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1 • OBJECTIVO - 39 - 1.3 - CARACTER1sTICAS E REGIOES DA PLATAFORMA CONTINENTAL PORTUGUESA Neste capitulo pretendem-se identificar as caracterlsticas mais releventes da plataforma continental portuguesa e, simultaneamente, dividi-la, para conveniência de estudo, em regloes com caracterlsticas sedimentologicas presumivelmente distintas. Da de cada uma dessas regiões sob o aspecto fisiográfico, oceanográfico, geológico, climatológico e de geologia cos- teira, pretendem-se deduzir fundamentais da dinâmica sedimentar actual e passada de cada região. 2. INTRODUÇAO A plataforma continental portuguesa estende-se entre as latitudes 36 0 49'N e 41 0 52'N e entre os meridianos 7 0 24'W e 10 0 11'W. Constituindo plataforma longa (cerca de 550Km de comprimento meridiano) estreita. De facto, a largura da plataforma varia entre menos de 5Km (frente ao cabo Espichel) e mais de 60Km (no paralelo 39 0 N, mais ou menos em frente à ponta da Lamparoeira) che- gando mesmo a cerca de 80Km (frente a Vila Nova de Milfontes onde, no entanto, o limite externo da plataforma muito mal definido). A profundidade do bordo da plataforma muito variável, oscilando entre cerca de 120m de pro- fundidade (p.ex.: nas imediações do cabo Raso) e mais de 400m (no paralelo 39 0 N) ou mesmo 1 OOOm (a Sul de Sines onde os conceitos clássicos de plataforma con- tinental e bordo da plataforma perdem significância). Comparando os valores acima referidos com os valores determinados para o conjunto das plataformas continentais do mundo (SHEPARD, 1973) verifica-se que a plataforma continental portuguesa estreita (a largura mundial de 75Km), localizando-se o bordo da plataforma, em geral, a profundidades maiores que as da mundial (a qual de 130m). Com uma área marltima de 28 OOOKm 2 , correspondente a cerca de um terço da superflcie de Portugal continental, a plataforma continental portuguesa apresenta pendores que variam entre 3m/Km e 11m/Km (MONTEIRO, 1971). Comunica de barrancos, vales e canhões submarinos com as planicies abissais do Tejo e da Ferradura (fig.l). São várias as montanhas submarinas presentes nesta área, quer mais afastadas da plataforma (Galiza, Tore e Ashton, incluldas no alinhamento Madeira-Tore; Ormonde e Gettysburg, formando, no con- junto, o ba'nco de Gorringe, e inclui das no alinhamento setentrional do conjunto da Ferradura; Josefina, na intersecção dos alinhamentos mencionados), quer mais pr6ximas (Vigo, Vasco da Gama, Porto), quer ela directamente conectadas (Descobridores, Principes de Avis, Camões). A plataforma continental portuguesa apresenta, na generalidade, relevo ular e suave. Quatro grandes acidentes marcam, de forma profunda, esta taforma: os canhões submarinos da de Lisboa, de Setúbal e de Vicente) reg- pla- São A anAlise da carta da margem continental portuguesa (fig.1 e 2) permite considerar, na plataforma continental, 5 regiões de caracter!sticas

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1 • OBJECTIVO

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1.3 - CARACTER1sTICAS E REGIOES DA PLATAFORMA CONTINENTAL PORTUGUESA

Neste capitulo pretendem-se identificar as caracterlsticas mais releventes da plataforma continental portuguesa e, simultaneamente, dividi-la, para conveniência de estudo, em regloes com caracterlsticas sedimentologicas presumivelmente distintas. Da caracteriza~ão de cada uma dessas regiões sob o aspecto fisiográfico, oceanográfico, geológico, climatológico e de geologia cos­teira, pretendem-se deduzir tra~os fundamentais da dinâmica sedimentar actual e passada de cada região.

2. INTRODUÇAO

A plataforma continental portuguesa estende-se entre as latitudes 36 0 49'N e 41 0 52'N e entre os meridianos 70 24'W e 10 0 11'W. Constituindo plataforma longa (cerca de 550Km de comprimento meridiano) ~,todavia, estreita. De facto, a largura da plataforma varia entre menos de 5Km (frente ao cabo Espichel) e mais de 60Km (no paralelo 390 N, mais ou menos em frente à ponta da Lamparoeira) che­gando mesmo a cerca de 80Km (frente a Vila Nova de Milfontes onde, no entanto, o limite externo da plataforma ~ muito mal definido). A profundidade do bordo da plataforma ~,tamb~m, muito variável, oscilando entre cerca de 120m de pro­fundidade (p.ex.: nas imediações do cabo Raso) e mais de 400m (no paralelo 39 0 N) ou mesmo 1 OOOm (a Sul de Sines onde os conceitos clássicos de plataforma con­tinental e bordo da plataforma perdem significância).

Comparando os valores acima referidos com os valores determinados para o conjunto das plataformas continentais do mundo (SHEPARD, 1973) verifica-se que a plataforma continental portuguesa ~ estreita (a largura m~dia mundial ~ de 75Km), localizando-se o bordo da plataforma, em geral, a profundidades maiores que as da m~dia mundial (a qual ~ de 130m).

Com uma área marltima de 28 OOOKm2 , correspondente a cerca de um terço da superflcie de Portugal continental, a plataforma continental portuguesa apresenta pendores que variam entre 3m/Km e 11m/Km (MONTEIRO, 1971). Comunica atrav~s de barrancos, vales e canhões submarinos com as planicies abissais Ib~rica, do Tejo e da Ferradura (fig.l). São várias as montanhas submarinas presentes nesta área, quer mais afastadas da plataforma (Galiza, Tore e Ashton, incluldas no alinhamento Madeira-Tore; Ormonde e Gettysburg, formando, no con­junto, o ba'nco de Gorringe, e inclui das no alinhamento setentrional do conjunto da Ferradura; Josefina, na intersecção dos alinhamentos mencionados), quer mais pr6ximas (Vigo, Vasco da Gama, Porto), quer ~om ela directamente conectadas (Descobridores, Principes de Avis, Camões).

A plataforma continental portuguesa apresenta, na generalidade, relevo ular e suave. Quatro grandes acidentes marcam, de forma profunda, esta taforma: os canhões submarinos da Na.zar~, de Lisboa, de Setúbal e de Vicente) •

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A anAlise da carta batim~trica da margem continental portuguesa (fig.1 e 2) permite considerar, na plataforma continental, 5 regiões de caracter!sticas

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Dias, J. M. Alveirinho (1987) - Dinâmica Sedimentar e Evolução Recente da Plataforma Continental Portuguesa Setentrional.. Dissertação de Doutoramento, 384p., Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
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distintas, correspondentes, muito provavelmente, a outras tantas provincias sedimentologicas. As diferenças entre essas regiões são acentuadas por con­trastes existentes noutros parâmetros relevantes, tais como na geologia, fisiografia, climatologia e rede de drenagem das Áreas emersas adjacentes.

As regiões consideradas na plataforma continental portuguesa foram:

A - Do paralelo da foz do rio Minho(*} ao canhão submarino da Nazaré B - Do canhão submarino da Nazare ao cabo Raso C - Do cabo Raso ao canhão submarino de SetÚbal D - Do canhão submarino de Setubal ao cabo de Sao Vicente E- Plataforma continental do Algarve

As caracter!sticas principais de cada uma destas regIoes, bem como das areas emersas e das bacias hidrograficas para ai drenadas, estão sucintamente expressas no Quadro III.

3. A REGIÃO ~ (entre ~ foz do Minho ~ ~ Nazaré)

3.1. Batimetria

A plataforma continental desta reg180 e larga, com pendor regular e suave, dispondo-se as batimétricas, de um modo geral, de forma paralela Á costa (fig. 2). Com uma largura média de 43,7Km a plataforma tem cerca de 35Km at~ Póvoa do Varzim, alargando progressivamente para Sul, atingindo 60Km frente ao cabo Mon­dego, voltando a diminuir um pouco até ao canhão da Nazaré (MUSELLEC,1974). Consequentemente, o pendor da plataforma varia entre 5,7m/Km e 2,4m/Km. O bordo da plataforma é bem definido, localizando-se a profundidades que variam entre 130m e 190m, mas que, em média, se encontra a 160m de profundidade (MUSELLEC, 1974) •

A vertente continental- e muito abarrancada, especialmente a norte do canhão submarino do Porto. Três acidentes geomorfologicos provocam incisões nesta região da plataforma continental: os canhões submarinos do Porto, de Aveiro e da Nazaré. Os dois primeiros só se individualizam a mais de 30Km da costa e a cerca de 130m de profundidade. O espectacular canhão da Nazaré corta quase com­pletamente a plataforma continental, definindo-se a profundidades inferiores a 60m, a menos de 500m da costa. Estes canhões submarinos drenam para a Planicie Abissal Ib~rica, quer directamente (canhão da Nazaré), quer indirectamente atraves da longa depressão de Valle-Inclan (VANNEY et al., 1979) relacionada com as montanhas submarinas de Vigo (170Km ao largo do-Porto) e do Porto (lOOKm ao largo de Aveiro).

3.2. Hidrologia e pluviosidade

~,,' para esta região A que afluem 65% dos principais rios portugueses, isto e, os."rios Minho, Lima, Cavado, Ave, Douro, Mondego e Lis. A area drenada para esta ,eglao é muito extensa (128 356Km2), ocupando, sÓ em território português, mais de 36 000Km2 , isto é, mais de 40% da Área de Portugal (vidé quadros III e IV e fig.15). A densidade da rede de drenagem é bastante maior a norte do paralelo 41 0 N que a sul deste paralelo, reflectindo a diferente distribuição das caracterlsticas do relevo na àrea emersa adjacente a esta região. Efectivamente, as bacias hidrograficas estão implantadas em região de relevo vigoroso, em que um planalto interior ( a Meseta Norte) e progressivamente rebaixado em anfi­teatro que bordeja a bacia meso-cenozoíca lusitaniana. Tal facto justifica, 50

(*) - Limite artificial (fronteira politica). A plataforma galega constitui O prolongamento, para Norte, desta região.

