gÊnero e feminismo no estado do amazonas: a luta … · as configurações de gênero e feminismo...

10

Click here to load reader

Upload: dangdien

Post on 08-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: GÊNERO E FEMINISMO NO ESTADO DO AMAZONAS: a luta … · As configurações de gênero e feminismo A equidade de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas

1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

GÊNERO E FEMINISMO NO ESTADO DO AMAZONAS: a luta por direitos dos

movimentos de mulheres em Manaus

PINHEIRO, Maria Joseilda da Silva1

Resumo: A discussão de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas públicas com acesso equânime aos direitos entre mulheres e homens, os quais são assegurados devido a um processo intenso de luta da cidadania feminina construída historicamente nas sociedades ocidentais. Os movimentos de mulheres no Brasil e no Amazonas mostram sua força em favor das lutas sociais e se organizam com o objetivo de fortalecer suas reivindicações e consolidar direitos. As questões básicas do feminismo tendem a demonstrar que as mulheres têm sido agentes ativas na história da humanidade, com situações que variam no tempo e no espaço, marcados por opressão, dominação e desigualdades nas relações sociais. As expressões utilizadas por essas protagonistas dos movimentos reafirmam, com base em Rosaldo (1979), a necessidade de elas romperem com a opressão e o confinamento das atividades domésticas. Nessa perspectiva, o trabalho objetiva fazer uma inflexão das principais lutas dos movimentos de mulheres em Manaus a partir de uma pesquisa realizada com alguns movimentos de mulheres na cidade de Manaus, especificamente: Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas, Associação das Donas de Casa do Estado do Amazonas, Movimento Feminista Maria Sem Vergonha, Economia Solidária e Movimento de Mulheres Negras da Floresta. Palavras-chave: gênero; feminismo; lutas sociais.

Introdução

No mundo inteiro as mulheres e o feminismo empunharam a luta contra todas as formas de

opressão e discriminação contra o segmento feminino, a qual tem seu marco histórico no Brasil no

período pós-64. A luta posicionou-se politicamente contra a dominação nas relações de gênero pela

emancipação da mulher e por um mundo de direitos iguais entre homens e mulheres.

As questões levantadas pelas feministas ocorrem em três momentos ou três ondas do

feminismo. Nogueira (2001) é uma das autoras que contribui para o entendimento das relações de

gênero e do feminismo, pontuando a época em que se acreditava numa sociedade governada por

mulheres a ginogracia, bem como numa sociedade governada por homens, a falocracia.

Os movimentos feministas no Brasil e no Amazonas mostraram sua força em favor das

lutas sociais e se organizaram com o fito de fortalecer as reivindicações das mulheres a exemplo do

Fórum Permanente das Mulheres de Manaus - FPMM que reúne os grupos de mulheres numa

perspectiva de autoorganização, dentre outros aqui destacamos: O Movimento de Mulheres

1 Assistente Social; Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas; Pesquisa do GEPOS.

Page 2: GÊNERO E FEMINISMO NO ESTADO DO AMAZONAS: a luta … · As configurações de gênero e feminismo A equidade de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas

2 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

Solidárias do Amazonas, Associação das Donas de Casa do Estado do Amazonas, Movimento

Feminista Maria Sem Vergonha, Economia Solidária e Movimento de Mulheres Negras da Floresta.

O presente trabalho busca analisar o processo de organização do FPMM, seu processo de criação,

os grupos que compõem o Fórum e suas principais lutas sociais.

As configurações de gênero e feminismo

A equidade de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas públicas e por

direitos iguais entre mulheres e homens, os quais são assegurados devido ao um processo intenso de

luta da cidadania feminina construída historicamente nas sociedades ocidentais.

Pode-se até pensar em um suposto tempo dos matriarcados primitivos, em que as mulheres

governavam o mundo em algum momento. O matriarcado configurou-se no domínio da mãe sobre a

família e o Estado e foi “desenvolvido pela insatisfação feminina com a sexualidade irregular que

os homens lhes impunham” (BAMBERGER, 1979, p. 324), cuja continuação se deu pelo direito

materno, obedecendo a uma lei civil promulgada pelas mulheres, denominada ginogracia. Essa lei,

conforme Barmberger (1979) foi derrotada pelo princípio divino do poder pátrio. Anteriormente a

esse acontecimento os direitos maternos foram claramente marcados pelo estado religioso.

