geodinamrca e acc;:oes antropicas: dois …w3.ualg.pt/~jdias/jad/papers/rn/02_discursos_rb.pdf ·...

26
Revista Discursos, 3" Serie, nO 4, pp. 55-80, Universidade Aberta, Lisboa, 2002 GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS ELEMENTOS ESTRUTURANTESNACONSTRUc;:Ao DAEUROPA I. INTRODU<;:AO Rosario Bastos (Universidade Aberta) Alveirinho Dias (Universidade do Algarve) "Em as/pocos , 0 meion(lrllral apresetlill linharde rtsisritlcia. OqUt voriadt uma /pocapara 0' outro I 0 ,,{vel dos ricllicO's ulili<.ados, que corrtspande 00 mimtra de suce$Sos au de dtrrotos do homem para vtm:er UntO ou aufra dt rsa: linhos de rtsistincia" . FORQUIN. Goy - HistQriu Erull6'1t!(/1 do Oddcm/ f' M,.diel'(JI. 3' ed .. Lisboa. Ed. 70. p. 32. A analise do processo de format;:ao e afmnaryao da Europa, entendida nas suas multiplas vertentes: material. cultural. poiftica e social. e urn a tarefa complexa e intenninavel. Desde logo se pode questionar quando e que a Europa se comeryou a consubstanciar como esparyo autonomo identiticavel como tal? E, assim sendo. de que tra90s de identidade estamos a falar? Geognifica, poJftica. religiosa ... ? Como se DaO bastassem estes engulhos.

Upload: trinhxuyen

Post on 08-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Revista Discursos, 3" Serie, nO 4, pp. 55-80, Universidade Aberta, Lisboa, 2002

GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS ELEMENTOS ESTRUTURANTESNACONSTRUc;:Ao

DAEUROPA

I. INTRODU<;:AO

Rosario Bastos (Universidade Aberta)

Alveirinho Dias (Universidade do Algarve)

"Em rodo.~ as/pocos, 0 meion(lrllral apresetlill linharde rtsisritlcia. OqUt voriadt uma /pocapara 0' outro I 0 ,,{vel dos ricllicO's ulili<.ados, que corrtspande 00 mimtra de suce$Sos au de dtrrotos do homem para vtm:er UntO ou aufra dtrsa: linhos de rtsistincia".

FORQUIN. Goy - HistQriu Erull6'1t!(/1 do Oddcm/f' M,.diel'(JI. 3' ed .. Lisboa. Ed. 70. p. 32.

A analise do processo de format;:ao e afmnaryao da Europa, entendida nas

suas multiplas vertentes: material. cultural. poiftica e social. e urna tarefa complexa e intenninavel. Desde logo se pode questionar quando e que a Europa se comeryou a consubstanciar como esparyo autonomo identiticavel como tal? E, assim sendo. de que tra90s de identidade estamos a falar? Geognifica, poJftica. religiosa ... ? Como se DaO bastassem estes engulhos.

Page 2: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

RIJuirio SoslO!.IAll't;riltho Dint

teremos ainda que nos interrogar ace rca da individualiza~,ao daEuropa como urn todo. Nao seria mais apropriado aludirrnos as "varias europas", a saber, Escandimivia, Europa Ocidental , Europa Mediterranica, Europa Central, etc.? Na verdade. quer-nos parecer que 0 assunto e de tal modo vasto que se nao seccionannos 0 objecto de analise, com lodos os perigos reducionistas que podem estar sUbjacentes a essa abordagem, corremos 0 risco de tomar a todo pela parte, descaracterizando urna realidade que, por poliedrica, se toma igualmente rica e estimulante. Assim. oeste trabalho, abordarernos 'apenas (0 que ja nao e de somenos) a influencia que 0 meio ffsico teve na constru~ao da Europa, tanto nas tentativas de adaptalJ:ao do Homem ao ambiente em que estava inserido, como Da fonna como tentou modificar esse mesmo meio. Para a efeito, centrar-nos-emos, sobretudo, no perfodo medievo, com especial destaque para urn caso paradigmatico da interacyao HomemlMeio: a forma~ao e desenvolvimento da laguna de Aveiro e seu impacte hinterland socio-econ6mico do Baixo-Vouga.

2. FACTORES CONDICIDNADORES DA EVOLU';:AO DO MElD FisICO

o espayo fisico tradic.ionalmente identilicado como Europa mais nao e do que a parte ocidental da grande massa continental euro-asiatica, em que as diversidades a diferemes nfveis, nomeadamente hipsometrica, geol6gica, geomorfo16gica, hidrol6gica, faunfstica, floristica, e humana. sao notaveis.

Jean Carpentier e Fran'(ois Lebrun, na sua Historia da Europa (1993, pp. 30-32), aludiram ja a tres caracteristicas especificas do territ6rio europeu:

I - e urn espa~o pequeno quando comparado com 0 de outros continentes, ocupando apenas 7% das terras emersas (Asia 30%. America 28% e Africa 30%) ;

2 - e urn continente aberto e fortemente atravessado por cursos de agua; "'mais que rodeada de dgua. a peninsula europeia e penefrada por ela", afirmam os supracitados autores;

3 - situado entre os35° e os 710 de latitude norte, 0 continente europeu escapa por completo as zonas tropicais, entra muito pouco nas zonas poiares (6 ou 7% da sua superffcie total) e pede abrir-se as grandes influencias suavizadoras dos ventos de oeste.

Page 3: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas naQ fisicas que. em ultima an~l ise. porestas sao determinadas) decorrem. como se veri fica em todas as massas continentais, de uma longa evolu~ao geol6gica com rnuitas centenas de rnilhoes de anos (fig. I). Efectivamente. 0 espa~o europeu esta profundamente marcado pela fractura~ao do mega-continente Pangea, ocorrida ha cerca de 200 mi lh6es de anos, que separou as massas contine.ntais em dois grandes blocos principais, a Laurasia (que integrava a "col una vertebral" da Europa), a norte. e a Gonduana, a suI e por toda a deriva continental (induzida pela tect6nica de placas) que se Ihe seguiu. com especial relevancia para a abertura do Atlantico Norte e para 0 encerramento do Mar de Thethys (reduzido, actualmente, ao Mar Mediterranico). Foi na sequencia destas movimenta90es continentais que se constitufram, designadamente, as grandes cadeias montanhosas dos Alpes e dos Pirineus, cuja existencia influenciou de forma determinante a hist6ria europeia.

Fig. 1 - E\'OIt~fdo esquemtitic(1 dos trafOS principais da d,m'va conrinenral. desde a exislencra de um unico mega-continenre. a Pangea, h6 area de 225 millloes de an(M, ari

a sitllafdo actllai.

Page 4: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

R05tiriO BOJtoslA /vt irinloo Dios

Se foi a evolu~ao geo16gica a escala dos milh6es de anos que irnprimiu a Europa os tra~os principais e mais estruturantes que apresenta, foi a evolu~ao a escala das centenas e das dezenas de milhares de anos que modelou, de forma mais pormenorizada. as earaeteristicas regionais e locais do espa~o europeu. Neste aspecto ressaltam as glacia~oes, mUlto em especial a ultima glacia~ao, designada por Wurm IV, cujo maximo ocorreu ha cerea de 18 000 3oos. As grandes modifica~oes cJim~tieas por esta induzidas eonstitufram-se como factor restritivo e, simultaneamente. eatalisador da evolu~ao do Homem, bern como do tipo e da densidade da ocupa~ao do espa~o europeu. As grandes varia~6es do nivel medio do mar, associadas as glacia~5es, viabilizaram migrar;oes entre territ6rios actualmente separados par mar. Foi 0 que se verifieou, por exemplo, no norte da Europa em que, ate ha cerca de 10 000 anos, grande parte do territ6rio hoje ocupado pelo Mar do Norte estava emerso, propiciando contactos faceis entre popul a~oes.

designadamente com as que entao habitavam 0 que hoje constitui a Gra­-Bretanha e lrlanda.

