gazeta de fisica vol. 27 (2004) fasc. 2 - spf

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Física Sociedade Portuguesa de Física Gazeta de Volume 27 | Fascículo II | 2004 | Publicação Trimestral | 5,00 € A TEORIA DA RELATIVIDADE EM PORTUGAL NO PERÍODO ENTRE AS GUERRAS Augusto Fitas UMA INESPERADA CURVA UNIVERSAL Eduardo Martinho O PROFESSOR QUE PODIA TER SIDO ARQUITECTO Entrevista com Artur Marques da Costa

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Page 1: Gazeta de Fisica Vol. 27 (2004) Fasc. 2 - SPF

FísicaSociedade Portuguesa de Física

Gazeta de

Volume 27 | Fascículo II | 2004 | Publicação Trimestral | 5,00 €

A TEORIA DA RELATIVIDADE EMPORTUGAL NO PERÍODO ENTREAS GUERRASAugusto Fitas

UMA INESPERADA CURVA UNIVERSAL

Eduardo Martinho

O PROFESSOR QUE PODIA TERSIDO ARQUITECTO

Entrevista com Artur Marques da Costa

Page 2: Gazeta de Fisica Vol. 27 (2004) Fasc. 2 - SPF

GAZETA DE FÍSICA VOL. 27 FASC. I1, 2004

DIRECTOR Carlos FiolhaisDIRECTORAS ADJUNTAS Constança Providência | Lucília BritoEDITOR Carlos Pessoa

CORRESPONDENTES Paulo Crawford (Lisboa),Joaquim Santos (Coimbra) e João Pedro Araújo (Porto)

COLABORAM AINDA NESTE NÚMEROAugusto José Fitas, Eduardo Martinho, Fernando Mendes,Fernando Nogueira, Filipa Viola, Florbela Meiresles, GraçaSantos, Guilherme de Almeida, José António Paixão, JoséCarvalho Soares, José Dias Urbano, Manuel Fiolhais, Mariada Conceição Abreu, Ricardo Figueira,Vitor Gil.

SECRETARIADOMaria José Couceiro (Lisboa) e Florbela Meireles (Coimbra)

DESIGNMediaPrimer - Tecnologias e Sistemas Multimédia LdaRua Simões de Castro, 132, 1º Esq.3000-387 CoimbraE-mail [email protected]

PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃOCarvalho & Simões, Artes Gráficas, LdaEstrada da Beira 479 / Anexo3030-173 Coimbra

TIRAGEM 1800 exemplares

PREÇOS Número avulso 5,00 € (inclui IVA).Assinatura anual 15,00 € (inclui IVA).A assinatura é grátis para os sócios da SPF.

PROPRIEDADE DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE FÍSICA

ADMINISTRAÇÃO E REDACÇÃOAvenida da República 37-4º 1050-187 LisboaTel 217 993 665 Fax 217 952 349E-mail [email protected]

ISSN 0396-3561REGISTO DGCS nº 107280 de 13.05.80DEPÓSITO LEGAL nº 51419/91PUBLICAÇÃO TRIMESTRAL

A Gazeta da Física publica artigos, com índole de divulgação, con-siderados de interesse para estudantes, professores e investigado-res em Física. Deverá constituir também um espaço de informaçãopara as actividades da SPF, nomeadamente as suas DelegaçõesRegionais e divisões Técnicas. Os artigos podem ter índole teórica,experimental ou aplicada, visando promover o interesse dos jovenspelo estudo da Física, o intercâmbio de ideias e experiências profis-sionais entre os que ensinam, investigam ou aplicam a Física. As opi-niões expressas pelos autores não representam necessariamenteposições da SPF.

Os manuscritos devem ser submetidos em duplicado, dactilografa-dos em folhas A4 a dois espaços (máximo equivalente a 3500palavras ou 17500 caracteres, incluindo figuras, sendo que uma figu-ra corresponde em média a 140 palavras). Deverão ter sempre umcurto resumo, não excedendo 130 palavras. Deve(m) ser indica-do(s) o(s) endereço(s) completo(s) das instituições dos autores,assim como o endereço electrónico para eventual contacto.Agradece-se o envio dos textos em disquete, de preferência“Word” para PC. Os originais de figuras devem ser apresentadosem folhas separadas, prontas para reprodução, e nos formatoselectrónicos jpg, gif ou eps.

PUBLICAÇÃO SUBSIDIADA

APOIO:Ministério da Educação - Sistema de Incentivos àQualidade da Educação

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NOTA DE ABERTURA

A TEORIA DA RELATIVIDADE EM PORTUGAL NO

PERÍODO ENTRE AS GUERRAS

Augusto Fitas

UMA INESPERADA CURVA UNIVERSAL

Eduardo Martinho

FÍSICA NO MUNDO

FÍSICA EM PORTUGAL

ENSINO DA FÍSICA

OLIMPÍADAS DA FÍSICA

LIVROS E MULTIMÉDIA

OPINIÃO

2005 - ANO MUNDIAL DA FÍSICA

NOTÍCIAS

ARTIGOS

ÍNDICE

4

12

VENTOS FORTES SOBRE A CIÊNCIA

As anunciadas decisões sobre o financiamento da investigação

científica em Portugal e sobre o Ciência Viva vieram "aquecer"

o ambiente à boca do Verão. Muita tinta correu já nos órgãos

de informação, sobretudo no que diz respeito às alterações no

sistema de financiamento da investigação e, tudo leva a crer, o

"assunto" continuará a dar que falar. Nesta edição apresenta-

mos uma primeira abordagem de ambos os temas. As páginas

da Gazeta estão, obviamente, abertas ao debate e os leitores

são convidados a pronunciarem-se.

O mesmo é válido para o "dossier" relativo à proposta dos

novos programas de Física do 12º ano, que estão a gerar algu-

ma discussão entre os professores do secundário. Neste

número publicamos um texto de avaliação crítica das altera-

ções previstas, esperando que os leitores nos façam chegar as

suas opiniões, perspectivas e sugestões.

Recomendamos vivamente os artigos desta edição. AUGUSTO

FITAS escreve sobre o impacto da Teoria da Relatividade em

Portugal no período 1920-1940, salientando o papel pioneiro

dos matemáticos portugueses na difusão desta teoria. A opor-

tunidade é óbvia quando estamos quase a começar as come-

morações do Ano Mundial da Física, inspirado pelos trabalhos

de Einstein. Por outro lado, EDUARDO MARTINHO divulga

uma "curva universal" que surgiu no quadro de trabalhos reali-

zados no Instituto de Tecnologia Nuclear. De incontestável

interesse também é a entrevista com ARTUR MARQUES DA

COSTA, professor de Ciências Físico-químicas aposentado e

mestre em Ciências da Educação, que aceitou falar um pouco

da sua longa experiência docente.

As habituais secções - notícias nacionais e internacionais,

Olimpíadas de Física, livros e multimédia - completam o

"miolo" deste número de Verão da Gazeta, onde nos permiti-

mos ainda destacar o artigo sobre o PROF. ANTÓNIO DA

SILVEIRA (muito justamente homenageado com uma expo-

sição patente na Academia das Ciências) da autoria de um

seu antigo aluno, o Prof. Manuel Alves Marques, e o anúncio do

Encontro de Educação em Física, a realizar no Porto já no

próximo mês de Setembro.

Boa leitura e boas férias!

SECÇÕES

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UM PROFESSOR QUE PODIA TER SIDO

ARQUITECTO

Entrevista com Artur Marques da Costa, professor

de Ciências Físico-químicas

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ENTREVISTA

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No Portugal do período entre guerras a Teoria da

Relatividade não passou despercebida: foi alvo de

referência e de alguma reflexão, tendo sido tema

de relatórios académicos, cursos universitários,

comunicações a congressos e ainda de alguns,

escassos, trabalhos de investigação mais ligados ao

domínio das matemáticas. É na viragem da década

de vinte para trinta que os físicos se vão interessar

mais por esta teoria, o que se manifestará unica-

mente na realização de seminários e na sua

inclusão nos programas de disciplinas de cursos

universitários. É na sua vertente filosófica, enquanto

teoria responsável quer pela alteração do quadro

tradicional das noções de espaço e tempo quer

pelo suporte prestado às novas correntes de

filosofia da ciência, nomeadamente ao neopositivis-

mo, que a intervenção sobre a Relatividade tam-

bém se fará sentir na vida cultural portuguesa. Em

torno desta teoria expressaram-se opiniões pró e

contra, tendo-se estabelecido algumas polémicas

públicas nas revistas culturais.

AUGUSTO JOSÉ DOS SANTOS FITAS

Centro de Estudos de História e Filosofia da

Ciência, Universidade de Évora,

Apartado 94, 7002-554 Évora

[email protected]

A TEORIA DA REM PORTUGAL ENTRE GUERRA

As equações da transformação de Lorentz-Fitzgerald,devidamente acompanhadas por uma discussão sobre oPrincípio da Relatividade, aparecem escritas, pelaprimeira vez, em Portugal por um jovem licenciado emMatemática da Academia Politécnica do Porto, não compropósitos de explanação científica, mas como tema dereflexão filosófica. É seu autor Leonardo Coimbra (1883-1935) e a matéria exposta constitui parte da dissertação1

apresentada ao concurso, em 1912, a assistente deFilosofia da, então muito recente, Faculdade de Letras deLisboa. Neste trabalho a Relatividade restrita é discutidacom base num artigo de Langevin2, em que LeonardoCoimbra adopta a formulação do cientista francês: a dis-cussão desenvolve-se em torno do Princípio da Relativi-dade e não de uma nova teoria; o Princípio não era entãoentendido como um postulado de uma nova teoria, mascomo um enunciado decorrente da experiência negativade pôr em evidência o movimento da Terra em relação aoéter. Embora sempre marcado pela discussão filosófica,este autor voltará a tratar esta teoria física em textos quepublicará nos anos vinte na revista cultural Águia.

Em Dezembro de 1917, n' “O Instituto”, assinada porum matemático e professor de astronomia da Universidadede Coimbra, aparece uma nota muito breve3 onde é refe-rido o trabalho de Einstein sobre a Relatividade Geral.

Estas são, tanto quanto conhecemos, as duas únicas refe-rências à Teoria da Relatividade anteriores a 1919, isto é,antes da confirmação da Relatividade Geral com base nosdados colhidos pelas duas expedições promovidas pelaRoyal Astronomical Society e às quais Portugal esteveindirectamente ligado. Como é sabido, o grupo de astró-nomos chefiado por Sir Arthur Eddington realizou assuas observações numa ilha equatorial administrada peloestado português, a Ilha do Príncipe, mas não se conhece

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ELATIVIDADENO PERÍODOS*

qualquer tentativa da comunidade científica portuguesaem participar nesta expedição4. O outro país anfitriãodos astrónomos da Royal Society foi o Brasil; aqui, aocontrário de Portugal, uma equipa de astrónomosbrasileiros, além de efectuar as suas próprias observações,acompanhou de perto os trabalhos da expedição inglesa5.

O 1º CONGRESSO LUSO-ESPANHOL PARA OPROGRESSO DAS CIÊNCIAS

É no ano de 1921 que se iniciam os Congressos Luso--Espanhóis para o Progresso das Ciências, realizando-se oprimeiro na cidade do Porto. Na conferência inauguralda secção de Matemáticas6, proferida por José MariaPlans y Freire, afirmava este matemático espanhol que aRelatividade "era o acontecimento científico de maiortranscendência na actualidade", sublinhando ainda "osgrandes serviços que à teoria da relatividade e da gravi-tação prestou, através da escola italiana de Ricci e Levi--Civita, o cálculo diferencial absoluto (...)".

Plans y Freire destacara-se em 1919 ao ganhar umprémio oferecido pela Academia de Ciências Exactas deMadrid para um trabalho onde se explicassem "os novosconceitos de espaço e tempo", trabalho que veio a serpublicado em 1921 com o título de "Nociones funda-mentales de Mecanica relativista". Além de possuir váriostrabalhos ligados à Relatividade Generalizada, foi aindao tradutor do livro de Eddington, "Space-time andGravitation" que foi publicado em Espanha em 1922 (aedição inglesa é de 1920 e a francesa é de 1921). A suapalestra terá impressionado vivamente os seus colegasportugueses de tal modo que, em 1922, será propostopara sócio correspondente estrangeiro da Academia dasCiências de Lisboa. O parecer desta candidatura foi

redigido por Pedro José da Cunha (1867-1945), profes-sor de Cálculo e Análise Infinitesimais na Faculdade deCiências da Universidade de Lisboa, um outro matemáti-co, que apresenta no seu relatório7 uma descrição sumáriados princípios da Relatividade Restrita e uma alusãofugaz à Relatividade Generalizada.

A atenção e o entusiasmo que alguns matemáticos por-tugueses passam a dar à nova teoria manifesta-se emcomunicações a congressos, trabalhos apresentados emprovas académicas e cursos inteiramente dedicados a estamatéria.

Augusto Ramos da Costa (1875-1939), oficial de mari-nha, especialista em hidrografia, catedrático de Astronomiae Navegação na Escola Naval e de Topografia e Geodesiana Escola do Exército, um entusiasta da relatividade cujadivulgação já ensaiara em dois opúsculos8, apresenta aoVII Congresso Internacional de Matemática realizado em1924 em Toronto uma comunicação intitulada"L'enseignement des mathematiques doit être orientépour l'étude de la Relativité"9. Na dissertação de doutora-mento apresentada em 1925 pelo licenciado Vítor Hugode Lemos à Universidade de Lisboa, intitulada "CálculoTensorial", um trabalho estritamente matemático, podeler-se, no prefácio: "Posta assim a importância do conhe-cimento do cálculo tensorial para o estudo da teoria geralda relatividade, justificaremos a apresentação deste estudopelo desejo de concorrermos para aumentar o númerodos que, entre nós, vêm discutindo com conhecimento, ovalor científico das teorias de Einstein". Assim, se, por umlado, pretendia subordinar-se o ensino da matemática àsnecessidades requeridas pela teoria de Einstein, poroutro, as mesmas necessidades justificavam o estudo dedeterminados temas matemáticos…

É um licenciado em Matemática que, em 1922, faz, pelaprimeira vez em Portugal, a apresentação, em provasacadémicas, de um trabalho cujo tema central é a teoriada relatividade restrita. Trata-se de Mário Mora, autor deuma dissertação para concurso de admissão à EscolaNormal Superior de Coimbra intitulada "Teorias deEinstein, O Princípio da Relatividade Restrita" que veioa ser publicada com prefácio do decano dos matemáticosportugueses, Gomes Teixeira (1851-1933). A estreia nosanfiteatros universitários da teoria da relatividade acon-tece na Faculdade de Ciências de Lisboa, nas aulas deuma disciplina da licenciatura de Matemática. No anolectivo de 1922-23, o programa da cadeira de FísicaMatemática dado pelo Prof. António dos Santos Lucas épreenchido completamente com um curso sobre aRelatividade Restrita e a Relatividade Geral. Um cursoque, não tendo contributos originais e seguindo no essen-cial a obra, já referida, de Plans y Freire, deverá constarcomo marco da entrada da nova teoria nos cursos univer-sitários portugueses. É através destas aulas que algunsestudantes de Matemática, não de Física, tomarão pela

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primeira vez contacto com a Relatividade. Mas alguns matemáticos desalinhavam manifestamentedesta adesão científica às teorias de Einstein. No 2ºCongresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências,ocorrido em Salamanca no Verão de 1923, o Prof.Costa Lobo proferiu uma conferência10 onde declarouque a relatividade é "uma doutrina interessante derivadapor cálculos admiráveis, mas sem interesse para o mundofísico". A exemplo de outras tomadas de posição noutrasreuniões científicas, onde já afirmara que a teoria deEinstein era uma "moda" matemática11, dá a entenderque o esforço da comunidade científica se deveria orien-tar para outro campo de pesquisas. Percebe-se claramenteque este professor de Astronomia da Universidade deCoimbra tinha uma posição de franca relutância emrelação à nova teoria, não se furtando a combatê-la nosfóruns internacionais a que tinha acesso.

O interesse dos matemáticos pela nova teoria poderáexplicar o facto de os únicos trabalhos de investigaçãoassociados à Teoria da Relatividade se debruçarem essen-cialmente sobre as suas bases matemáticas, nomeada-mente a geometria diferencial, destacando-se, neste capí-tulo, Aureliano Mira Fernandes (1884-1958) e Rui LuísGomes(1905-1984). O primeiro apresentou várias con-tribuições que foram publicadas nos “Rendiconti daAcademia dei Lincei”, o segundo também no mesmo jor-nal e no “Journal de Physique et du Radium”. É impor-tante destacar que o patrono das comunicações dos

matemáticos portugueses à Academia italiana era oimportante matemático italiano Levi-Civita. Ficou tam-bém a dever-se a Mira Fernandes a proposta apresentadae aprovada na sessão de 17 de Março de 1932 daAcademia das Ciências de Lisboa, onde se nomeiamEinstein e Levi-Civita como sócios correspondentes; nosarquivos da Academia está a carta de agradecimentoendereçada por Einstein. Einstein, como sócio da Acade-mia de Lisboa, parece ser ignorado ou, pelo menos, pou-co digno de registo em quaisquer comemorações acadé-micas, a sua associação não passou de um "fait-divers"...

OS FÍSICOS PORTUGUESES E A NOVA TEORIA; OESTALAR DAS PRIMEIRAS POLÉMICAS

A primeira intervenção de um físico que conhecemosocorreu nas sessões plenárias da Academia das Ciênciasde Lisboa de 7 e 13 de Julho de 1921, onde o académicoe professor catedrático de Física da Faculdade de Ciênciasde Lisboa José de Almeida Lima (1859-1930) apresen-tou, respectivamente, as comunicações "Consequênciasrelativas à propagação da luz" e "O simbolismo naSciencia"12. É a primeira vez que um físico, em Portugal,aborda este tema e fá-lo com o propósito de discutirfilosoficamente a teoria de Einstein, uma discussão com-pletamente expurgada da linguagem matemática e feitade forma especulativa em torno dos novos conceitos. Oautor cita os principais artífices da nova teoria, Lorentz,Fitzgerald, Michelson, Morley e Einstein e, perante acontracção do espaço, concluída por Lorentz, escreve:"Para o meu senso comum de homem vulgar uma talconclusão seria considerada como um absurdo (...) con-tudo esta conclusão foi aceite por Einstein, e consideradamesmo como basilar nas suas teorias". E, umas linhas àfrente, escreve "custa-me, na verdade, ver assim ocamartelo do progresso vibrando os seus desapiedadosgolpes numa construção que sempre considerei a maisbela que o génio humano tem levantado", referindo-se aodesaparecimento do conceito de éter, desaparecimentoque se recusa a admitir. Não cita fontes e pelo carácter dotexto somos levados a crer que o seu conhecimento sobrea teoria não se baseava em publicações de carácter assumi-damente científico. Não é difícil perceber que advogaum forte cepticismo relativamente às ideias relativistas.

Em 1923, no concurso para Professor de Física da Facul-dade de Ciências de Lisboa, o tema Relatividade seránovamente referido, não como tema central, mas integra-do numa abordagem sobre "O Conceito de Matéria naEvolução das Teorias Físicas"13, tema das provas do Dr.Cyrillo Soares (1883-1950). É a segunda intervenção deum físico e versará unicamente aspectos da RelatividadeRestrita, limitando-se a mostrar que "a matéria e a ener-gia são duas formas da mesma substância e a justificar oconceito de matéria, formulado pela Energética e de quejá tratámos". As referências a esta teoria são em língua

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francesa14 e resumem-se aos livros de vulgarização assina-dos por Jean Becquerel e Gaston Moch. É na década de trinta que os físicos aparecerão de umaforma mais determinada no palco desta representação. Épreciso aguardar pelos finais de 1929 para que o paísreceba a visita de um físico ilustre e pioneiro no debateem torno das ideias relativistas, Paul Langevin. Esta visi-ta e o início da chegada de alguns físicos, bolseiros daJunta de Educação Nacional em países europeus, consti-tuirão o estímulo para que o tema Relatividade comece,lenta e esporadicamente, a ser incluído no ensino daFísica, já que, tanto quanto saibamos, na época, nuncafoi alvo de qualquer tentativa de investigação por partedos físicos portugueses.

Paul Langevin deslocou-se a Portugal sob a égide doInstituto Francês de Portugal e representou o Collège deFrance nas cerimónias do Jubileu da Academia dasCiências de Lisboa. A sua presença foi aproveitada para arealização de algumas conferências15 nas três universi-dades portuguesas. Na Faculdade de Ciências de Lisboaas suas palestras foram proferidas nos dias 2, 4, 5 e 6 deDezembro de 1929, versando respectivamente, os temas"Valor filosófico da teoria da relatividade", "A novamecânica e a inércia da energia", "A confirmação da rela-tividade restricta" e "Os desenvolvimentos recentes daRelatividade generalizada". A conferência de Coimbra,dada no dia 10 de Dezembro, tratou da "Teoria da rela-tividade restrita, suas consequências físicas e astrofísicas".

Na sequência desta visita ocorreu em Portugal uma inte-ressante exposição promovida pela Biblioteca Nacional einaugurada em Abril de 193016 que "esteve prevista paraabrir mais cedo, entre 5 e 15 de Dezembro de 1929,coincidindo com a estadia de Paul Langevin no nossopaís". Intitulava-se "Exposição de Física" e na apresenta-ção do seu catálogo, o Director da instituição organizadora

escrevia que à Biblioteca Nacional "(...) convergiram asencomendas dos últimos meses sobre o domínio daFísica, abrangendo os campos, recentemente desbravados,da Teoria da Relatividade, da Mecânica Ondulatória e daTeoria dos Quanta"17. Da consulta do seu catálogo, ondeconstam artigos e livros de, para citar só alguns,Einstein, Poincaré, Langevin, Broglie, Cartan,Schrodinger, Whitehead, Bertrand Russell, Jeans, Planck,Sommerfeld, Bohr, Levi-Civita, Enriques, Eddington,Klein, Weyl, Minkowski, Lorentz, constata-se que aRelatividade ocupa uma posição proeminente. A exposi-ção foi inaugurada com pompa e circunstância pelo Pre-sidente da República de então, mas não sabemos qual oseu impacto nos visitantes. Um apontamento curioso so-bre as publicações expostas: dela não constava nenhum dostrabalhos de José Maria Plans y Freire que tanto impres-sionaram os matemáticos portugueses na década anterior.

Mário Silva (1901-1977), um dos bolseiros chegados aopaís após três anos parisienses, ao tentar a instalação doInstituto de Rádio da Universidade de Coimbra, no anolectivo de 1930-1931, declarava a intenção de "discutirentre nós, no nosso pequenino meio coimbrão (...) algu-mas doutrinas novas, não menos sensacionais, como ados Quanta e a da Relatividade"18. É neste contexto queconvida Manuel dos Reis (1900-1993), um físico-mate-mático, para proferir uma conferência intitulada "Anova teoria do campo de Einstein", cujo texto não foipublicado. É também Mário Silva que inicia a introduçãoda nova teoria nas suas aulas de física. No livro “Lições deFísica”19, publicadas no início da década de trinta, e que,tal como é indicado no texto da sua página de rosto, cons-tituem "apontamentos para uso dos alunos de Física daFaculdade de Ciências da Universidade de Coimbra",expõe, logo no primeiro capítulo, os princípios da cine-mática relativista e referencia a visita de Langevin:"Quando, em 1929, Langevin, o conhecido professor doColégio de França, nos visitou para fazer uma conferên-cia sobre a teoria da relatividade, no nosso anfiteatro deFísica, quis ter a amabilidade de nos apresentar uma de-monstração simples das fórmulas do grupo de Lorentzque, segundo disse, expressamente tinha preparado para asua viagem a Portugal". Ao longo desta década, a apre-sentação dos princípios da Relatividade Restrita será feitapelo mesmo professor nos seus cursos de Mecânica Físicae Electromagnetismo, lições que fará questão de publicarde uma forma cuidada o que não era a atitude da maiorparte dos professores universitários da época.

