fundamentos e praticas de leitura e escrita- ok

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  • 7/26/2019 Fundamentos e Praticas de Leitura e Escrita- Ok

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    Governo FederalDilma Vana Rousseff

    PresidenteMinistrio da Educao

    Jos Henrique Paim FernandesMinistro

    CAPES

    Jorge Almeida GuimaresPresidente

    Diretor de Educao a DistnciaJoo Carlos Teatini de Souza Clmaco

    Governo do EstadoRicardo Vieira Coutinho

    Governador

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABAAntonio Guedes Rangel Junior

    Reitor

    Jos EthanVice-Reitor

    Pr-Reitor de GraduaoEli Brando da Silva

    Pr-Reitoria de Ensino Mdio, Tcnico e Educao Distncia

    Secretaria de Educao a Distncia SEADEliane de Moura Silva

    Assessora de EAD

    Coord. da Universidade Aberta do Brasil - UAB/UEPBCeclia Queiroz

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    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB

    EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABA

    Rua Baranas, 351 - Bodocong - Bairro Universitrio - Campina Grande-PB - CEP 58429-500Fone/Fax: (83) 3315-3381 - http://eduepb.uepb.edu.br - email: [email protected]

    Editora da Universidade

    Estadual da Paraba

    DiretorCidoval Morais de Sousa

    Coordenao de EditoraoAro de Azevedo Souza

    Conselho EditorialClia Marques Teles - UFBADilma Maria Brito Melo Trovo - UEPB

    Djane de Ftima Oliveira - UEPBGesinaldo Atade Cndido - UFCGJoviana Quintes Avanci - FIOCRUZRosilda Alves Bezerra - UEPBWaleska Silveira Lira - UEPB

    Universidade Estadual da ParabaAntonio Guedes Rangel JuniorReitor

    Jos EthanVice-Reitor

    Pr-Reitor de GraduaoEli Brando da Silva

    Pr-Reitoria de Ensino Mdio, Tcnico e Educao DistnciaSecretaria de Educao a Distncia SEADEliane de Moura Silva

    Ceclia QueirozAssessora de EAD

    Coordenador de Tecnologiatalo Brito Vilarim

    Projeto GrcoAro de Azevdo Souza

    Revisora de Linguagem em EADRossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)

    Reviso LingusticaMaria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)

    DiagramaoAro de Azevdo SouzaGabriel Granja

    418.4

    A675f Arcoverde, Rossana Delmar de Lima.

    Fundamentos e prticas de leitura e escrita./ Rossana Delmar de Lima Arcoverde;Maria Divanira de Lima Arcoverde./ Pr-Reitoria de Ensino Mdio, Tcnico e Educao Distncia.- SEAD - Campina Grande: EDUEPB, 2014.

    150 p.: il.: Color.

    1. Leitura e escrita. 2. Gneros textuais. 3. Gneros literrios. 4. Linguagem. I.Ttulo. II. EDUEPB/Coordenadoria Institucional de Programas Especiais - CIPE.

    21. ed.CDD

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    Fundamentos e prticasde leitura e escrita

    Rossana Delmar de Lima ArcoverdeMaria Divanira de Lima Arcoverde

    Campina Grande-PB2014

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    Sumrio

    I UnidadeA dimenso interacional da linguagem..............................................7

    II UnidadeLeitura: perspectivas tericas e funes sociais..................................35

    III UnidadeA leitura como prtica social: letramento em foco.............................67

    IV UnidadeA Escrita: Perspectivas Tericas........................................................95

    V UnidadeProduzindo gneros textuais: A resenha .........................................119

    VI Unidade

    Produzindo gneros textuais: O resumo .........................................135

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    Fundamentos e prticas de leitura e escrita I SEAD/UEPB 7

    I UNIDADE

    A dimenso interacionalda linguagem

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    8 SEAD/UEPB I Fundamentos e prticas de leitura e escrita

    ApresentaoCaros(as) Alunos(as),

    Ao nascer, utilizamos, pela primeira vez, uma linguagem:o choro. Com o tempo, aprendemos a balbuciar as primeiraspalavras. Progressivamente, por meio de interaes sociais,usamos a linguagem de forma mais efetiva e diversificada, em

    diferentes situaes.E por um processo de estudo, prtica e reflexo, aprende-

    mos a fazer uso da lngua, ou seja, da linguagem em funcio-namento, tanto em situaes padres/formais (a linguagem deum juiz numa sesso de tribuna, numa conferncia, num artigocientfico, numa carta ao jornal da cidade) quanto em infor-mais, a linguagem da vida cotidiana (numa roda de conversaentre amigos, numa carta pessoal, num bilhete, num recado).

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    Desde nossos primeiros anos escolares, vivenciamos osprimeiros contatos de aprendizado formal com a lngua/lin-guagem como parte integrante da vida, impulsionados por di-versas finalidades. Assim, aprendemos a usar a lngua/lingua-gem, pois sentimos necessidade de comunicar, de interagir

    com interlocutores distintos, de ler efetivamente, de aprendera escrever com maior preciso ou para satisfazer determina-das funes nos mais diferentes contextos de uso: acadmico,jurdico, cotidiano, poltico, jornalstico, publicitrio, entre ou-tros.

    A linguagem , assim, uma atividade social que une aspessoas na realidade em que elas vivenciam, dimensionadapelas diversas prticas sociais e culturais que a cercam. ,portanto, o instrumento cultural mais importante da humani-dade que permite criaes e recriaes constantes.

    nesta perspectiva que, neste componente curricular, va-mos refletir sobre a natureza social da linguagem e as noesbsicas para desencadear o conhecimento e as prticas so-ciais sobre Leitura e Escrita.

    Assim, convidamos voc para percorrer esse caminho de-safiador, que exigir leituras, aprofundamentos das teoriasabordadas e escrita de gneros textuais/discursivos.

    Nesta primeira unidade, estudaremos, especificamente,sobre os a dimenso interacional da linguagem. Trabalha-remos gneros textuais/discursivos e atividades relacionadascom esse contedo e apresentaremos uma sntese do que foiabordado, alm de indicaes de mltiplas leituras, que vo-cs devem insistir em conhecer e realizar, tendo em vista queconsistem em instrumentos que visam ampliar o estudo emfoco. Alm disso, neste material faremos uso de glossrio,de modo que auxiliar no entendimento de alguns termos ouconceitos, bem como funcionar como recurso de aprofunda-mento ou esclarecimento da temtica estudada.

    Cabe a todos vocs, inseridos nesse processo de formao distncia, o envolvimento e comprometimento necessrios,de modo que permitam o aprendizado efetivo de todo o con-tedo. Para tanto, realamos a necessidade do compromissopessoal, profissional e acadmico, em especial, no que dizrespeito ao cumprimento de seu trabalho como um/a apren-diz responsvel para atingir seus objetivos de aprendizagem,bem como dos objetivos estabelecidos pelo curso.

    Sendo assim, importante que voc, em todas as unidades:

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    10 SEAD/UEPB I Fundamentos e prticas de leitura e escrita

    Estude com determinao. Dedique uma quantidadesignificativa de seu tempo semanal aos estudos, demodo que voc maximize suas potencialidades e aschances para obter sucesso em sua aprendizagem;

    Siga as orientaes deste material, pois elas ajudarovoc a entender que a construo do conhecimento mtua e colaborativa e que se efetiva em trocas per-manentes de dilogo;

    Realize as atividades propostas, questione e faa re-flexo sobre os contedos, pois a aprendizagem dealta qualidade pode acontecer mesmo em situaesno tradicionais da sala de aula;

    Use o Ambiente Virtual de Aprendizagem para am-pliar o processo de interao com os colegas, tutores

    e professores, na discusso sobre as temticas estu-dadas;

    Tire dvidas, quando necessrio, com o/a professor/a,colegas e tutor/a e acredite que o compartilhamen-to de questes pode oferecer reais possibilidades deaprendizado de qualidade;

    Faa sua autoavaliao, tendo em vista que o apren-diz reflexivo e crtico se empenha com dedicao eresponsabilidade, avaliando continuamente em que

    aspectos pode melhorar o seu aprendizado.Desse modo, desejamos sucesso nesse novo caminho de

    aprendizado e lembramos que importante que voc enten-da, ainda, sobre a relevncia de seu papel, como estudantee participante ativo desse processo que conduz ao aprendi-zado e formao do docente de lngua portuguesa.

    relevante destacar ento, que ao optar por este curso distncia voc est investindo em sua formao profissionalna busca do conhecimento que est ao seu alcance. Paraisso, organize o seu tempo e considere que para aprender preciso ter disciplina e responsabilidade com os estudospara dar conta dos desafios que ora se impem nessa novajornada.

    Bons estudos!

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    Fundamentos e prticas de leitura e escrita I SEAD/UEPB 11

    Objetivos

    Ao final desta unidade, esperamos que voc compreenda que:

    Diferentes perspectivas tericas, historicamente constitudas, si-tuam a linguagem, focalizando-a em funo de contextos deuso e prticas especficas de interao social;

    A linguagem uma atividade de natureza social e dialgica,que se constitui na interao verbal.

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    12 SEAD/UEPB I Fundamentos e prticas de leitura e escrita

    Reetir sobre a linguageme seus usos um bom

    comeo...Leia e reflita sobre os textos que seguem...

    Texto I:

    Texto II:

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    Texto III:

    GUERREIRO, Carmen. A atrao pelo argumento.Revista Lngua Portuguesa. So Paulo: EditoraSegmento, Ano 5, n 60, outubro de 2010, p. 44.

    Para reetir e responder...1. O que h de comum nos gneros textuais/discursivos acima?2. Em que eles diferem?3. Voc consegue ler e compreender todos os textos? Justique.4. Em que situao eles foram produzidos?5. O que eles enunciam/informam/discursam?6. Qual a nalidade discursiva dessas produes?7. De que voc precisa para compreender o sentido desses textos?

    Pense um pouco mais:

    A linguagem pode ser usada para diversas finalidades e, paraisso, o homem potencialmente capaz de usar cdigos diferentespara manifestar sua intencionalidade discursiva.

    Compreender a linguagem exige do sujeito que l, uma intera-o, um envolvimento dialgico para do texto depreender os seussentidos.

    Como voc pode notar com a leitura desses textos, a linguagemutilizada pelos distintos escritores estabeleceu uma intensa interlo-cuo entre o texto escrito e voc (o leitor). Alm disso, voc perce-beu que para compreender um texto preciso manter uma relaocom esse texto que vai alm do conhecimento do cdigo escrito.

