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GEF: GRUPO DE ESTUDOS E APLICAÇÃO EDUCACIONAL EM GEOGRAFIA FÍSICA Thomas Johannes Schrage, Graduando em Geografia – USP, [email protected] Alex Silva Sousa, Graduando em Geografia – USP, [email protected] Breylla Campos Carvalho 1 , Graduanda em Geografia – USP, [email protected] Déborah de Oliveira, Professora Doutora do Departamento de Geografia – USP, [email protected] Abstract: This paper results from the reunions that have been made during the second semester of 2008 until now, of a study group entitled GEF (Geografia Física), in the dependencies of Geography Department of FFLCH-USP, with intent of topics discussion referring to Physical Geography. We look for extending the personal and academic apprenticeship, with knowledge exchange and construction among members. Two main shafts attent for base to the group. The first is the varied topics discussion of apprenticeship. The other shaft, still in development, is to create educational materials by chats and articles for general public. The group is constituted by students of Geography graduation of FFLCH-USP by coordination of Doctor Professor Déborah de Oliveira. In every week meetings the reunions happen with focus on a previous selected text. Afterwards, there is a discussion concerning the text and, if necessary, an extension of the topic. Among the results already obtained we have achieved a great articulation between professors of Physical Geography and the members of the group, a better communication between the various divisions, chats organization and a great participation of the students in the laboratories of Geography Department. We desire to obtain results ,for beyond the University, that would reach all society through educational practices. Resumo: Este trabalho resulta das reuniões que vêm sendo feitas ao longo do segundo semestre de 2008 até o presente momento, por meio de um grupo de estudos intitulado GEF (Geografia Física), nas dependências do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, com intuito de por em discussão temas referentes a esta área da Geografia Física. Busca-se estender o aprendizado pessoal e acadêmico, com troca e construção de conhecimento entre seus membros. Dois eixos principais servem de alicerce para o grupo. O primeiro é a própria discussão de temas diversos com aprendizado coletivo. Outro eixo, ainda em desenvolvimento, é criar materiais educacionais, seja por meio de palestras, hipertextos ou artigos, direcionados para o público em geral. O grupo conta com alunos graduandos de Geografia da FFLCH-USP sob a coordenação da Profa. Dra. Déborah de Oliveira, com encontros semanais. As reuniões acontecem tendo como foco um texto escolhido previamente por um dos alunos que o apresenta. Posteriormente há discussão dos textos e, se necessário, extensão do tema. Entre os resultados já obtidos temos uma maior articulação entre professores da área de Geografia Física com o grupo, maior participação dos alunos nos laboratórios do Departamento de Geografia, comunicação entre turmas diversas da faculdade e organização de palestras. Deseja-se obter resultados para além da Universidade, atingindo toda a sociedade através de práticas educacionais. 1. Introdução e Objetivos O Grupo de Estudos de Geografia Física (GEF) surgiu como resultado de um esforço coletivo de graduandos em geografia, orientados pela Profª Drª Déborah de Oliveira, em agosto de 2008, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade São Paulo. O interesse comum do grupo é aprimorar os conhecimentos nas ciências da Terra, em particular na Geografia Física, através de leituras de textos e suas discussões em reuniões semanais assim como por atividades práticas, tais como trabalhos de campo. Dessa forma, busca-se estender o aprendizado pessoal e acadêmico, com troca e construção de conhecimento entre seus membros, que tentam atingir uma melhor formação como geógrafos. Buscamos, por meio deste trabalho, fornecer subsídios e idéias, através de nossa experiência, para projetos de cunho educacional referentes a Geografia Física. Cremos também, que com a divulgação de nossas atividades, possamos contatar e trocar conhecimentos com interessados. 1 Bolsista de Iniciação Científica, financiada pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP.

