espaço urbano e espaço político - kowarick e bonduki

Upload: gabi-machado

Post on 15-Jul-2015

107 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    1/17

    "DEDALUS - Acervo - FFLCH-FIL

    Andre SingerClara AntLais Wendel AbramoLucio Kowarick

    Milton A. CarnpanarioNabil. BondukiRaquel RolnikSilvio Caccia Bava

    CoN~'f"R.\J(j~ -C>O E& " A < i 0~~f.\)jO - 'L\,)-fA~ " 1 = b a . . . ' ' ' ' ' c AS' e'J()t..uy~ H'~-rOt.\C.A

    ~WPt.". . \C:t ' / 'SoNT:JU\( \AS LUTAS SOCIAlS E A CIDADE

    . . . . ::.. .. .: .,: ..sAO PAULO: PA'SSADO E PRESENTE . . . . ~ .

    2;\edicao revista e atualizada

    SBO-FFLCH-USP . ' . - ..1 1 1 11 1 1 11 1 1 11 1 1 11 ! 1 1! 1 11 1 1 11 I 11 I 11 1 1 11 ~ : .

    233614. ...... .. ... . . . 0 ' .- .

    C E D E C ~~=~~E~VEST1GACIONES DE LAS NACIONES UNIOAS~ PARA EL OESARROlLO SOCIAL

    C e n tr o d e E s tu d osd e C u l tu ra C o n te p o ra n e a

    f f iP AZ E T ER RA

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    2/17

    't ,

    ",t ~ ~ -. ".. ~, .

    . ]4

    5

    Espaco urbano e espat;o politico:do populismo a redemocratiza~ao

    Lucio KowarickNabil Bonduki

    Neste capitulo vamos analisar as principais transforrnacoesurbanas que ocorreram na reglao rnetropolitana de Sao Paulo apartir dos anos 50. Obviamente, a amplitude do periodo e a pro-fundidade das mudancas ocorridas permitem mo-somente resgataralguns poucos processos que marcaram a RMSP nestes anos. 0intento e relacionar as principals macroconjunturas polfticas comas condicoes de vida das classes trabalhadoras e as lutas e reivin-dicacoes que se desenvolveram em busca de beneflcios propria-mente urbanos, fundamentalmente: acesso a terra, habitacao ebens de consumo coletivos.

    Apesar de enormes variacoes, as politicas publicas do pre-1964 foram marcadas por aquilo que pode ser denominado de"laissez-faire urbano", nosentido de permitir as volumosas e cres-centes levas populacionais se fixarem onde e como pudessem nocenario metropolitano, acelerando um padrao periferico de cresci-mente baseado na autoconstrucao de rnoradias em terrenos "clan-destinos" e destituidos de services basicos,

    Deve ser dito de imediato que, a diferenca do que ocorreuno p6s-1964, as massas populares que se aglomeravam nas cida-des nao podiam ser marginalizadas do jogo politico, pois, comosera visto mais adiante, asslm 0 exigiam as priticas populistasimperantes no periodo. Neste contexto, as demandas popularesacerca das carencias urbanas e as respostas governamentais torna-vam a cidade, ou melhor, a cidade onde os 'pobres residiam umobjeto privilegiado da ideologia e da acao polftica. E e tambernneste sentido que se deve captar 0 sentido dos movimentos popu-

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    3/17

    148 L. Kowarick e N. Bonduki

    lares presentes no periodo populista, cujo vigor e energia se em-brenhavam nas benesses prometidas ou propiciadas pelas maqui-nas do Estado.E preciso dize r que 0populismo nao pode ser apenas carac-terizado por processos dernanlpulacao politica, nos quais as ca-madas populares serviram enquanto massa de manobra, elementomeramente passivo na sustentacao do regime e dos dirigentes daepoca , Ao con trario, fundarnenta lmente no decorrer dos primel rosanos da decada de 60, as aglutlnacces populares iriam apresentar,tanto nas cidades como no campo, novo rigor reivindicativo, ad-quirindo maior autonomia em relacao as praticas cooptativas quepermeavam 0 estilo de dorninacao rJopulista. ...

    Com 0 te rmino do assim chamado pacto populista de classes,o golpe de 1964 representou a emergencia de urn poder autorita-rio que, ao controlar e reprimir as organlzacoes populares, trans-formou a metr6pole num locus, mais do que nunca, ditado pelalogica do lucro, investindo massivament7p'a~ ~Ge~: i. l acumula-~ao do capital e privilegiando os estratos mais ricos da 'populacao.Mais do que nunca, Sao Paulo tornou-se uma cidade segregada,po is as polft icas publicas fo ram canal izadas para uma transforma-~ao urbana que beneficiou as camadas de medic e alto poderaquisitlvo, ao mesmo tempo que continuavam a se reproduzir asmultiplas periferias desprovidas de services basicos e em que asfave las, ate entao quant ita tivamente insignificantes em Sao Paulo,passaram a crescer aceleradamente.

    Embora 0 "laissez-faire urbano" cont inuasse a reger a voraci-dade dos agentes Imobiliarios que produziam a expansao verticale horizontal da metr6pole, ganha relevo a acao do planejamentourbano dirigida autoritariamente pelo poder publico - inocuopara contra-restar a especulacao imobiliaria - e que se traduziuno financiamento, com recursos publicos, aos prornotores imobi-llarios, cu]o exemplo mais flagrante foi a atuacao do Banco Nacio- ... ::. .'nal de Habitacao CBNH). Subl inhe- se que a segregacao socio-eco-nomica que se espelhou no cenario metropolitano estruturou-seem uma forma de domfnio poli ti co que procurou ext ingui r os confl i-tos e oposicoes socia is de uma sociedade em que se acirravam oscontrastes entre 0 privilegio de poucos e a pobreza de muitos.

    Por outro lado, na medida em que movimentos socials, lentae fragmentariamente, se reorganizavarn, e em que oeorreram elel-~oes para os postos legislativos em '1974 e 1978, 0 regime Instituf-

    Espaco urbano e espaco politico 149do nao pede mais tratar as iruquidades socials mediante praticaspuramente repressivas, Nao obstante a arrogancia e a impunidadecontinuarem presentes no enfrenta rnento dasrelvindicacoes popu-lares, os governantes da epoca precisaram mudar sua base desustentacao, bus cando 0 apoio popular que, por meio do voto,passou a ser urn instrumento para julgar 0 s is tema polit ico vigentena segunda metade da decada de 70, Assim, enquanto OS movimen-tos operario-sindicais eram mantidos sob rlgido controle, pelas razoesantes referidas, politizou-se a questdo urbana, 'pol s e la tornou-se umpeso ponderavel na ba lanca de deslegit imizacao do regime.

    Tendo em conta este quadro politico esbocado em gran desl lnhas, neste capitulo, vamos ana lisar as princ ipa ls transformacoesurbanas da RMSP. Num primeiro topico, trataremos do perfodo po-pu lista e, em seguida , ana li sa remos a Metr6pole no perfodo p6s-64,tendo em conta, particularmente, os processos de exclusao e se-gregacao que ocorreram no espa~o urbano. Flnalizamos com algu-mas consideracoes que focallzam as principais Iutas socials nosanos',70 e que Indlcarn as caracterfsticas das organlzacoes e mobi-lizacoes populares no decenio seguinte, marcado, como foi apon-tado no Capitulo .I,' por profunda crise economlca que passou aimperar a partir de 1980, quando tambem avanca 0 processo deredemocratizacao do pais. Finalmente, a. vit6ria do Partido dosTrabalhadores CPT) nas elelcoes municipals, em 1988, abre umnovo espa~o para a participacao e mobilizacao popular: seus avan-cos e recuos serao objeto de anali se na parte fina l deste cap itulo.

    IIIIISaoPaulo no pre-1964: populismo e cidadeo periodo cornpreendldo entre 0 fim da decada de 40 e 0

    golpe rnilitar de 1964 marcou a consolidacao de uma serie decaracte ristl cas urbanas novas em Sao Paulo. Entre elas destacamos

    : . :i consolldacao d~ padrao periferico de crescimento urbano, a in-tervencao do Estado na questao urbana e da habitacao, a substi-tui~o do sistema de transporte coletivo baseado no bonde peloonibus, 0enorme acrescimo do mimero de vefculos decorrente daImplantacao da industria automobilfstica em territ6rio nacional ,com a consequente estruturacao das cidades em funcao destemelo de transporte, a rapida e massiva renovacao das edlflcacoesgerada pela verticatilizacao e por novas formas de intervencao dos

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    4/17

    150 1. Kowarick e N. Bondukiempreendedores e, f inalmente, 0 surgimento dos movimentos po-pula res nascidos das cont radlcoes geradas por estes processos.

    A consolidacao do padrao pefiferico de crescimento urbanofoi de grande importancia, pois gerou uma solucao habitacional- baseada no trinomlo loteamento periferico/casa propria/auto-construcao - que em Sao Paulo representou a principal opcao demoradia encontrada pelos setores populares ate os anos 70, que,como foi detalhado no Capitulo 4, viviam durante a decada de 40em meio a uma grave crise de habitacao.!

