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    De gatos, poemas e sorrisos: a gatografias de Ana Cristina Cesar

    Resumo

    Ana Cristina Cesar criou dez poemas, reunidos em seu Inditos e dis-Inditos e dis-Inditos e dis-Inditos e dis-Inditos e dis-

    persospersospersospersospersos (1998), que giram em torno da figura do gato e do que seria

    uma gatografia, neologismo cunhado pela prpria Ana C. para definir

    seu trabalho potico. Em busca dos mecanismos e do sentido desse

    fazer criativo, nosso ensaio prope uma anlise de um dos poemas que

    compem a srie das gatografias: Arte-manhas de um gasto gato,

    exerccio ldico-potico em que se pratica e reflete-se sobre a to

    felina artimanha de furtar, que se faz correspondente to modernaarte de citar. Exemplo de uma escrita como ladroagem (termo caro a

    Ana C.), o poema funda-se numa potica da releitura, fazendo-se espa-

    o de encontro e dilogo de diferentes vozes da tradio literria mo-

    derna (Baudelaire, T. S. Eliot, Drummond, entre outros), de que Ana C.

    gatunamentese apropria, transformando-as criativamente.

    Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave: Ana Cristina Csar; Literatura comparada; Gatografia.

    De gatos, poemas e sorrisos:

    a gatografia de Ana Cristina CesarMnica Genelhu Fagundes*

    * Doutoranda em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ);Mestre em Literatura Comparada pela UFRJ.

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    Mnica Genelhu Fagundes

    Publicado no Inditos e dispersosInditos e dispersosInditos e dispersosInditos e dispersosInditos e dispersos de Ana Cristina Cesar (1998) comoltimo elemento da srie de gatografias da poetisa, Arte-manhas de um gastogato o mais longo dos poemas que a constituem e o nico a ter um ttulo,bem como uma indicao do local em que foi escrito: a Biblioteca Padre Augus-to Magne, da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro. Essa ltimainformao, que a princpio poderia parecer de pouco ou nenhum valor para aanlise do poema, guarda em si, na verdade, o ndice sob o qual se inscrevetoda a obra potica de Ana Cristina: uma obra produzida na biblioteca refe-rncia topogrfica concreta no caso do poema de que aqui tratamos, mas esten-dida num sentido menos material (mas no ainda figurado) totalidade dosescritos de Ana C., movidos a intertextualidade, dilogo com outros textos,citao, recorte e colagem, ou, num termo menos acadmico e mais brejeiroescolhido pela prpria poetisa, que no tinha escrpulos em confessar seudelito, ladroagem.

    No toa Ana C. parece gostar tanto de gatos, esses bichinhos de tantasmanhas que sem perder a elegncia surrupiam o que lhes convm, pelo que jforam irremediavelmente julgados e condenados pela tradio folclrica e con-sagrados mais literalmente impossvel como gatunos. Vtima de repetidosfurtos, a tradio literria, especialmente moderna, faz-se notar sem disfarces,mas criativamente recriada, nos textos de Ana C., coalhados de referncias (oucitaes literais mesmo) a Baudelaire, T. S. Eliot, Walt Whitman, Drummond,Bandeira, Jorge de Lima e tantas outras afinidades reveladas pela leitura que,em Ana Cristina Cesar, se faz trabalho de criao.

    A srie de gatografias , a um s tempo, prtica e confisso desse ofcio e

    reflexo sobre seu sentido, discurso potico e metapotico, poema que fala deoutros poemas de Ana C. e de muitos outros: como l-los, como faz-los,como falar deles, como falar comeles. Seu ltimo elemento, o Arte-manhas...,sobre o qual nos deteremos particularmente, rene essas questes e suas incer-tas respostas.

    Arte-manhas de um gasto gato

    No sei desenhar gato.

    No sei escrever o gato.

    No sei gatografia.

