gerenciamento de projetos em pesquisa & …

51
LUIZ EDUARDO MARINHO CARNEIRO GERENCIAMENTO DE PROJETOS EM PESQUISA & DESENVOLVIMENTO E O CONTEXTO BRASILEIRO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso MBA em Gerenciamento de Projetos, de Pós- Graduação lato sensu, Nível de Especialização, da FGV/IDE como pré- requisito para a obtenção do título de Especialista. Orientador: PROF. ARNALDO LYRIO BARRETO RIO DE JANEIRO RIO DE JANEIRO 2018

Upload: others

Post on 15-Oct-2021

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

LUIZ EDUARDO MARINHO CARNEIRO

GERENCIAMENTO DE PROJETOS EM PESQUISA &

DESENVOLVIMENTO E O CONTEXTO BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao curso MBA em

Gerenciamento de Projetos, de Pós-

Graduação lato sensu, Nível de

Especialização, da FGV/IDE como pré-

requisito para a obtenção do título de

Especialista.

Orientador: PROF. ARNALDO LYRIO BARRETO

RIO DE JANEIRO – RIO DE JANEIRO

2018

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

PROGRAMA FGV MANAGEMENT

MBA EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS

O Trabalho de Conclusão de Curso

Gerenciamento de Projetos em Pesquisa & Desenvolvimento e o Contexto

Brasileiro

elaborado por Luiz Eduardo Marinho Carneiro

e aprovado pela Coordenação Acadêmica do curso de MBA em Gerenciamento de

Projetos, foi aceito como requisito parcial para a obtenção do certificado do curso de pós-

graduação, nível de especialização do Programa FGV Management.

Rio de Janeiro, 31 de maio de dois mil e dezoito.

André Barcaui

Coordenador Acadêmico Executivo

Arnaldo Lyrio Barreto

Orientador

TERMO DE COMPROMISSO

O aluno Luiz Eduardo Marinho Carneiro, abaixo assinado, do curso de MBA em

Gerenciamento de Projetos, Turma 123. do Programa FGV Management, realizado nas

dependências da FGV Botafogo, no período de Setembro de 2016 a Fevereiro de 2018,

declara que o conteúdo do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Gerenciamento

de Projetos em Pesquisa & Desenvolvimento e o Contexto Brasileiro” é autêntico,

original e de sua autoria exclusiva.

Rio de Janeiro, 31 de Maio de 2018.

Luiz Eduardo Marinho Carneiro

“Lembre-se de olhar para as estrelas e não

para os seus pés. Tente compreender o que

você vê e refletir sobre o que faz o universo

existir. Seja curioso. E por mais difícil que a

vida possa parecer, sempre há algo que você

pode fazer e ser bem-sucedido. É importante

que você não desista”. Stephen Hawking

(1942-2018)

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer aos meus pais, Glauciana Carneiro e Luiz Carneiro, que

sempre foram a minha inspiração e o meu chão durante toda a vida, que me financiaram

e apoiaram durante o decorrer de todo o MBA.

À minha namorada, Maria Rita Xavier, pelo apoio emocional e revisão do meu

texto, o qual sem não conseguiria realizar.

À minhas avós professoras, Dorinha e Célia, e à minha tia, também professora,

Mary Marinho.

Ao meu orientador, Arnaldo Lyrio Barreto, os meus sinceros agradecimentos.

A todos os professores que se dedicam a difundir o conhecimento e contribuíram

para o meu crescimento intelectual e aos trabalhadores mundo afora que se esforçam por

uma vida melhor e fazem tudo ser possível.

RESUMO

Pesquisa & Desenvolvimento é uma atividade inerentemente ambígua no que se refere a

necessitar de liberdade de ideias e ao mesmo tempo uma metodologia de gestão de

projetos que auxilie o projeto, mas que não exerça controle excessivo. Sempre tentou-se

utilizar as metodologias tradicionais de gerenciamento de projeto em P&D desde a década

de 1960 mas que encontraram barreiras nas suas aplicações. O presente trabalho busca

revisitar a literatura atual de gerenciamento de projetos de Pesquisa & Desenvolvimento

e Inovação moderna de acordo com o PMI, Chin (2011), Wingate (2015) e analisar como

está o contexto de P&D no Brasil no que tange as metodologias atuais devido à baixa

maturidade em gerenciamento de projetos no setor segundo Prado e Fernandes (2015).

Foi encontrado que para se fazer P&DI deve-se criar ou adaptar as metodologias

existentes, encaixando-as na cultura organizacional pois as existentes não suprem

totalmente os desafios das atividades inovadoras. As empresas brasileiras acessadas

através dos trabalhos de PINHEIRO et al. (2006), EMBRAPA (1989), GREENHALGH

et al. (2017) e PETROBRAS (2018) já haviam adaptado previamente metodologias de

GP em suas atividades de P&DI com similaridades ao documentado posteriormente na

literatura de Chin (2011) e Wingate (2015)

PALAVRAS-CHAVE: Pesquisa; Desenvolvimento; Inovação; Metodologias

Gerenciamento; Projetos

ABSTRACT

Research & Development is an inherently ambiguous activity in regard to the need for

freedom of ideas and at the same time a project management methodology that assists the

project but does not exercise excessive control. There have always been efforts to utilize

traditional project management methodologies in R&D since the 1960s but have

encountered barriers in its applications. The present work seeks to look through the

current literature on project management of Research & Development and Innovation

according to the PMI, Chin (2011), Wingate (2015) and analyze how is the context of

R&D in Brazil in its relations to current methodologies due to the low maturity in project

management in this sector according to Prado and Fernandes (2015). It was found that in

order to do R&D, one must create or adapt existing methodologies, fitting them into the

organizational culture because the existing ones do not fully meet the challenges of

innovative activities. The Brazilian companies accessed through the work of PINHEIRO

et al. (2006), EMBRAPA (1989), GREENHALGH et al. (2017) and PETROBRAS

(2018) had previously adapted PM methodologies in their R&D activities with

similarities to that documented later in the literature by Chin (2011) and Wingate (2015)

KEYWORDS: Research; Development; Innovation; Methodologies; Management;

Projects

LISTA DE ABREVIATURAS

P&D – Pesquisa & Desenvolvimento

P&DI – Pesquisa & Desenvolvimento e Inovação

GP- Gerenciamento de Projetos

GP-Gerente de Projetos

PMI – Project Management Institute

PMBOK – Project Management Book of Knowledge, Livro de Referência em Gerenciamento

de Projetos do PMI

NASA – National Aeronautics Space Agency , Administração Nacional da Aeronáutica e

Espaço dos Estados Unidos

PMO – Project Management Office, Escritório de Gerenciamento de Projetos

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Espectro de P&D adaptado de (WINGATE, 2015) .................................................... 13

Figura 2- Relação dos componentes-chave do Gerenciamento de Projetos de acordo com o PMI

(Fonte: (PMI, 2017)) ................................................................................................................... 15

Figura 3 - Ciclo de vida do projeto em termos de grupos de processos. Fonte: (PMI, 2017) ..... 15

Figura 4 - Exemplo de processos em uma etapa. Fonte: (PMI, 2017) ........................................ 15

Figura 5- Abordagem de ciclo de vida em gerenciamento de projetos com viés de inovação.

Adaptado de (WINGATE, 2015) p. 32 ....................................................................................... 19

Figura 6 - Nível de Ambiguidade ou Risco de acordo com o envolvimento do cliente.e

Experiência com a Metodologia e Ferramentas. Adaptado de (WINGATE, 2015) .................... 23

Figura 7 - Exemplo de diagrama visual dos ciclos de desenvolvimento em espiral em

desenvolvimento de software (GURENDO, 2015) ..................................................................... 24

Figura 8 - Workflow do Scrum. Fonte: (GASPAR, 2015) ........................................................... 25

Figura 9 - Alinhamento das habilidades do gerente de projeto de acordo com o objetivo.

Adaptado de (WINGATE, 2015) ................................................................................................ 29

Figura 10 - Responsabilidades chaves da equipe. Adaptado de (WINGATE, 2015) .................. 29

Figura 11 - Framework de Gerenciamento de Projetos de Colaboração Universidade-Industria

por (CHIN, 2011) ........................................................................................................................ 35

Figura 12 – Fluxograma do módulo de iniciação da metodologia de gerenciamento de projetos

de colaboração Universidade-Indústria. Fonte: (CHIN, 2011) ................................................... 36

Figura 13 - Fluxograma do módulo de planejamento da metodologia de gerenciamento de

projetos de colaboração Universidade-Indústria. Fonte: (CHIN, 2011) ...................................... 37

Figura 14-Fluxograma do módulo de Execução e Monitoramento da metodologia de

gerenciamento de projetos de colaboração Universidade-Indústria. Fonte: (CHIN, 2011) ........ 38

Figura 15 - Módulo 4: Encerramento. Fonte: (CHIN, 2011) ...................................................... 40

Figura 16 - Nível de maturidade das empresas mapeadas por (PRADO e FERNANDES, 2015)

Fonte: (PRADO e FERNANDES, 2015) .................................................................................... 43

Figura 17 - Sequência de atividades para o desenvolvimento de fitoterápicos. Fonte:

(PINHEIRO, SIANI, et al., 2006) ............................................................................................... 44

Figura 18 - Funil de inovação do modelo Stage-Gate (COOPER, 2009). Fonte:

(GREENHALGH, CONTE, et al., 2017) .................................................................................... 45

Figura 19 - Modelo Stage-Gate (COOPER, 2009) em open innovation adotado pela

EMBRAPA. Fonte: (GREENHALGH, CONTE, et al., 2017) ................................................... 46

Figura 20 - Matriz BCG acoplada à matriz GE. Fonte: (GREENHALGH, CONTE, et al., 2017)

..................................................................................................................................................... 46

Figura 21 – Fluxo de Prestação de contas.. Fonte: (PETROBRAS, 2018) ................................. 47

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 11

2. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 12

2.1. Pesquisa & Desenvolvimento 12

2.2. O que é Projeto? E o Gerenciamento? 13

2.3. Ciclo de vida para Gerenciamento de Projetos 14

2.4. Ciclo de Vida Aplicado à P&D 17 2.4.1. Fase de Pesquisa 18 2.4.2. Fase de desenvolvimento 18 2.4.3. Fase de controle 19 2.4.4. Identificando onde um projeto está no ciclo de vida 19

2.5. Gerenciamento de Projetos em P&D 20

2.6. Disciplinas que complementam gerenciamento de projetos 22 2.6.1. Metodologias flexíveis 22 2.6.2. Spiral Development 23 2.6.3. Frameworks de gerenciamento de projetos (complementos do Ágil) 25 2.6.4. Engenharia de sistemas 26 2.6.5. Gerenciamento de Risco em P&D 26 2.6.6. Liderança em P&D 28

2.7. Metodologia de Gerenciamento de Projetos em P&D por Chin (2011) 30 2.7.1. Desenvolvimento da metodologia de GP de Chin (2011) 30 2.7.2. Modelo de Gerenciamento de Projetos de Pesquisa colaborativa Universidade-Indústria

segundo Chin (2011) 35 2.7.3. Outros problemas na adoção de GP em P&D 40

3. GERENCIAMENTO DE PROJETOS DE P&D NO BRASIL 42

3.1. METODOLOGIA DA FIOCRUZ 43

3.2. METODOLOGIA DA EMBRAPA 45

3.3. GERENCIAMENTO DA COLABORAÇÃO NA PETROBRAS 47

4. CONCLUSÃO 49

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 50

11

1. INTRODUÇÃO

As atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) não se encaixam totalmente

nos modelos tradicionais de gerenciamento de projetos, pois detêm a ambígua missão de

preencher a necessidade da exploração criativa e como consequência não ter marcos e

resultados bem definidos, coisas estritamente necessárias em metodologias de

gerenciamento de projetos mais rigorosos. Posto que “identificar os melhores métodos

para as atividades que serão gerenciadas é o passo mais crítico”. (Wingate, 2015, p. xxxi).

