genero depoimento aula1!07!06 2013

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1 Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH) Departamento de Letras Língua Portuguesa I Prof. Dr. Renato Cabral Rezende [email protected] O gênero depoimento: “É um gênero textual em que se narram fatos reais vividos por uma pessoa. Há, portanto, uma intenção pedagógica, a de ensinar algo aos leitores. Esse formato textual apresenta os elementos básicos da narrativa: sequências de fatos, pessoas, tempo e espaço. O narrador é onipresente e sempre o protagonista da história. Verbos e pronomes são empregados predominantemente na 1ª pessoa. Os verbos oscilam entre o pretérito perfeito e o presente do indicativo. Emprega-se o padrão culto formal da língua” (CARVALHO e PRAZERES, 2011). Disponível em: < http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html? aula=36130 >. Acesso em: 07 jun. 2013. O gênero relato testemunhal: “É um tipo de relato em que se narram fatos supostamente reais testemunhados por uma pessoa. O narrador, portanto, não participa diretamente da história, apenas observa o desenrolar dos fatos. Esse formato textual apresenta os elementos básicos da narrativa: sequências de fatos, pessoas, tempo e espaço. O narrador, embora seja onipresente, não se configura como o protagonista da história. Verbos e pronomes são empregados predominantemente na 1ª pessoa. Os verbos oscilam entre o pretérito perfeito e o presente do indicativo. Emprega-se o padrão culto formal da língua”. (CARVALHO e PRAZERES, 2011). Disponível em: < http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html? aula=36130 >. Acesso em: 07 jun. 2013.

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Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP)Escola de Filosofia, Letras e Cincias Humanas (EFLCH)Departamento de Letras

Lngua Portuguesa IProf. Dr. Renato Cabral [email protected] gnero depoimento: um gnero textual em que se narram fatos reais vividos por uma pessoa. H, portanto, uma inteno pedaggica, a de ensinar algo aos leitores. Esse formato textual apresenta os elementos bsicos da narrativa: sequncias de fatos, pessoas, tempo e espao. O narrador onipresente e sempre o protagonista da histria. Verbos e pronomes so empregados predominantemente na 1 pessoa. Os verbos oscilam entre o pretrito perfeito e o presente do indicativo. Emprega-se o padro culto formal da lngua (CARVALHO e PRAZERES, 2011).Disponvel em: < http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=36130>. Acesso em: 07 jun. 2013.

O gnero relato testemunhal: um tipo de relato em que se narram fatos supostamente reais testemunhados por uma pessoa. O narrador, portanto, no participa diretamente da histria, apenas observa o desenrolar dos fatos. Esse formato textual apresenta os elementos bsicos da narrativa: sequncias de fatos, pessoas, tempo e espao. O narrador, embora seja onipresente, no se configura como o protagonista da histria. Verbos e pronomes so empregados predominantemente na 1 pessoa. Os verbos oscilam entre o pretrito perfeito e o presente do indicativo. Emprega-se o padro culto formal da lngua.(CARVALHO e PRAZERES, 2011).Disponvel em: < http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=36130>. Acesso em: 07 jun. 2013.

Proposta de construo de depoimento: PROPOSTA DE TEMA 1: voc j foi a algum benzedor/alguma benzedeira aqui no bairro ou em outro lugar? Conte como foi sua experincia.PROPOSTA DE TEMA 2: voc j teve um grande amor? Conte como foi que voc o/a conheceu.Recorte etrio: idosos/as pessoas acima de 60 anos;Local de realizao da pesquisa: bairro dos Pimentas (Guarulhos SP); So Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2011

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MINHA HISTRIALCIA HELENA FRANOSO, 44

Deciso em Famlia

(...) Pressenti que o Natal passado seria o ltimo do meu filho (...) Decidimos no reanim-lo caso o corao dele parasse (...) Fiquei segurando a mo dele, beijando-o at o corao parar de vezMarisa Cauduro/Folhapress