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QUADRO III

-------~rea da bacia hi-Região Compri men to Chuva anual na Li to 1 ogi a dominante litologia dominante

(Km) drogrãficá (Km2) bacia (parte na metade su~erior na metade inferiol' Portuguesa) vnm) da bacia da bacia

Rochas granitóides Rochas granitõides

Minho A 300 16 666 1 620 (e formações xis- (e fOfmações x i 5-to grauvãquicas) to grauvãquicas)

Rochas gran1tõides Rochas grani toides

lima A 108 I 177 2 013 (e formações xis- (e formações xis-

------ ---- to grauvãQuicas) to grauvãquicas)

Rochas granitõides Rochas granitõides

Cávado A 135 1 620 2 319 (e formações xis- (e formações xis-to grauvãquicas) to grauvãquicas)

Rochas granitõides Rochas grani toides

Ave A 90 1 380 1 817 {e formações xis- (e formações xis-

to grauvâquicas) to grauvãqu icas)

Rochas granitõides Rochas granitõides

Douro A 927 97 300 1 099 e de formações xi! e de formações xi~ to grauvãquicas to grauvãrjuicas (quartzitos) (Quartzitos)

.

Granitos Formações xisto-(e rochas de for- grauvaquicas e

Vouga A 140 2 653 I 625 rochas ca"rbonatadas mações xisto -

- grauvãquicas) (arenitos)

Granitos e Rochas carbonatadas.

I 223 formações xisto- formações xisto-Mondego A 227 6 645 ~praui{aquicas e are -QrauvaQuicas .~

Liz A 50 915 996 Rochas carbonata- Rochas carbonata-das e arenitos das e arenitos Formações xisto - Arcoses, rochas car -

Tejo C I 010 81 600 931 - grauvãquicas, bonatadas, forma-arcoses e granitos ções xisto-grauva-

(Quartzitos) quicas e arenitos

Rochas eruptivas Rochas eruptivas (Complexo de Evo- (Complexo de tvO-

Sado C 175 7 696 679 ra-Beja-Elvas in- ra-Beja-Elvas in-cluldo). formações clultlo), formações x isto-grauvãquicas, xisto-grauviquicas, arcoses l arenitos arcoses, arenitos

Formações xisto - Formações xisto -- grauviquicas, - grauvãquicas,

Mira O 150 1 540 716 sienitos e 9na1s- sienitos e gnais-ses hiper~alcali- ses hiper-alcali-nos do Alto Alen- nos do Alto Alen-tejo tejo Formações xisto - Formações xisto-- grauvaquicas, grauvãquicas, rochas

Guadiana E 870 66 500 638 rochas eruptivas eruptivas {incluindf'\ (incluindo comple- complexo de Beja-lvo-xo de Beja-Evora- ra-Elvas) (rochas -Elvas) carbonatadas)

Caracterlsticas principais das cinco regiões consideradas na plataforma por­tuguesa.

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por si, as diferentes características existentes entre os rios a norte e a sul do paralelo 4loN. Os perfis dos rios sublinham este contraste. Como o relevo constitui 'importante factor da divisão climàtica regional, facilitando ou difi­cultando a circulação, ou estagnação, das massas de ar, pouco a -pouco modifica­das pela sua desloca~ão sobre o continente' (DAVEAU & colaboradores, 1985), as diferen~as no tipo de relevo a Norte e a Sul do paralelo referido induzem diferen~as climAticas importantes.

A proximidade do nivel base, nos rios do Norte, explica que estes apresen­tem perfis jovens, dissecando intensamente o relevo com os seus vales enC81xa­dos. TOdavia, na foz, encontram-se em activa fase de assoreamento. O traçado dos rios principais (Minho, Lima, CAvado, Ave e sobretudo Douro) teria sido con­dicionado por fracturas que jogaram ate muito recentemente ao longo de antigas discontinuidades do soco (BIROT, 1949). A Sul do paralelo 4l oN os rios apresen­tam perfis bastante diferentes, mais envelhecidos, não possuindo competência para drenar para a plataforma grande parte dos sedimentos transportados ate ao troço terminal.

O rio mais importante que aflui a esta zona e o Douro (vide Quadro IV), terceiro rio em comprimento (927Km) e primeiro em Area da bacia hidrogrAfica (97300Km2) da Peninsula Iberica. Rio sujeito a cheias, apre~enta caudais muito irregulares que, no troço terminal, chegam a atingir 17 OOOm Is no Inverno, des­cendo por vezes a menos de 100m3!s no periodo estival. Segundo o Roteiro dos Portos de Portugal (1977), em periodos de cheias os valores das velocidades das correntes são da ordem dos 6 n6s, podendo, se bem que excepcionalmente, ser maiores e atingir mesmo os 16 n6s.

Abrangidas por estas bacias hidrogrAficas incluem-se, em territ6rio português, vArias serras, cuja frequência e altitudes apresentam tendência para serem menores a Sul que a Norte do paralelo 4loN (Arga (S20m), Peneda (1 4l5m), Gerez (1 S07m), Barroso (1 078m), Cabreira (1 261m), Bornes (1 200m), Padrela (1 146m), Mogadouro(993m) e Marão (1 4l5m), todas a norte do paralelo 4loN; Mon­temuro (1 382m) e Leomil (1 008m), interseptando o referido paralelo; Arada (1 116m), Caramulo (1 07lm), Bu~aco (S49m), Estrêla (1 99lm), Lousã (1 204m) e Sic6 (548m) a Sul do referido paralelo).

O clima da região caracteriza-se pela passagem de sucessivas depressões a que se associam superficies frontais responsAveis por variações t~rmicas (ocul­tas nas m~dias) e mudança no rumo dos ventos; o arranjo regional do clima apresenta forte gradiente Oeste-Este, resultante da diminui~ão progressiva da intensidade e frequência da· penetra~ão das massas de ar atlânticas (DAVEAU & colaboradores, 1977, 1985). A Norte do paralelo 4l oN as temperaturas anuais m~dias são inferiores a lSoC e as pluviosidades anuais são elevadas, estando escalonadas desde cerca de 1 OOOmm junto ao litoral, a mais de 3 OOOmm nos pon­tos mais elevados do interior. As precipita~ões, abundantes e prolongadas, são em geral provocadas pelas massas de ar tropical h6mido que, mesmo no Inverno, não deixam arrefecer excessivamente o tempo. A região a Sul do paralelo 4loN apresenta clima de feição mais mediterrânica, separando um Norte mais pluvioso e frio de um Sul menos pluvioso e mais quente.

A Area cuja drenagem se efectua para esta reglao setentrional da plataforma portuguesa e tambem a de maior pluviosidade do Pais. A altura media de chuva anual ultrapassa 2 OOOmm, chegando a atingir valores superiores a 2 300mm, como e o caso da bacia do CAvado que drena a serra do Gerês (fig. 15 e Quadro IV), onde a precipita~ão anual chega a ultrapassar os 3 500mm (DAVEAU & colabora­dores, 1977). Tambem na pluviosidade existe contraste entre os rios mais a Norte e mais a Sul. Separadas pela extensa bacia do Douro, em que a altura media de chuva anual se aproxima dos 1100 mm (fig. 15), valor este relativamente baixo devido à menor pluviosidade nas regiões mais interiores (da ordem dos

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400mm), definem-se um conjunto de pequenas bacias com alta pluviosidade (cerca de 2 OOOmm), a Norte, e outro conjunto de bacias maiores mas com menor pluviosi­dade (cerca de 1 300mm), a Sul (Dir.-Geral Serv.Hidrlul.,1979).

Como, de resto, se verifica na totalidade do Pais, a pluviosidade e maxíma nos meses de Inverno e miníma nos meses de Verão.

3.3. Litoral

A orientação geral da costa é NNW-SSE até ao paralelo 41 oN, dispondo-se da! para Sul segundo orienta,ão NNE-SSW. A costa é predominantemente rochosa a Norte do paralelo referido e essencialmente arenosa a Sul. Esta dissemelhança entre o litoral a norte e a sul do paralelo 41 0 N concorda com os contrastes anteriormente referidos no respeitante à fisiografia da plataforma continental, hidrologia, pluviometria, orografia, litologia etc.

Apesar do Minho ser uma região acidentada, a costa a Norte do paralelo 410 N e baixa e recortada em pequena escala, alternando os pequenos lanços de praia arenosa com os de penedias talhadas em granitos ou forma~ões antigas. As praias arenosas são pouco extensas, salvo nas margem Sul da foz dos rios, como no Minho (Camarido - Moledo), no Ancora (Vila Praia de Ancora Gelfa), no Lima (Cabedelo, sendo esta a mais extensa, com cerca de 5 Km), no Clvado (Esposende -Apalia), no Ave e no Douro (que segundo BOLEO, 1943, vieram envolver a ilhota da Pedra da Saureira que existia na parte Sul da barra do Douro). A existência destas praias advem do facto da resultante do transporte por deriva litoral,induzido pela ondula~ão e vento dominantes, ser para Sul, verificando­se, portanto, transporte, para a esquerda da foz, das arelas debitadas pelos rlOS. Devido à refrac~ão da ondula~ão nas irregularidades do fundo, principal­mente nos deltas submarinos, o sentido da deriva litoral e invertido localmente junto à costa, provocando transporte de Sul para Norte. Geram-se, deste modo, celulas de circula~ão que induzem um maior tempo de residência as areias capta­das por estes sistemas, as quais serão responsaveis pelos areais que se desen­volvem do lado Sul da foz desses rios.

Apenas existem duas saliências mais pronunciadas nesta costa: Montedor, a 8Km a Norte de Viana do Castelo, e outra a Sul de Apalia. Junto à costa hà pequenas ilhotas, das quais apenas merecem referencia a !nsua de Caminha (na desembocadura do rio Minho e que chega a ligar-se a terra por cordão arenoso) e os Cavalos de Fão (penhascos emergentes a curta distância de terra, 1,5 Km a Sul da foz do Glvado).