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GEF: GRUPO DE ESTUDOS E APLICAÇÃO EDUCACIONAL EM GEOGRAFIA FÍSICA Thomas Johannes Schrage, Graduando em Geografia – USP, [email protected]

Alex Silva Sousa, Graduando em Geografia – USP, [email protected] Breylla Campos Carvalho1, Graduanda em Geografia – USP, [email protected]

Déborah de Oliveira, Professora Doutora do Departamento de Geografia – USP, [email protected]

Abstract: This paper results from the reunions that have been made during the second semester of 2008 until now, of a study group entitled GEF (Geografia Física), in the dependencies of Geography Department of FFLCH-USP, with intent of topics discussion referring to Physical Geography. We look for extending the personal and academic apprenticeship, with knowledge exchange and construction among members. Two main shafts attent for base to the group. The first is the varied topics discussion of apprenticeship. The other shaft, still in development, is to create educational materials by chats and articles for general public. The group is constituted by students of Geography graduation of FFLCH-USP by coordination of Doctor Professor Déborah de Oliveira. In every week meetings the reunions happen with focus on a previous selected text. Afterwards, there is a discussion concerning the text and, if necessary, an extension of the topic. Among the results already obtained we have achieved a great articulation between professors of Physical Geography and the members of the group, a better communication between the various divisions, chats organization and a great participation of the students in the laboratories of Geography Department. We desire to obtain results ,for beyond the University, that would reach all society through educational practices. Resumo: Este trabalho resulta das reuniões que vêm sendo feitas ao longo do segundo semestre de 2008 até o presente momento, por meio de um grupo de estudos intitulado GEF (Geografia Física), nas dependências do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, com intuito de por em discussão temas referentes a esta área da Geografia Física. Busca-se estender o aprendizado pessoal e acadêmico, com troca e construção de conhecimento entre seus membros. Dois eixos principais servem de alicerce para o grupo. O primeiro é a própria discussão de temas diversos com aprendizado coletivo. Outro eixo, ainda em desenvolvimento, é criar materiais educacionais, seja por meio de palestras, hipertextos ou artigos, direcionados para o público em geral. O grupo conta com alunos graduandos de Geografia da FFLCH-USP sob a coordenação da Profa. Dra. Déborah de Oliveira, com encontros semanais. As reuniões acontecem tendo como foco um texto escolhido previamente por um dos alunos que o apresenta. Posteriormente há discussão dos textos e, se necessário, extensão do tema. Entre os resultados já obtidos temos uma maior articulação entre professores da área de Geografia Física com o grupo, maior participação dos alunos nos laboratórios do Departamento de Geografia, comunicação entre turmas diversas da faculdade e organização de palestras. Deseja-se obter resultados para além da Universidade, atingindo toda a sociedade através de práticas educacionais. 1. Introdução e Objetivos

O Grupo de Estudos de Geografia Física (GEF) surgiu como resultado de um esforço coletivo

de graduandos em geografia, orientados pela Profª Drª Déborah de Oliveira, em agosto de 2008, na

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade São Paulo.

O interesse comum do grupo é aprimorar os conhecimentos nas ciências da Terra, em particular

na Geografia Física, através de leituras de textos e suas discussões em reuniões semanais assim como

por atividades práticas, tais como trabalhos de campo. Dessa forma, busca-se estender o aprendizado

pessoal e acadêmico, com troca e construção de conhecimento entre seus membros, que tentam atingir

uma melhor formação como geógrafos.

Buscamos, por meio deste trabalho, fornecer subsídios e idéias, através de nossa experiência,

para projetos de cunho educacional referentes a Geografia Física. Cremos também, que com a

divulgação de nossas atividades, possamos contatar e trocar conhecimentos com interessados.

1 Bolsista de Iniciação Científica, financiada pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP.

2. Materiais e Métodos

O grupo de estudos se pauta em quatro pontos primordiais para o desenvolvimento de sua

atividade, sendo eles:

Leituras: Constituem a base fundamental para o aprimoramento acadêmico, servindo de

subsídio às demais atividades realizadas. Por isso, buscamos sempre leituras de artigos

científicos e livros concernentes aos temas previamente propostos;

Trabalho de campo: Surge a fim de se aprimorar e se aperfeiçoar as técnicas de cada ramo da

geografia física. Até o momento realizou-se um campo de pedologia, porém estão programadas

mais atividades para longo prazo;

Ciclo de palestras: Como um dos intuitos do grupo é difundir o conhecimento da geografia

física para demais graduandos e para comunidade externa, cremos que promover ciclos de

palestras com professores do Departamento de Geografia da FFLCH seja uma forma direta de

atingir tal objetivo;

Materiais didáticos em meio digital: outra forma de atingir nosso objetivo de difusão do

conhecimento é usar a rede mundial de computadores, por meio da elaboração de um website,

onde será possível expor materiais didáticos produzidos pelos membros do grupo.

