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GEOMORFOLOGIA E ESPAÇO URBANO: UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM DO RELEVO ATRAVÉS DAS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS LUGAR E PAISAGEM Dayane Galdino Brito-ID Bolsista do PIBID, Subprojeto Geografia, Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: [email protected] Josandra Araújo Barreto de Melo Coordenadora da área de Geografia no PIBID, Departamento de Geografia Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: [email protected] Giusepp Cassimiro da Silva Professor Supervisor do PIBID na E. E. E. F. M. São Sebastião. E-mail: [email protected] Resumo Este trabalho descreve e analisa as atividades desenvolvidas através do projeto de intervenção/colaboração desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência PIBID/CAPES/UEPB, realizado na Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental São Sebastião, Campina Grande-PB, abordando o relevo de acordo com os pressupostos do ensino de geografia, utilizando as categorias analíticas de lugar e paisagem apoiado no relevo para articular diferentes componentes, físicos e sociais, no espaço vivido. Teve como objetivo principal proporcionar aos discentes a compreensão de que o relevo exerce influência na organização espacial que está situado, tendo em vista que se origina a partir de fenômenos naturais, mas que o homem é um agente participativo na sua modelagem, pois ao ocupá-lo transforma-o podendo ocasionar inúmeras consequências. Para tanto, o projeto baseia-se na abordagem escalar do mesorrelevo sendo os vales, encostas e divisores de drenagem. A partir da realização das atividades foi observado o interesse dos discentes pela temática, obtendo como resultados o desenvolvimento de um olhar crítico em relação ao espaço urbano, pois está construído e integrado a tais formas, identificando problemáticas e respectivas alternativas. O resultado alcançado com estas atividades confirma-se como estratégia para mudar da visão da Geografia como disciplina “enfadonha”, incentivando o interesse pela construção do conhecimento e a formação cidadã consciente e participativa. Palavras-chave: Geomorfologia, Relevo, Lugar, Paisagem. 1. INTRODUÇÃO A geomorfologia é um ramo da ciência geográfica, cujo objeto de estudo são as formas do relevo terrestre. Porém, além de discuti-las isoladamente, propicia uma articulação com a atuação da sociedade, expressando como tais formas com seus processos, agentes, formas e materiais influenciam na construção do espaço geográfico. Nessa perspectiva, os conhecimentos geomorfológicos são capazes de instrumentalizar os discentes de uma formação cidadã ao promover a reflexão a cerca da realidade de forma crítica, a exemplo, da compreensão de problemáticas como alagamentos e deslizamentos terra advindas das apropriações inadequadas do relevo. Porém, “o relevo foi tratado pelos livros didáticos e pelos professores como algo estanque, desvinculado das relações entre a sociedade e a natureza e da realidade dos discentes” (BERTOLINI; VALADÃO, 2013, p.33). Assim, é um conteúdo geralmente trabalhado em uma perspectiva mnemônica que não leva a reflexão do conhecimento com

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GEOMORFOLOGIA E ESPAÇO URBANO: UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM

DO RELEVO ATRAVÉS DAS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS LUGAR E

PAISAGEM

Dayane Galdino Brito-ID Bolsista do PIBID, Subprojeto Geografia, Universidade Estadual da Paraíba. E-mail:

[email protected]

Josandra Araújo Barreto de Melo Coordenadora da área de Geografia no PIBID, Departamento de Geografia Universidade Estadual

da Paraíba. E-mail: [email protected]

Giusepp Cassimiro da Silva Professor Supervisor do PIBID na E. E. E. F. M. São Sebastião.

E-mail: [email protected]

Resumo

Este trabalho descreve e analisa as atividades desenvolvidas através do projeto de

intervenção/colaboração desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à

Docência – PIBID/CAPES/UEPB, realizado na Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental São Sebastião, Campina Grande-PB, abordando o relevo de acordo com os pressupostos do ensino de

geografia, utilizando as categorias analíticas de lugar e paisagem apoiado no relevo para articular

diferentes componentes, físicos e sociais, no espaço vivido. Teve como objetivo principal

proporcionar aos discentes a compreensão de que o relevo exerce influência na organização espacial que está situado, tendo em vista que se origina a partir de fenômenos naturais, mas que o homem é um

agente participativo na sua modelagem, pois ao ocupá-lo transforma-o podendo ocasionar inúmeras

consequências. Para tanto, o projeto baseia-se na abordagem escalar do mesorrelevo sendo os vales, encostas e divisores de drenagem. A partir da realização das atividades foi observado o interesse dos

discentes pela temática, obtendo como resultados o desenvolvimento de um olhar crítico em relação ao

espaço urbano, pois está construído e integrado a tais formas, identificando problemáticas e respectivas alternativas. O resultado alcançado com estas atividades confirma-se como estratégia para

mudar da visão da Geografia como disciplina “enfadonha”, incentivando o interesse pela construção

do conhecimento e a formação cidadã consciente e participativa.

