geane sabino de medeiros o desenvolvimento … · catalogação da publicação na fonte...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UFRN CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ CERES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA DGC CURSO: GEOGRAFIA- BACHARELADO GEANE SABINO DE MEDEIROS O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO POVOADO CURRAIS NOVOS, LOCALIZADO NO MUNICÍPIO DE JARDIM DO SERIDÓ-RN, COM DESTAQUE PARA A INDÚSTRIA DE VESTIMENTAS CAICÓ-RN 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CERES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA – DGC CURSO: GEOGRAFIA- BACHARELADO

GEANE SABINO DE MEDEIROS

O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO POVOADO CURRAIS NOVOS, LOCALIZADO NO MUNICÍPIO DE JARDIM DO SERIDÓ-RN,

COM DESTAQUE PARA A INDÚSTRIA DE VESTIMENTAS

CAICÓ-RN 2015

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GEANE SABINO DE MEDEIROS

O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO POVOADO CURRAIS NOVOS, LOCALIZADO NO MUNICÍPIO DE JARDIM DO SERIDÓ-RN,

COM DESTAQUE PARA A INDÚSTRIA DE VESTIMENTAS

Monografia apresentada ao Curso de Geografia da UFRN-CERES, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Bacharel em Geografia. Orientador: Prof. Dr. João Manoel de Vasconcelos Filho.

CAICÓ-RN 2015

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Catalogação da Publicação na fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistemas de Bibliotecas - SISBI

Medeiros, Geane Sabino de. O desenvolvimento econômico do povoado Currais Novos, localizado no município de Jardim do Seridó-RN, com destaque para a indústria de vestimentas / Geane Sabino de Medeiros. - Caicó, 2015. 60 f.

Orientador: Dr. João Manoel de Vasconcelos Filho.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ensino superior do Seridó. Curso de Geografia Bacharelado. 1. Desenvolvimento econômico. 2. Povoado Currais Novos . 3. Indústria de vestimentas. I. Vasconcelos Filho, João Manoel de. II. Título.

RN/UF/BSE07-Caicó CDU 338:677(813.2)

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GEANE SABINO DE MEDEIROS

O desenvolvimento econômico do povoado Currais Novos, localizado no município de Jardim do Seridó-RN, com destaque

para a indústria de vestimentas

Monografia apresentada ao Curso de Geografia da UFRN-CERES, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Bacharel em Geografia.

Aprovado em: ___ de _______________de_______.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________, Nota______.

Prof. Dr. João Manoel de Vasconcelos Filho- Orientador

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________, Nota______.

Prof. Dr. Gleydson Pinheiro Albano- Avaliador

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________, Nota_______.

Profª. Drª. Jeane Medeiros Silva- Avaliadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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Dedico este trabalho a todos que mim

ajudaram durante os quatro anos de

curso, em espacial aos meus pais, Gerino

e Inácia, os principais responsáveis por

minha existência.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus pelo dom da vida, por está sempre presente

nas minhas atitudes e me direcionar nas escolhas certas, por me dotar de saúde e

força para enfrentar os obstáculos e sabedoria para vencê-los, o Senhor é a razão

do meu viver.

Agradeço a meus pais, Gerino Verissímo e Inácia Sabino, pela compreensão

e apoio ao longo da minha caminhada acadêmica, sem eles não teria conseguido

chegar ao meu objetivo final, e por me ensinarem a não desistir diante das

dificuldades e buscar meus objetivos de forma honesta, sem querer ser melhor que

ninguém, apenas semelhante.

Agradeço aos meus irmãos, Jeandro Carlos, Jerusa Sabino e principalmente

a Alexandre José e sua esposa Samara Medeiros, pela acolhida em sua casa ao

longo do curso, pois como resido na zona rural não tinha como retornar para casa às

11 horas da noite. Sem a acolhida de vocês não teria conseguido concluir o curso.

Agradeço ao meu namorado, Basílio Nascimento, pelo apoio e compreensão

nos momentos em que eu não podia estar presente, pelos momentos de

descontração nas horas em que precisava me desligar de tudo.

Aproveito a oportunidade para agradecer a todos os meus professores do

Departamento de Geografia do Centro de Ensino Superior do Seridó, pelos

ensinamentos ao longo desses quatro anos de formação acadêmica, em especial ao

meu orientador, o professor doutor João Manoel de Vasconcelos Filho, por não ter

desistido de mim, mesmo não atingindo os resultados desejados no início da

pesquisa, agradeço pelos ensinamentos, pelas críticas e sugestões, sem suas

orientações não teria conseguido concluir minha pesquisa.

Agradeço aos meus colegas de curso pela convivência, principalmente a

Janaína Vale, Jane Pereira, Maria Sirlei e Talita Anachara, pelos vários trabalhos

realizados em grupo.

Novamente agradeço a Janaína Vale e Maria Sirlei, pela amizade construída

ao longo desses anos, pelos obstáculos que conseguimos superar, mas sempre com

humildade, pelas conversas, aventuras e pelas acolhidas no momento em que eu

não podia retornar para casa.

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Agradeço à professora Marinalva Sabino, pela contribuição no

desenvolvimento do trabalho, e aos funcionários da indústria de vestimentas do

povoado Currais Novos, pelas contribuições necessárias para atingir os resultados e

mediante esses resultados fazer minha análise final.

Enfim, agradeço a todos que direta ou indiretamente me ajudaram com

conhecimentos, sugestões e principalmente aos meus amigos e amigas que muitas

vezes me incentivaram a não desistir dos obstáculos e finalizar essa conquista.

A todos, muito OBRIGADA!

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RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo compreender e analisar o desenvolvimento econômico do povoado Currais Novos localizado no município de Jardim do Seridó-RN, com destaque para uma atividade econômica denominada indústria de vestimentas. A indústria de vestimentas é a prestação de serviços por meio de um contrato, sendo de responsabilidade da contratante a definição dos tecidos, modelagens e aviamentos que serão utilizados na produção realizada pela empresa contratada, esse processo ocorre por meio da terceirização dos produtos, em que os produtos são terceirizados para as grandes empesas da moda que atuam no estado do Rio Grande do Norte, dentre as quais pode-se citar: Hering, Guararapes e RM Nor. A indústria de vestimentas, que foi instalada na região do Seridó Potiguar no ano de 2001, tendo como cidade origem São José do Seridó, chegou à cidade de Jardim do Seridó no ano de 2003, no qual atingiu a zona rural do povoado Currais novos no ano de 2007 e permanece até a atualidade. Para entender como a indústria de vestimentas vem contribuindo para o desenvolvimento econômico do povoado Currais Novos, foi feita uma pesquisa de campo na área estudada e realizado um diálogo com os funcionários envolvidos na confecções das peças, mediante esse diálogo foi possível obter os resultados necessários para analisar os impactos que essa atividade econômica está causando à sociedade envolvida na produção e mediante as análises foram feitas algumas propostas para uma possível melhoria na forma de trabalho imposta pela indústria.

Palavras-chave: indústria de vestimentas, povoado Currais Novos, atividade

econômica.

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ABSTRACT

This research aim was to understand and analise the economic development of

Currais Novos village, located at Jardim do Seridó - RN, with the eminance to one

economic activity called garment industry. The garment industry are the service by

contract, being of the contractor the responsability the definition of the tissues,

modeling, goodwill that will be used on the production done by the contracted

company, this process occurs by the outsourcing of the products, on which the

products are outsourced for the greater companys of wear, including: Hering,

Guararapes e RM Nor. The garment industry, installed on the Seridó Potiguar in

2001, which initially established in São José do Seridó, arrives the Jardim do Seridó

town in 2003, in which reaches the rural zone of the Currais Novos village in the year

of 2007, where remains untill the present day. To understand how the garment

industry has been contributing to the economic development of Currais Novos

village, one field research was made on the studied area and performed one

dialogue with the employees involved with the garment making, due this dialogue

was possible get the necessary resultds to analise the impact of this economic

activity has causing in the society involved with the production and which analisys

was made some proposals for one possible improvement on the way of work

required by the industry.

Keywords: garment industry, Currais Novos village, economic activity.

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LISTA DE FIGURAS

01 - Mapa destacando Jardim do Seridó no Rio Grande do Norte______________16

02 - Mapa de Localização do Município de Jardim do Seridó-RN______________ 19

03 - Área Central do povoado Currais Novos______________________________21

04 - Praça pública Francisco José de Azevedo____________________________ 22

05 - Olaria de tijolo manual no município de Jardim do Seridó-RN_____________ 25

06 - Atividade Ceramista_____________________________________________ 26

07 - Ambiente de trabalho em uma indústria de vestimentas__________________35

08 - Prédio da ADESCO______________________________________________ 37

09 - Prédio onde funciona a DLM confecções_____________________________39

10 - Prédio com primeiro andar_________________________________________40

11 - Peças prontas para o transporte____________________________________ 41

12 - Estacionamento de motos na DLM confecções_________________________45

13 - Funcionários da DLM confecções___________________________________ 47

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LISTA DE GRÁFICOS

01 - Representação de onde reside os funcionários________________________46

02 - Tipo de gênero dos funcionários da DLM confecções____________________48

03 - Grau de escolaridade dos funcionários entrevistados____________________49

04 - Faixa etária dos funcionários_______________________________________50

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LISTA DE SIGLAS

ADESCO - Associação de Desenvolvimento Comunitário da Comunidade Currais

Novos

ADESE - Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó

ASCONF - Associação Seridoense de Confecções

CERES - Centro de Ensino Superior do Seridó

CETCM - Centro de Educação e Tecnologias Clóvis Motta

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

DETRAN - Departamento Estadual de Trânsito

FIERN - Federação das Indústria do Estado do Rio Grande do Norte

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMTECOT - Implantação de Tecnologias na Cotonicultura do Semi-árido

PRÓ-SERTÃO - Programa de Interiorização da Indústria Têxtil

RH - Recursos Humanos

SEBRAE - Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas

SENAI - Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial

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SUMÁRIO

RESUMO___________________________________________________________6

ABSTRACT_________________________________________________________7

LISTA DE FIGURAS__________________________________________________8

LISTA DE GRÁFICOS_________________________________________________9

LISTA DE SIGLAS__________________________________________________ 10

INTRODUÇÃO_____________________________________________________ 12

1 A DINÂNICA TERRITORIAL DO POVOADO CURRAIS NOVOS LOCALIZADO NO

MUNICÍPIO DE JARDIM DO SERIDÓ-RN _______________________________ 16

1.1 Localização e processo de ocupação do povoado Currais Novos___________18

1.2 Os fundamentos das mudanças das atividades econômicas e a inserção do

povoado Currais Novos nesse contexto__________________________________23

2 A EXPANSÃO DA INDÚSTRIA DE VESTIMENTAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES

PARA AS MUDANÇAS ESPACIAIS NO POVOADO CURRAIS NOVOS _______ 28

2.1 A expansão da indústria de vestimentas na região do Seridó potiguar_______30

2.2 A expansão da indústria de vestimentas no povoado Currais Novos_________37

3 A INSTALAÇÃO DA INDÚSTRIA DE VESTIMENTAS E SEUS IMPACTOS NA

QUALIDADE DE VIDA DA SOCIEDADE LOCAL __________________________41

3.1 Impactos provocados na estrutura social do trabalhador da indústria de

vestimentas do povoado Currais Novos__________________________________43

CONSIDEAÇÕES FINAIS ____________________________________________54

REFERÊNCIAS_____________________________________________________57

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INTRODUÇÃO

O espaço geográfico consiste em um produto social caracterizado por seu

dinamismo redundante. Os agentes sociais, políticos e econômicos, com interesses

diversos, modelam esse espaço por meio de suas ações e atividades, dentre as

quais o processo de industrialização, contribuindo para algumas atividades

econômicas ganharem destaque na região do Seridó Potiguar, devido à crise na

economia tradicional, dominada pelo binômio gado/algodão.

