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Modelo das Nações Unidas do Sistema Colégio Militar do Brasil

  

GUIA DE ESTUDOS: CONFERÊNCIA DE BANDUNG 

 

 

 

Ana Paula Bobato Roniak 

Angélica Maria Rodrigues França 

Gabriel Ribeiro Mendes Assunção 

Marina Quezia Mota Alves

Guia de Estudos: Conferência de Bandung 2

Modelo das Nações Unidas do Sistema Colégio Militar do Brasil

CARTA DE APRESENTAÇÃO DA DIRETORIA 4 

REGRAS ESPECÍFICAS DO COMITÊ 5 

APRESENTAÇÃO DO COMITÊ 6 

A CONFERÊNCIA DE BANDUNG 7 

ESCOPO DO COMITÊ 11 

QUESTÕES A SEREM DEBATIDAS 12 

Cooperação econômica 13 

Cooperação cultural 13 

Direitos humanos e autodeterminação dos povos 14 

Dependência, dominação e colonialismo 15 

Luta antirracista 15 

Promoção da paz mundial 16 

Questão da Palestina, da Nova Guiné Ocidental e de Áden e do                       

sul do Iêmen 16 

Tribunal da descolonização 17 

POSICIONAMENTOS 18 

MATERIAL ADICIONAL E BIBLIOGRAFIA 48 

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1. CARTA DE APRESENTAÇÃO DA DIRETORIA 

Decidir o curso da História é responsabilidade que poucos conseguem carregar. Para ajudá-los neste desafio, a diretoria desse comitê se encontra disposta conforme descrito a seguir. No geral, estamos, em muito, ansiosos para garantir que todas e todos tenham voz nesta importante conferência - e saiam dela com a esperança que todo bom modeleiro carrega consigo: de ser capaz de transformar o mundo!

Marina Quezia é ex-aluna do Colégio Militar de Salvador (ou Nobre Cadinho, para os íntimos), inserida na Modelândia em meados de 2014 pela primeira (e querida) diretoria do CRI(ME). Hoje, é estudante de Direito da Universidade Federal da Bahia, cursando o 4º semestre e mantendo no coração enorme carinho pela MundoCM. Fã de Beatles, Friends e testes do Buzzfeed, acredita no potencial transformador das simulações na vida das delegadas e delegados e espera, assim, fazer deste comitê um espaço de crescimento pessoal e acadêmico.

Angélica França é ex-aluna do Colégio Militar de Brasília e hoje cursa o 2º semestre de medicina na Universidade de Brasília. Muito embora a razão lhe diga que o curso e resquícios de Ensino Médio não combinam, seu coração nunca lhe permitiu se afastar desse mundo e dessa família que as simulações criam à parte de toda e qualquer noção de realidade. Fugaz apreciadora de música, livros, meias, bugigangas e momentos especiais, estará sempre disposta a ajudar todos, seja dentro ou fora do comitê.

Ana Paula Roniak concluiu o ensino médio no Colégio Militar de Brasília em 2016 e atualmente encontra-se no terceiro semestre de Engenharia da Computação na Universidade de

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Brasília. Entrou no mundo das simulações quando ainda estava no ensino fundamental e a MundoCM foi sua porta de entrada para o mundo das simulações, o qual recusou-se a abandonar depois de ingressar na faculdade. Seus gostos vão de videogames ao expressionismo alemão cinematográfico. Adora debater e discutir temas para ter uma perspectiva nova sobre as diversas áreas que aprecia. Dessa forma, espera poder contribuir para o engajamento de novos delegados e delegadas nesse ambiente tão enriquecedor que são as simulações.

Gabriel Ribeiro Mendes Assunção é ex-aluno do Colégio Olimpo de Brasília e atualmente está no terceiro semestre do curso de Direito da Universidade de Brasília. Além disso, acredita que as simulações são uma forma extraordinária de desenvolvimento pessoal e profissional, adora filmes, música de todos os estilos e estará disponível a qualquer momento para auxiliar todos sobre questões da simulação ou outras que sejam suscitadas.

2. REGRAS ESPECÍFICAS DO COMITÊ 

Diante da data de realização do comitê, de 18 a 24 de abril de 1955, presume-se que na Conferência de Bandung de fato não se fazia uso de aparelhos eletrônicos tão característicos do século XXI. Desta forma, para manter o ambiente da forma mais fidedigna possível, a diretoria deste comitê optou por proibir o uso de computadores, celulares, tablets e quaisquer outros aparelhos eletrônicos que não fossem populares à década de 1960.

Assim, para a elaboração de documentos de trabalho, projetos de resolução e outros documentos, será disponibilizado um computador, sem acesso à internet, de uso comum ao comitê,

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cujo compartilhamento deve ser organizado pelos próprios delegados, sob supervisão da mesa diretora. Ademais, também serão aceitos documentos redigidos à mão. Não precisa se preocupar: todos os documentos ficarão disponíveis para consulta no próprio computador e, quando possível, via material impresso.

Ainda no sentido de preservar a coerência temporal do comitê, estará vedada a citação de quaisquer informações, termos, países, eventos ou objetos que sejam posteriores à data de realização da Conferência de Bandung. Afinal, que sentido faria se falar no ataque às Torres Gêmeas de 11 de setembro de 2001 em pleno abril de 1955?

3. APRESENTAÇÃO DO COMITÊ  

Após experimentarem as mazelas do imperialismo, as antigas colônias acreditaram estar, de fato, livres das garras de grandes potências. No entanto, a saída do segundo período pós-guerra foi marcada pelo nascimento de uma ainda maior dicotomia do poder a nível internacional. A nova ordem bipolar marcou a completa submissão de parte dos países do Sul aos centros político-ideológicos do Norte.

Nesse cenário, observou-se a consolidação de um movimento em busca de uma terceira via aos dois pólos do mundo: nascia a consciência do Sul. O novo Sul se opunha às nefastas entranhas de um velho sistema imperialista. Apesar das suas diferenças, a Conferência de Bandung marca a primeira iniciativa conjunta dos países segregados pela Guerra Fria em busca da consolidação de uma identidade entre eles – identidade

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que compreende a sua carga histórica de dominação, mas, também, o crescente espírito de mudança.

Em 1955, opondo-se à hegemonia da ordem bipolar, os países de Bandung buscavam não somente lograr a sua liberdade em âmbito político-econômico, mas também resistir ao embate ideológico e salvaguardar a sua independência e liberdade cultural. Se, individualmente, os países que compunham a Conferência não eram capazes de erguer suas vozes e se fazerem ouvir perante o cenário internacional, Bandung bradou a representatividade que o Sul desejava – e foi ouvido em todo o mundo.

Seis anos depois, os ecos da Conferência de Bandung repercutiram na consolidação de um movimento entre os países do sul contra a hegemonia do primeiro mundo, cujos impactos mudaram o cenário internacional e confluíram no nosso hoje. No entanto, o futuro de Bandung – nosso passado – pouco importa aos senhores. Totalmente permeados pelos ideais da busca de uma autonomia nacional de forma pacífica e não alinhada, os senhores terão o dever de moldar a história ao seu dispor e se postarem – juntos – em frente às novas dinâmicas da segunda metade do século XX.

4. A CONFERÊNCIA DE BANDUNG 

O cenário imediato pós Segunda Guerra Mundial se caracteriza essencialmente mediante a ação de dois movimentos políticos fundamentais: os esforços de reconstrução econômica-estrutural da Europa ocidental, sob o título de Plano Marshall, e as disputas de influências entre as duas superpotências da época, representadas pela URSS e os EUA.

Paralelamente a esses acontecimentos, a Ásia passava por uma série de movimentos de emancipação colonialistas, que

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posteriormente se estenderam até o continente africano. Nesse contexto, inúmeras tentativas de subordinações econômicas, políticas e culturais eram feitas pelas potências dominantes contra as nações recém-fundadas na esperança de cooptarem esses jovens países para os blocos capitalistas ou socialistas. Não obstante, de maneira semelhante à colonização clássica, tais disputas de influência não se traduziam em formas de cooperação internacional justa, mas sim em idêntica lógica de exploração e depreciação de nação por nação, o que rendeu a esse tipo de prática o nome de neocolonialismo (MEDEIROS; PEREIRA, 2015).

É nesse plano de fundo de imperialismo desagregador que começam a florescer movimentos contrários à organização bipolar que estrutura a geopolítica da Guerra Fria, a exemplo do Movimento dos Não-Alinhados, o G-77, e a Conferência de Bandung. Tais manifestações foram os eventos estruturantes do que ficaria posteriormente conhecido como relações sul-sul, em oposição à lógica tradicional de relações sul-norte, a exemplo da colonização (MEDEIROS; PEREIRA, 2015).