Palavras-chave: Geomorfologia, Relevo, Lugar, Paisagem.

1. INTRODUÇÃO

A geomorfologia é um ramo da ciência geográfica, cujo objeto de estudo são as formas

do relevo terrestre. Porém, além de discuti-las isoladamente, propicia uma articulação com a

atuação da sociedade, expressando como tais formas com seus processos, agentes, formas e

materiais influenciam na construção do espaço geográfico. Nessa perspectiva, os

conhecimentos geomorfológicos são capazes de instrumentalizar os discentes de uma

formação cidadã ao promover a reflexão a cerca da realidade de forma crítica, a exemplo, da

compreensão de problemáticas como alagamentos e deslizamentos terra advindas das

apropriações inadequadas do relevo.

Porém, “o relevo foi tratado pelos livros didáticos e pelos professores como algo

estanque, desvinculado das relações entre a sociedade e a natureza e da realidade dos

discentes” (BERTOLINI; VALADÃO, 2013, p.33). Assim, é um conteúdo geralmente

trabalhado em uma perspectiva mnemônica que não leva a reflexão do conhecimento com

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base na realidade do aluno e se expressa fragmentado inviabilizando articulação entre

diferentes componentes espaciais para formulação de um verdadeiro raciocínio geográfico.

Desse modo, estes aspectos constituem verdadeiros entraves em relação aos subsídios que

poderia delegar ao ensino de geografia. Além disso,

[...] o ensino do relevo na prática escolar, bem como o das Geociências de maneira

geral, esbarra em dificuldades de muitas naturezas. A despeito das falhas que

perpassam o sistema educacional como um todo, algumas das dificuldades inerentes

ao ensino de Geociências são de caráter essencialmente didático-pedagógico e estão

relacionadas ao domínio de modelos teórico-conceituais por parte de alunos e

professores e a como esses modelos teóricos são ensinados e aprendidos. (Bertolini; Carvalho, 2010, p.59)

Tais aspectos são verídicos, pois o relevo conforme Guerra e Guerra (2008, p.526) ao

definir-se como a “diversidade de aspectos da superfície da crosta terrestre, ou seja, o

conjunto dos desnivelamentos da superfície do globo: microrrelevo, mesorrelevo e

macrorrelevo”, porém sua abordagem no ensino baseia-se prioritariamente no macrorrelevo

composto por planaltos, planícies e depressões, que pela ampla dimensão que assumem e,

portanto, necessitam de elevado nível de abstração por parte do aluno, não permitindo a

compreensão de suas influências no processo de organização espacial e tampouco nas

atividades cotidianas, se tornando um conhecimento supérfluo na ótica dos alunos. Invés

disso, não é dado devida importância nas discussões em sala de aula ao mesorrelevo composto

por vales, encostas e divisores de drenagem que são juntamente as formas apropriadas pela

população no sítio urbano e que resultam diversos problemas na cidade. Segundo Morais

(2013):

É importante que eles sejam analisados de acordo com a cidade onde os alunos

residem e relacionados com outras escalas de abordagem, o que lhes permitirá

compreender que há formas dentro de outras formas, ou seja, há diversas formas no

interiro dos planaltos. (ibidem, p.40)

Assim, a aprendizagem com o mesorrelevo pode sistematizar-se de forma participativa,

tornando os discentes em agentes ativos na construção do conhecimento, haja vista ser as

formas que ocupam cotidianamente e exercem influência em suas vivências. Nesse sentido, o

aluno ao reflita sua realidade com base na compreensão de como o relevo atua na organização

espacial de sua cidade, bairro e rua, principalmente nas problemáticas advindas da ocupação

inadequada, posiciona-se com um olhar crítico, ultrapassando problemas didáticos e

pedagógicos, em consonância com uma educação que se propõe a formar cidadãos.

Mostrando-os que

A geomorfologia está todos os dias em nossa vida. Agente sobe ladeira, desce

ladeira, toma banho de rio, tem medo de afogamento no mar, vê a serra lá por traz

dos pés de tamarindeiro. Vira e mexe o tempo inteiro e vão sendo elaboradas

enormes planícies e construções sobre elas. Assim, há sempre uma mistura

interessante de formas que habitam a nossa visão e vivemos a viagem do alto, do

plano e da depressão. (FERNANDES, 2008, 51)

Nessa perspectiva, prevalece à discussão contemporânea sobre a necessidade de

valorização do espaço, de resgate das conexões e da articulação sociedade, natureza, cultura,

pois a Geografia ainda se expressa dicotomizada. Constituindo-se um esforço de unificação.

