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SérieFundamentosda Educação

Fundamentos�losó�cosda educaçãoJosé Antônio Vasconcelos

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O selo DIALÓGICA da Editora Ibpex faz referência às publicações que privilegiam uma linguagem na qual o autor dialoga com o leitor por meio de recursos textuais e visuais, o que torna o conteúdo muito mais dinâmico. São livros que criam um ambiente de interação com o leitor – seu universo cultural, social e de elaboração de conhecimentos –, possibilitando um real processo de interlocução para que a comunicação se efetive.

SérieFundamentosda Educação

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Foi feito o depósito legal.

Informamos que é de inteira responsabilidade do autor a emissão de conceitos.

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Ibpex.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.

Esta obra é utilizada como material didático nos cursos oferecidos pelo Grupo Uninter.

1.ª edição, 2011.

Conselho editorialConselho editorial

Editor-assistenteEditor-assistente

Preparação de originaisPreparação de originais

CapaCapa

Projeto gráficoProjeto gráfico

Ilustração de capaIlustração de capa

IconografiaIconografia

Editor-chefeEditor-chefe

Editor de arteEditor de arte

Dr. Ivo José Both (presidente)Drª. Elena GodoyDr. Ulf Gregor BaranowDr. Nelson Luís Dias

Ariadne Nunes Wenger

Tiago Krelling Marinaska

Denis Kaio Tanaami

Frederico Santos Burlamaqui

Znort! Ilustradores

Danielle Scholtz

Lindsay Azambuja

Raphael Bernadelli

Av. Vicente Machado, 317 – 14.º andar Centro – CEP 80420-010 – Curitiba – PR – BrasilFone: (41) 2103-7306 www.editoraibpex.com.br [email protected]

Vasconcelos, José Antônio Fundamentos filosóficos da educação [livro eletrônico] / José Antonio Vasconce-

los. – Curitiba: Ibpex, 2012. – (Série Fundamentos da educação)

2 MB ; PDF

Bibliografia. ISBN 978-85-7838-952-9

1. Educação – Filosofia I. Título. II. Série.

12-08292 CDD-370.1Índices para catálogo sistemático:1. Educação : Filosofia 370.1 2. Filosofia da educação 370.1

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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Sumário

Dedicatória, 7

Apresentação, 9

Organização didático-pedagógica, 13

Introdução, 17

1 A filosofia e a busca da verdade, 19

1.1 O pensamento grego antigo, 23 | 1.2 O pensamento medieval, 30 |

1.3 O pensamento moderno, 34 | 1.4 A filosofia depois de Kant, 38

2 O naturalismo, 45

2.1 O iluminismo, 48 | 2.2 Apreciação crítica do naturalismo, 58

3 O positivismo, 67

3.1 Augusto Comte, 70 | 3.2 Herbert Spencer, 74 | 3.3 Émile Durkheim, 79 |

3.4 Apreciação crítica do positivismo, 82

4 O materialismo dialético, 91

4.1 Karl Marx e Friedrich Engels, 94 | 4.2 O legado de Marx e Engels, 100 |

4.3 Apreciação crítica do materialismo dialético, 106

5 A fenomenologia, o existencialismo e o estruturalismo, 115

5.1 A fenomenologia, 119 | 5.2 O existencialismo, 125 | 5.3 O estruturalismo, 130 |

5.4 Liberdade e necessidade, 136

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6 O pragmatismo e a filosofia analítica, 143

6.1 O pragmatismo, 146 | 6.2 A filosofia analítica, 151 | 6.3 O pragmatismo

e a filosofia analítica em Richard Rorty, 157 | 6.4 Apreciação crítica do

pragmatismo e da filosofia analítica, 161

Considerações finais, 171

Glossário, 173

Referências, 179

Bibliografia comentada, 187

Respostas, 189

Sobre o autor, 193

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Dedico esta obra a três pessoas sem as quais este trabalho não teria sido realizado a contento. A primeira delas é o professor Wilson Picler, que sempre valorizou meu trabalho, depositando em mim um imenso grau de confiança. A segunda é o professor Alvino Moser, meu mentor intelectual, amigo de todas as horas e interlocutor de primeira categoria. E, finalmente, a terceira é Lucimara, meu grande, único e verdadeiro amor, cujo carinho continuamente me estimula a aproveitar o que a vida tem de melhor.

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Apresentação

Você já se deparou com alguma dessas palavras relativamente fáceis de entender, mas difíceis de explicar? Com a filosofia é assim: usamos a palavra em nosso dia a dia, dizemos que a filosofia de vida de fulano não é correta, ou até mesmo que a seleção brasileira ganhou a copa de 1994 por causa da “filosofia de jogo” do Parreira. Mas quando alguém solicita uma explicação, o que você diz? O que lhe vem à mente quando ouve falar em pensamento filosófico?

O sábio grego antigo Pitágoras, tendo ouvido, certa vez, alguém chamá-lo de sábio, respondeu, com muita sabedoria, que ele não era realmente um sábio, que era apenas um “amigo da sabedoria”. Dessa expressão, que vem do grego filos (amigo) e sofia (sabedoria), nasceu o vocábulo filosofia. Assim, podemos perceber a dificuldade que existe em traduzir uma noção tão vaga quanto essa nos termos de uma definição de limites rigorosos.

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Toda disciplina é definida pelo seu objeto de estudo. Assim sendo, de que se ocupa a filosofia? Ela estuda de tudo − o ser, o homem, o pensamento, o universo, o próprio Deus: nada escapa à filosofia. De um lado, não existe nada no mundo – ou fora dele – que não possa ser objeto de indagação filosófica, mas, por outro lado, a filosofia não se confunde com as ciências particulares, pois sua análise é de natureza diversa. Enquanto aquelas se definem como ciências pelo caráter empírico de suas investigações, a filoso-fia se caracteriza como uma atividade de ordem reflexiva. O filósofo recebe os dados que lhe são fornecidos pelas ciências particulares, submetendo-os a um constante questionamento.

Tendo em mente esse caráter aberto da filosofia, poderíamos talvez nos perguntar: “Será possível ensinar alguém a filosofar?”;

“Em outras palavras, se a filosofia se caracteriza como uma ativi-dade de ordem reflexiva, será possível ensinar alguém a refletir, a pensar?” “E, nesse caso, quais serão os objetivos de uma disciplina como a filosofia da educação?”. O que você responderia se alguém lhe fizesse esses questionamentos?

O pensamento, como sabemos, é uma atividade comum a todo o gênero humano. O que o ensino de filosofia propõe é edu-car o pensamento de modo rigoroso, tornando-o um pensamento questionador, que se coloque acima do senso comum. O objetivo desse ensino é o de formar um sujeito, uma pessoa ou um cidadão mais consciente de si mesmo e da realidade que o cerca.

No caso da filosofia da educação, trata-se de trazer a refle-xão filosófica para o âmbito das teorias e práticas pedagógicas. A filosofia da educação lida, na verdade, com questões aparente-mente muito simples, mas que se revelam complexas, uma vez que as levamos a sério: O que é o aprendizado? A escola é mesmo

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necessária? Quais são os fins da educação? O que é, afinal, o ensino, essa atividade à qual pretendemos nos dedicar de corpo e alma?

Para que possamos aprender a pensar filosoficamente, não há outro caminho senão acompanhar os passos de quem já se aven-turou no fascinante campo da especulação filosófica. É necessário que você conheça e compreenda aspectos dos sistemas filosóficos de pensadores importantes do passado para, com base neles, pensar de forma mais crítica o nosso próprio presente.

Esta obra se encontra dividida em seis capítulos. No pri-meiro, estudaremos a questão do conhecimento tal como foi tematizada por importantes filósofos, da Antiguidade ao final da Idade Moderna. Trata-se, na verdade, ao mesmo tempo, de uma introdução e de uma contextualização do pensamento filosófico no Ocidente, servindo, assim, de preparação para um estudo mais aprofundado da filosofia da educação do século XVIII aos dias de hoje.

No segundo capítulo, estudaremos a proposta da filosofia naturalista para a educação, com ênfase nas ideias de Jean-Jacques Rousseau, um filósofo suíço que viveu na França no século XVIII.

No terceiro capítulo, voltaremos nossa atenção para a filoso-fia positivista e suas contribuições para a educação com base em dois autores do século XIX – Augusto Comte e Herbert Spencer. O positivismo influenciou de modo marcante a intelectualidade brasileira no fim do Período Imperial e nas primeiras décadas da República. Por esse motivo, é importante considerarmos o modo como essa corrente via a educação.

No quarto capítulo, estudaremos alguns aspectos do materia-lismo dialético, uma importante tradição intelectual que tem por

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base o pensamento de dois autores alemães do século XIX − Karl Marx e Friedrich Engels.

No quinto capítulo, averiguaremos as contribuições de três correntes filosóficas para o pensamento pedagógico: a fenomenolo-gia, o existencialismo e o estruturalismo. Nesse capítulo, a questão central é a da liberdade humana e sua relação com as teorias e práticas pedagógicas.

Finalmente, no último capítulo, estudaremos a educação à luz do pragmatismo e da filosofia da linguagem, com ênfase em autores como Wittgenstein, John Dewey e Richard Rorty.

Como você pode perceber, este livro apresenta um panorama de algumas das mais importantes correntes filosóficas, especial-mente aquelas cujas contribuições para o pensamento pedagógico foram mais significativas. Uma obra dessa dimensão, é claro, não tem e nem pode ter a pretensão de esgotar o extenso campo da filosofia da educação. Porém, mais importante que conhecer o pensamento de cada filósofo em particular, é saber pensar filo-soficamente. Este é, portanto, nosso principal objetivo. Então, vamos começar?

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Organização didático-pedagógica

Seja como ciência que se debruça sobre os conjuntos de métodos elencados e utilizados para a educação dos indivíduos, seja como designação da área de atuação dos profissionais de ensino, a pedagogia caracteriza-se atualmente como um dos domínios do conhecimento mais explorados e, consequentemente, mais evidenciados. A presente obra, harmonizada com a urgente necessidade de discussões a respeito de temas delicados relacionados à área da pedagogia, investe seus esforços no debate referente à educação inclusiva, em todos os seus percalços, desafios e contradições. Para que o leitor deste livro possa usufruí-lo em todas as suas potencialidades, de forma dialógica e efetiva, apresentamos a seção destinada à organização didático-pedagógica da obra, no intuito de demonstrar todos os recursos de que a obra dispõe.

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• Síntese Cada capítulo da presente obra conta com um sumário dos conteúdos abordados, no intuito de demonstrar resumidamente a linha de raciocínio do autor e de facilitar a pesquisa de itens mais pontuais do texto.

• Iniciando o diálogo Logo na abertura do capítulo, você é informado a respeito dos conteúdos que nele serão abordados, bem como dos objetivos que a autora pretende alcançar.

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• Indicações culturais Com o objetivo de enriquecer os temas analisados e de sugerir fontes de pesquisas complementares, cada item da obra inclui sugestões do próprio autor a respeito de referências bibliográficas de livros, filmes, sites e outros materiais de mídias e suportes variados.

• Atividades de autoavaliação Para que o leitor possa testar os conhecimentos adquiridos no ato da análise da obra, ao final de cada capítulo constam atividades avaliativas de múltipla escolha, em um total de cinco questões.

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• Atividades de aprendizagem Essa seção conta com uma subdivisão analítica, consistindo em questões para reflexão e em atividades aplicadas: prática, as quais são apresentadas a seguir.

• Questões para reflexão Essas questões têm o objetivo de incentivar o leitor a confrontar conhecimentos acumulados nas leituras dos capítulos com o seu próprio conhecimento de mundo, levando-o a analisar as múltiplas realidades que o rodeiam.

• Atividades aplicadas: prática Com o objetivo de aliar os conhecimentos teóricos adquiridos nas leituras aos conhecimentos práticos dos quais o próprio leitor usufrui, as atividades práticas pressupõem propostas de cunho eminentemente dialógico, seja em proposições de enquetes, entrevistas ou mesmo depoimentos, seja nos trabalhos em grupo, que contribuem para o compartilhamento de informações e experiências.

• Bibliografia comentada A obra também lança mão de uma bibliografia mais detalhada, com considerações do próprio autor a respeito dos conteúdos explorados e da metodologia utilizada pelos autores citados, para que o leitor tenha um noção preliminar das obras com que terá contato.

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No segundo semestre de 1996, fui convidado a atuar como do-cente nas turmas do curso de Interdisciplinaridade do Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão (Ibpex). A iniciativa do professor Wilson Picler de criar o instituto foi certamente um marco importante na história da educação no Paraná. Mas, agora, com as demais empresas do grupo Uninter e com a ampliação de programas de graduação e pós-graduação na modalidade a dis-tância, o impacto dessa iniciativa se faz sentir com cada vez mais força também em nível nacional. Foi e continua a ser a realização de um projeto empresarial e pedagógico muito bem elaborado, contribuindo para o aprimoramento de profissionais de diferen-tes áreas e, consequentemente, para o avanço social em diversas regiões do Brasil.

Uma das disciplinas em que atuei durante muito tempo no Ibpex intitulava-se Pedagogia e Correntes Filosóficas. Com as

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aulas na pós-graduação, pude perceber com clareza aquilo que já suspeitava antes: os educadores, de modo geral, interessam-se muito por questões de filosofia, pois, afinal, elas dizem respeito à nossa condição existencial de seres permanentemente insatisfeitos. Insatisfeitos porque inexoravelmente comparamos as coisas como elas são com o que elas poderiam ser. Insatisfeitos porque, mesmo admitindo avanços na educação brasileira, sempre podemos imaginá-la como algo melhor do que aquilo que vivenciamos na prática. A disciplina de Filosofia, é claro, não nos dá as respostas para todas as questões educacionais, e é por isso que temos também outras, como Didática, Psicologia, Currículo, Organização Escolar etc. Mas a filosofia nos aguça o pensamento e nos ajuda, assim, a nortear a ação pedagógica de maneira mais lógica, criativa, segura e eficiente.

Na Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter) e no Centro Brasileiro de Educação a Distância (CBED), tive a oportu-nidade de atuar também com a disciplina de Filosofia da Educação no curso de graduação em Pedagogia, tanto na modalidade pre-sencial como a distância. Nessa experiência, deparei-me com a dificuldade em selecionar uma bibliografia de caráter geral para meus alunos. Os livros que encontrei, na maioria das vezes, eram didáticos, mas careciam de rigor conceitual, ou então tinham rigor conceitual, mas apresentavam uma linguagem tão complicada que acabavam perdendo seu caráter didático. Desde 2005, venho ali-mentando, pois, a ideia de escrever um livro de filosofia da educação que pudesse suprir essa lacuna. A escrita e a publicação da presente obra constitui assim o resultado de uma intenção já relativamente antiga, mas que só agora tomou forma definitiva.

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As questões colocadas pela filosofia – Qual o sentido da vida?; Qual a origem do mundo e do ser humano?; O que é o ser?; entre outras – são atemporais e interessam praticamente a todos os povos em todas as épocas. Você, por exemplo: quantas vezes já não deve ter proposto essas questões a si mesmo?

Em função disso, podemos dizer que os textos de filósofos do passado são

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tão atuais hoje em dia como na época em que foram escritos. Pensadores como Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Tomás de Aquino, René Descartes e Immanuel Kant, que viveram em épocas e culturas diferentes, são lidos e levados a sério até os dias de hoje, pois suas reflexões mais significativas dizem respeito a condições existenciais universais. Afinal, em todas as culturas é questionado sobre a vida após a morte, a existência de Deus ou de divindades, a razão de existirmos, o bem e o mal etc.

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Dentre tais questões atemporais, a que mais nos interessa é a reflexão de caráter especulativo sobre o processo de ensino-

-aprendizagem que constitui a Filosofia da Educação. As teorias e práticas pedagógicas, é claro, têm variado enormemente ao longo da história, pois o modo como um grego antigo ou um camponês medieval aprendiam, ou mesmo o conteúdo de sua aprendizagem, dependiam de condições sociais, políticas, econômicas e culturais que não são mais as nossas. Não obstante, a educação em si mesma, entendida como formação humana, sempre constituiu um fator importante nas sociedades humanas. A tensão entre o caráter uni-versalista da filosofia e seu desenvolvimento ao longo do tempo, a partir de sujeitos particulares, que viveram contextos sociais, polí-ticos, econômicos e existenciais também particulares, é que tornam o estudo da história da filosofia imprescindível. Conhecendo o contexto específico no qual determinado filósofo viveu e escreveu, podemos ter mais clareza sobre o tipo de indagações às quais ele procurava responder. Ao procuramos entender o modo como tais filósofos concebiam o processo de ensino-aprendizagem no passado, podemos entender melhor os desafios que a educação nos apresenta no presente.

Tradicionalmente, dividimos a história da filosofia em quatro grandes períodos: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Neste capítulo, faremos um apanhado geral da filosofia nos três primeiros períodos, perseguindo uma

No caso da filosofia da educação, isso se torna particularmente evidente, pois as concepções e métodos pedagógicos variaram imensamente de uma época para outra e, consequentemente, a reflexão filosófica sobre essas práticas foi influenciada por essas mudanças. Você, por exemplo, provavelmente possui valores, crenças e conhecimentos diferentes dos partilhados pela geração de seus pais. ilustração de mosaico

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questão geral, mas de grande interesse para a educação: a busca da verdade. Tendo como base um panorama da história da filosofia, poderemos conhecer as características mais importantes de cada período e, assim, compreender melhor as questões filosóficas que se colocam no presente, especialmente aquelas que dizem respeito à filosofia da educação.

1.1 O pensamento grego antigo

A reflexão filosófica não é privilégio exclusivo de quem possui formação acadêmica em Filosofia. Toda vez que você questiona o

“como” e o “porquê” de seus pensamentos e de suas ações, já está, de certo modo, filosofando. A filosofia, nesse sentido, seria tão velha quanto a própria humanidade. Entre muitos povos antigos, no entanto, as especulações filosóficas estavam tão misturadas às narrativas míticas que era quase impossível separar uma coisa da outra. Por isso, podemos dizer que a filosofia, como pensamento

que busca pensar a experiência hu-mana de modo distinto do pensa-mento mítico, surgiu primeiramente entre os antigos gregos.

No começo, as principais especulações filosóficas dos gregos da Antiguidade diziam respeito à natureza e aos fenômenos físicos. O ser humano era levado em consideração, sobretudo como ser biológico, como elemento do cosmo.

ilustração de mosaico com imagens de várias

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Mas, no período clássico da filosofia grega antiga, quando Atenas era o grande centro cultural e intelectual do mundo, os filósofos se voltaram cada vez mais para o estudo das dimensões ética e política da vida humana. Orgulhosos da constituição democrática de sua cidade, os cidadãos atenienses buscavam participar ativamente da vida pública. Isso exigia um conhecimento mínimo das leis e dos costumes, o que frequentemente levava a discussões acerca da ação humana em termos de bem e mal, certo e errado, justo e injusto.

Uma das questões mais importantes desse período era o pro-blema da verdade. Nos debates públicos, frequentemente havia divergência de opiniões, e as discussões, as trocas de ideias, em vez de resultarem em consenso, não raro acabavam só acentuando as divergências. Diante dessa situação, muitos pensadores atenienses, especialmente os pertencentes ao grupo dos sofistas, concluíam que a verdade, aquilo que todos anseiam conhecer, simplesmente não existe. Sendo incapazes de conhecer a verdade, deveríamos nos voltar para o domínio da opinião, que seria então o máximo que nossa inteligência poderia alcançar. Em outras palavras, deve-ríamos abandonar a pretensão de um conhecimento certo, total e objetivo e aceitar o fato de que o conhecimento humano é sempre duvidoso, parcial e subjetivo.

A solução sofista para o problema da verdade tem consequências éticas tremendas. Se não podemos ter certeza sobre o que quer que seja, então jamais poderemos afirmar categoricamente que uma ação é boa ou má, moral ou imoral. Tudo se torna uma questão de ponto de vista. Nessa perspectiva, ações como matar, mentir ou roubar podem perfeitamente ser consideradas boas se o sujeito que as pratica considerá-las boas. As noções de bem e mal, de certo e errado, esvaziam-se e, assim, mergulhamos no mais completo relativismo moral.

Diante dos dilemas colocados pelos sofistas, muitos filósofos gregos tentaram repensar o problema do conhecimento verdadeiro. Encontrar o fundamento da verdade significaria encontrar também o princípio norteador de toda a ação moral.

Embora tenha sido uma personalidade importante em seu tempo (século V a.C.), Sócrates não deixou escrito algum. Por isso, hoje só podemos conhecê-lo de forma indireta, por meio do que outros – tanto admiradores como inimigos – escreveram sobre ele. O princípio socrático, o de que somos capazes de alcançar um conhecimento verdadeiro das coisas, foi posteriormente desenvol-vido por dois outros filósofos importantes − Platão e Aristóteles − que viveram no século IV a.C. Cada um deles deu uma solução diferente ao problema da verdade e, consequentemente, derivaram dessas soluções/concepções filosóficas também diferentes.

Coloque-se agora no lugar de um grego da Antiguidade que quisesse defender os princípios morais de sua cultura contra o relativismo moral dos sofistas. Que argumentos você utilizaria?

Foi por essa linha que Sócrates, um dos principais pensadores de toda a Antiguidade, enveredou. Para ele, a razão é perfeitamente capaz de alcançar a verdade, mas o discurso humano está muitas vezes tão carregado de ambiguidades e contradições que não podemos vê-la claramente. A dificuldade, portanto, estaria não na natureza da verdade, mas no método para obtê-la.

Acompanhe com atenção nas próximas páginas, portanto, as propostas desses pensadores.

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Diante dos dilemas colocados pelos sofistas, muitos filósofos gregos tentaram repensar o problema do conhecimento verdadeiro. Encontrar o fundamento da verdade significaria encontrar também o princípio norteador de toda a ação moral.

Embora tenha sido uma personalidade importante em seu tempo (século V a.C.), Sócrates não deixou escrito algum. Por isso, hoje só podemos conhecê-lo de forma indireta, por meio do que outros – tanto admiradores como inimigos – escreveram sobre ele. O princípio socrático, o de que somos capazes de alcançar um conhecimento verdadeiro das coisas, foi posteriormente desenvol-vido por dois outros filósofos importantes − Platão e Aristóteles − que viveram no século IV a.C. Cada um deles deu uma solução diferente ao problema da verdade e, consequentemente, derivaram dessas soluções/concepções filosóficas também diferentes.

Coloque-se agora no lugar de um grego da Antiguidade que quisesse defender os princípios morais de sua cultura contra o relativismo moral dos sofistas. Que argumentos você utilizaria?

Foi por essa linha que Sócrates, um dos principais pensadores de toda a Antiguidade, enveredou. Para ele, a razão é perfeitamente capaz de alcançar a verdade, mas o discurso humano está muitas vezes tão carregado de ambiguidades e contradições que não podemos vê-la claramente. A dificuldade, portanto, estaria não na natureza da verdade, mas no método para obtê-la.

Acompanhe com atenção nas próximas páginas, portanto, as propostas desses pensadores.

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Platãoa

A problemática que move toda a teoria platônica do conheci-mento se baseia na distinção entre duas ordens de seres: as ideias e as coisas. As coisas nos remetem a tudo aquilo que po-demos perceber pelos sentidos: o que podemos ver, tocar, cheirar, ouvir, degustar. Mas elas estão sempre mudando. O que é quente esfria, o que é jovem envelhece, e o que hoje é de um jeito amanhã já será de outro. O puro pensamen-to, pelo contrário, permite-nos ter acesso a ideias imutáveis, como a ideia do bem, da verdade e da jus-

tiça. Para Platão, as ideias, sendo eternas, devem ser necessaria-mente superiores às coisas, que são transitórias.

A teoria de Platão sobre o conhecimento está estreitamente ligada ao modo como ele entende o ser humano. O homem, segundo o filósofo, resulta da união de dois elementos heterogêneos − a alma inteligível e o corpo material. A alma humana, em virtude de sua imaterialidade, é da mesma natureza das ideias e, portanto, tem uma predisposição natural para conhecê-las. Além disso, tal como as ideias, a alma humana é imortal: ela sempre existiu e sempre vai

a. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Platão (1995).

Platão (428-347 a.C.) foi

o mais notável pupilo de

Sócrates. Sistematizando

o conhecimento do mestre,

Platão situou questões éti-

cas, políticas e pedagógicas

numa perspectiva metafísica.

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existir. O corpo, ao contrário, é mortal e não pode aspirar ao conhecimento das verdades eternas existentes no mundo das ideias.

Você provavelmente deve estar pensando: “Essa história de alma e corpo mais parece uma conversa sobre religião do que filosofia”. E, em parte, isso não está errado, pois Platão recebeu muita influência das religiões da Índia. É necessário, porém, que você nunca perca de vista que o pensamento platônico, embora partindo de crenças mítico-religiosas, ultrapassa muito o campo religioso em seu modo de argumentação e em suas con-clusões. Vejamos como isso acontece.

Para Platão, a união entre o corpo e a alma se dá de forma violenta. O corpo serve de prisão para a alma, que, enquanto estiver unida a ele, permanece incapaz de ascender ao mundo inteligível. O conhecimento humano só é possível porque as coisas materiais, sendo cópias, guardam semelhanças com as ideias que elas imitam. O reconhecimento dessa semelhança faz despertar na alma humana as ideias que nela já existiam desde antes de se unir ao corpo, mas que se encontravam adormecidas.

Na concepção platônica, as ideias são seres perfeitos, que existem por si mesmos desde sempre e para sempre. Elas habitam um mundo perfeito, chamado por Platão de mundo das ideias. As coisas, por sua vez, são seres degradados, cópias imperfeitas das ideias eternas existentes no mundo das ideias.

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Na teoria platônica, a alma intelectiva é o que há de mais nobre no ser humano, o qual se eleva à medida que desenvolve seu intelecto. Ao contrário, o homem se rebaixa quando cede aos impulsos corpóreos. Com base nisso, podemos deduzir o ideal pla-tônico de virtude: fazer com que a alma (a razão) sempre domine as ações humanas. A alma conhece o bem e a ele sempre se dirige. O corpo, ao contrário, é atraído pelas coisas materiais e se sente satisfeito ao se relacionar com essa ordem inferior de seres. Para sermos virtuosos, portanto, devemos seguir sempre as diretrizes de nossa razão, mesmo que estas sejam contrárias aos impulsos corpóreos.

Aristótelesb

Aristóteles estudou na Academia, escola fundada por Platão em Atenas, e muitas de suas ideias se aproximam muito da filosofia platônica. Tal como Platão, Aristóteles concebe o ser humano como dotado de dois elementos: a alma e o corpo. Também como Platão, Aristóteles considera a alma mais nobre que o corpo e que, portanto, a primeira deve prevalecer sobre o segundo. Entretanto, diferentemente de Platão, Aristóteles não aceita a existência do mundo das ideias. Para ele, a realidade é exatamente aquilo que conhecemos por meio dos sentidos, e as ideias só existem na mente humana e não em um mundo separado e superior ao nosso, como acreditava Platão. Como você pode perceber, portanto, a

b. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Aristóteles (1969).

Platão é encantador, você não acha? Mas não pense que a filosofia grega se resume ao pensamento platônico. Na Grécia Antiga houve muitos pensadores que trouxeram contribuições muito diferentes daquelas esboçadas por Platão. Um deles é Aristóteles, que você estudará a seguir.

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filosofia aristotélica assume um ca-ráter menos idealista que a filoso-fia platônica. Veja a seguir as con-sequências desse posicionamento.

Ao rejeitar a teoria platônica do mundo das ideias, Aristóteles corria o risco de não admitir nada de permanente, uma vez que as coisas estão em perpétua mudança. Além disso, como explicar que possamos formar em nossa mente ideias gerais se o conhecimento só vem dos sentidos, que nos apresen-tam unicamente coisas particulares?

Aristóteles superou essas dificuldades afirmando que as coisas, mesmo sendo particulares, possuem uma essência, que é universal. Por exemplo: Maria, João, Pedro, Alexandre e Diana são pessoas, seres humanos singulares. Mas há algo em comum entre eles: a sua humanidade. Enquanto os seres humanos nascem, crescem, envelhecem e morrem, a humani-dade, que é comum a todos, permanece sempre a mesma. Segundo Aristóteles, portanto, adquirir ideias significa conhecer justamente isto: a essência, aquilo que per-manece diante das mudanças.

É importante observarmos que a teoria aristotélica valoriza em certa medida o corpo. Os ape-tites do corpo, portanto, devem ser satisfeitos, pois a saúde e o vigor

Da moral à literatura, a con-

tribuição de Aristóteles

(383-322 a.C.) é atemporal

e incontestável. Criador da

lógica formal, é considerado

um dos principais filósofos da

Antiguidade.

Para Aristóteles, corpo e alma estão unidos em um vínculo de dependência recíproca, isto é, para existirem, um depende do outro.

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do corpo contribuem também para a saúde e o vigor da alma. Assim, o ser humano deve, na medida do possível, buscar satisfazer o corpo e a alma para encontrar a felicidade. Para Aristóteles, a vida vir-tuosa não é a recusa dos prazeres corpóreos, como queria Platão, mas a moderação, a atitude daquele que evita os excessos.

