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Nome do Aluno Geopolí t i c a e poder mundial Organizadore s Sonia Maria Vanzella Ca st ellar Elvio Rodrigue s Mar t in s Elaborador André Rober t o Mar t in Geografia 2 módulo

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  • Nome do Aluno

    Geopoltica e poder mundial

    OrganizadoresSonia Maria Vanzella CastellarElvio Rodrigues Martins

    Elaborador

    Andr Roberto Martin

    Geografia

    2mdulo

  • GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULO

    Governador: Geraldo Alckmin

    Secretaria de Estado da Educao de So Paulo

    Secretrio: Gabriel Benedito Issac Chalita

    Coordenadoria de Estudos e Normas Pedaggicas CENP

    Coordenadora: Sonia Maria Silva

    UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    Reitor: Adolpho Jos Melfi

    Pr-Reitora de Graduao

    Sonia Teresinha de Sousa Penin

    Pr-Reitor de Cultura e Extenso Universitria

    Adilson Avansi Abreu

    FUNDAO DE APOIO FACULDADE DE EDUCAO FAFE

    Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta

    Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho

    Diretoria Financeira: Slvia Luzia Frateschi Trivelato

    PROGRAMA PR-UNIVERSITRIO

    Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis

    Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar

    Coordenadora Pedaggica: Helena Coharik Chamlian

    Coordenadores de rea

    Biologia:

    Paulo Takeo Sano Lyria Mori

    Fsica:

    Maurcio Pietrocola Nobuko Ueta

    Geografia:

    Sonia Maria Vanzella Castellar Elvio Rodrigues Martins

    Histria:

    Ktia Maria Abud Raquel Glezer

    Lngua Inglesa:

    Anna Maria Carmagnani Walkyria Monte Mr

    Lngua Portuguesa:

    Maria Lcia Victrio de Oliveira Andrade Neide Luzia de Rezende Valdir Heitor Barzotto

    Matemtica:

    Antnio Carlos Brolezzi Elvia Mureb Sallum Martha S. Monteiro

    Qumica:

    Maria Eunice Ribeiro Marcondes Marcelo Giordan

    Produo Editorial

    Dreampix Comunicao

    Reviso, diagramao, capa e projeto grfico: Andr Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, Jos Muniz Jr.Mariana Pimenta Coan, Mario Guimares Mucida e Wagner Shimabukuro

  • Cartas aoAluno

  • Caro aluno,Com muita alegria, a Universidade de So Paulo, por meio de seus estudantes

    e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado daEducao, oferecendo a voc o que temos de melhor: conhecimento.

    Conhecimento a chave para o desenvolvimento das pessoas e das naese freqentar o ensino superior a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentosde forma sistemtica e de se preparar para uma profisso.

    Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita o desejode tantos jovens como voc. Por isso, a USP, assim como outras universidadespblicas, possui um vestibular to concorrido. Para enfrentar tal concorrncia,muitos alunos do ensino mdio, inclusive os que estudam em escolas particularesde reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatrios, em geral de altocusto e inacessveis maioria dos alunos da escola pblica.

    O presente programa oferece a voc a possibilidade de se preparar para enfrentarcom melhores condies um vestibular, retomando aspectos fundamentais daprogramao do ensino mdio. Espera-se, tambm, que essa reviso, orientadapor objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimentopessoal que adquiriu ao longo da educao bsica. Tomar posse da prpriaformao certamente lhe dar a segurana necessria para enfrentar qualquersituao de vida e de trabalho.

    Enfrente com garra esse programa. Os prximos meses, at os exames emnovembro, exigiro de sua parte muita disciplina e estudo dirio. Os monitorese os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estose dedicando muito para ajud-lo nessa travessia.

    Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposio e vigorpara o presente desafio.

    Sonia Teresinha de Sousa Penin.Pr-Reitora de Graduao.

    Carta daPr-Reitoria de Graduao

  • Caro aluno,Com a efetiva expanso e a crescente melhoria do ensino mdio estadual,

    os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da redeestadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades pblicas, vm seinserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditrio.

    Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovadosnos exames vestibulares da Fuvest o que, indubitavelmente, comprova aqualidade dos estudos pblicos oferecidos , de outro mostra quo desiguaistm sido as condies apresentadas pelos alunos ao conclurem a ltima etapada educao bsica.

    Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamarde formao bsica necessrio ao restabelecimento da igualdade de direitosdemandados pela continuidade de estudos em nvel superior, a Secretaria deEstado da Educao assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programadenominado Pr-Universitrio, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceirasrie do curso regular do ensino mdio. uma proposta de trabalho que buscaampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentose contedos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva insero nomundo acadmico. Tal proposta pedaggica buscar contemplar as diferentesdisciplinas do currculo do ensino mdio mediante material didtico especialmenteconstrudo para esse fim.

    O Programa no s quer encorajar voc, aluno da escola pblica, a participardo exame seletivo de ingresso no ensino pblico superior, como espera seconstituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino mdio ea universidade. Num processo de contribuies mtuas, rico e diversificadoem subsdios, essa parceria poder, no caso da estadual paulista, contribuirpara o aperfeioamento de seu currculo, organizao e formao de docentes.

    Prof. Sonia Maria SilvaCoordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedaggicas

    Carta daSecretaria de Estado da Educao

  • Eu sou de Guainases. E eu da Cidades Tiradentes. Onde fica a Vila Prudente? Eunasci em Guarulhos, mas meu pai veio de Pernambuco. Eu moro na zona Leste, mastrabalho na Freguesia do . E assim poderamos continuar a citar os diferentes luga-res. Um de morada, outro de trabalho. Um de origem outro de chegada. De onde seveio e de onde se vive. Um aqui e um l, que nos faz deslocar de nibus, trem,metr, e dependendo da distncia, at mesmo de navio, ou de avio. s vezes lon-ge, s vezes perto. E, s vezes, quando vamos, voltamos, e por outra ficamos, muda-mos de lugar. E no deslocamento, na hora que nos movimentamos, olhamos pela janelaa paisagem se movendo, como quem se movesse fosse ela e no ns. Casas, prdios,avenidas, carros, caminhes, pontes, viadutos, praas, estaes, pessoas, muitas pesso-as, rvores, postes, semforos, placas (vende-se, compra-se, aluga-se...), anncios emcartazes vendendo de hambrguer a cigarro, de carro a jeans, e por a vai o desfile daspaisagens. a cara da geografia em que vivemos. A geografia da cidade.

    Para quem no sabe, tudo parece confuso, no mximo familiar, mas catico, ba-gunado mesmo. E onde vivemos. Mas porque isso? Porque uma coisa perto eoutra longe? Por que eu moro aqui e meu trabalho fica em outro lugar? Porque eusou daqui e meu pai veio de outro lugar? Periferia, o que isso? Ser da periferia serperifrico a que? Onde est o centro? E centro de qu? Afinal, por que as coisasesto localizadas onde esto, distribudas desse jeito? A gente ouve e por vezes fala:sou da periferia, o Brasil um pas perifrico, e nos perguntamos, que lugar este, a periferia? Ser de um determinado lugar significa o qu? Tem vezes que a gentediz: olha, ele carioca e ele cearense. Da estamos a falar sem perceber o que cadapessoa , pois parece que o lugar de onde elas vieram diz muito do que elas so. Podeser at que isso seja um exagero, mas observe como fazemos isso no dia-a-dia. Pelomenos d para concluir que muito do que somos depende do lugar de onde vivemos.

    De qualquer maneira, existe como responder a todas as perguntas que fizemosaqui. Quem capaz de responder isso tudo para ns a Geografia. E por isso quetemos que estudar essa matria, pois assim podemos responder um tanto quem somosns. Nesta apostila voc vai encontrar um conhecimento que permite a compreensoda sua localizao na cidade, no Brasil e no Mundo. Vai compreender a que geogra-fia voc pertence ou qual geografia faz parte de voc. Tambm vai descobrir oquanto esta geografia importante nas nossas vidas, e o quanto necessrio conhec-la, pois bem provvel que ela necessite ser transformada, modificada, e, quemsabe, at revolucionada.

    Agora, para comear, pergunte-se: que Geografia essa? Se ela est bagunada,faa como Jorge Ben, chame o sndico, mas neste caso chame o professor de geogra-fia. No se perca, se oriente rapaz, use o mapa. T difcil? No tem erro, estamos aquipara isso, j que o leste fica aqui, vamos dar o rumo. Bom estudo, ou boa viagem...

    Apresentaoda rea

  • Este mdulo analisa a dimenso do poder mundial a partir da Geopoltica.Um dos seus objetivos fazer com que se compreenda a espacializao dasrelaes de poder, o significado do papel do Estado e dos conflitos militares ecivis.

    Atualmente, cabe uma ateno especial para as mudanas que ocorreramnos territrios, como as divises polticas, a formao de novos pases ou areorganizao de outros que haviam no passado. Fronteiras, Estado, Nao,Poder e Territrio so alguns conceitos importantes para a estruturao doconhecimento geogrfico que vocs iro estudar.

    Queremos que esse mdulo seja instigante e que desperte a curiosidadeem se pensar o cotidiano a partir de uma leitura de mundo um pouco diferen-te, com mais profundidade sobre as demarcaes territoriais dos lugares ondevivemos, comparando os conflitos existentes no dia-a-dia com os que ocor-rem no mundo, fazendo anlises em diferentes escalas.

    Nosso objetivo contribuir para que voc possa desenvolver conceitos,confrontar hipteses e praticar habilidades como a leitura de mapas e grficose motivar sua competncia na leitura e na escrita. Alm disso, convidamosvocs a ser desafiados ao realizar as atividades com uma atitude crtica, poisqueremos tornar o ensino de Geografia um pouco mais desafiador. Espera-mos ter conseguido.

    Apresentaodo mdulo

  • Introduo

    Um incio de conversacom a Geopoltica

    O rg a niz a doresSonia MariaVanzella Castellar

    Elvio RodriguesMartins

    Ela bora dorAndr RobertoMartin

    O texto que se segue contm uma discusso acerca do conceito de podermundial, apoiada numa srie de exemplos histricos, e tambm uma apre-sentao sucinta da disciplina Geopoltica, trazendo informaes a respeitodos seus principais idealizadores, e das teorias que lhes so correspondentes.No se trata, como se ver, de um conhecimento trivial. Nem muito menos, dealgo corriqueiramente exigido nos exames vestibulares. Assim, para os maisapressados, e desinteressados, poder parecer constituir-se em material abso-lutamente dispensvel. Mas para aqueles estudantes mais curiosos, einconformados com o nvel habitual de explicao dos fenmenos polticoscontemporneos, em especial dos conflitos, trabalhar este texto poder trazeralgumas compensaes: talvez eles se surpreendam ao verificar como a His-tria torna-se muito mais fcil de ser compreendida, a partir da utilizao dosconceitos oriundos do pensamento estratgico. E talvez venham a se surpre-ender ainda mais, com a capacidade da Geopoltica de prever os conflitosfuturos, caracterstica esta que acabaria lhe valendo o apelido de cinciademonaca, juzo este utilizado tanto por detratores, como por admiradoresda nova disciplina.