A costa a Sul do paralelo 4loN contrasta com a anterior não sÓ na orienta,ão geral em que se desenvolve (NNE-SSW) como na constitui,ão que ê essencialmente arenosa. A irregularidade maior desta costa monotona e consti­tuida pelo cabo Mondego onde surgem arribas Vlvas e escolhos talhados no Jurassico. A existência desta proeminência rochosa e certamente responsável pela linearidade e direc~ão da costa entre Espinho e a Figueira da Foz. Para Sul deste cabo o litoral volta a revelar-se rectillneo e arenoso ate cerca de 18Km a Norte da Nazare, onde as praias extensas dão lugar a litoral rochoso pro­vido de arribas vivas talhadas em forma~ões meso-cenozoicas.

Toda esta costa, ao contrario da localizada a Norte do Porto, e de forma~ão recente. Efectivamente, no sec.X, apenas existia uma restinga a Sul de Espinho, situando-se a foz do rio Vouga 20Km para o interior do litoral actual, perto da confluência dos afluentes Águeda e Certima. Com a progressão rapida desta res­tinga para Sul, verificou-se isolamento e assoreamento progressivo da foz dos riOS que desaguam nesta costa (MARTINS, 1947; GIRAO, 1951). Segundo ABECASSIS (1955), no sec.XII a laguna de Aveiro estava jl constituida, localizando-se a barra a Norte da Torreira. Três seculos mais tarde essa barra atingiu a posi~ão

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Fig'.IS - Alturas m~di8s de chuva anual nas bacias hidrogrAficas portuguesas no per lodo 1954/55 a 1970/71. (adaptado do AnuÁrio Serv.Hidrau1.,1979). M­Minho; L - Lima; C - Cavado; A - Ave; D - Douro; Vg - Vouga; Hd - Mondego; Ls Lis; T - Tejo; S - Sado; Mr - Mira; AI - Algarve; G - Guadiana; I - Entre Minho e Lima; II - Entre Lima e CÁvado; III - Entre CÁvado e Ave; IV Entre Ave e Douro; V Entre Douro e Mondego; VI - Entre Mondego e Lis; VIr - Entre Lis e Tejo; VIII - Entre Tejo e Sado; IX - Entre Sado e Mira. Indicaram-se ainda as cinco regiões (A a E) consideradas na plataforma continental.

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de S-. Jacinto. No sec.XVI localizava-se aproximadamente onde actualmente se situa a barra artificial. De acordo com o autor referido, a barra atingiu as alturas de Mira em meados do sec.XVIII, completando-se assim a forma~ão deste co-rdão arenoso e da laguna como estAdia final de uma evolução que se teria ini­ciado sete seculos antes. As reliquias desta evolu~ão são visiveis ainda nal­guns pontos, sendo a lagoa de Mira disso um bom exemplo.

As zonas vestibulares dos rios reagiram de forma diferente à progressão do cordão arenoso e consequente assoreamento litoral. Assim, o rio Mondego, obri­gado a divagar e a alterar o seu curso por excesso de carga sedimentar, não pode manter a fun~ão estuarina. A propria desembocadura, ameaçada de fecho pela per­sistente progressão de uma restinga para Norte, teria desaparecido se não se tivesse verificado a intervenção peri6dica da acção conjugada das mares, das cheias e da interven,ão do homem (VANNEY & MOUGENOT, 1981). A progressão da referida restinga para Norte, em sentido contrario ao que se verifica mais a Norte e a Sul, e seguramente resultante da refracção da ondulação dominante no cabo Mondego e qui,á na topografia submarina do delta de vazante do Mondego, o que provoca a constituição de uma celula de circulação a Sul do referido cabo.

Sem a existência de saliência (tipo Cabo Mondego, por exemplo) a Norte da foz, o rio Vouga reagiu de forma diferente a este assoreamento. Efectivamente, a função estuarina, embora atrofiada, foi aqui melhor preservada. O crescimento do cordão arenoso e assoreamento progressivos resultaram no desenvolvimento de um "haff delta" impropriamente designado por "riatl de Aveiro.

Não obstante ser de origem recente, esta costa encontra-se presentemente em fase de recuo activo, como o atestam as frequentes destruições que aqui têm sido observadas (vejam-se, por exemplo, ANDRADE, 1937 e DAVEAU et ~., 1978).

4. A REGIÃO ~ (entre ~ Nazare e ~ cabo Raso)

4.1. Batimetria

Esta região esta profundamente separada da anteriormente descrita pelo canhão submarino da Nazaré. Este canhão, descrito cientificamente pela primeira vez por ANDRADE (1937), não apresenta re1a,ão directa com qualquer curso de água actual importante (o ànico rio que desagua na Nazaré é o insignificante Alcôa). Lautensach (referido em GIRÃO, 1941) aventou a hipótese deste canhão estar conectado com o rio Zêzere, que primitivamente se prolongaria para SW, através da orla mesocenozoica, antes de ser desviado para Sul, e de se tornar afluente do Tejo. No entanto, GIRÃO (1941) considera esta hipótese inverosimil pela dificuldade de explicar com segurança aquele desvio de curso e de se não encon­trarem quaisquer vest!gios dele na zona intermédia.

Com orientação WSW no troço inicial, este canhão que forma profundo entalhe na plataforma continental, inflecte para NW a cerca de 6Km da costa, voltando à direção WSW a cerCa de 12Km da Nazaré, acabando por se orientar para W no troço terminal, desembocando na Planicie Abissal Iberica. Constituindo verdadeira garganta submarina até mais de 2 OOOm de profundidade, o canhão apresenta, ao longo dos seus 170Km de comprimento, um pendor longitudinal medio relativamente fraco (30m/Km) (VANNEY & MOUCENOT, 1981).

o canhão da Nazaré forma, como se disse, profundo entalhe na plataforma continental com cerca de 60Km de comprimento, separando duas regiões morfologi­camente distintas. Esta disseme1hança esta bem expressa nas margens do canhão. Efectivamente, a vertente norte apresenta relativa simplicidade de formas, sendo pouca abarrancada e apresentando um ànico afluente principal. Pelo contrArio, a vertente Sul é bastante mais complexa, abarrancada e com nUmero consideravel-. mente elevado de pequenos afluentes, frequentemente instalados em fracturas.

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Dias, J. M. Alveirinho (1987) - Dinâmica Sedimentar e Evolução Recente da Plataforma Continental Portuguesa Setentrional.. Dissertação de Doutoramento, 384p., Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
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Dias, J. M. Alveirinho (1987) - Dinâmica Sedimentar e Evolução Recente da Plataforma Continental Portuguesa Setentrional.. Dissertação de Doutoramento, 384p., Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
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No que se refere à região B propriamente dita, a plataforma continental desenha aI grande promontàrio em que a parte mais afastada da costa se localiza pelos 390 N de latitude. A largura da plataforma varia entre 15Km na parte setentrional e 70Km na parte mais larga. O bordo da plataforma, que é bem definido, localiza-se, nas imedia~ões do paralelo 390 N, a profundidades entre 375m e 390m. Para Norte e para Sul este bordo aproxima-se gradualmente da costa, diminuindo simultâneamente de profundidade ate atingir cerca de 170m nos limites Norte e Sul da região. Desenha-se, deste modo, uma reg180 nitidamente circunscrita correspondente a uma unidade morfoestrutural evidente.

As batimetricas desenham figuras complexas em relação mais ou menos clara com a estrutura (VANNEY & MOUGENOT, 1981). Não se definem, nesta região, quaisquer outros canhões submarinos alem do da Nazaré. Existem, todavia, bar­rancos, os quais são frequentes a Norte (margem meridional do canhão da Nazarê) e a Sul (frente aos cabos da Roca e Raso). A parte média (39 0 N de latitude) prolonga-se para ocidente em declive relativamente fraco, formando esporão saliente que se liga à montanha submarina de Tore por fundos da ordem dos 2500m a 3500m, isolando a planicie abissal do Tejo, a Sul, da planicie abissal Ibérica, a Norte.

4.2. Hidrologia ~ pluviosidade

Na parte setentrional estende-se uma dorsal de relevos do Maci~o CalcÁrio Estremenho - Serra d'Aire (679m), Serra dos Candeeiros (613m) e outras - a qual é continuada para Sul pela serra de Montejunto (664m). Não existem rios dignos de nota nesta região. O rio Sizandro ê o mais importante e pouca relevância tem para o presente estudo. A bacia hidrografica que efectua a drenagem para esta reglao é a bacia "de entre Liz e Tejo", com àrea de 2 510Km2 e altura média de chuva anual de apenas 885mm (Dir.-Geral Servo HidrÁulicos, 1979).

4.3. Litoral

A costa desta reglao ê rochosa, muito escarpada, batida com violência pelo oceano que, a pouco e pouco, a vai desagregando e erodindo. As praias são reduz­idas, localizadas na foz de pequenos cursos de agua ou em estreitas baias, onde a tectonica parece ter desempenhado papel mais activo que o da erosão.

A orienta~ão da co.sta é grosseiramente NE-SW da Nazaré até Peniche e NNE­SSW daI para Sul. A irregularidade maior é constituida pela penlnsula de Pen­iche (rellquia de antiga ilhota actualmente conectada com terra por pequeno tômbola). Merecem ainda referência, nesta parte da costa portuguesa, a tlconcha" de S. Martinho do Porto (pequena enseada talhada em litoral alto e escarpado, ligada ao mar por salda estreita) e a lagoa de Óbidos (pequena laguna fechada por cordões dunares, com comunicação artificial intermitente com o mar). No limite Sul desta região encontra-se o maciço eruptivo de Sintra que, ao atingir o mar, forma tambem costa alta e escarpada. Este maciço prolonga-se na pla­taforma continental por Área de topografia acidentada.