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    De gatos, poemas e sorrisos: a gatografias de Ana Cristina Cesar

    nem a linguagem felina das suas artimanhas

    Nem as artimanhas felinas da sua no-linguagem

    Nem o que o dito gato pensa do hipoptamo (no o de Eliot)Eliot e os gatos de Eliot (Practical Cats)

    Os que no sei

    e nunca escreverei na tua cama.

    O hipoptamo e suas hipopotas ameaam gato (que no hipogato)

    Antes hiponmico.

    Coisa com peso e forma do peso

    e o nome do gato?

    J. Alfred Prufrock? J. Pinto Fernandes?

    o nome do gato nome de estao de trem

    o inverno dentro dos bares

    a necessidade quente de t-lo

    onde vamos diariamente fingindo nomear

    eu o gato e a grafia de minhas garras:

    toma: l o que escrevo em teu rosto

    l o que rasgo e tomo de teu rosto

    a parte que em ti minha gato

    leio onde te tenho gato

    e a gatografia que nunca sei

    aprendi na marca do meu rosto

    aprendi nas garras que tomei

    e me tornei parte e tua gata a

    saltar sobre montanhas como um gato

    e deixar arco-irisado esse meu salto

    saltar nem ao menos sabendo que desenho

    e escrita esperam gato

    saltar felinamente sobre o nome de gato

    ameaado

    ameaado o nome de G A T Oameaado o nome de G A S T O

    ameaado de morrer na gastura de meu nome

    repito e me auto-ameao:

    no sei desenhar gato

    no sei escrever gato

    no sei gatografia

    nem...

    PUC, 2.10.72 Biblioteca Padre Augusto Magne. (CESAR, 1998, pp. 74-5)

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    Para Antoine Compagnon (1996, p. 43), o texto como a sobrevivnciado gesto arcaico de recorte e colagem, a caneta rene as propriedades da

    tesoura e da cola. No momento da leitura, ela sublinha, destaca, copia pala-vras, frases, imagens que depois reescreve, reinventadas, num novo texto, que o primeiro transformado e cuja leitura transformar, tambm, a leitura dotexto original. Na origem de todo texto estaria, assim, a fragmentao.

    Esse trabalho da citao, como o chama Compagnon, no seria umaexclusividade moderna, mas uma prtica inerente literatura, necessria mes-mo constituio de sua histria, j que todo texto seria citao dos que oprecederam. Na literatura moderna, porm, ele adquire um carter mais criati-

    vo e um tom quase subversivo. Se em outras pocas, como no Renascimentodos sculos XV e XVI com seu retorno Antigidade Clssica, o valor da

    segunda obra residia em sua semelhana com a primeira, no modernismo dosculo XX o que vale a diferena, a reinveno criativa, a possibilidade deengendrar novos sentidos que a um s tempo redescubram e desafiem a tradi-o. Esse mecanismo que pe em questo o passado e o futuro, o velho e onovo, a dinmica da modernidade em si: movimento dialtico de construo-desconstruo-reconstruo que se estende infinitamente.

    Ana Cristina Cesar reconhece a importncia dele em sua prpria poticaao confessar sua prtica de ladroagem e comenta-o mais detidamente numdepoimento sobre sua obra dado em meio acadmico, a uma turma da profes-sora Beatriz Rezende na Faculdade da Cidade, em 1983. Diz a poetisa: Os

    textos mais densos de literatura, os que nos satisfazem mais se referem amuitos outros textos. Cada texto potico est entremeado com outros textospoticos. Ele no est sozinho. uma rede sem fim. o que a gente chama deintertextualidade (CESAR, 1999, p. 267).

    com base nesse princpio de intertextualidade que se constri Arte-manhas de um gasto gato. O poema um mosaico de citaes e referncias,algumas explcitas, outras no tanto, que vo se combinando para fazer surgir,do que eram fragmentos, uma nova unidade, um novo todo que dar novo

    sentido a cada uma de suas partes, que, por sua vez, do sentido quele todo.

