fundaÇÃo universidade federal de rondÔnia unir · monografia apresentada ao curso de direito da...

56
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR CAMPUS PROFESSOR FRANCISCO GONÇALVES QUILES CACOAL DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DIREITO EDSON JOSÉ VIANA A CONTRIBUIÇÃO DO ESTADO NA RESSOCIALIZAÇÃO DE APENADOS NA CASA DE DETENÇÃO DO MUNICÍPIO DE CACOAL-RO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO MONOGRAFIA CACOAL RO 2015

Upload: others

Post on 07-Nov-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR

CAMPUS PROFESSOR FRANCISCO GONÇALVES QUILES – CACOAL

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DIREITO

EDSON JOSÉ VIANA

A CONTRIBUIÇÃO DO ESTADO NA RESSOCIALIZAÇÃO DE APENADOS NA

CASA DE DETENÇÃO DO MUNICÍPIO DE CACOAL-RO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

MONOGRAFIA

CACOAL – RO

2015

Page 2: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

EDSON JOSÉ VIANA

A CONTRIBUIÇÃO DO ESTADO NA RESSOCIALIZAÇÃO DE APENADOS NA

CASA DE DETENÇÃO DO MUNICÍPIO DE CACOAL- RO

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação

Universidade Federal de Rondônia-UNIR – Campus

Professor Francisco Gonçalves Quiles – Cacoal, como

requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em

Direito, elaborada sob a orientação da professora M.e Ozana

Rodrigues Boritza.

CACOAL – RO

2015

Page 3: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

A CONTRIBUIÇÃO DO ESTADO NA RESSOCIALIZAÇÃO DE APENADOS NA

CASA DE DETENÇÃO DO MUNICÍPIO DE CACOAL-RO

EDSON JOSÉ VIANA

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia

UNIR – Campus Professor Francisco Gonçalves Quiles – Cacoal, para obtenção do grau de

Bacharel em Direito, mediante a Banca Examinadora formada por:

___________________________________________________________________

Professora M. e Ozana Rodrigues Boritza UNIR - Presidente

___________________________________________________________________

Professor M. e Afonso Maria das Chagas UNIR - Membro

___________________________________________________________________

Professora M. e Daeane Zulian Dorst UNIR - Membro

Conceito:____________

Cacoal, 03 de julho de 2015.

Page 4: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

Dedico este trabalho a meus pais Dedé e Otília, meus irmãos

Gilmar (in memorian), Raimundo Viana, José Aparecido

Viana e Maria Edenir pelo carinho e apoio nestes cinco anos

de caminhada.

Page 5: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me dar forças para superar os momentos mais

difíceis e por permitir que atingisse meus objetivos.

Aos meus pais Dedé e Otília pelo carinho e paciência que teve comigo em mais esta

jornada de minha vida e pelas palavras de incentivo quando as coisas pareciam difíceis de serem

superadas, mesmo sem terem consciência e conhecimento da amplitude e complexidade da

realização do sonho de ser bacharel em direito, me motiva e me faz querer chegar mais longe

superando qualquer obstáculo.

Aos meus irmãos Gilmar (in memorian), Raimundo Viana, José Aparecido e Maria

Edenir que alegraram minha vida desde os tempos da infância, quando brincávamos e também

brigávamos, mas sempre vivendo em espírito de união e fraternidade.

As minhas orientadoras, Professoras M.e Ozana e M.e Daeane, pela paciência e

disponibilidade em transmitir seus conhecimentos e ajuda na elaboração deste trabalho.

Aos demais Professores do Departamento do Curso de Direito da Fundação

Universidade Federal de Rondônia pelos conhecimentos transmitidos ao longo do período de

graduação e, especialmente aos colegas de curso que souberam em tantos momentos superar

comigo momentos de impaciência e ansiedade na persecução desse projeto que é ser bacharel

em direito.

Aos demais familiares e amigos que acreditaram na minha capacidade sempre me

incentivando e apoiando.

Page 6: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

“O conformismo é o carcereiro da liberdade e o inimigo do

crescimento” (John Kenedy)

“O êxito na vida não se mede pelo que você conquistou, mas

sim pelas dificuldades que superou no caminho”.

(Abraham Lincoln)

Page 7: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo compreender as formas de

contribuição do Estado na ressocialização de apenados na Casa de Detenção do município de

Cacoal. Para tanto, considerando-se a grande importância que tem o Direito Penal dentro do

ordenamento jurídico, vislumbrou-se estudar os institutos que tratam da proteção dos direitos

dos presos na constituição Federal e legislação infraconstitucional, assim como as normas de

organização penitenciária. Foi adotado o método de pesquisa dedutivo, tendo apoio nos

procedimentos de abordagem qualitativa e estatística, e ainda na técnica de pesquisa

bibliográfica baseada na literatura que norteiam o tema. Foi realizada entrevista por meio de

questionário fechado e direto junto aos responsáveis pelas atividades ressocializadoras,

questionando, segundo a juridicidade, os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais os

procedimentos e práticas desenvolvidas no estabelecimento prisional. Também se buscou definir

os direitos da pessoa presa previstos na Carta Magna e Lei de Execução Penal, além de

conceituar sociologicamente os institutos da igualdade e dignidade. Foram colecionados dados

estatísticos coletados pela Secretaria de Assuntos Penitenciários que tem relação com o número

de apenados que retornaram ao convívio social no município de Cacoal-RO. Ao final,

relacionaram-se de forma adequada as informações pesquisadas com os dados estatísticos

mencionados, visando identificar a interação existente entre a previsão da lei e a prática

desenvolvida e apontar a importância deste estudo para compreender as consequências que a

contribuição do Estado na ressocialização de apenados pode gerar na sociedade local.

Palavras-chave: Ressocialização. Apenados. Execução Penal. Legislação.

Page 8: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

ABSTRACT

This course conclusion work aims to understand the forms of state assistance in the

rehabilitation of inmates in the prison in the city of Cacoal. Therefore, considering the great

importance of the criminal law within the legal system, envisioned to study the institutions that

deal with the protection of prisoners' rights in the Federal Constitution and constitutional

legislation , as well as the rules of prison organization. The method of deductive research , and

support the qualitative approach procedures and statistics, and even in literature search

technique based on literature that guide the subject was adopted . Interview was conducted by

means of a closed and direct questionnaire with those responsible for ressocializadoras

activities, questioning, according to legality , the doctrinal and jurisprudential understanding the

procedures and practices developed in prison . We also sought to define the rights of the

prisoner provided in Magna Carta and Prison Law , and sociologically conceptualize the

equality and dignity institutes. We collected statistical data collected by the Department of

Correctional Affairs that has to do with the number of inmates who returned to social life in the

city of Cacoal -RO. Finally, related to adequately researched information on the statistics

mentioned , to identify the interaction between the prediction of the standard and and pointthe

developed practice out the importance of this study to understand the consequences that the

State's contribution to the rehabilitation of inmates can generate in the local society.

Keywords: resocialization. Convicts. Execution Penh. Legislation.

Page 9: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10

1 A QUESTÃO JURÍDICA DOS DIREITOS DOS APENADOS .................................... 12

1.1 DIREITOS DOS PRESOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988......................... 12

1.2 DIREITOS DOS PRESOS NA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL ............... 15

1.3 TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE OS DIREITOS DO INDIVÍDUO PRESO . 17

1.4 ASPECTOS DOUTRINÁRIOS ........................................................................................ 19

2 SISTEMA PENITENCIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA .................................... 22

2.1 CASA DE DETENÇÃO DO MUNICÍPIO DE CACOAL ............................................... 23

2.1.1 Pesquisa de Campo ....................................................................................................... 24

2.2 AGENTE PENITENCIÁRIO E O SEU PAPEL RESSOCIALIZADOR ......................... 33

2.3 POLÍTICAS OFICIAIS DE RESSOCIALIZAÇÃO......................................................... 35

2.3.1 Atividades Ressocializadoras desenvolvidas no Território Nacional ...................... 35

2.3.2 Atividades Ressocializadoras desenvolvidas no Estado de Rondônia ..................... 40

3 SENTIDO JURÍDICO E SOCIOLÓGICO DE RESSOCIALIZAÇÃO ....................... 44

3.1 SENTIDO JURÍDICO ....................................................................................................... 44

3.2 SENTIDO SOCIOLÓGICO .............................................................................................. 46

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 49

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 52

ANEXOS ................................................................................................................................ 56

Page 10: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

INTRODUÇÃO

A Constituição Federal brasileira prevê expressamente a responsabilidade do Estado

perante todos os cidadãos, garantindo-lhes direitos e deveres fundamentais, abrangendo

também a população prisional, motivo pelo qual, se faz primordial a observação da promoção

dos direitos e garantias fundamentais previstas nos dispositivos da Carta Magna, os quais

surtirão efeitos em todo o ordenamento jurídico brasileiro.

O presente trabalho tratará das disposições constitucionais, infraconstitucionais e os

tratados internacionais sobre direitos humanos referentes às atividades desenvolvidas na Casa

de Detenção do município de Cacoal, Estado de Rondônia na preparação da pessoa presa para

seu retorno ao convívio social.

Outro ponto a ser destacado será a observação aos princípios da igualdade e dignidade

da pessoa humana, já que se tratam do atendimento ao ser humano como indivíduo que

praticou atos considerados contrários as normas jurídicas de convivência em sociedade. Sendo

assim, se faz necessário compreender os ditames da legislação que abordam o assunto,

inclusive nas atualizações em decorrência das mudanças acontecidas no seio da própria

sociedade.

Foi adotado o método dedutivo de pesquisa científica, tendo apoio nos procedimentos

da técnica de pesquisa bibliográfica por meio de referenciais teóricos publicados e da

entrevista com abordagem qualitativa e estatística, baseada na análise de todos os dados

coletados sobre o desenvolvimento das atividades ressocializadoras desenvolvidas na unidade

prisional do município de Cacoal-RO, com fundamentação na norma jurídica e as disposições

legais vigentes.

No primeiro capítulo será tratada a questão jurídica do Direito dos apenados previsto

na Constituição Federal, passando pela Lei de Execução Penal, Código Penal, Código de

Processo Penal e os Tratados Internacionais que versam sobre os direitos humanos

Page 11: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

11

relacionados com o indivíduo que teve sua liberdade restringida pelo Estado, em virtude da

prática de atos contrários as normas de convivência social. Serão tratadas também as

discussões doutrinárias acerca do assunto.

No segundo capítulo será abordada a organização do sistema penitenciário do Estado

de Rondônia, com viés na Casa de Detenção do município de Cacoal, inclusive sobre as

atividades desenvolvidas pelos profissionais que lidam diretamente com os apenados, que é o

agente penitenciário e o seu papel no processo de ressocialização do preso nesta unidade

prisional.

Considerando que o objetivo deste estudo é demonstrar as formas práticas de

ressocialização desenvolvidas com a população carcerária da Casa de Detenção no município

de Cacoal-RO, serão trazidas referências de políticas oficiais voltadas para processo de

ressocialização e, que poderão ser utilizadas como parâmetros de influência para a criação de

novas atividades ressocializadoras na realidade carcerária local.

Ainda neste capítulo serão coletados dados por meio de pesquisa junto aos

profissionais envolvidos e a direção do presídio de Cacoal-RO sobre todas as atividades

ressocializadoras desenvolvidas neste estabelecimento prisional.