De modo geral, o litoral desta região esta em recuo, o que e atestado pelos perfis das arribas (que por vezes atingem mais de BOm de altura), os quais denunciam erosão marinha na base muito superior à erosão sub-aerea. Alias, este recuo activo e tambem confirmado por noticias varias de desaparecimento de construções erguidas em arribas que desmoronaram. ~ o caso, por exemplo, da ermida de Santa Helena, que ainda ha dois seculos existia sobre uma das arribas proximas de Santa Cruz, e que foi arrastada por um desses frequentes desmoronamentos (BOL~O, 1943).

Embora, como se afirmou, a costa esteja, de modo geral, em recuo, não são raros os troços com caracterlsticas regreSSIvas. Advem tal facto da tendência

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Dias, J. M. Alveirinho (1987) - Dinâmica Sedimentar e Evolução Recente da Plataforma Continental Portuguesa Setentrional.. Dissertação de Doutoramento, 384p., Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
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para a lineariza~ão do litoral, mercê da qual as partes reentrantes são progres­sivamente colmatadas por areais. Citam-se, a titulo exemplificativo, o ~so­lamento da lagoa de Obidos, e a liga~ão a terra do Ilhéu Grande, pr6ximo de Pen­iche, bem como o fecho da lagoa da Atouguia, referidos por MARTINS (1946).

5. A REGIÃO f (~~ cabo Raso ~ ~ canhão de Set6bal)

5.1. Batimetria

A plataforma continental situada entre o cabo Raso e o canhão submarino de Set6bal apresenta caracteristicas substancialmente diferentes das da restante plataforma continental portuguesa. Trata-se de plataforma estreita que se estende, em média, até cerca dos 180m de profundidade. A largura màxima da pla­taforma atinge mais de 30Km ortogonalmente à costa, na Caparica, sendo a largura minima de menos de 3Km junto ao Espichel. A região é dominada por três pares de acidentes geomorfo16gicos de grande importância: as peninsulas de Lisboa e de Set6bal, extremadas respectivamente pelos cabos Raso e Espichel; os estuàrios dos rios Tejo e Sado; os canhões submarinos de Cascais e de Set6bal.

o canhão de Cascais ê o mais curto, provocando incisão na plataforma con­tinental de menos de 8Km de comprimento. Apresenta orienta~ão geral N/NE-S/SW, a qual passa para NE-SW abaixo dos 1 OOOm de profundidade, desembocando na Planicie Abissal do Tejo. Se bem que apresente pendor muito acentuado na parte inicial (cerca de 200m/Km até 2 OOOm de profundidade), vai progressivamente moderando esse valor com o aumento de profundidade (40m/Km entre 2 OOOm e 3 OOOm de profundidade).

O canhão de Set6bal provoca corte de 25Km de comprimento na plataforma, definindo-se na batimetria pelos 60m de profundidade a 6Km da antiga lagoa da Comporta, apresentando orienta~ão geral E/NE-W/SW na parte inicial, E-W na parte mediana e NE-SW na parte terminal. O pendor parece não apresentar grandes varia~ões, tendo o valor médio de 40m/Km até aos 4 OOOm de· profundidade.

O canhão de Lisboa, que penetra profundamente na plataforma continental (18Km), dispõe-se paralelamente à costa a uma distância de cerca de 5Km, consti­tuindo o principal afluente do canhão de Set6bal. A orienta~ão geral é NNE-SSW e "apresenta uma cabeceira na direcção NNW e outra para NE em direcção à lagoa de Albufeira" (MONTEIRO & MOITA, 1971).

A drenagem de toda esta região é efectuada, através dos canhões submarinos referidos, para a Planicie Abissal do Tejo.

~.l. Hidrologia ~ pluviosidade

O clima da àrea continental adjacente a esta reglao da plataforma é tem­perado (temperatura média anual do ar entra 100C e 200C) e moderado (amplitude térmica anual entre lOoC e 20 0 C). A precipita~ão média anual varia entre 500mm e 1 OOOmm, a qual se concentra predominantemente (70%) nos meses de Novembro a Mar~o,

No aspecto orografico hÁ a considerar, principalmente, as serras instaladas na parte meridional das duas grandes peninsulas existentes na região: o relevo calcaria extremado a Oeste pelo nucleo intrusivo (essencialmente granitico) correspondente ao maCIço de Sintra, na penlnsula de Lisboa; e a serra da Arràbida, extremada a Ocidente pelo imponente cabo Espichei, na penlnsula de Set úbai •

A area drenada para cerca de 90 000Km2,

esta região da plataforma é dos quais 32 762Km2 em

muito extensa, ocupando territÓrio português. ~

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Dias, J. M. Alveirinho (1987) - Dinâmica Sedimentar e Evolução Recente da Plataforma Continental Portuguesa Setentrional.. Dissertação de Doutoramento, 384p., Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
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fundamentalmente constituída por duas grandes bacias hidrograficas, a do Tejo e a do Sado. O rio Tejo e o mais extenso da peninsula Iberica (1 073 Km), pos­suindo uma bacia de drenagem de 81 000km2 (inferior às do Douro e do Ebro). Efectua a drenagem das serras de Guadarrama e da Estrêla. A bacia hidrogrÁfica e dissimetrica, sendo os afluentes da margem direita bastante mais importantes que os da margem esquerda.

No estuÁrio do Tejo, as velocidades da corrente a 2m do fundo são sempre um pouco maiores na enchente (cerca de 90cm/s) que na vazante (cerca de 70cm/s), apresentando, no entanto, valores aproximadamente iguais a 2m da superficie (OLIVEIRA, 1965). O c3udal medio anual no periodo de 1901 a 1933, à entrada do estuÁrio, foi dJ 537,6m /s, com um mÁximo mensal de 1 234m3/s em Fevereiro e minimo de 47m /s em Agosto (MONTEIRO & MOITA, 1971). Os dados referentes às grandes chuvas de Fevereiro de 1979, as quais conduziram à ocorrência de uma das maiores cheias do seculo em Portugal, são reveladores da importância e influência deste rio nos sedimentos da margem continental adjacente. Efec­tivamente, durant~ esta cheia, o debito do rio atingiu, em Almourol, o valor pontual de 12 OOOm /s no dia 11 de Fevereiro, tendo sido a materia em suspensão transportada durante o periodo de 8 a 17 de Fevereiro (10 dias), de cerca de uma megatonelada (VALE & LIMA, 1979; VALE, 1981), valor este que ganha mais sig­nificado se fôr comparado, por exemplo, com o da materia em suspensão transpor­tada anualmente pelo rio Loire (1,1 megatone1adas) e pelo rio Reno (4,5 mega­toneladas). Mesmo se se atender a que a maior parte dos materiais assim tran­sportados se depositam no estuÁrio, for~oso serÁ concluir da importância destas descargas nas caracter!sticas sedimentologicas desta reglao da plataforma. Efectivamente, e bem vis!vel por observa~ão aerea no periodo de Inverno, a man­cha de àguas carregadas com sedimentos em suspensão que sai do estuÁrio e pene­tra alguns quilómetros no oceano.

A importância destes rios, principalmente do Tejo, como contribuintes de sedimentos finos para a plataforma continental e para maiores profundidades e ainda confirmada por OLIVEIRA (1965). Segundo este autor, no estuÁrio do Tejo, actualmente, o transporte apreciÁvel de sedimentos faz-se apenas em suspensão, depositando-se esse material no mar, em zonas afastadas da foz. As areias tran­sportadas pelo rio, por arrastamento, sedimentam, na sua quase totalidade, na ZOna do rio com caracteristicas de delta, imediatamente a montante do estuÁrio.

A Sul da peninsula de Setnbal encontra-se o estuÁrio do Sado, nnico rio português que COrre de Sul para Norte. Com uma bacia de 7 696Km2 e um comprimento de l75Km, o Sado ê tambem um dos principais rios portugueses. A sua importância como veiculo transportador de sedimentos parece ser, todavia, menor que a dos rios que se localizam mais a Norte. Efectivamente, não 50 a bacia do Sado apresenta valores de altura media de chuva anual menores que os daqueles (666mm) e nitidamente inferiores à chuva media anual no Pais que e de 1010mm (Dir.-Geral Servo Hidrau1., 1979), como a àrea drenada apresenta relevo mais moderado. A cota das cabeceiras deste rio (232m) traduz, ate certo ponto, a sua moderada competência transportadora. Os teores medias de materia em suspensão, determinados no estuÁrio em Dezembro de 1978, confirmam esse facto: 30mg/l a 35mg/l na zona a montante do estuÁrio e 5-10mg/l junto à foz (MICHEL, 1979).

Estes dois rios apresentam sistemas estuarinos bem desenvolvidos. As correntes de vazante destes rios atingem valores significativos, estimados em 150cm/s para o Tejo (MONTEIRO & MOITA, 1971) e em 70cm/s para o Sado (MICHEL, 1979). Parte dos materIaIS que se não depositam nos mouchões dos deltas interiores acabarão, consequentemente, apos tempo de residência maIS OU menos longo, por ser exportados para fora dos estuÁrios.

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5.3. Litoral

Hã que considerar, nesta reglao, dois tipos de litoral: o que se desenvolve segundo a direct;ão aproximadamente. W-E, que e essencialmente rochoso; e o que se desenvolve segundo uma orienta"ão media N-S, que na realidade forma enseadas largas e de contorno suave, e e maioritariamente arenoso.

o litoral W-E e escarpado, talhado predominantemente em calcÁrios, bastante recortado em pequena escala, com pequenas praias em bolsadas. Se bem que na penlnsula de Lisboa as arribas sejam, de um modo geral, baixas, o mesmo não se verifica na peninsula de Setúbal onde o flanco Sul da serra da ArrÁbida apresenta costa de arribas altas, vivas, que chegam a atingir mais de 115m, como acontece no EspicheI.

o litoral de direc~ão media N-S, na realidade NW-SE na parte setentrional destas grandes enseadas (Bico da Areia - Costa da Caparica - Cabo Espichel e Peninsula de Troia - Costa da Gale - Cabo de Sines), direc~ão essa que vai rodando progressivamente ate ser aproximadamente NE-SW na parte meridional e, como se referiu, maioritariamente arenoso. Neste litoral, e devido às zonas de sombra induzidas pelas peninsulas de Lisboa e Setúbal, o ambiente oceânico é moderado no referente a ondulação dominante de NW. Encontra-se, todavia, aberto às tempestades de SW.