Entramos, desta forma, na anaJiseda influencia climatica naconstituir;ao e transformar;ao das caracterlsticas europeias, designadarnente nas geomorfol6gicas. Nao obstante a grande importancia estruturante da evo]ur;ao geoJ6gica a escala dos milhoes e das centenas e das dezenas de milhares de anos, foram as pequenas modifica~5es que ocorreram nos ultimos milenios que deram a Europa os ol timos "retoques" transformando·a no espa~o que hoje co-habitamos.

A evolu~ao recente da fachada atlantica da Peninsula Iberica, e especi­ficamente do territ6rio que actualmenteconstitui Portugal, ilustra bern 0 que se afmnou. Ha 18000 anos, no maximo glaciario. quando 0 nivel medio do mar estava uns 120 a 140 metros mais baixo do que 0 actual, 0 litorallocali­zava·se bastante mais para poente do que 0 que hoje conhecemos (fig. 2). Com a deglacia~ao e a consequente eleva~ao do nive! do mar, 0 litoral foi rapidamente migrando para nascente, tendo-se verificado grandes varia~6es climaticas que induziram notaveis modifica~6es faunisticas e do coberto vegetal. Ha uos 3000 anos 0 mar atingiu urn nivel medio aproximadamente igual ao actual. A configurayaoda zonaeosteira era, todavia, profundamente diferente da actual, caracterizando-se essencialmente por urn recorte acen­tuado, pela existencia de estuarios amplos e abertos e par urna lipologia essencialmente rochosa. Desde essa altura ate ao Presente nao se verifi-

Page 5: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

GrodiniimicD t /lC¢ts anrropicas: Dois drmt nros rSlnilura'l!ts liD CDllSlfflrlio dD Europa

caram grandes alterayoes climaticas, ista e, as caracteristicas basicas do clirna permaneceram imutaveis. Registaram-se, apenas, pequenas oscila-90es que, todavia, nalguns casos, induziram modifica'rOes notaveis na paisagem. Entre autras, sao de referir as modificayoes verificadas quer na geomorfologia, quer no coberto vegetal e, consequentemente, no tipo e densidades de ocupaCao humana do territ6rio.

= =

~

Fig. 2 - Evolurao do lirorai desde 0 ultimo mdximo glaciario, hti 18000anos ati ao Preseme. Adaprado de Dias et al. (1 990).

Entretanto, a tecnoiogia do Homem foi-se ampliando e, consequen­temente, 0 seu pader de interven9ao ambiental, tanto de forma consciente como inconsciente. Sao iOlimeras os exemplos que se podem referir, mas bastara aludir a tres au quatro actividades humanas com fortes impactes no litoral para dar a percep9aO da capacidade interventiva do Homem no ambiente. Efectivamente, ao desflorestar e desmatar, ao agricultar. as popuiatrOes induzem grandes modifica90es na paisagem local mas, tambem, em zonas afastadas, por vezes a centenas de quil6metros de distancia e, muito em especial, no litoral localizado na dependencia dessa bacia hidrografica, em que, em consequencia dessas actividades. se registam epis6dios de erosao ou de acumulatrao que, por vezes, modificam substan-

Page 6: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

ROJJrfo BOJws/A/vl!irilli1o DI'lJ

cialmente as suas caracteris ticas geomorfol6gicas. Sao interven\=oes arnbientais nao propositadas, isto e, que 0 Homem realiza de forma incons~ ciente. Outras interven~oes sao, contudo, realizadas pelo Homern no sentido de adaplar 0 ambiente as actividades que af desenvolve. Eo caso, entre muitos outros, da constrU\=ao de a\=udes e barragens, da c.analizayao dos rios e/ou artificializa\=ao das suas margens, da colonizayao do territ6rio com especies vegetais oao indfgenas (e que. por vezes, se tomam altamente oportunistas, destruindoocoberto vegetal original). Sao intervenyoes ambien­tais propositadas, mas que, por via de regra, induzem impactes longfnquos queo Homem nem sequer suspeitava. A Europa de hoje esta profundamente marcada por estes tipos de aq:oes. Por outras palavras a actual paisagem europeia esta profundamente antropizada.

Urn dos perfodos mais interessantes desta c.omplexa hist6ria de modificayao da paisagem e, sem duvida, a epoca medieval. E nesta altura que. quer devido a progressiva ampliayao do poder tecnol6gico do Homem, quer a expansao demognifica, a paisagem e profundamente modificada. Simultaneamente, Ligeiras variayoes nas caracterfsticas climaticas induzem, tambem, rnodificayoes paisaglsticas, designadamente no coberto vegetal e oa geomorfologia, principalmente na morfologia costeira. A analise dos registos (hist6ricos e geol6gicos) torna~se, entao, confuso, seodo frequen~ temeote impossivei deduzir se deterrninada modificayao foi natural (induzida pelas oscilayoes climaticas) ou artificial (provocada por actividades human as). A problematica e realmente complexa porquanto, por vezes, ambos meca­nismos indutores desenvolvem respostas com 0 mesmo sinal e, por OUlras, com sinais contrarios. Quando urna ligeira altera~ao das caracterfsticas climaticas conduz ao desaparecimento de grandes manchas florestais (como parece ter acontecido com a desenifica\=ao da Meseta iberica). e 0 Hornem procede a desmata~ao de grandes areas para as agricultar, 0 sinal induzido nazona costeira tern, obviamente, 0 mesmo sinal, isto e, verifica~se aumento do acarreio sedimentar. assoreamento estuarino e lagunar, e acumulayao no litoral, com desenvolvimeoto de grandes praias arenosas, constructaO de amplos campos dunares e migra~ao da Imba de costa em direclYao do mar. E obviamente impossivel deduzirqual 0 factorrnais marcante, se 0 humano, se 0 natu ral.

o assunto toma~se ainda mais dificil (e interessante) quando se tentam identificar concretamente as ac\=oes indutoras das modifica<roes geomor-

Page 7: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

GrOlJ.'" lJm;r;o r oq6rs an/ropiCllJ: DQis tll rmt'mos tlJrruru ramt'J 110 r:mwrufilo do Eu rofID

fol6gicas. OU seja, da morfodinamica. Na epoca medieval a documentayao escrita que subsistiu ate aos nossos dias e relativamente escassa e eareee de interpretayao cuidada, as pe9as cartograficas sao muito raras e normalmente fantasiosas , e a informayao geol6gica relevante para 0 estudo da morfodinamica e diffcil de adquirir e, em gera], precisa de suporte hist6rico para ser interpretada e con venientemente datada. As seri es de dados contfnuos e fiAveis que nos facul tem, se nao a detecrriio da evolurrao do clirna, pelo menos a enumerac;:ao posslvel de uma serie minimamente sequencial dos estados de tempo para uma dada escala esparro.temporal sao quase inexistentes. Perante tan laS lacunas e careneias. s6 uma efectiva investigarrao pluridisciplinar pode condum a resultados minimamenle fidedignos.