    Passemos a um ligeiro levantamento de referncias. A simples presenado gato j nos remete a dois grandes poetas modernos: Baudelaire, que tem

    trs poemas sobre o animal em seuLes fleurs du malLes fleurs du malLes fleurs du malLes fleurs du malLes fleurs du mal (As flores do malAs flores do malAs flores do malAs flores do malAs flores do mal), e T.

    S. Eliot, autor do Old Possums book of practical catsOld Possums book of practical catsOld Possums book of practical catsOld Possums book of practical catsOld Possums book of practical cats (Livro do Velho Gam-Livro do Velho Gam-Livro do Velho Gam-Livro do Velho Gam-Livro do Velho Gam-

    b sobre gatos travessosb sobre gatos travessosb sobre gatos travessosb sobre gatos travessosb sobre gatos travessos). Quanto a Baudelaire, parece haver ecos de seuspoemas felinos nos versos de Ana C., mas o exame desse dilogo entretextos depende de uma anlise mais detida do poema, a que procederemosmais adiante. J a referncia a Eliot no poderia ser mais direta e abundante. com esse poeta que Ana C. dialoga principalmente nesse poema. Seu nome mencionado trs vezes, bem como o ttulo do seu livro sobre gatos Eliot e os

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    gatos de Eliot (Practical cats) , e o poema de abertura dessa obra, Thenaming of cats (O nome dos gatos), tambm lembrado em e o nome do

    gato? / [...] / o nome do gato nome de estao de trem e outra vez emameaado o nome de G A T O. Alm disso, o poeta aparece numa refernciaa um outro poema de sua autoria, The hippopotamus (O hipoptamo) Nem o que o dito gato pensa do hipoptamo (no o de Eliot). Ele retornamais uma vez pela meno a J. Alfred Prufrock, que vem a ser o personagemde seu primeiro poema, The love song of J. Alfred Prufrock (A cano deamor de J. Alfred Prufrock). No mesmo verso em que aparece Prufrock, aproximidade fnica parece lembrar a Ana C. um outro personagem de poema,

    J. Pinto Fernandes, que aparece na Quadrilha de Drummond. O poeta brasi-leiro faz-se presente mais uma vez quando Ana C. imita o seu tpico exerc-

    cio de palavra-puxa-palavra, em O hipoptamo e suas hipopotas ameaamgato (que no hipogato) / Antes hiponmico. E parece ecoar tambm noplano geral da composio do poema, cuja construo, por via negativa, lembraa do seu O sobrevivente.

    Este mapeamento, um tanto cansativo mas no exaustivo, certamente, poisos intertextos desse poema parecem no se esgotar, serve neste momento denossa leitura apenas para demonstrar o mecanismo de combinao de fragmen-tos por meio do qual se constroem as Arte-manhas.... No decorrer da anlisedo poema propriamente dita, a que passaremos a seguir, voltaremos a essasreferncias para pensar o sentido de seu deslocamento e de sua presena no

    texto de Ana C.

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    Arte-manhas de um gasto gato: de um poema assim intitulado esperara-mos, provavelmente, uma descrio das peripcias de um gato j experiente,mesmo velho, talvez uma composio bem-humorada moda das que Eliotcriou para os filhos de seus editores e que mais tarde reuniu no Old PossumsOld PossumsOld PossumsOld PossumsOld Possums

    book of practical catsbook of practical catsbook of practical catsbook of practical catsbook of practical cats Velho Gamb o apelido carinhoso(?) dado ao poetapelos meninos, seus afilhados, que a cada aniversrio recebiam um poema que

    contava a histria de um gato. Mesmo esses poemas, a princpio escritos paracrianas, falando de bichos, comportam porm um outro sentido: sem perderseu tom gracioso, os gatos de Eliot, personificados, satirizam tipos da sociedadeinglesa (ELIOT, 2004).