Filosofia grega: passado e presente

Martin Heidegger, importante filósofo do século XX, afirmou certa vez que a filosofia é grega em sua essência (Heidegger, 1976). Se você acha que isso deve ser um exagero, esteja certo: é mesmo! Mas, não pretendemos dizer com isso que nada de original em termos de filosofia tenha sido produzido desde os gregos antigos. Outros povos, vivendo em outros contextos históricos, viram-se diante de desafios que os gregos antigos ignoravam. Ainda assim, muitos dos principais problemas com os quais a filosofia lida até os dias de hoje realmente remontam à Grécia Antiga.

1.2 O pensamento medievalc

Durante a Idade Média, no Ocidente, a filosofia tratou de mui-tos dos mesmos problemas que haviam ocupado as mentes dos gregos da Antiguidade:

c. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Boehner e Gilson (2003).

Tendo estudado Platão e Aristóteles, reflita por alguns instantes e responda: Com qual desses autores você mais se identifica? É isso mesmo: você certamente assumiu uma preferência por um ou outro pensador e é isso o que torna a história do pensamento filosófico tão fascinante. Tendo isso em vista, debata sempre que possível com seus colegas sobre o que o pensamento dos autores estudados significa para a sua vida e para sua prática profissional de educador.

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• O que é o ser?;

• Qual é a natureza do pensamento?;

• Qual é o sentido da vida?;

• Qual é o fundamento dos valores?;

• O que é a liberdade?;

• O que é a política?.

A cultura medieval, contudo, sofreu forte influência do cristianismo, uma religião cujos princípios os gregos ignoravam. A religião cristã, em muitos aspectos, era um obstáculo à livre reflexão filosófica. Se, por um lado, muitos pensadores desse período foram condenados por apresentarem ideias contrárias à fé cristã, por outro, inúmeros problemas teológicos serviam como estímulo à reflexão filosófica. A relação entre a religião e a filosofia, portanto, resultou em formas de pensamento bastante originais, nas quais temas antigos – o conhecimento, a ética, a política, a metafísica etc. – passavam a ser vistos sob nova luz.

Uma das principais novidades do pensamento medieval em relação à filosofia grega antiga diz respeito à relação entre a razão humana e o conhecimento da verdade. Para os gregos da Antiguidade, a razão é o que de mais nobre há em nós, pois é o que distingue o ser humano dos animais. É por ela que podemos alcançar a verdade. Para o cristianismo, porém, a verdade não é

“algo”, mas “alguém”: Deus. E, de acordo com a fé cristã, nosso

Mesmo que não siga nenhuma religião, você provavelmente tem noção de que a adesão a uma determinada crença religiosa implica a aceitação de inúmeros preceitos. Assim, você pode imaginar que os medievais, muito mais apegados à religião do que nós, que vivemos em uma época mais liberal, não se sentiam livres para “pensar” tudo o que queriam.

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conhecimento de Deus se encontra comprometido por causa do pecado: pelo fato de sermos criaturas pecadoras, criamos um abismo intransponível entre nossa razão e a verdade, que se iden-tifica com o próprio Criador.

Desse modo, a filosofia cristã inverte a questão originalmente proposta pelos gregos, para os quais a razão tende natu-ralmente à verdade. Nesse caso, como são possíveis o erro e a ignorância? Já para os filósofos cristãos, é exatamente o contrário: Se a razão se encontra deformada pelo pecado, então como é possível conhecer a verdade?

Sendo assim, a verdade absoluta, em uma perspectiva cristã, só pode ser conhecida por meio da fé. Mas, nem sempre fé e razão coincidem, e desse conflito emergiram os principais problemas filosóficos na Idade Média. Fé e razão, originadas de um mesmo e único Deus, não deveriam estar em desacordo. Se isso ocorre, é porque não se raciocinou corretamente ou se interpretou mal a fé.

Um dos grandes desafios enfrentados pela filosofia cristã foi a assimilação das ideias de Aristóteles. Até o fim do século XII, o filósofo grego era praticamente desconhecido no Ocidente. Porém, muitos pensa-dores islâmicos dessa época não só liam as obras de Aristóteles como também faziam interpre-tações muito ousadas do ponto de vista religioso. Segundo a interpretação de alguns desses

Para o cristianismo, porém, a verdade não é “algo”, mas “alguém”: Deus.

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filósofos, Aristóteles concebia o mundo como eterno e a alma humana como mortal. Ora, a religião cristã, ao contrário, nos diz que o mundo foi criado por Deus – e, portanto, não é eterno – e que a alma sobrevive à morte do corpo – e, portanto, não é mortal.

Durante o século XIII, diante do “perigo” que as ideias de Aristóteles representavam, muitas autoridades religiosas procura-ram evitar a divulgação de suas obras. Alguns intelectuais da época, porém, acreditavam que era possível conciliar a filosofia aristotélica com a fé cristã. Foi o caso, por exemplo, de Tomás de Aquino, que, servindo-se de ótimas traduções dos livros escritos pelo filósofo grego, procurou provar que os pontos mais controversos para a fé cristã não haviam sido colocados pelo próprio Aristóteles, mas sim por seus comentadores islâmicos. Além disso, Tomás de Aquino argumentava que a filosofia aristotélica é bastante útil nas dis-cussões com os que não são cristãos e que não aceitam a verdade bíblica como definitiva.

Nos dias de hoje, talvez muitas das discussões filosóficas realizadas na Idade Média pareceriam sem sentido. De que adiantaria, por exemplo, debater horas a fio acerca da natureza de Cristo, da imortalidade da alma ou até mesmo do sexo dos anjos? Mas, é importante que procuremos entender a mentalidade da época. Para os medievais, cuja cultura era quase completamente dominada pela religião cristã, a vida neste mundo é apenas passageira. Por isso é que essas questões eram tratadas com paixão: saber responder a elas adequadamente poderia significar a diferença entre a salvação e a danação eternas. Ne

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1.3 O pensamento modernod

No início da Idade Moderna, a Igreja – e consequentemente a religião cristã – já não exercia um papel tão acentuado na cul-tura do Ocidente. Em função disso, muitos filósofos voltavam a valorizar a razão, considerando-a uma via segura de acesso ao conhecimento da verdade. Contudo, a filosofia moderna não po-deria simplesmente voltar a uma crença ingênua, comum entre os gregos, de que a razão tenderia “naturalmente” à verdade. O cristianismo havia questionado seriamente o alcance da razão hu-mana, e os filósofos modernos não podiam pura e simplesmen-te ignorar essa crítica. Por isso é que a filosofia moderna tomou como principal fundamento a questão do conhecimento.

Nesse sentido, podemos identificar duas grandes correntes de pensamento: o racionalismo e o empirismo, cada uma delas procurando dar a sua resposta a essas questões. Procure acompa-nhar e entender as características de cada uma dessas linhas de pensamento.

Para o racionalismo, todo conhecimento verdadeiro deriva da pura razão. Sendo assim, essa corrente privilegia o método dedu-tivo, no qual, com base em enuncia-dos gerais, chegamos a conclusões de caráter particular, sem o auxílio da experiência. Para o empirismo, ao

d. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Crescenzo e Fondelli (2007).

Antes de afirmar algo como verdadeiro, era necessário explicar “como” e “por que” a razão poderia alcançar a verdade.

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contrário, tudo o que há de verdadeiro na mente humana deve ter passado primeiramente pela experiência. Desse modo, o empirismo privilegia o método indutivo, pelo qual, por meio de experiências particulares, somos capazes de alcançar um conhecimento mais amplo.

René Descartes, que viveu no século XVII, foi um dos mais influentes filósofos racionalistas. Para esse pensador, a essência do ser humano era o pensamento. Tanto assim que, para ele, o corpo e a alma seriam duas substâncias absolutamente distintas e independentes, sendo que o meu “eu” se identificaria com a alma, mas não com o corpo.

Como afirmava Descartes, se, para pensarmos, não necessi-tamos de nada material, é porque o conhecimento da verdade não depende dos sentidos. Para esse filósofo, as ideias humanas são inatas, isto é, já nascem conosco e só vão se manifestando à medida que vamos desenvolvendo nosso intelecto.

Veja agora o que dizem os empiristas:

Em oposição a Descartes, os filósofos empiristas não aceitam a teoria das ideias inatas. Francis Bacon, filósofo empirista inglês do início da Idade Moderna, ao contrário do filósofo francês, enfatiza a importância de coletarmos informações pela experiência para só então submetê-las à razão. Assim como os pensadores cristãos, Bacon (1979) também acredita na existência de obstáculos que impedem a razão de alcançar a verdade. Contrariamente ao cristianismo, porém, Bacon não identifica esses obstáculos com o pecado, mas sim com os nossos preconceitos.

Como você pode perceber, o racionalismo privilegia as ideias em detrimento dos aspectos materiais. O que você acha disso?

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Segundo esse filósofo, existem basicamente quatro tipos de preconceitos – também chamados por ele de ídolos – que impedem o acesso da razão ao conhecimento da realidade. O primeiro erro consiste em tomarmos como verdadeiro tudo o que os nossos sen-tidos nos apresentam. O segundo erro é aceitar como verdade tudo o que nos foi passado pela educação. O terceiro erro ocorre quando confiamos demais no prestígio e na autoridade de quem afirma alguma coisa. Finalmente, o quarto erro ocorre quando entende-mos equivocadamente o sentido das palavras e das expressões da linguagem. Nesse contexto, o termo preconceito deve ser entendido não no sentido somente moral, mas como toda idéia preconcebida, tudo aquilo que achamos ou imaginamos antes de confrontar a realidade dos fatos.

Para Bacon (1979), os preconceitos, embora dificultem o conhecimento da verdade, não representam um obstáculo intrans-ponível. Averiguando com cuidado as informações que recebe-mos, seremos perfeitamente capazes de alcançar um conhecimento seguro da realidade. O empirismo se coloca assim como um posi-cionamento crítico em relação ao racionalismo.

Nem racionalismo, nem empirismo: a síntese de Kante

As especulações filosóficas da Idade Moderna foram, em parte, reflexo das mudanças que ocorriam na época tanto no campo da

e. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Crescenzo e Fondelli (2007).

Mas, e você: que posicionamento filosófico julga mais coerente? Se você ainda não tem uma opinião definida, leia mais e procure entender melhor as questões que estão em jogo. Mas, se já assumiu um posicionamento pessoal em relação à oposição entre empirismo e racionalismo, leia para fundamentar melhor sua opinião ou se certificar de que ela é a mais coerente.

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Segundo esse filósofo, existem basicamente quatro tipos de preconceitos – também chamados por ele de ídolos – que impedem o acesso da razão ao conhecimento da realidade. O primeiro erro consiste em tomarmos como verdadeiro tudo o que os nossos sen-tidos nos apresentam. O segundo erro é aceitar como verdade tudo o que nos foi passado pela educação. O terceiro erro ocorre quando confiamos demais no prestígio e na autoridade de quem afirma alguma coisa. Finalmente, o quarto erro ocorre quando entende-mos equivocadamente o sentido das palavras e das expressões da linguagem. Nesse contexto, o termo preconceito deve ser entendido não no sentido somente moral, mas como toda idéia preconcebida, tudo aquilo que achamos ou imaginamos antes de confrontar a realidade dos fatos.

Para Bacon (1979), os preconceitos, embora dificultem o conhecimento da verdade, não representam um obstáculo intrans-ponível. Averiguando com cuidado as informações que recebe-mos, seremos perfeitamente capazes de alcançar um conhecimento seguro da realidade. O empirismo se coloca assim como um posi-cionamento crítico em relação ao racionalismo.

Nem racionalismo, nem empirismo: a síntese de Kante

As especulações filosóficas da Idade Moderna foram, em parte, reflexo das mudanças que ocorriam na época tanto no campo da

e. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Crescenzo e Fondelli (2007).

Mas, e você: que posicionamento filosófico julga mais coerente? Se você ainda não tem uma opinião definida, leia mais e procure entender melhor as questões que estão em jogo. Mas, se já assumiu um posicionamento pessoal em relação à oposição entre empirismo e racionalismo, leia para fundamentar melhor sua opinião ou se certificar de que ela é a mais coerente.

cultura quanto no da ciência. A ciência moderna buscava estabe-lecer leis gerais a partir de experiências particulares. Mas o empi-rismo e o racionalismo explicam, cada um à sua maneira, apenas parte da realidade. Para o empirismo, o conhecimento provém só da experiência e, como ela é sempre particular, o conhecimento não pode ter caráter universal. O racionalismo, por sua vez, afir-ma que o conhecimento deriva da pura razão, e é ela que garante a universalidade do conhecimento. Porém, este último nega que a

experiência possa fundamentar o conhecimento.

A questão que perturbava o pensamento moderno, por-tanto, era a seguinte: Como o conhecimento científico pode ser universal (tese racionalista) e ao mesmo tempo proveniente da experiência (tese empirista), se empirismo e racionalismo são posições filosóficas irreconcili-áveis? Essa é uma questão que certamente já lhe veio à mente na leitura do item anterior. Acompanhe a seguir uma das mais importantes respostas já dadas a esse problema na his-tória do pensamento filosófico.

Uma das soluções encontradas na filosofia moderna para o impasse entre racionalismo e empirismo foi a crítica do filósofo alemão Immanuel Kant. Para ele, o conhecimento envolve sempre dois elementos: o sujeito (aquele que conhece) e o objeto (aquilo

O pensamento de Immanuel

Kant (1724-1804) foi responsá-

vel por uma revolução da filosofia

de sua época. Sua obra Crítica

da razão pura explora de maneira

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que é conhecido). Segundo Kant, o erro dos racionalistas é acreditar que o conhecimento deriva da pura ação do sujeito, independente-mente do objeto. Os empiristas, por sua vez, equivocam-se ao achar que o conhecimento decorre do puro objeto, como se o sujeito se comportasse de modo puramente passivo nesse processo. De acordo com o filósofo alemão, portanto, o conhecimento é resul-tado não só do sujeito, nem só do objeto, mas da ação combinada de ambos. É a ação do sujeito que permite conferir universalidade ao conhecimento, mas é a experiência que o mantém sempre renovado. Com isso, Kant consegue explicar filosoficamente aquilo que os cientistas já realizavam na prática.

1.4 A filosofia depois de Kant

A solução kantiana para o problema do conhecimento, contu-do, não é definitiva. Se o sujeito exerce um papel ativo no ato de conhecer é porque ele, de certa forma, o constrói como objeto de conhecimento. Com isso, Kant chega perigosamente próximo de negar a necessidade do objeto.

Outros filósofos, posteriores a Kant, deram esse passo, ori-ginando assim a uma corrente filosófica chamada idealismo. Da crítica aos idealistas, como Johann Gottlieb Fichte ou Georg Wilhelm Friedrich Hegel, por seus sistemas abstratos, desvincu-lados e indiferentes às vicissitudes da existência mundana, surgiu outra corrente chamada materialismo, representada, por exemplo, por autores como Ludwig Feuerbach ou Karl Marx. E, assim, a

Você pode até discordar da solução kantiana para o problema do conhecimento, mas, mesmo assim, ela não é genial?

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filosofia contemporânea foi progressivamente acentuando o plu-ralismo das perspectivas filosóficas.

A partir de então, fica cada vez mais difícil acreditar em uma grande síntese que ponha fim aos debates e que apresente uma solução final para os problemas humanos, o que, no fundo, não deixa de ser positivo.

Síntese

A filosofia lida com questões perenes, na maioria das vezes válidas para todos os povos e em todas as épocas. Contudo, devemos levar sempre em consideração que os filósofos viveram em contextos histórico-sociais particulares e que, em grande medida, seu pensamento foi influenciado por esse contexto. Daí a importância do estudo da história da filosofia.

Podemos identificar na Grécia Antiga uma reorientação da filosofia, especialmente em Atenas, onde os filósofos gregos anti-gos passam a se interessar mais por questões éticas e políticas e epistemológicas. Neste último campo, de implicações importantes para a filosofia da educação, podemos destacar as figuras de Platão e Aristóteles. Para o primeiro, o conhecimento é derivado do reco-nhecimento, no mundo material, de ideias primordiais existentes em uma esfera separada e superior à nossa. Para Aristóteles, por outro lado, o conhecimento do universal se faz por meio da abs-tração, isto é, do conhecimento das essências das próprias coisas.

Como o ser humano é realmente um ser extraordinariamente complexo, devemos olhar com suspeita uma cultura na qual todos pensem exatamente da mesma maneira. Procure pesquisar em livros de história da filosofia ou em textos de filósofos acerca de outras correntes e escolas filosóficas e complemente seus conhecimentos.

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No período medieval, as especulações sobre o conhecimento encontram-se subordinadas à fé cristã. Em outras palavras, o conhecimento da verdade se identificava com o conhecimento de Deus por meio das escrituras e do magistério da Igreja. O estudo de filósofos antigos, nesse sentido, justificava-se na medida em que não contrariassem as verdades da fé.

A teoria do conhecimento no mundo moderno procura resga-tar a legitimidade da razão que os medievais haviam colocado sob suspeita. Nesse sentido, a filosofia moderna se constitui a partir de uma crítica que a razão faz de si mesma. As principais correntes de pensamento no mundo moderno foram o racionalismo e o empirismo − o primeiro afirmava a primazia da razão e o segundo a primazia da experiência para o conhecimento humano. Immanuel Kant, pensador alemão que se situa na passagem da época moderna à contemporânea, buscou uma síntese dessas correntes, afirmando que o conhecimento provém de uma ação combinada do sujeito e do objeto.

Indicações culturais

Filme

O NOME da rosa. Direção: Jean Jacques Annaud. Produção: Bernd Eichinger. Itália/

França/Alemanha: 20th Century Fox Film Corporation, 1986.

Baseado no livro homônimo de Umberto Eco, o filme narra uma história de mistério ambientada na Idade Média. Embora muitos dos ricos diálogos de cunho filosófico do livro estejam ausentes no filme, ainda assim é interessante observar os valores da época, em especial a importância que se dava à leitura de Aristóteles e à ameaça que ele representava para a fé cristã na época.

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Livros

GAARDER, J. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

O livro narra, de forma romanceada e bastante envolvente, algumas das principais correntes e autores da filosofia no Ocidente.

PENHA, J. da. Períodos filosóficos. São Paulo: Ática, 1987. (Série Princípios).

Resumidamente, o autor apresenta os principais períodos, autores e correntes da filosofia.

MONDIN, B. Curso de filosofia. São Paulo: Paulinas, 2001. 3 v.

Obra de referência em três volumes, abrangendo a filosofia antiga, medieval, moderna e contemporânea. Embora seja uma obra mais extensa, a sua leitura é interessante caso exista interesse em apro-fundar o estudo de um período ou do pensamento de um filósofo em particular.

Atividades de autoavaliação

Nas questões 1 e 2, assinale (V) para as proposições verdadeiras e (F) para as falsas.

1. Falso ou verdadeiro?

)( Afirmar que os problemas filosóficos são atemporais significa dizer que eles remetem a condições universais da existência humana.

)( Apesar de os filósofos viverem situações históricas particulares, seu pensamento pouco ou nada tem a ver com o contexto histórico em que vivem ou viveram.

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)( As concepções e métodos pedagógicos variaram imensa-mente de uma época para a outra e, consequentemente, a reflexão filosófica sobre essas práticas foi influenciada por essas mudanças.

)( Ao dividirmos os períodos filosóficos, geralmente excluí- mos a Idade Antiga, pois pensadores antigos, como Sócrates, Platão e Aristóteles, são considerados hoje mais como poetas e/ou líderes religiosos e não tanto como filósofos.

Agora, assinale a alternativa que indica a sequência correta:

a) V, F, F, V.

b) F, V, F, V.

c) V, F, V, F.

d) V, V, V, F.

2. Falso ou verdadeiro?

)( As especulações filosóficas gregas se referiam principal-mente a questões sobre o cosmo; as questões éticas e po-líticas só começaram a ser levadas a sério na época con-temporânea.

)( Na concepção platônica, as ideias são seres perfeitos, que existem por si mesmos desde sempre e para sempre.

)( De acordo com a fé cristã, nosso conhecimento de Deus se encontra comprometido por causa do pecado.

)( Tal como os gregos antigos, os filósofos modernos afir-mam que a razão tende “naturalmente” ao erro, em fun-ção do pecado original.

Agora, assinale a alternativa que indica a sequência correta:

a) V, F, F, V.

b) F, V, V, F.

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c) V, F, V, F.

d) V, V, V, F.

3. Considerando a filosofia grega antiga, assinale a alternativa correta:

a) Os cidadãos atenienses buscavam participar ativamente da vida pública, falo que exigia um conhecimento mínimo das leis e dos costumes, estimulando, assim, discussões so-bre ética e política.

b) Tendo sido uma personalidade importante de seu tempo, Sócrates nos legou diversos textos escritos, a maioria deles de próprio punho.

c) Para Platão, são os dados brutos da experiência, e não o pensamento, que nos permitem ter acesso às ideias imutá-veis, como a ideia do bem, da verdade e da justiça.

d) A vida virtuosa para Aristóteles é a recusa dos prazeres corpóreos, e não a moderação, como queria Platão.

4. Considerando a filosofia medieval, assinale a alternativa incorreta:

a) Durante a Idade Média, no Ocidente, a filosofia tratou de muitos dos mesmos problemas que haviam ocupado as mentes dos gregos antigos.

b) A religião cristã, em muitos aspectos, era um obstáculo à livre reflexão filosófica e, por isso, diversos pensadores me-dievais foram condenados por apresentarem ideias contrá-rias à fé cristã.

c) A verdade absoluta, em uma perspectiva cristã, só pode ser conhecida por meio da fé.

d) Os filósofos antigos, e especialmente os gregos, eram pra-ticamente desconhecidos no período medieval.

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5. Considerando a filosofia moderna, assinale a alternativa correta:

a) Para o empirismo, todo conhecimento verdadeiro deriva da pura razão. Sendo assim, essa corrente privilegia o mé-todo dedutivo.

b) Para o racionalismo, tudo o que há de verdadeiro na mente humana deve ter passado primeiramente pela experiência. Nesse sentido, o racionalismo privilegia o método indutivo.

c) De acordo com Kant, portanto, o conhecimento é resul-tado não só do sujeito, nem só do objeto, mas da ação combinada de ambos.

d) Para Kant, é a experiência que permite conferir univer-salidade ao conhecimento, mas é a ação do sujeito que o mantém sempre renovado.

Atividades de aprendizagemQuestões para reflexão

1. Compare o pensamento de Platão com o de Aristóteles. Identifique semelhanças e diferenças.

2. De que modo o cristianismo afetou a filosofia medieval?

3. Explique a síntese kantiana sobre o racionalismo e o empirismo.

Atividade aplicada: prática

Faça uma pesquisa sobre qualquer um dos filósofos mencionados neste capítulo. Apresente um pouco de sua vida, suas principais obras e um resumo de suas ideias.

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O naturalismo

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O naturalismo é uma tendência filosófica característica do período moderno. Para entendê-la, você precisa ter em mente a oposição entre natureza e civilização. A natureza corresponde àquilo que não surgiu a partir da ação humana: nuvens, rios, vegetação nativa, animais selvagens, peixes, crustáceos etc. Trata-se do conjunto de elementos que, nos dias

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de hoje, chamamos de meio ambiente. Já a civilização é resultado da transformação da natureza pelas sociedades humanas: cidades, ciência, arte, literatura, ou mesmo um jardim cultivado. Embora essa distinção pareça relativamente fácil, ela é extremamente problemática. Os seres humanos, que forjaram e que sustentam as civilizações, são eles próprios seres biológicos – animais – e, portanto, são também parte da natureza.

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O naturalismo parte do pressuposto de que a natu-reza é essencialmente boa e que o aperfeiçoamento físico e moral se dá à medida que nos afastamos de nossas prá-ticas civilizadas e retornamos a um estado natural.

O mais influente filó-sofo da vertente naturalista é

Jean-Jacques Rousseau, pensador natural de Genebra, nascido no século XVIII. Segundo Rousseau, o homem é bom por natureza, mas a sociedade o corrompe. Em muitos aspectos, porém, ele estava na contracorrente de seu tempo e polemizava frequentemente com seus contemporâneos. Por isso, antes de tratarmos especificamente de Rousseau, é importante esboçarmos um panorama geral do ilu-minismo, movimento filosófico e cultural extremamente influente no século XVIII e com o qual a filosofia de Rousseau se articula. Estudando a filosofia de Rousseau, você entrará em contato com um dos sistemas de pensamento que mais exerceram influência na história do pensamento pedagógico. Então, vamos começar?

2.1 O iluminismoa

O iluminismo representa o auge de um movimento de ruptura para com as tradições herdadas do período medieval. Durante o

a. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Souza (2001).

O naturalismo postula um retorno a nós mesmos, à nossa verdadeira essência, entendendo que a civilização que construímos é um mundo artificial, representando a origem dos males morais e até mesmo físicos.

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Renascimento (séculos XIV a XVII), houve uma intensa valorização do ser humano, mas muitos aspectos da sociedade medieval ainda se mantinham, como a estrutura aristocrática da sociedade e o apego ao latim. Mesmo a Reforma Protestante, que abalou o domínio da Igreja Católica no mundo europeu do século XVI, não alterou o fato de que a fé cristã continuava exercendo um grande fascínio na mentalidade das pessoas da época.

Contudo, a emergência de uma nova classe social – a bur-guesia – alterou lenta, mas continuamente, esse estado de coisas. No século XVIII, a burguesia já se encontrava em estado de pleno desenvolvimento, disputando o poder com a nobreza e, em algumas ocasiões, tomando esse poder para si, como no caso da Revolução Francesa e da Revolução Americana. Essa disputa de poder era consequência da valorização do ideal burguês, de enriquecimento por meio do trabalho, em contraste com o ideal da nobreza, que mantinha uma sociedade de privilégios com base nas distinções de nascimento.

Como forma de contestar os privilégios dos nobres, filósofos iluministas, de inspiração burguesa, empreendiam uma dura crítica ao regime monárquico absolutista, que era a base de sustentação da nobreza. Os iluministas criticavam também o clero, visto como outra categoria social, ao lado da nobreza, que mantinha vantagens políticas e econômicas indevidas. Um dos mais característicos pensadores iluministas foi François-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo de Voltaire. Em sua obra Cartas inglesas (1984), por exemplo, encontramos uma série de elogios à política e à sociedade

Tente se colocar no lugar de uma pessoa que viveu naquela época: quantas transformações! E qual o impacto dessas transformações para a filosofia da educação? É o que você verá a seguir!

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da Inglaterra, o que, na verdade, era uma forma disfarçada de criticar as instituições francesas.

Ao discorrer sobre a política, por exemplo, Voltaire se mostra entusiasmado pelo sistema parla-mentarista, no qual o rei tem de se submeter a um parlamento. Nesse sistema, o monarca é livre para fazer o bem, mas tem as mãos ata-das para fazer o mal. Com esse elo-gio, Voltaire criticava veladamente o sistema político francês, no qual o rei tinha o poder absoluto para o bem, mas principalmente para o mal. Ao tratar da religião, esse pensador constata com entusiasmo o cenário inglês, no qual havia uma plurali-dade de crenças e uma relativa tole-rância religiosa, em contraste com a França, onde católicos e protestan-tes se confrontaram em episódios sangrentos.

No livro Cândido (2001), Voltaire retoma os mesmos temas – valorização da razão e do ideal burguês, crítica à Igreja e à monarquia absolutista –, mas dois aspectos devem ser ressaltados. Em primeiro lugar, trata-se daquilo que seu próprio autor chamou de romance filosófico. Em vez de escrever um tratado, Voltaire nos conta uma história na qual o personagem principal, um jovem chamado Cândido, vive uma série de desventuras. Em segundo lugar, a obra nos dá uma oportunidade de discutirmos a concepção

Voltaire (1694-1778) foi

um dos maiores expoentes

do iluminismo. Filósofo

explicitamente a favor da

reforma social francesa, cri-

ticou severa e acidamente os

desmandos da Igreja e das

instituições de seu país.

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iluminista de educação, uma vez que Cândido tem aulas com um preceptor, uma espécie de professor particular em tempo integral, algo muito comum entre a nobreza da época.

O que fica evidente ao longo da leitura do romance é a dicotomia entre o saber formal, transmitido pelo preceptor, e as duras realidades da vida. Enquanto o Doutor Pangloss, professor de Cândido, perde-se em divagações metafísicas, seu aluno é obrigado a encontrar por si mesmo a solução para os problemas que o afligem. Fica patente, portanto, a crítica de Voltaire ao modelo de educação praticado pela nobreza da época. Em oposição a esse ensino livresco e distanciado das preocupações do dia a dia, Voltaire insinua uma aprendizagem que enfatiza questões de ordem prática. Isso não é genial? Pense no quanto as teorias pedagógicas de hoje não devem a pensadores como Voltaire! Debata essa questão com seus colegas e partilhe com eles suas reflexões.

Apesar de fundamentar seu sistema filosófico na noção de natureza humana, Voltaire não via uma oposição necessária entre natureza e civilização. Aliás, muito pelo contrário, o progresso e o refinamento dos costumes eram extremamente valorizados por esse autor. O mesmo não acontece com outros filósofos iluministas, como é o caso de Jean-Jacques Rousseu, que você estudará a seguir.

As Cartas inglesas, portanto, constituem um exemplo claro de como a razão iluminista rejeitava tanto a Igreja como a monarquia absolutista.

