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Aluno: ..................................................................................................................................... ....................

Cursos:....................................................................................................... .................................................

Turma:....................................

Fundamentos da

Avaliação Psicológica

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Índice Geral

Aula 1 e 2 Introdução e História 4

Aula 3 Contextos e Campos de Atuação 10

Aula 4 Entrevista e Anamnese 13

Aula 5 Aplicação e Interpretação 17

Aula 6 Ética na Avaliação 20

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Sumário Aula 1 - Introdução à Avaliação Psicológica ....................................................................4

Qual a diferença entre avaliação psicológica e testagem psicológica? .........................4

Quais as respostas fornecidas pela avaliação psicológica? ...........................................4

Quais os limites da avaliação psicológica? ........................................................................5

Aula 2 - História da Avaliação Psicológica .......................................................................6

Hermann Ebbinghaus (1850-1909) .....................................................................................6

A Década de Galton: 1880 ...................................................................................................6

Cattel .......................................................................................................................................7

A Década de Binet: 1900 – O teste de Binet-Simon ........................................................8

Aula 3 - Contextos de Realização da Avaliação Psicológica ......................................10

Quais instrumentos podem ser utilizados, considerando os diversos contextos e

objetivos da avaliação psicológica? ..................................................................................10

Quais testes psicológicos são indicados para utilização em avaliações psicológicas?

...............................................................................................................................................11

Aula 4 - Entrevista Psicológica e Anamnese ..................................................................13

Contextos de uma Entrevista .............................................................................................13

Entrevista na Avaliação Psicológica .................................................................................13

Entrevista Diagnóstica ....................................................................................................14

Entrevista Devolutiva ......................................................................................................14

Entrevista de Seleção .....................................................................................................14

Tipos de entrevista e sua aplicação ..................................................................................15

Entrevista Não Estruturada ou Aberta ..........................................................................15

Entrevista Semiestruturada ou Semiaberta .................................................................16

Entrevista Estruturada ou Fechada ...............................................................................16

Aula 5 - Aplicação e interpretação de instrumentos ....................................................17

Métodos Quantitativos ........................................................................................................17

Métodos Qualitativos...........................................................................................................18

Aula 6 - Consideração éticas, culturais e sociais da Avalição Psicológica............20

Responsabilidade Ética, Social e Política da Avaliação Psicológica............................20

Quais os limites da avaliação psicológica? ......................................................................20

Referências .............................................................................................................................21

Anexos .....................................................................................................................................22

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Aula 1 - Introdução à Avaliação Psicológica

A avaliação psicológica é diz respeito

a um método científico realizado com

pacientes ou clientes que usa de

instrumentos previamente validados e requer

procedimentos específicos. Ela é dinâmica e

constitui-se em uma fonte de informações

sobre os fenômenos e processos

psicológicos, tais como traços de

personalidade, inteligência, atenção, memória etc., com a finalidade de embasar

os trabalhos nos diferentes campos de atuação do psicólogo, dentre eles,

autoconhecimento, saúde, educação, trabalho e outros setores em que ela se

fizer necessária. Trata-se de uma metodologia que requer um plano prévio e

cuidadoso, de acordo com a demanda e os fins para os quais se propõe.

Segundo a Resolução CFP nº 007/2003, “os resultados das avaliações

devem considerar e analisar os condicionantes históricos e sociais e seus efeitos

no psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não

somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que

operam desde a formulação da demanda até a conclusão do processo de

Avaliação Psicológica”. Cabe ressaltar que os resultados das avaliações

psicológicas têm grande impacto para as pessoas, os grupos e a sociedade.

Qual a diferença entre avaliação psicológica e testagem psicológica?

A avaliação psicológica é um processo amplo que envolve a integração

de informações provenientes de diversas fontes, dentre elas, testes, entrevistas,

observações e análise de documentos, enquanto a testagem psicológica pode

ser considerada um processo diferente, cuja principal fonte de informação são

os testes psicológicos de diferentes tipos.

Quais as respostas fornecidas pela avaliação psicológica?

O processo de avaliação psicológica é capaz de prover informações

importantes para o desenvolvimento de hipóteses, por parte dos psicólogos, que

levem à compreensão das características psicológicas da pessoa ou de um

Figura 1 - Disponível em <https://iipb.com.br/avaliacao-psicologica/avaliacao-psicologica-o-que-e-e-como-funciona/>

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grupo. Essas características podem se referir à forma como as pessoas irão

desempenhar uma dada atividade, à qualidade das interações interpessoais que

elas apresentam, dentre outros. Assim, dependendo dos objetivos da avaliação

psicológica, a compreensão poderá abranger aspectos psicológicos de natureza

diversa. É importante notar que a qualidade do conhecimento alcançado

depende da escolha de instrumentos/estratégias que maximizem a qualidade do

processo de avaliação psicológica.

