fundamentos monoteístas - judeu.orgjudeu.org/pdfs/cursofundamentos7.pdffundamentos monoteístas por...

38
Fundamentos Monoteístas por Sha’ul Bensiyon

Upload: lyduong

Post on 03-May-2018

236 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Fundamentos Monoteístas

por Sha’ul Bensiyon

Aula 7

Por que o Mal existe?

No princípio de nossos estudos, comentamos a frase do profeta Isaías:

“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; Eu, o ETERNO, faço todas estas coisas.” (Is.45:7)

Como entender essa passagem? E como não se revoltar diante das atrocidades que são vistas a cada dia?

Como compreender?

Responsabilidade de quem?Antes de atribuir ao Eterno o mal, é importante refletir: Quem causou esse mal?

Existem dois tipos de mal que sofremos:

1) Como punição pelo pecado:

“E primeiramente pagarei em dobro a sua maldade e o seu pecado, porque profanaram a minha terra com os cadáveres das suas coisas detestáveis, e das suas abominações encheram a minha herança.” (Jr. 16:18)

Vale ressaltar que vários tipos de punição têm ação disciplinadora - só os pecados muito graves resultam em destruição:

“Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens, e com açoites de filhos de homens.” (2 Sm. 7:14)

Responsabilidade de quem?2) Como consequência de nossas próprias escolhas

“Essa é a maior categoria de males, muito maior em número do que aqueles da segunda categoria. Somente algumas pessoas não são culpadas desse tipo de mal auto-infligido…

Os males que uma pessoa traz sobre si são por causa de seus vícios, tais como um desejo por mais comida, bebida e sexo do que é de fato necessário. Há pessoas que se engajam demais nessas coisas, ou as apreciam de forma inadequada, e isso lhes causa tanto mal físico quanto espiritual.” (R. Jack Abramowitz, The Three Kinds of Evil)

Responsabilidade de quem?2) Como consequência de nossas próprias escolhas

“Porque o beberrão e o comilão acabarão na pobreza; e a sonolência os faz vestir-se de trapos.” (Pv. 23:21)

“Enganosa é a beleza e vã a formosura, mas a mulher que teme ao ETERNO, essa sim será louvada.” (Pv. 31:20)

Mas, e o mal que não se origina em nós?

O primeiro ponto a ser analisado é: Podemos nos frustrar perante o Eterno?

Observe o exemplo de Moisés: “Então, tornando-se Moisés ao ETERNO, disse: ETERNO! Por que fizeste mal a este povo? Por que me enviaste? Porque desde que me apresentei a Faraó para falar em teu nome, ele maltratou a este povo; e de nenhuma sorte livraste o teu povo.” (Ex. 5:22-23)

Há vários momentos em que pessoas na Bíblia expressaram sua frustração. De que adianta fingir perante o Eterno que não estamos aborrecidos?

E le pode supo r ta r nossas f rus t rações . Não somos responsabilizados pelo que sentimos, mas sim por nossas ações.

Frustração

A verdade que tanto o Judaísmo quanto o Monoteísmo Noaico professam é:

“Rabi Yanai diz: Não temos [como explicar] a tranquilidade do iníquo ou o sofrimento do justo.” (m. Avot 4:15a)

Em outras palavras, nós podemos especular, mas é um assunto que não foi profeticamente revelado.

Vários sábios judeus já tentaram responder a essa questão. Cada explicação tem seus pontos fracos, e seus méritos.

Analogia: O olhar para a montanha.

A Verdade

Ausência do BemA primeira hipótese abordada vem de Maimônides:

“Para o homem a morte é maligna: a morte é sua não-existência. Doença, pobreza, e ignorância são males para o homem: todas essas são privações de atributos…

a saúde em geral denota um certo equilíbrio, e é um termo relativo. A ausência dessa relação é a doença em geral, e a morte é a ausência de vida em caso de qualquer animal. A destruição de outras coisas é, semelhantemente, nada além da ausência de sua forma.

Depois dessas proposições, deve-se admitir como fato que não se pode dizer do Eterno que Ele diretamente cria o mal, ou que Ele tem intenção direta de produzir o mal: isso é impossível. Suas obras são perfeitamente boas. Ele só produz existência, e toda existência é boa, enquanto males são de caráter negativo, e não se pode agir sobre eles. O mal só pode ser atribuído a Ele da forma que mencionamos.” (Guia dos Perplexos 3:10)

Ausência do Bem

Ponto forte: Responde à questão do dilema moral quanto à existência do mal.