    De fato, muitas vezes, parece que as guerras so mero resultado das teo-rias geopolticas. Outras vezes, ao contrrio, como se as teorias geopolticasfossem conseqncia das guerras. Este paradoxo precisa ser esclarecido, e oque tentaremos fazer neste texto. Mais ainda, a inteno final do mesmo contribuir para que os estudantes venham a desenvolver a habilidade de racio-cinar geopoliticamente, isto , tornem-se capazes de estabelecer correlaespolticas entre os lugares, nas mais variadas escalas. Para tanto, precisoreconhecer que o elemento-chave para a anlise o Estado, que se expressacomo um pedao de humanidade e um pedao de Terra, segundo FriedrichRatzel.

    De outra parte, porm, foroso admitir que a crescente presso sobre osrecursos naturais, e a intensificao das trocas de bens, capitais e servios,vem ensejando o surgimento de organizaes supra-estatais os chamadosblocos de pases , o que muitas vezes ocasiona uma coliso com as estru-turas jurdico-espaciais anteriores. Em outras situaes, no entanto, estasnovas barreiras inter-blocos podem ser vistas como espcies de freios globa-lizao, (seria este o caso da Unio Europia?); e em outras ainda, o naciona-lismo, contraditoriamente, pode servir como um estmulo penetrao dos

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    GEOGRAFIA

    interesses do capital internacional, o que se viu alis, nas recentes desintegra-es da Unio Sovitica, Iugoslvia e Tchecoeslovquia.

    De qualquer modo, independentemente das variadas formas que o fen-meno pode assumir, a questo de fundo a da eterna luta pelo poder (isto ,pela capacidade de controlar espaos e homens, o que nos remete poltica),poder este que, no caso, est limitado, isto , referido, ao planeta Terra(Gea para os gregos, e que vulgarmente era confundido com a noo de mun-do, poca do Renascimento). Por isso mesmo, a melhor forma de examin-lo atravs da geopoltica do poder mundial.AAAAATIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADE 1 1 1 1 1

    Na apresentao do mdulo voc leu termos como blocos de pases, poder, geopoltica.Esses termos so exemplos que aparecem em discusses sobre a globalizao, blocoseconmicos e as guerras civis e militares atuais. Vamos fazer um exerccio um poucodiferente, no inicie o seu raciocnio pensando no mundo, mas no local onde mora.

    a) Escreva um texto em uma outra escala de anlise (a local), tendo o seu bairro oumunicpio onde voc mora, utilizando os termos que destacamos em itlico. Procurerelacionar esses termos com situaes do dia-a-dia que representem semelhanas. Porexemplo, analise o poder local, relacione os blocos de pases com os grupos sociais ouas tribos do bairro. Como voc articulou os termos com a poltica local?

  • Unidade 1

    O homem, o meio e asobrevivncia

    O rg a niz a doresSonia MariaVanzella Castellar

    Elvio RodriguesMartins

    Ela bora dorAndr RobertoMartin

    Desde tempos imemoriais, quando os grupos humanos pouco se diferen-ciavam de seus primos mais prximos, isto , dos demais primatas superio-res, saber a localizao de uma fonte de gua potvel, ter acesso a um deter-minado campo de caa e proteg-lo contra eventuais invasores, representa-vam conhecimentos vitais que hoje ns provavelmente denominaramos deestratgicos. Fundamentais no apenas para a sobrevivncia dos indivduosque dele f izessem parte num determinado momento, a conservao destesconhecimentos permitia a perpetuao do grupo enquanto coletividade, medida que uma nova gerao fosse tomando contato com eles. Alm disso, oque muito importante, esse conjunto de informaes, tcnicas, e mtodos,podia ir sendo ampliado indefinidamente, desde que evidentemente, a mem-ria coletiva tivesse capacidade de armazen-los de alguma forma. Surgiramassim a necessidade do registro e do arquivo, e por conseguinte, a do sigilo,uma vez que sempre conveniente manter certas informaes em segredo, afim de no despertar a curiosidade, ou a cobia, de certas pessoas estra-nhas, que com o tempo, podem vir a tornarem-se rivais, ou mesmo ini-migas.

    Muita gua j rolou debaixo desta ponte desde ento, mas foroso reco-nhecer que, em seu ntimo, o ser humano continua sendo idntico a seus an-cestrais, isto , vulnervel por um lado, frente s foras da natureza e frente aoutros seres humanos que se mostrem mais poderosos do que ele; e mesqui-nho por outro, uma vez que a riqueza e os conhecimentos acumulados, nocostumam ser generosamente repartidos com os semelhantes que porventurase encontrem em pior situao.

    Esta caracterizao geral, onde a sensao de insegurana parece consti-tuir-se num mal crnico e inseparvel da prpria condio humana, extre-mamente atual, podendo-se dizer, apenas para precisar o julgamento, que oque se passou ao longo do tempo foi um enorme desenvolvimento na capaci-dade de um grupo atacar o outro, com armas e organizaes cada vez maispoderosas. Dos pequenos cls com suas lanas de pedra lascada, s grandespotncias nucleares contemporneas, o salto tecnolgico e organizacional foirealmente extraordinrio. H que se indagar, entretanto se o instinto de preser-vao se encontra de fato disseminado no conjunto da espcie humana, umavez que agora, o homem rene capacidade de destruio suficiente para pro-vocar a extino no apenas do prprio homem, mas tambm da maioria dasoutras espcies que coabitam conosco o planeta Terra neste momento.

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    GEOGRAFIA

    por essa razo que o estudo da distribuio do poder poltico mundialtornou-se to importante hoje em dia. Conhecer as razes que levaram a ta-manha discrepncia de poder entre os Estados, e entre as vrias regies emque se pode dividir o espao geogrfico planetrio, apresenta-se como pr-condio para imaginarmos uma alternativa que de um lado, possa conduzir auma diviso mais justa do poder e da riqueza mundiais, e de outro, no neces-site do recurso guerra para se alcanar tal objetivo. Portanto, a Geopoltica,como disciplina que se prope a compreender o poder do espao, e aGeohistria das Relaes Internacionais, que analisa as transformaes dopoder no espao apresentam-se como as duas ferramentas indispensveispara que se possa obter uma viso mais clara e mais precisa acerca do aquie do agora que estamos vivendo.

    Neste estudo, trataremos inicialmente de apresentar as teorias e temas b-sicos da Geopoltica, contextualizando o perodo histrico e a posio ideol-gica e poltica dos principais autores. Em seguida, discutiremos o surgimentoe a evoluo do poder mundial, enquanto conceito, e como realidade, ob-servando de modo panormico, a situao geopoltica contempornea dosvrios continentes. Neste ponto, uma reflexo sobre o significado dos atuaisblocos geoeconmicos poder ser bastante til, a f im de julgarmos, emtermos geoestratgicos, se estas novas formas de organizao do espao ten-dem realmente a substituir o Estado, ou ao contrrio, a se transformarem elasprprias em novos Estados, no futuro. Para concluir, procuraremos avaliar osprincipais condicionamentos e possibilidades do espao e poder mundiais,relacionados ao Brasil.

    Antes de encerrarmos esta introduo, seria conveniente reafirmarmos que,na perspectiva terica aqui adotada, o mero reconhecimento dos lugares cons-titui em si mesmo um saber geopoltico, ao menos de forma embrionria.Isto porque quem individualiza um espao, sempre o faz com alguma inten-o ou sob alguma influncia poltica. Desde esse ponto de vista, tal saberantecede ao surgimento de um poder que se possa chamar convenientementede mundial, algo que s se torna justificvel a partir da Era dos Descobri-mentos, iniciada no sculo XV. Em contrapartida, a disciplina Geopolticas aparecer como cincia sistemtica, pesquisada e ensinada nas Universi-dades, aps sucessivos choques entre as grandes potncias em torno do po-der mundial. Tal situao caracterstica da virada do sculo XIX para o XX,quando s ento disseminou-se a conscincia do valor estratgico da Geogra-fia para a construo de projetos que visassem modificar a distribuio dopoder mundial. Assim, quando parecia que a Geografia havia encerrado suacontribuio, ao revelar a face da Terra para o Homem, uma nova onda deacontecimentos viria renovar o interesse pela bela cincia: de um lado, agrande indstria com sua avidez por minrios, chamava a ateno para aspesquisas do subsolo; de outro, a falta de vazios a explorar indicava umacirramento de nimos em torno das questes de fronteiras. Estavam assenta-das assim, as duas premissas bsicas que faltavam para que a Geopoltica setornasse, da por diante, inseparvel da poltica de poder das grandes, e atmesmo das pequenas potncias.

    ATIVIDADE 2

    a) Faa uma lista com termos ou situaes do cotidiano que exemplifiquem a principalquesto tratada nessa parte do texto, ou seja, o significado da idia que o estudo dadistribuio do poder poltico mundial tornou-se to importante hoje em dia.

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    MDULO II

    b) Compare a sua lista com as dos seus colegas, percebam as diferenas e as semelhanasentre elas.

    c) Discutam em classe e faa um texto sntese sobre o resultado da discusso.

    d) Retome o excerto a seguir: H que se indagar, entretanto se o instinto de preservao seencontra de fato disseminado no conjunto da espcie humana, uma vez que agora, o homemrene capacidade de destruio suficiente para provocar a extino no apenas do prpriohomem, mas tambm da maioria das outras espcies que coabitam conosco o planetaTerra neste momento.

    Debata sobre a segurana ou a insegurana gerada em funo do instinto de preservao.Em seguida, faa um texto sntese a partir das concluses da classe e individuais.

  • Unidade 2

    A Geopoltica

    O rg a niz a doresSonia MariaVanzella Castellar

    Elvio RodriguesMartins

    Ela bora dorAndr RobertoMartin

    Embora o termo Geopoltica tenha sido pronunciado pela primeira vezno ano de 1899, numa Conferncia proferida pelo gegrafo sueco RudolphKjllen, seu significado j havia sido explorado anteriormente por vrios pen-sadores que alertaram para a influncia do meio geogrfico na organizao emesmo no carter das sociedades. Na Grcia clssica, Aristteles (384-322a.C.) assinalou com freqncia a dependncia da Cincia Poltica em relao Geografia. Depois dele, Estrabo (63 a.C.-21 d.C.), considerado por muitoscomo o pai da Geografia Humana, escreveria boa parte de sua obra com ointuito de influenciar o processo de tomada de decises dos governantes desua polis. Mais tarde, durante a Idade Mdia, Alberto Magno (1206-1280)sobressaiu-se por sua vez, atravs dos seus extensos conhecimentos geogrfi-cos, chegando a profetizar de forma surpreendente, a construo do Canal deSuez. Finalmente, j na Era Moderna, Montesquieu (1689-1755), talvez opensador poltico mais influente da escola iluminista, no deixou dvidassobre sua crena em torno da influncia do clima no comportamento humano,argumentando que nas regies mais quentes, o calor tendia a produzir umestado de torpor que tornava os povos tropicais mais indolentes, e menosaptos ao trabalho duro, do que os habitantes das zonas mais frias.