À medida que iam surgindo as necessidades de sobrevivência, novas

atividades foram criadas, ganhando destaque a atividade ceramista e,

principalmente, a indústria de vestimentas, que é o objeto de estudo dessa pesquisa,

uma atividade econômica que vem se desenvolvendo desde o início do século XXI,

nos municípios da região do Seridó Potiguar, por meio da terceirização, dos quais se

destacam os municípios de São José do Seridó, Jardim do Seridó e Acari.

Esta atividade econômica é abordada nessa pesquisa como “indústria de

vestimentas”, nome esse utilizado por um aluno do curso de Geografia bacharelado

do CERES- Caicó, Dorgivan Araújo Silva, que defendeu uma pesquisa nessa área,

no ano de 2012. Dorgivan afirmou que esse nome de indústria de vestimentas foi

sugerido pelo professor Diego Salomão, seu orientador da época; portanto procurei

também seguir adotando esse nome para a atividade, embora a mesma seja

denominada na região do Seridó Potiguar como “facção de costura”.

A indústria de vestimentas ou facção de costura é uma atividade econômica

ligada à indústria têxtil, que confecciona peças para as grandes empresas da moda,

a qual nos últimos anos, vêm contribuindo para um dinamismo na economia dos

municípios que a aderiram. No município de Jardim do Seridó, a indústria de

vestimentas contribuiu para o aumento na arrecadação municipal, para uma maior

oferta de empregos e renda, no qual provocando o aquecimento das atividades

comerciais, o que gerou um maior dinamismo à economia local.

Com relação ao povoado Currais Novos, local dessa pesquisa, a indústria de

vestimentas provocou transformações no seu espaço de produção. Uma

comunidade rural, que tinha uma economia voltada para a agricultura,

posteriormente para a cerâmica vermelha, mudou alguns de seus hábitos e adaptou-

se a uma estrutura voltada também para a indústria de vestimentas. Assim, houve

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não apenas uma reestruturação técnica da produção, mas a inserção de uma nova

atividade produtiva.

Portanto, essa pesquisa tem como objetivo mostrar como a indústria de

vestimentas tem influenciado o desenvolvimento econômico de uma região e a

transformação socioeconômica de um território, no caso do município de Jardim do

Seridó e, mais precisamente, o território socioeconômico do povoado Currais Novos.

Neste, o espaço de produção atende a uma demanda criada por uma indústria de

destaque a nível nacional, conhecida pela nomenclatura Hering, uma grande

empresa da moda que fabrica peças masculinas e femininas, tanto para adulto como

infanto-juvenil.

Para entender como essa economia influenciou no povoado Currais Novos, é

relevante associar os fixos e fluxos, tanto de pessoas como de objetos e capitais,

que provocam um novo modo de produção capaz de gerar impactos para a

sociedade envolvida nas etapas produtivas de confecção das peças, além de

aumentar o fluxo de pessoas que vem de outras localidades circunvizinhas para

trabalhar na indústria de vestimentas.

Com base nos estudos teórico-metodológicos e nos diálogos obtidos no

decorrer da pesquisa, foi possível estruturar a mesma em três capítulos: no primeiro

capítulo, foi destacado como ocorreu a origem e localização do município de Jardim

do Seridó, como também o processo histórico do povoado Currais Novos, desde sua

formação, até os dias atuais, de acordo com relatos obtidos pela professora do

povoado, Marinalva Sabino1. Além disso, discorre como ocorreu o desenvolvimento

de sua economia ao longo dos anos até chegar à indústria de vestimentas que se

transformou em uma das principais atividade econômica geradora de empregos no

povoado Currais Novos, principalmente para as mulheres.

No segundo capítulo, foi abordado como ocorreu a expansão da indústria de

vestimentas desde a expansão na região Nordeste, especificamente no estado do

Rio Grande do Norte, chegando à região do Seridó Potiguar com a terceirização de

grandes empresas da moda como a RM Nor, Hering e Guararapes, como também

foi abordada a expansão da indústria de vestimentas no povoado Currais Novos e

suas contribuições para a sociedade local.

1 Professora na Unidade Escolar Antônio Galdino de Azevedo e graduada em Psicopedagogia pela

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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No terceiro capítulo, foi abordado o processo de instalação da indústria de

vestimentas e seus impactos na qualidade de vida da sociedade local. Para obter os

resultados foi realizado um diálogo, através de formulários, com os funcionários

envolvidos no processo de confecção das peças, como também com o chefe de

produção, no qual ele explicou os procedimentos que aconteceram para essa

indústria permanecer em funcionamento desde o ano 2007. A partir desses diálogos

foram feitas algumas considerações sobre os impactos causados pela indústria de

vestimentas, no qual foi atribuído algumas soluções para diminuir as consequências

causada por essa atividade econômica a sociedade envolvida e ao ambiente de

trabalho.

A metodologia utilizada nessa pesquisa foi fundamentada em uma abordagem

dialética, a partir de uma pesquisa de campo no ambiente estudado entre agosto e

outubro de 2015 e do diálogo com as pessoas envolvidas na confecção das peças.

Portanto, foi adotado “o método dialético que propõe a penetrar no mundo dos

fenômenos por meio de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e

da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade” (DINIZ; SILVA, 2008,

p. 13).

Como a pesquisa foi realizada em uma área situada na zona rural, mas com

uma atividade econômica ligada ao meio urbano, se faz necessário considerar que

os avanços da ciência, da técnica e da informação se disseminaram de forma

desigual no espaço geográfico, tornando a dinâmica socioeconômica mais

complexa, o que dificulta a distinção entre o rural e o urbano no mundo

contemporâneo, principalmente após a chegada do processo de industrialização na

zona rural.

Para abordar os conteúdos citados no decorrer desta pesquisa, foi realizado

um levantamento bibliográfico através de livros, revistas, artigos, periódicos,

monografias, dissertações, além de alguns sites, bem como foi realizada uma

conversa com a professora da escola Antônio Galdino de Azevedo, localizada no

povoado Currais Novos, a qual contribuiu de forma bastante significativa com relatos

sobre o processo de origem e ocupação do povoado. Igualmente foram realizados

feito registros fotográficos com uma câmera digital Sony de alguns espaços do

povoado Currais Novos e do ambiente estudado.

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Para a elaboração dos mapas foi utilizada a fonte de acordo com o IBGE

(2010), sendo que o mapa de localização do município de Jardim do Seridó-RN foi

elaborado com base cartográfica da malha digital da CPRM, Imagem de satélite

LANDSAT 8, Sensor OLI, Órbita 215, Ponto 065, datada de 01 de Junho de 2013.

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1 A DINÂMICA TERRITORIAL DO POVOADO CURRAIS NOVOS, LOCALIZADO NO MUNICÍPIO DE JARDIM DO SERIDÓ-RN

O povoado Currais Novos, local desta pesquisa, está inserido no município de

Jardim de Seridó, localizado na microrregião do Seridó Oriental e na mesorregião

Central Potiguar, e limita-se: ao norte com Acari e São José do Seridó, ao sul com

Santana do Seridó e Ouro Branco, a leste com Carnaúba dos Dantas e Parelhas e a

oeste com Caicó, no qual a Figura 01 representa o município de Jardim do Seridó

localizado no estado do Rio Grande do Norte.

Figura 01 - Mapa destacando o município de Jardim do Seridó no Rio Grande do

Norte

Fonte: IBGE 2010 Elaboração: Geane Sabino, (outubro/2015)

Portanto, para o desenvolvimento desse trabalho é necessário primeiramente

conhecer o processo histórico do município em que o povoado Currais Novos está

inserido, desde seu processo de ocupação, que ocorreu no final do século XVII,

através de uma expedição, comandada por Domingos Jorge Velho, com a finalidade

de reprimir a revolta dos índios cariris na região.

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Segundo dados do IBGE (2010), O povoamento da região só ocorreu algum

tempo depois com a chegada do Sr. Antônio de Azevedo Maia, nos anos de 1770,

quando o mesmo comprou uma fazenda que pertencia ao Sargento Mor Alexandre

Nunes Matos, à qual deu o nome de Fazenda Conceição. Esta fazenda situava-se

próximo ao Rio da Cobra, onde foi surgindo um aglomerado de casas, que pertencia

à descendência do Sr. Antônio Azevedo Maia; este aglomerado de casas foi

crescendo e na época em que o mesmo veio a falecer, em 1802, a fazenda

Conceição já havia alcançando o desenvolvimento de vila.

Ainda, segundo dados do IBGE (2010), o município de Jardim do Seridó foi

desmembrado do município de Acari, em 1º de setembro de 1858, pela Lei nº 407;

sendo assim, o povoado de Conceição passou a município com a denominação de

Jardim, em virtude da existência de um belo jardim cultivado pelo Capitão Miguel

Rodrigues Viana. A vila de Jardim foi ganhando forma de cidade e seu aglomerado

de casas, aos poucos foi adquirindo um delineamento urbano. Em 27 de agosto de

1874 foi elevado à condição de cidade com a denominação de Jardim do Seridó,

pela Lei Provincial nº 703, para diferenciar de Jardim de Angicos.

Apesar de ganhar forma de cidade, as raízes históricas, políticas, econômicas

e culturais de Jardim do Seridó continuavam marcadas pela presença do espaço

rural, pois as atividades econômicas desenvolvidas na época eram principalmente a

pecuária e a agricultura de subsistência, atividades estas que dominaram a

economia da região do Seridó Potiguar durante décadas, além de terem sido

importantes para a organização socioespacial da região.

Para manter uma ligação com a cidade, as pessoas residentes nas fazendas

da região utilizavam as estradas ou os caminhos acidentados para circularem. O dia

da semana que havia uma maior circulação de pessoas era no sábado, dia em que

até hoje acontece a feira livre da cidade de Jardim do Seridó, além dos dias da festa

da padroeira Nossa Senhora da Conceição e do Sagrado Coração de Jesus. Na

feira livre, os agricultores aproveitavam o espaço para comercializar seus produtos,

comprar seus mantimentos, como também colocar em dia os assuntos sobre

acontecimentos na região.

Essa ligação, constatada pelo fluxo de pessoas entre o campo e a cidade,

existe até os dias atuais, o que se observa no povoado Currais Novos em relação à

cidade de Jardim do Seridó. Inicialmente, esses dois espaços eram ligados por uma

estrada que seguia os fios da rede de telégrafos. Essa estrada ligava as

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comunidades produtoras de cereais e outros produtos vindos do Brejo2, em direção

às comunidades e fazendas da região do Seridó, além de servirem como caminhos

para o transporte de mantimentos realizados em jumentos que abasteciam as

comunidades, como também nas conduções de boiadas para as fazendas dos

pecuaristas da região. Foi a partir da circulação de pessoas por essas estradas que

se originou o sítio Currais Novos.

Portanto, o objetivo de estudar a dinâmica territorial do povoado Currais

Novos é importante devido às transformações que ocorreram e vem ocorrendo em

seu âmbito espacial, social e econômico, por isso torna-se necessário estudá-la para

mediante os resultados obtidos entender como ocorreu seu desenvolvimento

econômico no decorrer dos anos. À medida que iam surgindo as necessidades de

inovação, novos espaços iam sendo criados e novas opções de emprego foram

geradas.

Sendo assim, o uso do território do povoado está ligado ao desenvolvimento

das economias que dominaram a região do Seridó Potiguar durante décadas,

inicialmente com a pecuária e a agricultura de subsistência, mas ao longo dos anos

com o processo de industrialização atuando na economia brasileira e as

necessidades de inovações, surgiu um processo de reorganização do território do

povoado, primeiramente com a atividade ceramista e mais tarde, com a indústria de

vestimentas, que contribuíram para sua formação industrial.

No decorrer desse capítulo, são analisados a localização e o processo de

ocupação do povoado Currais Novos, desde sua formação como sítio, passando

pelos fundamentos das mudanças nas atividades econômicas que impulsionaram o

desenvolvimento local, chegando aos dias atuais com uma atividade industrial, a

indústria de vestimentas.