Figura 2 - Disponível em <https://wagner.adv.br/concurso-publico-carreira-policial-federal-avaliacao-psicologica/>

Quais os limites da avaliação psicológica?

Por intermédio da avaliação, os psicólogos buscam informações que os

ajudem a responder questões sobre o funcionamento psicológico das pessoas e

suas implicações. Como o comportamento humano é resultado de uma

complexa teia de dimensões inter-relacionadas que interagem para produzi-lo, é

praticamente impossível entender e considerar todas as nuances e relações a

ponto de prevê-lo deterministicamente. As avaliações têm um limite em relação

ao que é possível entender e prever. Entretanto, avaliações calcadas em

métodos cientificamente sustentados chegam a respostas muito mais confiáveis

que opiniões leigas no assunto ou o puro acaso.

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Aula 2 - História da Avaliação Psicológica

Hermann Ebbinghaus (1850-1909)

Hermann Ebbinghaus foi o primeiro autor alemão na

psicologia a desenvolver testes de inteligência e memória.

Os experimentos de Ebbinghaus com a memória

demonstraram 6 pontos interessantes:

• O esquecimento é mais rápido nas primeiras nove

horas;

• Conteúdos esquecidos podem ser reaprendidos com

mais rapidez do que conteúdos novos, aprendidos

pela primeira vez;

• Recordamos por mais tempo assuntos que continuamos a estudar após

tê-los dominado;

• Conteúdos significativos são lembrados por cerca de dez vezes mais

tempo do que conteúdos significativos ou aleatórios;

• Itens localizados próximos do início ou do final de uma série são

lembrados com mais facilidade;

• Sessões de aprendizagem repetidas durante um intervalo maior de tempo

intensificam a memorização de qualquer assunto.

A Década de Galton: 1880

Francis Galton (Birmingham, 16 de

fevereiro de 1822 — Haslemere, Surrey, 17 de janeiro de 1911) foi

um antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês.

Ele foi o primeiro a aplicar métodos estatísticos para

o estudo das diferenças e herança humanas de inteligência,

e introduziu a utilização de questionários e pesquisas para

coletar dados sobre as comunidades humanas, o que ele

precisava para obras genealógicas e biográficas e para os

seus estudos antropométricos. Como pesquisador da mente

humana, fundou a psicometria (a ciência da medição

faculdades mentais) e a psicologia diferencial.

Figura 3 - Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Hermann_Ebbinghaus>

Figura 4 - Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Galton>

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Era primo de Charles Darwin e, baseado em sua obra, criou o conceito de

"eugenia" que seria a melhora de uma determinada espécie através da seleção

artificial. O primeiro livro importante para o pensamento de Galton foi Hereditary

Genius (1869). A sua tese afirmava que um homem notável teria filhos notáveis.

Galton acreditava que a "raça" humana poderia ser melhorada caso

fossem evitados "cruzamentos indesejáveis" o que acompanhava o sentido

racista da eminente burguesia europeia da época. Isto porque se aproveitava

das condições desumanas em países explorados por países europeus onde fez

suas viagens para comparar as capacidades de um burguês com um camponês

analfabeto levando ao pensamento orgulhoso e odioso que promoveu a eugenia

que persiste até hoje em segregar pessoas em fundamentos racistas. O

desenvolvimentos de testes de inteligência para selecionar homens e mulheres

brilhantes, destinados à reprodução seletiva são obras de Francis Galton em

caráter de promover estes ideais para reafirmar o senso de superioridade

eurocêntrico e como propaganda deturpar as possibilidades de enfraquecimento

da comunidade branca europeia contra imigrantes. Esta ideologia teve papel

fundamental na formação do Fascismo e nazismo como paralelos

do ultranacionalismo e afins.

Cattel

Cattell foi o primeiro professor de psicologia nos

Estados Unidos na University of Pennsylvania e editor

de revistas e publicações científicas. Cattell empregou

a expressão teste mentais e, durante o período em que

trabalhou na University of Pennsylvania, administrou

vários testes a seus alunos. Os tipos de testes eram

para medir a amplitude e a variabilidade da capacidade

humana, os testes lidavam com as medidas sensório-

motoras.

Seu trabalho a respeito dos testes mentais

reforçou o movimento funcionalista na Psicologia americana. Cattell realizou

uma das suas ambições: promover a Psicologia aplicada como um negocio.

Figura 5 - Disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/James_McKeen_Cattell>

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A Década de Binet: 1900 – O teste de Binet-Simon

Criou com grande engenhosidade procedimentos

simples que podiam ser aplicados a estudantes nas

escolas primárias, desenvolveu testes que utilizavam

não mais que papel e lápis, figuras e objetos

portáteis. Com Théodore Simon (1873-1961),

desenvolveu as escalas de Binet-Simon, para medir

a inteligência de crianças, nas quais introduziu o

conceito de idade mental.