A necessidade de se utilizar práticas de gerenciamento de projetos em atividades

de Pesquisa & Desenvolvimento e Inovação (P&DI) foi mapeada ao menos 50 anos atrás

conforme Meinhart e Delionback (1968) em projetos da Administração Nacional da

Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (NASA em Inglês).

O objetivo deste trabalho é realizar um apanhado bibliográfico do estado-da-arte

em gerenciamento de projetos de Pesquisa & Desenvolvimento de acordo com a pesquisa

realizada e metodologia desenvolvida por Chin (2011), apresentar a literatura de Wingate

(2015) e contextualizar o uso dessas ferramentas em metodologias de gerenciamento de

projetos de pesquisa e desenvolvimento e inovação desenvolvidas em instituições de

renome no Brasil.

Na seção 2.2 e 2.3, veremos brevemente como é, em partes, a metodologia

tradicional de GP (Gerenciamento de projeto) conforme o PMI (Project management

institute), em seguida, o referencial teórico abordado por Wingate (2015), passando por

Metodologias Ágeis, Spiral Development, Engenharia de Sistemas e alguns tópicos

relevantes levantados pela autora como Gerenciamento de Riscos e Liderança. Seguindo

adiante, abordar-se-á como Chin (2011) desenvolveu uma metodologia de GP para

projetos de colaboração Universidade-Indústria e P&DI e por final veremos como a

Fiocruz e a Embrapa desenvolveram suas próprias metodologias de GP. (PINHEIRO et

al., 2006; GREENHALGH et al., 2017).

12

2. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

2.1. PESQUISA & DESENVOLVIMENTO

Já disse Carl Sagan (1934-1996): “Se você quiser fazer uma torta de maçã do zero,

você deve primeiro inventar o universo”. Quem escuta isso pela primeira vez, acha que é

alguma espécie de piada, mas, uma maçã não aparece do nada, tampouco a farinha para

fazer a massa da torta, o leite, elas vêm de algum lugar. A maçã vem da macieira, que foi

cultivada por um fazendeiro, o leite da vaca que foi cuidada e teve seu leite transportado,

o açúcar veio da usina e da cana de açúcar. Ninguém faz nada do zero. Dependemos

intrinsicamente da colaboração dos outros e do descobrimento de algo, dos processos que

permitiram que a sucralose fosse retirada de dentro das células da cana-de-açúcar e

cristalizasse em açúcar branco, a ciência de enxertos que permitem que o produtor consiga

trazer maçãs grandes e saborosas, do saber do vaqueiro, da ciência por trás do veterinário,

do engenheiro que produziu a máquina que bate o creme e faz a manteiga na consistência

certa.

Em algum lugar, algo incrível está esperando para ser descoberto [...] vivemos

numa sociedade dependente da ciência e da tecnologia, mas que não sabe quase

nada disso. (CARL SAGAN, 1934-1996).

A Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) é um método de investigação de um tópico

com o objetivo de entender e potencialmente evoluir o conhecimento estabelecido,

criando algo. No ápice do seu desenvolvimento, para cada dólar gasto na NASA, 8

voltavam para a economia americana. (SCHNEE, 2000). Pesquisadores normalmente

definem áreas de estudo, revisam informações existente da área de interesse, montam

experimentos e interpretam os resultados com o objetivo de modificar teorias existentes

ou estabelecer uma teoria nova sobre o objeto de estudo. A P&D pode ser caracterizada

em três elementos separados. De acordo com Wingate (2015):

a) Pesquisa básica, que pode ser pensada como a fase da imaginação onde se

adquire novo conhecimento sem nenhum objetivo ou aplicação especificados.

b) Pesquisa aplicada, que se pode ser conceituada como a fase de arte, tirando a

ideia do reino da imaginação e criando algo.

13

c) Desenvolvimento pode ser pensado como a fase do artesanato, evoluindo o

estado corrente de algo ao modificar ou criar um produto, processo, sistema

ou serviço.

Figura 1 - Espectro de P&D

Fonte: adaptado de Wingate (2015)

2.2. O QUE É PROJETO? E O GERENCIAMENTO?

Segundo o PMI (2017, p. 4), um projeto é um esforço temporário empreendido

para criar um produto, serviço ou resultado único, seja um produto físico como um

componente de uma máquina, um serviço ou a capacidade de realizar um serviço, um

resultado único como um resultado científico ou documento ou uma combinação destes.

O PMI também define o Gerenciamento de Projetos como a aplicação de conhecimento,

habilidades, ferramentas e técnicas às atividades de projeto para atender aos seus

requisitos. Já de acordo com Wingate (2015, p. 1): “gerenciamento de projetos é o ato de

aplicar uma abordagem disciplinada para um set de atividades”.

Como o projeto é uma atividade com um resultado ou escopo bem definido a ser

cumprido em um tempo especificado com um orçamento dedicado, ele tem sua

performance acompanhada de perto e é gerenciado ativamente. Uma categoria de

atividades que não se incluem na descrição de projetos é a de operação: elas são rotineiras

e produzem produtos ou resultados similares e constantes. Em alguns casos o objetivo de

um projeto é gerar uma atividade operacional, porém cada operação em si não

necessariamente pode ser considerada um projeto. Enquanto que operações normalmente

têm metas, sejam diárias, semanais ou anuais e são acompanhadas por planos de trabalho

definidos pela equipe de operações, pela padronização do PMI, os projetos são

acompanhados por Gerentes de Projetos (GP) ou escritório de projetos, conhecido como

Project Management Office (PMO) desde sua concepção, a depender do nível de

formalidade ou maturidade.

14

“O gerenciamento de projetos é a aplicação de conhecimentos, habilidades,

ferramentas e técnicas às atividades do projeto a fim de cumprir os seus

requisitos. O gerenciamento de projetos é realizado através da aplicação e

integração apropriadas dos processos de gerenciamento de projetos

identificados para o projeto” (PMI, 2017, p. 10).

O PMI também argumenta que a disciplina de gerenciamento de projetos quando

bem aplicada permite que projetos tenham seus objetivos cumpridos; suas expectativas

satisfeitas perante às partes interessadas; tenham previsibilidade; chances de sucesso

aumentadas; timing na entrega de produtos; sejam resolutos; consigam responder a riscos

tem tempo hábil; e otimizem a utilização dos recursos organizacionais.

2.3. CICLO DE VIDA PARA GERENCIAMENTO DE PROJETOS

O PMI trata o ciclo de vida do projeto como uma série de fases que o projeto

atravessa do início à conclusão, sendo definido aqui a fase de um projeto por “um

conjunto de atividades relacionadas de maneira lógica que culmina na conclusão de uma

ou mais entregas” (PMI, 2017, p. 18), havendo a possibilidade de sequenciamento,

interatividade ou sobreposição delas. Determinando assim uma estrutura básica do

gerenciamento de um projeto independentemente do trabalho a ser executado nesse

projeto específico. Em geral, o PMI tem uma vista processual de como cada fase do ciclo

de vida deve ser traçada, havendo sempre uma sequência de processos de entrada,

execução e saída, assim cada fase tem seu próprio ciclo de vida, como pode ser

evidenciado pela Figura 2 a seguir. É determinado, assim, um marco ao final de cada fase

onde se avalia o desempenho e o progresso do projeto comparativamente à documentação

de planejamento e se toma uma decisão quanto ao prosseguimento para próxima fase (sem

ou com alterações); término do projeto; continuação na mesma fase ou repetir a fase, ou

elementos.

15

Figura 2 - Relação dos componentes-chave do Gerenciamento de Projetos de acordo com o PMI

Fonte: (PMI, 2017)

Figura 3 - Ciclo de vida do projeto em termos de grupos de processos.

Fonte: (PMI, 2017)

Figura 4 - Exemplo de processos em uma etapa

Fonte: (PMI, 2017)

16

Os processos de gerenciamento de projetos são atividades sistemáticas guiadas

com objetivo de alcançar um resultado tendo como base uma entrada. Os processos

formam grupos que são conjuntos de processos, mas com uma lógica de entradas

ferramentas, técnicas e saídas. Nesses grupos há a iniciação, planejamento, execução,

monitoramento, controle e encerramento. Além disso, o PMI categoriza os grupos de

processos em 10 áreas de conhecimento do Guia PMBOK (Project Management Book of

Knowledge), cada área é identificada de acordo com os seus requisitos de reconhecimento

e as suas características de processos que a compõem:

• Gerenciamento da integração do projeto: com processos tratando da

combinação unificação coordenação dos vários processos e atividades de

gerenciamento de projetos;

• Gerenciamento do escopo do projeto: trata dos requisitos e os processos

que garantem a contemplação de todo o trabalho estritamente necessário

para a conclusão bem-sucedida do projeto;

• Gerenciamento do cronograma do projeto: inclui a gama de processos que

abordam gerenciamento do tempo das ações e que o projeto termine

pontualmente;

• Gerenciamento dos custos do projeto: processos de planejamento,

estimativas financeiras, em geral trata de gerenciar e controlar os custos

para que o projeto termine dentro do orçamento aprovado;

• Gerenciamento da qualidade do projeto: inclui os processos de

planejamento, gerenciamento e controle dos requisitos de qualidade do

projeto e do produto para atender as expectativas das partes interessadas,

lembrando da incorporação da política de qualidade da organização;

• Gerenciamento dos recursos do projeto: identificar, adquirir e gerenciar

recursos que são necessários para a conclusão bem-sucedida do projeto;

• Gerenciamento das comunicações do projeto: trata dos processos de

garantia de bom planejamento, coleta, criação, distribuição,

armazenamento, e bom tratamento das informações do projeto entre as

partes interessadas;

17

• Gerenciamento dos riscos do projeto: os processos de planejamento,

identificação, análise, tratamento, resposta e monitoramento de riscos são

feitos nessa área;

• Gerenciamento das aquisições do projeto: o que for externo a equipe do

projeto e precise ser adquirido, comprado de produtos, serviços ou

resultados tem seus processos tratados aqui;

• Gerenciamento das partes interessadas do projeto: mais conhecido como

stakeholders. As partes (grupos, organizações ou pessoas) que impactam

ou são impactadas pelo projeto são identificadas, tem suas expectativas

analisadas e devem ter estratégias de engajamento ou não delas no projeto.