As controvérsias sobre o matriarcado foram lançadas na medida em que estudos publicados

sustentaram a ideia de que o patriarcado foi a primeira condição da raça humana. Com base nisso há

um questionamento: “se os matriarcados existiram é certo que agora eles não existem mais. Será

que há muito tempo atrás eles evoluíram para patriarcados como Bachofen supôs?”

(BAMBERGER, 1979, p. 235). O autor afirma que a pergunta foi respondida, mas levanta

problemas relevantes que atualmente servem de norte para os movimentos feministas que

consideram as ideias de Bachofen. Apesar disso, o matriarcado de Bachofen é considerado como

grito remoto da libertação da mulher de hoje, ponderando a perspectiva de que, assim como houve a

falocracia – sociedade governada por homens, houve também a ginocracia a partir do direito

materno que alçou o governo das mulheres.

Se existiu ou não o governo das mulheres, o fato é que as relações de gêneros e os

feminismos foram evidenciados. Gênero a partir de Scott (1991) é utilizado pelas feministas no

sentido de “referir-se à organização social da relação entre os sexos” (SCOTT, 1991, p. 1). De

acordo com essa autora,

Page 3: GÊNERO E FEMINISMO NO ESTADO DO AMAZONAS: a luta … · As configurações de gênero e feminismo A equidade de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas

3 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

ao mesmo tempo explícita e cheia de possibilidades inexploradas. Explicita, porque o uso gramatical implica em regras que decorrem da designação do masculino ou feminino; cheia de possibilidades inexploradas, porque em vários idiomas indo-europeus existe uma terceira categoria – o sexo indefinido ou neutro. Na gramática, gênero é compreendido como um meio de classificar fenômenos, um sistema socialmente mais do que uma descrição objetiva de traços inerentes. Além disso, as classificações sugerem uma relação entre categorias que permite distinções ou agrupamentos separados.

As ponderações Scott (1999) apresentam complexidades que envolvem o conceito de

gênero para além da definição gramatical. Assim sendo, “a palavra indicava uma rejeição ao

determinismo biológico implícito no uso de termos como “sexo” ou “diferença sexual”. O “gênero”

sublinha também o aspecto relacional das definições normativas de feminilidade” (SCOTT, 1999, p.

1).

Ressalta a autora, a importância de se diferenciar os estudos de gênero dos estudos de sexo

e sexualidade, considerando que o gênero é uma categoria social sobre um corpo sexuado, pois no

seu uso descritivo, o “gênero é, portanto, um conceito associado ao estudo das coisas relativas às

mulheres. O ‘gênero’ é um novo tema, novo campo de pesquisas históricas, mas ele não tem a força

de análise suficiente para interrogar (e mudar) os paradigmas históricos existentes” (SCOTT, 1991,

p. 5).

Surge o feminismo como movimento social com forte influência das teorias feministas,

para fazer frente ao sexismo. De acordo com Nogueira (2001, p. 12) esses,

movimentos do fim do século passado e movimentos sociais de hoje – é a denúncia contra as práticas sexistas. Consideram-se sexistas as atitudes, práticas, hábitos e em muitos, a própria legislação, que fazem das pessoas pertencentes a um sexo – e só por razão – seres humanos inferiores nos seus direitos, na sua liberdade, no seu estatuto, na sua oportunidade real de intervenção na vida social.

Essa autora apresenta o feminismo como movimento social, expondo suas origens e suas

características. Ela utiliza-se da denominada divisão proposta por Kaplan (1992) cuja discussão é

pautada em três vagas do movimento feminista, correspondentes a determinados tempos, os quais

são apresentados nas conjunturas sócio-histórico-políticas.