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    14 SEAD/UEPB I Fundamentos e prticas de leitura e escrita

    Estudar e aprendersobre a linguagem...

    O aluno somente aprende se reconstruir conheci-mento. (DEMO, 2009, p.14)

    O uso da linguagem muito antigo. Sua histria se confunde e seentrelaa com a histria da humanidade. Assim, desde que o homemexiste, dela faz uso como um dos instrumentos mais ricos e potenciaispara poder dizer de si e do mundo ao seu redor.

    Sabemos, portanto, que como instrumento de comunicao entreos seres humanos, a linguagem sempre existiu e se mantm como tra-o caracterstico da espcie1, desde os primeiros sinais sonoros, repre-sentaes em pedras lascadas, pinturas rupestres, expresses gestuais,registros em tabuinhas de cera2, escritas em pergaminhos, revistas oulivros at aos registros visuais e sonoros proporcionado pelas tecnolo-gias na contemporaneidade.

    Voc sabia?

    Segundo Aldo Bizzocchi(2011, p. 62), doutor em Lin-gustica pela USP, em artigo in-titulado O que uma Lngua?

    na Revista Lngua Portuguesa,h duas teorias principais so-bre a origem das lnguas: a mo-nognicaou unilocal, segundo aqual teria existido uma lnguaprimeira, falada na frica emalguma poca entre 200 mil e30 mil anos atrs, e a poligni-caou multilocal, que argumentater a linguagem emergido comouma propriedade evolutiva docrebro em vrias populaes

    ao mesmo tempo.

    A linguagem, dessa forma, usada de acordo com as nossasnecessidades de uso e em dife-rentes contextos socioculturais,histricos e polticos.

    Por muito tempo, o campo

    da lingustica, estuda esse fen-meno e sobre ele podemos en-contrar dimenses diversificadase historicamente constitudas,que definem a linguagem e seususos. A lingustica convive, assim,com uma diversidade terica econtribui, sobremaneira, para oentendimento das indagaesque cerceiam a lngua e a lin-guagem. Nessa direo, convmlembrar o que nos apresenta

    mile Benveniste quando afirmaque a lingustica tem dois objetosde estudo: a lngua e a lingua-gem e que, nessa perspectiva, essas vias diferentes se entrelaam comfrequncia e finalmente se confundem, pois os problemas infinitamentediversos das lnguas tm em comum o fato de que, a um certo grau degeneralidade, pem sempre em questo a linguagem (BENVENISTE,1995, p. 20).

    De certo modo, quando usamos a linguagem tambm estamos fa-

    1 Sebeok, conforme discute Ponzio (2007,p. 18-20), faz uma distino entre lingua-gem verbal (falar, propriamente dito) e lin-guagem. Para esse estudioso, a linguagemnasce como um dispositivo de modelaoe no deve se confundir com a linguagem

    verbal, com o falar, surgiu e se desenvolveupor adaptao muito antes deste ltimo,que no aparece, no curso da evoluo daespcie humana, a no ser quando apareceo Homo sapiens e com funo especica-mente comunicativa (p. 18).

    2As tabuinhas ou tabuletas de cera so ins-trumentos de escrita bastante apreciados

    na antiguidade, pois era sobre a cera queos autores inscreviam os textos para seremtranscritos, depois, por um escriba para opergaminho. Para Chartier (2007, p. 24),Pedro Mexa descreve, em 1540, as tabule-tas recobertas de cera, as tablicas encera-das, como um dos suportes de escrita de losantiguos e mostra o modo como escreviamos antigos antes que houvesse papel. RevelaChartier, portanto, que a tabuleta de cera,como um suporte de escrita, teve uma rela-o ininterrupta com a civilizao ocidentalletrada, mais longa que o pergaminho ou opapel, e mais ntima da criao literria(p. 30).

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    zendo uso de uma lngua. Assim, reconhecendo as particularidades queenvolvem essa complexa relao nos concentraremos neste texto emmodos de abordagem que expliquem, definam, exemplifiquem e nosajude a compreender sobre o fenmeno da linguagem, em especial,como uma atividade de natureza interacional, mesmo que para issoprecisemos rever noes anteriores a essa.

    vlido lembrar que diferentes perspectivas tericas oferecem ex-planaes distintas e destacam a linguagem como:

    representao (espelho) do mundo e do pensamento;

    enunciao de um ato monolgico, individual, que no afeta-do pelo outro, nem pelas circunstncias sociais;

    instrumento (ferramenta) de comunicao;

    forma (lugar) de ao ou interao;

    construo social, discursos produzidos numa dada esfera daatividade humana.

    Atividade I

    Leia o texto a seguir e responda:

    1. Quais os recursos usados pelo autor do texto?

    2. A quem se destina o texto?

    3. Qual a inteno discursiva do anncio?

    4. Como voc avalia os recursos discursivos utilizados no anncio?

    5. Qual o conceito de lngua/linguagem subjaz a esse tipo de registro? Comente.

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    16 SEAD/UEPB I Fundamentos e prticas de leitura e escrita

    Um dedo de prosa no AVA!

    Depois que responder a atividade, v ao Ambiente Virtual deAprendizagem e participe de uma discusso sobre o uso da lingua-gem em anncios publicitrios.

    O que chama a sua ateno nas publicidades?

    De que maneira os publicitrios usam a linguagem paraatingir seus objetivos?

    Pesquise na internet ou em suportes impressos, anncioscriativos e crticos, disponibilize no blog do AVA e promovauma discusso sobre suas descobertas, conversando sobre:

    a) a mensagem;

    b) recursos discursivos usados;

    c) a linguagem no verbal usada;d) a inteno do anncio;

    e) o pblico alvo a quem se dirige o anncio

    f) o contexto de circulao;

    g) a situao em que foi produzido;

    h) avalie se o anncio atinge sua finalidade.

    Para refletir e discutir: Por que os professores podem traba-

    lhar a linguagem dos anncios em sala de aula?

    Para compreender aconcepo de linguagem...

    Para entender a noo de linguagem importante ter clareza sobreo que lngua e, em linhas gerais, saber quais as concepes em tornodessa concepo, considerando o entrelaamento complexo entre es-

    sas duas noes. Vale destacar, assim, que

    A lngua essa produo da capacidade de lin-guagem. uma produo histrica, socialmen-te demarcada, em que h herana histrica, queconcorre com a herana biolgica e com a histriapessoal, no s como condio de expresso, mascomo demarcao da expresso. Certamente, seo homem no fosse um animal socivel, ele noseria um animal simblico (SALOMO, 2003, p.185).

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    Fundamentos e prticas de leitura e escrita I SEAD/UEPB 17

    A lingustica, a exemplo de outras cincias, surge no campo da filo-sofia grega, trazendo com isso, a origem de muitos dos termos que hojeconhecemos e permite ver que as categorias que instauraram (nome,verbo, gnero gramatical etc) repousam sempre sobre bases lgicas oufilosficas (BENVENISTE, 1995, p. 20).

    No entanto, no incio do sculo XX3

    que a lngua passa a ser con-cebida como um sistema de signos4e como organizao de unidadeshierarquizadas. Nesse sentido, no campo dos estudos lingusticos, alngua era vista como um sistema, um conjunto de regras, um cdigodesvinculado de suas condies de realizao.

    A linguagem, nessa perspectiva, consiste na apreenso do sentidodos signos que podem ser interpretados pela sua funo significante,uma vez que a lngua oferece as formas lingusticas em estruturas bemdefinidas. Para Marcuschi (2008, p. 27) Saussure quem d origem chamada lingustica cientfica e apresenta a lngua como um fen-meno social, contudo analisava-a como um cdigo e um sistema de

    signos, considerando que no havia interesse em estudar a lngua noaspecto de sua realizao na fala ou no seu funcionamento em textos.

    A partir dos anos 60 do sculo XX, a linguagem passou a ser enten-dida como instrumento de comunicao. Um cdigo que serve apenaspara transmisso de informao, como mostra o esquema a seguir:Revisar aprender!

    3 APROFUNDE SEU CONHECIMENTO: O tex-to, Breve excurso sobre a lingustica no

    sculo XX, oferece um panorama relevantesobre a lngua como objeto de estudo, bemcomo conhecimento sobre perspectivas te-ricas de estudos lingusticos no sculo XX.

    Ao nal do captulo, o autor indica ttulosde vrias obras para aprofundamento dostemas tratados. Voc pode encontr-lo emLuiz Antnio MARCUSCHI, Produo Textu-al, anlise de gneros e compreenso. SoPaulo: Parbola editorial, 2008, p. 26-46.

    4 Signo: de Ferdinand Saussure (1916),

    considerado o pai da Lingustica, em Coursde linguistique gnrale (livro publicadotrs anos aps a morte de Saussure) queprecede uma nova noo de lngua e des-creve o signo lingustico como uma forma(sinal) verbal que representa um signica-do. A palavra, nessa concepo, um signopor excelncia. O signo possui, assim, duplaface: signicante e signicado.

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    18 SEAD/UEPB I Fundamentos e prticas de leitura e escrita

    Importante:

    Nessa tendncia, usar a lngua/linguagem era participar de um cir-cuito comunicativo, no qual um Emissor comunicava determinadaMensagem a um Receptor e a linguagem exercia, apenas, a funode informar.

    Atividade II

    Voc concorda que a linguagem ser ve apenas para informar?

    Vamos reetir juntos?

    Pense e responda: Em que outras situaes do cotidiano, ns podemos usar alinguagem?

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

    Continuando

    nossos estudos...Convm considerar, nessa concepo, no apenas a forma lingus-

    tica, mas tambm a funo da linguagem, tendo em vista que ela tidacomo instrumento que reproduz a realidade. A atividade da linguagemconstitui numa troca, um dilogo em que de um lado se pressupe umlocutor que a representa e de outro um ouvinte que a recria, fazendo dalinguagem um instrumento que intermedeia a comunicao.

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    Fundamentos e prticas de leitura e escrita I SEAD/UEPB 19

    De fato, a faculdade simblica do homem atinge a sua rea-lizao suprema na linguagem, que a expresso simblica porexcelncia; todos os outros sistemas de comunicaes, grficos,gestuais, visuais etc, derivam dela e a supem. Mas a linguagem

    um sistema simblico especial, organizado em dois planos. De umlado um fato fsico: utiliza a mediao do aparelho vocal paraproduzir-se, do aparelho auditivo para ser percebida. Sob esse as-pecto material presta-se observao, descrio e ao registro. Deoutro lado, uma estrutura imaterial, comunicao de significados,substituindo os acontecimentos ou as experincias pela sua evoca-o. Assim a linguagem, uma entidade de dupla face. por issoque o smbolo lingustico mediatizante. Organiza o pensamento erealiza-se numa forma especfica, torna a experincia interior de umsujeito acessvel a outro numa expresso articulada e repreesentati-va, e no por meio de um sinal como um grito modulado; realiza--se numa determinada lngua, prpria de uma sociedade particular,

    no numa emisso vocal comum espcie inteira. BENVENISTE, mi-le (1995, p. 30).