A depender do projeto mais áreas podem ser necessárias como segurança e saúde,

mas três áreas são tratadas tradicionalmente: escopo, custos, tempo/cronograma.

Formando a restrição tripla (VALLE; CIERCO; et al., 2014), definição que foi

abandonada do Guia PMBOK na sua quarta edição devido à adição das outras áreas.

2.4. CICLO DE VIDA APLICADO À P&D

Segundo Wingate (2015), um ciclo de vida é uma vista sistêmica de como uma

atividade evolui com o tempo, ela possui fases que proveem estrutura e foco, além de

poder ser utilizada para auxiliar decisões sobre quando investir em novas tecnologias que

irão substituir ou rejuvenescer as existentes. Como uma vida, o ciclo de vida de uma

atividade tem começo, meio e fim, quando utilizado em gerenciamento de projetos, o

ciclo de vida é pensado englobando todas as fases. Em um projeto de Pesquisa &

Desenvolvimento, se pensa no começo como a pesquisa básica, no meio como as

atividades de desenvolvimento e no fim como a entrega dos resultados, por exemplo.

Entender como o ciclo de vida se encaixa em projetos de Pesquisa &

Desenvolvimento depende da compreensão de como o projeto irá se situar na estratégia

da empresa, no portfólio, no programa e em seu próprio ciclo de vida. Ter uma estrutura

de gerenciamento de projetos como suporte à Pesquisa & Desenvolvimento, com a

complementação de disciplinas acessórias, auxiliará no sucesso da P&D que tem

resultados e previsibilidade difíceis por natureza. Identificar onde o projeto ou atividade

de P&D está se encaixando no ciclo de vida ajudará a selecionar qual metodologia e a

18

partir de que fase ele será utilizado. Nessa perspectiva, abordaremos as três macro fases

do ciclo de vida nos subitens a seguir.

2.4.1. Fase de Pesquisa

O começo do ciclo de vida de um projeto de P&D é a fase de pesquisa, na qual

ainda há um vislumbre de interesse na ideia de pesquisa. Este é o primeiro contato com a

ideia do trabalho, ainda em estado imaginário de concepção, onde os interessados

procuram desenvolver teorias e generalizar ideias buscando realizar brainstorming e

talvez captar conceitos na corporação. É a fase que deve ficar mais flexível, pois por ser

ainda muito idealista, não pode ser muito forçada.

Do vislumbre passa-se à próxima fase, que é onde as ideias começam a tomar

forma, ainda bem fluida. Nesta etapa as discussões se transformam em hipóteses e em

como se realizar, testar e alcançar algo, normalmente finaliza-se a decisão de qual

caminho será tomado e se o entregável será um produto, um processo ou modelo novos.

Aqui é onde será feita a pesquisa aplicada e uma lição importante deve ser tomada:

O controle nesse estágio pode prejudicar severamente o progresso,

especialmente, se o progresso não é medido adequadamente. (WINGATE,

2015, p. 30) tradução nossa.

2.4.2. Fase de desenvolvimento

Nessa fase, a ideia é desenvolvida do ponto de mera concepção para já ser pensada

em uma aplicação. Um propositor traz uma ideia e empacota-a com definições o

suficiente para que decisões possam ser tomadas se ela será perseguida ou não. Logo, um

produto prévio já pode ser testado (como um protótipo ou modelo) e resultados iniciais

sobre este produto podem ser discutidos. As fases de pré-produção se concentram em

provar que uma ideia é boa o suficiente para ser tomada adiante, já que ao se fazer um

produto prévio, e ao ser validado as hipóteses de projeto, a produção pode começar. É

bastante comum que atividades sigam para a fase de produção antes que os designs

estejam suficiente maduros, pois o cronograma normalmente se desliza nas fases de pré-

produção devido aos empecilhos naturais que ocorrem quando o projeto é ampliado e

outras complicações imprevisíveis que podem aparecer.

19

Essa é uma das partes mais difíceis de navegar do ciclo de vida. Determinar

quando o suficiente é realmente suficiente e quando mover adiante vai de cada

pessoa. O tanto de risco que pode ser tolerado e as pressões externas para

cumprir prazos que foram definidos vão impactar decisões de quando seguir

adiante. (WINGATE, 2015, p. 31, tradução nossa).

2.4.3. Fase de controle

A fase de controle busca manter o rumo do projeto, controlando mudanças

cuidadosamente, conforme são implementadas para manter o design o mais de acordo

possível. Em P&D as mudanças são melhorias, que normalmente começam a tomar forma

nos estágios de pesquisa e/ou desenvolvimento. Em projetos radicalmente inovadores,

estes poderiam rodar paralelamente à uma atividade existente e começar o ciclo de vida

em uma fase de imaginação, arte ou artesanato.

2.4.4. Identificando onde um projeto está no ciclo de vida

As fases do ciclo de vida de produção em diante, passando por operação,

manutenção e encerramento devem ser tratadas utilizando metodologias de

gerenciamento de projetos tradicional que conseguem traçar planos estáveis de uma

forma melhor. Para se pensar a viabilidade de um projeto inovador é preciso entender

onde ele se encontra no ciclo de vida, isso ajudará a determinar a estrutura e o nível de

gerenciamento do projeto que poderá otimizar a sua performance.

A figura abaixo dá uma vista da abordagem do ciclo de vida em gerenciamento de

projetos. Lembrando que a atividade de Pesquisa & Desenvolvimento tem um foco maior

nas fases de pré-produção e de ideias (imaginação, arte, artesanato).

Figura 5 - Abordagem de ciclo de vida em gerenciamento de projetos com viés de inovação

Fonte: adaptado de Wingate (2015, p. 32).

20

2.5. GERENCIAMENTO DE PROJETOS EM P&D

Atividades de Pesquisa & Desenvolvimento podem ou não ter objetivos ou

resultados bem definidos, de modo que possuem uma dificuldade maior em serem

categorizadas ou não como projetos. Pois a gerência, normalmente, apresenta

expectativas sobre os resultados do desenvolvimento e requer contabilidade das

atividades que estão sendo financiadas. Os resultados de P&D, quando bem definidos,

podem gerar o aumento de conhecimento em determinada área; desenvolver um

protótipo; desenvolver um modelo ou simulação, em linhas gerais, a P&D levará a algo

novo.

Independentemente do nível de certeza associado com os objetivos de P&D, a

aplicação de gerenciamento de projetos, aprimorado por disciplinas

complementares, fornece um ferramental poderoso para gerenciar atividades

fora de que é considerado um projeto tradicional como esses. (WINGATE,

2015, p. 6, tradução nossa).

A abordagem tradicional de gerenciamento de projetos se baseia no modelo de

desenvolvimento em cascata que é otimizado para controlar projetos com baixos níveis

de risco, requerimentos claros, concisos e estáveis, atividades únicas e não repetidas com

início e fim, e marcos bem definidos. O modelo de cascata também necessita da definição

do escopo, requerimentos e entregáveis claros para o desenvolvimento de um cronograma

e orçamento. Um projeto normalmente é definido como uma atividade temporária com o

objetivo de entregar um produto, serviço ou resultado único. (PMI, 2017). Plugando-se

essa definição ao modelo de cascata, é preciso ter marcos e cronogramas voltados para

resultados bem definidos e identificados, de modo que o sucesso seja obtido. Assim,

pode-se dizer que tudo que precisa ser alcançado para que um projeto seja bem-sucedido

pode ser compilado em uma lista inicial. Conforme visto em gerenciamento do escopo

em projetos, depois de definir os entregáveis e o tempo, planeja-se o orçamento.

Essas três partes mais básicas de planejamento de um projeto formam um

triângulo, no qual a qualidade está no centro. Este esquema era conhecido como restrição

tripla, ou o triângulo do gerenciamento de projetos, no entanto essa denominação foi

retirada na quarta edição do Guia de Referência do PMI (PMBOK), quando novas

restrições foram adicionadas: Recursos e Riscos. Alguns autores ainda consideram a

restrição tripla de grande importância, pois essas três áreas controlam o cerne de um

projeto e a qualidade é afetada pelo equilíbrio delas. (SOTILLE, 2010). Quando em um

21

projeto é definido e acertado o triângulo, o que especifica-o como constante, de modo que

o resultado possa sair conforme o combinado.

Para conseguirmos utilizar as metodologias de gerenciamento de projetos em

atividades de Pesquisa & Desenvolvimento, os dois lados devem fazer concessões: o lado

do gerenciamento de projetos mais ortodoxo de definições engessadas e o lado da

pesquisa deve ceder parte da liberdade criativa, apesar de ter sido discutido aqui que o

Gerenciamento de Projetos tem uma metodologia processual e deve seguir certos ritos.

Já sabemos que uma atividade de P&D não necessariamente se encaixa nos

parâmetros do PMI por completo, por isso, deve-se afrouxar a definição do que é projeto,

constringir as atividades típicas de P&D em um cronograma e tentar identificar os

resultados básicos que se almejam da P&D, seja de uma perspectiva tática ou estratégica.

A atividade de P&D é altamente criativa, de maneira que são poucas as que conseguem

se encaixar facilmente nos parâmetros tradicionais de gerenciamento. Principalmente, no

que se refere a escalas de tempo longas, mas isso não significa que essas atividades não

possam beneficiar-se das metodologias de gerenciamento de projeto.