Em 1905, Binet e Simon desenvolveram o

primeiro teste com 30 itens (dispostos em ordem crescente de dificuldade) com

o objetivo de avaliar as mais variadas funções como julgamento, compreensão

e raciocínio, para detectar o nível de inteligência ou retardo mental de adultos e

crianças das escolas de Paris. Estes testes impulsionaram a era dos testes com

base no Q.I.(idealizado por W. Stern).

Inventado pelos psicólogos Alfred Binet – pupilo de Jean Charcot –

e Théodore Simon, em 1905, o Teste de Binet-Simon foi o primeiro de inúmeros

testes que visava medir a inteligência de crianças. Foi encomendado pelo

governo francês, cujo objetivo era discernir as crianças mais desenvolvidas

mentalmente das menos desenvolvidas, criando salas separadas e programas

de educação para atender suas dificuldades, além de diminuir a quantidade de

alunos repetentes.

Características do teste

Em sua primeira versão, as crianças eram submetidas a realizar tarefas

relacionadas a atividades cotidianas. A dificuldade crescia a cada exercício,

envolvendo competências como memória e atenção. Na segunda versão,

lançada em 1908, os alunos eram requisitados a cumprir as tarefas até não

saberem como resolver o exercício. Assim, com base no nível de dificuldade

deste, seria calculada a idade mental do indivíduo da seguinte forma:

▪ idade cronológica (ic) - idade mental (im) = nível geral de inteligência

▪ Os resultados foram divididos em:

▪ → nível geral igual a 0 ou 1: continuava em sua respectiva classe

▪ → maior ou igual a 2: realocação para turmas especiais

Figura 6 - Disponível em <https://www.verywellmind.com/history-of-intelligence-testing-2795581>

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▪ → negativo (-1, -2): seria mantida em sua classe, pois o objetivo do

governo francês era o remanejamento de crianças com problemas

de aprendizado, não as consideradas habilidosas.

Na terceira e última versão lançada por Binet, em 1911, a quantidade de

exercícios do teste foi aumentada para 54, separados em grupos de 5. No ano

seguinte, William Stern, psicólogo alemão, sugeriu que os números

correspondentes à idade mental e cronológicas fossem multiplicados por 100,

dando origem ao cálculo do quociente de Inteligência (QI).

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Aula 3 - Contextos de Realização da Avaliação Psicológica

Quais instrumentos podem ser utilizados, considerando os diversos contextos e objetivos da avaliação psicológica?

A Resolução CFP n° 002/2003, em seu

Art. 11º, orienta que “as condições de uso dos

instrumentos devem ser consideradas apenas

para os contextos e propósitos para os quais os

estudos empíricos indicaram resultados

favoráveis”. O artigo quer dizer que a simples

aprovação no Sistema de Avaliação de Testes

Psicológicos (Satepsi) não significa que o teste

possa ser usado em qualquer contexto, ou para

qualquer propósito.

A recomendação para um uso específico

deve ser buscada nos estudos que foram feitos com o instrumento,

principalmente nos estudos de validade e nos de precisão e de padronização.

Assim, os requisitos básicos para uma determinada utilização são os resultados

favoráveis de estudos orientados para os problemas específicos relacionados às

exigências de cada área e propósito.

No novo formulário de avaliação dos testes psicológicos, foram descritos

cinco propósitos mais comuns para o uso dos testes: classificação diagnóstica,

descrição, predição, planejamento de intervenções e acompanhamento.

Também são definidos vários contextos de aplicação: Psicologia Clínica,

Psicologia da Saúde e/ou Hospitalar, Psicologia Escolar e Educacional,

Neuropsicologia, Psicologia Forense, Psicologia do Trabalho e das

Organizações, Psicologia do Esporte, Social/Comunitária, Psicologia do

Trânsito, orientação e ou aconselhamento vocacional e/ou profissional, entre

outras.

Dependendo da combinação de propósitos e contextos, pode se pensar

melhor quais estudos são necessários para justificar o uso de determinados

instrumentos/estratégias. Por exemplo, considerando a avaliação de

personalidade no contexto organizacional, se o propósito for somente descrever

características de personalidade das pessoas, são necessários estudos de

Figura 7 - Disponível em <https://www.recruitment.com.br/2016/11/entenda-o-teste-palografico/>

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validade atestando que o teste mede o construto pretendido (análise fatorial,

correlação com outras variáveis, dentre outros). Mas se o propósito for prever o

comportamento futuro, como geralmente é o caso nos processos seletivos, são

necessários estudos de validade de critério, demonstrando que o teste é capaz

de prever bom desempenho no trabalho.

No contexto do trânsito, geralmente, o objetivo da avaliação é a previsão

de comportamentos inadequados a partir de variáveis psicológicas levantadas

pelos testes. Assim, estudos de validade de critério mostrando que as variáveis

medidas no teste preveem comportamentos importantes nessa situação (tais

como comportamentos de risco, envolvimento culposo em acidentes) são os

requisitos básicos que justificam o seu uso nesse contexto, já que irão sustentar

a decisão sobre a habilitação.