    Da mesma forma, o gasto gato apresentado no poema de Ana C. umgato e muito mais que um gato, ou melhor dizendo, um gato de muitossentidos. Pluralidade que j comea nas suas arte-manhas. O jogo grfico coma palavra artimanhas, que aparece no corpo do poema em sua grafia regular, muito claro, mas rende muito em termos de abertura de sentido. Artimanhasignifica, segundo o dicionrio, procedimento para levar algum ao engano;

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    estratagema, ardil, artifcio, e sua etimologia vem provavelmente do latim artemagna, grande arte (HOUAISS, 2001, verbete artimanha). Assim sendo, o

    arte-manhas do ttulo do poema de Ana C. parece jogar com pelo menos trssentidos que se desdobram em outros mais: o de artimanha mesmo, enquantoartifcio, j que o neologismo guarda a imagem acstica da palavra original; ode grande arte, no apenas porque a separao com o hfen rememora a formalatina original, mas principalmente porque a palavra portuguesa arteaparecedestacada; e o de uma arte da manha, um talento para a manha em ltimo grau

    destreza, desenvoltura ou engano sutil , como o da criana que chora semmotivo, fazendo manha, e como o do gato que se oferece para o afago e entomostra suas garras.

    Esse jogo do neologismo, tambm uma prtica do fragmento, como a

    citao, toma as partes de um todo, cria desdobramentos de seu sentido ecombina-os novamente para formar um sentido mais amplo, resultante da ten-so entre as partes. No caso das arte-manhas, esse sentido o de uma arte doengano, talento do gasto gato, imagem que pode se referir figura de umgato em si ou ao poema a ser escrito elementos que, j veremos, podem serlidos como um s e o mesmo nessa composio de Ana Cristina Cesar.

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    No terceiro verso do poema, o eu-lrico (que parece aqui indissocivel da

    figura da poetisa) assume: No sei gatografia. Mais um neologismo. Gatogra-fia seria, literalmente, escrita do gato, mas essa expresso traz em si umaambigidade que preciso explorar. O duplo sentido inerente sua estruturasinttica, que pode ser analisada de duas formas: a locuo do gato poderiaser um complemento nominal ou um adjunto adnominal. No primeiro caso,teramos o gato com um papel de paciente na ao da escrita. Assim, o terceiro

    verso do poema reafirmaria os dois anteriores, em que a poetisa diz: No seidesenhar gato. / No sei escrever o gato. Por outro lado, se tomarmos alocuo do gato como adjunto adnominal, teremos o animal como agente daao, teremos uma escrita feita pelo gato e no um gato feito pela escrita como

    na hiptese anterior. Nesse caso, o terceiro verso remeteria aos dois seguintes,que reconhecem a existncia de um discurso (no se sabe se linguagem ouno-linguagem) do gato: nem a linguagem felina das suas artimanhas / Nem asartimanhas felinas da sua no-linguagem.

    A discusso acerca de uma possvel linguagem dos animais pertence aombito da Lingstica e seria longo e desnecessrio entrar muito a fundo nessedebate. O que esses versos parecem afirmar , no entanto, a existncia de umcdigo prprio (embora desconhecido) nas artimanhas do gato, bem como apresena de artifcios nos gestos do animal. Os versos mantm a dicotomia dagatografia, j que, sem saber a linguagem felina, a poetisa no pode escrever

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    Mnica Genelhu Fagundes

    como o gato e, sem conhecer as manhas, os artifcios do animal, no podeapreend-lo, escrev-lo.

    A constatao do no-saber reafirmada diversas vezes ao longo do poe-ma, que j se abre e conclui-se com trs versos iniciados pela expressono sei e continua por mais trs versos com a conjuno aditiva nem, desentido negativo. A expresso inicial retomada no verso Os que no sei, e

    variantes suas aparecem em e a gatografia que nunca sei e saltar nem aomenos sabendo que desenho (grifo nosso). A questo que, afirmando ereafirmando no saber, esse sujeito potico faz. Embora pela via negativa dono-saber, Ana C. vai ensaiando ao longo de todo o poema a escrita do seugasto gato uma gatografia desconhecida que enfim se realiza, semelhan-a do poema impossvel que Drummond escreve em O sobrevivente, inclu-

    do emAlguma poesiaAlguma poesiaAlguma poesiaAlguma poesiaAlguma poesia (ANDRADE, 1988, p. 25):

    Impossvel compor um poema a essa altura da evoluo da humanidade.

