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FUNDAÇÃO INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO FIA Priscila Napoli PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE EXTREMA, MINAS GERAIS São Paulo 2012

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FUNDAÇÃO INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO

FIA

Priscila Napoli

PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE:

ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE EXTREMA, MINAS GERAIS

São Paulo

2012

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Priscila Napoli

PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE:

ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE EXTREMA, MINAS GERAIS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Fundação Instituto de

Administração – FIA como requisito para

obtenção do certificado de conclusão do

curso de Pós-Graduação Lato Sensu –

Especialização em Gestão Socioambiental

para a Sustentabilidade.

Orientadoras: Maria Cristina Lopes Fedato

Fernanda Gabriela Borger

São Paulo

2012

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Agradecimentos

Sustentabilidade pressupõe colaboração. Qualquer ser vivo, ambiente, condição,

processo ou interação depende de elementos internos e externos para se

desenvolver. E não poderia ter sido diferente com esse trabalho, cuja realização só

foi possível graças à contribuição de importantes parceiros.

Gostaria de agradecer ao Paulo Henrique Pereira, Diretor de Meio Ambiente de

Extrema e um dos idealizadores do projeto Conservador das Águas, pelo tempo e

atenção durante nossa longa conversa, praticamente às vésperas do Natal. Paulo

Henrique é um visionário e seus comentários me inspiraram não só a aprofundar

algumas análises, mas, principalmente, a repensar algumas impressões pré-

concebidas. Nossa conversa foi, acima de tudo, uma grande aula.

Agradeço também ao Jovane Mendes Soares, Gerente de Meio Ambiente do

Laticínio Serra Dourada, que também na agitação da véspera do Natal me recebeu e

falou com muita transparência sobre os desafios e oportunidades de participação no

projeto. A conversa com o Laticínio Serra Dourada mostrou como uma atitude

empreendedora pode transformar a cadeia de fornecedores.

Da mesma forma agradeço ao Leandro Lenhari, Gerente de Meio Ambiente e

Segurança da Bauducco, pelo tempo e atenção. Leandro abordou de forma clara e

objetiva as principais questões do projeto e demonstrou que existem possibilidades

concretas do setor empresarial trabalhar o tema, independente de seu porte e área

de atuação.

Gostaria ainda de agradecer à Anita Diederichsen e Ricardo Viani, ambos da The

Nature Conservancy, pelas valiosas contribuições e referências que me ajudaram a

entender melhor uma das questões centrais do trabalho: a contribuição de um

projeto de PSA em água para a conservação da biodiversidade. A TNC é uma

referência mundial em conservação e sua participação no projeto Conservador das

Águas demonstra o quão vital é para os projetos de PSA contar com parceiros

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experientes, capazes de assegurar que as ações de fato gerem resultados à

biodiversidade.

A realização do trabalho contou ainda com o importante suporte da orientadora

Cristina Fedato, que agregou visão prática e objetividade ao TCC. À Professora

Cristina, muito obrigada pela disponibilidade e compreensão com certas “demandas

inesperadas”. Da mesma forma, gostaria de agradecer o apoio incondicional das

queridas Marta Cavalcanti e Luciana Saleme, Assistentes do curso na FIA, pela

incansável paciência, gentileza e empenho em encontrar soluções para algumas

“surpresas” que surgiram ao longo desse TCC.

Finalmente, gostaria de agradecer aos meus “co-orientadores”, que mesmo em meio

a inúmeras outras tarefas e compromissos cederam tempo, atenção, materiais e,

acima de tudo, conhecimento, que em muito enriqueceram esse trabalho: Pedro F.

Develey, Diretor de Conservação da BirdLife/SAVE Brasil, Prof. Alexandre Toshiro

Igari, membro do Programa de Gestão Estratégica Socioambiental (PROGESA) da

FIA e Prof. João Salvador Furtado, Conselheiro Técnico do Instituto Jatobás e

também membro do PROGESA.