Em suma, a escolha adequada de um instrumento/estratégia é complexa

e deve levar em conta os dados empíricos que justifiquem, simultaneamente, o

propósito da avaliação associado aos contextos específicos. No caso da escolha

de um teste, é necessário que o psicólogo faça a leitura cuidadosa do manual e

das pesquisas envolvidas em sua construção para decidir se ele pode ou não

ser utilizado naquela situação. Uma boa fonte de informações sobre pesquisas

na Psicologia além do manual, é claro, é a Biblioteca Virtual em Saúde -

Psicologia: www.bvs-psi.org.br.

O parecer favorável no Satepsi (satepsi.cfp.org.br) indica que o teste

possui, pelo menos, um conjunto mínimo de estudos que atesta sua qualidade.

A utilidade para algum propósito e contexto específicos dependerá de uma

análise cuidadosa desses estudos.

Quais testes psicológicos são indicados para utilização em avaliações psicológicas?

Cabe ao profissional investigar quais são os procedimentos, os meios e

as técnicas mais adequados para o contexto de seu trabalho, uma vez que o

CFP defende a autonomia profissional das (os) psicólogas (os) quanto à escolha

dos testes, em consonância com a Resolução CFP nº 002/2003:

Art. 11 – As condições de uso dos

instrumentos devem ser consideradas

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apenas para os contextos e propósitos

para os quais os estudos empíricos

indicaram resultados favoráveis.

Parágrafo Único – A consideração da

informação referida no caput deste artigo é

parte fundamental do processo de

avaliação psicológica, especialmente na

escolha do teste mais adequado a cada

propósito e será de responsabilidade do

psicólogo que utilizar o

instrumento.(CFP,2003)

Além disso, cabe lembrar que a avaliação psicológica é entendida como

o processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de

informações a respeito dos fenômenos psicológicos resultantes da relação do

indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas

como métodos, técnicas e instrumentos. Os resultados das avaliações devem

considerar e analisar os condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no

psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não

somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que

operam desde a formulação da demanda até a conclusão do processo de

avaliação psicológica.

Ressalte-se, também, que no Satepsi

(http://www2.pol.org.br/satepsi/sistema/admin.cfm) existe a possibilidade de

pesquisa sobre algumas características,

tais como variável avaliada e área de

aplicação dos testes psicológicos aos

usuários que se cadastram.

Esse sistema pode ajudar os

psicólogos na escolha do instrumento

mais adequado. Para esclarecimentos de

questões técnicas, sugere-se que seja

realizada uma consulta em artigos científicos, universidades ou ao Instituto

Brasileiro de Avaliação Psicológica (Ibap) (www.ibapnet.org.br).

Figura 8 - Disponível em <https://www.magopsi.com.br/>

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Aula 4 - Entrevista Psicológica e Anamnese

A entrevista é a técnica mais utilizada para a obtenção de informações a

respeito de uma pessoa em qualquer situação em que exista um indivíduo

buscando saber algo sobre outro, esclarecer comportamentos, elucidar

intenções, ideias ou atitudes de

alguém, sejam específicas ou

genéricas. É uma ferramenta

poderosa à disposição dos psicólogos,

de valor inestimável e, sem dúvida, a

mais indispensável de todas as que

possam ser colocadas ao seu alcance.

Contextos de uma Entrevista

• Para utilizar-se da entrevista como ferramenta de avaliação psicológica,

o profissional da Psicologia precisa ter diferentes conhecimentos que

variam de acordo com o propósito da entrevista e o contexto em que

ocorre.

• Psicodiagnóstico: o psicólogo precisará conhecer psicopatologia,

critérios diagnósticos, manuais de transtornos mentais e de classificação

de doenças, além de Psicologia do Desenvolvimento.

• Seleção de pessoal: será necessário ao psicólogo conhecer a descrição

do cargo, suas competências, as necessidades da empresa, e os

métodos específicos de entrevista aplicados neste contexto, entre outras

informações que permitam a formulação de questões que abarquem o

que se necessita entender sobre o candidato que se inscreve no processo

seletivo.

Entrevista na Avaliação Psicológica

• Por avaliação psicológica entende-se uma série de procedimentos que

têm por objetivo medir fenômenos ou processos psicológicos. Refere-se,

seguindo o pensamento de Alchieri e Cruz (2003), ao modo de conhecer

os processos psicológicos, que podem utilizar-se tanto de procedimentos

que visam diagnóstico e prognóstico quanto de outros que examinam as

Figura 9 - Disponível em <https://psicoativo.com/2016/06/anamnese-psicologica.html>

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condições psicológicas, verificando estrutura e dinâmica de

funcionamento, competências, habilidades, inteligência, entre outros.