    Impossvel escrever um poema uma linha que seja de verdadeira poesia.

    O ltimo trovador morreu em 1914.

    Tinha um nome de que ningum se lembra mais.

    [...]

    (Desconfio que escrevi um poema)

    Feito tambm na impossibilidade de fazer, Arte-manhas de um gasto gato um poema escrito pelo avesso, em que se escreve um gato pelo avesso.

    Avesso: onde se enxerga o entrelaamento dos fios na trama do tecido,onde os ns amarram as linhas de novelos diferentes e as costuras prendem osretalhos, onde se faz o trabalho de unir os fragmentos. Esse poema de Ana C. s avesso, que deixa reconhecer em si muitos outros poemas combinados; comoo seu gato, gasto porque feito de muitos outros gatos, j de muito conhecidos.

    So estes os dois produtos da gatografia, um para cada um de seus senti-dos: o gato que escrito no poema e o poema que escrito pelo gato, ou suamoda. Gato de fragmentos de outros gatos, poema de fragmentos de outrospoemas do que se tira um terceiro saber sobre a gatografia: trata-se de uma

    escrita da citao, de um trabalho de ladroagem, de um artifcio do gatuno, queao furtar deixa suas marcas e escreve, assim, um rastro que liga gatos e textos. Agatografia uma escrita da tradio em seu percurso de constituio.

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    Dos fragmentos que constituiro o gato de Ana C. (e, conseqentemente, opoema de Ana C.) destacam-se os gatos de Eliot Eliot e os gatos de Eliot(Practical cats). Gatos aos quais Eliot deu nomes, mas nomes desde semprequestionveis, j que para abrir o seu Practical catsPractical catsPractical catsPractical catsPractical cats o poeta escolheu umpoema que versa sobre a impossibilidade de descobrir o verdadeiro nome de um

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    De gatos, poemas e sorrisos: a gatografias de Ana Cristina Cesar

    gato. The naming of cats (ELIOT, 2004, pp. 404-5) ensina-nos que todo gatotem trs nomes: o primeiro o da conveno, atribudo pelos donos, dotado de

    valor para eles que o escolhem e utilizam muito mais do que para o animal;o segundo, necessrio para manter o orgulho inerente espcie felina, deve sernico, de um s gato; mas no terceiro que dorme o mistrio, pois que elesagrado, inefvel e conhecido apenas pelo prprio gato, que no o revela.

    Ana C. volta a esse mistrio em seu poema, que vai, aos pedaos, tentandomontar um gato: sua linguagem, suas artimanhas, seus saltos, o rastro por eledeixado... e seu nome. e o nome do gato? pergunta a poetisa, j cogitandoduas possibilidades: J. Alfred Prufrock? J. Pinto Fernandes?. Se esse gato feito de fragmentos, talvez tambm o seu nome o seja: um fragmento doprprio Eliot ou um fragmento de Drummond... Mas, assim como no se sabe

    escrever o gato ou se apropriar de sua escrita (fingimento potico, j sabemos,pois gato e poema esto sendo escritos, ainda que pelo avesso), tambm nose sabe o nome do gato: o nome do gato nome de estao de trem. Duasleituras so possveis para esse verso: o nome do gato o nome de umadeterminada estao de trem ou o nome do gato comoum nome de estaode trem. Nome de estao de trem... normalmente nos referimos a elas pelolocal onde se situam, ainda que tenham um nome realmente seu, que no sejaapenas referencial, um nome que , o mais das vezes, desconhecido. Assim,estaes de trem teriam mais de um nome, como os tm os gatos de Eliot, e,como eles, teriam tambm um nome misterioso.

