_gentes provindas de outras terras_ -ciência psiquiátrica, imigração e nação brasileira

9
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=233017503009 Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Sistema de Información Científica Ana Teresa A. Venancio, Cristiana Facchinetti "Gentes provindas de outras terras" -ciência psiquiátrica, imigração e nação brasileira Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, vol. VIII, núm. 2, junio, 2005, pp. 356-363, Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental Brasil Como citar este artigo Fascículo completo Mais informações do artigo Site da revista Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, ISSN (Versão impressa): 1415-4714 [email protected] Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental Brasil www.redalyc.org Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

Upload: lua-lanca

Post on 18-Nov-2015

213 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Gentes Provindas de Outras Terras_ -Ciência Psiquiátrica, Imigração e Nação Brasileira

TRANSCRIPT

  • Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=233017503009

    Red de Revistas Cientficas de Amrica Latina, el Caribe, Espaa y Portugal

    Sistema de Informacin Cientfica

    Ana Teresa A. Venancio, Cristiana Facchinetti

    "Gentes provindas de outras terras" -cincia psiquitrica, imigrao e nao brasileira

    Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, vol. VIII, nm. 2, junio, 2005, pp. 356-363,

    Associao Universitria de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental

    Brasil

    Como citar este artigo Fascculo completo Mais informaes do artigo Site da revista

    Revista Latinoamericana de Psicopatologia

    Fundamental,

    ISSN (Verso impressa): 1415-4714

    [email protected]

    Associao Universitria de Pesquisa em

    Psicopatologia Fundamental

    Brasil

    www.redalyc.orgProjeto acadmico no lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

    http://www.redalyc.orghttp://www.redalyc.org/comocitar.oa?id=233017503009http://www.redalyc.org/fasciculo.oa?id=2330&numero=17503http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=233017503009http://www.redalyc.org/revista.oa?id=2330http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=233017503009http://www.redalyc.org/revista.oa?id=2330http://www.redalyc.org/revista.oa?id=2330http://www.redalyc.org/revista.oa?id=2330http://www.redalyc.orghttp://www.redalyc.org/revista.oa?id=2330

  • 356

    R E V I S T AL A T I N O A M E R I C A N ADE PS I C O PATO LO GIAF U N D A M E N T A Lano VIII, n. 2, jun/ 2 0 05

    Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., VIII, 2, 356-363

    Gentes provindas de outras terras cincia psiquitrica, imigrao

    e nao brasileira

    Ana Teresa A. VenancioCristiana Facchinetti

    Publicado em 1925, o texto de Juliano Moreira que oraapresentamos discute o problema da imigrao e sua relaocom a constituio mental dos brasileiros. Nosso artigoanalisa o contexto em que o artigo foi escrito para demonstraras relaes do processo de consolidao da psiquiatriabrasileira com o conjunto de idias e prticas relativas aosdestinos do pas.Palavras-chave: Imigrao, nao, psiquiatria, histria, Brasil

  • 357

    HISTRIA DAPSIQUIATRIA

    ano VIII, n. 2, jun/ 2 005

    O texto original de 1925 aqui publicado A seleo individualde imigrantes no programa de hygiene mental de autoria de JulianoMoreira (1873-1933), apresenta de forma exemplar o entrelaamentoda histria da cincia psiquitrica com questes cruciais presentesno pensamento erudito brasileiro no incio do sculo XX, tendo emvista a definio e projeo de um modelo ideal de sociedade e dehomem brasileiro.

    A ampla atuao de Juliano Moreira na psiquiatria revela mesmoo impacto de suas formulaes e o papel de representante ativo dacincia psiquitrica no debate sobre a construo da nao brasileira.Nascido em Salvador, mulato, filho de me pobre, formou-se em 1891na Faculdade de Medicina da Bahia, com a tese Sfilis MalignaPrecoce. Em 1899 tornava-se catedrtico dessa mesma faculdade,colaborando extensamente com a publicao de artigos nos peridicosGazeta Mdica da Bahia e Revista Mdico-Legal. Depois de viagensa Europa para curar-se de tuberculose onde freqentou cursos dedoenas mentais em vrios pases e visitou diversas clnicaspsiquitricas retornaria ao Brasil, instalando-se no Rio de Janeiro esendo nomeado diretor do Hospcio Nacional de Alienados, em 1903,por indicao de Afrnio Peixoto. Durante o perodo em que estevena direo dessa instituio (1903-1930), Juliano defendeu areformulao da assistncia psiquitrica pblica e a promulgao daprimeira lei de assistncia a alienados no Brasil (1903). Em 1911 foinomeado diretor da Assistncia a Psicopatas, quando incentivou afundao do Manicmio Judicirio e a compra de terreno para acriao do que seria, posteriormente, a Colnia Juliano Moreira.Durante toda a sua carreira foi difusor da psiquiatria cientfica nosmeios eruditos brasileiros, sendo um dos fundadores da Sociedade