    A 16gica que regia esta solucao habitacional e que a reali-mentou por varies decenios foi deoorrencia da crise de moradiasdo periodo do pos-guerra e do intenso fluxo migrat6rio para SaoPaulo, que permaneceu sempre elevado, gerando enorme massade trabalhadores ansiosa por obter moradia - por mais preciriaque fosse -' que lhegaranttsse abrigo a baixo custo e livre dasconstantes arneacas de despejo, Baseados nesta disposlcao, estestrabalhadores se conformavarn a, sem medir sacriflcios, habitar emloteamentos distantes, de diffcil acesso e praticamente sem ne-nhum equipamento urbano, alern de edificarem eles mesmos -ou contratando urn pedreiro'para ajuda-los - suas moradias nashoras livres, na perspectiva de obterem a "casa pr6pria".2

    Os loteadores, por sua vez, levando em conta esta aspiracaopopular, tracararn uma estrategia capaz de proporcionar-lhes urnsobrelucro estupendo, ao comercializar lotes tipicamente ruraispara desempenharem funcoes estritamente urbanas.f Ademais,continuam adotando - agora em larga escala - a tradicional econhec ida prat ica especulat iva de lotear areas pione iras, de ixandoterrenos ou glebas ociosas dentro dela e entre ela e a manchaurbana ja ocupada. Assim, lotes situados em zonas pioneiras po-diarn ser vendidos em prestacoes compativeis com os salaries dostrabalhadores , induzindo, nesse processo, a va lorizacao de glebasremanescentes na area, que posteriormente seriam vendidas porurn preco signi ficativamente mais a lto .

    A emergencia deste padrao de crescimento s6 pode se darnum quadro em que 0 poder publico - entao governado porpoliticos populistas - deixou de exercer sua funcao de fiscaliza-~ao e controle sobre a expansao urbana e a edlficacao de mora-dias, posto que tanto os loteamentos abertos na area perifericacomo as casas ali construidas eratn clandestinos no sentido dedesrespeitarem os pad roes minimos exigidos pela leglslacao urba-

    Bspaco urbano e espaco politico 151nfstica e c6digo de obras. Por outrolado, uma superficial avalla-~ao dos resultados que a abertura indiscriminada de loteamentosdispersos, rarefeitos e nao equlpados traria ao planejamento futu-ro da met r6pole , ja no infcio dos anos 50 , demonst rava que 0poder publico jamais poderia, a curto e medio prazo, servir estesassentamentos populares de services e equipamentos coletivos in-dlspensaveis a vida urbana, tais como agua, luz, esgoto, pavimen-tacao, transportes e outros servicos.basicos para a vida nas cidades .A prefeitura tinha total conhecimento do que significava aabertura destes loteamentos. Sabia que nao tinha condicoes nemrecursos para urbaniza-los, tal a extensao da mancha urbana queprovocavam.t Longe de nao prever 0 que estava acontecendo,eram frequentes os alertas que, na epoca, os pr6prios tecnicos daprefeitura faziam sobre os prejuizos que tal modalidade de expan-sao urbana traria para Sao Paulo.f Nao se pode, portanto, afirmarque estes novos loteamentos eram simples mente bairros esqueci-dos , como entao .s~.dizj, !, . 01.} . -que houve "ausencia de planejamen-to", como sefaz re ferenc ia 'hoje : aO'perfodo em estudo. yia rea llda -de, fechar os olhos ao surgimento destes loteamentos e depoisesquecer sua existencia fazia parte de uma estrategta dos orgaospublicos para arrefecer a crise habitacional que, no periodo dopes-guerra, assumia aspectos explosivos, alern dZ beneficiar osinte ress~s dos proprie tari es de terras e loteadoresj/Significat lvo e 0recado que 0governador Ademar de Barros manda em 1947 apopulacao pobre: "podern construir suas casas sem planta que aprefeitura fecha os 0Ihos".6 Num momento em que a iniciativaprivada deixou de investir em escala signlflcativa na construcao demoradias populares, 0 poder publico - que passou a ser respon- .sabilizado pelo suprimento deste bem de necessidade social ..+' '..pode, gra~as a expansao .do padrao peri ferico, de ixar de cana llzarrecursos para a construcao de moradias populares .

    Em que pese 0 faro de a producao ..de .~da.d.e~ habitacio-nais financ iadas com recursos publicos ter estado -muito :a'quem deatender as necessidades nos grandes centros urbanos brasileiros e,em particular, em Sao Paulo, deve ser destacado 0 fato de 0 Esta-do brasi lei ro ter assumido, durante 0 periodo populista, a tese deque a questao da moradia era urn problema a ser resolvido social-mente pelo governo. Com base nesta prernlssa, que ja vinha sen-do formulada desde 0 Estado Novo 0937-45), a acao dos Institu-tos de Aposentadoria e Previdencia ( lAPs) foi intensificada, durante 0

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    5/17

    '.' .

    I I :. ' 152 L. Kowarick e N. Bondukiperiodo Dutra (1946-50), aumen tando-se a producao habitac iona loflcial. Ao mesrno tempo, e criada, em 1946, a. Fundacao da CasaPopular (FCP) - primeiro orgao em nivel nacional encarregado,exc!usivamente de equacionar, nas suas multiplas facetas, 0 pro-blema habltacional , orgao de ambic iosos obj etivos e insigni fican-tes resultados? Algumas iniciativas da prefeitura e do governo doEstado rambern pouco acrescentaram quantitat ivamente a produ-~o oficial, de modo que a "solucao periferica" tornou-se a unicaque podia atender a crescente demanda por moradia que a metro-pole , em portentosa expansao industri al , exig ia.

    A consolidacao desta solu~o,~ntretanto, pressupunha ou-tros requisitos urbanos, 0 principal dos quais era a montagerndeurn sistema de transporte coletivo baseado no 6nibus. A viabiliza-~ao do padrao periferico somente pode se dar na escala descritacom a criacao de minimas condicoes de deslocamento entre osnovos loteamentos e os locals de trabalho, sem 0 que ser ia impos-sivel habltar as novas areas plorreiras, Para tanto, a expansao dotransporte coletivo base ado no onibus era indispensavel . 0 bon-de, meio de transporte coletivo majoritario ate 0 final da decadade 40 seria inviavel e nao rentavel numa estrutura rarefeita, espar-sa e de baixa densidade como a periferica, pois, alern de suportra jetos fixes e di retos, .exigi ria um grande investimento em trilhose tracao eletrica previamente a sua circulacao.o sistema de transporte coletivo baseado no onlbus, ao con-trario , nada requer senao o proprio veiculo, Pode realizar trajetostortuosos destinados a servir loteamentos esparsos, viabilizandoeconornicamente llnhas que atendem a periferia. Por outro lado, aconcessao de !inhas de6nibus a empresas particulares propiciouurna jun~ao de inte resse entre e rnpresa rios de onibus e loteadores,de grande utilidade na vtabtllzacao da ocupacao dos loteamentosperifericos e de extrema Importancia na ac~lera~o do processode especulacao imobillaria. Durante a decada de 50 estas transfor-macoes do quadro de transportes coletivos se consolidam em SaoPaulo, 0 que e facilmente perceptivel quando atestamos 0 fa to deque, em 1966, as empresas de onibus particula res ja transportavamtres quartos dos passageiros urbanos, porcentagem que em 1948nao superavaI2,6%.

    Espaco urbano e espacopolitico 153Tabela 1

    Sao Paulo - Dtstrtbulcao dos DeslocamentosUrbanos por Meiode Transporte Coletivo

    CMTC Orubus TrensAno empresas suburbiosI Bonde Onibus particulares1948 52,2 31,0 12,6 4,21951' 37,6 37,7 20,9 3,81956 30,8 40,4 22,4 6,41961 7,9 17,5 68,0 6,61966 2,4 15,5 75,7 6,4

    Fonte: Velze, 1968.

    A RMSP, como foi apontado no Capitulo 1, consolida-secomo p610 industrial mais importante do pals, escolhido para ser asede da industria automobiHstica e dos setores fabris dinamlcos, 0ufanismo das classes dominantes - Industrials, comerciantes, poli-ticos - contagia os meios de comunicacao e ganhaa classe media."sao Paulo nao pode parar", "Sao Paulo e a cidade que mais cresceno mundo", "Sao Paulo, 0 maior centro industrial da America lati-na" sao slogans que estaoern toda parte e que justificam qualqueriniciatlva tida como progressista. Dernolir, passar as plcaretas noque e velho - mesmo que s6 tivesse 20 anos - el progresso: e 0nascer dos arranha-ceus, 0afa do progresso e da modernidadeordena e justifica 0 processo de transformacao das areas urbanasmais consolidadas, regido pelos incorporadores e pela especula-r;::aoImobiliaria. 0 autornovel, simbolo maximo do sucesso, que ja

    , tinha sido 0grande privilegiado da reforma urbana que 0prefeitoPrestes Maia implantou nas decadas de 30 e 40, passa definitiva-mente a ser 0 senhor das ruas e avenidas, ordenando alargamen-tos e demolicoes e exigindo crescentemente recursos publlcospara viabilizar sua clrculacao,

    Para 0trabalhador que estava sendo despejado e expulso -"pelo progresso" - de sua moradia situada em bairro central ebem servido de equipamentos urbanos, para 0 rnigrante que vinhai

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    6/17

    I- !154 L.Kowarick e N. Bondukiprocurar 0 "progresso", a "cidade que nao podia parar" reservavaum loteamento sem agua, sem luz, com ruas Intransltaveis. 0 pro-gresso e 0 moderno terminavam nas longas e intermlnaveis mas'de 6nibus das pra~s Cl6vis ou do Correio, na zona central C Iacidade, i luminaelas pelo neon da Coca-Cola, do Acucar Unlao e doJeep Willis. A partir .dai, era a espera, 0 6nibus lotado, 0 barro, aluz de vela e a agua de poco contaminada.