3. Resultados Obtidos

3.1. Leitura e Discussão de Artigos Científicos

Desde seu início, o grupo de estudos de Geografia Física teve como um de seus eixos o

aprimoramento por meio de leituras semanais, nas quais se buscou abordar as principais e mais

diversas temáticas que colaboram na construção da geografia física, assim será exposto a seguir as

leituras efetuadas ao longo desses meses pelo grupo.

No debate do texto de Queiroz Neto (2002), o autor faz um retrospecto da experiência do

ensino e da pesquisa da análise estrutural da cobertura pedológica no Brasil, abordando questões como

a relação existente entre o relevo e o solo através da análise tridimensional, a importância da

metodologia francesa para o estudo da pedologia no Departamento de Geografia da FFLCH. O autor

afirmou também que entre os anos de 1980 e 1995 pode-se contar com a participação de um grupo de

pesquisadores franceses da École Nationale Supérieure Agronomique de Rennes, do Centre de

Géomorphologie CNRS e do Centre ORSTOM de Caiena, dentre eles Joel Pellerin, Pierre Curmi, René

Boulet e Allain Ruellan, assim como professores, pós-graduandos e graduandos brasileiros do

Departamento de Geografia.

Deste trabalho surgiram muitas dissertações e teses que usaram a topossequência como apoio

aos referidos trabalhos. Tais trabalhos se realizaram em diversas porções dos estados de São Paulo,

Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais, permitindo dessa forma a discussão de questões relevantes aos

sistemas pedológicos quanto a sua gênese, sua dinâmica, seu funcionamento hídrico e sua erosão.

Na busca de entender como se dá a dicotomia presente na Geografia, propôs-se a discussão do

segundo e terceiro capítulos de Geografia física: ciência humana? (MENDONÇA, 1992), onde o autor

trata da divisão existente dentro da Geografia e dos problemas metodológicos enfrentados pela

Geografia Física. Para o desenvolvimento de sua argumentação, Mendonça (op. cit.) faz um panorama

da origem e evolução dessa vertente da Geografia, nos remetendo aos grandes naturalistas dos séculos

XVIII e XIX, cujas produções se pautavam na observação e na análise dos componentes do meio

natural. Após este período, houve o surgimento do determinismo e do possibilismo, sendo que no

primeiro não ocorreu uma separação clara entre aspectos físicos e humanos, ao passo que na segunda,

a dicotomia presente foi sentida com maior facilidade. Ainda de acordo com o autor, com La Blache

podemos perceber as verdadeiras raízes da Geografia Física, as quais se pautavam muito no espírito

cartesiano e colocava em voga os trabalhos de campo para a descrição do meio natural. A partir daí, o

autor suscita a necessidade de se estudar em separado os componentes do meio natural, como clima,

relevo, vegetação, bacias hidrográficas, entre outros. As contribuições de estudiosos como Davis, De

Martonne, Strahler e Cholley são mencionadas. Uma grande parte do texto faz menção à importância

da Teoria dos Sistemas e da contribuição de geógrafos como Georges Bertrand, que segue essa linha

metodológica, e Jean Tricart, que trabalha com o conceito de ecodinâmica.

No capítulo seguinte, o autor discorre sobre os métodos de interpretação e de pesquisa para o

conhecimento científico. Para o desenvolvimento da Geografia Física, utilizam-se muitas vezes

métodos de pesquisa de outras ciências - como a Geologia - mas sempre levando em consideração o

ponto de vista geográfico. Algumas tentativas metodológicas específicas da Geografia Física são

explicadas pelo autor, sendo elas: dialética da natureza, abordagem sistêmica, estudo da paisagem,

geossistema e ecogeografia.

Um tema que o grupo pensou ser importante para a discussão acadêmica é o que faz referência

aos geossistemas. Para um primeiro contato, fez-se a leitura e discussão do primeiro capítulo do livro

de Christofoletti (1974), na qual é abordada a questão dos sistemas em Geomorfologia. Assim, o autor

parte da noção geral de sistema, através da definição do mesmo e a identificação de seus elementos,

atributos e relações. Christofoletti (op. cit.) apresenta a classificação dos sistemas em Geomorfologia,

que são: isolados, não isolados, morfológicos, em sequência, processos-respostas e controlados. Em

seguida, ele resume a noção de equilíbrio, explica o que é sistema geomorfológico e seus sistemas

embutido. Por fim, o autor apresenta a classificação dos chamados “fatos geomorfológicos”.