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Jean-Jacques Rousseaub

O pensamento de Rousseau é difícil de sintetizar, pois ele es-creveu ao longo de toda sua vida, mudando algumas de suas con-cepções fundamentais com a passagem do tempo. Mesmo assim, os temas do “bom selvagem” ou do “homem natural” são alguns dos pressupostos que perpassam toda a sua obra e é importante nos determos sobre tais questões antes de avançarmos nas ideias pedagógicas de Rousseau. Esses são conceitos que você já deve ter visto no ensino médio, mas muito rapidamente. Que tal agora nos aprofundarmos mais sobre esses assuntos?

De acordo com Rousseau, em tempos remotos, antes de construir a civilização, o ser humano vivia em um estado de harmonia com a natu-reza. Tratava-se de um ser essen-cialmente bom, visto que a natureza humana é boa. No entanto, o con-tato com a civilização corrompeu a alma humana, tornando seu caráter cheio de vícios. Progressivamente, o ser humano foi se afastando desse estado natural, associando-se a outros e tornando seus costumes cada vez mais requintados. As ciên-cias e as artes, longe de representa-rem um verdadeiro aprimoramento para a humanidade, na verdade

b. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Rousseau (2004) e Starobinski (1991).

Rousseau (1712-1778) pre-

gava, acima de tudo, a liber-

dade dos grilhões e dos males

com os quais a sociedade vem

a nos assolar; célebre é a sua

frase “O homem é bom por

natureza. É a sociedade que

o corrompe”.

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acabaram promovendo desigualda-des entre os homens, inspirando sen-timentos como o orgulho e a inveja. A partir de então, o ser humano se tornou um ser mesquinho e egoísta, e o mal se instalou definitivamente na sociedade.

Para corroborar sua tese da existência de um estado natu-ral, anterior ao estado civilizado, Rousseau lança mão de dois exem-plos: as crianças e os indígenas da América. As crianças são boas e transparentes em seus pensamen-tos e emoções, mas, à medida que crescem, vão tomando mais contato com os adultos ou com crianças mais velhas e vão aprendendo sobre a mentira, a calúnia, o desprezo, a inveja, o egoísmo, a hipocrisia, o ciúme e todos os demais vícios que envenenam a alma humana. De modo semelhante, os índios da América são descritos como seres bons e autênticos, que só começaram a se corromper a partir do contato com o homem civilizado. Talvez para você esses exem-plos pareçam um tanto ingênuos, mas, tente imaginar: Como estes foram recebidos pelos intelectuais do século XVIII? Você não acha que devem ter sido bastante convincentes na época?

Na verdade, Rousseau nunca visitou a América para verificar seu pressuposto de uma bondade natural inerente ao caráter dos indígenas americanos, mas isso não impediu que suas ideias fossem bem recebidas pelo público europeu em geral, que, na maioria dos

As crianças são boas e transparentes em seus pensamentos e emoções, mas, à medida que crescem, vão tomando mais contato com os adultos ou com crianças mais velhas e vão aprendendo sobre a mentira, a calúnia, o desprezo, a inveja, o egoísmo, a hipocrisia, o ciúme e todos os demais vícios que envenenam a alma humana.

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casos, também jamais havia visto um indígena e nutria uma visão idealizada e romântica do nativo americano.

Embora Rousseau tivesse sido um autor bastante popular – seus livros eram verdadeiros best-sellers para os padrões editoriais da época –, suas ideias eram muitas vezes mal compreendidas. Voltaire, por exemplo, um dos mais ácidos críticos do pensamento rousseauniano, afirmava com sarcasmo que ninguém havia se empenhado tanto quanto Rousseau para nos converter em animais, e que a leitura de suas obras o inspirava a ficar em quatro patas e a comer grama.

Mas o fato de Rousseau elogiar o homem natural, afirmando sua superiori-dade em comparação ao homem civilizado, não significa que o filósofo suíço propusesse uma volta a um estágio animal. E isso por dois motivos: em primeiro lugar, a associa-ção primitiva de indivíduos era vista por Rousseau como um estágio de maior feli-cidade e bem-estar que a animalidade, e só após o advento das ciências e da arte é que

o ser humano começou a se corromper; em segundo lugar, porque, mesmo que o ser humano quisesse, jamais voltaria ao estado de inocência e autenticidade característico do estado de natureza.

Para Rousseau, o tema do estado de natureza inspira duas propostas: uma de ordem política e outra de ordem pedagógica, e nenhuma das duas se confunde com um “retorno à animali-dade”, como queria fazer crer Voltaire. Do ponto de vista político, Rousseau admite que a corrupção do caráter humano é inevitável, mas, se nos tornamos tão maus assim, como é possível vivermos

Uma vez corrompido, o ser humano está corrompido para sempre, não há possibilidade de retorno.

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em sociedade? Se cada um de nós está sempre buscando realizar propósitos mesquinhos, como conseguimos conviver uns com os outros?

A resposta, segundo o pensador, é que, na passagem do estado de natureza ao de civilização, os seres humanos estabelecem um “contrato social”, isto é, criam um conjunto de leis e instituem um poder soberano para garantir o seu cumprimento. Desse modo, embora tenhamos o caráter degenerado, ainda assim conseguimos viver com uma certa medida de harmonia social, pois tememos os castigos previstos na lei. Do ponto de vista pedagógico, Rousseau propõe uma educação mais em sintonia com a natureza, de modo que o ser humano possa desenvolver ao máximo suas potencialidades sem comprometer a retidão de seu caráter e a pureza de sua alma. Isso tudo não é fantástico? Você pode entender agora com que propósito Rousseau escreveu Emílio, seu tratado pedagógico!

Emílio ou Da educação (2004) é uma obra de ficção na qual o próprio autor se apresenta como um personagem, o de preceptor, cuja função é educar um aluno, chamado Emílio, desde o nasci-mento até a idade adulta. Para Rousseau, o ideal é que a criança cresça e se desenvolva em um alto grau de isolamento, tendo con-tato praticamente só com o preceptor, que deve ser uma pessoa especial, alguém dotado de um caráter moral irrepreensível. Mesmo a presença dos pais é dispensada, pois eles se preocupam em dema-sia com o bem-estar de seus filhos, privando-os muitas vezes de experiências desagradáveis, mas necessárias a seu desenvolvimento.

Segundo Rousseau, é importante que as crianças recebam leite materno nos primeiros anos de vida e que se evite o costume de enrolar os bebês em faixas. Na época, acreditava-se que esse procedimento contribuía para melhorar postura da criança; para o filósofo francês, no entanto, essa prática representa o primeiro

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momento de cerceamento da liberdade na vida do indivíduo. Para o autor, até os 12 anos de idade, a criança deve receber o máximo possível de estímulos dos sentidos, pois, sob o ponto de vista de Rousseau, um dos grandes problemas da civilização é que as crian-ças aprendem a ler muito cedo e, com isso, fecham-se para o rico universo da experiência sensória. Ver, ouvir, degustar, cheirar e tatear são atividades naturais que podem ser aprimoradas com a educação, mas, na maioria das vezes, a educação livresca das escolas colabora para o enfraquecimento dessas possibilidades.

Para Rousseau, outro grande problema relacionado às crianças pequenas é a punição física. Como a criança pequena vive em um mundo de liberdade espontânea e natural, ela desconhece o conceito de disciplina; portanto, deve aprender, não sob a ameaça de castigo, mas percebendo as consequências de suas próprias ações. O castigo é sentido pela criança como uma injustiça e só gera ressentimento; por outro lado, ela é capaz de compreender as consequências desagradáveis de uma má ação praticada, evitando, assim, repeti-la no futuro.

Segundo Rousseau, a partir dos 12 anos de idade, inicia-se a idade da razão. Essa fase é muito importante para evitar que o amor de si, que é bom e natural, transforme-se em amor-próprio, fonte de todos os vícios. Nesse sentido, o autor propõe aquilo que muitos comentadores, tais como Maurizio Viroli ou John T. Scott, chamam de moral negativa, isto é, o importante não é ensinar a Emílio a virtude, mas evitar que ele aprenda o vício. Para tanto, é importante estimular no jovem o sentimento de empatia, isto é, ele deve ser capaz de se colocar no lugar de outra pessoa, ten-tando se solidarizar com os sentimentos alheios. Isso exige que Emílio tome contato com outras pessoas, que as conheça, mas esse contato, pelo menos de início, não pode ser direto, pois as

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pessoas são dissimuladas − mostram-se de um jeito e agem de outro, enganando o jovem aprendiz e levando-o a agir da mesma forma no futuro.

Desse modo, é muito importante o estudo da história. Por meio dela, Emílio pode ter contato com as pessoas do passado que, como as do presente, também amaram, sofreram, trabalharam, traíram, acovardaram-se etc. Como os personagens do passado podem ser vistos de maneira completa, Emílio pode conhe-cer, ao mesmo tempo, o que disseram e o que fizeram, o que o leva a compreender o que é a dissimulação, sem necessariamente torná-lo também um dissimulado.

Segundo Rousseau, a idade da razão é o período em que Emílio pode ter contato também com a ideia de divindade e pode, portanto, principiar sua educação religiosa. Na sociedade civili-zada, as crianças aprendem sobre religião muito cedo e, para tanto, recorre-se a imagens fantasiosas, como anjos com asas, demônios com chifres ou um Deus velho e barbudo. Com isso, na idade adulta, somos incapazes de nos desvencilhar dessas imagens infan-tis. O que Rousseau propõe é uma compreensão de Deus com base na pura razão e somente depois disso é que Emílio pode definir-se por uma ou outra confissão religiosa.

Na última parte da obra Emílio, Rousseau trata da educação de Sophie, aquela que deve se tornar a esposa de Emílio. O inte-ressante é que, de acordo com a sua concepção, homens e mulheres devem possuir temperamentos e atitudes diferentes, cabendo à educação promover essa diferenciação. O homem deve ser ativo

Na sociedade civilizada, as crianças aprendem sobre religião muito cedo e, para tanto, recorre-se a imagens fantasiosas, como anjos com asas, demônios com chifres ou um Deus velho e barbudo.

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e forte, e a mulher deve ser passiva e fraca e seu principal papel deve ser o de agradar o homem.

De modo geral, podemos dizer que a proposta pedagógica de Rousseau consiste em deixar o educando o máximo possível junto à natureza e afastado da civilização, de modo que seu caráter natural, essencialmente bom, não se corrompa. Após a idade adulta, Emílio, o educando, será então capaz de interagir com os outros e perceber seus vícios sem se deixar corromper por eles, uma vez que já tem seu caráter plenamente formado.

2.2 Apreciação crítica do naturalismo

O pensamento naturalista desempenhou um papel importante na história do pensamento pedagógico ao propor a superação do modelo aristocrático, no qual a escola constituía um ambiente artificial, completamente desvinculado das vicissitudes da vida. Ao priorizar o papel da experiência na aprendizagem, o natura-lismo de Rousseau preparava as bases do pensamento pedagógico moderno.

A grande crítica que se fazia – e ainda se faz – ao pensamento pedagógico de Rousseau é a sua inviabilidade prática. Afinal, qual de nós permitiria que seu filho ou filha fosse educado como Emílio, quase que completamente isolado da sociedade, para preservar seu caráter natural contra a corrupção da sociedade civilizada? Tanto a

O impacto da filosofia de Rousseau em sua época foi enorme e não lhe faltaram admiradores. As críticas, porém, também se fizeram inevitáveis diante de posicionamentos por vezes tão distantes do senso comum. São algumas dessas críticas que veremos a seguir.

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moderna psicologia como o próprio bom senso atestam o absurdo de tal proposta: uma pessoa isolada de tudo e todos, mesmo em contato com a natureza, não passaria por um processo de socializa-ção e, portanto, teria dificuldades em se integrar à sociedade. Longe de promover a educação ideal, o ideário de Rousseau inspiraria a formação de indivíduos antissociais.

Apesar dessa crítica absolutamente pertinente, não podemos perder de vista o propósito de Rousseau ao escrever Emílio ou Da

educação. A obra, segundo seu autor, não pretendia apresentar um roteiro prático para pais e professores, mas sim estimular a ima-ginação, fazer com que as pessoas pensassem. E, nesse sentido, o objetivo foi plenamente alcançado.

Síntese

O naturalismo é uma corrente filosófica que postula uma di-ferença essencial entre dois domínios – o da natureza e o da ci-vilização –, entendendo o segundo como uma degeneração do primeiro. A proposta naturalista seria então a de um retorno do ser humano a uma condição natural original ou a não corrupção dessa condição mais autêntica do ser humano. O naturalismo de-riva de uma corrente mais ampla, o iluminismo, cujo autor mais importante é Voltaire. Para filósofo francês, a educação deveria superar o modelo livresco adotado pela nobreza, colocando a ra-zão acima da tradição.

Rousseau foi um dos filósofos mais populares de seu tempo e, mesmo sem apresentar um modelo pedagógico viável, seus escritos inspiraram outros educadores a tentarem superar o modelo aristocrático e livresco de educação que nos foi legado na época do Renascimento. Pense nisso!

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Dentre os filósofos naturalistas, o mais representativo é Jean-Jacques Rousseau. Para esse, pensador, o ser humano é bom por natureza, mas a sociedade o corrompe. Nesse sentido, Rousseau imagina uma condição primitiva da humanidade, o estado de natureza, que cedeu lugar ao estado de civilização, uma condição na qual predomina a maldade e a dissimulação.

Emílio ou Da educação, a principal obra pedagógica de Rousseau, conta a fictícia história de Emílio, um jovem que é educado longe da civilização, de modo a se preservar a bondade natural de seu caráter. Rousseau foi muito criticado pela impossibilidade de aplicação prática das ideias apresentadas em sua obra, mas o próprio Rousseau admitia que seu objetivo não era o de oferecer conselhos práticos, mas sim o de estimular a imaginação. Nesse sentido, Rousseau obteve muito sucesso, pois foi um autor muito lido e influenciou de modo marcante o pensamento pedagógico moderno.

Indicações culturais

Filmes

CARAMURU: a invenção do Brasil. Direção: Guel Arraes. Produção: Globo Filmes.

Brasil: Columbia Tristar, 2001. 88 min.

O filme conta de forma satírica a história de Diogo Álvares, um náufrago português que passou a viver com os indígenas no Brasil, no século XVI. O filme tematiza de forma divertida o encontro entre o homem civilizado e o homem selvagem, conceitos que remetem à concepção política de Rousseau.

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AMADEUS. Direção: Milos Forman. Produção: Saul Zaentz. EUA: Orion Pictures

Corporation, 1984. 158 min.

O filme apresenta aspectos da vida do compositor Wolfgang Amadeus Mozart e mostra cenários e situações típicas da socie-dade europeia do século XVIII, na qual Rousseau e Voltaire viviam.

Artigos

FERRARI, M. Jean-Jacques Rousseau: o filósofo da liberdade como valor supremo.

Revista Nova Escola, São Paulo, n. 174, jul. 2008. Disponível em: <http://

revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/filosofo-liberdade-como-valor-

supremo-423134.shtml>. Acesso em: 30 jul. 2008.

Artigo contemplando alguns dos conceitos básicos da filosofia de Rousseau.

SOUZA, A. C. de. Rousseau: a arte da filosofia, literatura e educação. Disponível

em: <http://www.unicamp.br/~jmarques/cursos/rousseau2001/acs.htm>. Acesso em:

30 jul. 2008.

Artigo que analisa pontos importantes do pensamento rousseauniano.

Atividades de autoavaliação

Nas questões 1 e 2, assinale (V) para as proposições verdadeiras e (F) para as falsas:

1. Falso ou verdadeiro?

)( A diferença entre natureza e civilização não apresenta problemas conceituais, uma vez que o ser humano, que produz a civilização, não faz parte da natureza.

)( O naturalismo parte do pressuposto de que a natureza é essencialmente boa, mas se corrompe no contato com a civilização.

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)( O iluminismo foi um importante movimento artístico e filosófico, ainda que suas implicações políticas tenham sido insignificantes.

)( Os iluministas criticavam o clero, argumentando que este mantinha vantagens políticas e econômicas indevidas.

Agora, assinale a alternativa que indica a sequência correta:

a) V, F, V, F.

b) V, V, F, V.

c) F, F, V, V.

d) F, V, F, V.

2. Considerando o pensamento de Voltaire, assinale a alternativa correta:

a) Voltaire defendia os privilégios dos nobres e do clero, argumentando que a ordem social existente era de inspiração divina.

b) Voltaire comparava a Inglaterra desfavoravelmente em relação à França, onde havia ampla liberdade política e tolerância religiosa.

c) O livro Cândido ou O otimismo, de Voltaire, é uma defesa incondicional da autoridade religiosa e em especial da au-toridade dos clérigos católicos.

d) O pensamento de Voltaire se caracterizava como franca-mente antiabsolutista e anticlerical.

3. Falso ou verdadeiro?

)( Em franca oposição à tendência dominante na época, Voltaire insinuava um ensino livresco, em detrimento das questões de ordem prática.

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)( De acordo com Rousseau, em tempos remotos, antes de construir a civilização, o ser humano vivia em um estado de harmonia com a natureza.

)( Voltaire era um dos mais ardorosos defensores das ideias de seu amigo Rousseau.

)( Do ponto de vista pedagógico, Rousseau propõe uma educação mais em sintonia com a natureza.

Agora, assinale a alternativa que indica a sequência correta:

a) V, F, V, F.

b) V, V, V, V.

c) F, V, F, V.

d) F, F, F, F.

4. Considerando o pensamento de Rousseau, assinale a alternativa incorreta:

a) As ciências e a arte, longe de representarem um verdadeiro aprimoramento para a humanidade, na verdade acabam promovendo desigualdades entre os homens.

b) Os índios da América são descritos por Rousseau como seres bons e autênticos, que só começaram a se corromper a partir do contato com o homem civilizado.

c) Ao elogiar o homem natural, afirmando sua superioridade em comparação com o homem civilizado, Rousseau pro-põe uma volta a um estágio animal.

d) Na passagem do estado de natureza ao de civilização, os seres humanos estabelecem um “contrato social”, isto é, criam um conjunto de leis e instituem um poder soberano para garantir o seu cumprimento.

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5. Leia o texto de Rousseau (1973, p. 241) a seguir e assinale a alternativa correta:

Concebo na espécie humana dois tipos de desigualdade: uma a que chamo de natural ou física, por ser estabelecida pela natureza, e que consiste na diferença de idades, de saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito ou da alma; a outra, que se pode chamar de desigualdade moral ou política, porque depende de uma espécie de convenção, e é estabeleci-da ou pelo menos autorizada pelo consentimento dos homens. Esta consiste nos diferentes privilégios, de que gozam alguns em prejuízo de outros, como de serem mais ricos, mais home-nageados, mais poderosos ou mesmo o de se fazerem obedecer.

a) A diferença entre os dois tipos de desigualdade de que trata o autor é decorrente da diferença de idades.

b) A desigualdade moral ou política define o estado de natu-reza de Rousseau.

c) A desigualdade natural ou física, em Rousseau, é a causa principal da degeneração do caráter humano.

d) A diferença de privilégios, na concepção naturalista de Rousseau, é uma função da desigualdade moral ou política.

Atividades de aprendizagemQuestões para reflexão

1. Qual dos pensadores estudados neste capítulo se encontra mais em sintonia com as tendências iluministas: Voltaire ou Rousseau? Justifique sua resposta.

2. Descreva e comente as ideias pedagógicas de Voltaire.

3. Descreva e comente as ideias pedagógicas de Rousseau.

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Atividade aplicada: prática

Escreva um texto de pelo menos 20 linhas, respondendo às seguin-tes perguntas: Você entregaria seu filho recém-nascido aos cuidados de Rousseau? Por quê?

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O positivismo

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Neste capítulo, você verá como a filosofia positivista surgiu no século XIX, inspirada principalmente por dois

fatores: o iluminismo

e a Revolução Industrial. Ao valorizarem igualmente a razão e o progresso da humanidade, os positivistas, de certa forma, davam continuidade ao ideário iluminista, de progresso contínuo da humanidade, com níveis cada vez mais altos de desenvolvimento

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social e cultural. Além disso, devemos levar em consideração também o impacto da Revolução Industrial. No final do século XVIII e início do XIX, surgiram novas tecnologias, como a máquina a vapor, novos materiais, como o aço e o concreto armado, e novas formas de organização do trabalho que aceleravam o ritmo de produção. Isso produziu um impacto profundo na mentalidade

das pessoas da época. O ser humano se tornava “senhor da natureza”, adaptando o mundo a seu redor de acordo com suas necessidades.

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E, nesse sentido, a ciência desempenhava um papel funda-mental, pois foram os avanços da ciência que tornaram possível o desenvolvimento da indústria e o consequente domínio da natureza.

3.1 Augusto Comtea

Augusto Comte, pensador francês da primeira metade do sécu-lo XIX, marcou o início da filosofia positivista com os seus escri-tos. Sua importância advém do fato de ter sido um dos primeiros autores a pensar a possibilidade e a importância de uma ciência da sociedade. Segundo esse autor, as sociedades humanas estão em contínuo processo de evolução, no qual elas passam necessaria-mente por três estágios: teológico, metafísico e positivo. Vamos ver com mais atenção cada um desses estágios?

No estado teológico, as pessoas buscam explicações sobrenaturais para os mistérios da natureza. A chuva, por exemplo, é explicada a partir da ação de deu-ses ou divindades que fazem a água

a. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Comte (1978; 2001), Ribeiro (1996) e Silva (1982).

Augusto Comte (1798-1857)

procurou trazer a ciência a

um novo patamar, propondo

uma linha filosófica despi-

da de qualquer subjetivismo,

negando a proveniência das

causas dos fenômenos como

advindos de um só princípio.

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cair do céu. Ainda de acordo com Comte, com o passar do tempo, as explicações sobrenaturais são pouco a pouco abandonadas, cedendo lugar a explicações metafísicas, nas quais os fenômenos são explicados a partir da natureza das próprias coisas. Na visão de Comte, porém, as explicações metafísicas constituem apenas jogos de palavras que não chegam a explicar coisa alguma de fato. No entanto, elas ganham importância na medida em que servem como tentativas de superação das explicações míticas e, consequen-temente, como o encaminhamento para o estado positivo. Nesse estado, as únicas explicações válidas são as de caráter científico. A chuva, por exemplo, passa a ser explicada não mais a partir da ação de forças sobrenaturais ou de uma essência abstrata, mas sim como resultado da condensação de vapor d’água presente na atmosfera.

Assim se refere Comte (1978, p. 4) no que diz respeito ao estágio positivo ou científico:

Enfim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a pro-curar a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações inva-riáveis de sucessão e de similitude. A explicação dos fatos, reduzida então a seus termos reais, se resume de agora em diante na ligação estabelecida entre os diversos fenômenos particulares e alguns fatos gerais, – cujo número o progresso da ciência tende cada vez mais a diminuir.

De acordo com Comte, o objetivo da ciência é o de estabe-lecer leis para os fenômenos observados, pois as leis permitem a previsão, que, por sua vez, norteia a ação.

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Com base nesse projeto, os construtores podem executar a ação, isto é, construir o prédio efetivamente.

Comte acreditava que, assim como existem leis que regem os fenômenos da física, da química e da biologia, existiram leis que regem o comportamento do ser humano em sociedade. Por isso, ele dizia que a tarefa mais importante de seu tempo era a criação de uma ciência da sociedade, a sociologia. Tente imaginar o impacto que essa ideia teve na época!

No entender de Comte, a sociedade apresenta duas leis fun-damentais: a estática e a dinâmica sociais. De acordo com a lei da estática social, o desenvolvimento só pode ocorrer se a sociedade se organizar de modo a evitar o caos, a confusão. Uma vez organizada, porém, ela pode dar saltos qualitativos, e nisso consiste a dinâmica social. Essas duas leis são resumidas no lema “ordem e progresso”, que, não por acaso, figura na bandeira brasileira, pois muitos dos membros do movimento republicano no século XIX eram grandes admiradores de Augusto Comte. Veja como a filosofia da educação se cruza com a história de nosso país! Não é fantástico?

No plano educacional, o positivismo valoriza a disciplina, pois entende que é a partir da “ordem” que a sociedade pode avan-çar rumo ao “progresso”. Além disso, do mesmo modo como a humanidade passou pelos três estágios − religioso, metafísico e científico −, também cada ser humano, ao longo de seu desen-volvimento, conhece esses três estágios. Assim, as crianças são

Vejamos como isso acontece, por exemplo, na construção de um prédio. O engenheiro conhece as leis da física, no caso, as leis da resistência dos materiais. Com base nessas leis, ele desenvolve um projeto, ou seja, uma previsão: usando tais materiais de determinada maneira, a construção se manterá firme.

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mais inclinadas a explicações mítico-religiosas, envolvendo fadas e personagens semelhantes; os adolescentes são mais questionadores, indicando sua propensão à metafísica; mas é na idade adulta que o ser humano se apresenta maduro, buscando explicações científicas para os problemas. Desse modo, a cada idade deve corresponder uma educação adequada. O ideal é formar o espírito científico nos jovens, de modo a superar a superstição e o irracionalismo ainda presente na sociedade. Você consegue perceber como as ideias de Comte ainda estão vivas no presente?

O positivismo comteano teve um impacto profundo na socie-dade brasileira, principalmente no meio estudantil. De acordo com a pesquisadora Nady Moreira Domingues da Silva (1982):

Já desde 1850 as doutrinas comteanas começaram a aparecer na Escola Militar do Rio de Janeiro. Posteriormente foram se firmando sempre no meio estudantil, como seja: Colégio Pedro II, Escola da Marinha, Escola de Medicina e Escola Politécnica: aqui, as teorias positivistas eram ainda nitida-mente cientificistas e aplicadas pelos brasileiros aos campos da física, matemática e biologia.

No Sul do Brasil predominou um positivismo dito ortodoxo, em sintonia com os últimos desdobramentos do pensamento de Augusto Comte, que, no fim de sua vida, criou uma “religião da humanidade”, na qual se cultuava a ciência em templos positivistas. Era provavelmente uma tentativa de imitar a estrutura da Igreja Católica, que ele considerava muito eficiente do ponto de vista organizacional, embora discordasse de sua doutrina. Contudo, mui-tos de seus seguidores viam nessa iniciativa uma contradição, pois, se o estágio positivo ou científico significava uma superação do mito e da metafísica, nada mais incoerente do que fundar uma religião positivista. No nordeste brasileiro, desenvolveu-se uma corrente

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dita heterodoxa, que aceitava a doutrina que Comte havia elaborado em sua juventude, mas se recusava a aceitá-la como religião.

3.2 Herbert Spencerb

O positivismo de Augusto Comte encontrou diversos admi-radores e seguidores não só na França como em diversos outros países, inclusive no Brasil. Na Inglaterra podemos destacar, entre os pensadores influenciados pelo positivismo, os nomes de John Stuart Mill, Jeremy Bentham e Herbert Spencer, filósofos da se-gunda metade do século XIX.

Herbert Spencer, em particu-lar, desenvolve uma filosofia na qual integra o otimismo cientificista e a noção de progresso de Augusto Comte com as teorias evolucio-nistas no campo da biologia, em especial a teoria da seleção natural, de Charles Darwin. O resul-tado disso é a criação do evolucionismo social, uma nova teoria

b. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Spencer (1927).

E na sua região, como se deu a influência do positivismo? Faça uma pesquisa sobre esse assunto!

Herbert Spencer (1820-

1903) é o “pai” do chamado

darwinismo social, uma espé-

cie de adequação de todas as

atividades humanas às leis da

evolução.

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da sociedade. Na verdade, o evolucionismo social já existia antes de Spencer, e é até mesmo anterior à hipótese do evolucionismo biológico. No entanto, o filósofo inglês renova essa tradição inte-lectual ao incorporar o princípio da seleção natural às explicações sobre a mudança social. Você consegue perceber a originalidade que essa ideia possuía na época?

Desde seus primeiros escritos, Spencer revelou a preocupação em desenvolver uma filosofia que pudesse integrar as teorias psicológicas de John Stuart Mill, baseadas na associação de ideias, com os estudos de neurologia, especialmente aqueles que identificavam determinados processos mentais, como a lembrança ou o raciocínio em partes específicas do cérebro. Na obra Princípios

de psicologia (1855), por exemplo, Spencer argumenta que o estímulo intelectual provocado pela associação de ideias deixa marcas no cérebro humano, que podem passar de geração a geração, em um processo evolutivo.

O objetivo último de Herbert Spencer é o de produzir um “sistema de filosofia sintética”, isto é, um sistema de pensamento que possa explicar, de forma coerente e integrada, todos os fenôme-nos, tanto os de ordem física quanto os de ordem social ou mental. Nesse sentido, o seu projeto se inspira na filosofia de Augusto Comte, que busca interpretar tanto a natureza como a sociedade a partir dos mesmos pressupostos metodológicos, isto é, a observa-ção, a experimentação e o estabelecimento de leis gerais. Spencer, porém, é mais radical: mais do que uma unidade de método, a própria natureza dos fenômenos observados possui uma unidade intrínseca, tendo por base a lei mais fundamental de todas na concepção spenceriana: a lei da evolução.

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Embora a questão do evolucionismo estivesse no horizonte de preocupações de Herbert Spencer desde sua juventude, foi somente a partir da leitura dos escritos do biólogo Charles Darwin que ele encontrou um verdadeiro princípio explicativo para o contínuo e permanente aprimoramento da humanidade: a teoria da seleção natural. De acordo com Darwin, as espécies vegetais e animais produzem pequenas mudanças genéticas de uma geração à outra. Se essas mudanças dão origem a seres mais bem adaptados ao meio, estes têm mais chances de sobrevivência. Se, pelo contrário, as mudanças genéticas dificultam a adaptação ao meio, essas espécies acabam sendo naturalmente eliminadas. Uma borboleta cinza, por exemplo, tem mais chances de sobrevivência em uma floresta cinza que uma borboleta cor-de-rosa, pois aquela é menos visada pelos predadores.