Pois, as conexões são possíveis, exemplo da Geomorfologia Urbana (SUERTEGARAY,

2006, p. 32). Neste sentido,

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[...] é muito importante mostrar nos estudos de Geografia da natureza como ela

acontece independentemente das ações de uma sociedade, ao mesmo tempo que se

pode discutir como ela vem sendo modificada pelas alterações ambientais

produzidas pelas diferentes sociedades. No estudo da enchente tomado aqui como

exemplo, é fundamental discutir o significado do sítio urbano e suas relações com a

maneira como a cidade aconteceu e se instalou num determinado suporte da

natureza. (BRASIL, 1998, p.62)

Para tanto, faz uso do conceito de lugar no enfoque da Geografia Humanística, pois o

“[...] lugar significa muito mais que o sentido geográfico de localização. Não se refere a

objetos e atributos das localizações, mas à tipos de experiência e envolvimento com o mundo,

a necessidade de raízes e segurança” (RELPH, 1979 apud LEITE,1998, p.10). Logo, é onde o

indivíduo exerce seu contato com o espaço geográfico, construindo-o e reconstruindo-o

através de seu trabalho carregado de cultura e com base em sua relação com o meio através de

suas experiências vividas. Assim, gera discussões que levam a compreender como o relevo

influi na espacialidade local e a necessidade de considerá-lo para apropriação racional, por ser

o subtrato pelo qual a sociedade se especializa, permitindo aguçar a percepção das interações

da sociedade com o relevo.

Neste espaço vivido percebe-se que o aluno desenvolve mecanismo de apreender o

espaço seletivamente, através de sua experiência de vida. Portanto, a categoria paisagem

refere-se à apreensão do espaço, e esta é construída a partir de sua experiência, ou seja, no

lugar mantendo assim, uma relação intrínseca entre ambas as categorias, como nos mostra

Cavalcanti (2013, p.100):

[...] na formação do raciocínio geográfico, o conceito de paisagem aparece, no meu

entendimento, no primeiro nível de análise do lugar, estando estreitamente ligado

com esse conceito. É pela paisagem, vista em seus determinantes e em suas

dimensões, que se vivencia empiricamente um primeiro nível de identificação com o lugar.

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais,

[...] a análise da paisagem deve focar as dinâmicas de suas transformações e não

simplesmente a descrição e o estudo de um mundo aparentemente estático. Isso

requer a compreensão da dinâmica entre os processos sociais, físicos e biológicos

inseridos em contextos particulares ou gerais. (BRASIL, 1998, p.26 )

Desse modo, sua análise possibilita uma aproximação do entendimento do espaço ao

explorar e refletir os componentes que nela estão dispostos, integrados e construídos

historicamente. Assim, a abordagem do relevo ancorada nesta categoria consistindo o

visualizado no cotidiano oportuniza uma leitura desse componente se inter-relacionando com

demais fenômenos que se apresentam na formulação de uma determinada espacialidade,

rompendo com a fragmentação do conhecimento enquanto marca do ensino tradicionalista de

cunho positivista.

Nessa perspectiva, apresentando como ponto de partida a observação da turma 1º

“A” do Ensino Médio da E. E. E. F. M. São Sebastião, Campina Grande-PB, selecionada para

participar do Subprojeto de Geografia no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à

Docência (PIBID), considerando estes aspectos que constituem verdadeiros obstáculos ao

ensino de Geografia, elegendo o relevo como base para intervenção didático-pedagógica,

enquanto componente físico-natural de expressiva contribuição ao ser abordado conforme o

mesorrelevo no sítio urbano tendo em vista que a realidade da turma se situa nesse contexto,

fazendo uso das dimensões das categorias de lugar e na paisagem representando

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simultaneamente, o espaço vivido e o percebido, como pressuposto para construir uma prática

de ensino participativa com um valor subjetivo para o aluno e integradora dos fenômenos

espaciais em beneficio de uma formação cidadã. Esta dimensão firma o ponto de partida para

fomentar a construção de raciocínios mais abstratos articulando as diferentes escalas de

abordagem.

O projeto de intervenção implementado na turma teve como objetivo que o aluno

compreenda que o relevo terrestre origina-se a partir de fenômenos naturais, mas que o

homem é um agente participativo na sua modelagem uma vez que o ocupa e transforma,

podendo resultar inúmeras consequências, pois as formas exercem influência na organização

espacial da qual faz parte. Como objetivos específicos buscou-se aproximar o conteúdo relevo

para sua realidade; favorecer a construção de uma compreensão espacial; contribuir com a

formação cidadã crítica.

Mediante o exposto, este artigo tem por objetivo principal analisar as experiências do

projeto de intervenção/colaboração desenvolvido no âmbito do Programa Institucional de

Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID/CAPES/UEPB.