  • 358

    R E V I S T AL A T I N O A M E R I C A N ADE PS I C O PATO LO GIAF U N D A M E N T A Lano VIII, n. 2, jun/ 2 0 05

    Brasileira de Psychiatria, Neurologia e Cincias Afins, em 1905; um dos integrantesde comisso criada pela Sociedade Brasileira de Psiquiatria Neurologia e MedicinaLegal para estabelecer a primeira classificao psiquitrica brasileira, em 1911;presidente de honra da Liga Brasileira de Higiene Mental, fundada em 1923; epresidente da seo Rio da Sociedade Brasileira de Psicanlise, criada em 1928.

    portanto a partir do conjunto de idias e prticas relativas aos destinosdo pas e do processo de consolidao de uma cincia psiquitrica brasileira, quepodemos entender o texto que ora apresentamos. Publicado originalmente em1925, no Archivos Brasileiros de Hygiene Mental, rgo oficial da Liga Brasilei-ra de Higiene Mental, o referido artigo reproduz e confirma muitas das posiesanteriores de seu autor. Nele Juliano Moreira visa discutir o problema da imigra-o e sua relao com a constituio mental dos brasileiros, partindo da anlisedo caso dos Estados Unidos, em que a entrada de imigrantes, inicialmente semcontrole, teria aumentado o nmero de doentes mentais naquele pas, razo pelaqual foram tomadas medidas fortes de proibio da chegada de imigrantes. Sir-va-nos, pois, de exemplo, a lio que nos transmitida por um povo que, ape-sar de opulento, no deixa de queixar-se das conseqncias do mal de no termelhor escolhido em tempo os seus imigrantes do ponto de vista mental (Mo-reira, 1925, p. 111). A partir da descrio e da observao clnica de casos depacientes, afirma ento que os estrangeiros doentes mentais seriam um nus tantopara os cofres pblicos, quanto para as geraes futuras, defendendo, entretan-to, um controle da imigrao com base na anlise dos casos individuais, em vezda aplicao de restries a um determinado povo ou raa.

    A reproduo desse texto serve, portanto, a um s tempo, preservao edifuso documental para a memria da psiquiatria brasileira e ao aprofundamentodas pesquisas e anlises que tm se debruado sobre a relao entre essa cinciae as questes de ordem sociolgica e histrica que informam a observao eclassificao do que, aos nossos prprios olhos, se traduz como especificamentepatolgico. Trata-se, no caso da psiquiatria, de uma definio de patolgico que,referida dimenso mental humana, inclui um amplo leque de possibilidadespara sua comprovao, etiologia e prognstico: as qualidades fsicas, enraizadasno crebro, no sistema nervoso ou nos traos hereditrios, mas tambm asqualidades morais a serem garantidas pela extino dos vcios, pela vigilnciados bons costumes e pela cruzada educacional.

    justamente em meio s discusses sobre a nao e seus cidados e suarelao com as (psico)patologias que se deu a promoo imigrao europiapelo governo brasileiro a partir da segunda metade do sculo XIX, especialmenteaps o fim do trfico africano em 1850, quando ocorreu a chegada macia deimigrantes portugueses (Chalhoub, 1990, p. 199). Um dos principais objetivosera suprir novos braos para a lavoura sob a influncia das teses positivistas,

  • 359

    HISTRIA DAPSIQUIATRIA

    ano VIII, n. 2, jun/ 2 005

    que traziam como questo para o desenvolvimento do pas a substituio dotrabalho escravo pelo trabalho livre, assalariado. Ressalte-se ainda que os braosbuscados eram brancos; pretendia-se que os novos trabalhadores viessem acontribuir para o clareamento da raa.

