fundamentos teóricos da política industrial europeia

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1 Fundamentos Teóricos da Política Industrial Europeia Isabel Marques Introdução A noção de política industrial é hoje em dia francamente distinta da que existia na Europa dos anos 60 e 70. À época, os responsáveis políticos estavam convencidos de que a utilização de regras discriminatórias, o apoio a determinados sectores específicos e a imposição de barreiras ao comércio para proteger as empresas da concorrência estrangeira constituía a melhor forma de produzir riqueza e de controlar a economia. Actualmente, é amplamente reconhecido que essa perspectiva está ultrapassada. Em virtude da mundialização das trocas, das mutações tecnológicas, da liberalização do mercado de capitais, da concorrência exacerbada, das alianças entre empresas e de outros factores, o ambiente em que se desenrola a actividade económica, e a própria actividade económica, mudou. Esta mudança tornou inevitável o desabrochar de uma nova perspectiva para a política industrial. Estes novos desafios que se colocam à economia mundial (e à economia europeia em particular), têm levado muitos economistas a repensar a oportunidade e o sentido do intervencionismo estatal, nomeadamente sob a forma de política industrial. Com efeito, quer as teses clássicas quer as keynesianas foram de alguma forma desmentidas pela realidade, perdendo-se, por um lado, a confiança na mão invisível e, por outro, a confiança na eficácia da regulação macroeconómica de inspiração keynesiana que, porventura, perverteu exageradamente o funcionamento do mercado baseado na iniciativa privada. O que temos hoje, por todo o mundo industrializado, são economias mistas no seio das quais existe uma cumplicidade entre poderes públicos e poderes privados, não havendo lugar para a tradicional dicotomia que opõe o uso exclusivo dos mecanismos de mercado ao controlo sistemático do desenvolvimento industrial. Nestas modernas economias mistas parece mais ou menos evidente que todos os agentes económicos estão de acordo quanto à necessidade de uma política industrial,

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Fundamentos Teóricos da Política Industrial Europeia

Isabel Marques

Introdução

A noção de política industrial é hoje em dia francamente distinta da que existia na

Europa dos anos 60 e 70. À época, os responsáveis políticos estavam convencidos de que a

utilização de regras discriminatórias, o apoio a determinados sectores específicos e a

imposição de barreiras ao comércio para proteger as empresas da concorrência estrangeira

constituía a melhor forma de produzir riqueza e de controlar a economia. Actualmente, é

amplamente reconhecido que essa perspectiva está ultrapassada.

Em virtude da mundialização das trocas, das mutações tecnológicas, da

liberalização do mercado de capitais, da concorrência exacerbada, das alianças entre

empresas e de outros factores, o ambiente em que se desenrola a actividade económica, e a

própria actividade económica, mudou. Esta mudança tornou inevitável o desabrochar de

uma nova perspectiva para a política industrial.

Estes novos desafios que se colocam à economia mundial (e à economia europeia

em particular), têm levado muitos economistas a repensar a oportunidade e o sentido do

intervencionismo estatal, nomeadamente sob a forma de política industrial.

Com efeito, quer as teses clássicas quer as keynesianas foram de alguma forma

desmentidas pela realidade, perdendo-se, por um lado, a confiança na mão invisível e, por

outro, a confiança na eficácia da regulação macroeconómica de inspiração keynesiana que,

porventura, perverteu exageradamente o funcionamento do mercado baseado na iniciativa

privada.

O que temos hoje, por todo o mundo industrializado, são economias mistas no seio

das quais existe uma cumplicidade entre poderes públicos e poderes privados, não havendo

lugar para a tradicional dicotomia que opõe o uso exclusivo dos mecanismos de mercado

ao controlo sistemático do desenvolvimento industrial.

Nestas modernas economias mistas parece mais ou menos evidente que todos os

agentes económicos estão de acordo quanto à necessidade de uma política industrial,

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embora formulem juízos diversos sobre o papel do Estado e a sua capacidade para definir e

executar com coerência essas políticas. Esta necessidade é sentida não apenas ao nível de

cada Estado soberano, em si mesmo, mas também ao nível de espaços económicos

integrados, como é o caso da União Europeia.

A União Europeia, para além de constituir um destes espaços integrados, e de

desempenhar um papel de primeiro plano nas relações económicas internacionais, dispõe

de enquadramentos próprios para a política industrial, nomeadamente no âmbito das regras

de concorrência, e adopta a nível mundial uma visão específica desta política.

O presente artigo visa, face ao contexto descrito e às particularidades da economia

europeia, tentar compreender em que medida a política industrial que se pratica (ou

pretende praticar) neste espaço regional se inscreve nos desenvolvimentos da teoria

económica à luz dos quais é possível analisar e fundamentar a política industrial em geral,

de que destacamos as falhas de mercado e as visões institucionalista e evolucionista.

Vamos aqui debruçar-nos sobre duas perspectivas a partir das quais se pode encarar

a política industrial que se desenvolve no espaço europeu. A primeira respeita à política

industrial subjacente às regras que presidem aos auxílios de Estado, designadamente aos

enquadramentos relativos aos auxílios privilegiados pela Comissão Europeia (auxílios à

I&D, às PME, à formação, à protecção do ambiente e auxílios regionais). A segunda tem a

ver com um conjunto de orientações em matéria de política industrial, formulado pela

Comissão em documentos que publicou ao longo da década de 90, de que destacamos a

comunicação “A política industrial num ambiente aberto e concorrencial" de 1990; a

comunicação “Uma política de competitividade industrial para a União Europeia” de 1994;

e a comunicação “Como encorajar a competitividade das empresas europeias face à

mundialização” de 1999.

1. A política industrial subjacente às regras que presidem aos auxílios de Estado

1.1. Auxílios à I&D

Decorre do respectivo enquadramento que a concessão deste tipo de auxílios se

justifica pelo importante papel que a I&D desempenha na melhoria do crescimento, da

competitividade e do emprego. Todavia, e embora isso não seja explicitamente referido no

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texto do enquadramento, a I&D corresponde a um domínio tipicamente caracterizado por

fortes externalidades (positivas). Com efeito, a menos que uma empresa esteja em

condições de proteger totalmente os resultados dos trabalhos de I&D que realiza, é muito

provável que estes resultados beneficiem outras empresas. Mas acontece que quando a

empresa procede à avaliação dos custos e das vantagens de um projecto de investigação,

ela não tem em conta estes efeitos de contaminação sobre outras empresas. Nestas

circunstâncias a empresa inibe-se, pelo que o esforço total em I&D será assim inferior ao

que socialmente seria desejável. Nestes casos, as subvenções às actividades de I&D

parecem justificar-se para estimular as empresas a fazerem (ou a fazerem mais) I&D.

Ora, as externalidades são precisamente um dos argumentos avançados pela teoria

económica em favor da política industrial. As externalidades surgem sempre que

determinados agentes impõem custos ou geram benefícios para outros agentes sem que

estes recebam qualquer indemnização ou efectuem qualquer pagamento, e podem

manifestar-se em diferentes domínios como, por exemplo, a I&D, a formação ou o

ambiente.

Segundo a literatura económica, os países industrializados são especialmente

afectados pelas externalidades de origem tecnológica.

As indústrias de alta tecnologia (informática, electrónica, aeronáutica, etc.)

consagram grande parte dos seus recursos à I&D, pois trata-se de um investimento

indispensável para que conquistem vantagens comparativas. Desta I&D resultam novas

tecnologias, que geralmente são patenteadas. A patente não garante, contudo, uma

protecção total. É sempre possível, em maior ou menor grau, imitar essa tecnologia

designadamente através da desmontagem dos novos produtos lançados no mercado. Isto

acontece frequentemente em actividades, como por exemplo, a electrónica. Assim,

determinadas empresas pertencentes a uma indústria podem gerar conhecimentos e

introduzir técnicas de que outras empresas, que não investiram na inovação, vão beneficiar

sem ter qualquer custo. Ainda que a empresa inovadora se consiga apropriar de uma parte

dos benefícios do seu próprio investimento (de outro modo não investiria), ela não

consegue apropriar-se da sua totalidade. Há uma parte dos resultados das técnicas e dos

conhecimentos produzidos pela empresa inovadora que é apropriada pelas concorrentes

que não fizeram inovação. É justamente a este benefício externo gerado pela empresa

inovadora, de que ela não se apropria individualmente, que se dá o nome de externalidade.

Trata-se neste caso de uma externalidade positiva, uma vez que o efeito externo de que as

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empresas não inovadoras se vão apropriar é um efeito positivo. Assim, como o mercado

não é suficientemente eficiente para garantir que a empresa que produz a inovação se

aproprie da totalidade dos resultados gerados por essa mesma inovação, estamos em face

de uma imperfeição de mercado. Justifica-se, então, a intervenção do Estado no sentido de

corrigir esta falha de mercado designadamente através da subsidiação da empresa

inovadora.