Dependendo da constituirrao dos solos, do tipo de cobertura vegetal, das caracterfstieas hidrograficas e oceanograticas e, em ultima instaneia, da intervenc;:ao do Homem, os elementos climaticos vao influir de forma especffica naevolur;iio geomortol6gica de urn dado esparro. Assim, toma·se desde logo evidente que, no que se refere a morfodinamica, nao se deve falar da evolmjiio climatica da Europa oeste ou oaquele periodo, mas antes das repercuss6es que uma sequencia de estados meteorol6gicos tiveram em determinada regiiio num dado perfodo. Par esse facto, Humbert Lamb ao estudar a influeocia do clima na HisI6ria (1995). desenvolve 0

seu trabalho segundo uma tabela cronol6gica crescente mas, tamrem, dividindo esta mesma "tabela crono16gica" pelos varios ponlOs do globo. A titulo de exemplo refira-se 0 facto de Lamb (I 995, pp. 172-185) estabele­eer como picos de aquecimento na Europa medieva os seguintes pe­riodos:

a) entre 800 e 0 aDO mil para a Noruega; b) entre 11 ooe 1300 para vanas zonas do Reina Unidoe Europa Central;

os VerOes apresentariam. em media, uma temperatura superior a actual em cerca deO.? e J .O°C, no prirneiro caso, e J.O a 1.4 DC noeaso da Europa Central;

c) no Mediterraneo, no Mar Caspio e na Asia Central, 0 impacte deste aqueeimento a norte vai·se fazer seotir atraves de urn aumento da humidade. a qual varia eonsaante as regi6es em apret;o. Tal facto pareee explicar·se pela des locarrao da faixa anticicl6Dica da zona desertica, que saiu do seu eixo tradicionaI que vai dos Afj!ores a

Page 8: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Alemanha ou Escandim\via e provocou a infi Jtra~ao de uma frente fria que, vinda do sul, atingiu quer a Europa Oriental quer a Europa Ocidental e, ate mesmo, a Asia Central.

Como cbegar a este tipo de resultados? Sabendo que s6 a partir da epoca moderna podemos ter acesso aos in5trumentos de mediyao meteorol6gica-o bar6metro e oterm6metro 56 seriam inventado5 na ltaIia da primeira metade do sec. XVII, por Torricelli e Galileu, respectivamente - 0 historiador do clima tern de recorrer as mais diver5as fontes que lhe perrnitam deduzir as infonna~6es e compilar os dados pretendidos. Por exemplo a curva do pre~o dos cereais num dado espa~o, em determinado periodo, pode imliciar os niveis de pluviosidade (ou ausencia dela) durante o cicIo agricola, 0 que, obviamente, se reflecte na abund:incia ou escassez da oferta e, logo, no pre~o do produto. Contudo, esta dedu~ao dos niveis de pluvio5idade a partir do pre~o dos cereais deve ser encarada com cautela pois nao e possivei estabelecer uma relatyao directa de causa e efeito entre estes dois elementos. 0 mais segura sera cruzar este tipo de informa~5es com outras decorrentes, v.g., da analise dos te~tos e cr6nicas coeyas, da obserya~aO dos ritmos de crescimento das cirvores (dendocronoiogia ou dendoclimatoiogia). da observa~ao do estado de conserva~ao das vigas dos monumentos, da recolba de dados arqueoJ6gicos, do estudo das sequencias sedimentares e microbiol6gicas dos dep6sitos marinhos e lagunares etc .• etc. , etc .. (cf. LADURIE, 1983; ALEXANDRE, 1987 ouLAMB, 1995). Na verdade, a recolha, analise e interpretarrao de registos climaticos, sobretudo para os perfodos anteriores ao sec. xvm, implicam necessariamente urn esforrro interdisciplinar.

Para conduir esta breve referencia aos factores condicionantes do meio ffsico, resta-nos mencionar os acontecimentos que, a falta de melbor defini~ao. designamos como "factores ad hoc", isto e, as ocorrencias perfeitamente fortuftas que, nao se incluindo em sentido estrito nos dados c1imaticos. acabam simultaneamente par seT condicionados e condicio­nadores dos mesmos. Referimo-nos, entre outros, aos temporais, aos gran­des sismos, aos ciclones e aos tsunamis (nonnalmente conhecidos por maremolos), cujo impacte na morfodin§mica pode nao ser estrutural mas e, seguramente, extraordinariamente importante ao myel decenaJ e secular.

Page 9: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

G~odina",;ro ~ QC'fOe$ Dut,-QpicDS.' 00;$ tI~"'~ntos ~smlfUratl/es liD COIISlrUrQU dQ Europa

3. A INTERVEN4;AO DO HOMEM

Her6doto, parafraseando os gregos seus antecessores que integrararn a expressao de Hecateu de Mileto (TAVARES, 1995, p. 3 1), referia·se ao Egipto como "urn Dom do Nilo"; era·o, com toda a certeza, mas foi i gualmente aquilo que dele fizeram os egf pc ios. Se 6 ceno que a geomotfologia influenda 0 curso das civili za90es hist6ricas, e igualmente irrefutavel 0

poderdo Homem como agente e construtor da Hist6ria. Longe vao os tempos do determinismo patenteado pelos ge6grafos oitocentistas que "( .. . ) pretenderam explicar as paisagens apenas emfunt;aodas condifoes naturais: dureza e penneabilidade das rochas, estrutura do solo e do subsolo, temperaturas e precipitafoes, ventos e dimas. Em vao, sem duvida: codas esees factores fisicos constituem apenas 0 quadro em que 0 homem agiu, a partirdo momenta em que se estabilizou ( ... )" (DUP .A.QUIER, in BRAUDEL. 1996, p. 64).

Homem e Natureza estabeleceram, desde 0 aparecimento daque1e, urn bin6mio no qual a sobrevivencia e exito do primeiro dependem, sobretudo, dos seus conhecimentos tecnicos, da sua capacidade interventiva, em suma, do engenho humano. Aquilo a que as chamadas Ciencias da Terra designam por"ac90es antr6picas" (influencia activa do Homem no processo ambiental), pode sucederno sentido das sociedades intervirem aproveitando os recursos que 0 ambiente lhe ofereceou, em situa90es adversas, procurando contornar os obstaculos que a Natureza the apresenta. E isto aplica·se quer para 0 bem quer para 0 mal, uma vez que as consequencias das tais aC90es antr6picas ora resuJtam em sucessos fundarnentais para a prossecu9ao da pr6pria especie humana, ora redundam num aparente Sllcesso que a medio e longo prazo acarretam efeitos danosos quando nao irreparaveis. Passemos a concretizar com urn exemplo extremamente simples. E hoje genericamente aceiteque, urn pouco portoda a Europa, os seculos xn e XIII foram perfodos de crescirnento demognifico (cf .• portodos, DUPAQUIER &A YMARD, in BRAUDEL, 1996, p. 78). Paralelamente ao crescimento demogrAfico, verificou·se urn aumento da procura de:

- terras agrfcolas, fosse a custa da area florestada, da drenagem de pauis, da ocupa<;ao de solos com uma diminuta capacidade produtiva, ou outros mecanismos quaisquer;

Page 10: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Rosarro BaJIQJ/A.I~iri'*lto DioJ

- pastagens para 0 gado; - madeira para construir casas, embarcar;6es, dependencias e alfaias

agrfcolas e para 0 carvao.

o resultado de todo este processo pode equacionar-se:

1 - a curto prazo - efectiva satisfayao das necessidades da procura; 2 - a medio prazo - deteriorayao dos indices de produtividade dos terrenos agrfcolas.

cuja capacidade se encontrava comprornetida pela lei dos ''rendirnentos decre,cente," (BRAUDEL, 1996. p. 97);

- degrada9iio do coberto vegetal atraves da queima Oll cone de basques, matas. brenhas e chamecas, desestruturando a tragi! equilibrio entre ager e saltu.s;

- acrescimo dos acarreios sedimentares continentais (e consequente aumento dos caudais s61idos transportados pelos rios), provocando grandes modifica\=Oes da geomorfologia costeira atraves, porexemplo. da acumula\=8.o de areias no litoral , da fonna9ao de restiogas, do assoreamento de canais e, mesmo, do encerramento e colmatar;ao de barras.

