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Fundamentos de Macroeconomia Unidade 3 Ciclos Econômicos Profa Fabiana Bispo

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Fundamentos de Macroeconomia

Unidade 3 Ciclos Econômicos

Profa Fabiana Bispo

O entendimento dos fenômenos econômicos exige o recurso a modelos teóricos.

Por meio da modelagem, é possível entender os mecanismos lógicos que levam a que determinadavariável possa ter impacto sobre outra(s).

Para modelar qualquer relação econômica é necessário recorrer a um conjunto de pressupostos ouhipóteses que poderão ter algo de artificial, mas sem os quais a compreensão da realidade tornar-se-ia impraticável.

Por exemplo, frequentemente determinada análise da relação entre duas variáveis (por exemploentre o rendimento disponível das famílias e o consumo privado) exige considerar que tudo o restopermanece constante.

Esta abstração face ao resto da realidade é geralmente referida através do termo em latim ceterisparibus.

A origem da macroeconomia enquanto campo científico autónomo é comumente apontada àinfluente obra de John Maynard Keynes, publicada em 1936 , intitulada A Teoria Geral do Emprego,do Juro e da Moeda.

Já antes, pensadores influentes (como Adam Smith, David Ricardo, John Stuart Mill, Jean BaptisteSay, Thomas Malthus, Arthur Pigou, …) se tinham debruçado sobre aspectos fundamentais daeconomia agregada: a criação de riqueza, o comércio internacional, a distribuição do rendimento, astaxas juro, a variação do nível de preços.

Estes primeiros pensadores, os economistas clássicos, colocavam a ênfase no lado da oferta; aquiloque era produzido encontrava certamente uma procura, que se ajustaria à oferta por via dofuncionamento eficiente dos mercados.

Numa lógica de concorrência perfeita, não haverá desemprego de recursos porque preços esalários ajustar-se-ão sempre para garantir o equilíbrio de mercado.

O corolário deste raciocínio é o de que o liberalismo econômico deve ser salvaguardado uma vezque só os mercados, funcionando eficientemente, podem garantir que o produto se mantenha aorespectivo nível potencial.

Entende-se por produto potencial o valor da produção que se consegue atingir se os fatoresprodutivos disponíveis estiverem a ser empregues na sua totalidade e de modo completamenteeficiente. O produto potencial poderá, pois, ser também designado por produto de plenoemprego.

A inovação na contribuição de Keynes relaciona-se com a ênfase colocada na procura.

Será a procura que irá determinar as flutuações que na prática se observam.

O trabalho de Keynes foi grandemente influenciado pela Grande Depressão do início dos anos30, do século passado, e conseguiu oferecer uma justificativa lógica e coerente sobre aocorrência de ciclos econômicos.

Os ciclos econômicos seriam resultado de falhas de coordenação nos mercados(e outras eventuais ineficiências) que fazem com que estes não tenham tendência a

permanecer numa situação de equilíbrio.

Os ciclos econômicos se justificam em função do comportamento não ótimo dos agentes

nos mercados (de bens e serviços, monetário e de trabalho), que se traduziria em fases

de expansão, em que o produto se encontraria próximo do potencial, as quais iriam

alternar com fases de recessão, em que a economia se encontraria mais afastada do

pleno emprego.

A análise Keynesiana preconiza a intervenção do Estado no sentido de evitar crises severas:as políticas de estabilização podem atenuar o efeito das crises, ao atuarem sobre asdiferentes componentes da procura ou despesa (consumo privado, gastos públicosinvestimento e exportações líquidas).

O debate académico entre Neo-clássicos / Keynesianos estendeu-se até aos dias de hoje,com períodos de mais acalorada discussão e com períodos de algum consenso.

Os Neoclássicos continuam a acreditar que os ciclos econômicos são intrínsecos aofuncionamento do sistema econômico, comandados pelo lado da oferta (por exemplo, viainovação tecnológica) e um sinal da sua eficiência que resulta do comportamento ótimo defamílias e empresas (tentar artificialmente, por via da intervenção pública, atenuar os ciclostem como consequência um menor crescimento de longo prazo).