A Conferência de Bandung (1955) foi a segunda de seu tipo; entretanto, foi mais importante que sua predecessora, a Conferência de Colombo (1954), por contar com a participação da República Popular da China. Em 1954, China e Índia, os maiores expoentes do movimento anticolonialista, enumeraram cinco princípios que norteavam seus esforços de cooperação internacional e que foram posteriormente adotados pela Conferência: “coexistência pacífica, respeito recíproco pela soberania e integridade territorial das partes, não ingerência nos assuntos internos, não agressão, igualdade e privilégios recíprocos” (MEDEIROS; PEREIRA, 2015). Além disso, pode-se citar como objetivos primordiais da Conferência: a aceleração do processo de

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descolonização, a emancipação política dos países emergentes e o respeito à soberania das nações em desenvolvimento.

Nesse contexto, a Conferência de Bandung almejou a criar uma rede de relações entre países membros que vivenciavam realidades semelhantes e comuns à periferia mundial. Mediante a adoção de tratamento horizontalizado, práticas de cooperação econômica e desenvolvimentista, além da valorização do patrimônio cultural de cada país como único e rico. Esses comportamentos e princípios posteriormente serão adotados pelo chamado Movimento Terceiro Mundista que virá a incluir a América Latina nos esforços pelo desenvolvimento dos países emergentes.

Não obstante seu papel libertador no âmbito das relações internacionais, a Conferência de Bandung não se encontra imune a críticas. Com o passar dos anos, vem sendo levantada a hipótese de que o núcleo semiperiférico de seus países membros, em especial a China, romperam com seus princípios de horizontalidade e reciprocidade estruturantes e passaram a conduzir suas relações internacionais de maneira semelhante aos países centrais em relação a países ainda mais periféricos (MEDEIROS; PEREIRA, 2015), quer dizer, adotando práticas semelhantes de desarticulação política local, subordinação econômica e depreciação cultural.

Em uma época onde a hegemonia das superpotências se sobrepunha ao arbítrio das demais nações, a Conferência de Bandung conferiu ao Sul Global princípios norteadores que visavam sua emancipação no âmbito no cenário internacional. A ideia de bipolaridade foi, pela primeira vez, posta em xeque com a inserção de uma terceira força no jogo da Guerra Fria. A reunião dos líderes de países africanos e asiáticos inaugurou a cooperação

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entre o Terceiro Mundo, superando a heterogeneidade de seus sistemas políticos em prol de um desejo comum de superar o subdesenvolvimento (MEDEIROS; PEREIRA, 2015).

Bandung trouxe consigo a tentativa de inverter a lógica predominante em seu tempo. A divisão Leste-Oeste instaurada pelo estabelecimento dos blocos capitalista e socialista não mais lhes servia, sendo proposto em seu lugar o debate Norte-Sul, onde os países em desenvolvimento confrontaram os desenvolvidos posicionando-se como um polo de poder alternativo em relação às superpotências (MEDEIROS; PEREIRA, 2015).

Os países periféricos estabeleceram, para tal, alguns princípios que sustentariam sua ação conjunta, estando entre estes a luta anticolonialista e pela liberdade de escolha. A cooperação entre os países afro-asiáticos transitou não apenas entre os âmbitos econômico e cultural, mas também na questão dos direitos humanos e promoção da paz. Estes princípios também traduziam o posicionamento da periferia global em relação à Guerra Fria, visando, principalmente, evitar que alianças como as que levaram à Segunda Guerra Mundial fossem forjadas, assim como um conflito bélico direto entre as potências do mundo polarizado (MEDEIROS; PEREIRA, 2015).

Bandung, inspirando diversas ações em direção ao não-alinhamento, passou a estimular uma participação ativa desses países no cenário internacional, sendo marco da fase inicial do estabelecimento das relações Sul-Sul, apresentando, concomitantemente, uma tentativa de consolidação das lutas anticolonialistas nos países afro-asiáticos e uma agenda de desenvolvimento econômico e social adaptada ao Terceiro Mundo. A periferia do sistema mundial, a partir disso, passou a estar ligada a partir de mecanismos multilaterais que

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instrumentalizam o posicionamento político e as estratégias de atuação do terceiro mundo no cenário internacional da Guerra Fria (MEDEIROS; PEREIRA, 2015).

5. ESCOPO DO COMITÊ 

A Conferência de Bandung carrega a proposta de discorrer sobre os problemas e interesses das nações asiáticas e africanas. Foi o objetivo primordial discutir caminhos através dos quais os povos de cada uma dessas nações conseguiriam alcançar um efetivo avanço cultural, político e econômico baseando-se em cooperação interna entre os países membros da Conferência.

As nações asiáticas e africanas, ao longo dos séculos, acumularam uma vasta, diversificada e rica trajetória religiosa e social. Bandung foi o momento de discussão entre essas nações sobre como poderiam retomar seus ímpetos culturais em meio a um contexto eurocêntrico. A ambientação pós-colonialista, realidade generalizada dos países membros, impulsionou a presença do neocolonialismo na pauta da Conferência e suas consequências na realidade cultural e econômica dos países asiáticos e africanos.

Havia um desejo coletivo por uma cooperação econômica que visasse interesses mútuos e respeito à soberania de cada país. Uma forma de proporcionar o crescimento econômico das nações asiático-africanas de maneira conjunta e simultânea.

Dessa forma, os países envolvidos com os objetivos de crescimento através de cooperação, aprofundaram o debate sobre segurança internacional — devido ao contexto de Guerra Fria —, paz mundial, neocolonialismo, dentre outros temas que incluíam-se na abrangência das discussões. Além disso, ainda buscaram tratar do posicionamento da Conferência com reação

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aos conflitos e tensão internacional dentre os países localizados no ambiente afro-asiático, como é o caso da situação ocorrida na Palestina e Iêmen . 1 2

6. QUESTÕES A SEREM DEBATIDAS 

Inicialmente, é importante ressaltar que não há nenhuma obrigatoriedade vinculante às delegações quanto ao seguimento do que se deu na realidade. Desta forma, as representações possuem total liberdade para decidir, inclusive em desacordo do que se fez na Conferência real. Dito isso, abaixo estão listados os principais tópicos discutidos na Conferência de Bandung. Recomenda-se, neste sentido, a leitura do comunicado final da Conferência, o qual traz de maneira bastante elucidativa e, decerto, mais completa as propostas acordadas entre os países afro-asiáticos.

1 A questão palestina resumia-se na declaração americana que reconhecia a criação de um território judeu, o Estado de Israel, que tomava parte do território da Palestina. No entanto, sendo a maioria palestina devota à religião islã, a declaração não foi nada bem vista no país e as nações árabes declararam guerra contra o Estado de Israel. Em 1949, foi declarado um armistício, muito embora a hostilidade entre os dois povos continuasse uma realidade. O governo da Palestina se autodenominava União da Palestina Árabe e Jordão. 2 O Iêmen encontrava-se dividido ideologicamente entre o norte islã, sob o comando do imperador, e os protetorados ocupados pelo exército britânico ao sul, sendo o mais importante desses protetorados a cidade de Aden, uma cidade de atividade portuária intensa. Neste contexto, a problemática se dava em razão da importância econômica do Golfo de Áden, o qual já era a via marítima fundamental para o petróleo do golfo Pérsico. Atualmente, o Áden sofre com a pirataria intensa (especialmente graças à proximidade da Somália) e com frequentes ataques terroristas.

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a. Cooperação econômica 

Para os países afro-asiáticos, o desenvolvimento econômico era uma questão de urgência e foi tratado como prioridade. Muito embora não tenha sido descartado o apoio de países de outras regiões, inclusive por meio de investimento de capital estrangeiro, Bandung focou na cooperação regional e no respeito à soberania de cada país. Ainda, concordou-se em fornecer mutuamente auxílio técnico, por meio de intercâmbios de pessoas, equipamentos e conhecimentos. Discutiu-se também a criação de fundos e bancos internacionais, a firmação de acordos bilaterais, a ampliação da gama de exportações e a necessidade de comunicação prévia entre os países afro-asiáticos antes da tomada de decisões nos comitês da ONU . Destacou-se, por fim, o 3

interesse no desenvolvimento de energia nuclear para fins pacíficos (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

b. Cooperação cultural 

Em Bandung, entendia-se que a chamada cooperação cultural era um dos mais poderosos meios para alcançar o consenso na comunidade internacional. Ainda, considerava-se que o colonialismo tinha suprimido as manifestações culturais dos povos afro-asiáticos e impossibilitado a comunicação entre estas. 4

Destarte, a Conferência condenou todas as formas de opressão

3 Vale destacar que, como diz o próprio comunicado final da Conferência, ainda assim não havia a intenção de criação de um bloco regional.