Entrevista Diagnóstica

• Entrevista Diagnóstica: Neste tipo de entrevista o objetivo é estabelecer o

diagnóstico do paciente ou cliente, as indicações de tratamento mais

adequadas, de acordo com a psicopatologia que se apresenta e,

possivelmente, o prognóstico à luz das informações obtidas e em

consonância com os referenciais teóricos que o sustentam.

• Leva-se em consideração que as entrevistas que visam o diagnóstico

devem ser focadas em descrever e avaliar sintomas, a história do

indivíduo (neste caso se utiliza a anamnese como técnica de entrevista),

as dificuldades que enfrenta, suas perdas e seus prejuízos, as condições

em que vive, sem perder de vista os critérios diagnósticos das diferentes

psicopatologias.

Entrevista Devolutiva

• O principal objetivo da entrevista devolutiva é o de ajudar a pessoa a

entender os seus resultados, e para tanto, é possível incluir diferentes

estratégias que transcendem a comunicação dos dados apenas. A

depender do propósito da entrevista devolutiva pode ser necessário mais

que um encontro, solicitar a presença do grupo de apoio do entrevistado,

ou até providenciar o encaminhamento para atendimento psicoterápico ou

para outros profissionais da saúde, se necessário. Atenção especial deve

ser dada às entrevistas devolutivas das avaliações psicológicas de

crianças e adolescentes, momento em que seus interesses são

representados pelos seus responsáveis, o que significa dizer que os

resultados amealhados são discutidos diretamente com seus cuidadores,

o que também ocorre no caso de pessoas incapazes de responder por si

mesmas.

Entrevista de Seleção

• Tradicionalmente, as entrevistas para avaliação de pessoal eram e ainda

podem ser feitas de forma desestruturada, com questões abertas, por

vezes baseadas na descrição das atividades do cargo ou na requisição

do gestor que solicitava o preenchimento da vaga, por exemplo. Em geral,

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a partir desse tipo de entrevista explica Garcia-Santos (2008), os critérios

de exclusão de candidatos dos processos seletivos tornam-se frágeis e

desprovidos de objetividade no que se refere aos comportamentos

necessários para execução do repertório de tarefas exigidos para

ocupação da vaga de trabalho. Além disso, o entrevistador fica fadado à

sua subjetividade e suas impressões, como enfatizam Araújo e Pilati

(2008), nas conclusões que chega diante de um emaranhado de

informações coletadas ao longo do diálogo que foi estabelecido; sem

esquecer que o entrevistado, em geral, está sob forte pressão emocional.

Tipos de entrevista e sua aplicação

• Os tipos de entrevista referem-se ao seu aspecto formal ou à sua

estrutura.

• Entrevista não estruturada

• Entrevista semiestruturada

• Entrevista estruturada

Entrevista Não Estruturada ou Aberta

• Este tipo de entrevista é considerado de tipo aberto, com nenhuma

estrutura ou uma estrutura mínima em que se deixa para o entrevistado a

decisão de como irá expor as informações, como irá construir uma fala

sobre o que está sendo tratado.

• Tem uma finalidade definida

• Aplica-se a diferentes contextos

• Risco de coletar muita informação e tomar muito tempo

• Ideal para: esclarecer uma situação, desenvolver um conceito,

saber mais sobre atitudes e comportamentos.

• Cuidados importantes

• possibilidade/necessidade de ser gravada, como garantia de

acesso real aos dados colhidos, sem perda de informações que

podem ocorrer quando o entrevistador intenta anotar todo o

conteúdo expresso verbalmente;

• aspectos éticos e de sigilo com o material produzido;

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• outro ponto de ênfase mais teórica é o fato de entrevista aberta não

significar questão aberta, pois algumas questões abertas são

também utilizadas nos roteiros das entrevistas estruturadas;

• como último ponto de atenção, o treinamento necessário ao

entrevistador.

Entrevista Semiestruturada ou Semiaberta

• A entrevista semiestruturada, conforme Manzini (2003) e Triviños (1987),

tem um foco principal definido e é a partir dessa focalização que um roteiro

é construído, com questões básicas e/ou principais que são

complementadas por outras questões que surgem ao longo da entrevista,

permitindo ao entrevistador fazer emergir informações de forma mais livre

e as respostas ficam mais espontâneas, sem estarem condicionadas a

algum tipo de padrão ou alternativas.

Entrevista Estruturada ou Fechada

• A entrevista denominada de estruturada, como o próprio nome diz, por

desenvolver-se a partir de uma estrutura previamente definida, ou seja,

há um roteiro fixo de perguntas ou um questionário, cuja ordem e redação

permanecem exatamente iguais em cada aplicação, segundo Lakatos e

Marconi (1996).