Os Keynesianos colocam a ênfase nas deficiências que se encontram em mercados ondeimpera a concorrência imperfeita e existem falhas de coordenação, veem o lado da procuracomo aquele onde se podem encontrar as causas dos ciclos e advogam que a políticaeconômica é um instrumento fundamental para combater recessões.

Crescimento Econômico de Longo Prazo e Ciclos Econômicos

A macroeconomia pode ser pensada em função do horizonte temporal.

No longo prazo, está em causa a tendência de crescimento da economia, enquanto no curto prazointeressa analisar os ciclos econômicos, ou seja, as flutuações em torno dessa tendência.

A análise Keynesiana é basicamente uma análise de curto prazo, que pretende explicar comocomportamentos do lado da procura podem provocar flutuações cíclicas e como o Estado podeintervir no sentido de atenuar os efeitos nocivos dessas flutuações.

A análise de curto prazo pressupõe que a economia se encontra mais ou menos afastada doseu nível de pleno emprego e portanto o objetivo fundamental da macroeconomia de curtoprazo é aproximar o PIB ou o rendimento efetivo do PIB ou rendimento de longo prazo.

Associado a este objetivo está o de manter uma taxa de desemprego baixa, ou seja o deaproximar o mais possível a taxa de desemprego daquela que corresponde ao nível deproduto potencial

No longo prazo, aquilo que é decisivo é o bem-estar das gerações futuras e tal relaciona-secom a capacidade de acumular riqueza no tempo.

O Lado Monetário da Economia

MOEDA: CONCEITO E FUNÇÕES

Moeda pode ser definida como um ativo financeiro de aceitação geral, utilizado na troca de bens e serviços, que tem poder liberatório (capacidade de pagamento) instantâneo.

Sua aceitação é garantida por lei (ou seja, a moeda tem “curso forçado” e sua única garantia é a legal).

As principais funções da moeda são as seguintes:

a) Meio ou instrumento de troca.

Num sistema econômico baseado na especialização e divisão do trabalho, é imprescindível que existaum instrumento que facilite as trocas de mercadorias.

Se não houvesse esse instrumento, as trocas teriam que ser diretas (economia de trocas ou deescambo), trocando-se bens por bens.

A moeda permite que as trocas sejam indiretas e supera essas dificuldades, reduzindo custos detransação;

b) Unidade de medida (ou unidade de conta).

A moeda serve para comparar e agregar o valor de mercadorias diferentes: podemossomar o valor de um caminhão com o valor de uma bola de futebol.

Ela serve como medida do valor de troca das mercadorias, sendo que o preço de umbem é a expressão monetária do valor de troca desse bem: se uma maçã vale $ 500,00 euma banana $ 50,00, uma maçã pode ser trocada por 10 bananas

c) Reserva de valor.

A moeda representa um direito que seu possuidor tem sobre outras mercadorias.

Ela pode ser guardada para uso posterior, pelo que ela serve como reserva de valor ouforma de poupança.

A moeda serve de reserva de valor para uma pessoa, mas não para toda a sociedade (oque é chamado de falácia ou sofisma da composição): o que vale para o indivíduo não valepara a sociedade, pois o que determina a riqueza de um país é sua produção global e não omontante de moeda existente.

CONCEITO E COMPOSIÇÃO DOS MEIOS DE PAGAMENTO

A oferta da moeda é sinônimo de meios de pagamento, que é definido como o estoque demoeda disponível para uso da coletividade (setor privado não bancário) a qualquer momento.

Objetiva-se com esse conceito medir a liquidez, ou seja, as necessidades do setor produtivoprivado (excetuando-se o setor bancário), para satisfazer a suas transações com bens e serviços.

O saldo dos meios de pagamento é composto pelo saldo da moeda em poder do público (PP),mais o saldo dos depósitos a vista (DV):

M = PP + DV

O saldo de moeda em poder do público (ou moeda manual) é obtido retirando-se do total demoeda emitida o montante que fica no Caixa das Autoridades Monetárias e no Caixa dos BancosComerciais:

OFERTA DE MOEDA

Os depósitos a vista ou em conta corrente também são chamados de moeda escriturai, oumoeda bancária, já que são movimentados por simples contabilização bancária.Normalmente, representam cerca de dois terços do total de meios de pagamento.