    Deve ser dito que, embora 0 poder publico investisse naviabll lzacao do processo de acumulacao capi tal ista , ,a s carac te rfst i-cas do populismo entao vigertte impediam que fossem totalmentedesprezadas as necessielades dos setores populares, sendo estauma das contradlcoes da pol it ica brbana deste periodo. E nestecontexto que emergiram os movimentos populares nos bairros pe-rifericos de Sao Paulo. Nascidos das necessidades minimas e con-cretas dos novos loteamentos, estes movimentos surgem em de-correncia do padrao periferico de crescimento urbano. Ser pro-

    . . _ . Pfi.e~rj9 ,de uma casa na peri feria tornou-se uma aspiracao que

    .' ' era'realizada'pela familia autoconstrutora, mas a obtencao de ser-vices e equipamentos basicos dependia de um esforco coletivoque agregasse os moradores dos bairros desprovidos: dispor deservices minimos que fazem 0 urbano diferir do rural passou,entao, a ser percebido como direitos bdsicos de cidadaniaporparte de moradores das periferias desprovidas que se aglutinavame lutavam por beneficios publicos. Isto porque apontar 0 Estadocomo '0 responsavel pelo suprimento destes seivicos tornava-segraelativamente a concepcao corrente, poi s 0discurso populi sta seauto-atribufa 0 dever de atender a populacao pobre da cielade.

    A relacao que se estabelece durante 0p~!1?do popul ista en-tre, de um lado, a prefeitura e os politicos que dominaram seusaparelhos e, de outro, os setores populares organizados na perife-ria e nova na hist6ria de Sao Paulo. E urnarelacao quase semprebaseaela numa f>GlitiGl. d,ie~t~li .slf. .de . troca, na barganha entre ob-tencao de melhorias para 0 batrroe (, apoio eleitoral, sem quefosse colocada em questao a ordem poHtica,' social e economicaque diferenciava as condlcoes de vida das distintas classes sociaise dos bairros que eles habitavarn." Assim, para 0 movimento debairro, priorizar uma reivindicacao, organizar um memorial e umaba ixo-assinado - que mostra quant ita tivamente a forca eleitoral dosre ivindicantes - e encaminha-Io via .poll ti cos ao poder publico passaa se r uma pci ti ca comum que se genera li za nas zonas perife ricas.

    Bspaco urbane e espacopolitico 155Esta pcltica e a relacao que se estabelece entre os setores

    populares e 0Estado nos anos 50 sao substancialmente dife rentesdaquelas que ate entao existirarn em Sao Paulo. Ante rio n nente,como ja analisado no Capitulo 3, em funcao de forte influenciados anarquistas nos movimentos populares,' durante a "RepublicaVelha", tal pcl tica era sequer cogi tada, vi sto que slgnifi caria 0 re-conhecimento e a legitimacao do Estado, quando 0 que teorica-mente se propunha era destrui-lo. Depois, durante 0 periodo di ta -to rial de Vargas, 0 governo se fechou a qualquer relvindicacaopopu!a..r nascida independentemente do aparato oficlal por elecriado para representar os trabalhadores, tais como os sindicatosoficiais e dernals orgaos do Ministerio do Trabalho. Enquanto aquestao trabalhista era reconhecida e oflcializada pelo Estado var-guista, que regulamentou as condicoes da exploracao do trabalho,a problematica urbana da peri feria emergen te cont inuava ignoraelae mantlda fora do corpo de preocupacoes governamentais queapenas destacou a questao do inquilinato como vimos no Capitulo4. 0 que vigorava era 0 que designamos de "laissez-faire urbano",inclusive porque os invest imentos estatai s em Sao Paulo estavam,durante 0 Estado Novo, concentrados nas transformacoes viariasda area central, para onde grande parte dos recursos disponiveis"para obras publicas foi canalizada. Foi no periodo do pes-guerra,com a redemocratizacao e a necessidade de incorporar as massasurbanas no processo politico, que surgiram as condlcoes propiciasa ernergencia dos movimentos populares que, embora guardandocerta autonomia reivindicativa, passararn a ter no Estado sua refe-rencia mais importante. Apesar de social e economicamente ex-clufdas e politicamente subaltemizadas, elas constituirarn, pormeio do voto, uma das bases de legitimacao das fonnas de dornl-nacao entao vlgentes.? : preciso afirmar que na formacao destaconcepcao de movimento-reivindicatorio foiImportante a contri-buicao do Partido Comunista do Brasil (PCB) na sua fase legal(1945-47). Os cornunistas ,foram 0 primeiro grupo politico a detec-tar os loteamentos perife ricos como locus privilegiado para a for-macae de uma base de apoio ao partido. Assim, impulsionaramnesses loteamentos a formacao de dezenas de Comites Democrati-cos e Populares (CDP), que, em geral, constituiarn-se nos micleospioneiros de organizacao local, capazes de sentir os problemasconcretos e encarnlnha-los ao poder publico.'? A partir dai, forja-ram-se aglutinacoes que detectavam e priorizavam os problemas

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    7/17

    I-l

    ,I

    156 1.Kowarick e N. Bonduki

    de peri feri a, cr iando uma t radicao re ivindicato ria e desenvolvendoformas de luta e de organizacao que passaram a ter no Estado 0seu marco referendal; ernbora a pratica dos comunistas revelasseboa dose de instrumentaliza~ao ao fazer das necessidades concre-tas da populacao uma via para afirmar ~.consolidar suas propostaspoHticas de carater mais estrategico, (A repressao que atingiu 0PCB e os CDPs ap6s 1947, entretanto, nao fez refluir estes movi-mentos, nem a mobillzacao dos moradores. Ao contrario, gerandooutras formas organizativas -, prindpalmente as Sociedades Ami-gos de Bairro (SABs) -, este tipo de movimento tendeu a crescerna mesma proporcao em que cresci, aceleradamente a aberturade loteamentos desp rovidos de qualquer melhoramento urbane. Aparti r dar, e a dinamlca propriamente populista que perrneia osmovimentos populares da periferia. )

    Exemplar, neste sentido, foi Janio Quadros, que ja no seumandato de vereador (1948-51) percebeu a importancia politico-eleitoral dos moradores dos bairros desprovidos e de suas Qrg~1!i~ .:.zacoes nascentes. Denunctando' as condlcoes dos lotearnentos pe-" . .rifericos no plenario da Camara e estando em permanente contatocom as liderancas dos bairros e das SABs, ele logrou formar cur-rat s ele ltorals fle is a sua llderanca carisrnatica, Sua surpreendentevit6ria na eleicao para a prefeitura em 1953, esmagando podero-sas rnaqulnas governistas e os grandes partidos (PTB, PSP, PSD eUDN) por dois tercos dos votos, e indicador clare) da forca eleito-ral que uma politica clientelista de atendimento as periferias pode-ria construir naquele periodo. Na curta gestae de Janio na prefei-tura, crescimento das SABs foi signlfi ca tivo, general izando-se aconcepcao de que, para progredir, urn bairro precisava ter umaSociedade de Amigos. Em 1954, Janio elege-se para govemador, no-vamente apo lado fumemente pe las SABs e pe lo voto das perife rias.

    Se , compara tivamente ao periodo pos-1964 , durante 0 popu-lismo os nlvels salariais dos trabalhadores consegulrarn se manterpor conta do pacto de classes entao vigente, malgrado perdas queocorreram em alguns anos, em termos de qualidade de vida urba-na tudo leva a crer que as condicoes pioraram, por conta, sobretu-do, da consolidacao do padrao periferico. Entretanto, souberam ossetores populares encontrar formas de reivindicar .e obter pelomenos parte das melhorias urbanas que necessitavam, sobretudoem funcao de viver-se nuin regime democratico-liberal no qualelelcoes relativamente livres eram a via de acesso ao poder. Neste

    157spaco urbane e espaco politicosentido, a manutencao docontrole dos alugueis ate 1964, emboraprovocasse efeitos negatives na producao habitacional privada,pode ser destacada como uma conquista dos setores medics epopu_lares, garantida pela necessidade que 0 governo federal tinhade angariar apoio e le itora l e pol it ico .

    Finalizando este topico, torna-se necessario reafirmar que ascarnadas populares nao foram meros expectadores do' jogo politi-co do periodo populista. Fundamentalmente a partir da renunciade Janio Quadros it presidencia da Republica, ocorrida em 1961,abre-se uma conjuntura de crescente instabilidade politica, acom-panhada por uma crise econornica que iria se aprofundar, gerandourn clima de crescente insatisfacao e desconflanca por parte dosgrupos dominantes quanto it legit imidade do regime. E neste con-texto de acirramento de posicoes quanta aos destin os do pals queas diversas forcas sociais comecararn a se estruturar em campos dereivindicaq6es opostos.

    Esses processos iriam se radicalizar a partir de 1963 e, neste.. . sentido, vale ressaltar- qne, entre as Reformas de Base apregoadas

    pelo governo de Jango Goulart, alern das nacionalizacces de al-guns setores basicos da economia.vda questao sindical e agraria,destacava-se tambern um projeto de Reforma Urbana, formuladono "Seminiriode Habitacao e Reforma Urbana" realizado em 1963com 0 apoio do governo federal. Tal projeto propunha transfor-macoes legals e substantivas bastante slgnificativas no sentido decombate r a especulacao lmoblli ari a e de equacionar a questao 'urbana e habltacional, tais como, entre outras, a criacao de limita-q6es ao direito de propriedade e de uso do solo, a permissao dadesapropriacao de terras urbanas sem exigencia de pagamento itvis ta em dinheiro, 0 estabelecimerito de uma politica de locacaoque relacionasse 0 valor 4 0 . aluguel com a renda familiar e acriacao de urn imposto de habitacao, que taxasseas transacoes e

    ... . -neg.od.o~ iip.o.biH~riC?s,!ornecendo recursos de uma politica habita-donal popular. Afimde expllcitar a dirnensao que a ReformaUrbana adquire, no quadro politico da epoca, vale citar que:

    no dia seguinte ao comicio de 13 de marco de 1964 0presi-dente [".l queria assinar imediatamente 0 decreto de tabe la -mento dos alugueis, pols sentira - e expressao textual -que a anunciacao de que ja estava pronto 0 tabelamento dosalugueis bauia arrancado muito maior entusiasmo, deliria