    O verso de Ana C. lembra, porm, no apenas T. S. Eliot mas tambm umoutro autor ingls que gostava de gatos e que criou um gato muito especial: umgato fragmentado, que se monta, desmonta e remonta, e que tem nome de estaode trem (uma estao que, como o gato, nomeada segundo o lugar em que est)

    o Cheshire Cat, ou Gato de Cheshire, de Lewis Carroll.1De cima de um galho dervore e depois no meio de um campo de croquet, ele conversa com Alice (noPas da Maravilhas), confundindo-a com as artimanhas de seu discurso, enquanto

    vai, parte a parte, desaparecendo, at restar apenas seu sorriso, para ento reapa-recer, de novo aos poucos, mas pronto a sumir outra vez para escapar Rainha deCopas, que, furiosa, ameaa cortar cabeas (CARROLL, 2002).

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    A srie de versos o nome do gato nome de estao de trem / o invernodentro dos bares / a necessidade quente de t-lo cria uma melodia diferenteda que ressoa no resto do poema. Embora esses versos no tenham entre sinenhuma ligao explcita, sinttica, e renam imagens de lugares e sensaes

    1O prprio Eliot faz em The naming of cats uma referncia a Carroll, ao lembrar o ChapeleiroLouco, outro personagem de Alice in the Wonder landsAlice in the Wonder landsAlice in the Wonder landsAlice in the Wonder landsAlice in the Wonder lands, no verso Podes julgar-me loucocomo um chapeleiro.

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    sem um vnculo semntico necessrio entre si, sua seqncia produz um ritmomais alongado e no abruptamente entrecortado como o dos demais versos. Eles

    parecem exprimir reminiscncias, memrias, que vm aos fragmentos, mas liga-das por um mesmo tom nostlgico. A enumerao lembra a de Manuel Bandeiraem Evocao do Recife: Recife... / Rua da Unio... / A casa de meu av...(1993, p. 135). Embora a seqncia de Bandeira tenha uma lgica muito maisexplcita (do espao mais amplo ao mais restrito e da referncia mais geral maisntima) que a de Ana Cristina Cesar, tambm os elementos enumerados por elaparecem estar conectados, localizados num mesmo espao-tempo em que aestao de trem, os bares, o frio e a necessidade de um gato ou de umacompanhia que a aquecesse eram referncias comuns.2A meno da estaode trem teria trazido a lembrana de elementos a ela subjetivamente ligados,

    citados como um fragmento de devaneio, uma curta digresso que se insere nodiscurso j de incio fragmentrio e no linear do poema.

    O verso que se segue ao momento de reminiscncia encerra essa digres-so, retomando o discurso anterior a ela e o tema que vinha ento se desen-

    volvendo: o nome do gato onde vamos diariamente fingindo nomear / eu o gato e a grafia de minhas garras. O advrbio onde remete estao detrem que, lugar de chegadas e partidas e passo de um percurso, parece estaraqui metaforicamente representando a tradio literria onde Ana Cristina foibuscar a prtica da gatografia (a grafia de minhas garras), a idia do nomedo gato e os prprios nomes que sugeriu J. Alfred Prufrock e J. Pinto

    Fernandes.

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    Esse ato de ladroagem incontestvel leva a poetisa a se assumir gato,numa espcie de fantstica permutao que extrapola o mbito de linguagemda metfora e instaura o caos ou, como queria Murilo Mendes (1995, p. 116),um estado de baguna transcendente entre as pessoas gramaticais no poema.Nos versos que se seguem transformao, indicada graficamente por umtravesso eu o gato, eu e tu perdem o seu carter de referencialidadeesttica e tornam-se passveis de cambiamento. Teremos ento uma primeira

    pessoa que o gato sem deixar de ser a poetisa e uma segunda pessoa que a poetisa e tambm o gato, entes indissociveis, mesclados, parte um do outro.

    Essa reunio de gato e poetisa num nico ser no inveno de AnaCristina Cesar, embora seu Arte-manhas de um gasto gato a promova deforma mais radical pela permeabilidade das pessoas do discurso do que ooutro poema com que dialoga: Le chat (O gato), poema LI de Les fleurs duLes fleurs duLes fleurs duLes fleurs duLes fleurs du

    2Poderamos talvez pensar, recorrendo a um dado biogrfico, no perodo em que a poetisaviveu na Inglaterra, lembrado nesse momento do poema pela referncia consciente e proposi-tal a Eliot e pela que parece levemente sugerida a Carroll.