    Conforme Martelotta (2008, p. 31), podemos dizer que a funoda linguagem, nesse sentido, transmitir informaes de um indivduoa outro ou de uma gerao a outra. Assim, devemos aos estudos dolinguista Roman Jakobson a demonstrao de que cada um dos fatoresdo circuito da comunicao corresponde a diferentes funes de lingua-gemque, por sua vez, esto enraizadas na vida social e que transcen-dem a mera transmisso de informao.

    Seguindo essa viso sobre a atividade lingustica no ato da comuni-cao, Jakobson listou seis funes de linguagem:

    Funo emotiva:

    Est centralizada no emissor, revelando sua opinio, sua emoo.Nela prevalece a 1 pessoa do singular, interjeies e exclamaes.Em geral, essa funo vista nas produes de biografias, memrias,poemas e cartas de amor.

    Funo referencial:

    Est centralizada no referente, quando o emissor procura oferecerinformaes da realidade. Nessa funo predomina uma linguagemobjetiva, direta, denotativa5e prevalece a 3 pessoa do singular. Trata--se de uma linguagem muito utilizada nas notcias de jornal, artigos derevistas e livros cientficos.

    5 Denotativa vem de denotao que o sig-nicado da palavra num plano real, sentidoprprio.

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    20 SEAD/UEPB I Fundamentos e prticas de leitura e escrita

    Funo apelativa (ou conativa):

    Est centralizada no receptor e o emissor procura influenciar o com-portamento do receptor. Como o emissor se dirige ao receptor, co-mum observarmos o uso de tu e voc, ou o nome da pessoa, alm dosvocativos e imperativos, quando se faz uso dessa funo. Em geral, ela

    usada nos discursos, sermes e propagandas que se dirigem direta-mente ao consumidor.

    Funo ftica:

    Est centralizada no canal e tem como objetivo prolongar ou noo contato com o receptor ou testar a eficincia do canal. Essa funo vista na linguagem das falas telefnicas, saudaes e situaes simi-lares.

    Funo potica:

    Est centralizada na mensagem e revela recursos imaginativos cria-dos pelo emissor. Trata-se de uma funo afetiva, sugestiva, conotativa6e metafrica7, alm de valorizar as palavras e as possveis combinaes., assim, uma linguagem figurada apresentada em obras literrias, le-tras de msica, em algumas propagandas, entre outras.

    Funo metalingustica:

    Est centralizada no cdigo, usando a linguagem para falar delamesma. Por exemplo, o caso de vermos a poesia que fala da poesia,da sua funo e do poeta ou um texto que comenta outro texto. Essafuno vista, principalmente, nos dicionrios, glossrios e livros darea da lingustica.

    Importante:

    Em um mesmo texto podem aparecer mais de uma dessas funesda linguagem. O importante saber qual a funo predominante

    no texto.

    6 Conotativa vem de conotao que diz res-peito signicao da palavra em sentidogurado.

    7 Metafrica vem de metfora, gura delinguagem, que o desvio da signicaoprpria de uma palavra, advindo de umacomparao mental ou caracterstica co-mum entre dois seres ou fatos.

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    Atividade III

    Como vimos, a linguagem usada em vrias situaes, de acordo com ospropsitos do usurio da lngua.

    Analise as situaes de uso da linguagem a seguir. Escreva qual a funoda linguagem que predomina s situaes propostas e justique seuposicionamento.

    Situao 1:Imagine que voc precisa viajar para apresentar um trabalho em

    um congresso e no dispe de recursos suficientes. Para isso, voc temque convencer algum a ajud-lo no financiamento.

    Funo da linguagem:

    Por qu?

    Situao 2:Numa redao de vestibular, um(a) candidato(a) deve escrever uma

    notcia sobre determinado acontecimento em sua cidade para ser pu-blicada em um jornal.

    Funo da linguagem:

    Por qu?

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    22 SEAD/UEPB I Fundamentos e prticas de leitura e escrita

    Situao 3:Suponha que voc tem de escrever para algum, declarando o seu

    amor.

    Funo da linguagem:

    Por qu?

    Situao 4:Imagine que voc um(a) professor(a) de Lngua Portuguesa e est

    planejando uma aula sobre Gneros textuais/discursivos. Na organi-zao do material a ser utilizado voc deve produzir um Glossrio com

    termos que possivelmente seus alunos desconheam o significado.

    Funo da linguagem:

    Por qu?

    A linguagem alm deum mero cdigo no atocomunicativo

    Vale a pena entendermos ainda, que a linguagem se realiza em

    situaes sociais diversas e carregada de sentido, dependendo devrios aspectos lingusticos e extralingusticos8.

    Vejamos o exemplo a seguir tomado de Koch (1992, p.14)

    O enunciado o dia est bonito, em diversas si-tuaes de enunciao, pode ter sentidos bastantediferentes.

    Pode tratar-se de uma:

    Assero que simplesmente constata o dia est bonito.

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

    8 So aspectos no-verbais que completamos dados fornecidos pela linguagem verbalpara a efetivao do processo interativo nacomunicao humana.

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    Pergunta: o dia est bonito?

    Sugesto de convite para um passeio como se o enunciadorfalasse: o dia est bonito (pressupe: vamos passear?)

    Em resumo, para que os enunciados nos faam sentido precisoconhecer: o que dito, o modo como se diz, as pessoas que dizem, asituao e em que momento histrico, social e cultural o enunciado produzido. Isso o que torna o enunciado pleno de sentidos. nessadireo que Antunes (2009, p. 20) nos chama a ateno:

    A compreenso do fenmeno lingustico como ati-vidade, como um dos fazeresdo homem, puxou osestudos da lngua para a considerao das inten-es sociocomunicativas que pem os interlocuto-res em interao: acendeu, alm disso, o interessepelos efeitos de sentido que os interlocutores pre-

    tendem conseguir com as palavras em suas ativida-des de interlocuo; trouxe para a cena dos estudosmais relevantes o discurso e o texto, desdobradosnas suas relaes com os sujeitos atuantes, com asprticas sociais e com as diferentes propriedadesque asseguram seu estatuto de macrounidade dainterao verbal.

    Como podemos notar a linguagem s pode ser vista como umaatividade socialdentro de uma determinada situao scio-histrica deproduo (ROJO, 2010, p. 40), pois os sujeitos que produzem lingua-gem interagem enunciando discursos constitudos por um ecoar de

    vozes alheias ou annimas.Em razo disso, evidenciamos, a lngua em uso , por natureza,

    dialgica, porque no sendo nica, est sempre impregnada pelas pa-lavras de outros e como afirma Bakhtin (1975, p. 89), todo discurso orientado para a resposta. Assim, considerar que a linguagem ativi-dade social significa priorizar que todo enunciado /discurso produzidoest sempre orientado para um outro social, para uma resposta, umacompreenso e uma variedade de vozes, pois o discurso sempre umdilogo vivo9.

    Voc sabia?

    Prova Brasil de Lngua Portuguesa - 9 ano: relaes entre recursosexpressivos e efeitos de sentido.

    Esta prova exige repertrio para ler e entender textos dos maissimples aos mais complexos, dependendo do vocabulrio, da or-ganizao e das pistas lingusticas, entre outros aspectos. (RevistaNova Escola online)

    9 Segundo Bakhtin/Voloshinov (1929, p.

    256), todo enunciado/discurso vive semprenum horizonte social, pois a orientaosocial estar sempre presente em qualquerenunciao do homem, no s verbal, mastambm gestual obtida por meio de ges-tos ou de mmica -, independentemente daforma em que se realiza: tanto se a pessoafala consigo mesma monlogo -, comoquando na conversao participam duas oumais pessoas dilogo. A orientao social uma das foras organizadoras vivas que,

    junto com a situao de enunciao consti-tuem no s sua forma estilstica, mas tam-bm sua estrutura puramente gramatical.

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    Um dedo de prosa no AVA!

    Assista ao vdeo:

    http://www.youtube.com/watch?v=JUrY60mK2g8

    O vdeo apresenta uma rpida discusso sobre a concepo de

    linguagem pelo professor Cladio Bazzoni.

    Para refletir e discutir:

    a) A concepo de linguagem determina o qu e como ensinar?

    b) Por que o professor de lngua portuguesa deve ter clarezasobre as concepes de linguagem?

    A atividade que segue ajudar voc a compreender como se desse processo de construo de sentido dos enunciados.

    Atividade IVOs enunciados a seguir, com entonaes diversas, podem produzir sentidosdiferentes, dependendo das situaes de uso.

    Enunciado 1:A porta est aberta.

    Enunciado 2: Voc tem fsforo?

    Imagine situaes comunicativas em que esses enunciados possamcorresponder a sentidos diferentes, conforme uma dada entonao e diferentesobjetivos de enunciador.

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    Descreva a situao de produo dos enunciados e detalhe sobre os sentidosque voc atribui a esses enunciados.

    Mais um pouco de estudo...Como voc deve ter percebido, para cada sentido dado aos enun-

    ciados foram considerados alguns aspectos que permeiam o uso dalinguagem e definem a sua concepo:

    a inteno do usurio da lngua;

    a situao social imediata da produo do enunciado;

    o contexto social;

    a interao verbal entre os interlocutores.

    Devemos compreender, assim, que a interao verbal o lugar deproduo da linguagem, pois

    a lngua no est pronta como um sistema de que o sujeito seapropria para us-la, mas que o processo de interao verbalentre os interlocutores que faz com que a linguagem se realize;

    as interaes verbais s acontecem inseridas em uma situaosocial imediata e em contextos social, cultural e histrico maisamplos.

    A linguagem , ento, nessa perspectiva, considerada como ativi-dade de natureza social e dialgica, que se constitui na interao ver-bal. Os indivduos, participantes ativos no fluxo dessa interao, apro-priam-se da lngua, enquanto linguagem em uso, e, envolvidos nessainterao, tomam conscincia da lngua que usam e de si mesmos. Ao

    nos apropriarmos da lngua, tomamos posse do contedo ideolgico eda histria que construmos. H, nisso tudo, um movimento ininterrup-to, que faz a lngua/linguagem circular entre sujeitos, entre discursos,entre gneros, estilos e linguagens sociais.