A refracção e ~ifrac~ão da ondula~ão dominante nas grandes saliencias extremadas pelos cabos Raso e EspicheI é, ainda, responsavel por transporte de sedimentos, no litoral, de Sul para Norte. A ondula~ão proveniente de SW, fre­quentemente sob forma de tempestades, provoca igual sentido na deriva. Em consequência do referido transporte litoral para Norte, constituiram-se cordões arenosos extensos, correspondentes à Costa da Caparica - Bico da Areia a Sul da Peninsula de Lisboa e à restinga de Traia - Costa da Gale a Sul da peninsula de Setúbal (MONTEIRO & MOITA, 1971; MOITA, 1971).

Sobrepondo-se a esta deriva litoral existem, todavia, correntes de jacto (rip currents). t de notar que a presen~a de "cusps" e correntes de jacto e constante nas fotografias aereas (as mais antigas são dos anos 40) que observamos, o que permite concluir que estes fenomenos são persistentes nestas zonas da costa. A sobreposi~ão destes dois tipos de correntes, com as celulas de circula~ão por elas induzidos, geram certamente padrão complexo de transporte de sedimentos cuja resultante continua, no entanto, a ser de 'Sul para Norte.

Segundo QUEVAUVILLER (1986a, 1986b) a forma geométrica da Peninsula de Traia Costa da Gale corresponde a sector de espiral logaritmica o que, conju­gado com a direc~ão de aproxima~ão mais frequente da ondula~ão (praticamente paralela à costa) e os indicios de acumula~ão a N (Troia) e a S (proximo de Sines) e de erosão na parte central (arribas vivas), consubstancia a hipotese deste sistema costeiro se encontrar em equilibrio morfologico.

Aproximadamente na mesma pOSl~ao relativa nas duas enseadas referidas encontram-se sistemas lagunares: a lagoa de Albufeira, na enseada de Lisboa (Costa da Caparica - Esplchel); e as lagoas de Melides e Santo Andre, na enseada de Setúbal (Costa da Gale - Sines), embora localizadas jÁ a Sul do canhão de Set&bal e, consequentemente, ja na região D. A interrupção da comunica~ão des­tas lagoas com O mar deve-se, certamente,à conjun~ão de quatro factores: tran­sporte litoral intenso; fraco caudal dos cursos de agua que ai afluem; grande carga solida transportada pelos cursos de agua nos periodos mais pluviosas; e eleva~ão do nivel médio da Água do mar. O fecho destas lagoas é relativamente recente (BOLto, 1943; MARTINS, 1946). As lagoas de Melides e Santo Andre comunicavam ainda directamente com o mar no sec. XVI (WIENECKE, 1971; MORElRA­LOPES, 1979). Da analise dos mapas coevos conclui-se também que o mesmo sucedia

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COm a lagoa de Albufeira, a qual se encerrou, possivelmente, no decurso do sec. XVIII (DIAS, 1985b).

Curiosamente, verifica-se que a parte meridional destas grandes enseadas apresenta tambem similaridades. Efectivamente, a Sul, surgem, tanto num caso como noutro, arribas talhadas na cobertura cenozoica pouco consolidada. Extremando estas enseadas e seguramente co-responsàveis pelo seu desenho, encontram-se esporões de rochas bem consolidadas, sedimentares de idade mesozoica no cabo Espichel e eruptivas no cabo de Sines.

Também este litoral parece estar diversos autores (p.ex.: OLIVEIRA, 1979).

em fase de recuo, facto este apontado por 1965; DAVEAU ~ aI., 1978; MOREIRA-LOPES,

6. A REGIAO Q (entre ~ canhão de Setúbal ~ ~ cabo de São Vicente)

6.1. Batimetria

Entre O canhão submarino de Setúbal e o cabo de São Vicente a plataforma continental forma superficie de inclina~ão suave, de contorno pouco sinuoso e com fraca diferenciação de formas. A Sul do canhão, a plataforma, com menos de 25Km de largura, aparece deslocada de 40Km para oriente em rela~ão à plataforma a Norte deste canhão, estando o bordo reduzido a simples ressalto, localizado entre os 160m e os 180m de profundidade, sem disseca~ão apreciavel e com orientação N-S. Mais para Sul, torna-se difici1 fixar os limites das provincias fisiograficas tradicionais, visto que a margem continental superior se decompõe numa serie de superficies tão pouco desniveladas umas em relação às outras que formam um plano suavemente inclinado ate fundos de mais de 1 OOOm. (VANNEY & MOUGENOT, 1981). Em parte importante desta região, o bordo da plataforma perde significado devido à existência de outra ruptura de pendor, mais afastada da costa e sobretudo mais profunda. Esta indeterminação torna-se ainda mais evi­dente na zona dos 370 30'N de latitude,onde a margem continental superior consti­tui uma superficie suavemente inclinada (20m/Km) ate cerca de 1600m de profundi­dade (VANNEY & MOUGENOT, 1981)

~ atraves das superficies acima referidas que se efectua a transição para as montanhas submarinas dos Principes de Avis (a mais de 50 Km de Vila Nova de Milfqntes)·e dos Descobridores (a 30 Km da da povoa~ão da Bordeira).

Alem dos canhões de Setúbal (que constitui o limite setentrional desta região D) e de São Vicente (próximo do seu limite meridional), não se definem, nesta região, outros canhões submarinos. Apenas se detecta abarrancamento sig­nificativo na parte mais meridional. O canhão submarino de São Vicente define­se abaixo dos 300m de profundidade. A orienta~ão geral e NNE-SSW (grosseiramente paralela à costa) ate 1500m de profundidade, passando depois para NE-SW.

A drenagem de toda esta região efectua-se para a Planicie Abissal do Tejo, à excepção da que e efectuada pelo canhão de São Vicente, o qual se conecta com a Planlcie Abissal da Ferradura, separada da anterior planlcie abissal pelas montanhas submarinas do Banco de Gorringe.

~.l. Hidrologia ~ pluviosidade

O relevo desta região caracteriza-se pela grande uniformidade de planuras extensas (penep1anicie), terrenos suavemente ondu+ados que descem gradualmente de 300m em Niza para 200m na área de Beja. Estas planuras, talhadas indiferen­temente em formações geologicamente muito diferentes (granitôides, xistos etc.) terminam no Sul pelo conjunto das serras algarvias (Monchique e Caldeirão). Deste relevo mono tono emergem, dispersas e afastadas, algumas serras que

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raramente ultrapassam 600m de altitude.

A fachada atlântica alentejana e climaticamente muito menos activa que as suas homólogas das regiões A e B (a Norte do cabo Raso). O duplo abrigo das serras de Sintra e da Arrábida e as reentrâncias a elas ligadas e referidas quando se explanou sobre a região C, fazem que 'as massas de ar do Noroeste sofram um desvio e uma travagem, que as imagens de satélite mostram através de sumptuosas espirais de nuvens' (DAVEAU & colaboradores, 1985).

o clima é do tipo quente e seco, com chuvas caindo sobretudo no Inverno. O Verão é bastante prolongado e seco, em especial nos meses de Julho e Agosto quando se faz sentir com mais intensidade a acção do anticiclone dos A~ores. Neste perlodo as temperaturas são frequentemente elevadas, por vezes mais de 40oC, não sendo raras grandes amplitudes termicas diarias. As amplitudes termicas anuais crescem do litoral para o interior. A faixa litoral apresenta ainda humidade relativamente elevada durante o perlodo do estio.

o unico rio com alguma importância que desagua nesta reglao da plataforma e o Mira. A bacia hidrográfica tem 1 540Km2, sendo ai a altura média de chuva anual da ordem dos 750mm (Dir.-Geral Servo Hidraul., 1979). Drenando reglao aplanada com alguns pequenos relevos residuais, efectua também a drenagem de parte do maciço sienitico de Monchique cujo ponto mais elevado se localiza na Foia, a 902m de altitude. Parte da drenagem da mencionada serra é também efec­tuada pela ribeira de Seixe, pequena linha fluvial cujo debito em terrigenos, para a plataforma é, certamente, irrelevante.

6.3. Litoral

O litoral a Norte de Sines foi já referido quando se tratou da costa de Troia - Costa da Galé - Sines, na região C. t constituido por arribas talhadas na cobertura cenozoica pouco consolidada, cuja actividade esta dependente das condições da agitaçio do mar e das caracteristicas das praias subjacentes. A existência de lagoas, neste litoral, jà foi atras referida. O seu ciclo de encerramento, principalmente o da lagoa de Melides, foi estudado por WIENECKE (1971). t ainda de referir a existência, nesta zona do litoral, de várias outras lagoas em adiantada fase de assoreamento, como as dos Moinhos, da Sancha, das Fontainhas e do Carvalhal.

O litoral a Sul do cabo de Sines (cabo este constituido por rochas da intrusão sub-vulcânica de Sines) é, na maior parte, escarpado. t constituido, predominantemente, por arribas vivas talhadas no soco e, na extremidade meri­dional, nas formações mesazoicas bem consolidadas. Apresenta direcção N-S ate à foz da ribeira de Odeceixe, dispondo-se "grosso modolt com orientação NNE-SSW dai para Sul ate ao cabo de São Vicente. Na foz dos rios e ribeiras que afluem a esta região da plataforma e nalgumas pequenas reentrâncias desenvolvem-se areais que constituem as unicas praias deste troço do litoral português (São Torpes, Vila No'va de Milfontes, Zambujeira, Odeceixe, Cordama-Castelejo etc.).