Os depósitos a vista não devem ser confundidos com o caixa dos bancos comerciais.

Embora contabilmente um depósito em dinheiro aumente, num primeiro momento, o caixados bancos, o banco utilizará os recursos em seu caixa para outras transações, o quediferencia os saldos das duas contas, no balanço dos bancos.

O dinheiro com os bancos (no caixa) e com o governo não é considerado como meio depagamento, porque esse conceito visa medir liquidez do setor produtivo privado.

OFERTA DE MOEDA PELO BANCO CENTRAL

O objetivo do Banco Central é regular a moeda e o crédito, em níveis compatíveis com a metainflacionária estabelecida pela autoridade monetária.

A principal função do Banco Central é controlar a oferta de moeda. Para tanto, ele dispõe dosseguintes instrumentos de política monetária:

• emissões;• reservas obrigatórias dos bancos comerciais;• operações de mercado aberto;• política de redescontos; e• regulamentação da moeda e do crédito.

OFERTA DE MOEDA PELOS BANCOS COMERCIAIS

Os bancos comerciais também podem alterar a oferta de moeda, pelo fato de terem uma cartapatente que lhes permite emprestar mais do que têm em depósitos.

A utilização generalizada de cheques faz com que a maior parte do volume de moeda dosistema permaneça no sistema bancário, gerando o chamado float, e apenas uma pequenaparcela desse total é representado por saques de numerário.

Dessa forma, apesar de não poder emitir moeda, o banco comercial cria meios de pagamentopelo fato de poder fazer promessas de pagamento com os recursos depositados por seusclientes.

DEMANDA DE MOEDA

Nesta parte, estamos interessados em saber os motivos que fazem com que as pessoasretenham moeda, guardem moeda pela moeda, em vez de aplicá-la, por exemplo, em títulosou imóveis, que proporcionam rendimentos.

Se existem essas possibilidades, por que se retém moeda que não rende nada.

Existem três motivos para demandar moeda, isto é, para reter encaixes monetários:• motivo transação;• motivo precaução;• motivo especulação (ou portfólio).

EQUILÍBRIO DO LADO MONETÁRIO PELA TEORIA CLÁSSICA: A TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA

A Teoria Quantitativa da Moeda é uma das duas principais teorias que analisam o equilíbrio daeconomia do lado monetário (a outra visão é a keynesiana, que introduz o motivo especulação).

Ela defende que o nível dos preços é determinado pela quantidade de moeda em circulação epela sua velocidade de circulação.

A equação quantitativa da moeda

A relação entre o nível de preços e a quantidade de moeda em circulação é expressa pela equaçãoquantitativa da moeda:

V Também chamada de velocidade-renda da moeda, é a frequência média em que a unidade monetária égasta num certo período de tempo, isto é, a quantidade de "giros" que ela dá durante um períododeterminado, criando renda.

Na equação quantitativa da moeda, P é o nível de preços juntamente com o dinheiro

Na equação quantitativa da moeda, Y é o produto real da economia

Esta equação "revela simplesmente que, ao multiplicar a quantidade de moeda M pela velocidade V comque ela cria renda, teremos a própria renda nominal PY.

Como MV= PY

Ou seja, a moeda circulou 24 vezes no decorrer de um ano para criar 1.440.000 de renda, issomostra que, para gerar uma renda de 1.440.000 num ano, não são necessários 1.440.000 emmoeda (ou meios de pagamento'), dado que o estoque de dinheiro circula, passando de mão emmão, gerando renda nesse processo.

Na teoria clássica, V é considerado relativamente estável ou constante a curto prazo, já quedepende de alguns parâmetros que se modificam lentamente, tais como hábitos da coletividade(quanto maior a utilização de cheques e cartões de crédito, menor a necessidade de reter moeda)e o grau de verticalização da economia.

A equação quantitativa MV = Py revela simplesmente que, ao multiplicar a quantidade de moedaM pela velocidade V com que ela cria renda, teremos a própria renda nominal Py

Determinação do nível de renda e produto nacionais: o Mercado de Bens e Serviços

Nesta parte, estudaremos que variáveis determinam o nível de renda nacional e como atuarsobre elas.