2. METODOLOGIA

O presente projeto foi desenvolvido na E. E. E. F. M. São Sebastião, localizada no

Bairro do Alto Branco, na cidade Campina Grande-PB, conforme Figura 1.

Figura 1: Mapa de localização do município de Campina Grande-PB

Fonte: Organizado por Dayane Galdino Brito.

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O recorte espacial da proposta de atuação do PIBID é a turma 1° “A” do Ensino Médio,

no turno da tarde, a mesma apresenta 25 discentes. As atividades do PIBID nesta turma se

iniciaram no final do mês de março de 2015 com a aplicação de um questionário para

identificar o perfil da turma conhecendo as dificuldades que os alunos apresentam em relação

à disciplina de Geografia, além de identificar propostas de metodologias que poderiam tornar

as aulas mais dinâmicas e atrativas. Diante disto, iniciaram-se as atividades de intervenção nas

aulas junto ao professor supervisor. Durante os meses de março e agosto foi desenvolvido o

projeto, considerando a ocorrência de uma greve na Rede Estadual de Escolas da Paraíba e o

período do recesso.

A metodologia proposta foi composta por quatro etapas:

a) Inicialmente, o projeto foi apresentado para a turma. A partir da sequência dos

conteúdos “Litosfera: evolução geológica da Terra”, “Formas do relevo terrestre” e

“Agentes formadoras e modeladores do relevo terrestre”, foram realizadas intervenções

nas aulas ministradas pelo professor supervisor, utilizando o projetor para passar vídeos

e slides contendo mapas e imagens, exemplificando os fenômenos estudados. Além de

aulas discutindo a importância do relevo no cotidiano das pessoas e sobre o

mesorrelevo, fazendo o uso dos recursos didáticos como os mapas e imagens;

b) Em sequência, as turmas foram divididas em grupos, para elaborar cartazes pedagógicos

contendo imagens de vales, encostas e divisores de drenagem, localizando-as e

discorrendo sobre a influência que exerciam em suas vidas; Os mesmos grupos

pesquisaram notícias de jornais na internet sobre alagamentos na cidade cujas temáticas

foram: “alagamentos na Comunidade Rosa Mística”; “alagamentos em Campina

Grande-PB”; “alagamentos na Vila dos Teimosos” e “a cratera na Rua José Branco

Ribeiro no Bairro do Catolé em Campina Grande- PB”. Onde foi feito um círculo na

classe, onde cada grupo discutiu as notícias encontradas abrindo espaços para debates

com os demais colegas e ao término de cada grupo, as notícias foram fixadas em um

mural;

c) Após esse processo de construção de conceitos e reflexões foi realizada aulas de

preparação para aula de campo com a construção de uma carta topográfica do local da

aula de campo e a explicação do roteiro de campo. Aula de campo foi realizada no

Riacho das Piabas na Comunidade Rosa Mística/ Buraco da Jia, para identificar na

paisagem, o papel do componente relevo na organização espacial em questão,

enfocando na influência de tais formas na vida das pessoas que podem resultar em áreas

de riscos, no caso específico uma área propícia a enchentes. Os conhecimentos

construídos no campo e fotografias feitas pelos alunos devem ser inseridos no caderno

de campo de cada aluno;

d) Por fim, entrega do caderno de campo e aplicação de um questionário avaliativo da

intervenção conforme a opinião dos alunos;

Neste sentido, o projeto baseia-se na concepção que os alunos apresentam uma noção

espacial desenvolvida no espaço vivido, tendo por base uma metodologia participativa,

desenvolvida em uma perspectiva fenomenológica procurando construir um ensino e

aprendizagem socioconstrutivista, tendo em vista as suas percepções acerca da influência

destas formas de relevo no ambiente urbano. A pesquisa desenvolveu-se em uma abordagem

qualitativa, tendo em vista os objetivos propostos para a intervenção. Baseando-se em

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revisões bibliográficas e pesquisa de campo considerando o espaço de vivência dos discentes

para abordar o conteúdo conforme as categorias de análise lugar e paisagem.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por se tratar de uma prática inovadora que os discentes nunca haviam vivenciado algo

semelhante, havia receio da aceitação ao dar início ao projeto já que requeria interesse e

participação. Dessa forma, o primeiro dia da intervenção juntamente com o professor

supervisor, fundamentou-se na apresentação do projeto para a turma, mostrando-lhes os

objetivos, as etapas do projeto e os recursos didáticos que seriam utilizados para dinamização

das aulas.

No segundo momento, deu-se início a abordagem dos conteúdos, através de aulas

expositivas e dialogadas, utilizando recursos didáticos como os vídeos, imagens e mapas na

exibição dos fenômenos estudados. Com isso, foi possível mediar aulas mais atrativas aos

olhos dos alunos buscando desenvolver a interpretação através da linguagem visual.