Há portanto aqui uma perfeita harmonia entre a teoria económica e a concessão de

auxílios estatais à I&D.

Porém, a afinidade deste tipo de auxílios com a teoria económica pode, para além

da via das externalidades, também ser estabelecida pela via da política comercial

estratégica.

As políticas comerciais estratégicas inspiram-se particularmente na nova teoria do

comércio internacional que desabrochou nos anos 80, e que fundamenta teoricamente

novas formas de intervencionismo estatal. Esta nova teoria repousa em grande parte na

hipótese de imperfeição dos mercados e é justamente esta hipótese que, para os teóricos

desta nova óptica, justifica plenamente a intervenção do Estado, no sentido de ajudar as

indústrias a singrarem nos mercados internacionais. Com efeito, no âmbito de mercados

perfeitamente concorrenciais a intervenção directa do Estado nas decisões das indústrias é

considerada como sendo um elemento perturbador, na medida em que impede o sistema de

mercado de atingir uma situação de primeiro óptimo correspondente ao máximo de bem-

estar possível para cada indivíduo. Mas no âmbito de mercados já de si mesmos

imperfeitos, a intervenção dos poderes públicos pode ser vista como uma forma de explorar

esta imperfeição em beneficio das indústrias nacionais. Por outras palavras, há certos

mercados, designadamente a nível internacional, que são caracterizados por estruturas

concorrenciais oligopolísticas em virtude do reduzido número de indústrias que dele fazem

parte (como por exemplo a aeronáutica), e constata-se que este número reduzido de

indústrias beneficia de sobrelucros. Nestas circunstâncias, o governo de um determinado

país pode alterar as regras do jogo do mercado e fazer com que as indústrias nacionais

beneficiem desses sobrelucros. Isto pode acontecer através da concessão de subsídios à

indústria nacional que opera nesse sector. O objectivo é que esses subsídios tenham um

efeito dissuasor sobre a concorrência estrangeira, levando-a a abster-se seja de entrar no

sector em questão, seja de fazer novos investimentos.

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Resumidamente, o que a política comercial estratégica pretende é produzir efeitos

de dissuasão sobre o comportamento dos concorrentes, e com isso aumentar os lucros das

indústrias nacionais e consequentemente, abstraindo-nos do efeito do subsídio sobre os

consumidores, aumentar o rendimento nacional em detrimento do dos outros países

concorrentes.

Ora, não obstante o principal objectivo das orientações relativas aos auxílios à I&D

ser o de disciplinar as ajudas concedidas às actividades no interior da Comunidade,

verifica-se que estas orientações prestam grande importância à posição da Comunidade no

contexto mundial. A ilustrá-lo está nomeadamente a cláusula da "matching aid" prevista no

âmbito das orientações relativamente a este tipo de auxílios. Esta cláusula prevê que as

empresas europeias possam beneficiar do montante máximo de auxílios aceite pela OMC

(50% para as actividades de desenvolvimento pré-concorrenciais e 75% para a investigação

industrial) no caso, entre outros, de projectos ou programas em relação aos quais são

realizadas idênticas actividades por empresas localizadas no exterior da União Europeia

que tenham beneficiado (durante os 3 últimos anos) ou irão beneficiar de um auxílio de

intensidade equivalente ao nível aceite pela OMC para os mesmos 2 tipos de investigação.

Pode assim haver um auxílio adicional em relação ao previsto no enquadramento1 com o

objectivo específico de igualar o nível de auxílio praticado nos países concorrentes.

É possível, assim, descortinar a este nível alguma correspondência com a política

comercial estratégica. Para percebermos em que medida isso pode acontecer pensemos no

modo como se aplica a "matching aid". Em conformidade com a filosofia subjacente a esta

cláusula, sempre que um qualquer país comunitário vai subsidiar determinada empresa

nacional num dado montante, o país comunitário pode, automaticamente, como se disse,

subsidiar as suas empresas em igual montante. Acontece, porém, que a aplicação desta

cláusula encerra um problema, que reside no facto de frequentemente não se dispor de

informação (ou de não se dispor de informação suficiente) sobre os subsídios recebidos

pelos concorrentes nos seus próprios países. Embora muitas vezes se saiba que esses

subsídios existem, é muito difícil saber exactamente qual o seu montante. Entra-se então

num jogo estratégico.

1 O enquadramento comunitário dos auxílios estatais à I&D prevê um nível admissível de auxílio de 25%para as actividades de desenvolvimento pré-concorrenciais, mais próximas do mercado, e de 50% para osprojectos de investigação industrial de base.

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A política comercial estratégica pode, assim, ser uma maneira de aplicar a cláusula

da "matching aid" num ambiente de incerteza face à atitude dos poderes públicos dos

outros países. Isto é, a política comercial estratégica mostra-nos qual deve ser o

comportamento estratégico das empresas num contexto de incerteza e expectativa

relativamente à concessão de subsídios a nível mundial.

1.2. Auxílios às PME

Podemos igualmente questionar-nos se a concessão de ajudas públicas em favor das

PME é de algum modo sustentada pela teoria económica. O próprio texto do

enquadramento deste tipo de ajudas nos ajuda a responder a esta questão. Nele é não só

reconhecido que o crescimento, a competitividade e o emprego na Europa assentam

fundamentalmente no dinamismo das PME, como é igualmente reconhecido que as PME

são afectadas por um certo número de condicionalismos que dificultam o seu

desenvolvimento. A dificuldade de acesso ao capital e ao crédito é talvez o maior desses

condicionalismos. De facto, a falta de financiamento de longo prazo constitui a principal

restrição à expansão das PME com potencialidades de desenvolvimento. Este problema é

particularmente grave para as empresas que intervêm no desenvolvimento de produtos

baseados em novas tecnologias, já que a I&D exige uma utilização intensiva de capital.

Mas porque é que as PME não conseguem aceder em condições favoráveis ao capital de

que necessitam? A resposta está na informação deficiente, na renitência dos mercados

financeiros em assumir riscos e no carácter limitado das garantias que as PME podem

oferecer. Nestas circunstâncias, as PME não conseguem adquirir (ou não conseguem

adquirir a custos aceitáveis) no mercado de capitais os fundos de que necessitam para o

desenrolar da sua actividade, isto é, o funcionamento normal e espontâneo do mercado de

capitais não satisfaz as exigências das PME. Há obviamente aqui uma falha de mercado.

Mas outras falhas de mercado podem afectar as PME, por exemplo no domínio da

transferência de tecnologias. É sabido que em face da sua escassez de recursos, as PME

não têm capacidade para desenvolver, por si próprias, determinadas tecnologias avançadas,

daí a necessidade de transferir tecnologias dos laboratórios de investigação ou de outras

empresas para as PME. Acontece, todavia, que há a este nível uma grande assimetria de

informação. As PME geralmente têm dificuldade de aceder à informação sobre as novas

tecnologias.

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Assim, temos por um lado um objectivo socialmente desejado, que é o de promover

o desenvolvimento das PME, devido ao seu impacto na dinâmica do crescimento e do

emprego e temos, por outro lado, um conjunto de deficiências de mercado (reconhecidas no

próprio texto do enquadramento) que entravam esse desenvolvimento. A solução para

remediar esta situação passa obviamente pela concessão de auxílios de Estado às PME.

Ora, a existência de falhas de mercado relativas ao mercado de capitais constitui

uma das fundamentações da política industrial designadamente no que respeita ao apoio

das indústrias nascentes.

O argumento das indústrias nascentes foi inicialmente utilizado para defender o

proteccionismo por via da imposição de direitos aduaneiros e de quotas de importação. A

ideia base deste argumento é de que "uma indústria, ou a indústria em geral, pode vir a

revelar-se capaz de competir com as indústrias estrangeiras dentro de um espaço de tempo

previsível, no mercado doméstico ou mesmo no mercado internacional, mas não ser capaz

de suportar um período inicial de desenvolvimento. Havendo necessidade da sua criação ou

dinamização justificar-se-á o estabelecimento de restrições ao comércio que a protejam até

ao momento em que possa singrar por si própria" (Porto, 1979: 18).

O problema que subjaz às indústrias nascentes continua, hoje em dia, a ser um

problema real. Todavia, o instrumento que actualmente se pode utilizar é o da política

industrial, uma vez que esta beneficia, relativamente à política proteccionista, de uma

maior tolerância ao nível das instâncias internacionais.

Este argumento, embora possa ser adoptado em países e regiões que sofrem

situações de declínio industrial e que por isso são confrontadas com a reconversão das suas

actividades e com o consequente arranque de actividades novas, aplica-se

preferencialmente aos países em desenvolvimento. Assim, o surgimento de uma nova

indústria num país em desenvolvimento pode enfrentar algumas falhas de mercado

susceptíveis de dificultar ou mesmo bloquear o seu desenvolvimento e por isso justificar o

apoio por parte das entidades públicas.

