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PODER JUDICIÁRIO
Gabinete do Desembargador Ney Teles de Paula
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Nº 350560-95.2010.8.09.0000 (201093505605)
COMARCA : GOIÂNIA
REQUERENTE : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DE GOIÁS
REQUERIDO : CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO MIGUEL
DO ARAGUAIA
RELATOR : Desembargador NEY TELES DE PAULA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIO-
NALIDADE. I – Compete ao Tribunal de Justiça do
Estado o julgamento da constitucionalidade de lei
municipal tendo como parâmetro preceito da
Constituição Federal de observância obrigatória pela
Constituição do Estado de Goiás, em face do
princípio da simetria. II – É inconstitucional a
previsão de pagamento de qualquer tipo de verba
aos agentes políticos, que não seja o subsídio,
inclusive décimo terceiro salário ou a qualquer título
em decorrência de convocação extraordinária dos
vereadores (art. 39, § 4º da CF e art. 94, § 3º da
CE). III – Reveste-se de inconstitucionalidade o
percebimento, por vereador, de subsídio, a qualquer
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título, superior a 30% do subsídio dos Deputados
estaduais, inteligência do artigo 29, VI, b, da CF e
68, § 7º, II, da CE. AÇÃO JULGADA PROCEDENTE.
A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos,
acordam os componentes da Corte Especial do egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade de votos, em julgar
procedente a ação, de conformidade com o voto do relator.
Votaram, além do relator, Des. Rogério Arédio
Ferreira, Des. Leobino Valente Chaves, Des. Gilberto Marques Filho,
João Waldeck Felix de Sousa, Des. Walter Carlos Lemes, Des. Luiz
Eduardo de Sousa, Des. Camargo Neto (convocado Des. Leandro
Crispim), Des. Jeová Sardinha de Moraes (convocado Des. Alan S.
De Sena Conceição, Des. Fausto Moreira Diniz (convocado Des.
Itaney Francisco Campos), Des. Carlos Alberto França (convocado
Des. Zacarias Neves Coelho, Des. Amaral Wilson de Oliveira
(convocado Desª. Amelia Martins de Araújo), Des. José Lenar de Melo
Bandeira, Des. Paulo Teles, Desª. Beatriz Figueiredo Franco e Des.
Floriano Gomes. Ausente justificado Des. Kisleu Dias Maciel Filho.
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Fez-se presente, como representante da
Procuradoria Geral de Justiça, Dr. Abrão Amisy Neto.
Goiânia, 09 de maio de 2012.
Desembargador Ney Teles de Paula
Relator
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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Nº 350560-95.2010.8.09.0000 (201093505605)
COMARCA : GOIÂNIA
REQUERENTE : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DE GOIÁS
REQUERIDO : CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO MIGUEL
DO ARAGUAIA
RELATOR : Desembargador NEY TELES DE PAULA
R E L A T Ó R I O e V O T O
O Ministério Público, por seu representante, o
Procurador-Geral de Justiça do Estado de Goiás, no exercício de
suas atribuições constitucionais e legais, conferidas pelo artigo 129,
inciso IV, da Constituição Federal, artigo 29, inciso I, da Lei Federal
8.625, de 12 de fevereiro de 1993, artigos 60 e 117, inciso IV, ambos
da Constituição Estadual e artigo 52, inciso II, da Lei Complementar
Estadual nº 25, de 06 de julho de 1998, propõe AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE, com pedido de medida cautelar, em
face da Emenda à Lei Orgânica Municipal número 14, de 19 de
fevereiro de 2004, que alterou seu artigo 14, inciso I, e artigos 4º e 5º
da Lei 549, de 04 de setembro de 2008, do Município de São Miguel
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do Araguaia.
Relata que a Emenda à Lei Orgânica Municipal 14,
do Município de São Miguel do Araguaia modificou a redação do
artigo 14, inciso I, daquela Lei Orgânica, conferindo aos agentes
políticos daquela municipalidade o direito ao percebimento de décimo
terceiro salário, com base no subsídio integral recebido.