A fim de aprofundar a questão sobre geossistemas, buscou-se a leitura de alguns capítulos do

livro organizado por Passos (2007), onde Berutchachvili & Bertrand fazem uma retomada da corrente

de pesquisadores naturalistas como fonte de entendimento da paisagem. Os dois autores discorrem

sobre a “ciência da paisagem” e como cada “escola” (menção as escolas russa e francesa) apresenta

sua concepção acerca desta problemática e de como é ocorre a sua análise e interdisciplinaridade.

Dessa forma, o autor desenvolve o conceito de geossistema, a caracterização de sua morfologia entre

geohorizontes e geofácies, se apoiando na distinção que existe do geossistema com o ecossistema e em

toda a sua estruturação. No mesmo livro de Passos (op. cit.), no capítulo de Bertrand & Bertrand, a

questão espaço-tempo é analisada para a apreciação do estudo do geossistema. Como complementação

dessas leituras e discussões realizadas, foi proposta a elaboração de um glossário com termos

referentes aos geossistemas e a montagem de uma linha do tempo contendo as principais

características da “ciência do geossistema”, que posteriormente será divulgada em meio digital.

Quando se fala em ciências da Terra, um pesquisador que possui grande contribuição e um

grande legado é Jean Tricart, o qual apresenta merecido destaque no pensamento geomorfológico

brasileiro. Desta maneira, sendo imprescindível abordar tal temática, fizemos a leitura de um artigo de

Ab’Saber (2005) sobre os estudos que o pesquisador francês realizou no Brasil e suas colaborações

feitas com outros pesquisadores. Tricart realizou pesquisas em diversas porções do Brasil, contribuiu

junto a Cailleux para o estudo das linhas de pedra e teve papel fundamental para que Ab'Saber e

Vanzolini, nos anos de 1960 a 1970, formulassem a teoria dos redutos e refúgio.

Deixou como lição a importância da observação para a Geografia, atentando todos ao fato de

que as paisagens são heranças do passado.

Na busca de entender todos os elementos componentes ao que concerne a Geografia Física, foi

proposta a leitura de um capítulo do livro organizado por Venturi (2005) do qual trata de técnicas de

biogeografia, escrito pela Profa. Dra. Sueli Ângelo Furlan. O ponto principal é o entendimento do

objeto da biogeografia e qual sua função dentro da Geografia. A autora explica o que vem a ser a

palavra biogeografia e qual o papel do biogeógrafo. A partir disso, a autora contextualiza este ramo da

Geografia separando-a em histórica e ecológica. Após isto, Furlan apresenta diversos conceitos e

técnicas empregadas no trabalho do biogeógrafo, como delimitar áreas de distribuição, reconstrução

dos padrões, a importância do trabalho de campo, o estudo da cobertura vegetal, a observação do meio

físico e dos fatores climáticos.

3.2. Trabalho de Campo

As técnicas de estudo do solo são muitas e complexas, envolvendo observação de campo,

análises laboratoriais e de gabinete. Por isso, a escolha da técnica utilizada em campo é definida pela

problemática abordada.

No campo há a possibilidade de descrição e análise das relações existentes entre os diferentes

horizontes, permitindo que se façam inferências sobre os processos envolvidos na formação do solo,

sua função atual na paisagem, bem como elaborar hipóteses sobre sua a dinâmica evolutiva, conforme

explicita MANFREDINI et. al. (VENTURI, op.cit.).

O trabalho de campo foi realizado no dia 18 de Fevereiro de 2009, no Campus da Cidade

Universitária Armando Sales de Oliveira, na cidade de São Paulo, com a Profa. Dra. Déborah de

Oliveira, em um barranco localizado ao lado do Instituto de Geociências.

A escolha para a realização do campo se deu em um momento oportuno, já que naquele local,

onde está se construindo um anexo do IGc, existe um extenso barranco aberto. Assim sendo, pudemos

na ocasião descrever o perfil de um solo urbano intensamente alterado ao longo dos anos.

Antes da ida ao campo, foi realizado um levantamento sobre as informações do perfil e do local

a ser analisado, observando-se a carta de solos do Estado de São Paulo na escala 1:500.000

(OLIVEIRA et. al., 1999), o embasamento geológico, o clima, a posição na vertente, o relevo e a

vegetação original.

