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GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA: ALTERAÇÕES NA EVOLUÇÃO DOS CANAIS DE PRIMEIRA ORDEM NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DA AROEIRA (MIRA ESTRELA-SP), DECORRENTES DA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DE ÁGUA VERMELHA Marcelo Batista Levanteza¹, Archimedes Perez Filho² ¹Bacharel em Geografia (2008), aluno especial de pós-graduação, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas-SP. [email protected] ²Orientador, Professor Titular do Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas-SP. [email protected] RESUMO O estudo, análise e morfometria de bacias hidrográficas, associados às possíveis alterações por conta da ação antrópica, têm configurado um campo de estudo amplo para a Geomorfologia. Neste trabalho, o equilíbrio dinâmico das bacias e sua posição como geossistemas são trabalhados a partir da análise morfométrica, com a utilização de índices como a Densidade Hidrográfica e Densidade de Drenagem para caracterizar uma bacia hidrográfica em dois períodos distintos, antes (1971) e depois (2008) da implantação da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, e assim medir as diferenças na constituição da rede de drenagem em dois contextos diferenciados pela atuação de obras de engenharia (ação antrópica), a partir da quantidade de canais de primeira ordem e do comprimento dos mesmos, utilizando-se de Sistema de Informação Geográfica, verificando e analisando as diferenças nos dois períodos acima citados, a partir de amostragem circular, com a produção de mapas temáticos e tabelas. Palavras – chave: Bacia hidrográfica, morfometria fluvial, ação antrópica. ANTHROPOGENIC GEOMORPHOLOGY: CHANGES IN EVOLUTION OF FIRST ORDER CHANNELS IN THE HIDROGRAPHICAL BASIN OF THE AROEIRA STREAM (MIRA ESTRELA-SP), DUE TO THE CONSTRUCTION OF DAM ÁGUA VERMELHA ABSTRACT The study, analysis and morphometry of hydrographical basins associated to possible changes motivates by anthropic action have shaped ample field of study for Geomorphology. In this work, the dynamic equilibrium basins and their position as geossystem are worked from the morphometric analysis, with the use of index as the hydrographical density and drainage density to characterize a hydrographical basin into two distinct periods, before (1971) and after (2008) hydroelectric plant reservoir construction of Água Vermelha (Mira Estrela – SP) and thus measure the differences in the constitution of the drainage network in two contexts varied by action of engineering works (anthropic action), from the quantity of first order channels and the length of the same, using Geographical Information System, noting and analyzing the differences in two periods referred to above, from sampling circular, with the production of thematic maps and comparative tables. Key words: Hydrographical basin, morphometric study river, anthropic action.

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GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA: ALTERAÇÕES NA EVOLUÇÃO DOS CANAIS DE PRIMEIRA ORDEM NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DA AROEIRA (MIRA

ESTRELA-SP), DECORRENTES DA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DE ÁGUA VERMELHA

Marcelo Batista Levanteza¹, Archimedes Perez Filho²

¹Bacharel em Geografia (2008), aluno especial de pós-graduação, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas-SP.

[email protected]

²Orientador, Professor Titular do Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas-SP.

[email protected]

RESUMO O estudo, análise e morfometria de bacias hidrográficas, associados às possíveis alterações por conta da ação antrópica, têm configurado um campo de estudo amplo para a Geomorfologia. Neste trabalho, o equilíbrio dinâmico das bacias e sua posição como geossistemas são trabalhados a partir da análise morfométrica, com a utilização de índices como a Densidade Hidrográfica e Densidade de Drenagem para caracterizar uma bacia hidrográfica em dois períodos distintos, antes (1971) e depois (2008) da implantação da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, e assim medir as diferenças na constituição da rede de drenagem em dois contextos diferenciados pela atuação de obras de engenharia (ação antrópica), a partir da quantidade de canais de primeira ordem e do comprimento dos mesmos, utilizando-se de Sistema de Informação Geográfica, verificando e analisando as diferenças nos dois períodos acima citados, a partir de amostragem circular, com a produção de mapas temáticos e tabelas. Palavras – chave: Bacia hidrográfica, morfometria fluvial, ação antrópica. ANTHROPOGENIC GEOMORPHOLOGY: CHANGES IN EVOLUTION OF FIRST ORDER