Será discutido que instrumentos de política fiscal são mais adequados para permitir que aeconomia atinja uma situação de pleno emprego, sem inflação.

Trata-se do chamado modelo keynesiano básico, que se caracteriza por preocupar-se mais compolíticas de estabilização da economia a curto prazo, principalmente com a questão dodesemprego

MODELO KEYNESIANO BÁSICO (LADO REAL)

A Demanda Agregada de Bens e Serviços é composta pela demanda dos quatromacroagentes econômicos, a saber:

CURVA DE DEMANDA AGREGADA DE BENS E SERVIÇOS (DA)

Na microeconomia, a relação inversa entrepreços e quantidades de dado bem éfacilmente explicada pelos efeitos-renda eefeito-substituição.

No nível agregado, essa relação inversa é umpouco mais complexa, já que concorremparalelamente três tipos de efeitos: efeito-riqueza, efeito taxa de juros e efeito taxa decâmbio.

CURVA DE DEMANDA AGREGADA DE BENS E SERVIÇOS (DA)

a) Efeito-Riqueza (ou Efeito-Pigou): supondo uma queda do nível de preços, com rendanominal constante, leva ao aumento do valor real da riqueza dos consumidores,estimulando-os a gastar mais. Portanto, a queda da inflação deve elevar o consumoagregado, que é um dos componentes da demanda agregada.

b) Efeito Taxa de Juros: eventual queda do nível geral de preços e a um dado nível derenda, os consumidores necessitarão de menos moeda para comprar bens e serviços. Asfamílias poderão utilizar essa “sobra” de moeda para aplicações financeiras, aumentando ademanda de títulos, que tende a provocar uma queda da taxa de juros de mercado.

c) Efeito Taxa de Câmbio: uma queda do nível geral de preços internos torna nossosprodutos mais competitivos, relativamente aos preços dos produtos importados. Esseefeito estimula as exportações (X) e desestimula as importações agregadas (M), elevando ademanda agregada.

CURVA DE OFERTA AGREGADA DE BENS E SERVIÇOS (OA)

É a quantidade que os produtores desejam vender no mercado.

Formato da Curva de Oferta Agregada

Supondo um aumento da Demanda Agregada (DA),as empresas (e, portanto, a OA ) podem reagir detrês maneiras:

• aumentar a produção física (Q), mantendo preços(P) constantes, se houver desemprego de recursos(mão-de-obra desempregada, capacidade ociosa)(trecho keynesiano);

• aumentar os preços (P), sem aumentar a produçãofísica (Q), se os recursos estiverem plenamenteempregados (pleno emprego de recursos) (trechoclássico);

• aumentar tanto P como Q (situação intermediária,em que alguns setores da economia estariam empleno emprego e outros com desemprego).

FUNÇÃO CONSUMO

Uma das principais contribuições de Keynes foi estabelecer que o Consumo Agregado é uma função crescente no nível de renda nacional (y).

Por simplificação, supõe-se que o consumo é uma função linear da renda nacional

onde:a = consumo autônomo, independente da renda (é o intercepto); b = propensão marginal a consumir (é o coeficiente angular, declividade).

A propensão marginal a consumir (PMgC) é o acréscimo de consumo, dado um acréscimo na renda nacional:

Segundo a chamada Lei psicológica fundamental de Keynes, a PMgC é positiva, mas inferior a um:

Significa que, dado um aumento de renda (Dy), as pessoas reservam certa parcela parapoupança, de forma que o aumento de consumo (DC) é sempre menor do que o aumento derenda, em termos agregados.

O intercepto a (consumo autônomo) representa a parcela do consumo que não depende darenda, mas de outros fatores (riqueza, renda futura etc.). Ou seja, mesmo quando y = 0, então C= a (as pessoas não deixarão de consumir).

O conceito de propensão marginal a consumir é calculado com base em variações da renda e doconsumo.