1.1 Localização e processo de ocupação do povoado Currais Novos

O povoado Currais Novos está localizado no município de Jardim do Seridó, a

mais ou menos seis quilômetros da cidade e a 245 km da capital do estado, Natal,

estando inserido na microrregião do Seridó Oriental e na mesorregião Central

Potiguar, no estado do Rio Grande do Norte, sendo que o município de Jardim do

2 A palavra Brejo foi utilizada pela professora Marinalva Sabino em uma entrevista realizada para

essa pesquisa. A mesma, nesse caso, está relacionada à microrregião do brejo paraibano.

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Seridó possui uma extensão territorial de 367,645km², com uma população média de

12.115 habitantes, dos quais 2.280 residem na zona rural e 9.835 residem na zona

urbana, (IBGE, 2010). Já o povoado Currais Novos, segundo dados da professora

Marinalva Sabino, possui uma média populacional de aproximadamente 400

habitantes.

A Figura 02 representa a localização do município de Jardim do Seridó-RN,

onde o povoado Currais Novos está inserido na parte leste do município, ao lado

norte da RN 088 que liga Jardim do Seridó a Parelhas. O povoado limita-se ao norte

com o sítio Bananeiro e sítio Cachoeira Preta, ao sul com o sítio Curva do Padre e

sítio Cacimba Velha, ao leste com o sítio Passagem da Jaramatáia e o sítio Recanto

e ao oeste limita-se com o sítio Zangarelhas e o sítio Penedo. Devido a sua

extensão territorial, o povoado Currais Novos é considerado a maior e mais

populosa comunidade rural do município de Jardim do Seridó- RN.

Figura 02 - Mapa de localização do município de Jardim do Seridó – RN

Fonte: IBGE 2010 Elaboração: Geane Sabino, (novembro/2014)

Povoado Currais Novos

JARDIM DO SERIDÓ

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Segundo relatos da professora Marinalva Sabino, a origem do povoado

Currais Novos ocorreu a partir do Rio da Cobra, como era chamado inicialmente, e

que por entre a vegetação da caatinga do Rio da Cobra era possível observar a

permanência de sete casas, além da existência de duas estradas conhecidas como

a “estrada dos Matutos”, e a “estrada do fio”, essas estradas, ou variantes, como

eram chamadas, serviam de ligação entre as localidades que produziam os cereais

vindos da região paraibana para as comunidades e fazendas da região do Seridó

Potiguar, além de servirem como caminhos para os tropeiros3 transportarem em

jumentos seus mantimentos que abasteciam essas comunidades.

Marinalva Sabino ainda relatou que, durante o percurso de transporte e

condução, os tropeiros descansavam à noite em vários lugares, e um desses

lugares era o Rio da Cobra. Nessa localidade, existia um local propício para o

descanso, uns currais velhos localizados na propriedade do Sr. Gerôncio Sabino e

que servia também para a estadia dos animais, currais estes que estavam com

riscos de ir ao chão, fazendo com que os tropeiros descansassem em outras

localidades. Moradores da comunidade decidiram restaurar os currais para que os

tropeiros voltassem a descansar ali. Com a restauração dos currais, os tropeiros

disseram “Agora temos Currais Novos”.

Foi a partir dessa expressão, usada pelos tropeiros que a comunidade passou

a ser chamada de Currais Novos, extinguindo o nome de Rio da Cobra, como era

conhecida anteriormente. A comunidade teve como primeiros moradores o Sr.

Antônio Galdino de Azevedo e Dona Margarida Francelina de Jesus; após a morte

de ambos, as terras foram divididas para seus filhos, fato esse que ocasionou a

formação do sítio Currais Novos.

Como o processo de ocupação da região do Seridó Potiguar ocorreu a partir

da implantação das fazendas de gado, as quais foram sendo fixadas próximas às

margens dos rios, a ocupação do sítio Currais Novos também ocorreu dessa

maneira, no qual a primeira casa a ser construída foi a casa do Sr. Antônio Galdino,

erguida próximo às margens do Rio da Cobra, rio esse que corta o povoado na parte

norte, consequentemente, surgiu as casas de seus descendentes.

O surgimento da primeira vila do sítio Currais Novos ocorreu no ano de 1949

e teve como fundador o Sr. Francisco de Azevedo Medeiros, conhecido

3 Condutor de tropas de animais; condutor de bestas de carga. Disponível em:

http://www.dicio.com.br/tropeiro

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popularmente como “Bicho Velho”, sendo o mesmo neto do Sr. Antônio Galdino;

naquela época existiam apenas duas casas na localização atual da vila. Dizia Bicho

Velho que a primeira vila começou quando o mesmo montou uma Bodega4 para

alugar bicicletas e vender cocadas debaixo de uma craibeira5, e que com o passar

dos tempos, com o dinheiro que apurava, foi construindo um quarto para funcionar

sua Bodega. Portanto, no ano de 1950, quando o Sr. Francisco de Azevedo resolveu

casar-se com Dona Narciza, já existiam seis casas na vila, além de uma garagem e

de um armazém, onde o mesmo servia para armazenar os produtos da Bodega.

Com o passar dos anos, a vila foi crescendo e atualmente é possível observar

a permanência de várias residências, alguns pontos comerciais além de suas

repartições públicas, a exemplo da Unidade Escolar Antônio Galdino de Azevedo, o

posto de saúde Mãe Guilhermina e a creche Margarida Francelina de Jesus, além

da praça pública Francisco José de Azevedo em frente à capela de São João

Batista, conforme é representada pela Figura 03, a construção desses espaços

contribuíram para o desenvolvimento da comunidade, fazendo com que o sítio

Currais Novos, alcançasse a condição de povoado.

4 Pequeno armazém. Disponível em: http://www.dicio.com.br/bodega.

5 A craibeira tem como nome científico: Tabebuia aurea (Silva Manso), sendo uma árvore considerada

de grande porte, atingindo de 12 a 20m de altura. Copa com ramos terminais suberosos, tronco de 30 a 100cm de diâmetro, casca acinzentada, com fissuras e cristas descontínuas e sinuosa, possui fruto do tipo folículo, com sementes rosadas, achatadas, aladas, dispersas pelo vento, é mais encontrada nas margens de rios temporários do Nordeste semiárido. Disponível em: http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Crabeira,+caraibeira,+ip%C3%Aa-amarelo-do-cerrado&ltr+c&id perso=3953.

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Figura 03 - Área central do povoado Currais Novos.

Fonte: Marinalva Sabino, (abril/ 2011).

Nos últimos anos, um dos benefícios que o povoado Currais Novos recebeu,

foi a construção da praça pública, construída no ano de 2010, um sonho realizado

dos seus moradores: há muito havia sido prometida, mas nenhum prefeito tinha

conseguido verbas para a construção da mesma, portanto foi na administração do

então prefeito Padre Jocimar Dantas que a mesma foi construída. Em seu projeto foi

incluído paisagismo, pavimentação, parque infantil, iluminação pública, bancos,

coreto.

A praça pública, que está representada pela Figura 04, recebeu o nome do

fundador da vila, o Sr. Francisco José de Azevedo (Bicho Velho). Para a sociedade

de mais de 400 habitantes, a construção da praça significou um benefício não só

para embelezar o povoado, mas para servir de ponto de encontro entre os jovens,

como também um espaço de confraternização das famílias. Além de servir como

ponto turístico para a realização da parte social das festas do padroeiro São João

Batista e da co-padroeira Santa Luzia.

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Figura 04 - Praça pública Francisco José de Azevedo.

Fonte: Acervo pessoal, (agosto/ 2015).

O povoado Currais Novos possui na sua área central um espaço bem

desenvolvido, se comparado às demais comunidades rurais do município de Jardim

do Seridó, mas que teve o início de sua economia impulsionado pela agropecuária e

que ao longo de sua ocupação foi desenvolvendo outras atividades econômicas

como vai ser descrito na secção seguinte.

1.2 Os fundamentos das mudanças das atividades econômicas e a inserção do povoado Currais Novos nesse contexto

O desenvolvimento econômico do povoado Currais Novos acompanhou seu

processo de ocupação: iniciou a partir da pecuária e da agricultura de subsistência,

como as demais áreas da região do Seridó Potiguar, mas à medida que os anos

foram se passando a necessidade de sobrevivência foi exigindo outras fontes de

economias, surgindo, assim, a cotonicultura, no qual o homem passou a aproveitar o

solo que era desmatado para fins da criação da pecuária extensiva, para introduzir o

cultivo do algodão, uma técnica agrícola que dominou a economia do Seridó durante

décadas.

Embora tenha sido por meio das grandes fazendas de gado que o espaço

rural conseguiu atingir seu desenvolvimento econômico, foi através do cultivo do

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algodão que o mesmo avançou além das fronteiras municipais. Com relação ao

povoado Currais Novos, o algodão produzido era comercializado para outros

estados, sendo necessária a retirada do caroço do algodão para prensar e embalar

o produto. Feito isso, era vendido para a cidade de Campina Grande-PB:

No Seridó, enquanto o gado foi elemento fundamental à ocupação e aos alicerces da estrutura espacial, o algodão foi fator de consolidação desse processo inicial, extremamente eficiente no fortalecimento da construção do espaço enquanto região. Desenvolvida no espaço da fazenda como atividade complementar à pecuária, a cotonicultura compôs a base da economia regional através do binômio gado-algodão. A excepcional qualidade de sua fibra, o fez reconhecido internacionalmente, de modo que o algodão mocó foi mais que o principal produto da economia, foi o aporte da discursividade e das práticas políticas, símbolo da riqueza e da prosperidade regional (MORAIS, 2005, p. 04).

Até o início da década de 1970 a cotonicultura foi considerada uma das

principais economias da região do Seridó Potiguar, mas em meados dessa mesma

década essa cultura começou a entrar em crise no mercado externo, o que afetou o

preço dos produtos, além de uma espécie de besouro conhecida popularmente

como bicudo-algodoeiro6, que atingiu as lavouras de algodão, contribuindo para a

decadência da atividade algodoeira. Apesar de ser uma cultura que se desenvolvia

no espaço rural, sua produção contribuiu para o desenvolvimento regional, além de

influenciar na estruturação do espaço urbano, com a instalação das usinas de

beneficiamento de algodão.

Além do cultivo do algodão ter sido presença forte no povoado Currais Novos,

outra atividade econômica também se destacou ali na década de 1960: a extração

mineral, quando foram encontradas algumas jazidas de minérios como berilo,

columbita, mica e scheelita, mas que após um longo processo de exploração essa

atividade econômica veio a decair sua produção, ocorrendo o esgotamento das

jazidas.

Com a decadência da atividade algodoeira e da mineração, era preciso

encontrar outros meios para sobrevivência, já que nesse momento a agricultura era

utilizada como uma atividade complementar. A partir dessa situação veio a

6 O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) é um besouro da família dos Curculionidae, O

bicudo-do-algodoeiro é, entre as principais pragas do algodão, a de maior incidência e com maior potencial de dano. Esse destaque se dá em função de sua alta capacidade reprodutiva, do elevado poder destrutivo, da dificuldade de controle e também pelos danos causados ao produto final destinado à comercialização. Disponível em: http://www.painelflorestal.com.br/noticias/agronegocio/pragas-do-algodao-bicudo-do-algodoeiro

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necessidade de se explorar outros recursos naturais existentes nas várzeas dos rios

e pequenos açudes, a exploração desses recursos naturais fez surgir aos poucos

uma atividade econômica denominada como olarias, que eram a fabricação de

telhas e tijolos, um processo produtivo predominantemente manual.

No início das olarias, fabricava-se o produto para atender suas necessidades,

que eram a construção de suas moradias, mas à medida que a crise na agricultura

foi se prolongando, começou-se a produzir este produto para ser comercializado, o

que ocasionava alguma lucratividade para a sociedade que necessitava de algum

meio de produção para sobreviver, a Figura 05 ilustra uma olaria manual de tijolos

que era encontrada no povoado Currais Novos.

Figura 05 - Olaria de tijolo manual.

Fonte: Elisângelo Fernandes da Silva, (novembro/2007). Acervo da ADESE.