P&D é utilizado para aprendizado e aplicação em uma área que ainda está

indefinida, conceitual, complexa e ambígua. Em muitos casos não tem

resultados definidos ou sequer tem um resultado identificado; mesmo assim os

meios para alcançar o resultado pode ser desconhecido. Dito isso, ainda é

possível escolher um cronograma em que um projeto de P&D irá ocorrer, e

identificar as tarefas conhecidas que serão completadas durante esse

cronograma. Ao comprimir as atividades típicas de P&D nesse cronograma e

identificando os resultados básicos (incluindo experimentos antecipados ou

completação da pesquisa, a submissão de papers científicos, a entrega de um

protótipo, ou outras atividades), pode-se tratar P&D como um projeto.

(WINGATE, 2015, p. 56).

Projetos de Pesquisa & Desenvolvimento não necessitam de definições completas

de escopo (WINGATE, 2015), mas necessitam de uma descrição cuidadosa acerca das

hipóteses a serem testadas e experimentos a serem feitos, suas trajetórias e direções. É

importante que haja a definição de pontos de decisões (em comparação com marcos) para

liderar o caminho de acordo com os resultados dos testes e experimentos face às hipóteses.

Apesar de o sucesso e progresso ser definido de forma diferente do projeto padrão, ainda

assim, é imperativo manter um orçamento e cronograma controlados. O sucesso em um

projeto de Pesquisa & Desenvolvimento é definido diferentemente de um projeto padrão,

pois na P&D o “sucesso está nas decisões que movem os experimentos adiante e provam

22

ou refutam as teorias ou hipóteses dentro de algum conjunto de limitações”. (WINGATE,

2015, p.56).

2.6. DISCIPLINAS QUE COMPLEMENTAM GERENCIAMENTO DE

PROJETOS

Sabendo que os métodos tradicionais de gerenciamento de projetos são

insuficientes para tratar a Pesquisa & Desenvolvimento, a seguir exemplificaremos

algumas disciplinas que complementam essas metodologias, segundo o ponto de vista de

Wingate (2015).

2.6.1. Metodologias flexíveis

Alguns autores defendem que a denominação “metodologias ágeis1” seja

substituída por “frameworks ágeis”. Esses frameworks são bastante úteis e viáveis quando

há ambiguidade e incerteza nos requerimentos e um grande envolvimento por parte do

cliente. A princípio, os frameworks ágeis surgiram como soluções no desenvolvimento

de software, como contraponto ao que era considerado ineficiente das metodologias

tradicionais de gerenciamento de projetos pelos desenvolvedores. Todavia, hoje em dia,

já se encontram aplicados em praticamente todas as áreas, desde a construção civil até as

operações fabris.

Como vantagens das metodologias flexíveis, destaca-se a facilidade de mudança

de escopo e a participação do cliente no processo de desenvolvimento do projeto. O que

vai de encontro as metodologias tradicionais, nas quais um conjunto de requerimentos

listado é mantido constante ou com mudanças bem controladas durante a condução do

projeto, pelo menos idealmente. Assim, podemos utilizar os frameworks ágeis,

ferramentas que possuem um nível de rigidez baixo, em situações em que o nível de

ambiguidade nos requerimentos é alto, o nível de envolvimento do cliente é grande e o

conhecimento das ferramentas e técnicas é mínimo.

A filosofia por trás dos métodos ágeis é trabalhar de uma forma que se produza

resultados menores de forma consistente, buscando agregar valor constante ao cliente,

com qualidade e respondendo rapidamente às mudanças. Nessa perspectiva, uma equipe

1 As metodologias ágeis mais conhecidas são as Agile, Kanban e SCRUM.

23

de desenvolvedores de softwares criou os “12 princípios do software ágil” e o “manifesto

ágil”, disponibilizando a filosofia online (BECK, COCKBURN, et al., 2001). Em Ágil,

as mudanças são o cerne do método e são tratadas como uma evolução natural do

aprendizado durante o desenvolvimento e o teste da capacidade. As prioridades são

definidas por um grupo de interessados, com a participação do cliente e, normalmente, os

requerimentos mais desafiantes são priorizados e resolvidos mais cedo no esquema geral

do projeto. Nos frameworks ágeis, o passo de desenvolvimento se dá em períodos

relativamente curtos chamados de sprints, blocos ou time boxes. De sprint em sprint os

requerimentos são revistos, mudanças implementadas e o desenvolvimento é realizado,

sempre levando em conta a importância da mente aberta com foco em produto. Outro

aspecto importante na filosofia do desenvolvimento ágil é a de reuniões pessoais diárias.

De modo resumido, A Figura 6 representa a aplicabilidade dos três métodos

citados, de acordo com o nível de ambiguidade (ou falta de clareza nos requerimentos), o

nível de experiência na área, ferramentas e técnicas e o nível de envolvimento do cliente.

Figura 6 - Nível de Ambiguidade ou Risco de acordo com o envolvimento do cliente. E experiência com

a Metodologia e Ferramentas

Fonte: adaptado de Wingate (2015)

De acordo com a figura acima um projeto com baixa clareza de requerimentos,

pouca experiência com os métodos e pesado envolvimento do cliente teria como

recomendação um Framework Ágil para ser aplicado.

2.6.2. Spiral Development

Spiral Development é um método de desenvolvimento e abordagem para a

estruturação do trabalho de forma que haja ciclos de desenvolvimento que aparentam

24

voltar sobre si mesmos, mas adicionando progressos incrementais a cada ciclo em direção

a um objetivo futuro. Segundo Wingate (2015), o desenvolvimento em espiral é utilizado

quando o risco é elevado e tem um grande componente de abstração (artística) e/ou

atividades de projeto-construção-teste levam à evolução. Já GURENDO (2015) diz que

o Modelo Espiral é orientado para o risco (Risk Driven). Essas características são ideais

para complementar o gerenciamento de projeto em Pesquisa & Desenvolvimento.

Figura 7 - Exemplo de diagrama visual dos ciclos de desenvolvimento em espiral em desenvolvimento de

software

Fonte: (GURENDO, 2015).

Wingate (2015) fala que o modelo em espiral é normalmente utilizado quando há

o desenvolvimento de pré-produtos como protótipos, modelos ou amostras virtuais para

demonstrar ou provar a capacidade do projeto de seguir adiante para a próxima etapa de

desenvolvimento, e também utiliza modelagem e simulação para demonstrar sua

prontidão. Nessa metodologia, assim como nas metodologias em cascata, deve-se listar

os objetivos e requerimentos para ter um escopo. A única ressalva do modelo em espiral

é que ele depende de escalas de tempo que envolvem de 6 a 2 anos por ciclo. Em cada

ciclo, riscos serão analisados e suas soluções potenciais listadas e estudadas. Depois da

análise e resolução de riscos passa-se para a fase de desenvolvimento, verificação e testes

(segundo quadrante na Figura 7) e após aprovação, o ciclo se repete.

25

2.6.3. Frameworks de gerenciamento de projetos (complementos do Ágil)

Esta é uma visão holística do ciclo de desenvolvimento, no qual foram adaptados

desenvolvimento do software para o hardware e em alguns casos para o desenvolvimento

de firmware2. Por esses sistemas integrados se beneficiarem pela aplicação de estruturas

de gerenciamento de projeto, foram desenvolvidos ou adaptados novos frameworks ágeis

para aplicar por via de um movimento, tais como o Product Lifecycle Management

(PLM), o Dynamic Systems Development Method (DSDM), o Scrum, entre vários outros.

O Scrum é uma metodologia que utiliza um ciclo predefinido de desenvolvimento

chamado sprint, em uma escala de tempo de uma semana a um mês. Os papeis da equipe

são bem definidos: o Scrum Master atua como facilitador, sendo responsável por retirar

obstáculos e garantir que a equipe tenha capacidade de produzir o que foi prometido; o

Product Owner (PO) é o responsável por garantir que o produto tenha as características

adequados e por priorizar os itens do backlog of requirements3. Da lista priorizada de

requerimentos do backlog, o time faz uma reunião de sprint, seleciona as tarefas, forma

um backlog do sprint e realiza o sprint tendo reuniões diárias. Vale ressaltar que o backlog

do sprint e a data de entrega não sofrem alterações. Há então revisão, retrospectiva e

entrega do trabalho passando-se para a próxima sprint. As lições que o Scrum dá para as

outras metodologias é a importância da colaboração, da presencialidade, da mudança, da

necessidade de sprints curtos e da possibilidade de mudança pelo cliente (com os devidos

limites).

Figura 8 - Workflow do Scrum

Fonte: GASPAR (2015)

2 Alguns tipos de software que controlam hardwares. 3 Backlog de requisitos, como uma pilha de pedidos de trabalho em espera.

26

2.6.4. Engenharia de sistemas

A Engenharia de Sistemas é um campo interdisciplinar entre a Engenharia e a

Engenharia de Gestão cujo foco é entender como projetar e gerenciar sistemas complexos

nos seus ciclos de vida utilizando Teoria de Sistemas, com o auxílio de disciplinas

correlacionadas como engenharia de requerimentos, confiabilidade, logística,

gerenciamento, manutenção, entre outras. Com essa abordagem de engenharia e sistemas,

ela tenta trazer uma visão holística para os componentes de desenvolvimento que estão

atuando separadamente, garantindo, assim, que as peças “se encaixem”. Wingate (2015)

fala que a Engenharia de Sistemas complementa o gerenciamento de projetos ao dar

profundidade e responsabilidade às atividades de controle e desenvolvimento para o

gerente de projeto e ao listar os processos de gerenciamento que o engenheiro de sistemas

é responsável por implementar e controlar.

2.6.4.1. Linha de Base ou baseline

A linha de base é uma ferramenta do gerenciamento de projetos, de acordo com o

PMI, que lista o uso antecipado de recursos ao longo do tempo e segue um orçamento. A

linha de base é discutida com os interessados e obtém-se uma versão final em que todos

estão comprometidos e tendo ciência dos impactos de mudança. Em P&D a linha de base

é a ideia ou a hipótese que será documentada e sobre as quais os experimentos serão

testados. Ao documentar uma baseline, garante-se que a trajetória dos esforços de

Pesquisa & Desenvolvimento fiquem no objetivo, para que as atividades não corram o

risco de se desviar.

O papel do engenheiro de sistemas é auxiliar na criação de uma baseline válida e

que garanta que seja entregue o esperado, além de ter um controle cuidadoso de como a

mudança será implementada. Desse modo, o engenheiro de sistemas deve implementar

processos padronizados para documentar, controlar, testar e verificar que os resultados

atendam às expectativas.

2.6.5. Gerenciamento de Risco em P&D

Além de desenvolver um plano de riscos e abordagem para o projeto de P&D,

Wingate (2015) defende que o gerenciamento de riscos em P&D deve dar suporte de

27

decisão na visualização dos riscos e oportunidades em projetos; desenvolver estratégias

de respostas e mitigações; gerenciar e monitorar mudanças; e avaliar e selecionar

inteligentemente para que se obtenha um portfólio de P&D otimizado.