Uma dessas falhas diz justamente respeito à imperfeição do mercado de capitais. Se

as instituições bancárias, as sociedades de investimento e outras instituições que

geralmente operam no mercado financeiro não são suficientemente eficientes para

drenarem, quer em quantidade quer em condições adequadas, a poupança dos particulares e

de outros sectores industriais para a indústria nascente, então, o desenvolvimento desta

pode tornar-se inviável. Neste contexto, mesmo que o país em questão tenha nesta indústria

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uma vantagem comparativa potencial, o investimento necessário ao seu arranque pode não

se realizar não obstante as boas perspectivas de obter rendimentos de longo prazo deste

investimento. Assim, uma vantagem comparativa potencial pode nunca traduzir-se numa

vantagem comparativa real ou efectiva em resultado da ineficiência do mercado de capitais.

Este argumento pode então também ser aplicado às PME. Mas estas podem,

enfrentar, como vimos, outras falhas de mercado, que são, por analogia, susceptíveis de

justificar a política industrial. Verifica-se, assim, que há correspondência entre a teoria

económica e a abordagem tradicionalmente favorável aos auxílios de Estado concedidos às

PME.

1.3. Auxílios à formação

Desde 1993, aquando da elaboração do Livro Branco sobre o crescimento, a

competitividade e o emprego, que é reconhecido que para o relançamento do crescimento,

a renovação da competitividade e o restabelecimento de um nível de emprego socialmente

aceitável na Comunidade, a educação e a formação são incontestavelmente chamadas a

desempenhar um papel determinante.

A formação é encarada não só como um instrumento capaz de conferir maior

flexibilidade ao mercado de trabalho, na medida em que permite adaptar as qualificações

profissionais às necessidades do mercado, mas também como um elemento fundamental na

luta contra o desemprego e a exclusão social, uma vez que facilita a integração dos jovens

no mercado de trabalho e a reinserção dos desempregados de longa duração. Espera-se

assim que a educação e a formação contribuam para a resolução dos problemas de

competitividade das empresas, para a resolução da crise do emprego e para a resolução do

problema da marginalidade social.

Mas para que tudo isto seja possível é indispensável a participação activa e conjunta

de várias entidades, designadamente dos indivíduos, das empresas, dos parceiros sociais,

dos Estados membros e da própria Comunidade. Esta última tem, com efeito, desenvolvido

diversas iniciativas, por vezes em parceria com os Estados membros, no domínio da

formação.

Quanto aos Estados membros, estes devem não só promover a melhoria dos

sistemas de formação inicial, de formação profissional e de formação dos desempregados,

mas também desenvolver políticas preventivas que incentivem os trabalhadores a

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melhorarem as suas qualificações e a sua capacidade de adaptação e as empresas a

investirem na formação dos seus trabalhadores.

O texto do enquadramento comunitário dos auxílios à formação é bastante claro na

justificação que dá para a concessão de auxílios deste tipo. Ele reconhece, explicitamente,

que da formação resultam efeitos externos (positivos) para o conjunto das empresas.

Assim, quando uma empresa despende recursos financeiros na formação dos seus

trabalhadores está simultaneamente a melhorar a qualificação desses trabalhadores e a

incrementar o leque de trabalhadores qualificados de que as outras empresas podem

beneficiar. Nestas condições, o enquadramento considera que a nível global os

investimentos na formação reforçam a competitividade da indústria comunitária e a sua

atractividade enquanto local de investimento. Mas o enquadramento também reconhece

que quando as empresas decidem investir na formação não ponderam os efeitos externos

referidos, pelo que é provável que se inibam, sobretudo se pensarmos que elas correm o

risco de depois de terem concedido formação aos seus trabalhadores serem por eles

preteridas em favor de outras empresas. Nestas circunstâncias, é provável que o esforço

total das empresas neste domínio seja inferior ao que seria necessário em termos sociais.

Este risco é tanto maior quanto mais pequena for a empresa e quanto maior for o

grau de transferibilidade da formação obtida. Relativamente a este último aspecto convém

referir, como também o faz o enquadramento respectivo, que a importância das

externalidades da formação está relacionada principalmente com a transferibilidade das

competências e das qualificações que assegura. É justamente por isso que a Comunidade

privilegia os projectos de formação que não correspondem apenas às necessidades das

empresas, mas que beneficiam os trabalhadores para além do que é estritamente necessário

no seu posto de trabalho.

Nestas circunstâncias, os auxílios à formação não são meros auxílios ao

funcionamento mas, pelo contrário, são uma forma de alcançar objectivos que as forças de

mercado por si só não permitem atingir.

Temos uma vez mais as externalidades, que constituem um dos argumentos da teoria

económica em favor da política industrial, a justificar os auxílios à formação. Conclui-se,

portanto, que também a este nível há correspondência entre a concessão de auxílios à

formação e a teoria económica.

1.4. Auxílios a favor do ambiente

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Durante a década de 70 e o início dos anos 80, a política comunitária no domínio do

ambiente centrava-se sobretudo no estabelecimento e na execução de normas relativas aos

principais parâmetros ambientais. Os auxílios eram concedidos principalmente para

permitir às empresas realizarem investimentos destinados a atingir níveis mínimos

obrigatórios. O recurso aos auxílios estatais era considerado uma etapa transitória, com

vista a facilitar a introdução progressiva do princípio do poluidor-pagador, princípio

segundo o qual os agentes económicos devem suportar o custo integral da poluição

decorrente das actividades por eles empreendidas.

O Acto Único veio consagrar novas disposições que para além de configurarem o

princípio do poluidor-pagador, prevêem que as exigências em matéria de protecção do

ambiente sejam tomadas em consideração na definição e na execução das outras políticas

comunitárias. A integração das preocupações ambientais nas outras políticas comunitárias

insere-se no conceito de «desenvolvimento sustentável», e significa igualmente que se deve

ter em consideração os objectivos de coesão económica e social na Comunidade, bem

como as exigências de manutenção da integridade do Mercado Único e os compromissos

internacionais no domínio ambiental.

As empresas estão, assim, sujeitas a um conjunto de normas legais obrigatórias, que

tanto podem resultar da transposição para o direito interno de acordos internacionais ou da

legislação comunitária, como podem ainda ser estabelecidas em função de objectivos

nacionais, regionais ou locais. Contudo, isto não é suficiente, sobretudo nas zonas de maior

concentração industrial, para assegurar uma boa qualidade do ambiente; daí a necessidade

de estimular as empresas a irem para além das suas obrigações legais.

Com efeito, é hoje indiscutível que o crescimento económico implica custos

ambientais. Por um lado, a actividade económica explora os recursos naturais e, por outro,

cria desperdícios aos quais o planeta tem de dar destino.

Há mais de 100 anos que os economistas reconhecem que a realidade é

caracterizada por produzir simultaneamente bens e "males". De acordo com Muller-

Furstenberger e Stephan (1997: 101), já em 1871 Jevons referia que os agentes económicos

não interagem apenas trocando bens mas também transferindo males. Os mesmos autores

referem, ainda, que em 1920 Pigou sublinhava que na ausência de mercado para os

"males", os custos privados e sociais das actividades económicas podem divergir e podem

levar a uma ineficiente afectação de recursos. Desde aí, do ponto de vista económico, as

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falhas de mercado constituem uma importante (talvez a mais importante) justificação

teórica para a intervenção governamental e têm sustentado o desenvolvimento de uma

política ambiental.

De facto, e apesar dos avanços decorrentes do desenvolvimento tecnológico

permitirem não só um melhor aproveitamento das matérias primas mas também minimizar

o problema da poluição, se não houver intervenção do poder público o ambiente não será

protegido, precisamente porque a mão invisível do mercado falha ao querer aliar os

interesses dos indivíduos e das empresas individuais com os da sociedade no seu conjunto.

Assim, os economistas geralmente argumentam que a aplicação do chamado

princípio do poluidor-pagador é o melhor instrumento para controlar externalidades

negativas como são as poluições. É justamente este princípio que subjaz ao enquadramento

comunitário dos auxílios estatais a favor do ambiente. Com este enquadramento, a

Comissão Europeia pretende estender consideravelmente a aplicação do princípio do

poluidor-pagador, segundo o qual o responsável pelos prejuízos ambientais deve suportar o

custo da sua reparação que, de outro modo, seria suportado pelo resto da sociedade. O

objectivo é fazer com que estes custos externos sejam internalizados pelos seus

responsáveis de modo a que estes reduzam a poluição.

Pegando nas próprias palavras do texto do enquadramento "os incentivos

financeiros positivos, tais como as subvenções, e as medidas dissuasivas, nomeadamente

os impostos, as taxas, etc., constituem meios de acção que têm o seu papel a desempenhar

neste contexto (...)" (CCE, 1994a: 3). As subvenções não devem, todavia, ser consideradas

senão como "uma solução de segundo grau em situações em que o princípio do poluidor-

pagador – que exige que todos os custos ambientais sejam internalizados, ou seja

abrangidos nos custos de produção da empresa – não seja ainda plenamente aplicado"

(CCE, 1994a: 3).

