futebol, um fenÔmeno midiÁtico alÉm da prÁtica esportiva – uma análise do conteúdo...

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8/7/2019 FUTEBOL, UM FENÔMENO MIDIÁTICO ALÉM DA PRÁTICA ESPORTIVA – Uma análise do conteúdo informativo e a hibri… http://slidepdf.com/reader/full/futebol-um-fenomeno-midiatico-alem-da-pratica-esportiva-uma-analise 1/54 INTRODUÇÃO Esta pesquisa discute o teor informativo inserido nos comentários de especialistas em futebol. Algumas destas informações propaladas por tais comentaristas esportivos podem exceder limites. Essas fronteiras são rompidas quando a abordagem ultrapassa os assuntos da vida pública das celebridades esportivas. Os profissionais da imprensa esportiva não se limitam ao certame e vão além. Aproximam-se, então, da linha tênue e confusa que existe entre o jornalismo esportivo e o jornalismo de entretenimento quando se confunde os espaços de cada uma destas editorias jornalísticas. A editoria que aborda assuntos da vida pessoal das celebridades tem explícito crescimento no Jornalismo brasileiro atual, haja vista que alguns dos canais televisivos brasileiros mais tradicionais possuem ao menos um programa voltado para o jornalismo de fofocas, a fim de entreter seus espectadores. Exemplos claros são Vídeo Show, da Rede Globo de Televisão; e TV Fama, da Rede TV. Ambos abordam principalmente a vida dos ricos e famosos do mundo artístico. As celebridades e até mesmo profissionais da imprensa, conservadores, procuram se defender e atacar, dependendo de cada situação, quando têm suas vidas escancaradas pelas emissoras de TV sem que haja cuidado algum com a forma como suas particularidades são expostas em rede para todo o Brasil. Com as celebridades futebolísticas não é diferente. Elas também são alvos da fascinação dos jornalistas e fotógrafos de plantão. Este trabalho serve também para entender questões políticas e a linha editorial do veículo. Nesse sentido, uma das indagações que podem ser feitas é se existe resistência por parte de profissionais e executivos das empresas jornalísticas quando o assunto é a abordagem da vida privada das celebridades esportivas e a inclusão do jornalismo de “fofoca” nas transmissões de eventos e programas esportivos. “Há, contudo, de se perguntar como a instituição imprensa delimita, hoje, o tal interesse público e quais são exatamente as situações da vida particular que, se publicadas, seriam condenáveis” (PIMENTEL 2007). 6

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa discute o teor informativo inserido nos comentários de especialistas em futebol.

Algumas destas informações propaladas por tais comentaristas esportivos podem exceder limites. Essas fronteiras são rompidas quando a abordagem ultrapassa os assuntos da vida

pública das celebridades esportivas. Os profissionais da imprensa esportiva não se limitam ao

certame e vão além. Aproximam-se, então, da linha tênue e confusa que existe entre o

jornalismo esportivo e o jornalismo de entretenimento quando se confunde os espaços de cada

uma destas editorias jornalísticas.

A editoria que aborda assuntos da vida pessoal das celebridades tem explícito crescimento noJornalismo brasileiro atual, haja vista que alguns dos canais televisivos brasileiros mais

tradicionais possuem ao menos um programa voltado para o jornalismo de fofocas, a fim de

entreter seus espectadores. Exemplos claros são Vídeo Show, da Rede Globo de Televisão; e

TV Fama, da Rede TV. Ambos abordam principalmente a vida dos ricos e famosos do mundo

artístico.

As celebridades e até mesmo profissionais da imprensa, conservadores, procuram se defender 

e atacar, dependendo de cada situação, quando têm suas vidas escancaradas pelas emissoras

de TV sem que haja cuidado algum com a forma como suas particularidades são expostas em

rede para todo o Brasil. Com as celebridades futebolísticas não é diferente. Elas também são

alvos da fascinação dos jornalistas e fotógrafos de plantão.

Este trabalho serve também para entender questões políticas e a linha editorial do veículo.

Nesse sentido, uma das indagações que podem ser feitas é se existe resistência por parte de

profissionais e executivos das empresas jornalísticas quando o assunto é a abordagem da vida

privada das celebridades esportivas e a inclusão do jornalismo de “fofoca” nas transmissões

de eventos e programas esportivos.

“Há, contudo, de se perguntar como a instituição imprensa delimita, hoje, o tal interesse

público e quais são exatamente as situações da vida particular que, se publicadas, seriam

condenáveis” (PIMENTEL 2007).

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Segundo Pimentel, usando o conceito de olimpianos Morim cita, as personalidades sobre-

humanas produzidas pela cultura de massa, travestida de um papel mitológico, emergem nas

intimidades contemporâneas, produzindo identificações1.

Estes mesmo olimpianos também têm sua parcela de culpa ao não delimitarem o que faz parte

da vida pública e o que é privado. Como consequência, jornalistas à procura de um furo de

reportagem não se importam com a exposição de uma figura que desperta interesse do

público, produzindo informações, sem que haja minuciosa apuração. Tais informações muitas

vezes  causam  transtornos  como  processos  jurídicos  contra  repórteres,  comenta

esportivos ou contra a própria emissora responsável pela transmissão dos acontecimentos.

Como forma de possibilitar essa análise, foi escolhido o diário televisivo Minas Esporte.

Tradicional programa vespertino especializado em esportes, a atração enfatiza os dois clubes

com maior torcida na capital mineira, Atlético e Cruzeiro. O Minas Esporte está no ar há 30

anos e é transmitido para cerca de 14 milhões de mineiros, segundo informações da “home

page” da emissora responsável pelo programa, a Rede Bandeirantes de Televisão.

Com relação ao trabalho dos jornalistas esportivos, os chamados comentaristas vivem em umalinha tênue entre a veracidade e a leviandade. A palavra comentário, no senso comum, nos

remete a algo desprovido de estudo prévio e responsabilidade sob o que é proferido. São

apenas deduções a posteriori de experiências. Os profissionais da comunicação precisam ser 

mais cuidadosos com o que propalam e uma solução para isso é o estudo prévio sobre o que

será abordado.

A função do comentarista dentro de uma emissora de televisão é a de veicular informaçãojornalística para seus telespectadores. Este profissional que possui bastante responsabilidade,

joga com a credibilidade da empresa para a qual presta serviço, e até mesmo com seu próprio

nome, uma vez que não pode tecer comentários sem que esteja totalmente inserido no tema e

possua conhecimento de causa do assunto, adquirido antes mesmo da transmissão. A ideia

aqui não é tecer conjecturas sem firmar, antes, compromisso decisivo com a própria verdade e

com a linha editorial do veículo que representa.

1 MORIN, Edgar. Cultura de massa no século XX: o espírito do tempo. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 2005.

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1 A TELEVISÃO NO BRASIL

Importante fonte de informação e entretenimento, estas são características das mais evidentes

ao ligarmos uma televisão, além de sua aproximação com o mundo real.

“A imagem viva, em movimento, carrega uma dose muito maior de emoção. As palavras

devem, então, servir de suporte a essa imagem, dar apoio, completá-la” (PATERNOSTRO,

1999, p. 61).

O cotidiano das sociedades atuais, principalmente a brasileira, está totalmente inserido na

televisão. Nela existe uma diversidade imensa de programas dos mais diversos gêneros a fimde educar, informar e entreter os telespectadores com assuntos de cunho pedagógico,

informativo e de entretenimento.

A televisão possui uma característica que a fez ser mais interessante e crível que o rádio. Trata-

se da imagem, que tem a capacidade de exibir o mundo ao próprio mundo, reduzindo assim as

distâncias entre os povos. Nesse quesito, este meio de comunicação, é superado apenas pela

internet. Ambos têm o sedutor poder de transmitir acontecimentos do mundo inteiro quase queinstantaneamente com o diferencial da apresentação de imagens. Tal característica fez com que

a televisão tomasse o lugar do rádio no gosto popular brasileiro.

 

Mas é muito mais quando percebemos que influencia atitudes, determina valores, mudacomportamentos, redireciona caminhos, questiona posturas, revela avanços, denunciaatrocidades, discute, analisa, comenta, explica, informa, ensina, entretém e deseduca. Etambém emociona, choca, revolta, entristece e alegra (PATERNOSTRO, 1999, p. 9).

Rezende (2000) ressalta que a mídia televisiva, com sobreposição de som e imagem, necessitada busca do novo. Trata-se aqui de uma eterna evolução. Mas o que é percebido é uma

repetição dos modelos, o que ele chama de “sempre velho”, porém, com pequenas mudanças.

 

Em uma aparente contradição, a TV exalta, como mandamento máximo da indústriacultural, a ideia de que tudo deve ser descartável, de modo a impingir a impressão deque se deve estar sempre em busca do novo. A TV opera, então, a troca compulsiva denotícias, de cenas, de personagens, sempre subordinada ao tempo, elemento básico deestrutura de produção (REZENDE, 2000, p. 33).

Contudo, o mais fascinante neste meio de comunicação é sua dinâmica e os vários formatos de

programas que a televisão propõe a quem faz uso dela para receber quaisquer tipos de

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informação ou apenas procura se divertir com uma programação de entretenimento. Vera Iris

Paternostro apresenta a televisão da seguinte forma:

“Ligue o botão da TV gire os canais. Novelas, filmes, notícias, desenhos, música, culinária,

shows, aulas, esportes, brincadeiras, debates, informação e entretenimento. O universo da TV

em constante (r)evolução: o alvo do homem” (PATERNOSTRO, 1999, p. 19).

No trecho acima,  Vera Íris Paternostro faz uma  breve ilustração sobre o arcabouço

informativo proporcionado pela televisão e aponta porque este aparelho que é resultado de

várias experiências científicas conquistou seu espaço com volúpia em um período histórico

em que o rádio, no Brasil, dominava os formatos de comunicação de massa. 

No período em que o rádio se fixava como o mais abrangente meio informativo no país,

conquistando considerável audiência durante a chamada “época de ouro do rádio brasileiro”, o

frei mexicano José Mojica transmitiu, de forma pioneira no Brasil, a imagem gerada por um

emissor para captação de um receptor. Porém, o sinal não atingia mais de 50 metros e não

ultrapassou os limites das instalações dos Diários Associados, em São Paulo.

Apenas três meses após a experiência de José Mojica, em 20 de julho de 1950, foi veiculado,

na Faculdade de Medicina de São Paulo, um vídeo chamado de Educativo. Em 10 de

setembro, começam as transmissões experimentais do que viria a ser a TV Tupi. O Brasil

entra para a história das transmissões televisivas e os Diários e Emissoras Associados se

voltaram definitivamente para a TV. Até então, os Diários Associados trabalhavam apenas

com informações transmitidas pelas mídias rádio e jornal impresso.

Chateaubriand, com o intuito de implantar um sistema televisivo no Brasil, trouxe técnicos

norte-americanos da Radio Corporation of America (RCA), importou equipamentos e instalou

uma antena no alto do edifício do Banco do Estado de São Paulo para transmitir as imagens

que viriam dos estúdios montados no prédio dos Diários Associados.

Nessa época, a indústria brasileira se encontrava em acelerado processo de expansão, os

grandes centros urbanos começariam a receber investimentos em infra-estrutura básica para

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desenvolver atividades comerciais, financeiras, de prestação de serviços e educação. Com

isso, as atividades televisivas seguiram o mesmo caminho2.

Até o final da década, funcionavam no País as TVs Tupi, Record e Paulista, em São Paulo;

Tupi, Rio e Excelsior, no Rio de Janeiro; além da Itacolomi, em Belo Horizonte. O primeiro

telejornal brasileiro foi ao ar no dia 19 de setembro de 1950. O horário da transmissão era

variável, poderia começar 9h30 ou às 10h da manhã. Tal variação se dava por problemas

ocorridos com a aparelhagem de transmissão3.

Logo no início, ainda nos anos 1950, os patrocinadores perceberam o potencial expansivo da

nova mídia. Por isso, aplicaram capital e controlavam o que seria transmitido. Os brasileirosjá possuíam cerca de 7 mil aparelhos nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Assim,

Paternostro (1999) descreve que a força desses patrocinadores dentro das empresas de

comunicação era tão grande, que os telejornais, e outros programas de audiência elevada

herdavam os nomes das empresas que os apoiavam economicamente: Repórter Esso,

Telenotícias  Panair,  Telejornal  Bendi,Reportagem  Ducal,  Telejornal  Pirelli,  Sabatina

Maisena, Grande Gincana Kibon, Divertimentos Ducal, Mappin Movietone, Concertos

Matinais Mercedes Benz, Teatro Walita, Histórias Maravilhosas Bendix.

Hoje, mais do que nunca, existe uma relação de troca entre as emissoras de televisão e os

anunciantes. Os patrocinadores necessitam da televisão para promover seus produtos por meio

de publicidades durante os intervalos comerciais ou, até mesmo, durante as transmissões de

programas ou eventos televisivos, sendo que estas inserções podem ser sutis, quando o produto

é exposto de forma sutil ou de forma aberta, quando a publicidade invade a programação.

“Essas razões financeiras, operacionais e tecnológicas motivam a TV a se utilizar com

frequência da técnica jornalística radiofônica. Em compensação, a TV tem um trunfo – a

imagem – que a qualifica como meio de comunicação mais fascinante” (REZENDE, 2000, p.

71).

2 Tudo sobre TV. Disponível em: <www.tudosobretv.com.br/histortv/tv50.htm>Acesso em: 15/04/2010

3 Tudo sobre TV. Disponível em: <www.tudosobretv.com.br/histortv/tv50.htm>Acessado em: 15/04/2010

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No ano de 1954, o Brasil já possuía 34 mil aparelhos de televisão, mas a transmissão ainda

era ineficiente. Exemplo disto é o fato de que o anúncio da morte do então Presidente Getúlio

Vargas, feito pelo rádio nas primeiras horas do dia 24 de agosto de 1954, só foi veiculado pela

TV no início da tarde, quando começava a programação.

O crescimento das emissoras de TV era acelerado e o gosto popular pela nova mídia foi tão

instantâneo que, em 1956, quando já estavam em funcionamento no Brasil cerca de 141 mil

aparelhos de TV. As três emissoras de São Paulo TV Tupi, TV Paulista e TV Record, já

arrecadavam mais que as treze maiores redes de rádio da cidade4.