Argumenta que a referida Emenda fere os artigos 18,
29, 39, parágrafo 4º, da Constituição Federal, bem como os artigos
2º, parágrafo 2º, 62 e 92, da Constituição Estadual, ferindo os
princípios constitucionais da administração pública, bem como norma
que veda o percebimento de qualquer acréscimo, gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie
remuneratória.
Narra que a Lei 549, de 04 de setembro de 2008,
fixou, em seu artigo 4º, o subsídio do Presidente da Câmara
Municipal daquele Município em R$ 4.829,80 (quatro mil oitocentos e
vinte e nove reais e oitenta centavos), para as legislaturas de 2009 a
2012.
Assevera que o subsídio fixado para o Presidente da
Câmara de Vereadores do Município em questão supera o limite de
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30% (trinta por cento) do subsídio percebido pelos Deputados
Estaduais, nos termos artigo 29, inciso VI, b, da Constituição Federal,
para Municípios com população entre 10.001 e 50.000 habitantes,
situação em que se encontrava, à época, o Município em comento.
Por fim, ataca o artigo 5º da lei acima citada, que
estabelece remuneração aos vereadores no caso de sessão
extraordinária convocada pelo Chefe do Poder Executivo Municipal
no período de recesso parlamentar.
Alega que a Emenda Constitucional 50/2006 alterou
o parágrafo 7º do artigo 57 da Constituição Federal, vedando o
pagamento de parcela indenizatória em razão de convocação de
sessão legislativa extraordinária.
Colaciona julgados deste Egrégio Tribunal de
Justiça, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, bem como do
Egrégio Superior Tribunal de Justiça, que declararam a
inconstitucionalidade das leis municipais com o mesmo conteúdo das
normas atacadas.
Reforça o argumento de possibilidade de
questionamento de constitucionalidade de Lei municipal em face da
Constituição Federal através de um julgado do Colendo Supremo
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Tribunal Federal, nos casos de se utilizar como paradigma norma da
Constituição Estadual remissiva à Constituição Federal.
Invoca a presença dos pressupostos autorizadores
da concessão da tutela cautelar, quais sejam, o fumus boni iuris, que
decorre da fundamentação da arguição de inconstitucionalidade
articulada e o periculum in mora, presente por se tratar de verba
pública, de percebimento mensal e periódico pelos agentes políticos,
o que onera ilicitamente os cofres públicos.
Requer, assim, a concessão de medida cautelar para
suspender a eficácia dos dispositivos legais atacados, que sejam
colhidas as devidas informações, a citação do Procurador-Geral do
Estado para defender os referidos dispositivos, pronunciamento do
Ministério Público, e ao fim, o julgamento do mérito, reconhecendo-se
a procedência dos pedidos, declarando, definitivamente, a
inconstitucionalidade dos dispositivos acima atacados, extirpando-os
do ordenamento jurídico, por flagrante inconstitucionalidade.
Juntou os documentos de folhas 18/75, no qual
contém o procedimento legislativo que culminou na Emenda à Lei
Orgânica Municipal 14, bem como o texto da Lei 549, de 04 de
setembro de 2008, que fixa o subsídio dos agentes políticos do
Município de São Miguel do Araguaia para o período de 2009 a 2012.
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Juntou, ainda, as tabelas de fls. 70/73, com
informações do IBGE acerca do censo 2007, que contém informações
da população estimada dos Municípios do Estado de Goiás.
Em primeiro Despacho (fls. 78/80), o
Desembargador Leandro Crispim determinou a oitiva do Prefeito e do
representante legal da Câmara Municipal, ambos do Município de
São Miguel do Araguaia, dando-se vista, após, ao Procurador-Geral
do Estado e ao Procurador-Geral de Justiça, para se manifestarem no
prazo legal.