As olarias eram um trabalho manual que disponibilizava de poucos

empregados para realizar a produção, geralmente os trabalhadores eram pessoas

de uma mesma família, pois além de produzir pouco, o produto não era muito

valorizado, sua produção era mais para atender a demanda das construções do

município, no caso do povoado Currais Novos era possível observar a permanência

de olarias que fabricavam tijolos, mas principalmente as olarias que fabricavam

telhas manuais.

Em virtude de ser um trabalho de pouca lucratividade, aos poucos as olarias

foram cedendo espaço para uma atividade mais produtiva, no caso as cerâmicas,

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um sistema de produção bem mais eficiente que empregava mais funcionários e o

produto era feito em maior quantidade, um sistema que passou a atender a

demanda regional. Com a chegada da atividade ceramista na região do Seridó

Potiguar, o povoado Currais Novos também aderiu a esta atividade industrial.

Portanto, foi na década de 1990 que surgiram as cerâmicas em sua localidade.

A atividade ceramista trouxe consigo o enfraquecimento das olarias manuais

e deu um impulso à economia local: as pessoas que trabalhavam nas olarias

migraram para as cerâmicas em busca de uma melhor lucratividade, sendo que essa

atividade além de empregar mais pessoas e produzir matéria-prima em maior

quantidade, como representa a Figura 06, também dava mais lucros, tanto para os

funcionários como, principalmente, para o proprietário da mesma.

Figura 06 - Atividade ceramista.

Fonte: Acervo pessoal, (Maio/ 2015).

Portanto. A atividade ceramista é um trabalho que depende de energia

elétrica para movimentar as máquinas, além de uma maior quantidade de recursos

minerais (argila) e insumo energético (lenha) para manter sua produção: gera cerca

de 40 empregos diretos e indiretos, uma atividade econômica instalada no espaço

rural que contribuiu para a diminuição do êxodo rural e influenciou na dinâmica

socioespacial da região do Seridó Potiguar. Nesse contexto, podemos observar o

desenvolvimento do meio técnico-científico-informacional, onde a técnica e a ciência

passaram a caminhar juntas.

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O meio técnico- científico informacional é a nova cara do espaço e do tempo. É aí que se instalam as atividades hegemônicas, aquelas que têm relações mais longínquas e participam do comércio internacional, fazendo com que determinados lugares se tornem mundiais (SANTOS, 2008, p.41).

O produto que antes era comercializado em uma escala regional, passou a

avançar além das fronteiras estaduais, intensificando o reconhecimento do lugar,

pelo qual o produto é produzido. Atualmente é possível observar a permanência de

duas cerâmicas no povoado Currais Novos, que geram emprego e renda para a

sociedade, um trabalho assalariado que oferece emprego, não só para a classe

masculina da comunidade, mas também envolve a classe masculina das localidades

circunvizinhas, contribuindo para o aumento do fluxo de pessoas que circulam

diariamente no povoado.

Na década de 1990 também surgia uma atividade econômica no povoado

ligada ao artesanato, desta vez era um trabalho oferecido às mulheres, um trabalho

que teve o apoio da Associação de Desenvolvimento Comunitário da Comunidade

Currais Novos (ADESCO), no qual foi desenvolvido no prédio da associação, o

bordado à máquina. As mulheres, para tal fim, tinham um curso de capacitação para

aprender a bordar e mediante o aprendizado iam bordar para um representante de

Caicó-RN, que comercializava o produto final.

Na comunidade já existiam outros artesanatos, mas o bordado a máquina foi

o que gerou mais renda para as mulheres, apesar de não ser um trabalho

assalariado, as mesmas lucravam uma certa quantia após a finalização das peças

encomendadas, essa atividade econômica ainda existe no povoado, embora em

menor quantidade, devido ao surgimento da indústria de vestimentas, a maioria das

mulheres preferiram optar pôr ir trabalhar nessa atividade industrial.

Atualmente, o desenvolvimento econômico do povoado Currais Novos gira

principalmente em torno da atividade ceramista e a da indústria de vestimentas, que

movimentam a economia local e fazem com que haja a permanência de alguns

pontos comerciais na comunidade, mas como esse trabalho vai ser elaborado a

partir de uma análise sobre a indústria de vestimentas, é o que vou abordar no

segundo e terceiro capítulos, iniciando o segundo capítulo com uma revisão sobre o

processo de industrialização no Brasil e, no decorrer do capítulo, falando sobre a

expansão da indústria de vestimentas e suas contribuições para a sociedade local.

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2 A EXPANSÃO DA INDÚSTRIA DE VESTIMENTAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA AS MUDANÇAS ESPACIAIS NO POVOADO CURRAIS NOVOS

Para compreender como aconteceu a expansão da indústria de vestimentas e

suas contribuições no ambiente estudado, é necessário que se entenda

primeiramente como ocorreu o processo de industrialização no Brasil e o espaço

que o mesmo foi construindo ao longo dos anos, espaço esse que é denominado de

espaço urbano.

Portanto, o espaço urbano no Brasil foi se desenvolvendo à medida que as

pessoas migravam do campo para a cidade em busca de melhores condições de

trabalho, processo histórico denominado êxodo rural, pois até a metade do século

XX a maior parte da sociedade brasileira era considerada rural. Os espaços rurais,

ao longo dos últimos anos foram se, esvaziando demograficamente, fazendo com

que os espaços urbanos aumentassem seu dinamismo socioeconômico.

Dois pontos devem ser indicados. Primeiramente por ser um reflexo social e fragmentado, o espaço urbano, especialmente o da cidade capitalista, é profundamente desigual: a desigualdade constitui em característica própria do espaço urbano capitalista. Em segundo lugar, por ser reflexo social e porque a sociedade tem sua dinâmica, o espaço urbano é também mutável, dispondo de uma mutabilidade que é complexa, com ritmos e natureza diferenciados (CORRÊA, 2005, p. 08).

Quando se fala que o espaço urbano é fragmentado, articulado, reflexo e

condicionante social, isto quer dizer que existe um dinamismo movimentando este

espaço a partir das relações encontradas no seu cotidiano, decorrente de um

acúmulo de capital que provoca transformações na sociedade, à medida que os

eventos históricos acontecem, dão origem a novos espaços e novas oportunidades

vão sendo geradas.

O processo de industrialização no Brasil deu origem a novos espaços e a um

novo momento na economia brasileira, o qual começou a se desenvolver no final do

século XIX, e, até o início do século XX, as indústrias não passavam de pequenas

oficinas. Portanto, foi a partir da década de 1930, durante o governo de Getúlio

Vargas, que esse processo de industrialização começou a ganhar destaque,

contribuindo para um número crescente de inovações tecnológicas que

transformaram a organização da sociedade brasileira.

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Apesar de todas essas inovações tecnológicas ter se concretizado

tardiamente, foi justamente durante esse período que a indústria têxtil brasileira se

fortaleceu e teve condições para que a industrialização se efetivasse, esse momento

contribuiu para a economia exportadora brasileira se incorporar no emergente

capitalismo monopolista mundial: “A internacionalização da cadeia têxtil em todos os

continentes amplia os espaços de atuação e os mercados, o que ocasiona a

indústria têxtil a apresentar uma tendência de expansão na economia mundial”

(VIANA, 2005, p. 13).

No Nordeste, entre os fatores que contribuíram para o desenvolvimento da

indústria têxtil, ganha destaque o cultivo do algodão e a disponibilidade de mão de

obra barata, ambos fizeram com que a mesma desempenhasse um importante papel

na geração de empregos entre as décadas de 1960 e 1970; as principais atividades

desenvolvidas em relação a essa economia eram a fiação e a tecelagem. Os

estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia, nessa época, eram os que

mais se destacavam.

Com relação ao estado do Rio Grande do Norte, algumas empresas no ramo

da indústria têxtil ganharam destaque: a Guararapes, com sede em Natal e a

Coteminas, com sede em Minas Gerais e filial em Natal. O grupo Guararapes é uma

das empresas mais representativas ligadas à indústria têxtil que conseguiu

sobreviver no estado do Rio Grande do Norte, apesar das crises enfrentadas por

este setor.

O processo histórico do grupo Guararapes, iniciou no ano de 1947, quando

os irmãos Nevaldo e Newton Rocha resolveram abrir uma loja de roupas, a qual

recebeu o nome de A Capital, localizada em Natal-RN. Alguns anos depois o grupo

resolveu investir nesse ramo e implantou uma pequena confecção em Recife-PE.

Em outubro do ano de 1956, os irmãos Nevaldo e Newton Rocha fundaram a

Guararapes, em Recife-PE, e dois anos depois sua matriz foi transferida para Natal-

RN, com a inauguração de sua primeira fábrica, que se mantém até os dias de hoje.

Com esse processo de industrialização atuando na economia brasileira e as

inovações tecnológicas atingindo os mais variados lugares, no início do século XXI a

indústria têxtil ganhou destaque no estado do Rio Grande do Norte. No semi-árido

Potiguar, notadamente no Seridó, em função da retração econômica pela

perspectiva do binômio gado/algodão, começam a se instalar outras atividades

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econômicas como alternativas à crise da economia tradicional, representada pela

pecuária e pela exportação do algodão.

Surge assim, outras formas de geração de emprego como a produção da

atividade ceramista na década de 1990, além da indústria de vestimentas na década

de 2000. Esta atividade econômica confecciona peças para as grandes empresas da

moda, em que as mesmas chegam em caminhões que circulam de segunda a

sábado para abastecer as pequenas unidades de produção, elas já vêm cortadas e

com uma modelagem padrão a ser seguida. Além disso, tem-se um controle de

qualidade baseada na etiquetagem para montar cada peça. Essas pequenas

unidades fabris só realizam esta etapa da produção de confecções. Passada essa

fase, as peças retornam para as grandes empresas para o acabamento final.

Essa atividade econômica é também conhecida por facção de costura, mas

que é abordada nessa pesquisa como indústria de vestimentas, e conceituada como

sendo a prestação de serviços industriais ou comerciais, por meio de contrato,

efetuado por esta (a contratada) a terceiros (a contratante) e que envolve uma ou

mais etapas na confecção do produto.

Seu processo de funcionamento ocorre com a indústria de vestimentas

retirando da contratante os insumos necessários como tecidos, botões e linhas, já

preparados para a produção das peças, tornando-se responsabilidade da

contratante a definição dos tecidos, modelagens e aviamentos que serão utilizados

na produção. Esta descrição demonstra como se estruturou e, posteriormente, se

expandiu esse tipo de atividade na região do Seridó Potiguar, fato este que será

abordado na próxima secção.

2.1 A expansão da indústria de vestimentas na região do Seridó potiguar

Essa indústria de vestimentas foi inserida na região do Seridó potiguar no

início dos anos 2000, tendo como origem o município de São José do Seridó,

instalada por meio do empresário Simão José de Medeiros. Isto ocorreu devido ao

enfraquecimento da produção de bonés. Sendo assim, o referido empresário buscou

apoio do SENAI para dar o primeiro treinamento capacitando costureiros. Em 2001,

surgiu a Camisaria São José, pequena empresa que confeccionava camisas para a

empresa RM Nor, em parceria com as marcas Lacoste, Siberian e Colombo.

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Com o crescimento da produção de camisas para a empresa RM Nor, as

facções de costura começaram a se destacar nessa região, o que ocasionou um

deslocamento industrial de uma grande empresa do Estado de Santa Catarina, que

tem sua sede em Blumenau, no caso a Cia Hering; esta empresa foi fundada em

1880 pelos irmãos Bruno e Hermann Hering e que, ao longo dos anos, procurou

sempre inovar nas suas coleções; atualmente, a Cia Hering possui cinco marcas em

seu portfólio, dentre as quais pode-se citar: a Hering, Hering for You, Hering Kids,

PUC e DZARM.