Deve-se lembrar que as atividades de gerenciamento de riscos não devem atrasar

a atividade de P&D, mas ampliar a capacidade do Gerente de Projetos e da tomada de

decisões da organização. Tais como: o que se deve perseguir, por quanto tempo e quando

se deve mudar de trajetória. Por ser uma atividade inerentemente arriscada, pois batem

no limite do estado-da-arte nos processos e produtos que estão sendo utilizados, os riscos

técnicos podem atrasar os cronogramas facilmente e principalmente afetar o orçamento

ao resolver os impactos. O limite do quanto de risco é aceitável depende inerentemente

do orçamento disponível, do planejamento de contingência na análise de valor esperado

e, principalmente, do nível de tolerância de risco dos stakeholders. Tais processos de

gerenciamento de risco, além de reduzir os riscos e impactos, também ajudam a alcançar

uma progressão disciplinada na trajetória estratégica; e obter uma boa integração dessa

área de conhecimento ajuda a manter o ritmo de pesquisa. Wingate (2015) argumenta que

abordar riscos e oportunidades em P&D depende de uma consciência situacional que é

melhor alcançada pela aplicação de processos.

Projetos que utilizam metodologias flexíveis podem tentar lidar com as incertezas

(unknowns) que têm o maior impacto no projeto total, o que é uma abordagem consistente

com o método de resolver o risco de P&D. A presença de um plano de gerenciamento de

riscos ajuda o projeto a ter uma inércia ao identificar cenários potenciais, como um

experimento falho ou a perda de um membro do time que era vital para o projeto, pois

contém planos de ação a serem seguidos, de riscos que devem ser identificados e

mitigados.

Em pesquisa básica e aplicada, a avaliação de riscos é inerentemente diferente de

um projeto de produção, pois as incertezas desconhecidas (unknown unkowns) são bem

maiores que as incertezas conhecidas (known unknowns). Um experimento não validado

pode requerer a interrupção do trabalho ou até mesmo a mudança direcional da trajetória

do projeto. Já pode-se perceber que um projeto de P&D requer um gerenciamento de risco

que leve em conta muito mais impactos imprevisíveis do que os projetos que traçam

cursos mais previsíveis. E que apesar de possuir linhas de base, um projeto de P&D pode

desviar-se dela e ainda ser visto como um projeto com resultados bem-sucedidos, desde

que tenha havido progresso durante o caminho.

28

Os testes e experimentos também são importantes nos projetos, para que sejam

definidos de forma a serem avaliados claramente, na desistência de um caminho ou no

abraço de uma nova oportunidade. O gerenciamento de risco prova essa estrutura

processual, que qualifica e quantifica o progresso da pesquisa e do desenvolvimento,

dando uma fundação maior para a tomada de decisão. Principalmente devido à

incapacidade desse tipo de projeto de prever resultados em testes e experimentos, o

registro de riscos e essa fundação são elementos que complementam essas atividades e

trazem um alicerce de informações para um possível portão de tomada de decisões.

2.6.6. Liderança em P&D

A liderança de projetos de P&D deve ter um set de habilidades levemente distinto

do Gerente de Projetos tradicionais, pois deve estar confortável com ambientes com nível

de ambiguidade, riscos, além de ter uma natureza aberta e colaborativa para gerenciar

times altamente criativos. Uma das funções que o GP deve exercer é a de facilitador, pois

os membros dessas equipes devem estar focados e investidos em assuntos complexos e

não em assuntos gerenciais e administrativos como controle de escopo, orçamento,

cronograma e recursos.

Outras habilidades básicas de um líder de P&D são a liderança, o gerenciamento

organizacional e o gerenciamento de projetos. Essas devem ser escolhidas com atenção,

pois o líder deve ter suas habilidades bem alinhadas com os objetivos do P&D. Por

exemplo: quando uma Pesquisa e Desenvolvimento é radical, faz-se necessária uma forte

liderança para quebrar barreiras e disputar o status quo, ou quando o P&D é incremental,

é preciso uma liderança com boas habilidades de gerenciamento de projetos. Todavia, há

uma diferença aqui entre a tradicional classificação do líder com soft skills e hard skills,

já que não necessariamente um líder com soft skills terá as habilidades citadas

anteriormente. Uma boa estratégia é posicionar uma liderança visionária nas primeiras

fases do projeto e quando o projeto estiver se encaminhando para o desenvolvimento

posicionar um gerente de projetos com competências de execução.

29

Figura 9 - Alinhamento das habilidades do gerente de projeto de acordo com o objetivo. (Wingate ,2015)

A figura acima adaptada de Wingate (2015) destaca o equilíbrio entre as

habilidades gerenciais e habilidades de liderança que um líder de projetos de P&D deve

ter. Um gerente de projetos de P&D deverá entender a visão estratégica, ter influência

nos objetivos do projeto e conduzir mudanças, inovação, de forma a inspirar e alcançar

mais do que planejado. Os Gerentes de Projetos devem estar bastante confortáveis em

delegar e facilitar as funções das pessoas que são os principais investigadores, líderes

técnicos ou especialistas. O GP que entende e suporta a estratégia e trajetória da

organização e o seu alinhamento com a liderança superior terá maior capacidade de

conseguir os recursos necessários para a pesquisa, além de estabelecer uma relação de

confiança entre os interessados chave, o que gerará um progresso maior ao longo do

progresso da pesquisa. Desse modo, a organização ganhará o benefício de saber o

andamento da Pesquisa e do Desenvolvimento dentro de um ciclo de vida razoável.

Figura 10 - Responsabilidades chaves da equipe

Adaptado de Wingate (2015)

30

O papel do Gerente de Projeto é o de alcançar os resultados do projeto e os

objetivos estratégicos dos quais o projeto se alinha. Já o líder técnico ou científico é

responsável por influenciar os objetivos do projeto e progredir a trajetória da P&D. A

Figura 10 acima ilustra os papeis dos principais atuantes e as suas responsabilidades.

2.7. METODOLOGIA DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS EM P&D POR

CHIN (2011)

Chin (2011), em sua pesquisa de doutorado, observou que embora metodologias

de gerenciamento de projetos existam há mais de 30 anos, o uso delas não é difundido

nos projetos de pesquisa colaborativos entre universidades e indústria, os chamados

Projetos Colaborativos Universidade-Indústria. Principalmente, devido à mentalidade

difundida na academia de que o gerenciamento de projetos não traz praticidade para o a

pesquisa e é uma carga administrativa adicional para os pesquisadores. Além de suas

funções de pesquisa, os pesquisadores universitários carregam múltiplas funções

complexas, como atrair, negociar e executar colaborações de pesquisa com parceiros da

indústria e outras instituições de fomento, enquanto administram várias partes das

estruturas de projeto simultaneamente.

Foi identificada a necessidade de difundir uma visão mais aprofundada da

aplicação das metodologias de gerenciamento de projeto, realizando o desenvolvimento

de uma metodologia de gerenciamento de projetos com as melhores práticas para a

condução de um projeto colaborativo Universidade-Indústria.

2.7.1. Desenvolvimento da metodologia de GP de Chin (2011)

Chin (2011), identificando a necessidade de se criar uma metodologia de

gerenciamento de projetos que fosse aplicável para o ambiente de pesquisa colaborativa

entre Universidade e Indústrias na Malásia, buscou mostrar como essa metodologia

deveria ser estruturada e que processos deveria conter. Para isso, realizou pesquisas,

entrevistas semiestruturadas e questionários com 11 líderes de projetos em Universidades,

6 sponsors de projetos de Pequenas e Médias Companhias e 2 Gerentes Sêniores de

Agências de Pesquisa da Malásia. O objetivo era entender o mundo da pesquisa de acordo

com o ponto de vista dos stakeholders dos projetos de pesquisa e validar os achados

literários da autora, mapear alguns aspectos das Colaborações Indústria-Universidade (o

31

que se especula ser o equivalente brasileiro para projeto de pesquisa), e, eventualmente,

desenvolver uma metodologia de gerenciamento de projetos para utilização em contexto

de colaboração Universidade-Indústria em Pesquisa & Desenvolvimento.

2.7.1.1. Mapeando como a performance é medida

Uma das perguntas feitas pela Chin (2011, p. 159) aos entrevistados foi “como a

performance da colaboração é medida” e das respostas, separou os resultados em duas

categorias:

a) Resultados Tangíveis: são os resultados e entregáveis esperados dos

acadêmicos como papers científicos e publicações, descobertas e soluções encontradas

pelos pesquisadores. Segundo Chin (2011, p. 159) os pesquisadores universitários

também veem as colaborações como uma estratégia de gerar mais doutores com

exposição industrial para atender às necessidades do mercado.

b) Resultados intangíveis: desenvolvimento de conhecimento, validação de

achados, satisfação de resultados de pesquisa ou solução de problemas específicos.

Parceiros de indústria veem a colaboração como uma maneira de ter acesso a uma

tecnologia de valor agregado para seus produtos e ao mesmo tempo ter a oportunidade de

aumentar o valor comercial e a competitividade dos seus produtos no mercado. (CHIN,

2011, p. 159).

Chin (2011) ressaltou que a medição de performance é uma área ainda pouco

estudada, que embora os entrevistados tenham afirmado que a colaboração é de extrema

importância, não deram respostas específicas à pergunta. Nos estudos dela foi encontrado

que não houve indicações de conduções de medições de performance dos resultados pelas

organizações ou envolvimento direto das instituições nessas medições.

2.7.1.2. Mapeando os drives

Como fatores de condução (driving factors) da colaboração Indústria-

Universidade as respostas listadas foram (CHIN, 2011, p. 160):

a) Suporte complementar: tanto a indústria quanto a universidade aceitam a

importância um do outro e os seus papéis e necessidades. A universidade como

contribuinte de conhecimento e expertise em uma área de nicho, soluções ou

32

metodologias, do ponto de vista metodológico e a indústria como contribuinte financeiro

e provedor de exposição para o ambiente de P&D industrial. (CHIN, 2011, p. 160).

b) Interesses comuns: foi mapeado como interesses comuns encontrados que a

colaboração provê a oportunidade de avanço de carreira para os participantes dos projetos,

abertura de oportunidades para a indústria devido às publicações e resultados das

pesquisas e a geração de inovação frutíferos para a sociedade. (CHIN, 2011, p. 160).

c) Capacidade das facilidades e expertise: os entrevistados das pequenas e médias

companhias mostraram uma necessidade de suporte de infraestrutura e expertise para

conduzir a pesquisa, para eles, isso foi o maior drive para colaboração. O que é diferente

para multinacionais com recursos disponíveis, principalmente as com capital de P&D e

laboratórios dedicados. (CHIN, 2011, p. 161).

d) Aumento da cadeia de valor da competitividade: para os entrevistados por Chin

(2011), que são da Malásia, outro drive é a utilização da P&D colaborativa como um

direcionador e estratégia para ganhar expertise industrial e subir na cadeia de valor para

competir com outras nações em desenvolvimento. (CHIN, 2011, p. 161).