CHANNELS IN THE HIDROGRAPHICAL BASIN OF THE AROEIRA STREAM (MIRA ESTRELA-SP), DUE TO THE CONSTRUCTION OF DAM ÁGUA VERMELHA

ABSTRACT

The study, analysis and morphometry of hydrographical basins associated to possible changes motivates by anthropic action have shaped ample field of study for Geomorphology. In this work, the dynamic equilibrium basins and their position as geossystem are worked from the morphometric analysis, with the use of index as the hydrographical density and drainage density to characterize a hydrographical basin into two distinct periods, before (1971) and after (2008) hydroelectric plant reservoir construction of Água Vermelha (Mira Estrela – SP) and thus measure the differences in the constitution of the drainage network in two contexts varied by action of engineering works (anthropic action), from the quantity of first order channels and the length of the same, using Geographical Information System, noting and analyzing the differences in two periods referred to above, from sampling circular, with the production of thematic maps and comparative tables. Key words: Hydrographical basin, morphometric study river, anthropic action.

GEOMORFOLOGIA ANTROPOGÊNICA: ALTERAÇÕES NA EVOLUÇÃO DOS CANAIS DE PRIMEIRA ORDEM NA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DA AROEIRA (MIRA

ESTRELA-SP), DECORRENTES DA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DE ÁGUA VERMELHA

Marcelo Batista Levanteza¹, Archimedes Perez Filho²

¹Bacharel em Geografia (2008), aluno especial de pós-graduação, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas-SP.

[email protected]

²Orientador, Professor Titular do Departamento de Geografia, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas-SP.

[email protected] 1. Introdução

O estudo das bacias hidrográficas, sua contextualização como unidade de estudo do ambiente e sua

dinâmica relacionada à evolução geomorfológica e às alterações provocadas pela ação humana, em

especial a construção de usinas hidrelétricas e barragens, tem destaque em diversas pesquisas atuais,

visto que as interações homem / relevo e os processos geomorfológicos associados, por estarem

diretamente relacionadas a necessidades do uso, ocupação e planejamento das terras, suscitam sempre

necessidades de estudos e análises cada vez mais específicas.

Deste modo, por tratar–se a bacia hidrográfica de um sistema complexo e aberto, em contato

direto com a ação antrópica, muitas transformações são decorrentes da mesma gerando mudanças

sensíveis e significativas, que devem ser mais bem estudadas, especialmente pela Geomorfologia

Antropogênica. O referido campo de estudo, subárea da Ciência Geomorfológica, surgiu da necessidade

de se estudar a evolução e dinâmica dos processos e formas de relevo relacionadas à ação antrópica. Esta

área de estudo torna–se de grande interesse no contexto atual por possibilitar novos conhecimentos

aplicados à formulação de políticas públicas, visto a necessidade de obtenção de energia elétrica e por

consequência a construção de usinas e barragens para esse fim.

Considerando a necessidade de análise de uma bacia hidrográfica de forma ampla e integradora

sob vários aspectos, e também comparativa a partir de duas temporalidades distintas, destacamos como

base metodológica a abordagem sistêmica, que busca a compreensão do todo de forma a integrar

aspectos físicos e sócio-econômicos da região a ser estudada, o presente trabalho parte da concepção de

Sistema, apresentada por Morin (1977), como sendo unidade global organizada de inter-relações entre

elementos, ações e indivíduos onde sua organização de modo inter-relacional, liga elementos ou

indivíduos que a partir daí, se tornam os componentes de um todo. Christofoletti (1999), também mostra

que elementos interconectados funcionam compondo uma complexa entidade integrada.