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    8/17

    158 L. Kowarick e N. Bonduki

    mesmo, do que os temas de reforma, inclusive a agrdria L..]Nao se falava em outra coisa no Rio, Sao Paulo, Recife eoutras grandes cidades.v'Outras medidas que visavam implementar a Reforma Urbana

    estiverarn em pauta nos ultimos tempos do governc Goulart,como, por exemplo, a criacao da Supurb , Superintendencia de Poli-tica Urbana.Po desenrolar destes acontecirnentos e por demais conhecidopara ser aqui retornado, bastando recordar a enorme reacao quesemelhantes propostas provocaram nas camadas dominantesque vlarn estas reformas como intentos de comunizar 0pai s. Seudes enlace , em 1964,representou 0 auge e a derrocada de urn rolvariado de mobilizacoes baseadas tambern nos interesses popula-res. Em termos da poHt ica nac ional 0golpe de 1964 representou 0fim do pacto populista de classes. No que se refere a polftica urba-na, l ivre do julgamento eleitora l, 0 poder publico pode abandonardefini tivamente os bairros per ifer icos para investir prior itar iamentena formacao de uma infra-estrutura de apoio a expansao indus-trial. Eliminando, do ponto de vista da expansao capltalista, umadas contradlcoes essenciais do periodo popullsta, viabilizouuma rernodelacao da cidade em funcao de crit erios disc ricionariose excludentes. Isso, certamente, gerou uma nova qualidade deconflitos urbanos que, devido ao autoritarismo entao instalado, s6iria explodir no final da decada de 70. '

    SaoPaulo no poS-19p4: cidadee segregacao soclo-espaclalNo Capi tulo I foram apontadas as profundas transformacoes

    advindas com 0golpe militar de 1964. Elas se traduzirarn na oligo-polizacao da economia, bern como na crescente importancia dopapel do Estado, enquanto sustentaculo desta nova modalidadede acumulacao de capital, que se processou em detrimento dospadroes de reproducao da maioria dos trabalhadores, medidostanto em termos salariais como mediante servlcos e equipamentosnecessar ies a vida urbana.

    Estas mudancas espelharam-se, de modo particular, no cena-rio. da Grande Sao Paulo, sede do assim chamado "milagre brasi-

    Espaco urbano e espacopolitico 159[eire": tendo por finalidade a maximizacao do lucro, permeadapor polit icas nit idamente e liti st as e excludentes, irnprirruu-se a Me-tr6pole urn padrao de modemizacao que agudizou a tradicionalsegrega\;ao s6cio-econ6mica ja existente em perfodos anter iores.As polft icas urbanas, cujo exemplo mais fl agrante e 0 Banco Na-donal de Habi tacao (BNH), refiet iam 0 autor itar ismo entao vigen-re, cuja suposta neutralidade tecnocra tica acabava por beneficiaros estratos de renda media e alta. Estes foram os compradores demoradias em areas bem providas de infra-estrutura e beneflciararn-se dos_demais bens e sevicos produzidos pelo setor publico eprivado, pois s6 eles poderiam consurnlr a enorme riqueza geradanum quadro decrescenteconcentracao de renda.

    Neste sentido, cabe ressaltar que Sao Paulo, a partir de 1965,passou a se r obj eto de intensos investimentos que remodelaram 0espaco urbano de maneira. radical. Expressao disto e 0conjuntode polfticas colocadas em pratica a partir da adrninistracao FariaLima (1965-69) , que originou imimeras vias ~~p're~sa, pontes, via-dutos, alargamento e abertura de novas avenidas, destmado a criarum sistema vlario capaz de receber uma frota que aumentou, numperiodo de 30 anos, de 160 mil vefculos na capital em 1960 paramais de 3,6 milhoes, Sob este prisma, tarnbem ha que insistir naext rema violencia imperante na cidade: recordi sta mundial de vit i-mas fatais em acidentes de transite, em 1991 morreram 29 pessoaspara cada 10000 .habitantes, 60% correspondendo a at rope lamen-to de pedestres, proporcao quase 3,5 vezes maior que a imperanteem Nova York e 8 vezes superior a existence em Toquio.13JEqua-cionadas para dinamizar a producao de mercadorias do setor pri-vado da economia, as inversoes publicas seguiram uma logtca quemodelou urn sistema viario voltado para 0 transporte individual,enquanto 0 t ransporte publico permanecia obsole to e moroso. As-sim, de um lado, 0 automovel particular, cuja media de ocupacaoe 1,5 pessoa por vefculo; de outre, os 6nibus ou trens -de.SI.lblj.r-: .... : . ...bio, onde imperam os atrasos, a superlotacao, os pingentes e, as' :vezes, a furia das depredacoes. Em 1967, ocorreram 7,2 rnllhoesde deslocarnentos diaries na Regiao Metropolitana de Sao Paulo,montante que, em 1977, subia para 21,4 milhoes e 10 anos apos,para quase 30 milhoes de via g ens cotidianas. Vale ressaltar que,neste decenio, diminuem re lativamente as vlagens feitas em trans-portes coletivos, ao mesmo tempo que aumentam os deslocamen-tos realizados a pe: antes eram 5,4 milhoes de pessoas e, no final

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    9/17

    160 L. Kowarick e N. Bonduki

    dos anos SO, passam a ser 10 ,6 milhoes, correspondendo a 36%dos percursos realizados diariamente na Metr6pole. Isto e devido,fundamentalmente, ao aumento no preco dos transportes combi-nado com a queda dos salaries, flanto e assim que cerca da meta-de da populacao pobre camintla em direcao ao trabalho ou aescola, enquanto somente 1 5% das camadas mais ricas 0 fazern.fElernento b:isico para a mao-de-obra vender sua. forca de trabalho,o transporte de massas representa enorme desgaste para milhoesde pessoas que, entre as horas de labuta e as de deslocamento,gastam 1 3, 1 4 ou ate 1 6 horas por dia.

    Como ja apontado, a parti~ dos anos 50 , 0 transporte demassa, .fundamentalmente 0 onibus, permitiu a periferizacao dostrabalhadores que passaram a construir as suas pr6prias casas.Este processo se acelera ap6s 1964, impulsionado pelo arrochosalarial e pela intensificacao da especulacao imobiliaria, num pe-riodo de acentuado crescimento industrial _eexpansao da metro-

    _.polizacao. E!Uface dos salaries imperantes, 0acesso ao lote pro-._ 'prio s6 se : rnostrava vlavel onde a terra Fosse destituida de ben-

    feitorias. Na medida em que a valorizacao do pres;:o da terra, emgrande medida, decorre dos investimentos que 0 Estado injeta noespaco urbanO,este .acaba por vedar 0 acesso dos trabalhadoresas glebas que recebern benfeitorias: publlcas, ao mesmo tempoque garante ganhos extraordinarios a seus proprietaries.

    Asdlficuldades para a aquisicio de urn terreno pelos trabalha-dores sao crescentes, sobretudo, a partir de meados dos anos 70. Defato, enquanto 0 valor do salario minimo se reduziu em cerca de60% entre 1959 e 1990 , 0 preco do metro quadrado de terreno, nesteperfodo, .~~mentava em 2,5 vezes." De toda forma, a "casa propria"continua sendo a forma preponderante de habitacao popular naGrande Sao Paulo, 0 que ja nao mais ocorre no municipio da capital,onde a moradia autoconstruida constitui urn sonho que, conforme

    '.' . : . _.. __.mostramos no Capitulo 2, esta cada vez mais dificil de realizar.A fim de se visualizar melhor esta modalidade de moradia,

    vale a pena detalhar alguns process os a ela inerentes. Inicialmen-te, cabe indicar que as formas de construcao da moradia variarn,mas, na maior parte dos casos, 0 encargo recai sobre a familiaautoconstrutora. Tanto e assirn que a metade das pessoas envolvi-das nesta modalidade habitacionql na Grande Sao Paulo declaranao tel' utillzado mao-de-obra rernunerada.l'' Isto e necessario por-que sao poucos os que tern recursos para planejar 0 andarnenro

    Espaco urbane e espaco politico 161da obra de modo a assalariar trabalhadores de maneira regular.Confeccio1cia mediante tecnicas rudimentares, este tipo de pro-d~~o de moradias supoe, de urn lado, a ampllacao da ja normal-mente extensa jomada de trabalho, bern como 1enda de ferias,"blcos" e outros expedientes necessaries para obter recursos, a fimde levar adiante a sua construcao. Mas, alem disto, implicatam-bern urn tempo d~ trabalho suplementar na construcao cia mora-dia, na sua arnpliacao e constante reparacao. Esta labuta no can-teiro de obras nao ,e, obviamente, urn trabalho excedente. , istosim uI!l.sobretrabalho gratuito que serve para produzlr urn meiode subsistencia: este trabalho extra, retirado do que ironicamentese chama de "tempo livre", e urn tempo necessdrio a sobreoiuenciaurbana que decorre do fato de a rernuneracao obtida ser extrema-mente baixa, f6rmula que exclui os trabalhadores do mercadoformal de moradias e obriga-os a construi-las, isto no caso depoderem ou quererern escapar dos cortices ou das favelas.

    Sem duvida, a moradia autoconstruida, quando comparaciacom a condicao de locatario, apresenta vantagens, pois os nao-proprietaries estao numa situacao de maior vulnerabilidade quan-do ocorrem doencas, acidentes ou desemprego, problemas quefrequentemente afetam boa parte dos trabalhadores. A grandevantagern cia casa propria reside na possibilidade de:

    libertar-se cia despesa com moradia alugada, que pesa enorme-mente no custo de vida da familia trabalhadora. Significa, porfim a possibilidade de moldar a casa segundo os desejos dafamil ia , incorporando trabalho e recursos que se cristalizam emum bem que se valoriza a favor do morador-proprietario.l/Estas afirmacoes nao visam negar a espoliacao inerente a

    autoconstrucao. Consegue realiza-la quem dispoe de energia ffsi-ca para dobrar a jomada de trabalho varies dias por semana a fimde conseguir uma sobra que permita realizar paulatinamente aobra. Consegue realiza-la quem diminui as despesas basicas in-clusive as de alirnentacao e quem dispoe de braces na familiatambern submetidos a estes processos.l"

    Por todas estas razoes, autoconstruir uma moradia constituiuma .~refa nem sempre realizavel: os sacrificios inerentes paraadquirir um lote e erguer uma casa em bairros desprovidos, aslongas e caras horas gastas nos transportes coletivos sao processos

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    10/17

    . .