• não há a possibilidade de questões serem alteradas durante a sua

aplicação

• bastante utilizada em processos seletivos e pesquisas científicas

• fazer um levantamento de informações sobre as pessoas de modo

bastante objetivo e mais rápido que as outras modalidades

• São bastante comuns, neste tipo de entrevista, as perguntas com

possibilidades de respostas bipolares ou dicotômicas

• facilita o tratamento estatístico e quantitativo dos dados

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Aula 5 - Aplicação e interpretação de instrumentos

Métodos Quantitativos

São aqueles que se utilizam

de cálculos matemáticos e

estatísticos para a investigação de

uma realidade natural ou social.

Seus objetivos são:

• avaliar o contexto a partir da

quantidade, extensão ou

localização de um fenômeno;

• diagnosticar por meio de correlação estatística, de identificação de

variáveis discriminatórias ou de modelos causais;

• analisar de forma dedutiva e com base na generalização dos resultados;

e

• criar estratégias fundamentadas na modelagem preditiva e na testagem

numérica de hipóteses.

Segundo Mullen e Iverson (1982), a utilização da abordagem quantitativa

deverá ser priorizada:

• para avaliar resultados mensuráveis e que possam ser expressos em

números, taxas, proporções;

• para responder a questões relativas a quanto;

• para avaliar atividades cujos objetivos sejam bastante específicos; e

• quando o objeto a ser avaliado possui uma diferença de grau, exigindo

uma lógica de mais ou de menos.

Vantagens do Método Quantitativo:

• Possibilidade de análise direta dos dados.

• Força demonstrativa.

• Generalização pela representatividade.

• Possibilidade de inferência para outros contextos.

Figura 10 - Disponível em <http://www.portalchapeco.com.br/jackson/qi.htm>

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Desvantagens do Método Quantitativo:

• Negligência dos significados e motivações dos indivíduos.

• Dificuldade no estabelecimento de relações de causa-efeito.

Métodos Qualitativos

Compartilha as pressuposições teóricas do

paradigma interpretativista, o qual se baseia na

noção de uma realidade social que é construída e

sustentada por meio da experiência subjetiva das

pessoas. Seus objetivos são:

• avaliar o contexto a partir da forma ou

natureza de um fenômeno;

• diagnosticar por meio da identificação dos

fatores subjacentes e da exploração dos

processos de decisão;

• analisar de maneira indutiva e processual; e

• criar estratégias fundamentadas na

construção de idéias, teorias e na testagem casual de hipóteses.

A aplicação de métodos e técnicas de investigação qualitativa justifica-se

quando:

• o contexto social e cultural é um elemento importante para a pesquisa;

• quando o fenômeno em estudo é complexo, de natureza social e não

tende à quantificação; e

• quando se deseja compreender os significados subjacentes aos

fenômenos.

Vantagens do Método Qualitativo:

• Grande possibilidade de compreensão de temas subjacentes a um

contexto específico.

• Grande potencial de revelação da complexidade do fenômeno social.

• Adequação à identificação de significados e conexões com o mundo real.

• Os dados podem ser utilizados para estudos de qualquer processo.

Figura 11 - Disponível em <http://www.psicologiafree.com/curiosidades/testes-projetivos-vantagens-e-implicacoes/>

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Desvantagens do Método Qualitativo:

• Chegar a diferentes conclusões baseadas na mesma informação a

depender das características pessoais do entrevistador.

• Inabilidade de investigar causalidades entre diferentes fenômenos de

pesquisa.

• Requer um alto nível de experiência do pesquisador.

• Necessita de uma grande disponibilidade de tempo para a gravação e

transcrição de dados, para a realização de anotações e para as análises

e interpretações

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Aula 6 - Consideração éticas, culturais e sociais da Avalição

Psicológica

Responsabilidade Ética, Social e Política da Avaliação Psicológica

Artigo em anexo para discussão.

Quais os limites da avaliação psicológica?

Por intermédio da avaliação, os psicólogos buscam informações que os

ajudem a responder questões sobre o funcionamento psicológico das pessoas e

suas implicações. Como o comportamento humano é resultado de uma

complexa teia de dimensões inter-relacionadas que interagem para produzi-lo, é

praticamente impossível entender e considerar todas as nuances e relações a

ponto de prevê-lo deterministicamente. As avaliações têm um limite em relação

ao que é possível entender e prever. Entretanto, avaliações calcadas em

métodos cientificamente sustentados chegam a respostas muito mais confiáveis

que opiniões leigas no assunto ou o puro acaso.

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Referências

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FANCHER, R. Pioneers of psychology. (3rd ed.). 1996. New York: Norton.

HUTZ, C. S., BANDEIRA, D. R., TRENTINI, C. M., Psicometria. Artmed. 2015

NETO, G. S. Sir Francis Galton e os extremos superiores da curva normal. Revista de ciências humanas. 2011. 45 (1): 223-239

HOGAN, Thomas P. Introdução à prática de testes psicológicos. Rio de Janeiro: LTC, 2006. 518 p.