Spencer vai além da biologia e afirma que em uma sociedade os indivíduos, assim como os demais seres da natureza, têm de estar em um contínuo processo de adaptação ao meio, de modo a garantir sua sobrevivência. Ao conceber a sociedade como um con-junto de indivíduos em luta pela sobrevivência, chegou a conclusões importantes sobre o papel da escola. Em primeiro lugar, valorizava mais as escolas particulares, desprezando as públicas. Isso porque as escolas particulares competem entre si pelos melhores alunos e pelos melhores professores, uma competição que lembra bastante a luta pela sobrevivência, que Spencer concebe como a mola do progresso social. Além disso, o filósofo critica os métodos tradicio-nais de ensino, baseados na pura memorização de fórmulas prontas.

O princípio da evolução, de acordo com esse filósofo, é aplicável a áreas tão diversas quanto a biologia, a psicologia, a sociologia e a moral. Veja como Spencer é ambicioso em seu sistema filosófico! O que você acha disso?

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O aprendizado, ao contrário, deve ser um processo espontâneo, prazeroso e que, em última análise, contribua para a integração do indivíduo em seu meio natural e social.

Spencer vê o progresso social como um processo contínuo por meio do qual as sociedades simples vão pouco a pouco se tornando mais complexas. O ponto mais alto desse desenvolvimento é a civilização ocidental. Em sua época, ele se perguntava: “O que torna um indivíduo apto para sobreviver no meio social?”. Para o filósofo, a capacidade de colocação profissional na indústria e

a atividade econômica permitem ao indivíduo mais chances de sustento e realização pessoal. Infelizmente, as escolas do século XIX em geral enfatizavam conhecimentos que, no entender de Spencer, são inúteis. Por que estudar, por exemplo, línguas mortas, como o grego ou o latim? Em que isso ajuda o indivíduo a se colocar profissionalmente na indústria? Nesse sentido, ao procurar pensar o

currículo escolar sobre novas bases, o filósofo deu uma contribuição importantíssima para a história do pensamento pedagógico.

Para Spencer, a educação deve dar subsídios que respondam à seguinte questão: Que conhecimentos valem mais a pena adqui-rir?. Em seu entender, as cinco atividades humanas essenciais, em ordem de importância, são:

• a autopreservação;

• o desempenho de ocupações;

O aprendizado, ao contrário, deve ser um processo espontâneo, prazeroso e que, em última análise, contribua para a integração do indivíduo em seu meio natural e social.

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• o cuidado com os filhos;

• a participação política e social;

• a recreação e o lazer.

Desse modo, segundo o autor, disciplinas escolares como Matemática, Química, Física e Biologia são imprescindíveis, pois fornecem um conhecimento sobre a natureza, que, por sua vez, permite o avanço da ciência e, consequentemente, o progresso da humanidade. Disciplinas como Educação Artística ou Literatura são menos importantes, uma vez que dizem respeito à última categoria de atividades essenciais, a da recreação e lazer. Outras disciplinas, como o grego e o latim, são perfeitamente dispensáveis.

O pensamento pedagógico de Herbert Spencer ajudou a definir a formação do currículo escolar nos países de língua inglesa, principalmente nos Estados Unidos. Mesmo em outros países, sua influência não foi pequena. No Brasil, por exemplo, o ensino de ciências no ensino fundamental, que compreende os conteúdos de química, física e biologia, revela uma clara inspiração spenceriana. Além disso, a tendência tecnicista, muito forte na educação brasileira nas décadas de 1960 e 1970, também deve muito de seus pressupostos teóricos à filosofia de Spencer.

Você pode perceber assim como o estudo da história do pensamento filosófico é importante para compreendermos a educação no Brasil!

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3.3 Émile Durkheimc

Émile Durkheim, pensador fran-cês do fim do século XIX e início do XX, ficou conhecido como fundador da escola francesa de so-ciologia e um dos fundadores do pensamento sociológico moderno. Embora não seja conhecido espe-cificamente como filósofo, e sim como sociólogo, Durkheim é im-portante para a filosofia pelo fato de ser o principal representante da corrente funcionalista, um desdo-bramento moderno do positivis-mo. Veja, a seguir, algumas de suas principais ideias pedagógicas.

Segundo Durkheim, os fatos sociais devem ser estudados como coisas. Em outras palavras, o pes-

quisador deve colocar de lado seus preconceitos e estudar os fenô-menos ocorridos nas sociedades humanas quase do mesmo modo como analisa um fenômeno da física e da biologia.

Ele argumenta que, embora a sociedade seja formada a partir dos indivíduos, ela é algo mais do que a soma deles. Assim como em um ser vivo cada órgão cumpre uma função sem se confundir

c. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Durkheim (1955a; 1955b).

Considerado o “pai da sociolo-

gia”, Émile Durkheim (1858-

1917) criou a associação dos

conceitos de patologia e nor-

malidade à sociedade, sendo

considerado um dos maiores

teóricos do conceito de coer-

são social.

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com a totalidade do organismo, o comportamento e a persona-lidade do indivíduo não se confundem com o comportamento e a personalidade do grupo social ao qual esse indivíduo pertence.

Outro importante princípio da teoria de Durkheim é o de que os conhecimentos, crenças, hábitos, valores, normas, tudo vem do exterior, isto é, do meio em que o indivíduo vive. Mesmo que um indivíduo cultive profundas convicções, como o apoio a determinado partido político, o repúdio ao aborto ou a aceitação de determinada doutrina religiosa, não se pode esquecer que essas convicções não são inatas, mas aprendidas pelo indivíduo por meio de sua interação com o meio. Sendo assim, Durkheim

dedica muita atenção à educação, pois é por meio dela que os conhecimentos, os valores e as normas de uma sociedade são inculcados nos indivíduos. Procure se certificar de que entende bem essas questões preliminares antes de avançar a leitura, pois é a partir de agora que as teorias pedagógicas de Durkheim se tornam mais explícitas!

No texto intitulado As definições da educação: exame crítico

(1955a), Durkheim faz uma crítica devastadora às concepções de educação desenvolvidas ao longo da história da filosofia. Isso porque praticamente a totalidade dos filósofos define a educação como o conjunto de experiências de um indivíduo ao longo de sua

Assim como em um ser vivo, cada órgão cumpre uma função sem se confundir com a totalidade do organismo, o comportamento e a personalidade do indivíduo não se confundem com o comportamento e a personalidade do grupo social ao qual esse indivíduo pertence.

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vida. Segundo ele, tal modo de conceber a educação esvazia esse conceito de especificidade, pois praticamente tudo na vida de um indivíduo acaba sendo considerado parte do processo de educação. Assim, nas palavras do próprio Durkheim (1975, p. 41):

A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança particularmente se destine.

Nesse sentido, a relação entre professor e aluno ou a relação entre pais e filhos são, estritamente falando, exemplos de atividade educacional, e uma descoberta espontânea, mesmo envolvendo aquisição de conhecimento, não é, em si mesma, parte do processo de educação.

As teorias pedagógicas de Durkheim estão intimamente asso-ciadas a uma concepção que atribui a primazia do social em detrimento do individual. Um dos estudos mais importantes de Durkheim, e que serve de exemplo nesse sentido,

lida com um fato aparentemente individual: o suicídio. Haveria algo tão íntimo, tão próprio do indivíduo, quanto a decisão de tirar a própria vida? Contudo, segundo esse autor, mesmo esse ato essencialmente individual é, em grande medida, determinado pela sociedade. Em suas pesquisas, ele percebe que a taxa de suicídios é maior nas sociedades em que existe menor coesão social. A partir dessa constatação, o filósofo francês deduz que a integração do indivíduo ao meio em que o protege em certa medida contra as

Haveria algo tão íntimo, tão próprio do indivíduo, quanto a decisão de tirar a própria vida?

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crises existenciais que geralmente levam as pessoas ao suicídio. É importante notar que Durkheim não estava interessado em investi-gar as motivações pessoais que levavam cada pessoa a tirar a própria vida. Ao contrário, suas pesquisas se limitam a indicar até que ponto o meio social pode influenciar esse tipo de comportamento.

A obra de Durkheim foi escrita em uma perspectiva fun-cionalista, que enfatiza os mecanismos pelos quais a sociedade busca superar os conflitos e atingir a integração social. Por causa disso, o filósofo, muitas vezes, é visto como um intelectual con-servador, principalmente em contraste com Marx e Engels, que ressaltam o papel do conflito nas transformações sociais. Contudo, não podemos negar também no autor um pensamento de caráter bastante humanista. Para Durkheim uma compreensão científica da sociedade torna possível transformá-la para melhor. Além disso, Durkheim exerceu uma importante liderança intelectual em seu tempo e, com suas ideias, influenciou profundamente gerações de sociólogos.

3.4 Apreciação crítica do positivismo

O positivismo e o funcionalismo foram e ainda são correntes filosóficas imensamente influentes nas teorias e práticas educacio-nais. A valorização do conhecimento científico e suas consequen-tes implicações para o currículo são, talvez, os mais importantes legados positivistas para a educação escolar. Até meados do sécu-lo XIX, o ensino privilegiava os conteúdos de caráter humanístico,

Você deve ter em mente, no entanto, que, apesar de se situar no âmbito da sociologia, o pensamento de Durkheim tem um embasamento filosófico importante. Você conseguiu perceber isso na sua leitura?

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crises existenciais que geralmente levam as pessoas ao suicídio. É importante notar que Durkheim não estava interessado em investi-gar as motivações pessoais que levavam cada pessoa a tirar a própria vida. Ao contrário, suas pesquisas se limitam a indicar até que ponto o meio social pode influenciar esse tipo de comportamento.

A obra de Durkheim foi escrita em uma perspectiva fun-cionalista, que enfatiza os mecanismos pelos quais a sociedade busca superar os conflitos e atingir a integração social. Por causa disso, o filósofo, muitas vezes, é visto como um intelectual con-servador, principalmente em contraste com Marx e Engels, que ressaltam o papel do conflito nas transformações sociais. Contudo, não podemos negar também no autor um pensamento de caráter bastante humanista. Para Durkheim uma compreensão científica da sociedade torna possível transformá-la para melhor. Além disso, Durkheim exerceu uma importante liderança intelectual em seu tempo e, com suas ideias, influenciou profundamente gerações de sociólogos.

3.4 Apreciação crítica do positivismo

O positivismo e o funcionalismo foram e ainda são correntes filosóficas imensamente influentes nas teorias e práticas educacio-nais. A valorização do conhecimento científico e suas consequen-tes implicações para o currículo são, talvez, os mais importantes legados positivistas para a educação escolar. Até meados do sécu-lo XIX, o ensino privilegiava os conteúdos de caráter humanístico,

Você deve ter em mente, no entanto, que, apesar de se situar no âmbito da sociologia, o pensamento de Durkheim tem um embasamento filosófico importante. Você conseguiu perceber isso na sua leitura?

dando continuidade a um modelo her-dado da época do Renascimento, mas que, no auge da Revolução Industrial, era simplesmente um modelo já fora de época. A ênfase na ciência contri-buiu para o aprimoramento profissio-nal dos alunos, para uma melhor pre-paração para as carreiras nas ciências exatas e da saúde (engenharia, medi-cina etc.) e para o avanço da indústria de modo geral.

No entanto, somos hoje capazes de perceber com mais cla-reza não só o legado, mas também as limitações da abordagem positivista. Ao ressaltarem a importância da ciência, os positivistas, muitas vezes, foram longe demais, desprezando a contribuição das humanidades, descartadas por serem consideradas anticientíficas ou pré-científicas. A pedagogia tecnicista, por exemplo, que possui inspiração positivista, produziu efeitos terríveis na educação bra-sileira, como atesta Sérgio Paulo Rouanet (1987, p. 306):

A filosofia e o latim foram suprimidos dos currículos. A his-tória deixou de ser lecionada como disciplina autônoma. O português, reduto dos gramáticos que desprezávamos, mu-dou tanto, que até mudou de nome – passou a chamar-se comunicação e expressão. Em compensação aumentou assus-tadoramente o número de vagas nas disciplinas certas, as que convêm a um país em desenvolvimento: química, en-genharia, eletrônica, informática. Em suma, nosso país se modernizara. Tudo como queríamos. Só que nossos sonhos, realizados, viraram pesadelos. O país não era mais a pátria dos bacharéis, mas tinha se convertido na terra de ninguém dos zumbis competentes e dos doutores lobotomizados.

A valorização do conhecimento científico e suas consequentes implicações para o currículo são, talvez, os mais importantes legados positivistas para a educação escolar.

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O Brasil inteiro fazia vestibular com testes de múltipla es-colha, gostava de futebol, jogava na loteria esportiva, torcia por Fittipaldi e vivia mergulhado, beatificamente, numa ignorância enciclopédica. Antes de 1964, tínhamos grandes massas iletradas, e uma oligarquia pelo menos superficial-mente culta; desde então reinou a grande democracia do analfabetismo universal.

Outro grande problema do positivismo é seu caráter muito conservador. Para Augusto Comte e Herbert Spencer, é impor-tante impor a disciplina aos alunos, uma vez que a “ordem” é pre-condição para o progresso. Do mesmo modo, para Durkheim, a ênfase recai sobre a “funcionalidade” do sistema social, e qualquer conflito é visto como indesejável ou até mesmo patológico. Como consequência disso, a abordagem positivista acaba favorecendo os interesses das camadas dominantes, interessadas na ordem e na ausência de conflito como forma de manter a dominação sobre as classes subalternas.

Síntese

O positivismo é uma corrente filosófica que surgiu na primeira metade do século XIX e que propunha a aplicação do método das ciências naturais – observação, experimentação e inferência – para o estudo das sociedades humanas. O grande pioneiro do pensamento positivista foi Augusto Comte, que via a sociedade em um processo evolutivo, passando necessariamente por três

Mas, afinal, se o pensamento de Durkeim é ideologicamente comprometido, vale a pena você se preocupar com ele? É claro que sim! Procure entender que a importância de um autor se dá mais em termos das influências que exerceu do que nas críticas que podemos fazer à sua obra no presente. Debata essa questão com seus colegas!

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estágios – o religioso, o metafísico e o positivo – e sendo regida basicamente por duas leis, a estática e a dinâmica sociais.

O pensamento de Comte foi e continua sendo muito influente no Brasil, tanto em sua vertente ortodoxa, que propõe uma “religião da humanidade”, quanto em sua vertente heterodoxa, que repudia os últimos escritos de Comte, atendo-se à ideia de que a ciência ultrapassa e exclui a religião.

Outro pensador positivista importante foi Herbert Spencer. Tal como para Comte, a ciência em Spencer também deve seguir uma orientação empirista. Mas, para esse segundo autor, os resultados aos quais o cientista chega não podem ter validade universal absoluta, uma vez que partiram de experiências particulares. No campo pedagógico, Spencer propõe um currículo escolar diferenciado, enfatizando as disciplinas mais diretamente importantes à atividade industrial, como Matemática ou Física, em detrimento de disciplinas de caráter humanístico, como o Grego ou o Latim.

No campo da sociologia, o positivismo influencia ainda o pensamento de Émile Durkheim. Para este, o papel da educação é o de garantir a integração do indivíduo ao meio social. Nesse sentido, Durkheim apresenta um pensamento de caráter conser-vador, pois o conflito é geralmente visto como patologia social.

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Indicações culturais

Filmes

MEMÓRIAS póstumas. Direção: André Klotzel. Brasil: Lumière, 2001.

Inspirado no livro Memórias póstumas de Brás Cubas, o filme é interessante, pois apresenta como personagem um defensor do positivismo na segunda metade do século XIX: Quincas Borba, que defende um sistema por ele chamado de humanitismo, uma carica-tura das tendências intelectuais em voga no Brasil no século XIX.

Site

SILVA, N. M. D. da. Positivismo no Brasil. Universidade Federal do Maranhão.

Disponível em: <http://cynthia_m_lima.sites.uol.com.br/positi.htm>. Acesso em: 18

fev. 2008.

Nesse artigo, a autora apresenta, de forma bastante sintética, alguns dos conceitos básicos da filosofia de Augusto Comte e descreve a recepção do positivismo comteano no Brasil.

ENCICLOPÉDIA SIMPOZIO. História da filosofia moderna: a filosofia

positivista. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/novo/2216y840.htm>.

Acesso em: 18 fev. 2008.

Nessa página encontra-se uma lista dos principais autores vincu-lados à corrente positivista, ordenados por nacionalidade e com um breve comentário sobre cada um deles.

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Atividades de autoavaliação

Nas questões 1 e 2, assinale (V) para as proposições verdadeiras e (F) para as falsas:

1. Falso ou verdadeiro?

)( As transformações ocasionadas pela Revolução Industrial influenciaram decisivamente o pensamento positivista.

)( Para Augusto Comte, as sociedades humanas passam por três estágios: o religioso, o metafísico e o positivo.

)( Na filosofia de Augusto Comte, a educação tem de pro-mover a ordem para que seja possível o progresso social.

)( Embora tenha sido uma corrente imensamente influente na Europa, o positivismo foi e continua sendo pratica-mente desconhecido no Brasil.

a) V, V, V, F.

b) V, F, V, V.

c) F, F, F, V.

d) V, V, V, V.

2. Falso ou verdadeiro?

)( Herbert Spencer é um filósofo positivista inglês que in-tegra o otimismo cientificista e a noção de progresso de Augusto Comte com as teorias evolucionistas no campo da biologia.

)( O evolucionismo social é um conceito absolutamente ori-ginal de Spencer.

)( Para Herbert Spencer, as escolas públicas são melhores que as particulares, pois a competição entre elas leva à mútua autodestruição.

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)( Um aspecto importante do pensamento de Spencer é seu interesse por questões neurológicas e seu papel na aquisi-ção de conhecimento.

a) V, V, V, V.

b) V, F, V, F.

c) V, F, F, V.

d) F, V, V, F.

3. Considerando a filosofia da educação de Augusto Comte, leia as afirmativas a seguir e assinale a correta:

a) Para Augusto Comte, o estado metafísico corresponde ao grau máximo de desenvolvimento de uma sociedade.

b) Augusto Comte relega as leis científicas a um segundo plano, argumentando que são desnecessárias para a previ-são dos fenômenos.

c) De acordo com a lei da estática social de Comte, o desen-volvimento só pode ocorrer se a sociedade se organizar de modo a evitar o caos, a confusão.

d) Para Augusto Comte, é preciso formar o espírito religioso nos jovens, de modo a superar o cientificismo e o raciona-lismo ainda presentes na sociedade.

4. Considerando a filosofia da educação de Herbert Spencer, leia as afirmativas a seguir e assinale a incorreta:

a) Na obra Princípios de psicologia (1855), Spencer argumen-ta que o estímulo intelectual provocado pela associação de ideias deixa marcas no cérebro humano, que podem passar de geração a geração, em um processo evolutivo.

b) O princípio da evolução, de acordo com Spencer, é apli-cável à biologia, mas não a áreas tão diversas quanto a psicologia, a sociologia e a moral.

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c) Spencer valoriza as escolas particulares e menospreza as públicas.

d) Spencer vê o progresso social como um processo contínuo no qual as sociedades simples vão pouco a pouco se tor-nando mais complexas.

5. Leia o texto a seguir e assinale a alternativa correta:

Todo o pensamento de Comte roda, pois, em volta desta ideia de ordem que é a matriz de todos os temas filosóficos [...]. Apercebemo-nos de que esta ideia de ordem é inter-pretada segundo uma visão conservadora onde a ordem é um quadro esclerosado, simultaneamente estrutura mental e tipo de organização, oscilando entre a categoria intelectual e lei das coisas. Na política positiva ele põe os pontos nos ii: “Basta comparar as duas acepções da palavra ‘ordem’, que significa sempre, ao mesmo tempo, mandamento e arruma-ção”. A ordem é concebida de maneira rígida e coisificada, como o encaixar das peças num mecanismo. Estamos longe da ordem cartesiana como lei da atividade intelectual, resul-tado da operação de análise e síntese. A ideia de ordem está ligada à ideia de hierarquia como sistema de subordinação rígida da parte ao todo, do inferior ao superior, do processo ao resultado, e isso dá a chave da famosa palavra de ordem: pelo progresso para a ordem. Pouco a pouco Comte deriva da ideia de ordem “natural”, cara ao século VIII para a ideia de ordem como tipo abstrato do pensamento especulativo ou, pior, como modelo coisista imposto de fora. (Vedernal, citado por Chatelet, 1981, p. 89-90)

a) Para Vedernal, a filosofia de Comte assume um caráter conservador, o que fica evidenciado pelo modo como este entende o conceito de ordem.

b) Comte, na interpretação de Vedernal, assume de modo não questionado o conceito de ordem tal como foi origi-nalmente proposto no século VIII.

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c) Podemos identificar, segundo Vedernal, um parentesco direto entre a filosofia de Comte e a de Descartes, pois em ambos podemos perceber um viés irracionalista.

d) De acordo com Vedernal, o conceito de ordem em Comte implica a aceitação de uma inversão de hierarquias tradi-cionalmente estabelecidas.

Atividades de aprendizagemQuestões para reflexão

1. Explique de que modo o iluminismo e a Revolução Industrial influenciaram o pensamento positivista.

2. Compare o pensamento de Augusto Comte com o de Herbert Spencer, indicando semelhanças e diferenças.

3. Por que o legado de Augusto Comte é tão controverso, espe-cialmente no Brasil? Por que seus seguidores frequentemente discordam entre si?

Atividade aplicada: prática

Entreviste cinco pessoas, preferencialmente de idades e/ou níveis de escolaridade diferentes, com a seguinte pergunta: O que é ciên-cia e qual a sua importância?. Anote as respostas e elabore um texto, relacionando as opiniões dos entrevistados com a concepção positivista de ciência.

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O materialismo dialético

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Muito provavelmente você já deve ter ouvido falar em socialismo, comunismo e outras tendências políticas afins. É importante que você tenha em mente que tais posicionamentos políticos não se limitam a manifestações práticas, visto que possuem um embasamento filosófico bastante denso, sem falar nas consequências pedagógicas tremendas que essas linhas filosóficas trouxeram em seus bojos.

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No século XIX, a filosofia alemã era dominada pelo idealismo, que afirmava que a realidade primordial é o pensamento e que tudo o mais é dele derivado. O mais influente filósofo idealista dessa época é Friedrich Hegel, cuja frase de efeito – “Todo racional é real, todo real é racional” – indica claramente a identificação da realidade com o pensamento. Hegel utiliza um método de análise que ele chama de dialética: nesse método, o movimento do pensamento era concebido a partir do choque de ideias contraditórias.

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Para Hegel, como o pensamento e a realidade são a mesma coisa, a dialética se torna não somente um método, mas também a lógica inerente ao próprio processo histórico (Kojève, 2002).

Foi nesse contexto intelectual que surgiu a filosofia de dois autores contemporâneos a Hegel: Karl Marx e Friedrich Engels. De acordo com eles, Hegel está correto em interpretar a realidade dialeticamente, mas incorre em erro ao adotar uma filosofia idea-lista. Para Marx e Engels, a realidade primordial é a matéria, e o pensamento é uma consequência dela. Com base nesses pressupos-tos, os famosos filósofos alemães desenvolvem um sistema filosófico que mais tarde é chamado de materialismo dialético (Quintaneiro; Barbosa; Oliveira, 2002). Vamos ver em que essa vertente filosófica consiste?

4.1 Karl Marx e Friedrich Engelsa

Na passagem do século XVIII para o XIX, houve uma série de transformações sociais, econômi-cas e tecnológicas às quais se dá geralmente o nome de Revolução

Industrial, marcada pelo surgi-mento de novos materiais (aço, vidro, concreto armado), novas formas de energia (principalmen-te a máquina a vapor) e pela generalização do trabalho assalariado.

a. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Marx e Engels (1989).

Para você, hoje, essas inovações podem fazer parte do dia a dia, mas tente imaginar o quão surpreendentes elas eram no século XIX!

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Para você, hoje, essas inovações podem fazer parte do dia a dia, mas tente imaginar o quão sur-preendentes elas eram no século XIX!

Embora a Revolução Indus-trial tenha aumentado imensa-mente a produção de riquezas, a desigualdade social se intensificou. A situação era verdadeiramente dramática: baixos salários, longas jornadas de trabalho, insalubridade dos ambientes industriais, trabalho infantil etc. Diante dessa situação, diversos pensadores, intitulados socialistas, buscavam encontrar soluções para melhorar as condi-ções de vida e trabalho das classes menos favorecidas.

Para Karl Marx e Friedrich Engels, os planos de socialis-tas que buscavam meios pacíficos para a transformação da socie-dade não passam de utopias. Segundo eles, a história humana sempre foi marcada pela luta de classes: na Antiguidade, entre patrícios e escravos; na Idade Média, entre senhores e servos e,

Muitos deles apelavam para a sensibilidade das camadas mais abastadas ou dos governantes, enquanto outros se limitavam a imaginar projetos de uma sociedade perfeita sem se preocupar seriamente com os meios para implementá-los. Isso não é terrível?

Karl Marx (1818-1883), filó-

sofo alemão, teve uma itensa

vida intelectual e revolucioná-

ria em favor do proletariado

moderno. Juntamente com

seu companheiro, Friedrich

Engels (1820-1895), fundou

o socialismo científico. Engels,

por sua vez, atuou com grande

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na Modernidade, pelo conflito entre capitalistas e trabalhadores assalariados. De acordo com os filosófos alemães, os capitalistas são os detentores de capital, isto é, possuem capital e itens que podem ser convertidos em dinheiro, como equipamentos e títulos de propriedade. Também chamados de proletários, os trabalhadores, desprovidos de capital, viam-se na condição de vender sua força de trabalho em troca de salários para poder garantir sua sobrevivência.

Para Marx e Engels, a contínua exploração do trabalho assala-riado levaria a sociedade capitalista a uma crise econômica sem pre-cedentes. Chegando a esse ponto, ocorreria necessariamente uma revolução proletária, que substituiria o governo tradicional, ins-trumento da classe dominante, por um governo proletário. Porém, progressivamente, esse governo proletário também desapareceria, dando origem a um novo tipo de sociedade, na qual todos seriam livres e não haveria mais distinções de classe.

Segundo a interpretação desses filósofos, a classe dominante, com o objetivo de diminuir o potencial revolucionário das classes trabalhadoras, desenvolve as “ideologias”, que consistem em con-juntos de conhecimentos, crenças e valores criados pelos capitalistas, mas assimilados pela classe dominada. O papel dessas ideologias é o de justificar as relações de poder existentes na sociedade, e a sua aceitação irrefletida leva a classe trabalhadora a um fenômeno chamado alienação − nela, a produção é separada do alcance e do interesse do trabalhador para se transformar em mercadoria. Nesse

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processo, o próprio ser humano deixa de ser considerado como pessoa e passa a ser tratado como coisa.

Embora Marx e Engels sejam autores difíceis de classificar – são ao mesmo tempo filósofos, historiadores, economistas, pensa-dores sociais etc. –, sua contribuição para a filosofia da educação é inestimável. Acompanhe as reflexões a seguir e você terá uma ideia mais clara do que estamos afirmando.

Para compreendermos melhor a proposta pedagógica de Marx, é importante termos em mente que a ideologia, embora constituída de elementos imateriais – ideias, crenças, valores etc. –, tem origem nas relações concretas que os seres humanos estabe-lecem entre si para proverem sua subsistência material.

O grande problema é que a sociedade estabelece dicotomias, como trabalho e fruição, produção e consumo, nas quais quem produz – a classe trabalhadora – geralmente não usufrui da tota-lidade do resultado de seu trabalho, enquanto que os maiores con-sumidores – os capitalistas – usufruem do resultado do trabalho de outros. Para superar a alienação, portanto, é necessário reintegrar esses dois mundos, o espiritual e o material, das ideias e das coisas.

No entender de Marx e Engels, a sociedade é dividida entre aqueles que pensam e aqueles que executam: o engenheiro pensa a obra, o pedreiro assenta os tijolos; o projetista pensa um novo

A proposta marxista para a transformação da sociedade é essencialmente humanista: trata-se de promover a formação de uma consciência crítica na classe proletária para que ela possa se libertar da alienação e se emancipar econômica e socialmente. A vertente marxista procura, portanto, estudar a sociedade para identificar suas contradições e, a partir delas, vislumbrar possibilidades de transformação social e melhoria das condições de vida e de trabalho do proletariado.

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modelo de máquina, o trabalhador na linha de montagem aperta parafusos. Para os filósofos alemães, ao contrá-rio, o ideal é que todos sejam capazes de ambas as atividades: pensamento e execução. Nesse sentido, a educação não pode se desvincular do trabalho.