    162 L. Kowaricke N. Bondukique impedem ou desestimulam penetrar neste longo e temerarioempreendimento. Nao e por outra razao que ja durante a segundametade dos anos 70 aumentou 0 numero de moradores em corti-cos e favelas.Alern do cortico - cuja analise ja foi desenvolvida no Capi-tulo 2 - a favela constitul outra forma extremamente precaria demoradia, que se tomou quantitativa mente express iva em Sao Pau-lo num momento em que ainda imperava acentuado crescimentoeconomlco, Sem entrar em pormenores, convern reafirrnar .que 0contingente de favelados aumentou de 1,1% da populacao da ci-dade em 1973 para 7,7% em 1987. 0 que representa, nestes 14anos, urn crescimento de 1031%, enquanto 0 incremento doshabi-tantes de Sao Paulo, neste periodo, foi de 610/0.19Com excecao da gestao Janio Quadros (1985-88), na decada deSO,as politicas munidpais nortearam-se no sentido de nao remocaode favelas. Aocontrario, houve urn empenho de melhorar os padre-es de urbanizacao, fornecendo alguns services e equipamentos basi-cos. Boa.paite'dos :l'gtome(.!qos passou, assim, a-representar uma ...solucao definitiva de moradia, 0 que explica a rnelhoria em alguns . . .padr6es de habitabilidade: de modo crescente, 0barraco de madeiracede lugar a casas com paredede alvenaria, a agua encanada englo-ba 92% das habltacoes, situacao que, em 19SO,atingia apenas 15%das unidades espalhadas pelas favelas de Sao Paulo.

    Mas nao ha que exagerar .nestas melhorias: as favelas estaosituadas, frequenternente, a margem de corregos, em terrenos comgrande declive, onde e acentuada a erosao, muitos nucleos sujei-tos a inundacoes ou mesmo a desabamentos: nelas se aglomeramas fatias mais pobres da populacao paulistana, vivendo em mora-dias cuja media nao atinge 30 m2, em flagrante sltuacao de.avllta- ...mento de saude, quando se tern em conta que a superflcle mediados barracos e de 5,70 m2 por habitante: como ja apontado noCapitulo 2, a Organizacao Mundial de Sande considers como limi-te rninlmo 10 m2 por pessoa. Na~ ' 6 b s t i n t e ' ; e ' t i $ moradores seremmajoritariamente migrantes, grande parte ja esta na favela ha va-rios anos, 0 que indica que ela nao e urn estagio provlsorio, especiede trampolim para melhores situacoes de vida. Ao contrario, as pes-quisas apontam que muitos chegam as favelas depois de ter vividoem condicoes habitacionais melhores, fenomeno agravado no per-curso des anos SO pela queda salarial e aumento do mimero dedesempregades, pela disparada do preco dos alugueis e as crescen-

    Espaco urbano e espaco politico 163tes dif iculdades de ingressar na autoconstrucao da casa pr6pria:"cerca de 34% dos chefes tiverarn outra alternativa habitacional. 0tipo de moradia anterior a favela revelou a trajetoria desses favela-des na cidade, sugerindo fi ltracao descendente desses segmen-toS".20

    E precise enfatizar'que num contexto em que proliferem ascasas autoconstrufdas, favelas, cortices e demais formas de aluguelem residencias precirias, a COHAB,companhia publica municipal dehabitacao, cuja finalidade e de financiar moradias para-as-r:lr'iu1iascom rendimentos inferiores a 5 salaries mfnimos mensais - que nacapital engloba cerca de dois tercos da populacao -, desde suafundacao em 1965 produziu ate 1991 apenas 109 milunidades: nume-ro irrisorio,pois, como se acabou de apontar, so 0contingente que seaglomera nas favelas de Sao Paulo supera em multo 0 mimero dosmutuarios financiados por esta companhia publica de habitacao.E importante ser destacado que 0 longo e exc1udente perio-do que se abre em 1964 precisa ser matizado em diferentes con-junturas, a primeira delas ocorrendo com as elelcoes de 1974,. quando 0 partido da oposicao consentida - 0MDB - obternslgnificativa vitoria para os cargos de representacao parlamentar,fenomeno que iria se tomar ainda mais significative no pie i to de1978. Apesar de .autorit:irio e marginalizad0!i..pelo menos no ambi-to do Estado de Sao Paulo, as regras do dOrnfnio poli tico estavarn- como sera analisado adiante - sob crescente pressao tanto porparte do movimento operario e popular quanto por outros grupose entidades da sociedade civil, Igreja, imprensa, entidades profis-sionais e culturais e, obviamente, a oposicao politica, que lutavam,cada uma a sua maneira, para a derrocada do regime. Em outrostermos, 0 govemo estadual, que permaneceu nas maos da ARE-NA, depois transformada .em PDS, ate 1982, nao podia mais igno-rar as reivindicacoes da populacao que, paulatinamente, desde osanos 70, se articulavam e ganhavam expressao social; mesmo por-que precisaria do veto popular para veneer as elelcoes e, paratanto, necessitava alterar 0 carater excludente das politicas publicas,Isto explica certa preocupacao com os problemas socials que aflora-yam de maneira explosiva, entre os quais 0 problema habitadonal ea assustador surto da mortalidade infantil no inicio da decada de 70.A criacao de urn programa de sanearnento, que a partir de1975 melhorou significativamente a proporcao de dorrucilios servi-dos par rede de agua e esgoto, reduzindo as taxas de mortalidade,

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    11/17

    164 L.Kowarick eN. Bonduki

    e as novas atitudes em relacao as favelas, que deixa.rar:n ~e serpercebidas pelo poder publico como nucleos de. crurunahda~eque precisam ser controlados e extirpa~os do. cenario urbano,. saoexemplos destas tentativas de renovacao, cujo escopo era buscarnovas formas de cooptacao e sustentacao politi ca., Contudo, a tecnica geral continuava sendo nao so a re-pressao aqueles que constestavam a ordem instituida, mas tam-bern uma postura politica que nos seus resultados mais .amploscontlnuava altamente elitista e discricionaria. Neste sentido, tal-vez mais do que nos outros charnados setores sO.ciais, a poll.ti~habitacional do regime militar baseou-se na logtca da maxirru-zacao do lucro, pois, ao mesm6 tem~o que s~r:'ia de vig~rosodinamizador da acurnulacao de capital, propiciava tambem aespeculacao imobillaria que se tornou ~ fonte ~a fabulosos ne-g6cios. Sem sombra de duvlda, a BNH produziu mudancas ra-dlcais no sistema finance ira publico e privado, bern como pro-piciou a modernlzacao e concentracao das empre~as do ram~ .de construcao civil. Financiando 4,5 milhoes de unidades habl- ....tacionais que conjuntamente com outras obras iriam. ~lterar 0perfi l das cidades bras ileiras, 0 BNH foi urn fator decisivo p~~aprofundar as iniquidades socials: dos enormes recursos m~~lh-zados pelo Banco que provern da arrecadacao sobre os salanos,o Fundo de GarantiaporTempo de"Servi\;o (FGTS): ape~as16% do investimento total diriglram-se para as farnflias cUJ~srendimentos atingiam ate 5 salarios mfnimos. Esta segregacaotorna-se ainda mais patente quando se tern em conta que doconjunto do Sistema Financeiro de Habitacao (SFH), cujos re-cursos advern do FGTS e das Cadernetas de Poupanca, foramcanalizados tao-somente 4% de suas vultosas Fontes para estesestratos mais pauperizados da populacao,o contraste entre zonas bem equipadas, onde moram osgrupos de rendimentos medio e alto e as vastas regioe~ periferi-cas onde habita a populacao pauperizada, espelha ao nfvel urba-no o mesmo fenomeno que ocorreu nos locals de emprego, ondeaviltaram-se as condicoes de trabalho e rernuneracao. Trata-se deuma polltka que, baseada no controle e repressao ~ agl~tin~\;oesda sociedade civil , fundamentalmente part idos pohtico~, . s lndicatose associacoes de bairro, excluiu a maioria dos beneffcios do de-senvolvimento, processo que ocorreu de modo singular, entre1968 e 1973, na epoca do assim chama do "milagre brasilei ro".