O terreno recebeu, durante a construção do campus universitário, diversos aterramentos a fim

de se realizar o nivelamento do terreno. Este fato pôde ser notado em campo pela heterogeneidade

observada no perfil descrito, pois o solo possui diversos horizontes bastante distintos, em um perfil não

tão profundo assim como o fato também de não ser mais observado o solo anterior aos aterramentos.

O perfil escolhido para análise morfológica possui cerca de 1,40m, onde foram identificados 10

horizontes (Figura 1). Dado o limite do tempo disponível e a pretensão apenas didática do trabalho de

campo, foram escolhidos arbitrariamente, apenas 4 horizontes para a análise (Figura 2).

Figura 1: Fotografia do perfil de solo parcialmente descrito. (Willian Santos, 18 de fevereiro de 2009)

Figura 2: Croqui do solo parcialmente descrito. Sem escala. (Mariana Franco de Carvalho e Thomas J. Schrage)

O perfil apresentou muito entulho, como pedaços de azulejos e britas de construção, bem como

uma grande raiz de uma árvore cortada recentemente ou possivelmente trazida ao local juntamente

com os aterros. Há também a presença de material de alteração de cor violeta (Figura 3) e matéria

orgânica, como raízes de plantas em horizontes inferiores. Além disso, nota-se que o solo sofreu

iluviação de argila de um horizonte para outro, onde há uma maior concentração de argila nos

horizontes inferiores.

Figura 3: Material de alteração de cor violeta encontrado no perfil. (Willian Santos, 18 de fevereiro de 2009)

A seguir estão expostos os dados coletados em campo (Tabela 1):

Tabela 1: Dados de 4 horizontes analisados de um perfil de solo urbano.

Horizonte 1 Horizonte 3 Horizonte 7 Horizonte 9

Espessura 0-16cm 24-37cm

74-84cm; a partir de

131cm de profundidade

(160cm +)

92-109cm

Cor Bruno, com

manchas mais escuras

Amarelo Amarelo bem claro

Amarelo, com algumas

manchas claras

Textura Areno-Argilosa

(mais areia do que argila)

Areno-Argilosa Arenosa

Areno-Argilosa (com um

pouco mais de argila que o anterior e com areia mais fina)

Estrutura

Grumosa, em função da matéria

orgânica e das raízes

Em blocos sub-

angulares Granular Em blocos

sub-angulares

Consistência do solo

Seco

Solta. Por ter chovido, não

havia na ocasião presença de solo seco, dificultando

a descrição

Solta Solta Dura.

Úmido Firme Plástico Solta Muito firme

Molhado Ligeiramente plástico

Ligeiramente plástico

Ligeiramente plástico, não

pegajoso

Ligeiramente plástico, não

pegajoso

Porosidade Biológica, de pequena à grande

Poros muito pequenos e em menor quantidade

(presença de algumas raízes)

Intersticial ou porosidade

granular

Poros muito pequenos

(presença de algumas raízes)

Transição entre os horizontes Ondulada; clara Ondulada; abrupta

Não há, a mancha está

em profundidade,

forma um arco

Irregular, abrupta

Organização: Breylla C. Carvalho, Mariana F. Carvalho e Sabrina Giannecchini, 2009.

3.3. Ciclo de Palestras

Teve-se a idéia de organizar uma semana na qual seriam realizadas palestras com professores

da Universidade de São Paulo, docentes ou aposentados, para suprir uma demanda anterior à

Universidade: a de saber o que deveríamos esperar do curso de Geografia, já que a disciplina

Geografia da escola é diferente do que encontramos na Universidade. Nossa pretensão foi também a de

ocorrer um primeiro contato entre os professores e os novos estudantes. Os temas escolhidos para as

palestras foram os seguintes: Geomorfologia, Pedologia, Biogeografia, Climatologia e Cartografia.

Ministraram as palestras os Professores Doutores Jurandyr Luciano Sanches Ross, incumbido

da abertura da semana e responsável pela palestra sobre Geomorfologia; Déborah de Oliveira para a

palestra de Pedologia; Yuri Tavares Rocha para a palestra de Biogeografia; e o já aposentado, porém

muito presente no Departamento de Geografia, José Bueno Conti para a palestra de Climatologia. As

palestras foram idealizadas para serem executadas no período entre aulas, ou seja, no horário das 18h

as 19h30, estando assim acessível tanto aos alunos do período diurno quanto aos do noturno.