Com base nesses pressupostos, Marx e Engels empreendem uma dura crítica à educação escolar de seu tempo, afirmando que a escola serve aos propósitos mesquinhos da classe capitalista, pois pode ser comparada a uma empresa, na qual o professor assume o papel de trabalhador assalariado, cujo produto – a instrução de crianças e jovens – visa formar mão de obra para o trabalho alie-nante da indústria. O projeto de Marx implica conceber o trabalho como princípio educativo para superar a alienação, pois, em suas próprias palavras (Marx, 2002, p. 68):

Nós consideramos a tendência de a indústria moderna fazer as crianças de ambos os sexos cooperar no grande trabalho da produção social, como tendência progressista, sadia e legí-tima. Em uma sociedade organizada racionalmente toda e qualquer criança, da idade de nove anos em diante, deve se tornar um trabalhador produtivo do mesmo modo que ne-nhum adulto sadio deverá ser eximido da lei geral da natu-reza, isto é, deve trabalhar para merecer comer, e trabalhar não apenas com o cérebro, mas também com as mãos.

Colocado desse modo, somos levados a acreditar que Marx defende o trabalho infantil, o que, de fato, não é de todo incorreto. Porém, não podemos perder de vista o contexto social e econômico em que Marx viveu. As famílias dos trabalhadores das fábricas eram pobres, fato que obrigava não só os adultos, mas também as crianças, ao trabalho na indústria, o que comprometia a educação

Para superar a alienação, portanto, é necessário reintegrar esses dois mundos, o espiritual e o material, das ideias e das coisas.

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escolar destas. A situação das crianças que trabalhavam em minas de carvão era ainda pior, pois, além do árduo trabalho, dos baixos salários, da lon- ga jornada de trabalho, havia um altíssimo grau de insalubridade, fator causador de irreparáveis danos à saúde dos pequenos trabalhadores. Vejamos, por exemplo, como Marx (2002, p. 68) se referiu a um caso específico de sua época:

Muitos rapazes que frequen-taram a escola durante as 150 horas prescritas, encontram-se exatamente no mesmo esta-do, ao cabo de 6 meses da sua estadia na fábrica, do que no ponto de partida; esqueceram naturalmente tudo o que ti-nham aprendido antes. Noutras empresas de estampagem sobre algodão, a frequência da escola depende totalmente das exigências do trabalho na empresa. O número de horas obrigatórias é aí satisfeito em cada período de 6 meses por prestações de 3 a 4 horas de cada vez, disseminadas por todo o semestre. A criança, por exemplo, vai à escola um dia das 8 às 11 da manhã, outro dia da 1 às 4 da tarde, depois durante toda uma série de dias para aí voltar em seguida das 3 às 6 horas da tarde durante 3 ou 4 dias seguidos ou durante uma semana. Desaparece de novo três semanas ou um mês, depois volta durante algumas horas em certos dias de folga, quando por acaso o patrão não precisa dela. A criança passa assim da escola para a fábrica e da fábrica para a escola, até que se atinja o total das 150 horas.

A situação das crianças que trabalhavam em minas de carvão era ainda pior, pois, além do árduo trabalho, dos baixos salários, da longa jornada de trabalho, havia um altíssimo grau de insalubridade, fator causador de irreparáveis danos à saúde dos pequenos trabalhadores.

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É importante observar que Marx não condenava o trabalho de jovens, mas sim o fato de isso impedir que eles tivessem um aprendizado adequado na escola. O próprio mundo do trabalho não deve ser alheio à aprendizagem escolar, pois, ao executar uma determinada atividade profissional, também se realiza uma forma de aprendizagem. Afinal, não é esse o objetivo dos programas de estágio que existem ainda hoje nos cursos profissionalizantes e nos programas de graduação? O que Marx enfatiza é a lenta pro-gressão da carga horária: a criança deve dedicar no máximo uma ou duas horas de seu dia a atividades produtivas e, à medida que ela cresce essa carga horária vai se ampliando, mas sem comprometer os demais aspectos de sua formação. Quando ela chegar à idade adulta, verá a inserção no mercado de trabalho como algo natural.

4.2 O legado de Marx e Engels

Marx e Engels foram dois filósofos profundamente engajados nas questões sociais e econômicas de sua época, escrevendo com paixão, mas nem sempre de modo absolutamente coerente. Em suas obras, o termo ideologia, por exemplo, às vezes assume uma conotação negativa, indicando uma visão distorcida da realidade como forma de justificar uma relação de poder e, em outros momentos, o termo é compreendido de forma positiva, como

Tendo em vista as teorias de Marx e Engels, reflita com seus colegas: O que elas têm de atual? Como elas nos ajudam a pensar os problemas pedagógicos hoje? A sociedade de fato mudou muito desde a época da Marx e Engels, mas a lógica do sistema capitalista continua praticamente a mesma. O que você acha disso?

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“visão de mundo”, quando se trata da ideologia da classe trabalhadora. Marx e Engels defendem uma interpretação dialética da realidade social, mas, em alguns aspectos, o pensamento dos filosófos é francamente dogmático e, portanto, antidialético.

Seus herdeiros intelectuais fre-quentemente discordam sobre questões importantes do pensamento marxista e, nesse sentido, cada um disputa a sua

“correta” interpretação.

Trata-se de um debate extremamente complexo, no qual podemos pontuar algumas das questões mais cruciais, especial-mente as que dizem respeito à filosofia da educação.

Contudo, após o XX Congresso do Partido Comunista da URSS, em 1956, que revelou ao mundo os crimes cometidos durante o regime stalinista, e após a sangrenta invasão da Hungria, no mesmo ano, muitos intelectuais de esquerda ficaram desiludidos com o marxismo soviético. Grande parte desses intelectuais, motivados pela publicação de diversos textos da juventude de

Após a vitória do partido bolchevique na Rússia, em 1917, e com a formação do bloco soviético alguns anos mais tarde, a interpretação do marxismo veiculada pelo Partido Comunista Soviético se tornou a versão “oficial” e (relativamente) pouco questionada do pensamento de Marx e Engels. De acordo com essa versão, a base econômica é determinante de todas as outras instâncias da sociedade, como a política, a cultura e a educação. Sendo assim, o indivíduo se apaga, pois o que realmente importa não é o trabalhador em “carne e osso”, e sim a “classe trabalhadora” como categoria social.

Como o marxismo se firmou como uma das mais ricas e importantes tradições intelectuais do Ocidente, as ambivalências presentes nos textos de Marx e Engels se tornaram motivo de acirrados debates.

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Marx, desenvolveram uma interpretação de caráter humanista do pensamento marxista (Droz, 1976).

De modo geral, o jovem Marx vê no trabalhador um agente de transformação da sociedade, de superação dos diversos tipos de alienação e artífice de sua própria libertação. Já nos textos da maturidade, Marx se interessa, sobretudo, pelo “processo histórico”, a fim de compreendê-lo e de colaborar com ele. De acordo com Marx, (1978, p. 595, tradução nossa):

Os homens fazem sua própria História, mas não a fazem como bem querem, eles não a fazem sob circunstâncias esco-lhidas por eles mesmos, mas sim sob circunstâncias dadas e transmitidas diretamente do passado. A tradição de todas as gerações mortas recai como um pesadelo no cérebro dos vivos.

Em face dessa perspectiva, podemos discernir basicamente duas grandes linhas no pensamento marxista ocidental contemporâneo: a primeira delas é formada por intelectuais como Edward Thompson, que buscavam uma reinterpretação do pensamento de Marx e Engels à luz dos textos da juventude de Marx. Nesse sentido, a ênfase dada posteriormente por esse autor às questões econômicas é um desdobramento natural de seu sistema filosófico, sem romper, contudo, com seu caráter humanista. A segunda linha é representada por filósofos que identificam um “corte epistemológico” entre os textos da juventude e os da maturidade de Marx. De acordo com

Em outras palavras, a história seria um processo com leis próprias e relativamente autônomas em relação à iniciativa individual dos agentes históricos. Pense nas consequências práticas dessa concepção!

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essa interpretação, o pensamento de Marx e Engels sofreu uma reorientação radical, indo da “ideologia” humanista à “ciência” do socialismo.

A segunda linha, pretensamente científica e francamente anti--humanista, é representada principalmente pelo filósofo marxista francês Louis Althusser. Anti-humanista porque Althusser relega ao mínimo o papel dos sujeitos individuais no processo histó-rico. Nesse sentido, seu posicionamento parece semelhante ao do marxismo leninista-stalinista, também conhecido como marxismo

vulgar, que parte de uma concepção cartesiana e mecanicista de causalidade histórica e, por isso, a metáfora “base-superestrutura” lhe cabe muito bem. Althusser também admite a relação base- superestrutura, mas, em vez de afirmar simplesmente que a pri-meira é causa da segunda, ele avança a tese de uma causalidade estrutural (Althusser; Balibar, 1980).

No campo da educação, a contribuição mais importante de Althusser é o conceito de aparatos ideológicos do Estado (Althusser, 1985). Para esse autor, o Estado é formado por uma série de instituições, como a administração pública, o exército, a polícia, os tribunais, as prisões etc., que exercem um controle coercitivo na sociedade.

De maneira simples, isso siginifica que a sociedade é concebida como uma série de conjuntos interligados – economia, ideologia e política –, na qual cada elemento é causa dos demais e, ao mesmo tempo, efeito do conjunto.

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Em uma perspectiva althusseriana, a educação em geral, e a escola em particular, são veículos de transmissão da ideologia dominante, cujo principal objetivo é o de garantir a manutenção do controle social nas mãos da classe burguesa. Em função disso, a filosofia de Althusser (1985) serve de inspiração a uma corrente pedagógica chamada crítico-reprodutivista, designação motivada pela característica marcante dessa linha pedagógica de denunciar o caráter ideológico da educação escolar, que é entendida como instrumento da classe dominante para a reprodução das condi-ções sociais e econômicas vigentes, que permitem a dominação de classe. Desse modo, em um processo revolucionário, a eliminação da educação escolar é condição necessária para a emancipação da classe trabalhadora.

Contrapondo-se ao caráter pessimista da pedagogia crítico--reprodutivista, existe outra corrente de inspiração marxista que, embora também admita que a escola historicamente seja usada como instrumento para inculcar a ideologia nas gerações mais jovens, afirma que a escola pode e deve se transformar no seu oposto: em local de formação da consciência crítica. Com relação a essa corrente, embora possamos identificar muitas terminolo-gias, é inegável o sucesso da expressão pedagogia histórico-crítica, associada principalmente ao nome de Demerval Saviani, teórico da educação brasileiro. Esse autor busca uma superação da peda-gogia tradicional e da Escola Nova, as quais ele caracteriza como não críticas, pois partem de uma perspectiva ideologizante: aristo-crática no primeiro caso e burguesa no segundo (Saviani, 1983).

Contudo, existe outro conjunto de instituições, não necessariamente públicas ou diretamente subordinadas ao Estado, que também exercem uma forma de controle, mas não um controle coercitivo, e sim ideológico. Exemplos desses tipos de instituições são as igrejas, a família, os sindicatos, a mídia, a literatura, as artes e, é claro, escola.

Uma pedagogia crítica, isto é, uma prática educativa que leve a uma tomada de consciência da dominação de classe e que forneça subsídios para uma ação social transformadora deve ir além de uma mera crítica ao papel ideológico da escola, sugerindo alternativas para que a escola também se transforme e assuma um novo papel.

Gramsci critica o sistema educacional de sua época, que mantinha dois tipos de ensino formal: um academicista, de maior duração e nível de profundidade, voltado à formação das elites; e outro profissionalizante, voltado às camadas populares, visando dar-lhes o mínimo de qualificação profissional. Como alternativa a esse modelo dicotômico, esse intelectual propõe uma educa-ção pública e unitária, que não faça distinções de classes sociais (Gramsci, 2000).

Gramsci era ainda um intelectual extremamente preocupado com o papel da cultura – que ele chamava de civilitá – nas transfor-mações sociais. Para ele, a cultura da classe dominante – também chamada de classe hegemônica – é produtora de valores ideológicos que contribuem para a manutenção das classes subalternas em um regime de submissão (Gramsci, 2000). Mas, ainda de acordo com o autor, as elites também produzem conhecimentos e tecnologias às quais as classes subalternas devem ter acesso em seu processo de emancipação social. Assim, basta pensarmos em conjuntos de saberes como a medicina ou a matemática, em sua maior parte, esses saberes são produtos da classe dominante; em contra partida, a existência de tais conhecimentos só redunda em benefícios para as classes dominadas.

Na verdade, a pedagogia histórico-crítica não é uma invenção absolutamente nova e original de Saviani. Um importante precursor do movimento de renovação crítica da instituição escolar é Antonio Gramsci, intelectual e militante marxista italiano da primeira metade do século XX.

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Em uma perspectiva althusseriana, a educação em geral, e a escola em particular, são veículos de transmissão da ideologia dominante, cujo principal objetivo é o de garantir a manutenção do controle social nas mãos da classe burguesa. Em função disso, a filosofia de Althusser (1985) serve de inspiração a uma corrente pedagógica chamada crítico-reprodutivista, designação motivada pela característica marcante dessa linha pedagógica de denunciar o caráter ideológico da educação escolar, que é entendida como instrumento da classe dominante para a reprodução das condi-ções sociais e econômicas vigentes, que permitem a dominação de classe. Desse modo, em um processo revolucionário, a eliminação da educação escolar é condição necessária para a emancipação da classe trabalhadora.

Contrapondo-se ao caráter pessimista da pedagogia crítico--reprodutivista, existe outra corrente de inspiração marxista que, embora também admita que a escola historicamente seja usada como instrumento para inculcar a ideologia nas gerações mais jovens, afirma que a escola pode e deve se transformar no seu oposto: em local de formação da consciência crítica. Com relação a essa corrente, embora possamos identificar muitas terminolo-gias, é inegável o sucesso da expressão pedagogia histórico-crítica, associada principalmente ao nome de Demerval Saviani, teórico da educação brasileiro. Esse autor busca uma superação da peda-gogia tradicional e da Escola Nova, as quais ele caracteriza como não críticas, pois partem de uma perspectiva ideologizante: aristo-crática no primeiro caso e burguesa no segundo (Saviani, 1983).

Contudo, existe outro conjunto de instituições, não necessariamente públicas ou diretamente subordinadas ao Estado, que também exercem uma forma de controle, mas não um controle coercitivo, e sim ideológico. Exemplos desses tipos de instituições são as igrejas, a família, os sindicatos, a mídia, a literatura, as artes e, é claro, escola.

Uma pedagogia crítica, isto é, uma prática educativa que leve a uma tomada de consciência da dominação de classe e que forneça subsídios para uma ação social transformadora deve ir além de uma mera crítica ao papel ideológico da escola, sugerindo alternativas para que a escola também se transforme e assuma um novo papel.

Gramsci critica o sistema educacional de sua época, que mantinha dois tipos de ensino formal: um academicista, de maior duração e nível de profundidade, voltado à formação das elites; e outro profissionalizante, voltado às camadas populares, visando dar-lhes o mínimo de qualificação profissional. Como alternativa a esse modelo dicotômico, esse intelectual propõe uma educa-ção pública e unitária, que não faça distinções de classes sociais (Gramsci, 2000).

Gramsci era ainda um intelectual extremamente preocupado com o papel da cultura – que ele chamava de civilitá – nas transfor-mações sociais. Para ele, a cultura da classe dominante – também chamada de classe hegemônica – é produtora de valores ideológicos que contribuem para a manutenção das classes subalternas em um regime de submissão (Gramsci, 2000). Mas, ainda de acordo com o autor, as elites também produzem conhecimentos e tecnologias às quais as classes subalternas devem ter acesso em seu processo de emancipação social. Assim, basta pensarmos em conjuntos de saberes como a medicina ou a matemática, em sua maior parte, esses saberes são produtos da classe dominante; em contra partida, a existência de tais conhecimentos só redunda em benefícios para as classes dominadas.

Na verdade, a pedagogia histórico-crítica não é uma invenção absolutamente nova e original de Saviani. Um importante precursor do movimento de renovação crítica da instituição escolar é Antonio Gramsci, intelectual e militante marxista italiano da primeira metade do século XX.

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Mas como distinguir, na cultura dominante, o que é cientí-fico e o que é ideológico? Como distinguir os conhecimentos que propiciam a emancipação social daqueles que acabam por reforçar as estruturas de dominação?

Aqui cabe destaque ao “intelectual orgânico” – um intelec-tual em sintonia com uma classe social determinada, procurando torná-la coesa, fomentando uma consciência de classe. A burgue-sia também possui seus intelectuais orgânicos, mas, no âmbito da cultura, os do proletariado devem ser capazes de filtrar para as classes subalternas os conhecimentos necessários dos valores ideológicos a eles geralmente relacionados. Desse modo, devemos estar atentos àqueles profissionais que atuam junto às classes mais baixas, especialmente a figura do professor, que pode ser um mero transmissor da ideologia dominante ou um verdadeiro intelectual orgânico. Daí a importância da escola como instância possível de formação da consciência crítica do educando (Gramsci, 1975).

Como você pôde perceber, a influência do materialismo dialé- tico nas concepções pedagógicas foi de grande impacto.

4.3 Apreciação crítica do materialismo dialético

Não há como negar a influência da teoria marxista no estudo da sociedade e seu impacto sobre as teorias e práticas pedagógi-cas contemporâneas, especialmente no Brasil. Tampouco se pode

Mas, essa influência foi positiva ou negativa? O que você acha? E as diferenças no interior dessa corrente? Com qual delas você mais se identifica? Por quê? Debata sobre essas questões com seus colegas!

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Mas como distinguir, na cultura dominante, o que é cientí-fico e o que é ideológico? Como distinguir os conhecimentos que propiciam a emancipação social daqueles que acabam por reforçar as estruturas de dominação?

Aqui cabe destaque ao “intelectual orgânico” – um intelec-tual em sintonia com uma classe social determinada, procurando torná-la coesa, fomentando uma consciência de classe. A burgue-sia também possui seus intelectuais orgânicos, mas, no âmbito da cultura, os do proletariado devem ser capazes de filtrar para as classes subalternas os conhecimentos necessários dos valores ideológicos a eles geralmente relacionados. Desse modo, devemos estar atentos àqueles profissionais que atuam junto às classes mais baixas, especialmente a figura do professor, que pode ser um mero transmissor da ideologia dominante ou um verdadeiro intelectual orgânico. Daí a importância da escola como instância possível de formação da consciência crítica do educando (Gramsci, 1975).

Como você pôde perceber, a influência do materialismo dialé- tico nas concepções pedagógicas foi de grande impacto.

4.3 Apreciação crítica do materialismo dialético

Não há como negar a influência da teoria marxista no estudo da sociedade e seu impacto sobre as teorias e práticas pedagógi-cas contemporâneas, especialmente no Brasil. Tampouco se pode

Mas, essa influência foi positiva ou negativa? O que você acha? E as diferenças no interior dessa corrente? Com qual delas você mais se identifica? Por quê? Debata sobre essas questões com seus colegas!

negar a genialidade e a complexidade do pensamento de Marx e Engels. É verdadeiramente fascinante o modo como ambos ar-ticulam teorias muitas vezes de caráter burguês ou aristocrático em uma síntese dialética que serve da base para uma proposta pedagógica socialista.

Em uma época na qual a exploração da classe trabalhadora havia atingido níveis que até hoje nos causam horror, a filosofia marxista representou uma contribuição inestimável para a conscientização dos trabalhadores e sua consequente luta por melhores condições de vida e trabalho.

Apesar dos aspectos positivos do materialismo dialético, não podemos nos esquecer de que, ao longo da história, essa filosofia foi, muitas vezes, aplicada dogmaticamente, ocasionando opressão e totalitarismo. Em outras ocasiões, o marxismo foi usado como bandeira de partidos de esquerda, o que é um grande contra-senso, pois Marx e Engels reiteradamente afirmaram que a atuação em partidos políticos significava a aceitação do jogo político da bur-guesia. Os textos de Marx e Engels não devem ser lidos como uma

“cartilha” ou um manual de instruções, mas o fato de inspirarem novas ideias torna esses textos ainda mais importantes.

Síntese

O materialismo dialético é uma filosofia baseada nos escritos de dois pensadores alemães do século XIX, Karl Marx e Friedrich Engels. Para eles, a história se desenvolve de forma dialética, isto é, em um movimento de tese/antítese/síntese, configurada em uma contínua luta de classes. Em uma etapa ulterior do sistema

Contudo, é importante tomarmos cuidado com interpretações levianas que atribuem a Marx e Engels ideias e práticas às quais eles jamais dariam aval. Pense nisso!

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capitalista, o acirramento das contradições sociais levaria a uma revolução socialista, etapa necessária para à instalação de uma di-tadura proletária e, posteriormente, à superação da própria ideia de Estado e do estabelecimento de uma sociedade sem classes.

A educação ganha destaque no ideário do materialismo dialé-tico na medida em que Marx e Engels postulam a necessidade de uma educação proletária como modo de formação da consciência crítica e da supressão da ideologia burguesa.

Nos debates entre marxistas contemporâneos, uma das questões mais controversas diz respeito ao papel da escola. Para alguns teóricos marxistas, como Louis Althusser, representante da corrente crítico-reprodutivista, a escola é e sempre será local de doutrinação da ideologia burguesa, devendo, portanto, ser extinta do processo de emancipação social da classe trabalhadora. Porém, de acordo com outros teóricos marxistas, como Demerval Saviani, a escola pode se tornar local de formação da consciência crítica, não devendo, portanto, ser extinta, e sim transformada.

Indicações culturais

Filmes

TEMPOS modernos. Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin. EUA:

United Artists, 1936. 87 min.

O filme retrata aspectos do cotidiano de trabalhadores da indústria, especialmente o caráter anti-humanista da linha de montagem.

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REDS. Direção: Warren Beatty. Produção: Warren Beatty. EUA: Paramount Pictures,

1981. 188 min.

O filme apresenta a história do jornalista americano John Reed, que acompanhou de perto a Revolução Russa.

Livros

REED, J. Dez dias que abalaram o mundo. Porto Alegre: L&PM, 2004.

A obra retrata a Revolução Russa do ponto de vista de um jornalista americano que esteve presente no referido acontecimento.

ORWELL, G. A revolução dos bichos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Trata-se de um romance que satiriza a revolução de inspiração marxista que levou ao regime comunista na Rússia. Os atores históricos são representados por animais de uma fazenda e a narra-tiva deixa transparecer o caráter autoritário e anti-humanista do marxismo dogmático.

WILSON , E. Rumo à estação Finlândia. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

(Escritores e Atores da História).

Coleção de ensaios biográficos que narram a trajetória do marxismo, desde a vida de Marx e Engels até a Revolução Russa.

Atividades de autoavaliação

Nas questões 1 e 2, assinale (V) para as proposições verdadeiras e (F) para as falsas.

1. Falso ou verdadeiro?

)( O marxismo é uma filosofia associada ao comediante norte-americano Groucho Marx, que atuou na época do cinema mudo.

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)( O marxismo é também chamado de materialismo dialético, pois mantém o materialismo de seu predecessor, Hegel, conferindo-lhe, porém, um caráter dialético que este não possuía.

)( O materialismo dialético surgiu no século XVII, antes, portanto, da Revolução Industrial e da Revolução Fran-cesa.

)( Para Marx e Engels, é preciso desmascarar a ideologia imposta pelo proletariado para que a classe burguesa se liberte de suas amarras sociais.

Agora, assinale a alternativa que indica a sequência correta:

a) F, F, F, F.

b) V, V, V, V.

c) F, V, F, V.

d) V, F, V, F.

2. Falso ou verdadeiro?

)( Os textos de Marx e Engels, em virtude de sua coerência e unidade lógica, permitiram que o marxismo se tornasse historicamente um movimento intelectual coeso, no qual raramente surgem disputas quanto à sua correta interpre-tação.

)( Após a vitória do partido bolchevique na Rússia, em 1917, e com a formação do bloco soviético alguns anos mais tarde, a interpretação do marxismo veiculada pelo Parti-do Comunista Soviético se tornou a versão “oficial” e (re-lativamente) pouco questionada do pensamento de Marx e Engels.

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)( Em uma perspectiva althusseriana, a educação em geral, e a escola em particular, são veículos de transmissão da ideologia dominante, cujo principal objetivo é o de ga-rantir a manutenção do controle social nas mãos da classe burguesa.

)( Gramsci propõe uma educação pública e unitária que não faça distinções de classes sociais.

Agora, assinale a alternativa que indica a sequência correta:

a) V, F, F, F.

b) V, V, V, F.

c) F, V, V, V.

d) F, F, F, F.

3. Considerando a filosofia da educação de Marx e Engels (1989), assinale a alternativa correta:

a) Marx e Engels são terminantemente contra o trabalho in-fantil, argumentando que só a partir dos 18 anos de idade o indivíduo pode se engajar em atividades produtivas.

b) Marx e Engels defendem o trabalho infantil, argumen-tando que longas jornadas de trabalho, de 12 ou mais ho-ras diárias, servem para fortalecer o caráter de crianças e jovens.

c) Marx e Engels não são contrários ao trabalho infantil, mas se opõem à exploração indiscriminada de crianças e jovens no setor produtivo.

d) Marx e Engels adotam uma posição neutra em relação ao trabalho infantil, uma questão polêmica na época, mas já resolvida nos dias de hoje.

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4. Sobre o legado de Marx e Engels para a filosofia da educação, assinale a alternativa incorreta:

a) Para Althusser, a escola pode ser considerada um aparato ideológico do Estado e, em função disso, seu papel é o de defender os interesses das classes dominantes.

b) Segundo a pedagogia histórico-crítica, a escola pode se tornar local de formação da consciência crítica, ainda que historicamente ela tenha feito justamente o oposto disso.

c) Para Demerval Saviani (1983), a extinção da escola se coloca como condição indispensável para a superação da ideologia burguesa.

d) Na interpretação de Gramsci (2000), o professor pode ser visto como intelectual orgânico na medida em que fomen-ta a consciência de classe.

5. Leia o texto de Marx (1983, p. 233) a seguir e assinale a alter-nativa correta:

O resultado a que cheguei, uma vez obtido, serviu-me de fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado em poucas palavras: na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral de vida social, político e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência.

a) Para Marx, o desejo de enriquecimento pessoal, que se identifica com a produção social da própria vida, tornou-se o fio condutor de seus estudos.

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b) Na concepção de Marx, a base econômica serve de alicer-ce à superestrutura jurídica e política da sociedade.

c) Na teoria econômica de Marx, o modo de produção da vida material é condicionado pelo processo em geral de vida social, política e espiritual.

d) O desenvolvimento das forças produtivas materiais per-manece sempre o mesmo, não obstante as mudanças que ocorrem na sociedade.

Atividades de aprendizagemQuestões para reflexão

1. Faça uma explanação sobre os conceitos de materialismo e dialética e explique de que modo esses conceitos se articulam na filosofia de Marx e Engels.

2. Explique a crítica que Marx e Engels fizeram à instituição escolar no século XIX.

3. Compare a concepção de educação em Althusser; Balibar (1980) e Demerval Saviani (1983), indicando semelhanças e diferenças.

Atividade aplicada: prática

Elabore um texto sobre a questão do ensino profissionalizante e relacione essa questão às teorias educacionais de Marx e Engels.

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A fenomenologia, o existencialismo e o estruturalismo

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Imagine se você tivesse de ler cerca de 100 livros por ano, durante 10 anos. Mil livros! Parece muita coisa, não é? No entanto, qualquer boa biblioteca universitária deveria contar com um acervo de obras de filosofia muito maior do que esse

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número. Isso ocorre porque, no século XX, a filosofia se expandiu de maneira extraordinária: o número de autores e obras que valem a pena ser lidos é tão grande que ninguém consegue dar conta.O estudo da filosofia contemporânea e de suas relações com as teorias e as práticas pedagógicas requer, portanto, que façamos escolhas.

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Em função disso, neste capítulo, estudaremos apenas três das muitas vertentes da filosofia contemporânea – a fenomenologia, o existencialismo e o estruturalismo – e procuraremos desenvolver suas implicações para o pensamento pedagógico. Nesse sentido, perdemos em abrangência, mas ganhamos na profundidade da análise. Isso, porém, não significa que você deva se limitar a essas correntes. Este capítulo é somente um ponto de partida para uma jornada fascinante que você pode empreender no universo da filo-sofia contemporânea!

Das três correntes que estudaremos neste capítulo, duas são estreitamente relacionadas: a fenomenologia e o existencialismo. A fenomenologia surgiu na virada do século XIX para o XX como uma tentativa de superar os impasses trazidos pela psicologia, que na época ameaçava desacreditar as pretensões da filosofia de bus-car um conhecimento verdadeiro e objetivo (Giles, 1975). Como em muitos momentos a reflexão fenomenológica se fazia com base em uma análise do conteúdo das vivências humanas, abriu-se espaço para que se colocassem questões existenciais, como o sentido da vida humana em face de sua finitude: surgia assim o existencialismo, que afirma de forma radical a liberdade humana. Nessa corrente, o ser humano é visto como alguém que faz a si mesmo a partir de suas escolhas (Giles, 1975).

Em oposição à tese existencialista, muitas correntes filosóficas afirmam que o ser humano não é livre, que a liberdade é uma ilusão e que as escolhas humanas são determinadas por estruturas incons-cientes. Dessas correntes, a mais influente é o estruturalismo, posicionamento filosófico de oposição à fenomenologia e, princi-palmente, ao existencialismo.

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Acompanhe a partir de agora, portanto, essa fascinante discussão!