Tudo iSIO num periodo em que os condicionamentos decorrentes dos conhecimentos lecnicos limilam a capacidade de resposta do Homem face aos reveses ambientais.

4. UM EXEMPLO PARADIGMA TIeO DA INTERACI;:AO HOMEMI /NATUREZA: A LAGUNA DE A VErnO

A formayao da laguna de Aveiro e urn fen6meno extremamente interessante que ilustra a influencia que urna rapida evo)uyao morfol6gica pede ler ao nlvel das estruturas de povoamento e da utilizar;ao dos recur­sos naturais. Vamos focalizar-nos nurn caso exemplar no que se refere a urna dpida modifiea9ao eosteira a nivel europeu e mesmo mundiaL Par urn fe liz aeaso, a formar;30 desta laguna oeorreu nurn territ6rio europeu

Page 11: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Gt()dillllm;t:1J t nCfiJu (Jllm'jp;clJs: OQis eltmt!nrl.>J tslruluranltS ,10 cOIIS/rurau do EJ/rol'{/

- Portugal- cuja estabiliza930 das fronteiras polfticas e geograficas, tal como se encontram actualmente, e a mais antiga de todos os parses da Europa. Por outro lado, a constitui9ao da dita laguna e a genese e formar;ao do estado portugues saocronologicamente coincidentes. Como refere Orlando de Oliveira (1998), "A Ria de Aveiro e Portugal fonnaram-se ao mesmo tempo" e, acrescentariarnos n6s, 0 desenvolvimento de uma contribuiu, na devida propon;:ao, para a afirma9ao do outro.

Comecemos por del imitar 0 espar;o. E hoje consensual que a abordagem do Baixo Vouga lagunar s6 faz sentido se analisarmos nao s6 a sua bacia hidrografica, mas tambem uma vasta area circunscrita, grosso modo, entre a foz do Douro e Buarcos, porquanto a evolu9ao da desembocadura deste rio foi tambem influenciada pelo abastecimento sedimentar fluvial de outros rios maiores, designadamentedo rio Douro que, a norte, merce sobretudo da deriva litoral, fo i urn agenteactivo na mobiliza9ao e distribui9ao de sedimentos pela plataforma continental da regiaoem apre90. Assim, para esb09armos os contomos do litoral na zona do Baixo Vouga e todo 0 seu hinterland (espa90 fluvio-marfrimo navegavel). teremos que atentar nas informa90es concementes a toda uma regiao que ultrapassa, a norte, os limites da actual laguna de A veiro.

No sec. IX encontramos ja men9ao a lagoa de Ovil, actualmente conhecida por'13aninha de Esmori z" (P.M.H., Dip/omara el Chartae, docs . 8 e 12), men9aoestaque serepete para 0 seculo seguinte (P.M.H.. Dip/omara et Chartae, docs . 25 e 291). Nesta fase, a lagoa de Ovil estava nao s6 perfeitamente form ada como se encontrava ja em fase assoreamento como nos indica urn estudo arqueol6gico e geornorfol6gico decorrentedadescoberta de uma armadilha de pesca datada da epoca roman a (secs. UII d.C.). Os resultados obtidos com 0 referido trabalho concluem que ha cerca de 2000 anos este corpo lagunar estava activo, tendo sido progressivamente assoreado ate se transformar em terreno emerso. Na verdade, por volta dos secs.lXIX, a zona j a tinha sido colonizada por especies arb6reas (ALVES et al. 1988--89). Quanto a dirnensao desta lagoa, que nos nossos dias se reparte entre Paramos e Esmoriz, podemos documentar que, ao tempo, era consideravelmente maior quer a norte, quer a suI. Vejamos, a supracitada armadilha de pesca fo i descoberta na praia da actual carreira de tiro de Silvalde. Contuda, poder-se-ia tratar de uma outra forma9ao lagunar. Porern, em 1037, diz-se que a "vila de Pousada" (actual mente Santa Cruz,

Page 12: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Ro~6rjo 8iutovA./veiril1iro Dias

em Silvalde) se situa no percurso "do rio a que chamam lagoa" ate que desagua no mar (P.M.H, Diplomara et Chartae, doc. 296); aMm deste diploma, uma carta regia datada de 1284. destinada a delimitar 0 castro de Ovi l e a vila de Silvalde saJienta, a prop6sito das respectivas demarca~6es,

que a rio Maior vai a direito desaguar numa lagoa (Corpus Codicum, vol. I, pp. 393-394), obviamente, a do castro de Ovil. A sui de Silvalde, tambern se detecta que a configuray.3.o da lagoa era diferente da actual. Nas inquiriyoes dionisinas de 1288 faz-se referenda a lagoa de Cortegaya (cit. in AMORIM, 1986). Assim. parece que ainda nos seculos Xli e xm, a lagoa era maior que actual mente, espraiando-se por Silvalde, Paramos, Esmoriz e Cortegarra.

Assim, parece que urn dos primeiros perfodos de abastecimento sedimentar ao litoral teHi acorrido por volta do sec. X e seguintes, pelo menos na faixa norte de Portugal , a queecorroborado DaO s6 pela supracitado exernplo da "barrinba de Esmoriz" como, tambem, pel as elevadas taxas de acumula~ao de dep6sitos lodosos registadas Da plataforma continental media e;lttema ao largo do Porto (DIAS et aI., 1997, p. 60). Este facto, teve subjacentes factores climaticos e antr6picos. Vejamos:

A cronlstica portuguesa faz menrrao a intensas chuvas e cheias ocorridas nos seclllos xn e xm. Rui de Pina, na Cronicade D. Sancho [(p. 63) refere "Despois da era de Nosso Senhorde mil e dUlemos e hum annos [1163], por continuadas chuvas. que em todos hos mezes sobrevieram nom se poderam fazer sementeyras ( ... r, ou ainda, "( ... ) Destroyo em pessoa has terras dos infieis na frontaria Dandaluzia. e da volta jaa sobre 0 In verno, yeo por cerquo sobre a castello de Serpa r ... J. Mas par chuvas, e grandes tempeslades, que logo sobrevieram, alevantou 0 cerquo [1198]" (Idem. p. 32). Ja para 0

initio da Centuria de DUlentos se diz na Cr6nica dos Sele Primeiros Reis de Portugal (p. 176) que "arra a Era de MCCXXXVIl/ anos [12001[oromas chuvas lamas e tam contynuadas que mio podiom lavrar a lerra, nem semear, se nao em muy pouquos lugares. E aqu.ele pouquo que semearom com grande chuva, nao naceo { ... }".