As ajudas públicas são assim uma forma de incentivar as empresas a investir na

adaptação das suas instalações, dos seus equipamentos e dos seus processos de fabrico às

exigências em matéria de protecção do ambiente, internalizando progressivamente os

custos ambientais externos.

Do que ficou dito podemos assim concluir que os auxílios estatais a favor do

ambiente são perfeitamente sustentados pela teoria económica. Efectivamente, as

externalidades constituem justamente um dos fundamentos económicos da política

industrial.

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Podemos, no entanto, perguntar-nos porque é que beneficiando de uma

argumentação teórica válida os auxílios estatais a favor do ambiente apenas representam

1% do total dos auxílios estatais concedidos à indústria transformadora. A resposta poderá

residir, pelo menos em parte, no facto de ser difícil isolar num projecto de investimento a

sua componente ambiental e assim distinguir claramente o auxílio que incide sobre a

componente ambiental do auxílio que incide sobre o resto do investimento.

1.5. Auxílios regionais

O Tratado CE reconhece explicitamente a necessidade de uma intervenção pública

em favor das regiões desfavorecidas. Segundo o artigo 158º (ex-artigo 130ºA) do Tratado,

a Comunidade procurará reduzir a disparidade entre os níveis de desenvolvimento das

diversas regiões e o atraso das regiões menos favorecidas, incluindo as zonas rurais.

Os auxílios regionais visam, justamente, promover o desenvolvimento das regiões

desfavorecidas através do apoio aos investimentos e à criação de emprego no contexto do

desenvolvimento sustentável e promover a expansão, a modernização e a diversificação das

actividades económicas localizados nessas regiões, bem como a implantação de novas

empresas. Nestas condições os auxílios regionais podem justificar as distorções de

concorrência que lhes são inerentes, se respeitarem determinados princípios e observarem

certas regras.

Tendo em atenção as derrogações permitidas a título das alíneas a) e c) do n.º3 do

artigo 87º, podemos considerar que as orientações relativas aos auxílios estatais com

finalidade regional reflectem, embora de maneira implícita, o ponto de vista segundo o qual

as disparidades regionais são um caso de falha do mercado de natureza a justificar, em

certas circunstâncias, este tipo de auxílios estatais2. Com efeito, os fenómenos de

economias de aglomeração levam a que determinadas actividades se concentrem

preferencialmente em certas regiões em detrimento de outras. As economias de

aglomeração são economias externas de que as empresas beneficiam quando decidem

instalar-se em certos locais onde existem factores que lhes permitem minimizar os seus

custos. De facto, como sublinha Baumont (1998: 2), numa aglomeração constituída de

2 Há, todavia, certos economistas que afirmam que os problemas regionais não provam a existência de falhasdo mercado e que as derrogações em favor das ajudas regionais são simplesmente a expressão de umapreferência política.

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actividades diversas e numerosas surgem múltiplas economias externas que permitem

melhorar o bem estar dos agentes ou a produtividade das empresas. Desde logo, a

realização efectiva das transacções necessita sempre de transmissões de informação, de

inputs, de conhecimentos ou de mercadorias, e o afastamento físico ou organizacional entre

actividades económicas aumenta esses custos de transmissão. A concentração espacial das

actividades é, pois, um meio de minimizar os custos de transporte e os custos de

transacção.

Por outro lado, o fenómeno da concentração espacial é reforçado pelas economias

de escala. Na presença de economias de escala importantes as empresas são incitadas a

concentrar a sua produção num número reduzido de unidades. Atendendo às economias de

aglomeração, estas unidades tenderão a localizar-se onde já exista mais actividade

económica.

Por outro lado ainda, a envolvente cientifica e tecnológica constitui igualmente uma

fonte de economias externas que atrai as actividades para determinadas regiões. Isto

acontece porque estas infraestruturas potenciam os processos de inovação das empresas, de

dois modos distintos que podem ser complementares: por um lado, é mais fácil e mais

barato para as empresas utilizarem os serviços prestados por essas infraestruturas se

estiverem localizadas junto a elas; por outro lado, a própria actividade cientifica e

tecnológica tende a adaptar-se à procura das empresas locais. Deste modo, as

infraestruturas cientificas e tecnológicas são um dos principais factores responsáveis pela

competitividade de certas regiões.

Uma última fonte de economias externas diz respeito ao mercado de trabalho. A

existência de mão-de-obra abundante e de elevada qualificação constitui igualmente um

factor de atracção de novas actividades. As regiões onde já existe muita actividade

económica estão em vantagem relativamente às outras, na medida em que estão

permanentemente a atrair novos fluxos de mão-de-obra e dispõem permanentemente de um

stock de mão-de-obra com um certo nível de qualificação. Geralmente nestas regiões

existem boas infraestruturas de formação profissional.

As economias externas que apontámos constituem, deste modo, diferentes razões

pelas quais a actividade económica tende a concentrar-se em determinadas regiões em

detrimento de outras e estão, por conseguinte, na base do desenvolvimento regional

desigual.

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Os auxílios regionais visam, justamente, corrigir esta desigualdade, isto é, visam

compensar as deseconomias externas que as empresas encontram em determinadas regiões,

com o objectivo de atrair para essas regiões os factores de produção (que se tendem a

deslocar para as regiões que beneficiam de economias de aglomeração). Assim, temos uma

vez mais as falhas de mercado a justificar a concessão de auxílios estatais, pois a desigual

distribuição espacial dos factores de produção pode ser considerada um sinal da

incapacidade do mercado gerar espontaneamente equilíbrio nesta repartição ou, pelo

menos, um equilíbrio socialmente sustentável3.

Porém, apesar dos auxílios regionais poderem ser explicados a partir de uma base

teórica semelhante à que justifica, em parte, a política industrial, podemos questionar-nos

sobre o que têm afinal os auxílios regionais a ver com a política industrial? A resposta é

simples: os auxílios regionais funcionam, no âmbito comunitário, como um quadro

territorial privilegiado para se fazer política industrial. Estes auxílios vão obviamente ser

concedidos a determinadas empresas, e cabe aos Estados membros seleccionar essas

empresas beneficiárias dos auxílios concedidos a título regional. Assim, no âmbito desses

critérios há um vasto campo de acção para as políticas industriais nacionais. Este é, sem

margem de dúvida, o quadro em que as regras comunitárias de concorrência concedem

mais latitude de intervenção aos Estados membros em matéria de política industrial. Uma

vez respeitados os critérios comunitários para atribuição de auxílios a título regional, os

poderes públicos nacionais têm a faculdade de utilizar os critérios de política industrial da

sua preferência, em relação aos quais as regras comunitárias permanecem neutras. Os

dados estatísticos sobre o peso relativo dos diferentes tipos de auxílios à indústria

transformadora na Comunidade, ao mostrarem que os auxílios regionais representam 57%

do total (no período 1995-1997), dão uma clara ilustração da elevada margem de

intervenção dos poderes públicos nacionais no domínio industrial pela via da política

regional.

2. Orientações comunitárias em matéria de política industrial

3 A teoria do desenvolvimento regional mostra que o desigual desenvolvimento espacial constitui, por umlado, um problema de equidade e, por outro, um problema de eficiência.

15

A importância do papel das empresas

Da análise dos documentos referidos na introdução resulta que o ambiente aberto e

fortemente concorrencial que caracteriza a UE exige a adopção de políticas industriais de

cariz horizontal, cujo objectivo não é apoiar discriminadamente este ou aquele sector, mas

sim actuar transversalmente sobre o conjunto de todas as empresas e assim promover a

competitividade global da economia. Este tipo de política preconiza uma clara repartição

das responsabilidades entre as empresas, que se encontram naturalmente na primeira linha,

e os poderes públicos cujo papel é antes de mais criar um ambiente favorável e previsível

para o desenvolvimento industrial. Repare-se, pois, que a ênfase é colocada nas empresas.

São elas próprias que devem assumir a responsabilidade principal da competitividade

industrial. Às autoridades públicas cabe propiciar a essas empresas ambientes e

perspectivas transparentes e previsíveis. Para tal necessitam de agir sobre diferentes

domínios (formação de recursos humanos, I&D, concorrência, ambiente, infraestruturas,...)

no âmbito dos quais existem diversas deficiências que afectam negativamente a capacidade

das empresas maximizarem as suas potencialidades. Ora, no âmbito do pensamento neo-

institucionalista desenvolveram-se estudos que atribuem grande relevância à empresa.

A corrente neo-institucionalista conta com contribuições de autores como Coase,

Williamson, North, Simon, entre outros.

De acordo com esta filosofia4 não se pode fundamentar as políticas industriais

sobre o individualismo metodológico estrito que vê o mercado como único mecanismo de

coordenação entre indivíduos, únicos actores no seio de uma economia. Há necessidade de

estabelecer um quadro teórico e metodológico relativamente à coordenação das actividades

que reconheça a existência não apenas dos mercados, mas também de instituições, e que

reconheça ainda o facto de que as próprias nações são «sistemas» institucionais diferentes e

rivais. Assim, se as nações rivalizam por uma melhor performance económica, não é

apenas pelas performances dos seus indivíduos, mas também pela performance das suas

instituições.

