fundaÇÃo oswaldo cruz centro de pesquisas aggeu … · 2018-04-02 · pacto pela saúde/2006 e...

58
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA RAFAELA ARAÚJO LINS PEREIRA O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DA SAÚDE NA PARAÍBA: UM ESTUDO INTERPRETATIVO DE 2008 A 2013 RECIFE 2015

Upload: others

Post on 16-Feb-2020

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES

DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA

RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA

RAFAELA ARAÚJO LINS PEREIRA

O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DA SAÚDE NA PARAÍBA: UM ESTUDO

INTERPRETATIVO DE 2008 A 2013

RECIFE

2015

Page 2: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

RAFAELA ARAÚJO LINS PEREIRA

O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DA SAÚDE NA PARAÍBA: UM ESTUDO

INTERPRETATIVO DE 2008 A 2013

Monografia apresentada ao Programa de

Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva,

do Departamento de Saúde Coletiva, Centro de

Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo

Cruz, para obtenção do título de especialista em

Saúde Coletiva.

Orientadora: Profª. Drª Kátia Rejane de Medeiros

RECIFE

2015

Page 3: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

P436p

Pereira, Rafaela Araújo Lins.

O processo de regionalização da saúde na Paraíba: um estudo

interpretativo de 2008 a 2013/ Rafaela Araújo Lins Pereira. — Recife:

[s.n.], 2015.

57 p.: il.

Monografia (Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva) -

Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu

Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.

Orientadora: Kátia Rejane de Medeiros.

1. Regionalização. 2. Gestão em saúde. 3. Sistema Único de

Saúde. 4. Política de saúde. I. Medeiros, Kátia Rejane de. II. Título.

CDU 614.2

Page 4: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

RAFAELA ARAÚJO LINS PEREIRA

O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DA SAÚDE NA PARAÍBA: UM ESTUDO

INTERPRETATIVO DE 2008 A 2013

Monografia apresentada ao Programa de

Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva,

do Departamento de Saúde Coletiva, Centro de

Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo

Cruz, para obtenção do título de especialista em

Saúde Coletiva.

Aprovado em: ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________________

Profª. Drª Kátia Rejane de Medeiros

CPqAM/FIOCRUZ

________________________________________________________________

Profª. Dra. Adriana Falangola Bejamin Bezerra

Universidade Federal de Pernambuco/ UFPE

Page 5: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

AGRADECIMENTOS

Á Deus, que me mostrou o caminho da Residência em um período turbulento da

minha vida, permitindo que eu vivenciasse novas experiências em minha trajetória de vida

pessoal e profissional e se fez e faz presente em todos os momentos da minha vida,

principalmente naqueles de incertezas, inseguranças, aflições e solidão.

Á minha mãe, minha melhor amiga e companheira, única e inigualável, por sempre

acreditar em mim e me transmitir a segurança e serenidade de que tanto preciso em todos os

momentos. Igualmente a meu pai, que não mediu esforços para me proporcionar o máximo de

conforto aqui em Recife, sempre na torcida pelo meu melhor. A minha irmã, Camila, que

mesmo longe fisicamente, senti sua presença pelo carinho que temos uma pela outra. Amo

vocês.

Ao meu amado Charles Onuki, meu Nange, companheiro da vida e do amor, que há

seis anos acompanha e divide comigo minhas conquistas e fracassos, me apoiando sempre

com um sorriso no rosto, um abraço apertado e as palavras sábias nas horas certas. Ao seu

lado a caminhada é mais doce. Amo você.

As minhas amigas Juliana e Rebecca, companheiras dessa trajetória na Saúde Coletiva

desde a univesidade.

Aos meus colegas de residência, companheiros que tive a alegria de conhecer e

vivenciar momentos de partilha, angúsitas e muito aprendizado: Amanda, Camila R., Camila

L., Celi, Fernanda, Gislea, Kat, Laura, Duda, Mário, Morgana, Priscila e Thaisy.

A minha orientadora, Kátia Medeiros, que acolheu sempre com muita ternura minhas

angústias durante essa caminhada e contribuiu imensamente com a sabedoria de suas palavras

para o desenvolver deste estudo.

A Domício e Islândia, atores importantes na condução desse Programa de Residência.

Aos funcionários da secretaria acadêmica (SEAC), sobretudo a Vivi, a quem eu aperreei

muito. O trabalho de vocês foi um apoio importante.

Obrigada!

Page 6: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

PEREIRA, Rafaela Araújo Lins. O processo de regionalização da saúde na Paraíba: um

estudo interpretativo de 2008 a 2013. 2015. Monografia (Residência Multiprofissional em

Saúde Coletiva) – Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo cruz, Recife,

2015.

RESUMO

Considerando o avanço nas normas direcionadoras da regionalização desde a década de 1990

e os desafios ainda presentes para sua consolidação, é importante o desenvolvimento de

estudos que tragam reflexões acerca da estratégia de regionalização da saúde. O presente

estudo se propõe a apresentar o processo de regionalização da saúde no estado da Paraíba no

período de 2008 a 2013. Para tanto, procura-se responder ao seguinte questionamento: como

tem sido desenvolvido o processo de regionalização da saúde no estado da Paraíba no período

de 2008 a 2013? Trata-se de uma pesquisa documental interpretativa. Os dados foram

analisados à luz da técnica de análise de conteúdo. Foram analisados os documentos oficiais

disponibilizados pela Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba em ambiente virtual

institucional e no Sistema de Apoio ao Relatório de Gestão, conforme sua disponibilidade nas

fontes de pesquisa. Para descrever o processo de regionalização na Paraíba, orientou-se pelo

Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para

o processo. Fez-se também a análise das categorias: definição de região, objetivos da

regionalização, critérios para a regionalização e responsáveis pela regionalização, além de

discorrer sobre os limites e potencialidades do processo de regionalização na Paraíba. Como

resultado, foi possível afirmar que, apesar da temática da regionalização da saúde no Brasil

não ser nova, a questão da regionalização ainda não conseguiu ser amplamente implementada

na Paraíba, e a Secretaria de Estado da Saúde/ SES-PB, na sua missão de coordenar a

regionalização no seu território, tem conduzido a passos lentos o processo no Estado.

Recomenda-se que mais estudos sejam realizados sobre este tema, considerando que além de

analisar os instrumentos norteadores da regionalização no Estado, seja avaliado o nível de

participação dos atores, para um melhor acompanhamento e condução desse processo ainda

incipiente no Estado.

PALAVRAS-CHAVE: Regionalização da saúde; Gestão Estadual; Sistema Único de Saúde.

Page 7: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

PEREIRA, Rafaela Araújo Lins. O processo de regionalização da saúde na Paraíba: um

estudo interpretativo de 2008 a 2013. 2015. Monografia (Residência Multiprofissional em

Saúde Coletiva) – Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo cruz, Recife,

2015.

ABSTRACT

Considering the advances in guiding standards of regionalization since the 1990s and still

present challenges for its consolidation, it is important to develop studies that bring reflections

about the health regionalization strategy. This study aims to present the health regionalization

process in the state of Paraíba from 2008 to 2013. Therefore, it seeks to answer the following

question: how has been developed health regionalization process in the state of Paraiba in

period 2008 to 2013? This is an interpretative document research. Data were analyzed based

on the content analysis technique. Official documents made available by the State of Paraíba

in Health institutional virtual environment and Support Management Report system, as

available in the research sources were analyzed. To describe the regionalization process in

Paraíba, guided by the Pact for Health / 2006 and Decree No. 7508/2011, highlighting the

normative and process improvement. It also made the category analysis: definition of region,

regionalization objectives, criteria for regionalization and responsible for regionalization, and

discuss the limits and potential of regionalization process in Paraíba. As a result, it was

possible to state that despite the health regionalization issue in Brazil is not new, the issue of

regionalization has yet to be widely introduced in Paraíba, and the Ministry of Health / SES-

BP, in its mission to coordinate regionalization in its territory, it has led to slow the process

steps in the state. It is recommended that more studies be conducted on this topic, considering

that in addition to analyzing the guiding instruments of regionalization in the state, is rated the

level of participation of the actors, for better monitoring and conducting this incipient process

in the state.

KEYWORDS: Health Regionalization; State management; Health System.

Page 8: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8

2 OBJETIVOS ............................................................................................................... 12

2.1 Geral ......................................................................................................................... 12

2.2 Específicos ................................................................................................................ 12

3 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 13

3.1 O Federalismo no Brasil .......................................................................................... 13

3.2 Descentralização das ações em saúde .................................................................... 16

3.3 Regionalização da saúde: das Normas Operacionais da Assistência à Saúde ao

Decreto 7.508 .................................................................................................................. 19

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 25

4.1 Tipo de Pesquisa ...................................................................................................... 25

4.2 Área de Estudo ......................................................................................................... 25

4.3 Período de Estudo .................................................................................................... 27

4.4 Coleta fonte de dados .............................................................................................. 27

4.5 Plano de análise e processamento de dados .......................................................... 28

4.6 Considerações éticas ................................................................................................ 30

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................... 31

5.1 O processo de regionalização da saúde a partir do arcabouço normativo: Pacto

pela Saúde/2006 e Decreto nº 7508/2011 ...................................................................... 31

5.2 O processo de regionalização da saúde na Paraíba segundo as categorias de

análise ............................................................................................................................. 38

5.2.1 Definição de região ................................................................................................. 38

5.2.2 Objetivos da Regionalização .................................................................................. 42

5.2.3 Critérios para a regionalização ............................................................................... 43

5.2.4 Responsáveis pela regionalização ................................................................................ 46

5.3 Limites e potencialidades do processo de regionalização na Paraíba ................. 48

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 53

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 54

Page 9: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

8

1 INTRODUÇÃO

Desde que o Sistema Único de Saúde (SUS) foi instituído, notou-se uma

inconvergência nos processos de descentralização e regionalização ao longo do tempo, com

maior destaque para a descentralização no primeiro decênio da implantação do SUS, de modo

que a municipalização da saúde foi priorizada, sobretudo a responsabilização dos municípios

pela provisão dos serviços e organização de sistemas municipais de saúde.

Já a integração de serviços, instituições e práticas, bem como a presença do gestor

estadual nesse processo, necessários para impor mudanças expressivas no papel, nas funções,

nas competências e nos modos de relacionamento entre os três níveis de governo, não foi

considerada a contento e os princípios de descentralização e regionalização, incorporados

conjuntamente e legalmente como diretrizes do SUS, foram-se distanciando (VIANA; LIMA;

FERREIRA, 2010).

A regionalização de ações e serviços de saúde no Sistema está essencialmente

vinculada à organização federativa brasileira, tendo, esta, como principal particularidade a

existência de três esferas autônomas de governo: federal, estadual e municipal. Essa situação é

consagrada pela Constituição Federal de 1988, que alça definitivamente os municípios à

condição de entes federados. Nesse contexto, o SUS é criado e organizado institucionalmente,

reproduzindo essa disposição tríplice e legitimando a autonomia dos três níveis de governos

na gestão de ações e serviços de saúde em seus territórios (DOURADO; ELIAS, 2011).

Esse sistema de saúde, criado como instituição de caráter federativo orientado pela

descentralização político-administrativa, a normatização constitucional e a regulamentação

disposta na Lei Orgânica da Saúde nº 8.080/90, nos termos do Art. 7, foi concebido

compreendendo a “ênfase na descentralização dos serviços para os municípios” associada à

“regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde”, reafirmando a necessidade de

regionalização (LARA; MENDES, 2014).

Pereira (2009) destaca que, embora deva se considerar que a descentralização

apresentou resultados positivos nos anos de 1990, quais sejam: a incorporação, pelos

municípios, da responsabilidade pela provisão de serviços em seus territórios e pela

organização de sistemas municipais, permanece, na década de 2000, problemas relativos a

uma intensa fragmentação e desorganização dos serviços do SUS. Assim, torna-se evidente

que a estrutura municipalizada não era capaz de oferecer as condições para a plena realização

dos objetivos do sistema nacional de saúde no ambiente de extrema heterogeneidade que

caracteriza a Federação brasileira.

Page 10: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

9

Considerando essa situação, além do marco legal, outros importantes instrumentos de

condução nacional para a política de saúde foram as normas e portarias ministeriais editadas,

reeditadas e substituídas com o avanço do processo ao longo dos anos 1990 e 2000. A partir

de 2000, a regionalização ganha destaque como uma estratégia prioritária no âmbito da

política nacional de saúde com a edição, inicialmente, da Norma Operacional da Assistência à

Saúde (NOAS), em seguida, de forma mais incisiva com a publicação do Pacto pela Saúde em

2006 e mais recentemente com o Decreto 7.508 em 2011 (PEREIRA, 2009; VIANA; LIMA;

FERREIRA, 2010).

Esses instrumentos são muito importantes no processo de regionalização, uma vez que

trazem a tona sua discussão como elemento basilar e estruturante do sistema de saúde,

devendo orientar o processo de descentralização e as relações intergovernamentais. Para isso,

utiliza-se de ferramentas como o Plano Diretor de Regionalização - PDR, ordenado pela

esfera estadual e institui os Colegiados de Gestão Regional (CGR), os quais devem traduzir o

planejamento regional de acordo com as particularidades de cada estado em consonância com

os recursos disponíveis além de servir como espaços de co-gestão, respectivamente.

Mais recentemente, com a publicação do Decreto nº 7.508/2011, que regulamenta a

Lei 8.080, tem-se como principal objetivo organizar regionalmente as ações e serviços de

saúde, conformando uma Rede de Atenção à Saúde (RAS) com definição de

responsabilidades, indicadores e metas por meio de um contrato jurídico firmado entre entes

federativos, o Contrato Organizativo de Ações Públicas em Saúde – COAP, o qual traz

elementos necessários à implementação integrada das ações e serviços de saúde (BRASIL,

2011).

Além disso, o decreto organiza as relações interfederativas mediante a consagração

das Comissões Intergestores Regionais (CIR) como instâncias de pactuação consensual para

definição das regras de gestão compartilhada do SUS além de dispor sobre as Regiões de

Saúde com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e

serviços de saúde neste espaço geográfico interfederativo. Com isso, propõe garantir uma

dimensão regional ao SUS conforme prevê a Constituição Federal (CF) (BRASIL, 2011).

Apesar de o decreto avançar em relação à regionalização consoante com a CF, as

múltiplas realidades territoriais existentes no país e a importância adquiridas pelas instâncias

estaduais e municipais na condução da política de saúde, influenciam os processos de

regionalização do SUS nos diferentes estados brasileiros. Além disso, a municipalização

desencadeada desde a CF 1988, atreladas à democratização e a descentralização induziram ao

crescente aumento do número de municípios, muitos deles de pequeno porte, resultando num

Page 11: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

10

quadro de que mais de 75% dos municípios brasileiros, possuem menos de 25.000 habitantes

(LIMA et al, 2012; PEREIRA, 2009).