    Desse modo, a linguagem um lugar de ao ou interao entreos usurios da lngua ou interlocutores que interagem enquanto sujeitosque ocupam lugares sociais.

    Ressaltamos que nessa perspectiva, a linguagem s ganha sentidono territrio concreto dos enunciados, com seus valores sociais. Por

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    isso, essa prtica discursiva no pode ser desvinculada das prticassociais dos sujeitos envolvidos no processo, pois

    Por conta dessas vinculaes da lngua com as si-tuaes em que usada, a voz de cada um de ns

    , na verdade, um coro de vozes. Vozes de todosos que nos antecederam e com os quais convive-mos atualmente. Vozes daqueles que construramos significados das coisas, que atriburam a elasum sentido ou um valor semiolgico. Vozes quepressupem papis sociais de quem as emite: queexpressam vises, concepes, crenas, verdades,ideologias. Vozes, portanto, que, partindo das pes-soas em interao, significam expresso de suasvises de mundo e, ao mesmo tempo, criao des-sas mesmas vises (ANTUNES, 2009, p. 23).

    Atividade VLeia a tira abaixo, retome as concepes lngua/linguagem estudada nesta

    unidade e tea um comentrio crtico sobre a concepo de linguagem, levandoem considerao a fala do professor e sua postura em relao pergunta doaluno.

    Se coloque na posio desse professor. O que voc responderia a esse aluno?

    LAERTE. Em SRIES IDIAS. n. 29. So Paulo, FDT, 1994.

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    Sintetizando

    nossos estudos...

    Ampliando nossos estudos... importante compreendermos, ento, que a linguagem:

    intervm no processo de desenvolvimento cognitivo das pesso-as, desde os primeiros meses de vida;

    atua no processo da apropriao do saber e da formao deconceitos;

    Portanto, a interao verbal entre as pessoas tem significao deci-siva nesse processo de desenvolvimento, tendo em vista que por meioda linguagem, ampliamos nossas interaes, negociamos sentidos, tro-camos conhecimentos, apropriamo-nos dos discursos alheios e produ-zimos nossos prprios discursos.

    Como afirma Antunes (2003, p. 42)

    ... da concepo interacionista, funcional e discur-siva da linguagem deriva o princpio geral de quea lngua s se atualiza a servio da comunicaointersubjetiva em situaes de atuao social eatravs de prticas discursivas, materializadas emtextos orais e escritos.

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    nesse mbito que devemos refletir sobre nossa concepo de lin-guagem, acreditando que, o estudo das linguagens em uso possibilitaque se examine aspectos importantes para compreender os processosque resultam das interaes.

    Vale destacar ainda, que precisamos conhecer sobre a linguagem

    nessa perspectiva interacional/discursiva, de modo que possamos criarcondies de ensino e de efetivo aprendizado. Trata-se, portanto, derevisitar conceitos, refletir prticas, ressignificar conhecimento e com-preender, como nos orienta Sacristn (2008, p.41) que devemos re-construir nossa viso da realidade, os discursos que mantemos paracompreender o papel da educao e das escolas, seus fins na novasituao e os procedimentos de ensinar e aprender que so possveis.

    Atividade VIVejamos, ento, uma situao em que se constata que o papel da linguagem visto como instrumento mediador das relaes sociais.

    Para isso, voc deve assistir ao lme Nell, estrelado por Jodie Foster e porLian Nielson, que faz o papel de um mdico.

    NELL, 1994. Realizao de Michael Apted

    Nell uma jovem inocente, lindae livre tal como as criaturas da florestaque a rodeiam. Nesse filme, Jodie Fosterprotagoniza Nell, uma jovem que cres-ce na floresta, numa cabana isolada detudo e de todos. Juntamente com a suame, Nell leva uma vida rstica e selva-gem, mas quando a sua me morre ela repentinamente forada a se introduzir

    no mundo exterior - um lugar repleto deextraordinrias experincias novas e deperigos inimaginveis. Uma psicloga e

    o mdico da comunidade devem observ-la para descobrir como elaconsegue se relacionar com a realidade a sua volta e com os senti-mentos de medo, raiva e tristeza que a envolvem.

    http://www.interlmes.com/lme_14007_Nell-(Nell).htmldica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    Aps assistir ao lme, vimos que a linguagem foi o importante meio paradesvendar todo o mistrio que envolveu Nell e suas relaes com o mundoexterior.

    Reita sobre algumas cenas do lme que podem orientar voc para responders questes a seguir:

    1. A me de Nell afsica (transtorno de linguagem que diculta o processo decomunicao entre as pessoas).Questo: Como esse fato interferiu na linguagem de Nell? Justique.

    2. Apesar de Nell ter mais de vinte anos, sua linguagem se aproxima dalinguagem de uma criana de seis anos.Questo: Ser que a relao de Nell com sua irm, explica a linguagem utilizadapor ela? Justique.

    3. Nell, apesar de suas limitaes conceituais ou representativas do mundoreal, consegue reintegrar-se comunidade.Questo: Como isso foi possvel? Explique.

    Uma pausa... Umareexo nal!

    Vale realar, ainda, que ensinar/aprender uma lngua usar umalinguagem, poder fazer uso de um discurso, ter uma voz, tecidapelos fios dialgicos e ideolgicos de muitas outras vozes. Fazer usoefetivo de uma linguagem ter condies de ser cidado na sociedadeque vivemos.

    Para isso, veja o fragmento de texto produzido por Egon de OliveiraRangel quando questiona: O ensino de Lngua Portuguesa pode cola-borar para a construo da cidadania?10

    Mas se a escola tem, como um todo, tais e tamanhas responsabi-lidades, o que compete a uma disciplina como Lngua Portuguesa (LP)nesse processo? Considerando o lugar da lngua no funcionamento ge-ral da sociedade, podemos dizer que cabe LP proporcionar, a todos ea cada um dos alunos, o desenvolvimento:

    da proficincia oral implicada em situaes sociais prprias daesfera pblica, como a entrevista para emprego, os intercm-bios orais prprios do mundo do trabalho, o depoimento pesso-al, a solicitao de informao etc;

    10 Voc pode encontrar o texto na ntegrae outros textos relacionados ao ensino deLngua Portuguesa, na Coleo Explorandoo ensino; Lngua Portuguesa, volume 19,Ensino Fundamental, organizado por Egonde Oliveira Rangel e Roxane H. RodriguesRojo. Braslia: Ministrio da Educao,Secretaria de Educao Bsica, 2010. Nainternet, voc pode baixar o volume comple-to disponvel em http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=egon%20rangel%20e%20roxane%.

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    das competncias, estratgias e habilidades em leitura e escritarequeridas tanto pela efetiva insero social quanto pelo plenoexerccio da cidadania;

    da capacidade de refletir sobre a lngua e, em decorrncia, mo-nitorar o prprio desempenho (oral e/ou escrito), nas diferentes

    situaes de comunicao; de um corpo de conhecimentos sobre a lngua e a linguagem

    capaz de evitar crenas infundadas e de motivar a construo deatitudes e valores ticos bem fundados.

    Podemos dizer, ento, que o ensino de LP s faz a sua parte quan-do se desincumbe satisfatoriamente de suas tarefas. Caso contrrio, omisso; ou mesmo contraproducente, na medida em que, na prtica,nega ao aluno seu direito herana cultural comum e ao protagonismo

    social associado a ela.

    Do ponto de vista do que nos interessa neste captulo, podemosdizer, ainda, que a contribuio do ensino de LP para a construo dacidadania organiza-se, basicamente, em torno de dois eixos: o da re-flexo, com suas consequncias atitudinais e ticas, e o da proficincia,oral e/ou escrita, com suas implicaes para o desempenho lingustico

    socialmente adequado. Em ambos os casos, a formao do aluno comocidado passa pela superao de crenas infundadas e, portanto, pelocombate a esteretipos e preconceitos associados imagem que se temda lngua, a situao e manifestaes lingusticas especficas e, final-mente, a este ou aquele usurio ou grupo de usurios (RANGEL, 2010,p. 185-186).

    Importante refletir e decidir!

    Qual a concepo de lngua/linguagem devo assumir?

    Que aluno quero formar?

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    Leituras RecomendadasRecomendamos como leituras essenciais para aprofundar os estu-

    dos que mantivemos nesta unidade:

    ANTUNES, Irand. Lngua, texto e ensino: outra escola possvel.SoPaulo: Parbola, 2009.No livro, a autora apresenta noes sobre a lngua, o texto e o ensino,entrelaada aos muitos dilogos que teceu ao longo de seus estudos evivncias sob um novo olhar e faz significativas abordagens para mos-trar que a lngua muito mais do que uma gramtica.

    ANTUNES, Irand. Assumindo a dimenso interacional da linguagem.In: Aula de portugus: encontro e interao.So Paulo: Parbola, 2003,

    p. 39-105.A autora apresenta, de forma explcita, princpios tericos, a partir dosquais os fenmenos lingusticos so percebidos e considera uma visomais ampla da linguagem, evidenciando que as lnguas s existem parapromover a interao entre as pessoas.

    BAKHTIN/VOLOSHINOV. Interao verbal. In: Marxismo e losoa dalinguagem.So Paulo: Hucitec, 1929, p. 110-127.Bakhtin/Voloshinov nos mostram com clareza que a lngua vive e evo-lui historicamente na comunicao verbal concreta, no no sistema lin-gstico abstrato das formas da lngua nem no psiquismo individual dos

    falantes (BAKHTIN/VOLOSHINOV, 1929, p. 124). Revelam, assim, afora do social sobre o individual; do enunciado enquanto unidade reale significativa da comunicao verbal, uma vez que a linguagem serealiza no processo de interao verbal.

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    Resumo

    Nesta unidade aprendemos que h vrias concepes sobre ln-gua/linguagem:1) lngua como um cdigo, conjunto de signos; 2)lngua como instrumento de comunicao. Aprendemos assim, que alinguagem, alm de informar, pode ser utilizada para perguntar, pedir,convencer, amedrontar, bajular, ofender, elogiar. Assume, portanto, fun-es diversas, conforme a inteno do usurio da lngua, quais sejam:Referencial transmite informaes; Emotiva prevalece o sentimentodo emissor; Apelativa usada para convencer o receptor; Metalingsti-ca usa a linguagem para explicar a prpria linguagem;Ftica serveapenas para fazer contato; Potica usa a linguagem de forma figura-da; 3) lngua como processo de interao verbal: a linguagem vista,assim, a partir de um horizonte dialgico que nos obriga a centrarnosso olhar sobre as prticas discursivas que se instauram como umfio dialgico/ideolgico, que se interconectam, em contextos sociais,histricos e culturais diversos.