Para realizar o proposto, analisamos o que seria necessário na execução do evento afim de uma

melhor organização e distribuição as atividades. Entramos em contato, via e-mail, com alguns

professores e como forma de divulgação, além dos meios tradicionais (banners e folders), utilizou-se

uma rede de relacionamentos virtual.

Durante as palestras um membro do grupo ficava responsável por presidir a mesa, ou seja,

abrindo o evento, organizando as perguntas do público e, no final, encerrando as palestras.

Palestras

Geomorfologia

A palestra de Geomorfologia foi apresentada pelo professor Jurandyr Luciano Sanches Ross.

Em seu decorrer, o professo tratou da aplicação e da importância de sua disciplina para o

planejamento. Falou sobre a atuação de geógrafos no poder público e as diferenças existentes entre

Geografia, Geologia e Engenharias em geral.

Tratou da questão da importância de o geógrafo ter o domínio de novas tecnologias, já que há

uma constante evolução nas ferramentas disponíveis para os estudos realizados, mas também falou da

importância de se ter um embasamento teórico para poder utilizá-las de maneira adequada.

Pedologia

A palestra ministrada pela professora Déborah de Oliveira foi realizada de uma maneira

informal, por meio de uma conversa com os calouros, onde foi apresentada a história da Pedologia, sua

importância e influência na Geografia.

A professora apresentou a importância da escola francesa nos estudos de Pedologia no Brasil,

qual o embasamento para a classificação de solos, bem como a relevância de Dokuchaiev ao ser o

primeiro a reconhecer o solo como um corpo natural e formado pela ação de um grupo de agentes,

sendo, inclusive, também pioneiro ao estabelecer uma classificação baseada nas propriedades do solo e

nos seus fatores de formação.

Em 1877, Dokuchaiev descobriu camadas distintas e horizontais nos solos associadas a clima,

vegetação e material de solo subjacente. A mesma seqüência de camadas era encontrada em áreas

geográficas muito distantes, contanto que houvesse similaridade de clima e vegetação. Explicou

sucintamente sobre os fatores de formação do solo: material de origem, clima, relevo, seres vivos e

tempo.

A palestrante encerrou a palestra defendendo a idéia do solo ser um recurso natural não

renovável, sendo assim merecedor de nossa atenção e respeito, já que muitas vezes nos preocupamos

com a poluição e degradação do meio ambiente, mas nos esquecemos do solo e de sua importância.

Biogeografia

O professor Yuri Tavares Rocha se preocupou em definir o que era a Biogeografia, partindo de

uma apresentação na qual tratou de questões referentes ao início da criação da Terra ao Darwinismo,

entre outras questões relevantes. Após isto, resumiu a importância da Biogeografia e suas dificuldades

no cenário geográfico.

O professor exibiu um vídeo da evolução humana de pouco mais de um minuto e apresentou

alguns trabalhos realizados por alunos de pós-graduação, expondo assim o tipo de atuação que

poderíamos ter na Biogeografia.

Ao final da palestra o professor realizou o sorteio de um livro do professor Carlos Augusto de

Figueiredo Monteiro, presenteando o ouvinte que fazia aniversário no dia mais próximo ao dia do

geógrafo.

Climatologia

O professor José Bueno Conti se preocupou em tratar da forma como eram as pesquisas da

Geografia em sua época de estudante de graduação, das dificuldades existentes àquela época e as

facilidades que temos hoje. Ele comentou sobre a divisão do curso de História e Geografia e o

histórico da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

O professor trouxe uma discussão sobre aquecimento global, defendendo sua posição

contrária ao dos pesquisadores do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change). O

professor discorda da teoria de que a emissão de CO2 possa ser a grande responsável por um possível

aquecimento global. Para tanto, o professor citou um debate similar de sua época de graduação, o qual

se deflagrava a discussão sobre se estariam ou não em um período de glaciação, ou seja, em um

esfriamento global. Também discordou dos modelos propostos pelo IPCC, lembrando de antigos

rumores, ainda de seu tempo de graduação, de que o nível do mar se elevaria alguns metros em menos

de 50 anos, mas que não ocorreram.

Ao término da palestra, o professor distribuiu cópias de seu artigo “Geografia e Climatologia”

publicado a Revista GEOUSP (2001) a todos os participantes.