    Espaco urbano e espaco politico 165Exemplar neste sentido e a evolucao da taxa de mortalidade

    infuntil . Em Sao Paulo, bern como no Brasil , a mortal idade de crian-~ com meno:> de 1 ano veio decl~ando apos 1940 .. ~o~tudo,esta tendencia inverte-se em 1966, aClrrando-se no quadneruo quevai de 1970 a 1974, quando registra-se um salto deste indicadornao so de qualidade de vida, como da propria vida, pois ele voltaa se situar a niveis semelhantes aos anos que se seguem a Segun-da Guerra Mundial (veja Grafico 1). Quando se tern em conta queem 70% dos cas os a mortalidade infantil esta associada a fatoresambientais, basicamente a ausencia ou rna qualidade da agua e asubnutr i~io, pode-se avaliar 0 significado deste fehomeno tardio eexploslvo: em Sao Paulo de 1950, 61% dos domicilios eram liga-dos a rede de a g t J ; 3 . , proporcao que em 1973 cai para 56%, en-quanta a parcela de domicflios conectados a rede de esgoto man-tinha-se em tomo de 35%.21 Como ja mencionado, esta situa~oval alterar-se a partir de mead os dos anos 70. Tanto e asslm que

    . ... no .fmatdo decenlo seguinte, .apesar. de variacoes significativas na. ~eSuhirittade do fomecimento de : agua , atirigindo em algumas

    areas perifericas, em media, apenas 16 horas por dia, a coberturada rede alcanca atualmente quase a totalidade dos domicilios dacapital. No tocante a rede de esgoto, se ela abarca 65% da popula-o do municfpio, e de ressaltar que mais de 80% do materialcoletado recebe tratamento insuficiente ou simples mente e lanca-do ao ceu aberto, poluindc corregos e r ioS.22'p~roxismo de urba-nlzacao predat6ria: proveniente de milhoes de pontos da maiormetr6pole da America do Sui, na Represa Billings, 0maior reser-vatorio potencial de agua da RMSP, sem contar as liga~6es clan-destinas sao lancados 10 m3 de dejetos- e.~etritos por segundoocasion~ndo nefasta contamina~ao ambiEmtat. ' ' .,

    Finallzando esre topico, convern apontar para novas formasde segregacao socio-espacial que surgiram no cenario da cidadenos ultirnos anos. .Umade; sua. e~r.ess6es esta no lancarnento deedificios residenciais de alto padrao, com 4 ou mais dormitorios,representando, entre 1986 e 1991, nada menos que 27% do totalde apartamentos colocados a venda no mercado paulistario.O Ine-dito na sua magnitude, este fenomeno reflete urn novo modo demorar adotado pelas camadas ricas. Trata-se, na verdade, de umaforma de defesa em face da violencla que se alastra em Sao Paulo:parte das mansoes e trocada por apartamentos de alto luxo, ondeo item essencial reside nas viseiras e casamatas controladas por

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    12/17

    166 L. Kowarlck e N. Bonduki

    segurancas que vigiam entradas e saldas, chamadas "socials" oude "service", mediante sofisticada aparelhagem audiovisual.

    Gcifico 1

    TAXADE

    MORTALlOAOE

    140IJO120

    IIU

    '00

    '08 07 06 0 AW ~ " - ' 0 - - - - - - - - - - I - " G - - - - - - - - - - 1 - 9 6 0 - ' - I - - ' - ' - S - ' - 7 - 8 - ' - 7 - P - ' - ' - ' - ' - S - 6 - - 7 ~ ~

    fOtf~ DlEESE

    Municipio de sao..PauloEvolucaoda taxa de mortalidade infantU por 1 000 nascidos vivos

    Por outro lado, como ji mencionado no Capitulo 2, houveaumento relative de populacao pobre nas areas centra is do muni-cipio, enquanto nas regi6es perifericas dimlnuirarn proporcional-mente os grupos mais pauperizados. Contudo, este fenomeno naoretrata uma melhora no padrao de .vida da populacao que habitaas zonas limitrofes de Sao Paulo. Ao contrario, a deterioracao dosrendimentos tambern afetou os estratos remediados que tiverarn

    Espacourbano e espacopolitico 167

    abandonar as areas centrals da cidade e comprar ou alugarrnoradias em zonas mais perifericas, caracterizadas por certa con-solida9iio e melhoria urbana.

    Para usar uma f6rmula sirnplificada: nao mais predominamregi6es residenciais exclusivas de classes medias ou pobres,podendo-se dizer, desta forma, que houve diminuicdo per-versa da segregadio socio-espacial; pols 0 achatarnento dosnfveis de rernuneracao, que afetou parcelas de ambos osestratos, fez co~ que eles se aproximassem em varios espa-90sO a cidade.iOs moradores de favelas e cortices, somados com aqueles

    que habitam em loteamentos clandestinos ou construfrarn suas ca-sas de maneira ilegal do ponto de vista da leglslacao urbana,constituem a imensa maioria da populacao de Sao Paulo. E ailegalidade ou clandestinidade em face de urn ordenarnento {Uljdi-. .co-institucional que, ao desconhecer a realidade 56cio-economldda maioria, negao acesso a benefidos basicos para a vida na cidade.Nao se trata apenas de perversidade inconsciente de tecnocratasbem-intencionados. Trata-se de urn processo socio-economico epolitico que produz uma concepcao de ordem estreita e excluden-te e, ao faze-lo, decreta urna vasta condlcao de subcidadania.

    Esta discrimlnacao e segregacao nao e importante apenaspor irnpulsionar a acumulacao capitalists mediante uma especiede mais-valia absoluta urbana. Esta concepcao de ordem e tam-bern importante para fundamentar uma forma de controle social epolitico por meio da vistoria da vida privada das pessoas: 0 mun-do da desordem potencialmente dellnquente, e jovem de tez mo-rena ou escura, mal vestido, de aparencia subnutrida. De prefe-rencia nao porta ou nao tern carteira de trabalho e mora noscortices das areas centra is ou nas favelas das periferias. Sobreestas modalidades de moradia, 0 imaginario social constr6i urndiscurso, esquadrinha a mistura de sexos e idades, a desorganiza-9ao familiar, a moralidade duvidosa, oshabitos perniciosos, olhan-do estes locais como focos que fermentarn os germes da degene-rescencia e da vadiagem e daf 0passe para a criminalidade. Ouseja: a condicdo de subcidadania enquanto morador urbanoconstitui forte matriz que serve para construir 0 diagn6stico dapericulosidade. Pessoas com as caracteristicas antes assinaladas

    '. ........

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    13/17

    "

    168 L. Kowarick e N. Bonduki

    sao frequenternente humilhadas, maltratadas, espancadas, presas,torturadas ou assassinadas pela policia que, como ja mencionado,em Sao Paulo de 1991 matou 1074 pessoas, muitas delas semantecedentes criminais.

    Sao Paulo: nas trilhas dagestaodemocratlca da cidadeComo os capitulos finais deste livro irao aprofundar, seriaerroneo pensar que, nos periodos rnais repressivos do infcio dos

    anos 70, trabalhadores e moradores deixaram de abrir espacos deluta sobre um variado campo de reivindicacoes, Este perfodoconstituiu, de fato, um momento de rearticulacao das organizacoespopulares, no qual parte delas renasceu norteada por novos prin-cipios: rejeitava as pratlcas clientelisticas tradicionais e a submis-sao ao Estado. . .

    t'Nestes aI16s conheciCtds: como "de resistencla" e que se es-tendern ate 1978, a forte vigilancia e, repressao impediam qualqueracao de maior envergadura dentro das fabricas, enquanto os sindi-catos, fortemente controlados e reprimidos, encontravam-se literal-mente paralisados. Neste contexte a periferia, como locus de mo-radia por excelencia dos trabalhadores, tornou-se 0 espaco dearticulacao de micleos de. crgaruzacao popular. Em bairros ondenao faltavam problemas concretos em termos de carencias-urba-nas que mobilizassem passaram a surgir iniciativas que visavamretomar a luta nas fabricas: a resistencia popular nasce, portanto,fora dos locais de. ~~b~~~/Contudo, deve ser enfatizado queestas aglutinacoes -nao foram apenas um "substituto" as organiza-~6es Fabris e slndicais, que tiveram uma razao de ser enquantoestas estiverarn controladas e reprimidas. Ao contrario, a luta em

    . . '" . .. ' . ' . tomb 'de .reivlndicacoes propria mente urbanas forjou um fluxo im-portante demobillzacoes que aglutinava imimeros e variados gru-pos excluidos dos beneffcios do desenvolvimento economico eurbano, denunciando ao mesmo tempo 0 carater elitista do regi-me, que relegava a periferia a ultima das prioridades. Movimentospara obter agua e esgoto, pela melhoria dos transportes, pela cons-trucao de creches pipocararn em multiples locals da RMSP. Departicular importancia foi 0 "Movimento Contra 0 Custo de Vida",que aglutinou dezenas de milhares de pessoas num processo cres-

    "Espaco urbano e espacopolitico 169

    cente que reunia Imimeras entidades e organizacoes, bern como aluta pela "regularizacao dos loteamentos clandestinos" que reali-zou, s6 em 1979, mais de 300 reunioes com moradores de cente-nas de loteamentos perifericos.

    Este conjunto de mobilizacoes, alern de suas finalidades es-pecfficas, contribuiu na luta mais geral contra 0 regime militar,marcando a presenca popular na oposlcao politica, fencrneno queganhava maior visibilidade publica nos auges conjunturais dosanos 70,..influenciando e sendo influenciadas por processos maisamplos, como as eleicoes de 1974 ou 1978 au 0 diversificado evigoroso movimento que iria redundar na anistia politica obtidaem 1979.

    Mas nao s6 as grandes mobilizacoes importam neste proces-so de reconquista da cidadania. Importam tambern as pequenas elocalizadas aglutinacoes que -despontaram em imimeros pontos ci aGrande Sao Paulo; grupos e associacoes de, varias ordens e mati-zes discutiam as.condlcoes espoliativas da vida cotidiana, pressio-nando, de moltiplas forrnas, os poderes publlcos e tprjando, nesseprocesso, uma consciencia de exclusdo que articulava reivindlca-~oes entre os moradores de lmimeros bairros da periferia da Me-tr6pole: naquela epoca, em grande parte devido a acao da IgrejaCat6lica, por meio das Comunidades Ec1esiais de Base (CEBs)

    . clubes de maes, grupos de jovens e outras articulacoes, as pessoaspassaram a se reconhecer, a perder a.medo de pensar e agir, e deforma ainda ernbrionaria e fragmentada comecaram a esbocar umcampo de resistencia e de organizacdo popular/> Estes process os,baseados numa lenta idenrlflcacao de problemas que afetam 0cotidiano das pessoas, foram gerando agrupamentos e, sobretudo,despertando uma consciencia de insubordinacao que se colocavacontra 0autoritarismo vigente. alastrava-se urn sentirnento de opo-si~ao e de revolta, experimentavam-se formas variadas de resisten-cia e de reivindicacoes,' fragmentadas e parciais, mas que em mui-to iriam contribuir para as acces de desobediencia civil: greves,passeatas, ocupacao de terras, depredacoes e inumeros tipos demanifestacoes, organizadas ou espontarieas, que, a partir dos anosfinais da decada de 70, passaram a desafiar abertamente a repres-siva ordem institufda.