4 O comunicado faz referência especificamente aos casos da Algéria, do Marrocos e da Tunísia, onde o direito das pessoas de estudarem a própria língua e cultura lhes era negado, mas reconhecendo que violências similares ocorreram em outras partes da África e da Ásia.

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cultural, especificamente o racismo. Ainda, destacou a intenção dos países de se aproximar das culturas originárias, se conectar com outras culturas e promover o intercâmbio cultural entre os países da África e da Ásia (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

Neste sentido, foi lembrado o fato de que os países afro-asiáticos encontravam-se em diferentes níveis de desenvolvimento educacional, científico e técnico. Portanto, foi acordado que os países mais desenvolvidos da região forneceriam vagas em suas instituições de ensino, além de outras medidas afirmativas, para os estudantes de países vizinhos, de forma a ajudá-los a obter o acesso à educação que até então lhes era negado (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

c. Direitos humanos e autodeterminação dos povos 

Em meados do século XX, o continente europeu, assim como os Estados Unidos e ainda que minimamente alguns países da América Latina, comemoravam a conquista dos direitos humanos, cuja ratificação se deu em 1948 por meio da Declaração Universal de Direitos Humanos. Contudo, a eficácia dos direitos fundamentais não se dava, e ainda hoje não se dá, por igual em todo o planeta; especialmente, nos continentes que por anos foram subjugados pelo colonialismo. A Conferência entendia que para garantir a efetivação dos direitos humanos na África e na Ásia era necessário, como pré-requisito, antes conquistar a autodeterminação dos povos (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

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d. Dependência, dominação e colonialismo 

A Conferência declarou o colonialismo e suas manifestações um mal que deve ser extirpado, por ser, em verdade, uma afronta aos direitos humanos, estar em desacordo com Carta da ONU e impedir a promoção da paz mundial. Ademais, Bandung declarou apoio à liberdade e independência dos povos subjugados pelo colonialismo e clamou às potência que lutassem para garantir tais direitos. Fez-se, por fim, notória menção à situação de Algéria, Marrocos e Tunísia, países os quais estavam sendo privados do direito à autodeterminação dos povos, pedindo ao governo francês que, sem demora, firmasse um acordo pacífico com estas nações (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

e. Luta antirracista 

Uma das preocupações de Bandung se refere à introdução da problemática do racismo nas discussões internacionais. Considerou-se, em especial, os embates raciais que vinham acontecendo por toda a África, com destaque para o apartheid da África do Sul. Neste sentido, a Conferência condenou toda e qualquer prática que incitasse a segregação racial e a discriminação, apoiando os movimentos de luta antidiscriminatória e prometendo usar toda sua influência moral para proteger as vítimas desta mazela social. Bandung ainda reforçou o entendimento de que o racismo, além de uma violação grave dos direitos humanos, é um verdadeiro atentado à dignidade da pessoa humana (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

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f. Promoção da paz mundial 

No período da Guerra Fria, o medo quanto a explosão de uma terceira guerra mundial era uma constante. A questão não passou despercebida pela Conferência, que buscou conferir uma atuação aos países afro-asiáticos no sentido de evitar a eclosão de uma tragédia de proporções mundiais, adotando como política o não-alinhamento, muito embora os países afro-asiáticos tenham se declarado socialistas. Ademais, urgia-se pelo desarmamento total e proibição da produção, de experimentos e do uso de armas nucleares e outras armas de destruição em massa.

É importante frisar, ainda, outros dois diálogos de Bandung quanto a esse tópico. O primeiro diz respeito à aceitação de Camboja, Ceilão, Japão, Jordânia, Líbia, Nepal e Vietnã na Organização das Nações Unidas, países que há pouco haviam conquistado sua independência. Outra questão é a da falta de representatividade afro-asiática no Conselho de Segurança da ONU, o qual, deve-se sempre lembrar, teve formação pensada para favorecer as decisões dos chamados vencedores da Segunda Grande Guerra (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

g. Questão da Palestina, da Nova Guiné Ocidental e de Áden                   

e do sul do Iêmen 

Oficialmente, a Conferência de Bandung tratou de três questões específicas, relativas à Palestina, à Nova Guiné Ocidental e à Áden. Quanto à primeira, o comitê posicionou-se no sentido de apoiar os palestinos e considerar legítimos seus direitos; ou seja, também foi contrário à criação de um Estado judeu. Quanto ao

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caso da Nova Guiné Ocidental , clamou-se pela urgente 5

negociação com o governo holandês. Por fim, quanto ao caso de Áden e do sul do Iêmen, a Conferência declarou apoio à posição do Iêmen; por óbvio, almejando a retirada das tropas britânicas da cidade de Áden e dos demais protetorados britânicos e, portanto, o respeito à soberania iemenita. No geral, Bandung suplicou por negociações e soluções pacíficas para tais conflitos (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

h. Tribunal da descolonização 

Das questões aqui trabalhadas, esta foi a única que não figurou no comunicado final da Conferência, por não ter sido de comum acordo entre os participantes, já que os países centrais acabaram por suprimi-la. Contudo, não deixa de ter sido um debate relevante, já que reconhecia a criminalidade do colonialismo e seus atos reflexos. Em suma, consistia na proposta de um tribunal para julgar os culpados pelos atos coloniais, entendidos como crimes cometidos contra a humanidade (DIÁRIO UNIVERSAL, 2007).

5 A disputa pela Nova Guiné Ocidental, que se estendeu de 1950 a 1962, foi um conflito entre Países Baixos e Indonésia pelo controle da antiga colônia holandesa. Mesmo concedendo a soberania à Indonésia em 1949, os holandeses se recusavam a entregar a metade ocidental da Nova Guiné, que consiste na segunda maior ilha do mundo, situada no Oceano Pacífico. Até 1954, a Indonésia insistiu em negociações bilaterais com os Países Baixos. Contudo, de nada adiantava; assim, o país começou a buscar apoio na Assembleia Geral da ONU. Ainda assim, não foi o bastante, e de 1960 a 1962, a Indonésia passou a pressionar os Países Baixos de forma mais incisiva, diplomática, econômica e militarmente, chegando, inclusive, a uma tentativa de invasão do território.

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7. POSICIONAMENTOS 

a. Afeganistão

O Reino do Afeganistão é um país situado no centro-sul da Ásia, cuja história é permeada pelas disputas pelo poder, seja entre as etnias que compõem o país ou entre as potências mundiais de cada época. Ao longo do século XIX, foi alvo da rivalidade entre os impérios russo e britânico, os quais disputavam por uma zona de influência sólida, no chamado “Grande Jogo”. Embora tenha conquistado independência do Reino Unido em 1919 e, desde então, mantido uma política de neutralidade, seu território ainda iria figurar como espaço de lutas ideológicas (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Afeganistão continuou politicamente neutro e, em 1946, passou a integrar o quadro das Nações Unidas. Neste sentido, durante a década de 1950, o Afeganistão buscou apoio econômico tanto da União Soviética quanto dos Estados Unidos. Os afegãos, assim como a maioria dos países do Terceiro Mundo, defendiam a política de não-alinhamento. No entanto, com a mudança de governo, em 1953, agora com Mohammed Daoud Khan na liderança do país, na prática o que prevalecia era a intenção de estreitar laços com os soviéticos, por meio da assistência militar e econômica. Ainda assim, na Conferência de Bandung, o Afeganistão figurava o grupo dos neutralistas (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

b. Arábia Saudita

O Reino da Arábia Saudita é um país marcado pela religião, pelo tribalismo e pela riqueza. Situado no centro da

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Península Arábica, é o berço da religião islâmica e país no qual se estabelecem as cidades mais sagradas do Islã - a saber, Meca e Medina. Sua vasta zona árida, por muito tempo, foi povoada por tribos nômades. Ademais, a nação saudita é também conhecida pelo Golfo Pérsico, graças ao qual se associa o país à chamada “riqueza petrolífera” (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Em setembro de 1932, por meio de decreto real, unificou-se o reino dual do Hejaz e Najd sob o nome do Reino da Arábia Saudita. A partir de então, o país lutou pela unidade do reino e pela extirpação de movimentos separatistas. Além disso, a modernização e o desenvolvimento socioeconômico do país eram prioridades; e, para tal, contava-se com o auxílio dos Estados Unidos da América (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Politicamente, contudo, o Reino da Arábia Saudita adotava uma política neutralista, tanto que na Segunda Guerra Mundial não chegou a apoiar de forma oficial nenhuma das alianças. Na prática, o que se tinha era uma forte aliança com o bloco capitalista, considerando que a maior parte das empresas petrolíferas era de propriedade norte-americana (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

c. Birmânia

A União da Birmânia é um país localizado na parte ocidental do continente asiático. De 1885 a 1948, perdurou a dominação britânica no país, quando o Reino Unido anexou todo o norte de Mianmar como colônia e transformou o país em uma província da Índia. Durante o período colonial, a sociedade sofreu com o desaparecimento da monarquia e do monasticismo, já que se considerava de fundamental importância a relação entre Estado e religião. Por isso, as guerrilhas - formadas por chefes militares do antigo exército - tentaram resistir à dominação britânica; no