No início do terceiro capítulo com a finalidade de embasamento principal do trabalho,

buscar-se-á definir o que é uma prática ressocializadora, relacionando-a com a definição no

ordenamento jurídico e entendimentos doutrinários, a fim de compreender qual é a eficácia do

cumprimento da pena e seu objetivo que é a recuperação social do indivíduo.

Na segunda parte será dada atenção à conceituação sociológica da ressocialização,

sendo tratada a questão de sua origem, como uma das exigências da função da pena, enquanto

finalidade de reabilitação social.

E, por fim, serão apresentadas as considerações finais sobre os resultados da pesquisa

de campo com abordagem qualitativa que tem como finalidade demonstrar a contribuição do

Estado na recuperação da pessoa presa nesta comarca, a qual é o objetivo deste trabalho de

conclusão de curso e que poderá servir de referência contributiva a futuros estudos de análise

científica sobre o tema.

Todavia, é possível perceber que o Brasil dispõe de uma legislação moderna e

avançada, entretanto é verídico que a gestão pública brasileira, e consequentemente o Estado

de Rondônia necessita de reforma urgente a fim de que, assim como a própria sociedade, a

população carcerária possa ser atendida dentro do que se prevê na teoria legislativa.

Page 12: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

1 A QUESTÃO JURÍDICA DOS DIREITOS DOS APENADOS

1.1 DIREITOS DOS APENADOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A Constituição Federal de 1988 possui como fundamentos a dignidade da pessoa

humana e o direito a uma vida igualitária em sociedade, respeitados os princípios da

legalidade e da proporcionalidade. Enumera os direitos e garantias fundamentais, dentre os

quais se destacam no tema em apreciação os princípios da igualdade e dignidade humana,

importantes para que seja respeitada e mantida a ordem jurídica e o respeito aos direitos do

homem.

A ciência do Direito é dirigida à sociedade e opta pela definição de igualdade trazida

pelo dicionário Aurélio que a define como qualidade ou estado de igual. A Constituição

Federal de 1988 consagra o referido princípio, expressamente, no caput do artigo 5º “todos

são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. A Lei Maior trata desigualmente

os desiguais com o fito de torná-los iguais de fato. Exemplifica, claramente, no artigo 5º, I,

quando iguala formalmente os integrantes do sexo masculino e feminino no que tange aos

direitos e obrigações.

A pessoa presa mantém, segundo o ordenamento jurídico brasileiro, todos os outros

direitos que não foram atingidos pela sentença. Esses direitos são garantidos pelas leis

brasileiras, porque mesmo privado da sua liberdade, o indivíduo mantém o direito a um

tratamento humano, isento de violência física ou moral.

As garantias do indivíduo preso foram trazidas pelo art. 5º da Carta Política de 1988 e

pelo nível constitucional, constituem a mais alta esfera de direitos no Território brasileiro:

III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

[....]

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de

reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,

estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do

patrimônio transferido

XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as

seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;

b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos;

XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

Page 13: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

13

b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados;

d) de banimento;

e) cruéis;

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a

natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

A proteção dos direitos constitucionais do indivíduo abrange os que infringem as

normas de convivência em sociedade como é possível se observar no próprio capítulo 5º:

XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com

seus filhos durante o período de amamentação;

[.....]

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo

legal;

[.....]

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e

fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão

Militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados

imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.

A norma maior preserva ao apenado, entre outros, o direito de permanecer calado,

assegurando-lhe a assistência familiar e de um procurador, além da identificação dos que

foram responsáveis pela restrição da sua liberdade e do seu interrogatório:

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer

calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por

seu interrogatório policial;

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a

liberdade provisória, com ou sem fiança;

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo

inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário

infiel;

LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar

ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por

ilegalidade ou abuso de poder;

[......]

LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que

ficar preso além do tempo fixado na sentença.

A Constituição de 1988 é a lei maior do ordenamento brasileiro, na qual se encontram

os princípios e as regras que dão norte a soberania do Brasil, e também, define toda a estrutura

organizacional do país. Todavia, é salutar elencar que o artigo 5º da carta magna traz

Page 14: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

14

limitações para alguns desses direitos, o que se atribui legitimidade e ligação do Direito Penal

com o Direito Constitucional.

Lopes (2000, p. 175), diz que:

O Direito Penal funda-se na Constituição, no sentido de que as normas que o

constituem ou são elas próprias normas formalmente constitucionais ou são

autorizadas ou delegadas por outras normas constitucionais. A Constituição como

regra não contém normas penais completas, ou seja, não prevê condutas nem as

censura através de penas ou medidas de segurança, mas contém disposições de

Direito Penal que determinam em parte o conteúdo de normas penais.

Os princípios da dignidade da pessoa humana e da prevalência dos direitos humanos,

artigo 1º, III e artigo 4º, II, respectivamente refletem os direitos contidos no artigo 5º da

Constituição Federal:

Art.1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de

Direito e tem como fundamentos:

[......]

III – a dignidade da pessoa humana;

Art.4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais

pelos seguintes princípios:

[....]

II – prevalência dos direitos humanos.

Esta questão humana refletida no texto constitucional, no artigo 5º, está inserida nos

incisos III e XLIX, os quais expressam que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”:

[.....]

III – ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral.

Diante disso, foi necessária a adoção pelo País de políticas públicas destinadas a

resguardar os direitos humanos fazendo com que as normas constitucionais sejam efetivadas.

Assim, serve de exemplo o direito à integridade física e moral assegurado a partir do

momento em que o legislador baniu e condenou a tortura e o tratamento desumano ou

degradante, criando o programa nacional de proteção dos direitos humanos.

Tratando-se ainda, dos direitos previstos na Carta Magna em relação aos apenados, no

sentido de contribuir para a ressocialização, está a prestação de assistência religiosa nas

entidades civis e militares de internação coletiva. Porque apesar do indivíduo delinquente ser

Page 15: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

15

privado da liberdade, não se pode privá-lo da assistência material, religiosa e cultural. Isso

não é ser contrário ao Estado Laico, pois é a expressão do pluralismo e da cidadania.

Em continuidade, verifica-se que a Carta Magna prevê a indenização por parte do

Estado ao condenado por erro judiciário, como também, o que ficar preso além do tempo

fixado na sentença (CF/1988, art.5º, LXXV).

Outra proteção do Estado ao apenado encontra-se no artigo 134 da Carta Política:

A defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado,

incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos

necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV.

Esta proteção se refere à assistência jurídica integral e gratuita do Estado aos que

comprovarem insuficiência de recursos, a qual deverá também, ser estendida ao preso como

forma de contribuição na sua ressocialização.

1.2 DIREITOS DOS PRESOS NA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL

Os direitos da pessoa presa são irrenunciáveis e invioláveis. Por isso, a execução penal

deve estar de acordo com os fins definidos pela legislação. O indivíduo privado da sua

liberdade encontra-se numa situação limitadora dos direitos constitucionais e

infraconstitucionais, mas nem por isso, foi perdida a sua condição de ser humano e os direitos

não atingidos pela norma. Mas, não é somente a Constituição Federal, que garante os direitos

do preso, as leis infraconstitucionais também trazem garantias ao apenado.

O apenado nem sempre dispõe de recursos financeiros para arcar com as despesas de

advogados, além disso, a Constituição Federal veda a autodefesa. Então, cabe, portanto, ao

Estado disponibilizar um defensor público para atender as necessidades jurídicas do preso,

bem como auxiliar no que for necessário a sua defesa.

Assim como a Carta Política, a Lei de Execução Penal, 7.210 de 1984 e o Decreto Lei

3.689 de 1941 trazem no bojo dos artigos 15, 16, 261 e 263, respectivamente, a previsão da

assistência jurídica a pessoa presa:

Art. 15 – A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos

financeiros para constituir advogado.

Art. 16 – As unidades da Federação deverão ter serviços de assistência jurídica nos

estabelecimentos penais.

[.....]

Art. 261 – Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou

julgado sem defensor.

[....]

Page 16: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

16

Art. 263 – Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz,

ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si

mesmo defender-se, caso tenha habilitação.

Em destaque, outro direito constitucional assegurado também na Lei de Regência, o

Decreto Lei 3.689/1941 é a indenização pelo erro judiciário e a extrapolação do tempo de

pena fixada na sentença. A responsabilidade do Estado, nesse caso, é objetiva, acarretando

indenização do condenado, se ocorrer qualquer dos casos citados. A previsão está no Código

de Processo Penal, art. 621 que informa:

Art. 621 – A revisão dos processos findos será admitida:

I – quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à

evidência dos autos;

II – quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou

documentos comprovadamente falsos;

III – quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do

condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da

pena.

No caso do erro judiciário ou da prisão além dos limites estabelecidos na pena, poderá

utilizar-se da revisão criminal ou do Habeas Corpus para se resolver de forma imediata essa

ilegalidade estatal, somado à indenização por danos morais e materiais sofridos.

Na sequência, é importante visualizar o direito do preso em relação a uma alimentação

suficiente e vestuário, assegurado no art. 41, I, da Lei de Execução Penal. O objetivo da

alimentação e do vestuário, segundo ensinamentos de Mirabete (2004, p. 120):

Deve a alimentação, de um lado, proporcionar ao preso alimentação controlada,

convenientemente preparada e que corresponde em quantidade e qualidade às

normas dietéticas e de higiene, tendo em conta o seu estado de saúde e, de outro

lado, vestuário apropriado ao clima, para que não lhe seja prejudicada a saúde ou a

dignidade.

Assim como o direito a alimentação e vestimentas, o indivíduo encarcerado tem

direito a trabalho remunerado, até como forma da sua própria recuperação para o convívio em

sociedade, visto que é um direito social previsto constitucionalmente, onde o Estado, em

detrimento da situação do apenado, deve atribuir-lhe condições para que seja realizado no

estabelecimento prisional.

Em conformidade, o Código Penal também traz no art. 39 a previsão desse direito: “O

trabalho do preso será sempre remunerado, sendo-lhe garantidos os benefícios da Previdência

Social”.

Page 17: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

17

1.3 TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE OS DIREITOS DO INDIVÍDUO PRESO

Os direitos fundamentais do indivíduo preso é uma questão de dignidade e

responsabilidade social, pois tem proteção assegurada na estrutura do ordenamento de cada

Estado, assim como, nos tratados internacionais que formam o conjunto de normas do direito

internacional, principalmente relacionados com a segurança aos direitos do homem.

É indispensável à compreensão de que a pessoa presa conserva os demais direitos

adquiridos enquanto cidadão e que não foram alcançados pela norma, em razão da perda por

lapso de tempo, do direito à liberdade sofrida por efeito da sentença condenatória. A pessoa

presa necessita do reconhecimento de que é um ser dotado de dignidade que é a qualidade

inatingível, inalienável e essencial do ser humano.

No âmbito do direito internacional, a preocupação com a segurança e respeito aos

direitos dos presos é previsto em importantes acordos firmados entre os Estados, como

externalizam-se nos artigos 9º, 3 e o 10, 1 e 3 do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e

Políticos do ano de 1966:

Art. 9º, 3:

Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser

conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei

a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser

posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não

deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias

que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos

do processo e, se necessário for, para a execução da sentença.

Art. 10, 1:

Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito

à dignidade inerente à pessoa humana.

Art. 10, 3:

O regime penitenciário consistirá num tratamento cujo objetivo principal seja a

reforma e a reabilitação normal dos prisioneiros. Os delinquentes juvenis deverão

ser separados dos adultos e receber tratamento condizente com sua idade e condição

jurídica.