A Companhia Hering foi instalada na cidade de Parnamirim, estado do Rio

Grande do Norte no ano de 2000, mas suas atividades só começaram a produzir no

ano de 2001; com o objetivo de obter vantagens logísticas e reduzirem seus custos,

a Hering decidiu descentralizar parte de sua produção para pequenas empresas, por

meio da terceirização das etapas produtivas:

Terceirização é a técnica administrativa pela qual uma organização, para alcançar ganhos de produtividade, concentra suas energias em suas atividades vocacionais – as denominadas atividades-fim – contratando empresas especializadas e idôneas para a execução das necessárias atividades de apoio. Logo: sem idoneidade e especialização não haverá Terceirização (LEIRIA, 2006, p. 81 apud. CUNHA, 2015, p. 16).

Para que haja a terceirização dos produtos da empresa contratante, é

necessário que se imponha algumas regras, que se incluam planejamento, eficiência

e, principalmente, alta qualidade. Portanto, para atender às necessidades dos seus

fornecedores, a indústria de vestimentas teve que se adaptar as exigências de cada

empresa, incluindo equipamentos modernos para aumentar a produção e melhorar a

qualidade das peças confeccionadas, além de investir em treinamentos

consecutivos, haja vista a grande competitividade existente no mercado.

Além da Cia Hering, a empresa RM Nor também seguiu nessa linha da

terceirização, ambas localizada no município de Parnamirim; conseguiram atingir

parte da economia dos municípios da região Seridó Potiguar, e com o passar dos

anos essas empresas ganharam forças e houve ascensão nessa área, o que tornou

esse ramo econômico um dos grandes produtores de emprego e renda para essa

região, principalmente para os municípios menores.

A indústria de vestimentas tem contribuído para o alcance de uma posição de

destaque no estado Potiguar, em que parte desses empregos se deve ao

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desenvolvimento de facções de costura com relevância, principalmente, para a

região Seridó, com destaque para os municípios de Acari, Jardim do Seridó e São

José do Seridó que é onde está a maior concentração desses serviços.

A cidade de Jardim do Seridó desde a década de 1970 já possuía uma

atividade econômica ligada à indústria têxtil. Devido à expansão de uma empresa

com sede em Natal-RN, denominada CONFECÇÕES SORIEDEM, resolveu

implantar uma unidade de confecção que produzia peças masculinas no município

de Jardim do Seridó. A mesma recebeu o nome de SORIEDEM JARDIM S/A. No

decorrer dos anos de 1970 a 1980, essa atividade econômica chegou a ofertar uma

média de mais de 200 empregos diretos à sociedade jardinense.

Mas, por volta da década de 1990, as atividades da SORIEDEM JARDIM S/A

vieram a decair sua produção, onde em alguns anos depois ocorreu o fechamento

dessa atividade econômica. Na década de 1990, foram abertas pequenas fábricas

que confeccionavam peças em pequena quantidade, foi quando por volta do início

do século XXI, começou a se instalar no município de Jardim do Seridó outra

indústria de vestimentas denominada facção de costura, dessa vez ia ocorrer o

processo de terceirização por meio de uma empresa contratante, no caso a Cia

Hering.

No município de Jardim do Seridó essa indústria de vestimentas foi instalada

no ano de 2003, pelo então empresário Janúncio Azevedo, que se iniciou como

sócio do empresário Alécio Alves; mas com o tempo ocupou seu espaço junto à

Hering e hoje é dono de vários grupos de facção de costura na cidade, que

confeccionam peças não só para a Hering, mas também para a Guararapes.

Janúncio Azevedo falou um pouco sobre a produção, que começou com 50 peças

por dia. Ultimamente, sua produção é quase 20 vezes maior.

O começo foi difícil. Como éramos a única facção da cidade, tivemos dificuldade no abastecimento de mercadorias. Tínhamos que se deslocar até a Hering, em Parnamirim, e buscar as peças para costurar ou então pagar frete. Hoje a empresa vem deixar e buscar as peças diariamente aqui”. “Também qualificamos todo mundo do zero. Os trabalhadores aprenderam a operar a máquina de costura na própria empresa, com a ajuda do Senai, acrescenta (TRIBUNA DO NORTE, 2013).

Graças aos avanços tecnológicos necessários para o crescimento dessa

indústria de vestimentas, tornou-se possível prever uma escala produtiva para cada

empresa; para isto, são utilizadas várias técnicas, o que ocasiona um melhor

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rendimento e uma qualidade que serve de exemplo para as indústrias de

vestimentas de outras cidades e até de outros estados. Portanto para a mesma

conseguir se manter no mercado, ela precisa investir em Recursos Humanos, além

de equipamentos modernos e treinamentos adequados para atender às

necessidades de seus clientes.

Como a globalização está contribuindo para que não haja mais distância entre

os lugares, as empresas que abastecem as indústrias da região do Seridó Potiguar

com matéria-prima, utilizam um sistema eletrônico, disponibilizando todos os dados

das peças que serão confeccionadas e, por meio desse sistema, as mesmas

monitoram todo o processo desenvolvido, desde a entrada da peça na empresa até

o momento de sua saída.

Cabe a cada empresa local desenvolver um sistema de produção eficaz,

cronometrando o tempo de todas as operações que uma peça precisa para ser

confeccionada e daí se ter uma média de quantas peças se pode produzir por:

minuto, hora, semana, mês, e repassar essa projeção para as empresas

fornecedoras. A partir dessa projeção a empresa fornecedora saberá monitorar o

abastecimento para as pequenas empresas.

A indústria do ramo de confecções estabelece relações com empresas do

mesmo ramo e com outros setores, modificando a dinâmica socioeconômica no

espaço onde se encontra inserida. A partir do momento em que essas empresas

entram em atividade, estabelecem uma série de relações inter empresariais, tanto

com o poder público, como com associações e sindicatos. Estas relações fazem

parte do cotidiano das empresas, que precisam receber as matérias primas,

transportar a produção, negociar com sua mão de obra, para obter algum diferencial

no mercado.

Para um melhor desempenho da indústria de vestimentas, alguns

empresários do setor faccionista do município de Jardim do Seridó, juntamente com

os faccionistas de vários municípios da Região do Seridó Potiguar resolveram criar

uma Associação em abril de 2004, denominada de Associação Seridoense de

Confecções (ASCONF). Este grupo possui mais de 20 faccionistas do Seridó

associados, e seu objetivo é conseguir grandes benefícios para os empresários que

fazem parte dessa associação.

A partir da criação dessa associação, o setor da indústria de vestimentas

tornou-se mais consistente e conquistou mais espaço junto à Cia Hering, através de

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reuniões em que os faccionistas reivindicam melhor abastecimento, para que

possam melhorar a produção, por exemplo. Por meio da associação, os empresários

trocam idéias conjuntas para melhorar o desempenho do setor, buscam aprimorar

seus conhecimentos por intermédio de cursos que envolvem todas essas empresas

do grupo das facções de costura, participando de consultorias e avaliações que

ocorrem constantemente.

Depois de uma década de implantação dessa economia na região do Seridó

Potiguar, o governo do estado do Rio Grande do Norte resolveu apoiar essa

atividade econômica e, no ano de 2013, a então governadora do estado, Rosalba

Ciarlini, criou um Programa de Interiorização da Indústria Têxtil denominado de

PRÓ-SERTÃO, em parceria com a FIERN e SEBRAE-RN, que tem como objetivo

estruturar e aprimorar o trabalho das facções de costura, com apoio em áreas como

gestão, qualificação de mão de obra e crédito.

O programa é realizado com grandes empresas que recebem incentivos

fiscais e formam uma rede de negócios com os pequenos empresários da região do

Seridó Potiguar. O grupo Guararapes é uma das principais empresas que apoia

essa iniciativa. O PRÓ-SERTÃO foi lançado em agosto de 2013, mas seus

resultados pretendem ser alcançados até o final de 2018.

Portanto. A Figura 07 representa um ambiente de trabalho de uma indústria

de vestimentas, em que para essa empresa montar e finalizar uma peça deve-se

seguir uma sequência, que se inicia com o recebimento da matéria prima pelo

fornecedor, em seguida ocorre a separação das peças de acordo com a ficha

técnica que explica as operações que deverão ser executadas pelos funcionários, a

montagem correspondente às peças dianteiras e as trazeiras, que após finalizadas

são unidas para o acabamento, depois que a peça fica pronta é feita a limpeza, ou

seja, a retirada dos fiapos e, em seguida, são revisadas, terminada todas essas

etapas, as peças são empacotadas para o transporte.

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Figura 07 - Ambiente de trabalho em uma indústria de vestimentas

Fonte: Acervo pessoal, (agosto/2015)

Para uma unidade da indústria de vestimentas atingir sua meta de produção

diária é necessário que se contrate ao menos 30 funcionários para atuar nas

variadas funções; isso tem contribuído para o crescimento dessa atividade

econômica no município de Jardim do Seridó. Com isso, observa-se uma

estabilidade econômica na sociedade jardinense, que antes não tinha muitas

oportunidades de emprego. As facções de costura eram encontradas só na zona

urbana de Jardim do Seridó; foi quando, em 2007, ela chegou à zona rural, e atingiu

o povoado Currais Novos, através do ex-costureiro e hoje empresário Daniel Lúcio.

O que se pode observar atualmente é que as mudanças do espaço não

ocorreram apenas na área urbana, elas estenderam-se também à área rural. Por

isso, entre campo e cidade não se pode afirmar, para o caso do município de Jardim

do Seridó, que há diferenças significativas quanto à utilização da técnica de

produção industrial. O povoado Currais Novos não deixou de ser um espaço rural,

mas foi introduzido nele, alguns elementos encontrados no espaço urbano fazendo

com que a sociedade se adaptasse a um modo de vida diferente do rural:

A partir das transformações do campo dificultou-se uma definição precisa sobre ele, o que foi acentuado pelo método de análise da “urbanização do campo”. Para essa perspectiva todo o rural está assumindo feições urbanas, o que tende ao desaparecimento de tal território pela homogeneização aos moldes urbanos (PONTE, 2004, p. 27).

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A indústria de vestimentas provocou transformações no espaço de produção

do povoado Currais Novos, um espaço rural onde seus moradores, principalmente

as mulheres, não tinham muitas opções de emprego, mudaram-se os hábitos e

adaptaram-se a uma outra estrutura, voltada para um trabalho assalariado. Em

média, essa atividade econômica emprega uma quantidade de funcionários que não

são todos habitantes da comunidade, gerando um fluxo de pessoas que vem das

comunidades circunvizinhas para trabalhar na indústria.

Esses fluxos de pessoas movimentam a dinâmica espacial do povoado

Currais Novos e ocasiona uma relação com os fixos já existentes, o que se leva a

compreender que “O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e

também contraditório, de sistemas de objetos (fixos) e sistemas de ações (fluxos),

não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá”

(SANTOS, 2006, p. 39).

Além de ser um conjunto de sistemas que não atua isoladamente no ambiente

ele modifica o espaço geográfico de uma maneira geral, dando origem a novas

espacialidades e, por vezes, fazendo outras retraírem-se causando transformações

na sua dinâmica socioespacial, com isso, há contribuições para que o espaço rural e

o urbano se tornem cada vez mais interligados. Essas ligações ocorrem em virtude

dos avanços tecnológicos que estão tornando os espaços naturais cada vez mais

espaços tecnificados.

Sendo assim, dentro desse novo espaço formado por sistemas de objetos e

sistemas de ações, surge o que entendemos de espaço urbano, movido pelos fluxos

que movimentam o espaço, e os fixos que transformam esse espaço em

urbanizados, construídos a partir do capitalismo para a circulação de uma nova

economia, um espaço que antes tinha um determinado uso, com as transformações

ocorridas passa a ser utilizados para outros fins.

É o que aconteceu com o espaço do povoado Currais Novos, primeiramente

com a atividade ceramista e, posteriormente, com a instalação da indústria de

vestimentas. O processo de industrialização ocupou o povoado através da

mecanização, de forma que o mesmo não ofereceu trabalhos voltados só para a

agricultura, economia essa que era tradicionalmente utilizada no meio rural e que

com o passar dos anos vem perdendo sua força, tornando uma atividade

complementar, principalmente com a crise no setor agrícola devido às longas

estiagens e à falta de investimentos por parte dos governantes.