2.7.1.3. Barreiras para a Colaboração Universidade-Indústria

a) Divergência de interesses e expectativas: visões diferentes dos resultados

esperados, responsabilidade e autoridades. Do ponto de vista da universidade a indústria

tem expectativas bastante elevadas com uma abordagem bastante demandante e

frequentemente tratando os pesquisadores como fornecedores convencionais. Segundo

Chin (2011, p. 161-162) esse problema era mais comum em pequenas e médias

companhias que tinha pouco entendimento do escopo e requerimentos que eles

necessitavam. Esses conflitos eram mais prevalentes durante a formação da parceria

colaborativa e fazia-se requerer mais tempo para a formação do contrato.

b) Estrutura burocrática: foi a barreira mais citada e significativa pelos

entrevistados segundo o estudo de Chin (2011, p.162), cujos respondentes comentaram

que as aplicações de iniciação da colaboração com o parceiro da universidade e obter

subsídios governamentais era um processo demorado.

c) Seleção de parceiro: a autora citou a importância, porém nas entrevistas feitas

não foi um fator importante citado. (CHIN, 2011, p.162).

d) Negociação e reconciliação de opiniões e interesses: respondentes disseram que

a divergência de opiniões e interesses são os maiores obstáculos no estabelecimento e

33

gerenciamento da colaboração. Garantir que os interesses das partes sejam atendidos

requer negociações extensivas. (CHIN, 2011, p.162).

e) Papéis e responsabilidades bem definidas: a boa definição de papéis e

responsabilidade garante o contorno de problemas, segundo os entrevistados. (CHIN,

2011, p. 163).

f) Canais abertos e frequentes de comunicação: do ponto de vista dos

entrevistados, abrir e manter um canal aberto e frequente de comunicação entre os

membros do time e os dois parceiros da comunicação é uma das chaves para o

gerenciamento do relacionamento. (CHIN, 2011, p. 163).

2.7.1.4. Gerenciamento de Projetos

O mapeamento feito por Chin (2011, p.163-169) via entrevistas também buscou

questionar sobre o gerenciamento dos projetos em colaboração Universidade-Indústria.

Um destaque importante a ser mencionado aqui é que ao serem perguntados “Que

elementos chave são necessários no processo de planejamento?” os respondentes não

indicaram um uso de uma metodologia de gerenciamento de projetos e somente um

entrevistado concordou com a necessidade de uma metodologia de gerenciamento de

projetos como elemento chave no planejamento.

No entanto, as séries de respostas tiveram elementos comuns às metodologias de

gerenciamento de projetos como: clara definição dos objetivos ou problemas do projeto;

cronograma bem estruturado e planejado; orçamento e provisão financeira adequados;

seleção do parceiro bem ajustada e equipe com capacidade e quantidade suficiente para

manter a parceria; papéis e responsabilidades bem definidas ao longo do time de projeto;

utilização bem planejada, aproveitada e minimizada dos recursos, adoção de metodologia

de gerenciamento de projetos. Chin (2011) interpretou os resultados dessa pergunta como

uma falha de entendimento dos benefícios que uma metodologia de gerenciamento de

projetos pode trazer para a colaboração. Também foi notado que apesar de o retorno de

investimento do ponto de vista da indústria ser considerado um elemento importante do

projeto de colaboração, não foi identificado pelos respondentes.

Sobre as estruturas que são criadas ou adotadas para coordenar os projetos

colaborativos foi notado que boa parte dos entrevistados de origem empresarial não

indicaram preferência em adotar alguma abordagem ou estrutura específica no

gerenciamento de projetos colaborativos, também ficou evidente que os respondentes da

34

indústria eram mais propensos a coordenar as atividades via prazos e marcos e viam

reuniões e discussões como veículos suficientes para coordenar a colaboração. Já os

parceiros da universidade indicaram uma abordagem mais prática na coordenação através

do reporte via documentação periódica, encontros regulares e discussões via e-mail para

manter um canal de comunicação aberto entre os parceiros. Essas abordagens

aparentaram ser apropriadas, particularmente em um projeto de ambiente dinâmico. Chin

(2011) também notou que pela resposta dos entrevistados das universidades eles são

requeridos a reportar para o centro de gerenciamento de pesquisa da universidade

periodicamente e dependem desse centro para concatenar documentos e monitorar o

progresso dos projetos.

Ao perguntar quem são as pessoas envolvidas no gerenciamento de projetos, se

há um gerente de projeto para cada parceiro e o impacto houve uma série de respostas de

responsáveis como líder de projeto ou o patrocinador (sponsor) que tomaram papel de

gerentes de projeto (gerente de projeto acidentais) mas sem qualquer treinamento em

gerenciamento de projeto, mas que na visão dos entrevistados não afetaria a performance

da colaboração já que os papéis estavam bem definidos, o que compensaria a falta de

treinamento. Porém os próprios entrevistados identificaram que vários problemas e

barreiras citadas anteriormente poderiam ter sido resolvidas com a presença de um

gerente de projetos bem treinado e uma documentação. Também admitiram a não

utilização de uma metodologia de gerenciamento de projeto, tendo os entrevistados de

origem acadêmica mostrado confiança no estilo e capacidade do centro de gerenciamento

da universidade e no parceiro da indústria. Já os de origem industrial mostraram a

preferência por manter um grau de flexibilidade no gerenciamento da colaboração.

(CHIN, 2011, p. 166).

Chin (2011) utilizou esses dados junto com outras pesquisas da autora desenvolver

uma metodologia de Gerenciamento de Projetos para o ambiente de colaboração

Universidade-Indústria. A metodologia construída foi proposta por ser um híbrido de

outras atendendo os requerimentos de um método de gerenciamento de projeto mapeados

pela autora, listados abaixo em Chin e Spowage (2012):

a) Deve facilitar a identificação e gerenciamento de riscos e oportunidades

b) Deve facilitar a clareza de objetivos e escopo do projeto incorporando as

melhores práticas de gestão de projetos, ferramentas e técnicas para planejar e

gerenciar projetos de Pesquisa & Desenvolvimento

35

c) Deve criar um comitê de projeto para supervisionar, monitorar e avaliar a

progressão do projeto de pesquisa

d) Deve ser escalável e adaptável para vários tamanhos de projetos, onde possa

ser específico para a organização, mas customizável para projetos individuais

e) Deve alavancar as melhores práticas do ambiente/disciplina específica para

minimizar obstáculos falhas

f) Promover aprendizagem organizacional

g) Se basear nas regulamentações nos padrões organizacionais, governamentais

e do setor específicos.

h) Deve modelar o fluxo de trabalho de um projeto típico

2.7.2. Modelo de Gerenciamento de Projetos de Pesquisa colaborativa

Universidade-Indústria segundo Chin (2011)

A autora julgou que pelo estudo a melhor integração se daria pelo

desenvolvimento de uma metodologia baseada no PMBOK e no PRINCE2 uma vez que

cada uma complementa as deficiências do outro.

Figura 11 - Framework de Gerenciamento de Projetos de Colaboração Universidade-Indústria

Fonte: Chin (2011)

36

O framework de gerenciamento de projetos desenvolvido por Chin (2011), é

montado em quatro módulos, 19 atividades cada uma com sua própria lista de entradas,

saídas fechando um total de 34 ferramentas. O objetivo da autora foi desenvolver uma

metodologia flexível e genérica para ser customizável para a natureza dinâmica do

ambiente de pesquisa colaborativa. Analisando módulo a modulo, podemos ver os

processos envolvidos e seus objetivos.

2.7.2.1. Módulo 1: Iniciação

O objetivo do modulo de iniciação é gerar ideias potenciais e montar o projeto.

Oito atividades principais para esse módulo são listadas junto com suas entradas, tarefas,

ferramentas e saídas associadas, como mostrado no fluxograma, no módulo de iniciação

da metodologia de Chin (2011) apresentado na Figura 12 abaixo.

Figura 12 - Fluxograma do módulo de iniciação da metodologia de gerenciamento de projetos de

colaboração Universidade-Indústria

Fonte: Chin (2011)

Outros objetivos desse módulo são identificar o proposito único do projeto,

identificar os objetivos, metas e missão do projeto; identificar potenciais parceiros de

colaboração; desenvolver um documento de iniciação e finalizar um acordo obtendo-se

uma aprovação para iniciar o módulo de planejamento do projeto angariando fundos.

(CHIN, 2011).

37

A saída documental é de extrema importância e relembra o que é ditado pelo PMI

(2017) no seu guia PMBOK para a iniciação do projeto.

2.7.2.2. Módulo 2: Planejamento

O módulo de planejamento é o segundo módulo, cujo objetivo é criar um conjunto

de documentos, auxiliando a equipe do projeto a estabelecer um padrão ferramental para

relatar e documentar informações do projeto. Essas ferramentas servirão para assistir a

integração, promover a comunicação efetiva e devem estar atualizadas para destacar os

desvios do projeto da linha de base. (CHIN, 2011).

Figura 13 - Fluxograma do módulo de planejamento da metodologia de gerenciamento de projetos de

colaboração Universidade-Indústria

Fonte: Chin (2011)

Os objetivos chave do módulo de planejamento são:

a) desenvolver um cronograma de atividades;

b) identificar recursos e orçamento do projeto;

c) documentar e rastrear problemas que surjam no projeto;

d) identificar, planejar e responder a riscos e incertezas no projeto;

e) planejar os canais de comunicação e distribuição de informação;

f) identificar e garantir que as metas de qualidade atendam às expectativas dos

stakeholders. (CHIN, 2011).

38

2.7.2.3. Módulo 3: Execução e Monitoramento

O terceiro módulo tem como atividade mais importante garantir que o trabalho

realizado está sendo realizado como planejado ao monitorar o progresso

consistentemente. Segundo a metodologia PMM, os passos requeridos para cumprir isso

são monitorar e acompanhar o progresso e conduzir processos de revisão de fase (review

gate) no evento de requerimentos de mudanças (change requests). As duas atividades

principais a serem realizadas nesse módulo em conjunto com suas entradas, tarefas,

ferramentas e saídas associadas. (CHIN, 2011).