Gostaria de fazer um agradecimento especial ao Prof. Furtado, que acompanhou de

perto o desenrolar do trabalho provendo informações, caminhos e também algumas

provocações que foram fundamentais para uma reflexão mais crítica. Grande

conhecedor e entusiasta do tema, o Prof. Furtado tem me instigado a aprofundar o

estudo após a conclusão do TCC.

Como será visto ao longo desse trabalho, o tema de pagamento por serviços

ambientais visando à conservação da biodiversidade demanda prioridade e espero

ter a oportunidade de explorá-lo com mais profundidade no futuro. Cada uma das

pessoas citadas aqui me ajudou a conhecer melhor e a me envolver ainda mais com

esse tema, que nos leva a repensar nossos valores e comportamentos com relação

ao ambiente em que vivemos. Sou muito grata a todos por isso.

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Resumo

A biodiversidade é a base de tudo o que viabiliza a existência humana. Embora a economia

e a sociedade tenham grande dependência e impacto sobre a biodiversidade, não lhe é

reconhecido, nem a seus serviços, um valor tangível. Infelizmente, essa “invisibilidade

econômica” tem enfraquecido o rico arcabouço legal existente, tornando-o insuficiente para

conter a perda de biodiversidade. É necessário, portanto, somar instrumentos econômicos

capazes de atribuir valor aos serviços da biodiversidade e movimentar recursos para sua

conservação, recompensando os responsáveis por sua provisão. Neste contexto emergem

os mecanismos de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Utilizando como estudo de

caso o projeto “Conservador das Águas”, uma das primeiras iniciativas de PSA do Brasil,

desenvolvido no município de Extrema, Minas Gerais, o trabalho teve como objetivos

investigar o modelo de PSA em Extrema e sua contribuição à conservação da

biodiversidade, e identificar junto aos principais envolvidos no projeto a motivação na

adoção de modelos de PSA e o potencial interesse na incorporação de mecanismos de

pagamento por biodiversidade. Duas questões principais orientaram o trabalho: 1) em que

medida o projeto em Extrema contempla a conservação da biodiversidade, e 2) qual o nível

de motivação das partes interessadas em participar de iniciativas de PSA voltadas à

proteção da biodiversidade. Para responder essas perguntas foram investigadas as

características do modelo de PSA em Extrema, bem como a bibliografia sobre a contribuição

proporcionada por Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais à proteção da

biodiversidade. Foram realizadas também entrevistas com alguns dos principais atores do

projeto, além de levantamento de dados secundários para análise da percepção dos

proprietários rurais. O trabalho concluiu que um projeto de PSA como o implementado em

Extrema, com foco em água, é capaz de contribuir para a conservação da biodiversidade,

mas isso demanda a criação de instrumentos de gestão, monitoramento e avaliação

específicos para o tema de biodiversidade. Concluiu também que a motivação dos atores

em participar do projeto vai além da questão financeira, e sua efetiva adesão, especialmente

para o tema de biodiversidade, vai depender de seu envolvimento com a temática ambiental

e de sua compreensão a respeito do papel do PSA. Finalmente, o trabalho identificou uma

série de medidas legais e econômicas, que devem ser adotadas de forma complementar ao

PSA, para seu efetivo sucesso.

Palavras-chave: Conservação da Biodiversidade, Pagamento por Serviços Ambientais,

Pagamento por Biodiversidade, Conservador das Águas, município de Extrema

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Índice 1. Introdução e Objetivos ................................................................................................................. 7

2. Referencial Teórico..................................................................................................................... 10

Definição de Biodiversidade e Ecossistema e como estes se relacionam ............................ 10

Serviços Ecossistêmicos x Serviços Ambientais ....................................................................... 11

Pagamento por Serviços Ambientais ........................................................................................... 13

Pagamento por Biodiversidade..................................................................................................... 15

Marco regulatório: principais acordos globais e legislação aplicável no Brasil ..................... 17

3. Metodologia ................................................................................................................................. 24