De facto, durante muito tempo, e com raras excepções, os economistas ortodoxos

encaravam conceitos como troca, mercado e empresa como adquiridos. Contudo, a análise

4 Cuja exposição será baseada em Coase (1937, 1995: 3-14), Williamson (1987: 43-67), Humbert (1995) eHodgson (1994), para além de outros autores referidos no texto.

16

relativa aos direitos de propriedade e às estruturas de produção e troca alterou esta situação

até um certo ponto e legitimou o estudo das instituições no âmbito da ciência económica.

Coase foi dos primeiros autores a mostrar a importância para o funcionamento do

sistema económico do que pode ser chamado de estrutura institucional da produção.

Segundo este autor, desde a publicação da "riqueza das nações" de Adam Smith assistiu-se

a uma concentração do pensamento dos economistas no sistema de preços5, de que

resultou o esquecimento de outros aspectos, bastante importantes, do sistema económico

(Coase, 1995: 4). A empresa e os arranjos institucionais que governam o processo de troca

foram ignorados. Apesar de considerar que a concepção do sistema de preços como um

mecanismo de coordenação estava certa, Coase percebeu que havia custos na utilização dos

mecanismo de preços - os chamados custos de transacção. A sua existência implica que

métodos de coordenação alternativos podem ser preferidos ao mecanismo de preços, o

único método de coordenação normalmente analisado pelos economistas. A empresa é um

desses métodos.

Com efeito, num dos seus primeiros trabalhos, Ronald Coase (1937) levanta a

seguinte questão: porque existem empresas? Segundo ele, o traço característico chave da

empresa é, a nível interno, a sua "preterição dos mecanismos de preços" (Coase, 1937:

389). Como sublinha Alain Bienaymé, "a questão da razão de ser das empresas transforma-

se então na de saber o que é que leva os indivíduos a suspender o mecanismo de afectação

dos recursos pelos preços em benefício de um outro modo de afectação dos recursos

realizado sob a autoridade do dirigente da empresa" (Bienaymé, 1998: 95).

Coase coloca a questão do seguinte modo: "Fora da empresa, a evolução dos preços

orienta a produção, que é coordenada através de uma série de transacções no mercado.

Dentro da empresa, estas transacções de mercado são eliminadas, e à complicada estrutura

das relações de troca de mercado substitui-se o empresário – coordenador, que dirige a

produção" (Coase, 1937: 388). É objectivo do autor explicar por que é que isso acontece. A

sua resposta é a seguinte: A razão principal pela qual parece ser vantajoso criar uma

empresa será a existência de um custo resultante do uso do mecanismo de preços, isto é, o

recurso ao mercado não é gratuito. O custo mais óbvio da "organização" da produção

através do mecanismo de preços é o de descobrir quais os preços relevantes no mercado.

Os custos de negociar e concluir um contrato separado para cada transacção que ocorre no

5 Cujo bom funcionamento garantiria a eficiência do sistema económico.

17

mercado também têm de ser tidos em conta. É verdade que os contratos não são eliminados

quando há uma empresa, mas sofrem uma redução substâncial. Um factor de produção (ou

proprietário) não tem de celebrar uma série de contratos com os factores com quem

coopera dentro da empresa, como com certeza seria necessário se esta cooperação

resultasse directamente do funcionamento do mecanismo de preços (Coase, 1937: 390-91).

Em suma, e de acordo com Guimarães (1998: 155), Coase conclui que as empresas

existem quando os custos de organizar transacções no seio da empresa (custos de

contratualização interna) são inferiores aos de levar a efeito a mesma transacção através do

mercado. E, numa aproximação ao marginalismo marshaliano, o equilíbrio entre as duas

vias de coordenação (empresa e mercado) é atingido quando os custos de cada via são

idênticos (em termos da respectiva evolução marginal).

A partir desta abordagem, Williamson desenvolveu a sua tese central segundo a

qual instituições económicas como a empresa "têm como objectivo e efeito principal

economizar nos custos de transacção" (Williamson, 1987: 1). Assim, a existência de

instituições exteriores ao mercado justificar-se-ia pelo facto de serem menos onerosas que

o recurso contínuo ao mercado.

De acordo com Hodgson (1994: 201), num artigo publicado em 1960, os custos de

transacção eram classificados por Coase nos seguintes termos: para efectuar uma

transacção de mercado, torna-se necessário descobrir com quem se quer negociar, informar

as pessoas de que se quer negociar, em que condições e em que termos, conduzir

negociações que levem a um acordo, celebrar um contrato, promover a necessária

inspecção para garantir que os termos estão a ser cumpridos, etc. Dahlman (1979),

defendeu estarem aqui envolvidos três tipos de custos, que correspondem a três fases na

sequência do processo de troca, nomeadamente "custos de pesquisa e de informação, custos

de negociação e de decisão, custos de acompanhamento e cumprimento"6.

Estes custos de transacção dependem do comportamento dos agentes (racionalidade

limitada e oportunismo) e das condições de troca (especificidade dos activos, incerteza e

frequência da transacção).

Os trabalhos de Coase permitiram deste modo recentrar a teoria económica na

"empresa". Assim, em termos de preocupações de política pública, o principal aspecto a

6 Citado por Hodgson (1994: 201).

18

destacar é a importância que vai ser atribuída à empresa, ao seu processo de formação, às

condições do seu funcionamento e à sua capacidade de adaptação (Guimarães, 1998: 156).

Estudos como os levados a cabo por Williamson (sobretudo nas décadas de 70 e 80)

influenciaram a gradual emergência de uma dimensão estratégica e empresarial no âmbito

da política industrial, que vai para além da simples correcção de "falhas de mercado". A

preocupação primordial deixa, nesta perspectiva, de recair sobre as falhas de mercado ou os

objectivos estratégicos prosseguidos a nível nacional, para passar a recair sobre a empresa

em si mesma. Parte-se, assim, do princípio de que cabe às empresas e não ao Estado a

escolha das actividades, dos factores e dos mercados que devem fazer parte da sua

actividade. A política industrial não visa fundamentalmente fixar objectivos de carácter

geral e incentivar as empresas a prossegui-los, mas procura, sobretudo, atender à realidade

da própria empresa, olhando-a como um todo.

Outros estudos como os de Herbert Simon, desenvolvidos no âmbito do que ficou

conhecido como "organizational economy", abrem as portas para um novo campo de acção

para a política industrial: a importância do enquadramento e do "meio-ambiente"

económico e social da empresa. Segundo estes estudos, e nas palavras de Guimarães (1998:

156), "uma organização (e a empresa é uma organização) é uma plataforma em que é

possível definir e fazer cumprir um conjunto de regras de funcionamento e um processo

hierárquico de decisão. Isto permite organizar formas de cooperação e a iniciativa dos

diversos intervenientes, o que reduz a incerteza e cria elementos (uma cultura...) de

aproximação (comunidade) entre os indivíduos".

Podemos, assim, reencontrar esta nova dimensão da política industrial nas

orientações da Comissão, pelo que há a este nível uma correspondência entre o que dita a

teoria económica e as propostas da Comissão.

Todavia, a filosofia neo-institucionalista vai mais longe, como veremos já de

seguida.

A perspectiva de conjunto da economia

O facto de autores neo-institucionalistas sublinharem o papel das instituições na

performance económica de uma sociedade levou à procura de uma política de performance

industrial nacional que tivesse em consideração a perspectiva de «conjunto» da economia.

É justamente esta ideia de «conjunto» que está presente quando se defende que a noção de

19

competitividade se funda na noção de «performance global». Esta só se pode obter com a

participação de todos os actores, pelo que respeita tanto às empresas como à nação, na

medida em que os objectivos a realizar solicitam o conjunto de todos os intervenientes a

todos os níveis: chefes de empresas e assalariados, Estado, colectividades locais, parceiros

sociais, sociedade civil, etc.

Conforme salienta Marc Humbert (1995: 157-8), esta filosofia está implícita

quando alguns autores propõem sob o termo - ou não - de política industrial todo um lote

de medidas «horizontais». Por exemplo Gonenç apresenta uma definição de política

industrial segundo a qual a política industrial deve melhorar as condições envolventes

necessárias para o desenvolvimento da actividade industrial, através de medidas destinadas

a modificar as condições de funcionamento do mercado dos factores, do mercado dos

produtos e das relações da empresa com o seu ambiente.

Esta ideia de «conjunto» também está presente nas recomendações da Comissão,

uma vez que estas remetem para uma política de competitividade global que visa actuar em

diferentes níveis e exige a interacção de todos os agentes (políticos, económicos e sociais)

presentes na sociedade, de modo a promover a criação do conjunto de "instituições"

necessárias ao bom desempenho das empresas.