É salutar reconhecer que a mesma previsão foi adotada pelo Decreto n.º 592, de 06 de

julho de 1992 por parte do Governo brasileiro a respeito dos atos internacionais relacionados

com a proteção aos direitos do indivíduo preso, considerando o depósito em 24 de janeiro de

1992 da Carta de Adesão ao referido Pacto que entrou em vigor, para o Brasil, na mesma data,

na forma de seu art. 49, §2º, tendo o Congresso Nacional aprovado o texto por meio do

Decreto Legislativo n.º 226, de 12 de dezembro de 1991.

Page 18: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

18

Valério Mazzuoli de Oliveira (1984) afirma que o Brasil é signatário de importantes

tratados internacionais que versam sobre direitos humanos como o Pacto de San José da Costa

Rica, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e a Declaração Universal

dos Direitos Humanos da ONU – Organização das Nações Unidas, os quais proíbem o

tratamento desumano da pessoa presa. No ano de 2009, a Suprema Corte brasileira, o STF,

teve o seu vice-presidente, o então ministro Cezar Peluso eleito presidente e relator de uma

comissão das Nações Unidas que foi criada para estudar mudanças nas regras sobre

tratamento de presos.

A previsão sobre os direitos do indivíduo preso é trazida, também, pela Convenção

Americana sobre Direitos Humanos de 1969 – Pacto de San José da Costa Rica que no bojo

do seu art. 7º, 1-6, expressa:

1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.

2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas

condições previamente fixadas pelas Constituições políticas dos Estados-partes

ou pelas leis de acordo com elas promulgadas.

3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários.

4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da detenção e

notificada, sem demora, da acusação ou das acusações formuladas contra ela.

5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, a presença

de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e

tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade,

sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a

garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.

6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal

competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua

prisão ou detenção e ordena sua soltura, se a prisão ou a detenção forem ilegais.

Nos Estados-partes cujas leis preveem que toda pessoa que se vir ameaçada de

ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal

competente, a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça tal

recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto

pela própria pessoa ou por outra pessoa.

O Brasil, segundo último levantamento realizado pelo Conselho Nacional de Justiça

com base nos dados do Centro Internacional de Estudos Prisionais – ICPS, apresentado no dia

05 de junho do ano de 2014, conta com 715,6 mil presos, tendo assim, a terceira maior

população carcerária do mundo. Os Estados Unidos da América - EUA lideram a lista com

2,2 milhões de presos, seguidos pela China, com 1,7 milhão.

A população prisional brasileira é constituída, em sua maioria, por homens, adultos

jovens na faixa etária de 18 a 24 anos e pobres. A feminina, constituída também de mulheres

adultas, jovens e pobres aumenta de forma progressiva, sobretudo em virtude da

Page 19: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

19

criminalização feminina pelo crime de tráfico de drogas. Na verdade, uma questão

tipicamente social:

Os números apresentados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a representantes

dos tribunais de Justiça brasileiros, levam em conta as 147.937 pessoas em prisão domiciliar.

Para realizar o levantamento inédito, o CNJ consultou os juízes responsáveis pelo

monitoramento do sistema carcerário dos 26 estados e do Distrito Federal. De acordo com os

dados anteriores do CNJ, que não contabilizavam prisões domiciliares a população carcerária

era de 563.526 no mês de maio de 2014.

O novo diagnóstico de pessoas presas no país apresentado pela vice-procuradora-geral

da República, Ela Wiecko, em entrevista à Agência Brasil no mês de Junho/2014, segundo

dados do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema

de Execução de Medidas socioeducativas – DMF do Conselho Nacional de Justiça - CNJ

informa ainda que existem mais de 373.000 mandados de prisão abertos. Se eles fossem

cumpridos, o número de presos poderia chegar a 1.090.000 e o déficit de vagas a 733.000.

1.4 ASPECTOS DOUTRINÁRIOS

Ao longo da história da humanidade, as soluções para os conflitos sociais e o

progresso do homem foram graças à colaboração dos estudiosos e pesquisadores. No Direito

Penal não é diferente, ainda mais se tratando do cerceamento da liberdade do indivíduo que se

desvirtuou por contrariar as regras de convivência em sociedade.

Com a evolução dos tempos e dos meios de punição, as penas consideradas

degradantes cederam lugar as mais humanitárias, visando o fim ressocializador do infrator.

Desse modo, os castigos foram substituídos por privação da liberdade, perdurando na

atualidade a socialização da pena.

Na procura de solução para a criminalidade, os estudiosos do Direito Penal têm

procurado respostas por meio de pesquisas cientificas na tentativa de reagir à ocorrência da

infração. Assim explica Mirabete (2004, p. 35):

A infração totêmica ou a desobediência tabu levou a coletividade à punição do

infrator para desagravar a entidade gerando se assim o que modernamente

denominamos crime e pena. O castigo infligido era o sacrifício da própria vida do

transgressor ou a oferenda por este de objetos valiosos (animais, peles e frutas) a

divindade, no altar montado em sua honra. A pena, em sua origem remota, nada

mais significa senão a vingança, revide à agressão sofrida, desproporcionada com a

ofensa e aplicada sem preocupação de justiça.

Page 20: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

20

A Carta Magna, já no seu início dá prevalência ao princípio da dignidade da pessoa

humana, demonstrando a preocupação do legislador constituinte com os direitos do homem,

mesmo que não seja respeitado na sua integralidade, conforme ressalta os mestres Zaffaroni e

Pierangeli (2004, p. 220):

O princípio da humanidade é o que dita à inconstitucionalidade de qualquer pena ou

consequência do delito que crie um impedimento físico permanente (morte,

amputação, castração ou esterilização, intervenção neurológica, etc.), como também

qualquer consequência jurídica indelével do delito. (...) A república pode ter homens

submetidos à pena, pagando suas culpas, mas não pode ter cidadãos de segunda,

sujeitos considerados afetados por uma capitis diminutio para toda a vida.

O que se observa é que o processo de ressocialização do indivíduo encarcerado é

composto de um conjunto de fatores que compõe o cumprimento da pena. Há direitos básicos

necessários para que permaneça o sentimento de convivência em sociedade, previstos em todo

o regramento jurídico, indispensáveis para a ressocialização do delinquente, dentre estes se

podem citar a visita do cônjuge, de parentes e amigos nos dias permitidos, conforme prevê o

art. 41, X, da Lei de Execução Penal.

A ausência da visita íntima pode causar abstinência sexual e provocar desordem e

conflitos internos entre os detentos. Todavia, observa-se que é um direito limitado, pois os

visitantes são submetidos a rigorosas revistas, na prevenção de entrada de armas, drogas e

aparelhos celulares, conforme observa Mirabete (2004, p. 125):

É um direito limitado por não ser expresso na lei como um direito absoluto e sofrer

uma série de restrições, tanto com relação às pessoas, como às condições que devem

ser impostas por motivos morais, de segurança e de boa ordem do estabelecimento.

A respeito da entrada de produtos proibidos nos dias de visitas, já houve decisão por

parte da jurisprudência do STJ – Superior Tribunal de Justiça, onde na ocasião, apenados

foram punidos com falta grave por serem encontrados nas dependências da cela, chip de

telefonia móvel, conforme HC 260.122-RS:

Quinta Turma

DIREITO PROCESSUAL PENAL. FALTA GRAVE DECORRENTE DA

POSSE DE CHIP DE TELEFONIA MÓVEL POR PRESO.

No âmbito da execução penal, configura falta grave a posse de chip de telefonia

móvel por preso. Essa conduta se adéqua ao disposto no art. 50, VII, da LEP, de

acordo com o qual constitui falta grave a posse de aparelho telefônico, de rádio ou

similar que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.

Trata-se de previsão normativa cujo propósito é conter a comunicação entre presos e

seus comparsas que estão no ambiente externo, evitando-se, assim, a deletéria

Page 21: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

21

conservação da atividade criminosa que, muitas vezes, conduziu-os ao

aprisionamento. Portanto, há de se ter por configurada falta grave também pela

posse de qualquer outra parte integrante do aparelho celular. Conclusão diversa

permitiria o fracionamento do aparelho entre cúmplices apenas com o propósito de

afastar a aplicação da lei e de escapar das sanções nela previstas. HC 260.122-RS,

Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/3/2013. Informativo nº 0517.

(BRASIL, 2013).

Outro direito importante na ressocialização do apenado está no art. 126 da Lei de

Execução Penal e, diz respeito ao trabalho do preso como forma de remição de pena. Todavia,

é necessário que o beneficiado não ocorra em punições de caráter comportamental e penal, o

que acarreta a perda dos benefícios, como explica o doutrinador Mirabete (2004, P. 491):

[....] nos termos em que é regulada a remição, a inexistência de punição por falta

grave é um dos requisitos exigidos para que o condenado mantenha o benefício da

redução da pena. Praticando falta grave, o condenado deixa de ter direito a remição.

Nesse entendimento, a remição aparece com a finalidade de diminuir o ócio dentro dos

estabelecimentos prisionais e a inserção do preso na sociedade, desde que já cumpre pena nos

regimes semiaberto e aberto. Contudo, percebe-se que a condição de preso é um obstáculo a

ser superado pelo indivíduo encarcerado que esta prestes a retornar ao convívio em sociedade.

Visto isso, ensina o mestre Barroso (2003, p.38):

A dignidade humana representa superar a intolerância, a discriminação, a exclusão

social, a violência, a incapacidade de aceitar o diferente. Tem relação com a

liberdade e valores do espírito e com as condições materiais de subsistência da

pessoa.

Observa-se que a dignidade humana é intrínseca de cada pessoa e implica um

complexo de direitos e deveres fundamentais lhe assegurando garantias mínimas para uma

vida igualitária de sobrevivência na própria sociedade.

Page 22: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

2 SISTEMA PENITENCIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA

O Sistema Penitenciário do Estado de Rondônia fazia parte da Secretaria de Segurança

Pública, situação que perdurou até meados do ano de 1980. Porém, com a elevação do

Território Federal ao status de Estado, ocasionou a independência do Sistema Penitenciário,

por meio do Decreto n.º 19, datado do dia 31 de dezembro de 1981.

Segundo, o jornalista Dalton Di Franco, o citado Decreto determinou a estrutura e a

competência da administração penitenciária através da Secretaria do Interior e Justiça –

SEIJUS que contava com 04 presídios, sendo 03 (três) na capital Porto Velho e 01 (um) na

cidade de Ji-paraná, no interior do Estado.

Todavia, com o advento da Lei Complementar nº 42 de 1991, estabeleceu-se a

mudança da SEIJUS, a qual passou a se chamar Secretaria de Estado e Justiça e Cidadania –

SEJUCI, passando posteriormente a ser denominada de Superintendência de Justiça Defesa e

Cidadania – SUJUDECI.

No ano de 2000 ocorreu uma nova mudança na denominação da Superintendência

Penitenciária do Estado de Rondônia:

No ano de 2000 ocorreu nova alteração, sendo que a secretaria recebe o nome de

Superintendência de Assuntos Penitenciários – SUPEN. Em 2004 alterou-se para

Secretaria de Assuntos Penitenciários – SEAPEN, sendo em seguida substituído por

Secretaria de Estado e Justiça do Estado de Rondônia – SEJUS, conquistando

autonomia financeira e administrativa na execução de suas atribuições de reger o

sistema penitenciário do Estado (FRANCO, 2008).