NORONHA, A. P. P., Cartilha Avaliação Psicológica. Conselho Federal de Psicologia. 1ª Edição, Brasília, 2013

OCAMPO, M. L. S. et al. O processo psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. Tradução M. Felzenszwalb. São Paulo: M. Fontes

Responsabilidade Ética, Social e Política da Avaliação Psicológica. Aval. psicol., Porto Alegre , v. 1, n. 2, p. vii-ix, nov. 2002 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712002000200001&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 07 jun. 2019.

SANTOS, S. G., A entrevista em avaliação psicológica. Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia – Edição Especial nº 008 Vol.01/2014 set/2014

URBINA, S., Fundamentos da Testagem Psicológica. Artmed. 2006

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Anexos

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Responsabilidade Ética, Social e Política da Avaliação Psicológica

A Avaliação Psicológica e Educacional representauma das principais contribuições da Psicologia para asociedade. Ela pode prover melhorias significativas,importantes e socialmente relevantes em todos os seto-res: agências governamentais, educação, serviços, ati-vidades laborais, programas sociais, entre tantos outros.

A Avaliação Psicológica afeta indivíduos, instituiçõese a sociedade como um todo. Isso acontece nos paí-ses em que a Psicologia é desenvolvida e o Brasil nãoé uma exceção. Os indivíduos afetados são estudan-tes, pais, professores, administradores, pessoas queprocuram emprego, trabalhadores, gerentes, executi-vos; são também crianças em situação de rua, adoles-centes em conflito com a lei e todos aqueles que vi-vem em situação de risco pessoal e social. Poucos, nanossa sociedade, escapam da Avaliação Psicológica.Quem deseja dirigir um automóvel, usar uma arma,adotar uma criança ou obter um emprego está sujeitoa ser testado e avaliado. Rara é a instituição que não éafetada direta ou indiretamente: escolas, universida-des, empresas, agências governamentais.

Indivíduos e instituições se beneficiam quando aAvaliação Psicológica contribui para que possam atin-gir seus objetivos. A sociedade se beneficia quandoas realizações dos indivíduos e das instituições con-tribuem para o bem comum. As possibilidades daAvaliação Psicológica são imensas e seu potencialpara melhorar a qualidade de vida das pessoas é ex-traordinário. Mas, ela também possui um potencialde causar dano às pessoas, às instituições e à socie-dade como um todo se não dispusermos de métodos,técnicas e instrumentos apropriados e se psicólogosnão estiverem qualificados para utilizá-los.

No Brasil, apesar de sua longa história, a AvaliaçãoPsicológica ainda é incipiente como atividade profissi-onal cientificamente embasada. Seu desenvolvimentofoi prejudicado pelo preconceito, pela ignorância, pelaconfusão epistemológica e, até mesmo, por algumaconfusão ideológica. Além disso, deficiências na for-mação e a ojeriza à matemática e à estatística, tam-bém contribuíram para dificultar o desenvolvimento demétodos, técnicas e instrumentos necessários para aAvaliação Psicológica. Psicólogos atuando nesta áreaqueixam-se, historicamente, de serem marginalizadose desrespeitados, até mesmo pelos próprios colegas.Note-se que esta é uma queixa brasileira, não um fe-nômeno internacional.

O descaso e a desqualificação da área levaram apouco investimento em treinamento e na produçãode instrumentos adequados para a nossa realidade.Ainda hoje, usa-se no Brasil, testes que há muitosanos não são mais usados nos seus países de origem,instrumentos de validade desconhecida e com nor-mas desatualizadas. Há muitos instrumentos novos ede boa qualidade, mas, freqüentemente, é difícildiferenciá-los de material que estaria melhor nummuseu do que nas estantes de uma loja de testes.

A falta de treinamento e de formação de qualidadepode levar um psicólogo a usar testes de forma me-cânica, sem um entendimento claro do que está real-mente sendo feito ou, o que é ainda mais grave, semsaber exatamente o que deve ser avaliado. Só é pos-sível escolher instrumentos ou técnicas para fazeruma seleção quando se tem um perfil claro do cargoe das funções envolvidas, quando se sabe exatamen-

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te quais são as variáveis e processos psicológicosque devem ser avaliados e quando se estabeleceramcom razoável precisão pontos de corte. A falta deconsenso entre os psicólogos sobre quais são os ins-trumentos que devem ser usados para avaliar candi-datos à obtenção de carteira de motorista exemplificabem esse ponto. Não há muitos estudos científicospublicados mostrando claramente quais são as habi-lidades, aptidões, traços ou características de perso-nalidade que são fundamentais para dirigir com se-gurança e quais são os escores mínimos ou máximosque indicariam aptidão ou inaptidão para conduzir umveículo. Avaliações feitas nessas condições são sub-jetivas. Outro psicólogo, igualmente habilitado, pode-ria chegar a conclusões diferentes, mesmo que osmesmos instrumentos fossem utilizados.