Segundo o IBGE, o número de municípios mais que dobrou desde a década de 1960,

passando de 2.776 em 1960 para 5.565 em 2010 (IBGE, 2010). Uma característica importante

é que mais da metade são chamados de “cidades pequenas”, pois sua população é inferior a 50

mil. A região Norte, a maior em extensão territorial, possui o menor número de municípios

(449), já a região Nordeste concentra o maior número de municípios (1.794).

Como estado da região nordestina, encontra-se a Paraíba, com uma extensão territorial

de 56.469 km2, dividida em 223 municípios, dos quais 61% possuem menos de 10 mil

habitantes e geoadministrativamente é dividido em 12 Gerências de Saúde. A Paraíba ocupa a

condição de terceiro estado da região Nordeste com o maior número de municípios, perdendo

apenas para Bahia e Piauí, com 417 e 224 municípios respectivamente. Desde a propositura

do Decreto 7.508 em 2011, as regiões de saúde foram redivididas, passando de 25 para 16 em

2011(IBGE, 2010; PARAÍBA, 2012).

Brandão et al.(2012) relata que o processo de regionalização na Paraíba não seguiu a

Instrução Normativa do Ministério da Saúde em alguns aspectos, questionando e revelando os

problemas acerca das especificidades de cada região, as quais não foram realmente

obedecidas e no acesso e articulação da rede de serviços no estado o que compromete à

legitimação do processo de regionalização da saúde no estado. Mas, em pesquisa ao acervo da

Biblioteca Virtual de Saúde nota-se que não estão registradas evidências de como tem-se

desenvolvido o processo de regionalização na Paraíba a partir da proposição do Decreto

7.508, que induziu a uma “nova” reorganização das regiões de saúde no estado, aspecto que

torna a investigação relevante.

Considerando o avanço nas normas direcionadoras da regionalização desde a década

de 1990 e os desafios ainda presentes para sua consolidação que estabelece relações

interfederativas a partir da produção do cuidado, é importante o desenvolvimento de estudos

que tragam reflexões acerca da estratégia de regionalização da saúde. Na Paraíba, esse

argumento é ainda mais justificável frente aos registros e problemas desse processo antes do

Decreto nº 7.508 que conforma um instrumento essencial para o fortalecimento das regiões de

saúde (CIR) como espaços com potencial de organizar e cuidar integralmente de sua

população adscrita.

Partindo-se do pressuposto de que a autonomia de cada ente federado e a interação

entre os mesmos é necessária para a formação de arranjos mais cooperativos na saúde que

Page 12: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

11

fortaleçam o processo de regionalização, questiona-se: como tem sido desenvolvido o

processo de regionalização da saúde no estado da Paraíba no período de 2008 a 2013?

Espera-se que o alcance desta investigação extrapole o âmbito geográfico, podendo

certamente servir como referência para outros estados, trazendo contribuições que possam

gerar subsídios para as ações de gestão no auxílio do processo de Tomada de Decisão,

contribuindo para o fortalecimento das regiões de saúde e para a organização e

implementação do Contrato Organizativo de Ação Pública em Saúde (COAP).

Page 13: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

12

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Apresentar o processo de regionalização da saúde no estado da Paraíba no

período de 2008 a 2013.

2.2 Específicos

a) Descrever o processo de regionalização da saúde a partir do seu arcabouço

normativo: Pacto pela saúde/2006 e Decreto 7508/2011;

b) Caracterizar o processo de regionalização da saúde na Paraíba considerando-se

as categorias: definição de região; objetivos da regionalização; critério para a regionalização e

responsáveis pela regionalização;

c) Identificar os limites e potencialidades do processo de regionalização na

Paraíba.

Page 14: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

13

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 O Federalismo no Brasil

O federalismo, uma forma de organização do Estado contemporâneo, nasceu do

equilíbrio entre a centralização e a descentralização do poder político, e esse dilema

acompanha o Estado Nacional Brasileiro desde suas origens. O nascimento da Federação

brasileira seguiu um caminho inverso ao da maior parte dos Estados Federais, uma vez que

não se originou da união de estruturas políticas autônomas, mas sim do descontentamento dos

poderes locais com a centralização imperial, com consequente decadência da monarquia e

concomitante instauração da República (DOURADO, 2010).

O Estado federal é aquele que melhor corresponde à necessidade de manutenção da

unidade na diversidade, sem concentrar o poder em um único núcleo, nem tampouco

pulverizá-lo. De modo geral, as instituições federativas são conformadas por dois elementos

básicos: autogoverno e governo compartilhado, sendo estes considerados os princípios

fundamentais do federalismo (DOURADO; ELIAS, 2011; PEREIRA, 2009).

Segundo Dourado (2010), a peculiaridade no nascimento da Federação brasileira fez

do Brasil um caso típico de federalismo por segregação, o que atrelou desde o princípio da

história republicana brasileira, os conceitos de federalismo e descentralização e no decurso de

seu desenvolvimento apresentou um histórico de desequilíbrios e crises recorrentes nas

relações intergovernamentais no país, com ciclos de centralização e descentralização

relativamente bem definidos, além da ausência de instâncias de coordenação interfederativa e

do desenvolvimento de padrões de comportamento não cooperativo entre as esferas

governamentais (DOURADO, 2010; PEREIRA, 2009).

O federalismo no Brasil pode ser percebido sob um viés de extrema complexidade e

conflito, com sua origem na Constituição republicana de 1891, que tinha à idéia de permitir

maior descentralização e autonomia para as elites regionais, mantendo juntos membros que

poderiam aspirar à existência como unidades político-territoriais independentes. A partir de

então, o federalismo brasileiro é caracterizado pela alternância entre períodos de centralização

e descentralização relacionados com os regimes autoritários ou com a ordem democrática,

respectivamente (VIANA; MACHADO, 2009).

Os períodos de centralização (1930-1945) associaram a governos de vocação

autoritária, com a Revolução de 30 que teve um cunho centralizador envolvido na bandeira do

Page 15: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

14

fortalecimento do Estado Nacional até 1945, com o centralismo próprio do regime autoritário

no Estado Novo, que assegura o domínio da União sobre os demais entes federados, impondo

uma fortíssima concentração de poderes na União e retirando a maior parte da autonomia e

competência dos estados e municípios (PEREIRA, 2009).

Com a Constituição de 1946, é restituída a organização federativa ao Estado brasileiro,

com restabelecimento da autonomia dos Estados membros e ampliação dos municípios. Foi o

primeiro “boom” dos municípios, quase duplicando em números, fortalecendo-se sob forte

dependência da União e ganhando destaque, mesmo ainda não reconhecidos como entes

federativos, mas sendo capazes de instituir tributos (PEREIRA, 2009).

Porém esse caráter centrífugo não se mantém constante ao longo da história da

federação brasileira e com o Golpe Militar de 1964 tem-se a volta da centralização (1964-

1985), tendo uma de suas bases a recentralização fiscal por meio da implementação de um

sistema de transferências intergovernamentais atrelado a vários condicionantes em termos de

gasto. Trata-se da constituição dos fundos de participação dos estados (FPE) e municípios

(FPM). Destaca-se também o (re)fortalecimento dos papel dos governadores estaduais, com o

retorno dos direitos políticos em 1982, quando das eleições diretas para governadores. Em

relação aos anos 80, a força que os governadores estaduais tiveram no início da década foi

enfraquecida no final da mesma, notadamente na Constituição de 1988 (FAVERET, 2002).

A Constituição Federal promulgada em 5 de outubro de 1988 demarca no Brasil uma

reformulação do pacto federativo, com expansão da autonomia dos entes subnacionais e o

estabelecimento de dispositivos do federalismo cooperativo, na busca do equilíbrio federativo.

Um dos elementos mais simbólicos para representar as mudanças no arranjo federativo,

instituídas pela nova constituição é a descentralização, com o ingresso definitivo dos

municípios no cenário político nacional, sendo constituídos com entes federativos com status

jurídico-institucional tal qual a União e os estados, e compondo com estes a estrutura

federativa trina particular do País (DOURADO; ELIAS, 2011; MATTA, 2006).

Outra grande mudança que ocorreu com a Constituição de 1988 foi a redefinição da

Seguridade Social no Brasil, incluindo-se Previdência, Saúde e Assistência Social, marcada

pela universalidade da cobertura e do atendimento, a uniformidade e equivalência dos

benefícios e serviços, a diversidade da base de financiamento e a democratização e

descentralização da gestão, com participação da comunidade. O SUS foi criado nesse

contexto, fruto do reconhecimento do direito à saúde no Brasil, como instituição de caráter

federativo orientado pela descentralização político-administrativa (DOURADO; ELIAS,

2011; LEITE; FONSECA, 2011).

Page 16: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

15

Tal descentralização, cujo grande marco é a Constituição de 1988, gera mudanças na

formulação e implementação de políticas públicas no país, sobretudo na área de saúde e

educação, e define as relações federativas na área de políticas focalizadas de transferência de

rendas. Essa configuração descentralizadora que marca as relações federativas no país se

completa quando se observa a área fiscal, com o processo de descentralização fiscal, o qual

faz parte do processo de descentralização política (LEITE; FONSECA, 2011).

A partir da década de 1980, a descentralização fiscal foi importante, pois torna o Brasil

uma das federações com maior autonomia orçamentária dos entes subnacionais, tendo o seu

sistema tributário um dos mais descentralizados do mundo, tanto no que se refere ao poder de

tributação como de gastos auferidos às instâncias subnacionais (LIMA, 2007).

No entanto, esse processo não contou com uma descentralização planejada de

encargos e a participação do Governo Federal repercute negativamente na descentralização da

política de saúde, comprometendo a base do financiamento da Seguridade Social, bem como o

processo de descentralização das politicas sociais, previsto na Constituição de 1988, pois

mesmo possuindo recursos próprios para o setor, os governos subnacionais dependem de

recursos oriundos do orçamento do MS para suprir suas necessidades de gasto (LEITE;

FONSECA, 2011; LIMA, 2007).

Isso gerou uma grande fragilidade das conexões administrativas e orçamentárias

existentes entre os municípios e estados, privilegiando a esfera municipal em detrimento da

estadual e caracterizando uma forte dependência dos municípios aos recursos transferidos da

União (LIMA, 2007).

Esse fortalecimento do vetor municipal no sistema público de saúde no Brasil levou a

um novo “boom” do número de municípios, muitos deles de pequeno porte com limitada

capacidade financeira e administrativa para desenvolver todas as responsabilidades sobre as

políticas públicas que lhes são atribuídas. Além disso, as marcantes desigualdades econômicas

e sociais entre regiões, estados e principalmente entre municípios do país, aliados ao fato de

no Brasil, a saúde ser considerada uma competência comum e concorrente entre os entes, em

um contexto de mecanismos cooperativos e de coordenação intergovernamentais frágeis ou

ausentes, torna o SUS um modelo extremamente complexo, com uma intensa regulação

federal na saúde (PEREIRA, 2009).

Não obstante o sistema de saúde estar inserido em uma lógica de descentralização,

historicamente o governo federal sempre teve nesta área forte atuação, tanto no

financiamento, quanto na efetiva execução dos gastos. E ainda que o modelo de federalismo

fiscal brasileiro tivesse sido considerado um dos mais descentralizados do mundo, quando

Page 17: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

16

atribuído pela Constituição de 1988, no processo de construção da redemocratização do Brasil

esse caráter foi alterado e com o início dos anos 1990 essa política fiscal descentralizadora

mostrou-se incoerente para uma inflexão conservadora (LARA; MENDES, 2014).

No momento da implantação do SUS, apesar de ter ocorrido mudanças relacionadas à

horizontalização das negociações e conflitos intergovernamentais em saúde, permanecem

ainda o desafio de construção de uma lógica de coordenação federativa que valorize os

caminhos institucionais existentes e favoreça o alcance dos objetivos da política de saúde de

combate às desigualdades e promoção da cidadania nacional em uma lógica abrangente de

desenvolvimento e proteção social (VIANA; MACHADO, 2009).

Além disso, por todas as especificidades do federalismo brasileiro, é relevante

mudanças na atuação federal na condução da política de saúde, com uma reconfiguração do

papel da esfera estadual, que ficou limitada pela ênfase na municipalização nos vinte

primeiros anos do SUS, acarretando influências na condução da política de saúde, sobretudo

na regionalização da saúde, no cenário fiscal brasileiro.

3.2 Descentralização das ações em saúde

A Carta Constitucional de 1988, expressão do pacto federativo consequente ao

movimento democrático, definiu a saúde como direito de cidadania (art. 196), e seu

financiamento deve ser compartilhado entre os entes (art. 197), com uma organização

regionalizada e hierarquizada, constituindo um sistema único de acordo com as seguintes

diretrizes: “I) descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II) atendimento

integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços

assistenciais; III) participação da comunidade” (art. 198) (PEREIRA, 2009).

Nesse sentido, a Constituição de 1988 estabelece as diretrizes gerais do SUS e

consoante à normatização constitucional, este passa a ser regulamentado por duas leis

ordinárias federais (Lei nº 8.080 e Lei nº 8.142) que compõem a chamada Lei Orgânica da

Saúde (LOS) em 1990, na qual estão definidos os alicerces do sistema e detalhados os seus

principais caracteres (DOURADO, 2010).

Tal normatização constitucional e a regulamentação disposta na Lei Orgânica da

Saúde delimitam a expressão da estrutura federativa nacional na área da saúde ao

determinarem o dever de todos os entes federados de atuar para a promoção, proteção e

recuperação da saúde, com autonomia de cada esfera de governo para a gestão do sistema nos

limites do seu território. Além disso, a política de saúde, até então centralizada

Page 18: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

17

operacionalmente, iniciou legalmente um caráter descentralizador (DOURADO; ELIAS,

2011).

A descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de

governo, disposta nos termos do Art. 7º da Lei nº 8.080/90, foi concebida compreendendo a

“ênfase na descentralização dos serviços para os municípios”, associada à “regionalização e

hierarquização da rede de serviços de saúde”, como princípios norteadores dos processos de

organização político-territorial do SUS (DOURADO; ELIAS, 2011).

Porém, no primeiro decênio da implantação dos SUS, a descentralização das políticas

sociais no País na década de 1990 marcou a opção política da época, priorizando a

municipalização da saúde, enquanto a regionalização foi praticamente desconsiderada

(DOURADO; ELIAS, 2011).

A descentralização redefine responsabilidades entre os entes governamentais e reforça

a importância dos executivos subnacionais na condução da política de saúde, além de

envolver a transferência de poder decisório, da gestão de prestadores e de recursos

financeiros, antes concentrados na esfera federal para estados e, sobretudo, para os

municípios. Segundo Lima et al. (2012), o fortalecimento desses governos se justifica como

forma de promover a democratização, melhorar a eficiência e os mecanismos de

accountability nas políticas públicas, respeitando o desenho federativo e atendendo aos

interesses territoriais da nação (LIMA et al., 2012).