António da Silveira (1904-1985), outro bolseiro chegadode Paris no ano de 1933, encarregado da regência dasdisciplinas de Física Geral e Experimental I e II noInstituto Superior Técnico, introduziu na segunda, noâmbito do ensino do electromagnetismo, uma exposiçãosobre a Relatividade Restrita20. Em 1939 proferirá noInstituto de Oncologia uma conferência intitulada"Relatividade, ondas e corpúsculos", que é publicada.

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Lorentz, Einstein e Langevin em 1927

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Estas representam, no período entre guerras, o essencialdas intervenções dos físicos sobre a Teoria da Relativi-dade. Importa acrescentar que dois dos acontecimentosrelatados, as conferências de Langevin em Lisboa e osseminários promovidos por Mário Silva em Coimbra, vãodar origem, no nosso país, aos dois primeiros confrontosentre anti e pró-relativistas.

Em 1930, Gago Coutinho (1869-1959) que, em lugar dedestaque, já ouvira Einstein no Brasil21, assiste, agora emLisboa, também em lugar de destaque, às conferênciasde Paul Langevin e foi, decerto, um dos ouvintes maisatentos. Sobre o que ouviu, escreveu dois artigos narevista “Seara Nova”, intitulados "Será a relatividade emprincípio absurda?" e "A relatividade ao alcance detodos"22, onde reitera as suas posições anti-relativistas jádefendidas no Brasil e também já dadas a conhecer numapublicação científica nacional23, que, em 1926, não sus-citará qualquer reparo dos académicos da nossa praça. ASeara Nova sujeitou os textos publicados à apreciaçãocientífica de um matemático, Manuel dos Reis, quemanifestou um desacordo completo e absoluto com asconsiderações do Almirante.

A seguir aos dois artigos de Gago Coutinho a revista deua conhecer a crítica de Manuel dos Reis, " A Teoria daRelatividade e o absurdo de uma crítica"24, onde se aludeaos escritos anti-relativistas anteriores do Almirante. Apósuma tentativa de expor historicamente a génese daRelatividade Restrita, enfatizando o facto de as equaçõesde Maxwell não obedecerem ao grupo de transformaçõesde Galileu da Mecânica Clássica, procurou refutar, umpor um, os argumentos do seu opositor. E, dirigindo-seao geógrafo, terminou: "na sua crítica não há uma alusãoà electrodinâmica geral, que é a pedra angular da teoriade Einstein". A julgar, pela natureza das peças em pre-sença, a resposta às posições anti-relativistas foi dada.Todavia a argumentação parece não ter sido suficientepara abalar as convicções do Almirante sobre a MecânicaClássica. Ambos os contendores ainda produziram maisum artigo de resposta, mas o debate não se prolongou.

Mencione-se que, na "Exposição de Física" da BibliotecaNacional, estavam presentes os artigos anti-relativistas deGago Coutinho publicados na “Seara Nova”, não seexpondo, em paralelo, as críticas que lhe foram dirigidaspor Manuel dos Reis25; uma parcialidade que certamentese ficou a dever ao peso de personalidade pública dohomem que fizera a primeira travessia aérea do AtlânticoSul, quando confrontado com um obscuro professor deFísica-Matemática da Universidade de Coimbra.

Nos seminários que organizava, sob a égide do que pre-tendia que viesse a ser o Instituto do Rádio, Mário Silvaconvidou o Prof. Costa Lobo que falou sobre um temaque já fora objecto de uma apresentação ao congresso daBritish Association for the Advancement of Science, e

cujo texto, em inglês, será publicado na Revista daFaculdade de Ciências26. Este professor, conhecido peloseu newtonianismo empedernido, vai manifestar-se con-tra a Relatividade e a Mecânica Quântica, escrevendo que"in my opinion, however, there is an important factwhich ought to guide us, that is the universality ofNewton's laws". Perante a "nova teoria" de Costa Lobotrazida a público nesta muito recente revista científicaportuguesa, uma teoria de uma ingenuidade grotesca nosseus raciocínios e que contrariava os desenvolvimentoscientíficos dos últimos cem anos27, resolvem, em reunião,os professores de Física e Química da Faculdade deCiências de Coimbra escrever um artigo de contestaçãoàs posições assumidas pelo lente de Astronomia. EgasPinto Basto (1881-1937) e Mário Silva são os autores dotexto onde se faz a análise pormenorizada da teoria deCosta Lobo, demolindo-a ponto por ponto28. O visadonão replica e a discussão morre por aqui...

A IMPRENSA CULTURAL E AS IDEIAS RELATIVISTAS

Foi na vertente filosófica que as intervenções sobre aTeoria da Relatividade mais se fizeram sentir na vida cul-tural portuguesa. “O Diabo”, jornal que se publicouentre 1934 e 1940 e que tinha um pendor claramenteartístico-literário, embora se assumisse como "tribunaelevada de crítica à vida do Pensamento Português"29, foium dos palcos destas intervenções. Contou, entre os seuscolaboradores, com alguns cientistas conhecidos: AurélioQuintanilha (1892-1987), Bento de Jesus Caraça (1901--1948), Manuel Valadares (1904-1982), Abel Salazar(1889-1946) e Rui Luís Gomes. Foi, sob a pena do pro-fessor universitário portuense Abel Salazar que “O Diabo”publicou um conjunto de artigos sobre o neopositivismo30,cerca de cinquenta, onde temas muito caros à física con-temporânea passaram a surgir como grandes títulos dassuas páginas: "Os precursores: Lobatchewsky, Riemann:as geometrias não-euclidianas e a sua significação filosófi-ca" (XII), "A Relatividade restrita de Einstein" (XVI),"De como um elevador, um arranha-céus, vai introduziro leitor na Teoria Geral da Relatividade" (XVII)... Oobjectivo de Abel Salazar era expor ao público desconhe-cedor da matemática, as linhas gerais da nova teoria(objectivo muito pouco conseguido31), no sentido deacentuar o carácter progressivo das conquistas científicas.Nas páginas deste jornal aparece ainda um conjunto deentrevistas, feitas em Paris por Jaime Brasil, a alguns vul-tos da ciência francesa, como é o caso de Paul Langevin.Rui Luís Gomes publicou também um artigo sobre "OTempo" e Bento de Jesus Caraça, no último número doano de 1938, apresentou uma cuidada recensão críticaao livro de Einstein e Infeld "A Evolução da Física" combase na sua edição francesa32.

Da mesma preocupação ou do mesmo objectivo comun-ga o jornal portuense “Sol Nascente”, destacando-se nas

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suas páginas o trabalho de Rui Luís Gomes33 que consti-tui o capítulo introdutório, onde ressaltam as preocupa-ções filosóficas do autor, de uma obra publicada peloNúcleo de Física, Matemática e Química. Esta obra foi oprimeiro manual científico publicado em Portugal sobrea Relatividade Restrita34.

Em 1930, na “Seara Nova”, sob pretexto da conferênciade Langevin, esgrimiram-se opiniões anti e pró relativis-tas através das intervenções, respectivamente, de GagoCoutinho e Manuel dos Reis. E, em 1937, a históriarepete-se, o Almirante volta à carga: "Julgava eu, pois,que não teria de voltar a atacá-la (a Relatividade); mas ofacto de há meses se ter apresentado em Lisboa um pro-fessor universitário a fazer conferências sobre a Relativi-dade Restrita − como há anos fez o professor Langevin −provou-me que a chamada Mecânica Nova ainda conser-va adeptos (...)"35. A citação inicia um conjunto de arti-gos36 onde a contestação à Teoria da Relatividade é aquestão central, sendo a sua causa próxima as lições pro-feridas por Rui Luís Gomes no Instituto Superior Técni-co, inseridas na actividade do Núcleo de Matemática,Física e Química. Reage aos escritos anti-relativistas opróprio Núcleo37 que critica, de uma forma breve, asopiniões expressas pelo seu autor. Reage o AlmiranteGago Coutinho38 e sai à liça Rui Luís Gomes39. Repete-seo que se passara com Manuel dos Reis, só que o debatese estende por dez números e ao longo de quatro meses40,vendo-se a revista obrigada a pôr-lhe um ponto final. Oimpacto desta polémica levou a “Seara Nova” a promoveredições próprias, em livro, dos textos dos dois contendores.

NOTAS FINAIS

Traçámos um quadro em linhas muito gerais, o que nãonos permite grandes conclusões. Contudo, julgamosoportuno destacar os seguintes pontos: − o papel pioneiro sobretudo dos matemáticos narecepção e difusão da teoria relativista; − a influência importante da visita de cientistasestrangeiros no despertar do interesse da comunidadeuniversitária em torno da Relatividade; − o papel desempenhado pelas revistas de índole culturale cívica na difusão, cultural e filosófica da nova teoria; − a relação entre o debate filosófico-cultural estabelecidoem torno da nova teoria e a agitação vivida no meio uni-versitário, onde, na altura, se assistia à tentativa estrangei-rada de iniciar a prática da investigação científica comoum dos atributos essenciais da universidade portuguesa.

NOTAS

[*] Versão reduzida do texto de uma conferência intitula-da "A Teoria da Relatividade em Portugal (1910-1940)"feita na 13ª Conferência Nacional de Física realizadaem Évora em Setembro de 2002

[1] COIMBRA, Leonardo, Criacionismo, in Sant'annaDionísio (coord.) , 1983, Obras de Leonardo Coimbra,vol.I, Porto, Lello & Irmão-Editores.

[2] LANGEVIN, Paul, 1912, Le temps, l'espace et lacausalité dans la physique contemporaine, Bulletin de laSocieté Française de Philosophie, 12, pp. 1-46.

[3] LOBO, Costa 1917, O Instituto, nº 64(12), pp. 611-613.

[4] GAGEAN, D. L. e LEITE, M. Costa, 1992, GeneralRelativity and Portugal: a Few Pointers Towards PeripheralReception Studies, in Einsentaedt, J. and Kox, J. (eds.).Studies in the History of General Relativity. Boston,Birkhauser, pp. 3-14.

[5] MOREIRA, Ildeu de Castro e VIDEIRA, António A.P. (org.), 1995, Einstein e o Brasil, Rio de Janeiro, EditoraUFRJ.

[6] PLANS y Freire, José Maria, 1921, Processo históricodel cálculo diferencial absoluto y su importancia actual,Actas do 1ºCongresso Luso-Espanhol para o Progressodas Ciências, Madrid.

[7] CUNHA, Pedro José da, 1923, Lisboa, ImprensaNacional.

[8] COSTA, A. Ramos da, 1921, A Teoria daRelatividade, Lisboa, Biblioteca Nacional; COSTA, A.Ramos da, 1923, Espaço, Matéria, Tempo ou a TrilogiaEinsteiniana, Lisboa, Imprensa Lucas e Cª.

[9] Citado no programa do Congresso (O Instituto,71(8), 1924, 399).

[10] LOBO, F.M. Costa, 1923, O Instituto, nº 70(11),pp. 479- 492.

[11] LOBO, F.M. da Costa, O Instituto, nº 67(12), p. 601

[12] LIMA, José de Almeida, A Física perante as teorias deEinstein, Jornal de sciencias mathematicas physicas e natu-raes, 3ªsérie, tomo IV, Junho 1923-Maio 1924, pp. 97-115.

[13] SOARES, A. Cyrilo, 1922, O Conceito de Matériana Evolução das Teorias Físicas, Lisboa.

[14] É o que acontece com a grande maioria dos textosda época que consultámos.

ARTIGO

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[15]O SÉCULO: 3/12/29, 5/12/29, 6/12/29, 7/12/29,10/12/29, 11/12/29.

[16] RUA, Fernando B.S., 1997, História da Ciência emPortugal: A exposição de Física da Biblioteca Nacional em1930, Leituras : Rev. Bibl. Nac., S.3, nº1, pp. 159-168.

[17] Biblioteca Nacional, 1930, Exposição de Física/Abril 1930/ Catálogo, Lisboa.

[18] SILVA, Mário A., 1971, Elogio da Ciência, Coimbra,Coimbra Editora Limitada, p.148.

[19] SILVA, Mário, s/data, Lições de Física, Coimbra,Livraria Académica.

[20] GAGEAN, David Lopes e LEITE, Manuel daCosta, 1991, Cultura científica em Portugal: a universidadee o ensino científico da relatividade e da quântica na 1ª me-tade do século XX. In Actas do Congresso "História daUniversidade"-7º centenário, vol. I, Coimbra, Universi-dade de Coimbra.

[21] O Almirante Gago Coutinho que, em artigo publi-cado num jornal do Rio de Janeiro, fez saber que "oeclipse de Sobral não confirmou como não destruiu oPrincípio da Relatividade" (O Jornal, Rio de Janeiro, 6de Maio de 1925, in Antonio Augusto P. Videira, Ildeude C. Moreira e Luisa Massarini, Einstein no Brasil: Orelato da visita pela imprensa da época, Publicações doObservatório Nacional, 8/95).

[22] COUTINHO, Gago, 1930, Seara Nova, nos 200,203, 210, pp. 115-123, 163-168, 284-285.

[23] Quando chega a Portugal, Gago Coutinho publicaum artigo baseado nas opiniões já expressas no Brasil(COUTINHO, Gago, 1926, Tentativa de reinterpretaçãosimples da Teoria da Relatividade Restrita, O Instituto, nos

73(3), 73(4), 73(5), pp. 354-374, 540-565, 637-670),não sofrendo qualquer contestação da parte da comu-nidade universitária portuguesa. A sua publicação talvezse tenha ficado a dever à cumplicidade anti-relativista deCosta Lobo, então director da revista coimbrã.

[24] REIS, Manuel dos, 1930, Seara Nova, nos 207 e209, pp. 227-233 e 264-271; REIS, Manuel dos, 1930,Seara Nova, 219, pp. 43-47; COUTINHO, Gago, 1930,Seara Nova, 229, pp. 195-198.

[25] FITAS, A.J., Nota histórica sobre a Teoria daRelatividade em Portugal nos anos trinta, in Semináriosobre Ciência em Portugal na primeira metade do séculoXX, Évora, Universidade de Évora (em publicação).

[26] LOBO, F.M. da Costa, 1931, Theories in Physics resul-ting from the Phenomena Radioactivity, Rev. FCUC, 11(2), pp. 61-73.

[27] "M. Costa Lobo batit une théorie comme s'il n'eûtaucune connaissance des derniers progrès de la physique(...) on peut presque dire que la théorie de M. CostaLobo auraît pu être conçue au commencement duXVIIIe sècle." (BASTO, Egas Pinto e SILVA, Mário,1932, La Theorie physique basée sur les phénomènes deradioactivité, du Dr. F. M. da Costa Lobo, Rev. FCUC,II (4), pp. 263-280).

[28] BASTO, Egas Pinto e SILVA, Mário, 1932, Rev.FCUC, II (4), pp. 263-280.

[29] ROCHA, Clara Crabbé, 1985, Revistas Literárias doSéculo XX em Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional/Casada Moeda, p.651.

[30] Vide: O Diabo, 114 (1936).

[31] FITAS, A.J., RODRIGUES, Marcial. E. eNUNES, M. Fátima, 2000, A Filosofia da Ciência noPortugal do século XX, in Pedro Calafate (dir.), Históriado Pensamento Filosófico Português, (vol.5, tomo II),Lisboa, Editorial Caminho, pp. 421-582.

[32] A edição portuguesa (A Evolução da Física, Livros doBrasil, Lisboa, s.d.) só virá a acontecer, salvo erro, emmeados da década de cinquenta.

[33] GOMES, Rui Luís, 1938 e 1939, Introdução àTeoria da Relatividade Restrita, Sol Nascente, nos 32 e 33,pp. 2-3 e 11.

[34] GOMES, Rui Luís, 1938, Teoria da RelatividadeRestrita, Lisboa, Publicações do Núcleo de Matemática,Física e Química.

[35] COUTINHO, Gago, 1937, Seara Nova, 534.

[36] COUTINHO, Gago, 1937, Seara Nova, nos 534,535, 536, 537, 1937. Pode ler-se no final do artigo: "PS-Desenvolvimento dum artigo de vulgarização publicadono Jornal do Brasil em 1934".

[37] Seara Nova, nº 539, p. 235.

[38] COUTINHO, Gago, 1937, Mecânica Clássica eMecânica Relativista, Seara Nova, nº 540.

[39] GOMES, Rui Luís, 1938, A Relatividade, Origem,evolução e tendências actuais, Seara Nova, nos 541, 543,545, 547, 550, 553.

[40] COUTINHO, Gago, 1938, Seara Nova, nº 593,pp. 217-219; GOMES, Rui Luís, 1938 e 1939, SearaNova, nos 593 e 599, pp.220-221 e 348-350; COUTI-NHO, Gago, 1939, Seara Nova, nº 601, p. 13.

A TEORIA DA RELATIVIDADE EM PORTUGAL NO PERÍODO ENTRE GUERRAS

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Um reactor nuclear de investigação é uma máquina

onde são produzidos neutrões, podendo a respecti-

va energia cinética estender-se por um vasto

domínio - 1 meV a 10 MeV, aproximadamente.

Quando se coloca uma amostra no meio onde os

neutrões se difundem − água ou grafite, por exem-

plo − ocorre geralmente uma diminuição do fluxo

de neutrões no local onde se encontra a amostra.

Em consequência, verifica-se uma redução do efeito

que se pretende induzir através de reacções

nucleares com neutrões. Para interpretar adequada-

mente os resultados da irradiação da amostra, é

indispensável conhecer dois parâmetros correctivos:

(1) Gth, respeitante à perturbação do fluxo de neu-

trões térmicos (baixas energias); (2) Gres, referente

à perturbação do fluxo de neutrões epitérmicos

(energias intermédias).

O objecto do presente artigo é Gres, parâmetro

sobre cujos valores não há qualquer formulação

geral. De facto, ao longo de meio século, Gres tem

sido obtido por vários autores, experimental ou

computacionalmente, mas sempre caso a caso, con-

soante: (a) o nuclido considerado (cobalto-59, ouro-

197, etc.); (b) a geometria da amostra (fio, folha,

etc.); e (c) a sua dimensão típica (raio, no caso de

fios; espessura, no caso de folhas; etc.).

Imprevistamente, um trabalho realizado no Instituto

Tecnológico e Nuclear levou à descoberta de uma

curva universal para Gres. Entendida como uma

referência, esta curva pode ter aplicações rele-

vantes. Relata-se aqui o processo que conduziu a

este inesperado resultado.

EDUARDO MARTINHO

Instituto Tecnológico e Nuclear

Estrada Nacional 10, 2686-953 Sacavém

[email protected]

UMA INESPERAUNIVERSAL

Um reactor nuclear de investigação é, no essencial, umamáquina que produz um campo intenso de neutrões, uti-lizados em múltiplas aplicações: fabrico de radioisótopos;produção de fontes radioactivas; análise multielementarpor activação com neutrões; alteração de propriedadesfísicas, químicas ou biológicas de materiais (indução dedanos estruturais, mudança de cor, mutações genéticas,etc.); metrologia de neutrões; etc.

Qualquer uma destas utilizações passa pela colocação deuma dada amostra1 no seio do campo de neutrões,durante um certo intervalo de tempo. Ora, a presença daamostra provoca uma perturbação do próprio campo, daqual decorre uma diminuição local do fluxo de neutrões(em relação ao fluxo não-perturbado reinante na ausênciada amostra). Em consequência, torna-se necessário quan-tificar a perturbação do campo de neutrões para poderinterpretar correctamente os resultados obtidos em expe-riências de irradiação, seja a resposta de um detector, aradioactivação de um alvo, etc.

Uma grandeza indispensável ao conhecimento da pertur-bação do campo de neutrões é o chamado factor de au-toprotecção, que descreve o facto de a absorção de neu-trões nas camadas mais externas da amostra ter comoconsequência uma diminuição progressiva do fluxo de neu-trões de fora para dentro da amostra. Por exemplo, imagi-nando uma pequena esfera de cobalto (59Co) imersa numcampo de neutrões (para produção de 60Co), o fluxo deneutrões à superfície da esfera é superior ao fluxo no seuinterior, sendo a variação mais ou menos significativa con-soante o raio da esfera e o tipo de neutrões que se considere:

1. neutrões lentos (E 1 eV) − onde estão incluídos osneutrões térmicos (assim designados por estarem emequilíbrio térmico com o meio onde se difundem);

2. neutrões intermédios (1 eV < E < 100 keV) − onde seincluem os neutrões epitérmicos (energia compreendidaentre cerca de 1 eV e algumas dezenas de keV);

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DA CURVA

3. neutrões rápidos, ou neutrões de cisão (E 0,1 MeV).[Em geral, a perturbação induzida pela amostra numcampo de neutrões rápidos é desprezável porque assecções eficazes dos nuclidos2 para neutrões de alta ener-gia são relativamente baixas.]

O factor de autoprotecção de neutrões térmicos, Gth −referente ao domínio de energia em que a secção eficazde quase todos os nuclidos varia "em 1/v", isto é, com oinverso da velocidade dos neutrões (ver Fig. 1) − pode serobtido facilmente mediante relações gerais válidas paraeste parâmetro [1].

O mesmo não acontece com o factor de autoprotecçãoreferente a neutrões epitérmicos − correspondente aodomínio de energia em que a secção eficaz dos nuclidosapresenta geralmente ressonâncias (ver Fig. 1), donde adesignação de factor de autoprotecção de neutrões deressonância, Gres. De facto, não existe qualquer relaçãogeral que permita avaliar Gres em diferentes situações. Osescassos valores deste parâmetro encontrados na literaturatêm sido obtidos caso a caso, consoante o nuclido, a geo-metria da amostra e a sua dimensão típica, e são apresen-

tados em tabelas de valores ou sob a forma de gráficos re-ferentes aos casos em estudo [2, por exemplo] - ver Fig. 2.

Imprevistamente, um trabalho realizado no InstitutoTecnológico e Nuclear (ITN) − cujo objectivo inicial eraapenas o estabelecimento de uma metodologia de cálculode Gres pela técnica de Monte Carlo [3], para poder res-ponder a solicitações de utilizadores do Reactor Portuguêsde Investigação (RPI) no tocante ao cálculo previsionalda activação de amostras, nomeadamente para estudos deprodução de radiofármacos potenciais − acabou por levarà descoberta de uma curva universal de Gres válida paraamostras de qualquer nuclido e para as geometrias maisusuais das amostras (fios, folhas, esferas e cilindros).

No essencial, a "descoberta" consistiu em encontrar umavariável adimensional z, que engloba as propriedades físi-cas e geométricas da amostra, tal que todos os valores dofactor de autoprotecção convergem num único gráfico deGres(z), independentemente do nuclido e da geometria edimensão da amostra.

Analisado o caminho percorrido, é interessante dar aconhecer − nomeadamente, a professores de Física doensino secundário e a estudantes de Física − o processoque conduziu à inesperada curva universal de Gres.

CURVA "QUASE UNIVERSAL"

Na fase de planeamento do trabalho, foram antecipadasalgumas questões que era necessário esclarecer:

1. Como caracterizar a fonte de neutrões e a amostrapara simular a sua irradiação num campo isotrópico deneutrões epitérmicos?

2. Que relação deve existir entre o comprimento e o raiodo cilindro por forma a simular um fio infinito?

3. Que relação deve existir entre o raio de um alvo circulare a sua espessura por forma a simular uma folha infinita?

ARTIGO

Fig. 1 - Secção eficaz total do ouro (197Au)

Fig. 2 - Rede de curvas de Gres para folhas de 55Mn,59Co, 186W e 197Au [2] ≥

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4. Dado que Gres é calculado através da razão entre ataxa de reacção por átomo na amostra real e a taxa de reacção por átomo numa amostra de referência − amostrasimilar não-perturbadora do campo de neutrões (Gres=1) −,que diluição do nuclido na amostra de referência deve seradoptada?