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entanto, foram cruelmente suprimidas (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Neste sentido, o período colonial, ao passo em que foi marcado por uma relativa ordem civil, consagrou-se por sua desintegração social. Contudo, já na década de 1930, quando jovens de classe média conseguiram completar seus estudos em Direito em Londres e voltaram como líderes para o país, começou a surgir um sentimento de nacionalismo, o qual motivou, nas décadas seguintes, vários movimentos envolvendo greves, boicotes e rebeliões em prol da independência (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Esta, no entanto, só se concretizou após a Segunda Guerra Mundial, quando uma aliança entre a resistência e o Japão provocou, depois de muitas reviravoltas, uma negociação pacífica entre os birmaneses e o Reino Unido, que finalmente culminou na independência do país em janeiro de 1947. Como país independente, numa busca por paz, a Birmânia adotou uma política de neutralidade, para buscar reconstruir sua economia e o próprio país em si. Assim, na Conferência de Bandung, o discurso da Birmânia pautou-se na defesa da reconstrução econômica, religiosa e cultural de cada país e na imparcialidade no contexto das relações internacionais (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

d. Brasil

A República Federativa do Brasil é o quinto país mais populoso do mundo, situando-se na América Latina. O país conquistou sua independência do império português em 1889, buscando, desde então, seu desenvolvimento econômico. Contudo, as alternâncias entre sistemas de Estado e formas de governos distintas, permeadas por um inegável histórico de golpes,

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marcaram o Estado brasileiro como politicamente instável (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Na década de 1950, a situação político-econômica do Brasil era de caos. Após duas ditaduras de Getúlio Vargas e de um 6

medo irracional do comunismo sempre pairando no ar, o país encontrava-se mergulhado em sérios problemas econômicos, incluindo a inflação e uma dívida nacional crescente, vindouros de gastos do governo que incessantemente superavam as receitas. Neste sentido, os brasileiros clamavam por um desenvolvimento industrial mais rápido e medidas para limitar a inflação e os gastos do governo (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Buscando formas de alcançar seus interesses particulares, o Brasil foi o único país latino-americano a participar da Conferência de Bandung. O então presidente, Café Filho, embora declarando apoio a Portugal em qualquer situação em uma ocasião anterior, resolveu enviar um representante diplomático não-oficial ao evento. Entendia-se, naquele momento, que o Brasil tinha em mãos a possibilidade de se tornar uma grande potência mundial se estreitasse relações com os novos países afro-asiáticos (KARAM, 2016).

e. Camboja

O Reino do Camboja é um país situado no sudoeste asiático, o qual faz parte da Indochina. Possui fortes influências das culturas asiáticas, especialmente da Índia e da China, por óbvio. Ao longo do século XX, o Camboja foi submetido ao domínio francês, constituindo-se como protetorado e

6 O presidente, em virtude da pressão de um grupo de oficiais militares a renunciar, acabou se suicidando, deixando seu vice, Café Filho, no governo do país até as eleições seguintes.

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experimentando a guerra, a ocupação pelos japoneses, a independência no pós-guerra e a instabilidade política (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Em março de 1945, os japoneses derrubaram o governo francês, o que permitiu um crescimento da autonomia política dos cambojanos. Contudo, com o fim da Segunda Guerra Mundial, os franceses recuperaram o controle do país. Embora, desde então, tenham ocorrido vários desenvolvimentos políticos de relevância - como criação de constituição própria e partidos políticos -, a independência só foi efetivamente conquistada em 1953, sob a liderança do príncipe Norodom Sihanouk (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Mesmo com a independência, a insatisfação popular e a instabilidade política continuaram sendo características marcantes do Camboja. Diz-se que o país não estava pronto para uma democracia parlamentar. Neste sentido, o líder cambojano, responsável pela independência, passou a tomar uma postura autoritária, que em muito desagradou tanto os democratas quanto os comunistas. Dentre seus objetivos, destacava-se o de sufocar o movimento guerrilheiros espalhado pelo Camboja, notoriamente de índole comunista, associado ao Việt Minh do Vietnã (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Por outro lado, enquanto a Guerra do Vietnã ocorria no país vizinho, Sihanouk mostrou-se um tanto solidário com os comunistas. Embora tenha adotado uma política de neutralidade, o príncipe permitia que estes vietnamitas utilizassem os templos dentro do Camboja, além de autorizar a passagem pelo país como rota de abastecimento bélico das forças armadas comunistas do Vietnã do Sul (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

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Um mês antes da Conferência de Bandung, Sihanouk renunciou o trono, sendo sucedido por seu pai, Norodom Suramarit. No evento, sem um alinhamento significativo com nenhuma das grandes potências, tinha-se como prioridade o estabelecimento da paz no país. Além disso, buscava-se estreitar as relações com os países vizinhos, o desenvolvimento econômico e cultural e a reafirmação da soberania do país (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

f. Ceilão

O Ceilão é um país insular, situado no Oceano Índico, marcado por uma forte tradição budista e influenciado pelo hinduísmo e pelo islamismo. Sua colonização se deu desde o século XVI, inicialmente realizada pelos portugueses, depois pelos holandeses e, por fim, pelos britânicos (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

No final do século XIX, a sociedade cingalesa começou a fomentar um sentimento nacionalista, enquanto os movimentos budistas e hinduístas buscavam modernizar suas instituições e defender-se da doutrinação cristã. Tais mudanças eram um prenúncio das mudanças políticas e sociais que viriam a acontecer no século seguinte. Em 1948, veio a independência, mas a imaturidade política do país era evidente (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Neste sentido, é preciso destacar que o governo em muito se distanciava dos governados; em sua maioria, era composto por falantes de inglês que compunham a elite da população. Não havia consideração com a cultura ou com a religião, o que para as massas era incompreensível e inadmissível. Assim, não tardou para que começassem a se levantar movimentos tradicionalistas e

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revivalistas que lutassem pelos valores tradicionais daquela sociedade (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

No ano da Conferência de Bandung, além do descontentamento com a falta de medidas relacionadas a religião e a cultura tradicional, uma grave crise econômica - causada pelos investimentos desmedidos em educação e pela queda dos preços de seus produtos no mercado internacional - atingiu o país. Desta forma, na discussão, deu-se destaque para a valorização das culturas e religiões locais, buscando medidas para alcançá-la, e para a cooperação econômica, a fim de recuperar o desenvolvimento econômico cingalês. Ainda, o discurso de abertura do comitê foi realizado pelo primeiro-ministro do país (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

g. Costa do Ouro

A Costa do Ouro é uma colônia britânica localizada no Golfo da Guiné, na África Ocidental, desde 1867. Foi formada a partir da invasão de uma variedade de reinos africanos, muitos dos quais controlavam depósitos substanciais de ouro no solo, em especial a confederação Ashanti e os Fante. Ao longo dos anos, uma série de guerras e revoltas foram travadas contra os britânicos pelos ashanti até sua derrota, em 1896. Com isso, em 1901, os três territórios que formavam a Costa do Ouro – as regiões costeiras, Ashanti e os Territórios do Norte – foram transformados em uma única unidade política controlada pela Coroa (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Por um lado, o controle britânico da Costa do Ouro, a partir do século XX, trouxe avanços no que tange ao desenvolvimento econômico, social e educacional. Uma extensa rede de comunicações e transportes foi criada para permitir a exportação dos recursos explorados na colônia, assim como a

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introdução de novas culturas agrícolas, tais como o cacau. Contudo, como de praxe, a dominação britânica foi responsável por uma dominação e opressão cultural incalculáveis (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Neste contexto, as melhorias econômicas e civis, especialmente a educação introduzida nos moldes britânicos, permitiram que a elite local ascendente adquirisse os meios e o desejo de lutar por sua independência. Tal fato, aliado à instabilidade gerada por duas guerras mundiais e o subsequente aumento da inflação, resultou em um crescente espírito de nacionalismo (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

É importante notar que a Costa do Ouro é um dos poucos - exatamente seis - países africanos participantes da Conferência. Isso porque a maioria dos países africanos, assim como a própria Costa do Ouro, ainda se encontrava sob jugo dos colonizadores. Diante disso, a voz da Costa do Ouro torna-se fundamental em Bandung principalmente no debate quanto a independência dos países, política, cultural e economicamente. O próprio líder do país, Kwame Nkrumah precisou recusar o convite de participação na Conferência em virtude de suas negociações com o Reino unido, enviando Jim Markham como seu representante (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

h. Egito

O Egito é um país situado no norte da África, de território predominantemente desértico. Em 1918, houve a criação do partido Wafd. O Wafd foi um dos partidos mais influentes e populares do país e tinha viés liberal e nacionalista. Em 1936, o representante do Wafd tornou-se primeiro ministro e, nesse momento, foi assinado o Tratado Anglo-Egípcio com o Império Britânico, que garantia defesa e aliança mútua entre as duas