    A decada de 80 inicia-se com um quadro substancialmentediverso. Como resultado deste processo de crescimento das forcas

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    14/17

    170 1.Kowarick e N. Bondukide oposlcao, em que ocupararn papel Importante as mobilizacoespopula res dos bai rros perife ricos e as grandes greves metahirgicasdo fim dos anos 70, 0 regime militar e obrigado, sob risco de perdero controle da sltuacao politica, a adotar uma estrategia de aberturadernocratica que palidamente vinha se esbocando desde 1974 -lenta, gradual e controlada - mas que absorve algumas das pro-postas da oposlcao. A revogacao dos atos institucionais, a reorga-nizacao par tidaria, a anist ia polit ica, a convocacao de eleicoes diretaspara os govemos estaduais foram, entre outros, processos queabriram novas perspec tivas para os movimentos soc ia is.

    Neste sentido, a c riacao do Partido dos TrabalhadoresCPT)recolheu em boa parte os frutos deste trabalho de rearticulacaodas organlzacoes populares antes descritos, que rejeitaram fazerparte de antigos esquemas politicos que sempre se utilizaram dossetores populares urbanos como massa de manobra e fonte delegltlmacao. As concepcoes que, nos prirn6rdios ou no "perfodoherolco", regeram a fo~~ao' do' .Pt: ' I ! a . .;Jrande Sao Paulo -:-baseada na ideia de urn partido de massa," construido de baixopara cima e de fora para dentro, colado nos rnovimentos socials,mas garantindo-lhes autonomia, em que a dlrecao pertencesse aosproprios trabalhadores e que estivesse desligdda dos antigos dog-mas que regiam os partidos da esquerda ortodoxa - jamais pode-riam ter germinado se os proprios setores populares nao estives-sem previamente organizados pela base e impregnados daquiloque chamamos "consciencia de exclusdo e insubordinacdd', gera-dos no periodo mais repress ivo da ditadura militar .

    Malgrado 0 enorme avanco em termos de conscientizacao epolitizacao que este processo trouxe no seu bojo, nao devemos,entre tanto, exagerar e superestimar a forca quant it ativa desta novaconcepcao politlca, A sociedade brasileira dos prim6rdios dosanos 80, mesmo nas grandes regioes metropolitanas, era comocont inua sendo a inda muito pouco estruturada ern -o rgan tsn ios-po-pulares capazes de interferir autonomamente na esfera polltica."Neste sentido - nao obstante os desacertos cornetidos pelo PT, epelas ass im chamadas "autenticas do PMDB" - e preci so ser ditoque os movimentos sociais, mesmo tendo presenca marcante nocenario publico, organizam efe tiva rnente uma parce la minori tari a,da populacao, fazendo com que as concepcoes defendidas porestes agrupamentos partidarios tenham grandes dificuldades de seenraizarern de mane ira mais ampla. Isto talvez explique por que,

    Espaco urbano eespaco politico 17 1nas ele i~6es de 1982, 0 PT mal atingiu na Grande Sao Paulo 15%dos .votos, e dots anos ap6s 0 velho estilo po pulista , revivido na. f i g u r a demag6gica e' patetica de Janio Quadros, sai vitorioso nacontenda ele itora l, e legendo-se, com vasta votacao tarnbern advin-da das peri ferias, p refel to de Sao Paulo.

    Por outro lado, torna-se necessario enfatizar tarnbern queestes avances na conquista de espacos dernocrati cos nao impedi-ram que, na primeira metade dos anos SO , as condicoes de vidana regtao metropol itana de Sao Paulo se agravassem signifl cat iva-mente emIuncao da crise econornlca, da recessao e do desernpre-go que atingiu todo 0 pats e particularmente os poles industria ismais desenvolvidos do Cent ro-SuI. Acuados por urna poli tica de rea-justes salariais defasados do aumento do custo de vida e, emespecial, do custo da alimentacao, pelo desemprego ou por amea-~a e ainda pela repressao e pela intervencao que atingiu os setoresmais organizados do novo sindica li smo, os trabalhadores sent iram napele're' n o estornago as consequencias da poli tica econornica postaem prati ca pelo regime em transicao da di tadura para a "abertura".Em termos das questoes urbanas, esta conjuntura trouxeurna serie de fatos novos que marcou a Metr6pole neste perfodo,entre os quais se destacam as invasoes/ocupacoes organizadas deterra, os saques e outras manifestacoes dos desempregados, osqlle~)!~-quebras de onlbus, as acoes espontaneas contra os atropela-mentes , alern dos rnovimentos de favelados e, obviamente, as greves.

    As invasoes/ocupacoes organizadas de terra surgem a partirde 1981, marcando urn novo quadro da situacao habitacional em

    .: S.aD.Paulo, no qual para os trabalhadores de baixa rernuneracao e" .- "cach' vez mais dificil adquirir urn lote periferico e ingressar no

    longo e desgastante processo da autoconstrucao. Ao mesmo tem-po que a "opcao periferica' fica mais distante, 0 desemprego e :aqueda do sa lario real impossibi lit am 0 dispendio mensal com 0aluguel, levando milhares de pessoas a terern que encontrar umasolucao habitacional que nao implicasse qualquer custo moneta-r io . As favelas , ocupacoes espontaneas de terra, que ji vinhamcrescendo significativamente em Sao Paulo desde meados da de-cada de 70, tornararn-se insuficientes para abrigar uma grandemassa de trabalhadores sem outra opcao de moradia. E neste qua-dro que as invasoes/ocupacoes organizadasde t erra ganham gran-de impulso revelando urn grau de mobilizacao e organizacao po-

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    15/17

    172 1.Kowarick e N. Bonduki

    pular anterionnente desconhecido nas lutas urbanas de Sao Pauloe que somente pode surgir em funcao da existencia de nucleos deaglutinacao popular nos bairros perifericos formados no periodoanterior em boa parte impulsionados pela acao das CEBs.26

    Este processo teve seu momenta de maier intensidade em1987, quando cerca de 50 mil familias participaram da ocupacaosimultanea de dezenas de terrenos e glebas ociosas, publlcas eprivadas. Embora apenas pequeno eontingente eonseguisse nelas,pennanecer, esta mobilizacao levou ao fortalecimento do chama-do Movimento dos Sera-Terra, que passou a existir em todas asregloes da cidade ease articular, am nfvel municipal, na Uniao deMovimentos de Moradia. 0 conflito entre a Uniao e as admlnistra-coes municipal e estadual marcou a segunda metade dos anos 80,epoca em que 0 crescimento da luta por moradia ocorreu simulta-nearnente ao refluxo de outras acoes reivindicativas. '

    . A admlnistracao Janio Quadros (1986-88) caracterizou-sepelo carater autoritario, tanto na relacao com os movimentos so-ciais como na gestae da cidade. Interrompendo a interlocucaocom as organizacoes populares, praticada com limitacoes no pe-riodo Mario Covas 0983-85), Janio nao s6 reprimiu manifestacoes,como implantou uma politica habitacional que negava a funcaosocial da terra urbana, baseada na remocao de favelas das areasnobres de Sao Paulo. Esta gestae privilegiou 0 investimento emvaries megaprojetos, com custos excessivamente elevados para oscofres publicos. Em contra partida, como se vera no capitulo final,os setores sociais - educacao, saude, habitacao e transporte -foram relegados.

    Com 0 objetivo de estirnular 0 mercado imobiliario privado,a adrninistracao janista tentou, sem muito ,sucesso, liberalizar alegislacao de uso do solo, sobretudo 0 zoneamento, e, sem sepreocupar com a preservacao do meio ambiente e do patrimoniocultural, desenvolver projetos de renovacao urbana. Estas inlciati-vas, propostas de modo arbitrario, sem debate com a sociedade,ocasionararrrreacoes e protestos de entidades profissionais e daoposicao politica, levando a articulacao de movimentos ligados a squest6es ecologicas e culturais, apolados em setores da classe media.

    A surpreendente eleicao de Luiza Erundina, que tomou pos-se no inicio de 1989, abriu uma nova fase na relacao entre amunicipalidade e as movimentos socials, em particular os de mo-radia, que se mobilizaram intensamente na sua campanha. 0 go-

    Espaco urbano e espacopolitico 173verno do PT inverteu as prioridades, paralisando parte significativada s grandes obras iniciadas no pen??o .anterior, que c~m~rome-tiam inteiramente as flnancas muruclpals. Passou a pnorizar os

    teres socials, recuperando ou eonstruindo escolas, postos dese leti . t i n ' dsaude e hospitais, subsidiando 0 transporte co etrvo e inves 0,como nunca, na habitacao popular. ,

    A [ntervencac da prefeitura, no entanto, nao conseguiu evi-tar uma drarnatica queda na qualidade de vida dos trabalhadoresde renda baixa e media, provocada tanto pela politica economicaeeessiva do governo Collor, que ocasionou, como ja apontado:m capitulos anteriores, 0 aumento do desemprego e dimi~ui~aodos salaries, como pela reducao de investirnentos Federals nasareas socials e dos repasses de recursos parao municipio.