No sentido de efetivar a descentralização e conduzir a relações intergovernamentais,

um longo processo que envolve a implementação de leis, normas operacionais, portarias e

decretos, expedidas pelo Ministério da Saúde, tem sido necessária e importante. Tais

normatizações possuem um caráter transitório, sendo complementadas e sucessivamente

substituídas com o avanço do processo, apresentando diferenças, mas também elementos de

continuidade entre si, sendo marcadas por intenso debate envolvendo as três esferas de

governo e o Conselho Nacional de Saúde (GUIMARÃES, 2012; LIMA et al, 2012).

Os instrumentos normativos, emanados do Ministério da Saúde, que marcaram, na

primeira década do SUS, um processo de intensa transferência de competências e recursos em

direção aos municípios, fortalecendo a relação entre o Governo Federal e os municípios,

foram as Normas Operacionais Básicas (NOB). Tais instrumentos conduziram os municípios

à ascensão progressiva da gestão de ações e serviços de saúde em seus territórios

(DOURADO; ELIAS, 2011).

A primeira NOB foi expedida em 1991 e, ainda de maneira incipiente, apoiava a

descentralização e a municipalização por meio de consórcios administrativos entre os

Page 19: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

18

municípios, porém apresentava um retrocesso em relação aos mecanismos conveniais de

transferências de recursos para as esferas subnacionais, os quais se baseavam no pagamento

pela produção de serviços e não pelas necessidades da população. Nesta NOB houve o

esvaziamento do papel do gestor estadual e a ampliação do papel dos Municípios na

construção do Sistema de Saúde (GUIMARÃES, 2012; LEITE; FONSECA, 2011).

Apesar dos municípios terem sido introduzidos no sistema, a municipalização da saúde

ainda não tinha adquirido os contornos idealizados na época, uma vez que praticamente todo o

processo decisório permanecia concentrado na esfera federal, cabendo aos municípios as

funções de execução das ações e serviços de saúde, não desenvolvendo a capacidade gestora

(DOURADO, 2010).

Nesse sentido, em 1993 a edição da NOB 01/93 representou um importante momento

na consolidação do SUS na década de 1990 com o início da intensa descentralização,

consolidando-se por meio da instituição de três modalidades de gestão municipal - incipiente,

parcial e semiplena - e duas de gestão estadual - parcial e semiplena. Os municípios

habilitados na gestão semiplena tinham total autonomia para programar a execução dos

recursos nas diferentes áreas assistenciais e tal modelo de gestão, reafirmou a relação direta

entre o nível federal e o municipal por meio da implementação das transferências “fundo a

fundo” dos recursos federais e transferências automáticas aos fundos municipais para a

assistência ambulatorial e hospitalar. Em relação ao estado, esta NOB não apontou soluções

com relação à configuração de novas funções para as instâncias estaduais no sistema de saúde,

não definindo ou garantindo recursos e instrumentos necessários a sua implementação

(DOURADO, 2010; LEITE; FONSECA, 2011; PEREIRA, 2009).

Outro avanço nesse período foi a criação e consolidação de espaços políticos de

relação intergovernamental, a Comissão Intergestores Tripartite (CIT) no nível federal e a

Comissão Intergestores Bipartite (CIB) no nível estadual, constituindo-se também, em

mecanismos de democratização do processo decisório (DOURADO, 2010).

A descentralização, que já vinha ocorrendo, intensificou-se com a NOB 01/96, a qual

trouxe inovações ao processo de gestão descentralizada do SUS e redefiniu os papéis de cada

esfera de governo. Em relação aos municípios, um dos avanços foi a introdução de um

mecanismo de remuneração per capita dos serviços de saúde – o Piso da Atenção Básica

(PAB) – o qual estabeleceu repasses regulares e automáticos de recursos federais para o

custeio das ações básicas. Ao estado, avançou-se ao redefinir suas responsabilidades na

prestação dos serviços de saúde e na reorganização do modelo assistencial, destacando sua

Page 20: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

19

importância para harmonizar, integrar e modernizar os sistemas municipais (PEREIRA, 2009;

LARA; MENDES, 2014).

Para isso, foi criada a Programação Pactuada e Integrada da Assistência a Saúde (PPI),

um instrumento de definição das relações intergovernamentais referentes à transferência de

recursos, fluxos de referências intermunicipais e responsabilidades de cada instância. Essa

Programação traduz as responsabilidades de cada município com a garantia de acesso da

população aos serviços de saúde, quer pela oferta existente no próprio município, quer pelo

encaminhamento a outros municípios, sempre por intermédio de relações entre gestores

municipais, mediadas pelo gestor estadual. (BRASIL, 1996).

Porém, apesar da tentativa do fortalecimento do papel dos estados na condução

política do SUS, mediante a ampliação do funcionamento das CIBs e da instituição das PPIs,

esta NOB 01/96 encerrou um ciclo do SUS, concretizando o processo de municipalização da

saúde ao final do primeiro decênio do sistema sanitário. Esse processou resultou em efeitos

colaterais na dinâmica política do federalismo sanitário brasileiro, sobretudo nas relações

estabelecidas entre estados e municípios, a qual era frágil devido à prática da relação direta

entre as esferas federal e municipal (DOURADO, 2010).

Com isso a participação do nível estadual na coordenação das políticas e no processo

decisório se enfraqueceu e foi criando obstáculos para a conformação de mecanismos de

coordenação federativa com incidência sobre as relações intermunicipais, função essa que

deveria ter sido desempenhada pelos governos estaduais. Tais fatores foram cruciais para a

inflexão da condução política do SUS na década seguinte, no sentido da regionalização

(DOURADO, 2010).

3.3 Regionalização da saúde: das Normas Operacionais da Assistência à Saúde ao

Decreto 7.508

Na Lei 8.080/90, a regionalização foi alçada à condição de fundamento organizativo

da política sanitária brasileira, sendo concebida como pressuposto basilar para a construção do

SUS. No entanto, em decorrência do processo de descentralização induzido pelas NOBs

durante a década de 90, as diretrizes operacionais necessárias para a implementação da

regionalização não foram definidas, não sendo consideradas a contento (DOURADO, 2010).

Porém, depois de efetivada a descentralização na primeira década do SUS, era

evidente que a estrutura municipalizada não era capaz de oferecer as condições para a plena

realização dos objetivos do sistema nacional de saúde em um ambiente de extrema

Page 21: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

20

heterogeneidade, como é o caso do Brasil. Assim, a descentralização por meio da

municipalização com poder absoluto esgotou-se e precisava ser repensada (DOURADO;

ELIAS, 2011).

Nesse sentido, no final da década de 90, a regionalização foi recolocada no centro da

agenda do SUS. No início da década de 2000 o Ministério da Saúde publicou um conjunto de

diretrizes, as Normas Operacionais de Assistência à Saúde (NOAS/ SUS) em 2001, sendo ela

revisada em 2002, momento em que a regionalização ganha força no debate setorial e é

definida como macroestratégia para aprimorar a descentralização, contemplando uma lógica

de planejamento integrado e compreendendo as noções de territorialidade na definição de

prioridades de intervenção e no desenvolvimento de instrumentos de gestão, regulação e

financiamento de uma rede de ações e serviços no território (LIMA et al., 2012; VIANA et

al., 2014).

As NOAS SUS 01/1 e 01/02 trouxeram em seu texto mecanismos para a reversão do

“municipalismo” radical em curso e retomaram o fortalecimento do papel da esfera estadual

como instrumento eficaz contra os desequilíbrios intermunicipais, baseando-se no

reconhecimento de que a regionalização em saúde é um passo fundamental para a

consolidação dos princípios de universalidade, equidade no acesso e integralidade da atenção

(REIS, 2010).

Um dos pontos mais importantes da NOAS foi a institucionalização do Plano Diretor

de Regionalização - PDR, coordenado pelo gestor estadual, com a participação do conjunto de

municípios. Este instrumento foi concebido para traduzir o planejamento regional de acordo

com as particularidades de cada estado, em consonância com a alocação de recursos

disponíveis, definidas na PPI e com previsões de necessidades de novos recursos, expressas

no Plano Diretor de Investimentos (PDI) (DOURADO, 2010).

Outro destaque da NOAS foi a introdução da concepção de Região de Saúde, como a

“base territorial de planejamento de redes de atenção à saúde, não necessariamente

coincidente com a divisão administrativa do estado”, cuja definição caberia à esfera estadual,

podendo, cada estado, estabelecer o planejamento sanitário dividindo seu território em

macrorregiões, regiões ou microrregiões de saúde, de acordo com o modelo de regionalização

adotado. Por sua vez, as redes regionalizadas de atenção à saúde são arranjos organizativos da

gestão das ações e serviços de saúde com diferentes funções, complexidades e perfis de

atendimento, que operam de forma ordenada e articulada no território, de modo a tender as

necessidades e demandas da população (DOURADO, 2010, LIMA et al., 2012b).

Page 22: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

21

Porém, esse processo organizacional não é tão simples assim e na perspectiva de

avançar com a descentralização, as NOAS não levaram em consideração as especificidades

das regiões, as quais apresentam uma enorme heterogeneidade, tanto no aspecto cultural,

econômico, como no geográfico e financeiro, nem as particularidades dos estados, o que

dificultou a regionalização da saúde. Outros aspectos a serem destacados são a excessiva

normatividade técnica e rigidez embutida na proposta de conformação das microrregiões e

regiões de saúde e o fato de o restabelecimento de funções estratégicas às instâncias estaduais

principalmente por interferir imediatamente no planejamento regional, foi objeto de

resistência dos municípios, que entenderam tais mecanismos enquanto estratégia de re-

centralização do Sistema (GUIMARÃES, 2012;VIANA; LIMA, 2011).

Em decorrência desses fatores, a proposta das NOAs não foi bem sucedida e em vez

de cooperação, desencadearam-se disputas entre governos estaduais e municipais pela

administração de serviços e a ação indutora exercida pelo governo federal não foi suficiente

para criar espaços de coordenação federativa (DOURADO; ELIAS, 2011).

Nessas circunstâncias, após amplas discussões, foi publicado o Pacto pela Saúde em

2006, com a idéia, de que a efetiva responsabilização dos gestores deveria surgir de um

acordo de vontades a partir do qual os gestores sanitários das três esferas de governo

assumiriam compromissos negociados e definiriam metas a serem atingidas por meio de um

processo de descentralização estruturado numa regionalização solidária e cooperativa

(DOURADO; ELIAS, 2011; GUIMARÃES, 2012).

Esse pacto buscou trazer mudanças importantes na execução do SUS, reafirmando a

condição da regionalização como elemento basilar do sistema, o qual é reconhecido como

complexo diante da peculiaridade do arranjo federativo pós-1988 e das imensas desigualdades

regionais. Prevê que a regionalização oriente a descentralização das ações e serviços e

potencialize os processos de planejamento, pactuação e negociação entre os gestores,

buscando fortalecer os acordos intergovernamentais nos processos de organização político-

territorial do SUS (GUIMARÃES, 2012;PEREIRA, 2009).

Destaca ainda o conteúdo político da regionalização no que se refere à organização do

sistema de saúde, o qual deve considerar a diversidade dos elementos que caracterizam e

distinguem o território brasileiro e buscar a complementaridade dos serviços de saúde inter-

regionais e as necessidades sociais da população, enfatizando a importância da condução e da

adaptação estadual e restringindo as determinações federais nesse processo (LIMA et al.,

2012a).

Page 23: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

22

Para operacionalizar o planejamento e a gestão nas regiões de saúde, o Pacto 2006

institui os Colegiados de Gestão Regional (CGR), formados por representação do estado (do

nível central ou das estruturas de representação regional das Secretarias de Estado de Saúde) e

do conjunto de municípios das regiões, constituindo canais de negociação e decisão

intergovernamental, com regras próprias e funcionamento estável, visando o fortalecimento

da governança regional do SUS (VIANA et al, 2010).

Segundo Lima et al. (2012), os CGR enquanto instâncias privilegiadas para a

identificação de problemas, definição de prioridades e soluções para a organização da rede

assistencial, podem favorecer a constituição de objetivos compartilhados e o estabelecimento

de uma lógica voltada para as necessidades regionais de saúde na provisão dos serviços

(LIMA et al., 2012a).

Esta proposta de regionalização da saúde trazida pelo Pacto é resultado de duas

técnicas de maturação política e institucional do SUS e para a sua consolidação é necessário o

compromisso firmado pelos gestores da saúde nos espaços de negociações, para que se

tornem mais acessível à indução de estratégias de formação de um sistema funcional e

equânime, constituído de relações intergovernamentais mais cooperativas e solidárias. Porém,

a funcionalidade constitucional deste sistema está aquém do que acontece na realidade

(DOURADO; ELIAS, 2011; GUIMARÃES, 2012).

Diante dos avanços e retrocessos na descentralização da saúde, da responsabilização

da gestão do SUS e dos dilemas financeiros, sociais e políticos para a efetivação da

regionalização solidária, novas diretrizes foram formuladas, a partir de 2010, visando

estimular a configuração de redes de atenção à saúde e o processo de regionalização nos

estados brasileiros (GUIMARÃES, 2012).

Em 2011, o Decreto Presidencial nº 7.508, o qual regulamenta a Lei Orgânica 8.080,

deu novas diretrizes à regionalização do SUS, incorporando um conceito mais estruturado de

rede de atenção à saúde e estabelecendo novos instrumentos de planejamento regional para

sua efetivação, como o Contrato Organizativo de Ação Pública em Saúde (Coap) e o Mapa de

Saúde e definindo o rol mínimo de ações, procedimentos e tecnologias oferecidas pelo SUS

(ALBUQUERQUE, 2013).

Respeitando as diversidades territoriais e pactuações políticas, o Decreto nº 7.508/11

determina o cumprimento de rol mínimo de ações e serviços na região de saúde, a qual deve

ser capaz de estruturar redes de atenção à saúde ser solidária com outras regiões, no sentido de

garantir a integralidade do atendimento e o acesso a todas as ações e serviços que constam da

Page 24: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

23

Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde - Renases e da Relação Nacional de

Medicamentos Essenciais - Rename (ALBUQUERQUE, 2013).

A fim de concretizar a integração das ações e serviços de saúde nas regiões sob a

responsabilidade dos entes federados, é instituído o Coap, fundamentando-se nas pactuações

firmadas na Comissão Inter-gestoras Tripartite (CIT) e definindo responsabilidades

individuais e coletivas sobre as ações e serviços decretadas, determinando indicadores, metas

e critérios de avaliação e de desempenho e os recursos que serão disponibilizados (BRASIL,

2011).