    Muitos outros pensadores poderiam ser colocados ao lado dos nomesacima mencionados, formando uma extensa galeria dos, por assim dizer,geopolticos sem carteirinha. Eram eles os precursores da Geopoltica, sque no atendiam pelo nome de geopolticos, algo que s comeou a ocor-rer nas primeiras dcadas do sculo XX quando, como j vimos, a disciplinapassou a ser ensinada em Universidades. Foram, alm disso, poucos os pasesa adotar e desenvolver esse novo ramo da Geografia nos seus primrdios:Sucia, Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra e Japo. Na Frana, desde oprincpio, o pensamento geopoltico foi mal recebido, de um lado porque foiconsiderado metodologicamente equivocado, ao dar um peso excessivo sinfluncias do meio sobre o desenvolvimento das sociedades. De outro, por-que no plano poltico, ao interpretarem a si mesmos como um povo semespao que necessitava alargar seu espao vital, os geopolticos alemesno deixaram dvidas a respeito das pretenses expansionistas do Estadogermnico. A Frana, principal vizinha da Alemanha, tinha razo, portanto,em ver na nova disciplina, uma ameaa sua integridade territorial.

    preciso lembrar, alm disso, que desde 1870 o relacionamento entre osdois povos estava abalado pela guerra em que os prussianos liderados por

    Rudo lph K j l lenRudo lph K j l lenRudo lph K j l lenRudo lph K j l lenRudo lph K j l len

    Gegra fo , pro fessor deTeoria do Estado na Uni-versidade de Uppsa la ,Sucia. A sua idia prin-cipal a de identificar oEstado a um ind iv duo ,um ser biolgico, ou seja,que nasce, cresce e mor-re e tem uma personali-dade prpria.

    A r i s t te lesA r i s t te lesA r i s t te lesA r i s t te lesA r i s t te les

    (384-322 a.C.) nasceu emEstagira, na Calcdica (re-g io dependen te daMacednia).

  • 20

    GEOGRAFIA

    Bismarck, haviam derrotado e humilhado os franceses comandados pelo Im-perador Napoleo III. Dessa forma, foroso reconhecer que o surgimento daGeopoltica como pretensa cincia que trata da dependncia dos aconteci-mentos polticos em relao ao solo, como a definia a escola alem, guardaestreita correspondncia com a passagem do capitalismo sua fase monopolista,quer dizer, quando o fenmeno da grande indstria forjou a formao dasgrandes empresas que hoje chamamos de multinacionais, e quando os pou-cos Estados industrializados, partiram febrilmente em busca de novos merca-dos e fontes de matrias-primas consubstanciando um novo tipo decolonialismo, apropriadamente denominado de imperialismo.

    Esta denominao interessante e se justifica de uma dupla maneira: emprimeiro lugar remete histria dos antigos Imprios, em cujo interior vriospovos de origens culturais diferentes encontravam-se submetidos a um co-mando centralizado, o que revela uma forma de poder de tipo antinacional.Em segundo lugar, paradoxalmente, ela no deixa de sugerir a prpria exacer-bao do nacionalismo, o que de fato existia, na medida em que a concorrn-cia entre as empresas vinha sendo transferida para o mbito do sistema deEstados, pois os mercados nacionais j se mostravam pequenos para as ambi-es do grande capital. De alguma maneira, o que o pensamento geopolticopreconizava era a exportao da influncia de um Estado, quer para a suavizinhana imediata, quer para reas bem mais longnquas.

    A seguir, apresentaremos um breve resumo das principais idias e dosprincipais autores da Geopoltica, e entre as lacunas que, inevitavelmente po-dero ser apontadas, duas ausncias no caso se justificam: a dos pensadoresfranceses, porque recusaram-se coletivamente a reconhecerem-se comogeopolticos, e a dos autores japoneses, que apesar de terem no condeKomura um expoente reconhecido, no tiveram suas obras divulgadas noOcidente. Algumas idias destes ltimos foram absorvidas e transmitidas pelogeneral Haushofer, um admirador explcito das doutrinas e levantamentos rea-lizados pelos geopolticos japoneses, e por sua vez, ele prprio um autor degrande prestgio no Japo. Vamos sem mais delongas, aos trs autores sele-cionados:

    AAAAATIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADE 3 3 3 3 3

    O quadrinho publicado na revista Newsweek (23/9/1991) ilustra o desespero doscartgrafos para desenhar o novo mapa-mndi diante das constantes mudanas defronteiras.

    B i sm a rkB i sm a rkB i sm a rkB i sm a rkB i sm a rk

    Foi chanceler da Prssiae tambm o construtorda Unificao Alem.

    Imper ia l ismoImper ia l ismoImper ia l ismoImper ia l ismoImper ia l ismo

    Uma fase do capitalismo,na qua l as potncias seexpandem terr i tor ia l-mente com a fina lidadede consolidar seu dom-n io sobre outros pa sesdo mundo.

    Geopo l t ica xGeopo l t ica xGeopo l t ica xGeopo l t ica xGeopo l t ica xGeogra f ia po l t icaGeogra f ia po l t icaGeogra f ia po l t icaGeogra f ia po l t icaGeogra f ia po l t ica

    No debate entre os ge-gra fos e os c ien t is taspo l t icos o termo Geo-gra f ia Po l t ica assum iuum sentido de neutrali-dade cien t f ica e con-temp lao do mundo .J a Geopoltica est vol-tada para a ao e trans-formao. Assim a Geo-poltica vista como umins trumen to de in ter-veno do Es tado nasociedade.

  • 21

    MDULO II

    Friederich Ratzel e os fundamentos da novacincia

    No existe autor de Geopoltica ou de Geografia Poltica que no reconhe-a em Ratzel, o fundador deste novo ramo do conhecimento cientfico.

    Dentre suas inmeras contribuies, duas foram definitivas: o desloca-mento do foco central das pesquisas geogrficas da paisagem natural para arelao homem-meio, tese defendida no livro Anthropogeographie, surgidoem 1882; e, em seguida, a fundao da Geografia Poltica, cujo objeto e teoriaele desenvolve em duas obras fundamentais: Politische Geographie editadopela primeira vez em 1897, e O mar como fonte de grandeza das naes cujaprimeira edio em alemo de 1903. Interessa-nos aqui, avanar sobre asduas ltimas obras mencionadas, deixando de lado a teoria ambientalista con-tida na primeira, alis bastante polmica, e que de forma um tanto simplista edistorcida ficou conhecida como determinismo geogrfico.

    Fr iedr ich Ra tze lFr iedr ich Ra tze lFr iedr ich Ra tze lFr iedr ich Ra tze lFr iedr ich Ra tze l

    Nasceu na cidade deKarlsruhe no ano de 1844.Foi primeiro farmacuti-co , formando-se poste-riormente em F i losof ia .Estudou a seguir CinciasNaturais e Geografia, tor-nando-se catedrtico deGeografia na Universida-de de Munique, onde le-cionou por muitos anos.Part ic ipou da guerrafranco-prussiana, e escre-veu uma extensa e com-p lexa obra, consideradadecisiva para os destinosda Geograf ia . Viveu ato ano de 1904.

    O De term in ismoO De term in ismoO De term in ismoO De term in ismoO De term in ismoGeogr f icoGeogr f icoGeogr f icoGeogr f icoGeogr f ico

    Chamamos de De ter-minismo aquela posioque atribui a uma nicacausa o mot ivo de cer-tas rea l idades possu -rem as carac ter s t icasque a tipificam. No casoda C inc ia Geogr f ica ,esta situao se verificaquando damos aos e le-men tos da Na tureza (oclima e o solo, por exem-plo), o papel de ser a ni-ca causa na definio decertos aspectos const i-tuintes de uma socieda-de, bem como de seu de-senvolvimento histrico.

    Levando em considerao o contexto da poca em que a charge foi publicada, dentre asfrases abaixo, a que melhor completa o texta do fala, propondo outra correo no mapa :

    a) A Albnia j no faz parte da Europab) O nmero de pases s est diminuindoc) Cuba j no faz parte do Terceiro Mundod) O Cazaquiato acabou de declarar independnciae) Vamos ter de dividir a Alemanha novamente

    Depois de responder a questo proposta no ENEM, converse em grupo e elabore umpequeno texto sobre a idia de Geopoltica.

    Fonte: ENEM - Ensino Mdio.

    AAAAATIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADE 4 4 4 4 4

    Voc j deve ter percebido em algumas passagens do texto que existe uma teoria queinterpreta o desenvolvimento da sociedade como sendo determinado pelo quadronatural. Assim, por exemplo, a localizao da indstria seria explicada pela presena deminrios no mesmo lugar, portanto um pas que no tivesse carvo no poderia serindustria lizado. A lm d isso, se afirmava que o clima muito quente imped iria ostrabalhadores de suportarem a jornada de trabalho dentro das fbricas. A conclusodeterminista era de que os pases tropicais no poderiam se industrializar.

    A partir dessas reflexes apresentadas analise a situao do Brasil que est localizadoentre os trpicos e tem sua populao formada, principalmente, pela miscigenao deraa, contradizendo os princpios deterministas. Como essas questes podem ser trazidaspara discutir o processo de industrializao do Brasil?

    Ver mapa na prxima pgina

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    GEOGRAFIA

    Fonte: GIRARDI Gisele, ROSA, Jussara Vaz. Atlas Geogrfico do Estudante. So Paulo: FTD, 1998.

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    MDULO II

    Para a Geografia Poltica, Ratzel deixou muitas contribuies como as queconsideramos as mais importantes:

    1) a idia de que o objeto de estudo da Geografia Poltica deve ser arelao Estado-solo-sociedade;

    2) a teoria de que cada Estado tem sua vida poltica condicionada pelosfatores espao (entendido como a rea ocupada por um Estado), eposio (este espao relacionado a todos os outros, isto , superfcie da Terra);

    3) a tese de que espao poder, isto , o espao no visto apenascomo suporte ou como veculo das foras polticas, mas ele em simesmo considerado uma poderosa fora poltica;

    4) a idia de que o poder mundial sempre se repartiu entre potnciasmartimas e continentais , e finalmente;

    5) a sua concluso de que s o poder martimo conduz ao verdadeiropoder mundial, uma vez que a massa lquida dos oceanos contm amassa slida dos continentes, e estes ltimos esto separados entre si,ao passo que os oceanos esto interligados.

    Com base nestes 5 postulados, a Geografia Poltica firmou-se como novoramo da Geografia, vindo a receber logo em seguida, uma outra contribuiodecisiva, mais tarde reconhecida como a primeira formulao capaz de ofere-cer alguma previsibilidade aos acontecimentos da poltica internacional. Tra-ta-se da teoria do pivot geogrfico da Histria, de autoria do gegrafo ealmirante ingls sir Halford John Mackinder. Vamos a ela.

    Halford Mackinder e a Geopoltica como cincia a plica d a

    Pode at parecer estranho primeira vista, que um almirante ingls tenhase tornado notvel por contestar a teoria do poder martimo exposta por Ratzel,e tambm pelo almirante norte americano Alfred Mahan. No entanto, vistocom mais ateno, trata-se de algo bastante compreensvel, pois Mackinder,um liberal que queria conservar para sua ptria a condio de principal potn-cia mundial, estava preocupado com a possibilidade de que seus compatriotasestivessem acomodados com tal situao e, portanto, desatentos com o quevinha ocorrendo no resto do mundo. De fato, a ascenso de novas potncias,como Estados Unidos, Alemanha, Japo e Rssia, vinha colocando em xequea supremacia industrial britnica. Em particular, porque alemes e norte ame-ricanos j haviam superado os ingleses na produo de ao, componente fun-damental da indstria blica, e quanto aos russos, haviam se tornado os prin-cipais concorrentes dos ingleses quanto ao poder mundial, uma vez que re-presentavam o poder terrestre, em oposio aos britnicos, detentores do po-der martimo. Quando tomou contato com a obra de Ratzel, Mackinder com-preendeu que a Alemanha, j um poder terrestre no centro da Europa, aspira-va a tornar-se tambm uma potncia martima, iniciando um vigoroso progra-ma de construo de navios de guerra. Assim a pergunta que lhe parecia cab-vel era: qual o efetivo poder terrestre dos ingleses?