5. Dado que o fluxo de neutrões epitérmicos de um reac-tor nuclear varia como 1/E1+α, dependerá Gres de α ? (E:energia dos neutrões; α: parâmetro dependente do dis-positivo de irradiação).

Como já se referiu, o objectivo inicial do trabalho consis-tia simplesmente no estabelecimento de uma metodolo-gia de cálculo de Gres. Com base na técnica de MonteCarlo, procedeu-se ao cálculo de Gres para folhas e fiosde ouro (197Au), cobalto (59Co) e manganésio (55Mn) [4].Estas escolhas foram ditadas por duas ordens de razões:(1) o ouro, o cobalto e o manganésio são elementos cons-tituídos por um só isótopo natural e (2) existem na lite-ratura valores experimentais susceptíveis de validar osresultados do cálculo.

Um segundo trabalho foi dedicado a fios, tendo-se estu-dado com detalhe o fenómeno de autoprotecção emfunção da energia dos neutrões, nomeadamente o efeitodas colisões de dispersão na zona das ressonâncias. Alémdisso, procedeu-se ao cálculo de Gres para seis nuclidoscriteriosamente seleccionados (197Au, 59Co, 63Cu, 115In,55Mn, 185Re) por terem propriedades físicas distintas (verQuadro 1), fazendo variar o raio do fio.

Ocorreu então a ideia de averiguar se existiria alguma espécie de correlação entre Gres e o conjunto dosparâmetros envolvidos no cálculo. A ideia foi explorada por tentativas. Por fim, foi identificada uma variável adi-mensional englobando as propriedades físicas e geométri-cas das amostras, z*, que fazia distribuir os valores deGres em torno de uma curva única. A curva foi descritasob a forma de um polinómio do sexto grau em log(z*),com z* dada pela relação:

(1)

sendo

(2)

e em que os símbolos têm o seguinte significado:

x − dimensão típica correspondente à geometria daamostra; no caso presente, x é igual ao raio do fio [cm];

Eres − energia dos neutrões correspondente ao pico daressonância;

σtot(Eres) − secção eficaz microscópica total do nuclidopara a energia Eres [cm2];

UMA INESPERADA CURVA UNIVERSAL

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Quadro 1 - Propriedades físicas dos nuclidos estudados | [J.K. Tuli, Nuclear wallet cards, NNDC/BNL, 2000; http://www2.bnl.gov/ton; http://t2.lanl.gov/cgi-bin/nuclides/endind]

z x E* ( )= ⋅ ⋅Σ tot res

ΓΓ

γ

Σ tot res tot res( ) ( )EA

N EA= ⋅ρ θ σ

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Σtot(Eres) − secção eficaz macroscópica total do nuclidopara a energia Eres [cm-1];

Γγ − largura da ressonância referente a reacções de cap-tura radiativa [eV];

Γn − largura da ressonância referente a reacções de dis-persão elástica [eV];

Γ − Γγ + Γn = largura total da ressonância [eV];

ρ − massa volúmica do elemento [g cm-3];

A − massa atómica do elemento [g mol-1];

θ − abundância natural do nuclido no elemento;

NA − constante de Avogadro [mol-1].

No artigo publicado [5], a curva única a que se chegou(Gres para fios) foi designada por «a quasi "universalcurve"».

Tendo presente a conclusão obtida para fios, foi efectua-do um estudo análogo ao anterior mas para as folhas,com a convicção de que se obteria também uma curvaúnica para esta geometria. Assim aconteceu, de facto,apenas com a diferença de se ter, neste caso, x igual àespessura da folha [6].

O estudo foi depois estendido a esferas, tendo-se chegadonaturalmente à conclusão de que existe também uma cur-va única para esta geometria, sendo agora x igual ao raio daesfera.

CURVA UNIVERSAL

Ao efectuar a análise dos resultados obtidos para as trêsgeometrias (fios, folhas e esferas), verificou-se que umasigmóide descrevia Gres(z*) melhor do que um polinó-mio do 6º grau em log(z*), além de que permitia ir maisalém nas conclusões. A sigmóide é dada pela expressão:

(3)

em que A1, A2, z0 e p são os parâmetros da curva − A1 éo limite de Gres quando z* tende para zero; A2 é o limitede Gres quando z* tende para infinito; z0 é o ponto deinflexão da curva; e p caracteriza o declive da curva noponto de inflexão.

ARTIGO

Ajustadas as sigmóides aos valores calculados de Gres, veri-ficou-se que, para as três geometrias estudadas, os parâ-metros A1, A2 e p eram constantes e apenas z0 era variá-vel. Na prática, isto tem uma consequência significativa:mediante uma mudança de variável baseada na razãoentre valores de z0, as três sigmóides podem ser justapos-tas por translação de duas delas sobre a terceira. Assim,concluiu-se que a nova variável, z, é dada por:

(4)

com

y = 2R, para fios; y = 1,5t, para folhas; (5)y = R, para esferas,

em que R designa o raio do fio ou da esfera e t representaa espessura da folha. Note-se que a translação adoptadaleva as sigmóides de fios e folhas a sobreporem-se à sig-móide de esferas. Desta vez, o gráfico representativo de Gres(z) para folhas,fios e esferas foi assumido como "universal curve" [7].

Por último, o estudo foi estendido a cilindros, que têm aparticularidade de corresponder a uma geometria inter-média entre fios e folhas circulares. De acordo com umasugestão de Gilat e Gurfinkel [1], adoptou-se para"dimensão" típica de um cilindro a grandeza

(6)

em que R e h designam, respectivamente, o raio e a altu-ra do cilindro. Repare-se que x tem as dimensões de umcomprimento e que, quando h tende para zero, x tendepara h (geometria do tipo folha); e, quando R tende parazero, x tende para R (geometria do tipo fio). Efectuado o ajuste de uma sigmóide aos valores de Gres eprocedendo como indicado anteriormente, concluiu-se que,no caso de cilindros, a sigmóide se sobrepõe às outras trêspara y igual a [8]:

(7)

Note-se que faz sentido que o "factor de forma" de cilin-dros (1,65) tenha um valor intermédio entre o factor defolhas (1,5) e o de fios (2).

CONCLUSÃO

Partindo de um objectivo preciso, mas com um alcancelimitado − estabelecimento de uma metodologia decálculo de Gres, para suprir uma necessidade concreta

G zA A

zz

Apres ( *)*

= −

+⎛

⎝⎜

⎠⎟

+1 2

0

2

1

z y E= ⋅ ⋅Σ tot res( )ΓΓ

γ

xR h

R h=

+

yRh

R h=

+1 65,

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relacionada com a irradiação de amostras no RPI −, otrabalho efectuado no ITN acabou por evoluir para umresultado inesperado: verificação da existência de umacurva universal de Gres válida para ressonâncias isoladasde quaisquer nuclidos3 e para várias geometrias dasamostras (fios, folhas, esferas e cilindros).

No Quadro 2, estão resumidas as condições de aplicaçãoda curva universal de Gres.

Na Fig. 3, encontra-se a curva universal e os valores deGres(z) obtidos pela técnica de Monte Carlo para amostrasdos vários nuclidos estudados (197Au, 59Co, 63Cu, 115In, 55Mn,185Re) em cada uma das quatro geometrias consideradas.A concentração dos valores de Gres em torno da curvauniversal é notória.Na Fig. 4 procede-se à comparação da curva universalcom valores experimentais de Gres obtidos por outros au-tores para folhas e fios de diversos nuclidos, alguns dos quais(65Cu, 98Mo, 100Mo, 94Zr, 96Zr) não fazem parte do lote denuclidos que serviram de base ao trabalho. O acordo ve-rificado confirma a adequação da curva universal. Não seincluem valores experimentais referentes a esferas e cilin-dros por não constarem da literatura disponível, mas aexpectativa é que, para estas geometrias, se deveria veri-ficar igualmente um acordo satisfatório.

Entendida como curva de referência − para amostras comqualquer das geometrias estudadas (esferas, folhas, fios e

cilindros) −, a curva universal do factor de autoprotecçãode neutrões de ressonância pode ser utilizada com diver-sas finalidades:

1. Determinação expedita de Gres referente a umaressonância isolada, ou a um grupo de ressonâncias iso-ladas [9], de um nuclido qualquer.

2. Esclarecimento de questões ou formulação de conjecturas,no caso da obtenção por outrem de valores experimentaisou calculados de Gres incompatíveis com a curva universal: - Inexactidão do valor experimental? - Inadequação do modelo de cálculo? - Ressonância mal parametrizada?

3. Averiguação sobre se a quantidade de um nuclido pre-sente numa liga - 197Au em níquel ou 59Co em alumínio,por exemplo - pode ser considerada como corresponden-do à "diluição infinita" (amostra de referência: Gres 1).Se não for o caso, determinação do factor correctivo aaplicar aos valores experimentais de Gres em que foi uti-lizada uma amostra de referência inadequada [5, 10].

A terminar, fica uma interrogação: sendo empírica acurva universal, será possível deduzir a sua expressão porvia teórica?

Quadro 2 - Condições de aplicação da curva universal.

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REFERÊNCIAS

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[2] M. C. Lopes: Sensibilidade de colectrões de cobalto aneutrões térmicos e epitérmicos com tratamento multicoli-sional da absorção atómica. Tese de doutoramento,Universidade de Coimbra, 1991.

[3] J. F. Briesmeister (Ed.): MCNP - A general MonteCarlo n-particle transport code, Los Alamos NationalLaboratory, Report LA-13709 - M (2000).

[4] I. F. Gonçalves, E. Martinho, J. Salgado: MonteCarlo calculation of resonance self-shielding factors forepithermal neutron spectra. Radiation Physics andChemistry 61 (2001) 461.

[5] I. F. Gonçalves, E. Martinho, J. Salgado: MonteCarlo calculation of neutron resonance self-shielding factorsin wires of different materials. Applied Radiation andIsotopes 55 (2001) 447.

[6] I. F. Gonçalves, E. Martinho, J. Salgado: MonteCarlo calculation of neutron resonance self-shielding factorsin foils of different materials. Applied Radiation andIsotopes 56 (2002) 945.

[7] E. Martinho, I.F. Gonçalves, J. Salgado: Universalcurve of epithermal neutron resonance self-shielding factorsin foils, wires and spheres. Applied Radiation and Isotopes58 (2003) 371.

[8] I. F. Gonçalves, E. Martinho, J. Salgado: Extension to cylindrical samples of the universal curve of resonance neu-tron self-shielding factors. Nuclear Instruments andMethods in Physics Research, Section B 213 (2004) 186.

[9] J. Salgado, E. Martinho, I.F. Gonçalves: The calcula-tion of neutron self-shielding factors of a group of isola-tedresonances. Journal of Radioanalytical and NuclearChemistry 260 (2) (2004) 317.

[10] E. D. McGarry: Measurements of the resonance neu-tron self-shielding in gold wires. Transactions of theAmerican Nuclear Society 7 (1964) 86.

NOTAS

1 A amostra pode ser um detector de neutrões por acti-vação (disco ou fio de ouro, de cobalto, etc.); um detec-tor de neutrões de corrente contínua (colectrão); um alvoa irradiar com neutrões para efeito de radioactivação,indução de danos estruturais; etc.

2 A secção eficaz de um nuclido para uma dada reacçãonuclear é a grandeza que caracteriza a probabilidade deocorrência dessa reacção. As reacções nucleares com neu-trões mais significativas no âmbito do presente estudosão as reacções de captura radiativa e as reacções de dis-persão elástica.

3 A expressão quaisquer nuclidos traduz a extrapolaçãodecorrente da coerência global dos resultados obtidosrespeitantes a todos os nuclidos envolvidos no estudo.

Fig. 3 - Curva universal e valores de Gres(z) obtidos pelatécnica de Monte Carlo para amostras dos vários nucli-dos considerados (197Au, 59Co, 63Cu, 115In, 55Mn, 185Re) em cada uma das quatro geometrias estudadas.

Fig. 4 - Comparação entre a curva universal e valoresexperimentais de Gres obtidos por outros autores parafolhas (F) e fios (W) de diversos nuclidos.

ARTIGO

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Artur Marques da Costa, professor

de Ciências Físico-químicas

Artur Marques da Costa, licenciado em Ciências

Físico-químicas na Universidade de Lisboa e mestre

em Ciências da Educação pela Universidade de

Austin (Texas, Estados Unidos), tem 71 anos e está

aposentado há sete anos. Deixou de dar aulas, mas

continua a ensinar alunos, porque está convencido

de que tudo seria mais complicado para si se não

continuasse a "fazer coisas". Uma curiosidade sem

limites parece, aliás, ser um dos motores da sua

vida, onde se inclui um gosto confessado pela arqui-

tectura − aliás, teria sido essa a sua escolha se não

tivesse optado pelas Ciências Físico-químicas.

Porquê? Porque, afirma, "há alguma coisa de especial

no indivíduo que consegue idealizar as coisas como

elas vão ser e que, depois, vai agir sobre a matéria,

os cristais, os átomos, que serão moldados de

determinada forma". Breve percurso de uma vida

na entrevista que concedeu à "Gazeta de Física".

Entrevistado por:

CARLOS PESSOA

[email protected]

Gazeta de Física - O que o encaminhou para as ciênciasfísico-químicas?Artur Marques da Costa - Quando acabei o ensino secun-dário, em 1948, bastante marcado por esse meu mestre eprofessor que foi Rómulo de Carvalho, só havia duasopções: engenharia química ou físico-químicas. Comotinha média para entrar em qualquer deles, resolvi ir parao Instituto Superior Técnico, onde fiz os dois primeirosanos de engenharia química. Mas como o que eu queriaera ir para o ensino, "agulhei" para a Faculdade de Ciên-cias de Lisboa, em 1954, onde tirei o curso de CiênciasFísico-químicas. Sinceramente, eu não estava vocaciona-do para ser engenheiro.Logo a seguir a terminar a licenciatura, a partir de 1958,tive uma bolsa do Instituto de Alta Cultura para a entãoJunta de Energia Nuclear (JEN), onde trabalhei durantetrês anos na área de química das radiações (radiólise daágua) com a investigadora Maria do Carmo Anta. O resul-tado desse trabalho foi publicado no "Journal de Chimieet Physique". Curiosamente, foi o primeiro trabalhocientífico publicado pela JEN, por volta de 1961-62.

P. - E não continuou?...R . - Sim, de facto a minha carreira científica terminouaí. Logo a seguir ainda estive dois anos a leccionar noensino secundário, mas depois concorri para assistente naFaculdade de Ciências, onde passei oito anos, de 1962 a1970. Fundamentalmente, dei cadeiras de QuímicaMédica − grande parte dos médicos actualmente denomeada foram meus alunos, como é o caso de Mário

UM PROFESSOR QUE

PODIA TER SIDO

ARQUITECTO

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Andreia, ou ainda de António Damásio!... Os professorescatedráticos eram muito severos naquele tempo e não foiuma nem duas vezes que intercedi nos exames a favor dealunos que, se reprovassem naquela oral, iriam parar aÁfrica − na altura, recorde-se, Portugal estava em guerra etoda a gente tinha de ir à tropa. Encontrei alguns maistarde em circunstâncias várias, recordando esses episódioscom um sentimento de gratidão que me tocava − umdeles, que me reconheceu certo dia no Hospital de SantaMarta, disse-me uma coisa muito bonita: "Eu nunca meesqueço que, se sou médico, a si o devo".Quando faltavam cerca de seis meses para terminar o pra-zo de oito anos que havia na altura para efectuar o dou-toramento, um dos dois catedráticos de Química Médica,o Prof. Kurt Jakobson, arranjou-me uma oportunidadena Alemanha, onde teria de me instalar durante os qua-tro anos seguintes. Embora sabendo que era a minha car-reira universitária que estava em jogo, eu disse-lhe quenão, pois nem sequer falava alemão... Ele não gostou edisse-me que nunca mais faria nada por mim. De facto,ele nunca tinha feito nada por mim até ali...Dois meses antes de terminar o prazo, ainda escrevi aGiulio Natta, um professor de Milão que tinha ganho oNobel graças a um determinado método catalítico para

obtenção de polímeros, perguntando-lhe se podia traba-lhar com ele caso obtivesse uma bolsa de investigação. Oque eu sabia de polímeros era o que tinha aprendido naFaculdade, além de um curso que dera durante meio ano.Ele respondeu-me que sim! Concorri a uma bolsa daNATO nas áreas científicas, mas no Verão desse ano soubeque a bolsa tinha sido recusada. Apurei depois que osdois catedráticos deram um parecer negativo, invocandoque eu fazia falta à Faculdade... nos dois meses de férias!

P. - E foi-se embora da Faculdade de Ciências...R. - Fui-me embora, mas posso dizer que tive sorte.Concorri ao estágio para professor do ensino secundárioindustrial e fi-lo no primeiro ano em que este foi remune-rado, na Escola Fonseca Benevides. Os meus alunos saíamda escola como preparadores de laboratório químico direc-tamente para as empresas industriais como a CUF, Covina,Soda-Póvoa... Por isso, foi um erro, depois do 25 de Abril,ter-se acabado com os cursos técnicos, pois acabaram oscontabilistas, os serralheiros, os preparadores, etc. A demo-cratização foi feita ao contrário!

P. - O que aconteceu quando acabou o estágio?R. - Tive uma boa média de estágio e fiquei em Lisboa,

ENTREVISTA

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na Escola Ferreira Borges, durante dois anos. Mas entre-tanto concorri a uma bolsa e fui para os Estados Unidosem 1973-74 fazer o mestrado em Ciências da Educação.Estive 14 meses na Universidade de Austin (Texas), ondefui "apanhado" pelo 25 de Abril. Nesse dia, um amigoamericano chega junto de mim e diz-me: "Artur, houveuma revolução no teu país!" Durante uma semana, eu emais uma dúzia de portugueses que estavam lá andámosde um lado para o outro a tentar obter informação e per-ceber o que tinha acontecido e estava a acontecer... Éclaro que o facto de ser um gesto para derrubar o regimeque existia era uma coisa boa.Regressei a Portugal em Agosto de 1974, trabalhei duran-te três anos no ensino técnico, leccionando Físico-quími-ca, Matemática − se fosse necessário, tínhamos de darMatemática, embora não fosse disciplina da minha área −e Estatística.Em 1977 fui para o Colégio Militar.

P. - Porquê?R. - Em princípio, os professores do ensino técnico nãopodiam ir para o Colégio Militar. Com o 25 de Abril, adistinção entre ensino liceal e técnico acabou, passando ahaver apenas professores do ensino secundário. No Colé-gio Militar, a regra era as pessoas candidatarem-se median-te a apresentação do seu currículo, e fui aceite. Foi umperíodo muito frutífero da minha vida. Só dei Físico-quí-mica durante um ano, porque entretanto a reforma sepa-rou as duas disciplinas e eu passei a dar apenas Química.

P. - Porque diz que o seu período no Colégio Militar foimuito interessante?R. - O ensino ali tem uma qualidade científica que énotável. Desenvolvi lá projectos − um deles com a Uni-versidade de Manchester, durante sete anos, para com-parar a acidez da chuva na Grande Lisboa com a GrandeManchester e uma cidade sueca cujo nome já não merecordo. Com um grupo de alunos, fazíamos as mediçõesà mesma hora que eram feitas em Manchester e naSuécia, e com a mesma técnica. Mais tarde, os Açorestambém entraram (Ponta Delgada). Todos os resultadosforam publicados.Desenvolvi outro trabalho muito interessante sobre ener-gias alternativas, com um colega e amigo meu, AntónioGama: durou 12 anos, com a construção de fornossolares, biodigestores, painéis solares, etc. Também nestecaso, deslocámo-nos a muitos sítios, em Portugal e noestrangeiro, para apresentar o que fazíamos.Outro exemplo: um trabalho sobre macrofotografia, comuma técnica económica de registo de cristais precipitados,apresentado em Itália e publicado numa revista italianade Química, em Milão. Tudo porque o Colégio Militartinha boas condições de trabalho que só era preciso saberaproveitar. Foi aí que me aposentei, em 1996, mas embo-ra esteja retirado do ensino formal, continuo a trabalhar,preparando alunos que, em alguns casos, são filhos deantigos alunos meus.

P. - De tudo o que fez, o que gostou mais de fazer?R. - Onde gostei mais de trabalhar foi na Faculdade e noColégio Militar. Nesta última instituição, as condiçõeseram boas, como já disse - as turmas não eram grandes ehavia uma boa disciplina que ajudava a que as coisas fun-cionassem. Além disso, o ensino era muito experimental,quando cá fora não era. Na Faculdade, sobretudo devido auma certa satisfação de ter tido alunos que hoje são médi-cos ou investigadores.

P. - Os alunos reagiam bem quando lhes era proporciona-do um ensino mais experimental das matérias?R. - Claro! De uma maneira geral, eles gostavam maisquando tinham aulas práticas. Mas em todo o meu per-curso estive sempre ligado à parte experimental. E logodesde o início, pois grande parte das horas do meu está-gio estiveram ligadas ao ensino experimental. E aindahoje, sempre que posso deito mão a situações práticascom os meus alunos. Olhe, é o caso do modelo da mo-lécula de carbono 60 que tenho sempre à mão − ao prin-cípio chamava-se futeboleno por ser o modelo da bola defutebol oficial, e agora chama-se fullereno. É também ocaso de pilhas, lentes e espelhos que tenho em casa, comos quais se podem fazer algumas demonstrações práticas,quase brincadeiras de carácter didáctico. Em química já éum pouco mais complicado, pois não posso ter osreagentes em casa...

P. - Os alunos sabem hoje mais ou menos do que no pas-sado?R. - Dá a impressão que não se sabe hoje tanto como nopassado, mas antigamente também se estudava muita coi-sa que era sobretudo um bom exercício para a memória.Ora, os alunos têm outras capacidades actualmente. No casoconcreto da Física e da Química, antes havia aulas práticas...

P. - Mas acha que hoje há mais interesse pelas ciênciasexperimentais?R. - Antes lia-se muito e havia muito tempo para ler.Hoje o tempo de lazer é imenso, mas mandar ler umtexto de oito páginas nas férias é uma "seca"! Contudo,actualmente, parece-me que começa a haver um interessemuito grande pelas questões da ciência, da biologia, dogenoma, viagens espaciais, astronomia... Duvido é queabranja um número muito grande de alunos. Eu estouconvencido que os livros de divulgação científica sãosobretudo lidos por professores. Mas também a verdade éque no passado o que se lia mais eram manuais... Ointeresse pelas questões de ciência não era por aí além,mas não nos podemos esquecer que entretanto aconteceualgo muito importante − a explosão do ensino baixou osníveis médios de conhecimento e de cultura geral, e oindivíduo que faz hoje o 9º ano de escolaridade talveztenha um nível inferior ao que nós tínhamos antes.

P. - Os bons mestres fazem a diferença?R. - Sim. Os mestres carismáticos têm um papel importante

ENTREVISTA COM ARTUR MARQUES DA COSTA

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nas "agulhagens" que fazemos nas nossas vidas. Naminha turma do 7º ano do Liceu Camões éramos 30 alu-nos, e até hoje continuamos a reunir-nos todos os mesesnum almoço. Há gente em todas as áreas e profissões enão há uma única vez, nesses encontros, em que não sefale de Rómulo de Carvalho! Todos sentimos que ele eoutros professores tiveram um peso decisivo na nossa for-mação - no meu caso, numa idade tão decisiva como sãoos 14, 15, 16 anos, em plena adolescência. Eu costumodizer que foram quatro os grandes mestres que tive emtoda a minha vida de estudante: o meu professor do ensi-no primário, Manuel Santos; Rómulo de Carvalho, nosecundário; o Prof. Torre de Assunção, na faculdade; eJohn Huntsberger, um professor do ensino das ciênciasna Universidade do Texas, nos Estados Unidos.