Como responsáveis pela elaboração e negociação intergovernamental do Coap e pela

coordenação das redes regionalizadas de atenção à saúde encontram-se as Comissões

Intergetores Regionais (CIR), que assume as funções dos até então Colegiado de Gestão

Regional (CGR), no âmbito regional, mas que, diferentemente, é vinculada à Secretaria

Estadual de Saúde para efeitos administrativos e operacionais, observando as diretrizes

pactuadas em CIB (BRASIL, 2011).

Para a viabilização do Coap é necessário que as regiões de saúde construam o Mapa da

Saúde, um documento que tem por finalidade auxiliar na identificação das necessidades de

saúde e orientar o planejamento integrado dos entres federativos, contribuindo para o

estabelecimento das metas de saúde. Em seu conteúdo incorpora a descrição geográfica da

distribuição de recursos humanos da Região de Saúde, bem como as ações e serviços de saúde

ofertados pelos SUS e pela iniciativa privada, considerando a capacidade instalada existente,

os investimentos e o desempenho aferido a partir de indicadores de saúde do sistema (LARA;

MENDES, 2014).

Este documento é considerado um grande avanço para o planejamento regional ao

integrar espacialmente um conjunto de informações estratégicas sobre a conformação do

sistema de saúde e outras necessárias à compreensão das realidades locais, facilitando a

sistematização, consulta e análise integrada dos dados mapeados por município, região de

saúde, estados e macrorregiões brasileiras (ALBUQUERQUE, 2013).

Esses novos instrumentos de planejamento e gestão compartilhada revelam maior

complexidade e institucionalidade da regionalização do SUS na política nacional de saúde. A

definição de tais instrumentos foi impulsionada pela complexidade da estratégia de

regionalização, que surgiu como uma diretriz que busca reverter a lógica fragmentada,

competitiva, desigual e desordenada de conformação do SUS, procurando construir uma

racionalidade sistêmica e cooperativa para a divisão territorial do trabalho no SUS

(ALBUQUERQUE, 2013).

Page 25: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

24

Contudo, a regionalização do SUS é necessária, uma vez que no limite de um único

município raramente existe uma capacidade instalada assistencial que garanta a resolução de

todas as demandas de saúde da população residente, sendo indispensável integrar as ações e

serviços de saúde regionalizados e hierarquizadas, construídas a partir da relação solidária

entre os três entes federados (ALBUQUERQUE, 2013).

A partir de 2010, a ideia de regionalização se torna mais complexa pela forte

associação entre suas diretrizes e as das redes de atenção à saúde, que tendeu a priorizar o

enfoque das redes nos estados. Porém, em cada estado a regionalização vem se associando às

dinâmicas socioeconômicas, às políticas de saúde anteriores e aos desenhos regionais

adotados, sendo a capacidade de induzir mudanças a partir das redes e regiões de saúde

dependentes dessas características e dos condicionantes da conformação do sistema e das

políticas de saúde locais (ALBUQUERQUE, 2013; VIANA et al., 2014).

Malgrado os esforços e ganhos de institucionalidade observados no período de 2000 a

2010, a iniquidade resiste e o Brasil ainda é um país que apresenta marcantes

heterogeneidades na oferta de serviços de saúde. As diversidades e desigualdades

socioespaciais associadas à forma de organização política do território brasileiro criam

limitações e especificidades para o planejamento e gestão regional do SUS e condicionam a

forma como a atenção à saúde se materializa nos territórios, impondo limites e adaptações às

lógicas regionais idealizadas pelas diretrizes nacionais. (ALBUQUERQUE, 2013; VIANA et

al., 2014).

Page 26: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

25

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1 Tipo de Pesquisa

Trata-se de uma pesquisa documental interpretativa. O estudo interpretativo tenta

descrever o fenômeno social e buscar explicações teóricas sobre as questões e o que acontece

na realidade (SANTOS, 2009). Este tipo de pesquisa tenta descrever os processos sociais a

partir de experiências e fenômenos sociais representados diante do fenômeno estudado. No

caso deste estudo, a regionalização da saúde é o fenômeno por meio do qual se pretendeu

responder a pergunta da pesquisa.

A pesquisa documental é aquela realizada com base em documentos ou com pessoas,

mediante registros, atas, circulares, jornais, revistas, ofícios entre outros tipos de documentos.

Nessa modalidade de pesquisa, é feito o exame e tratamento analítico desses documentos

escritos (GODOY, 1995).

Os documentos são registros escritos que proporcionam informações em prol da

compreensão dos fatos e relações, ou seja, possibilitam conhecer o período histórico e social

das ações e reconstruir os fatos e seus antecedentes, pois se constituem em manifestações

registradas de aspectos da vida social de determinado grupo (OLIVEIRA, 2007).

4.2 Área de Estudo

O estado da Paraíba está situado a leste da Região Nordeste e tem como limites, ao

norte, o estado do Rio Grande do Norte, a leste, o Oceano Atlântico, ao sul, Pernambuco e, a

oeste, o Ceará (PARAÍBA, 2012).

Segundo o IBGE (2010), possui uma população de 3.766.528 habitantes, com uma

extensão territorial de 56.469 km2, dividida em 223 municípios, sendo 61% deles com menos

de 10 mil habitantes.

Geoadministrativamente, a Paraíba subdivide-se em 12 Gerências de Saúde, que

contemplam as 16 regiões de saúde existentes no estado. No mapa 1 é possível visualizar as

12 Gerências Regionais de Saúde.

Page 27: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

26

Mapa 1- Distribuição espacial segundo as Gerências Regionais de Saúde na

Paraíba

Fonte: PDR (2009)

A escolha do estado da Paraíba justifica-se por quatro fatores:

1) O presente estudo faz parte do projeto “Iniciativas inovadoras na organização das

redes assistenciais e regiões de saúde e seu impacto na estruturação da oferta do

SUS: um estudo avaliativo”, o qual tem por objetivo analisar o processo de

regionalização da saúde no Nordeste, coube a autora o estudo no Estado da Paraíba;

2) Pelo fato da autora ser natural da Paraíba e manter uma relação com a o Estado tendo,

inclusive, vivenciando estágio de residência de Saúde Coletiva do Centro de Pesquisa

Aggeu Magalhães – Fiocruz/PE, na Secretaria de Saúde do Estado;

3) Pelo fato do estado apresentar grande número de municípios de pequeno porte (61%

com menos de 10 mil habitantes), com diversidade social, econômica, cultural e

geográfica, além de elementos histórico-políticos relevantes o que torna o processo de

regionalização especifico e oportuno pra revelar problemas e desafios da

aplicabilidade do Decreto 7508

4) As produções sobre o tema no estado datam de antes da propositura do Decreto nº

7.508/11.

Page 28: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

27

4.3 Período de Estudo

O recorte temporal abrange os anos de 2008 a 2013. Tal recorte representa o momento

em que o Estado da Paraíba fez a adesão ao Pacto pela Saúde e o momento em que a

regionalização se destaca no cenário nacional e estadual por meio da proposição do Decreto

7.508/11

4.4 Coleta fonte de dados

A pesquisa documental seguiu as fases de:

1) Acesso aos documentos;

2) Seleção dos documentos

3) Análise.

Para a 3ª fase recorreu-se a análise de conteúdo segundo a perspectiva de Bardin

(1995), que prevê três etapas fundamentais: pré-análise, exploração do material e tratamento

dos resultados.

A primeira etapa é o primeiro contato com os documentos, na qual se fará a primeira

leitura. A exploração do material consistirá em ler os documentos e adotar procedimentos de

classificação e categorização, buscando continuamente levantar os temas principais e

secundários articulados segundo seu significado para os objetivos assumidos nesse estudo. E

por fim, se procederá ao tratamento dos resultados obtidos na fase anterior e sua interpretação

(GODOY, 1995).

Na análise documental desse estudo, buscou-se identificar as seguintes questões: a

apresentação do processo de regionalização da saúde na Paraíba e os seus limites e

potencialidades.

Para isso, recorreu-se a documentos oficiais disponibilizados pela Secretaria de Estado

da Saúde da Paraíba em ambiente virtual institucional e no Sistema de Apoio ao Relatório de

Gestão (SARGSUS).

Dessa forma, foram selecionados documentos conforme sua disponibilidade nas fontes

de pesquisa e que são considerados relevantes para o processo de regionalização,

representados no Quadro 1:

Page 29: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

28

Quadro 1 - Documentos disponíveis em ambiente virtual entre 2008 e 2013.

Fonte de acesso Sítio Eletrônico Documento Ano do documento Total

SARGSUS www.saude.gov.br/sargsus RAG* 2011, 2012, 2013 3

SES-PB www.saude.pb.gov.br PES* 2008-2011 1

SARGSUS www.saude.gov.br/sargsus PES* 2012-2015 1

SES-PB www.saude.pb.gov.br PDR* 2008 1

SES-PB www.saude.pb.gov.br Resolução de CIB 2011 1

Total - - 7

FONTE: elaborado pela autora.

LEGENDA:* RAG – Relatório Anual de Gestão

* PES – Plano Estadual de Saúde

* PDR – Plano Diretor de Regionalização

4.5 Plano de análise e processamento de dados

Para a análise dos dados, inicialmente realizou-se uma revisão bibliográfica sobre o

tema Regionalização da Saúde, em seu contexto histórico organizacional. Segundo Marconi e

Lakatos (2007), a pesquisa bibliográfica pode ser considerada o primeiro passo de toda

pesquisa, sendo, portanto, essencial, até mesmo para pesquisas que envolvem a documentação

direta de dados, as quais exigem como premissa o levantamento de estudos relativos a questão

e da familiarização com o problema que pretende analisar e solucionar.

Para descrever o processo de regionalização na Paraíba recorreram-se as diretrizes

nacionais de regionalização do SUS, a partir de 2006. Nessa perspectiva, foram documentos

orientadores da pesquisa o Pacto pela Saúde/2006 e o Decreto de nº

7508/2011, ambos

determinam a estrutura necessária para sua efetivação, e foram examinados mais

profundamente nos resultados referentes ao primeiro objetivo dessa pesquisa.

Apesar do Decreto nº 7.508/11 representar um progresso normativo para as diretrizes

de regionalização do SUS em comparação ao Pacto pela Saúde, no que se refere as definição

de região, objetivos da regionalização, critérios para a regionalização, desenhos regionais,

instrumentos de planejamento regional e responsáveis pela regionalização optou-se neste

estudo por trabalhar os elementos preconizados pelo Pacto pela Saúde/2006 que são mantidos

no Decreto 7.508/2011, considerando que o período de estudo abrange os anos de 2008 a

2013 e contempla definições presentes nos dois documentos relacionadas às definição,

objetivos, critérios e responsáveis pela regionalização, resultando em quatro categorias de

análise, apresentadas no Quadro 2, e que contemplam o segundo objetivo desse estudo.

Page 30: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

29

Quadro 2 – Categorias de Análise

CATEGORIAS DEFINIÇÕES ADOTADAS

Definição de Região

Elementos: limites geográficos dos territórios municipais

envolvidos, população usuária, fluxos assistenciais e

Colegiados de Gestão Regional/ Comissão Intergestores

Regional (CIR)

Objetivos da regionalização

Diminuir as desigualdades socioespaciais de

universalização da saúde, superar os limites do modelo de

descentralização municipalista da saúde e fortalecer o

papel dos estados no planejamento e na

coordenação/cooperação intergovernamental.

Critérios para a regionalização

Identidades culturais, econômicas e sociais, características

epidemiológicas, existência de redes nas áreas de

comunicação e transporte. Deve conter ações de Atenção

Primária e de Vigilância em saúde.

Responsáveis pela

regionalização

Secretarias Estaduais de Saúde

Secretarias Municipais de Saúde

Colegiados de Gestão Regional/ CIR

Comissão Intergestores Bipartite (CIB)

Comissão Intergestores Tripartite (CIT)

Fonte: elaborado pela autora.

Os conceitos referentes aos desenhos regionais e aos instrumentos de planejamento

não foram considerados neste estudo, visto que em relação aos desenhos, o Decreto

condiciona a existência de regiões de saúde ao cumprimento dos critérios mínimos de oferta

de ações e serviços assistenciais dispostos na Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde

- Renases e na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - Rename, não existentes no

Pacto. Em relação ao conjunto de instrumentos de planejamento, o Decreto 7.508/11

modificou-o radicalmente, introduzindo elementos como as redes de Atenção, o Mapa da

Saúde e o COAP, não definidos no Pacto.

A partir desse quadro e da análise dos documentos oficiais específicos no âmbito da

SES-PB, espera-se obter elementos essenciais para responder os objetivos específicos deste

estudo e ser possível verificar se o processo de institucionalização da regionalização no estado

está de acordo com as diretrizes nacionais para a sua efetivação.

Page 31: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

30

A institucionalidade do processo de regionalização no plano estadual é caracterizada

por Scott (1995) pela existência de estratégias, recursos, incentivos, normas e construções

cognitivas que integram o processo regulatório dessa política.

A noção de institucionalidade relaciona-se ainda com a trajetória da regionalização e

com os elementos e critérios considerados na definição do desenho das regiões de saúde no

estado. Em sua análise pesam o histórico da regionalização, a robustez e o conteúdo do

desenho da regionalização, e ainda a capacidade de introdução de estratégias de planejamento

e regulação, voltada para a coordenação de ações e serviços e intervenções sanitárias em

âmbito regional. Além disso, quando se fala de institucionalidade da regionalização não pode

deixar de considerar o peso da Secretaria de Estado da Saúde na condução do processo, o que

inclui a maturidade técnica e políticas de suas regionais e o peso da regionalização na agenda

oficial (ALBUQUERQUE, 2013).

4.6 Considerações éticas

Em relação aos aspectos éticos, este estudo integra o projeto “Iniciativas inovadoras na

organização das redes assistenciais e regiões de saúde e seu impacto na estruturação da

oferta do SUS: um estudo avaliativo”, o qual foi aprovado pela Chamada MCTI/CNPq/CT-

Saúde/MS/SCTIE/Decit N º 41/2013 – Rede Nacional de Pesquisas sobre Política de Saúde:

Conhecimento para Efetivação do Direito Universal à Saúde, financiado pelo CNPq, e

submetido ao Comitê de Ética do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de

Pernambuco, sob o número do parecer 674.336, obtendo sua aprovação em 04 de junho de

2014.

Page 32: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

31

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados e discussão apresentam-se divididos em três seções principais. Na

primeira seção realizou-se a análise dos elementos que devem conduzir o processo de

regionalização, do ponto de vista das diretrizes nacionais de regionalização do SUS, a partir

de 2006, presentes no Pacto pela Saúde/2006 e, depois no Decreto nº 7.508/2011,

evidenciando o avanço normativo e político para o processo. Na seção dois fez-se a análise

das categorias: definição de região, objetivos da regionalização, critérios para a regionalização

e responsáveis pela regionalização. Na última seção se discorre sobre os limites e

potencialidades do processo de regionalização na Paraíba.