Após um balanço realizado sobre o evento, pudemos considerar que este ciclo de palestras

propiciou um saldo positivo para nós e para os demais participantes, pois sempre houve pessoas muito

interessadas, participando de todas as palestras e colocando questões e debates relevantes acerca de

cada tema, gratificando, assim, o evento. Houve também uma grande aproximação com os demais

docentes do Departamento de Geografia e uma divulgação maior do trabalho do grupo de estudos.

3.4. Materiais Didáticos em Meio Digital

O projeto de se criar um website foi uma propostas iniciais da criação do grupo de estudos de

Geografia Física. Entre os objetivos do projeto, destacamos o aprendizado de seus criadores - criando

maior domínio de síntese e organização do saber – e o de extensão universitária – criando-se laços, por

intermédio da educação, entre a Universidade e a comunidade externa.

A rede mundial de computadores (internet), sem dúvida alguma, é o fenômeno que melhor

exemplifica o tempo em que vivemos. O desenvolvimento acelerado das novas tecnologias assim

como sua maior participação em lugares e grupos diversos proporciona a maior dispersão da

informática em uma velocidade vertiginosa e de extensão global. A educação, querendo ou não, se

insere neste processo. Informações novas aparecem a cada minuto e cada novo conhecimento está

facilmente disponível para estudantes em todo o mundo.

Não obstante, universidades e colégios buscam fazerem-se visíveis. São inúmeros os projetos

de comunicação com a sociedade através do espaço da internet. Destacamos aqui, porém, que em

muitos casos, instituições educacionais buscam o marketing através dessas novas mídias ou tratam a

educação como uma mercadoria. Um fato que comprova isto é a criação, realizadas por cursos

preparatórios para o vestibular, de televisões e rádios virtuais, a fim de divulgação apenas de seus

sistemas de ensino. Outro exemplo que podemos citar é o de diversos portais educacionais exigirem

mensalidade para o acesso de seu conteúdo.

As universidades, por sua vez, buscam laços por intermédio da política de “cultura e extensão”.

Sua característica principal é interferir na sociedade por meio de diversos projetos de qualidade,

geralmente culturais e/ou educacionais, tencionando trocas simbióticas entre todos os participantes,

tanto acadêmicos como não acadêmicos.

Não é nossa pretensão aqui discutir a internet ou a educação muito além do âmbito

introdutório, porém, mais algumas considerações devem ser feitas: é preciso dizer que esta rede, por si

só, não responde todas as deficiências educacionais ou implique numa melhora do processo educação-

aprendizado. Para que isto se torne realidade, exige-se por parte da escola e do professor um projeto

pedagógico, assim como uma orientação do que deve ser utilizado ou não. Isso se faz necessário, pois,

como é sabida, a internet, na maioria dos países, não possuí limitações de postagem de determinados

conteúdos; dessa forma, qualquer informação, verdadeira ou não, necessária ou não, está disponível

para todos. É importante ensinar o aluno a filtrar o que lhe de fato será educacionalmente importante.

Objetivos do projeto do website

Tendo isto em vista, o projeto de criação de um website de Geografia Física por nosso grupo de

estudos visa atingir as pretensões de cultura e extensão, acreditando que:

Ao escrever artigos e textos, estaremos automaticamente selecionando, sintetizando e

sistematizando informações aprendidas ao longo do curso.

Ao buscar qualidade para nosso projeto, estaremos constantemente debatendo informações

entre o grupo de estudos, criando assim uma troca benéfica para todos.

Estaremos em constante atualização dos novos conhecimentos, tantos da Geografia, como da

informática e pedagógicos.

O projeto também possui caráter interdisciplinar. Assim sendo, buscamos contato com todos os

laboratórios e com o máximo de professores de diversas áreas da Geografia Física.

Quanto aos nossos objetivos educacionais, substanciamos:

Fornecer para a sociedade materiais didáticos de qualidade e confiável, em diversas mídias, tais

como animações e fotografias. Com isso, pretendemos:

◦ Fornecer ao professor um material de apoio para ilustrar suas aulas

◦ Fornecer ao aluno material para que conteúdos poucos concretos pareçam menos abstratos

e sejam de melhor visualização tal como ele é na realidade.

Divulgar a Geografia Física e as Ciências da Terra para todos interessados.

Criar laços e apresentar a Universidade para os estudantes.

Atingir o maior público possível, de diversos lugares, idades e gostos. Acreditamos que para

isso, a internet seja o meio mais apropriado e fácil.