Paraleiamente, 0 Bai;lto Vouga nao tera constitufdo excep~.3.o ao incremento demografico dos seculos XI a xm, registado urn POllCO portodo o pais (COELHO e CARY ALHO HOMEM. 1996. pp. 166-172). Tanto na sua confrontalf.3.0 setentrional como na meridional , 0 hillleriand da futura laguna de Aveiro sentiu, nos primeiros tempos portugueses, u.rn aumento populacional significativo. Ism mesmo nos e dado a conhecer. a norte. no

Page 13: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Ge()flilllimittl e aqots alltnipicas: Dor; tleme/1/os U trlrlllrtZllltS"O COllJ'"' filO da Ellropo

estudo 0 Castelo e a Feira. A terra de Santa Maria nos siell/os Xl a XlII, onde se assinala uma coioniza'rao interna do territ6rio quer na oria litora1 (mais modesta), quer nas terras altas. ac ima dos 200m (MA TrOSO et al. 1989, pp. 7 ) -74).Nessa altura, adens idade populacional rondariaos 14 hab.! km2, valor semelhante aD atribuido para esse mesmo territ6rio na primeira met.de do seculo XVl (MATTOSO er ai, 1989, p. 76). T.I facto, equacio­nou-se, como seria de esperar, numa expansao agro-pastori l. pontuada por arroteamentos de sucesso desigual (MA TrOSO el 01, 1989, pp. 92-94) e, tambem, por uma intensificarrao da exploracrao de bosques e montes (MA TTOSO et ai, 1989, pp. 85-87).

Esta mesma realidade encontra-se igualmente retratada a suI , sobretudo em loeais do actual eoncelho de Agueda, onde D. Dinis terA exercido urn grande esfor90 no sentido de promover 0 (re)povoamento. ocupa~ao (arroteamentos) e aproveitamento das terras atraves de doa'roes e da loca\ao de maws e montes maninhos (cf. tabela I dos anexos).

Desta fonna, urn provAveJ perfodo de grande pluviosidade ao qual aeresce urna intensificarrao nas formas de explora~ao dos terrenos, terao conduzido ao aumento do caudal dos rios (principais e subsidiarios) 0 que, as veres, e utilizado pelas popula~Oes em proveito pr6prio; assim, segundo urna inquiri9ao feita em 1284 sobre os termos de Silva1de, descreve-se que uma das fonnas de obter madeira era a de procurar arvores caidas ao longo das margens dos cursos de agua, arvores essas que tinham side derrubadas em virtude do aluimento das margens, provocado pelo aumento das [espectivas torrentes (MA TTOSO et ai, 1989, pp. 86).

Esta situa~ao de forte abastecimenlo sedimentar, veri.fieada Da bacia do Vouga mas, possivelmente. comum a todo 0 norte portugues - como ja deixamos refendo (DlAS et al. , 1997, p. 60) - teria condicionado aevolu~ao da configura~ao do litoral da futura "Ria de A veiro" meree , sobretudo. do desenvolvimento de grandes dep6sitos sedimentares.

Qual seria, entao. a provAvel linha de costa deste troc;o do litoral no perfodo irnediatamente anterior a forma9ao de Portugal, bern como nos prirneiros seculos da sua independencia? Vejamos 0 que nos revela a documentar;:ao eserita desse perfodo. Para alem da ja rnencionada lagoa de Ovil, sabernos que no seculo X Ovar era urn porto maritima (P.M.H., Dip/omara et Chartae, doc. 25), 0 que demonstra que nao se comec;ara, ainda, a formar 0 cordao arenoso que daqui crescera para suI. Nas cenrurias

Page 14: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

RosariQ B(lJIQvAly( irinhQ Dias

seguintes vamos encontrar referencias a situayao geografica cosleira ("prope titus mare", no dizer coevo) respeitantes as localidades de Espinho e Auta (P.M.H., Dip/omata et Chartae, doc. 585 e Livro Preto, doc. 185 Oll

Carrutario Baio F errado, doc. 43), de Caban5es, em Ovar(P.M.H.,Diplomata et Chartae. doc. 261 e Docs. Mediev. Ponug., vol. m. doc. 104) ede Vilar, pertode VaIega (P.M.H., Diplomata er Chartae, doc. 187 eLivro PrelO, doc. 435 ou Docs. Mediev. Ponug., vol. III, doc. 56). Ainda no sec. Xli, encontramos urna imponante revelayao respei lante a foz dos rios Vouga e Antua. Quanto ao Vouga, menciona-se que ele percorre a localidade de Rio Seco (c. Estarrej a) entrando no "mar oceano" (sic) pela parte oriental (Tombo do mosreiro de Grij6, cit in OLIVEIRA, 1967); 0 Antuii, ainda desaguavano mar (Censua/ do Cab ida da SI do Porto, pp. 2 e4). Estesdados confmnam que, muito embora em Ovar ja se tenha come9ado a formar a restinga arenosa, esta ainda devia tercomo limite suI a Torreira (onde, alias, se situava a barra: ABECASIS, 1965), dado que 0 Antua e 0 Vouga desembocavam directamente no mar, 0 prirneiro em Estarreja e 0 segundo, urn pouco mais a suI. entre Canelas e Ferme1a. Isto mesmo e corroborado pela doayao de urna propriedade sita em Esgueira, no inicio do sec. Xli (11 03), na qual se local iza 0 patrim6nio doado como ficando perto da foz do Vouga, que ja sabemos estar urn pouco mais a (lorte (entre Canelas e Fermelii), junto a orIa maritima (Milenario de Aveiro, vol. I, doc. 9). Outra informa~3.o imponante eaquela que nos e transmitida por urn documentode 1095, respeitante Ribas Altas (fihavo). Ai se descreve com precisao que Ribas Altas tinha a ocidente a praia, no li toral (Livro Pre to, docs. 302 e 307). Note-se que 0 documento indica explicitamente "in ripa maris" (no litoral) e DaO "prope titus mare" (junto ~ orla maritima), 0 que nos permite fazer passar 0 desenho da linha de costa por flhavo, ern finais do sec. Xl e inicios do sec. xu.

As referencias documentais a marinhas ou talhos de saJ permitem-nos complementar e aferir com urn pouco mais de precisao 0 tra'iado da linha de costa porquanto, como e 6bvio, as salinas situar-se-iam necessariamente pr6ximas do oceano. Logo na primeira alusao encontrada, dalada de 929, se pode ler que 0 presbitero Todesano e seu irmao vendem ao abade do mosteiro de Moreira as suas salinas de Degarei (VaJega) "cum suis muris et maris" (P.M. H. , Dip[omata et Chartae, doc. 35). Cronologicamente, segue­-se a famosa doa93.0 que, em 959 Mumadona Dias , fez ao rnosteiro de

Page 15: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Guimaraes, por ela fundado, e da qual constam as salinas de Aveiro como integranles do patrim6nio agora alienado (Milenario de Aveiro. vol. 1, doc. I). Mas muitas outras sao as localidades onde encontramos alusao a existSncia de marinhas au tathos desal; deslas apenas referiremos asua mais antiga aJusao escrita (podendo estes dados sec compJementados com a cf. da tabela 2, em anexo). Assim, ha que mencionar: Esgueira (c. Aveiro), em lOS7 (Livro Prero, doc. 110); Alcaroubim, nas margens do Vouga (c. Agueda), em 1059 (D.C., doc. 420); Rio Seco, entre Canelas e Fermel' (c. Estarreja) , em 1078 (D. C. , doc. 557); Sa (c. Aveiro), em lIDO (D.C., doc. 936 e Milentirio de Aveiro, vol. I, doc. 8); Cacia (c. Aveiro). em 1192 (MilentiriodeA veiro, vol. I ,doc. 25); Vagos (c. de Vagos), presumivelmente em 1204 (Docs. de Sancho {, doc. 154); Cabanoes (c. Ovar) , em 1268 (T.T. , Chancelaria de D. Afollso Ill, Livro I, fl. 47 VO) .