4. Resultados e Análises ................................................................................................................ 26

Apresentação do projeto Conservador das Águas, Extrema, Minas Gerais ......................... 26

Município de Extrema................................................................................................................. 26

Descrição geral do Projeto ........................................................................................................ 27

Base Conceitual, Objetivos e Metas ........................................................................................ 27

Metodologia do Projeto .............................................................................................................. 28

Parceiros do Projeto ................................................................................................................... 31

Resultados do Projeto ................................................................................................................ 33

Análise do projeto Conservador das Águas sob a luz das questões de pesquisa ............... 34

5. Considerações Finais ................................................................................................................. 46

Referências Bibliográficas ................................................................................................................. 53

Anexos .................................................................................................................................................. 58

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1. Introdução e Objetivos

Os ecossistemas e a biodiversidade a eles relacionados exercem e sempre

exerceram papel fundamental em nossas vidas e estão intimamente ligados a nossa

sobrevivência biológica, social, econômica e cultural. A biodiversidade sustenta o

funcionamento de ecossistemas que oferecem uma ampla gama de serviços para as

sociedades humanas. Sua perda contínua, portanto, tem grandes implicações para o

atual e futuro bem-estar humano (CBD, 2010).

Apesar de inúmeras evidências do impacto e dependência que os ecossistemas e a

biodiversidade exercem sobre as sociedades (entendendo-se por sociedades não

apenas os indivíduos, mas também as instituições públicas e privadas onde elas

estão inseridas) e vice-versa, apenas recentemente tiveram início iniciativas em

favor de sua proteção, conservação e recuperação.

O atraso no reconhecimento desse papel causou aos ecossistemas e à

biodiversidade sérios danos, em alguns casos irreparáveis, cujos efeitos são

amplamente percebidos, resultando não apenas em grandes perdas monetárias,

mas também de vidas humanas, a exemplo dos desastres que ocorreram na região

serrana do estado do Rio de Janeiro no início de 2011.

O renomado economista indiano Pavan Sukdev, um dos idealizadores do estudo

The Economics of Ecosystems and Biodiversity (TEEB), em uma entrevista à Revista

Veja comentou: “A proteção da biodiversidade é uma necessidade para as

populações pobres, principalmente os da zona rural. Eles sobrevivem dos benefícios

diretos das florestas, dos recursos hídricos e do solo. [...] Como têm pouca riqueza

privada, precisam da riqueza pública, na forma de serviços ecológicos, para

sobreviver. Se continuarmos no atual ritmo de destruição ambiental, em 2050 o

prejuízo será equivalente a 7% do PIB mundial. Pode parecer pouco em relação à

riqueza global, mas é muito se comparado aos benefícios e ao sustento que a

natureza proporciona às famílias dos agricultores pobres.” (Veja.com, 2010).

Em face desse cenário alarmante, a adoção de medidas de proteção, conservação e

recuperação dos ecossistemas e da biodiversidade ganha prioridade máxima,

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através da “maior aplicação de políticas e incentivos que promovam a conservação e

o uso sustentável da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, e do uso mais

eficiente dos recursos financeiros disponíveis nos programas existentes de

biodiversidade” (OECD, 2010).

O poder público tem papel-chave nesse contexto, mas as ações não devem se

restringir à esfera governamental; ao contrário, devem se estender a todos os

envolvidos na cadeia de uso e beneficiamento dos recursos da biodiversidade e dos

serviços ecossistêmicos, incluindo proprietários rurais, empresas e o próprio

consumidor final. Estas iniciativas devem ir além do arcabouço legal envolvido no

Princípio do Usuário-Pagador, somando também o Princípio do Protetor-Recebedor,

que “reconhece a importância do incentivo econômico àqueles que protegem os

serviços oferecidos pelo meio ambiente para a nossa sobrevivência” (TNC, 2011).