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nações. Em 1937, o Egito tornou-se membro das Nações Unidas (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

No fim da Segunda Guerra Mundial, o país encontrava-se em uma situação interna bastante instável, o que tirava do foco do governo suas intenções de revisar o tratado com o Império Britânico e apoiar os árabes na Palestina. Em 1943-44, o Egito manifestou-se com relação à questão árabe e participou ativamente na criação da Liga Árabe, que se opunha à criação de um estado judeu na Palestina. Engajando-se cada vez mais, em 1948-49, o Egito participou da primeira Guerra Árabe-Israelita, juntamente com o Jordão, o Iraque e a Síria. No entanto, sofreram uma derrota inesperada e o país afundou em mais instabilidade interna (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Em 1950, o Wafd ganhou as eleições e, sem conseguir um acordo satisfatório com o Império Britânico, o Egito aboliu os tratados que havia entre eles e uma guerrilha contra a ocupação britânica teve início. O primeiro ministro perdeu o cargo e, em 1952, o grupo revolucionário dos Oficiais Livres, liderado por Gamal Nasser, tomou o poder da monarquia. Em junho de 1953, o Egito tornou-se, oficialmente, uma república e os partidos políticos foram abolidos. Em 1954, foi assinado o Acordo Anglo-Egípcio, a partir do qual as tropas britânicas deixariam, gradualmente, o Canal de Suez (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

O país via a cooperação mútua entre as nações de Bandung como uma necessidade para as nações que haviam acabado de libertar-se do colonialismo. O Egito ressalta a importância do desarmamento, do desenvolvimento econômico e o uso da ciência moderna para propósitos pacíficos. A nação também preocupava-se com a injustiça que ocorria na Palestina.

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Dentre os soluções para as questões dos países asiático-africanos de Bandung, o Egito destacava a abolição do racismo no sul da África, o papel construtivo de nações pequenas e o respeito por suas soberanias e urgente independência para os territórios do norte da África. A nação egípcia acredita no direito de cada país de escolher o seu próprio sistema econômico e político (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

i. Estado do Vietnã

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Indochina era pertencente ao Japão e administrada pela França. Em 1940, tropas japonesas instalaram-se em todo o país. Isso foi decorrência de um acordo entre França e Japão e fez com que a Indochina se tornasse o ponto estratégico mais importante para os japoneses no sul da Ásia. Em 1941, o Partido Comunista formou uma aliança nacional chamada Liga pela Independência do Vietnã, o Viet Minh. Quando os japoneses se renderam em 1945, o Viet Minh, sem nenhuma oposição grande e organizada, reclamou o poder da recém proclamada República Democrática do Vietnã (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

No entanto, o desejo de total independência do governo vietnamita contrastava abruptamente com as intenções de retomada de poder colonial da França, que logo foram manifestadas através da declaração do alto comissário francês na Indochina de que a Cochinchina, parte mais ao sul do Vietnã, a partir de 1946 seria uma república autômata. No fim de 1946, os franceses bombardearam a cidade de Haiphong e a Primeira Guerra da Indochina teve início quando o Viet Minh tentou sobrecarregar as tropas francesas em Hanoi (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

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O desejo por independência era geral e foi algo que uniu as oposições no país, o que tornou mais árdua a tarefa dos franceses de lidar com o ímpeto nacionalista da população e em 1949, a França proclamou a Cochinchina como Estado Associado do Vietnã. Para os nacionalistas, o poder continuava com o Viet Minh, que iniciaram uma crescente guerrilha no país, posteriormente ajudada pelo governo comunista da China. Mesmo com o apoio dos Estados Unidos da América, preocupados com o crescimento do comunismo, a França, depois da pesada derrota na Batalha de Dien Bien Phu (1954), decidiu negociar o fim da guerra na Conferência de Geneva (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Foi decidido que o território vietnamita seria dividido na altura do paralelo 17: os Viet Minh deveriam recuar ao norte do paralelo e todos os franceses e estados associados ficariam ao sul. Bao dai foi posto novamente no governo influenciado pela França e o cargo de primeiro ministro foi ocupado por Ngo Dinh Diem, um católico, que tinha apoio americano para estabelecer um regime anticomunista no território (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

O Vietnã do Sul considerava que acabara de libertar-se de uma opressão estrangeira que durara um século e, por isso, ansiava por auxiliar outras nações em suas dificuldades para a obtenção de independência. Pregava ideais de liberdade e direitos humanos como maneiras de proteção contra o comunismo ditatorial (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF INDONESIA, 1955).

j. Etiópia

Desde o início da Conferência, o país se apresentou como um exemplo: era uma das únicas nações a se manter independente

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após a Conferência de Berlim. Em 1935, mesmo após diversas tentativas italianas de invasão, as quais incluíam a utilização do espaço aéreo e de gases venenosos para para separar, flanquear e destruir os exércitos etíopes, a luta contra o invasor fortaleceu a nação etíope como um exemplo africano de resistência (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018). Depois de deposto e exilado na Guerra Ítalo-Etíope, o imperador Haile Selassie I retorna ao poder em 1941 e estabelece seu próprio governo, focado na modernização econômica e política do país.

Outro padrão de política externa se estabelece, porém, com a Guerra Fria. Era proveitoso para o país se utilizar de sua posição estratégica no Chifre da África para barganhar entre as duas superpotências, EUA e URSS. Em relação à África, a Etiópia se transformou em líder do continente, principalmente a partir da liderança na criação da Oraganização da União Africana, que estabeleceu como princípios a manutenção das fronteiras coloniais e a não-interferência nos assuntos internos dos Estados (GERBASE, 2014).

Assim, sendo a Etiópia um dos únicos três países africanos representados na Conferência que já haviam logrado a independência antes de Bandung (juntamente ao Egito e à Libéria), o Estado conquistou protagonismo no estabelecimento dos alicerces da diplomacia do Sul perante a comunidade internacional. Além disso, o país vê na Conferência a oportunidade ímpar de buscar apoio à luta anticolonialista com ênfase na liberdade religiosa e no fim do preconceito racial (GERBASE, 2014).

k. Filipinas

A aliança das Filipinas com os Estados Unidos foi fortificada desde que o governo americano passou a ser visto

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como principal aliado na luta pela independência filipina, ao fim da Segunda Guerra Mundial. No entanto, é visível que as próprias instituições do país passam por uma fase de adaptação e desenvolvimento, o que leva à delicada situação na qual o país se encontrava perante a sua população e a Conferência (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018). Faz-se necessário deixar claro que a posição anti-imperialista dos pares presentes não os impedia de separar o povo dos Estados Unidos, que escrevera uma bela página da história da Humanidade, de um governo que, neste momento, talvez não estivesse em concordância com os ideais defendidos pelos participantes 7

(BISSIO, 2015).

O país foi um dos influenciadores, junto a Paquistão e Tailândia, para que houvesse alguma representação americana na Conferência. Afinal, em setembro de 1954, assinaram com Estados Unidos, França e Grã-Bretanha o acordo que deu origem à Organização do Tratado do Sudeste Asiático . 8

Dessa forma, a postura filipina durante a reunião se dá de maneira complexa: ao mesmo tempo em que existe a necessidade de defender certos ideais ocidentais, qualquer postura que sustente grandes potências se tornam incoerentes com os princípios de Bandung. Por essa razão, uma certa neutralidade foi

7 Nesse momento, acreditava-se ser fundamental uma distinção entre aquilo que representava os um povo, no caso o povo americano, em seus princípios e história dos ideais representantes de uma organização política ou governo. 8 SEATO, na sigla inglesa. Acordo assinado entre Austrália, França, Nova Zelândia, Paquistão, Filipinas, Tailândia, Grã-Bretanha e Estados Unidos que tinha como objetivo a contenção do comunismo no sudeste asiático. Planejavam, por meio de ajuda mútua, contínua e efetiva, manter e desenvolver suas capacidades individuais e coletivas para resistirem a ataques armados, prevenir e combater subversivos (BISSIO, 2015).

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adotada pela nação, que afirmou a necessidade da luta por independência e soberania, desde que não baseada em ideologias radicais.

l. Iêmen

A região do Iêmen era dominada pelo Império Turco Otomano até o fim da Primeira Guerra Mundial, quando, após a derrota da Tríplice Aliança, houve a fragmentação da unidade otomana na Península Arábica. Nesse vazio de poder, os Imãs (líderes religiosos muçulmanos), estabelecidos ao sul da península, declararam em 1918 a independência política da parte norte do território e estabeleceram o Reino do Iêmen sob o comando do rei Yahya Ibn al-Husayn, líder do movimento nacionalista (CERIOLI, 2016).