Lcia Franoso, 44, (de azul) me de Felipe, e sua irm, Dulce dos Santos Machado

RESUMODurante quatro anos, o jovem Jeferson Felipe Franoso, 23, de Guarulhos (SP), lutou contra uma doena crnica incurvel e uma infeco que devastaram os seus pulmes.Quando ele j estava entubado na UTI, respirando por aparelhos, sua me, Lcia Helena Franoso, com apoio da famlia, autorizou que os mdicos no o reanimassem caso ele sofresse uma parada cardiorrespiratria.No ltimo dia 4, s 20h48, o corao de Felipe parou. Morreu na presena da me e da av.

(...) Depoimento aCLUDIA COLLUCCIDE SO PAULO

Meu filho comeou a ficar doente aos 16 anos, logo depois que o pai morreu, de cncer no reto.Sofria pneumonias seguidas e, aos 19, descobrimos que era fibrose cstica [doena gentica que pode causar infeco crnica]. Ele tambm tinha uma bactria resistente [Mycobacterium abscessus] nos pulmes.Durante seis meses, o F ficou com um cateter por onde recebia os antibiticos para combater a bactria.Por causa dos remdios, perdeu a audio. Isso o deixou desanimado com o tratamento. No tinha melhora dos sintomas e tambm no podia estudar, jogar bola.Ele comeou a faculdade de administrao e um curso de desenho, mas no conseguiu termin-los. Eram antibiticos, inalaes, injees de enzimas dirias e mesmo assim as crises de tosse e de falta de ar no davam trgua. Ele sentia falta de ar at para tomar banho.Em agosto de 2010, o F comeou a piorar. Pesava 44 kg e media 1,80 m. Passava 20 dias no hospital e uma semana em casa.Foi quando comeamos a ser acompanhados pela equipe de cuidados paliativos do Samaritano.O F precisava ganhar peso para entrar na fila do transplante de pulmo. Foi colocada uma sonda no estmago para ele receber suplementos alimentares. Mas ele sabia que no ia sarar, que a doena era incurvel.

SEM REMDIOO F passou a conversar mais comigo e com a tia [Dulce Machado]. Numa das ltimas conversas, ele disse para a tia que no tinha medo da morte porque j no havia mais prazer algum na vida.Mas eu no deixava o ambiente ficar triste em casa. Ele dizia: "Me, como que voc consegue ainda me fazer rir". E eu dizia: "Me assim mesmo. Me chora, me palhaa, me boba.'No Natal passado, eu j pressentia que seria o ltimo do meu filho. Foi uma festa linda. Ele ganhou uma camiseta do So Paulo, que era o time que ele tinha paixo.

Na ltima internao, em 3 de janeiro, a mdica explicou que os antibiticos no faziam mais efeito.Quando ela saiu do quarto, o F disse: "Me, no tem remdio para mim mais..." A ele chorou muito. Viu que era o ponto final da medicina. Eu peguei na mozinha dele e disse: "Filho, agora s Deus. Se ele achar que pode fazer um milagre, vamos confiar".Eu no chorava perto dele porque ele no gostava. Dizia: "Me, se voc no ficar forte, o que vai ser de mim?". Eu sofria por dentro, sem demonstrar. S chorava longe.No dia 19 de janeiro, comemoramos o aniversrio dele no hospital. Vieram os primos, as mdicas, as enfermeiras. Ele ficou to feliz! Comemoramos tambm o fato dele ter atingido 50,5 kg, que era o peso mnimo para entrar na fila de transplante.Mas, com o passar dos dias, o desconforto respiratrio foi piorando. Ele sentia muita dor, que s era controlada com morfina a cada quatro horas. No dia 26 de janeiro, foi transferido para a UTI semi-intensiva. J no conseguia mais falar direito.Ficava com a mscara de oxignio o tempo todo. Conversando com a irm, Jssica, ele voltou a dizer que no tinha medo da morte, que estava em paz. Ele at brincou: "Vou ficar bem, vocs que vo sofrer um pouquinho".No dia 27, tarde, soube que o F teria de ser entubado [respirador artificial] porque a mscara de oxignio j no dava mais conta do desconforto respiratrio. Os mdicos queriam dar mais uma chance para o organismo reagir, pois a infeco pulmonar estava sem controle.Foi um choque para mim. Eu sabia que aquele momento iria chegar, mas no esperava que fosse to rpido. Quando o F soube, chorou.Eu segurei a mo dele e disse: "Filho, no fique com medo. Eu vou ficar bem, a sua irm vai ficar bem". Ele estava assustado, mas s perguntou se iria continuar dormindo, se no sentiria dor. Aquele olhar assustado foi a nossa despedida.Em seguida, ele foi sedado. A esperana era que, em 72 horas, a infeco fosse controlada. Mas isso no aconteceu. O antibitico no fazia mais efeito.