Houve uma época em que muitas universidades exi-giam um exame psicotécnico para quem quisesse es-tudar psicologia. Hoje, felizmente, isso praticamentenão acontece mais. E nem por isso os psicólogos quenão foram “aprovados” no psicotécnico são maisdesajustados, infelizes, ou incompetentes do que seuscolegas que foram submetidos a essa avaliação. Oque estava sendo feito então? Quantas pessoas fo-ram impedidas de estudar psicologia simplesmenteporque não apresentavam as características que al-guns psicólogos, no seu imaginário, julgavam impres-cindíveis para ser um bom psicólogo? O mesmo pro-blema continua ocorrendo em alguns casos em queseleções são feitas sem que se conheça exatamenteo perfil do cargo ou função. Reitera-se então a mes-ma questão: quantas pessoas qualificadas estão sen-do impedidas de assumir cargos, conseguir empre-gos ou promoções por não atenderem critérios dedesempenho em exames psicológicos que não foramestabelecidos de forma científica?

A situação da Avaliação Psicológica é crítica, masisso não é novidade. A novidade é que, finalmente,há uma consciência clara de todos – psicólogos quetrabalham na área, sociedades científicas e Conse-lho Federal de Psicologia – que as dificuldades de-vem ser enfrentadas e superadas. Ainda há diver-gências sobre as estratégias, mas é muito positivo

observar que há consenso sobre a necessidade dedar mais atenção à área de Avaliação Psicológica,aprimorar a formação de psicólogos e desenvolverinstrumentos, métodos e técnicas de avaliação mo-dernos, válidos, adaptados à nossa realidade, comnormas precisas e atualizadas.

O Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica(IBAP) tem posições claras a respeito dessa ques-tão, expressas no seu programa de gestão e em ou-tros documentos, como, por exemplo, a manifesta-ção conjunta do Grupo de Trabalho em AvaliaçãoPsicológica da ANPEPP, IBAP e SBRo em defesada Avaliação Psicológica, publicado neste número darevista. Consideramos que várias ações devem sertomadas. Em primeiro lugar, é preciso reconhecerque a Avaliação Psicológica é uma área. A idéia deque a Avaliação Psicológica não é uma área, masum conhecimento que se espraia por toda a Psicolo-gia, reflete desconhecimento e confusão entre a rea-lização de diagnósticos em áreas específicas (que todoo psicólogo deve ser capaz de fazer) e o campo daAvaliação Psicológica que envolve a construção, odesenvolvimento, o aperfeiçoamento, a investigaçãosistemática de instrumentos, métodos e técnicas esuas relações e interações. É preciso reconhecer quea área da Avaliação Psicológica envolve muito maisdo que a realização de diagnósticos numa área espe-cífica. A Avaliação Psicológica deve ser considera-da como uma área embasadora e instrumentalizadorana Psicologia, como são, por exemplo, a Psicologiado Desenvolvimento, a Psicologia Experimental, aPsicopatologia, entre outras. Esses campos produ-zem conhecimentos necessários à aplicação, à práti-ca profissional em qualquer área da Psicologia.

Portanto, é fundamental que a Avaliação Psicoló-gica seja reconhecida como área e que se possibiliteo registro do título de especialista nesta área. Mas épreciso ter claro que um especialista em AvaliaçãoPsicológica não é simplesmente um psicólogo que hámais de 30 anos vem aplicando os mesmos testesnas mesmas pessoas do mesmo jeito. O especialistaem Avaliação Psicológica é, no mínimo, fluente empsicometria, conhece com profundidade e se man-

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tém atualizado nas áreas básicas da Psicologia, écapaz de dar contribuições significativas para o de-senvolvimento de sistemas ou métodos de avaliaçãoe de avaliar a adequação de instrumentos e procedi-mentos usados para fins de diagnóstico.

É também fundamental regulamentar a área, con-trolando a qualidade dos instrumentos e também aformação de psicólogos. Os melhores instrumentos,nas mãos de psicólogos que não foram devidamentetreinados para utilizá-los, serão mal usados. Paragarantir uma formação de qualidade para os psicólo-gos é necessário desenvolver um currículo mínimonesta área para os cursos de graduação, produzir bi-bliografias adequadas e atualizadas, treinar ou reciclarprofessores e profissionais.

Enfim, se queremos uma Avaliação psicológica res-ponsável e ética, que beneficie indivíduos, instituiçõese a sociedade em geral, temos que desenvolver umprojeto nacional de longo prazo envolvendo as uni-versidades, os Conselhos Federal e Regionais dePsicologia, as sociedades científicas, os editores eusuários de testes e outras técnicas. O IBAP, emconjunto com a SBRo e outros grupos organizados,pode e deve liderar o movimento pela organizaçãoda Avaliação Psicológica no Brasil, garantindo aospsicólogos a possibilidade de um exercício profissio-nal digno e ético e disponibilizando para a populaçãodo nosso país os benefícios de serviços psicológicoseficientes e eficazes.

Novembro, 2002Cláudio S. Hutz

Editor