    AutoavaliaoLeia as armaes a seguir e justique-as se posicionando criticamente.

    Seus comentrios ajudaro voc a identicar os pontos positivos de suaaprendizagem e tambm os aspectos que voc ainda dever melhorar. Assim,avalie seu desempenho como aluno nesta unidade.

    A linguagem pode ser utilizada em situaes sociais diferentes.

    A linguagem uma atividade social que se realiza por meio das interaesverbais.

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    RefernciasANTUNES, Irand. Lngua, texto e ensino: outra escola possvel.SoPaulo: Parbola, 2009.

    _____ Aula de portugus: encontro e interao.So Paulo: Parbola,2003.

    BAKHTIN, M. M. Questes de literatura e de esttica: A teoria do romance.So Paulo: Hucitec/Unesp, 1975.

    BAKHTIN, M. M./VOLOSHINOV, V. N. Marxismo e losoa da linguagem.So Paulo, Hucitec, 1929.

    BENVENISTE, mile.Problemas de lingustica geral I. Campinas, SP:Pontes, 1995.BRAIT, B. Perspectiva dialgica, atividades discursivas, atividadeshumanas. In: SOUZA-e-SILVA, M. P. e FATA, D. Linguagem e trabalho:construo de objetos de anlise no Brasil e na Frana. So Paulo: Cortez,2002, p. 31-44.

    CHARTIER, Roger. Inscrever e apagar: cultura escrita e literatura, sculosXI-XVIII.So Paulo: Ed. UNESP, 2007.

    DEMO, Pedro. Ser professor cuidar que o aluno aprenda.Porto Alegre:Mediao, 2009.

    KOCH, I. G. V. Concepes de lngua, sujeito, texto e sentido. In:Desvendando os segredos do texto.So Paulo: Cortez, 2002, p. 13-20.

    _____ A inter-ao pela linguagem.So Paulo: Contexto, 1992.

    MARTELOTTA, Mrio Eduardo. Funes da linguagem. In: _____(Org.) Manual de Lingustica.So paulo: Contexto, 2008, p. 31-36.

    MARCUSCHI, Luiz Antnio. Breve excurso sobre a lingustica no sculoXX. In: _____ Produo Textual, anlise de gneros e compreenso. SoPaulo: Parbola Editorial, 2008, p. 26-46.

    PONZIO, Augusto. Filosofia da linguagem como arte da escuta.In: PONZIO, A., CALEFATO, Patrcia e PETRILLI, Susan(Orgs.)Fundamentos de losoa da linguagem.Petrpolis, RJ: Vozes, 2007, p.9-68.

    RANGEL, Egon de Oliveira e ROJO, Roxane H. Rodrigues. (Coords.).Lngua Portuguesa ensino fundamental. Coleo explorando o ensino,vol. 19. Braslia: Ministrio da Educao, Secretaria de EducaoBsica, 2010.

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    ROJO, Roxane H. Rodrigues. Linguagem: representao ou mediao.In: _____ Falando ao p da letra: a constituio da narrativa e do letramento. So Paulo: Parbola, 2010, p. 33-41.

    SALOMO, Margarida Maria M. Conversas com lingusticas: virtudes econtrovrsias da lingustica.So Paulo: Parbola, 2003, p. 183-192.

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    II UNIDADE

    Leitura: perspectivas tericase funes sociais

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    Ler encontrar sem ter que procurar.

    Maria do Rosrio Pedreira (escritora portuguesa)

    ApresentaoTradicionalmente, desde os primeiros anos de escolarida-

    de, convivemos com atividades de leitura. No verdade?Mas, voc j pensou que mesmo antes de frequentar a esco-la, voc j realizava leituras de mundo e de textos?

    Pois , desde a mais tenra idade, ns fazemos leituras eleituras... Leitura do mundo que nos cerca, leitura das pesso-as, leitura de gestos, sinais leituras tteis e leituras nos maisvariados cdigos.

    Historicamente, as prticas educacionais em leitura tmsido subsidiadas por modelos tericos. nessa direo que,nesta aula, apresentamos e vamos refletir sobre as vriasconcepes que evidenciam o processo de ensino-aprendi-zagem da leitura.

    Para tanto, discutiremos quatro perspectivas tericas: te-oria da decodificao, teoria cognitiva, interacional e teoriadiscursiva. O glossrio disponvel no decorrer da unidade eas recomendaes de leitura podero auxili-lo no processo

    de compreenso de noes mais complexas para a realiza-o das atividades propostas.

    importante lembrar: realize todas as atividades, parti-cipe dos fruns no AVA e estude seu material com respon-sabilidade e compromisso. Em caso de dvidas, procure oprofessor, o tutor e seus colegas, pois aprender sempre umprocesso de interao social.

    Bons estudos!

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    ObjetivosEsperamos que voc, ao final desta unidade, entenda que

    o contedo leitura pode ser estudado sob vrios enfoques te-ricos;

    a relao dessas teorias com as prticas de leitura concorrempara a formao do leitor.

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    Para iniciar... Que talreetir sobre O QUE LER?

    A leitura tambm tem uma histria (e uma socio-logia) e que o significado dos textos depende dascapacidades, das convenes e das prticas de lei-tura prprias das comunidades que constituem, nasincronia ou na diacronia, seus diferentes pblicos.(CHARTIER, 2009, p. 37)

    Para voc, o que ler?

    _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

    _______________________

    _____________________________________

    A leitura, o leitor e o mundo que o cerca...

    Toda a minha vida olhei para as palavras como seas estivesse vendo pela primeira vez.Ernest Hemingway (1899-1961 escritor norte ame-ricano)

    Como professor(a) de lngua portuguesa, uma questo central que seinstaura em nossas reflexes diz respeito ao ato de ler. Essa preocupaotambm acentuada em Cursos de Formao de Professores, principal-mente, do Ensino Fundamental. muito comum ouvirmos dessa clientela

    Um dedo de prosa no AVA!

    Assista ao vdeo!

    Depois de assistir ao vdeo, v ao AmbienteVirtual de Aprendizagem e participe de umadiscusso sobre O QUE LER?

    O que voc achou do vdeo?

    Qual a relao entre o que voc pensasobre o que ler e o que o vdeo mostra?

    O que o professor pode fazer para queseus alunos compreendam o significadoda leitura em suas vidas?

    Disponvel em:

    http://www.youtube.com/watch?v=CByhxtYYZcc

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    perguntas tais como: o que fazer para que o aluno goste de ler, aprendaa ler refletindo sobre o que leu, sabendo interpretar um texto e tirandosuas concluses da leitura feita?

    Para dar respostas a estes questionamentos, preciso, pois, que pen-semos sobre as concepes de leitura e, principalmente, sobre as ques-

    tes que envolvem o uso da lngua como fenmeno social, prtica deao interativa.

    Dessa forma, veremos que o uso da lngua no envolve apenas asquestes lingusticas, mas todo um contexto que vai alm do lingustico.Os demais contextos, sejam social, histrico, poltico e cultural esto im-bricados em situaes de interlocuo e situam o usurio como sujeitoenunciador em situaes de interao.

    Restringir os usos da lngua fora das situaes de interao obs-curecer seu sentido mais amplo de condio mediadora das atuaessociais que as pessoas realizam quando falam, escutam, leem ou escre-vem. (ANTUNES, 2009, p. 22).

    Nesse sentido, no podemos conceber o ato de ler como mero exer-ccio de decodificao dos sinais grficos. Ser um leitor proficiente, comautonomia, sendo capaz de ler, compreender e interpretar o que leu,construindo significados, pressupe um jogo interativo que envolve co-nhecimentos prvios, considerados saberes necessrios que se tornamoperatrios para o prprio ato de ler.

    No entanto, lamentvel constatar que pesquisas recentes registramque o prprio professor (a) no tem o domnio de leitura necessrio quelhe garanta os atributos necessrios para uma prtica efetiva de leitura. Aevidncia tamanha que esse dficit tem prejudicado o ensino da lngua,reduzindo-o, muitas vezes, a aulas de gramtica, esquecendo o professor

    que o aluno em seu cotidiano escolar operacionaliza o ato de ler emoutros componentes curriculares. As prticas mais comuns utilizadas emsala de aula so inibidoras da capacidade de compreenso.

    Alguns de vocs, provavelmente, devem ter experincias frustrantessobre essas prticas de aprendizagem mecanizada, baseadas em auto-matismos e modelos robotizantes que muitos professores, por desconhe-cerem concepes inovadoras, tentam impor.

    preciso lembrar, ainda, que no cabe apenas escola essa incum-bncia da leitura, nem tampouco aos professores de Lngua Portuguesaessa exclusividade. Outras instituies sociais como agncias de letramen-to1, assim como professores de outras disciplinas, com suas especifici-dades, precisam de leituras variadas de acordo com as exigncias demltiplas interpretaes que determinados gneros textuais/discursivosoferecem.

    Perguntamos, ento. Como discutir o problema da leitura, diante detantas funes sociais que cabe leitura? bvio que no se pode des-cartar o domnio lingustico, como primeira competncia para o emara-nhado processo de leitura. Sabemos que determinados conhecimentosso indispensveis que o leitor mobilize no ato da leitura. Vejamos entoesses conhecimentos citados por vrios estudiosos.

    1

    O fenmeno do letramento, ento, extrapo-la o mundo da escrita tal qual ele conce-bido pelas instituies que se encarregamde introduzir formalmente os sujeitos nomundo da escrita (KLEIMAN, 1999, p. 20).

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    Conhecimento lingustico (conhecimento de normas gramati-cais, domnio vocabular e da forma como se faz o agrupamentoe a segmentao das unidades menores);

    Conhecimento textual (tipos e gneros do texto; estratgias erecursos de textualizao);

    Conhecimento de mundo (experincias de vida, aquilo que ad-quirimos com as nossas vivncias, que nos do pistas);

    Todos esses conhecimentos so acionados e nos ajudam no desve-lamento dos mundos da leitura que deve ser compartilhado com todos.

    Vamos ver agora que teorias do suporte para o desenvolvimentoda leitura. Vejam que no podemos dissociar nenhuma prtica de usosda lngua, das vertentes surgidas das pesquisas e estudos sobre o ensi-no de lngua.

    Teoria da decodificao

    Que belo livro no se faria contando a vida e asaventuras de uma palavra.Honor de Balzac(1799-1850 escritor francs)

    Voc sabia que a perspectiva terica da decodificao aborda a ati-vidade da leitura como uma mera identificao dos cdigos lingusticose das informaes que os textos trazem?