o aumento das marinhas devera estar re lac ionado com cinco factores fulcrais, a saber:

I - A fonnac;ao de ambientes propfcios a produc;ao de sal, iSlO e. a lransfonnac;ao de urn espac;o aberto ao oceano (deste sofrendo as irnpactes das ondas, etc.) nurn espatro energicamente bastante mais calma, jii com caracterfslicas laguna res, protegido por restingas arenosas e. consequentemente, propfcio It implementalJao das marinhas. A norte 0

cordao litoral vai pragredindo e, a sui , a simples menc;ao a produc;ao de sa] em Vagos, no inicio do sec. XIII. leva·nos a suspeitarque j~ se comec;ara a formar a restinga que constituira 0 limite meridional da futura "ria" de A veiro. A ser assim, temos que anteciparem quase dais seculos a delimitac;ao da laguna, relativamente a proposta de Martins (1947).

2 - A conjuntura hist6rica decorrente da estabiJiza~ao da fronteira a suI, com a tamada de Lisboa em 1147.

3 - 0 incremento demografico, cuja popula~ao se fixa nos tenit6rios conquistados ao infiel.

4 - 0 aproveitamento dos recursos naturais resultantes das altera~6es geomorfoI6gicas em curso. capita1izando a partir do mar rendimentos que a solo. peJa sua pobreza, nao facultava em tennos agricolas.

5 - 0 aurnento da procura decorren te do declfnio das salinas de Alt~m· ·Douro (COIMBRA, 1836, p. 25). Estc factor pade ser simuitaneamente causa e consequencia uma vez que 0 referido declinio da salinas nortenhas,

Page 16: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

resultante de urna crescente acumulayao sedimentar (DIAS et al., 1997. p. 60). contribuiria para 0 incremento da produyao de sal em A veiro mas, tamoom, a abundancia deste produto at registada teria acelerado a decadencia ou mesmo desaparecimento das marinhas situadas a norte do Porto (RAU, 1984, p. 60).

Como quer que seja, a produyao massiva do "sal de Aveiro" (e seu enlomo) regista-se no sec. XII e, substantivamente, no seculo xm (cf. da tabela 2, em anexo). Em 12]6, D. Pedro Afonso e sua mulher doam ao mosteiro de S. Joao de Tarouca mil moios do sal que anualmente retiram das suas salinas emAveiro (Milendr;odeAveiro. voL I, doc. 32). Estaoferta leria o intuito de oferecer ao referido cen6bio uma mercadoria facilmente transforrnavel em moeda corrente (RAU, 1984, p. 59). Ora como a produyao e elevada, os preyos baixam e, com a baixa de preyos, fica lesado 0 rei nos impostos (dfzima) que cobra sobre a transaccrao deste produto e ficam igualmente lesados as produtores que vern diminuir os seus lucros. Esta realidadeleva aque seja gizada umadelibera~ao municipal aveirensedeque resulta urna postura que restringe a produyao de sal em Aveiro aos meses de Julho e Agosto (COIMBRA, 1836, p. 24 e RAU, 1984, p. 106).lustifica­va-se esta postura face ao rnonarca argumentando "que [hjs valesse majs o sal POIlCO que / ezesse que 0 auondamento que a nossa terra delle podia auer/. Nem a prof que se a nos seguja das dizimas" (cit in RAU, 1984, p. 106). Esta determina~ao foi obviamente eonfirrnada pelo monarea, D. Afonso [V, e de nada valeram os agravos apresentados nas cortes de Santarem,em 1331 (RAU, 1984,p. l06),nemmaistardenascortesdeElvas de 1361 (COIMBRA. 1836, p. 24).

Assim foi do ponto de vista hist6rico porque ao nivel da geodina­mica a instaJa'fao de tao grande numero de salinas come'fou imediatamente a modificar a estrutura reeem criada naturalmente, sendo possfveJ que fosse urn factor amplificador do assoreamento lagunar. Na verdade. 0 continuo assoreamento da "ria" e bern evidenciado na formayao ou desenvolvirnento de ilhas de dimensao consideravel no interior da laguna. E isto no seculo XV quando, em 1407. D. Joao I doou a I1ha Testada ao seu meirinho-mor de Entre-Douro-e-Minho (Arch Histor. Portuguez, vol. II, doc. I) ou, mais tarde, em 1494. quando D. Joao n afora a Diogo Pires; 6, mais tarde, em 1494, 0 caso de urna outra ilha situada no termo de Aveiro, muito

Page 17: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Gtodj,,6miCQ t OCfOf'S Qn/rop/cos; Dais tlt1lltll/OS ts/",tlmmftJ /10 COl1JI",(ifo do Europa

=-~oo_oo_ ... __ 00_"_­_ .... IN .-

.-

Fig. 3 -AproxiTTUlfiio ao trafadoda linha dl! costa ml!di~1 no Baixo Vouga Lagunar.

Page 18: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

ROJdriu 8//JWs/Aluirinho DillS

possivelmente a Ilha do Monte Farinha (T.T., Leitura Nova, Estremadura, Livre 6, fls. 226-227).

Desta fonna voltamos ass im a quesHio inicial: a interac'tao Homeml lMeio. Julgamos ter ja provado ate que ponto a ancUise do Baixo Vouga medievo pode ser elucidativa na compreensao da interdependencia e influencia recfproca entre estes dois "agentes da hist6ria" (0 Homem e 0

Ambiente). A sua escaJa, esta regiao materializa 0 que Braudel (200 I, p. 26) ass in ala paraespa~os mais amplose tempos mais globalizantes: "A a/ternancia entre 0 sedimentofao e a erosao explica-se pelas alterafoes do n(vel do mar, pelas varia£oes clinuiticas (mais tiguo significa maior Jorfa de erosiio J. peJa aCfiio do homem, que intervemna composi£iio do coberlo vegetal e modi fica as condifoes de escoamento dos cursos de dgua".

5. CONCLUSAO

Do conjunto de ideias atras enunciadas destacam-se alguns pressupostos quemerecem, agora. uma breve sjstematiza~ao . Assim. parece sobejamente evidente que nas modjfica~oes hist6ricas verificadas na Europa (ou, mais precisamente. no ac tual espa~o continental europeu) 0 Meio influenciou 0

Homem que. pOT sua vez, tambem influenciou 0 Meio. assumindo 0 seu papeJ de agentee construtorda Hist6ria. No entanto, e frequentementedificil distingurros m6beis que innufram naevolu~ao das paisagens, isto e, asmais das vezes torna-se extraordinariamente complicado perceber se as modifi ca~5es registadas decorreram da actividade humana ou de urn fOf9amento natural (ou, ainda, de ambos os factores combinados). No Que respeita a fdade Media (au a perfodos bist6ricos anteriores), afigura-se muito diffcil identificar com pormenor as modifica~6es naturais do Meio e as suas inter -relat;6es com 0 Homem. pelo que s6 atraves de uma investiga'tao profundamente interdisciplinar se consegue, de facto, chegar a algumas conc1us6es. Por exemplo, 0 caso de A veiro, com a formayao da sua laguna, evidencia a saciedade como uma evolu~ao geomorfol6gica extremamente rapida condicionou a postura do Homem, 0 qual se viu obrigado a adaptar as suas estruturas socio-econ6micas a geodin1imica. Os espat;os e respectivos nfveis de povoamento bern como a rentabil izat;ao dos recursos narurais, com evidente destaque para a salicultura, sao disso a prova. Portanto. terminamos

Page 19: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

G~adil!amica ~ aCfQ~.t antropicaJ: Dills t itmelllos estro turalllfJ no COIIS/rup;a da Europa

fazendo apelo a cita9ao que enceta 0 presente trabalho porquanto, Ontem como Hoje, 0 sucesso e sobrevivencia do Homem e a subjacente gestao sustentavel do Meio, dependem da inteligente gestaodos recursos disponiveis . Para tanto, todos somos ainda pOlleos para analisar. compreendere, sempre que possIvel, evitar ou corrigir 0 instavel equilibrio estabeleeido entre HOMEMINATUREZA.