Devidamente notificados, prestou informações
somente a Câmara Municipal de São Miguel do Araguaia (fls. 95/104),
juntando os documentos de folhas 105/135, nos quais contém
manifestações do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de
Goiás em que atestam a constitucionalidade de atos legais análogos
aos atacados.
Em defesa dos atos normativos atacados
manifestou-se o Procurador-Geral do Estado de Goiás (fls. 149/153).
Instada a se manifestar, a douta Procuradoria-Geral
de Justiça opinou pelo conhecimento da medida cautelar na presente
ação direta de inconstitucionalidade.
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É, em síntese, o relatório.
V O T O
Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade,
com pedido de medida cautelar, em face de Emenda à Lei Orgânica
do Município de São Miguel do Araguaia e de dois artigos de Lei
Ordinária do mesmo Município, por afronta a dispositivos contidos na
Constituição Federal e na Constituição do Estado de Goiás.
De início, impende destacar que a análise da medida
cautelar resta prejudicada, vez que o lapso temporal entre a
publicação e vigência dos diplomas legais atacados e a propositura
da presente ação pelo Ministério Público afasta o requisito do
periculum in mora e inexiste óbice, no momento, para exame do
mérito, porquanto a matéria apresenta-se pronta para decisão
definitiva, nos termos do que dispõe o artigo 12, da Lei nº 9.868/99:
“Art. 12. Havendo pedido de medida
cautelar, o relator, em face da
relevância da matéria e de seu especial
significado para a ordem social e a
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segurança jurídica, poderá, após a
prestação de informações, no prazo de
10 (dez) dias, e a manifestação do
Advogado-Geral da União e do
Procurador-Geral da República,
sucessivamente, no prazo de 5 (cinco)
dias, submeter o processo diretamente
ao Tribunal, que terá a faculdade de
julgar definitivamente a ação.”
Sendo assim, passo ao exame do mérito. Para
melhor análise, impende-se realizar um exame cronológico dos fatos:
A Emenda Constitucional nº 19 (de 04.06.1998)
incluiu o parágrafo 4º ao artigo 39 da Constituição Federal, com a
seguinte redação:
“§ 4º O membro de Poder, o detentor de
mandato eletivo, os Ministros de Estado
e os Secretários Estaduais e Municipais
serão remunerados exclusivamente por
subsídio fixado em parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer
gratificação, adicional, abono, prêmio,
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verba de representação ou outra espécie
remuneratória, obedecido, em qualquer
caso, o disposto no art. 37, X e XI.”
Em 14.02.2000, foi promulgada a Emenda
Constitucional 25, que outorgou a seguinte redação ao inciso VI, b,
do artigo 29 da Constituição Federal:
“Art. 29. O Município reger-se-á por
lei orgânica, votada em dois turnos,
com o interstício mínimo de dez dias, e
aprovada por dois terços dos membros da
Câmara Municipal, que a promulgará,
atendidos os princípios estabelecidos
nesta Constituição, na Constituição do
respectivo Estado e os seguintes
preceitos:
VI - o subsídio dos Vereadores será
fixado pelas respectivas Câmaras
Municipais em cada legislatura para a
subseqüente, observado o que dispõe
esta Constituição, observados os
critérios estabelecidos na respectiva
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Lei Orgânica e os seguintes limites
máximos:
b) em Municípios de dez mil e um a
cinqüenta mil habitantes, o subsídio
máximo dos Vereadores corresponderá a
trinta por cento do subsídio dos
Deputados Estaduais;”
Em 19 de fevereiro de 2004, a Emenda à Lei
Orgânica Municipal 14, de São Miguel do Araguaia, acrescentou o
inciso I, ao parágrafo único do artigo 14 da Lei Orgânica do
Município, da seguinte maneira, in verbis:
“I – é assegurado ao agente político do
Município de São Miguel do Araguaia o
décimo terceiro salário, com base no
subsídio integral percebido.”