Desde a concepção do reino, as relações entre os reis iemenitas e os demais governos locais foram interrompidas por diversos conflitos políticos, sobretudo fronteiriços: o desejo da realeza em aumentar sua zona de influência regional era também motivo de descontentamento populacional em relação à monarquia. Essa maré de discordância culminou no início de 1948 no assassinato de Yaḥyā e no golpe de uma variada coalizão de dissidentes. Para grande consternação dos conspiradores, no entanto, o filho de YaḥyaAḥmad conseguiu reunir muitos dos elementos tribais do norte, derrubou o novo governo e instalou-se como imã (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Além disso, em, 1937, na parte sul, o império britânico estabeleceu diversos acordos com os líderes tribais do litoral, transformando a região em uma colônia inglesa. No entanto, tal medida foi reprimida por algumas populações regionais que, inspirados em seus vizinhos do norte, almejavam a independência do território às margens do Golfo de Áden. Toda essa fragilidade

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traz ao país um posicionamento firme contra o imperialismo, mesmo que baseado em certa neutralidade, uma vez que o Iêmen mantinha relações próximas com a Liga Árabe, mas também expressava certa preocupação com o apoio estadunidense.

m. Índia

A insatisfação popular com o Império e as discordâncias entre as frentes nacionalistas tornavam a situação indiana bastante instável para ser contida. Quando a Segunda Guerra Mundial chegou, o Congresso Nacional Indiano diminuiu relações com o Império Britânico e a Liga Muçulmana exigia a criação de um estado separado e independente. A insatisfação de ambas ideologias apenas crescia e as tensões entre elas também. Os conflitos entre hindus e muçulmanos tomaram proporções maiores e a Índia caiu em um banho de sangue (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Um representante britânico foi enviado para mediar a situação indiana e acabou por decidir que, para evitar uma retirada forçada das tropas britânicas do país, o mais sensato a se fazer seria dar-lhe a independência. A Liga Muçulmana não aceitaria uma Índia unida, como o Congresso Nacional Indiano preferia, assim que, em agosto de 1947, a Índia começou a se dividir entre República da Índia e República Islâmica do Paquistão. Depois de conquistada a liberdade do Império Britânico, a Índia passou a ser governada pelo líder o Congresso Nacional Indiano, Jawaharlal Nehru (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Em abril de 1954, os governos indiano e chinês assinaram um acordo à respeito de comércio e envolvimento cultural entre a região chinesa do Tibete e a Índia. O chamado Acordo de Comércio e Relações com a Região do Tibete facilitava a

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mobilidade durante viagens e peregrinações do povo indiano e chinês. Esse acordo tinha como princípios o respeito mútuo entre a integridade e soberania de ambos os países, a não agressão, a não interferência mútua em assuntos internos de cada nação, igualdade e proveito mútuo e coexistência pacífica (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

n. Indonésia

A Segunda Guerra Mundial mudou as relações coloniais na Indonésia, território de domínio holandês, esse que ficou mais fraco quando o Japão crescia em influência, fato que proporcionou uma crescente atividade nacionalista no país (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

As autoridade militares japonesas presentes acreditaram pertinente a ocupação de posições administrativas por indonésios de ambas as correntes (islâmica e nacionalista), oportunidade que fora vetada pelo holandeses. Conforme a guerra avançava, aumentava a pressão interna por independência. Quando o Japão rendeu-se, em 1945, Sukarno e Hatta, líderes nacionalistas, proclamaram a independência do país. No entanto, a independência oficial só chegou em 1949, quando a tensão política entre o governo e a Holanda foi levado às Nações Unidas e a Indonésia recebeu total soberania sobre seu território, muito embora os holandeses houvessem mantido Nova Guiné como colônia (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Foi o primeiro ministro da Indonésia, Ali Sastroamidjojo, posteriormente eleito presidente da Conferência, que concluiu ser necessário a cooperação asiático-africana para cumprir-se o objetivo de paz mundial entre as nações (THE JAKARTA POST, 2015). A nação tinha um enfoque em cooperação mútua e via ela

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como essencial para o desenvolvimento dos países recém independentes como nações.

o. Irã

Historicamente, o Irã tem o seu desenvolvimento marcado por uma forte presença de influência e imperialismo externos. Em 1951, a tentativa iraniana de promover a nacionalização das companhias de petróleo e, consequentemente, reaver a sua produção nacional foi fortemente rechaçada pelas potências ocidentais e respondida pela Grã-Bretanha com um embargo econômico. Ainda, em 1953, os governos do ocidente apoiaram a derrubada do antigo presidente, que fora eleito com quase 100% dos votos (GREENFIELD, 2005).

Em contraste a esse panorama, o atual governo do Xá Pahlevi se apresentou como um sistema político, econômico e cultural fortemente associado aos Estados Unidos e enxerga esse processo histórico como algo benéfico para o país (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018). Assim, o Irã assinou, em fevereiro de 1955, o Pacto de Bagdá , além de serem notórias as 9

reuniões regulares entre o Xá e o governo estadunidense. No entanto, embora o Xá tenha sido advertido – inclusive por Truman – quanto à necessidade de melhoria das condições do povo, a obsessão do líder era tornar o Irã a maior potência bélica da região, já que, como Chefe das Forças Armadas, seu único trunfo para manter-se no poder era o exército (GREENFIELD, 2005).

9 Em fevereiro de 1955, consequentemente, a Grã-Bretanha, a Turquia, o Paquistão, o Irã e o Iraque assinaram o Pacto de Bagdá, um acordo vago de segurança mútua que tinha o objetivco de estender o escudo de contenção do ocidente para o Oriente Médio (McMAHON, 2017)

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Com isso, apesar de certa resistência popular ao processo de ocidentalização, o Irã acredita na possibilidade de cooperação com o ocidente para alavancar a proposta de lideranças locais entre os países do Sul, conforme demonstra a experiência iraniana. Dessa forma, será necessária a coordenação da divergência entre alguns princípios da própria Conferência e o atual posicionamento do governo iraniano e sua aliança com o Ocidente, associados a uma agenda interna do Irã de projeção da nação como potência no oriente.

p. Iraque

O Iraque é uma nação de cunho árabe independente desde 1932, quando a Grã-Bretanha decidiu conciliar seus interesses com as aspirações nacionais do Iraque. Nesse contexto, o Iraque reconheceu que a manutenção e proteção das comunicações britânicas essenciais era importante para ambas as partes (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018). Em 1955, era comandado pelo rei Fayal II, que dá continuidade à tradição monárquica do país, inclusive diante de diversas situações de instabilidades políticas pelas disputas de liderança e, sobretudo, pela insatisfação popular diante da forte influência ocidental no território iraquiano.

Dessa forma, a delegação iraquiana se posicionou com certa neutralidade durante a Conferência, mas também criticou determinadas ações colonizadoras no Norte africano e no Oriente Médio. Além disso, também objetivava a criação de uma coalizão de países contrários à formação do Estado de Israel, a qual considerava um ato de discriminação étnica fundada no uso da violência contra as populações palestinas que habitavam legitimamente um território.

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q. Japão

O Japão passou por um processo de industrialização e desenvolvimento acentuado durante a segunda metade do século XX, passando do papel de vítima de exploração colonial para promotor de campanhas imperialistas pela Ásia. Entre os países vítimas da ação japonesa vale a pena destacar a República Popular da China, país que teve boa parte de seu território conquistado e cuja população foi violentamente atacada pelas investidas nipônicas.

Sua fome por crescimento desenfreado levou o Japão a se aliar com os demais países nazifascistas durante a segunda Guerra. Ao lado da Alemanha de Hitler e a Itália de Mussolini, o império japonês cometeu diversas práticas como genocídios, envolvimento de civis em conflitos armados e outras formas de extermínio, constituindo o que foi denominado pelo historiador Eric Hobsbawm como o estado de guerra total.

Posteriormente a derrota das potências do eixo, o Japão se rearticulou politicamente de maneira a abandonar suas aspirações imperialistas e passou a adotar o sistema monárquico constitucional. Em decorrência de seu passado sangrento, o Estado japonês era tido como exemplo das práticas rejeitadas pelo insurgente movimento anticolonialista representado pela Conferência de Bandung.