Então, o Governo Federal, a fim de controlar o conteúdo transmitido pelas emissoras institui,em 27 de agosto de 1962, o Código Brasileiro de Telecomunicações. Esse código cria regras e

requisitos para aquisição de concessões para as emissoras de televisão e também atribui ao

governo total autonomia para censurar e rescindir as liberações de transmissão. Nessa época,

já estavam no ar grandes veículos como a TV Tupi, TV Paulista, TV Rio, TV Excelsior, TV

Cultura e TV Gaúcha.

O primeiro telejornal da TV brasileira foi o Imagens do Dia, que nasceu junto com a TV Tupiem São Paulo, no ano de 1950. Mas o primeiro telejornal de sucesso no Brasil foi o Repórter 

Esso, que estreou em 1953, também na Tupi, e ficou no ar por quase vinte anos. O Edição

Extra foi o pioneiro no horário vespertino, transmitido pela TV Tupi de São Paulo. A TV

Excelsior estreou em 1962 o Jornal de Vanguarda, que depois passou por outras emissoras:

Tupi, Globo, Continental e Rio, quando foi retirado do ar pela censura em 19685.

O informativo Show de Notícias, também da TV Excelsior de São Paulo, transmitido entre osanos de 1963 e 1964, era dirigido pelo jornalista Fernando Pacheco Jordão, com a mesma

linha do Jornal de Vanguarda. Mas o mais famoso de todos os telejornais brasileiros é o

Jornal Nacional, que foi o primeiro noticiário em rede nacional. Foi ao ar em 1º de setembro

de 1969. Gerado no Rio de Janeiro e transmitido para outras emissoras em vários pontos do

Brasil, ao vivo, através do sistema via satélite da Embratel, é o mais antigo e mais assistido

4 Tudo sobre TV. Disponível em: <www.tudosobretv.com.br/histortv/tv50.htm>

Acessado em: 15/04/2010

5 Tudo sobre TV. Disponível em: <www.tudosobretv.com.br/histortv/tv60.htm>Acessado em: 15/04/2010

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telejornal no ar e foi o primeiro a apresentar reportagens em cores. “O Jornal Nacional, da

Rede Globo, um serviço de notícias integrando o Brasil novo, inaugura-se neste momento:

imagem e som de todo o Brasil” (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p. 24).

A televisão realmente dispara como meio de comunicação eletrônica e posteriormente de

qualquer forma de mídia com maior expressão no Brasil com a inauguração das transmissões

via satélite. As transmissões em rede possibilitaram uma maior integração das produções

jornalísticas brasileiras com todo o país e do Brasil com o restante do mundo com envio de

conteúdo informativo quase que instantaneamente. “A comunicação eletrônica propicia, assim,

o rompimento das fronteiras linguísticas e culturais” (REZENDE, 2000, p. 70).

Como se viu, a televisão brasileira consolidou-se na década de 60. Nesse período, chegam ao

País os equipamentos de videotape. A Tupi foi a primeira TV a utilizá-los, ao gravar a festa

de inauguração de Brasília em 21 de abril de 1960 e exibi-la em várias cidades. A TV

Excelsior foi uma das primeiras emissoras a aproveitar o potencial oferecido pelos recursos do

videotape.

A expansão das televisões coincide com o regime ditatorial no Governo Brasileiro, quando asemissoras viviam sob o cerceamento dos militares. “Qualquer assunto poderia ser alvo de

censura, desde uma epidemia de meningite em São Paulo até a queda de um carro de um

policial no mangue” (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p. 35).

Nesta época, casos delicados, como a morte de Vladmir Herzog, diretor de jornalismo da TV

Cultura em 1975; do metalúrgico Manuel Fiel Filho, em janeiro de 1976, nas dependências do

Departamento de Operações de informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) de São Paulo; e do ex-presidente Juscelino Kubitschek em agosto do mesmo ano, em

um acidente de carro na rodovia Presidente Dutra, até hoje trazem polêmica. Isto porque o

noticiário não pôde aprofundar-se na apuração dos fatos e limitou-se somente a transmitir o

factual.

O ano de 1976 foi mesmo marcado por muita violência e atentados que se tornaram notícia.

Alguns deles foram direcionados aos profissionais da imprensa. No dia 19 de agosto, uma

bomba explodiu na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), não causando vitimas.

Outro artefato explodiu no telhado da casa do presidente das Organizações Globo, Roberto

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Marinho, na madrugada de 22 de setembro do mesmo ano, destruindo grande parte do

segundo andar. Apesar da desconfiança de que se tratavam de atos terroristas provocados

pelos militares, um grupo identificado como Aliança Anticomunista Brasileira assumiu a

autoria de alguns desses atentados, mas ninguém foi identificado ou preso pelas autoridades.

A causa destes ataques é desconhecida até então.

 

O momento político no Brasil era conturbado, e as emissoras, cerceadas pela truculenta

fiscalização do Governo Militar, não se aprofundavam na cobertura de fatos importantes para

a sociedade brasileira. Tudo isto causava descontentamento tanto nos cidadãos curiosos pelo

desenrolar destes fatos quanto nos movimentos revoltosos.

As coberturas jornalísticas superficiais, sem o devido aprofundamento dos fatos, causavam

aversão de algumas lideranças sociais diante da presença dos profissionais da imprensa

brasileira. Durante a cobertura da greve dos metalúrgicos do ABC paulista, em 1978, as

equipes de jornalismo tiveram dificuldades para desenvolver seu trabalho, já que os militares

ordenaram que nas coberturas não houvesse som ambiente e não se desse voz às lideranças

sindicais. Isso gerou grande descontentamento entre os grevistas, que reagiram com extrema

violência à presença de jornalistas nos locais de manifestação.

Porém, a credibilidade das emissoras de TV voltou a crescer com a veiculação do famoso

atentado no centro de convenções Riocentro, acontecido em 30 de abril de 1981, com a

explosão de uma bomba dentro de um carro onde estavam dois policiais do temido DOI-

CODI. Segundo as autoridades, os policiais Guilherme Pereira do Rosário e Wilson Luís

Chaves Machado faziam uma operação de rotina, mas outra bomba parecida com a que

explodira no carro em que estavam fora encontrada na caixa de força do espaço de eventos.“Essa cobertura representou para os militares um grande telhado de vidro, por isso eles

praticamente ocuparam a Rede Globo e não deixaram que a gente exibisse coisa nenhuma;

nos censuraram o tempo todo” (1981 conforme NOGUEIRA; MEMÓRIA GLOBO, 2004, p.

103)6.

Um sintoma de que as emissoras nacionais teriam maior liberdade para apresentar e explicar 

os fatos ocorreu em 2 de março de 1983, quando o deputado Dante de Oliveira apresentou ao

6 MEMÓRIA GLOBO, Jorge. Jornal Nacional: A notícia faz história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004

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Congresso Nacional uma proposta de emenda à Constituição. Ela previa o restabelecimento

de eleições diretas para a Presidência da República, em 1984.

Tal ação representava o primeiro passo para a queda da ditadura militar e o início da

caminhada nacional rumo à redemocratização, com o restabelecimento das liberdades de

expressão e de imprensa.

Porém, os jornalistas de hoje vivem novos desafios e possuem temores diferentes dos

profissionais da imprensa militantes políticos de 30 anos atrás. Com o advento das novas

tecnologias, fato que afetou o jornalismo, as equipes diminuíram e a responsabilidade do

repórter  aumentou.  Algumas  emissoras  de  hoje,  principalmente  as  com  menor

aquisitivo, ou mesmo as que enviam correspondentes ao exterior, não dispõem de grandesequipes.

Apenas um repórter é responsável por buscar os melhores ângulos para luz, fotografia e, dali

mesmo, enviar sua mensagem para todo o planeta através de um link de internet, além de ser o

responsável por entrevistar personagens que irão compor sua matéria. Bem diferente das

primeiras experiências que não ultrapassavam as dependências de um prédio no centro de São

Paulo.

Nos dias de hoje, a televisão, mídia mais acessada no Brasil e de maior alcance social, é um

importante meio de informação, entretenimento e difusor da cultura de massa. Assim, ela serve

como principal referência informativa no que tange os mais diversos assuntos, como religião,

política, economia e, por que não? O esporte.

Na TV estão, dentre as editorias jornalísticas mais abordadas pelos telejornais, economia,política, esportes. Tais editorias possuem inclusive programas de abordagem exclusiva. Já no

meio esportivo, as atenções da maioria das emissoras brasileiras estão apontadas para o

futebol. Existem inúmeros programas esportivos com enfoque principal no esporte mais

praticado no mundo, além de transmissões ao vivo de partidas durante a semana.

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2 JORNALISMO E SEGMENTAÇÃO

2.1 Gêneros Jornalísticos

O homem possui o poder da comunicação através da fala, primeira forma de comunicação

humana e que deu origem à linguagem escrita. Mas esta fala deve seguir regras mais estritas,

regras tais que têm a intenção de suprir a falta de relações entre quem fala e quem ouve.

 

Hoje, recebemos informações a todo momento pelos meios de comunicação disponíveis em

nossa sociedade. As mídias informativas  como TV, rádio, jornais impressos e internet

fomentam nosso conhecimento com materiais que seguem uma estrutura.

O veículo de comunicação observa, registra e relata os fatos da realidade, informando a

sociedade, fazendo assim o chamado jornalismo informativo. Além disto, as empresas

jornalísticas expressam opiniões sobre determinado fato, e produzem o jornalismo opinativo.

E quando a veiculação da informação enriquece de conhecimento uma sociedade consumidora

deste produto jornalístico, esclarecendo suas dúvidas ao explicar e detalhar fatos, este fruto é

o jornalismo interpretativo.

Muitos estudiosos que propuseram categorias no jornalismo brasileiro, porém, as mais

seguidas são as de José Marques de Melo e Luiz Beltrão. E se falarmos em classificação dos

gêneros do jornalismo brasileiro veremos que Luiz Beltrão e José Marques de Melo

distinguem-se suavemente um do outro em suas propostas.

Se tomarmos como parâmetro o pensamento de Beltrão, temos três categorias: Jornalismo

Informativo, Jornalismo Interpretativo, Jornalismo Opinativo.

O jornalismo informativo, para Beltrão, é responsável por notícia; reportagem; história de

interesse humano e informação pela imagem. O jornalismo interpretativo é responsável pela

reportagem em profundidade. Ele se apresenta ao público com textos de maior peso

jornalístico, geralmente impressos e com o intuito de acionar a opinião pública.

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Outra categoria proposta por Beltrão é o Jornalismo Opinativo. Nele, estão o editorial, o

artigo, a crônica, a opinião ilustrada e a opinião do leitor.

Os gêneros possuem suas especificidades, os informativos são assinados pelo seu autor e eles

se diferenciam uns dos outros. A notícia e a reportagem estão na ordem cronológica dos

acontecimentos, já a nota trata de relatos que estão em acontecimento.

A notícia, relato por inteiro de um fato recente, diferencia-se da reportagem, relato mais

elaborado de um acontecimento, que inclui pesquisas enriquecedoras do conteúdo e possui

compromisso com o tempo de ocorrência do fato. Já a entrevista só existe quando os

entrevistados respondem perguntas feitas pelo entrevistador.

No caso dos gêneros opinativos, percebe-se que o comentário, o artigo e a resenha também têm

sua autoria definida, assim como nos gêneros informativos; mas o editorial, não. O editorial

representa o posicionamento do veículo informativo com relação a determinado acontecimento.

O comentário e o editorial são posições de acontecimentos recentes. Já conforme Marques de

Melo (1992) diz que a resenha e o artigo se caracterizam por seus autores serem alheios ao

meio de comunicação, ou seja, não terem nenhum vínculo empregatício com a empresa.

Mais detalhes e as especificidades dos gêneros jornalísticos brasileiros são apresentados no

livro Gêneros Jornalísticos na Folha de São Paulo, por José Marques de Melo, estudioso do

jornalismo nacional.

Nota: “Corresponde ao relato de acontecimentos que estão em processo de configuração e por 

isso é mais frequente no rádio e na televisão” (MARQUES DE MELO, 2003, p. 17). A nota é

uma informação breve sobre algo, sem aprofundamento. Geralmente, relata um assunto

menos importante ou algo que será relatado de forma mais aprofundada em uma próxima

oportunidade, apresentado em forma de reportagem ou mesmo de notícia. “É uma notícia

curta”. (MARQUES DE MELO, 2003, p. 15).

A notícia: é um “relato integral de um fato que já eclodiu no organismo social”. (MARQUES

DE MELO, 2003, p. 17). Trata-se de um relato de um acontecimento que mescla imagem,

sons e “passagem” do repórter, no caso do material ter sido produzido para televisão. Na

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notícia, “são apresentados  os fatos sem comentários, julgamentos  e/ou interpretações”

(MARQUES DE MELO, 2003, p. 15), mas ela deve ser recente, verdadeira e factual.

Já a reportagem, “é o relato ampliado de um acontecimento que já repercutiu no organismo

social e produziu alterações que são percebidas pela instituição jornalística” (MARQUES DE

MELO, 2003, p. 17).

A notícia caracteriza-se por possuir um texto mais longo e aprofundado dos fatos. Para que

haja excelência em sua produção, é necessário pesquisa e relatos de autoridades no assunto

reportado.

Outro gênero que exige extensa pesquisa sobre o assunto e em especial sobre a fonte é a

entrevista. Ela  “é  o  relato  que  privilegia  um  ou  mais  protagonistas  do  

possibilitando-lhes contado direto com a coletividade” (MARQUES DE MELO, 2003, p. 17).

A entrevista é um gênero que ocorre quando o entrevistador realiza perguntas que são

respondidas  pelo  entrevistado.  Este  entrevistado,  geralmente,  é  uma  autoridade

determinada área do conhecimento, testemunha de um acontecimento de grande vulto social,políticos, celebridades etc.

O editorial é usado para representar a opinião do veículo informativo e não do jornalista ou

especialista que contribui para o jornal ou revista. “O editorial é o espaço para a opinião da

instituição - a autoria corresponde à instituição jornalística” (MARQUES DE MELO, 2003, p.

17). Este gênero se caracteriza por não ser assinado, pois é a posição da empresa de

comunicação com relação a um fato.

No comentário, o próprio nome deixa claro que, assim como o editorial, trata-se de outro

gênero jornalístico no qual é livre a tomada de partido, do jornalista ou especialista, sobre

determinado assunto. “Presume autoria definida, pois é o indicador que orienta a sintonização

do  receptor.  Estruturam-se  de  uma  angulagem  temporal  que  exige  continui

imediatismo” (MARQUES DE MELO, 2003, p. 17). É a posição de acontecimentos recentes e

leva a assinatura do comentarista.