P. - Porque continua a dar aulas?R. - Há colegas meus que depois de se aposentaremnunca mais quiseram ver alunos à frente. Eu não pensoassim, porque acho que ainda tenho imensas coisas parafazer. De facto, a nossa cabeça continua activa e estouconvencido que se paramos tudo se torna mais complica-do. Mas isso não é só de agora, porque quando era assis-tente na Faculdade decidi aprender italiano para poderler no original Galileu, de quem Rómulo de Carvalho

nos falava de uma forma única, contando pequenashistórias... Veja lá que, mais tarde, esse conhecimento foi-me precioso para me candidatar a uma bolsa e ser aceitenum curso sobre polímeros em Ferrara, que foi a cidadeonde Copérnico se formou. Do mesmo modo, fiz imen-sas viagens ao estrangeiro com os meus alunos, fui trêsvezes ao Oriente, estive em Macau, Hong-Kong e, sobre-tudo, Malaca, onde ouvi falar o português do século XVI!

P. - Se não tivesse sido professor, o que gostaria de teraprendido?R. - Arquitectura.

P. - Porquê?R. - Porque há alguma coisa de especial no indivíduo queconsegue idealizar as coisas como elas vão ser e que,depois, vai agir sobre a matéria, os cristais, os átomos,que serão moldados de determinada forma. Estive quase,quase a entrar para arquitectura, mas, quando tive esse"clique", em 1975 − já era professor do ensino técnico −a escola tinha fechado... Gosto muito e sempre que possovisitar obras de grandes arquitectos conhecidos noestrangeiro, não perco a oportunidade!

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ENTREVISTA

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FÍSICA NO MUNDO

DETECTADA PRIMEIRA IMAGEM DEECO DE RAIOS X

O satélite de raios X "XMM Newton" daAgência Espacial Europeia (ESA) con-seguiu obter a imagem de um eco cósmi-co distante. Vistos como anéis concêntri-cos a rodearem uma explosão violenta, osecos cósmicos têm sido avistados em luzvisível à volta de algumas supernovasmas esta é a primeira vez que foram vis-tos nos comprimentos de onda que cor-respondem aos raios X.

O eco foi originado numa região do es-paço em torno de uma explosão de raiosgama (ERG), o que fez com que as nuvensde gás e poeiras próximas dentro da ViaLáctea brilhassem nos comprimentos deonda correspondentes aos raios X. Àmedida que se observava o desenrolar doevento, parecia que um conjunto deanéis se estava a expandir 1000 vezesmais depressa do que a velocidade da luz.

Este efeito, chamado "eco", não é umaviolação da Teoria da Relatividade, quediz que a velocidade da luz não pode serultrapassada. Na realidade, o eco é cau-sado pelo modo como a radiação daERG interage com o material interestelar.

A detecção deste eco evidencia a impor-tância de toda uma nova abordagem. A 3de Dezembro de 2003, o satélite interna-tional Gamma-Ray Astrophysics Laboratory(Integral), também operado pela ESA,detectou uma explosão de raios gama de30s originados num ponto da constela-ção Puppis (a Popa). Em 90 minutos, oIntegral enviou um alerta via Internet epoucas horas depois, o “XMM-Newton”estava alinhado de modo a captar a ima-gem do remanescente da ERG.

O “XMM-Newton” formou a imagemda radiação de raios X progressivamenteenfraquecida e encontrou dois anéis dematerial iluminado pelos mesmos. Estesanéis captaram a atenção dos astrónomos.

Detectada primeira imagem de eco de raios X

MRI com 80 nm de resolução

O melhor empacotamento de “smarties”

Algumas notícias adaptadas das “Physics News” do American

Institute of Physics

A "Gazeta" agradece aos seus leitores sugestões de notícias do

mundo da Física. [email protected]

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Um dos astrónomos comparou esta si-tuação com um grito numa catedral: aexplosão dos raios gama é mais intensa ea reverberação galáctica vista nos anéis émuito mais bela.

Vemos vários anéis pois o material interes-telar no qual eles foram criados se encon-tra disposto em duas camadas: uma a 2900anos-luz da Terra (o anel mais largo) e aoutra a 4500 anos-luz. Estas distânciaspodem ser determinadas com grandeprecisão pois tanto o tamanho dos anéisem expansão como a velocidade a que osraios X viajam no espaço é conhecida.

(ASTRONOVAS, Lista de distribuição denotícias de Astronomia em Português, Observa-tório Astronómico de Lisboa, Centro deAstronomia e Astrofísica da Universidade deLisboa, Tapada da Ajuda, 1349-018 Lisboa.Para subscrever envie uma mensagem vaziapara o endereço [email protected])

MRI COM 80 NM DE RESOLUÇÃO

Foi conseguida uma MRI com 80 nm deresolução, muito superior à dos melhores"scans" médicos, utilizando um aparelhoque combina as tecnologias de um mi-croscópio de força atómica e da res-sonância magnética nuclear. Na meto-dologia híbrida denominada microsco-pia de força de ressonância magnética,uma minúscula partícula magnetizada éligada a uma lingueta, trazida depois atéuma amostra, rodeada por uma bobinaque emite ondas de rádio. Quando um pequeno domínio magnéticona amostra "sente" a quantidade certa de

campo magnético, com origem na bobi-na e na partícula magnética, irá interagirvigorosamente com estes, havendo res-sonância. (O minúsculo volume analisa-do é designado "voxel" e a combinaçãoamostra - bobina - partícula é equivalen-te à montagem numa máquina “standard”de MRI para visualizar, por exemplo, umtumor.) A interacção ressonante entreamostra e partícula faz oscilar a lingueta(a partícula na lingueta é como uma pes-soa a oscilar em ressonância, cada vezmais alto, numa prancha de mergulho).Esta, controlada com um raio laser, é de-pois digitalizada, desenhando um mapa,primeiro bidimensional e depois tridimen-sional, da interacção ressonante. (A linguetaoscilante visualizada mais a leitura laser cons-tituem a parte do microscópio de forçaatómica da montagem). O objectivo não é ajudar os cirurgiões (amelhor MRI médica tem uma resoluçãoespacial de cerca de uma décima de mi-límetro), mas sim ser capaz de digita-lizar e visualizar pequenos objectos − espe-cialmente partículas de importância bio-lógica como vírus e proteínas − com umaresolução à escala atómica. Por outras pa-lavras, pretende-se aumentar a sensibili-dade de forma a mostrar a presença despins individuais. O "voxel", neste caso,seria reduzido a menos de 1 nm.

Uma experiência recente na Universi-dade de Washington está longe de alcan-çar este objectivo, mas os investigadoresmelhoraram a sensibilidade de um factorde quase 10 000 desde os dados maisrecentes de visualização de microscopiade força de resonância magnética de 1996.Em geral, a sensibilidade mais elevada

resulta da redução do tamanho do apa-relho e do maior arrefecimento possível(actualmente 80 K), facilitando uma lei-tura mais precisa das oscilações e daposição da amostra. Será grande o "voxel"de 80 nm de Washington? Um dosmembros da equipa, John Sidles, afir-mou que cerca de um milhão destes"voxels" cabem numa célula típica desangue. Existem outros grupos a traba-lhar nesta área, tentando manobrar oequipamento necessário para a visualizarum spin individual. Segundo JosephChao, tal incluiria temperaturas da or-dem dos milikelvin, partículas magnéti-cas de 30 nm, uma precisão de posi-cionamento da ordem dos subnanome-tros e linguetas ainda mais macias.

Chao, Doughters, Garbini, Sidles, Rev.of Scientific Instruments, Maio 2004.

O MELHOR EMPACOTAMENTO DESMARTIES

O melhor empacotamento de M&Ms(“smarties”), enchendo mais de 77% dovolume disponível, foi descoberto numasimulação computacional, em Princeton,EUA. Na verdade, os novos resultadosaplicam-se a qualquer objecto elipsoidal,como os "smarties", as ovas de peixe ouas melancias. A visão moderna do empa-cotamento denso terá começado em1611, quando Johannes Kepler sugeriuque a forma mais eficaz de empacotaresferas seria como se faz com laranjasnuma caixa. Ao contrário das esferas, aforma achatada das elipsóides oferecemaiores possibilidades de disposição eempacotamento (estão comprimidas ouesticadas pelo menos numa direcção).Dependendo do factor de forma da elip-sóide, a densidade de empacotamentopode situar-se entre os 74% e os 77%. Ainvestigação de Princeton tem muitasimplicações práticas: mostra que corposvítreos podem ter densidades tão eleva-das como corpos cristalinos; sugere que sepodem conceber cerâmicas mais resisten-tes devido a um elevado número de vizi-nhos (no empacotamento de elipsóidesmais denso cada um pode tocar 14 vizin-hos); e encoraja os investigadores a estu-dar o efeito da forma elipsoidal na opti-mização evolucionária das ovas de peixes.

(Donev et al., Physical Review Letters, aser publicado).

NOTÍCIAS

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FÍSICA EM PORTUGAL

EVOCAÇÃO DE ANTÓNIO DASILVEIRA NO CENTENÁRIO DOSEU NASCIMENTO

António da Silveira, nascido a 28 deMarço de 1904 em Coimbra, licenciou--se em Engenharia Química peloInstituto Superior Técnico (IST) em1929, tendo de seguida e até 1932 esta-giado sob a orientação de Paul Langevinno Laboratoire de Physique Experimentaledo Collège de France. Frequentou,então, diversos cursos de Física Teóricana Sorbonne e no Instituto HenriPoincaré, em Paris. Leccionou, entre1933 e 1974, no Instituto SuperiorTécnico, onde foi Professor Catedráticode Física Geral, Física Complementar eMecânica Quântica e Física Nuclear. NaFaculdade de Ciências da Universidadede Lisboa regeu cursos de Física Teóricaentre 1949 e 1956. Eleito membro efec-tivo da Academia das Ciências de Lisboaem 1952, foi Presidente do Instituto deAltos Estudos da Academia desde a suafundação até ao seu falecimento emMarço de 1985. Entre 1964 e 1967 foiPresidente do Instituto de Alta Cultura.Presidiu de 1967 a 1974 ao Instituto deFísica Matemática (actualmente Com-plexo Interdisciplinar da Universidadede Lisboa), que criou.

Foi-lhe concedido pelo governo francês ograu de Comendador da Legião deHonra em 1967. Recebeu o Diploma deHonra do Queens College da CityUniversity of New York. Recusou a Grã--Cruz da Instrução Pública, concedidaem 1967, ao deixar o Instituto de AltaCultura.

Evocação de António da Silveira no centenário doseu nascimento

Prof. António da Silveira: prémio e exposição

Jornadas de Meteorologia em Vila do Conde

Cursos do CEMUP em 2004

Alunos de Física do Porto participam em voos daESA

Avaliação das universidades

Trânsito de Vénus é tema de exposição

Planetas extra-solares em colóquio

Maio foi mês da Astrofísica

Colóquio sobre o mapeamento funcional do cére-bro

Novas regras para financiar a investigação emPortugal

Mudanças anunciadas no Ciência Viva

III Congresso Ibérico de Espectroscopia

Dia da energia no Pavilhão do Conhecimento

A "Gazeta" agradece o envio de notícias para esta secção.

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Actividade científica e cultural

A actividade científica do ProfessorSilveira foi abundante tendo-se repartidopor diferentes domínios da Física Teóricae Experimental, como a teoria doElectromagnetismo e o efeito de Ramanem soluções de electrólitos, tendo publi-cado os seus resultados em diversas revis-tas: "Comptes Rendues de l'Académiedes Sciences" (Paris), "Journal ofChemical Physics", "Molecular Physics","Philosophical Magazine", "Revista daFaculdade de Ciências de Lisboa","Gazeta de Física", etc.

Além dos livros recentemente reeditados,escreveu ainda "Mecânica Clássica nãoRelativista" (1958), "Radiamento eQuanta" (1962) e "Introdução à Me-cânica Ondulatória" (1963). Participouem diferentes missões de estudo emFrança, Inglaterra, Estados Unidos e pro-moveu diversos seminários científicosque permitiram aos jovens investigadoreso contacto com grandes físicos.

A sua actividade não se circunscreveu,porém, ao estudo de temas científicospois tratou igualmente assuntos de caráctercultural e histórico-biográfico de que sãoexemplos as conferências que realizou naAcademia das Ciências, como "O ElogioHistórico de L.A. Rebelo da Silva" ou"Recordando António Sérgio"1.

Os anos no IST

Em Março de 2004 completaram-se oscem anos do nascimento de António daSilveira. Com a memória que tinha doconvívio com o meu orientador emFísica e no ensino da Física dei um teste-munho sobre ele, que foi publicado na"Técnica". Este testemunho integrouuma curta série de palestras organizadaspara homenagear o professor. Vouretomar algumas passagens desse texto,desenvolvendo o que anos atrás escrevi2

também na “Técnica”.

"…o Prof. António da Silveira, entãoDirector do Laboratório de Física do

IST, conseguiu criar no seu laboratóriocondições favoráveis ao seguimentodesta carreira (a sua carreira científica):adoptou nas disciplinas de Física queestavam sob a sua responsabilidade pro-gramas e métodos de ensino de níveladequado, actualizados e estimulantes,fez investigação científica e orientouestudantes na investigação em Física nonosso país; criou, fez construir e equiparum Instituto destinado à investigaçãofundamental de que mesmo depois deextinto colhemos ainda hoje frutos..."

Creio que o Prof. Silveira ao falar de sipróprio poderia dizer3:

"Construo o barco,a rota, os remos.(...)Estudo o soloe a geografiada minha casa.Os outros passam,dizem adeus.Olho-os de frente.

E o riso brevena minha bocaé esse secoprotesto ao fácilcaminho deles.(...)”

Duarte Pacheco, que o convidara paraprofessor de Física do IST, dissera-lhe,em 1936, em determinadas circunstâncias:- Você podia ser tudo nesta terra, se nãofosse o seu feitio!E a resposta imediata foi:- Se fosse tudo nesta terra, não seria nadana outra…4

Tinha grande paixão pela FísicaExperimental e não teve grande sucessono Técnico. Segundo ele, "no IST haviauma 'feroz' oposição à ideia de investi-gação. Alguns membros do Conselho -quase todos - diziam:− O Técnico não é para fazer investigação!Não sabiam o que isso é, mas diziam-no.Seria para fazer engenheiros? A verdade éque alguns diziam, muito convencidos:− O Técnico é para fazer admi-nistradores de empresas!...Nessa altura eu ainda me ocupava deFísica Experimental - uma espécie de

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paixão… Para conseguir os meiosnecessários à instalação de um labo-ratório de investigação no IST penseisocorrer-me das artes mágicas, pensei dardois espectáculos de magia e prestidigi-tação no Coliseu dos Recreios - inteira-mente preenchidos por mim…"5

Ainda conheci os interessantes, esmera-dos textos que nos primeiros anos do seumagistério fazia para os estudantes queexecutavam os trabalhos práticos de FísicaGeral e Experimental. E, ao mesmotempo, ia publicando em revistas interna-cionais os resultados das suas investigações.

Quando se instalou no IST um excelenteespectroscópio do visível para prosseguiras suas investigações da estrutura e dadinâmica das soluções aquosas, o Prof.Silveira colaborou até nas tarefas menosdelicadas. Nesse tempo os professorescatedráticos eram uma espécie de deusesque pairavam acima das nuvens e... damatéria! Então um assistente comentava:"Se me dissessem que o Prof. Silveiratinha estado a ajudar tão afincadamentea montar este aparelho e não o tivessevisto como vi com os meus própriosolhos não teria acreditado!…"

Trabalho científico

Soube escolher e indicar aos seus colabo-radores uma via de investigação que temproduzido e se espera vir a produzir umalargamento do conhecimento da estru-tura e da dinâmica das soluções aquosaslíquidas. As primeiras experiências doProf. Silveira seguiram-se à descoberta,por Raman, em 1928, do efeito conheci-do pelo seu nome e que lhe granjeou oprémio Nobel da Física.

Os resultados experimentais do Prof. Sil-veira serviram de tema à tese de MichelMagat intitulada "Recherches sur le spectreRaman et la constituition de 1'eau liquide"publicada, em 1936, no tomo 6 dos"Annales de Physique" (págs. 108-193) edefendida na Universidade de Paris.

Numa comunicação lida à Academia dasCiências de Amesterdão6, em Março de

1974, o Prof. J. A. Prins, célebre cientistaholandês, indicava-se a ele próprio e a A.Silveira como os investigadores queestimularam o planeamento duma longasérie de trabalhos sobre a difracção deraios X em soluções aquosas concen-tradas de sais inorgânicos de catiõesmetálicos. Publicou o Prof. Silveira cerca de 30traba-lhos, quase sempre sozinho, entre1930 e 1965, aos quais nem sempre setem dado o devido valor.2 Muitos artigosforam publicados pelos seus colabo-radores em revistas internacionais comgrande impacto, artigos esses que foramo seguimento das suas investigações, uti-lizando as técnicas experimentais que elesugeriu.

A reactivação das investigações experi-mentais por meio da espectroscopia doefeito de Raman foi feita com a colabo-ração dedicada e inteligente do Prof.Noémio Macias Marques entre 1953 e1965. Nos primeiros anos deste períodotambém se contou com Maria HelenaD. Silva Paias. Ambos foram assistentesdo Prof. Silveira na Faculdade deCiências de Lisboa.

Colaboraram nas investigações que deramorigem aos artigos já referidos Maria Isa-bel de Barros Marques e Maria IsabelCabaço (Professora Catedrática Convida-da da Universidade de Bordéus); igual-mente, a partir de 1999, a estudante dedoutoramento Ana Maria Gaspar, queneste momento redige a sua dissertação.Embora actualmente não façam partedeste grupo, refiram-se ainda M. A. deSousa Oliveira, João Resina Rodrigues eMaria Clara Carreiro da Costa, engen-heira técnica que presta apoio em algumasexperiências.

O Instituto de Física Matemática

Julgo que não será necessário referir aaudaciosa estratégia do Prof. Silveira nacriação do Instituto de Física e Matemá-tica para fazer sair o nosso país da si-tuação descrita por António Gião7, nema sua actividade no Núcleo de Mate-mática e Química que fundou (de cola-

boração com outros cientistas). Ambas asiniciativas foram elogiadas no texto2 quelhe dediquei em 1997, lido na home-nagem que o IST promoveu e que éretomado aqui.Recordo que o Prof. Silveira tentava8:

− ensinar − "… que não há corageminútil, que os lugares do impossível sedeslocam quando a confiança toca ochão das coisas";

− libertar a vida − "… do discurso da re-signação que é o fatalismo, do derro-tismo que é a filosofia espontânea dosproletários…"

− livrar-nos de − "… tolerar o mundo, aperversão à escala industrial, a conivên-cia da morte…"

Eis dois expressivos textos de A. Giãoescritos na época em que se criou o IFM:

"… Elaborar um quadro objectivo da"investigação científica fundamental"em Portugal, como de resto em muitosoutros países, é uma tarefa delicada,ingrata e difícil. Delicada porque aomostrar a verdade sobre esta questãoarriscamo-nos a ferir determinadas sus-ceptibilidades e mesmo a atingir o amorpróprio nacional. Ingrata, porque um es-forço de clarificação da situação da inves-tigação, levada a cabo de um modo abso-lutamente desinteressado e tendo comoúnico objectivo a melhoria do estado decoisas actual, arrisca-se a ser mal inter-pretada. Difícil, em última análise, por-que evidentemente é difícil falar daquiloque não tem senão uma existênciaesporádica ou que nem sequer existe..."

"... Parece-me que qualquer solução quetente criar em Portugal as condiçõesnecessárias a uma verdadeira investigaçãofundamental, aproveitando o que existeactualmente, como base para um desen-volvimento futuro, será votada ao fracas-so. A situação é de tal modo que se tornanecessário encarar como única soluçãoeficaz o que se poderá chamar de "trata-mento de choque". Refiro-me com isto àinstalação em Portugal de alguns esta-belecimentos científicos de vanguarda, à

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escala moderna. Estou mesmo tentado aacreditar que de início seria suficientepara "desenvolver" a investigação e criarum pólo de atracção benéfico, começarpor instalar apenas um estabelecimentocientífico moderno... "

O Prof. Silveira confessava em 1984 que"… Aceitei a presidência do IAC, em1964, unicamente para fundar umInstituto de Física, fazer sair a Física daclandestinidade….". Em 1969 o "JornalPortuguês de Economia & Finanças"publicava um texto9 sobre a reforma doensino no nosso país em que afirmava:"... Paralelamente estabeleceram-se asbases da abertura de uma janela aindaque modesta sobre a investigação, ligadaou não ao ensino, concedendo-lhe umaimportância e uma função que até agoranunca conheceu entre nós. A esta orien-tação se deve a relativamente recente cri-ação do Instituto de Física e Matemática…"

Nos seus "Comentários" de 1984 A. daSilveira conta ainda10:"… Certo dia, por meados de 1965, fuiprocurado por Sebastião e Silva, que eradirector do Centro de Estudos Mate-máticos anexo à Faculdade de Ciênciasde Lisboa. Veio-me falar da iniciativa quetinha havido − uns dez anos atrás −, de criarum Instituto Português de Matemática,e trazia uma cópia, que ainda tenho, doregulamento elaborado. Eu não tinhatido conhecimento disto.

Sebastião e Silva informou-me que o mi-nistro Leite Pinto tinha encarregado umaComissão, de que ele fez parte, de elabo-rar o regulamento do Instituto, mas que ele-mentos de algumas universidades tinhamlevantado dificuldades e encravado tudo.

Depois desta conversa − eu consideravamuito Sebastião e Silva −, a ideia de umInstituto de Física e de um Instituto deMatemática, associados, instalou-se nomeu espírito sob a forma de um Institutode Ciências Físicas e Matemáticas.Falei com Gomes Ferreira e BragançaGil, da Faculdade de Ciências, que con-cordaram com a ideia. Só algum tempodepois falei a Sebastião e Silva na ideiadeste Instituto de Ciências Físicas e

Matemáticas, quando ele me manifestoureceio de eu não me interessar peloInstituto de Matemática. Posto então aocorrente das minhas intenções mostrou-seinteiramente de acordo, fazendo mesmomuito empenho − o que de resto erabem conhecido! − nessa colaboração.Chegou a pensar que poderia arranjarmaneira de poder vir a dar aulas aos seusalunos da Faculdade de Ciências nesse Ins-tituto. Não se sentia bem na Faculdadede Ciências e repetiu-mo frequentemente.Apesar de eu saber como a colaboraçãoentre físicos e matemáticos tem sido difí-cil de estabelecer, parecia-me desejáveltentá-la de novo pondo agora físicos ematemáticos em convivência no mesmoedifício independentemente do ensino”.

O projecto das instalações do Institutode Física e Matemática beneficiou muitoda competência do Prof. F. Bragança Gilque para fazer esta intervenção (no pro-jecto) visitou alguns modernos labo-ratórios de investigação europeus.

O ensino da Física

Foi o Prof. Silveira que apresentou aTeoria da Relatividade com o seu densoenvolvimento na Física actual. Introdu-ziu o ensino da Mecânica Quântica, pri-meiro no Curso de Engenharia Química,depois, à volta de 1960, no ensino daFísica para todas as licenciaturas no IST.

Deslumbrava-se com a chamada "intui-ção científica" que reconhecia, comalgum desvanecimento, possuir. Dirigin-do-se a um colaborador dizia: "Escolhiestas substâncias para investigar antes deme ter apercebido das vantagens que nosproporcionam agora no prosseguimentodos trabalhos!..."

Incomodava-se que pensassem que elenão confiava nos seus colaboradores.Entre 1965 e 1970 veio do Ministério daEducação uma instrução para que osprofessores inspeccionassem as aulas dadaspelos seus assistentes. Só "in extremis" ofez e confessava, constrangido: "Não te-nho à vontade nenhuma para fazer isto!"