Essa estrutura institucional permanece até os dias atuais, apesar do aumento

considerável da população carcerária tanto na capital como no interior do Estado. Entretanto,

conforme o Movimento Nacional de Direitos Humanos – luta pela vida, contra a violência, o

sistema prisional de Rondônia poderá ser modelo para todo o país, em razão de um projeto

piloto desenvolvido pelo Estado, em parceria com a Embaixada Americana, o Depen –

Departamento Penitenciário Nacional, o Tribunal de Justiça e o Ministério Público de

Rondônia.

Uma equipe de funcionários do Depen, da Sejus de Rondônia, membros do Poder

Judiciário e Ministério Público que atuam na vara de execuções penais se deslocaram até o

Estado americano do Colorado, onde participaram de uma formação em 04 (quatro) semanas

sobre o modelo de classificação de apenados criado pelo governo americano, que já foi

expandido a outros países, como México, Afeganistão e Marrocos.

Page 23: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

23

Segundo último censo estatístico do mês de agosto de 2013 da Secretaria de Estado e

Justiça, é formado por 7.840 (sete mil oitocentos e quarenta) reeducandos, distribuídos em 51

(cinquenta e um) estabelecimentos prisionais no território do Estado de Rondônia, sendo

desse total 3.636 (três mil seiscentos e trinta e seis) apenados na capital e os outros 4.204

(quatro mil duzentos e quatro) no interior do Estado.

Contudo, a capacidade ocupacional, segundo o referido censo institucional está num

total de 4.928, assim distribuída: 1.926 na capital e 3.002 no interior. Já, o monitoramento

eletrônico de sentenciados, afirma o censo, está num total de 520 (quinhentos e vinte vagas)

em todo o Estado.

Todavia, o Conselho Nacional de Justiça apresentou no mês de Junho/2014 no censo

estatístico nacional (anexo) sobre a população carcerária brasileira, da qual consta

especificado a realidade de cada Estado Federado, Rondônia apresenta uma população de

7.674 apenados, 20% são de presos provisórios, 2.247 presos em cumprimento de prisão

domiciliar e um déficit de vagas de 2.693 vagas, já que a capacidade real de todas as unidades

prisionais no Estado está em torno de 4.981 vagas.

Comparando as duas estatísticas, percebe-se que a realidade não muda, apresentando

no censo nacional uma pequena redução no total geral de encarcerados, pois os dados são

aproximados, levando-se em conta que ambos foram apresentados num intervalo de 01 (um)

ano.

2.1 CASA DE DETENÇÃO DO MUNICÍPIO DE CACOAL

A previsão da existência da cadeia pública está no artigo 103 da Lei de Execução

Penal 7210 de 1984 regulamenta a obrigatoriedade de que cada comarca disponha de um

estabelecimento com estas características a fim de abrigar o recolhimento de presos

provisórios, previsto no artigo 102 da referida lei.

A Casa de Detenção do município de Cacoal, no Estado de Rondônia, localiza-se na

Avenida Itapemirim, 421, Bairro Brizon. Conforme, a Secretaria de Estado da Justiça, até o

ano de 1998 foi gerenciada pela Polícia Civil a qual pertencia ao quadro da Secretaria de

Segurança do Estado.

A partir de setembro do mesmo ano, passou-se a administração da Superintendência

da Justiça e Defesa da Cidadania, a SUJUDECI, tendo sempre um Diretor Geral e um Diretor

Page 24: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

24

de Segurança e um quadro formado por agentes penitenciários em um turno de 24 (vinte e

quatro) horas ininterruptas por 72 horas (setenta e duas) de descanso.

2.1.1 Pesquisa de Campo

A - Entrevista com o Diretor Administrativo

Foi realizada a entrevista (anexos) com o senhor Alisson Moura, servidor efetivo do

Sistema Penitenciário estadual, diretor administrativo da Casa de Detenção de Cacoal, o qual

prestou todas as informações a respeito das atividades realizadas com finalidade

ressocializadora, interna e externamente, pelos apenados que ali cumprem penas.

A estrutura física da Casa de Detenção possui 40 celas abrangendo os regimes

fechado, semiaberto e provisório, inclusive o espaço destinado à ala feminina. Todavia, são 12

celas no regime fechado, 21 celas no regime semiaberto e 04 celas no pavilhão feminino,

sendo que 03 celas encontram-se desativadas.

A população carcerária atual da Casa de Detenção de Cacoal é formada por 290 (

duzentos e noventa) apenados, sendo que destes, 108 ( cento e oito) são condenados em

regime fechado, 56 (cinquenta e seis) em regime semiaberto e 108 (cento e oito) aguardando

julgamento, incluindo18 (dezoito) apenadas na ala feminina, assim distribuídas: 11 (onze)

com sentença penal transitada em julgado, 06 (seis) provisórias e uma no regime semiaberto.

Com o levantamento dos dados sobre a capacidade de lotação é possível observar o

déficit existente, já que cada cela do pavilhão fechado tem espaço para 09 (nove) pessoas,

entretanto, acomoda 20 (vinte) e, as do regime semiaberto, capacidade de acomodação para

04 (quatro), mas coabita 08 (oito). Diante disso, excetuando as celas desativadas, teria numa

situação regular, uma população reclusa bem abaixo da média nacional.

Em relação à faixa etária dos internos no estabelecimento prisional, há princípio era

dos 18 aos 24 anos. Contudo, em decorrência da reincidência, que ainda encontra-se

acentuada na atualidade, essa idade está em torno dos 24 aos 30 anos, ou seja, os integrantes

da população carcerária não mudaram; Retornam com idade mais avançada.

Segundo a pesquisa de campo, constata-se que o efetivo de profissionais laborando no

estabelecimento prisional está num total de 85 agentes penitenciários, distribuídos em 05

equipes de 10 agentes masculinos e 02 femininos, somados aqueles que se encontram

desenvolvendo atividades administrativas e, em função gratificada ou cargo comissionado.

Page 25: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

25

Laboram na unidade prisional os seguintes profissionais: médicos, enfermeiros,

assistentes sociais e odontólogos. Há também, o atendimento por psicólogo, mas em convênio

com a iniciativa privada, apesar de ter agentes de segurança com a formação em psicologia.

Na chegada a unidade os presos são distribuídos, após entrevista com o diretor de

segurança, os quais são questionados sobre a vida cotidiana, momento em que é observada a

questão do cometimento de crimes sexuais, já que em decorrência da falta de estrutura física

adequada e a não existência da comissão de classificação de apenados, é necessário um

cuidado especial com relação à incolumidade física do indivíduo recém-chegado na unidade e,

esse tipo de delito, tem reação imediata por parte dos demais internos, comentou o

entrevistado.

O Diretor Administrativo informou também que em relação aos benefícios da saída

temporária e a progressão de regime são observados pela autoridade judiciária requisitos a

serem atendidos pelos apenados, os quais, em regra, estão: o bom comportamento e o não

cometimento de falta grave.

E por fim, foi questionado o entrevistado sobre as atividades ressocializadoras

desenvolvidas na Casa de Detenção do município de Cacoal, o qual nos relatou que dentre

várias iniciativas com essa finalidade, as que se destacaram são os cursos de cabelereiro,

padaria, pizzaiolo, artesanato, corte e costura, pintura e manicure desenvolvidas em parceria

com o SENAC, SENAI, PREFEITURA MUNICIPAL e o DEPARTAMENTO ESTADUAL

DE OBRAS – DEOSP.

Segundo Alisson Moura, os cursos fazem parte do Programa Nacional de Acesso ao

Ensino Técnico e Emprego – PRONATEC criado pelo Governo Federal com o objetivo de

oferecer cursos de educação profissional e tecnológica e, na sua maioria, tem carga horária de

180 horas.

Um exemplo disso é o curso de pizzaiolo, profissional muito requisitado no mercado

de trabalho no comércio do município de Cacoal-RO. Há princípio, os alunos recebem

instrução teórica, momento em que reaprendem as relações interpessoais, manipulação de

alimentos e linguagem de comunicação.

Além disso, há possibilidade de redução de pena, conforme a Lei 12.433 de 2011 que

regulamentou a remissão pelo trabalho e o estudo da pessoa presa. A cada 12 horas de estudo

o preso tem direito de remissão da pena em 01 dia. Ao final do curso, o apenado poderá ter a

redução de até 1/3 da pena.

Page 26: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

26

Oportunamente, constatou-se também, por meio da pesquisa de campo, que a

formação cultural prevalecente entre os integrantes da população carcerária da Casa de

Detenção do município de Cacoal é de nível fundamental.

E para finalizar a entrevista com o Diretor da Casa de Detenção do município de

Cacoal, este informou que a partir do ano de 2013, após parceria entre os Ministérios da

Educação e Justiça, o programa Pronatec também alcançou os presos provisórios e egressos.

Em Cacoal, é a segunda vez que os detentos recebem qualificações profissionais por

meio do Pronatec qualificando um total de 34 internos, sendo 16 detentas e 18 apenados.

O custo mensal, segundo dados da própria SEJUS- Secretaria de Estado da Justiça, no

ano de 2014, para manter encarcerado cada preso no sistema penitenciário de Rondônia foi de

R$2.300,00 (Dois Mil e Trezentos reais).

Diante disso, observa-se que são gastos, mensalmente, mais de R$180.000.000,00

(Cento e oitenta mil reais) para manter um efetivo de mais de 7.500 internos distribuídos nos

estabelecimentos prisionais por todo o Estado.

De acordo com fonte do próprio Governo do Estado de Rondônia por meio da SEJUS

um reeducando que trabalha ajuda indiretamente na redução desses custos. A utilização da

tornozeleira eletrônica é vista como um instrumento viável pela serventia para a reinserção

social, pois o preso tem acesso ao convívio familiar e ao trabalho e não tem que retornar ao

presídio.

Estudos elaborados conforme o Plano Diretor do Sistema Penitenciário do Estado

informam que existem programas padrão de reinserção social a serem desenvolvidos em todas

as unidades, inclusive na Casa de Detenção de Cacoal, os quais serão apresentados, ainda

neste capítulo, que servirão de exemplos para demonstrar a realidade carcerária do Estado.

É salutar que a comunidade acadêmica e social do município possa ter conhecimento

das práticas ressocializadoras desenvolvidas no estabelecimento local, assim como em outros

estabelecimentos prisionais do Estado.

Para melhor compreensão do ambiente carcerário e das atividades laborativas

desenvolvidas, foi permitido visualização por meio de fotografias, conforme abaixo anexadas:

Page 27: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

27

Figura 01 –: apenadas participando de curso do SENAC.

Fonte: Casa de detenção do município de Cacoal-RO

Figura 02 - apenados participando de curso do SENAC

Fonte: Casa de detenção do município de Cacoal-R0

Page 28: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

28

Figura 03 – pavilhão do regime fechado

Fonte: Casa de Detenção do município de Cacoal-RO

Figura 04 – parte superior do pavilhão do regime fechado

Fonte: Casa de detenção do município de Cacoal

Page 29: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

29

Figura 05 – apenado se exercitando na quadra de esporte (regime fechado)

Fonte: Casa de detenção do município de Cacoal-RO

Page 30: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

30

Figura 06 – guarita de vigilância do pavilhão do regime semiaberto

Fonte: Casa de Detenção do município de Cacoal-RO

Page 31: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

31

Figura 07 – apenados do regime semiaberto.