    Obcecado por mapas, Mackinder, criticou inicialmente a distoro que aprojeo cartogrfica convencional provoca, pois quando a Europa ocupa o

    Mack inderMack inderMack inderMack inderMack inder

    Em Ga insborough nas-ceu no ano de 1861, e vi-veu a t o ano de 1947.Assist iu , portanto, as-censo e ao declnio doimperialismo, e pressen-tiu a possibilidade da re-vo luo ch inesa v ir apromover o controle co-mun ista sobre a ma iorextenso a Un io So-v it ica , e a ma ior po-pu lao a Ch ina domundo. Seu grande em-penho fo i o ferecer sdemocracias ocidenta is,um guia para a ao empoltica externa, baseadoem consideraes cien-t f icas, ou se ja , a l icer-adas numa an lise m i-nuciosa da histria e dageografia mund ia is.

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    GEOGRAFIA

    centro das cartas, d-nos a impresso de ser muito maior e mais importantegeograficamente do que na realidade . Em contraposio, props uma proje-o asiocntrica, procurando mostrar que, no fundo, a Europa apenasuma pennsula da grande massa de terras emersas que ele denominou de IlhaMundial, e que contm, alm da Europa e da sia, tambm a frica. Depois,com base numa anlise histrica de longa durao, verificou que, nas grandesestepes da sia Central, localizava-se a fonte das grandes transformaesmundiais, como provavam as duas ondas de invases brbaras que atingiramas grandes civilizaes: a primeira com os hunos de tila poca do ImprioRomano, e a segunda com os mongis de Gngis Khan, durante a Idade M-dia. Concluiu por fim que estas estepes eurasianas, abertas movimentaoda cavalaria, representavam o pivot geogrfico da Histria (ver mapa).

    Ele indicava ademais que, nos tempos modernos, o cavalo havia sido subs-titudo pelo trem, e o Imprio Mongol, pela Rssia, mas de qualquer forma, omesmo conjunto achava-se protegido contra eventuais invases das potnciasmartimas, configurando uma zona que representava uma verdadeira fortale-za terrestre, que mais tarde ele denominaria de Heartland, ou coraocontinental.

    A conseqncia prtica de sua teorizao pode ser resumida em suas pr-prias palavras, proferidas durante os trabalhos da Conferncia de Paz de 1919:

    Quem dominar a Europa Oriental controlar o corao continental. Quem domi-nar o corao continental dominar a ilha mundial. Quem dominar a ilha mundialcontrolar o mundo.

    At hoje suas idias tem servido como orientao prtica para a polticaexterior, tanto do Reino Unido quanto dos Estados Unidos. Seu objetivo prin-cipal: impedir a qualquer custo uma aliana estratgica entre a Rssia e aAlemanha. Se esta viesse a ocorrer, a supremacia do livre-comrcio e dos

    Fonte: TOSTA, CoronelOctavio. Teorias geopolticas.Rio de Janeiro: Bibliex, 1984.

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    anglo-saxes sobre o mundo, estaria irremediavelmente ameaada. Portanto, compreensvel que os alemes, derrotados na 1 Guerra Mundial, passassema levar mais a srio as recomendaes do pensador britnico. Inclusive, cabe-ria precisamente a um deles, a continuao e o desenvolvimento ulterior daGeopoltica.

    Karl von Haushofer e as pan-regionen

    Nascido em 1869, Karl Haushofer foi oficial durante a 1 Guerra Mundial,e comandou a retirada de suas tropas de volta para uma Alemanha derrotada ehumilhada. Enviado como observador militar junto ao exrcito japons antesdo incio daquele conflito, estudou a situao do Extremo Oriente sob o pontode vista de Tquio, retornando a seu pas admirado pelas qualidades que en-controu no povo japons: elevado senso de disciplina, e profundo sentimentode solidariedade nacional. Com base no exemplo japons, Haushofer tornou-se um crtico do que considerava serem defeitos da formao de sua nao:em primeiro lugar, o arraigado individualismo dos alemes, e em segundolugar, a falta de um sentido de fronteira, isto , de uma conscincia espacialcoletiva (para os japoneses isto era fcil, pois o pas um arquiplago, maspara a Alemanha, sem fronteiras naturais era difcil reconhecer seu espao).Durante a Primeira Guerra, considerou que seu pas fizera a aliana errada aopreferir vincular-se ustria-Hungria ao invs da Rssia, e desse ponto devista, para ele, a teoria de Mackinder apenas reforava uma antiga opinio,que houvera sido defendida por Bismarck, de que a Rssia era um aliado empotencial da Alemanha, e no a ustria. Vale recordar que Bismarck era pro-fundamente anti-austraco, e havia liderado a Prssia contra a ustria no inte-rior da Confederao Germnica, no processo de Unificao da Alemanha(1815-1870). Ele inclusive viria a perder seu posto de Chanceler por causadisso, pois mais tarde o Kaiser Guilherme I acabaria preferindo solidarizar-secom seus irmos de cultura austracos, em nome do pan-germanismo, opon-do-se assim ao pan-eslavismo que aproximava a Rssia da Srvia. Como sesabe, esta deciso alem terminaria por empurrar toda a Europa, e em seguidao mundo, para a guerra.

    Haushofer compreendia perfeitamente que o resgate do poderio alemodependia, portanto de uma aliana com a Rssia, e dedicaria o principal dosseus esforos para convencer seus compatriotas do acerto desta aliana. Ape-sar de ideologicamente identificado com o pan-germanismo, ele teve o mri-to de renunciar s suas preferncias, tendo em vista o apreo pela teoria doHeartland de Mackinder, a qual lhe parecia uma explicao mais aderente realidade, do que aquela outra, tambm muito difundida poca, de que osgermnicos compunham uma raa superior. Foi com base nisso, e na con-vico de que a tendncia histrica irreversvel apontava para o declnio dasvelhas potncias colonialistas Inglaterra e Frana , e em favor da ascensodas novas potncias industriais Estados Unidos, Alemanha, Rssia e Japo que ele desenvolveu sua teoria das pan-regionen, substituindo o povo,

    AAAAATIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADE 5 5 5 5 5

    Observando o mapa:

    a) Identifique as fronteiras e a diviso regional proposta.b) Que razes voc daria para explicar o termo Pivot rea?

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    GEOGRAFIA

    pelo espao, como categoria unificadora dos grandes aglomerados geo-polticos.

    Props assim, uma regionalizao do espao mundial em quatro grandesunidades, cada uma delas correspondendo seguinte articulao: um centroindustrial dinmico, galvanizador de reas menos desenvolvidas; uma zonapouco povoada servindo de espao de reserva para futura ocupao e tam-bm utilizada como fonte de matrias-primas; e uma outra rea cuja funoprincipal seria a de fornecer mo-de-obra barata para a continuidade do pro-cesso de industrializao do centro, ou ainda, para ajudar o povoamento doespao de reserva. Em suma, tratava-se de um mundo em perfeito equilbrio,onde cada pan-regio poderia ser bastante autnoma, pois todas as exignciasda nova economia industrial e de uma demografia em expanso poderiam seratendidas pelo espao de cada uma delas. Com isso, imaginava Haushofer, apaz mundial estaria assegurada, no havendo mais a necessidade de uma po-tncia industrial entrar em guerra contra a outra.

    Resumidamente eram as seguintes as suas pan-regies: Panamrica, reu-nindo todo o conjunto americano, onde os Estados Unidos seriam a cabeaindustrial, o Canad o espao de reserva, e a Amrica Latina o viveiro demo-de-obra; Eurfrica, formada pela Europa exceto Rssia, mais o OrienteMdio exceto o Ir, e todo o continente africano, e em que a posio centralseria ocupada pela Alemanha, o mundo rabe entraria como espao de reser-va e fornecedor de petrleo, e a frica Sub-saariana serviria de viveiro demo-de-obra; Panrssia onde a Rssia europia seria o centro industrial, aSibria a rea-reserva e a ndia a fonte de mo-de-obra, e finalmente; Zona de

    Fonte: TOSTA, Coronel Octvio. Teorias geopolticas. Rio de Janeiro: Bibliex, 1984.

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    Co-prosperidade asitica, nome dado pelos japoneses vasta rea em que aAustrlia serviria como rea-reserva, a China seria a fornecedora de braos eo Japo evidentemente, representaria o centro industrial (ver mapa).

    Infelizmente, o esquema haushoferiano no foi capaz de evitar a guerra,muito pelo contrrio. Ao subestimar a resistncia franco-britnica perante umaeventual liderana alem dentro da Europa, sua proposta terminaria por acir-rar ainda mais os nimos e, para seu azar, sucederia com ele algo semelhantecom o que anteriormente ocorrera com Bismarck. De incio, Haushofer con-seguira influenciar Hitler, podendo ser considerado o inspirador do pacto deno agresso russo-alemo, assinado em 1939. Dois anos mais tarde, entre-tanto, rompendo com seu conselheiro geopoltico, Hitler decidiu invadir aUnio Sovitica, ato cujas conseqncias catastrficas para a Alemanha sobastante conhecidas. Para Haushofer em particular, assim como para Hitler, odestino reservara um fim trgico: acusado como colaborador do nazismo pelotribunal de Nuremberg, o velho geopoltico no esperou pela sua sentena:suicidou-se em sua cela em 1945, aos 73 anos.

    TTTTTRIBUNALRIBUNALRIBUNALRIBUNALRIBUNAL DEDEDEDEDE N N N N NUREMBERGUREMBERGUREMBERGUREMBERGUREMBERG

    Durante a Segunda Guerra Mundial, os aliados e representantes dos governos exiladosda Europa ocupada se encontraram algumas vezes para discutir sobre o tratamento ps-guerra a ser dado aos lderes nazistas. Inicialmente, muitos dos aliados consideraramseus crimes alm do alcance da justia humana que aquele fato era poltico, antes deser uma questo legal.

    Em Agosto de 1945, os britnicos, franceses, americanos e soviticos se encontraramem Londres e assinaram um acordo que criou o Tribunal de Nuremberg, oficialmente oTribunal Militar Internacional, e acertaram as regras para o julgamento. O Tribunal deNuremberg, em 9 de dezembro de 1946, julgou vinte e trs pessoas, vinte das quaismdicos, que foram consideradas como criminosos de guerra, devido aos brutaisexperimentos realizados em seres humanos. O Tribunal demorou oito meses para julg-los. Em 19 de agosto de 1947 o prprio Tribunal divulgou as sentenas, sendo que setede morte, e um outro documento, que ficou conhecido como Cdigo de Nuremberg.Este documento um marco na histria da humanidade, pois pela primeira vez foiestabelecida uma recomendao internacional sobre os aspectos ticos envolvidos napesquisa em seres humanos.

    (Fonte: ACCIOLY, Hildebrando Manual de D ireito Internacional Pblico, 12 ed., Saraiva, SoPaulo, 1996.)