O conceito de Sistema como um conjunto dos elementos e das relações entre si e entre seus

atributos e a Teoria dos Sistemas Gerais têm sido aplicados em estudos geomorfológicos para melhor

focalizar as pesquisas e para delinear com maior exatidão o setor de estudo dessa ciência (Christofoletti,

1980). Na análise do Sistema e suas divisões, aquele que melhor se relaciona com nosso objetivo é o

Sistema Aberto, como o descrito por Chorley (1962), que necessita de um suprimento de energia para

sua manutenção e preservação, e é mantido através de constante suplementação e remoção de material e

energia. Aqui já se estabelece uma relação entre sistema e bacia de drenagem.

Outro aspecto importante, complementar à análise efetuada anteriormente, é a Teoria do

Equilíbrio Dinâmico, proposta por Gilbert em 1880, que vem a corroborar e sustentar nossa

argumentação, pois a partir do conceito de equilíbrio nos sistemas geomorfológicos é que podemos

entender como alterações provocadas nos mesmos, como por exemplo, nas bacias hidrográficas, através

da ação antrópica, constituem diferentes contextos de formas e processos para configurar o relevo, e a

própria dinâmica dos cursos d’água que formam a bacia.

Desta forma, a troca de energia e matéria configura sempre um tipo de equilíbrio, mas um

equilíbrio dinâmico, não estático, já que os processos podem ser diferenciados a partir de condições

diferentes de solos, climas e litologias em cada área a ser estudada, e também da ação de fatores sócio-

econômicos motivados por necessidades humanas, como é o caso da construção de usinas hidrelétricas.

Neste ponto, podemos inserir o conceito de Geossistema, que vem dar suporte à aplicação da

abordagem sistêmica e à ação antrópica. Temos associada a esta análise a definição de Sotchava (1962)

apud Christofoletti (1999, p.42) salientando “que Geossistemas são sistemas abertos, dinâmicos,

flexíveis e hierarquicamente organizados, com estágios de evolução temporal, numa mobilidade cada

vez mais sob influência do homem. O elemento básico para a classificação é o espaço e tudo que nele

está contido em integração funcional”.

Também assume posição de destaque nesta discussão Ross (2003, p. 14), mostrando que “toda

causa tem seu efeito correspondente, todo beneficio que o homem extrai da natureza certamente tem

seus malefícios. Deste modo, parte-se do princípio de que toda ação humana no ambiente natural ou

alterado causa algum impacto em diferentes níveis [...].

Desta forma, a partir da demonstração teórica sobre o funcionamento, o equilíbrio dinâmico e as

ações antrópicas dentro dos geossistemas, chega-se ao objetivo deste estudo, que é na bacia

hidrográfica, com a construção e estabelecimento de uma usina hidrelétrica, um trabalho focado na

morfometria fluvial comparativa de duas temporalidades, que procurou levar a um melhor conhecimento

de alguns processos e da dinâmica fluvial, e chamar atenção para novas análises e estabelecimento de

novos métodos científicos e a viabilidade de sua aplicação para mensurar a intervenção antrópica e

assim colaborar para o direcionamento de ações visando o planejamento ambiental e de uso das terras

adequados à minimização de riscos.

Propôs-se assim neste trabalho testar a hipótese de Perez Filho et al. (2001) sobre

Geomorfologia Antropogênica, associando a análise de bacias hidrográficas e a ação antrópica, de que a

construção de grandes barragens para fins hidroelétricos ao alterar o nível de base dos rios, modifica a

dinâmica de erosão dos mesmos, causando o aumento no número (Densidade Hidrográfica) e

comprimento (Densidade de Drenagem) dos canais de primeira ordem.

.