Também a redação do parágrafo 7º do artigo 57,
da Constituição Federal, por meio da Emenda Constitucional 50 (de
14.02.2006), passou a dispor acerca da vedação de pagamento de
parcela indenizatória em razão de convocação: “§ 7º Na sessão
legislativa extraordinária, o Congresso Nacional
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somente deliberará sobre a matéria para a qual foi
convocado, ressalvada a hipótese do § 8º deste
artigo, vedado o pagamento de parcela
indenizatória, em razão da convocação.”
A Lei Orgânica do Município de São Miguel do
Araguaia (de 02.09.2004), estabeleceu o pagamento de 13º salário
para os agentes políticos do município. Também, a Lei 549, de
04.09.2008, atacada na presente ação, estabeleceu em seus artigos
4º e 5º, previsão de subsídios para o Presidente da Câmara e
também de remuneração aos parlamentares municipais no caso de
convocação de sessões extraordinárias:
“Art. 4º. Fica fixado para a
legislatura 2009 a 2012 a iniciar-se em
1º de janeiro de 2009 o subsídio do
Presidente da Câmara Municipal de São
Miguel do Araguaia em parcela única de
R$ 4.829,80 (quatro mil oitocentos e
vinte e nove reais e oitenta centavos).
Art. 5º. As sessões extraordinárias
convocadas pelo Chefe do Poder
Executivo Municipal no período de
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recesso parlamentar serão remuneradas
em valor fixo de R$ 123,84 (cento e
vinte e três reais e oitenta e quatro
centavos).”
No âmbito estadual, 09.09.2010, foi publicada a
Emenda à Constituição Estadual de Goiás n º 46, que provocou
mudança substancial na Constituição do Estado, e dentre elas
acrescentou os seguintes dispositivos:
“Art. 68, § 7º O subsídio dos
Vereadores será fixado pelas
respectivas Câmaras Municipais em cada
legislatura para a subsequente, em
consonância com a Constituição da
República, os critérios estabelecidos
na respectiva Lei Orgânica e com os
seguintes limites máximos, a serem
observados em relação ao subsídio dos
Deputados Estaduais:
(...)
II – 30% (trinta por cento), em
Municípios de 10.001 (dez mil e um) a
50.000 (cinquenta mil) habitantes;
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(...)
Art. 94, § 3º O membro de Poder, o
detentor de mandato eletivo, e os
Secretários Estaduais e Municipais
serão remunerados exclusivamente por
subsídio fixado em parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer
gratificação, adicional, abono, prêmio,
verba de representação ou outra espécie
remuneratória, obedecido, em qualquer
caso, o disposto no art. 92, XI e XII.”
Como se vê, trata de reprodução de norma contida
na Constituição Federal, obedecendo-se o princípio da simetria.
Finalmente, em 23.09.2010, o Ministério Público
intentou a presente ação direta de inconstitucionalidade.
Esse retrospecto se faz necessário para analisar a
temporalidade das inovações legislativas trazidas pelo legislador
municipal, ora atacadas, em parâmetro com as Constituições, para se
obter o paradigma necessário ao julgamento do pleito.
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As razões, tanto das informações prestadas pela
Câmara Municipal de São Miguel do Araguaia (fls. 95/104), quanto da
defesa apresentada pelo Procurador-Geral do Estado (fls. 149/153)
repousam no argumento de que não cabe arguição de
inconstitucionalidade de Lei municipal tomando-se como parâmetro a
Constituição Federal.
Entretanto, em detido exame da questão, a
conclusão há de ser contrária.
Os Estados possuem autonomia para elaborarem
sua legislação própria, possuindo, inclusive, uma Constituição
Estadual. Ocorre que devem sempre observar os princípios da
Constituição Federal.
Nos ensinamentos de José Afonso da Silva1, trata-se
dos “princípios constitucionais estabelecidos”:
“São [como notara Raul Machado Horta]
os que limitam a autonomia
organizatória dos Estados; são aquelas
regras que revelam, previamente, a
1 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 26ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004.
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matéria de sua organização e as normas
constitucionais de caráter vedatório,
bem como os princípios de organização
política, social e econômica, que
determinam o retraimento da autonomia
estadual, cuja identificação reclama
pesquisa no texto da Constituição.