5.1 O processo de regionalização da saúde a partir do arcabouço normativo: Pacto pela

Saúde/2006 e Decreto nº 7508/2011

Do ponto de vista das diretrizes nacionais de regionalização do SUS, a partir de 2006

foram documentos orientadores da pesquisa, o Pacto pela Saúde/2006 e o Decreto nº

7.508/2011, ambos determinantes na estrutura necessária para sua efetivação, definindo os

elementos que devem conduzir o processo. De forma sintética no quadro 3, estão contidas as

definições essenciais para a regionalização da saúde, evidenciando-se as similaridades e

divergências entre essas duas orientações normativas.

Com o Pacto pela Saúde, a partir de 2006, a estratégia de regionalização é reafirmada

como prioritária para a integração das ações e serviços de saúde, e se fortalece no contexto da

proposição de uma nova agenda de desenvolvimento, que visava à redução das desigualdades

sociais e regionais em saúde, a potencialização dos processos de planejamento, pactuação e

negociação entre os gestores, buscando fortalecer os acordos intergovernamentais nos

processos de organização político-territorial do SUS (GUIMARÃES, 2012; PEREIRA, 2009).

O Pacto pela Saúde buscou preservar os princípios do SUS dispostos na Constituição e

nas Leis Orgânicas da Saúde (Lei 8.080/90 e 8.142/90), prevendo estratégias que afirmam

esses princípios, e é a partir deles que se construiu o Pacto, o qual contempla três dimensões:

a) Pacto pela Vida; b) Pacto em Defesa do SUS; e c) Pacto de Gestão (SCHNEIDER et al.,

2009).

O Pacto pela Vida corresponde à definição de prioridades, que se traduzem em

objetivos e metas de melhorias das condições de saúde da população, a serem acordadas pelas

três esferas de governo. O Pacto em Defesa do SUS objetiva discutir a questão da saúde

Page 33: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

32

pública e da repolitização do SUS, relembrando os princípios e diretrizes da Reforma

Sanitária e salientando os direitos garantidos na Constituição, buscando consolidar a política

pública de saúde brasileira como uma política de Estado. Por fim, o Pacto de Gestão

estabelece diretrizes para o aprimoramento da gestão do SUS em oito aspectos:

descentralização, regionalização, financiamento, planejamento, Programação Pactuada e

Integrada (PPI), regulação, participação e controle social, gestão do trabalho e educação na

saúde (LIMA et al., 2012; MACHADO et al., 2009).

Por meio do Pacto pela Saúde foram criadose os Colegiados de Gestão Regional

(CGR) como instâncias de pactuação intergovernamentais para operacionalizar o

planejamento e a gestão nas regiões de saúde, podendo favorecer a constituição de objetivos

compartilhados e o estabelecimento de uma lógica voltada para as necessidades regionais de

saúde na provisão dos serviços (VIANA et al., 2010).

Do ponto de vista de sua inclusão nas agendas dos governos estaduais, para Lima et al.

(2012) a adesão ocorreu de modo gradual no período entre 2006 e 2010. Em 2006 apenas o

Tocantins formalizou sua adesão; em 2007, quatorzes estados e em 2008, nove estados. Piauí

(2009) e Amazonas (2010) foram os últimos a aderir. Da mesma forma, os acordos

formalizados pelos municípios também apresentaram ritmos diversos. De acordo com Lima et

al. (2012), no que se refere à situação de adesão municipal ao Pacto, em Setembro de 2010, a

Paraíba se encontrava como um dos Estados cuja proporção média de adesão municipal estava

entre 50% e 70%.

Essa implantação do Pacto pela Saúde de modo gradual nos estados sugere a

multiplicidade das experiências de descentralização e regionalização em curso no país. Lima

et al. (2012) relata alguns dos elementos decisivos na implantação do Pacto, quais sejam:

experiência acumulada no planejamento governamental, as formas de organização e a cultura

intergovernamental adquirida pelas secretarias estaduais e municipais de saúde e instâncias

colegiadas no estado, situações de ingerência do poder político eleitoral em certas regiões e

pesadas heranças centralizadoras em alguns estados da federação, como refletem as

experiências dos estados do Nordeste. Além desses, a concentração de recursos e tecnologias

em algumas regiões, principalmente em áreas metropolitanas ou sede de capitais, em sua

maioria situadas no litoral e as desigualdades sócio-econômicas das regiões tensionaram a

consolidação do Pacto.

Como refere Lima et al. (2012a), apesar de o Pacto representar um movimento de

inflexão nos mecanismos de coordenação federativa na política de saúde brasileira, com

valorização das esferas estaduais e municipais e a criação de novas instâncias regionais,

Page 34: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

33

permanecem alguns desafios, sendo as estratégias e instrumentos propostos no âmbito do

Pacto insuficientes per se para prover os avanços necessários à condução da descentralização

e da regionalização da saúde nos estados brasileiros (LIMA et al., 2012a).

Diante desses avanços e retrocessos na descentralização da saúde, da

responsabilização da gestão do SUS e dos dilemas financeiros, sociais e políticos para a

efetivação da regionalização solidária, novas diretrizes foram formuladas, a partir de 2010,

visando estimular a configuração de redes de atenção à saúde e o processo de regionalização

nos estados brasileiros (GUIMARÃES, 2012).

Em 2011, o Decreto Presidencial nº 7.508 deu novas diretrizes à regionalização do

SUS incorporando um conceito mais estruturado de redes de atenção à saúde, novos

instrumentos de planejamento regional, como o Coap e o Mapa da Saúde, definindo o rol

mínimo de ações, procedimentos e tecnologias oferecidos pelo SUS. A grande mudança na

política nacional de saúde foi a regulamentação da Lei 8.080 de 1990 mediante a publicação

do Decreto nº 7.508. Este documento e seus desdobramentos normativos trouxeram uma

importante reformulação do planejamento regional do SUS, e seus dispositivos introduziram

mudanças relacionadas a definição de região de saúde, aos instrumentos de planejamento e

aos mecanismos de articulação federativa, consolidando a região de saúde como espaço

privilegiado para a indução e integração das políticas, expansão do financiamento,

estruturação das redes temáticas e garantia da integralidade no acesso ao sistema

(ALBUQUERQUE, 2013).

Para Albuquerque (2013) essas mudanças nas diretrizes nacionais, considerando a

trajetória política de saúde no Brasil, indicam a importância crescente da estratégia de

regionalização para o planejamento e gestão do SUS, ao mesmo tempo em que evidenciam o

aumento da complexidade técnica, normativa e política dessa estratégia.

Nota-se no quadro 3, que o Decreto nº 7.508/11 representa um progresso normativo

para as diretrizes de regionalização do SUS se comparado ao Pacto pela Saúde, possibilitando

avanços técnicos, políticos, normativos e informacionais para o processo de regionalização

nos estados.

Page 35: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

34

Quadro 3 – Diretrizes Nacionais de regionalização do Sistema Único de Saúde: definições, critérios, objetivos, responsáveis, divisões e instrumentos

(Brasil, 2006-2011)

(continua)

Conceitos Pacto pela Saúde (2006) Decreto 7508 (2011)

Definição de Região

Recortes territoriais inseridos em espaços geográficos contínuos, não

necessariamente coincidentes com a divisão administrativa do estado.

Elementos: limites geográficos dos territórios municipais envolvidos,

população usuária, fluxos assistências, ações e serviços de Atenção

Básica, Média e Alta Complexidade e Vigilância Sanitária,

Colegiados de Gestão Regional.

Espaço geográfico contínuo constituído por agrupamento de municípios

limítrofes.

Elementos: limite geográfico dos territórios municipais envolvidos,

população usuária, fluxos assistenciais, redes de atenção à saúde com

rol mínimo de ações e serviços (Atenção Primária em Saúde,

Urgência e Emergência, atenção psicossocial, ambulatorial

especializada e hospitalar e Vigilância Sanitária), Comissão

Intergestores Regional (CIR).

Objetivos da

regionalização

Atender as demandas das populações dos municípios a elas vinculados,

garantindo o acesso, a equidade e a integralidade do cuidado com a

saúde local. Diminuir as desigualdades socioespaciais de

universalização da saúde, superar os limites do modelo de

descentralização municipalista da saúde e fortalecer o papel dos

estados no planejamento e na coordenação/cooperação

intergovernamental.

Compatibilizar e integrar o processo de planejamento dos entes

federativos. Garantir segurança jurídica para as relações

intergovernamentais na região de saúde (Contrato Organizativo –

COAP). Integrar a organização, o planejamento e a execução das

ações e serviços de saúde, por meio da conformação das Redes de

Atenção à Saúde. Associar planejamento e orçamento: região como

referência para transferência de recursos entre os entes federados.

Diminuir as desigualdades socioespaciais de universalização da saúde,

superar os limites do modelo de descentralização municipalista da saúde

e fortalecer o papel dos estados no planejamento e na

coordenação/cooperação intergovernamental. Governança das redes.

Metas e resultados.

Critérios para a

regionalização

Identidades culturais, econômicas e sociais, características

epidemiológicas, existência de redes nas áreas de comunicação,

infraestrutura, transportes e saúde. Deve estar garantido o

desenvolvimento da Atenção Básica, da assistência e parte da média

complexidade, assim como as ações básicas de vigilância em saúde.

Considera as demandas da população. Cooperação

intergovernamental.

Identidades culturais, econômicas e sociais, características

epidemiológicas e redes de comunicação e transportes compartilhadas.

Deve conter, no mínimo, ações e serviços de: atenção primária;

urgência e emergência; atenção psicossocial; atenção ambulatorial

especializada e hospitalar; e vigilância em saúde. Critérios de

acessibilidade e escala.

Page 36: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

35

Quadro 3 – Diretrizes Nacionais de regionalização do Sistema Único de Saúde: definições, critérios, objetivos, responsáveis, divisões e instrumentos

(Brasil, 2006-2011)

(conclusão)

Conceitos Pacto pela Saúde (2006) Decreto 7508 (2011)

Desenhos regionais

As Regiões de Saúde podem assumir diferentes desenhos, intraestaduais

e interestaduais. “Regionalização viva”

As Regiões de Saúde podem assumir diferentes desenhos, intraestaduais

e interestaduais, desde que garantam a oferta do rol mínimo de ações e

serviços de saúde (critérios de regionalização; referência: Renases e

Rename). Não mais existindo diferentes escalas (macro e micro) de

regionalização.

Instrumentos de

planejamento regional

Termos de compromisso de gestão

PPI, PDR, PDI

Indicadores de monitoramento

Complexos reguladores

Financiamento por blocos (Atenção Básica, atenção de Média e Alta

Complexidade, Vigilância em Saúde, Assistência Farmacêutica e Gestão

do SUS)

Normas internacionais (regiões de fronteira)

Contrato Organizativo de Ação Pública de Saúde (COAP)

Planos de Saúde contendo metas de saúde (planejamento integrado dos

entes)

Mapa de Saúde (federal, estadual e regional)

Renases

Rename

Índice de Desempenho do SUS (IDSUS)

Sistema logístico das redes (transporte sanitário e regulação)

Financiamento por blocos e por componentes das redes de atenção à

saúde

Normas internacionais (regiões de fronteira)

Responsáveis pela

regionalização

Secretarias Estaduais de Saúde

Secretarias Municipais de Saúde

Colegiados de Gestão Regional

CIB

Comissão Intergestores Tripartite (CIT) (no caso de regiões nas áreas

de fronteira internacional)

Secretarias Estaduais de Saúde

Secretarias Municipais de Saúde

Comissão Intergestores Tripartite (CIT) (no caso de regiões nas áreas

de fronteira internacional; na discussão das diretrizes de regionalização)

Comissão Intergestores Bipartite (CIB)

Comissão Intergestores Regionais (CIR)

Fonte: adaptado de Albuquerque (2013, p.131-132)

Page 37: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

36

Em relação à definição de região de saúde, o Decreto avança no que se refere as regras

do Pacto ao incorporar as redes de atenção um rol mínimo de ações e serviços de saúde como

elementos indispensáveis na definição das regiões de saúde. Quanto aos objetivos da

regionalização, o Pacto focalizava: demandas de saúde da população, integralidade,

diminuição das desigualdades socioespaciais em saúde e no fortalecimento do papel dos

estados no planejamento e na coordenação e cooperação intergovernamental.

Albuquerque (2013) refere que o Decreto nº 7.508, além de considerar os objetivos

propostos pelo Pacto, os amplia, ao focar na compatibilização e integração do processo de

planejamento em saúde, levando em conta as diretrizes da política nacional, estadual e

municipal; a segurança jurídica na relação intergovernamental regional, o Coap; na integração

das ações e serviços em redes de atenção à saúde e no fortalecimento da coordenação das

redes, destacando o papel destas no planejamento regional do SUS, devendo ser estruturadas e

pactuadas regionalmente; na associação entre planejamento e orçamento, tendo a região de

saúde como referência para a transferência de recursos; e na condução da política regional

baseada em resultados e metas.

Em relação aos critérios de regionalização, o Pacto pela Saúde considera as

identidades culturais, sociais, epidemiológicas e econômicas regionais, as redes de

comunicação, infraestrutura e transporte, as demandas da população, e não apenas a oferta de

serviços de saúde, e finalmente, a necessidade de cooperação intergovernamental. Já o

Decreto leva em conta além desses critérios, um rol mínimo de ações e serviços, que inclui

atenção primária, urgência e emergência, atenção psicossocial, ambulatorial especializada e

hospitalar e vigilância em saúde, definidas com base na Relação Nacional de Ações e

Serviços em Saúde – Renases e na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – Rename.

Em relação aos desenhos regionais, o Pacto tornou livre a divisão regional ao

considerar que as regiões de saúde podem assumir a conformação de regiões intra e

interestaduais. O Decreto relativiza esse desenho regional ao condicionar a existência de

regiões de saúde ao cumprimento dos critérios mínimos de oferta de ações e serviços

assistenciais, tomando como referência a Renases e Rename.

No que se refere aos instrumentos de planejamento regional, o Decreto nº 7.508/11

modificou-os radicalmente, mantendo apenas os grandes blocos de financiamento, e

introduzindo elementos como as redes de Atenção, o Mapa da Saúde e o Coap, não definidos

no Pacto.

Para Albuquerque (2013) essa mudança visa compatibilizar e coordenar as políticas

dos entes federados nas regiões e vincular as metas e os investimentos às necessidades de

Page 38: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

37

saúde da população. A autora considera a proposta de construção do Mapa, um dos grandes

avanços trazidos pelo Decreto, uma vez que este se constitui instrumento essencial para o

planejamento regional integrando espacialmente um conjunto de informações estratégicas

sobre a conformação do sistema de saúde e outras necessárias à compreensão das realidades

locais, devendo facilitar a consulta e análise dos dados mapeados por município, região de

saúde, estados e macrorregiões brasileiras.