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Mais um gênero que permite a opinião é o artigo. Ele “contempla valores diferenciados, mas

não se caracteriza pela freqüência, aparecendo aleatoriamente nos jornais” (MARQUES DE

MELO, 2003, p. 17).

 

A resenha, outro espaço opinativo do jornalismo, se divide em jornalística, uma crítica que

pode ser sobre um livro, filme etc. Ou a resenha pode ser acadêmica. Isso ocorre quanto trata

de assunto específico e usa linguagem técnica em seu texto e é voltada para um público

restrito, familiarizado com a linguagem empregada. Uma característica importante é que,

assim como no artigo, seu autor não tem necessariamente vínculo com o veículo que a

divulga.

Já a coluna é um gênero em que o autor “emite opiniões temporalmente contínuas,

sincronizadas com o emergir e repercutir dos acontecimentos” (MARQUES DE MELO, 2003,

p. 17). Nela, também é apresentada a opinião subjetiva  do autor sobre determinado

acontecimento e esse autor assina seu texto.

“A crônica incorpora ou faz mediação da ótica da comunidade ou dos grupos sociais que a

instituição jornalística se dirige” (MARQUES DE MELO, 2003, p. 18). É um comentáriosobre determinado fato cotidiano, sem o compromisso estrutural da notícia ou reportagem.

Seu autor é mais livre e faz com que ela se aproxime dos textos literários.

Mais um gênero que dá liberdade a seu criador é a caricatura. “Estrutura-se articuladamente

com o ambiente à instituição jornalística, ou seja, nutre-se daqueles valores que dão espírito e

corpo à redação de um jornal, emissora de rádio ou televisão e revista” (MARQUES DE

MELO, 2003, p. 18).

A caricatura é essencialmente subjetiva e possui viés humorístico. Já a carta “reproduz o

ângulo de observação que resgata o outro lado do fluxo jornalístico: o do receptor, o da

coletividade” (MARQUES DE MELO, 2003, p. 18). Já carta é um relato de um fato

ultrapassado, assemelhando-se à crônica, mas não à literatura como a crônica. Ela é

encaminhada ao veículo por um receptor específico.

2.2 Editorias no Jornalismo

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O jornalismo é o relato dos fatos da forma como eles acontecem, mas historicamente o

jornalismo tem como funções relatar os fatos e também formar opiniões baseadas nas notícias.

Isto faz com que o jornalismo tome algumas funções como observação, aconselhamento,

educação e diversão. Tendo estas diretrizes como uma função do jornalismo e dos meios de

comunicação, o estudioso Mário Erbolato, baseado nos materiais jornalísticos veiculados,

define as divisões chamadas editorias jornalísticas.

As editorias são responsáveis por cada assunto abordado na redação de uma empresa

jornalística.  São  categorias  em  que  os  assuntos  cobertos  pelos  jornalistas  fi

responsabilidade de uma determinada área redacional. “Para cada seção do jornal há uma

editoria, com um responsável por ela e a quem cabe orientar as matérias referentes adeterminado assunto” (ERBOLATO, 1984, p. 227).

Erbolato, em seu livro Técnicas de codificação em jornalismo (1984) apresenta e explica as

editorias jornalísticas de modo bastante didático como se poderá ver a seguir.

Cobertura Judiciária: é a cobertura jornalística feita sobre determinado fato que envolva e

ou necessite do poder intercessor da justiça. Além disso, para Erbolato, “a coberturajudiciária, em alguns casos, chega a ser o complemento da reportagem policial: quem lê a

notícia sobre um crime ficará aguardando, meses depois, a decisão da justiça” (ERBOLATO,

1984, p. 228).

O noticiário internacional, para Erbolato, engloba tudo de relevante para o Brasil e para o

povo brasileiro que acontece fora do país. O noticiário internacional pode ser híbrido,

possuindo características de outras editorias como religião, economia e saúde. Além do mais,“entre os leitores há sempre muitos estrangeiros, que procuram saber o que se passa em suas

terras de origem” (ERBOLATO, 1984, p. 230).

A editoria de religiões se autodefine. Entretanto, assuntos delicados exigem parcimônia na

cobertura jornalística e principalmente na exposição de matérias que envolvam fé. “Os jornais

neutros dedicam espaços a todas as religiões, para o noticiário de suas atividades, mas há os

que divulgam também textos doutrinários, embora sem caráter polêmico” (ERBOLATO,

1984, p. 230).

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Uma das editorias mais nobres do jornalismo, ao lado de política, o caderno de economia e

finanças é também um dos mais populares, tanto que seu conteúdo é veiculado em

proporções equiparadas com editorias mais populares como as editorias de esporte e polícia

tanto em veículos impressos quanto eletrônicos.

A editoria de saúde urbana e proteção às cidades é também das mais importantes,

sobretudo nos periódicos brasileiros. É o que se pode constatar a partir da definição de

Erbolato (1984).

Não se pode definir, em síntese, quais assuntos ligados à saúde urbana e à proteçãodas cidades, mas as matérias devem focalizar, quando for o caso, o seguinte: qualidadeda água servida à população, estado e extensão das redes de esgoto, remoção do lixodas ruas e domiciliar, leis contra a poluição, arborização, campanhas de vacinação,

sistemas de trânsito, galerias pluviais e proteção contra as enchentes (ERBOLATO,1984, p. 231).

A editoria de cobertura política aborda todos os assuntos políticos e de interesse público nos

âmbitos municipal, estadual e federal, mas também pode permear as editorias policial,

judiciária, econômica etc.

Na editoria de trabalho e previdência social, “... a imprensa poderá abordar vários assuntos

ligados aos trabalhadores, esclarecendo-os sobre seus direitos e alteração das leis referentes asalários e contribuições” (ERBOLATO, 1984, p. 233).

Educação: todo assunto que interfira direta ou indiretamente na vida dos estudantes serve

como fonte de apuração para esta editoria. Aqui pode-se ler sobre “(...) abertura de matrículas

leis decretos e portarias que disciplinem a prestação de exames...” (ERBOLATO, 1984, p.

234).

Local: é responsável pelas informações domésticas, que se  referem a “telefones úteis,

horários dos museus, relação de consulados, farmácias de plantão, etc.” (ERBOLATO, 1984,

p. 234).

A  editoria  tratada  por  Erbolato  por interior  ou  regionalestá  ligada  ao  critério  de

noticiabilidade da proximidade geográfica. Um determinado assunto é relevante apenas se

acontecer em uma região específica.

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Podemos não encontrar, em determinados veículos, esta categorização exatamente assim

definida, mas basicamente todas as empresas jornalísticas adotam esta relação para suas

editorias e, mesmo que utilizem nomenclaturas diferentes, os assuntos abordados dentro de

cada uma delas serão os mesmo propostos por Erbolato.

2.3 Critérios de Noticiabilidade

Ao discutir sobre tudo que envolve a informação, o especialista em comunicação Adriano

Duarte Rodrigues diz que se trata de algo relativo e capaz de englobar os acontecimentos no

mundo. Para Rodrigues, a veiculação da informação está diretamente ligada ao que ele chama

de critérios de noticiabilidade.

Um dos critérios de noticiabilidade está ligado à imprevisibilidade dos acontecimentos.

Segundo Rodrigues, quanto mais imprevisto o fato, mais interessante para os veículos

comunicativos ele será. Quanto menor for a probabilidade de um acontecimento, maior será

seu valor informativo.

Seguindo   a   ótica   proposta   por   Rodrigues,   a   informação   está   associada   à

relativamente inexplicada e inexplicável dos fenômenos. Independe do controle da razãohumana, ou seja, está desconectada do nosso poder de manipulação.

A  cada  minuto  acontece  algo  diferente  pelo  mundo,  porém,  nosso  acesso

acontecimentos depende dos meios de comunicação. E como as notícias perecem em questão

de horas, tudo depende do momento em que são divulgadas, para que surja no leitor interesse

sobre elas.

Para Mário Erbolato, alguns critérios devem ser seguidos para despertar, no público receptor,

desejo de consumir uma notícia: ser inédita, recente, verdadeira, objetiva e seu conteúdo ser 

de interesse público. “O leitor quer novidade, deseja saber o que ainda desconhece, ou que

saiba apenas superficialmente” (ERBOLATO, 1984, p. 55).

A partir destes quesitos, Erbolado explica que a notícia será publicada e seus assuntos poderão

ser comentados, interpretados e futuramente pesquisados. A periodicidade da notícia também

deve ser considerada, portanto, devemos tomar cuidado com determinados assuntos que,

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mesmo que sejam empolgantes pela manhã, à tarde já não podem despertar o mesmo interesse

do público.

Outra característica é a objetividade, ou seja, o foco do repórter é o objeto, e o jornalista deve

ser apenas um observador deste objeto, apresentando os fatos sem juízos de valor. Apesar de

ser uma das diretrizes da comunicação, o especialista em jornalismo Clóvis Rossi (1994) diz

que a objetividade jornalística é utópica e existe entre o profissional da comunicação e a

notícia uma eterna “... batalha pelas mentes e corações, entretanto, é temperada por um mito – 

o mito da objetividade” (ROSSI, 1994, p. 9).

Honestidade e imparcialidade são outros quesitos básicos de um repórter, que deve ser claro,

sem demonstrar interesse especial por uma das partes. A mensagem jornalística tem que

transmitir ao leitor assuntos que despertarão seu interesse, gerando comentários sobre os fatos

em seus grupos de convivência.

Os critérios de interesse para apuração e posterior veiculação das notícias variam, eles podem

estar relacionados com o tempo: o que foi importante ontem, hoje pode não ser. Devemtambém estar de acordo a localidade geográfica em que o fenômeno potencialmente noticioso

ocorre: uma notícia que é importante em Minas Gerais, como as estatísticas para a sucessão

do governo estadual pode não ter a mesma importância no Rio de Janeiro, como o assalto a

um hotel na Zona Sul da capital fluminense.

Outra variação diz respeito ao grau de importância que a empresa jornalística dá a um

determinado fato em detrimento de outros. As empresas possuem seus critérios particulares de

relevância, como a demolição de uma casa tombada pelo patrimônio histórico do município

de Belo Horizonte a mando de uma igreja evangélica. A maioria dos jornais divulgou a

notícia, mas o jornal Hoje em dia e as emissoras de rádio e televisão pertencentes à Rede

Record, que têm como acionista majoritário a igreja responsável pela demolição, não

divulgaram uma linha sequer sobre o assunto.

Mário Erbolato, em seu livro Técnicas de codificação em jornalismo (1984),  definiu os

critérios de forma a abranger os acontecimentos noticiosos do dia a dia.

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Proximidade: as pessoas se interessam mais por uma notícia que acontece perto de onde

mora ou trabalha.

Marco Geográfico: é aquela notícia que mesmo acontecendo geograficamente longe do leitor 

irá beneficiar sua cidade, estado ou país, por exemplo.

Impacto: é uma notícia que abala moralmente uma sociedade inteira, como por exemplo uma

mãe lançar a filha recém nascida na lagoa da Pampulha.

Proeminência: toda notícia que se refere a uma pessoa importante (proeminente), como a

doença do ex-prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro.

Aventura e conflito: são notícias de assassinatos, brigas e também as notícias que mostram a

forma audaciosa como alguém se enriquece ilicitamente, como o assalto ao banco central do

estado do Ceará.

Consequência: uma doença que acaba de se manifestar na Ásia pode nem ser notícia de

importância aqui no Brasil, mas se há a possibilidade de ela se manifestar aqui, então o

surgimento desta doença será notícia.

Humor: muitas vezes os leitores não procuram nos jornais apenas informações, mas sim algo

que lhes chame a atenção. Portanto, o humor é uma boa saída para isso.

Raridade: tudo que foge de sua normalidade acaba virando notícia. Casos veiculados pela

imprensa que dão evidência a fatos improváveis, por exemplo, como a presença de óvnis ou

aberrações da natureza. Mesmo que tais assuntos esfriem, seja pela falta de provas concretas

para afirmar determinados fatos, seja pelo passar do tempo, tais matérias chamam a atenção e

têm potencial para virarem notícia.

 

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Progresso: informações sobre a evolução de seu estado, cidade ou país chamam a atenção do

leitor.

Sexo e idade: esta classificação se confunde com a raridade, e pode ter como exemplo

notícias com relação a uma garota que dá a luz aos 12 anos de idade, ou uma senhora que se

forma em uma faculdade aos 80.

Interesse pessoal: os jornais devem também informar assuntos de interesse específico de uma

forma geral, como os aprovados em um vestibular ou em um concurso de uma empresa.

Interesse humano: informar ao leitor o drama das pessoas que sobreviveram a um naufrágio,

ou a um incêndio. Isso é configurado como notícia de Interesse humano.

Importância: quem decide a importância de uma notícia é o editor.

Rivalidade: o esporte é o campo mais apropriado para este tipo de notícia.

Utilidade: assuntos como filmes e peças em cartaz, cotação da bolsa de valores se enquadram

neste tipo de notícia.

Política editorial do jornal: cada jornal tem sua forma e suas prioridades a serem destacadas

e essas prioridades variam de acordo com o editorial do jornal.

Oportunidade: sempre há motivo pra divulgação de uma notícia, mas mesmo uma notícia

fria não deve ser descartada, pois ela pode ser incorporada a uma notícia quente quando esta

se tornar um acontecimento notório.

Dinheiro: informações como os números sorteados pela loteria têm seu interesse.

Expectativa ou suspense: são notícias que o leitor procura a fim de saber se uma notícia queestá se desenrolando durante toda a semana foi finalizada, como por exemplo, a contratação

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de um grande jogador que será feita por um time X e está pendente por falta de um acordo

financeiro.

Originalidade: confunde-se com a classificação de raridade. Temos como exemplo uma

pessoa sofrer acidente e sua mãe sentir a dor no mesmo momento, mesmo não estando no

mesmo local.

Culto de heróis: homens que salvaram a vida de pessoas e por isso acabaram se tornando

heróis.

Descoberta e intenções: notícias com relação à criação de vacina para uma determinada

doença ou alguma invenção que beneficiará o homem se enquadram nesta categoria.

Repercussão: a notícia sobre um brasileiro que vai à Europa e é assassinado tem bastante

repercussão, como foi o que aconteceu com o mineiro assassinado em Londres pela polícia

inglesa. Contudo, se esta mesma pessoa fosse assassinada aqui no Brasil, provavelmente não

haveria a mesma repercussão.

Confidências: é a notícia que se ocupa de informar assuntos pessoais das celebridades, como

casamentos e separações.