Ponto fraco: Continua não explicando porque determinadas pessoas são sujeitas ao mal, sem nada terem feito para merecê-lo.

Bem para alguns

Para refletir: Duas pessoas pedem pelo mesmo emprego. Ambas são igualmente qualificadas, e igualmente justas. A quem o Eterno deve atender?

“Uma vez que cada pessoa é diferente da outra, nenhuma lei, humana ou divina, pode ser criada de forma a beneficiar todo mundo da mesma forma.

De fato, muitas leis são extremamente benéficias para a maioria dos humanos e danosas a algumas pessoas.

Bem para alguns

Assim, as leis da natureza são boas para o mundo todo, mas algumas pessoas serão por elas feridos. Um exemplo são furacões que beneficiam a terra mas cuja força pode ferir ou mesmo matar pessoas.”

(R. Dr. Israel Drazin - A Rational Approach: Judaism and Torah Commentary)

Bem para alguns

Ponto forte: Além de plenamente lógica, também elimina o dilema moral.

Ponto fraco: Se algo pode beneficiar alguns e não outros, por que razão teria o universo sido concebido para jamais beneficiar a todos?

Efeito Colateral da Criação“O homem é um ser físico e temporal. Por causa disso, estamos sujeitos aos problemas físicos, sejam baseados na fraqueza de nossa própria constituição ou na exposição a agentes que nos ferem, em nossos ambientes.

Mas criação e destruição andam juntas; a mesma natureza temporal que nos requer que por fim pereçamos é também o que nos permite vir à existência. Nós, portanto, vemos que nossa natureza física, com todas as suas limitações, é o resultado da bondade do Eterno.”

(R. Jack Abramowitz, The Three Kinds of Evil)

Efeito Colateral da CriaçãoNada do que existe, fisicamente, é permanente. Caso fosse, a criação se confundiria com o Criador.

Sendo assim, para que algo venha a existir a partir do Criador, é preciso que tenha limites.

O limite também permite a existência temporal de alguns arranjos da matéria. Ex: Como poderiam todas as pessoas que já viveram existir ao mesmo tempo?

Nossos limites, então, explicam porque algumas coisas nos ferem.

Efeito Colateral da Criação

Ponto forte: Explica porque a possibilidade do mal existir é inevitável, pois é decorrência da existência física.

Ponto fraco: Não explica porque pessoas tementes ao Eterno podem sofrer mal, que muitas vezes não parece ser fruto de escolha humana.

(Ex: alguém que nasce com doença congênita)

Efeito Colateral do Livre Arbítrio

A terceira forma de mal pode ser associada ao livre arbítrio.

Se você tem a escolha entre fazer o bem ou não, automaticamente a opção torna possível a existência do mal.

“O mal pode também vir de outras pessoas, tal como quando um indivíduo fere o outro.” (ibid)

A ausência do livre arbítrio implica em automatismo. E se há automatismo, não há consciência. E sem consciência, não se é imagem e semelhança do Eterno.

Efeito Colateral da Criação

Ponto forte: Como o anterior, explica porque a possibilidade do mal existir é inevitável, pois é decorrência da existência física.

Ponto fraco: Como o anterior, não explica porque pessoas tementes ao Eterno podem sofrer mal, que muitas vezes não parece ser fruto de escolha humana.

(Ex: alguém que nasce com doença congênita)

Para dar valor ao bem“O Eterno criou o universo porque queria fazer o bem. Então seria necessário haver pessoas para receberem aquele bem.

Mas o Eterno não deseja nos dar gratuitamente o bem como um presente. O Eterno deseja que as pessoas o apreciem. Algo que você obtém gratuitamente você não dá valor. E, de fato, se você obteve algo incrivelmente bom de graça, e você pudesse apreciá-lo por toda eternidade, isso te constrangeria. Você não trabalhou por aquilo, você não merece aquilo.

Então o Eterno decidiu que as pessoas teriam que trabalhar pra isso, e receberiam a bondade final como recompensa pelo trabalho.