5.1 A fenomenologiaa

Você já deve ter percebido que muitas questões filosóficas são também pertinentes à psicologia, não é mesmo? Mas, embora existam afinidades, as relações entre psicologia e filosofia, como você

verá a seguir, nem sempre foram harmônicas. A filosofia moderna foi inaugu rada por René Descartes, cujo pensamento problematizava a questão do conhecimento. A partir de então, as demais questões filosó-ficas, como a metafísica, a ética, a política, a estética, a cosmologia etc., passaram a ficar subordinadas à gno-siologia, isto é, à reflexão filosófica sobre o conhecimento. A psicologia, como parte da filosofia, assumia um papel importante, pois lhe cabia re-fletir sobre as condições de possibi-lidade do conhecimento. Porém, ao longo do século XIX, a psicologia se firmou como uma ciência empírica e

a. Os conceitos emitidos nesta seção baseiam-se em Husserl (1980).

Autor da famosa frase “Cogito,

ergo sum” (“penso, logo existo”),

René Descartes (1596-1650)

foi uma das figuras de maior

proeminência da Revolução

Científica com sua obra Dis-

curso do método.

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autônoma, e não mais como uma parte da filosofia. Assim, grandes questões filosóficas como:

• O que é a verdade?;

• Como é possível o conhecimento?;

• Como distinguir o falso do verdadeiro?;

Entre outras, passaram a ser consideradas questões científicas e não mais filosóficas.

Como resultado dessas mudanças, a filosofia entrou em crise. Se a psicologia já tinha as respostas para as principais questões filo- sóficas, o questionamento filosófico então tinha se tornado desne-cessário. Mas, pior do que isso, era o tipo de resposta que a psico- logia empírica oferecia à questão da objetividade do conhecimento.

Os psicologistas de segunda metade do século XIX argu-mentam que o conhecimento se dá em atos mentais. Como esses atos são distintos de um sujeito para o outro – o meu pensamento é diferente do de outra pessoa –, então os objetos mentais são também subjetivos. Com isso, a objetividade, isto é, a possibili-dade de dois ou mais sujeitos se referirem a um mesmo e único objeto de conhecimento, torna-se simplesmente impossível. Nesse contexto, surgiram basicamente duas grandes propostas de supe-ração dos impasses ocasionados

Tente imaginar como soa absurdo dizer, por exemplo, que duas pessoas, olhando para a mesma maçã, estão cada qual olhando para a “sua” maçã, distinta da maçã do outro, ou que várias pessoas, pensando na ideia matemática de circunferência, estão se referindo a objetos diferentes!

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pela interpretação psicologista do conhecimento. A primeira delas foi o neokantismo, uma tentativa de retomar e atualizar a filosofia de Kant. Essa proposta situa a questão do conhecimento em um campo transcendental, isto é, acima da experiência imediata, não permitindo que a psicologia empírica se confunda com a reflexão filosófica. Mas o neokantismo trabalha com categorias muito abs-tratas e distantes da realidade, e assim não atraiu muitos adeptos.

A segunda proposta vem de Edmund Husserl, um pen-sador austríaco que parte da psicologia, das vivências concretas tais como experienciadas por um sujeito de conhecimento, para aí então ultrapassar a própria psicologia e ressituar as questões filosóficas em novo nível de entendimento. Essa segunda proposta, que partia do con-ceito filosófico de “fenômeno”, entendido como o objeto tal como aparece na consciên-cia de um sujeito, firmou-se na tradição filosófica com o nome de fenomenologia. Para isso, Husserl se baseou no conceito de intencionalidade, trabalhado inicialmente por Franz Brentano, seu pro-fessor. No linguajar corrente, falamos de intencionalidade como um ato da vontade que impele o sujeito a uma ação. A intenção tem implicações morais: dizemos que fulano

Crítico do naturalismo e

do historicismo, Edmund

Husserl (1859-1938) tinha o

desejo de alçar a filosofia a um

efetivo patamar científico. Re-

formulou o conceito de cogito

de Descartes, criando a frase

“Ego cogito cogitatum” (eu penso

o pensado).

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teve boas ou más “intenções” ao praticar determinada ação. Para a filosofia medieval, no entanto, a palavra intencionalidade significava também um ato mental em direção a um objeto de conhecimento. Assim, uma intenção é uma ação de ordem puramente cognitiva, isto é, um ato pelo qual um sujeito visa a um determinado objeto.

Brentano e Husserl retomam esse conceito da Idade Média, pois, com base nele, podemos conceber o conhecimento não como algo que acontece a um sujeito, mas como algo que o sujeito faz acontecer, uma vez que a intenção é um ato e não uma passividade. Com isso, é possível superar a concepção empirista clássica, de caráter mecanicista, que atribui ao objeto o papel de agente no ato de conhecimento e que entende o papel do sujeito como o de um ser passivo, que simplesmente recebe as impressões feitas pelo objeto sobre os órgãos dos sentidos. Na perspectiva fenomenoló-gica, ocorre justamente o contrário: é o sujeito que tenciona (tende a) um objeto. Até aí tudo bem, mas o que devemos entender, afinal, quando se fala em fenomenologia?

O método fenomenológico consiste, então, em uma descri-ção minuciosa dos atos psíquicos correspondentes às vivências intencionais. Husserl critica o psicologismo, afirmando que ele confunde o ato mental (nóesis) com o objeto de conhecimento (nóema): o primeiro é individual e subjetivo, mas o segundo pode ser universal e objetivo, isto é, pode ser o mesmo para diversos sujeitos. Com essa distinção, Husserl não só recupera a possibili-dade da objetividade do conheci-mento, que o psicologismo havia tentado desacreditar, mas também garante a autonomia e a primazia da especulação filosófica.

Toda consciência já é consciência de alguma coisa: sujeito e objeto são indissociáveis.

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A fenomenologia constata que não existe uma consciência isolada, esperando para ser preenchida pela experiência de um objeto. Toda consciência já é consciência de alguma coisa: sujeito e objeto são indissociáveis. Mesmo quando alguém toma consciência de si, o “si mesmo” se torna objeto de conhecimento. Embora a filosofia de Husserl não tematize explicitamente a questão peda-gógica com base no método fenomenológico, as implicações da fenomenologia para a filosofia da educação são inegáveis. De acordo com o filósofo brasileiro Admardo Serafim de Oliveira (1993, p. 106-107):

A consciência de si mesmo é o que faz do ser humano um ser reflexivo e também um ser de ação, já que somente ele é possuidor de pensamento e linguagem, o que lhe possibilita agir e refletir sobre si mesmo e sobre suas próprias ações neste mundo. Nesse sentido o processo ensino-aprendizado trans-forma os educandos em sujeitos plenamente “intentos” sobre a realidade que os circunda e capazes de descobrir o que já estava nela implícito, porém inconspícuo no fenômeno per-cebido. A intencionalidade da consciência torna-se, dessa forma, o principal elemento do processo ensino-aprendizado em que os objetos são encarados como objetos-problemas, ou seja, obstáculos com os quais os alunos se deparam e se sen-tem compelidos a resolver. O aprendizado se transforma ao mesmo tempo em reflexão e contemplação, como também em convocação e desafio diante de situações-problema. O ato de aprender se constitui em tomar, criticamente, consciência da realidade. Nesse ato de conhecimento intencional, toda subje- tivação, todo ato de abstração é representado de tal modo que o processo ensino-aprendizado passa a ser encarado como um desafio para ambos, educador e educando.

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A essa altura, você já deve ter percebido com clareza a impor-tância do pensamento de Edmund Husserl e de suas ideias. No entanto, a fenomenologia, como tradição filosófica e método de investigação, ultrapassou os limi-tes do pensamento de Husserl e ganhou novos contornos nas inves-tigações de outros autores, como as de Martin Heidegger, um dos mais importantes para a história da filosofia. Mas, Heidegger, em vez de procurar firmar a filosofia como campo de investigação autônomo e fundamento das ciências, como Husserl havia feito, tem como prin-cipal preocupação a metafísica.

Na obra Ser e tempo (2002), Heidegger busca delimitar a com-preensão do ser em geral a partir de uma análise fenomenológica do ente que pensa o ser, isto é, o homem, que, na terminologia heideggeriana, é chamado de Dasein (ser aí), constituindo-se como um ser para a morte, pois nada é tão certo na vida humana quanto o fato de que um dia ela terá fim, ainda que não se saiba, de modo preciso, como e quando isso acontecerá.

Na verdade, esse autor está interessado na questão do ser, mas, ao tentar abordá-la por meio de uma antropologia filosófica, isto é, por meio de uma análise da existência humana de um ponto de vista fenomenológico, Heidegger se tornou a principal fonte

Maior representante da feno-

menologia, Martin Heidegger

(1889-1976) foi um dos pensa-

dores mais influentes no círculo

da filosofia alemã. O problema

do sentido do ser é o ponto de

partida de seu pensamento.

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de inspiração de outra corrente filosófica conhecida como exis-

tencialismo. É com essa corrente filosófica que você travará contato na seção a seguir.

5.2 O existencialismo

No dia a dia, você certamente pensa e fala sobre liberdade e provavelmente em um sentido positivo. Afinal, todos nós sentimos a necessidade de sermos livres, não é mesmo? Mas, e quanto ao conceito filosófico de liberdade? Você já parou para pensar nisso?

O existencialismo é uma corrente filosófica que enfa-tiza a liberdade e a responsabilidade individual do ser humano. Historicamente, o principal antecedente da filosofia existencia-lista é o pensamento de Sören Kierkegaard, filósofo dinamar-quês do século XIX. Contrapondo-se à corrente dominante da época, que afirma a primazia do universal, Kierkegaard sublinha a prioridade da existência singular. Profundamente influenciado pelo cristianismo, Kierkegaard acredita que a relação que o ser humano estabelece com o Criador é de ordem pessoal: Deus não ama o ser humano em geral, mas cada ser humano em particular (Blanc, 2003).

Na visão kierkegaardiana, a existência humana é absurda e sem sentido, levando o homem à angústia e ao desespero. Em face dessa situação, o ser humano pode assumir umas das três seguintes condições: o estado estético, no qual tentamos nos distrair com as

Segundo o filósofo alemão, a consciência da morte como condição existencial última da vida humana é o que permite ao homem viver uma vida autêntica.

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coisas do mundo para não pensar-mos no absurdo da vida; o estado ético, no qual assumimos uma ati-tude de resignação diante do caos que cerca a existência humana; e, finalmente, o estado religioso, no qual, por meio da fé, o ser humano dá um “salto” para Deus (Blanc, 2003).

Heidegger retoma a filoso-fia de Kierkegaard, mas em uma perspectiva não teísta, isto é, sem levar em consideração a dimensão religiosa. Desse modo, o filósofo alemão não fala em três, mas em apenas dois modos de existência: o inautêntico e o autêntico. O modo de vida inautêntico corresponde ao estado estético de Kierkegaard.

Segundo Heidegger (2002), o ser humano assume uma existên-cia inautêntica quando busca fugir da angústia associada à ideia da morte e se distrai com as preocupações ime-diatas. A existência autêntica, corre-lata ao estado ético de Kierkegaard, ocorre quando o sujeito assume a morte como possibilidade existencial última e certa, mas indeterminada, e vive intensamente a angústia dela decorrente.

Filósofo dinamarquês, fun-

dador do chamado exis-

tencialismo cristão, Sören

Kierkegaard (1813-1855)

pautou seu pensamento nas

inquietações e angústias advin-

das de uma criação acerba-

mente religiosa, baseada no

protestantismo dinamarquês.

Kierkegaard acredita que a relação que o ser humano estabelece com o Criador é de ordem pessoal: Deus não ama o ser humano em geral, mas cada ser humano em particular (Blanc, 2003).

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Heidegger rejeita ser chamado de existencialista, uma vez que suas considerações sobre a existência humana não são senão o caminho pelo qual ele buscava atingir seu objetivo maior: a compreensão do ser em geral. Essa atitude de resignação estoica perante o absurdo da vida humana inspirou Jean-Paul Sartre, pensador francês considerado geralmente o principal represen-tante da corrente existencialista, cujas principais obras são O ser

e o nada (2005) e Crítica da razão dialética (2002). Ao defender a liberdade e a responsabilidade humanas, Sartre (2001) nega a crença em Deus, no destino, nos astros e em qualquer outro fator que pretenda determinar o curso da existência humana.

O existencialismo sartreano, em função de seu caráter pessimista, ao afirmar que a vida humana não vale a pena ser vivida ou que tanto faz viver ou não viver ou, ainda, por negar a fé cristã e os valores morais dela decorrentes, foi frequente-mente acusado de ser uma filosofia anti-humanista. Para se defender dessas críticas, Sartre explica o que é o existencialismo a partir da distinção entre “essência” e “exis-tência”. As coisas que existem no mundo em geral são seres “em si”, isto é, possuem uma essência deter-minada e são definidas em função dessa essência. Um grampeador, por exemplo, foi pensado e produzido

Expoente do existencialismo

ateu, ganhador do Nobel de

Literatura de 1964, o filóso-

fo francês Jean-Paul Sartre

(1905-1980) foi um dos

intelectuais mais engajados

de sua época, influenciando

desde o teatro até a política.

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para cumprir uma função definida: grampear papéis. Desse modo, sua essência, isto é, aquilo que a coisa

“é”, precede sua existência concreta. Com o ser humano, ao contrário, a existência precede a essência: aquilo que sou é resultado de um processo: eu primeiro existo e me faço a cada momento da minha

existência. Nesse processo, são as decisões livres que tomo que determinam meu ser, minha essência (Sartre, 2001).

Sartre esclarece seu argumento lançando mão de um exemplo. Em sua obra intitulada O existencialismo é um humanismo (2001), o filósofo francês nos conta a história de um jovem que foi procurá-

-lo na época da guerra para lhe pedir um conselho. O rapaz queria se juntar à resistência para lutar contra as forças alemãs, inimigas dos franceses, mas não queria abandonar a mãe idosa e doente. Sartre mostra que o jovem se encontrava em um dilema: podia se tornar um bom filho ou um bom patriota, mas não ambas as coisas. Em outras palavras, aquilo que ele “seria”, a sua “essência”, seria definida a partir de suas condições existenciais concretas e de sua livre escolha. Nesse sentido é que podemos entender a afirmação de Sartre de que somos “condenados a sermos livres”: podemos escolher qualquer coisa, exceto a possibilidade de não escolher. São as escolhas que fazemos que defi-nem quem nós somos. Trata-se de um posicionamento filosófico encantador, você não acha?

[...] aquilo que sou é resultado de um processo: eu primeiro existo e me faço a cada momento da minha existência.

Sartre (2001) nega a crença em Deus, no destino, nos astros e em qualquer outro fator que pretenda determinar o curso da existência humana.

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O legado de Sartre para a filosofia da educação é extrema-mente problemático em função das várias e conflitantes interpre-tações que têm sido feitas de sua obra. Nas relações interpessoais, Sartre vê a figura do “outro” como alguém que limita a liberdade do indivíduo, daí se entende o aforismo desse autor: “O inferno são os outros” (Cohen-Solal, 2005). Assim, a relação entre pro-fessor e aluno é sempre marcada pelo autoritarismo do professor e pela perda da liberdade do aluno e, portanto, da sua própria humanidade. Uma concepção pedagógica concebida em moldes existencialistas é, assim, impossível.

Essa é a interpretação de comen-tadores como Khemais Benhamida, citado por Burstow (2000): “O indi-víduo identifica-se com o projeto em cuja realização está constantemente engajado. Por tal razão e porque dois projetos nunca coincidem, a única relação possível entre dois indivíduos é o conflito”.

Contra essa interpretação, Burstow (2000) afirma que: “A verdade é que Benhamida e outros que compartilham seu modo de pensar não entenderam adequadamente a posição de Sartre a respeito do que é o ser humano, nem fazem justiça aos pontos de vista mais liberais das relações humanas desenvolvidos em seus últi-mos textos”. O fato é que, na filosofia de Sartre, o reconhecimento do “outro” é fundamental para tornar possível o reconhecimento de “si mesmo”: é só por meio dos olhos dos outros que posso ver a mim mesmo. Assim, o ser humano é concebido em uma rela-ção dinâmica com os outros, que limitam a liberdade individual, mas, ao mesmo tempo e paradoxalmente, são precondição para o

Sartre vê a figura do “outro” como alguém que limita a liberdade do indivíduo, daí se entende o aforismo desse autor: “O inferno são os outros” (Cohen-Solal, 2005).

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exercício dessa liberdade (Cohen-Solal, 2005). Em uma perspecti- va existencialista, o aprendizado, portanto, deve incorporar essa visão do homem como um campo de possibilidades. O papel da educação, nesse caso, é o de formar os indivíduos para uma vida de liberdade e responsabilidade. O fato é que, na filosofia de Sartre, o reconhecimento do “outro” é fundamental para tornar possível o reconhecimento de “si mesmo”: é só por meio dos olhos dos outros que posso ver a mim mesmo.

5.3 O estruturalismo

No dia a dia, você provavelmente já se deparou ou mesmo já utilizou a palavra estrutura.

Nesse caso, estamos nos afastando do senso comum e nos aproximando de um conceito filosófico!

Uma das mais importantes inovações teóricas para as ciências humanas veio da noção de estrutura desenvolvida inicialmente no campo da linguística por Ferdinand de Saussure. Desde Descartes, passando por Kant e Hegel, as correntes filosóficas mais influentes postulavam a primazia do “eu” sobre o “outro”, da identidade sobre

Mas, e você? Avance sobre o que você estudou sobre o existencialismo, procure ler os textos de Sartre e debata com seus colegas: O homem é mesmo livre? E quais as consequências disso para as teorias e práticas pedagógicas? Você vai se surpreender com o amadurecimento intelectual e mesmo pessoal que essas reflexões trarão para a sua vida!

Quem, por exemplo, já não se referiu à estrutura de uma construção? Mas, e se alguém lhe perguntar sobre a estrutura de uma língua ou de um sistema de pensamento?

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exercício dessa liberdade (Cohen-Solal, 2005). Em uma perspecti- va existencialista, o aprendizado, portanto, deve incorporar essa visão do homem como um campo de possibilidades. O papel da educação, nesse caso, é o de formar os indivíduos para uma vida de liberdade e responsabilidade. O fato é que, na filosofia de Sartre, o reconhecimento do “outro” é fundamental para tornar possível o reconhecimento de “si mesmo”: é só por meio dos olhos dos outros que posso ver a mim mesmo.

5.3 O estruturalismo

No dia a dia, você provavelmente já se deparou ou mesmo já utilizou a palavra estrutura.

Nesse caso, estamos nos afastando do senso comum e nos aproximando de um conceito filosófico!

Uma das mais importantes inovações teóricas para as ciências humanas veio da noção de estrutura desenvolvida inicialmente no campo da linguística por Ferdinand de Saussure. Desde Descartes, passando por Kant e Hegel, as correntes filosóficas mais influentes postulavam a primazia do “eu” sobre o “outro”, da identidade sobre

Mas, e você? Avance sobre o que você estudou sobre o existencialismo, procure ler os textos de Sartre e debata com seus colegas: O homem é mesmo livre? E quais as consequências disso para as teorias e práticas pedagógicas? Você vai se surpreender com o amadurecimento intelectual e mesmo pessoal que essas reflexões trarão para a sua vida!

Quem, por exemplo, já não se referiu à estrutura de uma construção? Mas, e se alguém lhe perguntar sobre a estrutura de uma língua ou de um sistema de pensamento?

a diferença. Para Descartes, por exemplo, é o reconhecimento de si mesmo como ser pensante que torna possível o reconhecimento do outro: Deus, o mundo ou as ideias matemáticas. Para Hegel, a diferença se choca contra a identidade no confronto entre tese e antítese, na qual a identidade prevalece com a afirmação da síntese dialética. Com o conceito de estrutura, porém, essa hierarquia é invertida: a diferença se torna originária e a identidade é dela derivada.

Na primeira metade do século XX, a maioria dos estudos linguísticos se situava no campo da filologia, isto é, no estudo do significado das palavras a partir do estudo da história da evolução da linguagem. Era utilizado, portanto, um recorte diacrônico, ou seja, uma análise que levava em conta as transformações ocorridas na linguagem ao longo do tempo. Saussure inverte essa prioridade, adotando um recorte sincrônico, ou seja, uma análise que considera a linguagem como um sistema estruturado de significantes (palavras), no qual o significado de cada termo é dado não a partir de suas origens históricas, mas de sua posição “diferencial” em um sistema de signos. O modelo linguístico inaugurado por Saussure ficou conhecido como estruturalismo e ultrapassou o âmbito da linguística, sendo incorporado também a outros campos, como a antropologia, a psicanálise e a filosofia. O antropólogo Lévi-

-Strauss, por exemplo, interpreta as relações de parentesco de sociedades tribais em termos

Nesse sentido, a palavra gato, por exemplo, assume determinado significado por ser “diferente” de mato, tato, jato etc. Ou seja, é por meio da diferença que uma palavra adquire sua identidade (Eagleton, 1997).

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linguísticos, nos quais as mulheres permutadas de um clã a outro eram comparadas a sinais dotados de significados. Era como se em cada aliança de casamento fosse transmitida uma mensagem de uma sociedade a outra. Tais mensagens possuíam significado exatamente pelo fato de se situarem em um sistema estruturado de símbolos. No campo da filosofia, destaca-se o filósofo francês Michel Foucault, que produziu importantes obras de cunho estruturalista, como História

da loucura, O nascimento da clínica, A arqueologia do saber, As palavras

e as coisas, Vigiar e punir e História

da sexualidade.

Assim como outros pen-sadores estruturalistas, Foucault trabalha com a noção de que existem estruturas inconscientes que determinam o que um indivíduo ou uma comunidade historicamente locali-zada podem ou não pensar. Uma boa forma de ilustrar essa questão é o comentário do filósofo francês sobre uma fictícia enciclopédia chinesa:

Esse texto cita “uma certa enciclopédia chinesa” onde está escrito que “os animais se dividem em: a) pertencentes ao imperador, b) embalsamados, c) domesticados, d) leitões, e) sereias, f ) fabulosos, g) cães em liberdade, h) incluídos na

Uma das figuras mais contro-

vertidas da filosofia contem-

porânea, Michel Foucault

(1926-1984) foi a fundo na

análise da estruturas de poder

que determinam o status quo

da sociedade.

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presente classificação, i) que se agitam como loucos, j) inu-meráveis, k) desenhados com um pincel muito fino de pelo de camelo, l) et cetera, m) que acabaram de quebrar a bi-lha, n) que de longe parecem moscas”. No deslumbramento dessa taxonomia, o que de súbito atingimos, o que, graças ao apólogo, nos é indicado como o encanto exótico de um outro pensamento, é o limite do nosso: a impossibilidade patente de pensar isso. (Foucault, 1999, p. 9)

A classificação aqui apresen-tada é tão estranha que simples-mente não conseguimos pensar o mundo animal de acordo com essas categorias. Elas fazem parte de um outro universo conceitual. Para Foucault, a história do pen-samento é a história da sucessão de formações discursivas, de conjuntos de conceitos e de um vocabulário característicos de uma época ou de uma comunidade sendo incomensuráveis, isto é, não podem ser compreendidos por alguém que não esteja naquela formação discursiva. Por isso, ele denuncia a crença no progresso como um mito. A psiquiatria ou a medicina, por exemplo, não evoluíram – o que aconteceu foi a substituição de uma estrutura de pensamento por outra. O psiquiatra moderno não compreende a loucura de forma mais aprimorada que em outras épocas – ele simplesmente se serve de um conjunto de conceitos por meio das quais nós hoje pensamos a loucura diferentes dos conceitos a partir dos quais a insanidade era interpretada em épocas passadas.

A psiquiatria ou a medicina, por exemplo, não evoluíram – o que aconteceu foi a substituição de uma estrutura de pensamento por outra.

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A partir do conceito de disciplina ou poder disciplinar, Foucault é capaz de identificar estruturas comuns a instituições sociais tão diversas como o hospício, o hospital, o exército, as prisões e a escola.

Porém, para que o hospício possa produzir esse indivíduo disciplinado, é preciso um esquadrinhamento do espaço – cada lugar do hospital psiquiátrico desempenha uma “função” – e é necessário ainda que se estabeleçam relações de poder baseadas na possibilidade do castigo: duchas de água fria, eletrochoques, confinamento etc. Esse poder, porém, não é visto como uma coisa, algo que se possui, mas como uma “prática social” que se imiscui por todos os poros do tecido social (Machado, 1988).

Na instituição escolar encontramos muitos dos elementos estruturais que Foucault havia identificado no hospício, especial-mente a questão do poder disciplinar visando à produção de seres dóceis e úteis. Ainda como no hospício, a questão do “saber” está intimamente associada à do “poder”: o poder exercido pelo pro-fessor é uma função de seu saber e vice-versa. Na escola, Foucault

Se você estiver achando isso tudo muito estranho, não se assuste! O pensamento de Foucault é tão diferente do convencional que até mesmo especialistas às vezes se sentem desconcertados! Mas, veja a seguir que implicações interessantes o filósofo frânces é capaz de desenvolver a partir dessas premissas básicas.

No hospital psiquiátrico, a cura da loucura consiste em fazer do louco um indivíduo dócil e útil. A docilidade é um objetivo político, pois visa produzir um sujeito que não desafie a autoridade. A utilidade, por sua vez, é um objetivo econômico: esse mesmo sujeito deve desempenhar algum tipo de atividade produtiva. Uma vez dócil e útil, o louco pode retornar à sociedade, integrando-

-se a ela.

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encontra também um local privilegiado para uma outra caracte-rística comum a hospícios e prisões: a classificação. Nos dizeres de Foucault (1987, p. 26-27):

A ordenação por fileiras, no século XVIII, começa a definir a grande forma de repartição dos indivíduos na ordem escolar: filas de alunos na sala, nos corredores, nos pátios; colocação atribuída a cada um em relação a cada tarefa e cada prova; colocação que ele obtém de semana em semana, de mês em mês, de ano em ano; alinhamento das classes de idade umas depois das outras; sucessão dos assuntos ensinados, das ques-tões tratadas segundo uma ordem de dificuldade crescente. E nesse conjunto de alinhamentos obrigatórios, cada aluno segundo sua idade, seus desempenhos, seu comportamento, ocupa ora uma fila, ora outra; ele se desloca o tempo todo numa série de casas; umas ideais, que marcam uma hierar-quia do saber ou das capacidades, outras devendo traduzir materialmente o espaço da classe ou do colégio essa reparti-ção de valores ou dos méritos. Movimento perpétuo onde os indivíduos substituem uns aos outros, num intervalo escon-dido por espaços alinhados.

Segundo Foucault (1987), a classificação dos alunos pode atingir altos níveis de sofisticação, levando em consideração fatores como porte físico, temperamento, higiene pessoal, fortuna dos pais etc. Esse “olhar classificador” do professor e demais autori-dades escolares permitiu superar o sistema tradicional, no qual só um aluno trabalhava com o professor, enquanto os demais fica-vam na ociosidade. A partir do fim do século XVIII e início do XIX, a produção do saber adquiriu mais racionalidade e produti-vidade, mesmo porque a sociedade em geral adotou esse padrão. No mundo do trabalho, por exemplo, predominava a divisão na qual cada empregado executava uma função específica, situado em um lugar determinado. Desse modo, a escola preparava o

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aluno – adestrava-o – para esse novo tipo de organização do espaço e da ação humana que estava surgindo.

Você não precisa aceitar tudo que Foucault nos diz sobre a educação, mas essa é certamente uma forma de pensar as teorias e práticas pedagógicas de maneira desafiadora!

5.4 Liberdade e necessidade

Neste capítulo, pudemos perceber como os filósofos contem-porâneos têm se dividido quanto à questão liberdade/necessidade. Para os existencialistas, por exemplo, o ser humano é radicalmen-te livre, e mais do que isso: o seu ser se define a partir de seu livre-arbítrio. São as decisões que um indivíduo toma ao longo de sua vida que o fazem ser quem ele é. Já os filósofos estrutu-ralistas negam ou reduzem a um mínimo a liberdade humana. O fator determinante é a estrutura que ultrapassa o indivíduo e impõe limites para o que ele pode pensar ou fazer. Isso fica claro em Foucault, que trata de um poder disciplinar que se dissemina em todos os níveis da sociedade, que, no entanto, não pode ser identificado com nenhum indivíduo em particular. Ele entende o poder como uma prática fluida, de modo que ninguém pode ser responsabilizado por coisa alguma. Aliás, é sintomático que o autor não faça juízos de valor, não afirmando se a realidade que analisa é boa ou má.

Se a liberdade é colocada de lado, a responsabilidade dela decorrente também não pode ser levada em consideração. E, sem responsabilidade, não há como julgar uma pessoa ou instituição, seja positiva ou negativamente. Pense nisso!

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Síntese

Neste capítulo, estudamos aspectos gerais de três grandes ten-dências no campo da filosofia da educação: a fenomenologia, o existencialismo e o estruturalismo. A fenomenologia surge a partir da crítica do filósofo alemão Edmund Husserl ao psicolo-gismo. Essa linha filosófica nega a possibilidade de um conheci-mento objetivo, tendo em vista que os atos mentais são sempre subjetivos. Após demonstrar que os psicologistas confundem o ato de conhecimento com seu objeto, Husserl desenvolve um método de análise que busca alcançar um conhecimento objetivo com base na descrição do conteúdo das vivências e, para tan-to, resgata o conceito medieval de intencionalidade do intelecto. Por meio dessa análise, podemos conceber o sujeito de conhe-cimento – e, por extensão, o educando no processo de aprendi-zagem – como um ser ativo, cujo intelecto tende aos objetos de conhecimento.