    Se no incio do sculo XIX os conceitos-chave utilizados para definir a po-pulao haviam destacado a natureza indolente do brasileiro, em funo da de-terminao do clima e do meio, a partir da segunda metade do sculo XIX, ateoria da degenerao, que afirmava a transmisso hereditria e definia o desvioem relao ao tipo normal da humanidade (apud Castel, 1978, p. 259), ganhouproeminncia no pas e se acoplou s teorias de Gobineau, Agassiz e Le Bon.Assim, parte da literatura sobre o tema traava uma paisagem pessimista para ofuturo, derivada de uma interpretao acerca do pas que adquirira o estatuto decincia. No entanto, entre as diferentes correntes, destacaram-se tambm previ-ses mais otimistas, que apostavam em um progressivo branqueamento do Bra-sil como sada favorvel para permitir o processo de modernizao e normalizaoda sociedade, o que se daria atravs de um programa intenso de imigrao. To-dos os casos apontavam como o principal problema da nacionalidade um povoque deveria ser paulatinamente substitudo (Lima e Hochman, 2004, p. 506).

    A imigrao, que inicialmente visara o campo, foi intensificada a partir daProclamao da Repblica e os excedentes das lavouras acabaram por apoiar oincio da industrializao, participando ativamente da expanso e urbanizao dascidades. Mesclados aos ex-escravos e a contingentes significativos de migrantesoriundos das mais diversas regies do pas, portugueses, espanhis e italianos,principalmente, foram compondo, nos centros urbanos, uma populao social eculturalmente multifacetada.

    Durante a velha Repblica, mais particularmente aps a Primeira GuerraMundial, a esperana na possibilidade de salvao do pas e de construo deuma identidade nacional, produzida nos meios literrios, sociolgicos, e tambmmdicos, ganhou destaque. Segundo Castro Santos (2003), nesse pensamentonacionalista a questo sanitria aparecia como idia forte em duas correntes: umaque sonhava com um Brasil moderno e atraa intelectuais que viam nocrescimento e progresso das cidades brasileiras os sinais da conquista dacivilizao. A outra corrente preocupava-se em recuperar no interior do pas, asrazes da nacionalidade, e buscava integrar o sertanejo ao projeto de construonacional (p. 211).

    A corrente nacionalista que visava modernizar o Brasil projetava-o comoum pas europeizado, inclusive etnicamente, continuando, assim, com oempenho de para c atrair imigrantes estrangeiros que poderiam exortar osbrasileiros de seu passado escravagista e da miscigenao racial. No entanto, aPrimeira Grande Guerra gerou problemas de imigrao, higiene e controle sanitrio

  • 360

    R E V I S T AL A T I N O A M E R I C A N ADE PS I C O PATO LO GIAF U N D A M E N T A Lano VIII, n. 2, jun/ 2 0 05

    (Lima e Hochman, 2004, p. 498) que comearam a desestabilizar a idealizaoda imigrao branca europia.

    Conforme Castro Santos (2003), a poltica migratria sustentada pelogoverno central em prol da modernizao passou a se somar preocupao coma questo sanitria, apenas a partir da qual se poderiam debelar nossos males enossas epidemias, como a febre amarela. As cidades litorneas, porta de entradados imigrantes, passaram a ser denunciadas por suas condies insalubres, comocampo frtil para o aparecimento de doenas. Se entre 1890 e 1899 observa-seum alto nmero de trabalhadores europeus que chegavam ao Brasil, no perodoem que Rodrigues Alves e Oswaldo Cruz iniciavam a campanha pela erradicaoda febre amarela no Rio de Janeiro, o nmero de imigrantes caravertiginosamente. Ao sucesso dos esforos de Oswaldo Cruz seguiu-se novacurva ascendente da corrente migratria (ibid., p. 212 e 213).

    Se esse discurso favorvel imigrao como sada para a nao brasileiravestiria cada vez mais a roupagem do racismo cientfico difundido por umgrupo considervel de mdicos, que via na arianizao do povo brasileiro a soluopara seus males, parte dos higienistas e psiquiatras refutavam a relao entredoenas e origem racial da populao. Tomou forma o argumento de que todospoderiam contrair doenas que no respeitavam raa ou condio social. Nestesentido, a idia de raa foi tomada em termos menos circunscritos e mais amplos,passando a significar, como afirma Stepan (2004), a nossa raa ou a raabrasileira (p. 368-9). Foi em torno desse crculo de idias e homens pblicosque Juliano Moreira desenvolveu seu trabalho em prol de uma cincia psiquitricabrasileira, isto , uma cincia a servio da nao, para lhe propor caminhosfrutferos: o escrutnio cientfico do pathos mental que aqui se apresentava, afim de observar, classificar, tratar e propor medidas pblicas que evitassem aemergncia de seus fatores causais.