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Esses acontecimentos que estão ocorrendo no espaço rural são importantes

para atender as necessidades de sua sociedade, sendo a indústria de vestimentas

uma das alternativas para melhorar as necessidades do povoado Currais Novos, a

qual trouxe investimentos para a economia local, e modificou sua dinâmica

socioespacial através da geração de emprego e renda. Assunto a ser tratado na

secção seguinte.

2.2 A expansão da indústria de vestimentas no povoado Currais Novos

A primeira indústria de vestimentas que foi inserida no povoado Currais Novos

no ano de 2007 recebeu o nome de DMG Medeiros & Azevedo, iniciou-se

produzindo calças brim7, mas com o passar dos anos passaram a produzir o mais

variado tipo de peças, essa empresa se instalou em um prédio que é da associação

da comunidade a Associação de Desenvolvimento Comunitário da Comunidade

Currais Novos (ADESCO) como pode ser observado na Figura 08, fundada em 1986

a partir da união de agricultores locais.

Figura 08 - Prédio da ADESCO

Fonte: Acervo pessoal, (agosto/2015)

7 É o mesmo nome usado para jeans.

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Antes da indústria de vestimentas ser instalada funcionava, nesse prédio,

uma outra atividade econômica ligada ao bordado a máquina, realizada por algumas

mulheres da comunidade, que surgiu no final da década de 1990, mas, ao longo dos

anos as mulheres foram comprando suas próprias máquinas e passando a bordar

em casa, ocasionado o esvaziamento do prédio, foi quando surgiu a possiblidade da

instalação da indústria de vestimentas por intermédio do então empresário e

conselheiro da ADESCO na época, Daniel Lúcio, além de o mesmo ter contado com

o apoio de SENAI:

O conselheiro da ADESCO, Daniel Lúcio Medeiros de Azevedo, conta que como a associação não teve como bancar toda a estrutura, foi necessário aderir ao projeto IMTECOT (Implantação de Tecnologias na Cotonicultura no Semiárido), do SENAI-RN, e fazer convênios com empresas. “As empresas entraram para nos dar supor- te”, afirma. Em 2007 a associação passou a fazer parte do Imtecot, parceria do SENAI-RN com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq). Daniel diz que o projeto foi a força que faltava. “Nós conhecemos o Imtecot quando um consultor do SENAI, Graco Aurélio, fazia uma consultoria em Jardim do Seridó, e mostrou esse projeto ao empresário Alécio Alves, que disse que conhecia uma associação que o receberia bem, então ele trouxe Graco à

comunidade e começamos a desenvolver o projeto” (Revista da

Indústria/RN, 2013, p. 26).

O processo de fabricação das peças com a marca Hering, iniciou com uma

média de 20 funcionários, que tiveram um curso de capacitação para aprender a

costurar; a maioria sendo mulheres jovens e solteiras. No início não foi fácil, mas

com o esforço do grupo, deu certo e logo começou a procura por emprego, desta

vez a maioria eram mulheres casadas, além de alguns homens, como também

pessoas de outras comunidades vizinhas que queriam trabalhar na indústria de

vestimentas.

Nesse momento, a economia do povoado já ganhava novo impulso para os

funcionários que trabalhavam na fábrica e recebiam em media um salário mínimo

desde que a empresa contratante enviasse matéria prima para produzir, pois os

funcionários sempre trabalham por produção, depende-se do abastecimento de

peças, que são ocasionados seus mediante salários, ou seja, pode ocasionar mês

em que os mesmos recebem um salário mínimo, pode ocasionar mês em que mais

de um salário ou menos.

A partir dessa procura por emprego na indústria de vestimentas, o empresário

Daniel Lúcio resolveu abrir uma outra empresa, mas para que isso acontecesse foi

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necessário à construção de um novo galpão, no qual está representado pela Figura

09, a partir da criação desse novo espaço é que a dinâmica socioespacial do

povoado realmente começou a se modificar, e em novembro de 2009 se iniciava

mais um curso para a capacitação de novos costureiros(as). Surgia a DLM

confecções, outra empresa que ia confeccionar peças para a Hering.

Figura 09 - Prédio onde funciona a DLM

Fonte: Acervo pessoal (agosto/2015)

No povoado Currais Novos, antes da indústria de vestimenta chegar, já existia

certa infraestrutura formada: uma capela, uma unidade escolar, uma quadra de

esporte, mercadinho e bares. Em 2010 foi construída a tão sonhada praça, e com a

construção do novo galpão para a outra indústria de vestimentas, teve-se um

dinamismo da economia local, pois foram surgindo alguns pontos comerciais que

modificaram seu espaço de produção.

O empresário Daniel Lúcio, pensando no desenvolvimento do povoado,

construiu um prédio vizinho ao que funciona a DLM confecções, como pode ser

observado na Figura 10, onde na parte térrea funcionava a loja de calçados da sua

esposa Maria Isabel, com o objetivo de quando os funcionários recebessem seu

salário se dirigirem até a loja para realizar suas compras, além de um primeiro

andar com três apartamentos para os funcionários que morassem fora e quisessem

residir próximo ao local de trabalho teriam uma opção.

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Figura 10 - Prédio com primeiro andar.

Fonte: Acervo pessoal (agosto/2015).

A construção desse prédio, que estar representado pela Figura 10, contribuiu

para a geração de uma nova atividade econômica no povoado Currais Novos,

devido ao proprietário do estabelecimento passar a lucrar com os aluguéis, que

foram ofertados, como também, passou a ser gerado uma renda, por parte da loja

de calçados, situada na parte térrea. Esse dinamismo econômico influenciou para

que uma porcentagem do salário que os funcionários da DLM Confecções recebem

no final do mês, ficasse investido no espaço do povoado.

A indústria de vestimentas estabelece relações de fluxos e de trabalho que

modificam a dinâmica socioespacial de uma área pela localização e fluidez das

etapas produtivas realizadas por suas atividades. A dinâmica das relações

existentes nessa indústria está relacionada com as condições e características

econômicas atuais e fazem com que o povoado Currais Novos dependa de outras

relações, sejam elas locais, regionais e nacionais para que seu desenvolvimento

econômico possa acontecer.

Portanto, até o início de 2015 funcionava no povoado Currais Novos, as duas

indústrias de vestimentas, foi quando em abril desde ano ocorreu o fechamento da

DMG Medeiros & Azevedo, ficando funcionando só a DLM Confecções. Mas, devido

o número de pessoas qualificadas, atualmente, já está em funcionamento uma nova

indústria de vestimentas no prédio da ADESCO, mas que, em agosto de 2015 essa

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indústria ainda não era cadastrada. Por isso para se atingir os resultados e fazer as

análises da pesquisa, foi realizado um diálogo com os funcionários da DLM

confecções, e que será abordado no capítulo seguinte.

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3 A INSTALAÇÃO DA INDÚSTRIA VESTIMENTAS E SEUS IMPACTOS NA

QUALIDADE DE VIDA DA SOCIEDADE LOCAL

A instalação da indústria de vestimentas no povoado Currais Novos gerou

transformações na sua dinâmica socioespacial, haja vista a quantidade de pessoas

envolvidas nas etapas produtivas. Para que se consiga atingir a meta diária de

produção na indústria, é necessário que se tenha pelo ao menos uma quantidade de

30 funcionários produzindo em ritmo acelerado, desde a parte inicial de montagem

até a parte final da revisão e empacotamento das peças para o transporte, quando

as mesmas devem ser separadas por tamanho, como apresenta a Figura 11.

Figura 11 - Peças prontas para o transporte.

Fonte: Acervo pessoal, (agosto/2015).

Quando a indústria de vestimentas está se instalando em um ambiente, as

pessoas que vão exercer as atividades passam por um treinamento completo que

dura em média um mês: aprendem como colocar a linha na máquina, além de

treinarem as variadas funções que são exercidas na produção de montagem e

fechamento da peça, geralmente esse treinamento acontece com o apoio do SENAI,

mas quando uma pessoa entra para a indústria de vestimentas já em

funcionamento, seu treinamento dura em média uma semana e aos poucos essa

pessoa vai se adaptando à produção exercida no ambiente de trabalho.

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As máquinas de costura utilizadas no funcionamento da indústria de

vestimentas do povoado Currais Novos foram cedidas pelo projeto de Implantação

de Tecnologias na Cotonicultura do Semi-árido (IMTECOT), executado pelo SENAI,

sob a coordenação do pesquisador Bhaskara Canan, do Centro de Educação e

Tecnologias Clóvis Motta (CETCM), com o objetivo de promover a capacitação

necessária para iniciar uma pequena produção de peças confeccionadas para as

grandes empresas da moda, neste caso para a Cia Hering.

De início, a produção acontecia só com as máquinas cedidas pelo IMTECOT,

à medida que a produção foi aumentando, o empresário Daniel Lúcio, foi comprando

outras máquinas. Para montar sua segunda empresa, a DLM Confecções, Daniel

Lúcio já teve condições de comprar seu próprio maquinário; as marcas mais

encontradas dentro do ambiente de trabalho são: Siruba, Singer, Nissin, máquinas

importadas, sendo revendidas para o empresário por meio de representantes

comerciais.

Existem vários tipos de máquinas, desde as mais simples que realizam

costura reta, além das que trabalham com mais de uma agulha, como a

pespontadeira, overlok, interlok, máquina de braço, máquina de pregar cós; também

há as máquinas que fazem o acabamento da peça, como o travete, que é para

prender a costura e pregar os passantes e a caseadeira. Há pouco tempo foi

introduzida na indústria a máquina que realiza a limpeza das peças, retirando os

fiapos que são adquiridos ao longo da produção. Antes da compra dessa máquina

as peças eram limpas manualmente:

O papel que as técnicas alcançaram, através da máquina, na produção da história mundial, a partir da revolução industrial, faz desse momento um marco definitivo. É, também, um momento de grande aceleração, ponto de partida para transformações consideráveis (SANTOS, 2006, p. 112).

Como a indústria de vestimentas funciona no povoado por produção, ou seja,

o salário é pago de acordo com a quantidade de peças produzidas, ocorre que em

determinados meses a produção confere ao trabalhador o recebimento de uma

quantia superior a um salário mínimo vigente no Brasil. Entretanto, ocorre também

determinados meses que se produz menos. Sendo assim, este trabalhador recebe

menos de um salário mínimo neste mês em que a produção for menor.

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Esta variação salarial está diretamente condicionada à quantidade de peças

que a empresa contratante faz as facções de costura. Por sua vez, o modelo

estipulado por essas unidades fabris seguem a lógica exclusiva da produção. Não

há um salário definido que não varie em função das necessidades das grandes

empresas têxteis, que terceirizam sua produção. Se desobrigam, de ter

responsabilidades diretas sobre o trabalhador, passando esse custo para as facções

de costura e seus empresários.

Mediante esse fornecimento, é estipulada uma meta para cada funcionário de

quantas peças serão fabricadas no decorrer do dia e no decorrer de uma hora; é de

responsabilidade do chefe de produção passar de hora em hora coletando quantas

peças foram feitas; portanto, se chegar o final do dia e o funcionário não tiver

atingido a meta diária, ele fica depois do horário repondo as peças que faltaram.

Essa meta de produção diária depende muito da modelagem que deve seguir,

pois uma peça básica dá para confeccionar por hora uma média de 55; ao final do

dia, seriam produzidas um total de 495 peças, mas como há um desconto de 15

minutos para os funcionários lancharem é pedido ao final do dia uma média de 480

peças para cada função, caso uma peça tenha mais detalhes, se torna mais difícil de

a montagem, contribuindo para a diminuição da quantidade de peças produzidas no

decorrer do dia.

Na ficha técnica que acompanha a matéria-prima para ser confeccionada vem

explicado passo a passo como deve montar a peça, com seus detalhes e o tipo de

linha que deve ser usada em cada costura, é de responsabilidade do chefe de

qualidade ler toda a ficha técnica para saber quais os procedimentos que cada

funcionário irar realizar na função exercida; é também de responsabilidade do

funcionário ler essa ficha, mas geralmente isso não acontece, muitas vezes por falta

de tempo do próprio funcionário.