    Vista pelos vencedores como um domnio do saber perigoso para a cons-truo e manuteno da paz, uma vez que a Geopoltica ficou muito marcadapela influncia de Haushofer, e esteve a servio do nazismo, a partir deento ela seria estigmatizada como uma falsa cincia, que deveria, portan-to, ser proscrita das universidades. No obstante, os Estados-Maiores das gran-des potncias remanescentes continuaram a utilizar seus ensinamentos, atque, finalmente, ela foi reabilitada durante a guerra do Vietn e, ironicamente,pelas mos dos franceses que tanto a repudiaram. Coube a Yves Lacoste, umgegrafo de esquerda, demonstrar de forma convincente, que tambm a revo-luo socialista necessita para concretizar-se, de uma Geopoltica. Ele lem-brou os exemplos da trilha Ho-Chi-Min no Vietn, ligando a frente de batalha

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    GEOGRAFIA

    com a rota de abastecimento que atravs da China, chegava at a Unio Sovi-tica; como tambm o desembarque dos revolucionrios cubanos em SierraMaestra, tentando provar dessa maneira que em si mesma, a Geopoltica no uma cincia nem de direita nem de esquerda, mas sim um instrumentode anlise imprescindvel para quem deseja refletir sobre as questes ligadasao poder. Trata-se, portanto, como j vimos, de um saber estratgico, o quemodernamente exige atender a duas condies: ou se trata da dimenso mili-tar do poder mundial, ou ento da escala mundial do poder poltico. Assim,para avanarmos em nossa anlise, preciso aprofundar a discusso a respei-to do conceito de poder mundial. Vamos a ele.

    Fonte: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. So Paulo: tica, 2003.

    AAAAATIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADE 6 6 6 6 6

    Converse com os colegas sobre a idia de que o mundo estaria em perfeito equilbrioonde cada pan regio teria autonomia. possvel essa teoria?

    a) Como poderamos pens-la atualmente?b) At que ponto os blocos econmicos podem exemplificar essa teoria?

  • Unidade 3

    O poder mundial

    O rg a niz a doresSonia MariaVanzella Castellar

    Elvio RodriguesMartins

    Ela bora dorAndr RobertoMartin

    Antes dos portugueses darem incio s grandes descobertas geogrficasdos sculos XV e XVI, os sistemas de poder no mundo achavam-se, todoseles, divididos regionalmente. Havia um sub-sistema no Mediterrneo, outrono Mar do Norte, um terceiro no ndico, e um quarto no Extremo Oriente. Istopara f icarmos apenas no interior do assim chamado mundo conhecido.Quanto s Amricas, os provveis contatos entre os Imprios Inca e Aztecaforam interrompidos precisamente pela chegada dos europeus e, na Oceania,apesar dos polinsios explorarem uma vasta rea, no se pode dizer que te-nham organizado exatamente um Imprio. Na frica por sua vez, em quepese o elevado grau de cultura alcanado por Reinos como os de Mal, Ganaou da Nbia, no houve um poder que chegasse a articular o conjunto docontinente.

    De modo que a primazia de haver relacionado um sub-sistema com outro mrito da epopia lusitana e, portanto no de estranhar que os portuguesestenham sido os inventores do conceito de poder mundial. Eles foram,afinal, os principais idealizadores do Tratado de Tordesilhas, o portugus cons-tituiu-se na primeira lngua franca mundial, o pavilho luso foi o primeiro atremular simultaneamente em quatro continentes, e o escudo foi a primeiramoeda conversvel em escala global. Sem risco de cair em exageros, pode-sedizer com segurana, que Portugal deu incio ao processo que hoje denomina-mos de globalizao.AAAAATIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADE 7 7 7 7 7

    Voc est fazendo uma pesquisa sobre a globalizao e l a seguinte passagem, em umlivro:

    A Sociedade G loba lA Sociedade G loba lA Sociedade G loba lA Sociedade G loba lA Sociedade G loba l

    As pessoas se alimentam, se vestem, moram, se comunicam, se divertem, por meiode bens e servios mundiais, utilizando mercadorias produzidas pelo capitalismomundial, globalizado.

    Suponhamos que voc v com seus amigos comer Big Mac e tomar coca-cola noMcDonalds. Em seguida assiste a um filme de Steven Spielberg e volta para a casanum nibus da marca Mercedes.

    Ao chegar em casa, liga seu aparelho de TV Philips para ver o videoclip de MichaelJackson e, em seguida, deve ouvir um CD do grupo Simply Red, gravado pela BMGAriola Discos em seu equipamento Aiwa.

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    GEOGRAFIA

    preciso sublinhar neste ponto, que a principal razo da supremacia por-tuguesa explica-se pela sua superioridade cientfica e tecnolgica. No fosseassim, como justificar que tenham conseguido dividir o mundo a ser desco-berto ao meio, se s dispunham de 1/8 da populao espanhola (Portugalpossua cerca de 1 milho de habitantes e a Espanha 8 milhes em 1494)? Defato, os conhecimentos geogrficos e nuticos portugueses eram superioresaos de qualquer outra nao da poca. Eles foram os primeiros a fabricarnavios adaptados navegao ocenica as caravelas , como tambm in-ventaram o alinhamento de canhes na lateral dos navios, podendo atingir distncia, os barcos inimigos. Dominaram dessa forma a rota Atlntico Sul-ndico, deixando aos castelhanos, a opo de buscarem as ndias pelo cami-nho do poente. Mais tarde, verdade, a gangorra iria pender em favor daEspanha, graas s imensas riquezas obtidas atravs da pilhagem dos Imp-rios Inca e Azteca. Mas na passagem do sculo XV para o XVI, a liderana foiincontestavelmente lusitana.

    O equilbrio bipolar de poder do sistema tordesilhano ruiu definitivamen-te quando o trono portugus caiu em mos espanholas, aps a morte do rei D.Sebastio, em 1578. O monarca portugus no deixou herdeiros, o que facili-

    Veja quantas empresas transnacionais estiveram presentes nesse curto programa dealgumas horas. (Adap. PRAXEDES et al. O Mercosul. So Paulo, tica, 1997.)

    1- Com base no texto e em seus conhecimentos de Geografia e Histria, marque aresposta correta.

    a) o capitalismo globalizado est eliminando as particularidades culturais dos povos daterra.b) A cultura, transmitida por empresas transnacionais, tornou-se um fenmeno criadordas novas naesc) A globalizao do capitalismo neutralizou o surgimento de movimentos nacionalistasde forte cunho cultural e divisionista.d) O capitalismo globalizado atinge apenas a Europa e a Amrica do Norte.e) Empresas transnacionais pertencem a pases de uma mesma cultura.

    Fonte: ENEM - Ensino Mdio.

    2- A leitura do texto da questo anterior ajuda voc a compreender que:

    I a globalizao um processo ideal para garantir o acesso a bens e servios para todaa populao.II a globalizao um fenmeno econmico e, ao mesmo tempo, cultural.III a globalizao favorece a manuteno da diversidade dos costumes.IV filmes, programas de TV e msica so mercadorias como quaisquer outras.V as sedes das empresas transnacionais mencionadas so os Estados Unidos, EuropaOcidental e Japo.Destas alternativas, so corretas:

    a) I,II e IV, apenas.b) II,IV e V, apenasc) II, III e IV, apenasd) I,III e IV, apenase) III, IV e V, apenas

    Fonte: ENEM - Ensino Mdio.

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    tou as pretenses de Filipe II da Espanha, de unificar a pennsula sob seucomando. Suas tropas entraram em Lisboa em 1580, transformando-o nomonarca mais poderoso de todos os tempos.

    A posio da Espanha nos anos seguintes foi a de um Estado perturbador,que tentou atrair para si, a totalidade do poder mundial. As potncias em as-censo Holanda, Frana e Inglaterra uniram-se contra Filipe II, que almdo mais via-se como o protetor da religio catlica contra a reforma protestan-te, e de toda a Europa contra o Imprio Turco Otomano. Com tantos inimigos,no de estranhar que com o tempo, a capacidade espanhola de ordenar omundo fosse se desgastando, at vir a esgotar-se completamente na Guerrados 30 anos, conflito que ensangentou a Europa entre os anos de 1618 e1648, e modificou o mapa do mundo.

    Esta guerra, que inicialmente teve um cunho religioso, aos poucos foi setransformando num conflito de propores mundiais, que terminou por vol-tar-se contra a autoridade do Papa, e o poder de Filipe II. Quando, finalmente,ela se encerrou, a Espanha fora substituda pela Frana como principal potn-cia europia, e o equilbrio mundial passara a apoiar-se num nmero bemmaior de potncias: Inglaterra e Holanda converteram-se nos novos poderesmartimos, ao passo que Frana, ustria e Imprio Turco, passaram a dividirentre si, o poder terrestre. O sistema bipolar tornara-se assim multipolar, situa-o esta que deveria perdurar, embora com a mudana de atores, at o final daSegunda Guerra Mundial, em 1945, quando ento passamos a ter novamenteum sistema bipolar.

    A Frana, aps a assinatura da Paz de Vestflia em 1648, que pusera fimao longo conflito, passara tambm a ocupar o papel da Espanha na qualidadede potncia perturbadora. Obcecado pela glria militar, Lus XIV, o Rei-Sol, implementaria uma poltica externa bastante agressiva contra seus vizi-nhos, no dando sossego a uma Europa exausta de guerras. Ele visava obter ahegemonia francesa na Europa Ocidental, bem como anexar territrios aosseus domnios. Com idas e vindas, o protagonismo gauls no continente eu-ropeu deveria prosseguir at o advento do perodo napolenico, cerca de 150anos mais tarde. Quando Bonaparte finalmente foi derrotado em 1815, apsenfrentar nada menos do que sete coalizes contra a Frana, o equilbrio dopoder mundial modificara-se novamente. A Rssia e a Prssia haviam surgidocomo novas potncias continentais. A Turquia fora contida, e no mar, nin-gum mais ousava desafiar a supremacia dos ingleses. Abriu-se assim umperodo que muitos historiadores denominaram de Pax Britnica, dada suaindiscutvel primazia comercial e naval. Visto mais de perto entretanto, o siste-ma internacional da chamada Santa Aliana era mais complexo, pois envol-via tambm o equilbrio de poder no continente europeu, repartido entreFrana, ustria, Rssia e Prssia. Estas quatro potncias continentais soma-das Inglaterra, compunham o chamado Diretrio Europeu ou Pentarquia,uma espcie de Conselho de Segurana que com altos e baixos, perdurariaat 1870, quando emergiu no centro da Europa, uma nova potncia que viriaa deslocar a Frana na condio de potncia perturbadora: a Alemanha. Osdesdobramentos de sua projeo de poder na primeira metade do sculo XXso bastante conhecidos e conduziram a humanidade a duas guerras mun-diais, separadas por um breve intervalo de vinte anos de paz.

    A esta altura, o leitor j deve ter percebido que basta utilizarmos doisconceitos, para que possamos dar conta da geometria varivel do podermundial ao longo do tempo: equilbrio de poder e Estado perturbador.

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    GEOGRAFIA

    De fato, quando mencionamos a noo de equilbrio de poder, estamosconsiderando o poder mundial sob um angulo mais flexvel, isto , comoalgo que se dissemina pelo conjunto dos Estados soberanos que compem osistema internacional. Por conseguinte, a potncia mundial no aquelaque domina o mundo todo, mas apenas a que capaz de influenciar, comsuas decises, o sistema internacional em sua totalidade. A escala de sua inter-veno, portanto, vai alm da mera vizinhana regional ou mesmo continen-tal, alcanando a dimenso planetria.