Em Sines, o maciço eruptivo penetra no mar, constituindo pequenas ilhotas, das quais se destaca a da Perceveira, prolongando-se ainda pela plataforma con­tinental por alguns quilómetros (Carta Geol. Plataforma Continental, 1978). Os escolhos e ilhotas são frequentes tambem a Sul deste cabo de Sines, referindo­se, a titulo exemplificativo, o ilheu do Pessegueiro (junto a Porto Côvo) for­mado por duna quaternária consolidada e a Pedra da Galé (na Bordeira).

Devido à ondulação dominante de NW existe uma deriva litoral e, consequen­temente, um transporte litoral cUJa resultante e para Sul. Admite-se, no entanto, que no cabo de Sines a refracção da ondulação dominante origine, logo a Sul, uma corrente litoral para Norte que determina transporte neste sentido ou,

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pelo menos, mantenha os sedimentos em equilibrio nesta zona (MOITA, 1971). O molhe do porto de Sines, que penetra no oceano por cerca de 2Km, assenta em fun­dos de 35m a 48m (sendo a obra estabelecida a maiores profundidades no Mundo). O aterro submarino tem cerca de 200m de largura na base (DAVEAU ~ al., 1978). t de admitir que, com a constru~ão deste molhe, a refrac~ão da ondula~ão de NW tenha sido intensificada, prolongando-se a zona de sombra mais para Sul, sendo de esperar que zonas onde a deriva se manifestava ate hà pouco para Sul, tenham invertido o sentido geral dessa deriva. Que se saiba, ainda não foram realiza­dos estudos que permitam avaliar do impacto desta obra nos sedimentos da pla­taforma continental adjacente.

7. ~ REGIAO ~ (Algarve)

7.1. Bat imetria

A plataforma continental desta reglao e, fundamentalmente, caracterizada pela sua pouca largura (8Km a 28Km) , nitidez do bordo que se encontra a profun­didades relativamente pequenas (entre 110m e 150m) e simplicidade de formas (VANNEY & MOUGENOT, 1981). Com um pendor medio aproximado de 20m/Km na parte mais estreita (frente ao cabo de Santa Maria), a plataforma alarga-se progres­sivamente para Este e Oeste atingindo pendores de cerca de 5m/Km frente ao rio Guadiana e a Albufeira.

Adjacente à plataforma continental existe uma serie de planaltos marginais com lOKm a 40Km de largura, atingindo extensão mÁxima entre os 700m-800m de pro­fundidade. Individualizados pelas incisões constituidas pelos canhões submari­nos de Lagos, de Portimão e de Faro, estes planaltos marginais sucedem-se de Oeste para Este (planaltos de Sagres, de Lagos, de Portimão, de Albufeira e de Faro), estando os dois últimos separados da vertente continental pela fossa de Alvares Cabral. O planalto de Faro prolonga-se para Sul pelo planalto de Barto­lomeu Dias, o qual, por sua vez, se liga ao banco de Guadalquivir (VANNEY & MOUGENOT, 1981).

O canhão submarino de Lagos so se define pelos 800 m de profundidade e apresenta orienta~ão geral NE-SW. O canhão submarino de Portimão provoca pequena incisão na plataforma (com cerca de 8Km de comprimento). Se se indivi­dualiza abaixo dos 100m de profundidade. O seu traçado e ligeiramente zigueza­gueante, orientando-se alternadamente para SSW e para SSE. O canhão submarino de Faro e bastante mal definido. Provoca apenas ligeira reentrância na pla­taforma com menos de 3Km de comprimento.

7.2. Hidrologia ~ pluviosidade

O relevo do Algarve e caracterizado por series de eleva~ões alinhadas gros­seiramente W-E, cuja altitude desce gradualmente do interior ate ao mar. Distinguem-se, geralmente, três grandes unidades: a "serratl (constituida pelas serras de Monchique e Caldeirão com altitudes maximas respectivamente de 902m e 598m); o '1barrocal 't (conjunto de formações calcarias dispostas a altitudes que vão de 250m ao máximo de 480m); e o "litoral" (de forma mais ou menos aplanada, que sobe para o interior ate ao contacto com O barrocal).

o clima é do tipo quente e seco, sendo condicionado pelo desenvolvimento longitudinal da reg180 e pela presença das massas montanhosas a Nortea Efec­tivamente, se por um lado o Algarve se encontra amplamente aberto às influências moderadoras do oceano, por outro, a Ilserrall isola-o, impedindo a progressão dos ciclones subpolares que invadem ° Pais durante ° Inverno e são portadores de chuvas, bem como impede a entrada de ventos frios do Norte. Devido a tais factos as temperaturas medias em Janeiro rondam Os 120C, sendo as amplitudes térmicas anuais fracas. ~,de toda a faixa litoral portuguesa, a que apresenta

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Dias, J. M. Alveirinho (1987) - Dinâmica Sedimentar e Evolução Recente da Plataforma Continental Portuguesa Setentrional.. Dissertação de Doutoramento, 384p., Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
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feição mediterrânica mais marcada. A Oriente da Quarteira mediterrânico. Para Ocidente o clima, embora mediterrânicas, apresenta feição mais atlântica (DAVEAU & 1985; ALCOFORADO ~ ~., 1982).

o clima e tipicamente com caracterlsticas colaboradores, 1977,

A excepção do rio Guadiana que forma fronteira a oriente, não existem rios importantes no Algarve. A drenagem é efectuada por algumas ribeiras (Odeceixe, Bensafrim, Odelouca, Arade, Alte, Algibre etc.) cuja expressão a nivei regional e diminuta. Os alinhamentos seguidos pela maioria das ribeiras estão orientados por fracturas, as quais, frequentemente, determinam mudanças bruscas da direcção dessas ribeiras. A pluviosidade e pequena, registando-se valores de altura media de chuva anual (72lmm) bastante inferiores à media no Pais (lOlOmm).

7.3. Litoral

bas o litoral algarvio é caracterizado, constituidas maioritariamente em

existência de extensos cordões arenosos.

a Ocidente, pela predominância de arri­rochas carbonatadas, e a Oriente, pela

As arribas que, desde o cabo de São Vicente se extendem até perto da ponta da Piedade, são talhadas predominantemente em formações carbonatadas mesozoicas. Da referida ponta ate às proximidades dos Olhos de Água, as arribas desenvolvem-se em rochas carbonatadas e detriticas de idade miocenica, estando SUjeItas a importante condicionamento pelo paleo-relevo cÁrsico. Da! para oriente, as arribas constituíram-se em formações detrlticas pouco consolidadas atribuidas ao Miocenico e/ou pos-Miocénico. De um modo geral, as arribas do litoral algarvio são activas, sendo a erosão marinha, na base, muito superior à erosão sub-aerea. As taxas de recuo das arribas são, devido principalmente à litologia em que estas estão talhadas, bastante maiores a Oriente que a Ocidente (GODARD, 1967; DIAS, 1984).

As praias existentes no litoral cortado nas formações mesozoicas são peque­nas e conectadas, .em geral, com a foz de pequenas linhas de agua. Localizam-se, preferencialmente, entre saliências da costa, beneficiando consequentemente da dissipação da energia das vagas incidentes. O litoral das formações miocenicas, em que os escolhos e Leixões são muitas vezes abundantes, apresenta pequenas praias em bolsadas frequentemente condicionadas pelo modelado cÁrsico actual­mente em fase de exumação marinha. Na bala de Lagos estendem-se longos areais em conexão com a foz do Bensafrim e do sistema Alvôr-Odiaxere. Mais para Oriente, desenvolveram-se areais relacionados com a foz das ribeira principais, como em Armação de Pera e Albufeira. Como o transporte litoral predominante e de Oeste para Este, estes depositos de areias localizam-se preferencialmente a Oriente da foz, com direcção NW-SE, perpendicularmente à direcção da agitação maritima dominante (DIAS, 1984).

A Oriente dos Olhos de Agua desenvolve-se cordão arenoso continuo, na base de ar~ibas constituidas por materiais heterogeneos e pouco consolidados. A sus­ceptibilidade destas arribas à erosão marinha e extremamente elevada, verificando-se forte desgaste da base quando o tipo de agitação marinha ê tal que ultrapassa a protecção que lhes e conferida pela praia subjacente. Pro­vavelmente, e esta a razão porque as referidas arribas e praias apresentam tambem orienta,ão NW-SE, perpendicular à da ondula,ão dominante (DIAS, 1984). Este conjunto arriba-praia prolonga-se para Oriente, verificando-se transição gradual de arribas activas para inactivas e destas para arribas fosseis, devido à protecção crescente que lhes ê conferida pelos areais que constituem o extremo Ocidental do sistema de ilhas barreira de Faro-Olhão.

o sistema penlnsulas do

de ilhas barreira de Faro-Olhão, constituido essencialmente pelas Ancão e Cacela e pelas ilhas Barreta, Culatra, Armona, Tavira e

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Cabanas, desenvolve-se em forma de triângulo escaleno cujo vertice exterior con­stitui o denominado Cabo de Santa Maria. Possivelmente, a origem e evolu~ão deste sistema està relacionado com a subida, post-Wurm, do nivei do mar (MON­TEIRO et aI., 1984). Constitui sistema extraordinariamente dinâmico. As barras são, no-geral, muito instÁveis, a maior parte das quais migra, com o tempo, desde uma posi~ão preferencial, a Ocidente, ate uma posição limite, a Oriente, posições essas que parecem ser especificas de cada barra. Concomitantemente com esta migração, e com ela directamente relacionados, verificam-se processos de destruição da parte Oriental e reconstrução da parte Ocidental das ilhas entre as quais se definem as barras (WEINHOLTZ, 1964, 1978a; GRANJA, 1984). As taxas de migra~ão destas barras (e, como e obvio, as taxas de crescimento da parte oriental e de destrui~ão da parte ocidental das ilhas) e frequentemente espec­tacular, chegando a atingir, por vezes, valores da ordem dos 70m/anos ou ate superiores a 100m/ano (BETTENCOURT, 1985; ESAGUY,1985; DIAS, 1986b).