2. Material e método

2.1 Área de estudo

O município de Mira Estrela possui uma área de 217 quilômetros quadrados e está localizado na

região Noroeste do Estado de São Paulo, nas coordenadas aproximadas 19º57’ de latitude sul e 50º08’

de longitude oeste, a uma altitude de 420 metros, possuindo população de 2.576 habitantes (IBGE,

2007).

Mira Estrela possui como limites territoriais ao norte o Estado de Minas Gerais (municípios de

Iturama e São Francisco de Sales), ao sul Macedônia, ao leste Cardoso e a oeste Indiaporã. A figura 1

mostra a localização de Mira Estrela no Estado de São Paulo:

Figura 1: Localização do município de Mira Estrela-SP (Fonte: IBGE).

A bacia do Córrego da Aroeira, área de estudo deste trabalho, está situada entre as

coordenadas 19º52’ e 19º58’ de latitude sul e 50º06’ e 50º09’ de longitude oeste, 21 quilômetros a leste

da barragem da Usina de Água Vermelha, estando em sua totalidade localizada no município de Mira

Estrela, conforme mostra a figura 2:

Figura 2: Mira Estrela-SP: delimitação da área de estudo e perímetro urbano.

As bacias hidrográficas pertencentes ao município de Mira Estrela-SP sofreram impactos com a

construção da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, que com 1.396 Megawatts de potência instalada,

está localizada no Rio Grande, a oitenta quilômetros da confluência com o Rio Paranaíba (Figura 3), e

tem sua produção de energia destinada à região Sudeste. As obras da usina foram iniciadas em 1973, e o

início das operações deu-se em 22 de agosto de 1978. A barragem tem 3970 metros de extensão e a área

útil do reservatório é de 647 km² possuindo um volume útil de água acumulado de cerca de 11 milhões

de m³ (AES Tietê, 2008).

Figura 3: Foto da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha e mapa de sua localização. Fonte: www.aestiete.com.br

2.2 Material utilizado

Para delimitação da bacia e caracterização no período anterior à implantação da Usina de Água

Vermelha foi feita pesquisa no Instituto Agronômico de Campinas-SP (IAC) e selecionadas 16

fotografias aéreas pancromáticas da área em estudo datadas do ano de 1971, na escala aproximada

1:25.000.

Também no IAC foi obtida a carta topográfica escala 1: 50.000 do município de Mira Estrela –

SP, de nomenclatura SE-22-Z-C-V-4 (IGG-SP, 1965), sendo esta em projeção UTM com equidistância

das curvas de nível em 10 metros. A referida carta, como as fotografias aéreas, foram digitalizadas em

formato TIFF, para as análises a serem explicitadas no item dos procedimentos.

Para as análises com foco no período atual da região de estudo, foram utilizadas imagens orbitais

do software Google Earth® versão 4.3, obtidas em 05/06/2008, na escala 1:25.000 totalizando três

imagens do ano de 2008 da área de estudo. Foi também utilizado o software ArcGIS®, com vistas à

efetuar na prática as análises comparativas propostas e produção de mapeamento temático específico.

2.3 Procedimentos

A partir da discussão teórica efetuada e dos objetivos propostos anteriormente, delimitou-se o

Geossistema a ser investigado, a Bacia Hidrográfica do Córrego da Aroeira, procurando-se verificar os

impactos causados pelo sistema sócio-econômico, através da implantação da referida usina hidrelétrica.

Este processo promoveu alterações na rede de drenagem do referido curso d’água no decorrer de

uma periodização, que vai de antes da implantação da Usina de Água Vermelha, que se deu entre os

anos de 1973 e 1978, até os dias atuais, quando se configura um contexto diferente nos aspectos

concernentes à rede de drenagem da bacia em estudo, gerando uma nova complexidade ambiental.

Deste modo, para mensurar possíveis alterações e explicitar como a ação antrópica se processou,

visando relacioná-la ao comportamento da drenagem como um todo, se fez necessária uma comparação

dos contextos da área referentes à morfometria fluvial (Densidade Hidrográfica e Densidade de

Drenagem), de período de tempo anterior à construção da Barragem de Água Vermelha (início da

década de 1970) e de período atual.