    Em contrapartida, para o Estado perturbador, o alvo precisamente odesequilbrio do sistema, quer porque j sendo a potncia mais poderosa, pre-tende vir a assumir o inteiro domnio mundial casos da Espanha e da Frana quer porque no o sendo, pretende vir a ocupar no futuro, uma posio maisvantajosa do que no presente, e quem sabe, mais dia menos dia, vir a coman-dar o mundo todo caso da Alemanha.

    Tal esquema de anlise, suportou bem o fim da Segunda Guerra Mundiale o incio da Guerra-Fria. Duas novidades, no entanto, precisam ser salien-tadas. A primeira, o sistema mundial de poder passou a depender de duaspotncias fora da Europa Ocidental: Estados Unidos e Unio Sovitica. Pelaprimeira vez o recurso guerra mundial mostrou-se inadmissvel, uma vezque com o advento dos artefatos nucleares, no h mais a chance de surgir umvencedor numa guerra total. Resta resolver o problema de identificar que po-tncia teria assumido desde ento, o papel de guardi do equilbrio de po-der e que potncia, ao contrrio, teria se convertido em Estado perturbadorda ordem mundial.

    Num primeiro momento, parecia que a Unio Sovitica, ao tentar lideraruma revoluo socialista mundial, se converteria no fiel depositrio da condi-

    Fonte: VESENTINI, J.William. Sociedade& Espao. So Paulo,tica, 2000.

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    o de Estado perturbador. Alm disso, por ocupar uma posio centralentre a Europa e a sia os continentes belicosos na expresso deMontesquieu e possuir a maior extenso de fronteiras terrestres, a Rssiasempre esteve vocacionada a um certo militarismo, do mesmo modo como aAlemanha. Vale lembrar a esse respeito que Mackinder j havia assinalado acorrespondncia entre as posies da Alemanha na Europa e a da Rssia nomundo, destacando a centralidade de ambas. E para completar, desde o pontode vista do liberalismo ocidental, o nazismo e o comunismo sempre parece-ram muito prximos, identificados igualmente como regimes ditatoriais.

    Tais indicaes no entanto, quando confrontadas com as principais deci-ses da poltica exterior sovitica, no corroboram o qualificativo de Estadoperturbador. Lnin em 1917, por exemplo, aceitou a perda de territrios,para firmar em separado a paz com a Alemanha. A seguir, para evitar nova-mente o confronto com esse pas, Stlin estabeleceu um pacto de no agres-so com Hitler, poucos dias antes do ltimo grande conflito mundial ter incio.Finalmente, entre os anos 1985 e 1991, Gorbachov liderou uma poltica depaz que ps fim corrida armamentista, bem como permitiu a queda do murode Berlim e a reunificao da Alemanha, decises que garantiram a paz ps-guerra-fria, mas custaram a prpria sobrevivncia da Unio Sovitica.

    verdade, entretanto que em outras ocasies, os soviticos aproveitarama situao de relativo vazio de poder, para expandir sua zona de influncia.Foi o que aconteceu com relao a Cuba em 1962, por exemplo, e com oAfeganisto em 1989. De outra parte, como vimos, a aliana eslavo-germnicasempre ser considerada perturbadora para o poder martimo anglo-saxnico.A venda do Alasca para os Estados Unidos em 1867 um bom exemplo decomo no faz parte da tradio russa, includo o perodo pr-revolucionrio,manter por longo tempo tropas no ultramar. Tudo leva a crer que os custos devigilncia da maior extenso de terras do planeta, j so demasiado altos parao Estado russo, inibindo-o de tentar aventuras extra-territoriais, que possamcolocar em risco a sua segurana.

    Situao diametralmente oposta a vivida pelos Estados Unidos. Teorica-mente a potncia defensora do equilbrio do poder, devido a seu relativoisolamento, tem-se mostrado paradoxalmente uma nao agressiva eintervencionista: em termos regionais desde pelo menos 1898 quando entra-ram em guerra contra a Espanha, devido disputa em torno das Filipinas e deCuba; e em termos mundiais, desde pelo menos 1917, quando se aliaram Inglaterra e Frana contra a Alemanha. Mais recentemente, os estrategistasnorte americanos divulgaram a chamada Doutrina Bush, a qual pretendejustificar o direito de interveno dos Estados Unidos em qualquer pas domundo, sem consulta ONU. Segundo seu entendimento, o ataque preventi-vo seria legtimo, j que visaria o desmantelamento de supostas organiza-es terroristas. O problema saber que autoridade definiria quem seria ouno terrorista e, alm disso, como se poderia evitar que tal doutrina se alas-trasse, de modo a qualquer Estado se considerar no direito de atacar outroporque al se esconderiam eventuais terroristas. Em suma, o que a Doutri-na Bush prope a anulao do princpio de no-interveno, pea-chavedo Direito Internacional na busca pela manuteno da paz mundial.

    A questo de fundo que com o desmantelamento da Unio Sovitica, abipolaridade que vigorou durante a guerra-fria sofreu um grande abalo. Eagora, os Estados Unidos querem forar o mundo a caminhar em direo auma ordem internacional monopolar, ao passo que a ascenso da Unio Euro-

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    Fonte: VESENTINI, J.William. Sociedade& Espao. So Paulo,tica, 2000.

    pia, da China e do Japo indicam ao contrrio, uma tendncia multi-polaridade. Este o grande desafio geo-estratgico contemporneo, e quedever condicionar no futuro prximo, os embates em torno do poder mun-dial. Finalmente, pelo vigoroso crescimento econmico e militar, tudo indicaque a China poder despontar proximamente como nova potnciaperturbadora, o que certamente afetar o atual equilbrio mundial. Ir almdeste ponto, exige que consideremos uma escala abaixo. Examinemos pois...

  • Unidade 4

    As potncias regionais

    O rg a niz a doresSonia MariaVanzella Castellar

    Elvio RodriguesMartins

    Ela bora dorAndr RobertoMartin

    No Conselho de Segurana da ONU, as cinco potncias vencedoras dasegunda guerra mundial tm assento. Elas so portadoras de arsenais nuclea-res reconhecidos como legais por elas mesmas e, alm disso, possuem opoder de veto sobre as resolues da Assemblia Geral, ou mesmo do prprioConselho de Segurana, que porventura julguem ser prejudiciais aos seus in-teresses estratgicos. A desproporo em relao ao nmero de ogivas nucle-ares que cada uma controla, no entanto, flagrante. Os Estados Unidos detm15 mil ogivas, ao passo que a Rssia conta com 10 mil. Esta aparente vanta-gem norte americana deve ser relativizada, uma vez que a Rssia, em funode sua maior extenso territorial, pode em tese destruir os Estados Unidosutilizando um nmero menor de ogivas do que este ltimo precisaria parapulverizar a Rssia. A China vem a seguir com cerca de 500 ogivas, e aFrana e a Inglaterra tm cerca de 400 cada uma. O significado desta despro-poro que apenas os Estados Unidos e a Rssia podem ser chamados desuperpotncias isto , aquelas que, sozinhas, so capazes de destruir todasas outras potncias somadas. diferente da noo de hiperpotncia, con-ceito surgido recentemente para destacar a condio dos Estados Unidos, quealm de serem uma superpotncia, so tambm a nica potnciamultidimensional do planeta, isto , aquela que alm do poderio militar,possui capacidade econmica, cultural e ideolgica de influenciar o mundotodo. Sob esse critrio, a posio da Rssia de fato inferior (superpotncia,mas no hiperpotncia). Num escalo abaixo de qualquer modo teramosInglaterra, Frana e China, potncias mundiais, mas no superpotncias. Eum pouco mais abaixo viriam Alemanha e Japo, potncias econmicas etecnolgicas mundiais, mas que no desfrutam de muito poder poltico. Final-mente, descendo mais um degrau chegaramos s potncias regionais.

    Como tivemos oportunidade de verificar, ao longo da Histria foi bempequeno o nmero de potncias mundiais. Os poderes martimos costumamestar identificados com a funo de defensoras do equilbrio do poder. Fo-ram Portugal no tempo de Tordesilhas, a Inglaterra a partir do sculo XVIII eos Estados Unidos desde a primeira guerra mundial. J os Estados per-turbadores esto relacionados aos poderes terrestres e tambm foram emnmero de trs: a Espanha mercantilista entre os sculos XVI e XVII, a Franaabsolutista de meados do sculo XVII a meados do XIX e a Alemanha napassagem do XIX para o XX. Alm destas seis potncias mundiais de primei-ra linha, s merecem destaque: a Holanda no sculo XVII, a ustria e a Tur-

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    GEOGRAFIA

    quia entre os sculos XVII e incio do XX, o Japo desde o fim do sculoXIX, e a Rssia desde meados do sculo XVIII at os dias atuais.

    J o nmero de potncias regionais pode ser bastante ampliado, depen-dendo da escala geogrfica considerada. Assim por exemplo, quando exami-namos os Blcs, a Srvia se sobressai como potncia regional, mas seu poderpraticamente desaparece quando olhamos para a Europa em seu conjunto. Domesmo modo, se viermos a nos referir apenas s Antilhas, Cuba aparecernecessariamente como a grande potncia regional, mas se alargarmos o olharpara o conjunto da Amrica Latina entretanto, seu peso diminuir significati-vamente, e neste caso o destaque recair sobre o Brasil. Como nossa intenoaqui oferecer apenas um quadro panormico, nos limitaremos a destacaralgumas potncias regionais sub ou supra-continentais, deixando de lado asque em escala mundial seriam classificadas como pequenas potncias. Almdo mais, nosso foco dever estar voltado para o hemisfrio Sul, uma vez queno hemisfrio norte esto concentradas todas as potncias mundiais da atuali-dade: Estados Unidos, Unio Europia, Rssia, China e Japo. No Sul, aocontrrio, s existem potncias regionais, o que nos leva concluso de que,em termos geopolticos, o hemisfrio Norte sofre o problema do excesso depotncia, ao passo que entre os meridionais, temos o drama oposto, isto , odo excesso de impotncia.

    Amrica La tina

    Estendida ao sul dos Estados Unidos, esta vasta poro de terras conheci-da desde o sculo XIX como Amrica Latina rene hoje (2004) mais de 510milhes de habitantes. uma populao significativamente superior dosanglo-americanos, que na soma entre Estados Unidos e Canad chegam casa dos 310 milhes de habitantes. Se levarmos ainda em conta o fato de quevivem nos Estados Unidos mais de 45 milhes de latinoamericanos e os fran-co-canadenses so por volta de 10 milhes, ento culturalmente falando, oslatinoamericanos alcanam a espantosa cifra de 570 milhes de pessoas, aopasso que os americanos que tem no ingls a sua lngua materna, pouco ultra-passam a casa dos 250 milhes (nesta escala os antilhanos e guianensesanglfonos so residuais). No entanto, como todos reconhecemos, no hentre os latinoamericanos uma potncia mundial, e no caso dos anglo-ameri-canos vale destacar que mesmo o pouco populoso Canad, membro do G-7,grupo que rene as naes mais ricas da Terra. Isto s para no repisarmos aposio dos Estados Unidos.

    Este disparate entre o peso populacional e o poder poltico da AmricaLatina tem sem dvida, na fragmentao territorial do sub-continente, umaexplicao. Mas as causas do subdesenvolvimento econmico da regio nopodem se resumir a este aspecto, pois um pas como o Brasil por exemplo, aocontrrio da Amrica espanhola, no se subdividiu. De modo que outros ele-mentos tm que ser incorporados explicao, e entre eles o modelo de colo-nizao tambm deve ser lembrado, com as colnias de povoamento prevale-cendo na Anglo-amrica, e as colnias de explorao dominando a AmricaLatina. Ainda assim, no entanto, restaria alguma coisa a dizer, pois no pero-do posterior independncia e, sobretudo, aps a segunda revoluo indus-trial, que a dualidade se construiu e se acentuou.