A respeito das aulas de exposição:"Quando se sabe bem um assunto nãopode deixar de se sentir um grande prazerem o expor, com clareza, às outras pessoas!"Nas reuniões dos seus assistentes re-comendava com insistência a modéstiana linguagem. "Linguagem coloquial,linguagem simples que não possa inti-midar, dalguma forma, os estudantes queestão nas aulas!"Apesar da sua confessada e mais que evi-dente paixão pela investigação científicarecomendava-nos: "Nunca a preparaçãode uma experiência ou a execução de cál-culos interpretativos podem servir depretexto para se faltar a uma aula curricular!"

Prezava muito o convívio cultural comAntónio Sérgio, mas a sua posição filosó-fica era diferente da dele. Quando, em1976, se homenageou, na Academia dasCiências de Lisboa aquele filósofo, oProf. Silveira declarava "... Um físico comoeste que vos fala, que passou pelo labo-ratório, que praticou o ilusionismo e a pres-tidigitação, não despega facilmente daTerra; e se aceita subir até ao universo deum idealismo inteligente − como o de Antó-nio Sérgio − só o faz em balão cativo..."11

Mas o Prof. Silveira "…não quis parecerbom demais nem presumir de sábio!".12

Imersos, infelizmente, no ambiente per-missivo, cheio de facilidades, que reinaactualmente nas instituições de ensinoresta-nos guardar simplesmente a espe-rança, uma esperança activa:

"La espera… Que es la espera?Esperar… es solamente esperar?…Yo creo que no.Yo creo en la espera-lucha,en la lucha-grito,en el grito-búsqueda. (...)13

Manuel Alves Marques (IST)[email protected]

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Notas

[1] A. da Silveira, Teoria da Electricidade,ed. Instituto Nacional de InvestigaçãoCientífica, Aveiro (1985).

[2] M. Alves Marques, Técnica,Associação de Estudantes do InstitutoSuperior Técnico, (1984) 7-15.

[3] José Terra, Canto Submerso, Portu-gália Editora, (1956).

[4] A. da Silveira, Comentários imper-feitos com elementos para uma história dosEstabelecimentos Científicos em Portugal,Memórias da Academia das Ciências deLisboa, classe de Ciências, Tomo XXVI,(1984) 160.

[5] A. da Silveira, Ibid. 158.

[6] M. Alves Marques and M.I. deBarros Marques, Proc. Roy. Acad.Amsterdam, 77 (1974) 286.

[7] A. Gião, Raport sur la RechercheScientifique Fondamentale au Portugal.Presenté au Comité Scientifique del'OTAN, le 13 Octobre 1966.

[8] José Augusto Mourão, Vazio Verde,ed. do autor, Lisboa, (1980).

[9] Jornal Português de Economia eFinanças, Ano XVII, 201 (1969) 17.

[10] A. da Silveira, Ibid. 165.

[11] A. da Silveira, Homenagem aAntónio Sérgio, Academia das Ciênciasde Lisboa, Instituto de Altos Estudos,Lisboa, (1976) 35.

[12] Rudyard Kippling, If, (1865 a1936).

[13] Poesia dum anónimo, dita durantea celebração do Advento por um grupode cristãos da Comunauté Catholique dela Cité Universitaire de Paris, em 24-12-1973.

PROF. ANTÓNIO DA SILVEIRA:PRÉMIO E EXPOSIÇÃO

No ano em que decorrem as comemo-rações do centenário do nascimento doProf. António da Silveira, o InstitutoSuperior Técnico (IST) e a FundaçãoCalouste Gulbenkian decidiram criarum prémio com o nome daquele investi-gador e professor universitário destinadoaos alunos que tenham concluído openúltimo ano de uma licenciatura uni-versitária e que realizem no último anoum trabalho final de curso em FísicaExperimental, orientado por um profes-sor do IST. O prémio consiste numabolsa de estudo atribuída pela Fundaçãoe pelo Departamento de Física do IST,no valor de 600 euros mensais durante10 meses. O júri incumbido de atribuiro prémio será nomeado pelo reitor daUniversidade Técnica de Lisboa, me-diante proposta do presidente do ISTdepois de ouvido o Conselho doDepartamento de Física. Inicialmente, oprémio será atribuído durante os anoslectivos de 2004/05 a 2006/07, nos ter-mos de um acordo a celebrar entre aFundação e o IST. O regulamento aaprovar incluirá as normas para o lança-mento do concurso, os critérios deselecção dos candidatos e a obrigato-riedade de o candidato vencedor apre-sentar ao Departamento de Física doIST um relatório do trabalho realizado.Entretanto, continua patente ao públicona Academia das Ciências, em Lisboa,uma exposição alusiva à vida e obra doProf. António da Silveira, que poderá servista até ao próximo dia 1 de Julho.

JORNADAS DE METEOROLOGIAEM VILA DO CONDE

O Centro Ciência Viva de Vila doConde levou a cabo nos dias 29 e 30 deAbril transacto as Jornadas de Meteo-rologia, subordinadas ao tema "Estaçõesmeteorológicas automáticas: certificação,articulação e exploração de dados". Na

mesma ocasião, passou a estar disponívelem tempo real informação relativa aosprincipais parâmetros (temperatura, ven-tos, etc.) da estação meteorológica auto-mática local, que permitem avaliar e pre-ver o estado do tempo em Vila doConde. Mais informação disponível emhttp://viladoconde.cienciaviva.pt.

CURSOS DO CEMUP EM 2004

O Centro de Materiais da Universidadedo Porto (CEMUP) vai realizar no finaldo corrente ano dois cursos. No dia 25de Outubro (inscrições até 15 de Setem-bro próximo) decorre o curso de "Caracte-rização Morfológica e Microanalítica deSuperfícies e Interfaces" (MicroscopiaElectrónica de Varrimento e Micro-análise por Raios X - SEM/EDS; eAnálise de Superfícies por Espectros-copia de Electrões - XPS/AES). Osegundo curso, "Análise Quantitativa deImagem na Caracterização de Microes-truturas de Materiais", realiza-se a 13 deDezembro (inscrição até 30 de Ou-tubro). O programa, horário e ficha deinscrição podem ser obtidos na páginado CEMUP (http://www.cemup.up.pt).

ALUNOS DE FÍSICA DO PORTOPARTICIPAM EM VOOS DA ESA

Duas equipas de alunos do Depar-tamento de Física da Faculdade deCiências da Universidade do Porto, nototal de oito jovens, vão participar nopróximo mês de Julho em experiênciasno âmbito de uma missão da AgênciaEspacial Europeia (ESA). Destinados aexperimentar condições de quase ausên-cia de gravidade, os voos parabólicos(viagens com momentos sucessivos dequeda controlada em que o avião dese-nha uma parábola no céu, a efectuarperto da cidade francesa de Bordéus)permitirão fazer testes relacionados coma detecção de fugas de gases e com o

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escoamento de líquidos. Candidataram--se a participar nesta sétima campanha,organizada pela ESA para estudantesuniversitários europeus, 140 jovens. Osoito portugueses fazem parte de umgrupo de 32 participantes e vão realizar30 parábolas de 20 segundos cada uma,possibilitando a gravidade zero em doisvoos de cada equipa.

AVALIAÇÃO DAS UNIVERSIDADES

As consequências institucionais da avali-ação das universidades portuguesas servi-ram de tema a um seminário promovidono passado dia 22 de Maio em Coimbrapela Fundação das Universidades Por-tuguesas e pelo Conselho de Reitores dasUniversidades Portuguesas. O Prof. Vei-ga Simão foi um dos oradores, tendo fa-lado sobre a questão do modelo contra-tual, ao passo que o Prof. Alberto Amarale a Dra. Maria João Pires fizeram um"diagnóstico actual" sobre o mesmoproblema. Um painel coordenado peloProf. Manuel Patrício e os representantesdas Universidades de Coimbra, Trás-os--Montes e Alto Douro, e dos Açorestrouxeram ao seminário o ponto de vistadas universidades. A sessão de aberturafoi presidida pela Ministra da Ciência eEnsino Superior.

TRÂNSITO DE VÉNUS É TEMA DEEXPOSIÇÃO

Foi inaugurada no passado dia 25 deMaio, e prolonga-se até 20 de Julho, aexposição "Trânsito de Vénus. À procu-ra do tamanho do Universo", que podeser visitada no Museu Nacional daCiência e da Técnica Doutor Mário Silvaem Coimbra.

As notícias sobre Vénus foram igual-mente tema de duas palestras realizadasno Colégio das Artes: "Vénus em trânsi-to: uma oportunidade única" por NunoCrato, Fernando Reis e Luís Tirapicos,autores do livro "Trânsitos de Vénus" daGradiva, em 25 de Maio e "Trânsito deVénus: preparando uma efeméride astro-nómica", por João Fernandes, professorda Universidade de Coimbra, em 2 de Junho.Durante toda a manhã do dia 8 de Ju-nho, o Observatório Astronómico da Uni-versidade de Coimbra abriu as suas por-tas à observação do trânsito de Vénus.

PLANETAS EXTRA-SOLARES EMCOLÓQUIO

Nuno Santos, do Centro de Astronomiae Astrofísica da Universidade deLisboa/Observatório Astronómico deLisboa, proferiu no final do passado mêsde Março na Faculdade de Ciências daUniversidade de Lisboa um colóquiosobre "Planetas extra-solares: os novosmundos do cosmos", organizado peloDepartamento de Física da FCUL. Nasua intervenção, este jovem astrofísicoportuguês, que já participou na detecçãode cerca de 50 planetas extra-solares,procurou responder a algumas das ques-tões mais cruciais no seu campo: como seformam os planetas? Como se formou osistema solar? Em que consiste a procurae o estudo dos planetas extra-solares?

MAIO FOI MÊS DA ASTROFÍSICA

O Observatório Astronómico de Lisboa(OAL) organizou no passado mês deMaio o seu já tradicional "Mês daAstrofísica", com sessões às quintas-feirasà tarde na Faculdade de Ciências daUniversidade de Lisboa (FCUL), ani-madas pelos astrofísicos daquela institui-ção universitária. Na sessão de abertura,a 6 de Maio, procurou explicar-se o quesão a Astronomia e a Astrofísica, a suaimportância a nível mundial e o seucarácter interdisciplinar. Esta sessão foitambém dedicada ao tema do sistemasolar. A 13 de Maio foi a vez do tema"Estrelas e Planetas"; a 20 de Maio, o te-ma foi "Galáxias e Universo"; finalmente,

a 27 de Maio, falou-se do ObservatórioAstronómico de Lisboa, seguindo-se umdebate sobre o "Passado, presente efuturo da Astrofísica na FCUL". Comentradas livres (embora sujeitas a ins-crição prévia), esta iniciativa destinava-seaos docentes e estudantes da FCUL,embora estivesse aberta a investigadores eestudantes de outras instituições.

COLÓQUIO SOBRE O MAPEAMEN-TO FUNCIONAL DO CÉREBRO

"Mapeamento funcional do cérebrohumano usando imagem por ressonânciamagnética" foi o tema de um colóquiorealizado no passado dia 7 de Junho numdos anfiteatros da Faculdade de Ciênciasda Universidade de Lisboa por PatríciaFigueiredo, do Instituto Biomédico paraa Investigação em Luz e Imagem, daFaculdade de Medicina da Universidadede Coimbra. A oradora falou do desen-volvimento das técnicas de imagem fun-cional por ressonância magnética, apre-sentando os princípios básicos desta me-todologia. Referiu-se ainda aos principaistemas de investigação actuais, descrevendoa aplicação daquelas técnicas ao estudodos sistemas de memória humana, nocontexto clínico da epilepsia do lobotemporal.

NOVAS REGRAS PARA FINANCIARA INVESTIGAÇÃO EM PORTUGAL

O Ministério da Ciência e do EnsinoSuperior (MCES) tornou público nopassado mês de Abril um novo modelode financiamento da investigação cientí-fica em Portugal (o conjunto das novasregras pode ser consultado emhttp://www.mces.pt), que começará a seraplicado a partir de Janeiro de 2006.

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Duas opiniões

José Carvalho Soares(Centro de Física Nuclear da Universidadede Lisboa)

Perguntam-me o que espero do novomodelo de financiamento da investi-gação. No fim de uma carreira de inves-tigação em que sempre tive de lutar con-tra o pseudo poder instituído e cum-prindo todos os indicadores de excelên-cia definidos no documento, consideroque a nova directiva não contempla osvectores essenciais para operar a real re-volução científica que Portugal precisa:responsabilidade, competência e lide-rança sustentada. A excelência só dá fru-tos se for descoberta no início da carreirae se o investigador mostrar, de uma ma-neira responsável e com competência,que vinte anos depois tem a possibili-dade ainda de liderar o grupo ou, mesmoque o não lidere, originou varias lide-ranças competentes e responsáveis. Nãoconsiderando o documento feliz e revo-lucionário, é evidente que apoio a suaentrada em vigor e considero que, acurto prazo, melhora substancialmente asituação em que nos encontramos.

Fernando Mendes(Departamento de Física, Universidade deAveiro)

Enquanto não se criar em Portugal umórgão (Fundação, Academia, ou outro)que seja autónomo científica e finan-ceiramente do Ministério que tutela aCiência e Tecnologia, nunca poderemosesperar grandes resultados. Assim, talcomo se tem vindo a verificar no passa-do, sempre que cai o ministro ou o go-verno, de imediato muda a política cien-tífica… É evidente que todos têm boavontade em fazer coisas e contribuir parao progresso do país, mas a ciência não écompatível com mudanças efectuadas aosabor dos ciclos e contraciclos dos ca-lendários eleitorais.

A recente proposta tem certamente algu-mas virtudes embora peque por ser ummelhoramento de algo que em minhaopinião está mal desde o início. Ao con-trário de regras bem definidas, como atão falada dos "100 artigos…" e outras,

esperaria que se procedesse de um modomais científico e objectivo. Por exemplo,seria melhor definir as áreas, tópicos,projectos ou outros que se pretendamdesenvolver; só depois (e, em minhaopinião não pelo ministro ou respectivoministério) procurar as pessoas (portu-guesas ou estrangeiras, em Portugal oufora) que reúnam as condições para rea-lizar satisfatoriamente os objectivos.Mas, para tal, devem desde logo ser fa-cultadas as condições e meios para atin-gir esses fins. A política que se tem vindoa praticar nos últimos anos correspondea distribuir um pouco por todos, "calar"os "fracos" e deixar mal os "poucos masbons", que assim se vêem sem condiçõespara levar por diante os seus projectos −é tempo de apostar somente na quali-dade, por muito grande que seja o"ruído" que surja! Ainda sobre os cri-térios de atribuição de apoios à investiga-ção não passam de um "prémio de carreira".

Outro aspecto importante prende-secom o financiamento de projectos erespectivas comissões de avaliação. Pormuito competentes/independentes queestas sejam, não me parece que istogaranta, só por si, um trabalho positivo.Geralmente, estas comissões passam doisdias em Portugal e têm de avaliar umconjunto de 10, 20 ou mais projectosnuma só manhã… A própria constitui-ção da comissão é discutível, pois muitasvezes não existe uma distribuição razoá-vel dentro das áreas de uma dada disci-plina. No final temos um processo deavaliação moroso, dispendioso e poucoprofissional. Seria muito mais eficiente eeconómico usar um método do tipo daNational Science Foundation. Cada pro-jecto é enviado (por "e-mail") para umconjunto de investigadores especialistasna área do mesmo, que o classificam emvários aspectos (científico, financeiro,etc.), mas de forma bastante objectivaem termos absolutos. Relativamente ao financiamento dasunidades de investigação, o modelo pro-posto não parece trazer grandes novi-dades no sentido de resolver alguns dosproblemas geralmente sentidos e, antesos agrava: a criação de índices multi-plicativos, mais ou menos arbitrários, vailançar o descrédito nos resultados da ava-liação e subalternizar as suas consequências.

MUDANÇAS ANUNCIADAS NOCIÊNCIA VIVA

O governo vai introduzir alterações nomodo de funcionamento do CiênciaViva - Agência Nacional para a CulturaCientífica e Tecnológica. Algumas dessasmudanças já foram anunciadas de formapontual pelo Secretário de Estado daCiência e do Ensino Superior, Jorge Mo-reira da Silva, numa visita, em Maio pas-sado, ao Exploratório Infante D. Hen-rique - Centro de Ciência Viva de Coim-bra. Assim, o governo pretende que oCiência Viva apresente os seus projectosa concurso tal como universidades ououtras instituições públicas e privadas.Estes projectos serão avaliados por umacomissão científica. Vão ser disponibi-lizados 22 milhões de euros até 2006para este fim, privilegiando-se a produ-ção de conteúdos nacionais. Neste mon-tante global estará uma verba para umprograma autónomo que tem como fi-nalidade a promoção específica da Físicae da Matemática, sendo os pormenoresdesta iniciativa anunciados em breve.No que diz respeito às infraestruturas,Moreira da Silva garantiu que continua-rá a construção de novos centros CiênciaViva, assim como de museus de ciência.

Duas opiniões

Maria da Conceição Abreu(Centro Ciência Viva do Algarve)

O Ciência Viva, criado pela mão doProf. Mariano Gago, foi herdeiro deexperiências como a exposição "De quesão feitas as coisas" (1981) e das Semanasde Ciência e Tecnologia, organizadasnum dos governos do PSD, que percor-reram o País de Sul a Norte entre 1987 e1994, em que Mariano Gago foi um dosprimeiros autores/actores. Outros movi-mentos e acções existiram com outrosintervenientes, mas não terão implicaçãona análise do papel do Ciência Viva.

O Ciência Viva foi uma boa ideia queaproveitava bem as sinergias dispersas do

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passado recente, mas acontece que, comoqualquer obra humana, não é perfeito.Sendo a promoção da cultura científicatão importante para o então ministro,nunca percebi por que razão o CiênciaViva não era um serviço público, assu-mido nos seus próprios estatutos e nosestatutos de tudo o que deriva dele, talcomo os Centros Ciência Viva. Agênciae Centros, são todos associações privadassem fins lucrativos, ao que dizem parafacilitar o uso das verbas. Mas como todoo dinheiro é do Estado ou da UniãoEuropeia, as contas têm sempre que serjustificadas. Não se compreende a van-tagem, com a desvantagem das enti-dades financiadoras estarem por vezesem minoria nos órgãos, e não terempoder decisório.

Programas como o "Ciência Viva nasEscolas" eram brilhantes: os professorestinham possibilidade de concorrer a ver-bas dando asas à sua criatividade. Noentanto, nunca houve um entendimentoclaro entre o Ministério da Educação e oMinistério da Ciência e Tecnologia paraa articulação das acções, os concursostinham datas pouco coerentes com o anoescolar, as verbas atrasavam-se, tornandoa gestão difícil para os professores. Opouco diálogo entre os referidos minis-térios não permitiu, por exemplo, que oesforço dos docentes fosse contabilizadopara a progressão nas suas carreiras. Em relação aos "Centros Ciência Viva",a que estou mais ligada, posso dizer queo entusiasmo da sua criação não foiacompanhado pela garantia do seu fun-cionamento continuado e sustentado.Basta referir que alguns centros, senãotodos, estão a funcionar com dinheiroque devia ser para desenvolvimento, nãotendo um quadro de pessoal, etc. Hoje,como antes já acontecia, são constantesos atrasos nos pagamentos.

Ainda em relação aos centros, pergunto:onde esteve o esforço do Ciência Vivapara fazer funcionar a tão referida redede Centros? Não me refiro ao presente,porque sei que a causa de todos os pro-blemas actuais é a falta de verbas. OCentro do Algarve existe há 7 anos e oúltimo foi inaugurado em Março desteano. Já são cerca de meia dúzia e nunca

foi promovida pela entidade coorde-nadora da rede qualquer tipo de iniciativaconjunta. Estou certa que todos tínha-mos a ganhar com a troca de experiên-cias e ideias. Também não beneficia demodo nenhum a transparência do funcio-namento da rede de Centros o facto de umdos centros e a agência gestora terem des-de o início a mesma pessoa na direcção.

O Ciência Viva é necessário, mas emminha opinião, podia ter funcionadomuito melhor. Pode e deve ser melhorado!

A promoção da cultura científica, que étão necessária para o desenvolvimentodo país, sofre da política típica de gover-nos ditos de bloco central − uns têmuma ideia pública e criam uma estruturaprivada e outros gostam que tanto a ideiacomo a estrutura sejam privadas. Por querazão o Ciência Viva não é um interessepúblico e assumido estatutariamentecomo tal? Como se vê, apesar do artifícioestatutário, o Ciência Viva ficou vul-nerável à primeira mudança de governoque facilmente arranjou pretexto paradesinvestir na promoção da cultura cien-tífica, economizando hoje e comprome-tendo a continuidade do trabalho detantos entusiastas que aderiram aosvários projectos e acções do programa.

Vitor Gil (Exploratório Infante D. Henrique,Coimbra)

Julgo que o que passou para a comuni-cação social como primeira posição doactual governo face ao programa CiênciaViva, em boa hora lançado peloProfessor Mariano Gago como Ministroda Ciência, foi uma reacção negativa,porque surgiu marcada emocionalmentepelo custo de uma renda de 500 mil con-tos paga pelo Pavilhão do Conheci-mento, na capital, numa ocasião em quebem gerir os magros recursos e melhor osafectar pelo País se apresentava como umimperativo. Era inteiramente legítimoesperar de um novo governo, e, mesmo,sua obrigação, proceder a uma avaliaçãoisenta do programa e tão rigorosa quan-to possível, não obstante a naturalmentepositiva opinião dos protagonistas e,

mesmo, as positivas referências no planointernacional. Mas tal avaliação nãotranspareceu. É certo que uma avaliaçãorigorosa suporia um verdadeiro projectode investigação, já que, em larga medida,se trata de apreciar reflexos nas com-petências e atitudes dos jovens e cidadãosem geral no âmbito da formação e cul-tura científica. Mas, seguramente, umaapreciação global estará feita, con-siderando não só os custos e benefíciospercepcionados das actividades noPavilhão (incluindo a problemática darenda: mais do que simplesmente Estadoque paga ao Estado?), como os relativosao apoio aos vários centros interactivosCiência Viva no País, os projectosCiência Viva destinados principalmentea fomentar o ensino experimental dasciências nas escolas, as actividades deCiência no Verão e de Ocupação Cien-tífica dos Jovens em Férias. E, também, agestão do programa, incluindo asrelações entre o Pavilhão do Conheci-mento e a Agência Ciência Viva.

A experiência que acumulei como direc-tor de um Centro Ciência Viva, coorde-nador de vários projectos Ciência Viva eex-responsável por um laboratório deinvestigação que participou nasprimeiras edições da Ocupação Cien-tífica dos Jovens em Férias, leva-me aexpressar uma opinião muito favoráveldo programa e a ter sentido orgulho pe-rante as referências elogiosas várias vezesouvidas em reuniões internacionais. Estetestemunho, a que falta o rigor de umaavaliação e o conhecimento dos custos, éuma opinião, porventura suspeita por setratar de apreciação em causa própria,mas inteiramente isenta de quaisquerfactores de relação interpessoal ou deordem partidária. Não está, porém,fechada a novos e melhores contornosperante fundamentadas avaliações e aprogramas alternativos que se apresen-tem mais eficientes e mais eficazes.

Há, contudo, um aspecto menos satis-fatório que, vindo de trás, seria imperati-vo contornar: o quase divórcio entre osMinistérios da Ciência e da Educaçãoquanto ao programa Ciência Viva, sendocerto que as bases que o têm posto noterreno são escolas ou instituições pro-

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fundamente ligadas a elas. A meu ver,um novo programa Ciência Viva deveria,pelo menos, passar por um eficaz proto-colo entre os dois ministérios que, semprejuízo do reconhecimento da suaorigem e tutela pelo Ministério daCiência, promovesse um maior sentidode pertença por parte do Ministério daEducação.