O reforço da inovação e do espírito empreendedor

As orientações de política industrial presentes nos documentos analisados dão uma

relevância especial à inovação e ao espírito empreendedor. Com efeito, elas reconhecem

que, em mercados onde prevalece a livre incitava, a inovação desempenha um papel

fundamental na relação entre agentes económicos que tendem a distinguir-se dos seus

concorrentes gerindo criteriosamente os factores que determinam ou influenciam a

preferência dos respectivos produtos nesses mercados. A inovação é assim, nas economias

desenvolvidas, o processo mais avançado da concorrência, uma vez que se traduz por uma

concorrência permanente por novos produtos e processos de fabrico. Para atingir estas

situações preferenciais nos mercados é necessário que os empresários tomem iniciativas

tendentes à criação de novos produtos e à concepção de novos processos tecnológicos. Mas

para que isto aconteça, a Comissão considera que se impõe criar um ambiente favorável à

inovação, o que passa, entre outros aspectos, por promover a I&D, promover o acesso aos

conhecimentos científicos e tecnológicos, valorizar os recursos humanos, facilitar as

20

transferências de experiências e de know how, promover a cultura empresarial, desenvolver

redes que associem a indústria e as universidades, melhorar a protecção da propriedade

industrial, melhorar o financiamento da inovação e instaurar uma fiscalidade favorável à

inovação. Ora, o pensamento evolucionista dá uma especial importância à inovação, ao

conhecimento tecnológico e ao empresário.

Com efeito, de acordo com o pensamento evolucionista, os agentes económicos,

que com diferentes graus e incidências procuram o lucro, são submetidos a um mecanismo

de selecção que é o do mercado, que na visão evolucionista é caracterizado pela incerteza e

a instabilidade. É esta selecção pelo mercado que leva à inovação, uma vez que os

empresários para adquirirem situações preferenciais nos mercados têm que tomar

iniciativas tendentes à criação de novos produtos e à concepção de novos processos

tecnológicos através do investimento em I&D. As inovações são assim o ingrediente

principal na prossecução do desenvolvimento económico de longo prazo. E a informação é

uma das variáveis estratégicas dos empresários. Verifica-se, no entanto, que existe uma

tendência para a informação, o conhecimento e as capacidades gerarem efeitos

cumulativos, sintetizados na expressão de "dependência de percurso" que, por exemplo, ao

nível dos conhecimentos significa que o elemento mais recente do conhecimento pode ser

melhor compreendido por aqueles que dispõem dos conhecimentos precedentes do que por

aqueles que entram num estádio ulterior. Assim, a I&D pode servir não apenas para

descobrir novos fenómenos mas também para aumentar a capacidade de assimilação da

empresa.

O papel primordial atribuído por esta abordagem à inovação e ao consequente papel

que o empresário tem (quer-se um empresário dinâmico e inovador), leva assim a que as

políticas industriais se preocupem crescentemente com a figura do empresário. Estas

devem estimular o seu dinamismo e favorecer a sua capacidade de inovação.

Podemos, portanto, concluir que existe também aqui uma correspondência entre as

orientações da Comissão e o pensamento evolucionista. Destaque-se, a propósito do

progresso técnico, que desde há muitos anos se têm efectuado estudos teóricos e empíricos

que reforçam a ideia de que o progresso técnico representa uma das forças mais

importantes do desenvolvimento económico, social e político. Efectivamente, já na década

de 40 J.A. Schumpeter (uma das fontes inspiradoras do pensamento evolucionista)

constatara que o impulso fundamental que põe e mantém a máquina capitalista em

movimento vem de novos produtos de consumo, de novos processos de produção e de

21

transformação, de novos mercados e de novas formas de industrialização que a empresa

capitalista cria. Posteriormente, outros autores mostraram que a contribuição do progresso

técnico para o crescimento económico era muito importante7.

A valorização do capital humano

Intimamente relacionada com o progresso técnico está outra orientação bastante

forte da Comissão em matéria de política industrial (já atrás referida), que é a da

valorização do capital humano. Com efeito, as orientações da Comissão em matéria de

política industrial dão especial relevância ao capital humano.

A produção de conhecimentos é indubitavelmente uma condição indispensável de

competitividade, nomeadamente de competitividade a longo prazo, e reconhece-se que a

força da competitividade depende da rapidez da transformação dos novos conhecimentos

em actividade produtiva. Daí que essas orientações visem a promoção de um sistema de

educação e de ensino mais adequado e fomentem a colaboração mútua entre empresas e

organismos de ensino superior. Estas orientações vão beber, em termos de fundamentação

teórica, à teoria do crescimento endógeno, que se assume como alternativa à teoria de

crescimento neoclássica8.

“A teoria de crescimento neoclássica radica a sua ideia base na lei dos rendimentos

marginais decrescentes; segundo tal lei, ao acrescentar unidades sucessivas de capital à

produção, esta tende a crescer a uma taxa progressivamente inferior, de modo que a

economia converge para um ponto de saturação do investimento, a que corresponde, salvo

qualquer influência exógena, uma situação de crescimento nulo. Ainda com base na lei dos

rendimentos marginais decrescentes, a teoria neoclássica justifica um processo de

crescimento mais acelerado nos países menos dotados de capital, onde o investimento teria

um impacte superior na produção àquele que se observa em países com maior

disponibilidade de recursos. Assim, não só todos os países tenderiam, na óptica

neoclássica, para um equilíbrio de longo prazo caracterizado pela ausência de crescimento,

como também o fariam a velocidades diferentes, permitindo um processo de convergência

entre economias, ou seja, um processo de aproximação dos países pobres aos países ricos”

7 Ver Harabi (1997: 39).8 A explicação que aqui daremos relativamente à teoria do crescimento endógeno e à teoria de crescimentoneoclássica basear-se-á sobretudo em Gomes (1997: 137-140) e em Nézeys (1994: 62).

22

(Gomes, 1997: 137-8). Esta teoria é designadamente ilustrada pelo modelo de Solow

(1956).

Todavia, foram encontrados rumos alternativos para a teoria do crescimento

económico. Como refere Gomes (1997: 138), "É nomeadamente com Romer (1986) e

Lucas (1988) que o estudo do crescimento económico ganha novo fôlego. A ideia

fundamental é a de contrapor ao crescimento económico exógeno e limitado no tempo tal

como definido por Solow, um processo de crescimento que é simultaneamente endógeno e

sustentável (endógeno porque a evolução das variáveis que o condicionam, como a

tecnologia, é agora determinada no interior do modelo e sustentável porque as novas

variáveis endógenas, constituindo o prato da balança que se contrapõe à tendência

decrescente dos rendimentos marginais do capital físico, possibilitam uma taxa de

crescimento do produto não decrescente ao longo do tempo, à medida que cresce a dotação

de factores)."

Assim, a teoria de crescimento neoclássica e a teoria do crescimento endógeno

distinguem-se sobretudo pela diferente forma como encaram a possibilidade de

crescimento económico no longo prazo.

Nos modelos neoclássicos, o crescimento da produção não pode efectuar-se

indefinidamente apenas na base da acumulação do capital, na medida em que eles

repousam na hipótese da sua produtividade marginal decrescente. Isto leva a dizer que a

taxa de crescimento não pode senão decrescer à medida que se opera a acumulação. É por

isto que a manutenção da taxa de crescimento a um certo nível exige estímulos exógenos

ao sistema económico, a saber: o progresso técnico e o crescimento da população. Como

nos países desenvolvidos o crescimento da população é fraco, nulo ou negativo, podemos

então ter consciência do papel essencial do progresso técnico, e como este é aleatório

compreende-se o quanto é difícil prever o crescimento futuro.

Os novos modelos de crescimento endógeno por sua vez, esforçam-se, pelo

contrário, por considerar o progresso técnico como uma variável endógena. Para o fazer,

coloca-se a hipótese de que os rendimentos do capital são constantes. Então, a acumulação

do capital leva a um aumento da produção estritamente proporcional e isto para um estado

dado da tecnologia. Se houver progresso técnico traduzindo-se por um aumento da

produtividade do capital, a taxa de crescimento da produção será superior à taxa de

acumulação.

23

Para obter estes resultados favoráveis, os teóricos do crescimento endógeno

propõem que o Estado jogue um papel essencial no domínio do progresso técnico. Para

tornar o progresso técnico endógeno "endogeniza-se" o Estado e sublinha-se a importância

do seu papel na acumulação dos conhecimentos pela promoção de um sistema de educação

adequado, na construção de infraestruturas públicas e nas despesas de investigação

(Nézeys, 1994: 62). A teoria do crescimento endógeno permite deste modo encontrar uma

nova racionalidade para a intervenção do Estado na economia.