Para a determinação da Densidade Hidrográfica (Dh) e Densidade de Drenagem (Dd), e efetuar

comparações dos contextos anteriores e posteriores à implantação da Usina Hidrelétrica de Água

Vermelha, se fez necessária a aplicação da metodologia de amostragem circular, sendo neste trabalho

aplicadas 12 amostras de 2,5 quilômetros quadrados cada.

Esta metodologia tem se mostrado eficaz no trabalho com fotografias aéreas e imagens orbitais,

como é o caso deste trabalho, pois a partir destes podemos, com a aplicação deste tipo de amostragem,

determinar como precisão e homogeneidade tanto alterações na quantidade de canais de primeira ordem

quanto alterações no comprimento destes, pois se trata de áreas fixas e rigorosamente determinadas onde

as comparações temporais podem encontrar mais sucesso.

2.3.1 Córrego da Aroeira em 1971

Para esta parte do trabalho, que teve como foco a delimitação da bacia, traçado de rede de

drenagem e cálculo dos índices morfométricos referentes ao contexto anterior à implantação da usina

hidrelétrica de Água Vermelha, foi inicialmente utilizada a carta topográfica SE-22-Z-C-V-4 (IGG-SP,

1965), escala 1:50.000 datada de 1965 digitalizada e georreferenciada. Após este processo, foram

escolhidas quatro fotografias aéreas de 1971 na escala 1:25.000 dentre as dezesseis selecionadas, que

abarcavam a totalidade da Bacia do Córrego da Aroeira e estas também foram georreferenciadas

estabelecendo um mosaico, a partir do qual foram traçados a rede de drenagem e área da bacia (Figura

4). Também foram identificados os canais de primeira ordem e aplicadas as 12 amostras circulares de

2,5 quilômetros quadrados (Figura 5):

Figura 4: Bacia hidrográfica do Córrego da Aroeira em 1971.

Figura 5: Identificação dos canais de primeira ordem e aplicação de amostras circulares (contexto de 1971).

Calculou-se também a área da bacia, tanto manualmente a partir da delimitação na carta

topográfica, quanto através de ferramentas do software ArcGIS® , encontrando o valor de 38,36

quilômetros quadrados. Este dado serviu para a aplicação no cálculo do índice morfométrico Densidade

Hidrográfica, tanto em 1971 quanto em 2008.

A partir do traçado da drenagem estabelecido anteriormente por sobre o mosaico, foram

determinadas a quantidade dos canais de primeira ordem em 1971 tanto na bacia como um todo e

também em cada amostra, e a somatória (em metros) do comprimento dos referidos canais em 1971, no

geral e dentro de cada amostra. Respectivamente, foram assim calculadas a densidade hidrográfica (Dh)

e a Densidade de Drenagem (Dd) a partir das expressões originais definidas por Horton (1945) apud

Christofoletti (1969, p.39) e adaptadas a este trabalho para a amostragem circular, onde temos:

Dh = N/ A, onde Dh é a densidade hidrográfica ou freqüência de rios; N é o numero de canais de

primeira ordem ou cursos d’água e A é a área da amostra circular.

Dd = L / A, onde Dd significa a densidade de drenagem; L é p comprimento total dos canais de primeira

ordem dentro de cada amostra circular e A é a área da amostra circular.

Os dados obtidos foram organizados (Tabelas 1 e 2), com Densidade Hidrográfica (Dh) e

Densidade de Drenagem (Dd) em 1971, data anterior à implantação da Usina Hidrelétrica de Água

Vermelha, no contexto geral da bacia e por amostra.

Tabela 1: Densidade Hidrográfica da Bacia do Córrego da Aroeira - Mira Estrela / SP em 1971.