III CONGRESSO IBÉRICO DEESPECTROSCOPIA

A terceira edição do Congresso Ibéricode Espectroscopia e a XIX ReuniãoNacional espanhola da mesma especiali-dade decorreu de 4 a 9 de Julho do cor-rente ano em Las Palmas (GrandeCanária, Espanha). A organização dosdois eventos é da responsabilidade docomité de espectroscopia da SociedadeEspanhola de Óptica, da Sociedade deEspectroscopia Aplicada, da Sociedadede Química Analítica e da SociedadePortuguesa de Bioquímica, em colabo-ração com o departamento de Químicada Universidade de Las Palmas. O pro-grama do congresso inclui cinco confe-rências plenárias, 12 conferências de ora-dores convidados, 24 comunicações oraise três sessões de painéis, além de cursos esessões de introdução a técnicas específi-cas de espectroscopia. Para mais informaçõesconsultar http://www.iem.csic.es/evpm/rne19.

COMUNICAÇÃO DE CIÊNCIA,TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Leccionado por Nuno Crato e AnaCorreia Moutinho, realizou-se noInstituto Superior de Economia e Gestão(ISEG), em Lisboa, um curso intro-dutório à comunicação de ciência, nosdias 1, 8, 15 e 22 de Junho passado. Des-tinado a quem tenha interesse em apren-der a fazer divulgação científica, ani-madores de actividades de museologiacientífica ou responsáveis pela divulgaçãocientífica de actividades de investigação,o curso abordou os seguintes tópicos: acultura científica na sociedade e o papeldas instituições na sua promoção; aimportância e objectivos da divulgaçãocientífica e da comunicação em ciência;o papel da comunidade científica na di-vulgação e como fonte de informação; eas técnicas e práticas de comunicação, docomunicado de imprensa à museologiada ciência. Este curso integrava-se na dis-ciplina de Comunicação de Ciência,Tecnologia e Inovação, que faz parte domestrado em Economia e Gestão deCiência, Tecnologia e Inovação do ISEG,estando aberto a participantes externos.

DIA DA ENERGIA NO PAVILHÃODO CONHECIMENTO

No passado dia 29 de Maio comemorou--se o Dia da Energia com uma sessão noPavilhão do Conhecimento. Organizadapela Sociedade Portuguesa de EnergiaSolar (SPES), INETI e Ciência Viva,consistiu num debate público, com aparticipação dos jovens, sobre o aprovei-

tamento da energia solar, no ano em quese comemora o centenário da atribuiçãodo 1º prémio na Exposição Universal deSt. Louis nos EUA ao Padre Himalayapela sua invenção de um concentradorsolar. No engenho construído pelo PadreHimalaya em 1904, que ele designoupor pirelióforo, eram atingidas tempera-turas acima dos 3000 graus Celsius.

Na sessão foi divulgado o ProgramaNacional de Água Quente Solar(www.aguaquentesolar.com), sendo aindaabordada a tecnologia actual, que per-mite produzir electricidade a partir daenergia solar, quer por via termoeléctri-ca, quer por via fotovoltaica, como irá serfeito por exemplo na maior central solardo mundo, projectada para o Alentejo.

A equipa "A cozinha é um laboratório"do Pavilhão aderiu à iniciativa cozendocom energia solar pãezinhos que foramoferecidos aos participantes.

FÍSICA EM PORTUGAL

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PROPOSTA DE PROGRAMA DE FÍSICA DO 12º ANO: O QUE PENSAM OS PROFESSORES

Sem Física "moderna" não haverá alunos de Física. Semcoordenação com a Matemática, surgirão dificuldades.Os programas dos três anos devem ser considerados emconjunto. Sem uma aposta forte na formação de profes-sores não conseguiremos mudar.

Todos temos o direito e o dever de participar na reflexãosobre o que pretendemos para o futuro do ensino da Físicae para a formação das novas gerações. Não é aceitável osilêncio, o alheamento, a resignação, mesmo que estas ati-tudes se justifiquem pelo cansaço e frustração que senti-mos face a uma desvalorização tão evidente desta área doconhecimento expressa na reforma curricular do próximoano lectivo.

Este texto pretende ser um contributo para a reflexãosobre a proposta de programa de Física 12º ano, baseadoem ideias simples, que resultam da minha experiência deprofessora de Física de 12º ano e da auscultação daopinião de associados da Sociedade Portuguesa de Física(SPF). Aproveito para, mais uma vez, agradecer a todos oscolegas que aceitaram o desafio de se pronunciar.

A secção “Ensino da Física” é coordenada por GraçaSantos, Divisão de Educação da Sociedade Portuguesa deFí[email protected]

PROPOSTA DE PROGRAMA DE FÍSICA DO 12ºANO: O QUE PENSAM OS PROFESSORES

Considerações gerais

1. É indiscutível o rigor do tratamento da Física preconizadono programa e a experiência dos autores na adequação da ex-ploração de conteúdos ao nível etário em causa. Salienta-seigualmente a preocupação dos autores na indicação de orienta-ções para a abordagem dos conceitos numa perspectiva de ajudaaos professores. No entanto, pode questionar-se: serão os objec-tivos propostos os mais adequadas face à evolução do conheci-mento científico em geral e serão passíveis de se concretizar nostempos lectivos previstos face ao contexto actual das escolas?

Algumas das propostas de exploração de conteúdos, actividadeslaboratoriais, "física em acção" e actividades práticas sugeridasnão serão exequíveis nos tempos lectivos propostos.

De uma forma geral este programa acrescenta ao anterior con-teúdos de hidrodinâmica, parte de uma unidade de física moder-na, circuitos eléctricos, condensadores e movimentos oscilatórios.Estão igualmente incluídas 11 actividades laboratoriais obrigatórias.É muito difícil em abstracto prever o tempo necessário para leccio-nar certos conteúdos a nível do ensino secundário, onde temosque considerar a ponte entre a Física e os conceitos e ferramen-tas da matemática, e as dificuldades manifestadas pelos alunosrelativamente às aprendizagens de anos anteriores.

Não será utópico para um programa a desenvolver em 81 tem-pos lectivos de 90 minutos? Em relação ao programa actual te-remos disponível mais 45 minutos semanais. No entanto, e atítulo de exemplo, parece muito difícil cumprir com o númerode aulas sugerido em movimentos oscilatórios (5 aulas - 2 TL ,Física em acção, etc.) e movimentos de corpos sujeitos a liga-ções (4 aulas, com 2 TL), assim como na relatividade deEinstein (4 aulas). Ficaremos, mais uma vez, à espera das OGP? Corre-se também o risco de os professores de Física do ensinosecundário, por falta de preparação nos domínios de Física Mo-derna, "arrastarem" a restante parte do programa, de modo anunca chegarem a entrar nestes conteúdos. Serão os própriosprofessores a fazerem as OGP, uma vez que não existirão exa-mes nacionais?

2. Parece que o programa foi muito desenvolvido com base nasexpectativas e necessidades do ensino superior.Houve a preocupação da consolidação dos saberes dos anosanteriores em detrimento de uma análise mais aprofundada dos

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conceitos fundamentais que os alunos deveriam explorar a níveldo ensino secundário. Era importante a definição de um currí-culo essencial de Física, com a identificação dos conceitos quedevem ser aprendidos no conjunto dos três anos. Por que nãoestá incluída a óptica, por exemplo?

Esta opção foi certamente tomada dada a especificidade destenovo programa, dirigido essencialmente a alunos que pretendemingressar nas áreas das ciências ou das engenharias; mas não iráocorrer uma sobreposição de conteúdos com os primeiros anosda universidade?

Parece adequada uma maior abstracção e o abandono da Físicaem contexto, preconizada nos programas de 10º e 11º ano. Noentanto, é fundamental que a disciplina seja motivadora, atracti-va e atribua uma grande importância à componente laboratoriale experimental. Foi certamente esta a intenção dos autores, masé de temer que, de acordo com as limitações de tempo impostase a insistência em conteúdos leccionados em anos anteriores, setorne uma repetição "mais densa" do actual programa, podendoafastar muitos dos potenciais interessados nestas áreas. Não se irácontinuar a cair na tentação de mecanizar a resolução de exercí-cios com base nesta discriminação e organização de conteúdos?Saliento ainda que os objectivos apresentados em cada tópicopoderão induzir a uma utilização mais generalizada de metodo-logias de ensino tradicionais. É de grande relevância a necessi-dade de desenvolver capacidades e não centrar apenas a aprendiza-gem na aquisição de conhecimentos.

É essencial promover junto dos alunos o gosto e entusiasmopela Física que nos anos do ensino de "quase-só-mecânica-e--pouca-electricidade" se foi perdendo. Ressalta alguma desilusãorelativamente à introdução da Física Moderna neste programa.A Teoria da Relatividade (4 aulas) e a Física Quântica (4 aulas)parecem-me pouco exploradas. A Física Quântica não será mui-to mais trabalhada do que no programa de 12º ano de Química!

Assim, parece que a mecânica continua com demasiado peso:no ponto 1.1 da unidade I - revisão e aprofundamento de concei-tos, talvez haja algum exagero na forma como estão divididos osconteúdos com 16 aulas de revisão e "29 objectivos em 6 aulas"!

Por fim, a utilização das novas tecnologias em contexto de salade aula, tal como é proposta pelos autores do programa, exigedos professores uma maior disponibilidade e alguma liberdade nagestão dos tempos lectivos que não me parecem contempladas.

Considerações específicas

- São sugeridas bastantes actividades de consolidação e ligaçãocom o mundo real, com o dia-a-dia, decerto muito interessantes,mas que terão de ser devidamente apoiadas, nomeadamentecom bibliografia que talvez pudesse ser um pouco melhorada.

- É dada pouca importância à componente laboratorial assimcomo à avaliação dos trabalhos de laboratório (25 por cento).É referida pelos autores a importância de "um pré-relatório, dotratamento de dados e interpretação de resultados e mesmo depossíveis actividades de extensão". No entanto, parece que limi-tam muito esta exploração através do número de aulas atribuí-

das em cada tópico. Em 99 aulas irão existir apenas 11 traba-lhos laboratoriais. As actividades laboratoriais propostas não sãoexigentes do ponto de vista de materiais, o que facilita a suaexecução em qualquer escola. Nota-se também a este nível apreocupação dos autores no apoio aos professores.

- Nesta proposta de programa não existe uma grande preocu-pação na ligação com outras áreas do saber.

Graça [email protected]

DIA ABERTO NA FE-UCP

Por iniciativa da Faculdade de Engenharia da Universidade Ca-tólica Portuguesa (FE-UCP), com a colaboração da editoraGradiva, realizou-se no passado dia 1 de Abril em Rio de Mou-ro (Sintra) o Dia Aberto da Ciência e Tecnologia daquela univer-sidade. O objectivo desta iniciativa foi promover a cultura cien-tífica e a respectiva divulgação junto das camadas mais jovens dapopulação, em particular alunos do 12º ano. Além da apresenta-ção da Faculdade e dos seus cursos, foram proferidas palestrassobre os diversos campos científicos em questão (genética e bio-ética; materiais e bio-materiais; tecnologia laser e aplicações;plasma, o 4º estado da matéria; nanotecnologias e aplicações), se-guindo-se uma visita às instalações. O encerramento da sessãoesteve a cargo do Dr. Manuel Barata Marques, director da FE-UCP.

SEMANA DA PRÁTICA PEDAGÓGICA EM AVEIRO

Decorreu em Aveiro entre os dias 24 e 28 do passado mês deMaio a Semana da Prática Pedagógica da Universidade de Aveiro.Esta iniciativa, que vem sendo repetida há seis anos, incluiu umamostra dos trabalhos desenvolvidos por todos os alunos de ensi-no da Universidade de Aveiro durante o ano de estágio. O dia 24de Maio foi dedicado às Ciências, este ano com a particularidadede ser feito o primeiro Encontro de Formação/Troca deExperiências. O encontro visou estabelecer uma ponte entre aUniversidade e as actividades desenvolvidas pelos estagiários nasescolas em que estão a leccionar. Foram apresentadas comuni-cações orais e em forma de poster. Do programa destacam-seduas comunicações convidadas, proferidas pelas Doutoras IsabelMartins ("Literacias e Literacia Científica - uma PerspectivaCultural na Sociedade do Conhecimento") e Marília FernandesThomaz ("Formação de Professores: um Processo Contínuo").As comunicações foram publicadas em livro.

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FASE REGIONAL

Realizou-se no passado dia 15 de Maio em Lisboa, Portoe Coimbra, a fase regional das Olimpíadas de Física.Participaram na competição 464 alunos de cerca de umacentena de escolas básicas e secundárias, 88 equipas doescalão A (9º ano) e 200 alunos do escalão B (11º ano) queconcorreram individualmente. As provas, que incluemparte teórica e experimental, podem ser consultadas napágina das Olimpíadas de Física (ver abaixo). Todos osalunos receberam prémios de presença e os vencedores re-ceberam prémios especiais. Durante o evento decorreramvárias palestras e visitas aos Departamentos de Física ondeas provas se realizaram, destinadas a professores e alunos.

Na Delegação Norte Carlos Herdeiro, professor do Depar-tamento de Física da Universidade do Porto, proferiu umapalestra intitulada "A unificação da Física" e J. P. Araújo,do mesmo Departamento, efectuou um seminário sobre"Nanodispositivos". Foi ainda visitada a sala de exposições"Eureka" do Departamento de Física da Universidade do Porto.

Na Delegação Centro os alunos e professores tiveram opor-tunidade de ouvir Rui Vilão, do Departamento de Física daUniversidade de Coimbra, falar sobre "A Física da música".A Delegação Sul e Ilhas organizou duas palestras: "Luz einformação", por João Serra, e "Einstein e o ano mundialda Física" por Paulo Crawford, do Departamento de Físicada Universidade de Lisboa. Adelaide de Jesus, do Departa-mento de Física da Universidade Nova de Lisboa, fez umaapresentação de algumas das actividades lançadas pela SPFpara "2005-Ano Mundial da Física".

A Sociedade Portuguesa de Física (SPF) agradece aos De-partamentos de Física da FCUL, FCUP, FCTUC, à Funda-ção da FCUL, Ministérios da Educação e da Ciência e doEnsino Superior, Reader's Digest, Texto Editora, Porto Edi-tora, Editora Bizâncio, Texas Instruments, Millennium BCP(Balcão Marquês de Tomar), Caixa Geral de Depósitos eBPI (Coimbra), Microsoft e Hotel D. Manuel I (Lisboa) ospatrocínios a esta iniciativa. A SPF agradece ainda reconheci-damente aos docentes, funcionários e estudantes de licenciatura,mestrado e doutoramento dos Departamentos de Física

OLIMPÍADAS DE FÍSICAA Secção "OLIMPÍADAS DE FÍSICA" é dirigida por

Manuel Fiolhais, José António Paixão e Fernando

Nogueira do Departamento de Física da Universidade de

Coimbra - 3004-516 Coimbra

e-mail [email protected]

url - http://olimpiadas.fis.uc.pt

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onde decorreram as provas toda a colaboração prestada,sem a qual não teria sido possível levar a bom termo aetapa regional das Olimpíadas de Física 2004.

Os vencedores desta etapa das Olimpíadas foram:

Delegação Regional do Norte

Escalão A

Equipa da Esc. Sec. António Sérgio de Vila Nova deGaia constituída por

Filipe Fernandes de SousaIvo José TimóteoMário Lapa de Andrade

Escalão B (por ordem alfabética)

Ana Rita Lopes, do Colégio Internato dos CarvalhosBruno Reis, da Esc. Sec. João Gonçalves Zarco,

MatosinhosEmanuel José dos Santos, da Esc. Sec. Fernão de

Magalhães, ChavesJoão Dias Silva, da Esc. Sec. da TrofaJoão Pedro Silva, da Esc. Sec. da TrofaJoel Casimiro Alves, da Esc. EB 2,3 Dr. J.G. Ferreira

Alves, ValadaresJosé Diogo Fernandes, da Esc. Sec. de GondomarPedro Tiago Moreira, do Colégio Internato dos

Carvalhos

Delegação Regional do Centro

Escalão A

Equipa da Esc. Sec. c/3º ciclo de Albergaria-a-Velha,constituída por

Daniel MeloHugo OliveiraTelma Meireles

Escalão B (por ordem alfabética)

Branca Margarida Silva, E.B. 2,3/S de Oliveira deFrades

Carlos David Pinto, da Esc. Sec. de S. Pedro do SulDaniel Filipe Marques, da Esc. Sec. Emídio Navarro,

ViseuEduardo Manuel Dias, da Esc. Sec. Domingos

Sequeira, LeiriaJoão Gonçalo Santiago, Esc. Sec. Dr. Joaquim de

Carvalho, Figueira da FozMiguel António Pereira, da Esc. Sec. Francisco

Rodrigues Lobo, LeiriaPedro Daniel Casau, da Esc. Sec. José Estêvão, AveiroSónia Margarida Pereira, Esc. Sec. c/ 3º ciclo de Porto

de Mós

Delegação Regional do Sul e Ilhas

Escalão A

Equipa da Esc. Básica 2,3º ciclos, D. Afonso IV, Condede Ourém, constituída por

Bruno Santos Catarina RodriguesVasco Antunes

Escalão B (por ordem alfabética)

Ana Clara Fontinha, da Esc. Sec. Padre AntónioMacedo, V. Nova de Santo André

Cristiano Cruz, da Esc. Sec. da LourinhãDavid Manuel Figueiredo, Esc. Sec. S. João da Talha Miguel Torre e Cunha, da Esc. Sec. c/3º ciclo Rainha

D. Amélia, LisboaNoel da Costa Leitão, da Esc. Sec. da LourinhãPedro João Costa, da Esc. Sec. Fonseca Benevides,

LisboaRicardo André Macau, da Esc. Sec. de Ferreira Dias,

CacémSusana Patrício Santos, da Esc. Sec. Jácome Ratton,

Tomar

Alunos do escalão B num dos laboratórios do Departa-mento de Física da FCUL durante a prova experimental.

Uma equipa do escalão A durante a prova experimental,testando a frescura de um ovo com base no princípio deArquimedes...

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OLIMPÍADAS

APURAMENTO PARA AS OLIMPÍADASINTERNACIONAIS

Realizaram-se em Fevereiro e em Abril duas sessões depreparação dos alunos pré-seleccionados para as Olimpí-adas Internacionais e Ibero-Americanas de Física. Paraalém dos team-leaders, colaboraram nestas sessões osdocentes do Departamento de Física da Universidade deCoimbra, Pedro Alberto, Lucília Brito e Francisco Gil, omonitor Rui Matos e o aluno da Lic. em Física daUniversidade do Porto, Fábio Diales da Rocha, queobteve a medalha de prata na IPhO2001. Agradece-se atodos a valiosa colaboração.

As provas de apuramento tiveram lugar no dia 28 deMaio. Ficaram seleccionados para participar na XXXVInternational Physics Olympiad (http://www.ipho2004.or.kr)de 15 a 23 de Julho, em Pohang (Coreia do Sul), osseguintes cinco alunos (por ordem de classificação):

Ficaram seleccionados para participar na IX OlimpíadaIbero-americana de Física(http://www.sbf1.sbfisica.org.br/oibf2004/Index1.htm),de 25 de Setembro a 2 de Outubro, em Salvador (Brasil),os seguintes quatro alunos (por ordem de classificação):

Participaram ainda nas provas de apuramento (porordem alfabética):

As provas tiveram uma parte teórica e uma parte experi-mental e estão disponíveis, com as resoluções, emhttp://olimpiadas.fis.uc.pt/apuramento.htm.

A SPF agradece aos seguintes professores do ensinosecundário que, ao longo do ano lectivo 2003/2004,acompanharam os alunos pré-seleccionados para asOlimpíadas Internacionais e Ibero-americanas de Física:

PÁGINA DAS OLIMPÍADAS NA INTERNET

Foi reformulada a página na Internet das Olimpíadas deFísica cujo endereço é http://olimpiadas.fis.uc.pt/. A pá-gina reúne informação diversa sobre as etapas regional enacional das Olimpíadas, sobre as Olimpíadas Internacionaise sobre as Olimpíadas Ibero-Americanas. É possível, porexemplo, consultar o regulamento da competição, obteros enunciados e resoluções de todas as olimpíadas inter-nacionais em que participaram equipas portuguesas,encontrar a lista dos vencedores das etapas regionais enacionais das Olimpíadas de Física mais recentes, umasecção de notícias e um álbum de fotos das olimpíadas.

As Olimpíadas de Física têm o apoio da Unidade CiênciaViva do Ministério da Ciência e do Ensino Superior, doMinistério da Educação e do Programa Operacional"Ciência, Tecnologia, Inovação" (POCTI).

André José Ornela Esc. B+S Prof. Dr.Franc. Freit. Branco

Porto Santo

Filipe da CostaSousa

Esc. Sec. da Trofa Trofa

6. João VelosoTorres

Esc. Sec. da Maia Maia

7. Pedro Miguelda Silva

Esc. Sec. deVouzela

Vouzela

8. José GustavoRebelo

Esc. Sec. RainhaD. Amélia

Lisboa

9. César PeterVieira

Esc. Sec. EmídioNavarro

Almada

1. Miguel CastroFiolhais

E.S. D. Duarte Coimbra

2. FranciscoNorton Brandão

Colégio Militar Lisboa

3. MiguelArmando Pinto

Colégio Internatodos Carvalhos

Carvalhos

4. Maria Manuele Silva

E.S. Dr. JoaquimCarvalho

Figueira da Foz

5. Paulo Guilher-me dos Santos

E.S. AcácioCalazans Duarte

Marinha Grande

Alice ConceiçãoCampos

Esc. Sec. da Trofa Trofa

Carlos Portela Esc. Sec. Dr. Joa-quim de Carvalho

Figueira da Foz

Guilherme deAlmeida

Colégio Militar Lisboa

Jacques Batista Esc. Sec. EmídioNavarro

Almada

José AugustoGama

Colégio Internatodos Carvalhos

Carvalhos

José RogérioNogueira

Esc. Sec. AcácioCalazans Duarte

Marinha Grande

Leonor Santos Esc. Sec. RainhaD. Amélia

Lisboa

Maria José Amaral Esc. Sec. da Maia Maia

Maria José Vital Esc. B+S Prof. Dr.Francisco Franco

Porto Santo

Maria RosaLourenço

Esc. Sec. D.Duarte

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Nuno Crato, Fernando Reis e LuísTirapicos"Trânsitos de Vénus - à procura da escalaexacta do Sistema Solar"Gradiva, 2004

Num pequeno volume de 182 páginas,os três autores expõem brilhantemente oconceito astronómico de trânsito, a his-tória dos trânsitos de Mercúrio e Vénus,as condições para que estes ocorram e oscuidados a ter na sua observação.Destaca-se a informação sobre o trânsitode Vénus de 8 de Junho de 2004.

A experiência dos autores, a riqueza dadocumentação exposta e a fluência daescrita fazem da leitura de "Trânsitos deVénus - à procura da escala exacta doSistema Solar" um verdadeiro prazer.Temos assim um magnífico conjunto dereferências históricas, onde não faltamnomes de portugueses ilustres lado a ladocom os mais distintos astrónomos detodo o mundo nas correspondentesépocas, assim como um guia prático paraa observação de trânsitos.

Um trânsito é, afinal, a ocultação muitoparcial de um astro, provocada pela in-terposição de um outro bastante menor.A passagem de Vénus ou de Mercúrioentre nós e o Sol traduz-se pela visão deum minúsculo disco preto que passa emfrente da nossa estrela, recortando-secontra a fotosfera solar. No caso deVénus, o disco tem o diâmetro aparente

LIVROS NOVOS

Registam-se os seguintes títulos novos sobre temas de Física,

de ciência em geral ou de educação, publicados nos últimos

meses:

- António Gedeão, “Obra Completa”, Relógio d’Água, 2004.

- António Manuel Baptista, "Crítica da Razão Ausente", Col.

Ciência Aberta, Gradiva, 2004.