    Realize a atividade que segue e vamos discutir e aprender sobreesse modo de olhar para a leitura.

    Atividade ILeia o texto a seguir e responda s questes:

    O fato de a escola separar as prticas le-tradas de suas instituies de origem li-terria, cientca, jornalstica e dar umtratamento descontextualizado, uniforme,a todos os textos, independentemente deonde se originaram, no signica que asprticas na escola no sejam situadas. Elasso situadas na escola, a mais importanteagncia de letramento da sociedade, quefavorece as prticas de anlise de elemen-tos como slabas, palavras, frases... e attextos. (KLEIMAN, 2005, p. 37-38).

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    Saga da Amaznia

    Era uma vez na Amaznia a mais bonita florestamata verde, cu azul, a mais imensa florestano fundo dgua as Iaras, caboclo lendas e mgoase os rios puxando as guas.

    Papagaios, periquitos, cuidavam de suas coresos peixes singrando os rios, curumins cheios de amoressorria o jurupari, uirapuru, seu porvirera: fauna, flora, frutos e flores [...]

    FARIAS, Vital. Saga da Amaznia

    Disponvel em: http://vital-farias.letras.terra.com.br/letras/380162/Consulta em 19/03/07

    a) Qual o ttulo do texto?

    b) Quem o autor do texto?

    c) Onde est localizada a mais bonita e imensa oresta?

    d) Identique e transcreva da segunda estrofe do texto as aes praticadaspelos animais.

    Como voc deve ter observado, a atividade acima exigiu de vocalgumas capacidades para poder responder s questes, identificando

    informaes expressas no texto.Por exemplo, voc precisou decodicar2palavras, ler com fluncia

    o texto, localizar e reproduzir informaes. Foi, apenas, uma tarefade mapeamento entre a informao grfica da pergunta e sua formarepetida no texto.

    Esse modo de ler, no entanto, est cerceado pela noo de que aaprendizagem pode acontecer pela memorizao e repetio vazia depalavras alheias, desconhecendo que no existe conhecimento semsujeito cognitivo, cultural e biologicamente plantado (DEMO, 2009, p.

    2 Decodicar: Segundo o dicionrio de Hou-aiss decodicar vem da palavra cdigo equer dizer interpretar o signicado de pala-

    vra ou sentena de uma dada lngua natural,considerada como cdigo.

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    17). Alm disso, construo de conhecimento exige participao ativade sujeitos envolvidos em situaes de interao social e dialgica.

    Veja o que discutem Jurado e Rojo (2006) sobre a leitura no ensinomdio.

    Na prtica de leitura literria, por exemplo, o dis-curso do professor ou do livro didtico constituema referncia cultural primeira [e nica] e espera-sedos alunos, antes de mais nada, que compartilhemas ideias das obras, com discernimento, sensibili-dade e emoo ou, pelo menos, do discurso sobreas obras (PRIVAT, 1995, p. 134). O texto literrioou no modelo de um estilo analisado comoum produto autnomo de uma lngua e no comoum produto resultante de uma scio-histria quesupe sujeitos em interao. O texto explicado eno compreendido.Esse tipo de prtica de leitura, historicamente ado-tado pela escola, est centrado no reconhecimen-to/identificao das palavras e ideias e no nasua compreenso ativa (BAKHIN/VOLOSHINOV,1929). uma prtica monolgica e monovocal,porque ao texto negada a sua natureza dialgicaem relao a outros textos. tambm uma prticaautoritria, porque ao leitor cabe apenas o reco-nhecimento e assimilao do que explicado pelaautoridade do livro didtico e da palavra do pro-fessor. O contexto em que foram produzidos o textoe a sua relao com outros textos, o conhecimentoque o leitor tem ou no desse contexto, a cultura

    que traz consigo, nada disso levado em conta.Fruto dessa prtica escolar, temos um leitor queno constri os sentidos do texto, antes reproduzo sentido que se deu a ele; um leitor que no temautonomia para interpretar o que l.

    Assim, para responder s questes propostas, sua prtica de leiturase baseou na teoria da decodicao, tendo em vista que voc apenasdecifrou o cdigo lingustico e relacionou-o ao significado. Tudo isso importante na atividade de ler, mas no suficiente na formao doleitor. Ler uma atividade bem mais complexa que exige interpretar,decifrar o que est alm do literal (CEREJA, COCHAR e CLETO, 2009,

    p.10).Esta teoria tem como base as teorias da lingustica estrutural, em

    que a lngua era vista como um sistema de signos, ou seja, um conjuntode regras, um cdigo desvinculado de suas condies de uso. Nessateoria, cabia ao leitor decodificar palavras, ler com fluncia um texto,localizar e reproduzir informaes.

    Segundo essa teoria, o processo de leitura consiste numa habilida-de decorrente de um aprendizado particular, cabendo ao leitor realizarapenas um processo linear do que est escrito.

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    Ler, nessa perspectiva, uma atividade que explora:

    a dimenso individual do leitor;

    as habilidades cognitivas e os conhecimentos lin-gusticos.

    Trata-se de um processo em que o leitor faz uma rela-o entre signos lingusticos e unidades sonoras presentesno texto escrito.

    Essa concepo valoriza, assim, as informaes expl-citas no texto. O leitor pe em prtica estmulos visuais docdigo (grafia), partindo da para apreender a informaocontida no texto. Nessa viso, o processo de leitura estcentrado no texto, e no, no leitor. Este, s se utiliza dasinformaes contidas na escrita para entender o texto, fa-vorecendo ao que podemos denominar de embotamentodo leitor, pois

    Esse ensino descontextualizado temtransformado em privilgios de poucoso que um direito de todos: a saber, o acesso lei-tura e competncia em escrita de textos. Lamen-tavelmente, at o momento, aprender a ler, ou me-lhor, ser leitor, tem sido no Brasil prerrogativa dasclasses mais favorecidas. Quer dizer, os meninospobres so levados a se convencerem de que tmdificuldades de aprendizagem e, portanto, nonasceram para a leitura. Tentam por alguns anos;cansam-se e acabam desistindo. Grande parte daspessoas acha isso natural; ou seja, ningum con-sidera absurda a coincidncia de apenas os po-bres no aprenderem a ler. Ningum acredita queesse dficit pode ter uma soluo e depende de umconjunto de aes pelas quais somos, todos ns,responsveis (ANTUNES, 2009, p. 186).

    Atividade II1. Em sua infncia, houve incentivo leitura?

    2. A escola ajudou voc a se aproximar da leitura?

    3. O que voc conclui sobre a atividade de leitura na perspectiva dadecodicao?

    Reita e comente:a) Essa perspectiva incentiva e aproxima o leitor da leitura?b) Quais as implicaes dessa perspectiva para a formao do leitor?

    Voc sabia?

    O brasileiro est lendo menos. issoque revela a pesquisa Retrato da Lei-tura no Brasil, divulgada nesta quarta--feira pelo Instituto Pr-Livro em par-ceria com o Ibope Inteligncia. Deacordo com o levantamento nacional,o nmero de brasileiros consideradosleitores aqueles que haviam lido aomenos uma obra nos trs meses queantecederam a pesquisa caiu de95,6 milhes (55% da populao es-timada), em 2007, para 88,2 milhes(50%), em 2011. (Revista VEJA, acer-vo digital em 28/03/2012).

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    Continuando

    nossos estudos...A leitura uma fonte inesgotvel de prazer, mas porincrvel que parea, a quase totalidade, no senteesta sede.Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

    evidente que a teoria que estudamos anteriormente no a nicaque explica o ato de ler. Vejamos agora sobre a teoria cognitiva3.

    A teoria cognitiva

    A vertente cognitiva amplia os estudos sobre o processo de leitura e,de forma contrria ao modelo da decodificao, defende que a leitura uma atividade de compreenso, em que o leitor utiliza seus esquemasmentais para apreender as ideias do texto. Nessa atividade, o indivduobusca a compreenso do texto em seu repertrio de conhecimentosacumulados ao longo de sua experincia de vida.

    O foco desse processo o leitor, e no o texto, tendo em vista queesse leitor um sujeito ativo, que age sobre as informaes do texto.

    Desse modo, na busca da construo do sentido do texto, o leitor:

    ativa conhecimentos de mundo;

    antecipa ou prediz contedos do texto (como num jogo deadivinhao) ;

    checa hipteses4(confirma ou no);

    compara informaes;

    tira concluses;

    produz inferncias5(usa pistas que o prprio texto fornece)

    No h melhor fragata que um livro para noslevar a terras distantes.Emily Dickinson (1830-1886) poeta norte-americana

    Essas capacidades ajudam o leitor no processo de formulao deum conjunto de significaes para as mensagens veiculadas pelo autor.E este no adota uma atitude passiva, na expectativa de que o texto lhe

    3 Diz-se de estados e processos relativos organizao de estruturas mentais queexplicam o ato de conhecer; relativo ao co-nhecimento.

    4 Suposio, conjectura, pela qual a imagi-

    nao antecipa o conhecimento, com o mde explicar ou prever a possvel realizaode um fato e deduzir-lhe as conseqncias.

    5 operao intelectual por meio da qual searma a verdade de uma proposio emdecorrncia de sua ligao com outras jreconhecidas como verdadeiras.

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    fornea todas as informaes.

    Para os defensores dessa teoria, a leitura uma construo de sen-tido, que envolve um grande nmero de habilidades mentais (percep-o, memria, inferncias lingusticas, entre outras), que so necess-rias para o entendimento do que se l. A leitura , portanto, uma tarefa

    lingustica que prioriza, em especial, a ao mental do leitor.O leitor, imerso nessa atividade competente e crtico, l enxerga,

    interpreta, atribui significados e decifra o que no est declarado notexto, compreende, pois aquele que

    diante de qualquer texto, verbal ou no verbal, co-loca-se numa postura ativa, de anlise, de respostaao texto lido. Ele no s analisa o texto, mas tam-bm os demais elementos da situao de produ-o: quem fala, para quem fala, em qual contextoe momento histrico, em que meio ou suporte dedivulgao, com qual inteno etc. (CEREJA, CO-CHAR e CLETO, 2009, p.11)

    Voc sabia?

    O Ministrio da Cultura lanou o Programa do Livro Popular (PLP),cujo objetivo fomentar a produo de livros a R$ 10 no pas.Com a execuo e o gerenciamento a cargo da Fundao Bibliote-ca Nacional, o programa est sendo implementado por etapas. Aprimeira dela o cadastramento de livros populares pelas editoras,o que deve ser feito por meio de edital. Podero participar livrarias,

    bancas e outros varejos que desejem vender livros a preos maisacessveis. Quanto s bibliotecas, elas sero cadastradas pelo Sis-tema Nacional de Bibliotecas Pblicas e convidadas integrar oprograma, recebendo um carto-livro com crditos que variamentre R$300 a R$ 15 mil para a aquisio dos livros que escolhe-rem.