Page 20: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

ROldrio BQltoslA./~~irinho Di/U

ANEXOS

Tabela 1: OCUPAC;:AO/APROVEITAMENTO DOS SOLOS

0.1,1" Ju;[NIUlO TlPOLOGL\ '-""'L

I Ii .0""

~~ , !! I! • ! Ii

1000,""lO . -- , u.ro,.."., ...... IL , ~~c'.II.H~ o <10<.6'11

1191.~ ...... , .... ~ . , I~."A_, , ..... * ~n

IlIl, DeL. 11 D. DiIIio _ ...

e:;:;,::- X T,T~~[)'

DIIfiI, I.Mo I, n. ....... , . ,.,. [W, Jon" , D. Dinil ...r-lOnlP. '1 ...... ( .. , T.T.,~[).

~"', Li_ I II. 11 11I.,J .... , • D. Din;, .1,_10 ..... Momcl (t. , T.T.,CII~D. ......., (),·.Il.lMol,n . . " 11«.fn-. D. 0iIUIi M_lOrIrfIO T .... "'1'ri-o , T.T,O_[).

DMh,u..ol,n.. 1001-1(1.1"

12U, Woor.) D. Dinis ,.oJcnmo,o1O nIP> -~""-, T.T.~[). --. Df.oIl.Uvn> 1.0. lll

,;:.~c. lUli, ...... U D. 0;..;. ......-. .... ,,-~

, , T.T.a--ll. ....... 00./1, Uvn> I, n.1lI

t:":';;!'.- , Illt. "",16 0. DiDia _10" Tem ... I'ri-o , , T.T.~o.

DUoIr.u....I.II.131 , 1191,,....,16 D. Oiail --- ""ft

, X T.T. ~ll.

'f.:,\' Do:oia,U_l,1I.2

U'lo4.J ..... ll D. Din .. Mtn ............. C7l.lll1plodo , , T.T.~D.

'''' DUoIl. Li_2. II. 66 , 1l9J.M .... 6 D.Dini' Afcnrn<IIIOnlpo ,-- , T.T. o...I_D.

~M'" DUo,", u...... 2. Do. jIIlpdo. ....... ,~

1l1l,00&..) 0.0.. - .... ~ ... ft X T.T.~D.

~,(c. L\IooU, u.... 4. II. sti

1l1l.,,",11 D.OWI -~ , .... , ~.A_,

~- qI. ~40<." Ul4.ha, 1l D. 0;" .. ~.- •. I . V_ X T.T.~D. -- DUolI,U_ •• 1I.

.s. VieeI<. , ... "",,,-c. ~

1l14,lon,ll D. Din .. ~1On!lio srM"do X .1 .• 0. __ D.

M~'" DiIIIr. LMo '. no. Mp60do ... " ,~

1)1., Joa., 20 D. DiniJ ...r ............. .... Ipdodo , T .• ~D. ,~ Df.oIl U_. o. 66

1l1'._ .• ll D. Dill .. ""'-"'Po 5.CrioIoowIo .. , T.T~a-[).

M'.Z'::IC" """,,-u....'.11.67

UlS,AlIr. " D. 0;.,;, -- .0--_ , T.T.~D. ........ ,. OWl. u..... '. II.. 71

Page 21: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Gtodimimica t aCf"tS (lntr6picas: Dais tltmt nJOS tsu'urur{ln/ts "a ca1l3lru~aO da Europa

UO', Fn.,ll D. M-..I I c ... de pri';l<cio "- , T.T _ l.cin<nJ ,;. ... £J~.u.....

Il. n. I I' l l . Abr .. 11 D."""'''' 1 --.... ~-.

, T.T.t..Itwo 1<o ... -... ~"""u..... (e. ;.,......,.)< Il. n. 4"W . H-"

<OfIl'r<wm . 0111 n-~_.",". rv,

totIIlVoi><Io ...... 32)

."

Tabela 2: AS MARINHAS E 0 SAL

=~O~ ,=~ ~~70 ,=, ..... ." .,.~.

; . -- ,- ~, . .,-,

, "=1'

, '" . .,.~.

, .. ,-", _Iirio<lo ... ••

poOI"inDIio D. - .. ,"' ,,;

, .. . -- I" 1'-' .. ,~.

, 'T.::::!' I ,;:;~; Heoviq ... 1 ;;;~7-'::

';3:: " ... ". ::.::.": - ,- , A_ . .,,;c.~doc.

" ,-

,-, _. " ~: ~ ,.;;;;~~:,~.

, , ~ "

Page 22: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Rosario BasroS/AI~tirinho Dias

_PcraFuinho .I""'. vol. 1<10<. • f._do ........... " ... Lo<vI<>; h:z

.. _is.

-~ 1100-1201 D. 5000<ho I - A vetro, £spiro. Dq:.oim«I ... doo M_. -. - .1_.001. 1 doc. V_(_e.

i"'l" __

" A_) ,.ratnc:is . -* 1l0l.J ... D.S-hol T ............ Eopcin(e. T_lC"'FfCi

_. A,..;,o) P .... <Iov'"'p. ,j.a"" • .cI. 1 doc.

_do""" ...... " ... Lao-<Io. 00 "",1 dcixo l' toIhoo <10

....,-nlIoq ... poISoI.", Fipciro

do F01IlOde

• " (12{loI]. AIO_ If O. $arw::ho I '"'" '- O ........... doaoo _.

"""....., ... 0rij6. $dowl.doe.lS' .... _deSt M"'''' Vqos com .. _marin ....

1116.1 ... 1 . _. - A ...... 0.1'«110...-. ......

............. doun ... ,j_. ""'-ldoc. ....... " T .......... I_ ........ do .. lquc rio_emA"";'"

11l3. ...... 0. s.n.hoU ""'" .- A 1n&nra D. /oI,l<MrNoh SM<hooSoo .. .1_. vol 1 doe.

monei1O ... Ctloo • " f~_'" A.,..;,o; h:z

rd.-it. .... ;"., 1161.0.< D. Afoftso III - CIbanI'><o (e. 0-) Inq"~ I«f<.I f .f .• CIwoaIarl<o

doo .. I ....... (). .(.ot.tH fl!. U-~. I. n.'7v" -'-_10m .... . -Uts.,.... 0. Afonso m "'_. . ... O\>i......, ... _

.~. - ~_n""' . ,j.a""."",-Ldoe. ~q",o ... " \>isoO<l_ra", .. _4t T""""" ..... I _ ...... de .-,m D.o;.it, - . ..., V irioo solio<inoo ... /oI,Ia_ . ,,-_ .. ,j_.~.ldoc. ....... • f 0t0U<I morioIhoo """polS ...... (~r><*m ..