Fonte: Casa de detenção do município de Cacoal-RO

Page 32: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

32

Figura 08 – pavilhão feminino

Fonte: Casa de Detenção de Cacoal - RO

Page 33: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

33

2.2 O AGENTE PENITENCIÁRIO E O SEU PAPEL RESSOCIALIZADOR

Segundo a Organização Internacional do Trabalho – OIT, a profissão de Agente

Penitenciário é uma das mais antigas da humanidade e vem de constantes mudanças, que no

passado levava o nome de Carcereiro, e também a segunda mais perigosa do mundo. Para

exercer o cargo, é necessário prestar concurso público, e se tornar, então, servidor público

estadual ou federal.

A função de Agente Penitenciário é considerada essencial pela Lei das Greves n.º

7.783/89 que regulamenta o art. 9º da Constituição Federal de 1988, justamente, por se tratar

de uma necessidade inadiável da comunidade, que, se não atendida, coloca em perigo

iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população.

A profissão desenvolvida é considerada uma atividade de segurança nacional pelo art.

3º, IV, da Lei Federal n.º 11.473/2007, e, observado o art. 144 da Carta Política, é exercida

para a preservação da ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio.

São mais de 65.000 (sessenta e cinco mil) agentes penitenciários custodiando e

controlando mais de 700.000 (setecentos mil) presos em pouco mais de 300.000 (trezentos

mil) vagas nos estabelecimentos prisionais brasileiros, conforme dados do Conselho Nacional

de Políticas Criminais e Penitenciárias no censo do ano de 2014 estima a necessidade de estar

em atividade cerca de 100.000 (cem mil) agentes penitenciários no Brasil.

O Supremo Tribunal Federal - STF com fundamento no art. 40, §4º da Constituição

Federal e no art. 57 da Lei n.º 8.213/1991, fez o reconhecimento do direito do Agente

Penitenciário de se aposentar com 25 anos de atividade, pois é um dos poucos cargos que há

incidência simultânea, tanto da periculosidade como da insalubridade.

O pesquisador Arlindo da Silva Lourenço salienta que o ambiente de trabalho nos

estabelecimentos prisionais é carregado de acontecimentos ruins e angústia, até pela própria

característica do local. Pois, se destina a retirar do convívio social, pessoas que agrediram as

leis vigentes, tendo como consequência a privação da liberdade. Continua, em relato a

exteriorizar a experiência de se conhecer o interior de uma unidade prisional, Lourenço (2010,

p. 134):

Entrar nas prisões e ouvir grades e portões fechando-se as nossas costas significa

ingressar num ambiente em que, gradualmente, sentimentos de opressão, angústia,

solidão que temos nos vão envolvendo, como se apoderando de nossa alma e de

nossos pensamentos. [........] A atmosfera sombria e lúgubre, a luminosidade

decrescente, a umidade das muralhas e das enormes paredes de concreto, o frio, as

grades, cercas de arame farpado por todos os lados e em todos os setores de

Page 34: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

34

trabalho, os imensos, pesados e barulhentos portões [.......] vai aos poucos,

conscientizando-nos de que adentramos um local bastante singular.

Reforça ainda que o papel do Agente Penitenciário é de transformar a realidade dos

internos, através de um trabalho direcionado à ressocialização dos mesmos. Explicitando a

importância do trabalho desse profissional, enfatiza Lourenço (2010, p.96):

Os agentes de Segurança Penitenciária lidam com outras pessoas e não com

máquinas ou números, a finalidade última da instituição não é a obtenção de lucro,

como na maioria das empresas, e sim, a transformação de internos, seja

acomodando-os as normas, regulamentos, manuais e autoridades burocráticas

durante todo o período de trabalho, e estão subordinados a um esquema de chefias e

diretorias hierárquicas muito rígidas.

Pela convivência intensa o Agente Penitenciário tem dificuldade em separar a vida

dentro e fora do cárcere, já que está atento a qualquer movimento dos presos no interior da

prisão, por desconfiar de tudo e de todos. Esse convívio torna o profissional mais vulnerável,

afetando diretamente sua vida fora do ambiente de trabalho.

O agente penitenciário, a muito vem se qualificando e lutando pela valorização

profissional. Na atualidade, o papel do antigo carcereiro vem se mudando para um caráter

ressocializador, conforme ensina Sartori (2012, p.46):

O agente penitenciário está compromissado com a vigilância e ao mesmo tempo

com a ressocialização do preso. É evidente que a recuperação do apenado não

depende somente deste profissional, mas o que se tenta demonstrar é que não há o

que se falar em qualquer tipo de reinserção social do preso se esta medida não for

incialmente adotada pelos agentes penitenciários enquanto o indivíduo estiver

encarcerado.

Neste sentido o que se percebe é que o trabalho do agente penitenciário é salutar no

esforço estatal de resssocializar o indivíduo encarcerado, pois a reintegração do apenado no

convívio social significa corrigir as possibilidades de exclusão social a fim de que não

reincida e retorne ao estabelecimento prisional.

Apesar da importância desse profissional no processo de recondução do apenado a

vida social, mesmo tendo que desenvolver suas atividades em ambientes precários, insalubres

e muitas vezes sem condições físicas ou psicológicas, grande parcela da sociedade ainda tem

uma ideia distorcida e preconceituosa a respeito desse servidor do Estado, conforme mostra

Moraes (2005, p. 47):

Page 35: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

35

Mas o que realmente interessa neste relato é reforçar a forma como os agentes

penitenciários são visto e o quanto certo estereótipo em relação a estes trabalhadores

cria obstáculos apaixonados a uma tentativa de abordagem objetiva e racional.

Contudo, observa-se que há todo um questionamento a respeito do verdadeiro papel

desenvolvido pelo agente penitenciário, pois o profissional do sistema tem consciência de que

sua função não se limita à segurança do apenado, conforme afirma, ao escrever sobre o

sistema penitenciário contemporâneo, o professor Zaffaroni (1991, p. 42):

O sinal mais evidente do comportamento dos funcionários da prisão é o estresse,

Uma travessia causada por medos, muitas vezes atingindo graus verdadeiros

intensidade do medo. É claro que há medo patológico, mas de medo de entidades

reais e ameaçadoras. Estes são geralmente divididos de medo folowing: a) medo de

agências políticas, a responsabilidade contra qualquer problema funcional violenta

que transcende ao público; b) o medo da agência tribunal que opera de forma

análoga à agência político; c) o medo de maior que, para o segmento inferior, e

comportam da mesma maneira como acima, o que é particularmente grave num

regime geral militarizada; d) o medo os prisioneiros, que pode, em grupo quebrar o

“status quo” internos ou comportamento individual agressivo e imprevisível; e) o

medo dos meios de comunicação que podem desencadear sanções políticas ou

judiciais.

Diante disso, descreve Augusto Thompson, em sua obra “A questão penitenciária, de

1998” que a ressocialização é presente somente no discurso, pois o agente penitenciário vive

em um conflito constante, porque ao mesmo tempo em que deve trata-lo como indivíduo

único, tem que conta-lo como objeto e respeitá-lo como ser dotado de prerrogativas.

2.3 POLÍTICAS OFICIAIS DE RESSOCIALIZAÇÃO

2.3.1 Atividades Ressocializadoras Desenvolvidas no Território Nacional

A - O Modelo Tradicional

Conforme as diretrizes do DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional, as ações

de reintegração social são definidas como um conjunto de intervenções técnicas, políticas e

gerenciais no decorrer e após o cumprimento da pena com a finalidade de aproximar o Estado,

a comunidade e as pessoas envolvidas.

As determinações do DEPEN incluem a formação educacional e profissional e

assistência ao preso, ao internado, ao egresso e aos seus dependentes. É salutar, a necessidade

de se conhecer o início desse processo, segundo afirma Danielle Magnabosco (2003, p. 4):

Page 36: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

36

A mais antiga arquitetura carcerária data de 1596 e foi construída em Amsterdã,

destinada, a princípio, a homens mendigos e malfeitores, com penas leves e longas

com trabalho obrigatório, vigilância contínua, exortações, leituras espirituais.

As mudanças sociais acontecidas no final do século XVIII observa Maria Odete

Oliveira (1984), culminaram com protestos para por fim aos suplícios aos presos. Esse

momento demonstra o início do humanismo e suavização e relativização dos castigos como

punição. É o princípio das raízes do Direito Penitenciário, exigindo-se o respeito e a

dignidade do preso como pessoa.

No Brasil, afirma Oliveira (1984), a legislação é moderna e se baseia na efetivação da

execução da pena a respeito da preservação dos bens jurídicos e recondução do homem

infrator à sociedade. O ordenamento jurídico brasileiro prevê formas de reestruturação social

para o indivíduo que se encontra encarcerado.

Por exemplo: o trabalho é um direito do preso, conforme previsão no artigo 6º da

Constituição Federal. É incumbência do Estado, o dever de dar trabalho ao encarcerado em

cumprimento de pena privativa de liberdade ou que se encontre em medida de segurança. A

jornada de trabalho não poderá ser inferior a seis e nem superior a oito horas, de acordo com o

artigo 33 da Lei de Execução Penal.

O produto da remuneração deverá atender a indenização dos danos causados pelo

delito, assistir a família do condenado, as pequenas despesas sociais, ressarcir o Estado das

despesas com a manutenção do condenado e o restante será depositado na constituição do

pecúlio, em caderneta de poupança, que será entregue ao preso quando posto em liberdade.

O artigo 31 da LEP – Lei de Execução Penal dispõe que o condenado à pena privativa

de liberdade está obrigado ao trabalho, na medida de suas aptidões e capacidade. Todavia, o

preso provisório, que se encontra recolhido em razão de cautelar, não está obrigado ao

trabalho. Contudo, as atividades laborativas lhes são facultadas e sua prática dará direito a

remir da pena, se vier a ser aplicada.

A remição é o instituto que permite ao condenado, pelo trabalho, dar como cumprida

parte da pena. Poderá ser dada também pelo estudo na participação do reeducando em cursos

de readaptação social.

Outra importante previsão trazida pela Lei de Execução Penal está no seu artigo 1º que

é a de instrumentalizar os meios a ser utilizados para que os apenados possam participar da

integração social. Nesse pensamento, explicita Júlio Fabbrini Mirabete (2007, p. 32): “A

Page 37: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

37

justiça penal não termina com o trânsito em julgado da sentença condenatória, mas realiza-se

principalmente na execução”.

Na colaboração com a finalidade ressociativa, o artigo 17 da Lei regente assegura que

o Estado deverá assistir o apenado e o internado nas necessidades educacionais,

compreendendo a instrução escolar e a formação profissional. A Carta Magna no artigo 205

prevê a educação como um direito de todos e dever do Estado, a ser promovida e incentivada

com a corroboração da própria sociedade.

Com base nesses fundamentos, o pesquisador e sociólogo Heitor Paulo Battaggia

(2011, online) cita como exemplo de atividades realizadas em prol da ressocialização de

apenados, o trabalho da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso – FUNAP com atuação

no Distrito Federal, órgão responsável pela ressocialização de apenados do sistema

penitenciário do Distrito Federal.

Subordinada à Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social, integrante

da Administração Indireta do Governo do Distrito Federal, foi criada pela Lei n.7533, de 02

de setembro de 1986, com a finalidade de colaborar na recuperação e a reinserção social do

preso, por meio de programas de educação, cultura, formação profissional e trabalho

remunerado.

A população carcerária assistida pela FUNAP consiste em todos os presidiários do

sistema penitenciário do Distrito Federal, além das suas famílias nas necessidades básicas.