- Eduardo Guerreiro, Maria João Roque Alves, Marlene

Martins e Ricardina Guerreiro, "Concursos de Pessoal

Docente. Novo Regime Jurídico de Selecção, Recrutamento

e Mobilidade dos Educadores de Infância e dos Professores

do Ensino Básico e Secundário", Gradiva, 2004.

- Hermínio Rico e José Eduardo Franco, "Fé, Ciência, Cultura,

Brotéria - 100 Anos", Gradiva, 2004.

- Isaac Asimov, “De todo o Lado. Ensaios sobre o mundo e a

humanidade”, Livros do Brasil, 2004

- Isabelle Bertrand, "Jogos de Ar - 100 Jogos Desaconselha-

dos a Quem Tem Falta de Ar!, Publicações Dom Quixote,

2004.

- John Gribbin e Michael White, "Einstein", Publicações

Europa-América, 2004.

- Maria Paula Serra de Oliveira (org.), "Teias Matemáticas -

Frentes na Ciência e na Sociedade", Col. Ciência Aberta,

Gradiva e Imprensa da Universidade de Coimbra, 2004.

- Pascal Pierrey, "Jogos de Água - 100 Jogos Desaconselha-

dos a Franganotes Molhados!", Publicações Dom Quixote,

2004.

Agradecemos aos editores o envio de novos livros de ciên-

cia e/ou educação, aos quais faremos a devida referência.

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máximo de cerca de 65" (aproximada-mente 1/30 do diâmetro aparente doSol). Para quê, então, tanto interesse eempenho nessa observação?

Esse interesse resulta de dois factos:primeiro, o fenómeno é extremamenteraro (não há nenhuma pessoa viva quetenha presenciado o último trânsito deVénus, ocorrido em 1882); segundo, assucessivas observações do trânsito deVénus permitiram determinar com cres-cente rigor a distância média da Terra aoSol, indispensável ao conhecimento dasdistâncias absolutas no sistema solar efora dele. Convém referir que os traba-lhos de Kepler conduziram ao conheci-mento razoavelmente rigoroso das dis-tâncias médias entre os vários planetas eo Sol, que eram relativas, expressas emfunção da distância entre a Terra e anossa estrela (distância tradicionalmentedesignada por unidade astronómica).Tornava-se urgente e necessário determi-nar com o maior rigor possível a unidadeastronómica, muito mal conhecida atéao início do século XVII. Só assim seriapossível determinar as distâncias astro-nómicas em unidades usuais de compri-mento. Essa urgência levou diversos paísesa mobilizar os seus mais notáveis cientis-tas e a empreender muitas expedições deobservação, originando as primeiras ini-ciativas de colaboração científica inter-nacional em larga escala, descritos commestria nesta obra. Portanto, observar ostrânsitos é muito mais do que "ver umminúsculo círculo preto a cruzar o discosolar". Modernamente, um dos métodosde pesquisa de planetas extra-solaresbaseia-se nas medições da ligeiríssimaredução de brilho de uma dada estrelaquando um dos seus planetas se interpõeentre ela e a Terra. Medições rigorosaspermitem determinar actualmente asdimensões de tais planetas, estimar assuas massas, e, em breve, a eventual pre-sença de atmosferas, etc.

A equipa de autores aproveita bem a si-nergia de diferentes experiências. NunoCrato foi professor de Matemática eEstatística no New Jersey Institute ofTechnology, nos EUA, lecciona actual-mente no Instituto Superior deTecnologia e Gestão (em Lisboa) e

escreve regularmente sobre ciência nojornal "Expresso". Fernando Reis é histo-riador de ciência e tem-se dedicado apublicações de divulgação científica, áreaem que está a concluir o seu doutora-mento. Luís Tirapicos é divulgador cien-tífico com vasta experiência na imprensae na animação de museologia científica.O livro é prefaciado por Steven J. Dick,historiador-chefe da NASA.

A obra está organizada em oito capítulos,cada um dos quais tendo por título umevento significativo e uma data de referên-cia na história das observações de trânsi-tos planetários. A leitura é cativante, poiso texto está escrito com a arte de umcontador de histórias, o encanto de umromancista e o rigor de um cientista. Osmistérios vão-se esclarecendo ao longodas páginas e o leitor sente que tem nasmãos uma obra ímpar no nosso país, quevale a pena adquirir e ler com empenho.Muitos dos leitores terão observado oupelo menos tomado conhecimento dotrânsito de Mercúrio ocorrido em 7 deMaio de 2003. O trânsito de Vénus de 8de Junho de 2004 constituiu um acon-tecimento ímpar, que não se repetirá tãocedo: o de 6 de Junho de 2012 não seráobservável da Europa (porque ocorrecom o Sol abaixo do nosso horizonte) eo seguinte só se dará em 2117 - demasia-do tarde para nós o podermos observar.

Na observação dos trânsitos utilizam-seessencialmente as técnicas de observaçãodo Sol e esta obra dá indicações cuidadasno que se refere à protecção dos olhos,"equipamento" insubstituível dos obser-vadores, indicando as precauções a ter, aescolha de filtros adequados e os váriosmétodos de observação. No livro vêmincluídos uns óculos com filtros especiaise seguros para a observação solar a olhonu (isto é, sem a utilização de binóculosnem telescópios). Caso se utilizem estesinstrumentos pode fazer-se a observaçãopor projecção, segundo as indicaçõesdadas pelos autores, ou recorrer à obser-vação directa mediante o uso de filtrosespeciais, aplicados à entrada dos respec-tivos tubos ópticos.

Nas últimas páginas o leitor encontrarátrês apêndices muito informativos: o

LIVROS E MULTIMÉDIA

primeiro contém todos os trânsitos deVénus ocorridos ou a ocorrer, obser-váveis entre os anos 1000 e 3000; osegundo refere os trânsitos de Mercúrioentre os anos 1900 e 2100; o terceiroindica os sucessivos valores obtidos nadeterminação da paralaxe solar e da dis-tância média da Terra ao Sol, ao longodos tempos, desde o século III a.C. atéao ano de 1990.

A obra completa-se com uma ampla bi-bliografia e um índice remissivo."Trânsitos de Vénus - à procura da escalaexacta do Sistema Solar" é, pois, umaobra de referência bem documentada,indispensável a todas as pessoas que seinteressam pela história da ciência, peloprogresso do conhecimento científico epela observação destes raros aconteci-mentos astronómicos. A não perder!

Guilherme de [email protected]

FÍSICO JORGE CASIMIRO LANÇACD DE POESIA "TERNAS ALQUIMIAS"

Apresentado por Laurinda Alves, direc-tora da revista "Xis", e com poesia ditapor António Jorge Marques, LucianoRibeiro e Sofia Reboleira, foi lançado nopassado dia 24 de Junho em Lisboa oCD "Ternas Alquimias", do físico e poe-ta Jorge Casimiro. Ana Lúcia Palminha,Aníbal Cabrita, António Cardoso Pinto,António Jorge Marques e Sandra Morei-ra dão voz aos 30 poemas antologiados,que contam com música original e sono-plastia de João Lucas.

Na sessão pública realizada no CentroComercial Atrium Saldanha, António

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Jorge Marques (flauta transversa) e PauloMarinho (gaita de foles) asseguraram oacompanhamento musical, tendo-se regis-tado a participação especial do grupo detocadores de gaitas de foles Anaquiñosda Terra, do Centro Galego de Lisboa.

O autor, natural de Caldas da Rainha, élicenciado em Física pela Faculdade deCiências de Lisboa e autor de trabalhosde investigação em Física do EstadoLíquido e estudos em História e Filosofiadas Ciências. Colaborador de diversaspublicações, foi autor dos programas derádio "Alquimias" (Antena 2, 1995-98)e "A Divina Ciência" (Antena 2, 1998-2000) e co-autor de "Expo 98-98 Mares"(Antena 1, 1997-99). Colaborador, entreoutras entidades, do Pavilhão do Conhe-cimento, publicou recentemente nacolecção "Eureka! Falar de Ciência", daLisboa Editora (da qual é coordenador)os livros "As Velas que abriram oMundo" e "A Estrela de Belém", tendoem preparação "Viva a Simplicidade!" e"Experiências Célebres de Física - I".

Criação

o mundo é um sopro ligeiro brevíssima inspiração de algum deus sedento de glória ou tão-só pincelada de artista lançada ao acaso na tela negra do espaço

e depois vieram as estrelas viram que era bom e polvilharam-no de luz

e o vazio foi-se enchendo enchendo enchendo sempre de uma miríade de formastempos contornos fragilidades

foi-se enchendo enchendo enchendo sempreda inteligência das coisas que existem da intuição palpável das coisas adivinhadas e foi-se enchendo enchendoenchendo sempreaté ao dia em que o sopro parou e só as combinações restaram possíveis

sobrou então o tempo o tempo de nos interrogarmos acerca da inteligência das coisas queenchem o espaço acerca do tempo que nos resta do brilhodas estrelas acerca do vazio que voltará a vestir denegro o horizonte das noitesquando de todos os poetas restar apenasa memória inscrita nalguma prega de negro maisprofundo deixada p'la pincelada final de algum deus residual mais sedento de glória

REVISTA "PULSAR" DO NÚCLEO DEFÍSICA DO IST

Com uma tiragem próxima dos dois milexemplares, a revista "Pulsar" é editadapelo núcleo de Física do InstitutoSuperior Técnico e distribuída gratuita-mente a quantos se interessam pelas áreasde conhecimento científico. Conversá-mos com os seus dois directores, FilipaViola e Ricardo Figueira.

Entrevista de Carlos [email protected]

Nove anos a fazer divulgação científica

P. − Como nasceu a vossa revista?R. − A "Pulsar" nasceu em 1995, aindasob a forma de um jornal, graças à von-tade de um grupo de alunos da licen-ciatura em Engenharia Física Tecnoló-gica que, na altura, tinha por principalobjectivo criar um espaço para debates etroca de ideias, para divulgação de tra-balhos científicos e de artigos de opinião.Era um espaço que se quis alargar até

chegar à sociedade que sofreu váriasremodelações até chegar ao formatoactual de revista. Contudo, ao longodestes nove anos, mantivemo-nos fiéis aonosso nome: "Pulsar, verbo transitivo.Impelir. Agitar, abalar. Tocar. Pulsar,nome de jornal. Palavra escrita, veículode pulsação. Pulsação, acto ou efeito depulsar. Pulsar, um membro duma classede objectos astronómicos cuja formaçãose supõe ocorrer durante as explosões dassupernovas".

P. − Quem é o vosso público-alvo? Equem é que, de facto, vos lê?R. − O nosso público é bastanteabrangente, uma vez que tentamoschegar não só aos alunos da licenciaturaem Engenharia Física Tecnológica comoaos da licenciatura em EngenhariaBiomédica, ambos sob a alçada doDepartamento de Física do IST. Mastambém tentamos chegar aos restantesalunos universitários de todo o país etambém a alunos do ensino secundário.O facto de recebermos respostas de todosestes públicos constitui a prova de que osnossos objectivos são alcançados.

P. − A que critérios obedece a escolha dostemas de cada número?R. − Não existe propriamente uma esco-lha de temas para cada edição, uma vezque optamos por divulgar a actualidadecientífica, bem como as actividadesdesenvolvidas pelo Núcleo de Física doIST, para além dos temas relevantes davida no IST.

P. - O que pensam os vossos leitoresdaquilo que lhes é oferecido na revista?Participam na realização da revista? Deque forma?R. − Existem diferentes opiniões sobre otrabalho que temos vindo a desenvolver.O facto de insistirmos em produzir umarevista séria, gratuita e de carácter cientí-fico, sendo por isso única a nívelnacional, faz com que muitas pessoas nosconsiderem demasiado arrojados. É umacrítica que temos de aceitar, uma vez quea edição de uma revista deste calibre temcustos que não são fáceis de suportar. Poroutro lado, temos um público que nosincentiva a continuar com o trabalhoque temos vindo a desenvolver e que atécolabora escrevendo artigos.

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P. − Com que apoios contam?R. − Os centros de investigação científi-ca ligados ao Departamento de Física doIST têm vindo a contribuir de formaessencial para a viabilidade económica darevista. Já recebemos apoios do Centrode Fusão Nuclear (CFN), do Labo-ratório de Instrumentação e Física Ex-perimental de Partículas (LIP), doCentro Multidisciplinar de Astrofísica(CENTRA) e do Centro de Física dasInteracções Fundamentais (CFIF). Nestemomento, ainda estamos a aguardar oapoio habitual do Grupo de Lasers ePlasmas (GOLP). Contamos ainda como apoio do Departamento de Física.Além de tudo isto, concorremos anual-mente a várias iniciativas de divulgação epromoção de actividades juvenisextracurriculares.

P. − Que projectos gostariam de desenvolver?R. − Estamos actualmente a trabalharnuma edição internacional da nossarevista, escrita em inglês, que deverá serdistribuída em Agosto na InternationalConference for Physics Students, emNovi Sad, na Sérvia. Estamos também ainvestir numa maior distribuição nosvários pólos universitários espalhadospelo país, bem como nas escolas do ensi-no secundário, dado que alguns profes-sores consideram a "Pulsar" uma ferra-menta útil na promoção da ciência juntodos mais novos. Para já, os esforços daactual equipa estão concentrados na ma-nutenção do modelo recentemente adop-tado, de modo a garantir não só a actualperiodicidade como a viabilidade do pro-jecto a médio e a longo prazo. Faremosum esforço para continuar a pulsar!

Número de Março em distribuição

O trânsito de Vénus é o tema de capa daedição de Março de 2004 da revista"Pulsar", editada pelo núcleo de Físicado Instituto Superior Técnico (IST).Nesta edição, que registou um aumentode tiragem para os 1700 exemplares,

com distribuição gratuita, incluem-seainda uma extensa conversa com o Prof.Ducla Soares sobre a sua carreira de do-cente e investigador, e um artigo de JorgeDias de Deus, professor de Física do IST,intitulado "O Universo em todas as suasescalas". Em editorial, a nova equipa dedirecção da revista assinala o bom acolhi-mento dos leitores ao "layout" da publi-cação, que passa a ser distribuída noâmbito de dois projectos em curso -"Física sobre rodas" e "Biblio-ciência",ambos referidos na presente edição. Final-mente, destaque-se um artigo sobre orecém-criado Núcleo de Biomédica e osresultados de um inquérito/opinião dosalunos sobre o novo Laboratório de Tec-nologias de Informação para os cursos deEngenharia Física Tecnológica e Enge-nharia Biomédica.

As coordenadas da "Pulsar" são asseguintes:Revista "Pulsar", Instituto SuperiorTécnico, Sala de Alunos da LEFT, Av.Rovisco Pais, 1096 Lisboa-Codex ou emhttp://nfist.ist.utl.pt/~pulsar.

WWW.AJC.PT/

Quem quiser saber o que é a Associação Juvenil de Ciência (AJC) e as actividadespor ela desenvolvidas só tem de ir a www.ajc.pt/ para ficar a saber que tudo começoucom a realização do I Encontro Juvenil de Ciência (EJC), em Setembro de 1983. Oêxito obtido durante os três primeiros anos de organização do EJC (e já lá vão 21encontros juvenis de ciência…) deu forma ao desejo de criar uma estrutura de apoiopara esta e outras actividades. Assim surgiu o Projecto Encontro Juvenil de Ciência.Em 16 de Março de 1987, nasceu finalmente a AJC ([email protected]), cuja finalidade éa promoção e difusão de actividades culturais, científicas e educacionais entre osjovens em geral e os associados em particular.

LIVTOS E MULTIMEDIA

Hoje a AJC integra mais de 1400 jovens de todo o país, sendo a única associação científica em Portugal exclusivamente formada e dirigi-da por jovens, dispondo de núcleos em Lisboa, Porto, Coimbra e Braga. No "sítio" encontra-se informação detalhada sobre as actividadesda associação, assim como indicações práticas sobre os grupos temáticos em funcionamento (equipa Eco; grupo de técnicas aeroespaci-ais; grupo de estudo de recursos ambientais; grupo de informação e recreação astronómica; grupo de biotecnologia; e grupo de estudode vertebrados terrestres). A AJC edita uma revista, "Ciência J", da qual saíram até agora 35 números, disponíveis no "sítio” da asso-ciação (o número 36 está pronto e deverá estar em distribuição quando esta edição da "Gazeta" chegar às mãos dos leitores).

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O SÍTIO DO TRIMESTRE

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O título deste texto contém duas ideias implícitas: a pri-meira é a de que existe uma relação entre cultura científicae desenvolvimento; a segunda é a de que é necessáriochamar a atenção para a existência dessa relação. O meu objectivo resume-se a clarificar estas duas afirma-ções, começando pela primeira, isto é, a de que existeuma relação entre cultura científica e desenvolvimento.

A humanidade aprendeu mais desde Galileu até aos nossosdias do que durante os 10 mil anos que separam Galileuda aurora da civilização. É possível que a curiosidade decompreender as coisas e o mundo tenha estado sempre pre-sente na mente humana. Mas foi apenas depois de Galileu,Bacon e Newton que se encontrou o método correcto de in-terrogar a Natureza, de modo que as respostas sobre o seu com-portamento deixassem de depender de quem as enunciava.A aplicação sistemática do método científico experimentaltem permitido aos humanos alargar incessantemente o co-nhecimento da Natureza e de si próprios e, simultanea-mente, alicerçar sobre ele técnicas que têm melhoradoprogressivamente as suas condições de vida, não se vislum-brando ainda um limite para este processo.

A ciência experimental tornou-se assim uma mola propulsorado progresso da humanidade. E, se o título fosse "Ciência eDesenvolvimento", eu terminaria aqui, acrescentando apenasalguns exemplos concretos para justificar as afirmações que fiz.

Teria apresentado, sem dúvida, os exemplos bem conhecidosda criação em 1794 da Escola Normal e da Escola Politécni-ca de Paris, para dotar a jovem república saída da revoluçãode 1789 de quadros docentes, científicos e técnicos, escolasque viriam a desempenhar um papel decisivo no fortaleci-mento e consolidação da democracia em todo o mundo. Teria ligado o poderio económico da Alemanha à criação,aquando da sua unificação política de 1870, de departa-mentos de ciências experimentais nas universidades tradi-cionais, à criação de raiz de universidades técnicas, entreas quais a de Munique, e à criação das justamente célebresescolas técnicas que formaram, e ainda formam, os qua-dros médios da poderossíssima indústria que então nascia. Teria ainda ligado a grande revolução industrial japonesa,

iniciada com a mudança do regime em 1868, à radical re-novação do seu tradicional sistema de educação, com o en-vio de jovens para o estrangeiro para absorverem a ciênciaocidental e o recrutamento de cientistas estrangeiros paraensinar essa mesma ciência nas universidades então criadas.Teria também ligado o poderio incontestado do impériobritânico do século XIX ao facto de o Reino Unido terreconhecido, antes de qualquer outro país, que o conhe-cimento científico confere poder a quem o detém.

Finalmente, e na mesma veia, ligaria o presente e incontes-tado poderio militar dos Estados Unidos ao facto desse paíster sido o primeiro a reconhecer as vantagens da criação degrandes grupos de investigação, congregando saberes diver-sos em torno de um objectivo bem definido; e de investirem,em média, na formação anual de cada estudante do ensinosuperior, o dobro do que investem os países europeus maisdesenvolvidos, ou seja quatro vezes o que se investe em Portugal.

Jovens desinteressados pela ciência

Como o título é outro, por sinal muito mais interessante,a ligação entre "Cultura Científica" e "Desenvolvimento" ca-rece de considerações de natureza diferente das anteriores.Na verdade, e conforme demonstrarei de seguida, o triunfodas ciências da natureza, sejam elas físicas ou biológicas, queficou claramente demonstrado pelas grandes transformaçõeseconómicas e sociais que se deram após a descoberta do mé-todo científico experimental, está ele próprio, paradoxal-mente, a criar dificuldades consideráveis ao desenvolvimentoharmonioso das sociedades. Ora essas dificuldades só po-derão ser superadas com o incremento substancial da cul-tura científica do cidadão comum. De facto, o esmagador triunfo das ciências naturais come-ça a afectar o próprio sistema de produzir e difundir ciên-cia porque, sendo hoje o conhecimento o principal factorde produção de bens e serviços, tendo ultrapassado osfactores tradicionais, isto é a terra, o trabalho e o capital,é necessário dispor de números crescentes de mulheres ehomens treinados para edificar e manter as infra-estruturascientíficas e tecnológicas essenciais para o desenvolvimento.

JOSÉ DIAS URBANO

Presidente da Sociedade Portuguesa de Fí[email protected]

CULTURA CIENTÍFICA E DESENVOLVIMENTO

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OPINIÃO

Ora acontece que se está a assistir, um pouco por toda aparte, ao decréscimo do número de jovens interessadosem ciência, dispostos a ingressar em carreiras científicas. Há várias razões que justificam este facto. Uma delas é aatracção dos jovens pelas novas tecnologias do entreteni-mento que os lançam para um mundo fantasioso de sen-sações permanentemente renovadas, de onde dificilmentese conseguem desprender para se dedicarem à aprendiza-gem das ciências experimentais, a qual exige esforços inte-lectuais intensos e prolongados.

Outra razão será o aproveitamento indevido que os detracto-res da ciência têm feito de algumas lastimáveis más apli-cações de técnicas nela baseadas, as quais têm posto emcausa a saúde e o ambiente, chegando ao ponto de amea-çarem a própria sobrevivência da espécie. Ainda outra razão do desinteresse dos jovens pela ciênciaderiva, paradoxalmente, do triunfo da democracia. São otriunfo da ciência e o da democracia, que moldaram omundo em que vivemos. Julgo que a democracia só setornou viável como regime político porque as técnicas debase científica permitiram acenar com riqueza igual paratodos. Ou, pelo menos, com iguais oportunidades de aadquirir. Seja como for, a consolidação da democraciaconduziu à explosão da população escolar.

A necessidade de ensinar tantos novos alunos conduziu, na-turalmente, à diminuição da qualidade da formação minis-trada. De facto, à dificuldade essencial de ser impossívelpreparar bem todos os docentes necessários em intervalosde tempo demasiado curtos, juntaram-se as dificuldadesfinanceiras derivadas do número de alunos ter crescido ataxas muito superiores à dos contribuintes e também doensino experimental ser mais dispendioso do que os outros.

Além disso, ao colocar a prioridade na abertura da escolaa grandes massas estudantis, não se cuidou de modernizaro padrão educativo, adaptando-o às características da socie-dade desenvolvida onde, entretanto, ingressámos. E, emvez de se procurar cativar os estudantes para o estudo dasciências tornando-o mais apelativo, optou-se por desvalo-rizá-las, tendo-se chegado ao ponto de se passar a conside-rar os docentes como criadores de currículo e de se entregaraos alunos a possibilidade de o compor a seu bel-prazer,permitindo-se que eles se auto-excluam do estudo dasciências experimentais da natureza.

Em democracia, a resolução dos problemas apontados exigeo prévio e substancial incremento da cultura científica dapopulação em geral, incluindo a dos políticos, pois só umapopulação culta se apercebe do valor da ciência como factorcivilizacional e se dispõe a investir tempo e dinheiro na suaaprendizagem e investigação.

Assimetrias sociais acentuam-se

Contudo, se o investimento em ciência é uma condiçãoabsolutamente necessária ao desenvolvimento, ele estálonge de ser suficiente. Na verdade, só por si o investi-mento em ciência não evita a má aplicação das técnicasde base científica nem previne as assimetrias sociais cria-das pela sua apropriação indevida.

De facto, não obstante os enormes benefícios que têmtrazido para a humanidade, e que são tão evidentes quedispensam enumeração, as técnicas de base científicapodem revelar-se também altamente nocivas, ameaçandoaté a própria sobrevivência da espécie.