Basicamente, estes critérios são as “atrações” de um fato para que este tenha relevância na

imprensa. Os critérios de noticiabilidade norteam as redações jornalísticas em quaisquer 

veículos e formatos de mídia. Apesar de essenciais para a manutenção orgânica do jornalismo,

tais critérios podem ser um dos fatores do tão criticado engessamento da profissão. Ou seja, o

fato dos profissionais da imprensa seguirem sistematicamente os critérios de noticiabilidade

pode ser um dos fatores responsáveis pelas coberturas jornalísticas serem repetitivas.

2.4 Jornalismo Esportivo

As coberturas esportivas começaram a ser apresentadas nas culturas de massa por intermédio

da mídia eletrônica, o rádio fazia o papel de veicular jornais e eventos esportivos para as

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massas nas décadas de 1940 e 1950 antes da chegada, expansão e domínio da TV.

O rádio e sua relação com o emocional produzem na cobertura esportiva uma forma peculiar 

de transmissão esportiva completamente diferente do sisudo jornalismo impresso. O rádio era

o meio de comunicação eletrônico mais importante nos anos de 1940 e com maior capacidade

de abrangência pública, capaz de atrair o público por meio do uso de terminologias populares

como jargões esportivos e principalmente futebolísticos, as gírias esportivas.

Com o advento da televisão na década de 1950, o formato e principalmente a linguagem

jornalística das transmissões mudou-se novamente mostrando todo dinamismo do jornalismo

esportivo e trouxe o diferencial, a união da narração e a diversidade visual. Com isso,possibilitou a criação do merchandising esportivo, empresas que preenchem espaços nas

camisas dos clubes e espalham placas pelos estádios com o intuito de expandirem suas marcas

de forma mais abrangente.

Porém, os pioneiros no jornalismo esportivo foram os veículos impressos de comunicação.

Apesar dos esportes serem pouco difundidos no início do século XX, foi de suma importância

o papel dos jornais e revistas no jornalismo esportivo

Jornalismo é jornalismo, seja ele esportivo, político, econômico, social. Pode ser propagado em televisão, rádio, jornal, revista ou internet. Não importa. A essência nãomuda porque sua natureza é única e está intimamente ligada às regras da ética e aointeresse público (BARBEIRO, 2006, p. 12).

Os veículos de comunicação especializados em esportes começaram a aparecer nos anos de

1910, no estado de São Paulo. O Jornal Fanfulla, criado por colonos italianos radicados na

capital paulista, foi o primeiro periódico a possuir um caderno específico de esportes. Desdejá, a intenção deste veículo não era de atingir especificamente as famílias abastadas de São

Paulo, mas sim um público cada vez mais numeroso na capital paulista da época: os italianos

e seus descendentes.

O Fanfulla está na história do esporte brasileiro por ser o principal incentivador pela fundação

de um dos mais importantes ícones esportivos do Brasil, o clube Palestra Itália, que se

tornaria Palmeiras décadas mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial.

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As empresas de comunicação do Brasil tomaram gosto por esta especialidade jornalística. No

Rio de Janeiro, então capital federal, jornais impressos também passaram a dedicar suas

páginas  aos  esportes,  principalmente  ao  futebol,  apesar  da  desconfiança  de

profissionais da imprensa da época sobre o desejo dos leitores, em um país que havia poucos

alfabetizados, em tomarem gosto pela leitura do noticiário esportivo. Porém, aos poucos, os

jogos dos grandes times da época ganharam espaço nas veiculações cariocas.

Duvidar foi o esporte preferido até mesmo de gente experiente, que vivia de escrever para os cadernos especializados, já no meio do século XX. João Saldanha fez umaprevisão no final dos anos 60, quando um aventureiro resolveu lançar não um caderno,mas uma revista inteiramente dedicada ao futebol. Placar nunca sairia dos primeirosnúmeros, imaginava Saldanha, que prestou inestimáveis serviços ao esporte brasileiro(COELHO, 2004, p. 8).

Nos anos de 1930, foi inaugurado no Rio de Janeiro o primeiro diário exclusivamente

dedicado aos esportes no país, o Jornal dos Sports. O primeiro a lutar contra a realidade

preconceituosa e pouco rentável que definhava todos os diários esportivos da época,

principalmente se fosse levada em consideração a renda do público que mais se interessava

por este tipo de jornalismo, geralmente formado por pessoas menos abastadas da sociedade

carioca cujo consumo de jornais onerava fatia considerável de seu provento mensal.

Durante todo o século passado, dirigir redação esportiva queria dizer tourear arealidade. Lutar contra o preconceito de que só os de menor poder aquisitivo poderiamtornar-se leitores desse tipo de diário. O preconceito não era infundado, o que tornavaa luta ainda mais inglória. De fato, menor poder aquisitivo significava também menor poder cultural, e conseqüentemente ler não constava de nenhuma lista de prioridades.E se o futebol – como os demais esportes – dela fizesse parte, seria necessário aoapaixonado ir ao estádio, isto é, ter menos dinheiro para comprar boas publicaçõessobre o assunto (COELHO, 2004, p. 9).

Com baixa verba, vários jornais e revistas especializados em esportes eram inaugurados e

desapareciam ano após ano no Rio de Janeiro e São Paulo. A primeira grande revista de

jornalismo esportivo a prosperar no Brasil foi a Revista do Esporte, genuína do  Rio de

Janeiro, que viveu sua melhor época entre o fim da década de 1950 e início da década de

1960. A Revista do Esporte explorava principalmente os eventos futebolísticos, que já eram

os mais cobiçados pelos consumidores de notícias esportivas da época.

 

Só no fim da década de 1960, os grandes cadernos de esportes tomaram conta dosjornais. Ou melhor, em São Paulo, surgiu o Caderno de Esportes, que originou oJornal da Tarde, uma das mais importantes experiências de grandes reportagens dojornalismo brasileiro. Dessa época para cá, os principais jornais de São Paulo e do Riolançaram cadernos esportivos e deles se desfizeram como se tratasse de objeto

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supérfluo. Gastar papel com gols, cestas, cortadas e bandeiradas nunca foi prioridade(COELHO, 2004, p. 10).

Independente de qualquer obstáculo encontrado pelo caminho, a segunda metade da década de

1960 trouxe anos em que afloraram e tiveram vida útil mais extensa os cadernos, revistas e

jornais brasileiros especializados em esportes. O futebol já tomava maior espaço nestas

veiculações. A partir daí, a imprensa esportiva do Brasil se solidificou verdadeiramente,

ampliou seus horizontes e a cobertura esportiva ficou mais pulverizada, apesar de os Estados

em que o jornalismo esportivo deu as caras pela primeira vez, Rio de Janeiro e São Paulo,

continuarem chamando mais a atenção dos leitores e espectadores.

A reportagem é a alma, a essência do jornalismo. Apurar e divulgar notícias, contar uma boa história, que seja verdadeira, que tenha sido bem checada e que responda dasperguntas básicas do o quê, onde, como, quem e por quê é o dever de todo bomjornalista. Uma boa reportagem depende de boas perguntas feitas para as pessoascertas no momento adequado. Ser fizer bom uso desse instrumento de trabalho, orepórter esportivo tem tudo para ser um bom profissional (BARBEIRO, 2006, p. 19-20).

Falta, então, os executivos das empresas de comunicação e até mesmo os próprios jornalistas

se preocuparem um pouco mais com a qualidade do conteúdo noticioso que veiculam. São

vários os noticiários e programas esportivos. Isso mostra o potencial da editoria junto aosveículos.

Mas a imprensa esportiva deve expandir o foco para outros esportes, já que grande parte do

espaço é ocupado pelo futebol. Nem o fato de o voleibol brasileiro ser o esporte nacional mais

vencedor na atualidade gera o devido destaque pela imprensa esportiva. Sem falar de outras

modalidades em que Brasil ganha destaque a cada evento esportivo como Futsal, natação e

artes marciais como Judô, Jiu-Jitsu e as Artes Marciais Mistas, vulgarmente chamadas de

“Vale Tudo”.

É impossível negar que o futebol é, amplamente, o esporte mais popular do país e,

consequentemente, para quem pensa no esporte como um ramo de negócio, gera maior renda

aos responsáveis pela venda da informação.

O problema é a falta quase que total de interesse na cobertura das outras modalidades

esportivas. Isso pode fazer com que haja uma segmentação dentro do jornalismo esportivo, ou

seja, o futebol se transforma quase que em uma nova editoria, uma segmentação dentro das

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coberturas esportivas.

Até mesmo dentro do próprio futebol existem separações. Os clubes de futebol com maior 

relevância regional ou nacional dominam as coberturas, deixando de lado equipes de menor 

expressão como se estas não fossem parte de um mesmo campeonato, ofuscando inclusive seus

potenciais em favor da aclamação popular em consumir materiais destes clubes considerados

mais populares.

Tais fatos devem servir de alerta para os vários jornalistas que são despejados no mercado de

trabalho a cada semestre. A crítica sistemática às produções jornalísticas feita tanto por 

especialistas quanto pelos leitores faz com que eleve a desconfiança do público com relação àimprensa, sendo que esta deveria levantar a bandeira da imparcialidade. Os profissionais da

informação devem possuir maior senso crítico e almejar coberturas jornalísticas de qualidade

ao invés da repetitividade.

Outra tendência facilmente perceptível no jornalismo esportivo é uma mudança de foco em

alguns noticiários. Ao invés de se dedicarem exclusivamente a fatores profissionais, a editoria

de esportes parece estar abrindo espaço para a apresentação de ocorrências envolvendo a vidaprivada das personalidades esportivas. Sejam elas de qualquer modalidade esportiva for, basta

se destacar para ter os holofotes da imprensa voltados para sua direção e a privacidade

ameaçada.

Tais matérias não acrescentam em nada àqueles que assistem aos programas esportivos a fim

de se atualizarem sobre notícias esportivas. Servem apenas para alimentar a desconfiança no

jornalismo esportivo junto aos críticos.

Para atuarem de forma contrária à tendência e reconquistar o público mais ortodoxo, o

jornalismo esportivo precisa, a fim de elevar a qualidade de seus materiais, investir nas

redações, em pessoal competente e em aparelhagem técnica para dar as melhores condições

de trabalho aos profissionais. Um arquivo amplo e variado qualitativamente dá o aporte ideal

para se desenvolver um bom trabalho nas redações.

 2.5 Jornalismo e Sensacionalismo

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As coberturas jornalísticas em que o repórter transmite com emoção exacerbada assuntos

rotineiros para a vida profissional de qualquer profissional da imprensa são denominadas

“jornalismo sensacionalista”. Nas coberturas sobre crimes, moda, e até mesmo no jornalismo

esportivo, existem sensacionalistas “carregando” nas transmissões.

Há discussões sobre a ênfase que se dá ao perdedor de uma competição. Em um jogode 3 a 0 para a Argentina contra o Brasil, qual seria a melhor manchete: “Argentinabate o Brasil de goleada”, ou “Brasil joga mal e Argentina goleia”? Há debates edivergências sobre como construir esse título. Na nossa opinião, deve preponderar anacionalidade, que é mais forte do que o resultado. Assim ficaríamos com o segundotítulo que começa com “Brasil” (BARBEIRO, 2006, p. 105).

A percepção que temos de uma imprensa sensacionalista é de que se tem necessidade de

veicular material, independentemente do ônus que possa causar a outrem. A obrigação pelo

furo leva a transmissões sem a devida apuração dos fatos. Isto aproxima, tanto jornalistas

quanto as empresas de comunicação, da leviandade. Provoca no receptor a sensação da falta

de compromisso com a verdade, uma verdade jornalística utópica, mas que deve sempre ser 

lembrada, tentando explanar ao máximo todos os ângulos de um acontecimento.

O artigo de Márcia Pimentel, “Jornalismo de fofoca é imprensa?”, publicado em 2007, coloca

em xeque justamente o que o jornalismo e seus praticantes devem ter como produtor de

conteúdo informativo e formador de opinião. PIMENTEL (2007) defende a tese de que os

olimpianos, figuras tratadas pelo estudioso francês Edgar Morin como deuses profanos

evidenciados pela cultura de massa, devem mesmo ser vistos como tal7, mas defende um

discernimento por parte da classe jornalística para que as coberturas sejam estritamente da vida

pública destas personalidades. “Há, contudo, de se perguntar como a instituição imprensa

delimita, hoje, o tal interesse público e quais são exatamente as situações da vida particular 

que, se publicadas, seriam condenáveis” (PIMENTEL, 2007).

Para a articulista, o Jornalismo deve ser incisivo, fiscalizador e, ao mesmo tempo um

orientador social. Porém, o que percebemos largamente são os veículos de comunicação

utilizando seu poder de formação da opinião, a fim de fazer valer seus objetivos, dentre eles

os comerciais. Isto não acontece apenas no jornalismo de hoje.

7 MORIN, Edgar. Cultura de massa no século XX: o espírito do tempo. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 2005.

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Até mesmo o pioneiro no Brasil na formação de grandes conglomerados da comunicação,

Assis Chateaubriand, lançava mão de sua capacidade de penetração informativa para acuar 

autoridades que iam de encontro às suas convicções8.

A falta de compromisso ético a favor do retorno financeiro ocorre também em outras

atividades profissionais, mas serve para ilustrar a relação entre sensacionalismo e a ausência

da ética no exercício da atividade profissional, a deontologia.

Conforme assinala Zevi Ghivelder, A Sangue Frio não trazia revelações novas ousensacionalistas, a não ser os exames psicológicos dos assassinos. Porém algumasentrevistas do livro foram comentadas à medida que se desenvolveram. Até mesmo ocomportamento dos personagens era relacionado com as condições climáticas de

determinados dias (ERBOLATO, 1984, p. 43).

Assim como um psicanalista que não relata as confidências de seu consultado, o jornalista

também deve comprometer-se com sua fonte, e até mesmo com a celebridade aviltada ao ser 

fotografada em momentos privados de sua vida.

Repórteres fotográficos, por serem responsáveis pelos registros imagéticos dos fatos, devem

tomar cuidado com o que veiculam e com o enfoque que dão em determinadas situações da

vida das personalidades. Em contrapartida, as personalidades, consagradas e até mesmo as que

se enquadram na categoria chamada de “personalidades instantâneas”, como ex-participantes

de reality shows, e até Geisy Arruda, a ex-aluna da faculdade Uniban que ganhou notoriedade

nacional ao ser achincalhada pelos colegas de faculdade por usar roupas provocantes. Todos

estes devem também se resguardar, ao invés de se atirarem na direção das câmeras, revelando

decotes e poses insinuantes em situações íntimas, a fim de se promover, principalmente

quando estão no início de suas carreiras ou ostracismo perante a mídia nacional.