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    De gatos, poemas e sorrisos: a gatografias de Ana Cristina Cesar

    malmalmalmalmal, de Baudelaire, que assim se inicia, na traduo de Ivan Junqueira (BAU-DELAIRE, 1985, pp. 184-5):

    Dentro em meu crebro vai e vem

    Como se a sua casa fosse

    Um belo gato, forte e doce.

    Esse gato, a que o poeta se dirige em exaltao misterioso / Gato demstico veludo , inspira-o e ensina-lhe poesia quando mia:

    Soa-lhe a voz rica e profunda.

    Eis seu encanto mais secreto

    Essa voz que se infiltra e afina

    Em meu recesso mais umbrosoMe enche qual verso numeroso

    E como um filtro me ilumina.

    O gato domina a mente do poeta, sua casa:

    a alma familiar da morada;

    Ele julga, inspira, demarca

    Tudo o que o seu imprio abarca;

    E o poeta nele se reconhece:

    Se neste gato que me caro,Como por ms atrados

    Os olhos ponho comovidos

    E ali comigo me deparo

    Gato e poeta so, assim, o mesmo desdobrado, como no poema de Ana C.,em que o gato, autoritrio como o de Baudelaire, tomar conta de sua morada a poetisa, o texto e ditar o seu fazer.

    Assumindo a posio do sujeito potico, o gasto gato ensina gatografia, que,como j dissemos h algumas pginas, a prpria escrita da tradio, de autoria de

    um gato o prprio poeta (a parte que em ti minha gato) que, furtando aquie escondendo ali, vai deixando um rastro: a grafia de minhas garras: / toma: l o queescrevo em teu rosto / l o que rasgo e tomo de teu rosto. A prtica dagatografia faz-se em duas vias, uma prtica de troca: texto que se escreve e textoque se toma, pois o trabalho da citao, a intertextualidade, a releitura no s criamum segundo texto como recriam o primeiro, que, relido, reescrito, ganhando umnovo sentido. Assim, ao tomar algo ao rosto ao texto da poetisa , ao arranh-locom suas garras, o gato est deixando ali uma marca, uma escrita.

    Retomando o discurso, a poetisa obedece dcil, como Baudelaire, s ins-trues do felino: leio onde te tenho gato / e a gatografia que nunca sei /

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    aprendi na marca do meu rosto / aprendi nas garras que tomei / e me torneiparte e tua gata [...]. E aprende gatografia pelas marcas que o gato deixa

    nela prpria (na marca do meu rosto) e em seu texto (onde te tenho gato),mas, principalmente, aprende sendoo gato, tomando para si as suas garras etornando-se parte dele, como ele se torna parte dela, numa comunidade jindissocivel.

    Ela se torna, ento, praticante consciente da gatografia, que j vinha peloavesso praticando em seu poema: e me tornei parte e tua gata a / saltarsobre montanhas como um gato / e deixar arco-irisado esse meu salto. Gato-grafar esse saltar sobre montanhas as referncias , que tambm umassaltar (a / saltar), como mal disfara a quebra dos versos, deixando marca-da, como um arco-ris a unir montanhas ou um ladro que deixa uma pista, a

    trajetria desse salto, termo cujo duplo sentido no preciso que o poema crie,mas apenas rememore, pois j est no dicionrio, que aponta saquecomo umadas acepes de salto (HOUAISS, 2001).