Só um povo cientificamente culto sabe reconhecer essesriscos e, simultaneamente, usar o direito de escolher quemo governa para tentar evitá-los. Por outro lado, o triunfoda ciência e das técnicas nela baseadas conduziu à concen-tração do poder económico num número reduzido deconglomerados empresariais transnacionais que, têm acapacidade de manter em permanente renovação as técni-cas de produzir e de entreter, e de criar nos consumidores osentimento de que precisam de as adquirir.Esta complicada relação entre os que produzem, por umlado, e os que consomem, pelo outro, está a criar enormesdisfunções sociais, subtraindo as decisões que mais afectamas nossas vidas ao escrutínio democrático e aumentandogradualmente o fosso entre os poucos que possuemmuito e os muitos que pouco possuem.

Ora, sendo este gravíssimo problema criado pelo domíniode técnicas de base científica, só os povos cientificamentecultos os podem caracterizar correctamente, o que é umacondição prévia para haver alguma hipótese de os resolver.Em resumo, na idade do conhecimento, a soberania popu-lar só pode ser cabalmente exercida por quem conhece.

Alguns dos países mais evoluídos, tais como a Alemanha, aRússia e o Japão, começaram a investir em ciência sob re-gimes autoritários. Outros, tais como os Estados Unidose a França, fizeram-no sob regimes democráticos pela neces-sidade de os consolidar. Portugal não se inclui em nenhumdestes casos. A primeira grande tentativa iluminista, de ín-dole voluntarista, de importar ciência e de criar infra-estru-turas para passar a produzi-la foi rapidamente abafadapelo espírito obscurantista prevalecente. Outras tentativasposteriores falharam igualmente, de modo que Portugalse manteve de costas voltadas para a ciência, sendo o nossopovo o mais inculto da Europa. Mas, por outro lado, a in-tegração na União Europeia permite manter o regime de-mocrático sem termos de lutar para isso com instrumentoscientíficos. É esta a razão por que conseguimos manter, aofim de um quarto de século de democracia, um sistemaeducativo avesso à ciência. Mas não devemos desesperar.

A vossa presença aqui é um sinal de esperança. Uma pequenaporção de fermento pode levedar grandes massas. Leva oseu tempo, mas pode acontecer. Estou certo que o facto dea UNESCO ter decidido apoiar o Ano Internacional daFísica 2005 sob proposta do Brasil, da França e de Portugal,é outro e muito importante sinal de esperança. Estejam atentosàs propostas da Sociedade Portuguesa de Física para 2005.E peço-vos que se disponham a colaborar para a melhoriada cultura científica dos portugueses, contribuindo assimpara o desenvolvimento harmonioso da sociedade portuguesa.

Palestra proferida no colóquio "Física, Cultura e Desenvol-vimento", realizado em Novembro de 2003 em Coimbra pelaDelegação Regional do Centro da SPF. A adaptação dotexto e os subtítulos são da responsabilidade da redacção.

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Por iniciativa de alguns países, entre os quais

Portugal, 2005 foi proclamado pela Organização

das Nações Unidas (ONU) Ano Mundial da Física.

A Sociedade Portuguesa de Física (SPF) está apos-

tada em desempenhar um papel fulcral nas iniciati-

vas a desenvolver.

Este espaço noticia estas iniciativas.

A Gazeta agradece o envio de informação sobre

acções no âmbito do Ano Mundial da Física

[email protected]

ANO MUNDIALDA FÍSICA 2005

ONU DECLAROU 2005 O ANO MUNDIAL DA FÍSICA

No seguimento da deliberação da UNESCO de 16 deOutubro de 2003, que a Gazeta de Física noticiou opor-tunamente, a 58.ª Assembleia Geral da ONU declarou oano de 2005 Ano Mundial da Física.

Na resolução, aprovada por aclamação em 10 de Junho, aAssembleia Geral da ONU convidou a UNESCO aorganizar actividades para celebrar aquele ano, em cola-boração com as Sociedades de Física e grupos do mundointeiro, incluindo os países em desenvolvimento.

O lançamento do Ano Mundial da Física 2005 terá lugarna sede da UNESCO em Paris, em 13-15 de Janeiro de2005.

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Para além de uma homenagem a Einstein, pretende-seque as acções e eventos a realizar no Ano Mundial daFísica 2005 sirvam para aumentar a percepção pública daFísica e da sua importância social, estimulando os jovens adedicar-se ao estudo das ciências experimentais da natureza edas engenharias. Pretende-se nomeadamente:

1. Reforçar o ensino da Física nas escolas.

2. Reforçar o papel da Física como elemento estruturanteda cultura científica do cidadão comum.

3. Reforçar o papel da Física na formação superior doscientistas e técnicos.

4. Promover o reconhecimento da Física como elementoindispensável para o desenvolvimento harmonioso e sus-tentável das sociedades fundadas sobre o conhecimento,conduzindo a uma progressiva coesão social.

A SPF gostaria de contar com a colaboração de todos osintervenientes da área da Física, professores, investi-gadores, alunos, para levar a cabo acções que possamcontribuir para alcançar os objectivos acima referidos.

Neste sentido convidamo-lo a enviar-nos o seu e-mail (ououtra forma de contacto directo) para que possamosmantê-lo ao corrente das acções planeadas; convidamo-loa colaborar connosco, enviando sugestões de acções adesenvolver e comentando o plano que brevemente constará da nossa página, www.spf.pt.

CONCURSO CALENDÁRIO 2005 DE FÍSICA

A SPF está a organizar o Concurso Calendário 2005 deFísica com o qual se pretende, como produto final, obterum calendário de 2005, de parede ou de mesa, em queapareçam associados aos dias, ou semanas ou meses, eventosrelevantes da Física, tais como o nascimento ou morte dealgum físico importante, discussão, publicação ou reconhe-cimento público da sua obra, devendo aparecer tambémuma breve justificação da importância do evento escolhido.Os materiais, forma e composição artística do calendário sãode escolha livre. No entanto, todos os calendários deverãoconter os logotipos da SPF e do Ano Mundial da Física quepoderão ser descarregados da página da SPF.

A inscrição no concurso é feita por turma do 10º, 11º ou12º anos, com indicação do professor responsável pelaacção, tendo as inscrições decorrido até 6 de Junho de 2004.A apreciação e selecção dos calendários será feita de acordocom os seguintes critérios: rigor científico da informação;qualidade e quantidade de informação; composição artística.

O júri do concurso será formado por quatro elementosnomeados pela SPF: dois investigadores da História daFísica, um especialista da área artística e um membro daDirecção da SPF. Ao melhor calendário serão atribuídos osseguintes prémios: ao professor responsável, uma viagem aBerna para participar na Conferência Internacional Trends inPhysics; à turma, um computador; aos alunos, DVD dejogos ou filmes.

ANO MUNDIAL DA FÍSICA

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A versão internacional da exposição foi concebida sobiniciativa do grupo PANS (Public Awareness of NuclearScience) de comunicação e divulgação da NuPECC(Nuclear Physics European Collaboration Committee).A edição portuguesa integra na versão internacional,adaptada para português, uma apresentação da radioacti-vidade através de "sinais" traduzidos em sons ou luz, einclui componentes de interactividade e de espóliohistórico do Museu.

Numa linguagem dirigida ao público em geral, as men-sagens da exposição sublinham o carácter natural de cer-tas radiações e a sua inevitabilidade na Terra e no Espaço.

A FÍSICA DE ASTROPARTÍCULAS NA UNIVER-SIDADE DO ALGARVE

Integrada no Ano Mundial da Física, irá decorrer, nosdias 8, 9 e 10 de Janeiro de 2005, no Campus deGambelas da Universidade do Algarve, a 5ª ConferênciaInternacional "New Worlds in Astroparticle Physics".

A conferência "New Worlds in Astroparticle Physics", quese realizou pela primeira vez em 1996, reúne físicos experi-mentais e teóricos ligados às áreas da Física de Partículas,Astrofísica e Cosmologia. Nesta conferência, em que cadaum dos tópicos é introduzido por uma palestra de carácterpedagógico proferida por um cientista conceituado, pre-tende-se criar um ambiente propício ao intercâmbioentre diversas culturas científicas e proporcionar umambiente privilegiado para jovens investigadores.

Na conferência "New Worlds in Astroparticle Physics"serão abordados os seguintes tópicos: Raios Cósmicos,Física de Neutrinos e Astrofísica, Constantes Funda-mentais, Energia Escura, Ondas Gravitacionais e Físicade Fontes Compactas e Física de Buracos Negros.

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Será ainda atribuído um prémio extraordinário ao calen-dário que, cumprindo os requisitos definidos anteriormente,tenha a melhor ideia de introdução de efeitos físicos parafacilitar a sua consulta.

RADIOACTIVIDADE α β γ SINAIS DA NATUREZA

Estará patente no Museu de Ciência da Universidade deLisboa a exposição temporária, Radioactividade αα ββ γγ: Si-nais da Natureza, que marcará o início da campanha nacio-nal de sensibilização para 2005, Ano Mundial da Física.

A inauguração terá lugar no dia 7 de Outubro, aniversáriodo físico Niels Bohr, prolongando-se a mostra até 8 deJaneiro de 2005. A partir desta data, e no decorrer de 2005,a exposição será itinerante, percorrendo várias regiões do país.

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A conferência é organizada pelo Departamento de Física daFaculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Al-garve, pelo Departamento de Física do Instituto SuperiorTécnico da Universidade Técnica de Lisboa, pelo CentroMultidisciplinar de Astrofísica (CENTRA), pelo Centro deFísica das Interacções Fundamentais (CFIF) e pelo Labora-tório de Instrumentação e Partículas Elementares (LIP).

Para mais informações sobre esta conferência consultar apágina http://www.ualg.pt/fct/fisica/centra/a2005.html.

13ª CONFERÊNCIA DA EPS

A 13ª Conferência da European Physical Society (EPS13)será o ponto alto do Ano Mundial da Física 2005. AEPS13 estará relacionada com os três artigos mais impor-tantes de Einstein, cem anos depois da sua publicação.Terão lugar três conferências paralelas organizadas pelasDivisões e Grupos da EPS:

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ANO MUNDIAL DA FÍSICA

1. Fotões, Lasers e Estatística Quântica, sendo os organi-zadores responsáveis S. de Silvestri (Milan, Itália), H.R.Ott (Zürich, Suíça), N.J. Mason (Milton Keynes, ReinoUnido).

2. Relatividade, Matéria e Cosmologia, juntamente coma ESA-ESO-CERN, tendo como organizador responsá-vel M. Cruise (Birmingham, Reino Unido).

3. Movimento Browniano, Sistemas Complexos e Biologia,sendo os organizadores responsáveis J.P. Boon (Bruxelles,Bélgica), J.P. Bouchaud (Saclay, França), H. Kelder (DeBilt, Holanda).

A EPS13 será uma oportunidade única para apresentar tra-balhos de investigação nestes tópicos e celebrar a herançadeixada por Einstein à Física moderna. Haverá lugar paracomunicações orais assim como sessões especiais de posters.Haverá ainda um Dia Aberto com o tema "Einstein Hoje",co-organizado pela Academia Suíça de Ciências e a Socie-dade Suiça de Física, e dirigido ao público em geral.A Conferência terá lugar na Universidade de Berna. Paraobter mais informações sobre a Conferência consulte osítio http://www.eps13.org

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PREÂMBULOO ano de 2005 foi declarado pela ONU como AnoMundial da Física. Integrado no programa dasComemorações do Ano Mundial da Física, a SociedadePortuguesa de Física, promove entre todos os alunos dasEscolas do País o Concurso "Eureka".

O Concurso envolve a atribuição de dois prémios quetêm as seguintes designações:

- Prémio Manuel Valadares (Experimentação)

- Prémio Bartolomeu de Gusmão (Demonstração)

O objectivo desta iniciativa é desenvolver o gosto pelaFísica, através da experimentação. Pretende-se chamar aatenção dos jovens para a importância do método experi-mental na aquisição de conhecimentos e no estabeleci-mento das leis que governam os fenómenos naturais.

A elaboração destes projectos levará necessariamente aodesenvolvimento da capacidade criativa, do espírito deobservação e do raciocínio metodológico, competênciascognitivas que dificilmente seriam atingidas de outraforma.

Ao promover este concurso a Sociedade Portuguesa deFísica visa contribuir para a melhoria do ensino experi-mental da Física.

REGULAMENTO

1. Participação no Concurso

1.1 - Podem participar no Concurso os alunos dasEscolas Secundárias e Básicas nacionais, públicas ou pri-vadas.

1.2 - Os alunos, sob a tutela de um professor acompa-nhante, poderão concorrer individualmente ou em equi-pas constituídas por um máximo de 3 alunos.

1.3 - Cada escola poderá apresentar o número de candi-daturas que entender em cada escalão, sem qualquer limite.

1.4 - Para ambos os prémios serão considerados doisescalões: - ESCALÃO A: alunos até ao 9º ano de escolaridade,inclusive. - ESCALÃO B: alunos do 10º ao 12º ano de escolari-dade, que não tenham completado 19 anos a 30 deJunho do respectivo ano lectivo.

2.Tipologia dos Projectos a Concurso

2.1 - Os alunos concorrentes ao Prémio Manuel Valadares deverão apresentar um trabalho de Físicaexperimental de natureza quantitativa, enquanto os can-

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didatos ao Prémio Bartolomeu de Gusmão deverão pro-por a demonstração qualitativa de uma lei física.

2.2 - O tema é livre, não estando por isso sujeito aoenquadramento nos programas oficiais do ensinosecundário.

2.3 - Os trabalhos apresentados deverão ser realizadoscom o material de laboratório existente nas escolas dosalunos participantes.

2.4 - O trabalho será previamente apresentado sob aforma de um protocolo experimental, em que para alémda descrição da montagem e do procedimento, haveráuma descrição do fundamento teórico que está subjacenteà experiência. A lista das referências bibliográficas e/ou deoutras fontes ou meios auxiliares utilizados na execuçãodo trabalho (exemplo: sítios na internet, etc.) deve ser omais completa e fiel possível. Contudo esta apresentaçãonão deverá exceder cinco páginas de formato A4.

2.5 - Na apresentação da candidatura ao Concurso, asequipas, além da identificação completa de cada um doselementos (nome, morada, telefone, "e-mail" se houver,escola) e do nome do professor acompanhante deveráacrescentar uma declaração, sob compromisso de honra,da autoria pessoal do trabalho.

2.6 - O Concurso concluir-se-á através da realização noVisionarium, em Santa Maria da Feira, dos projectosexperimentais e demonstrativos apresentados a concurso.

2.7 - Na avaliação da qualidade da apresentação dos tra-balhos apresentados ao prémio Manuel Valadares seráconsiderada a execução experimental, bem como a quali-dade do tratamento dos resultados experimentais propos-ta pelos alunos.

2.8 - Na avaliação da qualidade da apresentação dos tra-balhos propostos ao prémio Bartolomeu de Gusmão seráconsiderada a clareza das demonstrações experimentais,bem como da envolvente artística com que os mesmossão apresentados.

3. Datas

3.1 - A inscrição para o concurso faz-se pelo preenchi-mento, no sítio da SPF (spf.pt), da ficha de dados pre-vista no ponto 2.5.Tal poderá ocorrer em qualquer alturaaté ao dia 30 de Abril de 2005.

3.2 - O protocolo de descrição da experiência ou dademonstração deverá ser enviado por e-mail, ou por cor-reio, até ao dia 30 de Junho de 2005.

4. Júri

4.1 - O júri será formado por cinco membros escolhidospela Direcção da Sociedade Portuguesa de Física queescolherão os trabalhos a distinguir, revelando no final osnomes dos respectivos autores.

4.2 - Os critérios para atribuição dos prémios serão daresponsabilidade do júri, devendo ser lavrados em acta.

4.3 - Para cada prémio, será escolhido um vencedor,podendo ainda o júri atribuir as menções honrosas queentender.

4.4 - De acordo com a apreciação da qualidade dos tra-balhos e respectiva apresentação, o júri poderá decidir aatribuição de prémios ex-aequo, ou a não atribuição dequaisquer prémios, se entender que os trabalhos não pos-suem o nível mínimo requerido para tal.

4.5 - Da decisão do júri não há recurso.

5. Prémios

5.1 - O prémio para os vencedores consiste numa visita,acompanhada pelo professor, a um grande laboratórioEuropeu de investigação em Física.

5.2 - Os professores acompanhantes dos alunos vence-dores receberão um computador portátil.

5.3 - As Escolas Secundárias de onde são provenientes osalunos vencedores receberão um computador desecretária e alguns livros de Física.

5.4 - Os prémios serão entregues numa cerimónia públi-ca, cuja data e local serão anunciados oportunamente.

Lisboa, 28 de Junho de 2004.

Page 50: Gazeta de Fisica Vol. 27 (2004) Fasc. 2 - SPF

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O ano de 2005 foi designado pela Assembleia Geral daONU como Ano Mundial da Física. Integrado no progra-ma das Comemorações do Ano Mundial da Física, a Socie-dade Portuguesa de Física, resolveu instituir um prémio,intitulado Prémio Rómulo de Carvalho, destinado a galar-doar excelentes professores de Física do Ensino Secundário.

Ao promover esta iniciativa a Sociedade Portuguesa deFísica visa contribuir para a melhoria do ensino da Física,honrando e dando visibilidade pública a alguns dos me-lhores profissionais do ensino. É principalmente do seuesforço, da sua dedicação e da sua motivação quedepende o sucesso do ensino.

REGULAMENTO

1. Objectivo

Reconhecer e dar visibilidade pública aos docentes de Físicadas Escolas do Ensino Básico e Secundário que se tenhamdestacado pela qualidade excepcional da obra realizada.

2. Participação no Concurso

O concurso é aberto exclusivamente aos professores dasdisciplinas de Física e Fisico-Química do ensino secundárioe do terceiro ciclo do ensino básico, público ou privado,independentemente do regime do seu contrato de trabalho.

3. Nomeação dos Candidatos

3.1. Qualquer professor nas condições do ponto 1 poderáser nomeado para o prémio.

3.2. As nomeações podem ser feitas pelos ConselhosExecutivos ou Directivos das Escolas, pelas Associaçõesde Pais das Escolas, por grupos de Pais ou Encarregadosde Educação, por um grupo de alunos de uma determi-nada turma e ainda por ex-alunos.

3.3. A nomeação faz-se pelo preenchimento de uma fichade candidatura, na qual serão resumidamente indicadas as

razões que a fundamentam. As fichas podem ser solicitadasà SPF e estão disponíveis no nosso sítio: http://spf.pt.

4. Confidencialidade

4.1 - A SPF não divulgará as candidaturas recebidas.

4.2 - O júri do prémio contactará individualmente, porescrito, todos os nomeados e só considerará como candi-datos ao prémio, os nomeados que aceitem participar.

4.3 - No fim do concurso, a SPF divulgará exclusivamentea lista dos candidatos premiados.

5. Datas

As nomeações poderão fazer-se até ao dia 31 de Julho de 2005.

6. Júri

6.1 O júri será formado por três membros escolhidospela Direcção da Sociedade Portuguesa de Física.

6.2. O júri visitará as Escolas e entrevistará os candidatos.

6.3. Das decisões do júri não haverá recurso.

7. Prémios

7.1 O júri poderá atribuir até um máximo de trêsprémios e ainda cinco menções honrosas.

7.2. O valor de cada prémio será de € 5.000 (cinco milEuros).

7.3. Os Prémios serão entregues numa cerimónia públi-ca, cuja data e local serão anunciados oportunamente.

Lisboa, 28 de Junho de 2004.

PRÉMIO RÓMULO DE CARVALHO

Page 51: Gazeta de Fisica Vol. 27 (2004) Fasc. 2 - SPF

XXIIVV EEnnccoonnttrroo IIbbéérriiccoo ppaarraa oo EEnnssiinnoo ddaa FFííssiiccaa

A Sociedade Portuguesa de Física organiza nos dias 9 e 10 de Setembro do corrente ano, no Porto (InstitutoSuperior de Engenharia do Porto) uma Escola de Educação em Física que se integra no XIV ENCONTROIBÉRICO PARA O ENSINO DA FÍSICA, sendo este organizado em conjunto com a Real Sociedade Espanhola de Física.

O objectivo deste encontro é promover a divulgação de iniciativas inovadoras no Ensino da Física e o debate dos programas lectivos dos ensinos básico, secundário e superior.

CCOOMMIISSSSÃÃOO OORRGGAANNIIZZAADDOORRAA::Alexandra Amorim(Instituto Superior de Engenharia do Porto)Carlos M. Carvalho(Escola Secundária Augusto Gomes - Matosinhos)Carmen Carreras Bejar(Universidad Nacional de Educacion a Distancia)Elisa Arieiro (Escola Secundária Filipa de Vilhena Porto)Fátima Mota(Universidade do Porto; direcção da SPF - Norte)Graça Santos (Divisão de Educação da SPF)João Pedro Araújo (Universidade do Porto; direcção da SPF - Norte)João Pinto (Instituto Superior de Engenharia do Porto)Manuel Azevedo(Instituto Superior de Engenharia do Porto)Manuel Yuste Llandres (Universidad Nacional de Educacion a Distancia-Madrid)

PPRROOGGRRAAMMAASESSÕES PLENÁRIAS SOBRE TEMAS ACTUAIS DE FÍSICA E EDUCAÇÃO EM FÍSICA: DIVULGAÇÃO DE INICIATIVAS INOVADORAS

NO ENSINO DA FÍSICA

- João Lopes dos Santos: Projecto Faraday: uma experiência de colaboração entre o secundário e o superior- José Maria Pastor Benavides: Tendencias innovadoras en la Enseñanza de la Física en España- Rui Agostinho: Big Bang: modelo(s)? teoria? ou realidade?- Helena Caldeira: Ensinar física no contexto das telecomunicações- Gunnar Tibel: Who should decide about reforms?- Constança Providência: Afunda-se ou não? - Ciência para os mais pequenos

MMeessaass rreeddoonnddaass ee DDeebbaatteess::Debate 1: Educação em Ciências Físicas para Crianças.Debate 2: Física é Cultura!Debate 3: Formação de Professores no Contexto da Reforma Curricular.Debate 4: Que Física(s) no Ensino Superior?

CCoommuunniiccaaççõõeess oorraaiissPOSTERS (1,20×0,90) m2

EXPOSIÇÕES DE EQUIPAMENTO E MATERIAL DIDÁCTICO

IINNSSCCRRIIÇÇÃÃOO

Até 31 de Agosto de 2004Sócios da SPF - 40 Euros | Não sócios - 75 Euros | Redução de 50% para estudantes não licenciadosIsenção para os docentes do 1º ciclo do Ensino Básico

SSEECCRREETTAARRIIAADDOO

[email protected] | Tel. +351- 22 6082 709Sociedade Portuguesa de Física - Delegação Regional do Norte | Rua do Campo Alegre, 687 | 4169-007 Porto

CCOOMMIISSSSÃÃOO CCIIEENNTTÍÍFFIICCAA::Adriano Sampaio Sousa Ferreira (Universidade do Porto)António Alberto G. Silva (Escola Superior de Educação do Porto)António Luís Ferreira (Universidade de Aveiro)Carmen Carreras Bejar (Universidad Nacional de Educacion a Distancia)Carlos Herdeiro Universidade do Porto; direcção da SPF - Norte)José Maria Pastor Benavides (Instituto de Bachillareato "Benito Pérez Gladós)Manuel Yuste Llandres (Universidad Nacional de Educacion a Distancia - Madrid)Regina Gouveia (Escola Secundária Carolina Michaelis)Vitor Teodoro (Universidade de Lisboa)Jorge Valadares (Universidade Aberta - Lisboa)

IInntteerrnneettXIV ENCONTRO IBÉRICO PARA O ENSINO DA FÍSICA

http://www.fc.up.pt/fis/spf-norte/encontro2004.html

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NOS PRÓXIMOS NÚMEROS

ASTRONOMIA VERSUS ASTROLOGIA

Ana Carla Campos

ENTREVISTA COM GILLES DE GENNES

A MAGNETOENCEFALOGRAFIA

Maria João Gomes Trindade