Atua nas áreas de educação e cultura, capacitação profissional e trabalho remunerado.

O programa de educação é realizado por meio do método de Educação de Jovens e

Adultos - EJA, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação do DF, fornecendo os

ensinos fundamental e médio aos presidiários.

As aulas são desenvolvidas por monitores escolhidos pelos próprios presos, dentre

aqueles internos que têm o ensino médio completo. De outra parte há os professores que

ministram aulas nos ambientes onde não há perigo a incolumidade física, utilizam métodos de

ensino conhecidos para o ensino de adultos, os quais têm preferências, os de ensinamentos

éticos a fim de ajudá-los na ressocialização.

Além, das atividades de magistério, são dispensadas práticas de artes plásticas e peças

teatrais. A instrução escolar é oferecida desde a alfabetização até a preparação para o ingresso

no ensino superior. Existem convênios entre a FUNAP e a Universidade de Brasília, pois os

presidiários que estão aptos poderão participar das provas para o vestibular dentro da própria

unidade penal.

Page 38: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

38

Dentre os programas desenvolvidos pela FUNAP e que poderão ser aproveitados

como projetos pilotos pelo próprio sistema penitenciário do Estado de Rondônia,

especialmente a Casa de Detenção de Cacoal-RO, estão:

O Projeto Festarte projeto cultural promovido pelo Grupo teatral e musical

Unidos pela Liberdade que é um festival de arte e cultura para o exercício da

cidadania;

O Programa Verde Novo que é uma parceria com o Governo para a reciclagem

de papel;

Programa Reintegra Cidadão que proporciona oportunidades aos ex-

presidiários no processo ressociativo;

Programa Pintando a Liberdade que é um convênio firmado com o Ministério

dos Esportes para a confecção de bolas;

Projeto Reciclando Papéis e Vidas que oferece cursos de confecção de papel e

restauração de livros para os egressos.

B – O Modelo Inovador

Eduardo Albuquerque Rodrigues Diniz (1996, online) afirma que a realidade precária

do sistema prisional no Brasil é vista diariamente pela imprensa, o que demonstra a distância

de uma sociedade justa e sem violência. Junto a isso, são deterioradas as expectativas da

ressocialização do preso.

Outro fator somado, segundo o autor, é o custo elevado na instalação e manutenção

dos estabelecimentos prisionais, desgastando a responsabilidade do Estado, principalmente

pelas condições sub-humanas, as quais estão submetidas os milhares de apenados que

cumprem penas.

Diante de problemas tão sérios o que se pergunta é como resolver essa questão que

não deixa de ser social? Neste caso, responde Eduardo Albuquerque Diniz (1996, p.01,

online) que o melhor é optar pelas “penas alternativas como as previstas nos artigos 32, 43 e

48 do Código Penal, além de outras formas de sanção: a admoestação verbal, o confisco, a

expropriação, a multa, o desterro, a liberdade vigiada e a proibição de frequentar

determinados lugares”.

Page 39: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

39

Eduardo Albuquerque Diniz (1996, p. 01, online) ainda diz “que quando um juiz

aplica uma pena alternativa a um condenado, além da confiança depositada, colabora para que

ele não frequente um ambiente que não corresponde ao tipo de crime que ele cometeu”.

Pensadores como Eduardo Albuquerque Diniz (1996, online) entendem que as penas

alternativas é uma das soluções para a ressocialização de presos e melhora no sistema

prisional brasileiro. Todavia, depende de meios de fiscalização capazes e eficientes, mas que

significa um custo mais baixo do que se construírem estabelecimentos penais.

Contudo, um dos questionamentos que mais perturba a sociedade brasileira na

atualidade é o que se fazer com aquele ser humano que se encontra submetido à custódia do

Estado, pois a punição tem que ser eficaz e justa, já que o objetivo é a recuperação do

condenado ao final do cumprimento da pena e a sua reinserção ao convívio social.

Diante desse paradigma, afirma Wesley Botelho Alvim (1996, online), é que se

encontra a importância das políticas de ressocialização a serem desenvolvidas pelo Poder

Estatal. É necessário que se busquem alternativas a fim de que os recolhidos estejam em

instituições com capacidade para os tratarem como ser humano e, que possam refletir sobre

suas atitudes para que não voltem a delinquir e se reincorporar a sociedade.

Ainda reforça Wesley Botelho Alvim (1996 online) que há modelos de penitenciárias

no Brasil com seus modos inovadores, recuperam e ao mesmo tempo resssocializar o detento,

como ocorre nos presídios administrados pela APAC – Associação de proteção e Assistência

ao Condenado, modelo de penitenciária revolucionário, idealizado pelo advogado Dr. Mário

Ottoboni e instituído no ano de 1972, na cidade de São José dos Campos, Estado de São

Paulo.

Uma entidade sem fins lucrativos, pessoa jurídica de direito privado, do terceiro setor

que visa auxiliar a justiça na execução penal e recuperação de preso e proteção da sociedade,

administrando centros de reintegração social de presos nos três regimes.

No ano de 1986, a APAC filiou-se à PFI – Prision Fellowship International, Órgão

Consultivo da ONU para assuntos penitenciários. O modelo foi divulgado para mais de 100

países através de congressos e seminários internacionais.

Nas unidades prisionais administradas pela associação não existem policiais, os

internos têm as chaves de todas as portas e portões do estabelecimento. No interior há uma

lanchonete e sorveterias, o dinheiro não é proibido, nem o uso de roupas normais.

Page 40: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

40

Conforme Alvim (2015, online), essas mudanças implicam na constatação de

reincidência, onde nos presídios tradicionais são de 85%, enquanto nas instituições

administradas pela APAC no Brasil, Argentina e Peru ficam em torno de 4,5%.

Mas, afirma Alvim (2015, online) é preciso recorrer as penas privativas apenas em

casos extremos. Segundo ele, no método APAC, o regime é o tempo para recuperação, o

semiaberto para a profissionalização, e o aberto para a inserção social. Assim, o trabalho

aplicado em cada um desses regimes deve ser de acordo com a finalidade proposta.

No entanto, Alvim (2015, online) conclui que o trabalho possibilita ao condenado que

ele alcance sua recuperação de forma mais fácil. Entretanto, deve fazer parte da proposta e

não ser o elemento principal, pois só ele não é suficiente para recuperação do apenado.

2.3.2 Atividades Ressocializadoras desenvolvidas no Estado de Rondônia

Assim como o Ministério da Justiça por meio do Departamento Penitenciário

Nacional, o Governo do Estado de Rondônia através da SEJUS – Secretaria Estadual da

Justiça, após a elaboração do PDSP – Plano Diretor do Sistema Penitenciário no ano de 2012,

tem desenvolvido diversas atividades com finalidade ressocializadoras, conforme os projetos

a seguir demonstrados:

Reabilitando através da Arte, por meio do espetáculo teatral “Bizarrus”;

Projeto Saúde, para todos através do atendimento médico e odontológico para

os apenados;

Projeto Re-egresso, voltado para trabalhabilidade, emprego e renda, com o

despertar da consciência através de terapias alternativas;

Projeto Vida Livre, que visa a recuperação de adolescentes infratores em

liberdade assistida, empregando como educadores sociais os apenados e ex

apenados do Projeto “Reabilitado através das artes”;

Projeto Mente Sã, que atende pacientes de saúde mental do setor de psiquiatria

do Hospital Público Estadual Dr. Ari Pinheiro e da Policlínica Estadual

Osvaldo Cruz, contando também com educadores sociais;

Projeto “Aprender e Fazer”, que atende crianças de 08 (oito) a 13 (treze) anos

de idade em situação de risco, empregando educadores sociais detentos e ex-

detentos dos projetos já citados.

Page 41: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

41

Projeto de inclusão digital realizado na Penitenciária Estadual feminina, no

município de Porto Velho-RO, em Setembro de 2012, onde 19 reeducandas

recebeu o certificado do curso de informática oferecido pela Secretaria de

Estado da Justiça-SEJUS, sob a coordenação da Assessoria de Reinserção

Social, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial-

SENAC;

Projeto de pólo de produção, em parceria com a Cooperativa Açaí que pertence

a UNISOL – empresa do Estado de São Paulo que funciona como uma central

de cooperativas e empreendimentos de economia social e solidária. A empresa

fez a doação de 10 (dez) máquinas para a confecção das bio-jóias pelas presas,

onde as presas produzem bio-jóias, numa oficina dentro da Penitenciária

Feminina de Porto Velho.

Os cursos teve a duração de 04 meses com o objetivo de inclusão social dos

reeducandos através da capacitação profissional. Este projeto foi desenvolvido também, em

outras unidades do Sistema Penitenciário: Casa de detenção Dr. José Mario Alves “Urso

Branco”, além das Penitenciárias Edvan Mariano Rosendo e Ênio dos Santos Pinheiro.

O resultado desses projetos culminou na fundação da Associação Cultural e

Desenvolvimento do Apenado e Egresso – ACUDA, criada em 2001, é uma organização não

governamental que desenvolve suas atividades no Complexo Penitenciário de Porto Velho,

através da cessão pela Sejus de um espaço adequado e cessão de agentes para monitorar os

presos enquanto exercem as atividades laborais.

É realizado o atendimento diário, em média, de 35 apenados a fim de desenvolverem

atividades laborais nas áreas de artesanato, massoterapia, tapeçaria, marcenaria, machetaria e

cerâmica. A ACUDA desenvolve atualmente o Projeto “Iluminar”, por meio do qual se

pretende contribuir no processo de educação, formação social e trabalho da parcela de

apenados, investindo em sua capacidade de construção de uma nova história de vida,

inserindo-o nesse contexto a família e a sociedade.

Prestam ainda assistência psicológica, médica, odontológica e olística. São

desenvolvidas atividades lúdicas: massoterapia, reiki e eneagrama.

Abaixo são apresentadas fotografias de atividades com finalidades ressociativas que

foram citadas nesse trabalho cientifico e são desenvolvidas pelo Sistema Penitenciário do

Estado de Rondônia:

Page 42: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

42

Figura 09 – apenados participando do projeto “Inclusão Digital”

Fonte: Secretaria de Estado da Justiça - SEJUS

Figura 10 – apenados participando de peças teatrais

Fonte: Secretaria de Estado da Justiça - SEJUS

Page 43: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

43

Figura 11 – apresentação de dança com apenadas no projeto “Bizarrus”

Fonte: Secretaria de Estado da Justiça – SEJUS

As exposições fotográficas apresentadas sobre as atividades ressocializadoras,

segundo a Secretaria de Estado da Justiça – SEJUS conforme o Plano Diretor do Sistema

Penitenciário do Estado de Rondônia é a demonstração de que é possível a reeducação social

do indivíduo, conforme os exemplos demonstrados, mas requer, segundo os gestores da Sejus,

um empenho maior do Governo do Estado e da própria sociedade.

Page 44: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

3 SENTIDO JURÍDICO E SOCIOLÓGICO DE RESSOCIALIZAÇÃO

3.1 SENTIDO JURÍDICO

Segundo André Luis Melo (2013, online), professor universitário, promotor de justiça

e mestre em direito no Estado de Minas Gerais escrevendo sobre o tema “ressocialização”

para a revista Conjur – consultor jurídico, em janeiro do ano de 2013, afirma que no Brasil a

ressocialização é um princípio do Direito Penal. Todavia, na maioria dos países não é um

objetivo do Direito Penal, o qual tem como objetivo principal punir para evitar novos delitos.