Um outro conceito, a propensão média a consumir (PMeC), é o nível de consumo sobre o nívelde renda:

FUNÇÃO POUPANÇA

A Poupança S é a parcela da renda nacional não consumida, em dado período de tempo:

Como C = a + by, segue que: S = y - (a + by) = y - a - b y

onde (1 - b) = propensão marginal a poupar, que é o acréscimo da poupança agregada, dado um acréscimo na renda nacional, isto é:

FUNÇÃO INVESTIMENTO

O Investimento Agregado talvez seja a mais importante variável macroeconômica, tanto nomodelo keynesiano, devido à influência das expectativas, tipicamente de curto prazo, comonos modelos de crescimento e desenvolvimento econômico, em que é o principaldeterminante do crescimento do produto e do emprego.

Ele desempenha duplo papel na teoria macroeconômica, que deve ser claramente entendido:

a) investimento visto como elemento da demanda agregada: é a fase em que apenas se gastacom instalações, equipamentos etc., antes de o investimento maturar e resultar emacréscimos da produção, ou seja, nos refletimos ao curto prazo;

b) investimento visto como elemento de oferta agregada: ocorre quando aumenta acapacidade produtiva, após a maturação do investimento, ou seja, quando redunda emaumentos da produção.

Hipóteses sobre o Investimento, no modelo keynesiano básico de determinação da renda

1- hipótese: a curto prazo, o investimento afetaapenas a demanda agregada.

O investimento como elemento de OA sócomparece em modelos de crescimentoeconômico de longo prazo, em que a ofertaagregada também varia, pela maiordisponibilidade de recursos, evoluçãotecnológica etc.

2a hipótese: o investimento é autônomo ouindependente da renda nacional.

Se a hipótese fosse de que o investimento é induzido pela renda, ou dependente da renda,teríamos:

Assim, supõe-se, no modelo básico, que o investimento não dependa da renda nacional.

Depende de outras variáveis, como taxas de juros, rentabilidade esperada, rentabilidadepassada, disponibilidade de crédito etc., que por enquanto não estão sendo consideradas nomodelo

Também se supõe que os gastos do governo são autônomos em relação à renda nacional:

Na teoria macroeconômica, os gastos públicos (bem como a oferta de moeda) sãoconsiderados uma variável determinada institucionalmente (exógena), ou seja, dependemdos objetivos de política econômica escolhidos pelas autoridades (se decidirem, porexemplo, que a política será recessiva ou expansionista).

Os gastos públicos não são determinados por outras variáveis econômicas, mas são eles quedeterminam as demais variáveis.

FUNÇÃO GASTOS DO GOVERNO

MULTIPLICADOR KEYNESIANO DE GASTOS

O chamado multiplicador keynesiano do gasto é a variação do nível de renda nacional, dada uma variação autônoma na demanda agregada (no caso, no investimento, como poderia ser um outro elemento da demanda agregada).

O mecanismo do multiplicador opera da seguinte forma:

Suponhamos, inicialmente, que o governo resolva comprar 100 milhões de reais em bens decapital (AG = 100). Admitindo que a indústria de bens de capital tenha recursos ociosos, issoprovocará um aumento de produção de bens de capital de 100. Esses 100 vão transformar-se emrenda nacional, na forma de salários, lucros, aluguéis dentro do setor de bens de capital.

Os trabalhadores e empresários (como pessoas físicas) desse setor receberão essa rendaadicional (100) e, supondo que sua propensão marginal a consumir seja 0,75, consumirão 75 epouparão 25. Os 75 milhões serão consumidos em alimentos, vestuário, lazer, provocando umaumento de renda adicional nesses setores de 75.

As pessoas que receberam essa renda (75), do setor de alimentos, vestuários etc., gastarão 75%dela (56,25 milhões). Esses 56,25 milhões se transformarão em renda de outros setores e oprocesso continua, até que a renda cesse de crescer.

Essa seqüência (100; 75; 56, 25;...) constitui-se numa progressão geométrica (P G.) cujoprimeiro elemento é 100 (a variação inicial nos gastos) com razão igual a 0,75, que é apropensão marginal a consumir. Para sabermos o total de gastos, basta realizarmos a soma dostermos da R G., que é igual ao primeiro termo (100), dividido por 1 menos a razão 0,75. Nessecaso, será:

Percebe-se que o gasto inicial foi multiplicado por 4, valor este que é o chamado multiplicadorde gastos. Seu valor corresponde ao inverso da propensão marginal a poupar:

Assim, sempre que o investimento variar, a renda se alterará em valor igual à variação inicial dogasto vezes o multiplicador.