AT O LTIMO MINUTONa segunda, dia 31 de janeiro, tomamos uma deciso em famlia: no reanim-lo caso o corao dele parasse.A proposta era dar o conforto necessrio para ele no sofrer. A equipe mdica iria aumentando a morfina e a sedao. Eu concordei. Vi meu filho sofrer tanto nesses ltimos anos que eu no suportava prorrogar mais isso.Foi de corao que eu entreguei ele para Deus. Fiquei at o ltimo minuto ao lado dele, dizendo: "Filho, estou aqui. Se voc quiser partir comigo aqui do teu lado, pode partir. Se voc acordar, eu tambm estarei aqui".Eu sabia que o F tinha uma briguinha com Deus por causa da morte do pai e por causa da sua doena. Na UTI, com ele inconsciente, eu dizia: "Filho, fala para Deus tirar voc desse sofrimento". E falava para Deus: "Se for para trazer meu filho de volta, traga ele inteiro. Se no for, eu te dou de presente um anjo".No dia 4 de fevereiro, ele quase no tinha mais pulsao. Olhei para o monitor, e os batimentos cardacos estavam em 35 [o normal de 60 a 100 batimentos por minuto]. Fiquei segurando a mo dele, beijando-o at o corao parar de vez. Doeu muito e ainda di, mas me sinto com dever cumprido. Agora me sinto em paz.

So Paulo, sbado, 22 de janeiro de 2011

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MINHA HISTRIA VALRIO GAMA, 32

Autoridade

rbitro cearense que se traveste noite j apitou mais de cem partidas, entre oficiais e amistosos, e diz nunca ter sofrido preconceito no futebol por ser homossexual. "Meus amigos travestis dizem que eu quero ser homem por gostar de futebol"

RESUMOValrio Fernandes Gama tem 32 anos e juiz de futebol desde os 23. Homossexual, noite vira Laleska. Como travesti, sai para as boates de Beberibe, sua cidade natal, no interior do Cear. Nunca sofreu preconceito nos gramados. Seus amigos travestis estranham seu interesse por futebol. Dizem que Valrio um gay "que quer ser homem".

ADRIANO FERNANDESCOLABORAO PARA AFOLHA

Eu descobri que era gay aos dez anos. Fui percebendo que no gostava de mulher. Brincava com meninos e sentia interesse por eles. Nunca contei para a minha famlia. Minha me j percebeu, meu pai at hoje contra.Comecei a me interessar por futebol assistindo aos jogos da Copa de 1994, nos EUA. Eu tinha 15 anos. Entrei no futebol pra ser goleiro. Eu era o terceiro goleiro de um time aqui da minha cidade.Na poca, faltou juiz e o meu treinador pediu pra eu apitar. Eu apitei e gostei. No sabia as regras, aprendi dentro do futebol, na marra. No sou formado [em arbitragem], mas j marquei o curso com o Dacildo Mouro, um juiz daqui. Ele me chamou.J apitei mais de cem jogos: campeonatos e amistosos entre times locais. Mas no estou no quadro de rbitros da federao cearense.