Pimentel (2007) ilustra a situação apresentada acima em seu artigo citando uma ocasião

constrangedora durante um programa de entrevistas. “No domingo (15/4), Marília Gabriela,

por exemplo, em seu programa das 22h, na GNT, deixou o último vencedor do Big Brother 

Brasil em saia justa ao indagar-lhe se a cópula com a namorada conquistada no programa era

gostosa, ou não” (PIMENTEL, 2007).

Portanto, a proposta é que haja um equilíbrio, apesar de existir uma confusão no meio8 PATERNOSTRO, Vera Iris. O texto na TV: manual de telejornalismo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

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jornalístico entre vida pública e vida privada das personalidades e entre o que é e o que não é

relevante jornalisticamente.

Partindo para uma das teorias do Jornalismo, e neste caso da cobertura sensacionalista, o

jornalista deve apreender a diferença entre assuntos que sejam de interesse público, fatos que

acionam a opinião pública, movimentam a sociedade para uma discussão, e assuntos que

despertem apenas o interesse do público. Acontecimentos que têm relevância restrita e não

alteram em nada a rotina social.

De fato, a cobertura da vida privada das celebridades, sejam elas artísticas ou esportivas, não

enriquece ou inflama a sociedade. Serve apenas para alimentar o desejo dos receptores ementrar no ambiente “inatingível” dos ricos e famosos.

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3 JORNALISMO TELEVISIVO

3.1 O Jornalismo na TV

O jornalismo tem como função primeira informar diariamente seu público sobre os fatos de

maior relevância social e com o telejornalismo, formato adaptado à televisão não pode ser 

diferente. Porém, para atingir de forma igualitária seus receptores, ele, necessariamente, deve

lançar mão de uma linguagem mais simples e objetiva, de forma a ser acessível a todos por,

mais distintos que sejam. Por isso, o telejornalismo faz uso de linguagem específica com o

intuito de dialogar com o público receptor da informação jornalística.

Ao promover uma percepção mais sensorial e afetiva do que racional, o discurso da TVabriga, em sua essência, uma íntima e constante ligação entre destinador e destinatáriomedida  pelo  espetáculo.  [...]   O  espetáculo  consegue  quebrar   a  sensaçãunilateralidade da comunicação [...] a impressão de diálogo, a conversa pode ser tãointensa que não são raros os telespectadores que respondem às interpelações dosapresentadores de TV. [...] esse ‘diálogo televisual’ exige do comunicador um alto graude empatia e a capacidade para sustentar o clima de conversa (REZENDE, 2000, p. 36-37).

Esta conversa com o receptor eleva a importância do telejornalismo e faz com que se torne

ainda maior seu poder de absorção popular. Além disso, compete ao telejornalismo a função

social e política de abranger todas as camadas da sociedade, tanto as mais abastadas quanto as

menos cultas. “Há casos de paralelismo,  quando texto e imagem  não se completam,

caminhando lado a lado, de forma independente. Há casos de distanciamento, quando o texto e

imagem não têm absolutamente nada a ver um com o outro” (PATERNOSTRO, 1999, p. 72).

Por isso, a importância de que texto e imagem se relacionem de forma em que um complete o

outro sem se sobrepor nem que haja oposição de um para com o outro. Rezende (2000) diz que

estudos  apontavam  que  a  imagem  tem  função  mais  importante  nas  transmis

telejornais, já que a palavra serve apenas para alicerçar a informação visual.

Porém, Rezende (2000) diz que, apesar do peso informativo que a imagem tem, é de suma

importância para o telejornalismo o texto falado, pois ele reforça a informação visual e

direciona o olhar do espectador para aquilo que é mais relevante no acontecimento. “O fato de

ter na informação visual o seu elemento mais expressivo determina que haja um entrosamentosincronizado entre imagem e palavra” (REZENDE, 2000, p.76).

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O uso audiovisual e obviamente a não necessidade da leitura para acompanhamento do

telejornal fez com que Rezende (2000) traçasse um comparativo entre a abrangência do jornal

produzido e veiculado pela televisão com os maiores diários impressos no Brasil. Para ele, o

público de um telejornal, se confrontado com os leitores dos principais jornais com tiragens

acima de 500 mil exemplares, é bem maior. Assim, que os noticiários veiculados em horário

nobre na televisão brasileira abrangem milhões de pessoas ao mesmo tempo.

Os veículos eletrônicos de comunicação (rádio e TV) levam algumas vantagens sobreos  meios  impressos.  A principal  virtude  da comunicação  eletrônica  advém  capacidade de abolir a barreira do tempo. Imediatos, rádio e televisão noticiam os fatosno mesmo tempo em que eles ocorrem. A perda do privilégio de transmitir a notícia emprimeira mão possibilita que os jornais e as revistas exerçam aprimoradamente sua

potencialidade  mais  significativa:  aprofundar-se  na  divulgação  de  análise  dacontecimentos (REZENDE, 2000, p.70).

Mesmo dentro da categoria das mídias eletrônicas, sejam elas a televisão, o rádio ou até

mesmo a internet, mídia que tem crescimento altamente perceptível junto ao público brasileiro,

os discursos jornalísticos também se diferenciam entre si. Estas diversidades se apresentam em

todo o processo de produção de publicação dos materiais jornalísticos.

Focando os mais populares, rádio e televisão, percebe-se que além das diferenças em aparatostecnológicos, a forma de produção e os textos também são distintos. A linguagem jornalística

empregada na televisão, além de lançar mão de imagens para se sustentar, usa textos com

frases curtas e o locutor procura não perder sua relação com a emoção. Já o rádio, que também

faz uso de frases curtas, necessita de um texto mais descritivo do que na TV e o locutor faz uso

de variações no tom de voz para ritmar a transmissão e emocionar seus ouvintes.

Em  suma,  a ação  do  jornalista,  adaptada  à  televisão,  é  o  que  denomina

telejornalismo. Esta prática é possível a partir do desenvolvimento de técnicas de captação das

imagens e sua posterior exibição em aparelhos específicos para exercer tal função. A

atividade precursora e que a partir dela foi possível se criar o telejornalismo foi o cinema. As

técnicas   implementadas   nas   produções   cinematográficas   foram   adaptadas   à   p

jornalística, que já era amplamente desenvolvida nos meios impresso e radiofônico.

“A mensagem visual – televisiva ou cinematográfica – é multidimensional quanto à forma e

multissensorial   em   relação   aos   sentidos,   distinguindo-se   da   mensagem   impres

radiofônica” (REZENDE, 2000, p. 39). Contudo, o próprio cinema era o principal responsável

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por transmitir informações utilizando imagens dos fatos ou simulações destes acontecimentos,

os cinejornais. Eram curtas-metragens que possuíam caráter informativo veiculados em salas

de cinema antes das apresentações dos filmes.

O exemplo mais comum para nós, brasileiros, era o Canal 100, apresentado antes das sessões

de cinema nas décadas de 1970 e 1980. Os franceses do parisiense Pathé Journal foram os

pioneiros na produção destes informativos. No Brasil, o primeiro noticiário de cinema surgiu

em 1912, e seu formato era parecido com o do periódico francês. Começava, então, o formato

noticioso que conquistaria seu espaço como a maior mídia de comunicação da humanidade até

hoje.

A volúpia do jornalismo televisivo, em especial nos Estados Unidos e na Europa, ocorreu com

o fim da Segunda Grande Guerra e a posterior retomada da economia mundial. As indústrias

se empenharam na produção e distribuição dos aparelhos de televisão, a   velocidade da

informação era maior do que nas transmissões cinematográficas,  as notícias audiovisuais

chegavam às residências e, assim, os cinejornais perderam força.

Porém, nos primórdios do jornalismo televisivo, não  havia uma forma de produção eapresentação específica. O modelo usado como padrão era o que já funcionava há algum

tempo: o modelo do jornalismo rádiofônico, desde a produção até a apresentação/locução.

No Brasil, o telejornalismo  teve notoriedade a partir dos anos 1950 com a TV Tupi, do

mandatário  Assis  Chateaubriand.  Porém, a  estrutura  na  TV  era “precária,  provi

absorvendo profissionais que vieram do rádio, do cinema, do teatro, do jornalismo e que, em

estúdios improvisados, tentavam preencher o espaço da programação através de muitoexperimentalismo” (FILHO, 1994, p. 27).

O Repórter Esso, mais importante noticiário radiofônico até então, foi transposto para a TV,

em 1º de abril de 1952, e o sucesso radiofônico foi proporcional ao televisivo, apesar do

amadorismo. Não existiam profissionais especializados neste novo formato, nem mesmo

redatores e apresentadores televisivos. As grandes apostas eram os famosos locutores do

rádio. “O Repórter Esso da Rede Tupi representava a típica manifestação desse modelo de

telejornalismo produzido e apresentado por gente que vinha do rádio” (REZENDE, 2000, p.

106).

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Hoje, a televisão conta com alta tecnologia e pessoal competente para lidar com tal avanço.

Especialistas e quadro hierárquico bem definido são outras características do telejornalismo

atual. Dentre os profissionais do telejornalismo estão diretor regional, diretor de jornalismo,

diretor de marketing, supervisor de reportagem, editor de imagem, editor de texto, produtor,

repórter, repórter cinematográfico, técnico de operações, operador de áudio, operador de

iluminação e cameraman.

Na televisão, um setor naturalmente receptivo a avanços tecnológicos, a penetraçãodas  tecnologias  de ponta, principalmente a informática,  tem  possibilitado umamelhoria na qualidade da informação produzida e uma maior rapidez na divulgaçãodas notícias (MACIEL, 1995, p. 95).

Os telejornais são programas de divulgação notíciosa das mais variadas editorias, fazendo uso

simultâneo de imagens, sons e/ou narração de um repórter ou apresentador/ âncora. O âncora

é o apresentador do telejornal, geralmente é um profissional com bastante tempo de profissão,

experiente e que, teoricamente, possui autonomia para comentar as notícias exibidas pelo

“seu” telejornal.

Alguns destes âncoras (apresentadores de telejornais, que possuem autonomia junto à empresa

jornalística  para  a  qual  prestam  serviços  para  comentar  uma  determinada  n

apresentadores (que se atêm apenas à narração dos fatos noticiosos, anúncios e chamadas das

matérias) merecem destaque especial no telejornalismo brasileiro. Uns pelo carisma, outros

principalmente   pela   credibilidade   que   passam   ao   público.   Dentre   eles   estão

Domingues, Cid Moreira, Sérgio Chapelin, Eliakim Araújo, Celso Freitas, Marcos Hummel,

Paulo Henrique Amorim, Boris Casoy, Ricardo Boechat e William Bonner.

As emissoras de televisão veiculam seus telejornais como parte fixa de sua grade deprogramação, mas podem ocorrer acontecimentos que necessitam de transmissão imediata. Aí

entram no ar, em caráter excepcional, os plantões. Eles são de curta duração e seu objeto

geralmente é aprofundado na transmissão do próximo jornal da emissora.

Em suma, o telejornalismo é a produção, cobertura e venda de artigos noticiosos adaptados à

mídia televisiva. Estes artigos são veiculados pelos telejornais,  programas que divulgam

notícias das várias editorias jornalísticas conforme proposta de Mário Erbolato (coberturajudiciária, noticiário internacional, religiões, economia e finanças, saúde urbana e proteção às

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cidades, política, trabalho e previdência social, educação, local - interior ou regional e

esportes). Estes materiais noticiosos devem sempre respeitar as matrizes editoriais da empresa

jornalística e a ética jornalística.

Estas notícias produzidas são disseminadas por uma  rede de emissoras coligadas, que

possuem autorização do Governo Federal, as chamadas concessões, que autorizam tais

empresas a veicularem seus materiais e fazerem disso uma atividade econômica.

 

O telejornalismo, seja ele transmitido pela televisão ou pela internet, é, na atualidade o único

meio de comunicação de massa que transmite informações usando recursos audiovisuais.

Entretanto, isso não significa que os formatos sejam semelhantes. As diferenças existentesentre  eles  são,  basicamente,  que  na  internet,  os  recursos  audiovisuais  serv

complementar ou trazer uma nova discussão já proposta no texto principal. Na televisão, o

texto e a imagem atuam de forma a completarem as deficiências entre um (som) e outro

(imagem), além de fazer uso de texto simples, sucinto, de fácil entendimento, sem vulgarizá-lo.

Assis pode-se dizer que o telejornalismo é marcado pelo uso de linguagem coloquial, sem

rebuscamento para uma maior assimilação do receptor.

3.2 O Jornalismo esportivo de televisão

Os programas jornalísticos voltados para o esporte conquistaram seu espaço nas programações

das grandes emissoras de televisão, sejam de abrangência nacional ou apenas regional,

veiculados somente no estado de Minas Gerais, por exemplo. As grades das emissoras

reservam programação diária para estes programas, o que subentende que exista um alto nível

de audiência durante as transmissões. Mais uma vez, o futebol merece destaque nos programasesportivos televisivos.

Ai de quem for apaixonado por futebol e entrar na redação pensando que irá escrever só sobre futebol. Ai mais ainda de quem tiver loucura por outro esporte. Quem for louco, por basquete, quem tiver paixão por tênis e sonhar em ser especialista noesporte de que gosta. Não, tal possibilidade não será excluída. Mas, se já dá trabalhoconquistar reconhecimento na profissão trabalhando com futebol, é muito mais feroz aluta para chegar ao topo com outro esporte (COELHO, 2004, p. 35-36).

O jornalismo esportivo, atividade jornalística como qualquer outra dentro de uma redação, é aárea da empresa de comunicação responsável por assuntos relacionados à prática esportiva em

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geral. Nesta editoria, é necessário que o jornalista seja cuidadoso ao expor suas convicções, já

que o profissional da imprensa lida diretamente com o risco da parcialidade ao explicitar suas

preferências por determinado atleta ou clube. Esta explicitação de suas preferências e

convicções pode provocar em seu público sentimentos passionais como a adoração ou

repúdio.

Em 1998, o técnico do Palmeiras na época, Luiz Felipe Scolari, chegou ao auge dairritação, Depois de uma partida do Campeonato Brasileiro, Felipão afirmou em alto ebom som que o Galvão Bueno narrava os gols do Palmeiras em tom infinitamenteinferior ao que cantava os gols dos rivais palmeirenses. Em especial, os gols doCorínthians (COELHO, 2004, p. 63).