Figura 14 - Fluxograma do módulo de Execução e Monitoramento da metodologia de gerenciamento de

projetos de colaboração Universidade-Indústria

Fonte: Chin (2011)

Os objetivos chaves do Módulo 3 são:

a) garantir que cada um dos objetivos do projeto seja alcançado como

combinado e planejado;

39

b) coordenar a completação de todas as tarefas obedecendo o cronograma e o

orçamento;

c) monitorar as solicitações de mudanças e minimizar o impacto no escopo,

cronograma e orçamento do projeto;

d) acompanhar o progresso em relação aos planos por meio de relatórios de

desempenho;

e) tomar ação corretiva contra mudanças conforme recomendado pelo agente do

comitê colaborativo. (CHIN, 2011).

2.7.2.4. Módulo 4: Encerramento

O módulo final do PMM é o módulo de encerramento para garantir que a

assinatura oficial e entrega possam acontecer com sucesso, deve-se considerar algumas

atividades. O módulo 4 guia os usuários sobre como medir a performance da colaboração,

verificar os entregáveis do projeto, criar um relatório de lições aprendidas, arquivar a

documentação do projeto e preparar um relatório de finalização antes de oficialmente se

entregar o projeto. (CHIN, 2011).

Uma medida do sucesso de todos os entregáveis da colaboração deve ser feita,

pois é uma informação crucial para o caso de haver uma extensão da parceria. Os

indicadores tangíveis e intangíveis são medidos conforme 2.7.1.1 e um balance scorecard

(BSC) é montado para haver uma visão balanceada e entender as relações da colaboração

para uma tomada de decisão efetiva e com entrega dos indicadores.

No encerramento do projeto, como atividade final, há uma atualização da

documentação, revisão e completação da execução do projeto pelo comitê de

colaboração, as lições aprendidas são documentadas e um processo de revisão de fase

ocorre. A saída final dessa etapa é a aceitação formal do projeto por ambas as partes e

ações de seguimento são listadas e as estruturas de pesquisa e gerenciamento são

desbandadas, terminando o projeto.

40

Figura 15 - Módulo 4: Encerramento

Fonte: Chin (2011)

2.7.2.5. Validação da metodologia de gerenciamento de projetos de P&D de Chin

(2011)

A autora da metodologia enviou o modelo de metodologia de gerenciamento de

projetos para P&D para os entrevistados originalmente e avaliou o método via pesquisa

por questionário para os mesmos. Segundo a autora, o método foi avaliado como de fácil

uso, viável e que da resposta, já tinha sido utilizado por um dos entrevistados. A opinião

consensual era de que a metodologia deveria ser adotada no seu grupo de pesquisa ou

organização com as devidas adaptações. Embora alguns dos respondentes tenham

mostrado apreensão quanto a utilização da metodologia trazer uma carga de trabalho

administrativa e consumir tempo, concordaram que é uma aplicação crível para o mercado

de ambiente de pesquisa colaborativa. (CHIN, 2011).

2.7.3. Outros problemas na adoção de GP em P&D

A necessidade desregulada inerente da alta administração das empresas de

controlar o processo de P&D foi observada como prejudicial em diversas literaturas,

41

como em Chin (2011), Wingate (2015) e Gleadle, Hodgson e Storey (2012). Nesta última,

as equipes de P&D de uma companhia multinacional de tecnologia da informação foram

submetidas a adotar uma metodologia de gerenciamento de projetos sem um processo de

consulta à equipe afetada. A administração teve como o foco o controle incremental dos

projetos. Estando acostumadas a trabalhar em um ambiente livre para exercer a

criatividade, não tiveram a oportunidade de contribuir com a forma que a metodologia foi

introduzida, o que trouxe evasão de talentos e enforcamento do trabalho de conhecimento

e criatividade, o que diminuiu a efetividade e causou o corte de projetos pela

administração sênior. Uma das conclusões da pesquisa de impacto nessa empresa, em que

houve mudança de paradigma, é que os Engenheiros de P&D não possuíam oposição

ideológica às práticas de gerenciamento de projetos e eram em média abertos ao

“racionalismo gerencial”, embora seja de prática comum na Engenharia uma

ambiguidade na recepção do gerenciamento.

Conforme observado por Chandrasekaran, et al (2014), é comum que a alta

administração não consiga administrar bem uma equipe inovadora conforme observado

no caso da 3M:

"Não suporto isso", disse recentemente um gerente sênior de uma empresa

Standard & Poor's 500. "Um minuto a diretoria está nos dizendo para inovar,

e no minuto seguinte eles estão nos dando as nossas ordens para implantar o

Seis Sigma. É uma loucura dizer às pessoas que elas deveriam se concentrar

em se tornar mais eficientes, enquanto ao mesmo tempo você quer que elas

explorem o potencial de crescimento inexplorado. Isso está me deixando louco.

(RAE, 2007).

O que se pode aprender desses casos, aliando ao posicionamento das outras

literaturas citadas, é que o impacto da adoção de metodologias de gerenciamento de

projetos é significativo se não for bem realizado. Fica claro que se deve envolver as

equipes de pesquisadores, pois é com a ajuda dela que o método vai ser adaptado e esses

impactos serão evitados.

42

3. GERENCIAMENTO DE PROJETOS DE P&D NO BRASIL

Segundo apontado por LARUCCIA et al. (2012), existem poucas pesquisas

relacionando gerenciamento de projetos à interdisciplinaridade, especialmente no

contexto da P&D no Brasil. A pesquisa realizada por eles tratava da geração e retenção

do conhecimento. O método foi de pesquisa quantitativa e de amostragem não

probabilística por questionário com um universo de 76 profissionais de uma empresa

brasileira atuando no mercado de produtos florestais. Foi tomado por eles 4 hipóteses

(LARUCCIA et al., 2012): a) As metodologias de gerenciamento de projetos asseguram

a geração e retenção de conhecimento em projetos de P&D; b) o PMBOK apresenta

práticas de gerenciamento de projetos adequadas para geração e retenção de

conhecimento; c) Profissionais que conhecem a metodologia de gerenciamento de

projetos acreditam que o PMBOK contribui para a geração e retenção do conhecimento;

d) Para a geração e retenção do conhecimento é necessário que as metodologias de

gerenciamento de projetos sejam complementadas com iniciativas específicas de gestão

do conhecimento.

Segundo os autores, a hipótese a) não foi confirmada pelo estudo e por

consequência a hipótese b) também foi refutada. Por ter um escopo de entrevistados

limitado, o estudo de LARUCCIA et al. (2012) não pode ser extrapolado para o ambiente

de P&D brasileiro, mas algumas conclusões podem ser tomadas tal qual a necessidade de

complementaridade do PMBOK e das metodologias tradicionais de gerenciamentos de

projeto conforme observado por Chin (2011), Chin e Spowage (2012) e registrado na

literatura de Wingate (2015).

As metodologias de gerenciamento de projetos de P&D no Brasil encontradas, ao

invés de seguir os rigores observados nos estudos lá fora e de cimentar uma metodologia

pronta, adaptaram uma metodologia ou um híbrido de metodologias para cada aplicação,

e precedem a literatura escrita por Wingate (2015) e Chin (2011).

Conforme mapeado por Prado e Fernandes (2015), o nível de maturidade em

gerenciamento de projetos na área “Desenvolvimento de Novos Produtos e Pesquisa &

Desenvolvimento” feita com 56 organizações e 952 projetos mostrou que a maturidade

média no ano de 2014 foi de 2,58, com um índices médios: de sucesso total de 61,9%;

fracasso de 10,1%; sucesso parcial: 28%; atraso médio de 28%, estouro de custo 18% e

execução do escopo somente 77%.

43

Figura 16 - Nível de maturidade das empresas mapeadas por Prado e Fernandes (2015)

Fonte: PRADO e FERNANDES (2015).

Embora a metodologia dos autores sejam de livre preenchimento e representem

somente 3 áreas de negócios (Equipamentos, Saúde e Veículos e Peças) ainda tem certa

representatividade, no que se refere a necessidade da adoção de metodologias de

gerenciamento de projeto na área de P&D no Brasil.

3.1. METODOLOGIA DA FIOCRUZ

No caso de Pinheiro et al. (2006), foi necessário a criação de uma metodologia

devido à necessidade da concepção de critérios de decisão alinhadas com a estratégia dos

projetos em curso e da precisão de se ter certa liberdade contra intervenção gerencial

desnecessária, e ao mesmo tempo obedecer às normas da atividade de P&D executada na

Fiocruz. A metodologia do PMBOK, disponível na época de publicação do artigo (2006),

foi adaptada para a Fiocruz em um caso específico de desenvolvimento de fitoterápicos e

depois utilizada na instituição.

44

Figura 17 - Sequência de atividades para o desenvolvimento de fitoterápicos

Fonte: PINHEIRO et al. (2006)

Ao identificar as atividades e áreas-mestras, os pesquisadores sentiram a

necessidade de criar uma estrutura técnico-gerencial multidisciplinar composta por

especialistas para acompanhar a execução do projeto e atuar tanto tecnicamente quanto

gerencialmente nas fases, direcionando os projetos com o objetivo de obter produtos,

interferindo o mínimo possível na pesquisa corrente da instituição ou no trabalho

científico do pesquisador ou do grupo.

Para realizar a gestão dos projetos foi definido o escopo, planejamento de

cronograma, custos e com a definição do ciclo de vida, entre outras áreas do PMBOK,

incluindo análise de portfólio e estudo de viabilidade técnico-econômica e patentária de

cada projeto, análise de enquadramento às normas, regulamentos e legislações específicas

das áreas. O grupo responsável fez essa aplicação para 80 projetos e somente 33 foram

considerados viáveis. Isso levou à adoção da metodologia de uma forma que auxiliasse

que os projetos ora considerados inviáveis pudessem ser “salvos”.

A mudança de cultura: em Far-Manguinhos, a equipe gerencial enfrentou

inicialmente sérias resistências por parte dos pesquisadores, especialmente

pelo receio de ingerências despropositadas no trabalho científico. No entanto,

no decurso da sua atuação junto aos grupos de pesquisa, e em virtude do

entendimento sobre seus objetivos, propostas e do efetivo apoio, as resistências

reduziram-se, à medida que crescia a confiança. (PINHEIRO et al., 2006, p.

486).

A metodologia de PINHEIRO et al. (2006) foi adaptada para outras áreas de

atuação da Fiocruz, podendo-se destacar aqui o que a literatura observou posteriormente,

que o ideal é haver adaptação de uma metodologia de gerenciamento de projetos. Apesar

de ser anterior ao trabalho de Chin (2011) e Wingate (2015), destaca-se que o caso

preenche alguns requisitos que estas autoras propuseram para uma metodologia efetiva

de GP de P&D. Estão presentes a boa adaptatividade à realidade da organização em que

45

o método está sendo formado, a análise de riscos, a declaração clara de papéis e

responsabilidades, entre outras.