Neste contexto, têm ganhado destaque os mecanismos de Pagamento por Serviços

Ambientais (PSA) pelo seu potencial de apoiar a proteção e o uso sustentável dos

recursos naturais e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida das

comunidades em áreas importantes para a biodiversidade.

Conforme veremos adiante, recomenda-se que os projetos de PSA sejam

desenvolvidos a partir de um serviço ambiental bem definido, por exemplo, a

regulação dos fluxos hídricos. Entretanto, é de se esperar que a restauração de

áreas de preservação permanente em um PSA voltado à proteção dos recursos

hídricos contribua ao mesmo tempo para a proteção da biodiversidade.

É nesse contexto que se desenvolve o trabalho aqui apresentado. Embora não

tenha a pretensão de determinar a complexa relação entre os impactos diretos e

indiretos de um sistema de PSA, o trabalho visa analisar suas conexões.

Utilizando como estudo de caso o “Conservador das Águas”, projeto pioneiro

desenvolvido no município de Extrema, Minas Gerais, que teve seu início oficial com

a promulgação da Lei Municipal 2.100/2005, que cria o projeto e se torna a primeira

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lei municipal no Brasil a regulamentar o Pagamento por Serviços Ambientais

relacionados com a água, o trabalho tem como objetivos:

• Investigar o modelo de PSA em Extrema e sua contribuição à conservação da

biodiversidade.

• Identificar junto aos principais envolvidos no projeto – poder público,

empresas e proprietários rurais – a motivação na adoção de modelos de PSA

e potencial interesse na incorporação de mecanismos de pagamento por

biodiversidade.

• Analisar possíveis formas de enriquecer o modelo de PSA existente, com a

incorporação de mecanismos de pagamento por biodiversidade.

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2. Referencial Teórico

Definição de Biodiversidade e Ecossistema e como estes se relacionam

A biodiversidade (ou diversidade biológica, expressão inserida na comunidade

científica em 1980 pelo renomado biólogo de conservação, Thomas Lovejoy), pode

ser genericamente entendida como diversidade de vida.

Entretanto, o termo ganha diferentes definições e escalas conforme o ambiente em

que ele é tratado (academia, governo, organizações não-governamentais, setor

privado, comunidade, etc.). Dessa forma, no trabalho aqui apresentado será utilizada

a definição cunhada pela Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade

Biológica (CBD, em inglês), marco básico mundial para o tema, a qual define

biodiversidade como “variabilidade de organismos vivos de todas as origens,

compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros

ecossistemas aquáticos, e os complexos ecológicos de que fazem parte.

Compreende ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de

ecossistemas”.

A CBD define ainda ecossistema como um “complexo dinâmico de comunidades

vegetais, animais e de micro-organismos e o seu meio inorgânico que interagem

como uma unidade funcional”. Exemplos de ecossistemas incluem desertos, recifes

de coral, áreas úmidas, florestas tropicais, florestas boreais, pradarias, parques

urbanos e terras cultivadas. Os ecossistemas compreendem tanto as áreas

intocadas pelos homens, como as florestas tropicais virgens, ou áreas modificadas

pela ação do homem (TEEB, 2008).

Os ecossistemas oferecem serviços imprescindíveis à saúde e bem estar humano,

incluindo alimento, água potável, lenha, regulação climática, proteção de desastres

naturais, controle de erosão, matéria prima para a fabricação de medicamentos e

recreação. Embora a biodiversidade não seja por si só um serviço ecossistêmico, ela

garante o fornecimento de tais serviços (TEBB, 2008). Da mesma forma, é correto

também dizer que os serviços ecossistêmicos mantêm a biodiversidade e os

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produtos ecossistêmicos mais conhecidos, tais como os alimentos, a madeira, a

fibra, diversos produtos industriais, farmacêuticos, etc. (Veiga Neto, 2008).