Por isso, o cuidado durante a seleção de assuntos a serem transformados em notícia nojornalista esportivo. Além de usar os critérios de noticiabilidade como referência, o especialista

em esportes também deve atentar-se para as nuances existentes no âmbito, profissional no qual

a linha editoria do veículo informativo se propõe a dar enfoque para não ser questionado

perante seu público.

O tempo disponível para a produção, apuração e veiculação no jornalismo, seja qual for a

editoria é escasso, mas o profissional da comunicação não pode usar isso como subterfúgiopara   produzir   materiais   de   baixa   qualidade.   Como   consequencia   de   um   j

desqualificado está o descrédito do jornalista e do programa perante os receptores desta má

informação veiculada e assim estará em xeque a credibilidade jornalística.

A cobertura de eventos esportivos, sejam quais forem, jogos olímpicos, copas do mundo de

qualquer modalidade esportiva, campeonatos ou treinos, é bastante complexa. Tais coberturas

necessitam de pautas que incluam, além das fontes, conhecimento político relativo às

instituições geradoras de produtos e fatos – Comitês, Federações, Ministério dos Esportes,

Secretarias de Esporte – além das regras, estatísticas, histórias inerentes a cada prática

esportiva, além do posicionamento de câmeras em busca dos melhores ângulos e luz.

Todos sabem que originalmente o futebol era transmitido na íntegra pela emissora detelevisão. Passava-se mais de 90 minutos pondo a câmera atrás da bola para que ostelespectadores tivessem uma vaga impressão do que se passava nos estádios, assistir uma partida pela televisão era um espetáculo que deixava muito a desejar em relação air aos estádios (FILHO, 1994, p. 69).

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Das grandes coberturas no jornalismo esportivo, existem duas, a Copa do Mundo de Futebol e

as Olímpíadas que interessam à imprensa de todo o planeta. Para cobrir tais eventos, são

enviados repórteres e toda uma equipe técnica munidos de um arsenal tecnológico a fim de

enviar para cada um dos países o maior e mais relevante número de informações sobre todos

acontecimentos que envolvam os atletas, suas equipes e seus adversários.

A sofisticação eletrônica inverteu integralmente esse papel, criando, a partir do eventoesportivo, um espetáculo visual fascinante. Hoje, através da escolha de ângulos, detomadas, de enquadramentos, pela multiplicação das câmeras, pelos efeitos especiais,pelas formas com que a imagem é parada, acionada em forma lenta, pelos efeitos dedestaque, em suma, por todas essas técnicas desenvolvidas em televisão, o jogo defutebol virou um espetáculo mais fascinante para o espectador que aquele queencontraria no estádio (FILHO, 1994, p. 69).

Os  eventos  esportivos  de  grande  volúpia  chamam  a   atenção  tanto  das  em

comunicação quanto de instituições públicas e privadas de todos os tipos a fim de associar seus

nomes a estes eventos mundialmente contemplados através da televisão.

A venda dos direitos de transmissão e dos espaços publicitários é altamente lucrativa tanto para

os organizadores quanto para as empresas jornalísticas que detêm os direitos de transmissão.

Em contrapartida, em alguns casos, as empresas intervêm de alguma forma no espetáculo.

No Brasil, só para citar nossa realidade, o poder da mídia diante do futebol é tamanho que o

horário de transmissão do futebol às quartas-feiras é 22h, exatamente quando termina a atração

novelística da Rede Globo de Televisão, maior detentora dos direitos de transmissão dos

campeonatos de futebol que envolvem agremiações brasileiras, como Taça Libertadores, Copa

Sul Americana, Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, além dos campeonatos estaduais.

A imposição de tal horário para o início das partidas prejudica o cotidiano dos telespectadores

e, principalmente, de quem prefere assistir às disputas no local em que elas acontecem. E até

mesmo os profissionais se desgastam mais com os horários de transmissão. Então, todo dia em

que há disputas nestes horários, a rotina editorial é alterada, não apenas da televisão, mas de

todos os veículos.

A internet precisará de alguém (mesmo que do conforto de sua casa, regalia que apenas a

internet proporcina) com um laptop ligado e atento a tudo que acontece para atualizar a página

do site pelo qual é responsável. O rádio e a televisão deslocam equipes de técnicos de som e

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transmissão, além de repórteres e narradores para transmitirem o evento. Já o jornal impresso

sofre com o fechamento de suas edições. As que são enviadas a cidades distantes certamente

irão sem a cobertura do assunto, que será veiculado apenas na última tiragem que é distribuída

para regiões mais próximas das gráficas.

O risco das empresas na cobertura esportiva deve ser calculado, deve-se avaliar o risco do

negócio, os valores arrecadados com publicidade e aí sim verificar se financeiramente é viável

determinada cobertura. É preciso ainda que haja um confronto de contas entre receita adquirida

e despesas com pessoal, maquinário, deslocamento, manutenção etc. Todos estes elementos

são primordiais para que determinado evento esportivo seja interessante para o veículo.

As transmissões dos eventos esportivos ocorrem simultaneamente a uma narração, que

geralmente é auxiliada por conhecedores das regras, dos atletas, dos dirigentes, clubes e/ou

seleções etc. Este narrador também é chamado de  cronista esportivo. Exclusividade do

jornalismo esportivo, o cronista é especializado em narrar lances de uma partida. Com texto

mais literário, ele apresenta o evento esportivo no formato de crônica. Um personagem

importante na crônica esportiva nacional foi Nelson Rodrigues.

As equipes jornalísticas especializada em esportes atualmente precisam de predicados para

“segurar” os espectadores. Com isso, eventos de grande vulto são expetacularizados pela

mídia. Tomamos como exemplos, os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo de futebol. Os

organizadores competem entre si, de forma fria e com quatro anos de déficit para mostrarem

que são capazes de produzir uma festa de abertura e encerramento mais pomposa que a

proporcionada no evento anterior. E as mídias, principalmente a televisiva, com a tecnologia

de transmissão empregada pode ser considerada uma das responsáveis por isso. Daí aimportância do jornalismo esportivo televisivo na cobertura de eventos.

Alguns nomes importantes no processo de credibilidade do jornalismo esportivo, sejam eles

cronistas, narradores, repórteres e comentaristas são Armando Nogueira, Antero Greco, João

Saldanha, Juca Kfouri, Léo Batista, Mauro Beting, Mylena Ciribelli, Orlando Duarte, Osmar 

Santos, Washington Rodrigues, Tino Marcos, Paulo Vinícius Coelho, Paulo Calçade etc.

Com a cooperação destas personalidades jornalísticas, o padrão das coberturas esportivas é de

não se limitar apenas à exposição de rankings e resultados, mas apresentam todas as nuances

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da competição que se propuseram transmitir. Isso mostra que o horizonte das matérias no

jornalismo esportivo deve invadir até mesmo áreas do conhecimento que, em princípio, estão

alheias à prática esportiva, mas podem explicar o comportamento de determinada equipe ou

atleta como a psicologia, a medicina e até mesmo as práticas religiosas.

Acontecimentos  históricos  dos  países  envolvidos,  dos  atletas,  fornecimento  de  

estatísticos, regras do jogo e critérios propostos pelos organizadores do campeonato são

também de considerável importância nas transmissões jornalísticas da televisão. Aqui, é

necessário enfatizar um dos preceitos do jornalismo que é o de informar com qualidade.

 

A ampliação dos horizontes na cobertura jornalística deve sempre ser uma das prioridadesjornalísticas para melhor informar seu público audiovisualmente. Um exemplo mais recente

para ilustrar e indicar isto foi o caso envolvendo o atleta ganês que defende o Football Club

Internazionale Milano ou, simplesmente, para os brasileiros, Inter de Milão, Sulleyman Ali

Muntari.

Em pleno Ramadã, nono mês do calendário islâmico, equivalente a parte dos meses de agosto

e setembro no calendário cristão, época do ano na qual os muçulmanos jejuam Muntariresolveu fazer o mesmo. Vale lembrar que esta época do ano, para os muçulmanos, é tempo

de renovação da fé, quando são intensificadas as práticas de caridade, da fraternidade e dos

valores da vida familiar.

Pois foi exatamente durante o Ramadã que Muntari jogava contra a Associazione Sportiva

Bari,  equipe  recém-promovida à primeira divisão do Campeonato Italiano de Futebol na

temporada 2009/2010, quando foi substituido ainda no primeiro tempo sob a alegação de queo jogador estava sem energias devido ao rigoroso jejum imposto pela religião islâmica.

Tal fato gerou protestos como o do líder islâmico local. "Creio que Mourinho poderia falar 

um pouco menos.  Um jogador que acredita no cristianismo, no judaísmo ou no Islã

definitivamente tem uma predisposição psicológica muito tranquila, e isso o ajudará mais",

opinou, Mohamed Nour Dachan presidente da União de Comunidades e Organizações

islâmicas da Itália, em declarações à rede de tevê Sky veiculadas no Brasil pelo portal de

internet UOL em 25 de agosto de 20099.

9 UOL - Disponível em: <http//esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2009/08/25/ult59u200970.jhtm>

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Todo seu argumento possuía embasamento religioso. “O mês do Ramadã foi o mês em que foi

revelado   o   Alcorão,   orientação   para   a   humanidade   e   evidência   de   orie

discernimento”10. Por isso os jornalistas esportivos devem estar atentos às várias nuances não

apenas do esporte, mas das práticas exercidas pelos atletas e comissões a fim de possuir 

arcabouço teórico que explique determinados fatos alheios à prática e à modalidade esportiva

em si.

No Brasil, o esporte mais destacado pelos veículos de comunicação, sejam eles impressos,

radiofônicos, virtuais ou televisivos é o futebol. Partindo especificamente para a televisão, nos

jornais apresentatos pelo país existe quase que uma separação dentro da mesma editoria – esportes/futebol e esportes/outros. São vários programas especializados em esportes, além de

terem também espaço reservado em todas as edições dos grandes jornais apresentados no

“horário nobre” da televisão e, dentro deles, o futebol é o esporte que toma para si a maior 

fatia, sobretudo nas edições dos finais de semana.

Dentre as emissoras de televisão com sinal aberto e que atuam em rede para todo o Brasil, a

TV Bandeirantes, com sede em São Paulo, foi, durante as décadas de 1980 e 1990, a emissoraque dedicava maior espaço às transmissões esportivas. Durantes a maior parte de seu horário

útil dos domingos, era apresentado o programa chamado Show do Esporte. Assim, a emissora

se auto-intitulava como "o canal do esporte". Já nas TVs assinadas existem canais com

programação exclusiva dedicada aos eventos esportivos de qualquer modalidade. Os canais

Sportv e Sportv2, ESPN e ESPN Brasil, além do Bandsports, são as referências nacionais em

transmissões esportivas.

Em Minas Gerais não é diferente do restante do país. Os programas esportivos e as

transmissões de eventos dão enfoque principal ao futebol e, quando se trata de futebol mineiro,

as atenções ficam polarizadas entre Clube Atlético Mineiro e Cruzeiro Esporte Clube, times

com maior clamor popular entre mineiros. O jornalismo esportivo mineiro, atento para este

nicho, dedica atenção especial a estas agremiações qualquer que seja a mídia.

Acesso em: 09/11/2010.

10 UOL - Disponível em: <http//esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2009/08/25/ult59u200970.jhtm>Acesso em: 09/11/2010.

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3.3 Jornalismo e Entretenimento na televisão

O jornalismo de entretenimento tem o intuito de encaminhar aos receptores informações leves

e este tipo de jornalismo vem ganhando espaço na televisão brasileira. Ele tem a intenção

primeira de ser popular e consumido facilmente por várias faixas da sociedade brasileira. A tal

modalidade jornalística cabe diminuir as tensões do cotidiano ou se entrelaçar na vida privada

dos ricos e famosos do Brasil.

O princípio deve ser aplicado também ao jornalismo, que se ocupa em tudo devassar,que representou, em invadir todos os territórios, em nada deixar obscuro nassociedades, nas culturas e no próprio íntimo das pessoas. Na medida em que também aesfera particular passa a ser vasculhada, ocupada pelos meios de comunicação,também ocorre o fenômeno em que a informação, passado um certo ponto de seudesenvolvimento, torna-se, ela própria, também autodestrutiva (FILHO, 1994, p. 59).

O jornalismo de entretenimento e a fofoca na televisão brasileira são tudo que se apresenta

como forma de ocupação em que não há desgaste de energia do telespectador, o famoso

“passa-tempo” e sua função é a diversão. Foi com esta intenção que o entretenimento se

introduziu nas redações, apresentando como principal conteúdo o fait divers.

O f ait divers está relacionado a notícias variadas, constituindo elementos relevantes para a

promoção do entretenimento no noticiário. É uma notícia de ordem não classificada dentro do

catálogo editorial como política, economia, cultura, esportes etc. Ou seja, uma informação de

fatos insignificantes e variados. Pode-se então dizer que o fait divers tem características de um

elemento estimulador da diversão que foi introjetada no sisudo jornalismo. Ele deve conduzir 

os telespectadores ao mundo das fantasias de uma realidade paralela à sua.

Assim como os telespectadores vivenciam a fantasia das novelas e atribuem aosatores/parsonagens o status de personalidades da vida pública, os próprios atoresparecem fazer isso em relação a si mesmos. A trama das novelas migra para a vidapessoal deles. E sua vida pessoal, assim formatada, retorna par as novas tramas denovela, dando à ficção mais conflitos e apelo (BUCCI, 1997, p. 85).

As  informações  explicitadas  nosfait   divers são   completas,   ou   seja,   não   exigem

aprofundamento e nem acionam a opinião pública. Os fatos e conteúdo informativos

relacionados como fait divers são de conhecimento social, porém, de relevância duvidosa.

...hoje, na Globo, um bom jornal se faz com bons comediantes. A grande prova foi aoar terça-feira passada sob o nome de Brasil Legal. O novo programa de Regina Casé éa melhor reportagem que eu já vi na TV sobre a alegria da gente Brasileira. Ela entrouna vida do moço pobre carioca, não para falar de quanto ele ganha, onde trabalha,

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quantos anos ele tem, mas para encontrar a camisa que ele mais gosta de usar, o queele canta quando toma cerveja, como ele brinca com as meninas no ponto de ônibus(BUCCI, 1997, p. 87-88).

Existem programas televisivos de abrangência em todo o Brasil, como TV Fama da Rede TVe o Vídeo Show da Rede Globo de Televisão, somente para citar dois exemplos, que existem

apenas para “vigiarem” a rotina dos ricos e famosos, bombardeando os receptores de

informações relacionadas à vida privada das celebridades ao invés de limitarem-se a fatores

relativos à vida públicas destas personalidades, sejam elas nacionais ou internacionais,

políticos, artísticos ou esportistas.