Portanto, para chegar ao objetivo final dessa pesquisa, foi feita visita de

campo no ambiente de trabalho da indústria de vestimentas envolvida, como

também foi realizado uma conversa com os funcionários envolvidos na produção,

mediante essa conversa foi possível chegar aos resultados para a finalização do

trabalho com será abordado na secção seguinte.

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3.1 Impactos provocados na estrutura social do trabalhador da indústria de vestimentas do Povoado Currais Novos

Partindo do pressuposto de realizar uma pesquisa de campo no ambiente

estudado para descobrir os impactos causados pela indústria de vestimentas no

povoado Currais Novos, como também os impactos causados aos funcionários

envolvidos na produção, foi observado o horário de funcionamento da indústria, em

que os funcionários trabalham nove horas por dia e que é distribuído da seguinte

forma: a entrada ocorre às 7:00 h da manhã com um intervalo para o lanche às 9: 00

h, retornando às 9: 15 h, trabalhando-se até às 12:00 h; para-se para o almoço e

retorna-se novamente às 13:00 h, encerrando-se o expediente de trabalho às 17:00

h.

Quando começou a funcionar essa indústria no povoado, os horários não

eram muito respeitados por alguns funcionários, mas após a instalação do ponto

eletrônico os funcionários procuram sempre chegar no horário, pois caso cheguem

atrasados no final do mês será descontado no seu salário; o ponto eletrônico

funciona da seguinte forma: ele é colocado em um local da fábrica e a cada chegada

e saída do funcionário do local de trabalho, ele deve se dirigir até o ponto e bater o

cartão, como é chamado.

Após cada expediente de trabalho, considerando desde a chegada até a

saída dos funcionários do local de trabalho é possível observar um fluxo de pessoas

gerado no local, tornando o espaço com movimentação durante algumas horas do

dia, principalmente na área central do povoado Currais Novos. Como já foi citado no

decorrer do trabalho, essa atividade econômica gera um fluxo de pessoas não só do

povoado, mas também das comunidades circunvizinhas. A Figura 12 representa

bem esse fluxo, pois existe certa quantidade de motos estacionadas ao lado da

indústria nos horários de trabalho.

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Figura 12 - Estacionamento de motos na DLM confecções.

Fonte: Acervo pessoal, (agosto/2015).

Quando a indústria de vestimentas se instalou no povoado, era raro ver motos

estacionadas em frente à indústria, o que se observava mais era estacionamento de

bicicletas, mas aos poucos as bicicletas foram sendo substituídas pelas motos e

momento atual, graças à produção, os funcionários foram conseguindo investir em

novas formas de mobilidade, principalmente do seu local de moradia ao trabalho, o

que ocasionou a construção desse espaço representado pela Figura 12 para

estacionar as motos:

As facções trouxeram mais uma renda para a região. E, por mais que sejam salários mínimos, isso aumenta o consumo e toda a economia acaba se beneficiando. O dinheiro gira”, diz o empresário Luís Armando Alves da Silva, dono de uma loja de motos em Caicó. A loja, que funciona há 11 anos, tem como principais clientes mototaxistas, mas costureiros que trabalham na cidade e em vizinhas, como São José do Seridó, Jardim do Seridó e Acari, também compram. Dados estatísticos da frota, disponibilizados pelo Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN/RN), mostram que o número de motocicletas e motonetas nessas três cidades mais que dobrou nos últimos oito anos. Dezenas delas estão estacionadas em frente às facções (TRIBUNA DO NORTE, 2013).

O que comprova que as facções como é citada nessa reportagem, mas que é

abordada no decorrer da pesquisa como indústria de vestimentas, tem contribuído

para o dinamismo das áreas envolvidas nessa atividade; no entanto, dos 32

funcionários que excutam os trabalhos na DLM confecções, 24 possuem motos, mas

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nem todos vão com elas para o trabalho, devido o fato de alguns morarem próximo

ao local de trabalho.

O número de motos existentes em frente ao prédio da DLM confecções é

mais concentrado aos funcionários que moram fora dos limites do povoado Currais

Novos e trabalham na indústria de vestimentas; esses funcionários que se deslocam

de suas comunidades todos os dias pela manhã e retornam pela tarde, no final do

expediente, atinge um número de mais de 30%, conforme se vê no Gráfico 01.

Gráfico 01 - Representação de onde residem os funcionários.

Fonte: Elaboração da autora, (outubro/2015).

Sendo assim, a distância das comunidades onde os funcionários residem

varia muito: há alguns funcionários que chegam a atingir seis quilômetros de

distância em relação ao povoado. O que contribui para essas pessoas se

deslocarem de segunda a sexta para trabalhar no povoado é a falta de emprego

assalariado oferecido a elas em suas comunidades pois, não tendo outra opção de

emprego, o trabalho ofertado pela indústria de vestimentas torna-se uma alternativa.

Ao conversar com os funcionários, perguntei se o ambiente trabalho é

satisfatório, se são oferecido equipamentos de segurança. Eles responderam que

sim, o que incomoda às vezes é o calor, haja vista que a ventilação é feita por

ventilador e não atinge todos os lugares da indústria, eles também estão conscientes

que é um trabalho que pode ocasionar problemas de saúde, mas que é de

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responsabilidade do empresário oferecer os equipamentos de segurança

necessários aos seus funcionários, tais como protetores auriculares, devido ao

barulho que as máquinas provocam, máscaras devido a quantidade de pêlos que

existe no ambiente de trabalho, como também é de responsabilidade dos

funcionários trabalharem calçados devido eventuais descargas elétricas.

A Figura 13 representa os funcionários da DLM confecções exercendo suas

funções, onde é possível observar um funcionário calçado e usando protetor

auricular, mas também é possível observar outro funcionário sem máscara, o que

não poderia acontecer devido eventuais problemas de saúde. Em um diálogo com o

chefe de produção da indústria de vestimentas eu perguntei se esse caso não

estava em desacordo com o Ministério do Trabalho e ele respondeu que o ministério

exige o uso de máscaras para as pessoas que trabalham em algumas máquinas

específicas, não são todos que têm a obrigação de usar.

Figura 13 - Funcionários da DLM confecções.

Fonte: Acervo pessoal, (agosto/2015).

Nesse ambiente, é possível observar um maior número de mulheres

exercendo as variadas funções, por isso ao analisar o quadro dos funcionários que

trabalham na empresa DLM confecções, constatou-se que mesmo sendo um

trabalho que oferece vagas para ambos os gêneros, a procura é bem maior por

parte das mulheres em relação aos homens quanto à procura por emprego na

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indústria de vestimentas, pois de um total de 32 funcionários, apenas oito são

homens, o equivalente a 25% do total, como representa o Gráfico 02. Um fator que

contribui para esse resultado é devido o povoado também oferecer outro tipo de

trabalho assalariado para os homens que é atividade ceramista, não frequentemente

extendida às mulheres.

Gráfico 02 - Tipo de gênero dos funcionários da DLM confecções.

Fonte: Elaboração da autora, (outubro/2015).

As mulheres estão ganhando seu espaço no ambiente de trabalho, pois há

tempo atrás os homens, principalmente os que moravam na zona rural não, queriam

que suas mulheres deixassem sua casa para trabalhar fora, é tanto que quando a

indústria de vestimentas foi instalada no povoado Currais Novos, eram

pouquíssimas as mulheres casadas que procuraram emprego e hoje esse quadro

inverteu, pois o número de mulheres casadas é superior ao número de mulheres

solteiras.

A classe masculina, também está aumentando nesse ambiente de trabalho,

aos poucos os homens estão deixando o marxismo de lado, e aprendendo a

costurar. Dentro da indústria de vestimentas, existem algumas máquinas que são

consideradas pesadas para ser operadas, portanto, é mais aconselhável que quem

exerça as funções impostas por estas máquinas, seja a classe masculina, outra

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função que também é de exclusividade da classe masculina exercer, é a de

mecânico, devido cada indústria existe um mecânico, para consertar as máquinas.

Outro ponto a ser destacado no ambiente de trabalho foi com relação ao grau

de escolaridade dos funcionários envolvidos nas etapas produtivas, que é bem

variado, pois apresentam índices desde o nível baixo, como o ensino fundamental

incompleto, até o nível superior completo, mas que é considerado uma minoria, pois

de todos os funcionários apenas um possui nível superior; portanto, o nível que

apresenta um maior percentual é o nível médio completo, como pode ser observado

pelo Gráfico 03.

Gráfico 03 - Grau de escolaridade dos funcionários entrevistados.

Fonte: Elaboração da autora, (outubro/2015).

Ao analisar o Gráfico 03, percebe-se uma quantidade superior de funcionários

com um o Ensino Médio completo que atinge mais de 50%, mas que não desejam

tentar um curso superior, muitas vezes por já ser casado(a) e se sente satisfeito com

o salário que recebe no final do mês, trabalhando na indústria de vestimentas: em

segundo lugar fica o Ensino Fundamental incompleto, mas já com um percentual de

21%, uma vez que esse percentual está representado pelos funcionários com idades

mais avançadas que não tiveram oportunidade de concluir seus estudos, depois vêm

o Ensino Médio incompleto com 19% e por último vêm o Ensino Superior completo,

com apenas 3% do total o que equivale a apenas um funcionário, que possui esse

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grau de ensino, mas que está nesta atividade, por falta de opção no mercado de

trabalho.

Haja vista a necessidade de estudo para conseguir um bom emprego

atualmente no mercado de trabalho, dessa maneira pude observar que a indústria

de vestimentas não está contribuindo muitas vezes para que os jovens avancem em

seu potencial, pois quando um jovem conclui o ensino médio e começa a trabalhar

na indústria, fica só com o horário da noite para estudar, o que se torna cansativo e

muitos não tentam investir na sua carreira profissional.

Já com relação à faixa etária dos funcionários envolvidos na produção da

indústria de vestimentas, foi possível analisar que há uma faixa etária bastante

variada, principalmente com relação as mulheres, já que em comparação com os

homens esse número não varia tanto, pois os homens que procuram trabalho na

indústria se encontram na faixa etária entre 20 e 30 anos, devido a existência de

uma atividade ceramista no povoado; o Gráfico 04 representa a faixa etária dos

funcionários de ambos os sexos que prestam serviço na indústria de vestimentas

localizada na povoado Currais Novos.

Gráfico 04 - Faixa etária dos funcionários.

Fonte: Elaboração da autora, (outubro/2015).

A faixa etária dos funcionários que prestam serviços variam muito, sendo que

o destaque fica para os funcionários com idades entre 20 e 30 anos, atingindo 47%,

em segundo lugar fica os funcionários com idades entre 30 e 40 anos, atingindo um

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percentual de 31%. Com relação aos funcionários abaixo de 20 anos vale, ressaltar

que esta idade vai dos 20 até os 16 anos, devido ser a partir dessa idade que é

assinada a carteira do funcionário, e que atinge os 13%; já com relação aos

funcionários com mais 40 anos vale ressaltar também que são poucos, atingindo os

9%, ou seja, três trabalhadores da amostra total.

Um dos fatores que contribui para a procura de pessoas mais jovens por

emprego na indústria de vestimentas é justamente a questão de o empresário ter a

obrigação de assinar a carteira do funcionário assim que ele entrar na produção,

devido a qualquer momento o Ministério do Trabalho fazer uma visita na indústria.

Com a carteira assinada, o funcionário tem direito a receber férias e décimo terceiro,

geralmente esse décimo terceiro vem em uma boa hora, pois no período de início de

ano a quantidade de peças produzidas é menor, e então o funcionário não atinge o

valor de um salário mínimo por produção.

Em uma de minhas perguntas, questionei qual profissão os funcionários

exerciam antes de ir trabalhar na indústria de vestimentas; muitas das mulheres

responderam que bordavam, mas que por não ser uma atividade lucrativa elas

optaram por ir costurar; já os homens responderam que trabalhavam nas cerâmicas,

mas que devido ser uma atividade muito pesada e ter que trabalhar ao sol quente,

eles também optaram por ir costurar.