Em Nogueira (2011) o feminismo é percebido em três momentos ou vagas. A primeira

situada no meio do século XIX, que conforme Evans (1994), diz respeito “a emancipação das

mulheres de um estatuto civil dependente e subordinado para a reivindicação de incorporação no

Estado moderno industrializado como cidadãs, nos mesmos termos que os homens” (NOGUEIRA,

2011, p. 133). A revolução industrial trouxe mudanças para as mulheres com a concorrência das

Page 4: GÊNERO E FEMINISMO NO ESTADO DO AMAZONAS: a luta … · As configurações de gênero e feminismo A equidade de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas

4 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

máquinas, atraindo-as para as fábricas. As duas grandes guerras foram fundamentais para o

movimento feminista porque contribui para a marcação da posição das mulheres na sociedade.

A segunda vaga é aquela do feminismo dos anos 1960 - 1980, com início na França e na

Alemanha, período marcado pela atividade e inovação. Trata-se daquilo que Kaplan (1992),

considera fenômeno denominado “movimentos sociais” do pós-guerra, uma constelação única da

história, com o fito de “renegociar o valor das hierarquias de valores e poder” (NOGUEIRA, 2011,

p. 137). Nesse sentido, desenvolveram-se os principais fatores do feminismo que foram apontados

na época como a “euforia empresarial resultante da explosão econômica posterior ao pós-guerra”

(idem, p. 137). Segundo Nogueira (2011), o desenvolvimento do feminismo foi constituído pelas

mesmas forças que nasceram e cresceram no movimento estudantil no final dos anos 1960, com

manifestações de rua e o papel desempenhado pela literatura feminista, com o ideário da liberdade

feminina, contra a opressão no trabalho e no seio da família nuclear.

Na terceira vaga, a autora aponta a emergência do feminismo como força política e de

acordos institucionais, havendo um período de decadência devido a indiferença das jovens ao

feminismo, vinculada fortemente na mídia. Apesar desse fato considerado negativo para o

feminismo, os protestos realizados pelas mulheres na Europa Ocidental, bem como no mundo

inteiro fez emergir gritos contra as injustiças e as desigualdades. No Brasil, segundo Pinto (2003, p.

45), o movimento feminista,

não pode escapar dessa dupla face do problema: por um lado, se organiza a partir do reconhecimento de que ser mulher, tanto no espaço público como no privado, acarreta consequências definitivas para a vida e que, portanto, há uma luta específica, a da transformação das relações de gênero. Por outro lado, há uma consciência muito clara por parte dos grupos organizados de que existe no Brasil uma grande questão: a fome, a miséria, enfim, a desigualdade social, e que este não é um problema que pode ficar fora de qualquer luta específica. Principalmente na luta das mulheres e dos negros, a questão da desigualdade social é central.

As questões básicas do feminismo tendem a demonstrar que as mulheres têm sido agentes

ativas na história da humanidade, com situações que variam no tempo e no espaço, marcadas por

opressão, dominação e desigualdade nas relações sociais e de gênero. O conhecimento feminista

procura romper com a separação entre o racional e o emocional que tem servido para identificar as

pessoas e estabelecer limites e possibilidades, procurando novos parâmetros em que a lógica não

seja a da exclusão e sim a da inclusão e do equilíbrio. Isto porque as desigualdades de gênero

apresentadas baseiam-se em preconceitos e estereótipos culturais, necessários à manutenção dos

interesses da sociedade androcêntrica.

Page 5: GÊNERO E FEMINISMO NO ESTADO DO AMAZONAS: a luta … · As configurações de gênero e feminismo A equidade de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas

5 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

Lutas sociais e auto-organização: as mulheres contam suas histórias

A gritante desigualdade e discriminação sofrida pelas mulheres fizeram emergir a

organização de grupos mulheres com o ideário feminista. No Amazonas, o Fórum Permanente das

Mulheres de Manaus – FPMM2 surgiu como um espaço de reflexão, organização e articulação de

um coletivo baseado nos princípios feministas, cujo objetivo geral é fortalecer a autoorganização3

das mulheres e seus movimentos e grupos como promotoras da transformação social. Conforme

Passos (2001, p.26), “o movimento feminista tem sido uma força, na superação das barreiras

sociais, visando possibilitar a participação feminina em todas as áreas sociais”.