O existencialismo se constitui como um desdobramento da fenomenologia. Martin Heidegger, por exemplo, busca desenvolver uma análise fenomenológica a partir de uma consideração atenta do ser humano em sua condição existencial última, isto é, como ser para a morte. Com base nas ideias heideggerianas, o filósofo francês Jean-Paul Sartre define de forma mais nítida os contornos da filosofia existencialista. Para essa linha filosófica, a existência humana precede a existência, o que equivale a dizer que o ser humano está constantemente fazendo a si mesmo por meio de suas livres escolhas.

Em oposição à tese existencialista, que afirma a radicalidade da liberdade humana, encontramos o estruturalismo, que tende à minimização ou mesmo à negação dessa mesma liberdade. Para

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o antropólogo estruturalista francês Lévi-Strauss, por exemplo, o pensamento humano é determinado por estruturas inconscientes. Para o filósofo francês Foucault, o próprio sujeito é um efeito do discurso. Nesse sentido, a educação é vista em função das práticas sociais que a constituem, como a hierarquização, as relações de poder, o esquadrinhamento do espaço e a produção de indivíduos politicamente dóceis e economicamente úteis.

Indicações culturais

Filme

DEPOIS daquele beijo. Direção: Michelangelo Antonioni. Inglaterra: Metro-

Goldwyn-Mayer, 1966. 111 min.

O filme tematiza uma série de situações vividas por um fotógrafo, as quais nos levam ao seguinte questionamento fenomenológico: O que vemos (ou o que é captado pela lente do fotógrafo) é de fato real?

SOCIEDADE dos poetas mortos. Direção: Peter Weir. EUA: Buena Vista

Pictures, 1989. 1298 min.

Um professor recém-chegado a uma escola propõe questões exis-tenciais a seus alunos de literatura, mudando o modo como eles veem a vida e o mundo.

Livros

ASSIS, M. Conto de escola. São Paulo: Cosac Naify, 2002.

Trata-se de uma pequena história escrita por um dos mais célebres autores da literatura do Brasil. O conto narra um episódio do cotidiano da escola no século XIX e termina com uma profunda reflexão sobre o sentido da vida.

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SPARK, M. Uma escola para a vida. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

É um romance sobre um professor em uma escola nada conven-cionais vivendo um momento de crise existencial.

Artigo

MOREIRA, A. F. B. O pensamento de Michel Foucault e suas contribuições para

a educação. Educação e Sociedade, Campinas, v. 25, n. 87, p. 611-615, maio/ago.

2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v25n87/21471.pdf>. Acesso

em: 30 jul. 2008.

Esse artigo é uma resenha do livro Foucault e a educação, de Alfredo Veiga-Neto (2005), no qual se apresenta de forma sintética algumas das principais implicações da filosofia foucaultiana para as teorias e práticas pedagógicas.

Atividades de autoavaliação

Nas questões 1 e 2, assinale (V) para as proposições verdadeiras e (F) para as falsas.

1. Falso ou verdadeiro?

)( A fenomenologia surge como uma tentativa de afirmar a legitimidade da psicologia diante dos ataques empreendidos pelos filosofistas, que negam a subjetividade do conhecimento.

)( O existencialismo surge na mesma época que a fenomenologia, embora essas correntes tenham pouco ou nada a ver uma com a outra.

)( O estruturalismo afirma radicalmente a liberdade humana.

)( O existencialismo nega radicalmente a liberdade humana.

Agora, assinale a alternativa que indica a sequência correta:

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a) F, V, F, V.

b) V, V, V, V.

c) F, V, V, F.

d) F, F, F, F.

2. Falso ou verdadeiro?

)( Ao conceber o método fenomenológico, Husserl se baseia no conceito de intencionalidade, trabalhado iniciado por Franz Brentano, seu professor.

)( Na obra Ser e tempo (2002), Heidegger busca delimitar a compreensão do ser em geral a partir de uma análise fe-nomenológica do ente que pensa o ser, isto é, o homem.

)( O legado de Sartre para a filosofia da educação é extre-mamente problemático em função das várias e conflitan-tes interpretações que têm sido feitas de sua obra.

)( Para Foucault, a história do pensamento é a história da sucessão de formações discursivas, de conjuntos de con-ceitos e de um vocabulário característico de uma época ou uma comunidade, sendo estes incomensuráveis, isto é, não podem ser compreendidos por alguém que não esteja naquela formação discursiva.

Agora, assinale a alternativa que indica a sequência correta:

a) V, V, V, V.

b) F, V, F, V.

c) V, V, F, F.

d) V, F, V, F.

3. Considerando a abordagem fenomenológica da educação, assi-nale a alternativa correta:

a) Ao afirmar o caráter passivo do sujeito no processo de conhecimento, a fenomenologia reforça a tendência pro-gressista na educação.

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b) O conceito de intencionalidade, tal como apresentado por Husserl, permite que se conceba a educação como um ato de tomar consciência da realidade de forma crítica.

c) Ao tomar consciência de si, em uma perspectiva feno-menológica, o sujeito se fecha em si mesmo, tornando a aprendizagem impossível.

d) Em uma perspectiva fenomenológica, o aprendizado se coloca de forma não problemática, uma vez que produz a negação da subjetividade.

4. Considerando a abordagem existencialista da educação, assinale a alternativa correta:

a) Existe amplo consenso entre os comentadores de que uma concepção pedagógica concebida em moldes existencialis-tas é impossível.

b) Uma pedagogia existencialista entende a aprendizagem como um processo de condicionamento que pode e deve reduzir a liberdade humana a um mínimo possível.

c) Para o pensamento existencialista, o ser humano está constantemente fazendo a si mesmo por meio de suas es-colhas, por isso a educação deve visar a liberdade humana.

d) Na visão de Sartre, o ser humano é concebido como um fantoche movido por estruturas inconscientes, e o papel da educação é o de reforçar essas estruturas.

5. Considerando a abordagem estruturalista da educação, assinale a alternativa correta:

a) O estruturalismo em geral afirma que existem estruturas inconscientes que determinam o que um indivíduo ou uma comunidade historicamente localizada podem ou não pensar.

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b) O estruturalismo se baseia na afirmação da identidade so-bre a diferença, enfatizando, assim, o papel do livre-arbí-trio na formação do indivíduo.

c) O binômio docilidade/utilidade, utilizado por Foucault para pensar o hospital psiquiátrico, é considerado por esse mesmo autor como incompatível com a estrutura da es-cola.

d) Foucault, ao analisar a escola, indica formas de controle social, como duchas de água fria, eletrochoques, confina-mento etc.

Atividades de aprendizagemQuestões para reflexão

1. De que modo a fenomenologia nos auxilia a pensar a questão do processo de ensino-aprendizagem?

2. O existencialismo promove uma educação humanista ou anti--humanista? Justifique sua resposta.

3. Explique o conceito de classificação em relação à escola para Foucault.

Atividade aplicada: prática

Elabore uma tabela comparando as principais características da fenomenologia, do existencialismo e do estruturalismo.

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No cotidiano, usamos a lógica muitas vezes sem nos darmos conta disso. Quando você faz uma conta de matemática ou quando decide fazer um curso de Pedagogia, você estabelece uma série de relações mentalmente, isto

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é, você pensa de forma lógica. Mas, como domínio da filosofia, a lógica foi desenvolvida na Antiguidade por Aristóteles, que explicitou suas regras. No entanto, até meados do século XIX, muito pouco havia sido acrescentado a esse domínio. Ne

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No fim do século XIX e início do século XX, muitos filósofos retomaram as reflexões sobre essa disciplina, descobrindo que ainda havia nela muito a ser explorado. Um grupo de filósofos americanos inaugurou uma nova corrente filosófica, o pragmatismo. Entre os nomes mais representativos dessa corrente estão William James, John Dewey e Charles Sanders Peirce, cuja preocupação com a linguagem e com as questões lógicas dela decorrentes inspiraram a nova corrente filosófica.

A questão da linguagem, porém, não foi apenas um novo tema de especulação filosófica, mas sim a mais marcante reorien-tação da filosofia no século XX, definindo todo um novo campo de investigação filosófica: a filosofia analítica.

Neste capítulo, você conhecerá alguns aspectos dessa vertente filosófica e suas implicações para a filosofia da educação.

6.1 O pragmatismo

Você deve se lembrar dos capítulos anteriores que, na filosofia moderna, a busca da verdade exigia a identificação de um funda-mento imutável, a partir do qual fosse possível afirmar que algo é falso ou verdadeiro. Em outras palavras, era preciso encontrar um ponto de vista acima e além das opiniões parciais e subjetivas.

Descartes, por exemplo, julgou encontrar tal fundamento na evidência da existência de si mesmo; Rousseau argumentava em favor da “natureza humana”; Kant via a possibilidade de distin-guir entre o bem e o mal por meio de um princípio abstrato, que ele chamava de imperativo categórico; Hegel dizia que a verdade se dá na autoconsciência do “espírito” que se torna “absoluto”;

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Marx e Engels identificavam o fundamento da verdade na estru-tura econômica da sociedade. Enfim, cada filósofo identificava um fundamento diferente do outro e o consenso era, portanto, impossível. Já outros filósofos, como Schoppenhauer e Nietzsche, simplesmente abandonaram a ideia de fundamento, orientando-se para o relativismo dos conceitos e valores. Você vai ver agora algu-mas interpretações contemporâneas dessa questão.

Para os pragmatistas Charles Sanders Peirce, William James e John Dewey, a verdade em si mesma é inatingível pelo intelecto humano, pois não há como nos situarmos “fora da realidade” para avaliá-la objetivamente. Sempre interpretamos nossas experiências a partir de conhecimentos, valores, crenças e preconceitos que variam de indivíduo para indivíduo, fazendo com que, diante da mesma situação, nos posicionemos de formas distintas e, às vezes, até conflitantes.

Porém, mesmo afirmando a relatividade dos conceitos e valores, eles nem por isso se tornam relati-vistas. Os pragmatistas conseguem escapar do relativismo absoluto argumentando que o único critério possível são as consequências práti-cas que determinada ideia ou ação pode vir a produzir.

De modo geral, os pragmatis-tas concordam que a verdade não é imutável, isto é, a concepção daquilo que consideramos verdade hoje pode mudar em função de fatores

Sempre interpretamos nossas experiências a partir de conhecimentos, valores, crenças e preconceitos que variam de indivíduo para indivíduo, fazendo com que, diante da mesma situação, nos posicionemos de formas distintas e, às vezes, até conflitantes.

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práticos que alterem nosso ponto de vista. William James é mais radical, acreditando que a verdade pode mudar de uma época a outra ou de uma pessoa a outra. Mas Peirce, que foi professor de James e sua principal fonte de inspiração filosófica, evita essa posição extrema. Para Peirce, o conhecimento teórico deve ser testado na prática, como forma de demonstrar sua validade, o que não significa que a ideia de

verdade deva se conformar a cada situação ou problema em particular (Peirce, 1990). John Dewey, nesse sentido, aproxima-se mais de Peirce. Segundo o filósofo, afirmar que algo é verdadeiro significa afirmar que algo é confiável em cada situação concebível (Dewey, 1980).

John Dewey foi o filósofo pragmatista que mais se debruçou sobre a questão da educação. Ele desenvolveu uma versão particular de pragmatismo que ele mesmo chamava de instrumentalismo. Com isso, o filósofo queria dizer que o pensamento humano não consiste em uma esfera isolada e indepen-dente das relações que o sujeito

Os pragmatistas conseguem escapar do relativismo absoluto argumentando que o único critério possível são as consequências práticas que determinada ideia ou ação pode vir a produzir.

Um dos maiores pensadores

contemporâneos da educação,

John Dewey (1859-1952)

tem sua linha filosófica cen-

trada no desenvolvimento da

capacidade de raciocínio e do

espírito crítico do educando.

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estabelece com o mundo. Ao contrário: o pensamento é um ins-trumento por meio do qual nos relacionamos com as coisas e com as pessoas ao nosso redor.

Você, por exemplo, é um ser que pensa antes de agir, e é isso que identifica você como ser humano, animal racional.

Segundo Dewey, nossa relação com o meio pode ser con-gruente ou incongruente. No primeiro caso, tudo está bem, pois estamos satisfeitos e não há necessidade de mudança. No segundo, uma mudança no meio exige de nós uma ação, para trazermos con-gruência à nossa relação com o meio. Tomemos um exemplo bem simples: a temperatura está agradável, mas começa a cair. À medida que o frio aumenta, a relação com o meio, que era congruente, torna-se incongruente. Para restabelecermos a congruência, exe-cutamos uma ação: colocar um agasalho. Outro exemplo: tenho um gasto mensal maior que minha renda, o que é incongruente, e para isso uso meu pensamento para planejar cortes no orçamento doméstico, de modo a estabelecer uma congruência entre o que ganho e o que gasto. Assim, o pensamento é orientado para a resolução de problemas, e a principal função da educação é pre-parar a pessoa humana para usar o pensamento adequadamente (Cunha, 1994).

Para Dewey, o grande problema do sistema educacional de sua época é que os alunos saem da escola sem o adequado preparo para a vida. Ao insistir na repetição e na memorização de fórmulas prontas, a escola leva os alunos a respostas automatizadas que

Assim como um marceneiro usa ferramentas – serrote, martelo, trena, pregos etc. – em sua relação com a madeira, também usamos o pensamento como intermediário entre nós e a realidade com a qual nos relacionamos.

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pouco ou nada têm a ver com o dia a dia pessoal ou do trabalho. Segundo Dewey (1980), a vida constantemente nos desafia com problemas, que devem ser resolvidos com base nos mesmos padrões de pensamento que conduzem a investigação científica. O cientista identifica um problema e levanta hipóteses para resolvê-lo. O senso comum faz o mesmo. Por exemplo: se eu ouço um alarme de incêndio dentro de um prédio, olho ao redor tentando identificar as possíveis saídas. Em outras palavras, faço um levantamento de hipóteses com o intuito de resolver o problema: sair de um prédio em chamas.

A escola, ao dar soluções prontas por meio de fórmulas a serem decoradas, mas não necessariamente compreendi-das, cria um mundo artificial onde tudo é dado pronto de antemão. Para superar esse modelo, Dewey propõe a transformação da sala de aula em uma comunidade de inves-tigação científica. Em outras palavras, sua proposta é a de apresentar problemas para que os alunos, por si mesmos, busquem soluções. Desse modo, a aprendizagem tem em vista as consequências práticas dos con-teúdos trabalhados e está em sintonia com a vida dos educandos.

O pragmatismo teve uma influência marcante na história da educação brasileira, principalmente na década de 1930. Nesse período, vários intelectuais brasileiros, como Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, entre outros, buscaram inspiração nas ideias de Dewey. Talvez o aspecto mais importante da filosofia desse autor para os intelectuais brasileiros tenha sido sua insistência

Segundo Dewey (1980), a vida constantemente nos desafia com problemas, que devem ser resolvidos com base nos mesmos padrões de pensamento que conduzem a investigação científica.

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na formação dos educandos para uma sociedade democrática. Depois de décadas de regime oligárquico, os educadores da década de 1930 viam no pragmatismo de Dewey um sólido fundamento teórico para suas aspirações políticas.

6.2 A filosofia analítica

Você já teve a oportunidade de constatar como a lógica está pre-sente no seu dia a dia, mas o uso da linguagem é algo ainda mais evidente. Quando você fala, está usando uma forma de lingua-gem, assim como quando gesticula ou quando dá significado às coisas.

No século XX, uma das grandes reviravoltas no campo da filosofia foi ocasionada pelo surpreendente impacto das teorias da linguagem. Sob a influência de estudos linguísticos, muitos filósofos tomaram a linguagem como fundamento para o pen-samento em geral e para a filosofia em particular, tendência que ficou conhecida como virada linguística, que definiu um campo de investigação filosófica chamado filosofia analítica, que, por sua vez, se desdobra em duas vertentes: o positivismo lógico e a filosofia linguística.

Para os pensadores de ambas as vertentes, o objeto da filosofia não é a realidade, mas a linguagem, isto é, o discurso sobre a reali-dade não linguística. O positivismo lógico se limita ao estudo do

Você pode perceber, portanto, como é importante estudar o pensamento de Dewey para compreender melhor a história da educação no Brasil, não é mesmo?

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discurso científico, ao passo que a filosofia linguística toma como objeto de investigação filosófica a linguagem em geral (Oliveira, 1996).

Como não se tratam propriamente de escolas filosóficas, mas de um movimento muito amplo na filosofia, é grande o número de obras e autores representativos da filosofia analítica. Podemos ressaltar a importância do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, pois suas duas principais obras, o Tractatus logico-philosophicus

(1995) e as Investigações filosóficas (1975), podem ser consideradas os grandes marcos do positivismo lógico e da filosofia linguística, respectivamente.

Na primeira fase de seu pen-samento, Wittgenstein é profunda-mente influenciado pelos sistemas de lógica desenvolvidos pelo filó-sofo britânico Bertrand Russell e pelo matemático e filósofo alemão Gottlob Frege. Wittgenstein (1995) afirma que pensamento e lingua-gem são atividades indissociáveis, sendo impossível pensar algo que não possa ser dito. Em função disso, ele argumenta, contra a tradição metafísica moderna, que o mundo não pode ser pensado como uma totalidade de objetos, mas como uma totalidade de fatos. Desse modo, os objetos não têm existência em si, mas sim na relação uns com os outros, nos fatos.

Um dos mais importan-

tes filósofos da linguagem

do século XX, Ludwig

Wittgenstein (1889-1951)

criou a teoria pictórica do

significado, a demonstração

que uma proposição é capaz

de representar um estado de

coisas real ou possível.

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Para Wittgenstein (1975), a lin-guagem, tendo uma função designa- tiva e comunicativa, estabelece a correspondência entre o mundo e o pensamento por meio da figuração. Como o mundo é entendido por ele como a totalidade dos “fatos”, a unidade mínima de sentido na lin-guagem não é a palavra, que designa um objeto isolado (algo impensável para esse autor), mas a frase, isto é, a expressão correspondente a uma figuração que, por sua correspon-dência estrutural com um determinado estado de coisas, repre-sentaria um fato, uma relação entre objetos.

Mas, você não deve pensar que primeiramente existem os objetos para depois existirem os fatos − a existência do objeto é dependente da relação que ele estabelece com outros objetos em um estado de coisas. Primeiramente, pensamos a relação e só secundariamente nos referimos aos objetos da relação. Essa concepção já havia sido esboçada por Frege, que argumenta que, em uma proposição, o predicado só tem sentido na frase e não isoladamente. Wittgenstein radicalizou essa ideia, afirmando que também o sujeito só ganha sentido em sua relação com o predicado (Oliveira, 1996).

Na teoria linguística exposta por Wittgenstein no livro Tractatus logico-philosophicus (1995), os fatos, assim como os enun-ciados que os figuram, podem ser atômicos ou complexos. Um enunciado atômico é aquele que apresenta uma unidade mínima de sentido, unindo um sujeito a um predicado, e que pode ser

Mas você não deve pensar que primeiramente existem os objetos para depois existirem os fatos − a existência do objeto é dependente da relação que ele estabelece com outros objetos em um estado de coisas.

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considerado verdadeiro (se corresponde ao fato concreto ao qual se refere) ou falso (se tal correspondência não se verifica). Se afirmo, por exemplo, que Sócrates é filósofo, existem duas possibilidades: ou Sócrates é realmente filósofo e meu enunciado é verdadeiro ou Sócrates não é filósofo e meu enunciado é falso.

A concepção de linguagem de Wittgenstein muda radical-mente anos mais tarde, com a escrita de sua segunda grande obra, intitulada Investigações filosóficas (1975). O seu pensamento nessa primeira fase inspirou o Círculo de Viena, um grupo de filósofos de orientação neopositivista. Esse grupo é representado princi-palmente por Moritz Schlick e Rudolf Carnap, cuja filosofia se baseava no princípio de que a experiência é a única fonte de conhe-cimento e na primazia da análise desenvolvida pela lógica simbólica. Para esses filósofos, o conhecimento válido pode ser puramente lógico, como no caso da matemática, ou empírico, como no caso das ciências naturais. Os conceitos metafísicos, por se referirem a objetos que não podem ser verificados pela experiência (Deus, alma, ser etc.), tornam-se assim destituídos de significado, isto é, são conceitos vazios. O propósito maior dessa corrente de pensa-mento, portanto, é o de desenvolver uma linguagem precisa, livre de ambiguidades e adequada ao pensamento científico (Chaves, 2008).

Existem casos ainda mais complexos. Se afirmo, por exemplo, que “O atual rei da França é careca”, esse enunciado não pode ser verdadeiro, pois a França atualmente não tem rei. Mas, se me limito a atestar que tal enunciado é falso, meu interlocutor pode pensar que a França atualmente possui rei, mas que ele não é careca. Nesse caso, trata-se de um enunciado que nos engana, pois ele tem a aparência de um enunciado atômico, quando na verdade é complexo, pois atesta dois fatos distintos: primeiro, que a França tem rei; e segundo, que esse rei é careca.

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Depois do Tractatus logico-philosophicus, Wittgenstein passou um longo período de reduzida produção escrita. Isso faz sentido, pois, embora a argumentação do livro seja clara e rigo-rosa, na verdade vai contra as próprias convicções de Wittgenstein, uma vez que não se trata nem de lógica pura nem de fatos comprovados empirica-mente. E, como ele mesmo afirma na obra: “sobre aquilo que não podemos falar, devemos ficar calados” (Wittgenstein, 1995). Porém, em Investigações filosóficas (1975), seu segundo livro, publicado após sua morte, Wittgenstein se contra-pôs a muitas das principais ideias expostas em sua primeira obra, principalmente sobre a importância da linguagem cotidiana, que ele anteriormente havia tratado com desprezo, considerando-a inferior ao discurso científicoa.

A ideia de que o significado de uma palavra é definido pelo seu uso na linguagem constitui um dos mais importantes insights de Wittgenstein em Investigações filosóficas. No lugar de repre-sentar uma coisa ou uma ideia de modo generalizante, as pala-vras adquirem significado nos contextos específicos em que são articuladas. Desse modo, em vez de se restringir aos exemplos de frases da lógica tradicional – proposições, questões e comandos –, Wittgenstein se refere a um conjunto maior de possibilidades, que ele chama de jogos de linguagem: relatar um evento, especular sobre

a. As expressões que utilizei aqui como linguagem cotidiana ou linguagem comum correspondem àquilo que a maioria dos comentadores de Wittgenstein em língua portuguesa chama de linguagem ordinária. Trata-se de uma tradução perfeitamente aceitável do inglês (ordinary language), mas há dois problemas: em primeiro lugar, a palavra ordinária em português pode assumir uma conotação pejorativa, significando algo ruim, um sentido que a palavra inglesa ordinary não possui; em segundo lugar, as expressões linguagem cotidiana e linguagem comum nos parece mais de acordo com a expressão equivalente em alemão, philosophie der normalen sprache, que é a língua materna do próprio Wittgenstein.

“[...] sobre aquilo que não podemos falar, devemos ficar calados” (Wittgenstein, 1995).

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um acontecimento, formar e testar hipóteses, atuar em uma peça teatral, cantarolar, adivinhar charadas, contar piadas, traduzir, pedir, agradecer, entre inúmeros outros exemplos.

Nessa segunda fase, a filosofia de Wittgenstein inspirou, na filosofia analítica, uma corrente conhecida como filosofia linguís-

tica, que, diferentemente do positivismo lógico, não desvaloriza a linguagem comum em favor da linguagem científica. Ao contrário, autores representativos dessa corrente, como John Austin e John Searle, argumentam que a fala não é simplesmente o meio pelo qual expressamos ideias − ela é, além disso, a forma pela qual agimos no mundo.

Em uma cerimônia de casamento, por exemplo, quando o noivo e a noiva respondem “sim” aos votos, eles não estão sim-plesmente comunicando sua intenção de se casarem; eles estão efetivamente se casando. Se, no dia anterior ao do casamento, o casal fizesse um ensaio com todos os participantes da cerimônia, as falas dos noivos, ministro, padrinho etc., seriam as mesmas, mas eles não estariam realizando um casamento; estariam, sim, apenas ensaiando.

Mas, o que distingue uma situação da outra? Se as falas são as mesmas, por que os significados são diferentes?

Segundo Austin (1962) e Searle (1981), é o “contexto” no qual as expressões vocais são pronunciadas que lhes conferem sentido. A mesma fala em duas situações diferentes pode ter significados também diferentes. É o fato de os falantes se situarem no mesmo contexto e partilharem do mesmo conjunto de códigos que lhes permite entender e agir adequadamente em cada situação.

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A filosofia analítica, seja na vertente do neopositivismo, seja na vertente da filosofia linguística, possui implicações para a filosofia da educação, ainda que de modo indi-reto. Uma interpretação de caráter analítico nos torna mais conscien-tes e rigorosos no uso dos conceitos. Segundo Paulo Guiraldelli Júnior (2000, p. 42), filósofo da educação brasileiro “muito do que se fez em filosofia da educação n+s países de língua inglesa no período de 1950 a 1970 foi inspirado direta ou indiretamente pela busca de análise de conceitos e linguagem educacionais”. E acrescenta: “A motivação básica desse trabalho vinha da crença de que a lingua-gem ordinária guardava uma preciosidade de significado ainda não percebido porque não analisado”. Essas implicações da filosofia analítica para o pensamento pedagógico são particularmente evi-dentes nos escritos de Richard Rorty, filósofo americano que se vincula também à tradição pragmatista norte-americana, escritos que você poderá contemplar a seguir.

6.3 O pragmatismo e a filosofia analítica em Richard Rorty

No início de sua trajetória acadêmica, Richard Rorty se situava inequivocamente na vertente analítica da filosofia, como podemos constatar em sua tese de doutorado e seu primeiro livro, A virada

linguística, obra que o filósofo americano publicou na condição

“A motivação básica desse trabalho vinha da crença de que a linguagem ordinária guardava uma preciosidade de significado ainda não percebido porque não analisado” (Guiraldelli Júnior, 2000, p. 42).

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de organizador. Nessa obra, Rorty (1979) reuniu ensaios de importan-tes teóricos, discutindo questões filosóficas tanto na vertente do po-sitivismo lógico quanto na vertente da filosofia linguística. Porém, com o passar do tempo, Rorty se assu-miu cada vez mais como pragma-tista, invocando Dewey como sua principal influência filosófica.

A conjunção do caráter prag-matista com o analítico é particu-larmente evidente em sua obra mais conhecida: A filosofia e o espelho da

natureza. Nesse livro, Rorty (1994) tece uma crítica à tradição filosó-fica moderna, especialmente à teo-ria do conhecimento de inspiração

kantiana. Remetendo-se a Dewey, Rorty questiona a ideia de um sujeito de pensamento autônomo, que faz da própria razão o fun-damento da verdade e da objetividade.

A tese defendida no livro A filosofia e o espelho da natureza é a de que a separação entre o que é dado na experiência e o que é acrescentado pela mente, ou a distinção entre o contingente e o necessário, dizem respeito a uma concepção antiquada e equivo-cada de como ocorre o conhecimento. No lugar de uma filosofia da representação, que toma os atos mentais como um “espelhamento” da realidade exterior, Rorty propõe um modelo mais flexível e aberto às contribuições dos estudos linguísticos que vieram a lume no século XX. Veja a seguir a originalidade dessa percepção.

Filósofo pragmatista esta-

dunidense, Richard Rorty

(1931-2007), afeito às ideias

do pragmatismo, combateu

em sua vida intelectual a pre-

tensão da filosofia de encon-

trar uma verdade absoluta e

incontestável.

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Nesse novo modelo, que Rorty chama de behaviorismo

epistemológico, o conhecimento não é uma tentativa de espelhar a natureza, mas sim o resultado de uma prática linguístico-social desempenhada em um contexto específico. Em uma passagem um tanto longa, mas que vale a pena ser reproduzida na íntegra, Rorty (1989, tradução nossa), assim se refere à sua concepção de behaviorismo epistemológico:

A questão não é a da adequação da explicação do fato, mas antes se a uma prática de justificação pode ser dada, de fato, uma “base”. A questão não é se o conhecimento humano de fato tem “fundamentos”, mas se faz sentido sugerir que os tem, – se a ideia de autoridade epistêmica ou moral ten-do uma “base” na natureza é coerente. Para o pragmático em moral, a afirmação de que os costumes de uma dada sociedade são “baseados na natureza humana” não é uma afirmação sobre a qual ele saiba argumentar. Ele é prag-mático porque não consegue ver como seria o fato de um costume ser embasado dessa forma. [...] dizer que a verda-de e o conhecimento somente podem ser julgados pelos pa-drões inquiridores de nossa própria época não é dizer que o conhecimento humano é menos nobre ou importante, ou mais “amputado do mundo” do que havíamos pensado. É apenas dizer que nada conta como justificação a não ser por referência ao que já aceitamos, e que não há maneira de sairmos de nossas crenças e de nossa linguagem para encon-trar algum teste que não a coerência.

Rorty apresenta um interessante conjunto de reflexões sobre a educação em um texto intitulado Education as socialization and

individualization (Educação como socialização e como individuali-

zação, 1989). Nesse texto, Rorty argumenta que tanto a direita quanto a esquerda partem do pressuposto de que existe uma íntima relação entre verdade e liberdade. A principal diferença é que os teóricos de direita priorizam a busca da verdade, argumentando

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que conhecê-la garante a liberdade, ao passo que os teóricos de esquerda alegam que a verdade está oculta, sufocada pelas estru-turas de dominação, e que é preciso promover primeiramente a liberdade para que a verdade possa vir à tona.