Amostra Área da amostra

(Em Km²)

Quantidade de canais de

primeira ordem

Densidade Hidrográfica (Dh)

por amostra

1 2,5 4 1,6

2 2,5 3 1,2

3 2,5 3 1,2

4 2,5 7 2,8

5 2,5 1 0,4

6 2,5 2 0,8

7 2,5 4 1,6

8 2,5 2 0,8

9 2,5 3 1,2

10 2,5 3 1,2

11 2,5 4 1,6

12 2,5 5 2,0

Total de canais de

primeira ordem em 1971 41

Área da bacia

(em Km²) 38,36

Dh total da Bacia em

1971 1,06

Tabela 2: Densidade de Drenagem da Bacia do Córrego da Aroeira - Mira Estrela-SP em 1971.

Amostra Área da amostra

(Em Km²)

Comprimento dos canais de

primeira ordem (em metros)

Densidade de Drenagem (Dd)

por amostra

1 2,5 1944 0,77

2 2,5 1077 0,43

3 2,5 1757 0,70

4 2,5 2673 1,06

5 2,5 910 0,36

6 2,5 1008 0,40

7 2,5 1906 0,76

8 2,5 1446 0,57

9 2,5 666 0,26

10 2,5 1699 0,66

11 2,5 1278 0,51

12 2,5 2691 1,07

Comprimento dos canais

1ª ordem 1971(em m) 19055

Área das amostras (Km²) 30

Dd total das amostras

1971 0,63

O cálculo da Densidade de Drenagem total da bacia (Tabela 2) baseou-se no comprimento dos

canais de primeira ordem dentro da somatória da área total das amostras circulares, pois o comprimento

dos demais componentes fluviais da bacia não foi calculado neste trabalho, visto que a análise baseou-se

na amostragem.

2.3.2 Córrego da Aroeira em 2008

Para o traçado da rede de drenagem e o cálculo dos índices morfométricos referentes ao

contexto posterior à implantação da usina hidrelétrica de Água Vermelha, utilizou-se carta topográfica

SE-22-Z-C-V-4 (IGG-SP, 1965), escala 1:50.000 datada de 1965 digitalizada e georreferenciada. Foram

selecionadas três imagens orbitais atuais da área obtidas do software Google Earth®, as quais foram

georreferenciadas e posteriormente colocadas em mosaico, estabelecendo o contexto atual da Bacia do

Córrego da Aroeira (2008), com a criação do lago da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, a atual

configuração da drenagem, a delimitação da bacia e a área inundada pela represa (Figura 6) e

identificados os canais de primeira ordem e aplicadas as 12 amostras circulares de 2,5 quilômetros

quadrados, exatamente nos mesmos pontos de controle aplicados sobre as fotografias aéreas de 1971

(Figura 7):

Figura 6: Bacia hidrográfica do Córrego da Aroeira em 2008.

Figura 7: Identificação dos canais de primeira ordem e aplicação de amostras circulares (contexto de 2008).

Foram determinadas a quantidade dos canais de primeira ordem, para o ano de 2008, tanto na

bacia como um todo e também em cada amostra, e a somatória (em metros) do comprimento dos

referidos canais, no geral e dentro de cada amostra. Os dados obtidos foram organizados (Tabelas 3 e 4),

com Densidade Hidrográfica (Dh) e Densidade de Drenagem (Dd) em 2008, data posterior à

implantação da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, no contexto geral da bacia e por amostra.

Tabela 3: Densidade Hidrográfica da Bacia do Córrego da Aroeira - Mira Estrela / SP em 2008 Amostra Área da amostra

(Em Km²)

Quantidade de canais de

primeira ordem

Densidade Hidrográfica (Dh)

por amostra

1 2,5 6 2,4

2 2,5 5 2,0

3 2,5 4 1,6

4 2,5 7 2,8

5 2,5 2 0,8

6 2,5 0 0

7 2,5 7 2,8

8 2,5 2 0,8

9 2,5 7 2,8

10 2,5 7 2,8

11 2,5 4 1,6

12 2,5 12 4,8

Total de canais de

primeira ordem em 2008 65

Área da bacia (em Km²) 38,36

Dh total da bacia em 2008 1,69

Tabela 4: Densidade de Drenagem da Bacia do Córrego da Aroeira - Mira Estrela-SP em 2008.