Em decorrência da admissão da barbárie cometida no passado, essa delegação manteve-se majoritariamente neutra, dispondo-se a apresentar propostas de cooperação técnica com os demais países, ainda que mantivesse seu viés ocidental e seu apoio estadunidense.

r. Jordânia

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A Revolta Árabe, ocorrida em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, pôs fim aos quatro séculos de estagnação resultantes da ocupação otomana. O surgimento de um nacionalismo árabe na Jordânia foi impulsionado pelo ressentimento em relação ao Império Otomano e seu controle sobre a região. Tais agitações nacionalistas convergiam com os interesses imperiais dos Aliados, incluindo os da Grã-Bretanha e especialmente os da França, que, após oferecer apoio à causa arabista, forçou o nascente reino a se submeter às suas tropas. Apesar de anteriormente declararem-se dispostos a reconhecerem um Estado árabe independente, um acordo secreto feito por estes dividiu a região em esferas de influência francesas e britânicas, gerando um sentimento de traição na população local ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

A independência da Jordânia só foi reconhecida em 1946 pelo Tratado de Londres. Em 1948, o país esteve envolvido na guerra árabe-israelense, invadindo a palestina juntamente com outros Estados árabes. Após a guerra, entretanto, anexou o território da Cisjordânia, sob risco de ser até expulsa da Liga Árabe, que declarou que a anexação era somente uma medida temporário e que a Jordânia estava mantendo-o como um administrador arbitrariamente. Os anos 50 apresentam-se como um período de incertezas e intensa agitação política no país devido ao pan-arabismo e à ascensão ao trono, com apenas 17 anos, do príncipe Hussein, após o assassinato de seu avô e a abdicação de seu pai (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Durante a Conferência, manteve uma posição pacífica, desaprovando as agressões israelenses à Palestina, porém incisiva no que tange ao imperialismo, inclusive expressando seu repúdio ao fracasso dos apelos árabes perante às Nações Unidas.

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s. Laos

A recente independência do Laos veio após a Guerra da Indochina, durante a qual foi formada a organização de resistência Pathet Lao, que, com ajuda da resistência vietnamita, deu início a uma guerra contra as repressivas forças coloniais francesas. Este recebeu, em 1950, uma semi-autonomia em relação à França, forçada a torná-lo um “Estado associado” dentro da União Francesa. Entretanto, o país europeu permaneceu realmente no poder até o final de 1953, quando o Laos conseguiu sua independência completa, tornando-se uma monarquia constitucional (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

É possível perceber no país uma clara influência do contexto bipolar criado pela Guerra Fria: a guerra civil entre o Partido Comunista Laosiano e o Governo monárquico trazem à Conferência a necessidade de se discutir a paz. Nesse sentido, o Reino do Laos apresenta-se como um dos mais fervorosos apoiadores da conciliação entre os países, além de expressar repúdio a todas as formas nocivas de influências exercidas por grandes potências.

t. Líbano

Controlado pela França desde os década de 20, o Líbano ganhou uma medida de independência enquanto esta foi ocupada pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial para ser usado como rota de transporte de aviões e suprimentos. Tal fato acarretou em uma série de batalhas ocorridas no território libanês, pois o Reino Unido, temendo que o governo nazista adquirisse o controle total da região, enviando seu exército para combatê-los. Com o término da luta, o general Charles de Gaulle foi pressionado a reconhecer a independência do Líbano ao final de 1941, mas este ainda estaria sob a autoridade do governo francês,

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cujo mandato só se encerraria de fato após o fim da guerra (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA).

Após se tornar independente, o país passou por períodos alternados de turbulência e estabilidade política, intercalados com a posição próspera que a capital, Beirute, passou a ocupar como um centro regional financeiro e comercial. O Líbano apoiou seus vizinhos árabes em 1948, quando eclodiu a guerra contra Israel. Como resultado do conflito, mais de 100.000 refugiados palestinos acabaram fugindo para o país, sendo proibidos de retornar pelo governo israelense após o cessar-fogo.

Desta forma, durante a Conferência, expôs a importância de ser debatida a questão Palestina, sobretudo por abranger muitos países ali presentes. Também defendeu a promoção da paz em todos os níveis e o repúdio a qualquer forma de ódio.

u. Libéria

Localizada na costa da África Ocidental, a Libéria, mesmo com sua independência em 1847, foi nos anos subsequentes um grande alvo dos interesses da comunidade internacional, especialmente os norte-americanos, devido à importância da produção de borracha no início do século XX. O país foi alvo da interferência da Liga das Nações, em 1929, após acusações da ocorrência de escravidão moderna. A investigação concluiu o envolvimento do governo com o trabalho compulsório de grupos étnicos minoritários, em um sistema que beneficiava as elites locais com boas conexões, levando à renúncia do presidente (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

A assistência dos Estados Unidos na região levou a uma gradual modernização, responsável por grandes melhorias na infraestrutura da Libéria durante a Segunda Guerra Mundial para

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apoiar suas ações militares contra os nazistas na África e na Europa. Com o término da guerra, o presidente liberiano foi responsável por incentivar o investimento estrangeiro. Tal ação fez com que o país tivesse, durante a década de 50, o segundo maior crescimento econômico do mundo. Nas questões internacionais, assumiu um papel bastante ativo, sendo um crítico voraz do regime de apartheid instaurado na África do Sul, além de defender a independência das colônias africanas em relação às potências europeias e o pan-africanismo (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

v. Líbia

A Líbia se tornou independente em 1952, a partir de negociações com a Itália, mediadas pela ONU e, em 1953, ingressou na Liga Árabe (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018). No entanto, ao se analisar a história da Líbia, pode-se observar que esse Estado possui problemas crônicos de legitimação democrática clássicos de países com histórico de colonização, cuja cultura política associada à formação da própria nação sempre foi baseada em lógica de violência e exploração.

Na Conferência de Bandung, a delegação da Líbia se posicionou a favor das emancipações coloniais, sobretudo daqueles países que se encontravam no continente africano. Ademais, cabe ressaltar que essa delegação ainda alertou sobre os perigos associados à dependência técnica e científica que as nações recém-independentes continuavam a nutrir em relação aos seus antigos colonizadores e a todo mundo central. Unida ao bloco árabe, a Líbia também se mostrou extremamente contrária às decisões tomadas pela ONU na questão Palestina, e reconhece a importância de serem condenadas as ações de Israel sobre o território.

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Nesse sentido, pode-se dizer que os avisos líbios de certa forma enunciaram problemas futuros que constituem hodiernamente um dos maiores obstáculos a verdadeira independência das nações da periferia global: a autonomia intelectual e a capacidade de progresso autônomo em contextos de capitalismo.

w. Nepal

O Nepal encontra-se em um contexto de ascensão dos movimentos pró-democracia e de partidos contrários à autocracia da dinastia Rana, que governa o reino desde o século XVIII: o rei Mahendra assumiu o trono logo após a morte de teu pai, em 13 de março de 1955. Essa instabilidade política coincidiu com a invasão do Tibete pela China no início dos anos 50, que levou a Índia a assumir uma postura de aumentar sua influência sobre o Nepal como uma forma preventiva de contrapor a ameaça militar chinesa (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Nesse viés, o país não exclui a possibilidade de cooperação entre as grandes potências e os países historicamente colonizados, desde que seja feita de forma benéfica e não imposta ou institucionalizada. Ainda, defende os princípios de cooperação econômica e desenvolvimento mútuo entre os participantes da Conferência, bem como as questões de promoção da paz entre os países do globo.

x. Paquistão

O Estado paquistanês encontra-se independente desde o fim do Raj britânico̧ motivado em grande parte pelas campanhas de desobediência civil articuladas pela liderança de Mahatma Gandhi, que tomou parte no outono de 1947. Imediatamente após sua independência, o território governado até então por forças

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estrangeiras se viu envolto em uma terrível guerra civil motivada por diferenças étnicas entre populações muçulmanas, predominantes no território do atual Paquistão, e hindus, majoritárias na atual Índia. O conflito se resolveu com a dissolução do território entre as nações paquistanesa e indiana. Desde então, o Paquistão é constituído por uma República Federativa Islâmica.

Esse país foi um dos organizadores da Conferência, demonstrava-se como um dos mais fortes apoiadores das causas anti-imperialistas em função de seu passado de colônia britânica. Durante as discussões, essa delegação buscava reforçar a necessidade de coesão econômica e política dos países periféricos que encontraram sua independência recentemente e aqueles que ainda lutavam por ela. No momento da Conferência, o país encontrava-se sob Lei marcial imposta pelo governo de Malik Ghulam, postura reconhecida como um abuso histórico até os dias atuais.

y. República Popular da China

A República Popular da China foi formada em 1949 quando a revolução socialista liderada por Mao Tsé-Tung derrubou o governo nacionalista que dominava o território até então. O país recém-formado tornou-se, consequentemente, aliado da URSS. A China ocupou papel de destaque na Conferência de Bandung. Em decorrência de seu passado de exploração colonial – que lhe concedia alto grau de legitimidade histórica- além de seu grande contingente populacional e seu extenso território, esse país tornou-se parte da liderança dos movimentos anti-colonialistas do século XX.