Para Oriente do sistema de ilhas barreira a praIa e continua, formando larga enseada assimetrica, extremada a Oriente pelo banco de OfBril, na foz do rio Guadiana. Segundo WEINHOLTZ (1978b), "o caminhamento mar!timo das areias, que se faz de Poente para Nascente, ao longo da costa, ( ••• ) encontra o obstaculo natural que e a corrente de vazante do rio que faz que essas areias se vão depositando a Oeste da embocadura, contribuindo para a forma~ão dos bancos de Poente". A ac~ão conjugada do vento e da ondula~ão de SW, dominantes, fez que esses bancos se unissem a terra formando o banco de O'Bril e engrossando cada vez mais a praia, desde a Ponta da Areia ate' para alem de Monte Gordo.

De um modo geral, o litoral algarvio encontra-se em fase de recuo, não sO na parte de arribas (DIAS, 1984, 1986b; GRANJA, 1984) onde a taxa de recuo chega a ultrapassar os 2m/ano (por exemplo em Vale do Lobo e Forte Novo), como na zona do sistema de ilhas barreir_a onde, na praia de Faro, a linha de baixa mar recuou cerca de 1m/ano entre 1945 e 1964 (WEINHOLTZ, 1978). No entanto, localmente, verifica-se acrea~ão nalguns depósitos arenosos, geralmente em rela~ão com interven~ões de origem humana. O melhor exemplo disso e, talvez, o caso da ilha Barreta, em que a face oceânica se deslocou, desde 1942, mais de 300m para o mar em consequência da constru~ão e prolongamento do esporão de protec~ão à barra de Faro.

8. CARACTER1sTICAS OCEANOGRÁFICAS

8.1. Correntes

As correntes marinhas actuantes na margem portuguesa são, de um modo geral, mal conhecidas. A localiza~ão de Portugal na adjacência do giro anticiclónico subtropical e na costa oriental de um grande oceano, determina as caracteristicas climaticas e oceanograficas da zona oceânica sob sua dependência. Tais condi~ões induzem, junto à costa Oeste por'tuguesa correntes superficiais N-S, conhecidas pela designa~ão generica de I'Corrente de Portugal", o que tem sido confirmado por dados obtidos por navios, nesta zona.(*)

Junto à costa faz-se sentir a ac~ão de correntes de deriva litoral, induzi­das pelo vento e ondula~ão dominantes, cuja resultante e, de modo geral, para Sul na costa Ocidental, e para Oriente na costa meridional. Estudos de tran­sporte litoral envolvendo anàiise de minerais pesados e marca~ão de sedimentos

(*) - Uma garrafa lastrada deitada ao mar, pelo autor, no decurso do cruzeiro Sinfar, em Novembro de 1981, a cerca de 30Km a W do cabo da Roca, foi recolhida, apos dois meses, por um pescador, numa praia do Norte de África.

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com isotopos radioactivos e luminoforos (ABECASIS ~ ~., 1962) tendem a confir­mar este facto. Estes estudos permitem avaliar da intensidade desse transporte o qual, junto ao cabo Mondego e sob ac~ão de ondula~ão de WNW com altura de cerca de 1m, chegou a atingir velocidades superiores a SKm/dia (embora a veloci­dade media nos primeiros 12 dias da experiência, em que se registaram condi~ões

variàveis de ondula~ão, inclusivamente com vaga dos quadrantes de SW), tenha sido de 750m/dia. As acumula~ões verificadas junto Á parte Norte dos molhes e quebra-mares construidos na costa, bem como o assoreamento dos portos, confirma a intensidade do transporte litoral. Refere-se, a titulo de exemplo, que junto ao molhe Norte da entrada do porto dj Aveiro, durante a sua constru~ão, a acumula~ão de sedimentos rondou os 800 OOOm fano e que o volumj de dragados na parte· exterior do porto de Leixões atinge cerca de 150 OOOm fano (ABECASIS et al., 1962).

Das correntes que se fazem sentir em profundidade, talvez a mais importante seja a veia de Agua medit,errânica. Esta corrente, que flui do e"streito de Gibraltar, e proveniente principalmente de niveis profundos do mar de Alboran (700m a I OOOm). No seu inicio sofre intensa mistura vertical e lateral com a Agua Atlântica, o que lhe provoca diminui~ão de densidade até atingir O nivel de equilibrio. O fluxo subsequente, sob forma de nivel intermédio constituido por três veias principais escalonadas entre 500m e 1300m de profundidade, e carac­terizado por alta temperatura e salinidade (MADELAIN, 1976; AMBAR & HOWE, 1979; AMBAR, 1982). Progredindo para Norte desde o estreito de Gibraltar devido à for~a geostr6fica, esta corrente e bruscamente desviada para Oeste pelo obstáculo constituido pela vertente continental do Algarve. t então sujeita a frequentes efeitos de canaliza~ão, tendo sido ai detectadas velocidades superiores a IOcm/s, velocidades essas que chegam a atingir 50cm/s na fossa de Diogo Cão (LACOMBE, 1970; MADELAIN, 1967, 1970; AMBAR & HOWE, 1979). Esta corrente, responsÁvel pela forma~ão dos contornitos do Algarve (MOUGENOT & VAN­NEY, 1982; FAUGERES et ~., 1984), flui para Oeste, passando entre o banco de Gorringe e o cabo de São Vicente. Um ramO desta corrente submarina dirige-se mais para Oeste e separa-se do fundo. Outro ramo, dirige-se para Norte, contor­nando a vertente continental. Esta circula~ão e afectada pelos acidentes da batimetria (canhões e montanhas submarinas), gerando-se vbrtices e meandros associados à dinâmica de vorticidade do escoamento (AMBAR et aI., 1984). Foi detectada ainda com velocidades apreciÁveis (20cm/s) ~Oe;te de Lisboa, por alturas do cabo Mondego (4cm/s) e mesmo mais a Norte onde, na depressão de Valle Inclan, apresenta a velocidade de 2cm/s (LACOMBE, 1970). Ao largo do Alentejo, os valores médios diÁrios da componente meridional chega a atingir 44cm/s (para Norte), observando-se por vezes, todavia, inversão no sentido da corrente, o que indica presen~a de actividade turbilhonar com acentuado caracter barotr6pico (AMBAR et ~., 1984).

~.~. Agitação maritima.

Segundo FIUZA et ~. (1982), Portugal é climaticamente afectado pelo campo de pressões induzido pelo anticiclone dos A~ores e, em menor escala, pelo nucleo de baixas pressões da Islândia. De Mar~o a Agosto, o anticiclone move-se ao longo do meridiano 38 0 W desde 27 0 N até 330 N respectivamente. De Novembro a Fevereiro esse anticiclone desloca-se em direc~ão a Este, atingindo 23 0 N em Janeiro, como consequência do aumento relativo das altas pressões de Inverno localizadas na Europa e em Africa. Tal situação, segundo os autores referidos, provoca em Portugal, na generalidade, ventos fracos de Oeste no Inverno, e ven­tos relativamente fortes de Norte e Noroeste durante o Verão. A vaga gerada localmente por tais ventos serA, consequentemente, dete~minada pelas caracterIsticas (intensidade e direc~ão) destes. Os resultados fornecidos para a vaga pelas publicações americanas (Sea and Swell Charts, North Atlantic Ocean and Oceanographic Atlas of the North Atlantic Ocean: Sea and Swell) confirmam essas relações. A vaga dos quadrantes N e NW aumenta de 32% em Fevereiro até 53%

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em Agosto, sendo a dos quadrantes de S e SW de 16% em Fevereiro e de apenas 6% em Agosto.

A agita~ão maritima ao largo da costa Oeste de Portugal foi estudada por CARVALHO & BARCELÓ (1966) que chegaram às seguintes conclusões:

1) A gama de direc~ões mais frequentes esta W-20 0 -N (cerca de 100 dias/ano), verificando-se e S apenas cerca de 75 dias/ano;

compreendida entre W-IOo-N e ondula~ão com direc~ões entre W

2) O per iodo mais frequente está compreendido entre 9 e 11 tendo sido observados periodos inferiores a 6 segundos, observa~ões superiores a 18 segundos;

segundos, sendo raras

não as

3) O escalão de alturas significativas mais frequentes é o de 1m a 2m (45% das ocorrências), enquanto os temporais com alturas significativas superiores a 3m têm uma frequencia de 15% (cerca de 55 dias/ano) e as ocorrências de agita~ão COm alturas de onda superiores a 6m apresentam uma frequência de apenas 2%;

4) A altura mÁxima deduzida para o regime de ondula~ão ao largo e de cerca de 11m.

Note-se que, apesar de pouco frequentes, as tempestades (nomeadamente as de SW) podem ter efeitos catastroficos, principalmente quando se fazem sentir em per lodos de mares cheias e vivas, como sucedeu, por exemplo, com os temporais de Janeiro de 1937 (PEREIRA, 1937) e de Fevereiro/Mar~o de 1978 (DAVEAU, 1978) que provocaram estragos importantes em varias pontos da costa. No decurso dos tem­porais de 1978 o quebra-mar do porto de Sines cedeu em varias locais (num comprimento total de 650m) sob o ataque de ondas com altura significativa (isto é, a média do ter~o das ondas mais altas) que chegou a atingir 8,5m (FEIO & ALMEIDA, 1978). ! de referir que o periodo de retorno da onda significativa com 8,5m é de apenas de 5 anos (FEIO, 1980).

o estudo da variação do regime de agitação ao longo do ano, na costa Oeste, revela que: em qualquer epoca do ano podem aparecer ondas ao largo com direcções entre N e NW, enquanto que as ondas provenientes de outras direcções aparecem com maior frequência nos meses de Inverno, quase não se verificando nos meses de Junho a Setembro; a altura máxima da agitação apresenta um minimo em Julho com Cerca de 4m, crescendo regularmente até Dezembro e Janeiro (CARVALHO & BARCELÓ, 1966).