Amostra Área da amostra

(Em Km²)

Comprimento dos canais de

primeira ordem (em metros)

Densidade de Drenagem (Dd)

por amostra

1 2,5 2253 0,90

2 2,5 1063 0,43

3 2,5 1850 0,74

4 2,5 2874 1,14

5 2,5 188 0,07

6 2,5 0 0

7 2,5 2703 1,08

8 2,5 246 0,09

9 2,5 1375 0,55

10 2,5 2602 1,04

11 2,5 713 0,28

12 2,5 3310 1,32

Comprimento dos canais

1ª ordem 1971(em m) 19177

Área das amostras (em

Km²) 30

Dd total das amostras

1971 0,64

O cálculo da Densidade de Drenagem total da bacia em 2008 (Tabela 4) baseou-se, como em

1971, no comprimento dos canais de primeira ordem dentro da somatória da área total das amostras

circulares, pois o comprimento dos demais componentes fluviais da bacia não foi calculado neste

trabalho, visto que a análise baseou-se na amostragem.

3. Resultados e discussões A reconstituição da rede de drenagem e a utilização de amostras circulares e de índices de

Densidade Hidrográfica (Dh) e Densidade de Drenagem (Dd) permitiram verificar correlações entre as

alterações no número e comprimento dos canais de primeira ordem, verificadas entre os anos de 1971 e

2008, e as modificações no nível de base local do Córrego da Aroeira causadas pela implantação da

Usina Hidrelétrica de Água Vermelha.

Tendo em vista a necessidade de se manterem fixos os posicionamentos das amostras circulares,

dois novos canais, que não haviam sido abarcados pelas mesmas, foram incluídos no cálculo da

Densidade hidrográfica (Dh) total da bacia para o ano de 2008, totalizando assim 65 canais

contabilizados.

Referente à Densidade Hidrográfica (Dh), nas 12 amostras analisadas nas situações de 1971 e

2008, consideramos 11 delas, pois a amostra 6 foi totalmente encoberta pelo lago da usina hidrelétrica e

desta forma seria óbvio que a densidade hidrográfica diminuísse, como vimos na tabela 3. As amostras 5

e 8 (em destaque na tabela 3) também foram “afogadas”, mas nelas houve aparecimento de novos

canais de primeira ordem e assim manteve-se o índice e elas foram consideradas. Conforme a tabela 5,

de um total de 11 amostras válidas, em 3 delas o índice de 1971 foi o mesmo em 2008, e em 8 amostras

houve aumento significativo na Densidade Hidrográfica, assim como no índice geral contabilizando a

área total da bacia e o total de canais de primeira ordem. As tabelas 5 e 6 mostram em termos

quantitativos e percentuais as alterações encontradas de 1971 para 2008.

Tabela 5: Comparativo da Densidade Hidrográfica (Dh) na bacia nos anos de 1971 e 2008.

Amostra Área em Km² Densidade Hidrográfica

em 1971

Densidade Hidrográfica

em 2008

1 2,5 1,6 2,4

2 2,5 1,2 2,0

3 2,5 1,2 1,6

4 2,5 2,8 2,8

5 2,5 0,4 0,8

6 2,5 0,8 0

7 2,5 1,6 2,8

8 2,5 0,8 0,8

9 2,5 1,2 2,8

10 2,5 1,2 2,8

11 2,5 1,6 1,6

12 2,5 2,0 4,8

Dh total em 1971 1,06

Dh total em 2008 1,69

Tabela 6: Comparativo Percentual de Alterações na Densidade Hidrográfica (Dh) 1971 – 2008 (amostras válidas).