O FPMM tem como objetivo geral4 articular, fortalecer e fomentar a luta pela efetivação

dos direitos das mulheres e a implementação de políticas públicas para mulheres. Seus objetivos

específicos são: fomentar a luta pela efetivação dos direitos das mulheres e a implementação de

políticas públicas para mulheres; contribuir para formação informação sobre gênero, direitos

sexuais e reprodutivos; apoiar o Conselho Municipal e Estadual dos Direitos da Mulher,

fortalecendo a luta por direitos; potencializar ações para o enfrentamento a violência de gênero e

racial; e, contribuir para o empoderamento das mulheres, grupos e movimentos. Para Nogueira

(2011, p. 132) a “atividade de lhes dar uma voz e de fazer aceder o poder negado”, a qual o

feminismo constitui-se numa reação e num produto da cultura patriarcal.

De acordo com a Secretaria Executiva do Fórum Permanente das Mulheres de Manaus o

FPMM surgiu da necessidade de articular os diversos movimentos e grupos de mulheres para a

eleição do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. Foi feito na época o mapeamento dos

grupos e movimentos existentes na cidade de Manaus. Com o apoio do NIEG - Grupo

Interdisciplinar de Estudos de Gênero da Universidade Federal do Amazonas, AMB - Articulação

de Mulheres Brasileiras, AMA – Articulação de Mulheres do Amazonas, Instituto Equit e Pastorais

Sociais, as mulheres identificaram e catalogaram os espaços de debate sobre as diversas atuações

dos grupos e movimentos de mulheres existentes em Manaus.

Após a eleição para o Conselho Municipal das Mulheres, iniciaram o planejamento,

escolheram os eixos, objetivos e metas, fundado o FPMM. Foram agregados no momento vinte e

2 Situado na Rua 24 de Maio, 46 – Centro – Casa Betânia da Pastoral do Menor . 3 Autoorganização compreendido enquanto sistema social que, apesar do caráter conservador, sofre mudanças por interferência de seus componentes, de acordo com Maturana (1998) os movimentos sociais são exemplos por sua autoorganização. 4 Fonte Francy Júnior Secretária da Secretaria Executiva do Fórum Permanente de Mulheres de Manaus/2012.

Page 6: GÊNERO E FEMINISMO NO ESTADO DO AMAZONAS: a luta … · As configurações de gênero e feminismo A equidade de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas

6 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

quatro grupos: AMA - Articulação das Mulheres do Amazonas, ADCEAM - Associação das Donas

de Casa do Estado do Amazonas, AAMILES - Associação Amazonense de Mulheres Independentes

pela Livre Expressão Sexual, CARMA - Coordenação das Religiões de Matriz AfroAmeríndia,

CAMMA - Casa Mamãe Margarida, Centro de Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira,

CPT- Comissão Pastoral da Terra, CUT - Central Único dos Trabalhadoras – Fórum Permanente

dos Afrodescentes do Amazonas, GAM - Guerreias Amazônicas em Movimento, Grupo de

Mulheres Nova Floresta, Grupo de Mulheres do Monte Pascoal, MCMII - Movimento Comunitário

Mauazinho II, DANDARA - Movimento de Mulheres Negras da Floresta, Movimento Feminista

Maria Sem Vergonha, Mulheres em Ação pela Transformação Santa Inês, MUSAS – Movimento de

Mulheres Solidárias do Amazonas, Núcleo de Mulheres do Comitê Social de Santa Etelvina, ONG

Maria Bonita, Rede de Mulheres Positivas, UBM - União Brasileira de Mulheres e quatro

instituições apoiadoras que são Instituto Equit, Cáritas de Manaus e Área Missionária Santa Helena.