FUNÇÃO IMPOSTOS (OU TRIBUTAÇÃO)

No modelo simplificado, a tributação também é suposta autônoma, não induzida pela renda nacional:

A introdução do governo, e particularmente da tributação, altera as funções consumo epoupança, que passam a ser funções da renda disponível do setor privado yd (renda menostributos) (y - T), e não da renda nacional y. Assim:

FUNÇÃO EXPORTAÇÃO

No modelo básico, as exportações também são autônomas em relação à renda nacional:

É uma hipótese realista, dado que as exportações realmente não são afetadas pela rendanacional, mas pela renda dos outros países (renda mundial), entre outros fatores.

FUNÇÃO IMPORTAÇÃO

Nesse modelo simplificado, as importações também são consideradas autônomas, independentes da renda nacional:

DEMANDA AGREGADA COMPLETA

Estabelecidas as hipóteses sobre as variáveis C, S, I, G, T, X e M, sabemos então como a demanda agregada se comporta no modelo keynesiano básico de curto prazo.

Portanto, dadoDA = C + I + G +X-M

como apenas o consumo C é uma função crescente da renda nacional e as demais são supostas constantes em relação à renda, segue então que a função DA é crescente em relação à renda nacional Y

EQUILÍBRIO AGREGATIVO DE CURTO PRAZO NO MODELO KEYNESIANO BÁSICO

Por equilíbrio, entende-se um ponto em que tanto os produtores como os consumidoresestejam satisfeitos e não existam pressões para sair desse ponto: os estoques são normais,não existem filas etc.

Três observações devem ser feitas nesta parte:

a) a renda de equilíbrio é aquela em que OA = DA e não necessariamente é a renda de

pleno emprego. Ou seja, a economia pode estar em equilíbrio (a produção é suficiente

para atender a toda a demanda), mas com desemprego, abaixo do pleno emprego. Essa é

uma das principais contribuições de Keynes: a economia pode estar em equilíbrio entre

OA e DA, mas com recursos desempregados;

b) decorre do exposto em (a) que o equilíbrio não indica necessariamente algo desejável,

pois pode estar existindo um grande volume de recursos não empregados. Na verdade, o

ideal é o equilíbrio com pleno emprego de recursos. E é isso que o modelo keynesiano

mostra: como atuar sobre as variáveis macroeconômicas para levar a economia ao equilíbrio

de pleno emprego;

c) é sempre oportuno enfatizar que se trata do equilíbrio macroeconômico esperado,

planejado (exante), e não o equilíbrio efetivo (ex post). É o que pode ser esperado, quando

se avaliam os dados disponíveis, que deva ocorrer até o final do período em análise.

DETERMINAÇÃO DO EQUILÍBRIO, IGUALANDO OA = DA DE BENS E SERVIÇOS

Para verificar o equilíbrio entre OA e DA, vamos desenhar uma reta de 45 graus querepresenta os pontos possíveis de equilíbrio entre DA (eixo das ordenadas) e OA (rendanacional, eixo das abscissas). Ou seja, em qualquer ponto em cima dessa reta, a OA e a DAtêm o mesmo valor.

O ponto de equilíbrio específico será determinado pela demanda agregada.

Como o equilíbrio se dá abaixo da renda de pleno emprego ypc, temos um equilíbrio comdesemprego, como mostra a Figura a seguir:

Interligação Entre o Lado Real e o Lado Monetário

Análise IS-LM

No modelo Keynesiano, todas as vezes que o governo faz alteração de gastos ou de tributos, isso gera alterações na renda/produto da economia.

Se o governo aumentar os gastos, vai aumentar a renda/produção, mas se houver uma alteração na base monetária? O que isso significa? Qual o efeito disso na taxa de juros?

Será que quando o governo coloca mais moeda na economia, isso faz com que a produção se altere?

