inicia-se a fase do plano de educação na obra, que é a etapa mais

importante, pois é o que garante que o plano será seguido ou não.

Com o estudo verificou-se que a empresa já possui algumas políticas para reduzir a geração

de resíduos que é o caso da implementação da central de kits, mas não possui uma posição

bem definida quando o resíduo já foi gerado, existe uma destinação para a terceirizada Y que

não informou qual é o “paradeiro” do resíduo, fora que não existe uma política eficiente para

a separação do resíduo.

A proposta apresentada nesse trabalho é a segregação, o acondicionamento, o transporte e a

destinação final visando o aproveitamento do resíduo e a reinserção, se possível, do mesmo

no processo produtivo.

A incorporadora terá grandes benefícios ao implantar o PGRSCC, pois além de poder

“economizar” com a reciclagem e reutilização dos resíduos em processos internos e poder está

de acordo com a nova norma do PBQP-H, posta em vigor em dezembro de 2012, ainda

apresentará uma imagem melhor da empresa junto ao consumidor e aos seus concorrentes.

Portanto, diante do que foi apresentado espera-se favorecer tanto essa incorporadora como

diversas construtoras interessadas em reduzir gastos, a médio e longo prazo, assim como

ajudar a sociedade e sua população evitando que haja contaminação do ambiente.

Referencial Bibliográfico

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APPOLINÁRIO, F. Metodologia da ciência – filosofia e prática da pesquisa. São Paulo: Editora Pioneira

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