Albuquerque (2013) ainda chama a atenção do fato de o mapa de saúde só ter

começado a ser elaborado no âmbito da política nacional a partir da segunda década dos anos

2000, o que pode ser considerado um atraso inexplicável devido a grande importância

estratégica desse documento para o planejamento da universalização da saúde, as

possibilidades tecnológicas de mapeamento já disponíveis no Brasil e no mundo na década de

1990, e a produção de mapeamentos pelas esferas municipais e estaduais para o planejamento

e organização do sistema regional, nos anos 2000. Viana et al. (2007) constata que o território

não foi objeto principal da política nacional para a implantação do SUS, o que corrobora com

o fato deste atraso na elaboração do mapa da saúde.

Outra grande inovação introduzida pelo Decreto nº 7.508/11 foi o Coap. O Pacto pela

Saúde se referia ao Termo de Compromisso de Gestão, por meio do qual a adesão ao Pacto

era feita e compreendia atribuições e responsabilidades sanitárias, objetivos e metas de

melhoria associados a um conjunto de indicadores voltados para o monitoramento e avaliação

do Pacto de Gestão e pela Vida, havendo um modelo específico para cada ente federativo

(LIMA et al., 2012).

O Coap trata-se de um instrumento de gestão compartilhada, dotado de segurança

jurídica, transparência e solidariedade entre os entes federativos, com a função de definir entre

eles as suas responsabilidades no SUS, permitindo, a partir de uma região de saúde, uma

organização dotada de unicidade conceitual, com diretrizes, metas e indicadores, todos

claramente explicitados e que devem ser cumpridos dentro de prazos estabelecidos, a partir de

acordos jurídicos firmados entre os entes federados. O Coap deverá concretizar esses acordos

intergovernamentais regionais, estabelecendo responsabilidades sanitárias e financeiras de

cada ente federado para o cumprimento das metas estabelecidas para a região de saúde

(BRASIL, 2011b)

Outras inovações trazidas pelo Decreto em relação ao Pacto foram as redes de atenção

e a Renases e Rename. Em relação às redes, estas junto à região de saúde, tornaram-se as

principais referências para as transferências de recursos. No caso das redes, os recursos

federais são transferidos aos estados e municípios conforme definidos nas portarias

Page 39: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

38

específicas das redes temáticas e seus planos de ação nos estados. Em relação às Renases e

Rename, estas definem o que está coberto pelo SUS e em que condições e criam parâmetros

para os conceitos de integralidade da atenção e de acesso universal e igualitário aos serviços

(ALBUQUERQUE, 2013).

No que se refere aos responsáveis pela regionalização, o Pacto pela Saúde inovou ao

criar um espaço específico para pactuação intergovernamental, o CGR. O Decreto nº 7.508

manteve esse espaço, mudando a nomenclatura para Comissão Intergestores Regional (CIR).

5.2 O processo de regionalização da saúde na Paraíba segundo as categorias de análise

Os resultados e discussões nesta seção serão apresentados considerando os conceitos

de definição de região, objetivos, critérios e responsáveis pela regionalização, admitidas neste

estudo como categorias, analisadas segundo os elementos preconizados no Pacto pela Saúde e

no Decreto 7.508/11, seguindo o percurso metodológico definido.

5.2.1 Definição de região

Para a análise desta categoria utilizaram-se os documentos específicos do âmbito da

SES-PB: PDR (2008); PES 2008-2011, Resolução de CIB nº 203/11 e RAG (2013). Os

demais documentos não foram considerados por não apresentarem registros ou elementos que

permitem abordar esta categoria.

O PDR 2008 e o PES 2008-2011 revelaram que a Paraíba apresenta uma forte

concentração territorial com grande parte da população reunida nas duas principais e maiores

regiões geo-administrativas do Estado, João Pessoa e Campina Grande, principalmente na

capital. Esses dois municípios respondiam por pouco mais de 29,4% da população do Estado

em 2005. Segundo Brandão et al. (2012), João Pessoa e Campina Grande concentram a maior

parte dos serviços de saúde, absorvendo demandas provenientes de todo o Estado.

Nos termos do Art. 7º da Lei nº 8.080/90, a descentralização político-administrativa,

com direção única em cada esfera de governo, foi concebida dando “ênfase na

descentralização dos serviços para os municípios”. Tal estratégia de descentralização significa

uma tentativa de transformar os municípios em unidades gestoras de fato, além da tentativa de

promover a aproximação da identificação e da busca de soluções para os problemas de saúde

com os lugares onde eles acontecem (ANDRADE, 2003). A municipalização sugere também

que a proximidade do gestor de saúde local pode facilitar a identificação das reais

Page 40: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

39

necessidades de saúde da população, ficando clara uma preocupação com uma distribuição

espacial da oferta de serviços de saúde mais igualitária, que atenda a uma parcela maior da

população e de forma mais condizente com suas necessidades.

Porém Simões (2002) adverte que em países periféricos, como o Brasil, a provisão de

serviços de saúde enfrenta, muitas vezes, uma inadequação da oferta, com uma desigual

distribuição. Pela alta concentração na distribuição de renda e um desequilíbrio regional que

se reflete tanto nos níveis de infraestrutura física como econômica e social, o Brasil apresenta

uma concentração na oferta de serviços de saúde nos grandes centros urbanos (SIMÕES,

2002).

Além disso, verifica-se uma concentração de profissionais, sobretudo médicos, nas

cidades de maior porte deixando desassistidas as cidades pequenas, as áreas rurais, as

comunidades mais remotas e as regiões mais pobres das grandes cidades. Em geral, os

segmentos mais pobres e desprotegidos da população são os mais atingidos por esta situação

de insegurança assistencial em saúde (CAMPOS; MACHADO; GIRARDI, 2009).

O Ministério da Saúde (Brasil, 2007) preconiza, que os municípios devem estar

agrupados em microrregiões ou regiões de saúde definidas de acordo com características

socioeconômicas e culturais, considerando a existência de redes de comunicação, infra-

estrutura, transportes e saúde. Além disso, segundo o Pacto pela Saúde/2006 e Decreto

7.508/11, para a definição de região de saúde devem ser considerados os limites geográficos

dos territórios municipais envolvidos, a população usuária, fluxos assistenciais e Colegiados

de Gestão Regional/ CIR. Note-se que no conjunto de documentos analisados não se

encontram registros de análise dessas características para a definição de regiões no

Estado, nem a adoção de um alinhamento teórico-conceitual acerca de região de saúde, que

balize a organização do processo de regionalização no Estado.

Ainda de acordo com o PDR (2008) e o PES 2008-2011, do total de 223 municípios

existentes na Paraíba, apenas nove apresentam população com mais de 50 mil habitantes, com

uma forte concentração nas maiores cidades.

A Paraíba foi palco de uma intensa municipalidade, expressa na configuração dos seus

223 municípios, que conforme tabela 1, a maioria é de pequeno porte, conforme IBGE (2014).

Page 41: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

40

Tabela 1 - Porte populacional dos municípios do Estado da Paraíba

Porte populacional Número de municípios %

< 10 mil habitantes 136 60,99

</= 10 mil e < 20 mil habitantes 55 24,66

</= 20 mil e < 50 mil habitantes 22 9,87 2,69 </= 50 mil e < 100 mil habitantes 6

</= 100 mil e < 500 mil habitantes 3 1,35

>/= 500 mil habitantes 1 0,45

Total 223 100,00 Fonte: IBGE (2014)

De acordo com Pereira (2009), a municipalização desencadeada pela Constituição

Federal de 1988 levou a um “boom” do número de municípios, muitos deles de pequeno

porte. Entre 1988 e 1997, um total de 1328 novos municípios foi criado no Brasil e hoje, mais

de 75% dos municípios brasileiros têm menos de 25.000 habitantes.

Tal fato é destacado ainda pelo autor como complexo devido à imensa quantidade de

municípios de pequeno porte, incapazes financeira e administrativamente, de se

responsabilizar pela oferta de serviços aos seus munícipes.

Tomio (2005) ressalta que a Constituição de 1988 atribuiu uma autonomia plena aos

municípios, elevando-os ao status de ente federativo, com prerrogativas invioláveis por

qualquer nível mais abrangente de governo, situação peculiar não identificável em outros

países organizados em uma federação. Afirma ainda que a descentralização política foi

acompanhada do mais expressivo processo de fragmentação dos municípios brasileiros, sendo

uma realidade singular, não existindo qualquer referência contemporânea a uma fragmentação

interna tão acentuada na literatura internacional. Além disso, quando comparadas à ocorrência

de processos similares em outros países, as emancipações municipais no Brasil distinguem-se

porque são muito mais numerosas, concentram-se em áreas pouco urbanizadas e não são

ordenadamente planejadas pelos níveis de governo mais abrangentes.

Segundo o PDR (2008) e o PES 2008-2011, o Estado divide-se em 12 Gerências

Regionais de Saúde, que correspondem à organização geo-administrativa do Estado, 25

Regiões de Saúde, e 04 Macrorregiões.

Em 2011, a Resolução de CIB nº 203/11 reorganiza o Estado, reduzindo para 16 o

número de regiões de saúde, considerando que para a conformação de uma Região de Saúde,

o conjunto de municípios deverá desenvolver a capacidade resolutiva assistencial de cada

região, objetivando a garantia do acesso às ações e serviços de saúde de forma integral em

Page 42: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

41

todos os níveis de atenção, que envolvem as ações de promoção, prevenção, tratamento e

reabilitação. No figura 1 observa-se essa nova divisão.

Figura 1- Distribuição espacial da Paraíba segundo as 16 Regiões de Saúde

FONTE: Paraíba (2012)

Apesar dessa reorganização das regiões, observa-se que não foram contemplados neste

documento os elementos considerados nesta categoria para a definição de uma região de

saúde, a saber: limites geográficos dos territórios municipais envolvidos, população usuária,

fluxos assistenciais e Colegiados de Gestão Regional/ Comissão Intergestores Regional

(CIR).

De acordo com a ENSP/FIOCRUZ e FM/USP (2010), em um relatório realizado na

Paraíba em 2010, a definição de regiões no Estado foi baseada em critérios convencionais,

entre os quais a contiguidade geográfica e a auto-suficiência na prestação de serviços até

determinado nível de complexidade, e o desenho das regiões não está ancorado por políticas

de desenvolvimento regional.

Tal situação é identificada no momento da análise desta categoria, visto que nos

documentos em si não constam a adoção de um conceito de região de saúde que oriente o

desenvolvimento da política de regionalização no Estado. Reis (2010) avalia que a definição

de regiões de saúde é um processo chave para a regionalização.

Essa indefinição do que seja região de saúde para a Paraíba, pode refletir na

identificação de algumas incoerências no registro das informações nos documentos. No

momento da análise notou-se que no PDR (2008) foi referido que o território estadual ficou

Page 43: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

42

dividido em 25 Regiões de Saúde e 12 Gerências Regionais de Saúde. No PES 2008-2011, o

Estado estava dividido em 12 regiões geoadministrativas, mesma base geográfica adotada

pela SES-PB, para instalação das chamadas Gerências Regionais de Saúde-GRS. No RAG

2013 é referida a existência de 12 regiões de saúde no Estado. Tais incoerências trazem uma

dificuldade para uma melhor análise e discussão acerca desta categoria.

5.2.2 Objetivos da Regionalização

Para a análise desta categoria utilizaram-se os documentos: PDR (2008); PES 2008-

2011; RAG (2011) e Resolução de CIB nº 203/11, os quais contemplam elementos referentes

aos objetivos da regionalização.

Foi observada conformidade no PDR (2008) e na Resolução de CIB nº 203/11 no que

se refere à redução das desigualdades sociais e territoriais como objetivo da regionalização da

saúde.

O Pacto pela Saúde (2006) buscou trazer mudanças importantes na execução do SUS

ao reafirmar a condição da regionalização como elemento basilar do sistema, inovando em

relação aos seus objetivos ao focar as demandas de saúde da população, a integralidade, a

diminuição das desigualdades socioespaciais em saúde e o fortalecimento do papel dos

estados no planejamento e na coordenação e cooperação intergovernamental. O Decreto

7.508/11 veio fortalecer esses objetivos, conferindo maior complexidade técnica, política e

normativa ao processo de regionalização (PEREIRA, 2009; ALBUQUERQUE, 2013).

Esses pontos citados são fundamentais no processo de regionalização, no entanto, nos

documentos analisados apenas a diminuição das desigualdades sociais e territoriais é

mencionado como objetivo principal. A questão da valorização do papel do estado é descrita

no PDR (2008) muito vagamente, quando refere como objetivo da regionalização, a

potencialização do processo de descentralização, fortalecendo estados e municípios.

Albuquerque (2013) corrobora com o Pacto e Decreto ao apontar como objetivos

centrais da regionalização do SUS: organizar redes assistenciais hierarquizadas e

regionalizadas; promover negociações e relações intergovernamentais mais cooperativas e

coordenadas e o planejamento integrado nas regiões de saúde; valorizar o papel dos estados

no planejamento; diminuir as desigualdades socioespaciais no acesso aos sistemas de saúde e

incorporar as diversidades regionais nas políticas de saúde.

Nessa perspectiva, o PES 2008-2011 traz a regionalização como uma proposta de

organização que busca o desenvolvimento da região de saúde, com capacidade para promover

Page 44: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

43

a efetiva organização e oferta de serviços com resolubilidade e qualidade preconizada pelo

Sistema Único de Saúde. O RAG 2011 apresenta que a Secretaria de Estado da Saúde vem

realizando movimentos de regionalização focados nas redes de atenção à saúde, com o

objetivo de potencializar as regiões de saúde do Estado.

Esses dois documentos demonstram que a Paraíba esta priorizando o

desenvolvimento e a potencialização da região de saúde como objetivos da

regionalização. Entretanto, há alguns entraves na consolidação desses objetivos, uma vez que

na categoria anterior referente à definição de região foi identificado que o Estado não adotou

nenhum conceito de região de saúde que norteio o processo de regionalização. Tal aspecto

sugere que o Estado vem tentando implantar a regionalização, sem um conceito de região de

saúde efetivamente consolidado e atualizado.

Pelo fato dos documentos analisados nesta categoria não apresentarem clareza nem

completude em relação aos objetivos da regionalização, pode-se inferir que a Paraíba

demonstra uma fragilidade em conformar seus objetivos no desenvolvimento da política de

regionalização no Estado. A importância de se definir os objetivos se justifica pelo fato de ser

um dos elementos que compõem a estrutura necessária para sua efetivação, funcionando como

um parâmetro que possa melhor conduzir o gestor no processo de tomada de decisões e no

melhor direcionamento das ações.

5.2.3 Critérios para a regionalização

Foram analisados os documentos: PDR (2008), PES 2008-2011; PES 2012-2015;

RAG 2011, 2012 e 2013. Esta categoria assume o significado de padrões a serem utilizados

como base para a conformação da regionalização no Estado. Considera-se como critérios para

a regionalização: as identidades culturais, econômicas e sociais, as características

epidemiológicas, a existência de redes nas áreas de comunicação e transporte e de ações de

Atenção Primária e de Vigilância em saúde.