O modelo IS/LM responde a todas estas perguntas. Junta o entendimento da economia keynesiana com o entendimento sobre a economia de mercado.

Na teoria clássica, quando aumenta a quantidade de moeda , no pleno emprego, os preços subiam. Enfoque no mercado.

Keynes, por sua vez, dizia que a moeda era o “véu da economia”. O importante era saber como o governo efetua os seus gastos. Enfoque no governo

A síntese neoclássica é a união do modelo clássico com o keynesiano. A ideia de que se o governo continuar a mexer com a quantidade de moeda na economia, isso irá afetar a produção também.

Falar em síntese neoclássica é se falar no modelo IS/LM, que vai fazer a união do mercado de bens e serviços e do mercado monetário.

No fluxo circular do produto e da renda, tínhamos quatro agentes econômicos: famílias,empresas, governo e o resto do mundo. Estes agentes interagiam no mercado de bens eserviços, no mercado de fatores e no mercado de ativos financeiros.

Quando o governo gasta, vai influenciar a taxa de juros, pois quanto mais o governo gasta,mais as pessoas consomem e quanto mais as pessoas consomem, mais elas irão demandarmoeda para fins transacionais. Isso mostra que há uma relação entre os gastos do governo eas taxas de juros, não considerada no modelo Keynesiano, mas no modelo IS/LM (conhecidotambém como modelo keynesiano generalizado).

No modelo IS/LM, os três modelos econômicos que compõem a Macroeconomia estãointerligados, potencializando ou reduzindo o efeito das politicas governamentais.

Neste modelo econômico keynesiano generalizado, iremos dividir a economia de duas formas: economia real e economia monetária

No fluxo circular da renda e do produto, quando tínhamos o movimento real, tínhamos, em contrapartida, o movimento monetário.

O equilíbrio da economia, ou também chamado de equilíbrio da demanda agregada, equilíbrio do lado real da economia.

Vimos que:

Economia fechada e sem governo, tudo que era produzido era consumido.

Y = C+ I (1)Produto =despesa ou produto = consumo

Toda produção viraria renda, que por sua vez, ou era poupada ou se destinaria ao consumoY = C+S (2)

No equilíbrio, produção = despesa= renda, C+I = C+S, portanto, I=S, o mercado de bens e serviços, pode ser representado pelo equilíbrio entre investimento e poupança. Daí temos a curva IS.

A curva IS representa o equilíbrio no mercado de bens e serviços. Investimento igual à poupança.

Do outro lado temos o equilíbrio monetário. Para que o mercado de monetário estejaequilibrado. Tudo que é ofertado de moeda tem que ser igual ao que é demandado pormoeda. Isso vai gerar uma outra curva que vai demonstrar o equilíbrio no mercado monetário.

Liquidity = MoneyCurva LMEquilíbrio no mercado monetário, equilíbrio no mercado de ativos financeiros como um todo.

No modelo IS/LM, consideraremos os dois equilíbrios juntos. O equilíbrio no mercado de bense serviços (relação com o mercado de fatores) e o equilíbrio no mercado monetário. Por meiodeste modelo, entende-se o funcionamento da economia e das suas politicas econômicas(fiscal e monetária).

Quando o governo altera suas políticas econômicas , ele irá mexer com o PIB, com a taxa dejuros, taxa de câmbio, na inflação e no emprego.

A curva IS – O equilíbrio no mercado de bens e serviços

I (investment) = S (savings)

I = F(i) investimento como variávelendógena do modeloS = f(Y)

A curva IS mostra a relação negativaexistente entre taxa de juros e renda,devido ao impacto dos investimentos.Quanto menor a taxa de juros, maior oinvestimento, maior a renda.

FATORES QUE DESLOCAM A CURVA IS

A curva IS é deslocada por todas as variáveis exógenas (variações em G, T, X, M, C, /), que não são induzidas pela variação de renda (isto é, por outros fatores, que não variações de renda).

Mais uma vez, não deve ser confundida uma variação induzida (que seria um movimento ao longo da curva IS, motivada por alterações de i e _y) com uma variação autônoma ou exógena (que representa um deslocamento da curva IS).