    No campo psiquitrico brasileiro, especificamente, Juliano Moreira tomavaparte na discusso terica sobre as relaes entre pathos e raa. Ao contrrio deNina Rodrigues, que defendia a tese de que a mestiagem era um fatordegenerativo (apud Moreira, 1908, p. 431-432), Juliano subtraa para as unidadesorgnicas individuais a carga de uma hereditariedade nefasta que, para ele, nopoderia ser atribuda nem nossa problemtica racial da miscigenao, nem nossa nacionalidade; seriam, antes, expresses de um pathos mental universalque, se aqui se expressava de modo mais recorrente, poderia ser sanado pelavia da educao.

    Segundo o autor, se havia perturbaes mentais tropicais autnomas, istose devia mais s condies sociais destas regies do que sua situao nostrpicos (Moreira, 1913, p. 273-4). Alm disso, os problemas que a raa brasileira

  • 361

    HISTRIA DAPSIQUIATRIA

    ano VIII, n. 2, jun/ 2 005

    enfrentava devia-se herana da m qualidade das gentes que desde os temposda primitiva colonizao havia se incorporado ao nosso povo, gentes de mscondies de educao, e no por causa de defeitos da nossa populaoatribudos mestiagem e quejandos absurdos (Moreira, 1907, p. 102).

    justamente a preocupao frente a uma degenerao que no era pensa-da como advinda da raa,1 que fez Moreira posicionar-se de maneira crtica frenteao problema da imigrao. J em 1907 ele afirmava que alm da populao bra-sileira vadia, lusica e alcolatra, degenerada, os estrangeiros haviam se tornadoameaa ao progresso da nao. O Brasil, como pas de imigrao, seria aindapor muito tempo o receptculo do rebutalho movedio, por isso mesmo ina-daptvel, de todos os pases superpovoados (p. 102-4). Assim, em Molstiasmentais (1907), ele j esboava linhas de pensamento que o acompanhariam ato texto de 1925. Alertava ento para o perigo de o Brasil se tornar alvo dospiores imigrantes, uma vez que os EUA e a Inglaterra haviam desenvolvido me-didas de autoproteo contra os elementos degenerados. Encontrando dificul-dades para migrar para aqueles pases, os rejeitados pelas barreiras higinicasde outros pases acabavam por afluir para o Brasil. Para embasar seus argumen-tos, Juliano utilizou estatsticas do Hospital Nacional de Alienados, por meio dasquais o observador atento pode concluir que a emigrao no desejvel (dosnorte-americanos), que constitui o principal fator do aumento de alienados edelinqentes em nossos manicmios e prises. Afirmava ento que se continus-semos a deixar as fronteiras abertas para receber os maus imigrantes, por cer-to aqueles defeitos tendero a aumentar (ibid., p. 102-3).

    O que se observa, entretanto, que no final da dcada de 1920 houve umadesacelerao da imigrao branca para o Brasil, levando preocupao com o des-tino racial do pas, principalmente entre aqueles que defendiam uma posio maiseugnica do que higinica. Renato Kehl, um dos representantes desse pensamento,por exemplo, estava determinado a romper com a idia de que sanear e educar igual a eugenizar, j que, segundo ele, medidas educacionais no poderiamafetar o plasma germinativo. A verdadeira eugenia deveria se basear na esterili-zao de degenerados e criminosos, imposio de exames pr-nupciais e con-trole da natalidade (Kehl, 1930, apud Stepan, 2004, p. 368). Na literatura eugnicade fins da dcada de 1920 ganha destaque, portanto, a linguagem da seleo ede classe, surgindo a preocupao com os diferenciais de fertilidade entre as clas-

    1. Sobre esta questo, vale lembrar a pesquisa de campo que Juliano fez tendo como objeto uminterno do HNA, mestio, filho de um italiano com uma preta. Indo Itlia, Juliano fez umapesquisa com o ramo europeu da famlia, livre de mestiagem, e demonstrou, pelacomparao com o ramo mestio brasileiro, que a degenerao familiar ocorrera do ladoeuropeu (Moreira, 1908, p. 429-30).

  • 362

    R E V I S T AL A T I N O A M E R I C A N ADE PS I C O PATO LO GIAF U N D A M E N T A Lano VIII, n. 2, jun/ 2 0 05

    ses, custos sociais da filantropia e nus para o Estado (Stepan, 2004, p. 368).Passava-se a esposar uma eugenia negativa, neolamarckiana e racista, que pro-punha a substituio da referncia mais ampla raa por raas branca e negra.Esta posio, liderada por Kehl, se contrapunha a poderosas correntes cientficase ideolgicas no pas, que levava a eugenia para outra posio. Muitos mendelianosbrasileiros se opunham ao lamarckismo e ao racismo, propondo uma eugenia maisvoluntarista, com menor orientao racial, em que a eugenia e o saneamento tra-balhariam juntos para o aprimoramento do brasileiro (ibid.).