Pela definição acima, é possível perceber a delicada e complexa conexão existente

entre biodiversidade, ecossistemas e serviços ecossistêmicos, sendo praticamente

impossível determinar os limites entre um aspecto e outro. “Os serviços

ecossistêmicos oferecidos às pessoas são significativos do ponto de vista

econômico e dependem tanto da diversidade (qualidade) quanto da vasta quantia

(quantidade) de genes, espécies e ecossistemas encontrados na natureza (Tabela

1)” (TEEB, 2010).

Biodiversidade Bens e serviços

ecossistêmicos

(exemplos)

Valores econômicos

(exemplos)

Ecossistemas (variedade e

extensão/área)

• Recreação

• Regulação da água

• Depósito de carbono

Evitar emissões de GEE

pela conservação de

florestas: US$ 3.7 trilhões

(VPL) (Eliasch, 2008)

Espécies (diversidade e

abundância)

• Alimentos, fibras,

combustíveis

• Inspiração para design

• Polinização

Contribuição de insetos

polinizadores para

resultados na agricultura:

~US$ 190 bilhões/ano

(Gallai, 2009)

Genes (variabilidade e

população)

• Descobertas medicinais

• Resistência a doenças

• Capacidade de

adaptação

25-50% dos US$ 640

bilhões do mercado

farmacêutico resultam de

recursos genéticos (TEEB,

2009)

Tabela 1. Relação entre a biodiversidade, ecossistemas e serviços ecossistêmicos

(TEEB, 2010)

Serviços Ecossistêmicos x Serviços Ambientais

Há inúmeras definições para serviços ecossistêmicos e serviços ambientais. Em

alguns casos, as expressões são tratadas praticamente como sinônimas. Em outros

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são feitas distinções, definido-se os serviços ecossistêmicos como aqueles

prestados pelos ecossistemas naturais e as espécies que os compõem, na

sustentação e preenchimento das condições para a permanência da vida humana na

Terra (Daily, 1997), enquanto que os serviços ambientais são definidos como as

atividade humana que contribuem para manter ou aumentar a provisão de benefícios

por meio do ambiente (Chomitz, 1999).

Neste trabalho optou-se por utilizar a expressão serviços ambientais, atribuindo-lhe

a definição acima proposta por Chomitz. Assim, ao propor o pagamento dos serviços

ambientais o que estaria sendo remunerado é o “esforço” do proprietário para

manter ou restaurar uma área natural (calculado, por exemplo, através do custo de

oportunidade), somado aos custos operacionais de restauração ou conservação da

área (cercamento, plantio, monitoramento, etc.).

De acordo com o Millenium Ecosystem Assessment (2005), levantamento do qual

participaram pesquisadores do mundo inteiro com o objetivo de avaliar os impactos

das mudanças nos ecossistemas sobre o bem estar das sociedades humanas, os

serviços ecossistêmicos podem ser classificados em quatro categorias (Tabela 2):

Serviço Descrição

Provisão Relacionados com a capacidade dos ecossistemas em prover

bens: alimentos; água potável; combustível; fibras; compostos

bioquímicos; recursos genéticos; plantas ornamentais.

Regulação Benefícios obtidos a partir de processos naturais de regulação das

condições ambientais: purificação do ar, regulação do clima,

purificação e regulação dos ciclos das águas, controle de

enchentes e de erosão, tratamento de resíduos, desintoxicação e

controle de pragas e doenças.

Culturais Relacionados com a importância dos ecossistemas em oferecer

benefícios de recreação, educacionais, estéticos, espirituais.

Suporte Serviços necessários para a produção de todos os outros serviços

dos ecossistemas: formação do solo, ciclagem de nutrientes,

produção primária, polinização e dispersão de sementes.

Tabela 2. Serviços Ecossistêmicos, conforme classificação do Millenium Ecosystem

Assessment (2005)

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Analisando cada um dos serviços acima é possível perceber que o bem-estar físico,

social, econômico e cultural do ser humano, independente de sua origem, renda e

localização geográfica, está diretamente relacionado à manutenção desses serviços.