Assim, um aumento do consumo, devido a um aumento da renda, é uma variação induzida, ao longo da IS; todavia, um aumento do consumo, devido a um aumento de patrimônio, é uma variação exógena, deslocando a IS.

Uma política fiscal expansionista, aumentando os gastos do governo, desloca a curva I para a direita, significando que, em dados níveis da taxa de juros, aumentam os gastos do governo.

O rebate na curva IS mostra um aumento dessa curva, significando que, às mesmas taxas de juros, o nível de demanda agregada é maior (devido ao aumento em G).

Impacto do Governo na curva IS

Gastos Autônomos (G)Tributos (T)Transferências (Tr)

A curva IS será: Y = C (Y-T) + I + G . O consumo será uma função dos tributos, dastransferências e das renda. Se o governo pode alterar o nível de produção, alterando asvariáveis governamentais que compõem o equilíbrio no mercado de bens e serviços. Achamada política fiscal.

Inclinação da curva IS

Dois fatores afetam a inclinação da curva IS, a sensibilidade de investimentos em relação à taxa de juros e a propensão marginal a consumir.

EQUILÍBRIO DO LADO MONETÁRIO: A CURVA LM

Liquidity = MoneyCurva LMEquilíbrio no mercado monetário, equilíbrio no mercado de ativos financeiros como um todo

A oferta de moeda é uma variável exógena. M/P , sendo p = nível de preços.A demanda de moeda se dá por três motivos já vistos anteriormente: transação (depende darenda), precaução (depende da renda) e especulação (depende da taxa de juros).

No modelo LM, um aumento da renda faz com quem as pessoas demandem mais moeda. Osbancos terão menos dinheiro para empréstimos, aumentando a taxa de juros para compensarisso.

A curva LM é positivamente inclinada,evidenciando a relação positiva entre ademanda de moeda e a renda e arelação negativa entre a demanda demoeda e a taxa de juros.

FATORES QUE DESLOCAM A CURVA LM

A curva LM é deslocada pelos fatores autônomos ou exógenos que venham a deslocar ascurvas de oferta e demanda de moeda:

• oferta de moeda : afetada por alterações de política monetária, como mudança na taxa dereservas obrigatórias, política de open market, redescontos;

• demanda de moeda por transações e precaução: afetada por variações nos hábitos dacoletividade, no grau de verticalização ou expectativas sobre a inflação futura, que afetam avelocidade-renda da moeda;

• demanda de moeda por especulação: alterada por variação nas expectativas sobre arentabilidade futura dos títulos.

A inclinação da curva IS advém da relação entre taxa de juros e investimento. Se a taxa dejuros, por alguma razão for alterada, afeta o investimento.

No caso da curva LM, a relação positiva que existe entre taxa de juros e produção é devido àrelação positiva que existe entre renda e demanda por moeda .

As duas curvas vão se encontrar porque estão frente a duas variáveis em comum, a curva IS secomporta respondendo a alterações na taxa de juros e a LM à alterações no nível de produção.

A curva IS será responsável por determinar o nível de produção da economia. O equilíbrio nomercado de bens e serviços. A curva LM é responsável por determinar a taxa de juros naeconomia.

O mercado monetário determina a taxa de juros que afeta o mercado de bens e serviços. Omercado de bens e serviços determina a produção que afeta a taxa de juros.

A armadilha da liquidez

Suponha que a economia esteja em recessão aguda, distante do nível da renda de plenoemprego.

Nessa situação, a taxa de juros está tão baixa que todos os indivíduos optam por reter toda amoeda que for ofertada, esperando um aumento na taxa de juros para, então, aplicar em títulos.Nesse caso, a demanda por moeda é infinitamente elástica à taxa de juros e qualquer tentativado Banco Central de expandir a oferta de moeda com o intuito de baixar a taxa de juros seráinócua.

Esta é a conhecida situação denominada como armadilha da liquidez – uma hipótese levantadapor Keynes para mostrar que, em situações de recessão econômica, a política monetária étotalmente ineficaz. Por isso mesmo, esta porção da LM é conhecida como “trecho Keynesiano daLM”.