    Com relacao aos movimentos socials, foi significativo 0 cres-cimento das aglutinacoes ligadas a moradia. Este foi estimuladopela politica de habitacao, que desenvolveu, num amplo processode partlclpagao, ~i:.o.g,ram~scom a regulariza~a~ da posse da_terranas favelas, a cbnstr:u~~ de casas por mutlrao ~,q.utogesta.Qf. ~Intervencao em cortices e a suspensao das acoes de reintegracao deposse das areas municipals ocupadas nas favelas ja consolidadas.

    o empenho em manter permanente interlocucao entre go-verno e sociedade eontribui para ampliar a visao dos movimentos.Sem perder sua autonomia, eles ganharam maior realismo sobreas limita~5es da acao governamental, compreendendo melhor osintrincados mecanismos burocratlcos da administracao e os imen-50S limites financeiros que, dificultarn a resposta as relvindlcacoespopulares, Sinal importante deste amadurecimentq foi a campanhade coleta de 800000 assinaturas para apresentar ao CongressoNacional urn Projeto de Lei de iniciativa popular, coma finalidadede criar urn Fundo .Nacional de Moradia: proposta pelo movimen-to de rnoradia d~ Sao Paulo, esta campanha desenvolveu-se emface da constatacao de que.seriam necessarias out':l~ fontes pa@financiar a polftica de habita~~o ctesei'ivolviCla.pela prefeitura. 0movimento avancou, portanto, de urn patamar de reivindicacoesimediatas, para a formulacao de propostas mais amplas, que visa-yam alterar as politicas publicas. Por outro lado, 0 desenvolvirnen-to de programas baseados na autogestao, em que as associa~6e.scornunltarias sao responsavels pelo gerenciamento de ernpreendl-mentos habltacionais, tarnbern contribuiu para consolidar as orga-nlzacoes populares na perspectiva de tornarern-se, para alern da

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    16/17

    174 L. Kowarick e N. Bondukia~ao reivindicatoria, uma instancia de gestae coletiva nao-estatal,Os movimentos avancam, assim, na sua polltizacao, mas ainda demodo bastante fragil, posto que ela em pouco transborda 0 estrel-to quadro de suas lide rancas.

    Hi que se frisar tarnbem que pouco se viabilizou no sentidoda criacao de canals Institucionais de participacao popular, 0 quedemonstra a dificuldade de implementar uma das principals ban-dei~s do Partido dos Trabalhadores. Malgrado avances em algu-mas politicas setoriais, como na saude, educacao e habitacao, aadrninistracao s6 conseguhrcoiocar em pratica mecanismoscon-vencionais na gestae da cidade, Reproduzlu, apenas, formas deconsulta a populacao, como plenaria~ e audlencias publicas.vinsu-ficientes para a arnpl lacao e redeflnicao dos espacos de cidadania.

    Apesar da inexperiencia e perplexidade dos periodos ini-dais, dos conflitos entre 0 PT e a administracao, dos imirneroserros cometidos, da existencia de ferrenhos adversaries em nivellocal e nacional' e dos imirneros problemas que caracterizarn "SaoPaulo, talvez seja possivel afirrnar que, em nenhum outro mornen-to da hist6ria da cidade , os movimentos sociais tiveram tantaspossibil idades para apresentar suas propostas e tentar viabil iza-las,Havia profundas oposicoes entre os movimentos e os aparatosdecisorios da prefe itura , mas parece tambern ter havido 0ineditoempenho de reconhecer as divergencias e aceitar 0 conflito comoparte integrante do processo de administrar os problemas presen-tes no cotidiano de Sao Paulo. 0quanto isto ira contribuir naconsolldacao d~ uma gestae dernocratica da cidade, apenas 0 tem-po ici responder.

    Notas

    1. Em 1940, apenas 25% dos domicilios paulistanos eram ocupadospor seus proprietaries, taxa que se eleva a 37,5% em 1950 e queultrapassa os 50% em 1970 (clados censitarios do IBGE: 1940/1950/1970).2. "Um operario adquire um te rre no; ele mesmo abre um poco

    depois do service, compra os tij olos [...J Em poucos domingos a casase levanta pelos barrancos da V. Matilde, V. Esperanca, V. Guilhermi-na . Sao as 'casas dominguei ras', as rnesmas que t remem com a venta-nia" (Correio Paulistano, 11/08/1946).

    Espaco urbano e espacopolitico 175hi igua, nem luz , nem transporte , mas intransit avei s, Vi lae um bairro abandonado. Nem talvez na mais remota das

    do interior poder-se-ia imaginar uma localidade tao assoberbadadific::ylclaof!s. bairro possui cerca de 1000 casas" (Hoje, 22/02/1947).Em 1947, dos 4834 logradouros (ruas e pracas) conhecidos do

    .\'fiWLU,,"'.P'V de Sao Paulo, apenas 976 (20,1%) eram pavimentados, 677arborizados , 1 750 (36,4%) abastecidos de agua encanacla, 1 680tinham ilumlnacao publica, 1937 (40010) erarn servidos de ilu-

    mIIIa\,

  • 5/13/2018 Espa o urbano e espa o pol tico - Kowarick e Bonduki

    17/17

    176 L. Kowarick e N. Bondukiquentes estao baseados nos dados desses auto res. Para a Sao Paulode 1990, est imam que os favelados ter iam atingido 9,4% da populaca- ,da cidade. .

    20. Idem, p. 67. Veja tarnbern KOWARICK, 1979, pp. 178-93.I21. SNM, 1975.

    22. ROLNIK, KOWARICK& SOMEKH, 1990, pp. 169-71.23..EMBRAESP,1991.24 . ROLNIK, KOWARICK& SOMEKH, 1990, p. 58.25. KRISCHKE, 1984, p. 86.26. BONDUKI, 1986a.

    Referericlas bfbllograflcasAZEVEDO, S., e ANDRADE, Luis A. de . Habitacdo e poder . Rio de

    Janeiro, Zahar, 1982.. . . " ,. ' . : . ..1?ONDUKI, Nabil. "Construindo jerritorios de utopia : a luta pe lages-

    . .. .. tao popular no desenvolvlmento de P1"6j~toshabitacionais ." Dis-sertacao de mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo daUniversidade de Sao Paulo, 1986a.

    BONDUKI, Nabil, "Habltacao e familia: por que propria?" In: KOWA-RICK, Lucio (org.). Modo econdicdo de vida - uma analise dasdesigualdades socia is em Sao Paulo. CEDEC, 1986b, mirneo ..

    BRANDT, Vinicius C. (coord.), Sao Paulo: trabalbar e viver. Sao Paulo,Brasiliense, 1989.

    COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRANSITO. Secretaria Municipaldos Transportes. Sao Paulo, 1991. -,

    FARAH, Marta F. dos Santos. "EstadOj.pre.vi~~ncia social e habitacao."Dissertacao de mestrado, Faculdade de Filosof ia, Letras e Cieri-cias Hurnanas da Univers idade de Sao Paulo, 1983.

    GO:H:N,Maria da G.~qria,Reioindicaciies populares urbanas. Sao Pau-. 1 ~:"C 6te"i, 198 z . .. . . : . . ' . . . . . :INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATIS11CA.Recensea-

    mento Geral do Brasil. Rio de Janeiro, 1940/1950/1970.JUREMA, Abelardo, 6 1 feira 13: Os ultimos dias do governo [odo Gou-

    lart. Rio de Janeiro, Edicoes 0Cruzeiro, 1964.KOWARICK, Lucio. "El tugurio como formula de supervivencia." VI-

    VIENDA. Mexico, v. 4, nil 3 , mai- jun. 1979.KOWARICK, Lucio. "Cidade & cidadania: cidadao privado e subcida-

    Bspaco urbano e espaco politico 177dao publico." In: Siio Paulo em Perspectiua: Sao Paulo, v. 5, nt!2, abr.-jun. 1991.

    KRlSCHKE, Paulo J. "Os loteamentos clandestinos e os dilemas e al-temativas .dernocraticas dos movimentos de bairro". In: KRIS-CHKE, Paulo J. (org.), Terra de babitacao x terra de espoliaciio.Sao Paulo, Cortez, 1984.

    LODI, Carlos. "Sviluppo iProblemi di San Paolo." Urbanistica. Roma,Instituto Nacionali di Urbanistica, 1951.

    ROLNIK,R., KOWARICK, L. , e SOMEKH, N. (orgs.). Sao Paulo, crise emudanca. Sao Paulo, Brasiliense, 1990.SADER," " E q e . ~ . Quando n,ovas personagens entraram em cena. Expe-

    r iencias e lutas dos trabalbadores da Grande Sao Paulo, 1970-1980. Sao Paulo, Paz e Terra, 1988.

    SECRETARIA DA ECONOMIA E PLANEJAMENTO DO ESTADO DESAO PAULO. "Construcao de moradia na per ifer ia de Sao Paulo:aspectos socials , economlcos e ins ti tucionais." Sao Paulo, Estu-

    dos e Pesquisas, 30, 1979.SECRETARIADOS NEGOCIOS METROPOLITANOS DO GOVERNO

    DO ESTADO DE SAO PAULO.Diagn6sticos 1975, condiciies ur-banas: saude. Sao Paulo, rnimeo, 1975.

    SERRAN,joao Ricardo. 0 lAB e a polttica babitacional. Sao Paulo,Schema, 1976.VELZE, Reginaldo, "Os transportes colet ivos em Sao Paulo." In: PI-

    MENTE4 o. & MARCONDES, J. F. Sao Paulo: espir ito, pouo,instituicoes. Sao Paulo, Pioneira, 1968.

    VERAS,Maura P. Bicudo & TASCHNER,.Suzana P. "Evolucao e mudan-cas das favelas paulistanas." In: Espaco e Debate, Sao Paulo, anoX, n2 3, 1990.

    WEFFORT, Francisco C. 0popuiismo na polit ica brasi leira. Rio deJaneiro, Paz e Terra, 1980.

    Jornais

    Correio Paulistano - Sao PauloHoje - Sao Paulo