Os critérios utilizados nesta categoria perpassam aquilo que é essencial para a

regionalização da saúde, pois considera as múltiplas realidades existentes no país, de acordo

com o que é preconizado nos documentos normativos do Ministério da Saúde. Para Viana et

al. (2008), a regionalização é uma delimitação do território usado, feita a partir de critérios

técnicos e políticos que buscam coerência nas diferenciações espaciais e territoriais e que tem

por objetivo a instrumentalização política da dinâmica territorial.

Page 45: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

44

Nesse contexto, identificaram-se no PDR (2008) os seguintes critérios adotados na

Paraíba para a conformação das regiões de saúde: contiguidade geográfica, considerando a

infraestrutura de transporte compartilhada no território e o sistema de comunicação existente,

orientado pela flexibilidade nos espaços intermunicipais, visando atender as diferenças

regionais; possuir uma rede de serviços com capacidade comprovada para garantia do acesso

às ações e serviços de média e alta complexidade nas Macrorregiões; considerar o perfil de

morbidade e mortalidade para Planejamento Regional; buscar acesso no município mais

próximo; e favorecer a ação cooperativa e solidária entre os gestores, organizados nos

Colegiados de Gestão Regional.

Albuquerque (2013) relata que os critérios para a delimitação das regiões trazidos pelo

Pacto pela Saúde englobam as identidades culturais, econômicas e sociais, as características

epidemiológicas, a existência de redes de comunicação e transporte, além da infraestrutura

assistencial da saúde. Prevê as ações de Atenção Básica, parte da média complexidade e as

ações básicas de vigilância em saúde. O Pacto cita ainda a demanda de saúde da população

como critério importante de regionalização, além da capacidade da oferta de serviços. Um

critério fundamental é a existência de cooperação intergovernamental entre estado e

municípios que compões a região de saúde. Esses critérios são reforçados com a propositura

do Decreto 7.508/11, além de incluir outros, não considerados neste estudo.

O PDR (2008) analisado não faz referência aos aspectos sócio-econômicos e culturais

enquanto critérios para a regionalização e não contempla as ações de atenção à saúde

conforme mencionadas por Albuquerque (2013) e referidas pelo Pacto. Entretanto, o

documento ressalta o significado do perfil epidemiológico para que este seja considerado nas

questões do Planejamento Regional, orientado pelo princípio da flexibilidade que consiste em

respeitar as diversidades regionais próprias, conferindo um caráter dinâmico ao processo,

onde as regras estabelecidas podem diferenciar de acordo com a realidade loco-regional, e que

está em consonância com os documentos normativos do Ministério da Saúde que englobam as

características epidemiológicas como um dos critérios para a delimitação das regiões.

Além disso, quanto à existência de cooperação intergovernamental mencionada por

Albuquerque (2013), o documento apresenta os Colegiados de Gestão Regional (CGR)

enquanto espaços que favoreçam a ação cooperativa e solidária entre os gestores.

Lima et al. (2012) afirmam que os CGR enquanto instâncias privilegiadas para a

identificação de problemas, definição de prioridades e soluções para a organização da rede

assistencial, podem favorecer a constituição de objetivos compartilhados e o estabelecimento

de uma lógica voltada para as necessidades regionais de saúde na provisão dos serviços, se

Page 46: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

45

constituindo enquanto canais de negociação e decisão intergovernamental, visando o

fortalecimento da governança regional do SUS.

Reis (2010) reforça esse conceito ao referir que a gestão compartilhada constitui

espaços de tomada de decisão em uma rede integral de serviços de saúde, por meio dos

Colegiados de Gestão Regional, distribuindo as responsabilidades entre os gestores, mediante

a descentralização das estruturas gerenciais, de coordenação no processo da regionalização e

de ferramentas formais de incentivos a pactuações entre gestores.

Nos demais documentos analisados (PES 2008-2011; PES 2012-2015; RAG 2011,

2012 e 2013) não estão descritos critérios para a regionalização em si, porém em seu conteúdo

trazem aspectos referentes à análise do perfil demográfico e epidemiológico, bem como ao

acesso as ações e serviços de saúde no Estado, que conformam alguns dos elementos trazidos

pelo Pacto e Decreto em relação aos critérios, porém não estão em total conformidade com

tais normativas, que norteiam este estudo.

Os achados corroboram com Albuquerque (2013) que relata sobre o processo de

regionalização nos estados. Para o autor este seguiu critérios diversificados, conforme as

realidades e acordos políticos locais e a grande heterogeneidade entre as regiões, levando a

uma baixa capacidade de indução federal sobre as especificidades desse processo.

Viana et al. (2008) afirmam que no Brasil, as divisões regionais produzidas, em regra

geral, solicitadas pelo Estado para servirem à formulação e implementação de políticas

públicas, subsidiam cada recorte com uma variedade de critérios que terminam por prejudicar

a efetividade das políticas propostas e acirrar as desigualdades sócio-territoriais. Afirma ainda

que um dos principais desafios para o desenvolvimento e fortalecimento do SUS é pensar a

regionalização a partir de novos critérios e conteúdos que deem conta da realidade do Brasil e

que não engessem as políticas, os acordos e compromissos intergovernamentais em um único

formato.

Outro aspecto importante a ser considerado nesta categoria é que em nenhum dos

documentos analisados são citados os critérios utilizados para a redivisão das regiões de saúde

quando em 2011 passou de 25 para 16 regiões no Estado.

Diante de todos os pontos levantados e discutidos até o momento nesta categoria de

critérios para a regionalização, sugere-se que estes aspectos citados são incipientes no

processo regulatório da política de regionalização no Estado.

Page 47: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

46

5.2.4 Responsáveis pela regionalização

Foram analisados os documentos: PDR (2008); PES (2008-2011; 2012-2015) e RAG

(2011 e 2012), nos quais se pretendeu verificar o grau de comprometimento/ envolvimento do

gestor estadual no processo de regionalização de forma concreta, partindo da realidade do

Estado.

Ao discorrer sobre essa temática, Pereira (2009) refere que conduzir a regionalização é

uma decisão do gestor estadual e um compromisso assumido pela Secretaria de Saúde do

Estado com a direção do governo. Entende a regionalização como um princípio estruturador

do sistema de saúde, que visa estabelecer uma base territorial para a descentralização das

ações e serviços, utilizando, para isso, três estratégias: 1) Elaboração, implantação e avaliação

do PDR; 2) Estímulo e apoio técnico à gestão microrregional e 3) Constituição de Redes de

Atenção.

Em relação à primeira estratégia, a SES da Paraíba realizou oficinas para o

fortalecimento das regiões solidárias e cooperativas de saúde e estabelecimento do Pacto pela

Saúde em 2007, resultando na elaboração do PDR em 2008. Porém, o PDR não foi avaliado

nem atualizado, uma vez que o último disponível em ambiente virtual institucional de

domínio público data de 2008, no qual se constam ainda 25 regiões de saúde, quando se sabe

que em 2011, esse desenho foi reavaliado e reorganizado em 16 regiões, sem que o PDR fosse

reformulado. Esse achado revela que pode haver o comprometimento de uma maior

compreensão do panorama atual da regionalização na Paraíba, sugerindo que possa haver uma

não priorização do gestor estadual em: definir diretrizes, acompanhar, monitorar e avaliar o

desenvolvimento do processo de regionalização no Estado, e, no âmbito regional, realizar os

ajustes necessários aspecto que não colabora no fortalecimento do próprio planejamento e a

direcionalidade e precisão das ações.

No campo da formulação de políticas e planejamento O Pacto pela saúde (2006),

estabelece novas competências para o estado. São elas: a coordenação do processo de

regionalização, conformando o PDR, que deve expressar o desenho final de processo de

identificação e reconhecimento das regiões de saúde, em suas diferentes formas, em cada

estado.

Lima (2012) sugere que é permanente o risco de desarticulação entre os processos de

planejamento e pactuação intergovernamental nos estados, devido a pouca valorização dos

instrumentos relativos ao planejamento regional e refere que falta avançar na configuração de

Page 48: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

47

estratégias e instrumentos de planejamento que possam apoiar a conformação de sistemas

públicos de saúde regionais em diferentes recortes territoriais.

Ainda segundo o PDR (2008), a fragilidade dos processos de trabalho foi levantada

como um dos pontos mais preocupantes no que se refere à clareza das responsabilidades

inerentes a cada gestor, necessitando de uma compreensão mais clara acerca das

responsabilidades sanitárias.

O processo de descentralização no primeiro decênio de implantação do SUS, com foco

nos municípios, levou a uma intensa fragmentação e atomização do sistema. O papel do

gestor estadual foi sendo incorporado de forma gradativa na medida em que a regionalização

ganha destaque na política nacional de saúde, exigindo a participação mais efetiva dos estados

na gestão do sistema de saúde. Cabe destacar, contudo, que permanecem inúmeros desafios

para a atuação dos estados na regionalização da assistência à saúde no SUS. Um dos maiores

desafios desses tempos é alcançar a integração das ações e serviços presentes em diferentes

espaços geográficos, promovendo maior equidade no acesso ao SUS. Nesse sentido, o Pacto

pela Saúde (2006) enfatiza a regionalização como estratégia para a formação de sistemas de

saúde eficientes e de relações intergovernamentais mais cooperativas, atribuindo à instância

estadual a coordenação desse processo (PEREIRA, 2009; REIS, 2010).

Para Reis (2010), a capacidade de articulação do gestor estadual em promover o

envolvimento integral de todos os atores do planejamento regional, e em provocar o

sentimento de pertencimento regional é uma tarefa complexa, mas sem dúvida um fator

crucial para o desenvolvimento de uma regionalização cooperativa.

Em relação à segunda estratégia, estímulo e apoio técnico a gestão microrregional,

Pereira (2009) refere que um dos instrumentos potentes para a implantação de uma

regionalização cooperativa é o estabelecimento de arranjos intergovernamentais de gestão

compartilhada. Avanços nessa capacidade de gestão estão diretamente relacionados ao

fortalecimento das instancias de mediação e negociação intergestores.

No PES (2008-2011) na diretriz referente à capacidade de gestão estadual, um dos

objetivos é o fortalecimento dos CGR enquanto espaços colegiados de negociação e

pacutação do Sistema, com identificação e implementação de mecanismos e processos que

viabilizem o aprimoramento destas instâncias, cujas marcas relevantes estarão representadas

pela democratização, cooperação e solidariedade entre os parceiros. Apresenta como metas,

instrumentalizar os municípios para a organização dos CGR e reorganização da programação

das ações e serviços, necessários à resolução dos problemas de saúde e acompanhar os CGR

existentes no estado, por meio da participação estadual nas atividades desenvolvidas. No PES

Page 49: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

48

(2012-2015), aparecem como metas para que se desenvolvam mecanismos de viabilização da

reorganização da gestão do SUS na Paraíba, o apoio à estruturação das CIR no estado e o

reconhecimento e fortalecimento das instancias legítimas de discussão e pactuação do SUS,

como a CIR.

O RAG 2012 reforça essa gestão compartilhada ao referir que o trabalho desenvolvido

neste ano se conformou na realização de prioridades de ações de forma intersetorial, com o

fortalecimento do processo da regionalização e da articulação interfederativa.

Em relação à terceira estratégia, constituição de Redes de Atenção, a SES-PB se

encontra ainda incipiente ao descrever de forma tímida ainda no RAG (2011) e no PES 2012-

2015 que o estado vem realizando um movimento de organização das Redes de Atenção à

Saúde, de forma articulada com as Secretarias Municipais de Saúde, a partir das Regiões de

Saúde no estado, na perspectiva de desconstruir o processo histórico da oferta das ações e serviços

de saúde se concentrar na capital, João Pessoa, e em Campina Grande, segunda maior região do

estado, no sentido de desconcentrar esta oferta em favor de outras regiões.

Diante dos pontos levantados e discutidos nesta categoria é possível afirmar que os

documentos analisados sintetizam de maneira insuficiente as atribuições do Estado em relação

ao processo de regionalização, enfrentando limitações relativas à elaboração,

acompanhamento e avaliação dos instrumentos de planejamento. Tais entraves comprometem

maiores avanços no processo de regionalização no estado.

5.3 Limites e potencialidades do processo de regionalização na Paraíba

Diante dos documentos analisados, perceberam-se alguns elementos em seus

conteúdos que foram classificados de acordo com as categorias de análise. Traçando-se um

panorama geral do processo de regionalização na Paraíba, foi possível identificar limites e

potencialidades desse processo. O quadro 4 faz uma ilustração dos conteúdos mais pertinentes

surgidos na análise dos dados.

Os elementos presentes nos documentos a respeito da regionalização na Paraíba não

estão em total sintonia com o arcabouço normativo, visto que apresentam algumas limitações

no que se refere a definição de região de saúde, objetivos, critérios e responsáveis pela

regionalização (Quadro 4).

Brandão et al. (2012) em seu estudo realizado à luz do Pacto pela Saúde afirmam que

o processo de regionalização na Paraíba não seguiu Instrução Normativa do Ministério da

Saúde em alguns aspectos, o que levanta questionamentos acerca das especificidades de cada

Page 50: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

49

região, as quais não foram, realmente, obedecidas; bem como dos critérios de acessibilidade e

capacidade técnica considerados para a construção das regiões de saúde e a insuficiência das

atribuições do Estado em relação à oferta e disposição dos serviços e ações de saúde.

De acordo com as achados dessa pesquisa, percebeu-se que tais entraves citados por

Brandão et. al ainda permanecem. Esses limites comprometem maiores avanços em relação a

uma melhor compreensão do histórico da regionalização no Estado, bem como o papel da

Secretaria de Estado da Saúde na condução do processo.

Reis (2010) ressalta que a condução da regionalização no SUS faz parte de uma tarefa

complexa exercida pelo estado, porque envolve negociações, consensos, distribuição de

recursos financeiros, construção e revisão de mecanismos decisórios para a condução do

processo com a participação do coletivo.

Outro limite do processo de regionalização no Estado encontra-se na importância da

utilização efetiva dos instrumentos de gestão para a consolidação da regionalização, uma vez

que estes apresentam-se fragilmente elaborados e não devidamente atualizados, não

colaborando efetivamente para proporcionar a implementação do processo de regionalização.

Tal fato corrobora Lima et al. (2012a) quando estes referem que a desarticulação entre os

processo de planejamento e de pactuação intergovernamental que possam apoiar a

conformação de sistemas de saúde regionais, é devido à pouca valorização dos instrumentos e

recursos relativos ao planejamento regional.