    (Revista LNGUA PORTUGUESA, n 72, outubro de 2011).

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    Atividade III

    Problematizando a teoria cognitiva

    Leia a charge, a seguir, e responda s questes.

    1. Considerando o pensamento registrado no balo, justique a imagem dacriana representada na charge?

    2. Por que a criana no quer ganhar este tipo de carrinho?

    Com base no tipo de questes, podemos constatar que o processode leitura vai alm da decodificao de informaes. Para respondera atividade anterior, voc precisou ativar seus esquemas6cognitivos eestabelecer relaes com as informaes trazidas no texto, pois comodiz Coracini (1995, p. 14), nessa perspectiva,

    o bom leitor seria aquele que, diante dos dados dotexto fosse capaz de acionar o que Rumelhart cha-ma de esquemas, verdadeiros pacotes de conheci-mentos estruturados, acompanhados de instruespara seu uso.

    Sendo assim, ler a charge exigiu do leitor conhecimentos prviossobre o que significa um carro de mo na vida de uma pessoa, suafuncionalidade; as implicaes que podem diferir na vida de uma crian-

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

    6 Est relacionado s estruturas cognitivasque se refere a uma classe de seqnciasde ao semelhantes que consistem no co-nhecimento parcial adquirido e estruturadona mente do ser humano.

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    a entre ganhar um carro de mo e no um carro de brinquedo comcontrole remoto, por exemplo. Alm disso, os questionamentos podemajudar o leitor a compreender aspectos importantes sobre expresses,vida infantil, trabalho, entre outros. So exigncias de construo desentido bem diferentes do que, apenas, se perguntssemos sobre: oque est pensando a criana?; qual o tipo de carro que a crianaganhou?; como a criana est vestida?.

    Assim, com base no modelo terico cognitivo as significaes cons-trudas pelo leitor ultrapassam as informaes literais do texto e pemo leitor em ao com seu conhecimento de mundo, levando-o a entrarnas malhas do texto e a elaborar a sua interpretao.

    A leitura, vista como um processo cognitivo e de produo social,leva em conta um sujeito que age sobre o texto e mobiliza estrat-gias que permitem estabelecer as relaes necessrias entre o texto eo conhecimento de mundo na compreenso das informaes do texto.Desse modo, ler e checar se entendeu o que texto apresenta, analisar

    o texto e question-lo so atitudes relevantes na construo de sentidodo texto, pois segundo Cafiero (2010, p. 36)

    importante que, nas aulas de leitura, o aluno faaperguntas, levante hipteses, confronte interpreta-es, conte sobre o que leu e no apenas faaquestionrios de perguntas e respostas de localiza-o de informaes.

    Atividade IV

    Leia o texto a seguir e elabore duas questes, conforme as orientaes que vmexpostas depois do texto.

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    Best-sellers falsicados

    Preste ateno na prxima vez que voc for comprar um livro naAmazon. Existem alguns ttulos que no so o que parecem.

    Alm de ser a maior livraria virtual da Internet, a Amazon tambmatua como editora: ela oferece um servio, o CreateSpace (crea-tespace.com), que permite a qualquer pessoa escrever e lanar seuprprio livro em verso digital. Mas, nos Estados Unidos, tem genteabusando dessa liberdade e criando best-sellers falsificados, ouseja, imitaes de livros consagrados que usam nomes falsos e jo-gos de palavras para tentar enganar os leitores desatentos. Quan-do a Amazon percebe o truque, apaga as obras picaretas, mas elascontinuam aparecendo. [...]

    RODRIGUES, Anna Carolina. Revista Superinteressante,So Paulo,Editora Abril, fev, 2013, p. 14.

    1. Uma questo de compreenso inferencial, de forma que o leitor estabeleauma deduo que no se encontra de maneira explcita no texto.

    2. Uma questo de compreenso do texto, que exija do leitor explorar o seuconhecimento de mundo.

    3. Uma questo que contribua para a construo de sentido do texto.

    Podemos concluir que, nessa viso, o texto ainda o nico cami-nho que o leitor persegue, embora implique numa participao ativae criativa daquele que l. Dessa forma, a partir do ponto de vista doleitor e por meio de suas experincias que ele pode expor e contrapor asua leitura do texto. preciso, assim, explorar e ampliar o repertrio dequestionamentos sobre o texto, de modo que levem o leitor a mobilizaroutros conhecimentos sobre o que est lendo.

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    IMPORTANTE

    So capacidades de compreenso (estratgias), segundo Rojo(2009, p. 77-79):

    Ativao de conhecimentos de mundo;Antecipao ou predio de contedos ou de propriedades dos textos;Checagem de hipteses;Localizao e/ou retomada (cpia) de informaes;Comparao de informaes;Generalizao (concluses gerais sobre fato, fenmeno, situao-pro-blema etc, aps anlise de informaes pertinentes);Produo de inferncias locais;Produo de inferncias globais.

    A leitura alm doslimites do texto...

    Deve-se ler pouco e reler muito. H uns poucos li-vros totais, trs ou quatro, que nos salvam ou quenos perdem. preciso rel-los sempre, sempre e

    sempre, com obtusa pertinncia.

    Nelson Rodrigues (1912-1980; jornalista, escritor edramaturgo)

    Vejamos ento que, segundo uma outra abordagem, possvelconstatar que a significao de um texto no se encerra nele mesmo,nem tampouco nas habilidades cognitivas de quem l.

    A prxima teoria que vamos estudar defende a ideia de que a ativi-dade de compreender o que se l vai alm do texto e das capacidadesdo leitor. Trataremos agora da leitura, como um processo de interaosocial, evidenciado pela teoria interacionista.

    A teoria interacionista

    Uma situao de interao em questo

    O texto a seguir constitui um bom exemplo em que o processo deconstruo de sentido de um texto requer, alm dos conhecimentoslingusticos que o leitor possui, outros conhecimentos que interagem7

    7 Interagir signica agir reciprocamente;exercer ao junto ao outro. Segundo Cajal(2003, p. 127), interao pode ser vistacomo o encontro em que os participantes,por estarem na presena imediata uns dosoutros, sofrem inuncia recproca, da ne-gociarem aes e construrem signicadosdia a dia, momento a momento.

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    nessa procura de significao.

    O ttulo da notcia publicada no site do Inep, em 1994, nos mostraque a linguagem usada no apenas para informar ao leitor sobrea distncia em quilmetros do Oiapoque ao Chu advinda dos in-dicadores educacionais. No toa que a palavra distncia estacompanhada de aspas. Quando lemos do Oiapoque ao Chu, quedimensiona o tamanho do Brasil, interpretamos que, nesse contexto,

    essa expresso revela as desigualdades do Pas, com relao aos ndi-ces educacionais. O Brasil, imenso em tamanho, tambm gigante nadesigualdade social e educacional.

    Assim, continuando nossa anlise, vemos que essa mesma expres-so interpretada por algum que desconhece os pontos extremos aNorte e a Sul do pas, Oiapoque e Chu, poderia ter pouco ou quasenenhum efeito de sentido. No entanto, o nosso conhecimento do quan-to representa essa distncia ao longo dos, aproximadamente, 5.330quilmetros que separam a cidade do Oiapoque ao Chu, tambmdemonstra as disparidades educacionais do nosso pas, quanto ao per-centual de analfabetos, anos de estudo, crianas que esto na escola,

    taxa de distoro idade-srie, entre outros.Da mesma forma, muitas vezes, dizemos determinadas palavras ou

    enunciados completos, no apenas para informar algo, mas para pro-vocar efeitos de sentidos diversos, conforme a situao social em queesses enunciados so produzidos.

    Assim, que tal pensarmos um pouco mais sobre esta perspectivade ler textos? Que teoria pode explicar esse processo de leitura? Queconcepo de linguagem daria suporte a esse modo de ler?

    certo que voc j deve ter concludo, com base no que vocestudou na primeira unidade, que s uma concepo de linguagem

    poderia justificar esse processo a interacional. Nesse modelo h uminterrelacionamento dos dois nveis de conhecimento do leitor. Tantoa informao grfica quanto a informao que o leitor acumulou nassuas experincias de vida participam do ato de ler.

    O significado nem est centrado no texto, nem tampouco no leitor.O leitor nessa concepo aciona seus conhecimentos prvios, fazendointerao entre seus conhecimentos lingusticos, textuais e sociais.

    Esta concepo pressupe a reconstruo de sentidos e tem comobase os conhecimentos apropriados ao longo da vida que interagementre si, razo por que a leitura considerada um processo interativo.

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    Sem o engajamento do conhecimento prvio do leitor no haver com-preenso, afirma Kleiman (1989). Nesse sentido, essa autora conside-ra como conhecimentos prvios: o conhecimento lingustico, textuale demundo8(social).

    Assim, conforme Moita-Lopes (1996, p. 141),

    O leitor visto, ento como sendo parte de umprocesso de negociao de significado com o es-critor, por assim dizer, do mesmo modo que doisinterlocutores esto interagindo entre si na buscado significado, ao tentar ajustar seus esquemas res-pectivos. Essa interao caracterizada por proce-dimentos interpretativos que so parte da capaci-dade do leitor de se engajar no discurso ao operarno nvel pragmtico da linguagem.

    Atividade V

    Leia os textos a seguir e escreva quais os sentidos que produzimos quandorealizamos a leitura:

    1.

    O acesso aos livros um pri-meiro passo, mas no o sufi-ciente. (Portal Aprendiz, 2013)

    2.

    8 O conhecimento lingustico desempenhaum papel central no processamento do

    texto.O conhecimento textual, tambm impor-tante, pois o conjunto de noes e concei -tos sobre o texto e inuenciam na interaoentre leitor e autor. Finalmente, o conheci-mento de mundo (social), s vezes adquiridoinformalmente, se d por meio, tambm, desituaes de ensino e aprendizagem formal,no convvio social, histrico e cultural.

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    3. No me inspiro em pessoas determinadas, mas tudo que vi, li ouvi, sonhei,senti se deposita no inconsciente, e, quando estimulada por um personagemou trama, o livro emerge (Lya Luft)

    Um dedo de prosa no AVA!