    A direo dada pela psiquiatria liderada por Juliano Moreira, que tantavisibilidade desfrutou nas primeiras trs dcadas do sculo XX, participava,portanto, de um debate mais amplo sobre as interpretaes, impasses edirecionamentos do/para o pas. Em Juliano, este debate busca descartar tanto oufanismo nacionalista quanto o pessimismo advindo do determinismo. Seutrabalho, fundamentado na psiquiatria alem de Emil Kraepelin com a observaoclnica dos casos individuais, vinha exatamente atacar as assertivas queconsideravam as doenas aqui encontradas como obstculo natural ao progressoe civilizao. O diagnstico da doena mental no era mais uma morte em vida.A psiquiatria prometia a cura. Aliada s aes da higiene, educao e saneamentopara os brasileiros e candidatos a imigrantes, seria possvel recuperar os casosindividuais mrbidos, prevenir doenas entre seus habitantes e criar as condiesnecessrias para o surgimento daquilo que se propunha como brasileiros. evidente que no podemos nutrir esperanas de uma vitria decisiva a curto prazo,mas aqui, como j ocorre a outras molstias humanas, em breve surgir a pocada higiene profiltica (Moreira, 1907, p. 104).

    Referncias

    CASTEL, Robert. A ordem psiquitrica: a idade do ouro do alienismo. Rio de Janeiro:Graal, 1978.CASTRO SANTOS, Luiz Antonio de. O pensamento social no Brasil. Campinas: Edicamp,2003.CHALHOUB, Sidney. Vises da liberdade. Uma histria das ltimas dcadas da escravi-do na Corte. So Paulo: Companhia das Letras, 1990.LIMA, Nsia e HOCHMAN, Gilberto. Pouca sade e muita sava. Sanitarismo, interpre-taes do pas e cincias sociais. In: HOCHMAN, Gilberto (org.). Cuidar, controlar,curar: ensaios histricos sobre sade e doena na Amrica Latina e Caribe. Rio deJaneiro: Fiocruz, 2004. p. 493-534.MOREIRA, Juliano. A seo de psiquiatria do Congresso de Medicina de Londres.

  • 363

    HISTRIA DAPSIQUIATRIA

    ano VIII, n. 2, jun/ 2 005

    Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal. Rio de Janeiro,ano IX, p. 250-80, 1913.

    ____ A seleco individual de immigrantes no programma da hygiene mental.Archivos Brasileiros de Hygiene Mental, anno I, p. 109-15, maro de 1925.

    ____ Querelantes e pseudo-querelantes. Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neu-rologia e Medicina Legal, Rio de Janeiro, ano IV, n. 1 e 2, 426-34, 1908.

    ____ Molstias Mentais. Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia eSciencias Affins, Rio de Janeiro, ano III, n. 1, p. 101-5, jan-mar/1907.STEPAN, Nancy. Eugenia no Brasil, 1917-1940. In: HOCHMAN, Gilberto (org.). Cuidar, con-trolar, curar: ensaios histricos sobre sade e doena na Amrica Latina e Caribe.Rio de Janeiro: Fiocruz, 2004. p. 331-392.

    Resumos

    Publicado en 1925, el texto de Juliano Moreira que ahora presentamos discuteel problema de la inmigracin y su relacin con la constitucin mental de losbrasileos. Nuestro artculo analiza el contexto en que fue escrito dicho texto parademostrar las relaciones del proceso de consolidacin de la psiquiatra brasilea conel conjunto de ideas y practicas relativas a los destinos del pas.Palabras claves: Inmigracin, nacin, psiquiatra, historia, Brasil

    Publi en 1925, le texte de Juliano Moreira que nous prsentons ici, discute leproblme de limmigration et de sa relation avec la constitution mentale des brsiliens.Notre article analyse le contexte dans lequel le texte fut crit, pour montrer les relationsentre le processus de consolidation de la psychiatrie brsilienne avec lensemble desides et des pratiques relatives aux destins du pays.Mots cls: Immigration, nation, psychiatrie, histoire, Brsil

    Published in 1925, Juliano Moreiras text, which we present here, discusses theimmigration problem and its relation to the mental constitution of the Brazilians. Ourarticle analyses the context in which the text has been written to show the relationshipbetween the consolidation process of the Brazilian psychiatry and the collection ofideas and practices relating to the countrys destiny.Key words: Immigration, nation, psychiatry, history, Brazil