O website

O website ainda está em fase de projeção e discussão. A idéia inicial, porém, é que seja de fácil

visualização e entendimento, com uma linguagem didática e agradável. Em seu menu, estarão

separados os temas de acordo com a área de conhecimento da Geografia Física, de forma simplificada

(e.g: pedologia como solos, geomorfologia como relevo, etc.); isto para que o usuário intuitivamente

entenda as divisões de conhecimento dentro da Geografia Física.

Também haverá um glossário, já em fase de desenvolvimento pelo grupo, assim como

indicações de materiais diversos (livros, filmes, websites e periódicos), divulgação de eventos e a

comunicação, via e-mail, direta com o grupo.

Permitiremos que estudantes e profissionais voluntários participem com o envio de seu

material, que será por nós avaliado. Assim feito, o colaborador entrará na lista de “colaboradores”.

Ressaltamos, porém, que não existirá para as publicações disponíveis unicamente pelo site algum valor

científico ou acadêmico.

Nossa maior pretensão, no entanto, é garantir material confiável. Buscaremos relação com os

laboratórios de Geografia Física da FFLCH assim como hospedar o website em algum laboratório, a

fim de se garantir, logo em seu endereço eletrônico, um atestado da confiabilidade para os usuários.

Outra característica que pretendemos é manter uma boa interatividade. Manter fotografias,

animações, imagens ou qualquer outro meio que permita ilustrar os temas mais abstratos das ciências

da Terra, tendo em vista o website como recurso pedagógico e como material que permita o aluno

transpor os conhecimentos de sala de aula para a realidade que o circunda.

4. Considerações Finais

Durante o processo de criação do grupo, passamos por algumas dificuldades de diferentes

ordens, como a desistência de participantes, a definição de um local e horário compatíveis com as

disponibilidades dos membros, bem como a seleção de temas a serem estudados.

Entretanto, com uma maior definição do perfil do grupo, houve um maior fortalecimento deste, o que

tem proporcionado grande desenvolvimento acadêmico para os seus integrantes e interessados nos

temas discutidos relacionados à Geografia Física.

Visto o que foi exposto no presente trabalho, as leituras surgem como o eixo principal do nosso

embasamento teórico-metodológico, sendo fundamentais para a realização dos trabalhos de campo, a

elaboração de materiais didáticos disponibilizados no website e a promoção de futuras atividades

extracurriculares como mini-cursos.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos estudantes de graduação de Geografia da Universidade de São Paulo,

também membros do Grupo de Estudo GEF, pela contribuição dada durante a realização deste

trabalho:

Barbara Renata Pereira Cruz (Bolsista PRP/IC, [email protected]),

Gustavo Miura Thiesen ([email protected]),

Mariana Franco de Carvalho ([email protected]) e

Sabrina Giannecchini ([email protected]),

5. Referências Bibliográficas

AB'SABER, Aziz Nacib. O legado de Jean Tricart. Scientific American Brasil, n. 33, p. 98, 2005. CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia. São Paulo: Blucher, 1974. 149p. CONTI, José Bueno. Geografia e climatologia. GEOUSP Espaço e Tempo: revista da pós-

graduação em Geografia, n. 9, p. 91-95, 2001.

EMBRAPA. Manual de Descrição e Coleta de Solo no Campo. 4. ed. Viçosa: Sociedade

Brasileira de Ciência do Solo, 2002. 83p. LEPSCH, Igor F. Formação e Conservação dos Solos, 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2002.

178p. MENDONÇA, Francisco. Geografia física: ciência humana? 3. ed. São Paulo : Contexto, 1992.

72p. OLIVEIRA, João Bertoldo de, et. al. Mapa Pedológico do Estado de São Paulo. Instituto

Agronômico de Campinas/EMBRAPA. Escala 1:500.000, 1999. PASSOS, Messias Modesto dos (Org). Uma geografia transversal e de travessias: o meio

ambiente através dos territórios e das temporalidades. Maringá: Ed. Massoni, 2007. 332p.

QUEIROZ NETO, José Pereira. Análise estrutural da cobertura pedológica: uma experiência de

ensino e pesquisa. Revista do Departamento de Geografia (USP), v. 15, p. 77-90, 2002. VENTURI, Luiz Antonio Bittar (Org). Praticando Geografia: técnicas de campo e laboratório.

São Paulo: Oficina de Textos, 2005. 239p.