    De olho nas entrelinhas:

    Pesquise na internet, em revistas, jornais ou livros e exponha noblog do AVA gneros textuais diversos que apresentem sentidos di-vertidos, ambguos, controversos, polmicos.

    Pea aos colegas para l-los e team uma discusso sobre os sen-tidos produzidos nas entrelinhas desses enunciados. Discuta sobre:

    Que sentido voc produziu dos textos que leu?

    O que est nas entrelinhas dos textos?

    Por que os professores devem explorar a produo de sentidosdos textos?

    Aqui vo os primeiros textos para inspirar a busca de outros textose a discusso entre os colegas e o/a tutor/a:

    Texto I: Texto II:

    Fonte: Google imagens

    Minha terra tem palmeiras,

    Onde canta o sabi;As aves que aqui gorjeiam,No gorjeiam como l [...](Gonalves Dias)

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    Continuando

    nossos estudos!Livros relidos so livros eternos.Machado de Assis(1839-1908)

    Como estamos vendo, o processo de leitura, com base na teoriainteracional, diferentemente da teoria da decodificao (centrada notexto) e da teoria cognitiva (centrada nas capacidades do leitor), fo-caliza as situaes de interao em que esto envolvidos leitor, textoe autor. Essa forma de conceber o processo de leitura, de modo que

    seja produtivo e que a interpretao possa ser realizada efetivamente,exige que, como afirma Rauen (2006) os produtores de sentido do texto- autor e leitor - estejam scio-historicamente determinados e ideologi-camente constitudos.

    Nesse sentido, leitor e escritor vivenciam uma relao resultante dassituaes histrica e social que determinam o processo de produo desentido e ressignificao do texto, visto que como diz Cafiero (2010,p. 87)

    Essa nova concepo de leitura pressupe o ou-tro, os outros. H um componente social no ato

    de ler. Lemos para nos conectarmos ao outro queescreveu o texto, para saber o que ele quis dizer,o que quis significar. Mas lemos tambm para res-ponder s nossas perguntas, aos nossos objetivos.Nas aulas tradicionais de leitura, o aluno l por ler,ou para responder perguntas paro professor sabero que leu. Em situaes sociais, em nossa vida co-tidiana, no entanto, lemos para buscar respostaspara nossas perguntas.

    A partir dessa compreenso, acreditamos que esse modelo tem re-levncia para a prtica pedaggica, tendo em vista que prioriza o tra-balho com a leitura e a produo textual, sob a perspectiva da lnguacomo instrumento de interao social, como foi estudado na unidadeanterior. Desta forma, vemos que h nesse enfoque um compromissocom a formao de sujeitos crticos e ativos no contexto histrico socialem que esto inseridos.

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    Voc sabia?

    O Indicador do Alfabetismo Funcional 2011-2012, do InstitutoPaulo Montenegro em parceria com a ONG Ao Educativa, mos-tra que s 1 em cada 3 brasileiros com ensino mdio completo de fato alfabetizado (35%), e 2 em cada 5 com formao superior(38%) tm nvel insuficiente em leitura. gente que ocupa o refina-do nicho das pessoas qualificadas do pas. Parcela significativa dapopulao, elas simplesmente no entendem o que leem.

    (Revista LNGUA PORTUGUESA, verso digital, Edio 83, setem-bro de 2012).

    Atividade VIProblematizando a teoria interacional

    Leia o texto a seguir e elabore 3 questes que possibilitem ao leitor realizar umprocesso de leitura interacional.

    Pelo m dos templos do saber inalcanvel

    Alexandre Sayad - 31/01/13

    O Estado revelou recentemente em reportagem baseada em uma anlise do Todos Pela Edu-cao sobre dados do Censo Escolar, que nem um tero das escolas pblicas do pas possuembiblioteca. O rastilho de plvora da informao correu os veios das redes sociais e colegas eamigos logos repercutiram a barbrie.

    Eu fui um que fiquei chocado ao saber que 85% das escolas de So Paulo no tm acervode livros, e que no Maranho as que tm somam pfios 6%. O problema de dados como esteso os buracos maiores que eles escondem acreditem, a tragdia mais complexa e, comosempre, esbarra na gesto.

    O que os nmeros ocultam como funcionam as poucas bibliotecas que existem.

    Livros fechados em prateleiras so to inteis quanto a falta deles. Muitas das escolas que tmum acervo, no tm programas ou metodologias que estimulem a criana e o jovem a abrir umlivro e iniciar um gosto pelo universo literrio.

    No incomum, Brasil afora, bibliotecas fechadas a chave, com horrios de funcionamentocurtos; o argumento para isso beira a mediocridade. Em minha vida de reprter cansei deescutar que os livros ficavam guardados porque os estudantes acabam por estrag-los. [...]

    Fragmento de texto retirado de Portal Aprendizhttp://portal.aprendiz.uol.com.br/2013/01/31/pelo-fim-dos-%e2%80%9ctemplos-do-saber-inalcancavel%e2%80%9d/

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

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    A leitura e seus entrelaamentos

    discursivos ...O livro traz a vantagem de a gente poder estar s eao mesmo tempo acompanhado(Mrio Quintana 1906-1994)

    Vimos assim, que a teoria interacional revela que a atividade de lerest dimensionada num processo em que leitor e autor se relacionamem busca dos sentidos do texto. Entretanto, uma nova forma de conce-ber a leitura mostra que nessa busca se estabelecem dilogos, encon-tros e confrontos que desencadeiam novas relaes e ressignificaes

    do texto. Discutiremos, a partir de ento, a teoria discursiva.

    Teoria discursiva

    Esta perspectiva terica toma como base conceitos sociolgicos eantropolgicos. A leitura uma prtica discursiva, cuja habilidade doleitor se efetiva quando ele se coloca em relao ao texto e a todos osoutros textos (discursos sociais, histricos e culturais) que participamdesse processo. Nesta abordagem, esto envolvidos,

    1. o leitor e os sentidos historicamente constitudos;

    2. o leitor e todos os outros textos, discursos, conhecimentos,prticas (sociais, lingsticas, culturais, histricas) inscritos notexto;

    3. as infinitas possibilidades de novos dizeres (novas leituras/dis-cursos/textos).

    O texto no possui um nico sentido, mas mltiplos sentidos. Oleitor, muito alm de um simples decodificador de sinais grficos e fone-

    mas, um leitor discursivo, competente e crtico que interroga o texto,aprecia conforme valores estticos, afetivos, ticos e polticos; e ampliaos sentidos do texto em condies scio-historicamente determinados.

    Nessa viso, a leitura

    um ato de se colocar em relao um discurso (tex-to) com outros discursos anteriores a ele, emara-nhados nele e posteriormente a ele, como possibili-dades infinitas de rplica, gerando novos discurso/textos (ROJO, 2009, p. 79).

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    Importante

    Essa concepo exige que o leitor discursivo explore:

    o contexto de produo do texto;

    as finalidades da atividade de leitura;

    a intertextualidade temtica;

    a intertextualidade discursiva;

    as apreciaes estticas e afetivas;

    as apreciaes relativas a valores ticos e polticos;

    a discusso crtica do texto;

    a possibilidade da interdisciplinaridade temtica;

    as imagens como elementos constitutivos do sentido do texto.

    Atividade VII

    Para compreendermos melhor essa vertente terica, vamos realizar a atividadea seguir.

    Leia o fragmento da entrevista e responda s seguintes questes:

    dica.utilize o blocode anotaes pararesponder as atividades!

  • 7/26/2019 Fundamentos e Praticas de Leitura e Escrita- Ok

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    Fundamentos e prticas de leitura e escrita I SEAD/UEPB 57

    O senhor defende que a leitura muito pessoal e que seu significa-do depende do formato e, que ela se apresenta e da interpretaoque se d ao texto. O que isso significa?

    Toda leitura um encontro entre um texto e um leitor. Mas por umlado, o texto lido est sempre em um meio fsico de escrita (umlivro, uma revista, uma tela), o que contribui para o seu significa-do. Neste sentido, podemos dizer que formas materiais de escritaafetam o significado dos textos. Esta a forma do objeto escrito, doformato do livro, do layout, da presena ou no da imagem etc. Poroutro lado, a liberdade de interpretao de cada leitor depende dashabilidades, hbitos, normas e prticas de leitura que ele ou elacompartilha com outros leitores que pertencem mesma comuni-dade de leitura, definida por classe social, idade, sexo, religio etc.

    A partir da, surge a ideia de que um texto se transforma. Mesmoque ele no mude em sua lateralidade, ao mudar de formas mate-

    riais e ao mudar seus leitores ou leitoras.

    CHARTIR, Roger. Fragmento de entrevista. Revista

    Educao.So Paulo: Segmento. Ano 16, n 177, 2012, p. 7.

    1. Voc gostou da concepo de leitura apresentada por Roger Chartier?Justique.

    2. Voc concorda com Chartier, quando diz que a liberdade de interpretaode cada leitor depende de prticas de leitura que ele compartilha com outrosleitores? Por qu?

    3. O que signica dizer que um texto se transforma? Como isso podeacontecer?

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  • 7/26/2019 Fundamentos e Praticas de Leitura e Escrita- Ok

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    58 SEAD/UEPB I Fundamentos e prticas de leitura e escrita

    Como voc deve ter percebido, a compreenso da leitura do textoenvolveu o processo de leitura como funo social. Para responder,voc precisou se colocar como um sujeito social e discursivo, no sentidode que algum que tem um lugar social, uma histria determinada.

    Assim, uma leitura discursiva de um texto permite que o leitor:

    desenvolva uma conscincia crtica;

    instaure um confronto entre ele e o escritor;

    estabelea um dilogo com o texto e com outros textos;

    torne-se co-autor do texto que l;

    Vale destacar, assim, que esse modo de ver a atividade de ler,

    muda radicalmente a forma de pensar e de orga-nizar o seu ensino Se os sentidos no esto prontosno texto, preciso contribuir para que os alunoscriem boas estratgias para estabelecer relaesnecessrias compreenso. No adianta mandaro aluno ler dizendo-lhe: Leia porque a informaoest a. Muito menos adianta mandar abrir o livrodidtico e copiar o texto que l est. Isso no aula de leitura. A realizao de cpia mera ati-vidade motora, no favorece o entendimento dotexto (CAFIERO, 2010, p. 86)

    Portanto, o trabalho com a leitura deve ser visto como uma prtica

    social de leitura (letramentos9) que emerge do dilogo social e histricoentre o leitor e todos os outros (discursos) advindos do processo daleitura.

    Como se pode perceber, preciso reconhecer que devemos po-tencializar as prticas escolares e sociais de leitura de nossos alunos. urgente a necessidade de criar