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4 ESTUDO DE CASO

4.1 Metodologia

Os métodos para desenvolvimento partiram de uma pesquisa e posterior seleção bibliográfica

de livros, artigos e sites cujos autores abordam como tema central assuntos relacionados à

história da televisão brasileira e seu desenvolvimento até as coberturas e transmissões

audiovisuais.

 

Neste trabalho, a idéia principal é verificar a existência de uma possível tendência no

jornalismo esportivo, a do hibridismo com a fofoca, presente nas matérias e comentários dosjornalistas durante a exibição do programa esportivo Minas Esporte pela Rede Bandeirantes

de Televisão. Com isso, pretende-se verificar se existe relação do jornalismo esportivo com o

jornalismo de entretenimento, voltado para assuntos que abordem a vida privada de pessoas

que estejam envolvidas com as atividades esportivas, os assuntos que estão alheios à sua

prática profissional, fazendo com que o jornalismo esportivo “trance” seus assuntos com a

supérflua fofoca. Portanto, o objetivo desta pesquisa é analisar tudo que está à margem do

objeto principal do diário, o esporte.

Para isso serão enfatizadas apenas as mensagens explicitadas pelos comentaristas e pela

apresentadora durante a transmissão do programa e que envolvam atletas, agremiações de

qualquer área do esporte e seu corpo técnico, mas estão alheias ao esporte.

O jornalismo esportivo pode estar sendo expandido para outra editoria e promovendo novas

possibilidades de cobertura, com várias nuances como entretenimento, polícia, religião e atémesmo economia, quando o foco do debate fica em torno dos salários dos atletas, seu poder 

de compra e ostentação, por exemplo.

Para fomentar o tema de pesquisa científica proposto será utilizado o método de análise do

discurso destes comentaristas esportivos bem como a apresentadora do programa Minas

Esporte. O objeto analisado é um programa no estilo “mesa redonda” apresentado uma vez ao

dia, no início da tarde, cinco vezes por semana, de segunda a sexta-feira pela Rede

Bandeirantes de Televisão, sucursal de Belo Horizonte, responsável por repetir o sinal dos

programas e jornais produzidos em São Paulo, sede da emissora, e também é responsável pelo

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programa Minas Esporte produzido em Belo Horizonte distribuído em rede para o Estado de

Minas Gerais.

Para isso, foram selecionadas cinco edições do programa Minas Esporte e nestas verificados

se há ocorrência e, caso hajam, serão pontuados os comentários e notícias veiculados pelo

programa e que abordem assuntos sobre a vida privada de pessoas que têm o esporte

profissional como forma de vida.

A técnica utilizada para a análise é a identificação do conteúdo, através de elementos

narrativos definidos por enunciações que identificam como os profissionais da empresa lidam

com aspectos privados, uma vez que a questão central da pesquisa é responder quaisestratégias de linguagem que os jornalistas da emissora utilizam para compor um programa

diário.

O procedimento compreende a análise da construção dos textos narrados durante as edições

selecionadas de modo a identificar o perfil dos comentários veiculados, a linguagem

empregada nos textos e a relação com o jornalismo de fofocas. Busca-se, então, compreender 

de que forma as informações são apresentadas, a fim transmitir o maior número possível denotícias e como essa informação é apresentada ao público.

4.2 ANÁLISE

Há 30 anos no ar, o Minas Esporte leva o esporte, principalmente o futebol mineiro para cerca

de 14 milhões de mineiros em mais de 400 municípios do estado. Dimara Oliveira é a

apresentadora do programa e às vezes tem, para conter os ânimos dos colaboradores, tem queexercer o papel de mediadora entre os argumentos conflitantes dos comentaristas. Dimara é

uma das referências no jornalismo esportivo de televisão em Minas Gerais, seja pelo tempo de

carreira na cobertura esportiva ou pela apresentação e na exposição de argumentos inerentes

ao esporte nacional e principalmente mineiro.

Os comentaristas são Flávio Carvalho, Serginho Lélio, Gustavo, Júnior Brasil, Fábio Pinel e

Romero. Não existe uma escala definida dos dias em que cada um participa do programa,

ocorre uma rotatividade, porém, os mais assíduos durante a semana analisada foram Flávio

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Carvalho e Fábio Pinel. Uma explicação para tal fato pode ser a carreira paralela em rádio e

jornal impresso, comum aos demais participantes.

O programa Minas Esporte é um diário veiculado há 30 anos pela Rede Bandeirantes de

Televisão em Minas Gerais. Após seu trigésimo aniversário, que ocorreu em 2010, houve uma

reformulação estética para atualizá-lo, visando uma disputa mais igual com os programas das

emissoras concorrentes.

O diário televisivo é apresentado de segunda a sexta-feira, das 12h30 às 13h15, ou seja,

quarenta e cinco minutos, exatamente o mesmo tempo da metade de uma partida de futebol.

Estruturalmente, o Minas Esporte é dividido em quatro blocos, mas não existe uma divisãotemporal bem definida destes blocos. Dependendo do calor das discussões, um bloco pode ser 

consideravelmente maior do que o outro.

Para a análise, foram gravadas as exibições do programa televisivo citado acima entre os dias

16 e 20 de agosto de 2010, totalizando 5 programas. Mas existe aqui uma peculiaridade. Por 

ser apresentado no início da tarde, ele teve seu horário reduzido a partir da terça-feira, dia 17

de agosto para que a emissora transmitisse o horário eleitoral gratuito. Tal diminuição da cargahorária mostra a pouca relevância do programa na emissora que dá ênfase a programas

produzidos na sede nacional em São Paulo. Não houve um remanejamento de horários e sim

uma abrupta diminuição do tempo total do programa.

A configuração tradicional de tempo e blocos foi percebida apenas no dia 16 de agosto,

primeiro da coleta do material empírico. Nas outras exibições do restante da semana, o

programa teve duração de 30 minutos e as divisões dos blocos continuaram disformes.

O programa apresenta os melhores momentos dos jogos de Atlético e Cruzeiro, os gols da

rodada, a tabela de classificação e as notícias dos clubes. Mas o Minas Esporte é basicamente

sustentado pelos comentários dos especialistas que não expõem com clareza suas preferências

clubísticas, fato facilmente identificado antes da reformulação de trinta anos.

Compõem também o programa entrevistas com personagens esportivos e os preparativos das

equipes mineiras para os próximos desafios, trocas de treinadores e atletas. Uma das

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características  do programa  é a interatividade  com o telespectador  que participa  das

discussões. Se hoje isto acontece, por meio do Twitter , antes acontecia através do fax.

O problema proposto para pesquisa não foi confirmado, pois durante os dias de gravação não

foram percebidos matérias e comentários que abarcassem a vida privada dos envolvidos com

o esporte. Porém, foi percebido outro fator: a grande intercessão das publicidades durante a

exibição do programa. O tempo exclusivo para elas é proporcional ao dedicado aos dois

grandes clubes que o programa se dedica a cobrir.

O cenário do programa, composto por tapumes de madeira, com um televisor ao lado

esquerdo dos comentaristas e à direita da apresentadora, que fica todo o tempo de pé,enquanto os comentaristas ficam assentados em poltronas de frente para Dimara Oliveira.

Esta proposta pode ser pelo fato de que Dimara é responsável pela mediação entre os

comentários e assim ela passeia pelo cenário chamando para o ar cada um dos comentaristas,

e quando o programa anuncia promoções, ela também recebe os telespectadores ao vivo em

um pequeno espaço reservado para tal.

Todos, incluindo a apresentadora Dimara Oliveira, apresentam-se de forma despojada, sem o

rigoroso terno imposto aos jornalistas de outras editorias, o que dá sensação de leveza e

liberdade, percebidas nas discussões e cria um perfil informal para o programa.

Dia 16 de Agosto de 2010, primeiro dia de gravações, do programa que inicia com Dimara

apresentando os destaques, a rodada do fim de semana para Atlético e Cruzeiro e logo chama

uma matéria do repórter Flávio Júnior sobre a vitória do Atlético Mineiro sobre o GuaraniFutebol Clube, no estádio Ipatingão, pelo Campeonato Brasileiro de futebol. Esta matéria

dura cerca de 1’30’’, e logo quando voltam ao vivo, Dimara chama os comentaristas, um a

um, para refletirem a vitória atleticana. Estes comentários duram cerca de 7 minutos.

Logo é chamada a matéria em nota coberta referente ao empate do Cruzeiro Esporte Clube no

estádio do Morumbi contra o São Paulo Futebol Clube, também pelo Campeonato Brasileiro.

Em seguida, a apresentadora elogia a atuação do goleiro cruzeirense Fábio e do meia

argentino Walter Montillo e critica o pedido do técnico do Cruzeiro Cuca em ordenar para que

o meia Montillo auxilie na marcação. Assim, como o término da matéria sobre o final de

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semana dos times mineiros na primeira divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol, Dimara

abre espaço para os comentários, mas sem a organização do início do programa, gerando uma

discussão generalizada sobre o jogo em São Paulo e o resultado da partida.

Logo após, a apresentadora chama uma entrevista em vídeotape e retornam as discussões

sobre a atuação do time mineiro no Morumbi, avaliações táticas e técnicas de atletas como

Fábio, Montillo, Fabinho e o meio-campista Roger. O espaço dedicado ao Cruzeiro no

primeiro bloco foi de aproximadamente 6 minutos.

Entra um comercial durante o programa e, após a publicidade, é chamado o intervalo

comercial convencional.

O segundo bloco começa com nova publicidade interna com duração de aproximadamente 2

minutos e logo após é chamado um VT com os melhores momentos do jogo de Ipatinga, entre

Atlético e Guarani. É aberto novamente o espaço para discussão, mas com tempo mais curto

e, logo após, é chamada uma entrevista com o presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella que diz

sobre a contratação do atleta argentino Walter Montillo.

Dimara propõe um debate sobre os momentos distintos das principais contratações de Atlético

e Cruzeiro e os comentaristas expõem suas opiniões sobre os potenciais de cada atleta dos

dois times e a importância deles para seus respectivos clubes.

É veiculada uma entrevista com o técnico atleticano Vanderlei Luxemburgo, que fala sobre os

problemas de contusão dos atletas que comanda e sobra a dificuldade de reposição. Logo no

fim da entrevista gravada em VT, a bancada discute as atuações de Luxemburgo no comandodo Atlético, o comportamento da torcida atleticana, os jogadores machucados e os atletas de

reposição do elenco atleticano.

A  “mediadora”  Dimara  Oliveira  chama  outra  matéria  sobre  o Cruzeiro  e cha

comentaristas que, destacam a atuação de Cuca no jogo contra o São Paulo e os jogadores

são-paulinos Casemiro e Rogério Ceni. Logo após, entra nova publicidade no programa que

finaliza o bloco.

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O terceiro bloco do programa se inicia com publicidade e logo após foi veiculada a outra parte

da entrevista com o técnico do Cruzeiro, que fala sobre o esquema tático empregado por ele

no seu time. Dimara, novamente propõe uma discussão sobre a atuação do comandante

cruzeirense e emenda com a chamada para uma entrevista com o técnico atleticano, que fala

sobre a evolução de seu time após duas vitórias consecutivas, uma pela Copa Sul-americana

sobre o Grêmio Prudente e outra, pelo Campeonato Brasileiro de Futebol sobre o Guarani.

No retorno ao vivo, é destacado o fato de que o goleiro do Atlético, Fábio Costa, não poderá

jogar na próxima rodada do campeonato, pelo fato de que o atleta pertence ao Santos,

adversário do Atlético que, por força de contrato, afastou o jogador da partida.

Logo em seguida foi veiculado o vídeo com os gols dos outros jogos da rodada do fim de

semana antes da chamada para o intervalo comercial.

Tal intervalo comercial antecede o quarto bloco, o menor do programa, vem apenas para

apresentarem os resultados dos clubes mineiros nas séries B, C e D do Campeonato Brasileiro

de Futebol, com destaque para o América, Uberlândia e Ituiutaba. E assim é finalizada a

primeira edição da semana.

No primeiro dia das exibições, percebe-se que quase todo o tempo do programa foi dedicado

às exposições e comentários sobre Atlético e Cruzeiro, com um pequeno espaço dedicado aos

gols dos demais jogos do final de semana do Campeonato Brasileiro. Um espaço menor ainda

foi preenchido por exibições das tabelas de classificação dos campeonatos das séries

inferiores do Campeonato Brasileiro de Futebol. No primeiro dia da semana, o programa

apresentou exclusivamente assuntos futebolísticos, sem dar qualquer espaço para outrosesportes.

Dia 17 de agosto de 2010: no segundo dia de coleta de material, o programa tem horário

reduzido em vinte e cinco minutos, por causa do início da propaganda eleitoral gratuita.

Assim, os fatos tiveram que ser apresentados de forma mais sucinta deixando aparente a falta

de planejamento perante a nova carga horária diária.

Tudo começa com uma matéria em que os torcedores têm voz e comparam dois jogadores, um

do Atlético e outro do Cruzeiro. A maioria elogia o meia cruzeirense Walter Montillo e

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comentam também sobre a má fase de Diego Souza no Atlético. Após esta breve abertura, em

que não houve apresentação dos comentaristas que participarão no dia, como de praxe, uma

publicidade narrada pelo comentarista Flávio Carvalho separa a matéria do primeiro intervalo

comercial.

O retorno para do bloco é precedido por uma publicidade e após o merchandising é aberto

espaço para os comentários, Júnior Brasil começa a rodada de comentários dizendo sobre a

posição ruim na tabela, mesmo após a vitória do final de semana, do Atlético. Ele destaca

também a sequência de vitórias que o Atlético necessita, e que deveria iniciar contra o Santos,

na Baixada Santista.

O programa conta com a presença ao vivo do técnico Cuca no estúdio da emissora. O

treinador cruzeirense foi sabatinado pelos comentaristas Júnior Brasil, Flávio Carvalho,

Serginho e Fábio Pinel sobre o desempenho cruzeirense e o uso das categorias de base da

Toca da Raposa, os jornalistas continuam a entrevistar Cuca.

No retorno ao programa, após um merchandising dentro do bloco, a discussão continua, foram

abordados assuntos relacionados ao esquema tático utilizado na montagem do time doCruzeiro entre os profissionais da imprensa e Cuca. Após a sequencia de perguntas e uma

nova publicidade que invade o bloco, logo após, o programa é abruptamente encerrado,

mostrando a falta de adaptação da equipe com o novo limite de tempo.