Então o que é o trabalho? Bem, o Eterno criou a Inclinação ao Mal, o anjo chamado Satan, cuja função é nos tentar para fazer o mal. Se ignoramos a Inclinação ao Mal, nos aproximamos do Eterno, e nos tornamos mais santos. Ao fazer isso, temos por mérito a recompensa da bondade final.” (R. Mordechai Housman - Is the World in a Conflict Between Good and Evil?)

Ponto forte: Explica porque o mundo às vezes parece exigir muito de nós.

Ponto fraco: Pode explicar porque temos que trabalhar pra comer, mas não é a melhor explicação para, por exemplo, alguém que nasce com uma enfermidade, ou ainda porque alguns nascem com tudo de mão beijada.

Para dar valor ao bem

Muitos judeus crêem na reencarnação, e muitos são contrários a ela. O Judaísmo não é dogmático quanto a isso.

Aqueles que entendem que a reencarnação acontece costumam acreditar que as inúmeras encarnações teriam também por objetivo a expiação dos pecados.

Assim sendo, você teria noutra vida consequências do que fez nesta.

Processo Expiatório

“Todas as almas estão sujeitas à reencarnação; e as pessoas não conhecem os caminhos do Sagrado, bendito seja Ele! Eles não sabem que são trazidos perante o tribunal tanto antes de entrar neste mundo quanto depois de sair dele; eles são ignorantes quanto às muitas reencarnações e obras ocultas pelas quais devem passar, e o número de almas nuas, e quantos espíritos nus vagam no outro mundo sem serem capazes de entrar no véu do Palácio do Rei. Os homens não sabem como as almas revolvem como uma pedra que é lançada de uma funda. Mas o tempo se aproxima de quando esses mistérios serão revelados.” (Zohar 2:99b)

Processo Expiatório

Ponto forte: Parece ser uma das explicações mais justas, generalizando o processo de causa e efeito.

Ponto fraco: Além da polêmica em torno do Zohar e outras obras místicas, parece não haver propósito nesse tipo de prática. Porque boa parte da razão do sistema de causa e efeito é seu conteúdo didático. Sem conhecer uma encarnação pregressa, como entender uma punição presente?

Processo Expiatório

Observe os eventos da vida de Moisés:

• Cresceu afastado de sua mãe;

• Ao tentar ajudar um israelita, teve que fugir (ainda bem jovem) de toda uma vida de regalias, e se refugiar em terra estrangeira;

• Após conseguir reconstruir sua vida, é ordenado a retornar, para libertar o povo.

Esses fatos ajudaram a preparar Moisés para a árdua missão de libertar o povo.

Preparação

De forma análoga, o Eterno utiliza o sofrimento em nossas vidas para nos preparar para coisas que estejam em seus planos. Seja nesta vida, ou mesmo no mundo vindouro.

Por exemplo, para tornar-se um conselheiro de casais, é preciso conhecer as dificuldades e os sofrimentos de uma vida a dois, para desenvolver empatia e para compreender as angústias de um casal.

Preparação

Ponto forte: Uma das melhores explicações para o sofrimento do justo.

Ponto fraco: É difícil imaginar que todos os que já sofreram se encaixem nisso. Além disso, essa explicação só faz sentido quando admitimos que o mal já existe.

Preparação

Bem não compreendido

Meu gato chora todas as vezes em que vai ao veterinário. E fica estressado sempre que precisa tomar um remédio.

Ele não consegue perceber que um mal temporário resultará num bem posterior.

Está além da capacidade dele, mesmo que, às vezes, me permita segurá-lo para dar o remédio, ainda que não compreenda.

Bem não compreendido"Nós cremos que se um evento natural destrói uma cidade de pessoas inocentes, isso não pode ser mal, porque nada do que vem do Eterno é mal.

Ao mesmo tempo sabemos que não há nada bom acerca de um desastre. Como pode um terremoto que mata 100 mil pessoas não ser mal?…

E esse é o desafio da fé: Sentir empatia e horror genuínos perante o desastre, e até mesmo orar ao Eterno como Moisés fez e reclamar amargamente de nosso destino, e ao mesmo tempo acreditar que nada é mal.

Bem não compreendido

Portanto, como conciliar essas duas noções?

Que essas coisas não são más é questão de fé absoluta. Somente o Eterno pode saber o que faz de um desastre bom, e se tentarmos racionalizar seríamos blasfemos por duas razões:

A) Porque não podemos compreender o Eterno, então nossas próprias teorias estão fadadas a estarem erradas.