É um trabalho que contribui para a manutenção de uma pessoa, mais não

necessariamente para a manutenção de uma família que tem filhos para sustentar,

pois foi observado que as mulheres casadas que trabalham na indústria de

vestimentas, geralmente seus maridos trabalham na atividade ceramistas, já os

homens que trabalham na indústria são solteiros e o que ganham são para sua

manutenção pessoal, só um ou dois homens que exerce outras funções como

mecânico, por exemplo, ganham seu salário fixo, têm condições de sustentar uma

família.

Portanto, a indústria de vestimentas apresenta impactos positivos e negativos

que podem ser citados de acordo com o diálogo obtido pelos funcionários, dos quais

eles procuraram destacar mais os impactos positivos, destacando-se a geração de

emprego e renda para as pessoas que exercem esse trabalho, devido ser um

trabalho assalariado com carteira assinada, que disponibiliza os direitos trabalhistas

aos envolvidos, além de ser um trabalho que gera dinamismo na economia local e

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que avança além dos limites municipais, como também influencia o fluxo de pessoas

que movimentam o ambiente.

Embora os funcionários não se dêem conta dos impactos negativos que a

indústria de vestimentas causa, pode ser citado a mão de obra que apesar de as

vezes ganharem mais de um salário mínimo, se torna barata pela quantidade de

peças produzidas. Também pode-se destacar a questão de problemas de saúde,

pois os funcionários não citaram, mas é bom lembrar que esse trabalho além de

causar problemas auditivos e respiratórios também pode causar problemas de

coluna, principalmente para as pessoas que passam nove horas por dia sentados

em uma mesma posição.

Os funcionários deveriam ter mais cuidados com sua saúde, caso contrário,

poderão adquirir sérios problemas que comprometerão sua qualidade de vida, e

portanto, sua saúde. Os mesmos deveriam exercer alguma atividade física, mesmo

sem ser em academia, já que no povoado Currais Novos não tem nenhuma, pois ao

perguntar se eles exercem alguma atividade física, alguns responderam que depois

do expediente pratica alguns exercícios, mas são poucos, a maioria respondeu que

não praticam exercícios. Nesse sentido, a própria empresa deveria apresentar um

programa de atividade física para os seus funcionários, antes de iniciar suas

atividades.

Até o momento, ainda não foi constatado ninguém com problemas de saúde

grave ocasionado pela indústria de vestimentas do povoado Currais Novos, o

Ministério do Trabalho exige que o funcionário, ao entrar na indústria se submeta a

exames médicos e quando ele é despedido também tem precisa fazer novos

exames para ver se não é diagnosticado algum problema de saúde. São medidas

exigidas pelo ministério do trabalho, mas que deveria ser tratada com mais rigor por

parte dos empresários.

O empresário depende muito de seus funcionários para poder lucrar com

seus negócios, cabe a ele tratá-los como merece e, pelo que eu observei na DLM

Confecções, os funcionários não tem problemas com seu patrão, mas também não

há um contato muito próximo entre eles, haja vista a ausência do mesmo no local de

trabalho, onde ele só vai lá para resolver algum problema da empresa; já que ele

mora próximo ao prédio da indústria, poderia passar lá para cumprimentá-los; como

também poderia ouvir e dialogar com os mesmos, para construir uma relação melhor

e, portanto, sentir mais de perto suas necessidades.

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É notório que existe uma relação dos donos das empresas contratantes com

os empresários das empresas contratadas, mas não uma ligação com as pessoas

envolvidas na montagem das peças, essas pessoas são obrigadas a produzirem

várias quantidades de peças por dia, muitas vezes por valores baixos, ocasionando

uma desvalorização por parte da empresa contratante. Durante o período que

realizei a pesquisa, no ambiente de trabalho pude observar que, às vezes, os

funcionários tinham que produzir 480 peças por dia para ganhar R$ 40,00 (quarenta

reais). É muita produção para pouco reconhecimento.

Mas os funcionários afirmam que é melhor assim do que se não tivessem

esse trabalho, pois no início desse ano de 2015 os funcionários da indústria de

vestimentas do povoado Currais Novos passaram por um momento complicado

devido à falta de abastecimento por parte da empresa contratante, onde o que eles

produziam não dava para atingir um salário mínimo, foi quando em março ocorreu o

fechamento da DMG Medeiros & Azevedo no povoado; algumas pessoas ficaram

desempregada, o que ocasionou o funcionamento só de uma fábrica, mas essa

situação já foi resolvida e atualmente o abastecimento para a DLM confecções está

controlado, os funcionários estão conseguindo produzir mais de um salário mínimo e

já tem outra indústria em funcionamento empregando os funcionários que eram da

DMG Medeiros & Azevedo.

Esse é um ponto a ser pensado, pois quando os funcionários dizem que estão

satisfeitos com o trabalho que atuam, é bom lembrar que não é um trabalho com

salário fixo; portanto, a partir do momento que entrar uma crise nesse setor de

vestimentas esse trabalho pode acabar. Espera-se que essa indústria de

vestimentas ainda contribua por muitos anos com a economia do povoado e que se

um dia houver um esgotamento dessa produção, os principais envolvidos encontrem

outras soluções para continuar esse desenvolvimento no povoado Currais Novos.

Mas se espera também que melhores condições salariais e de trabalho

possam ser contemplados, pois o que se paga pela produção exercida por parte dos

trabalhadores é insuficiente para lhes garantir melhores condições de vida a esses e

também a suas famílias. Aprisionados pelas carências da região, pela escassez de

emprego e também por falta de uma melhor qualificação, esses operários se

sujeitam a tais condições aqui relatadas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi estudado sobre o processo de industrialização no Brasil,

mas principalmente pelos estudos, entrevistas e registros realizados ao longo dessa

pesquisa, pode-se afirmar que a indústria de vestimentas é uma atividade

econômica ligada à indústria têxtil que vêm contribuindo para o dinamismo

socioeconômico da região do Seridó Potiguar, no decorrer dos últimos 15 anos.

Essa atividade, que se originou com uma pequena produção na cidade de São José

do Seridó, hoje atinge grande parte dos municípios da região do Seridó Potiguar, no

qual produz um alto volume de peças para as principais empresas da moda.

A importância da indústria de vestimentas é verificada por ser uma atividade

que gera empregos, renda e impostos municipais, além de estabelecer relações de

fluxos e de trabalho que influenciam na dinâmica socioeconômica pela localização e

fluidez das etapas produtivas realizadas por suas atividades. Desta forma, essas

relações fazem com que o espaço geográfico seja em parte organizado sob a

influência dessa atividade que reorganiza a vida da sociedade envolvida nas etapas

produtivas.

Portanto, a indústria de vestimentas têm contribuído para o crescimento

econômico do povoado Currais Novos como foi abordado no decorrer da pesquisa,

uma localidade situada na zona rural do município de Jardim do Seridó, que está se

tornando um espaço artificializado com suas técnicas e objetos modernos, através

do processo de globalização que está ligando os mais variados lugares com as

tecnologias avançadas, hoje é possível observar esses avanços ao transitar pelo

povoado.

Essas relações se concretizam pelas atividades desenvolvidas no trabalho e

na produção, fazendo com que grandes empresas multinacionais estabeleçam

contatos diretos e indiretos com essas pequenas indústrias de vestimentas.

Poderíamos até arriscar a criar uma análise comparativa. Pois se no Brasil, as

montadoras de automóveis trabalham com essa lógica de reunir e montar as peças

prontas para se obter um produto final, no caso dessas facções de costura, a lógica

é a mesma, as peças vêm prontas e aqui elas são unificadas em uma só peça

através do trabalho das costureiras e costureiros.

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Esses avanços estão acontecendo, isto é notório; mas a indústria de

vestimentas têm contribuído para que isso ocorra, principalmente quando é citado na

pesquisa que a faixa etária que mais se destaca entre os funcionários exercendo os

trabalhos de costura, está entre 20 e 30 anos, são pessoas consideradas jovens e o

que ganham são para suas despesas pessoais, se não tivessem uma renda mensal

ao final do mês, não teriam condições de manter suas despesas e usufruírem de

certos elementos da modernidade que estão presentes na vida dessas pessoas,

dentre eles podemos citar motocicletas, antena de internet e de parabólica, além de

celulares modernos, notebook, entre outros.

Em defesa da indústrias de vestimentas, as pessoas beneficiadas afirmam

que é uma fonte de emprego muito importante no povoado, devido ser uma atividade

que não apresenta um grau de escolaridade específico para exercer as variadas

funções que são oferecidas no ambiente de trabalho, que basta saber operar uma

máquina e já está empregado.

Mas é por esse motivo de não apresentar um grau de escolaridade para

trabalhar na indústria de vestimentas, que essas pessoas envolvidas na confecção

das peças são obrigadas a exercer uma mão de obra barata, e que por essas

pessoas trabalharem por produção, há meses em que o abastecimento de peças de

roupas, por parte da empresa contratante, diminui.

Sendo assim, os trabalhadores passam a receber menos que um salário

mínimo, incidindo diretamente sobre sua qualidade de vida, notadamente no que

tange ao consumo de gêneros básicos. Acreditamos que deveria haver um

consenso por parte do empresariado local para que no mês que os funcionários não

conseguissem atingir um salário mínimo ele completasse o salário, ou então fizesse

um acordo com a empresa contratante de pagar um salário mínimo todo mês,

independente da queda do quantitativo que fora produzido neste período de baixo

movimento.

Seria o momento oportuno por parte da classe empresarial se aproximar mais

do corpo de funcionários, criando condições para uma melhor relação de

convivência do empresário com seus funcionários, para mediante essa aproximação

os funcionários mostrarem suas opiniões a respeito do trabalho e buscar mais

valorização por sua mão de obra, ouvindo assim críticas e sugestões para que

venham ocorrer melhorias no ambiente de trabalho bem como na vida dos

trabalhadores como um todo. Superando alguns pontos negativos que a indústria de

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vestimentas apresenta dentre os quais pode citar: mão-de-obra-barata, possíveis

problemas de saúde. Entendendo que soluções imediatas não são possíveis de

resolvê-los, daí a necessidade de um longo e contínuo diálogo entre as partes

envolvidas.

Também é bom lembrar que a indústria de vestimentas é uma atividade que

gera emprego e renda para os municípios e que está se expandindo na região, é

momento de pensar em um possível esgotamento de peças no futuro não muito

distante, já que essa atividade econômica está alcançando todos os recantos, e se

os principais responsáveis não tomarem providências que possam suprir as

atividades da indústrias de vestimentas, a sociedade, principalmente a do povoado

Currais Novos poderá voltar a conviver com o problema da falta de emprego,

principalmente para as mulheres que se beneficiam dela.

É necessário que o empresário não veja a indústria de vestimentas como

uma fonte lucrativa só para ele, que a partir do momento que houver um

esgotamento na produção das peças para as grandes empresas da moda a exemplo

da Hering, Guararapes e RM Nor, o empresário busque apoio através dos órgãos

governamentais, para dar continuidade ao processo de expansão da indústria, onde

uma solução seria atribuir outros meios para se manter no mercado de trabalho,

poderia se pensar em criar uma marca própria para essa facção, no caso a DLM

confecções, pois já que as máquinas são do próprio empresário, é só ele investir

nesse setor e não deixar que o desenvolvimento do povoado volte a andar a passos

lentos.

Portanto, o objetivo desse trabalho foi mostrar sua importância no momento

em que se percebe uma lacuna considerável na literatura científica local,

notadamente no que diz respeito ao fenômeno urbano. Mas também torna-se

relevante por contribuir para dar visibilidade aos questionamentos que se

apresentam cotidianamente nas nossas comunidades, principalmente em cidades

interioranas, longe dos grandes centros, e que nem sempre são contempladas por

estudos de diversas naturezas. Finalmente, esse trabalho pode servir de referência

para estudos e projetos por parte do poder municipal no sentido deste desenvolver

políticas públicas para a melhoria dos espaços dessa sociedade contemplada por

esse estudo

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