Esta edição mostra um nível elevado de despreparo ao não planejarem como iriam distribuir 

os blocos e os espaços de cada assunto com tempo reduzido por causa do horário eleitoral

gratuito obrigatório.

Cortes brutos dos blocos, retorno de intervalos também da mesma forma e a dependência

publicitária do programa que além dos comerciais exibidos tradicionalmente em horário

apropriado e bem definido, o programa, que teve sua carga reduzida em vinte e cinco minutos,

não diminuiu proporcionalmente a carga horária publicitária exibida durante a apresentação

do programa. As publicidades que são feitas pelo comentarista Flávio Carvalho ou por um

ator, que não faz parte do corpo de comentaristas que invadem a transmissão para anunciarem

produtos devidamente chamados pela apresentadora.

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Tal relevância que o programa dá a este tipo de anúncio, aliados a má qualidade dos textos

destas publicidades e das leituras dos narradores causa um desconforto ao telespectador.

Dia 18 de agosto de 2010, edição que se inicia com a apresentadora chamando uma matéria

sobre o desafio atleticano do final de semana com foco nos desfalque por contusão e, em

contrapartida, as duas possíveis estreias, a do zagueiro Réver e do equatoriano Edson Mendéz.

A matéria é precedida por uma publicidade, bem no estilo amplamente utilizada pelo

programa. O apelo publicitário é tamanho que, após a publicidade no interior do bloco, é

chamado por Dimara Oliveira o intervalo comercial.

No retorno do programa ao vivo é chamada nova publicidade dentro deste bloco que se inicia.

Os comentaristas discutem sobre o esquema tático 4-3-3. Tal esquema se caracteriza pelo uso

de quatro zagueiros, três meias, geralmente dois de contenção e um armador, com mais três

atacantes que ajudam na marcação do campo de defesa adversário, marcando a saída de bola

dos zaqueiros, médio-volantes e laterais adversários. Segundo a bancada, o esquema 4-3-3 é o

da “moda” na Europa e é utilizado também por alguns técnicos brasileiros como o ex-

corintiano e atualmente na seleção brasileira, Mano Menezes.

Após o intercalo comercial começa o terceiro e último bloco do dia que é o mais rápido, o

tempo é suficiente apenas para que os componentes do programa dêem seus palpites

referentes ao resultado do jogo do Internacional Sport Club contra o Chivas (Club Deportivo

Guadalajara), pela final da Copa Libertadores da América, que dá vaga ao campeão para o

Campeonato Mundial de Clubes.

No segundo dia seguido fica evidente o despreparo na distribuição dos blocos e a prioridade

para os anúncios publicitários em detrimento do que mais importa, materiais jornalísticos e

debates, o cerne deste diário esportivo. Percebe-se que, até mesmo o futebol, foco exclusivo

do programa até então perde espaço para estas publicidades que, mesmo sendo primordiais

para a sobrevivência do jornalismo, começa a incomodar o telespectador pela forma que ela é

distribuída durante os blocos do Minas Esporte.

Dia 19 de agosto de 2010: neste dia, o programa começa com uma rodada de comentários

sobre o título conquistado um dia antes pelo Internacional. Dimara Oliveira chama os

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integrantes do programa, um a um para expressarem suas opiniões sobre mais uma vitória

brasileira no futebol. Após os comentários, segue um anúncio publicitário que antecede novos

comentários dos especialistas sobre o técnico do Internacional, Celso Roth, que havia saído do

Atlético no ano anterior e, logo após, é chamada uma matéria sobre o Consulado Colorado em

Belo Horizonte, formado por torcedores do Internacional em Minas Gerais.

O segundo bloco começa com um merchandising e logo após, Dimara lança nova proposta de

discussão: as situações opostas no Campeonato Brasileiro de Atlético e Cruzeiro, além da

dificuldade do alvi-negro em montar um time competitivo para se livrar da zona de

rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol.

Após nova publicidade, o tema de fechamento do programa do dia foi a violência dos atletas

mexicanos  do  Chivas  para  com  os  Jogadores  e  integrantes  da  comissão  

Internacional após a perda do título da Libertadores da América, copa mais importante para o

futebol do continente sul-americano.

Neste dia ficou clara a falta de materiais jornalísticos e a saturação dos assuntos discutidos na

semana. Nem mesmo o tempo mais curso do programa foi capaz de minimizar a repetição deassuntos sobre os clubes de futebol do estado de minas.

Tal monotonia mostra que o programa necessita de que os times mineiros, principalmente

Atlético e Cruzeiro joguem durante a semana, caso contrário, os assuntos discutidos se

repetem, transmitindo ao telespectador a sensação de que estão apenas lançando conteúdo,

sem ineditismo para apenas preencherem o tempo da semana.

O maior agravante que reflete a falta de criatividade do programa e a sensação de monotonia é

o fato de que, além da já dita redução do tempo por causa do horário eleitoral gratuito, o

programa usa amplamente anúncios publicitários durante a exibição que nem assim diminui

esta sensação de saturação dos assuntos discutidos.

Dia 20 de agosto de 2010: no último dia da semana, o programa continua reduzido e a

proposta é fazer uma projeção dos resultados dos jogos dos clubes mineiros na primeira

divisão do campeonato brasileiro. O comentarista Serginho prevê uma possível hostilidade

dos torcedores santistas perante o técnico do Atlético Vanderlei Luxemburgo. Após falarem

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das pretensões atleticanas no fim de semana, é veiculada uma entrevista com o lateral direito

cruzeirense, Jonathan, que fala de sua dificuldade em jogar, devido a contusões e à

necessidade de se adaptar ao modo de trabalho do técnico Cuca. O bloco é fechado com um

anúncio publicitário anterior ao intervalo comercial.

O retorno para o segundo bloco tem uma matéria sobre a estreia de Rever na zaga atleticana, o

momento ruim que o Atlético passa no campeonato nacional e a necessidade de vencer o

Santos dentro da arena da Baixada Santista. Novamente, uma publicidade no interior do

programa fecha o curto bloco, que só não é menor que o terceiro e último da semana. Este

bloco derradeiro serviu apenas para que a apresentadora apresentasse uma lista em que estão

relacionados os atletas convocados pelo técnico Mano Menezes para um período de treinosem Barcelona na Espanha.

A chegada da sexta-feira e a proximidade de uma nova rodada do Campeonato Brasileiro de

Futebol serviu como um desafogo para os integrantes do programa. Nem a convocação para a

seleção brasileira teve importância para diversificar os assuntos discutidos no programa, já

que o tempo destinado para tal informação foi apenas um “flash” e nada mais. Porém, com a

proximidade de uma nova rodada, os comentaristas do programa voltaram a ter o que discutir e fazer projeções, ficando evidente uma deficiência criativa para driblar a falta de assuntos.

Uma alternativa seria uma diversificação nas abordagens do programa, que honraria o seu

nome: Minas Esporte.

Assim ficaram distribuídas as prioridades do programa após uma semana de análise:

Assuntos relacionados a:

40%

36%

15%

9%Atético-MG

Cruzeiro

Publicidade no interior 

dos blocos

Outros clubes e seleção

brasileira

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CONCLUSÃO

Após analisar o objeto proposto, verificou-se que a equipe de profissionais, inclusive

comentaristas como Serginho e Flávio Carvalho, declaradamente cruzeirenses, fato constatado

quando Serginho integrava a parte “estrelada” na equipe de profissionais da “bancada

democrática” no programa Alterosa Esporte, e quando, Flávio Carvalho era o líder do próprio

Minas Esporte em um passado próximo, principalmente da década de 1990, devem manter,

agora, o máximo a imparcialidade possível, e isso foi constatado durante a análise.

Os comentaristas desenvolvem suas observações sobre todos os assuntos demandados pela

apresentadora Dimara Oliveira sem tomar partido, levados pelas paixões clubísticas. ClubeAtlético Mineiro e Cruzeiro Esporte Clube, bem como as ações tomadas por suas respectivas

diretorias e torcidas, focos quase que exclusivos do diário, não são defendidos ou execrados

veementemente sem apresentação de justificativa plausível para tal.

De acordo com as técnicas pedidas nos manuais de jornalismo, que é a busca incessante pela

imparcialidade e dos critérios de noticiabilidade conforme Erbolato (1984) de importância e

proximidade, o programa tem suas virtudes. Como já informado, os comentaristas não tomampartido sobre as notícias debatidas, a não ser que apresentem suas convicções de forma

embasada. Assim eles atendem a uma idéia defendida por Coelho (2004) que e a de não

misturar o comentário com o palpite. O primeiro tem embasamento histórico e estatístico, já o

segundo é apenas uma propagação de palavras sem embasamento suficiente para sustentá-las.

Um ponto negativo é o fato de não existir uma divisão padronizada dos blocos do programa.

Ao contrário de várias críticas que são feitas contra o trabalho jornalístico atual com relação aseu engessamento, neste caso, a falta de padrão deixa o telespectador sem referências, parece

que o interesse da emissora é de apenas deixar seus telespectadores cientes da hora de início e

fim do programa, e nada mais.

Outro ponto contra o diário da Rede Bandeirantes de Televisão é algo que está presente em

vários outros programas televisivos, a publicidade, mas da forma que ela é “salpicada”

durante  o programa é  o maior  problema.  “Salpicada”  porque elas  entram  durante

programação sem haver padrão para incluí-las, podendo aparecer a qualquer momento,

inclusive durante as discussões mais acaloradas entre os colaboradores.

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Que   as   emissoras   dependem   de   verbas   publicitárias   para   sobreviverem   sa

financeiramente e com isso terem uma programação competitiva, conforme Bucci (2000),

quando diz que a publicidade seduz a sociedade de consumo e fomenta a indústria cultural,

que tem grande representação na televisão. As publicidades ajudam na manutenção, de uma

grade de programas com excelência, levando ao ar produtos de qualidade para assim, melhor 

atender seu público.

Porém, a invasão incessante de publicidade durante as transmissões e o amadorismo como

elas são veiculadas, com textos mal redigidos, mal lidos, sem ensaio, dá a sensação de

poluição, comprometendo a fluidez do programa, tornando-o cansativo. Além de parecer que

o programa é refém destes anúncios, de empresas sem muita relevância no mercado mineiro.Com exceção da Vilma Alimentos, os outros patrocinadores que exploram o espaço útil do

programa, aquele dentro dos blocos, são a Multimídia Computadores e a Ortomax,fabricante

de colchões magnéticos. Esta relevância ou necessidade de ocupação deste espaço não é

agradável para quem assiste, toma tempo e espaço que poderiam ser preenchidos de outra

forma que atendesse aos anseios dos telespectadores.

Com relação ao teor informativo, ele é estritamente relacionado aos assuntos esportivos, comfoco total no futebol e é disponibilizado um pequeno espaço aos clubes do estado de Minas

Gerais que disputam as divisões inferiores do Campeonato Brasileiro de Futebol e seleção

brasileira. Além de transmitir os gols dos outros jogos disputados pela primeira divisão do

campeonato nacional e também informações de outros clubes brasileiros em competições

internacionais, como foi o caso do espaço dado ao Internacional que disputara a final da Copa

Libertadores da América.

Com isso, o intuito proposto para pesquisa, que era a verificação de que o espaço destinado a

informações esportivas estivesse sendo invadido pelo entretenimento e a fofoca não foi

comprovado, mas, o programa apresentou pontos negativos já citados que foram verificados

apenas após a análise como a falta de assunto a ser debatido durante a semana.

Este fato fica evidente, principalmente quando Atlético e Cruzeiro não tem jogos no decorrer 

da semana. Na segunda-feira o programa é interessante e coberto de novidades, na sexta-feira

é apresentada e discutida as possíveis formações que Atlético e Cruzeiro usarão em suas

partidas bem como a de seus adversários. Porém, parece haver um buraco na cobertura

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durante o meio da semana, e as discussões ficam se repetindo durante as edições de terça,

quarta e quinta-feira, dando a impressão de que a emissora pretende apenas preencher o tempo

do programa sem objetividade.

Acredita-se que tal fato deva ficar mais evidente nos meses de dezembro e janeiro quando os

dois grandes clubes de futebol da capital gozam férias. Acredita-se também que apenas as

negociações de jogadores e especulações no mundo do futebol, ainda mais pela ênfase quase

exclusiva dada a Atlético e Cruzeiro, não rendam assunto para ocupar todo o tempo do

programa durante dois meses do recesso no futebol brasileiro.

Uma saída interessante é que o programa faça jus ao nome e cubra verdadeiramente o esportemineiro e não apenas o futebol. Minas Gerais é um estado potente no voleibol, natação, judô

entre outros esportes e eles não são sequer citados pelo diário esportivo da Bandeirantes.

Pode-se também ver o caso de receberem material das outras sucursais espalhadas pelo Brasil,

para que assim, o Minas Esporte seja verdadeiramente um programa esportivo e não apenas

futebolístico.

 

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COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2004.

ERBOLATO, Mário L. Técnicas de codificação em jornalismo: Redação, captação e edição

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FILHO, Ciro Marcondes. Televisão. São Paulo: Scipione, 1994.

MARQUES DE MELO, José Marques de. Gêneros jornalísticos na Folha de S.Paulo. SãoPaulo: FTD, 1992.

MARQUES DE MELO, José Marques de. Gêneros opinativos no jornalismo brasileiro. 3ª ed.Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003.

MORIN, Edgar. Cultura de massa no século XX: o espírito do tempo. 9ª Ed. Rio de Janeiro:Forense-Universitária, 2005.

PATERNOSTRO, Vera Iris. O texto na TV: manual de telejornalismo. 2ª ed. Rio de Janeiro:Campus, 1999.

REZENDE, Guilherme Jorge. Telejornalismo no Brasil: um perfil editorial . 2ª ed. São Paulo:

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ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. 10ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1994.

MEMÓRIA GLOBO. Jornal Nacional: a notícia faz história. Memória Globo – Rio deJaneiro: Jorge Zahar, 2004

PIMENTEL, Márcia. Jornalismo de fofoca é imprensa? Disponível em:Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=429IMQ004>

Acesso em: 20/04/2010.

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Tudo sobre TV. © MAGIA ComunicaçõesDisponível em: <www.tudosobretv.com.br/histortv/tv50.htm>Acesso em: 15/04/2010

Tudo sobre TV. © MAGIA ComunicaçõesDisponível em: <www.tudosobretv.com.br/histortv/tv60.htm>Acesso em: 15/04/2010

UOL o melhor conteúdoDisponível em: <http//esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2009/08/25 /ult59u200970.jhtm>Acesso em: 09/11/2010.

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