A união dos grupos acima mencionados fortaleceu as ações das mulheres nas lutas sociais

em relação à programas e projetos na esfera pública em Manaus tanto no âmbito dos poderes

executivos municipal e estadual, que conforme Barroso (1982, p. 125) “a participação das mulheres

nos processos decisórios é fundamental para a transformação de todos os aspectos sociais, culturais

e econômicos da condição de subalternidade a que está relegada.” As principais ações5 do Fórum

Permanente das Mulheres de Manaus são as seguintes: criação da rede de comunicação e

articulação para o intercâmbio mapeando os grupos e movimentos de mulheres; luta pela efetivação

da Lei Maria da Penha no Estado do Amazonas, organizando um seminário sobre a Lei 11.340/06,

visando à construção de uma rede de enfrentamento à violência contra a mulher (incluindo uma

casa abrigo); contribuição ao processo de visibilizar e valorizar a diversidade cultural, promover a

capacitação e formação de gênero e políticas públicas para mulheres; participação nas lutas

feministas nacionais e internacionais no enfrentamento à violência contra mulher e luta em defesa

da municipalização dos serviços de abastecimento de água na cidade de Manaus, enfrentamento ao

tráfico de meninas e mulheres, violência sexual e doméstica. De acordo Guzmán (2000, p. 66) a,

visibilidade e legitimidade que o movimento de mulheres tem conseguido nos últimos anos, os anos 80 teve avanços no que se refere ao conhecimento das mulheres como novos atores, mas não se conseguiu construir a equidade de gênero como dimensão impostergável e tema de políticas e responsabilidade governamental.

5 Francy Júnior Secretária da Secretaria Executiva do Fórum Permanente de Mulheres de Manaus/2012.

Page 7: GÊNERO E FEMINISMO NO ESTADO DO AMAZONAS: a luta … · As configurações de gênero e feminismo A equidade de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas

7 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

Os maiores desafios e perspectivas do Fórum Permanente das Mulheres de Manaus são de

“contribuir no processo de articulação da rede de grupos e movimentos de mulheres da cidade de

Manaus e dos diversos municípios do Amazonas, assim como manter vivos os grupos que agregam

o FPMM” (Francy Júnior, entrevista/2012).

Alguns grupos de Mulheres integrantes do Fórum Permanente das Mulheres de Manaus,

como o Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas – MUSAS6, a Associação das Donas de

Casa do Estado do Amazonas – ADCEA7, Movimento Feminista Maria Sem Vergonha8, Economia

Solidária9 e o Movimento de Mulheres Negras da Floresta - DANDARA10 reafirmaram a

importância do FPMM para a luta das mulheres em Manaus. Vejamos:

- Nós nos integramos ao Fórum Permanente das Mulheres de Manaus porque é a forma de unir as forças e de consolidar as lutas para o empoderamento de mulheres e o FPMM tem construído no vencimento das dificuldades além de constantemente fornecer formação política para que possamos continuar realizando atividades que possa concretizar os direitos das Mulheres (Florismar Fereira do MUSAS/entrevista/2012). - O Fórum representa os movimentos de forma macro, um espaço importante para as discussões e fortalecimento das ações e consequemente das políticas públicas. As contribuições foram no aspecto da formação, fortalecimento do movimento de mulheres e das políticas públicas em combate a violência contra as mulheres e a conquista de direitos (Elizabeth Maciel da ADCEA/entrevista/2012). - Estamos no Fórum porque acreditamos que homens e mulheres necessitam dele. Queremos trabalhar mais na denuncia da violência sexual praticada por pai, padastros, parentes de crianças e adolescentes. Não queremos que crenças e dogmas sejam motivos para divisão ou desentimento entre nós mulheres. Devemos militar pela união, temos que enfraquecer a pirâmide do poder e fortalecer o círculo da igualdade (Nazaré Passos da MARIA SEM VERGONHA/entrevista/2012). - Buscar novos conhecimentos junto com as companheiras de luta, tem contribuido principalmente na parte de formações (Maria Auxiliadora Venâncio da ECONOMIA SOLIDÁRIA/entrevista/2012). -Desde 2005 o Movimento de Mulheres Negras da Floresta faz parte desse espaço. Um espaço que fortalece o posicionamento de um coletivo, que une as demandas e contribui para o amadurecimento do ser mulher, são objetivos que nos mantém no coletivo do FPMM (Francisca Arilene Silva da DANDARA/entrevista/2012).