Verificou-se que os discentes passaram a indagar a respeito dos conteúdos abordados, nesse

sentido estes recursos e a metodologia das aulas estimularam a curiosidade e a participação,

constituindo o alcance dos resultados esperados para esta fase de desenvolvimento. Estando

em consonância com as colocações de França (2009):

Certamente, se os recursos didáticos fossem utilizados de forma mais expressiva

durante o processo de ensino-aprendizagem da Geografia, os alunos teriam outra

concepção da Geografia, pois este processo poderia se tornar mais atrativo, porque

somente a utilização do livro didático e do quadro negro não supre toda a carga

visual que o ensino-aprendizagem de Geografia necessita.

Ainda na primeira etapa, a partir da construção de conceitos por parte do aluno com a

conclusão de tais conteúdos, haja vista o estabelecimento de correlações do que foi estudado

com o espaço de vivência, foi lido e discutido com os discentes o texto “Geomorfologia”

retirado do livro Aula de Geografia de Fernandes (2008). Embora, o texto seja direcionado

para graduandos e professores de geografia, por ser bastante didático pela forma com o autor

trata a temática com uma linguagem simples e instigante repleta de articulações deste ramo da

ciência com a sua influência nas atividades corriqueiras da população, adéqua-se à

compreensão cognitiva dos alunos e a proposta do projeto.

Logo após o término da discussão do texto, com a finalidade de estabelecer relações

com a escala de abordagem da cidade de Campina Grande-PB, foi discorrido sobre o Planalto

da Borborema, pois a cidade localiza-se sobre o mesmo, articulando ao mesorrelevo por

serem formas que estão no seu interior, demonstrando as formas que a população ocupa sendo

os vales, as encostas e os divisores de drenagem, utilizando para demonstração a Carta

Topográfica de Campina Grande-PB, além de slides contendo imagens e alguns mapas de

áreas de risco a alagamentos na cidade relacionando com as formas de relevo e o processo de

ocupação. Nessa perspectiva, propiciando a compreensão de que o espaço vivido organiza-se

com base em tais formas associadas a outros componentes espaciais, construindo o que

Cavalcanti (2013, p. 24) chama de compreensão espacial.

A partir disto, os alunos foram divididos em grupos, para fotografarem os vales,

encostas e os divisores de drenagem percebidos na paisagem de seu espaço de vivência, em

seguida construíram de cartazes pedagógicos e apresentaram (figuras 2 e 3).

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Figura 2: Construção dos cartazes pedagógicos

Fonte: BRITO, D. G.(2015).

Figura 3: Apresentação dos cartazes pedagógicos

Fonte: BRITO, D. G.(2015).

Assim, foi permitida a construção de um raciocínio geográfico tendo por base o seu

cotidiano mediante análise da Paisagem, articulando os componentes físicos e sociais,

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resultando de tal construto a transposição de elementos teóricos para a sua realidade, tornando

assim, o conteúdo significativo para o aluno. E assim, compreender que o espaço urbano é

construído e integrado a componentes naturais, e o discente vê-se nesse processo ao torna-se

consciente que no seu bairro ou sua rua existem tais formas que influenciam na sua

organização espacial, e assim influência sua vida. Desse modo, o ensino é orientado a uma

formação cidadã, em que o indivíduo capaz de refletir sobre a necessidade de considerar o

subtrato natural pelo qual a sociedade se especializa em prol da melhor qualidade de vida para

população. Conforme Bertolini e Valadão (2009)

Pensar no relevo em termos geográficos é pensar em como acontece a percepção da

paisagem vivenciada pelos alunos. É aproximá-los das ideias que possuem a respeito

da natureza e das atitudes de cada um em relação ao meio ambiente e, por

conseguinte, contribuir para a formação de pessoas comprometidas com as

preocupações ambientais. (ibidem, p.28)

Posteriormente, os grupos trouxeram as pesquisas sobre os alagamentos, em círculo na

classe, cada grupo explicou as notícias encontradas, abrindo espaços para discussões e ao

término de cada notícia os grupos as fixaram sequencialmente no mural (figura 4).

Figura 4: Construção do Mural de Notícias

Fonte: BRITO, D. G.(2015).