O professor André Melo (2013, online), ainda afirma:

As pessoas confundem humanização com ressocialização. Esquece-se que a

ressocialização é como deixar de fumar, beber, usar drogas, ou seja, dependem 99%

da vontade do sujeito e apenas 1% do apoio estatal, da família ou da sociedade. A

ressocialização deve ser considerada como a necessidade de o cidadão cumprir os

seus deveres e direitos.

Contudo, a Lei de Execução Penal, 7210 de julho de 1984, no seu art. 10, declara que

a assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e

orientar o retorno à convivência em sociedade. Em conformidade, ensina Mirabete (2004, p.

62):

A execução penal tem como princípio promover a recuperação do condenado. Para

tanto o tratamento deve possibilitar que o condenado tenha plena capacidade de

viver em conformidade com a lei penal, procurando-se, dentro do possível,

desenvolver no condenado o senso de responsabilidade individual e social [......]

Nesse sentido, tem-se a execução penal, como apoio na reeducação social do indivíduo

condenado, ajudando-o nas suas escolhas futuras, ainda que venha a reincidir. Considerada,

uma das mais modernas e avançadas no mundo, a Lei de Execução Penal brasileira, se

atendida de forma integral, corroborá para a ressocialização de grande parte da população

carcerária, já que esse foi o motivo da sua criação.

O tratamento humanitário, a preservação dos direitos constitucionais não atingidos

pela sentença condenatória e a busca do auxilio da sociedade, vêm assegurados logo no início

da Lei 7.210/84, nos artigos 1º, 3º e 4º, o que se demonstra a preocupação do legislador na

elaboração, com a finalidade ressocializadora no cumprimento da pena.

Page 45: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

45

A participação social é salutar, pois por meio da prática de medidas de reinserção,

revistas e modernizadas a fim de se cumprir o objeto da prisão que é cumprir a pena, seja

possível também, promover a reintegração das pessoas.

Nesse contexto, afirma André Eduardo de Carvalho Zacarias (2006, p. 35), que “a

execução da pena implica uma política destinada à recuperação do preso, que é alçada de que

tem jurisdição sobre o estabelecimento onde ele está recluso”.

Para maior entendimento sobre a finalidade ressocializadora da Lei de Execução Penal

brasileira, é importante verificar a concepção de Fernando Capez (2006, p. 17):

[.....] a sanção penal imposta pelo Estado, em execução de uma sentença, ao culpado

pela prática de uma infração penal, [.......], cujas finalidades são aplicar a retribuição

punitiva ao delinquente, promover a sua readaptação social e prevenir novas

transgressões pela intimidação dirigida à coletividade.

Nessa mesma direção, conceitua a pena Celso Delmanto (2002, p. 67) “a imposição da

perda ou diminuição de um bem jurídico, prevista em lei e aplicada pelo órgão judiciário, a

quem praticou ilícito penal. Ela tem finalidade retributiva, preventiva e ressocializadora”.

O autor Fernando Capez, (2006, p. 19), ainda acrescenta que a execução penal tem

dupla finalidade: “a correta efetivação dos mandamentos existentes na decisão criminal e o

oferecimento de condições para readaptação social do condenado”.

Na abrangência da conceitualização da pena, por exemplo, na disciplina de

criminologia, estudam-se as teorias de reação do delito, dentre as quais, a ressocializadora,

que visa integrar novamente o indivíduo a sociedade.

No estudo da ressocialização, percebe-se o quanto é salutar a adequação do infrator no

seu regresso à sociedade. É visível que ao retornar a vida em comunidade, possivelmente,

voltará a delinquir, momento em que surge a função ressocializadora da pena como um mal

necessário através da ameaça de nova reclusão desse indivíduo.

Quanto a essa condição ressocializadora da pena, internalizada por meio da teoria da

ressocialização, Greco (2011, p. 477), faz a seguinte análise:

Na verdade, mesmo que passível de críticas, os critérios preventivos ainda poderão

servir à sociedade, bem como ao agente que cometeu a infração penal,

principalmente no que diz respeito à prevenção especial ou a ressocialização do

condenado. Devemos entender que, mais que um simples problema de Direito Penal,

a ressocialização, antes de tudo, é um problema político-social do Estado. Enquanto

não houver vontade política, o problema da ressocialização será insolúvel. [.....].

Enfim, são problemas sociais que devem ser enfrentados paralelamente, ou mesmo

antecipadamente, à preocupação ressocializante do preso.

Page 46: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

46

Nesse sentido, observa-se no país, o descaso com os graves problemas sociais, soma-

se a isso, a saída do recluso que chega à sociedade, em muitos casos, sem emprego, sem

família, sem dignidade, não tendo como afirmar os novos valores lhe imputados no processo

ressocializador, pois a própria sociedade não é assistida.

Com isso, a função da pena acaba sendo comprometida, conforme afirma Bittencourt

(2011, p. 143):

Do ponto de vista do Direito Penal, não se pode atribuir às disciplinas penais a

responsabilidade exclusiva de conseguir a completa ressocialização do delinquente,

ignorando a existência de outros programas e meios de controle social de que o

Estado e a sociedade devem dispor com objetivo ressocializador, como é a família, a

escola, a igreja, etc. a readaptação social abrange uma problemática que transcende o

aspecto puramente penal e penitenciário.

Ainda afirma Bittencourt (2011), que a prisão não é uma forma de prevenção ou

repressão a novas infrações, já que se observa a falta de estrutura física e organizacional do

Estado. Todavia, necessita-se de maiores investimentos em gestão pública como meio de

prevenção e educação social a fim de que o indivíduo não chegue a delinquir e a ser

submetido à tutela estatal.

A Lei de Execução Penal fornece os recursos teóricos que necessita para efetivação

das mudanças na realidade atual do sistema penitenciário brasileiro. Se forem efetivados, os

benefícios serão disponibilizados aos indivíduos que se encontram encarcerados e, até para a

própria sociedade.

Diante disso, é importante a percepção do papel ressocializador por parte daqueles que

tratam com os apenados, inclusive dos seus familiares e do Poder Público no provimento de

investimentos e na elaboração de projetos visando a ressocialização do indivíduo em débito

com a justiça.

2.1 SENTIDO SOCIOLÓGICO

O pensamento ressocializador veio com o surgimento da prisão por meio do valor da

liberdade e da razão a partir do século XV e pela ineficiência da pena de morte frente a

crescente criminalidade e o aumento da pobreza, somados aos sentimentos de compaixão e

injustiça provocados pelas penas aplicadas publicamente Foucault (2007).

A fim de se evitar o contágio moral, os castigos foram aos poucos, ocultados pela

prisão e o réu colocado no esquecimento por meio do cárcere. Possivelmente, observando a

Page 47: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

47

prisão sob o aspecto econômico, verifica-se que ela prestou mais à função de servir como uma

solução as revoltas sociais do que a ideia de ressocialização dos infratores Foucault (2007).

Com isso, é esclarecedor que a origem da prisão não está vinculada apenas ao

sentimento humanitário, a correção e ressocialização de infratores, conforme escreveu

Foucault (2007, p. 204):

A prisão exercia um duplo papel: em períodos de grande oferta de emprego e

salários altos, oferecia mão de obra barata às manufaturas; por outro lado, em épocas

de crises e tensões sociais, absorviam as massas de desocupados como forma de

dissimular a miséria e evitar o avanço da criminalidade.

Todavia, é considerável compreender toda a influência social, política, econômica e

ideológica no momento originário que acabaram por dar a prisão um caráter de dominação da

sociedade operária pela dominante.

Em razão do excesso de rigor, nessa época surgiu também, o movimento intelectual

com corrente iluminista e humanitária que exigiu a reforma do sistema de punição,

defendendo as liberdades do indivíduo e a dignidade humana Foucault (2007).

Diante disso, observar-se-á que a contribuição de alguns teóricos da época é estudada,

utilizada e de grande relevância no mundo contemporâneo, como o filósofo italiano, o

Marquês de Beccaria, Cesare Bonesana que associou o contratualismo e o utilitarismo na

reforma do sistema penal.

Na sua obra “Dos delitos e das penas”, Beccaria (2003, p. 47), lançada num momento

em que a própria sociedade desejava mudanças, o autor tinha a ideia utilitarista da pena, de

que: “o fim da pena não é atormentar e afligir um ser sensível, nem desfazer um crime que já

foi cometido, deve causar no espírito público a impressão mais eficaz e mais durável e, ao

mesmo tempo, menos cruel no corpo do culpado”.

Beccaria (2003) pregou a proporcionalidade da pena em relação à infração cometida, a

fim de ser evitar os abusos a dignidade humana. De forma igual, defendeu que a lei devia ser

preventiva, porque seria melhor prevenir o crime do que ter que puni-lo.

Nesse interim, Silva (2003) enfatiza que a ressocialização é a humanização da

passagem do detento no cárcere, por meio de uma orientação mais humanitária da execução

da pena de forma que contribua na reabilitação do recluso. Pois, ela deve conscientizar o

indivíduo recluso do que se pode acertar, do que se pode fazer, tornando-o ciente de suas

qualidades, cidadania e do quanto é capaz de produzir e construir uma nova realidade social.

Page 48: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

48

Em concordância afirma Foucault (2000), “o condenado que se vê frente ao trabalho

contrairá o hábito, o gosto e a necessidade da ocupação, sob o exemplo da vida com o

trabalho, sua vida tomará uma forma ‘mais pura’”.

Todavia, Augusto Thompson (1993) questiona que a prisão por sua natureza, torna o

condenado dependente e suas vontades limitadas pelo Estado. Afirma o autor que o homem

preso é obrigado a adequar-se o sistema imposto pela Administração Penitenciária, tendo

como consequência a perca por parte do apenado de parte da sua identidade social.

Em continuidade, completa Thompson (1993, p. 78): “lesionado, de maneira profunda,

no senso de autodeterminação, hesitante, sempre, entre fazer ou não fazer, o recluso habitua-

se a esperar que tomem decisões por ele e isso lhe caracteriza a personalidade”.

Assim, indaga Thompson (1993) como resssocializar o condenado, como devolvê-lo à

sociedade, recuperado, ou seja, sem que ele volte a delinquir, se a prisão tolhe qualquer

iniciativa do indivíduo, submetendo-o a uma rotina predeterminada pela instituição?

Questiona-se também, a intervenção do estado na esfera da consciência do preso na

tentativa de lhe impor concepções de vida e estilos de comportamento, embora a esperança de

alcançar a ressocialização, readaptação ou reeducação social tenha penetrado nos sistemas

normativos Luna (1985).

Page 49: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Constituição Federal brasileira prevê expressamente a responsabilidade do Estado

perante todos os cidadãos, garantindo-lhes direitos e deveres fundamentais, abrangendo

também a população prisional, motivo pelo qual, se faz primordial a observação da promoção

dos direitos e garantias fundamentais previstas nos dispositivos da Carta Magna, os quais

surtirão efeitos em todo o ordenamento jurídico brasileiro.

O presente trabalho tratou das disposições constitucionais, infraconstitucionais e os

tratados internacionais sobre direitos humanos referentes às atividades desenvolvidas na Casa

de Detenção do município de Cacoal, Estado de Rondônia na preparação da pessoa presa para

seu retorno ao convívio social.