Alguns deles são fáceis de localizar,
porque se encontram organizados em
blocos normativos que a Constituição
manda que sejam observados pelos
Estados, como, por exemplo, os
princípios e preceitos constantes dos
arts. 37 a 41 referentes à
Administração Pública. Outros, porém,
exigem maior atenção. Faremos aqui um
esforço investigatório para tentar
aflorá-los, senão na sua totalidade, ao
menos numa mostra expressiva, por meio
de uma consideração sistemática,
notando que uns geram limitações
expressas, outros limitações implícitas
e outros, ainda, limitações decorrentes
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do sistema constitucional adotado, além
do disposto nos parágrafos do art. 25
que fundamenta a repartição de
competências aos Estados.”
Essas limitações expressas ao Constituinte Estadual
são normas de preordenação que podem ser de duas naturezas, as
vedatórias e as mandatórias. Como exemplo de limitações
mandatórias o autor cita:
“(…) sobre princípios da organização
dos Municípios, respeitada a autonomia
destes, como consta do art. 29,
incluindo regras sobre criação,
incorporação, fusão e desmembramento
deles, por lei estadual (não por outra
forma), atendidos os pressupostos e
requisitos indicados no art. 18, § 4º,
prevendo ainda que seu Tribunal de
Contas exerça o controle externo da
administração municipal como auxílio às
respectivas Câmaras Municipais (art.
31, § 1º) (...)”
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Pode-se notar, pelo exposto, que as normas da
Constituição Federal utilizadas como parâmetro pelo requerente são
de observância obrigatória pelos Estados-Membros na elaboração de
sua legislação própria. Assim, uma vez questionados os dispositivos
de lei municipal face à Constituição Estadual, ainda que sob os
parâmetros da Constituição Federal, compete a este Tribunal de
Justiça o processamento e julgamento da presente ação.
Pela explanação dos fatos em ordem cronológica,
observa-se que as normas da Constituição Estadual de Goiás
parâmetro para o julgamento da presente ação foram promulgadas
em momento posterior à publicação das normas objeto de análise, o
que poderia prejudicar a análise da ação em comento.
Entretanto, as normas da Constituição da República,
repita-se, de observância obrigatória pela Constituição do Estado de
Goiás, são anteriores ao advento dos respectivos dispositivos legais o
que impõe a análise do mérito.
É cediço e cristalino o entendimento no sentido da
proibição constitucional de percebimento de qualquer tipo de verba
pelos detentores de mandato eletivo em qualquer esfera, federal,
estadual ou municipal, pelo princípio da simetria, anteriormente
explorado, conforme excertos de julgados desta Colenda Corte:
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“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
(...). Em face do que dispõem os arts.
39, § 4º, e 57, § 7º, da Constituição
Federal, quanto ao sistema
remuneratório dos agentes públicos
detentores de mandato eletivo, a lei
municipal que assegura a percepção de
décimo terceiro salário e verba
indenizatória por vereadores, denota
aparente ofensa a norma constitucional,
dando ensejo a concessão de medida
cautelar. Dessa forma, satisfeitos os
requisitos legais (plausibilidade do
direito e perigo da demora no
julgamento da ação), defere-se a
suspensão da eficácia do artigo 15, §
2º, da Lei Orgânica do Município de
Gameleira de Goiás, até o julgamento
final da presente ação. MEDIDA CAUTELAR
DEFERIDA. (TJGO, AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE295309-
92.2010.8.09.0000, Rel. DES. NELMA BRANCO
FERREIRA PERILO, CORTE ESPECIAL, julgado em
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25/05/2011, DJe 835 de 08/06/2011)
“Ação Direta de Inconstitucionalidade.
Décimo terceiro salário para Prefeito,
Vice-Prefeito e Vereadores.
Inconstitucionalidade da lei municipal.