Apesar dessa relação evidente de impacto e dependência mútuos entre as pessoas

e os ecossistemas, as taxas de perda de biodiversidade continuam caindo no mundo

todo, em alguns locais em um ritmo bastante acelerado. Segundo o Milennium

Ecosystem Assessment (2005), cerca de 60% dos serviços ecossistêmicos da Terra

foram degradados nos últimos 50 anos, sendo que a atuação humana foi a principal

causa deste fenômeno.

“Declínios ainda mais significativos devem ocorrer nas próximas décadas em virtude

de fatores como o crescimento populacional, mudança no perfil de exploração da

terra, expansão econômica e mudança climática global” (TEEB, 2008).

Melhorar esse cenário requer a emergencial aplicação de abordagens inovadoras

que levem em consideração não apenas os aspectos ambientais do problema, mas

suas perspectivas sociais e econômicas. “A destinação de apenas 1% do PIB

mundial até 2030 pode redundar em melhorias significativas na qualidade do ar e da

água e da saúde humana e pode assegurar o cumprimento das metas climáticas”.

(TEEB, 2008).

É nesse contexto que emergem os mecanismos de Pagamento por Serviços

Ambientais, os chamados PSAs.

Pagamento por Serviços Ambientais

Da mesma forma em que há diversas correntes de conceituação dos serviços

ambientais, há também, talvez até como consequência dessas diferentes visões,

inúmeras definições para Pagamento por Serviços Ambientais.

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A proposta por Wunder (2005) é uma das mais aceitas na literatura e define o

pagamento por serviços ambientais como “uma transação voluntária, na qual, um

serviço ambiental bem definido ou um uso da terra que possa assegurar este serviço

é comprado por, pelo menos, um comprador de, pelo menos, um provedor, sob a

condição de que o provedor garanta a provisão deste serviço”.

Embora ainda muito recente, o interesse nos mecanismo de Pagamento por

Serviços Ambientais vem crescendo. Existem hoje mais de 300 programas

implementados ao redor do mundo (Blackman and Woodward, 2010), focados nos

temas de biodiversidade, água, carbono e beleza cênica (Wunder, 2006).

Entretanto, apesar do crescimento no número de programas de PSA, é importante

destacar que o mecanismo apresenta diversas complexidades e desafios que

precisam ser levados em consideração de forma a propor melhorias nos modelos

existentes.

Os serviços ambientais, em sua maioria, têm natureza de bens públicos, sendo

caracterizados por suas propriedades de não exclusividade (são acessíveis a toda a

população) e de não rivalidade (ausência de competição no seu consumo, ou seja, o

uso de um bem ou serviço por uma pessoa não reduz os benefícios às outras).

Uma terceira característica seria um refinamento na noção de bens rivais, os bens

congestionáveis, ou seja, bens e serviços que usados por um número pequeno de

atores têm características de não rivais, mas quando usados de forma intensiva,

caem de qualidade e passam a ser considerados bens congestionáveis. Este

processo de transição de um bem não rival para um bem congestionável é um dos

fatores que torna alguns serviços, a exemplo da água, mais suscetíveis de serem

incorporados em um mercado de serviços ambientais (Veiga Neto, 2008).

A não exclusividade e a não rivalidade dificultam a transformação do valor dos

produtos e serviços oferecidos pelos ecossistemas em preços (Seroa da Motta et al.,

1998) e sua transação em mercados específicos. Isso contribui também para que a

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sociedade não reconheça sua importância, uma vez que na lógica do modelo

socioeconômico atual tem valor aquilo que tem preço.

Dessa forma, os produtos e serviços oferecidos pelos ecossistemas não são

considerados pelo sistema econômico. Como resultado, aqueles que se beneficiam

dos serviços ambientais não pagam por eles e, ao mesmo tempo, aqueles que

garantem sua provisão não recebem nada por isso, configurando-se o dilema do

“caronista” (Free-rider em Pindyck and Rubinfeld, 2002).