Refira-se, ainda, que o pensamento evolucionista é também muito favorável à

promoção dos conhecimentos, defendendo por isso que os poderes públicos fomentem um

sistema público ou semi-público de ciência e tecnologia, e fomentem a aquisição de novos

conhecimentos através de sistemas educativos e de formação adequados. Com efeito, o

facto de se assistir nas economias industrializadas a uma papel crescente dos

conhecimentos, e portanto dos recursos humanos relativamente ao capital físico, leva a

que, de acordo com esta filosofia, se defenda que as estratégias de investimento devem

assim ser mais orientadas para a formação de bases de conhecimentos que de bens de

capital.

A promoção da cooperação industrial

Outra ideia força das orientações da Comissão em matéria de política industrial

respeita à troca de informação e à cooperação industrial.

As motivações da cooperação industrial podem ser várias, podendo dizer respeito a

transferências de tecnologia, complementaridade tecnológica, acordos de marketing,

exploração de economias de escala e de economias de gama, repartição do risco, aceleração

da realização de economias provenientes dos processos de aprendizagem ou diminuição do

tempo necessário para a concepção de um produto novo.

Em termos de fundamentação teórica existe um conjunto de contribuições

susceptível de explicar porque é que as empresas se aliam. Vamos aqui reflectir sobre

alguns (apenas alguns) desses contributos.

Assim, as determinantes das alianças podem ser apreendidas sob duas abordagens

distintas9.

9 Na exposição destas abordagem inspiramo-nos fundamentalmente em Combe (1998), sem prejuízo, todavia,de outras contribuições.

24

O primeiro tipo de abordagem assenta nas escolhas organizacionais das empresas: a

teoria dos custos de transacção justifica as alianças pelo custo da utilização do mercado e o

custo de integração; por seu lado, a perspectiva evolucionista insiste na natureza imanente

dos conhecimentos, que torna problemática a sua transferência pelo mercado e a sua

aquisição por desenvolvimento interno.

O segundo tipo de abordagem assenta nas interacções entre as empresas, através do

conceito de externalidade, de que destacamos o facto das alianças permitirem remediar o

défice de incentivo em matéria de inovação.

Vamos então analisar com algum pormenor estas duas abordagens.

A primeira abordagem coloca a seguinte questão: porque é que as empresas

estabelecem entre si uma relação de aliança em vez de procederem a uma transacção no

mercado ou em vez de procederem a uma operação de integração (por fusão-aquisição ou

crescimento interno)? A teoria dos custos de transacção e a teoria evolucionista constituem

aqui as duas vias principais de análise.

Já vimos que na óptica da teoria dos custos de transacção existem custos de

utilização do mercado – denominados, precisamente, custos de transacção – que dependem

do comportamento dos agentes (racionalidade limitada e oportunismo) e das condições de

troca (especificidade dos activos, incerteza e frequência da transacção). Na presença de

custos de transacção elevados resultantes do recurso ao mercado, o agente internaliza a

transacção e nasce a empresa caracterizada pela supressão do mecanismo dos preços

(recorde-se o que se disse acerca do pensamento de Coase). Acontece, porém, que a

empresa gera custos de integração (ou seja, custos de contratualização interna). Assim,

como refere Emmanuel Combe, recordando Jones e Hill, "a fronteira óptima entre «faire

faire» e «faire soi même» depende então do custo relativo dos dois modos de coordenação:

ela corresponde à situação em que o custo marginal de integração é igual ao benefício

marginal de uma redução dos custos de transacção" (Combe, 1998: 439).

Relembrados os traços gerais da teoria dos custos de transacção, impõe-se

responder à questão acima colocada.

De acordo com a abordagem de Lotter a especificidade dos activos é o factor chave

da organização industrial. Através do gráfico que se apresenta de seguida, Lotter mostra

qual a forma de organização económica escolhida em função da especificidade dos activos.

25

O gráfico anterior representa os custos de transacção associados a um mesmo grau

de especificidade dos activos, para cada uma das formas de organização económica.

Considera-se como «eficaz» do ponto de vista organizacional, a forma de

organização económica que corresponde aos custos de transacção mais baixos. Assim, a

forma híbrida (cooperação) é escolhida quando a especificidade dos activos k está

compreendida entre k1 e k2, uma vez que já há uma certa dependência bilateral (tanto maior

quanto maior for a especificidade dos activos), o que exige uma adaptação coordenada.

Quando os activos são muito específicos (k>k2) a integração é privilegiada, devido ao risco

de oportunismo e ao facto das cláusulas contratuais (os contratos relativamente aos activos

muito específicos são à partida de longo prazo) não poderem prever tudo e portanto haver

necessidade de renegociar contratos com base em informação nova. Isto implica que, se os

activos em questão forem muito específicos, então a única forma de internalisar todos estes

efeitos é a integração. Inversamente, no caso de activos pouco específicos (k<k1) o

mercado aparece como o modo de organização económica mais adequado.

Assim, como vimos na abordagem de Lotter, a cooperação é privilegiada quando a

especificidade dos activos é mediana. Mas, além disso, Williamson considera que a

frequência da transacção é igualmente um factor a ter em conta. Para este autor, a adopção

de uma forma híbrida (cooperação) é privilegiada quando o investimento é medianamente

específico e a frequência da transacção elevada. Efectivamente, como a especificidade do

investimento não é forte a integração não se justifica. Todavia, a recorrência da transacção

Custos detransacção

Fonte: Lotter (1995: 169).

FormaHíbrida

26

incita ao estabelecimento de uma "estrutura bilateral", tomando em conta a identidade das

partes e estabelecendo um laço a priori durável.

No que toca à perspectiva evolucionista, esta entende os processos de aliança como

sendo uma forma de responder às falhas conjugadas do mercado e da integração. Os

partidários desta perspectiva enfatizam a natureza imanente dos conhecimentos, que os

torna dificilmente transferíveis por contrato.

Segundo Combe (1998: 448), esta perspectiva evolucionista da cooperação encontra

o seu ponto de partida na contribuição de Richardson (1972). De acordo com este autor, a

aliança responde a uma lógica de colocação em comum de "actividades dissemelhantes

muito complementares"10 mais do que a uma lógica de minimização dos custos de

transacção e inscreve-se numa concepção dinâmica das formas óptimas de organização.

Assim, na óptica evolucionista, cada empresa dispõe de competências específicas,

que são elas mesmas o produto da aprendizagem. Então é difícil para uma empresa mudar

de domínio de competências, na medida em que a sua própria trajectória tecnológica

passada condiciona em parte as suas capacidades futuras de aprendizagem, tendo em conta,

nomeadamente, as rotinas organizacionais que lhe são próprias. As possibilidades de

criação de novos saberes depende igualmente da distância entre as competências principais

da empresa e as competências a adquirir, assim como da velocidade de aprendizagem.

Deste modo, se a empresa tem necessidade de competências complementares que

ela própria não pode produzir, tem obviamente de adquiri-las. Pode fazê-lo através de 3

vias alternativas: pela via do mercado, pela via de uma fusão-aquisição ou pela via de uma

aliança. De acordo com os autores evolucionistas a via preferível é a da cooperação, uma

vez que permite aceder a conhecimentos específicos, pela interacção repetida e

personalizada entre parceiros (ao passo que o mercado é fundado numa relação anónima e

de curto prazo), ao mesmo tempo que permite conservar uma certa flexibilidade dinâmica,

isto é, a sua capacidade de mudar de combinações de competências quando o ambiente se

modifica (o que a via da fusão-aquisição não permite) e permite evitar transferências de

rotinas organizacionais (o que a fusão- aquisição não evita).

No que respeita à segunda abordagem, isto é, ao ponto relativo às interacções entre

as empresas, algumas contribuições teóricas consideram que as alianças permitem remediar

um défice de incitação à inovação. Com efeito, tendo em conta a indivisibilidade e a

10 Citado por Combe (1998: 448).

27

inapropriabilidade, o esforço de inovação de uma empresa gera externalidades positivas

que se destinam a empresas concorrentes, o que conduz a um sub-investimento

relativamente ao óptimo social (recorde-se a este propósito o que ficou dito relativamente

às externalidades de origem tecnológica). Assim, a cooperação em termos de I&D é uma

forma de remediar esse défice de incentivo relativamente à inovação, uma vez que (como

também já vimos) as modalidades tradicionais de apropriação como por exemplo as

patentes nem sempre permitem restaurar eficazmente esse incentivo. Nestas circunstâncias,

uma aliança em matéria de I&D constitui uma nova forma de internalização das

externalidades tecnológicas e permite assegurar uma partilha mais eficiente das

informações. Isto é, internalizando parcialmente estes efeitos externos, através de uma

cooperação pré-concorrencial em I&D que envolve a partilha de informações, as empresas

estão melhor posicionadas para se apropriarem dos resultados que produzem e a tendência

para o sub-investimento é reduzida.

Jacquemin e d'Aspremont (1988)11 desenvolveram um modelo12 que estuda o

impacto da cooperação no esforço de I&D. Uma das conclusões a que chegaram foi a de

que, em presença de fortes externalidades, as empresas que cooperam em matéria de I&D,

mas não em matéria de produção, fazem mais I&D que as empresas que não cooperam, e

produzem mais, pelo que as suas actividades se situam assim mais próximo do nível

socialmente óptimo.