.............. Iinu 129(1. Dtz. 0 . 0;,,;' - " ...... D_de Ui1~. _.- .1-01 .... vol, L do<.

ririu~ " "",,_01 em "~fsoCIodo

rdame;" • --1)(16, Moio.)1 D. DiniI _. . ... o~ ...... /oI11<MrN.

oom o..-itO de .1 ............ 140<· f..,..,., _

" _ dcAvetro,

pdoque", 1000 _ .............. -~-om

I)06.Jol. ' D. DiRis - .- D.Pedro...ro...o. T.T .. ~

.... --.. .D. lJilt#, Umo _. 5, II. 73. Uwo

Page 23: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Gtodinamica t acr~s amropicas: Dais tltmtnIOS tSlrulurallltS lin cOIIslruruo da Europa

o_~.

~.

'-~ """'tetro de st" M" 4a M;S<ric<!rdia <Ie

.;,. , .• _ m

-. ".'.'i~

';.n

Page 24: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

Rosario BQSlos/"'~t'irinlro Dt',u

FONTES mST6RJCAS

Archivo Historico Portuguez, vol. 11, Lisboa, 1904. Censual do Cabido da Si do Porto, Porto, Edir;ao da Biblioteca PUblica

Municipal do Porto, 1924. Corpus Codicum Latinorum et Porrugalensium Eorum Qui in Archivo

Municipali Portucalensi Asservantur Antiquissimorum, vol. I: Diplomata, Chartae et lnquisitiones, porto, Camara Municipal do Porto, 1891-1912.

Cranica dos Sele Primeiros Reis de Porn~gal (1952-1953), ed. Carlos da Silva Tarouca, 3 vols. , Lisboa, Academia Portuguesa de Hist6ria.

Cr6nicas de Rui de Pina: D. Sancho I, D. Afonso II, D. Sancho ll, D. Afonso III ( ... ), introdur;3.o e revisao de Lopes de Almeida, Porto, Lello & lrmao, 1977.

Documentos de D. Sancho I (1l74-12l/), ed. de Rui de Azevedo, Avelino Jesus da Costa e Marcelino Rodrigues Pereira, Coimbra, Centro de Hist6ria da Universidade, 1979.

Documentos Medievais Portugueses. Documenros Particuiares, voL 1ll,(1940), vol. IV, tomo I (1930), Lisboa, Academia POl1uguesade Hist6ria.

Hisloria Florestal, Aqu(cola e Cinegitica ( ... ), Lisboa, Ministerio da Agricultura e Pescas, Direcr;ao Geral do Ordenamento e Gestao Florestal , 1980.

Le Cartulaire Baio-Ferrado de Crij6 (Xl,· -XITI~ sieeles), Introduction et Notes de Robert Durand, Paris, Fundar;3.o Calouste Gulbenkian, Centro Cultural Portugues, 1971.

LivroPretodaSi de Coimbra, ed. crfticaporLeontina Ventura e Maria Teresa Veloso sob orientar;ao do P. Avelino Jesus da Costa, voL I (1977), vol. II (1978), vol. ill (1979), Publica,oes do Arquivo da Universidade de Coimbra.

Milenario de A veiro, Colectanea de Documentos Hist6ricos, org., leitura e revisao de Ant6nio Gomes da Rocha Madahil, 1° voL, Aveiro. Camara Municipal de Aveiro, 1959,

Porrugaliae Monumenta His(orica ( ... ): Diplomata et Chartae, voL I, Olisipone, 1867.

T.T., Chancelaria D. Afonso Ill, Livro 1 e Chancelaria D. Dinis, Livros 1,2,4, 5, 6.

IT., Leitura Nova, Estremadura, Livros 5,1 2, 13.

Page 25: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

BmLIOGRAFIA

ABECASIS, Carlos Krus (1961) -As/orma9iJes laguna res e seus problemas de engenharia do litoral (contribuifGO para um estudo sistematico), Lisboa.

ALEXANDRE, Pierre (1987) - Les dimat en Europe au moyen age: conrribuition a l 'histoire des variations climatiques de 1000 a 1425, d' apres les sources narratives de I 'Europe Occidentale, Paris, Editions de l'Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales Paris .

ALVES, FJ.S., DIAS, 1.MA, ALMEIDA, MJ. R. & TABORDA, R. (1988-1989)-A armadilha depesca do epoca romanadescobertana praia de Silva Ide (Espinho), Separata de "0 Arque61ogo Portugues", serie lV, 6n.

AMORIM, A. (1986) - Esmoriz e a sua Hist6ria , Esmoriz, Ed. da Comissao de Melhoramentos.

BRAUDEL, Femand (1996) -A Europa, Lisboa, Terramar. BRAUDEL, Fernand (2001 ) - Memorias do Medicerraneo. Pri-Hist6ria

e Antiguidade, Lisboa, Terramar. CARPENTIER, Jean e LEBRUN, Fran~ois (1993) - Hist6ria da Ellropa,

Lisboa, ReferencialEditorial Estampa. COELHO, M.H.C. e CARY ALHO HOMEM, A.L (1996)- Nova Hist6ria

de Portugal (dir. de Joel Serrao e A. H. de Oliveira Marques), vol. m, Coord. de Maria Helena da Cruz Coelho e Armando Luis de Carvalho Homem, Lisboa, Editorial Presen~a.

COIMBRA, M.M.A. (1836) - Reflexoes HiSl6ricas Sobre a Barra de Aveiro, "Arquivo do Distrito de Aveiro" , Aveiro, vol. XXIX. pp. 102-11 8.

DIAS, 1.M.A., RODRJGUES, A. & MAGALHAEs. F. (1997) - Evo!u,ao da linha de costa, em Portugal , desde 0 ultimo maximo gJaciano ate a actualidade: sintese dos conhecimentos. in "Estudos do Quatemario" , 1. APEQ, Lisboa, pp. 53-66.

LADURIE, Emmanuel Le Roy (1983) -Hisl0ire du dimat depuis ['an mil, 2 vois., Paris , Flammarion.

LAMB , H. H. (1995) - Climare, HiSTory and Modem World, second edition, London, Routledge.

Page 26: GEODINAMrCA E ACC;:OES ANTROPICAS: DOIS …w3.ualg.pt/~jdias/JAD/papers/RN/02_Discursos_RB.pdf · Os tra~os mais estruturantes das caracterfsticas fisicas doespa~o europeu (bern comodas

MA TIOSO, Jose, KRUS, Luis & ANDRADE, Amelia (1989) -0 Casrelo e a Feira. A Terra de Santa Maria 1I0S seculos Xl a XlII, Lisboa, ed. Estampa.

OLIVEIRA, J. B. Mota, VALLE, A. J. S. F. & MIRANDA, F. C. c. (1982) - Litoral Problems in the Portuguese West Coast, "Coastal Engi­neering", vol. Ill, pp. 195 1- 1969.

OLIVEIRA, M. (1967) - Ovar "a !dade Midia, ed. da Camara Municipal de Ovar.

OLIVEIRA, O. (1988) - Origem do Ria de Aveiro, Aveiro. ed. Camara Municipal de A veiro.

RAU, Virginia (1984)-Estudos sobre a Izistoria do sal porrugues, Lisboa, Presen9a.

TAVARES, Ant6nioAugusto (1995)-Civiliza,oesPri-Cltissicas, Lisboa, Universidade Aberta