B) Como esse conceito transcende nosso entendimento, ocorre que pela razão humana não há de fato justificativa para o que aconteceu.

Bem não compreendidoE a isso sucede que devemos sentir empatia e horror do nosso ponto de vista, ao mesmo tempo em que acreditamos que do ponto de vista do Eterno tudo faz sentido.

Temos que falar com o Eterno a partir do nosso ponto de vista - de como as vemos - e portanto devemos orar e até reclamar amargamente acerca de nossa porção e dos sofrimentos dos outros.

E da mesma forma não podemos permitir que essa empatia e horror naturais e necessários impactem nossa fé pura, inalterada e absoluta no fato de que o Eterno sabe o que é bom.” (What is the Jewish view on evil? - R. Eliezer Gurkow)

Ponto forte: É, de longe, a melhor resposta, e resolve praticamente todas as questões.

Ponto fraco: Do ponto de vista puramente racional, deixa a desejar, porque exige uma declaração de fé no Eterno quanto a existir uma explicação que não somos capazes de entender.

Mas, isso também pode ser visto como uma falha da razão humana, e não do argumento em si.

Bem não compreendido

Como saber que tipo de mal me aflige? Será que estou em pecado? Será que estou colhendo o que plantei?

Esses passos, indicados a seguir, podem ajudar:

1) Peça ao Eterno que te dê discernimento;

2) Uma punição só faz sentido quando tem a ver diretamente com o pecado. Isto é, não faz sentido o Eterno te disciplinar fazendo um raio destruir o seu telhado, se você falou mal do vizinho;

3) Faça sempre uma auto-avaliação, e procure ver se está errando em alguma coisa;

Como saber?

4) Você tem recebido conselhos sobre como agir, e os tem ignorado?

5) Você tem insistido em ir por um caminho, apesar do Eterno já ter dado todos os sinais de que o caminho não é bom?

6) Você tem feito algo para afastar o Eterno de sua vida?

7) Se não se explica no pecado, então se pergunte: Que lição pode haver para mim nessa situação?

Lembre-se: Muitas respostas só são obtidas com o passar do tempo, e nem todas aparecerão nesta vida.

Como saber?

Metas AlcançadasNa aula de hoje você aprendeu 14 coisas importantes:

✓1) Existem dois tipos de mal gerado por nós mesmos: Punição pelo pecado, ou preço pelas escolhas.

✓2) Não há problema em apresentar-se frustrado diante do Criador, pois Ele já sabe como nos sentimos.

✓3) A verdade é que ninguém sabe, de fato, porque coisas boas ocorrem a pessoas más, e pessoas boas sofrem. Porém, muitos autores já teceram suas teorias. A seguir, apresentamos algumas delas:

✓4) Uma teoria diz que o mal é a ausência do bem, como o frio é ausência do calor.

✓5) Uma teoria diz que é impossível que haja bem universal, isto é, algo que é ao mesmo tempo bom para todos.

✓6) Uma teoria diz que o mal é decorrência natural dos limites físicos da criação.

✓7) Uma teoria diz que o mal é decorrência natural do livre arbítrio.

Metas Alcançadas✓8) Uma teoria diz que o mal existe para que possamos dar valor ao bem.

✓9) Uma teoria diz que o mal é sempre fruto de um processo expiatório, inclusive através da reencarnação.

✓10) Uma teoria diz que o mal é uma forma de amadurecimento, em preparação para algo maior.

✓11) Uma teoria diz que o mal é um bem, e que ainda não temos condições de compreender.

✓12) Todas essa teorias têm seus pontos fortes e fracos.

✓13) Uma reflexão, associada a um pedido de ajuda ao Eterno, podem contribuir para saber porque estamos passando pelo que passamos.

✓14) É importante lembrar que muitas respostas podem só ser obtidas depois. Inclusive, depois desta vida.

Gostou da aula?Se você gostou da aula, faça uma doação para que continuemos nosso trabalho, e possamos, inclusive, gravar as aulas e armazená-las online.

As doações são voluntárias, e todas muito apreciadas.

Itaú (Preferencialmente)Ag. 7062C/C 26683-3

Caixa Econômica FederalConta Poupança: 1374.013.93399- 5(este número já inclui conta, agência e operação)