    B locosB locosB locosB locosB locoseconm icoseconm icoseconm icoseconm icoseconm icos

    Conjunto de pa ses quees to organ izados emfuno de in teresseseconmicos comuns. Ospases que fazem pare deum b loco d ispu tam ahegemonia por meio daconcorrncia comercia l.Por exemp lo , a rea del ivre comrcio (ALCA ENAFTA); Un io aduane i-ra (MERCOSUL); MercadoComum (Un io Euro-p ia ) . A Organ izaoMund ia l do Comrc io(OMC) de f ine que umarea de livre comrcio sse constitui quando 85%do comrcio livre. Cadapas estabelece o impos-to de importao para osprodutos de pases no-signa tr ios do acordo ,ou se ja , os pa ses queno assinaram o acordocomercial, e tambm asregras para a circulaode d inhe iro , serv ios epessoas.

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    Fonte: GIRARDI, Gisele; ROSA, Jussara Vaz. Atlas Geogrfico do Estudante. So Paulo, FTD, 1998.

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    Sem querermos oferecer uma resposta categrica, uma hiptese interes-sante a que levanta aspectos psicossociais e culturais. De fato, ao contrriodos anglo-americanos, no quisemos construir na Amrica Latina uma Euro-pa melhorada (isto , sem o vezo autoritrio do absolutismo). No, as eliteslatinoamericanas sempre consideraram esta parte do mundo alguma coisa piordo que a Europa, e em seguida, inferior aos Estados Unidos. Assim, nosbatemos contra um renitente complexo de inferioridade, que mesmo aexcepcionalidade argentina no foi capaz de atenuar. Com efeito, a proverbialarrogncia portenha tem um qu de teatral, uma vez que se liga ao fato deque estes se vm antes como extenso da Europa, do que como parte da Am-rica Latina. Talvez isto ajude a explicar porque na busca do equilbrio sulamericano, os argentinos tenham sempre preferido associar-se maisindoamericana das naes: o Peru. Em contrapartida, o Chile tem-se ligado Venezuela e Colmbia.

    Partiu da Venezuela, com Bolvar, o projeto de Unio Hispanoamericanavisando contrabalanar simultaneamente, os pesos dos Estados Unidos e doBrasil. Recorde-se que poca, o Imprio brasileiro era muito maior que osEstados Unidos, pois estes ainda no haviam abocanhado todo o norte doMxico. Quanto a este ltimo, terminou por funcionar como uma espcie deEstado-tampo entre os Estados Unidos e a Amrica Latina, o que restringiusuas possibilidades de atrao, ao mbito centro-americano. Desse modo aca-baria cabendo ao Brasil, o papel de potncia-lder de toda a Amrica Latina eno apenas da Amrica do Sul, o que nos leva hoje a decidir o impasse entreo alastramento do Mercosul em direo ao Mxico, ou ao contrrio, o avanodo Nafta para o sul com a criao da ALCA. Esta uma questo decisiva parao futuro do nosso pas, e por isso merecer ser retomada mais adiante. Antesdisso, passemos um olhar sobre o que tem ocorrido, em termos geopolticos,com a...

    frica

    Com uma superfcie superior a 30 milhes de quilmetros quadrados, econtando mais de 800 milhes de habitantes, a frica debate-se ontem comohoje, com uma srie de contradies, algumas estruturais, outras derivadas daforma subordinada como este continente foi incorporado ao sistema mundial.Entre as grandes clivagens estruturais anteriores ao colonialismo europeu, deve-

    AAAAATIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADE 8 8 8 8 8

    Blocos econmicos so associaes de pases que estabelecem relaes econmicasprivilegiadas entre si, por meio de tratados que podem ser classificados, segundo o graude complexidade, em Zona de Livre Comrcio, Unio Aduaneira e Mercado Comum.

    De acordo com o proposto acima, a Unio Europia, o Nafta e o Mercosul podem serclassificados respectivamente como:

    a) Mercado Comum, rea de Livre Comrcio e Unio Aduaneira;b) Unio Aduaneira, rea de Livre Comrcio e Mercado Comum;c) rea de Livre Comrcio, Mercado Comum e Unio Aduaneira;d) Unio Aduaneira, Mercado Comum e rea de Livre Comrcio;e) rea de livre Comrcio, Unio Aduaneira e Mercado Comum.

    (Fonte: KRAJEWSKI, Guimares e Ribeiro. Geografia: Pesquisa e Ao, Moderna, So Paulo,p. 146.)

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    se mencionar em primeiro lugar o contraste entre o norte rabe-berbere bran-co e desrtico, em oposio ao sul florestado e dominado por diversas etniasnegras. A religio muulmana tem sido ao longo do tempo uma ponte e aomesmo tempo uma barreira entre esses dois mundos, pois na poro sub-saariana predominavam inicialmente os ritos animistas, e depois penetrou commuita fora o cristianismo levado pelos colonizadores europeus. O Islo en-to, a partir do sculo VII passou a pressionar, vindo do norte, esta grandemassa sub-continental, contando com apoio martimo no ndico, o que expli-ca a maior presena muulmana na franja oriental que ocidental. H que seregistrar no entanto, a exceo representada pela Etipia, que nunca foi colo-nizada, e tornou-se crist ainda nos tempos bblicos. Hoje com cerca de 70milhes de habitantes, o maior pas da frica Oriental, e Adis-Abeba, suacapital e uma grande metrpole, a cidade-sede da Organizao da UnidadeAfricana.

    A liderana continental no entanto costuma ser atribuda frica do Sul,talvez porque seja o nico pas africano banhado por dois oceanos (Atlnticoe o ndico). O prestgio poltico conquistado pela transio pacfica do regi-me do apartheid democracia, graas a Nelson Mandela, outro fator im-portante a ser considerado, mas o elemento decisivo a destac-la parece sermesmo a economia. A Repblica da frica do Sul , com efeito, o pas maisindustrializado da frica sub-saariana, possuidor das principais jazidas de ouro,e riqussimo em diamantes, carvo e outros minerais. Tem sido, alis histori-camente, a disputa pelo controle dos recursos minerais do sub-solo africano,o principal motivo das guerras ontem, coloniais; hoje, civis que tem afeta-do o continente, dificultando o seu desenvolvimento.

    Nos dias que correm, cabe destacar a instabilidade vivida pela RepblicaDemocrtica do Congo, principal pas do centro da frica, e elo de ligaoentre o norte e o sul, o leste e o oeste do continente, e que est relacionada disputa pelo controle das minas de diamante. Estes conflitos tm sido divulga-dos no Ocidente como sendo de origem tribal. No entanto tem-se omitido ofato de que tais divergncias vm sendo estimuladas por grupos estrangeiros,seguindo o velho preceito imperialista do dividir para dominar.

    Para concluir, uma meno Nigria, principal potncia da frica ociden-tal, e pas mais populoso da frica com cerca de 130 milhes de habitantes sefaz necessria. Ela tem atuado como potncia estabilizadora, intervindo mili-tarmente com tropas de paz em conflitos sangrentos como os que afetaramLibria e Serra Leoa. Rica em petrleo, mas com uma unidade nacional dif-cil, o que, alis, a regra em todo o continente, esta nao no goza de muitoprestgio no Ocidente, precisamente pelo carter insubmisso de sua popula-o e a postura nacionalista de seus ltimos governos.

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    1. O G-7 foi criado em 1975, composto pelos sete pases com as maiores economias naocasio: Alemanha, Canad, Estados Unidos, Gr-Bretanha, Itlia e Japo. Esse grupopromove encontros anuais para tratar das diversas questes que interessam aos pasesmembros. Em 1997, a Rssia ingressou no grupo como convidada especial, contudo,sem direito de opinar oficialmente sobre as questes econmicas. (Fonte: CAMPOS,Eduardo. PEBII, Construindo Sempre Geografia mdulo 2. 2003, p. 25.)

    Com base no texto e nas discusses analise o papel do G-7 e das instituies financeirasno cenrio econmico e social dos pases africanos?

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    Mundo ra beMundo ra beMundo ra beMundo ra beMundo ra be

    No existe hoje regio mais perigosa, do ponto de vista da paz mundial,do que o Oriente Mdio. Esta sem dvida a primeira idia que nos vem cabea quando a mencionamos. Os fatos relacionados a ela esto diariamentena mdia, como a guerra no Iraque e o conflito israelo-palestino. No entanto,por estranho que parea, desde um ponto de vista estratgico al no se joga oequilbrio do poder mundial. Desde o colonialismo do sculo XIX, todo omundo rabe expresso que indica uma rea maior do que o Oriente Mdio,pois inclui a Turquia e o norte da frica tem sido tributria das potnciasocidentais, j que muito vulnervel ao poder martimo. Isto significa dizerque h uma espcie de complementaridade natural entre esta zona exportado-ra de petrleo, e as potncias ocidentais, importadoras. As disputas tm sidoantes em torno do controle das jazidas e dos preos do barril, do que do des-tino da produo.

    verdade que s vsperas da Primeira Guerra Mundial, a inteno alemde construir a ferrovia Berlim-Bagd contribuiu fortemente para a ecloso doconflito, pois contrariava os interesses franco-britnicos na rea. Mas a partirdo fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos passaram a liderarincontestavelmente o bloco ocidental, e a Rssia no dependente do petr-

    2. Leia o mapa da frica-Magreb.

    A partir dos dados obtidos no mapa e das discusses em sala faa um texto caracterizandoa regio em questo econmica e o uso do solo.

    Fonte: CASTELLAR, Sonia; MAESTRO, Valter. Geografia - 8a srie. So Paulo, Quinteto, 2002.

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    leo rabe, sendo inclusive grande fornecedora do produto para a Europa. As-sim, no h um choque estratgico de grandes propores em torno destamercadoria-chave da economia mundial. Pelo contrrio: China, Europa e Ja-po, tambm dependentes de importaes, concordam com o controle norteamericano da rea, pois isto significa petrleo a preo baixo para eles. o queexplica o relativo silncio de todas as outras potncias diante da intervenomilitar dos Estados Unidos no Iraque.

    Por outro lado, a falta de uma potncia regional que possa liderar o con-junto do mundo rabe, tem sido um fator de fragilidade sabiamente exploradopor ingleses e norte americanos ao longo da Histria. Isto nos leva a prever acontinuidade da guerra de atrito entre o imperialismo anglo-americano e onacionalismo rabe, sobretudo porque este ltimo est atravessado pelofundamentalismo muulmano, o qual projeta uma unio que vai alm do mundorabe, e est baseada na religio, contrapondo-se aos infiis seguidores docapitalismo ateu. Isto nos remete ltima regio que iremos considerar.

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    1. A figura apresenta as fronteiras entre os pases envolvidos na Questo Palestina e umcorte, no mapa, da rea indicada.

    Com base na anlise dessa figura e considerando o conflito entre rabes e israelenses,pode-se afirmar que, para Israel, importante manter ocupada a rea litigiosa por tratar-se de uma regio

    a) de plancie, propcia atividade agropecuria.b) estratgica, dado que abrange as duas margens do rio Jordo.c) habitada, majoritariamente, por colnias israelenses.d) que garante a hegemonia israelense sobre o mar Mediterrneo.e) estrategicamente situada, devida ao relevo e aos recursos hdricos.