Outro ponto destacado foi à observação aos princípios da igualdade e dignidade da

pessoa humana, já que se tratam do atendimento ao ser humano como indivíduo que praticou

atos considerados contrários as normas jurídicas de convivência em sociedade. Sendo assim,

necessário compreender os ditames da legislação que abordam o assunto, inclusive nas

atualizações em decorrência das mudanças acontecidas no seio da própria sociedade.

Foi adotado o método dedutivo de pesquisa cientifica, tendo apoio nos procedimentos

da técnica de pesquisa bibliográfica por meio de referenciais teóricos publicados e da

entrevista com abordagem qualitativa e estatística, baseada na análise de todos os dados

coletados sobre o desenvolvimento das atividades ressocializadoras desenvolvidas na unidade

prisional do município de Cacoal-RO, com fundamentação na norma jurídica e as disposições

legais vigentes.

No primeiro capítulo foi tratada a questão jurídica do Direito dos apenados previsto na

Constituição Federal, passando pela Lei de Execução Penal, Código Penal, Código de

Processo Penal e os Tratados Internacionais que versam sobre os direitos humanos

relacionados com o indivíduo preso e as discussões doutrinárias acerca do assunto.

Page 50: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

50

No segundo capítulo foi abordada a estrutura organizacional do sistema penitenciário

do Estado de Rondônia, desde a sua criação até os dias atuais, fazendo assim, um resumo

histórico das formas reestruturais acontecidas, inclusive citando os decretos e as leis que

criaram a atual Secretaria de Estado da Justiça- Sejus.

Neste capítulo foi levantada a realidade carcerária do Estado de Rondônia através de

dados estatísticos do Conselho Nacional de Justiça – CNJ e da Casa de detenção do município

de Cacoal, por meio da pesquisa de campo, entrevista com o diretor administrativo da unidade

que apresentou as atividades desenvolvidas naquele estabelecimento prisional com finalidades

ressocializadoras.

Considerando que o objetivo deste estudo é demonstrar as formas práticas de

ressocialização desenvolvidas com a população carcerária da Casa de Detenção no município

de Cacoal-RO, foram trazidas referências de políticas oficiais desenvolvidas pelo Governo

Federal e pelo Governo do Estado, voltadas para processo de ressocialização, e que poderão

ser utilizadas como parâmetros de influência para a criação de novas atividades

ressocializadoras na realidade carcerária local.

Buscou-se também, neste capítulo, com a finalidade de embasamento principal do

trabalho, definir o que é uma prática ressocializadora, relacionando-a com a definição no

ordenamento jurídico e entendimentos doutrinários, a fim de compreender qual é a eficácia do

cumprimento da pena e seu objetivo que é a recuperação social do indivíduo, assim como, o

papel ressocializador do agente penitenciário.

Na primeira parte do terceiro capítulo, deu-se atenção à conceituação jurídica de

ressocialização, sendo questionada a questão humanitária e preservação dos direitos não

atingidos pela sentença condenatória.

No citado capítulo foi abordada a criação da Lei de Execução Penal - LEP e a

importância da aplicação dos seus dispositivos para a ressocialização do preso. Ainda no

capítulo, citou-se a participação social como meio de promoção da reintegração da pessoa

encarcerada.

Ainda nesta parte, foram trazidas várias definições doutrinárias da pena como forma

de retribuição, prevenção e ressocialização do condenado, inclusive a sua dupla finalidade que

é a correta efetivação da decisão criminal e o oferecimento de condições para a readaptação

social do indivíduo encarcerado.

Page 51: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

51

Adiante, na segunda parte do terceiro capítulo foi trazido o sentido sociológico de

ressocialização, sendo tratada a questão de sua origem, como uma das exigências da função

da pena, enquanto finalidade de reabilitação social.

Baseando-se em autores como Foucault (2007) foi possível perceber, neste capítulo,

que o pensamento ressocializador surgiu com a prisão, a ineficiência da pena de morte, o

aumento da pobreza e os sentimentos de injustiça provocados pelas penas aplicadas em

público.

Na sequência, o mesmo autor, ainda afirma que a prisão veio também com a influência

social, política, econômica e ideológica e acabou por dar um caráter de dominação da

sociedade operária pela dominante.

Já na terceira parte do capítulo, observou que a contribuição dos teóricos do século

XV a respeito da ressocialização, vem sendo estudada e, utilizada na realidade

contemporânea, dos quais, pode-se citar Cesare Beccaria (2003), que associou o

contratualismo e o utilitarismo na reforma do sistema penal.

Em continuidade, constata-se no pensamento de Beccaria (2003) a questão da

proporcionalidade da pena em relação ao delito cometido como forma de preservação da

dignidade humana e a finalidade preventiva da lei.

Todavia, percebe-se na prática a ausência da gestão estatal prevista na teoria da norma

jurídica a respeito de iniciativas voltadas com mais afinco para a resolução da problemática

que se aborda na questão de ressocialização do indivíduo preso.

Diante disso, enfatizou-se que a ressocialização é o meio de humanizar a passagem do

detento pelo cárcere, tornando a execução da pena mais humanitária e contribuindo na

reabilitação do recluso, tornando-o consciente da sua capacidade de construção de uma nova

realidade social.

Page 52: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

REFERÊNCIAS

ALVIM, Wesley Botelho. A ressocialização do preso brasileiro. Direito net. Disponível em

<://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2965/A-ressocializacao-do-preso-brasileiro>.Acesso

em: 24 de mar de 2015.

BARROSO, Luís Roberto: Fundamentos teóricos e filosóficos do novo direito

constitucional brasileiro: Pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo. Rio de Janeiro:

Renovar, 2003.

BATTAGGIA, Heitor Paulo. FUNAP – Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso. FGV,

1999. Universo jurídico.

<http://uj.novaprolink.com.br/doutrina/4454/o_trabalho_do_preso_e_seus_direitosuma_persp

ectiva_da_situacao_no_distrito_federal>. Acesso em: 24 de mar de 2015.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em:

17 mar 2015.

___________.Superior Tribunal de Justiça. Portal oficial. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?id₢onteudo=116383> e

<https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/.../informativo_ramos_2013.pdf>. Acesso em: 13 de mar

de 2015.

___________Secretaria nacional de justiça. Departamento penitenciário nacional.

http://www.justica.gov.br/seus-direitos/politica-penal/transparencia-institucional/estatisticas-

prisional/relatorios-estatisticos-analiticos-do-sistema>. Acesso em: 18 de mar de 2015.

_________. Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 17

mar 2015.

__________. Informativo de jurisprudência de 2013. Organizado por ramos do Direito, 2

edição. Informativos n.º 511 a 532: Brasília, 2013.

___________. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução

Penal.<http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em: 13 de mar 2015.

Page 53: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

53

__________. Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989. Dispõe sobre o exercício do direito de

greve. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.htm>. Acesso em: 24 de mar de

2015.

__________. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da

Previdência Social. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>. Acesso em:

19 de mar de 2015.

__________. Lei 11.473, de 10 de maio de 2007. Dispõe sobre a cooperação federativa no

âmbito da segurança pública. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-

2010/2007/Lei/L11473.htm>. Acesso em: 24 de mar de 2015.

__________. Lei nº 12.433, de 29 de junho de 2011. Altera a Lei no 7.210, de 11 de julho de

1984 (Lei de Execução Penal), para dispor sobre a remição de parte do tempo de execução da

pena por estudo ou por trabalho. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

2014/2011/lei/l12433.htm>. Acesso em: 07 de abr de 215.

___________. Movimento nacional dos direitos humanos. Disponível em:

<http://www.mndh.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3046>. Acesso

em: 19 de mar de 2015

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva v. 1,

2011.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 1. ed. Bauru, SP: Edipro, 2003.

BOCCATO. V. R. C. Metodologia da pesquisa bibliográfica na área odontológica. Revista

odontológica universal. São Paulo, v. 18, n. 3, p. 265-274, 2006.

CAPEZ, Fernando. Execução Penal. 12. ed. São Paulo, Damásio de Jesus, 2006.

DINIZ, Eduardo Albuquerque Rodrigues. Realidade do sistema penitenciário brasileiro.

Revista jus navigandi, Teresina, ano 1, n. 1, 19 nov. 1996. Disponível em:

<http://jus.com.br/artigos/1008>. Acesso em: 4 mai 2015.

DELMANTO, Celso. Et al. Código penal comentado. 6. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

FOUCAULT, Michel. Resumo dos cursos do college de france (1970-1982). Rio de Janeiro:

Zahar; 2000. 136 p.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 34. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,

2007.

FRANCO, Dalton Di. Agentes da lei, a história dos organismos de segurança pública de

Rondônia e da gente que escreveu. Disponível em: <http://agentesdalei.blogspot.com.br/>.

Acesso em: 19 de mar de 2015.

GOMES, Luis Flávio (org.). Constituição federal, código penal, código de processo penal.

3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

Page 54: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

54

GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 4. ed. rev., atual e ampl. Rio de

Janeiro: Impetus, v.1, 2011.

LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Teoria constitucional do direito penal. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

LOURENÇO, Arlindo da Silva. O espaço de vida do agente de segurança penitenciária no

cárcere: entre gaiolas, ratoeiras e aquárius. Tese (Doutorado em Psicologia Social) PUC/SP,

São Paulo, 2010.

LUNA, Everardo da Cunha. Capítulos de direito penal. São Paulo: Saraiva, 1985. 403 p.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direitos humanos, constituição e os tratados

internacionais: estudo analítico da situação e aplicação do tratado na ordem jurídica

brasileira. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002.

MELO, André Luís. Ressocialização é um ato de vontade do cidadão. Revista conjur.

http://www.conjur.com.br/2013-jan-01/andre-luis-melo-ressocialização-ato-vontade-

cidadão>. Acesso em: 22 de mar de 2015.

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal: comentários à Lei nº 7.210, de 11-7-1984. 11.

ed. São Paulo: Atlas, 2004.

MIRABETE, Julio Fabbini. Execução penal. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

MAGNABOSCO, D. Sistema penitenciário brasileiro: aspectos sociológicos. Revista...

Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=1010>. Acesso em: 24 de mar

de 2015.

MORAES, Pedro Rodolfo Bodê de. Punição, encarceramento e construção de identidade

profissional entre agentes penitenciários. São Paulo: IBCCRIM, 2005.

OLIVEIRA, Odete Maria. Prisão: um paradoxo social. Florianópolis: UFSC, 1984.

Dissertação (Mestrado).

_______. Prisão: um paradoxo social. 2. ed. Florianópolis: UFSC, 2000. P, 76.

RONDÔNIA. Secretaria de estado da justiça. Disponível em:

<http://www.rondonia.ro.gov.br/sejus/>. Acesso em: 24 de mar de 2015 e 09 de abr. de 2015.

SARTORI, L.S. Agente Penitenciário: de carcereiro e ressocializador. UDC-Faculdade

Dinâmica das Cataratas, Foz do Iguaçu, PR, 2012.

SILVA, José de Ribamar da. Prisão: resssocializar para não reincidir. monografia de

conclusão de curso de graduação. Paraná: Universidade Federal do Paraná, 2003.

THOMPSON, Augusto. A questão penitenciária. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1980.

Page 55: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência

55

ZACARIAZ. André Eduardo de Carvalho. Lei de execução penal comentado. São Paulo/SP:

Edijur, 2003.

ZAFFARONI, Eugenio Raul e PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal

brasileiro: Parte Geral. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Cuadernos de la cárcel. Edição especial de "No hay

Derecho”. Buenos Aires, 1991.

Page 56: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA UNIR · Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia ... comigo momentos de impaciência