SEM PRECONCEITOToda a equipe de rbitro s tem homem, e eu sou o nico homossexual. Nunca me envolvi com eles, eles nunca me cantaram, me respeitam como se eu fosse uma mulher mesmo. Porque o que eles sabem fazer eu tambm sei.Eu bandeiro e tudo. Gosto mais de apitar, mas eu bandeiro quando feito sorteio.No futebol, eu no sofro preconceito, nunca sofri.Quando eu chego ao campo, as pessoas acham que eu sou mulher. Vm conversar comigo e perguntam: "E a, mulher?". Eu digo: "Gente, eu no sou o que vocs esto pensando. Eu ainda no sou mulher. Sou homem".A, quando descobrem, ficam passados, caem pra trs, se assustam. Mas nunca fizeram nada que me ofendesse. Pelo contrrio, sou um dos mais chamados para apitar os jogos, todo sbado e domingo eu apito uma partida.Eles chamam os hteros de veado, de baitola, mas a mim s chamam de ladro, dizem que estou roubando. De veado ningum chama porque todos j me conhecem.

LALESKAMeu nome de mulher Laleska. Quando eu estou de Laleska, gosto de ser chamado assim. Mas s noite, quando eu saio para baladas.O time do Ferrovirio [clube cearense] me reconheceu uma vez. Eu fui pra praa de vestido, de salto, de bolsa.Eles me olharam e falaram: "Olha a juza!". S que eles no sabiam que eu era homem. Uma amiga deles conversou [com eles] e contou. A eles me chamaram e disseram: "Voc me desculpa por eu chamar voc de moa no campo".No campo, achavam que eu era mulher. Quando eu falava [durante o jogo], eles estranhavam por causa da voz, mas no descobriram. Se os jogadores acham que sou mulher, so mais educados.Ns conversamos. Eles disseram que me viram de biquni na praia, mas no acreditavam que eu era homem.Eu falei que me transformava noite em mulher. Eles gostaram, disseram que era muita coragem minha apitar um jogo profissional. Me deram parabns. Fiquei feliz.Vou te contar uma coisa que vai te deixar de queixo cado. Voc est sentado? Na minha casa somos oito irmos e quatro homossexuais, dois em forma de homem e dois travestis.

"BICHA-HOMEM"S metade de ns so "normais" [hteros], como diz o povo daqui. Estou acostumado a no ser aceito. Meu pai disse que vai morrer e no vai aceitar. No admite o filho ter peito, querer ser mulher.Meus amigos travestis dizem que eu quero ser homem por gostar de futebol. Eles me chamam de "bicha-homem". Dizem: "Olha essa bicha que quer ser homem", "Essa bicha fala de futebol como se fosse homem". Eles no entendem nada de futebol. Eu sou totalmente diferente deles. Eles ficam passados.Tem muito homossexual no futebol, mas so incubados, no se assumem. Eu no. Eu rasguei logo. De que adianta eu viver a vida dos outros? Tenho que viver a minha, no vou mostrar para as pessoas uma coisa que no sou. Se perguntam, assumo.

"O" ERRO, "O" JOGOO maior erro da minha carreira foi uma falta fora da rea que eu marquei pnalti. Logo depois, eu percebi que tinha sido fora, mas no dava para voltar atrs. Os jogadores puxaram meu cabelo. J levei tapas, empurro.Meu jogo mais importante foi Ferrovirio contra a seleo de Beberibe [no ltimo dia 8]. O Ferrovirio joga a primeira diviso daqui. Me chamaram e fiquei empolgado. Encarei da forma que encaro qualquer briga na vida.

Quando entrei no jogo, parece que incorporou um esprito na minha pessoa, um esprito de homem. Eu no tenho aqueles trejeitos do [ex-rbitro] Margarida, por exemplo. Fao os gestos todos direitinho, mas, depois que eu saio de campo, ningum mais me segura.