gato que brincas na rua

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ESA – Curso Tecnológico de Gato que brincas na rua Como se fosse na cama, Invejo a sorte que é tua Porque nem sorte se chama. Bom servo das leis fatais Que regem pedras e gentes, Que tens instintivos gerais E sentes só o que entes. És feliz porque és assim, Todo o nada que és é teu. Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu. A tendência excessiva para a intelectualidade e consequentemente para a abstracção leva Pessoa ortónimo a ser incapaz de sentir e, por isso mesmo, a desejar ser inconsciente para poder atingir uma felicidade cada vez mais utópica e inatingível. Por isso, em “Ela canta, pobre ceifeira”, o poeta inveja a ingenuidade da ceifeira que, sendo infeliz, não tem disso consciência e, paradoxalmente, é feliz. Essa “inveja” que o poeta sente dos seres felizes assume o auge em “ Gato que brincas na rua”, onde é o próprio animal, porque não pensa, porque não se conhece, que aparece como uma espécie de “modelo” para se atingir a felicidade (“Invejo a sorte que é tua/ Porque nem sorte se chama/ (...)És feliz porque és assim/ (...) eu vejo-me e estou sem mim, / conheço-me e não sou eu”). O sujeito poético tem inveja do gato pois este é feliz ao viver por instinto apenas conhecendo o seu mundo. O gato é um ser inconsciente. O poeta ao longo do poema fala do gato reservando apenas os dois últimos versos para falar de si próprio. Fazendo uma análise sobre si mesmo, o sujeito poético concluiu que não é feliz como é. Eu vejo-me e estou sem mim, / Conheço-me e não sou eu. Remete para a Fragmentação do “Eu” (Capacidade de Fernando Pessoa de desdobrar em várias personalidades )

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Page 1: Gato que brincas na rua

ESA – Curso Tecnológico de Desporto – 12º Ano

Gato que brincas na rua

Como se fosse na cama,

Invejo a sorte que é tua

Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais

Que regem pedras e gentes,

Que tens instintivos gerais

E sentes só o que entes.

És feliz porque és assim,

Todo o nada que és é teu.

Eu vejo-me e estou sem mim,

Conheço-me e não sou eu.

A tendência excessiva para a intelectualidade e consequentemente para a abstracção leva Pessoa ortónimo a ser incapaz de sentir e, por isso mesmo, a desejar ser inconsciente para poder atingir uma felicidade cada vez mais utópica e inatingível. Por isso, em “Ela canta, pobre ceifeira”, o poeta inveja a ingenuidade da ceifeira que, sendo infeliz, não tem disso consciência e, paradoxalmente, é feliz.

Essa “inveja” que o poeta sente dos seres felizes assume o auge em “ Gato que brincas na rua”, onde é o próprio animal, porque não pensa, porque não se conhece, que aparece como uma espécie de “modelo” para se atingir a felicidade (“Invejo a sorte que é tua/ Porque nem sorte se chama/ (...)És feliz porque és assim/ (...) eu vejo-me e estou sem mim, / conheço-me e não sou eu”).

O sujeito poético tem inveja do gato pois este é feliz ao viver por instinto apenas conhecendo o seu mundo. O gato é um ser inconsciente.

O poeta ao longo do poema fala do gato reservando apenas os dois últimos versos para falar de si próprio. Fazendo uma análise sobre si mesmo, o sujeito

poético concluiu que não é feliz como é.

Eu vejo-me e estou sem mim, / Conheço-me e não sou eu.

Remete para a Fragmentação do “Eu” (Capacidade de Fernando Pessoa de desdobrar em várias personalidades)