No que toca à partilha de informações no seio de empresas que cooperam entre si,

X. Vives (1990)13 sugere, na base de um modelo simples, que a reunião das informações

cria vantagens competitivas e que acções do Estado visando encorajar sistemas de recolha e

difusão de informação podem revestir-se de muito interesse.

Katz e Ordover14 utilizam igualmente a abordagem em termos de externalidades

tecnológicas para dar conta da existência de grandes programas de cooperação ao nível da

investigação. O projecto Esprit desenvolvido na Europa é um exemplo desses programas.

Segundo aqueles autores, estes programas de investigação em comum apresentam

geralmente 3 características:

11 Ver Combe (1998: 454 - 457) e Jacquemin (1992: 175).12 Que não vamos aqui descrever por nos parecer desnecessário em face dos objectivos deste trabalho.13 Ver Jacquemin (1992: 175).14 Ver Combe (1998: 459-460).

28

− eles reúnem um número relativamente importante de empresas num

mesmo projecto, dando assim corpo à ideia de uma larga internalização das

externalidades entre as empresas de uma mesma indústria;

− eles centram-se não apenas em actividades de desenvolvimento de

produtos, mas também sobre a investigação denominada "pré-competitiva", a

qual é, por natureza, pouco pantenteável.

− eles são em parte lançados e apoiados pelos poderes públicos, deixando

assim supor que existe efectivamente um défice de incentivo ligado

precisamente à natureza genérica da investigação.

Ainda a propósito da cooperação industrial, parece-nos importante realçar que os

problemas do ambiente possuem por excelência uma dimensão internacional, e, por isso

mesmo, reúnem as condições necessárias para poderem ser resolvidos mediante projectos

de cooperação industrial. As questões ambientais, como vimos, constituem uma

preocupação no âmbito da estratégia industrial proposta pela Comissão Europeia. Pretende-

se que o crescimento das actividades industriais seja compatível com a utilização racional

de recursos, a economia de energia e os imperativos ambientais decorrentes da eliminação

de resíduos. Note-se, ainda, que o ambiente é, à semelhança do que acontece com a I&D,

um domínio gerador de externalidades (neste caso externalidades negativas).

A importância das PME

Não podemos deixar de salientar a importância que as orientações da Comissão em

matéria de política industrial dão a um particular segmento da economia, que é o segmento

das PME.

Uma vez mais é possível reencontrar aqui o pensamento evolucionista, uma vez que

este aconselha formas casuísticas de intervenção estatal (por exemplo políticas para PME)

no sentido de se actuar pela positiva nos mecanismos de selectividade. A seguinte citação

de Rui Guimarães (referente ao pensamento evolucionista) ilustra-o bastante bem: "o

reconhecimento de uma diversidade de mecanismos geradores de selecção e de adaptação

aconselha a formas casuísticas de intervenção estatal (políticas para grupos de empresas,

políticas sectoriais ou políticas para PME) no sentido de se jogar pela positiva nos

mecanismos de selectividade, impedindo, contudo, que estes destruam a dinâmica de

29

variedade que permite aos sistemas e aos agentes a afirmação de elevados níveis de

adaptabilidade".

Destaque-se, porém, que este apoio às PME também pode ser justificado, como

vimos, em virtude de algumas falhas de mercado que estas enfrentam, designadamente as

que resultam do facto destas terem, em comparação com as grandes empresas, maiores

dificuldades em obter empréstimos bancários a juros razoáveis e em obter recursos nos

mercados de capitais.

O reforço da concorrência

É, também, notória a relevância que as orientações da Comissão dão à concorrência

quer no interior da União Europeia quer nas suas relações com o exterior. Ora, também a

este nível é possível estabelecer um paralelo com a filosofia evolucionista, uma vez que

esta enfatiza o papel central da dinâmica de concorrência no processo de evolução e

transformação das actividades económicas.

A promoção do emprego

O conjunto de medidas proposto pela Comissão em matéria de política industrial

visa conciliar competitividade e emprego, considerando-se a melhoria da competitividade

um factor indispensável para promover o crescimento do emprego. Todavia, o objectivo

"emprego", em si mesmo, reflecte uma preocupação de carácter social, sem

correspondência aparente com as conclusões da teoria económica a propósito da política

industrial. De facto, o que se pretende é assegurar que todos os elementos da sociedade

europeia beneficiem do aumento do rendimento associado ao desenvolvimento económico,

o que introduz um elemento de equidade numa política que, pela sua própria natureza, visa

primordialmente a eficiência.

Conclusão

Do que ficou dito pode concluir-se que as regras dos auxílios estatais permitem aos

Estados membros levar a cabo políticas industriais selectivas (a própria comunidade co-

financia os auxílios de estado nacionais através de fundos estruturais, o que significa que

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também participa nestas políticas selectivas), mas apenas em circunstâncias muito

específicas. Estas circunstâncias são as que se relacionam com as falhas de mercado. Com

efeito, os principais domínios em que é possível conceder auxílios de Estado

correspondem, todos eles, a domínios em que é possível identificar importantes falhas de

mercado. Assim, a I&D e a formação são geradoras de externalidades positivas, a poluição

constitui um caso de externalidades negativas, as PME são afectadas por fenómenos de

informação imperfeita e assimétrica e por imperfeições ao nível do mercado de capitais

(pouco motivado para assumir riscos), e os desequilíbrios regionais podem também ser

considerados um caso de falha dos mercados.

Saliente-se, porém, que a argumentação em termos de falhas de mercado apresenta

diferentes graus de pertinência de acordo com os diferentes domínios. Assim, ela tem todo

o sentido no domínio da I&D e do ambiente. No que respeita ao dominio regional, embora

com uma fundamentação diferente, esta argumentação também tem cabimento, apesar de

outros objectivos como, por exemplo, a coesão social estarem sempre presentes. Mas, por

exemplo, no que toca às PME, esta argumentação é mais frágil. Com efeito as PME têm

alguns trunfos próprios, como por exemplo a criação de emprego, que nada têm a ver com

falhas de mercado e que fundamentam o seu apoio.

Saliente-se, ainda, que há auxílios de Estado concedidos no seio da União Europeia

para os quais é mais difícil encontrar fundamentação teórica, como, por exemplo, os

auxílios ao comércio, ao turismo, à reestruturação ou os auxílios sectoriais.

Como as falhas de mercado constituem justamente um dos principais argumentos a

partir dos quais a teoria económica tende a justificar a política industrial, pode concluir-se

que a teoria económica se poderá rever na política industrial subjacente aos

enquadramentos estudados.

Quanto às orientações que a Comissão tem adoptado em matéria de política

industrial, verifica-se que este conjunto de orientações vai no sentido de criar um ambiente

favorável à competitividade, o que remete, designadamente, para políticas industriais

horizontais. De acordo com estas orientações é à empresa que cabe a responsabilidade

principal para assegurar a sua competitividade. Às autoridades públicas cabe apoiar essa

competitividade através da criação das condições estruturais apropriadas em que as

empresas operam, o que passa por acções em domínios tão diversificados como: a

concorrência, a I&D, a inovação, a formação, o ambiente, a qualidade, a cultura

empresarial, etc. Estamos, portanto, em presença de uma política industrial marcadamente

31

direccionada para a competitividade global e que nada tem a ver com a política de cariz

sectorial que se praticou no passado. Note-se que esta política industrial, ao assumir-se

sobretudo como uma política de competitividade global, perde um pouco da sua

especificidade em relação a outras políticas (política cientifica e tecnológica, política de

educação e formação, política de concorrência, política fiscal, etc.), pelo que não pode ser

apreendida na base de um conceito estreito de política industrial.

Nesta política de dimensão horizontal e transversal encontram-se, designadamente,

reflexos do pensamento neo-institucionalista, do pensamento evolucionista e também do

pensamento subjacente às falhas de mercado. O primeiro dá uma grande relevância à

empresa, à visão de conjunto da economia e justifica também a cooperação. O segundo

enfatiza aspectos como a inovação, o conhecimento tecnológico, o espírito empresarial, a

concorrência, a importância das PME e também justifica a cooperação industrial. O

terceiro justifica, nomeadamente, acções a favor da I&D e das PME.

Assim, as políticas industriais horizontais propostas pela Comissão combinam-se,

no espaço europeu, com políticas de cariz selectivo levadas a cabo pelos Estados membros

através dos auxílios estatais. Tanto umas como outras apresentam importantes elementos

de correspondência com a teoria económica. Contudo, algumas componentes da política

industrial no espaço europeu, tais como as medidas para a criação de emprego e certos

tipos de auxílios de Estado, parecem justificar-se sobretudo à luz da preocupação de

salvaguarda do modelo social europeu. Há, assim, nesta política industrial um misto de

objectivos de eficiência e de objectivos sociais, o que, afinal, não faz mais do que reflectir

a natureza "mista" da economia capitalista no contexto da União Europeia.

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