~ ainda relevante referir que a violência dos temporais diminui à medida progride para Sul ao longo da costa Oeste, indo a resultante rodando de

Norte de Portugal, a NW no tro~o a Sul de Sines (CARVALHO & BARCELÓ, que se WNW, no 1966).

No Algarve (dados referentes a Portimão), a direc~ão dominante da ondula~ão junto à costa, durante o ano, é de SW (cerca de 11% das observa~ões), aparecendo a provinda de SSE com frequência de cerca de 8%. O per iodo mais frequente é o de 7 a 9 segundos, não se verificando perlodos superiores a estes no Verão. No Inverno, todavia, a costa fica sujeita a ondulação cujo per iodo pode ultrapassar os 15 segundos (COMES ~ ~., 1971).

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8.3. "Upwelling" Costeiro (*)

Outro fenomeno importante que se verifica na margem portuguesas e o do "upwelling" costeiro. Reconhecido desde os trabalhos de RAMALHO & DENTINHO (1928) e BOTO (1945), o "upwelling" costeiro de Águas frias, carregadas de nutrientes, ocorre nas àguas portuguesas principalmente no Verão em consequência da intensidade e persistência dos ventos de Norte nos meses de Junho a Agosto (FI~ZA et al., 1982). A intensidade mÁxima regista-se aparentemente na região de Sines (38°N). Estes processos de lIupwellíng" costeiro afectam as centenas de metros uperiores da coluna de água da margem continental. Segundo FIUZA (1982), na costa portuguesa, em consequência destes processos, aparecem à superflcie Águas provenientes de profundidades entre 60m e 120m.

A Norte do canhão da Nazaré o t'upwelling" costeiro e bastante homogéneo. Entre os cabos Espichei e de Sines verifica-se, segundo os autores referidos, certa tridimensionalidade devida às protuberâncias da costa e aos canhões sub­marinos. A Sul do cabo de Sines os gradientes termicos das águas localizam-se mais perto do litoral, consequência das caracteristicas batimetricas da zona. No Algarve, o "upwelling" costeiro so ocorre induzido por ventos ocasionais de W. Todavia, durante ciclos de vento moderado a forte soprando de Norte na costa Oeste, verifica-se, junto ao cabo de São Vicente, uma extensão para Oriente do "upwelling1t costeiro ocidental, o qual segue, IIgrosso modo", a batimetrica dos 100m (FI~ZA, 1982, 1983).

8.4. Mares.

As mares são do tipo semi-diárno, propagando-se de correntes de mare têm importância mais evidente junto à lagunas. A amplitude das mares varia desde pouco mais de quase 4m nas mares VIvas.

Sul para Norte. As costa e nos estuarios e 1m nas mares mortas ate

2.. CONCLUSOES

Do que atras se expôs pode concluir-se que:

1) Existem caracteristicas vidua lizadas.

na plataforma continental portuguesa cinco distintas, constituindo bacias de deposição mais

regiões com ou menos indi-

2) Na região A (plataforma entre o paralelo da foz do rio Minho e o canhão submarino da Nazaré) a existência de vÁrios rios, a alta pluviosidade na região emersa adjacente e o acidentado do relevo permitem pressupôr uma plataforma con­tinental bem abastecida em particulas terrigenas provenientes do continente. No entanto, do estado actual de assoreamento dos estuarios, principalmente nos rios a Sul do paralelo 41oN, pode deduzir-se que esse abastecimento se atenuou recen­temente. Devido à regularidade e suavidade do relevo da plataforma, o padrão de distr,i..buição dos sedimentos não e aqui, possivelmente, complexo. A Sul, o canhãQ submarino da Nazaré, cortando quase por completo a plataforma, serve pro­vavelmente de veiculo de drenagem privilegiado dos sedimentos que ai afluem.

3) A região B (plataforma entre o canhão submarino da Nazare e o cabo Raso) é provavelmente deficitaria em terrigenos. De facto, o canhão da Nazaré, que a

(*) - Mantem-se o termo original em inglês em detrimento dos ter­mos por vezes utilizados nalgumas publicações portuguesas (afloramento costeiro e ressurgência costeira). Efectivamente, os termos lI a floramento ll e "ressurgência" têm significado preciso em geologia, diferente do associado a lIupwel1ingll.

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limita a Norte, serve certamente de barreira natural à maioria dos sedimentos provenientes da região A. ~ provÁvel, no entanto, que os sedimentos finos, tran­sportados em suspensão, consigam passar sobre este canhão, da região A para esta região B. A inexistência de rios que drenem para esta região da plataforma pro­dutos da erosão do continente, refor~a a hipotese expressa. A erosão das arri­bas e das ilhas existentes apenas poderÁ originar pequena contribuic;:ão' em terrigenos.

4) A região C (plataforma entre o cabo Raso e o canhão submarino de Setúbal) tem como factores dominantes a desembocadura de dois grandes estuÁrios (Tejo e Sado) e as perturba~ões na circula~ão próxima da costa provocadas pelas peninsulas de Lisboa e Setúbal. Esta região da plataforma e, provavelmente, bem abastecida em sedimentos predominantemente finos Csilte·+ argila) provenientes das zonas estuarinas. t conceblvel, no entanto, que em tempos sub-actuais o fornecimento em grosseiros {principalmente areia} debitados pelos dois grandes rios que aqui afluem, fosse substancialmente maior. O tipo de circulação em celulas, induzindo provavelmente grande tempo de residência para as areias, deixa prevêr ainda a existência de zonas dominadas pelo típo textural areia, onde permanecerão os sedimentos grosseiros que ainda não foram captados pelo sistema de drenagem constituído pelos canhões submarinos desta região.

5) A região D (plataforma entre o canhão submarino de Setfibal e o cabo de São Vicente) e limitada a Norte pelo canhão de Setúbal. Visto que este sÓ se define na batimetria abaixo dos 50m, e possivel que se verifique passagem de sedimentos grosseiros entre as cabeceiras do canhão e a costa, da região C para Sul. ~ possivel ainda que os finos (silte e argila) passem sobre o canhão, transportados em suspensão. Existe ainda a possibilidade de alguma ressuspensão periódica de finos, principalmente dos depositados na margem esquerda do canhão, devido a fenomenos de "upwelling lt costeiro. Todavia, a interacção da refracção e difracção da ondulação no cabo EspicheI com os processos mencionados não e, ~ priori ,evidente, pelo que e de esperar um padrão complexo na distribui~ão dos sedimentos. Mais para Sul, a inexistência de rios importantes, o acidentado e constitui~ão litológica da parte emersa deixa prevêr reglao deficitÁria no abastecimento de terrigenos. A erosão das arribas e do fundo apenas poderÁ for­necer quantidade limitada de material essencialmente fino. A existência de "upwelling lt costeiro activo permite ainda deduzir que o conte&do em biogenicos, nesta região, não serA pequeno.

6) A região E (plataforma continental algarvia) aparenta ser bastant.e deficitária em terrigenos grosseiros (areia e cascalho). A inexistência de rios importantes al~m do Guadiana e o tipo e constituição do relevo conduzem a essa pressuposição.

7) A anÁlise do conjunto dos elementos atrÁs referidos permite pressupôr que o abastecimento de terrigenos para a plataforma e, geralmente, pequeno em termos de grosseiros {areia e cascalho}. No entanto, grandes quantidades de sedimentos transportados em suspensão continuam a ser para ai drenados.

8} A formação recente de grandes cordões arenosos no litoral português, bem como o assoreamento dos estuarios e o isolamento das lagunas, indica que, pro­vavelmente, sÓ recentemente foi estabelecido um certo equilibrio do litoral. ~ possivel que a constitulçao de tais cordões arenosos esteja relacionada com pulsações eustÁticas sub-actuais, nomeadamente com pequenos abaixamentos do nivel do mar, concomitantes com variações climÁticas e com avanços das frentes glaciarias, verificados jÁ em epocas histricas, cama sejam os que são muitas vezes designados por "Regressão Romana", "Regressão Medieva" e "Pequena Idade do Gelo" (FAIRBRIDCE, 1961; MORNER, 1969; TE RS , 1973; DENTON, 1973; TULLOT, 1986).

9) Parte do assoreamento estuarino e erosão li toral actualmente

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verificáveis devem-se, provavelmente, não so à perda gradual de gradiente dos rios devido à elevação do nivei base, mas tambem aos efeitos directos das proprias pulsações transgressivas, nomeadamente da actual (KING, 1974; FAIR­BRIDGE, 1961; WEXLER, 1961), no decurso das quais e normal que o balan~o entre sedimentos saldos e entrados nos estuários seja negativo, chegando a acontecer entrada de sedimentos da circula~ão litoral para os estuÁrios (SWIFT, 1976).

10) A construção de grandes albufeiras de armazenamento nos principais rios portugueses, transformando profundamente o regime desses rios, veio certamente provoC'ar efeitos acumulativos com os acima referidos, diminuindo a contribuição fluviâl actual para os sedimentos da plataforma continental. Se e certo que tais 'Obras de engenharia vieram regularizar de alguma forma os caudais (no Tejo, por exemplo, os caudais de estiagem puderam ser mantidos de maneira que, em vez do escoamento trimestral estival representar 1% a 2% do anual, passou a atingir 4% a 5% ou ate, em 1971, 20%) , as pontas máximas de cheia come~aram a diminuir (DAVEAU, 1978; SOBRINHO, 1980), diminuindo simultaneamente o efeito de tran­sporte de sedimentos para a plataforma que tais eventos provocavam. Não obstante o facto de se continuarem a fazer sentir cheias quando a capacidade de armazenamento das albufeiras e ultrapassado ou mal gerido (DAVEAU, 1978), por certo que este tipo de abastecimento de sedimentos à plataforma diminuiu con­sideravelmente nos ultimos decenios.

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