A partir desta intervenção os resultados obtidos foram bastante positivos, ao promover o

desenvolvimento de uma leitura crítica sobre o espaço com base em informações que

cotidianamente estão ao acesso da população, onde os alunos puderam analisá-las sob uma

ótica geográfica e realizar a reflexão a cerca da realidade, permitindo que os alunos associem

a questão do relevo local às formas de ocupação, perfil econômico da população afetada e a

drenagem urbana. Em consonância com as colocações de Morais (2013):

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Reforçamos a ideia de que as temáticas físico-naturais do espaço geográfico são

conteúdos importantes para a formação dos alunos, visto que as problemáticas que

as envolvem fazem parte do seu cotidiano de diferentes formas, seja a partir de sua

vivência imediata, seja a partir dos meios de comunicação, da internet etc.(ibidem,

p.29)

Promovendo assim, o desenvolvimento de um raciocínio abrangente capaz de pensara

realidade, em beneficio da formação cidadã. Além de envolver diferentes componentes

espaciais na identificação de um fenômeno, ou seja, uma atividade que subsidia o raciocínio

geográfico, em oposição à prática reprodutivista e fragmentadora do conhecimento. No caso

específico foi utilizado o relevo como âncora para este constructo e a maneira que sua

influência se manifesta na organização socioespacial da cidade. Pois,

[...]o sistema geomorfológico possibilita uma visão integrada da natureza,

viabilizando o ensino dos conteúdos do Sistema Terra. Este se configura na interface

entre as esferas do planeta: geosfera, hidrosfera, litosfera, atmosfera e biosfera, o

que torna o relevo um conteúdo de convergência das chamadas ciências ambientais.

(BERTOLINI; CARVALHO, 2010, p.59)

A partir destes pressupostos, de reflexões a cerca do ambiente urbano, foi ministradas

aulas com objetivo de preparar a ida ao campo. A princípio, foi construída de cartas

topográficas com os alunos para utilização na aula de campo (figura 5), em seguida a

explicação do roteiro de campo, orientando o que iria ser discutido no local e a explicação do

objetivo da aula de campo.

Figura 5: Construção da carta topográfica do local da aula de campo

Fonte: BRITO, D. G.(2015).

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A aula de campo foi realizada no Riacho das Piabas na Comunidade Rosa Mística/

Buraco da Jia, a escolha por este recorte espacial consiste no fato da comunidade localiza-se

próximo à escola e que parte considerável dos alunos da turma reside na mesma (figura 6). A

comunidade Rosa Mística/ Buraco da Jia situa-se em um vale estreito, a sua formação

socioespacial foi construído relacionado ao relevo como um componente extremamente

relevante, pois a sua historicidade do processo de ocupação, os aspectos socioeconômicos, a

intervenção estatal, formas de apropriação inadequadas, o próprio nome Buraco da Jia, estão

vinculados a este componente. Assim, oferece uma análise in loco a partir da paisagem e lugar

de vivência dos alunos com uma expressiva a temática trabalhada.

Figura 6: Aula de campo na Comunidade Rosa Mística/Buraco da Jia

Fonte: BRITO, D. G.(2015).

A comunidade encontra-se localizada no médio curso do Riacho das Piabas. A

expansão urbana avançou sobre as margens do canal fluvial, consideradas como áreas

públicas de preservação permanentes, protegida por lei. Causando impacto ambiental causado

sobre a rede de drenagem, consistindo em áreas inadequadas, por falta de opções viáveis de

moradia. Em eventos pluviosos é pertinente a ocorrência enchentes. E o tipo de ocupação

naquele espaço foi justamento condicionado pela a localização da comunidade situar-se no

fundo do vale estreito ladeado por relevo mais elevado. (ARAÚJO, 2014, p.37)

Portanto, o objetivo da aula de campo era identificar através da paisagem, o papel

do componente relevo na organização espacial em questão, enfocando na influência de tais

formas na vida das pessoas, no caso específico área de risco propícia a enchentes,

relacionando-o ao demais componentes espaciais, como sociais, políticos e culturais. As

informações discutidas na aula de campo imagens da paisagem foram inseridas no caderno de

campo destacando historicidade do local, os aspectos físicos, socioeconômicos, as formas de

apropriação do local considerando os impactos ambientais. Ao lado da carta topográfica que

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os alunos construíam e imagens de satélite localizando a comunidade na cidade e da

comunidade demonstrando a textura urbana (figura 7).

Figura 7: Cadernos de campo

Fonte: BRITO, D. G.(2015).

Com a aula de campo, foram obtidos resultados extremamente positivos para

culminância do projeto, pois permite que o aluno perceba a Geografia a sua volta, utilizando

um fato geográfico para analisar a paisagem, em uma perspectiva sistêmica integrada e

interdependente das inter-relações das ações humanas a natureza na construção espacial.

Transformando o aluno de um mero figurante para um ator protagonista, por ter seus olhares

de um observado comum transformado em um olhar geográfico, em que o mesmo sua

participação no espaço geográfico.

Isto pode ser mensurado a partir das análises dos relatos dos cadernos de campo.