I - Os agentes políticos, detentores de
mandato eletivo, não mantêm com o Poder
Público relação de trabalho de natureza
profissional, não eventual, sob vínculo
de dependência, sendo, portanto,
inconstitucional a norma que lhes
confere direito ao décimo terceiro
salário, em face do tratamento
diferenciado, imposto pela Constituição
da República, com a classe dos
servidores públicos em geral. II -
São inconstitucionais as disposições
dos artigos 4º da Lei n. 665/08 e 5º da
Lei n. 666/08, do Município de
Serranópolis, que asseguram aos
Vereadores, ao Prefeito e ao Vice-
Prefeito a percepção do décimo terceiro
salário. Pedido procedente. (TJGO,
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AÇÃOO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
20597-18.2010.8.09.0000, Rel. DES. JOSÉ LENAR
DE MELO BANDEIRA, CORTE ESPECIAL, julgado
em 13/10/2010, DJe 705 de 25/11/2010)
No mesmo sentido, o Excelso Supremo Tribunal de
Justiça julgou matéria similar:
“MEDIDA CAUTELAR. (...). I – O art. 57,
§ 7º, do Texto Constitucional, numa
primeira análise, veda o pagamento de
parcela indenizatória aos parlamentares
em razão de convocação extraordinária,
norma que é de reprodução obrigatória
pelos Estados membros por força do art.
27, § 2º, da Carta Magna. II – A
Constituição é expressa, no art. 39, §
4º, ao vedar o acréscimo de qualquer
gratificação, adicional, abono, prêmio,
verba de representação ou outra espécie
remuneratória ao subsídio percebido
pelos parlamentares. III – A presença
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do perigo da demora é evidente, uma vez
que, caso não se suspenda o dispositivo
impugnado, a Assembleia Legislativa do
Estado de Goiás continuará pagando aos
deputados verba vedada pela Carta
Política, em evidente prejuízo ao
erário. IV – Medida cautelar deferida.
(ADI 4587 MC, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em
25/08/2011, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-182
DIVULG 21-09-2011 PUBLIC 22-09-2011)
Assim, resta demonstrada a inconstitucionalidade da
Emenda à Lei Orgânica do Município de São Miguel do Araguaia
número 14, que inseriu o inciso I ao parágrafo único do artigo 14
daquela Lei Orgânica, que assegurou o pagamento de décimo
terceiro salário aos agentes políticos daquela municipalidade, em
virtude do que prescreve o artigo 39, parágrafo 4º, da Constituição
Federal, com reprodução pela Constituição do Estado de Goiás, em
seu artigo 94, parágrafo 3º, bem como do artigo 5º da Lei 549/2008,
do Município em questão, pelos mesmos fundamentos.
Com relação ao artigo 4º da Lei 549/2008, que fixa o
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subsídio do Presidente da Câmara de Vereadores daquele Município
em R$ 4.829,80 (quatro mil oitocentos e vinte e nove reais e oitenta
centavos), ou seja, 39% (trinta e nove por cento) do subsídio fixado
no valor de R$ 12.384,06 (doze mil trezentos e oitenta e quatro reais
e seis centavos) para os Deputados Estaduais, através da Resolução
1.217 de 2007 (fl. 69), à época, confronta diretamente o que dispõe o
artigo 29, VI, b, da Constituição Federal, reproduzido pelo artigo 68, §
7º, II da Constituição do Estado de Goiás.
A Lei 17.253, que fixou o subsídio dos Deputados
Estaduais no valor de R$ 20.042,00 (vinte mil e quarenta e dois reais)
foi publicada em 10 de fevereiro de 2011, o que não convalida o
dispositivo em comento.
Assim, resta clara a inconstitucionalidade do referido
dispositivo.
Ao teor do exposto, julgo procedente o pedido da
inicial para declarar a inconstitucionalidade do inciso I, do artigo 14 da
Lei Orgânica do Município de São Miguel do Araguaia, acrescentado
pela Emenda à Lei Orgânica Municipal 14, bem como dos artigos 4º e
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