Motivado pela vontade de garantir o maior número possível de aliados, a estratégia chinesa durante a Conferência de

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Bandung consistiu em se aproximar de quaisquer países, independentemente de seu sistema econômico, na tentativa de construir uma rede de relacionamentos internacionais aliados com as demais forças afro-asiáticas.

Ademais, faz-se pertinente acrescentar que, juntamente com a Índia, a República Democrática Chinesa foi a responsável pela enumeração dos princípios que regeriam a nova tentativa de articulação de países periféricos, a exemplo da reciprocidade, respeito da soberania, não intromissão em assuntos internos e horizontalidade em termos de valor. Além disso, cabe aqui ressaltar que tais princípios também vieram a influenciar as demais iniciativas de desenvolvimento sul-sul, nas quais a China continuou a manter sua posição de destaque em decorrência de sua crescente relevância econômica e geopolítica.

z. República Popular do Vietnã

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Indochina era pertencente ao Japão e administrada pela França. Em 1940, tropas japonesas instalaram-se em todo o país. Isso foi decorrência de um acordo entre França e Japão e fez com que a Indochina se tornasse o ponto estratégico mais importante para os japoneses no sul da Ásia. Em 1941, o Partido Comunista formou uma aliança nacional chamada Liga pela Independência do Vietnã, o Viet Minh. Quando os japoneses se renderam em 1945, o Viet Minh, sem nenhuma oposição grande e organizada, reclamou o poder da recém proclamada República Democrática do Vietnã (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

No entanto, o desejo de total independência do governo vietnamita contrastava abruptamente com as intenções de retomada de poder colonial da França, que logo foram manifestadas através da declaração do alto comissário francês na

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Indochina de que a Cochinchina, parte mais ao sul do Vietnã, a partir de 1946 seria uma república autômata. No fim de 1946, os franceses bombardearam a cidade de Haiphong e a Primeira Guerra da Indochina teve início quando o Viet Minh tentou sobrecarregar as tropas francesas em Hanoi (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

O desejo por independência era geral e foi algo que uniu as oposições no país, o que tornou mais árdua a tarefa dos franceses de lidar com o ímpeto nacionalista da população e em 1949, a França proclamou a Cochinchina como Estado Associado do Vietnã. Para os nacionalistas, o poder continuava com o Viet Minh, que iniciaram uma crescente guerrilha no país, posteriormente ajudada pelo governo comunista da China. Mesmo com o apoio dos Estados Unidos da América, preocupados com o crescimento do comunismo, a França, depois da pesada derrota na Batalha de Dien Bien Phu (1954), decidiu negociar o fim da guerra na Conferência de Geneva (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

Foi decidido que o território vietnamita seria dividido na altura do paralelo 17: os Viet Minh deveriam recuar ao norte do paralelo e todos os franceses e estados associados ficariam ao sul. O norte, com o apoio da União Soviética e da China, embarcaram em um programa de industrialização socialista e abraçaram mais práticas com o tempo, como coletivizar a agricultura em 1958 (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

aa. Síria

Depois do armistício Franco-Germano de 1940, a incerteza política, escassez de mercadorias e o aumento contínuo dos preços causou distúrbios na Síria. Em junho de 1941, britânicos, a Commonwealth, e as Forças Francesas Livres ocuparam o país e

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os franceses proclamaram a sua independência. A situação de invasão permaneceu até 1946, ano em que o país tornou-se membro das Nações Unidas. Em 1948, a intervenção árabe na Palestina em oposição à criação do estado de Israel obteve uma terrível derrota e isso trouxe um descrédito extremamente grande para o governo sírio (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

A Síria, com uma enorme heterogeneidade de povos e religiões, acabou por se tornar um país com uma grande discrepância entre as situações da população urbana, onde ocorria uma notável ostentação de uma pequena parte da sociedade e uma pobreza geral nas massas. Os sunitas eram os principais membros do governo à época e foram os responsáveis pela disparidade econômica no país. Ao longo dos anos, as minorias e a classe média compartilhava um crescente sentimento de rejeição pelo governo atual, que priorizava o desejo Pan-arábico aos problemas de insatisfação popular interna (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

A Síria acreditava ser necessária a luta contra o colonialismo no norte da África, bem como o suporte à Indonésia na situação da Nova Guiné. Além disso, queria reparar os danos causados aos árabes na Palestina (FOREIGN OFFICE, 1955).

bb. Sudão

Desde 1899, os governos britânico e egípcio compartilhavam o controle do Sudão. Em 1936, a Grã-Bretanha e o Egito chegaram a um acordo no Tratado Anglo-Egípcio, que permitiu às autoridades egípcias retornarem ao Sudão. No entanto, nenhuma autoridade sudanesa sequer foi solicitada a comparecer ao encontro, o que influenciou no desenvolvimento de um tipo de consciência nacional e isso corroborou a indignação popular. Por meio de diversas revoltas e, sobretudo, da Revolução

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de Julho de 1952, liderada por Gamal Abdel Nasser e Muḥammad Naguib, o governo egípcio assinou um acordo com a Grã-Bretanha concedendo autogovernança ao Sudão e autodeterminação em três anos para os sudaneses (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018).

A partir desse processo de independência parcial, nas eleições parlamentares de dezembro de 1953, entra no poder o Partido Unionista Nacional e pela primeira vez, em janeiro de 1954, um nacionalista, al-Azhari, torna-se primeiro-ministro do Sudão (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2018). Essa recente, e ainda frágil conquista da nação, trouxe aos debates uma singular avidez pelo próprio exercício da soberania. Nesse sentido, a consolidação de cooperações econômicas, políticas e culturais entram no foco do discurso sudanês e, por isso, o país toma posição de destaque na defesa e na ressignificação de um dos princípios basilares da Conferência: a autodeterminação.

cc. Tailândia

Sob uma perspectiva global, nem a era das conquistas coloniais, nem a era das guerras globais do século XX ou a era dos conflitos na Ásia foram capazes de comprometer os laços entre Tailândia e EUA (GREENFIELD, 2005). Dito isso, a Tailândia mostrou-se uma forte aliada dos interesses ocidentais durante a Conferência, além de ter sido um dos poucos países presentes em Bandung que não sofreu com uma dominação direta, e o único país do sudeste asiático que nunca foi colonizado. Essa condição acabou por distanciar o país dos princípios de não-alinhamento.

Nessa perspectiva, a postura tailandesa se baseava em acordos e cooperações políticos, econômicos e culturais, com o objetivo de desenvolver o país e suas relações em meio à

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comunidade internacional de forma satisfatória. Um exemplo prático foi a assinatura, em setembro de 1954 do acordo que deu origem à Organização do Tratado do Sudeste Asiático , junto a 10

Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Filipinas e Paquistão (BISSIO, 2015).

Por fim, a Tailândia acredita que a cooperação com o ocidente representa uma possibilidade de garantir maior protagonismo às reivindicações da Conferência, além de promover o desenvolvimento mútuo em consonância com as potências do Norte. Com isso, é fundamental a exaltação da história positiva de cooperação tailandesa, bem como a conciliação desta com os princípios que regem Bandung.

dd. Turquia

Em 1955, o governo da Turquia passava por uma época de revoltas populares desencadeadas por um governo que de certa forma representava uma ameaça às aspirações da população por liberdade e autodeterminação (BISSIO, 2015). Tal situação levou o país a adotar uma posição certamente delicada no que se refere ao respeito à soberania e à liberdade cultural.

Outro ponto da política externa turca consiste no apoio militar e econômico claro por parte das nações do ocidente, denotado pela participação na OTAN desde 1952. Além disso, é notória a preocupação por parte da Grã-Bretanha em manter a posição turca inalterada no oriente médio, como exemplificado pelo acordo que findou a ocupação britânica do Canal de Suez em 1954, o qual também afirmava que, em face de um ataque à Turquia e outros países, a base no local poderia ser reativada. Em 24 de fevereiro de 1955, a Turquia e o Iraque assinaram uma

10

South East Asia Treat Organiaztion (SEATO), em inglês.

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aliança militar, o chamado Pacto de Bagdá, que corroborava a extensão da presença ocidental na região (HOURANI, 2012).

Diante desse cenário, assim como Filipinas e Tailândia, a Turquia defendeu e se dispôs a lutar pelos princípios de Bandung, mas ainda destacou a importância de apoio internacional fora da Conferência para o êxito e pragmatismo de suas resoluções. Ainda, o país ressaltou a impossibilidade de atuação da Conferência na resolução de conflitos específicos ou na redução das incompatibilidades ideológicas que tão fundamentalmente separam nações da Conferência (EMBAIXADA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, 1955).

8. MATERIAL ADICIONAL E BIBLIOGRAFIA 

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