    Esses saltos tm muito de aleatrio e espontneo, em dois sentidos, ex-pressos num par de versos que podem ser lidos com ou sem enjambement,assumindo sentidos diferentes (arte-manhas de um poeta-gato): saltar nemao menos sabendo que desenho / e escrita esperam gato. Com a pausa entreos versos, o que uma conjuno integrante, iniciando uma orao substanti-

    va e desempenhando funo de sujeito da forma verbal desenho, e o primei-ro verso uma constatao do sujeito potico, que saltaria entre textos

    inconscientemente deixando um rastro ou assaltaria textos sem saber que, aotomar-lhes algo, deixa neles uma marca. Se, porm, a leitura se faz com oenjambement, temos o que como pronome demonstrativo relacionado a dese-nho e escrita, ou seja, numa parfrase: saltar nem ao menos sabendo qualdesenho e qual escrita esperam gato. O salto/saque no teria, ento, um alvopredeterminado o objeto da citao, o intertexto seria escolhido ou, antes,surgiria, da forma mais natural, sem ser buscado. Ao gato desse ltimo versopoderamos atribuir o sentido do gato de eletricidade, dispositivo que, colocadona rede eltrica, desvia energia, furtando-a. Assim, o poeta-gato teria diante de siinmeros textos sobre os quais se dobraria na leitura, sem saber, de incio, qualseria vtima de seu furto, qual teria um de seus fragmentos deslocado, desviado,como uma parcela de energia que se rouba de uma casa para iluminar outra.

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    saltar sobre montanhas como um gato

    e deixar arco-irisado esse meu salto

    saltar nem ao menos sabendo que desenho

    e escrita esperam gato

    saltar felinamente sobre o nome de gato

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    poema, deixando claro estar falando do animal em si, no do hipoptamo deEliot Nem o que o dito gato pensa do hipoptamo (no o de Eliot) , pois o

    hipoptamo de Eliot, do poema The hippopotamus (2004, pp. 118-9), discurso, e s discurso mesmo poderia ser, j que apenas um hipoptamoliterrio poderia criar asas e subir aos cus para tocar harpa rodeado por umcoro de anjos. O hipoptamo que interessa a Ana C., porm, outro: aqueleque, como o seu gato, concreto mamfero herbvoro anfbio africano etambmlinguagem, j que entrou no seu poema, mas a entrou sem perder seupeso e a forma do seu peso. Um hipoptamo que anfbio duas vezes, por

    viver na terra e na gua, e no discurso e fora dele.

    Como o gato, que afinal no to diferente assim de um hipoptamocomo se poderia pensar, O hipoptamo e suas hipopotas ameaam gato (que

    no hipogato) / Antes hiponmico. Tomando emprestado a Drummond o seupalavra-puxa-palavra e inventando mais um neologismo, Ana C. cria no poemaum elo entre os dois animais e sugere uma relao semntica entre eles. Amboscoisa com peso e forma do peso, ambos anfbios, vivendo na linguagem efora dela. Duplicidade que Ana C. manter em seu poema a todo custo.

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    Tendo aprendido gatografia, a poetisa capaz de desenhar o gato, deescrev-lo, de escrever como ele. E, assim, amea-lo.

    saltar felinamente sobre o nome de gatoameaado

    ameaado o nome de G A T O

    ameaado o nome de G A S T O

    ameaado de morrer na gastura de meu nome

    repito e me auto-ameao:

    Amea-lo de desgaste: a preposio de do verso ameaado o nome deG A S T O tem o sentido de um porque, pelo que teramos: ameaado onome de gato, ameaado o nome porquegasto. Revelados, o gato e seu nome

    o gato concreto e o gato-discurso (bem especificado pelas letras maisculas eseparadas G A T O , que do relevo ao significante mais que ao significado)

    se gastariam, ou seja, perderiam seu valor de mistrio e seduo. Ana C.encontra-se aqui diante de um dilema semelhante ao de Drummond em Amquina do mundo e, como ele, recusa a revelao, preferindo conservar osegredo: Drummond baixa os olhos, incurioso, lasso, / desdenhando colher acoisa oferta (1988, p. 244); Ana C. cede ao seu gato e deixa-o escapar.

    Em perigo, o gato mais uma vez toma para si o discurso do poema (que naverdade nunca deixou de ser seu, pois, j vimos, gato e poeta so um s e omesmo) em ameaado de morrer na gastura de meunome / repito e meauto-

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