No sistema educacional norte-americano primário e secun-dário, predomina uma visão de direita, enfatizando o consenso e a socialização. Já no ensino superior, predomina uma visão de esquerda, preocupada com a afirmação das liberdades individuais. Socialização e individualização são, portanto, características da direita e da esquerda, respectivamente.

Rorty discorda tanto da direita quanto da esquerda, afir-mando que a verdade não é dada de antemão, nem é algo oculto, esperando para ser desvendado. Contudo, não há como negar nesse autor (1989, tradução nossa) uma nítida preferência pela esquerda. E isso, segundo ele, decorre de uma interpretação particular dos escritos de Dewey:

Eu tomo a mim mesmo, ao afirmar essas opiniões, como um seguidor razoavelmente fiel de John Dewey. A grande con-tribuição de Dewey para a teoria da educação foi a de nos ajudar a nos livrarmos da ideia de que a educação é uma questão de induzir ou deduzir a verdade. A educação pri-mária e secundária será sempre uma questão de familiari-zar os jovens com aquilo que os mais velhos tomam como sendo a verdade, seja ou não verdadeiro. A função dos níveis mais baixos de educação não é e nunca será a de desafiar o consenso predominante sobre o que seja a verdade. A socialização deve vir antes da individualização, e a educa-ção para a liberdade não pode vir antes que algumas restri-ções tenham sido impostas. Mas, por razões muito diferentes, na educação superior não vocacional também não se trata de inculcar ou deduzir a verdade. É, ao invés, uma questão de

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incitar dúvidas e estimular a imaginação, desafiando assim o consenso predominante. Se a educação pré-universitária produz cidadãos letrados e a educação universitária produz indivíduos autocriativos, então as questões relativas a se os alunos estão aprendendo a verdade podem ser seguramente negligenciadas

Como podemos perceber, o modo como Rorty concebe a educação é derivado da tradição pragmatista e, mais especificamente, da teoria de verdade associada a essa tradição. Mas, é importante notar que a filosofia de Rorty constitui uma tentativa séria de levar adiante a filosofia pragmatista à luz dos mais recentes desdobramentos no campo da lógica e da filosofia da linguagem. Você não acha tudo isso fascinante?

6.4 Apreciação crítica do pragmatismo e da filosofia analítica

Você deve ter em mente que a preocupação com a relação en-tre linguagem e pensamento não é novidade na história da filo-sofia. Pensadores do passado, como Platão, Aristóteles e Santo Agostinho, entre outros, já haviam se debruçado sobre essa ques-tão, com resultados surpreendentes. Mas, a intensidade com que o tema da linguagem tem sido debatido nos dias de hoje é sem pre-cedentes. A linguagem deixou de ser apenas uma questão entre outras para se tornar a grande questão filosófica, em torno da qual tudo o mais se articula. Mesmo filósofos não diretamente relacio-nados à tradição da filosofia analítica reconhecem a importância que o estudo da linguagem assumiu no cenário filosófico contem-porâneo. Diante dessa situação, surge uma pergunta inevitável: E a filosofia da educação, que rumos ela tomará de agora em diante?

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É evidente que os problemas clássicos da filosofia continuarão a ser sempre atuais, objeto de contínuo debate. Mas, se aceitar-mos que nossa relação com o mundo só pode ocorrer por meio da mediação linguística, entendendo a linguagem não só como fala e escrita, mas como toda expressão de conteúdo simbólico, então as reflexões filosóficas sobre a educação também devem levar em consideração esse pressuposto. Devemos lembrar ainda que o pragmatismo, que aglutina de forma crítica as duas vertentes da filosofia analítica, encontra na obra de John Dewey sua principal fonte de inspiração. E Dewey não só se preocupa em superar o abismo existente entre a escola e a vida, como também enfatiza a necessidade de a educação preparar os cidadãos para participarem de uma sociedade democrática. Isso mostra que a preocupação com a linguagem, longe de conduzir os debates filosóficos para níveis muito abstratos, ao contrário, chama-nos a atenção para a perti-nência da filosofia às questões mais importantes da vida humana. Você pode perceber, assim, que a filosofia, longe de constituir um conhecimento puramente abstrato, diz respeito às coisas que mais valorizamos.

Síntese

Neste capítulo estudamos duas grandes vertentes da filosofia da Educação: o pragmatismo e a filosofia analítica e sua con-fluência no pensamento de um filósofo em particular – Richard Rorty.

O pragmatismo parte do pressuposto de que não é possível um fundamento absoluto para a verdade, pois nossos juízos se encontram irremediavelmente comprometidos com nossos valores,

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crenças, preconceitos etc. Nesse sentido, o único critério possível para afirmarmos a verdade são as consequências práticas do enun-ciado. Isso torna a ideia de verdade mais frágil e relativa, mas, ao mesmo tempo, mais em sintonia com a vida. Dos autores pragma-tistas estudados, o mais relevante para a filosofia da educação é John Dewey. Para ele, a sala de aula deveria tornar-se uma comunidade de investigação científica, e o papel do professor não deveria ser o de lançar fórmulas prontas a serem decoradas, mas sim o de propor problemas a serem resolvidos pelos alunos.

Paralelamente ao pragmatismo, a filosofia do século XX conheceu uma importante renovação nos trabalhos dos filósofos de orientação analítica. Uma vertente da filosofia analítica, inspi-rada pelo Tractatus logico-philosophicus de Wittgenstein, procurava desenvolver uma concepção de linguagem adequada ao pensa-mento científico, enquanto outra, inspirada pela obra Investigações

filosóficas, do mesmo autor, interessava-se, sobretudo, pela lingua-gem do cotidiano. Richard Rorty, um filósofo americano que viveu e escreveu na virada do século XX ao XXI, procurou partir da tradição analítica para pensar a questão da educação. Para ele, os ensinos primário e secundário enfatizam a busca da verdade, acre-ditando que a liberdade emerge como consequência, ao passo que a educação superior enfatiza a busca das liberdades individuais, acreditando que a verdade está oculta, mascarada pela estruturas de dominação. Para Rorty, e de acordo com uma inspiração prag-matista, a questão da verdade pode ser negligenciada se estivermos atentos às consequências práticas do modelo adotado.

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Indicações culturais

Sites

Os sites recomendados a seguir trazem textos interessantes sobre educação e filosofia analítica:

CHAVES, E. O. C. Um esboço de filosofia analítica da educação. Disponível em:

<http://www.chaves.com.br/TEXTSELF/PHILOS/esboco.htm>. Acesso em: 30 jul.

2008.

Trata-se de um texto bastante didático, que apresenta os principais conceitos da filosofia analítica em um ótimo nível de profundidade, relacionando-a às questões propriamente pedagógicas.

GUIRALDELLI JUNIOR, P. Virada linguística: um verbete. Disponível em:

<http://ghiraldelli.wordpress.com/tag/filosofia-da-linguagem/>. Acesso em: 30 jul.

2008.

Texto curto e de caráter didático, explica a virada linguística na filosofia contemporânea.

VIERO, C. P.; TREVISAN, A. L.; CONTE, E. Filosofia da educação a partir do

diálogo contemporâneo entre analíticos e continentais. Disponível em: <http://

www.abstracta.pro.br/english/journal/volume1number1/v1n1a7%20%20vvaa%20-%20

Filosofia%20da%20educa%C3%A7%C3%A3o.pdf>. Acesso em:

30 jul. 2008.

Esse é um artigo que trata do impacto da filosofia analítica na educação, tomando como referências principais os escritos de Rorty e Habermas.

FRANCIOTTI, M. A. Textos de filosofia. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.

br/~wfil/textos.htm>. Acesso em: 30 jul. 2008.

Site com links para diversos artigos interessantes sobre a filosofia analítica.

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Atividades de autoavaliação

Nas questões 1 e 2, assinale (V) para as proposições verdadeiras e (F) para as falsas:

1. Falso ou verdadeiro?

)( O pragmatismo se distingue das correntes filosóficas pre-cedentes ao identificar o fundamento da verdade na es-trutura econômica da sociedade.

)( Para os pragmatistas, a verdade em si mesma é inatingível pelo intelecto humano, pois não há como nos situarmos

“fora da realidade” para avaliá-la objetivamente.

)( Para Dewey, o pensamento é orientado para a resolu-ção de problemas, e a escola deve preparar os educandos nesse sentido.

)( O pragmatismo, apesar de sua influência considerável nos Estados Unidos e na Europa, teve uma repercussão míni-ma no meio intelectual brasileiro.

Agora, assinale a alternativa que indica a sequência correta:

a) F, V, V, F.

b) F, F, F, V.

c) V, F, F, V.

d) V, F, V, V.

2. Falso ou verdadeiro?

)( A filosofia analítica se desdobra em duas vertentes: o positivismo lógico e a filosofia linguística.

)( Para Wittgenstein, a linguagem, por ter uma função de-signativa e comunicativa, estabelece a correspondência entre o mundo e o pensamento por meio da figuração.

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)( De acordo com a teoria dos atos da fala, de Austin e Searle, é o fato de os falantes se situarem no mesmo contexto e partilharem do mesmo conjunto de códigos que lhes permite entender e agir adequadamente em cada situação.

)( Em sua obra mais conhecida, A filosofia e o espelho da natureza, Rorty tece uma crítica à tradição filosófica mo-derna, especialmente à teoria do conhecimento de inspi-ração kantiana.

Agora, assinale a alternativa que indica a sequência correta:

a) F, F, F, F.

b) V, V, V, V.

c) V, F, F, V.

d) V, F, V, V.

3. Considerando o pragmatismo e a filosofia analítica, leia as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta:

I. Depois de décadas de regime oligárquico, os educadores da década de 1930 viam no pragmatismo de Dewey um sólido fundamento teórico para suas aspirações políticas.

II. De acordo com a teoria da figuração de Wittgenstein, primeiramente existem os objetos e só então se estabele-ce uma relação entre eles, dando origem aos fatos.

III. Filósofos analíticos como John Austin e John Searle ar-gumentam que a fala é simplesmente um meio pelo qual expressamos ideias.

a) Somente a afirmativa I é verdadeira.

b) Somente a afirmativa II é verdadeira.

c) Somente a afirmativa III é verdadeira.

d) Nenhuma das afirmativas anteriores é verdadeira.

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4. Leia o texto de John Dewey (1980, p. 120) sobre a teoria da educação e assinale a alternativa correta:

O treino é assim uma forma preliminar e incompleta de educação. Torna-se aqui necessário salientar que muitas das atividades chamadas educativas, a que forçamos as crianças, não vão além desse nível rudimentar.A educação verdadeira, porém, deve levar a criança para além dessa aquisição de certos modos visíveis e externos de ação, provocados por condições também duramente externas. A criança deve associar-se à experiência comum, modifican-do de acordo com ela seu estímulo interno, e sentindo, como próprio, o sucesso ou fracasso da atividade.É nesse sentido que toda educação é social, sendo, como é, uma participação, uma conquista de um modo de agir co-mum ou de um uso comum. O fato da linguagem cria a ilusão de que se educa direta-mente através de palavras. Se nada é mais falso, nada en-tretanto é mais consciente ou inconscientemente adotado.

a) Para John Dewey, a educação verdadeira se restringe à aquisição de certos modos visíveis e externos de ação.

b) Ao denunciar como ilusória a concepção de que se educa diretamente através de palavras, Dewey se mostra incom-patível com os pressupostos da filosofia analítica.

c) Para Dewey, o treino não tem qualquer coisa a ver com o processo de educação.

d) Ao enfatizar o caráter social da educação, Dewey abre ca-minho para que se trate dela como forma de preparar o indivíduo para a vida numa sociedade democrática.

5. Tendo em vista as teorias de Rorty (1989) sobre a educação, assinale a alternativa correta:

a) A inspiração pragmatista, presente nos primeiros escritos de Rorty, foi ulteriormente abandonada, cedendo lugar

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para uma visão mecanicista da sociedade e, com isso, tam-bém da própria educação.

b) Remetendo-se a Hegel, Rorty reafirma a ideia de um su-jeito de pensamento autônomo, que faz da própria razão o fundamento da verdade e da objetividade.

c) De acordo com Rorty, tanto o posicionamento político de direita quanto o de esquerda partem do pressuposto que existe uma íntima relação entre verdade e liberdade.

d) No esquema proposto por Rorty, a educação básica assu-me um caráter revolucionário, em contraste com o caráter conservador do ensino universitário.

Atividades de aprendizagemQuestões para reflexão

1. Explique a diferença entre a filosofia analítica e a filosofia linguística.

2. Comente a frase de Richard Rorty (1989) a seguir:

Dizer que a verdade e o conhecimento somente podem ser julgados pelos padrões inquiridores de nossa própria épo-ca […] é apenas dizer que nada conta como justificação a não ser por referência ao que já aceitamos, e que não há maneira de sairmos fora de nossas crenças e de nossa lin-guagem para encontrar algum teste que não a coerência. [tradução nossa].

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3. Explique de que forma a preocupação filosófica com a lingua-gem influencia o modo como concebemos a educação.

Atividade aplicada: prática

Releia o texto do capítulo, anotando em seu caderno os principais aspectos e características do positivismo lógico e da filosofia linguís-tica, indicando as semelhanças e diferenças entre uma corrente filo-sófica e outra. Você pode comparar, por exemplo, o modo como cada corrente interpreta a linguagem do cotidiano, ou quais as principais fontes de inspiração de cada uma delas. A seguir, reúna-se com um colega e simule um debate, no qual um de vocês tentará defender os posicionamentos da filosofia linguística e o outro defenderá os pressupostos do positivismo lógico. Escreva o diálogo que vocês inventaram e apresente-o oralmente para o restante da turma.

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Após esse percurso, no qual você pôde conhecer alguns dos principais aspectos de importantes autores e correntes da filosofia e suas respectivas contribuições para o pensamento pedagógico, ficam, invariavelmente, as seguintes perguntas: Valeu a pena? O pensamento filosófico, por vezes tão abstrato, tem dado alguma contribuição efetiva para a educação, um campo indissociavel-mente ligado à prática? A filosofia da educação constitui real-mente algo importante na formação do educador, ou todo esse percurso constitui simplesmente perda de tempo?

De fato, essas questões são colocadas por alunos de pedagogia no mundo inteiro, e não totalmente sem razão. O nível altíssimo de abstração que alguns filósofos alcançam os torna às vezes des-ligados da realidade. Em muitas ocasiões, a filosofia assume um vocabulário tão complexo que certos filósofos acabam perdendo a capacidade de se comunicar com não filósofos ou, pelo menos,

Considerações finais

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com aqueles não “iniciados” nos mistérios da filosofia. Esses casos, porém constituem a exceção, e não a regra.

Como você viu ao longo deste livro, mesmo o pensamento filosófico mais complexo, mais abstrato, é motivado em última instância por questões que dizem respeito àquilo que os filósofos consideravam e ainda consideram mais importante em suas vidas e na sociedade. A teoria sem a prática é inútil, mas devemos admitir também que a prática sem a teoria é cega.

Muitas vezes, discutimos a utilidade da filosofia nos seguin-tes termos: “O que a filosofia pode fazer por mim?”. A pergunta mais adequada, no entanto seria outra: “O que a filosofia pode fazer comigo?”. Ao contrário de técnicas e métodos de ensino, a filosofia da educação nos leva a refletir criticamente os pressupostos mais básicos do pensar e do fazer pedagógico, pois, antes de nos aventurarmos na carreira de educadores, é preciso que tenhamos clareza sobre o que é afinal a educação e qual é o sentido da ativi-dade educacional. E a resposta para esse tipo de questionamento só pode ser dada a partir de uma reflexão de cunho filosófico, uma reflexão que este livro procura estimular, mas que cabe a você, pro-fessor ou professora, mantê-la sempre presente em seu horizonte de preocupações.

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Absolutismo Sistema político no qual o governante assume po-deres absolutos, como, por exemplo, a monarquia francesa no século XVIII.

Alienação Para o pensamento marxista, trata-se do processo no qual o ser humano se afasta de sua própria natu-reza e se torna alheio, estranho, a si mesmo.

Bolchevique Relativo ao Partido Operário Social-Democrata Russo nas primeiras décadas do século XX, que ti-nha Lênin como principal líder.

Burguesia Classe social que, com o desenvolvimento do comércio na Idade Moderna, enriquece e passa a reivindicar liberdade e privilégios políticos.

Capitalismo Sistema econômico baseado na propriedade priva-da e na generalização do trabalho assalariado.

Cartesiano Relativo ao pensamento do filósofo francês René Descartes.

Glossário

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Civilização Conjunto dos elementos materiais e culturais de um povo; a civilização pode ser entendida em opo-sição à natureza, na qual as coisas não dependem da ação humana, assim como em oposição à barbárie, em que a ausência de civilização leva à brutalidade.

Comunismo Organização social e econômica na qual a riqueza e a propriedade pertencem à coletividade; historica-mente, a palavra comunismo veio a designar o regime político e econômico da União Soviética, baseado na propriedade estatal dos meios de produção.

Dedução Raciocínio no qual, a partir de premissas gerais, atingem-se conclusões particulares.

Dialética Raciocínio que se dá por meio do confronto de ideias contraditórias, segundo o esquema de tese, antítese e síntese.

Discurso No pensamento de Foucault, o discurso ou forma-ção discursiva corresponde ao conjunto de concei-tos característicos de uma sociedade ou época em particular.

Dogmático Algo que se afirma com certeza absoluta.

Empirismo Corrente filosófica que afirma a primazia da experiência como fonte do conhecimento.

Epistêmico Puramente intelectual ou cognitivo.

Epistemológico Relativo à teoria do conhecimento.

Essência Aquilo que é o mais fundamental de uma coisa, aquilo que a coisa é.

Estrutura Disposição dos elementos que compõem um todo.

Ética Parte da filosofia preocupada com a questão do de-ver e da moral.

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Fenômeno Aquilo que aparece à consciência de um sujeito de conhecimento.

Gnosiologia Teoria do conhecimento.

Hegemonia Domínio.

Heterodoxo Não convencional.

Idealismo Corrente filosófica que prega a primazia da ideia, do pensamento, sobre a realidade material.

Ideário Conjunto das principais ideias de um autor ou de uma corrente de pensamento.

Ideologia Conjunto de conhecimentos, crenças, valores etc., que constituem uma determinada “visão de mun-do”; no pensamento marxista, a ideologia da classe dominante é assumida pela classe dominada, ge-rando a alienação desta.

Iluminismo Movimento cultural e filosófico característico do século XVIII que afirmava a primazia da razão e combatia as diferentes formas de intolerância e su-perstição.

Incomensurável Algo tão grande ou tão importante que não pode ser medido ou avaliado.

Indução Forma de raciocínio no qual, a partir de constata-ções particulares, se afirmam conclusões universais.

Instrumentalismo Conceito associado à filosofia de John Dewey, que afirma ser o pensamento um instrumento por meio do qual nos relacionamos com o mundo.

Intencionalidade Na fenomenologia, trata-se de um ato por meio do qual o sujeito tende a (tenciona) um objeto de co-nhecimento.

Islâmico Relativo à religião fundada pelo profeta Maomé ou à civilização que se constituiu a partir dessa religião.

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Materialismo Corrente filosófica que afirma a primazia da maté-ria sobre o pensamento.

Metafísica Parte da filosofia voltada a objetos que transcendem a experiência sensível, como o ser, Deus, o absoluto, a alma etc.

Mito Relato fantástico ou sobrenatural por meio do qual se representam aspectos fundamentais da existência humana.

Naturalismo Corrente filosófica que afirma a superioridade da natureza sobre a civilização e propõe a volta a uma existência natural.

Natureza Conjunto de elementos que independem da ação humana ou não sofreram a ação dela.

Ortodoxo Convencional, conservador.

Patológico Doentio.

Platônico Relativo a Platão.

Preceptor Instrutor, professor, geralmente atuando na residência do aluno.

Proletário Trabalhador assalariado.

Racionalismo Corrente filosófica que afirma a primazia da pura razão no ato de conhecimento.

Relativismo Corrente filosófica segundo a qual tudo é relativo e, portanto, a certeza e a objetividade são impossíveis.

Renascimento Movimento cultural e filosófico do final da Idade Média e início da Idade Moderna que valorizava o ser humano e a cultura greco-romana.

Soberano Que exerce poder político.

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Sofista Nome dado a um grupo de filósofos gregos antigos que se destacavam no uso e no ensino da retórica e da gramática, mas que eram muito criticados por Sócrates, Platão e Aristóteles por defenderem ar-gumentos logicamente inconsistentes.

Stalinista Relativo às ideias e práticas políticas de Joseph Stálin, líder autoritário da União Soviética entre 1922 e 1953.

Taxonomia Ciência que lida com a classificação de espécies ani-mais.

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GHIRALDELLI JÚNIOR, P (Org.). O que é filosofia da educação? São Paulo:

DP&A, 2002.

Trata-se de uma coletânea de textos na área de filosofia da educa-ção, versando sobre uma variedade de temas. Como envolve uma diversidade de autores, a coletânea não tem a unidade característica de uma obra didática, mas são os textos escritos com profundidade e competência, o que faz a leitura valer a pena.

OLIVEIRA, A. S. de et al. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo:

Loyola, 1993.

Embora o título desse livro já indique seu caráter introdutório, não devemos nos enganar: os temas são tratados em um nível de profundidade maior que a média das obras do gênero, mas sempre com uma linguagem clara e agradável. Há um texto na coletânea específico sobre a filosofia da educação.

Bibliografia comentada

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Fundamentos filosóficos da educação | José A

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GADOTTI, M. História das ideias pedagógicas. São Paulo: Ática, 1993.

Esse livro reúne um grande número de pequenos textos sobre edu-cação de autores influentes na história do Ocidente, da Antiguidade até o final do século XX. Os textos são agrupados em grandes temas e organizados em ordem cronológica. Constitui um ótimo material para o desenvolvimento de atividades sobre a filosofia da educação.

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Respostas

Capítulo 1

Atividades de autoavaliação

1. c

2. b

3. a

4. d

5. c

Atividades de aprendizagem

Questões para reflexão

1. Semelhanças: Em ambos existe a preocu-

pação de explicar a relação entre a reali-

dade e o pensamento, e em ambos a razão

é o fundamento último da verdade.

Diferenças: Para Platão o conhecimen-

to é derivado da recordação de uma vida

passada, na qual a alma habitava numa

esfera superior, enquanto para Aristóteles

o conhecimento deriva da experiência por

meio de um processo de abstração.

2. O cristianismo impôs limites, estabele-

cendo o que as pessoas da época pode-

riam ou não pensar (isto é, não poderiam

se colocar contra a doutrina da Igreja),

mas, ao mesmo tempo, a religião cristã

estimulava o pensamento filosófico ao

propor questões que a filosofia antiga

desconhecia.

3. Para Kant, o conhecimento não procede da

pura razão e nem da pura experiência, mas

se dá em numa ação combinada da razão e

da experiência, na forma de juízos sintéticos

a priori.

Capítulo 2

Atividades de autoavaliação

1. d

2. c

3. d

4. c

5. d

Atividades de aprendizagem

Questões para reflexão

1. Voltaire se encontra mais em sintonia

com o ideário iluminista em geral, pois

em sua obra podemos perceber as princi-

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Fundamentos filosóficos da educação | José A

ntônio Vasconcelos

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pais características do iluminismo, como

a valorização da razão e do ideal burguês,

assim como uma crítica à Igreja e ao re-

gime monárquico absolutista. Rousseau

também se encontra em sintonia com a

filosofia do iluminismo, mas há alguns

aspectos não iluministas em seu pensa-

mento, principalmente a defesa de um

modelo aristocrático de educação.

2. Voltaire criticava o ensino livresco,

característico da aristocracia, e propunha

uma educação mais voltada para as

necessidades do dia a dia.

3. Rousseau propunha uma educação na

qual o educando crescesse em isolamento,

para não corromper seu caráter com os

vícios da civilização.

Capítulo 3

Atividades de autoavalização

1. a

2. c

3. c

4. b

5. a

Atividades de aprendizagem

Questões para reflexão

1. O iluminismo forneceu ao positivismo

a noção de progresso e domínio da na-

tureza, algo que a Revolução Industrial

apresentava na prática, ao utilizar novas

técnicas para o aumento da produção.

2. Semelhanças: Ambos veem com otimis-

mo o desenvolvimento da ciência e creem

no progresso da humanidade. Diferenças:

Comte não integra em sua filosofia a teo-

ria da seleção natural, como faz Spencer;

Comte acreditava que a experiência pode-

ria levar-nos a leis gerais de caráter abso-

luto, enquanto Spencer enfatiza o caráter

relativo de qualquer lei geral.

3. Porque o pensamento de Comte se de-

senvolve em duas fases, uma cientificista

e outra religiosa. Para um positivismo

ortodoxo, a segunda fase é um desdo-

bramento natural da primeira, enquanto

que para os positivistas heterodoxos a se-

gunda fase contradiz o ideário positivista

originalmente concebido por Comte.

Capítulo 4

Atividades de autoavaliação

1. a

2. c

3. c

4. c

5. b

Atividades de aprendizagem

Questões para reflexão

1. O materialismo é um posicionamen-

to filosófico segundo o qual a matéria

constitui a realidade primordial e todos

os fenômenos intelectuais e culturais são

derivados dela. A dialética afirma uma

lógica que se desenvolve no esquema

teste-antítese-síntese. Marx e Engels

combinam essas noções dando origem

a um pensamento que ficou conhecido

como materialismo dialético. Para essa

corrente, a dialética ultrapassa o âmbito

do pensamento e se refere à lógica do de-

senvolvimento histórico.

2. Para Marx e Engels, a escola era local de

doutrinação da ideologia burguesa e mi-

nava o potencial revolucionário da classe

trabalhadora.

3. Semelhanças: Ambos pensam a educação

a partir dos conceitos do materialismo

dialético. Diferenças: Althusser postula

que a escola é um aparato ideológico

do Estado e deve servir sempre aos

interesses burgueses, enquanto Saviani vê

na escola a possibilidade de construção

da consciência crítica dos alunos.

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José

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Capítulo 5

Atividades de autoavaliação

1. d

2. a

3. b

4. c

5. a

Atividades de aprendizagem

Questões para reflexão

1. A fenomenologia, a partir do conceito

de intencionalidade, permite-nos pensar

o sujeito do conhecimento como um ser

ativo e, correlatamente, a aprendizagem

do aluno como uma ação deste sobre o

mundo, e não o contrário.

2. Ambas as respostas são possíveis. É

anti-humanista porque, segundo Sartre, “o

inferno são os outros”, isto é, as outras

pessoas limitam a liberdade do sujeito

individual. Mas, por outro lado, é hu-

manista porque reconhece na alteridade

a condição sine qua non para o reconheci-

mento de si mesmo como um ser dotado

de liberdade.

3. Para Foucault, a escola produz um esqua-

drinhamento do espaço e estabelece uma

hierarquia interna, levando ao adestra-

mento dos alunos dentro de determina-

dos padrões de pensamento e ação.

Capítulo 6

Atividades de autoavaliação

1. a

2. b

3. a

4. d

5. c

Atividades de aprendizagem

Questões para reflexão

1. A filosofia analítica procupa-se com o ri-

gor da linguagem da Ciência, enquanto a

filosofia linguística focaliza seus estudos

na linguagem comum.

2. Em uma perspectiva pragmatista, como

a de Rorty, devemos abandonar o anseio

por um fundamento último para a verda-

de, uma vez que essa é uma função da lin-

guagem, e aceitar o critério de coerência

como o único fundamento possível para a

compreensão mútua.

3. A preocupação com a linguagem nos

torna mais conscientes de nossas limi-

tações linguísticas e, consequentemente,

torna-nos mais rigorosos quanto ao uso

de conceitos.

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José Antônio Vasconcelos possui graduação em Filosofia (1986) pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná − PUC-PR, especialização em História e Cidade (1993), em Filosofia Política Moderna (1995) e mestrado em História, todos pela Universidade Federal do Paraná − UFPR (1996), além de doutorado em História (2001) pela Universidade Estadual de Campinas e pós-doutorado em História (2006) pela University of Virginia. Atualmente, é pro-fessor do curso de História na Universidade de São Paulo − USP. Entre suas principais obras publicadas destacam-se: Quem tem

medo de teoria? e A ameaça do pós-modernismo na historiogra-

fia americana, da Editora AnnaBlume; Metodologia do ensino de

história e Fundamentos epistemológicos de história, ambos da Editora do Ibpex, além de coleções didáticas para o ensino fundamental e artigos acadêmicos em periódicos especializados.

Sobre o autor

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9 7 8 8 5 7 8 3 8 1 8 9 9

ISBN 978-85-7838-189-9

Fundamentos�losó�cosda educação

Você saberia dizer qual é a importância da filosofia na atualidade, principalmente no cenário educacional?

Partindo dessa reflexão, esta obra traz informações bastante didáticas a respeito de diversas correntes filosóficas, fornecendo-nos subsídios para questionar o “como” e o “porquê” da ação pedagógica.

Ideal para pais, educadores e estudantes universitários, Fundamentos filosóficos da educação comprova que a educação é a única possibilidade plena de socialização e formação integral do aluno, uma vez que nos leva a refletir criticamente sobre o sentido da atividade educacional e da existência humana.