Observe os trechos extraídos:

“O nome Buraco da Jia está relacionado ao fator relevo, pois está em uma área rebaixada da cidade e a

umidade e a vegetação fez com que esses bichos (Jias) viessem habitar o espaço e o Riacho das Piabas ajudou muito...” (Aluno A).

“A comunidade surgiu na década de 40 por conta do crescimento industrial e econômico da cidade, daí

se tornou um pólo de atração de população, originando uma comunidade carente em uma parte mais

baixa da cidade...” (Aluno B).

“O relevo constitui-se de um vale, com duas encostas decorrentes de um canal fluvial e a planícies de

inundação do riacho” (Aluno C).

“Ocorre no lugar uma ocupação inadequada planície de inundação do riacho ocorrendo inundações e

desabamentos de casas...” (Aluno D).

“As pessoas por não terem um lugar param se abrigar, se refugiam no espaço inadequado perto do

riacho, quando chove essas casas e as famílias são prejudicadas porque inunda.” (Aluno E).

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“Pela lei deveria existir uma área de preservação permanente invés das casas próximas ao riacho...”

(Aluno F).

“Os moradores jogam lixo dentro do canal piorando ainda mais a situação do lugar...” (Aluno G).

Assim, é possível identificar que discentes refletiram o que foi discutido a partir da

paisagem de seu lugar de vivência tendo como ponto de partida o relevo, e materializaram

através da escrita as interconexões entre o fator físico relevo, com os aspectos históricos de

ocupação relacionados o perfil socioeconômico da população, que resultou em uma ocupação

inadequada da planície de inundação transformando-a em uma área de riscos a inundações.

Além disso, é evidente um posicionamento crítico sobre o papel político da ação estatal na

gestão territorial de deveria executar a lei e transformar as margens do riacho em uma área de

preservação permanente e, com isso, realocar a população para uma área com melhor

infraestrutura em prol da melhora da qualidade de vida. Ainda foi possível obter a

demonstração do papel da população no agravamento da problemática local, pois por falta de

consciência jogam resíduos sólidos no canal contribuindo para ocorrência de inundações e,

por conseguinte, os alunos tornaram-se consciente da importância de seu papel na construção

espacial. Assim, foi obtida a parti da aula de campo a formulação de um raciocínio geográfico

coerente com os pressupostos do ensino de geografia. Pois,

O trabalho de campo é instrumento chave para a superação dessas ambigüidades,

não priorizando nem a análise dos chamados fatores naturais nem dos fatores

humanos (ou “antrópicos”). O trabalho de campo deve se basear na totalidade do

espaço, sem esquecer os arranjos específicos que tornam cada lugar, cidade, bairro

ou região uma articulação particular de fatores físicos e humanos em um mundo

fragmentado, porém (cada vez mais) articulado. O trabalho de campo em Geografia

deve perseguir, portanto, a ideia de particularidade na totalidade, abandonando de modo enfático a idéia de singularidade de lugares, cidades, bairros ou regiões.

(SERPA, 2006, p. 9-10)

A carta topográfica que os alunos construíram foi de grande valia para analisar a

paisagem, tendo em vista que foi possível compreender porque a área é susceptível a

inundações, pois ao permitir uma articulação com o visualizado e uma escala mais ampla da

qual a visão não abarca, é possível identificar que pela a comunidade se situar na bacia do

Riacho das Piabas em uma porção de declives muito acentuados da Zona Norte da cidade

marcada por divisores de águas associadas pela impermeabilização do solo urbano, favorece a

ocorrência um fluxo bastante intenso direcionado para áreas menos elevadas. E os recursos

imagéticos do recorte espacial em destaque constituiram grande valiam, para analisar a textura

urbana visualizada nos principais pontos da aula de campo, articulando diferentes dimensões

para compreender os problemas decorrentes do processo de ocupação da planície do riacho e

as decorrentes problemáticas. Estando em consonância com os resultados obtidos por Silva e

Souza (2009).

Ao final da atividade, os alunos tiveram a oportunidade de expressar a opinião quanto à

experiência proporcionada pelo projeto de intervenção do PIBID/CAPES/UEPB, Subprojeto

de Geografia. Dentre os relatos, apresentam-se:

“É legal, diferente e criativo. Pois nos ajudou a apreender e ver que a geografia está envolvida com o

nosso cotidiano...” (Aluno X).

“Muito boa, pois foi uma forma da turma conhecer e explorar mais a cidade e os bairros que acontecem

alagamentos quando ocorrem muitas chuvas entendendo porque ocorrem...” (Aluno Y).

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“A geografia estar muito presente, porque no meu dia a dia, pois posso me deparar com muitas formas

de relevo que originam paisagens diferentes...” (Aluno W).

“O caderno de campo a pesar de ter sido um pouco complicado inserir as informações, foi bem legal,

pois nos ajudou a apreender de forma diferente e ajuda alunos a se interessa mais pela aula de

geografia...” (Aluno Z).