Total de amostras válidas 11 100%

Aumento da Dh 8 73%

Manteve-se a Dh 3 27%

Verificamos que a ação antrópica, através da implantação da Usina Hidrelétrica de Água

Vermelha ocasionou reativação da drenagem da bacia do Córrego da Aroeira, determinando o aumento

do índice Densidade Hidrográfica, gerando uma maior quantidade de canais de primeira ordem, seja na

maioria absoluta das amostras circulares (Tabela 6), seja na somatória dos canais presentes na bacia

considerando sua área total (Tabelas 1, 3 e 5), comprovando estatisticamente a hipótese inicial.

Com relação à Densidade de Drenagem (Dd), das 12 amostras coletadas e analisadas,

consideramos 9 amostras, pois as amostras 5, 6 e 8 foram, de 1971 para 2008, encobertas pelo lago da

usina e desta forma, o índice das mesmas logicamente diminuiu, pois vários componentes fluviais foram

“afogados”. Estas amostras estão destacadas na tabela 4 anterior, em conjunto com a amostra 2, onde o

índice foi mantido, e também com a amostra 11, a única em que houve diminuição do índice. Observou-

se em 7 amostras aumento do índice, assim como no índice geral da bacia. As tabelas 7 e 8 mostram

respectivamente o comparativo quantitativo e percentual do índice na periodização proposta.

Tabela 7: Comparativo da Densidade de Drenagem (Dd) na bacia nos anos de 1971 e 2008.

Amostra Área em Km² Densidade de Drenagem

em 1971

Densidade de Drenagem

em 2008

1 2,5 0,77 0,90

2 2,5 0,43 0,43

3 2,5 0,70 0,74

4 2,5 1,06 1,14

5 2,5 0,36 0,07

6 2,5 0,40 0

7 2,5 0,76 1,08

8 2,5 0,57 0,09

9 2,5 0,26 0,55

10 2,5 0,66 1,04

11 2,5 0,51 0,28

12 2,5 1,07 1,32

Dd total das amostras

em 1971 0,63

Dd total das amostras

em 2008 0,64

Tabela 8: Comparativo Percentual de Alterações na Densidade de Drenagem (Dd) 1971 – 2008 (amostras válidas).

Total de amostras válidas 9 100%

Aumento da Dd 7 78%

Manteve-se a Dd 1 11%

Diminuiu a Dd 1 11%

Assim como a Densidade Hidrográfica, a análise mostrou o aumento da Densidade de Drenagem,

gerando um acréscimo no comprimento dos canais de primeira ordem, seja na maioria absoluta das

amostras circulares (Tabela 8), seja na somatória do comprimento dos canais presentes na bacia

considerando a área total das amostras (Tabelas 2, 4 e 7), a partir da comprovação percentual e

estatística da hipótese colocada no início do trabalho. A amostra onde houve diminuição do índice

suscita a necessidade de aprofundamento deste tipo de estudo, tanto nesta quanto em outras bacias

hidrográficas.

4. Conclusões

Este trabalho contribui para o incremento das pesquisas em Geomorfologia Antropogênica, pois

a partir da análise comparativa do geossistema bacia hidrográfica em duas temporalidades (1971 e

2008), foi possível demonstrar a influência da ação antrópica, por meio da implantação de uma obra de

engenharia de grande magnitude, a Usina Hidrelétrica de Água Vermelha, na reativação da rede de

drenagem estudada.

Desta forma, os resultados encontrados permitiram confirmar a hipótese formulada para o

presente trabalho. Assim, a análise estatística e comparativa dos dois períodos em estudo comprovou a

importância da ação humana como agente geomorfológico e como elemento fundamental ao

entendimento da evolução da paisagem, bem como à maior eficiência da gestão e do planejamento, por

parte do poder público, em bacias hidrográficas.

Referências Bibliográficas

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