As expressões utilizadas pelas mulheres desses movimentos reafirmam com base em

Rosaldo (1979), a necessidade de elas romperem com a opressão e o confinamento das atividades

domésticas. Devem transcender os limites domésticos inserindo-se na esfera pública ou criando

6 São 60 mulheres participando do grupo que já tem 8 anos. 7 São 150 mulheres participando da Associação que já existe há 32 anos. 8 Atualmente são 7 mulheres atuantes e já existe há 18 anos. 9 Tem 10 mulheres e existe há 11 meses.

10 São 15 mulheres. Tem 12 anos de fundação e de atividades 8 anos.

Page 8: GÊNERO E FEMINISMO NO ESTADO DO AMAZONAS: a luta … · As configurações de gênero e feminismo A equidade de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas

8 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

sociedade entre elas, considerando que nas sociedades igualitárias são os homens que valorizam e

participam na vida doméstica e não a oposição de homens e mulheres. Nas entrevistas com

mulheres dos movimentos identificamos suas principais lutas, a saber:

- Defender os direitos humanos, étnicos culturais, raciais, de orientação sexual e religiosa, assim como defender o acesso a terra para quem nela vive, trabalha e produz. Defende incondicionalmente o sagrado direito a vida digna do cidadão e é radicalmente contra todas as formas de violência e discriminação e tem convicção que um outro mundo só será viável das mãos e do olhar feminista (Florismar Ferreira do MUSAS/entrevista/2012).

- Maior participação das mulheres donas de casa no processo de discussão e emancipação, luta contra a violência doméstica e familiar, aposentadoria das donas de casas, creches participação política (Elizabeth Maciel da ADCEA/entrevista/2012). - Conquistas que temos alcançado é que cada mulher que não foi violentada, enganada, estuprada, assassinada, cada mulher que estudar, participar, ganhar seu dinheiro e saber administrá-lo, cada mulher quer amar e ser amada, cada mulher que tomar consciência do porquê da luta das mulheres que tiver engajado no movimento ou que passa pelo movimento ou que participa dos encontros e oficinas é considerada uma grade conquista (Nazaré Passos da MARIA SEM VERGONHA/entrevista/2012). - Estamos engajadas na Articulação de Mulheres Brasileiras, Articulação de Mulheres Camponesas, Macha Mundial de Mulheres, Secretaria de Mulheres (Maria Auxiliadora Venâncio da ECONOMIA SOLIDÁRIA/entrevista/2012). - Regaste da história do povo negro, enfrentamento a violência, enfretamento das desigualdades sociais, combate ao racismo e auto-organização das mulheres negras. (Francisca Arilene Silva da DANDARA/entrevista/2012).

Há nas falas das representantes dos grupos o engajamento das mesmas no processo político

para a emancipação de fato das mulheres e maior ampliação de políticas públicas voltadas para elas,

como afirmam Borba, Faria e Godinho (1998, p. 22):

Ao denunciar a opressão das mulheres e os mecanismos de sua subordinação na família, o feminismo mostrou que o pessoal também é político, questionando assim um dos pilares fundamentais da opressão das mulheres no capitalismo, que é a separação da vida entre uma esfera pública e uma esfera privada.

De acordo com Guzmán (2000) a visibilidade das mulheres foi marcada pelo compromisso

das organizações com a luta contra a ditadura nos processos de democratização das sociedades e

contribuição à sobrevivência familiar social nos momentos mais graves das crises econômicas.

Essas organizações enriqueceram as práticas associativas das mulheres com a contribuição da

produção de conhecimentos das diversas expressões do movimento, que inseriu no debate o tema da

mulher.

Page 9: GÊNERO E FEMINISMO NO ESTADO DO AMAZONAS: a luta … · As configurações de gênero e feminismo A equidade de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas

9 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

Considerações Finais

As experiências dos Movimentos de Mulheres em Manaus têm demonstrado que a auto-

organização é relevante para os resultados alcançados concernentes à formação política e às

principais conquistas obtidas até hoje. Torna-se difícil estabelecer uma análise minuciosa em

relação às políticas governamentais conquistadas e que foram obtidas por meio de diversas

reivindicações das mulheres.