    2. Imagine a seguinte situao: As reservas de petrleo no Oriente Mdio acabaram.Afirmao no muito fantasiosa, j que estudos realizados na dcada de 1970 projetavama produo de petrleo por mais 35 anos, ou seja, em 2005 acabaria o petrleo no

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    Sul da sia

    A vasta extenso que cobre do Ir Indonsia , como vimos, marginal aoHeartland, e portanto no decide tambm o equilbrio do poder mundial. Ca-beria apenas um comentrio com relao ndia, cujo estoque de poder vemcrescendo continuamente e, face sua posio e a seu espao, candidata-se aser uma potncia mundial no futuro prximo. Com mais de 3 milhes de Km2e mais de 1 bilho de habitantes, a Repblica da ndia ocupa uma posioestratgica no ndico, conectando ademais esta bacia ocenica ao Heartland,atravs do Himalaia. por esta razo que a zona sensvel do pas a Caxemira,

    pois este estado indiano, ademais dadisputa religiosa entre muulmanose hinds, rota de interligao entrea sia Central, o sub-continente in-dostnico e a China, representandodesse ponto de vista, uma espcie deextenso do Afeganisto.

    Como sabido o pas mantmcom o Paquisto uma disputa hist-rica pelo controle desta regio estra-tgica, e como os dois pases pos-suem armas nucleares, uma novaguerra entre ambos pode ser desas-trosa. Paradoxalmente, e da mesmamaneira como ocorreu durante aguerra-fria, o equilbrio do terrortem sido um fator de conteno dashostilidades, embora dificulte a so-luo definitiva desse contencioso.

    J com relao China, a ten-dncia histrica tem sido a de re-aproximao, pois as questes fron-teirias vem sendo tratadas diploma-ticamente, havendo uma espcie deacordo tcito quanto soberaniachinesa sobre o Tibete, e a influn-cia indiana sobre o Nepal. Nos lti-mos anos, como vem sendo noticia-

    Fonte: CASTELLAR, Sonia;MAESTRO, Valter. Geografia -8a srie. So Paulo, QuintetoEditorial, 2002.

    mundo. Na sua opinio, qual seria a situao econmica dos pases rabes caso issoacontecesse?

    3. Do ponto de vista da geopoltica mundial, o Oriente Mdio uma regio estratgica,onde se encontram as maiores reservas petrolferas do mundo. Considere as hiptesesa seguir: Os conflitos na regio do Oriente Mdio muitas vezes so promovidos para quea economia se desestabilize e assim haja um aumento no preo dos barris de petrleo.Os Estados Unidos so os grandes compradores e exploradores de petrleo do OrienteMdio e possuem refinarias nesse territrio. A partir disso, responda: qual o interesse dosEstados Unidos em provocar tais conflitos?

    Fonte: ENEM - Ensino Mdio.

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    do, a ndia tem apresentado um vigoroso crescimento econmico. No entan-to, as hostilidades com o Paquisto tm dificultado a construo de um blococomercial regional no subcontinente.

    Antes de adentrarmos no caso brasileiro, isto , na anlise de um Estadoisolado, convm tentarmos uma avaliao estratgica dos blocos geoeco-nmicos regionais. Vejamos pois,

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    1. Com base no mapa, analise:

    a) a diversidade religiosa da populao da ndia.b) as implicaes polticas da distribuio dos grupos religiosos no pas.

    Fonte: FUVEST 2000 - 2a fase - Questo 7.

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    2. A variedade cultural da populao chinesa muito grande, 1 bilho e 300 milhes dehabitantes dividem-se em 56 grupos tnicos ou culturais.

    Observe o mapa com os principais grupos tnicos na pgina seguinte.

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    Fonte: CASTELLAR, Sonia;MAESTRO, Valter. Geografia- 8a srie. So Paulo, Quin-teto Editorial, 2002.

    O SENTIDO DOS BLOCOS DE PASESComo j indicamos, a Segunda Guerra Mundial encerrou um largo pero-

    do de protagonismo das potncias europias na poltica mundial. Espremidaentre os gigantismos continentais norte-americano e eurasiano, a pequenaEuropa Ocidental deu-se conta de que teria de superar as antigas rivalidadesnacionais, responsveis pela ecloso dos dois trgicos conflitos anteriores,

    Alm da preocupao com a ocupao desigual do territrio, o governo Chins esttendo que cuidar dos possveis problemas fronteirios e separatistas como os movimentosseparatistas. Por exemplo, o movimento separatista da regio de Sin-Kyang nessaregio, os uigures, muulmanos de origem turca constituem a maioria tnica. H, ainda,os movimentos da Monglia Interior que reivindicam maior autonomia cultural e ademocratizao da China. Convivem, tambm, com a disputa da Manchria, rea comum plo industrial muito desenvolvido, e Taiwan, considerada provncia da China, apesarde atuar como pas independente, a ONU reconhece apenas Pequim como representantedo povo Chins.

    Com base nos dados do mapa e nas informaes responda:

    a) Como esses conflitos podero afetar o governo central?b) Que reas esto envolvidas com atividades econmicas agrcolas e industriais?

    Quais so as caractersticas do meio fsico dessas reas e como elas influenciam naorganizao da populao local?

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    por alguma espcie de solidariedade regional, se acaso pretendesse conservarcerta autonomia estratgica no futuro. Foi a aproximao franco-alem patro-cinada por Charles De Gaulle e Konrad Adenauer, a base para a formao daUnio Europia, uma Associao que, desde o seu incio, props-se a se tor-nar a terceira potncia mundial num prazo relativamente curto (no mais doque cinquenta anos nas projees de seu principal estrategista Jean Monnet).

    Embora no tenha atingido ainda a unidade poltica (a constituio deforas armadas comuns e a consolidao de uma poltica externa comum), aUnio Europia aponta nessa direo. Ela tem procurado preservar os interes-ses das empresas multinacionais europias, e nesse sentido, o velho naciona-lismo econmico europeu ancorado nas siderurgias nacionais, parece defini-tivamente superado. Mas no plano estratgico, as decises tm sido bastantedivergentes, conservando o Estado nacional a ltima palavra nas polticasexternas e de defesa.

    O exemplo europeu demonstrou que a economia industrial do ps-guerraexigia de fato o gerenciamento de grandes espaos econmicos. Desse pontode vista, houve uma confirmao das teses geopolticas de Haushofer. Mas aforma institucional que assumiu este processo de amalgamao territorial,foi bastante distinta da prevista pelos estrategistas alemes. A inspirao doscriadores da Comunidade Econmica Europia surgida oficialmente em 1955atravs do Tratado de Roma, no foi o centralismo prussiano, mas sim a fede-rao estado-unidense. O caminho at a constituio dos Estados Unidos daEuropa no entanto ainda parece bastante longo. H muitos obstculos a ven-cer, que vo desde as resistncias nacionalistas internas, at os adversriosexternos, entre eles os prprios EUA. Isto sem contar com a pura competioeconmica com outros blocos, surgidos alis, a partir do xito, ainda querelativo, da integrao europia.

    Estamos falando, portanto do fenmeno da integrao, processo este quebusca associar, politicamente, um grupo cultural a um espao geoeconmico.O sentido dessa integrao pode variar, indo da cultura para a economia (Na-o), ou vice-versa, da economia para a cultura (Imprio). Nos dois casos, oexemplo brasileiro se sobressai.

    O Brasil

    Frente ao exposto at aqui, cabe finalizar nosso estudo com uma ltimareflexo a respeito do Brasil. Inegavelmente uma potncia geopoltica, devidoa seu vasto espao e grande populao, nosso pas tem hesitado quanto ssuas pretenses internacionais, em grande medida devido s controvrsias emtorno de sua posio.

    Por um lado, somos parte do hemisfrio ocidental, equivalente ao continenteamericano, e dessa maneira, nos relacionamos de modo especial com os Esta-dos Unidos. Mas somos tambm um pas tropical, compartilhando com a n-dia a condio de potncia ecolgica, ao somarmos quase 40% da biodiver-sidade do planeta (o Brasil detm 25% e a ndia 12% das espcies que habi-tam a Terra). Finalmente, ocupamos uma posio insupervel no HemisfrioSul, com uma vasta fronteira terrestre na Amrica do Sul, e uma ampla costano Atlntico que nos conecta diretamente frica, e por extenso ao ndico.

    Nossa longa histria colonial, e o capitalismo dependente que se seguiuaps a independncia nos acostumaram a dar prioridade s relaes com o

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    Atlntico Norte, isto , Europa e Estados Unidos.Hoje, porm, est claro que sair desta condio dedependncia, exige o fortalecimento das relaes comos vizinhos do sul, o que j vem sendo trabalhadopelo Itamaraty h algum tempo, e as melhores ex-presses so o Mercosul e o chamado G-20 grupo depases em desenvolvimento que esto cooperando naOMC Organizao Mundial do Comrcio.

    Como foi visto, acompanhar o projeto da ALCAeqivaleria a admitir a perspectiva geoestratgicahaushoferiana, que no rompe com a condio depas subordinado. Em contrapartida, invertendoMackinder, e adaptando-o para o Hemisfrio Sul, te-ramos na ndia, na frica do Sul e na Austrlia, par-ceiros que poderiam estender o Mercosul para muitoalm dos limites latinoamericanos. o desafio queenfrentaremos nos prximos anos: globalismo oumeridionalismo, sermos periferia dos Estados Uni-dos ou o centro do Hemisfrio Sul?

    BibliografiaMATTOS, General Carlos de Meira. Geopoltica e modernidade: Geopoltica

    brasileira. Rio de Janeiro: Bibliex, 2002.MELLO, Leonel Itaussu Almeida. Quem tem medo da geopoltica? So Paulo:

    Edusp e Hucitec, 1999.

    Notas sobre o autorProf. Dr. Andr Roberto Martin

    Professor Doutor do Departamento de Geografia da USP autor de vriosartigos e do livro Fronteiras e Naes publicado pela editora Contexto.

    Fonte: SILVA, Goldbery doCouto. Conjuntura PolticaNacional: Geopltica doBrasil. Rio de Janeiro: JosOlympio, 1981.

    AAAAATIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADETIVIDADE 13 13 13 13 13

    A ALCA (com implementao prevista para 2005) poder se tornar um hipermercado de765 milhes de pessoas com um PIB de mais de 9 trilhes de dlares. A Unio Europiatambm tem demonstrado interesse nesse hipermercado. (O Estado de So Paulo, 20.Jul. 1997.)

    a) O que ALCA?b) Qual a importncia estratgica de sua formao para os Estado Unidos?c) Qual a polmica levantada pelos pases do Mercosul em relao implementao daALCA?

    (Fonte: Vestibular Unicamp)

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    MDULO II

    Fonte: GIRARDI, Gisele; ROSA, Jussara Vaz. Atlas Geogrfico do Estudante. So Paulo, FTD, 1998.

    ANEXOS

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    GEOGRAFIA

    Fonte: CASTELLAR, Sonia; MAESTRO, Valter. Geografia - 8a srie. So Paulo, Quinteto Editorial, 2002.

    Fon te : CASTELLAR, Son ia ;MAESTRO, Valter. Geografia -8a srie. So Paulo, QuintetoEditorial, 2002.