Outro entrave encontrado se refere à incipiência das redes de atenção no Estado. Nesse

sentido, dados da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (2015) destacam que a

dificuldade em montar redes é uma consequência da dificuldade em construir a governança

regional. Afirma ainda que é preciso avaliar como a discussão de redes de atenção à saúde

tem acontecido nos diferentes estados, com suas diversidades, tendo clareza quanto ao desafio

de tratar cada localidade de maneira única, entendendo que a rede se fará a partir do território

e não de uma definição uníssona para o Brasil.

A potencialidade encontrada está relacionada ao modo como a Paraíba enxerga os

CGR, atualmente CIR, como espaços que favorecem a ação cooperativa e solidária entre os

gestores. Albuquerque (2013) afirma que os CGR (atuais CIR) representam grande

importância no processo de regionalização e é uma das principais estratégias adotadas pelos

estados para que estes possam garantir um papel mais voltado para a coordenação, o

planejamento, a regulação e o investimento regional do SUS, favorecendo a negociação e a

coordenação regional. Além disso, com o advento do Decreto nº 7.508/11, as CIR passaram a

Page 51: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

50

ter a responsabilidade pela elaboração e negociação intergovernamental do Coap e pela

coordenação das redes regionalizadas de atenção à saúde.

Diante do exposto, é possível afirmar que, apesar da temática da regionalização da

saúde no Brasil não ser nova, a questão da regionalização ainda não conseguiu ser

amplamente implementada na Paraíba, e a Secretaria de Estado da Saúde/ SES-PB, na sua

missão de coordenar a regionalização no seu território, tem conduzido lentamente o processo

no Estado.

Page 52: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

51

Quadro 4 – Limites e potencialidades do processo de regionalização na Paraíba

(continua)

Categorias Documentos

pesquisados Aspectos identificados

Definição de Região

PDR (2008);

PES 2008-2011;

Resolução de CIB

nº 203/11;

RAG 2013

Forte concentração territorial com grande parte da população reunida nas duas principais e

maiores regiões geo-administrativas do Estado: João Pessoa e Campina Grande, principalmente

na capital;

Inexistência de um alinhamento teórico-conceitual que oriente o desenvolvimento da política

de regionalização no Estado;

Incoerências no registro das informações nos documentos;

Ausência de registro nos documentos analisados dos elementos considerados nesta categoria

para a definição de região de saúde

Objetivos da

regionalização

PDR (2008);

PES 2008-2011;

RAG 2011

Resolução de CIB

nº 203/11

A redução das desigualdades sociais e territoriais como objetivo principal da regionalização;

O fortalecimento do papel do estado recebeu pouca importância enquanto um dos objetivos

descritos nos documentos;

Pouca clareza e completude em relação aos objetivos da regionalização;

Fragilidade na conformação dos objetivos no desenvolvimento da política de regionalização no

Estado.

Critérios para

regionalização

PDR (2008);

PES 2008-2011;

PES 2012-2015;

RAG 2011, 2012

e 2013.

Contiguidade geográfica, rede de serviços com capacidade comprovada para garantia do

acesso, perfil de morbidade e mortalidade para Planejamento Regional, ação cooperativa e

solidária entre os gestores, organizados nos Colegiados de Gestão Regional;

Aspectos sócio-econômicos e culturais não considerados como critérios para regionalização;

Importância do perfil epidemiológico no Planejamento Regional;

CGR vistos como espaços que favorecem a ação cooperativa e solidária entre os gestores;

Inexistência de registros quanto os critérios utilizados para a redivisão das regiões de saúde;

Incipiência quanto aos critérios utilizados no processo regulatório da política de regionalização

no Estado.

Page 53: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

52

Quadro 4 – Limites e potencialidades do processo de regionalização na Paraíba

(conclusão)

Categorias Documentos

pesquisados Aspectos identificados

Responsáveis pela

regionalização

PDR (2008);

PES (2008-2011;

2012-2015);

RAG 2011 e 2012

PDR não atualizado;

Não priorização do gestor estadual em definir diretrizes, acompanhar, monitorar e avaliar o

desenvolvimento do processo de regionalização no Estado;

Fragilidade nos processos de trabalho dos gestores;

Incipiência no processo de constituição das Redes de Atenção à Saúde;

Fragilidade na elaboração dos instrumentos de planejamento regional;

Insuficiência no que se refere às atribuições do Estado em relação ao processo de

regionalização.

Fonte: elaborado pela autora.

Page 54: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

53

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procurou-se trazer contribuições para o fortalecimento do processo de regionalização

da saúde. Admite-se o quão complexa é esta temática, tendo em vista as desigualdades e

diversidades regionais existentes no Brasil, a abrangência das atribuições do Estado na saúde

e a multiplicidade de atores envolvidos na condução e organização da atenção à saúde.

Admite-se também os limites desta pesquisa, frente a dificuldade do acesso aos documentos

os quais não estavam integralmente disponíveis no Sistema de Apoio ao Relatório de Gestão

(SARGSUS), de acesso público.

As dificuldades não se refletiram em redefinição de caminhos, pois, considerou-se

importante examinar o panorama geral do processo de regionalização na Paraíba, sabendo-se

que a pesquisa pode compor uma base no sentido de direcionar mais estudos nesta perspectiva

e apoiar como nova referência para outros estados. .

Os documentos analisados neste estudo precisariam estar mais bem organizados e

elaborados, de maneira a orientar o processo de regionalização de acordo com o que preconiza

as normativas do MS, trazendo maior consistência desses instrumentos no que diz respeito à

definição de região, na pactuação dos critérios para a regionalização, dando mais clareza dos

seus objetivos e das atribuições do Estado. Isso apontaria para o fortalecimento das regiões de

saúde, do trabalho dos gestores e das relações intergovernamentais e fazer avançar o processo

no Estado, subsidiando e preparando para a implementação do Coap.

Diante dos aspectos apresentados neste estudo, é possível inferir que os desafios

acerca do processo de regionalização na Paraíba ainda persistem e que, sua superação

depende da vontade política do estado em assumir seu papel na condução da regionalização,

fortalecendo o planejamento e seus instrumentos regionais, promovendo uma efetiva

articulação intergestores e assumindo funções específicas para o avanço da regionalização no

Estado.

Recomenda-se também que mais estudos sejam realizados sobre este tema,

considerando que além de analisar os instrumentos norteadores da regionalização no Estado,

seja avaliado o nível de participação dos atores, para um melhor acompanhamento e condução

desse processo ainda incipiente no Estado.

Page 55: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

54

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, M. V. O enfoque regional na política de saúde brasileira (2001-2011):

diretrizes nacionais e o processo de regionalização nos estados brasileiros. 2013. Tese

(Doutorado em Medicina Preventiva) – Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo,

São Paulo, 2013.

ANDRADE, M. V. Políticas Estaduais na área de Saúde. In: ______. Minas Gerais do

Século XXI: investindo em Políticas Sociais. Belo Horizonte: BDMG, 2003. v. 3, p. x-x.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1995.

BRANDAO, I. C. A. et al. Análise da organização da rede de saúde da Paraíba a partir de

modelo de regionalização. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, João Pessoa, v. 16, n. 3,

p. 347-352, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.023, de 6 de novembro de 1996. Dispõe sobre

a NOB 01/96 – Norma Operacional Básica do SUS. Brasília, DF, 6 nov. 1996. Disponível em:

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1996/prt2203_05_11_1996.html>. Acesso em:

20 jan. 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Departamento de Apoio à

Descentralização. Coordenação-Geral de Apoio à Gestão Descentralizada. Diretrizes

operacionais dos Pactos pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão. Brasília: 2006.

Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/PactosPelaVida_Vol1DiretOperDefesaSUSeGesta

o.pdf. Acesso em 03 de out. 2014.

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Legislação Estruturante do SUS.

Brasília: CONASS, 2007. v.12. Disponível em: <

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/colec_progestores_livro12a.pdf>. Acessível em:

29 abr. 2015.

BRASIL. Decreto nº 7508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de

setembro de 1990. Brasília, 2011a. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/D7508.htm>. Acesso em

09 set. 2014.

BRASIL.. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Comitê gestor do decreto 7508 –

ge coap. Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde – Brasília, 2011b. Disponível

em:< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/contrato_organizativo_acao_publica_saude.pdf> .

acesso em: 04 maio 2015.

CAMPOS, F. E. de; MACHADO, M. H.; GIRARDI, S. N. A fixação de profissionais de

saúde em regiões de necessidades. Divulgação em Saúde para Debate, Rio de Janeiro, n. 44,

p. 13-24, maio 2009. Disponível em: http://www.conasems.org.br/files/Artigo_Campos.pdf.

Acesso em: 01/05/2015.

Page 56: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

55

DOURADO, D. A. Regionalização e federalismo sanitário no Brasil. 2010. Dissertação

(Mestrado) – Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo. Departamento de Medicina

Preventiva, São Paulo, 2010.

DOURADO, D. A.; ELIAS, P. E. M. Regionalização e dinâmica política do federalismo

sanitário brasileiro. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v.1, n.45, p.204-211, 2011.

ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA/ FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ;

FACULDADE DE MEDICINA/ UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Avaliação nacional

das Comissões Intergestores Bipartites (CIBs): as CIBs e os modelos de indução da

Regionalização no SUS. Relatório Síntese Estadual: Paraíba. [S.l.], 2010. 10 p.

FAVERET, A. C. S. C. Federalismo fiscal e descentralização no Brasil: o financiamento

da política de saúde na década de 90 e início dos anos 2000. 2002. Tese (Doutorado em

Saúde Coletiva) - Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro,

Rio de Janeiro, 2002.

GODOY, A. S. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de

Empresas, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 20-29, 1995.

GUIMARÃES, V. L. B. O processo da regionalização da saúde em Pernambuco, na

perspectiva da gestão estadual. 2012. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) –

Programa de Pós-graduação Integrado em Saúde Coletiva, Universidade Federal de

Pernambuco, Recife, 2012.

LARA, N. C. C.; MENDES, A. N. As políticas de regionalização do SUS: construção

histórica e embate. Disponível em

http://www.politicaemsaude.com.br/anais/trabalhos/publicacoes/064.pdf. Acesso em: 02 de

set. 2014.

LEITE, C. K. S.; FONSECA, F. Federalismo e Políticas Sociais no Brasil: impasses da

descentralização pós-1988. Organizações & Sociedade, Salvador, v.18, n.56, p. 99-117,

2011.

LIMA, L. D. Conexões entre o federalismo fiscal e o financiamento da política de saúde no

Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.2, n.12, p.511-522, 2007.

LIMA, L. D. et al Descentralização e regionalização: dinâmica e condicionantes da

implantação do Pacto pela Saúde no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de janeiro, v.7,

n.17, p.1903-1914, 2012a.

LIMA, L. D. et al. Regionalização e acesso à saúde nos estados brasileiros: condicionantes

históricos e político-institucionais. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 11, n.17, p.

2881-2892, 2012b.

MACHADO, R. R. et. al. Entendendo o pacto pela saúde na gestão do SUS e refletindo sua

implementação. Rev. Eletr. Enf. [Internet], 11(1), p.181-187, 2009.

MARCONI, M.A; LAKATOS, E.V. Metodologia do Trabalho Científico. 7. Ed. 244 p. São

Paulo: Atlas, 2007.

Page 57: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

56

MATTA, J. L. J. EQUILÍBRIO FEDERATIVO E SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: as

Transferências Financeiras e o SUS no Jogo das Relações Federativas no Brasil. Dissertação

(Mestrado em Saúde Pública, Sub-área Políticas Públicas em Saúde) – Escola Nacional de

Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, 2006.

OLIVEIRA, A. A. P.. Análise documental do processo de capacitação dos multiplicadores

do projeto “Nossas crianças: Janelas de oportunidades” no município de São Paulo à luz

da Promoção da Saúde. Dissertação (Mestrado em Enfermagem em Saúde Coletiva) –

Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

PARAÍBA. Secretaria de Estado da Saúde. Plano Diretor de Regionalização – PDR – João

pessoa: SES/PB, 2009.

PARAÍBA. Plano Estadual de Saúde (PES), 2012-2015. João Pessoa, 2012.

PEREIRA, A. M. M. Dilemas federativos e regionalização na saúde: o papel do gestor

estadual do SUS em Minas Gerais. Dissertação (mestrado) – Escola Nacional de Saúde

Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2009.

REIS, Ylusca A. C. dos. Consenso sobre o papel do gestor estadual na regionalização da

assistência à saúde do SUS. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública). Centro de Pesquisa

Aggeu Magalhães – Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2010.

SANTOS, Maria José F. de S. Desenhos de estudos e desenhos amostrais em pesquisa

qualitativa. In: NAVARRETE, Maria.Luiza et al. Introdução às técnicas qualitativas de

pesquisa aplicada à saúde.Recife: Imip, 2009 pg. 31- 50.

SCOTT, R. W. institutions and organizations. Sage Publ Series. Thousand Oaks, 1995.

SCHNEIDER, A. et. al. Pacto pela Saúde: possibilidade ou realidade? Centro de Educação e

Assessoramento Popular – CEAP – 2.ed.- Passo Fundo: IFIBE, 2009.

SIMÕES, C. C. S. Perfis de saúde e de mortalidade no Brasil: uma análise de seus

condicionantes em grupos populacionais específicos. Brasília: OPAS, 2002.

TOMIO, F.R.L. Federalismo, municípios e decisões legislativas:A criação de municípios no

Rio Grande do Sul. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, 24, p. 123-148, jun. 2005

VIANA, A. L. D. et al. Sistema de Saúde universal e território: desafios de uma política

regional para a Amazônia Legal. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.23, supl.2,

p.S117-S131, 2007.

VIANA, A. L. D. et al. Novas perspectivas para a regionalização da saúde. São Paulo em

perspectiva, n.1, v.22, p.92-106, 2008.

VIANA, A. L. D.; MACHADO, C. V. Descentralização e coordenação federativa: a

experiência brasileira na saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.3, n.14, p.807-

817, 2009.

Page 58: FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU … · 2018-04-02 · Pacto pela Saúde/2006 e pelo Decreto nº 7508/2011, evidenciando o avanço normativo e para o processo. Fez-se

57

VIANA, A. L. D. et al. Condicionantes estruturais da regionalização na saúde: tipologia dos

Colegiados de Gestão Regional. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.5, n.15,

p.2317-2326, 2010.

VIANA, A. L. D.; LIMA, L. D. O processo de regionalização na saúde: contextos,

condicionantes e papel das Comissões Intergestoras Bipartites. In: ______. Regionalização e

relações federativas na política de saúde do Brasil. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2011.

VIANA, A.L.D. et al. Expansão, qualificação e regionalização da oferta de serviços e ações

de saúde. Disponível em: < http://www.resbr.net.br/desafios-do-sistema-de-saude-brasileiro-

parte-i-expansao-qualificacao-e-regionalizacao-da-oferta-de-servicos-e-acoes-de-saude/>.

Acesso em: 09 de dez. 2014.