Ações pontuais são evidenciadas como a Casa Abrigo, que atende mulheres vítimas de

violência doméstica, fruto de exigências do movimento feminista de Manaus, bem como o Hospital

da Mulher. Não obstante a isto, em todos os períodos eleitorais os Movimentos de Mulheres em

Manaus, se reúne e apresentam diversas propostas de políticas específicas para mulheres aos

candidatos majoritários, com o intuito de assumirem o compromisso de executar com prioridade as

propostas apresentadas.

Apesar dos avanços obtidos existe um percurso de intensas lutas para a efetivação dos

direitos da mulher. O Fórum Permanente das Mulheres de Manaus nasceu a com perspectiva de

auto-organização dos grupos, visando o fortalecimento e organização para buscarem seus direitos e

se tornarem protagonistas de suas histórias.

A luta das mulheres unidas por meio dos movimentos feministas tem seguido caminhos

distintos, no entanto, permitiu que além das conquistas de alguns direitos, sua representação social,

que tem sido uma busca constante na história, também fosse reconhecida. As estratégias de

enfrentamento das desigualdades sofridas pelas mulheres e das formas de empoderamento como

maior participação social, tem sido enfatizada em diversos estudos sobre gênero.

Referências

BARMBERGER, Joan. O Mito do matriarcado: porque os homens dominavam as sociedades primitivas? IN: Rosaldo, Michelle Zimabalist e Lamphere, Louise (Org.). A mulher, a cultura, a

sociedade. Tradução de Woman, culture and societu. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1979. BARROSO, Carmen. Mulher, Sociedade e Estado no Brasil. Editora brasiliense, 1982. BORBA, Ângela Faria; GODINHO, Nalu. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 1998. FARIA, Nalu (Org.) Gênero nas Políticas Públicas: impasses, desafios e perspectivas para ação feminista. São Paulo: SOF, 2000 (Coleção Cadernos Sempreviva).

Page 10: GÊNERO E FEMINISMO NO ESTADO DO AMAZONAS: a luta … · As configurações de gênero e feminismo A equidade de gênero é latente no cenário de lutas feministas por políticas

10 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X

GUZMÁN, Virginia. A equidade de gênero como tema de debate e de políticas públicas. In: FARIA, Nalu; SILVEIRA, Maria Lúcia; NOBRE, Miriam (Org). Gênero nas políticas públicas:

impasses, desafios e perspectivas para a ação feminista. São Paulo: SOF, 2000. NOGUEIRA, Conceição. Um olhar sobre as relações sociais de gênero: feminismo e perspectiva críticas na psicologia social. Braga, Portugal: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. PASSOS, Elizete Silva. As políticas e os saberes: a construção do gênero nas universidades do Norte e do Nordeste e as repercussões nos campos social e político. In: FERREIRA, Mary, ALVARES, Maria Luiza Miranda e SANTOS, Euniece Ferreira dos (Org). Os saberes e os poderes

das mulheres: a construção do gênero. São Luis; Edufma/Redor, 2001. PINTO, Céli. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003. (Coleção História do Povo Brasileiro). ROSALDO, Michelle Zimbalist e LAMPHERE, Louise. A mulher, a cultura e a sociedade (Org). Woman, culture and society. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Tradução de Christine Rufino Dabat e ÁVILA, Maria Betânia: SOS Corpo, 1991.

GENDER AND FEMINISM IN THE STATE OF AMAZONAS: the struggle for women's

rights movements in Manaus

Abstract: A discussion of gender is latent in the scene of feminist struggles for public policy with equal access rights between women and men, who are assured due to an intense process of struggle of female citizenship historically constructed in Western societies. Women's movements in Brazil and Amazonas show his strength in behalf of social struggles and organize themselves in order to strengthen and consolidate their claims rights. The basic issues of feminism tend to show that women have been active agents in human history, with situations that vary in time and space, marked by oppression, domination and inequality in social relations. The expressions used by these protagonists reaffirm the movements based on Rosaldo (1979), the need to break them with oppression and confinement of domestic activities. From this perspective, the study aims to make a major inflection struggles of women's movements in Manaus from a survey of some women's movements in the city of Manaus, specifically: Women's Movement of Solidarity Amazon Housewives Association of State Amazon, the Feminist Movement Maria Shame and Movement of Black Women of the Forest. Keywords: gender, feminism, social struggles