3.2. METODOLOGIA DA EMBRAPA

O sistema de portfólio, programa e projeto de P&D – Sistema Embrapa de Gestão

(SEG) da Empresa Brasileira de Agropecuária (EMBRAPA) –, uma das empresas mais

renomadas em P&DI do Brasil, é baseado no modelo Stage-Gate. (COOPER, 2009). O

modelo tem um viés de negócio e utiliza vários métodos estruturando a gestão de carteira

de P&D, tendo em vista que a inovação começa na gerência. Parte dos processos do

modelo EMBRAPA estão demonstradas abaixo, é possível ver a presença de diversas

revisões de fase. Além de um afunilamento dos potenciais projetos, a partir da utilização

de ferramentas como Matriz BCG e Matriz GE, para decidir a viabilidade e qualificação

de tecnologias.

Figura 18 - Funil de inovação do modelo Stage-Gate (COOPER, 2009)

Fonte: GREENHALGH et al. (2017)

46

Figura 19 - Modelo Stage-Gate (COOPER, 2009) em open innovation adotado pela EMBRAPA

Fonte: GREENHALGH et al. (2017)

Figura 20 - Matriz BCG acoplada à matriz GE

Fonte: GREENHALGH et al. (2017)

Vemos aqui vários conceitos delimitados por Chin (2011) e Wingate (2015) no

que se refere à necessidade do que deve existir em uma metodologia de Gerenciamento

de Projetos: etapas, riscos, escopo e encerramento.

47

Embora esse modelo específico analisado da EMBRAPA seja bastante inovador,

ainda carece de metodologias para o gerenciamento do projeto em si e foca no portfólio.

Todavia, aparentemente a empresa possui manuais e metodologias próprias de GP, mas

que não devem estar públicos, já que apenas manuais antigos como o EMBRAPA (1989)

foram encontrados na seção de publicação presente no sítio eletrônico da empresa.

3.3. GERENCIAMENTO DA COLABORAÇÃO NA PETROBRAS

A PETROBRAS distribui publicamente um manual normatizando os

procedimentos que disciplinam a aplicação dos recursos em Instituições de Ciência e

Tecnologia utilizando Termos de Cooperação, por força de leis regulamentadoras da

Agência Nacional de Petróleo (ANP) e da Agência Nacional de Energia Elétrica

(ANEEL). Esse manual introduz o Sistema de Gestão de Investimentos em Tecnologia

(SIGITEC), que é o sistema para o gerenciamento de projetos de P&DI entre a

PETROBRAS e a Instituição colaboradora. Embora o manual não seja um manual de

metodologia de GP e sim do SIGITEC, podemos extrair algumas informações acerca da

utilização de metodologias de GP nesse contexto colaborativo.

A PETROBRAS pede que haja o registro de objetivo principal do projeto,

requerimentos, escopo, cronograma, registro de envolvidos (stakeholders) e relatórios

como prestações de contas. É necessário ainda que sejam feitos relatórios periódicos, o

que leva a crer que seja utilizada ao menos uma metodologia de nível baixo, deixando os

pesquisadores livres quanto a como realizar sua pesquisa e focando no papel de

fomentador.

Figura 21 - Fluxo de Prestação de contas.

Fonte: (PETROBRAS, 2018)

48

Nesta perspectiva, a Figura 12 acima apresenta o fluxo de prestação de contas, que

tem bastante destaque no manual da PETROBRAS. Embora este autor intua que a

empresa possui manuais internos de gerenciamento de projetos de P&DI internos, como

no Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello

(CENPES).

49

4. CONCLUSÃO

O gerenciamento de projetos é uma ciência que tem várias abordagens, vimos aqui

algumas metodologias consagradas como a metodologia do PMI,

Metodologias/Frameworks Ágeis, Engenharia de Sistemas, Spiral Development,

diretrizes recomendadas por Wingate (2015), o modelo desenvolvido por Chin (2011) na

Malásia e os métodos brasileiros adaptados de Pinheiro et al. (2006) na Fiocruz e

Greenhalgh et al. (2017) na EMBRAPA, duas empresas consagradas na P&DI nacional.

Embora o nível de maturidade em gerenciamento de projetos na área de

Desenvolvimento de Novos Produtos e Pesquisa & Desenvolvimento medido por Prado

& Fernandes (2015) tenha sido baixo: 2,58, se encaixando no Nível 2 – investiram em

conhecimentos e o Nível 3 – implantaram padrões, o mapeamento não levou em conta

alguns grandes players do P&D nacional, como a Petrobras, que tem uma grande

quantidade de profissionais com treinamento em gerenciamento de projetos e formalismo

documental. O que fica como sugestão deste trabalho é uma possível investigação futura

da presença de metodologias de gerenciamento de projetos híbridas para P&DI na

Petrobras e em outras instituições, como as Universidades Federais.

Neste sentido, foi visto em Greenhalgh et al. (2017) e Pinheiro et al. (2006) que

empresas e instituições brasileiras desenvolveram suas metodologias próprias baseadas

ou não nas metodologias mais difundidas no mundo como as do PMI (2017). Essas

metodologias seguem boa parte das recomendações da literatura mais completa e

experiente (WINGATE, 2015). Contudo, há algumas exceções como a falta de análise de

riscos, porém, devido ao tempo de publicação, não se pode afirmar com certeza que não

já houve o saneamento dessa deficiência.

É de experiência própria do autor que metodologias de GP ainda são subutilizadas

no meio acadêmico, seja por preconceito, desinformação das capacidades de redução de

perda de prazos, custos e aumento de eficiência, ou, principalmente, pela carga de

trabalho que os pesquisadores das instituições de ensino superior têm sobre si. Ainda

assim, é possível afirmar que a implantação dessas metodologias poderia beneficiar

enormemente a gestão das atividades de pesquisa, o angariamento de novos fundos e a

otimização dos já existentes.

.

50

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECK, K. et al. Manifesto para o desenvolvimento ágil de software, 2001. Disponivel em:

<https://www.manifestoagil.com.br/>. Acesso em: 11 de abril de 2018.

CHANDRASEKARAN, A.; KINDERMAN, K.; SCHROEDER, R. The Role of Project and

Organizational Context in Managing High-tech R&D Projects. Production and Operations

Management, p. 560-586, 2014. ISSN 1059-1478.

Chin, C. M. M. Development of a Project Management Methodology for Use in a University-

Industry Collaborative Research Environment. (Tese de Doutorado) - University of

Nottingham Malaysia. [S.l.], p. 307. 2011.

Chin, C. M. M.; SPOWAGE, A. C. Project Management Methodologies: A Comparative

Analysis. Journal for the Advancement of Performance Information and Value, v. 4, n. 1, p.

106-118, 2012.

COOPER, R. G. How companies are reinventing their idea-to-launch methodologies. Research

Technology Management, v. 52, n. 2, p. 47-57, 2009.

EMBRAPA. Manual do Projeto de Pesquisa e de Apoio ou Desenvolvimento. Embrapa.

Brasilia, p. 74. 1989.

GASPAR, R. 7 principais lições que tive com Scrum. RGV Web, 2015. Disponivel em:

<http://rgvweb.com.br/7-principais-licoes-que-tive-com-scrum/>. Acesso em: maio 2018.

GLEADLE, P.; HODGSON, D.; STOREY, J. 'The ground beneath my feet’: projects, project

management and the intensified control of R&D engineers. New Technology, Work and

Employment, v. 27, n. 3, p. 163-177, 2012. ISSN 0268-1072.

GREENHALGH, A. A. M. S. et al. Gestão de negócio para projetos de P&D. EMBRAPA.

Brasilia, p. 62. 2017.

GURENDO, D. Software Development Life Cycle (SDLC). Spiral Model. XB Software, 2015.

Disponivel em: <https://xbsoftware.com/blog/software-development-life-cycle-spiral-model/>.

Acesso em: 12 de abril de 2018.

LARUCCIA, M. M. et al. GERENCIAMENTO DE PROJETOS EM PESQUISA E

DESENVOLVIMENTO. Revista de Gestão e Projetos, v. 3, n. 3, p. 109-135, 2012. ISSN 2236-

0972.

MEINHART, W. A.; DELIONBACK, L. M. Project Management: An Incentive Contracting

Decision Model. Academy of Management: Project Management, p. 427-434, December

1968.

PETROBRAS. Manual de Convênios e Termos de Cooperação para Projetos de P&DI.

PETROBRAS. [S.l.]. 2018.

PINHEIRO, A. A. et al. Metodologia para gerenciar projetos de pesquisa e desevolvimento com

foco em produtos: uma proposta. Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 3, p. 458-478,

Maio/Junho 2006.

PRADO, D.; FERNANDES, F. L. MATURIDADE EM GERENCIAMENTO DE

PROJETOS: RELATÓRIO CATEGORIA “DESENVOLVIMENTO DE NOVOS

51

PRODUTOS” e “PESQUISA & DESENVOLVIMENTO”, 2015. Disponivel em:

<http://www.maturityresearch.com/novosite/2014/download/9-

DNP_PD/RelatorioMaturidade2014-DNP_PeD-2014-Parte-A-Indicadores.pdf>. Acesso em: 07

de novembro de 2017.

PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Guia do CONHECIMENTO EM

GERENCIAMENTO DE PROJETOS (GUIA PMBOK). 6ª. ed. Pennsylvania: Project

Management Institute, 2017. ISBN 9781628253924.

RAE, J. Bloomberg Business. Debate: Six Sigma vs. Innovation, 2007. Disponivel em:

<https://www.bloomberg.com/news/articles/2007-02-27/debate-six-sigma-vs-dot-

innovationbusinessweek-business-news-stock-market-and-financial-advice>. Acesso em: 13 de

maio de 2018.

SCHNEE, J. The Economic Impacts of the U.S. Space Program, 2000. Disponivel em:

<https://er.jsc.nasa.gov/seh/economics.html>. Acesso em: 27 de maio de 2018.

SOTILLE, M. O que aconteceu com a restrição tripla? pmtech, 2010. Disponivel em:

<https://blog.pmtech.com.br/restricao-tripla/>. Acesso em: 13 de maio de 2018.

VALLE, A. B. D. et al. Fundamentos do Gerenciamento de Projetos. 3ª. ed. Rio de Janeiro:

FGV, 2014. ISBN 978-85-225-1508-0.

Wingate, L. M. Project Management for Research and Development. Boca Raton: CRC Press,

2015. ISBN 978-1-4665-9630-6.