Assim, com o desenvolvimento do projeto, foi possível notar o quanto a experiência foi

válida para a bolsista, o professor supervisor e os alunos que se dispuseram a participar e

demonstraram satisfação com a inovação nas aulas a partir das atividades de projeto. E,

principalmente, o interesse pela geografia e a compreensão de sua importância, constituindo

assim, estratégias para combater as aulas de Geografia consideradas “enfadonhas”.

A partir destas atividades, foi possível estabelecer uma relação entre o ensino de

Geografia e o espaço vivido, alcançando os objetivos do projeto. Os alunos se dedicaram

visivelmente à realização das atividades propostas e foi despertada a vontade de conhecer

melhor a sua cidade. Além disso, as atividades proporcionaram mostrar um lado da Geografia

que os alunos ainda não conheciam, ou seja, eles conseguiram construir o seu próprio

conhecimento geográfico e isto mudou a visão deles acerca da Geografia.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o término das atividades, foi possível constatar que o trabalho obteve resultados

positivos, observou-se a interação dos alunos permitindo a troca de conhecimentos entre os

envolvidos no projeto, além do interesse dos discentes nas discussões a respeito de seu

cotidiano e o envolvimento de todos nas atividades. Durante todas as etapas a turma se

mostrou participativa e interessada em cumprir as tarefas sugeridas apenas no caderno de

campo que encontraram um pouco de dificuldade na inserção das informações discutidas por

constituir uma atividade que os alunos nunca haviam realizado, mesmo assim, os resultados

obtidos foram bastante positivos analisando os relatos do caderno de campo e do questionário

avaliativo do projeto.

Além disso, é pertinente o compartilhamento de experiências durante as atividades,

pois se estabeleceu uma troca de conhecimentos acerca do espaço urbano estudado a partir do

relevo, comum à realidade de todos os envolvidos. Em relação aos conhecimentos

proporcionados pelo conteúdo e pela compreensão a respeito da realidade urbana, foi possível

notar que houve uma melhora significativa no aprendizado e a mudança da visão da geografia.

Constituindo-se uma atividade bastante promissora para o ensino de Geografia, ao promover a

transposição didática para a realidade de seu lugar e a paisagem, onde o relevo foi

considerando como um componente natural capaz de articular diferentes fenômenos na

construção espacial e, por fim, os discentes construíram seu próprio conhecimento geográfico.

Esta prática estimulou os discentes a pensarem o espaço de forma crítica na

identificação de problemáticas e respectivas alternativas, pois foram esclarecidos que diversos

problemas urbanos são resultantes da ação antrópica pela apropriação indevida do meio,

porém muitas vezes são colocados a exemplo pela mídia e pelos representantes das esferas de

governo como fenômenos da “natureza”. Assim, o aluno tornar-se esclarecido e questionador

dessa realidade e passa a cobrar soluções coerentes. Portanto, a formação é caracterizada pela

instrumentalização do pensar o real e suas problemáticas sem alienações, ou seja, a prática

cidadã é beneficiada por contar com a racionalidade. Mostrando-os que através do

conhecimento geográfico é possível compreender a sua própria realidade e que as suas ações a

influência, incentivando uma prática cidadã compromissada e consciente.

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Logo, existem diversos recursos e metodologias que podem ser usados para dar “vida” a

um conteúdo diversas vezes considerado “tedioso”. Pois, é necessário cativar os alunos, visto

que a cada dia, o mundo fora das paredes da escola se torna mais atrativo e é necessário

utilizá-lo nas discussões na aula geografia, já que a geografia deve instrumentalizar os alunos

compreensão do espaço vivido para nele atuar de forma cidadã e racional.

Portanto, o PIBID tem sido uma alternativa inovadora no ensino ao proporcionar que

algumas turmas possam participar de experiências fundamentadas em discussão acadêmicas,

muitas vezes ditas pelos licenciados e licenciados como algo demasiadamente sonhador e

teórico. Porém, ao aproximar às instituições de ensino, universidade e escola a prática de

ensino é aprimorada com o embasamento acadêmico e com a realidade escolar, demonstrando

que é possível para melhorar a qualidade do ensino com todos envolvidos no processo

educativo. Por apresentar o licenciando na formação inicial e o professor supervisor na

continuada para construção de uma prática de ensino com base na realidade escolar e os

problemas pedagógicos que afetam o seu desenvolvimento com as respectivas propostas de

soluções.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio concedido, mediante as bolsas, efetuado pela

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, através do

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID, bem como a toda

comunidade da E. E. E. F. M. São Sebastião, pelo apoio e participação nas atividades

desenvolvidas.

6. REFERÊNCIAS

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