Desse cenário decorre a chamada Tragédia dos Comuns, situação descrita por

Hardin (1968) que demonstra que recursos comuns e limitados tendem a ser

sobrexplorados quando não há cobrança pelo seu uso. O indivíduo, ao utilizar o

recurso com base em suas necessidades pessoais no início é beneficiado, mas na

medida em que cada um do grupo atua da mesma maneira, há uma diminuição dos

benefícios. Na tentativa de obter o mesmo beneficio atingido anteriormente, há uma

intensificação nos esforços de utilização. Como resultado, tem-se um sobreuso dos

ecossistemas levando à destruição do capital natural e à redução no provimento de

serviços ambientais.

Pagamento por Biodiversidade

Dos mecanismos de PSA existentes – água, carbono, beleza cênica e

biodiversidade – esse último é o de mais complexo desenvolvimento. Isso porque os

benefícios proporcionados pela biodiversidade são em sua maioria bens públicos

quase puros, com características acentuadas de não exclusividade e não rivalidade.

Dessa forma, apesar de muitos se beneficiarem dos bens e serviços prestados pela

biodiversidade, a disposição a pagar por eles ainda é bastante baixa (MMA, 2011).

É importante destacar também que a biodiversidade, em um sentido mais amplo,

está relacionada com a vida em todas as suas formas, possuindo valor intrínseco, de

legado e de existência, muitas vez difícil de mensurar. Água e carbono, por outro

lado, são temas que possuem métricas claras e contabilidade acessível, facilitando a

criação de preços e, conseqüentemente, de mercados econômicos.

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Além disso, é difícil definir limites sobre onde termina um serviço hidrológico, de

armazenamento e seqüestro de carbono, ou de beleza cênica, e onde começa um

serviço de biodiversidade uma vez que, conforme visto anteriormente, há uma

delicada e complexa conexão entre biodiversidade, ecossistemas e serviços

ecossistêmicos.

A tabela abaixo, sobre o valor econômico total dos ecossistemas e da

biodiversidade, ilustra bem essa conexão:

Valor Econômico Total

Valores de Uso Valores de Não Uso

Valor de Uso

Direto

Valor de Uso

Indireto

Valor de

Opção

Valores de

Legado

Valores de

Existência

- Alimento - Madeira - Recreação - Medicamentos

- Armazenamento de Carbono - Controle contra cheias - Proteção contra ventos - Manutenção dos ciclos hídricos

- Biodiversidade - Preservação de habitats

- Habitats - Valores culturais - Espécies ameaçadas

- Habitats - Espécies em extinção - Biodiversidade

Tabela 3. Valor econômico total dos ecossistemas e da biodiversidade (Parker, 2010)

Existem diversas iniciativas de pagamento por biodiversidade ao redor do mundo,

com diferentes abordagens: compra de hábitat de alto valor, pagamento pelo acesso

à biodiversidade (espécies e/ou hábitats) e ao conhecimento tradicional relacionado,

pagamento por práticas de gestão e conservação da biodiversidade,

comercialização de cotas de conservação da biodiversidade sob tetos estabelecidos

por regulamentações (cap and trade), e apoio a negócios de conservação da

biodiversidade (Forest Trends; e Grupo Katoomba, 2008).

Esses mecanismos, porém, ainda enfrentam diversos desafios em sua concepção e

implementação, que envolvem desde estabelecer o que será monitorado até

determinar como será comprovada a adicionalidade das atividades (MMA, 2011).

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Do ponto de vista de motivação, os mecanismos de PSA por Biodiversidade

possuem três principais indutores: interesses voluntários, pagamentos mediados por

governos e adequação às regulamentações ambientais. Em linha com o contexto

mundial, no Brasil, ainda são raras as iniciativas de PSA por Biodiversidade

baseadas em interesses estritamente voluntários (MMA, 2011). Quando

desenvolvidas, essas iniciativas normalmente partem de instituições não

governamentais sem fins lucrativos ou de empresas cujos negócios apresentam

grande impacto/dependência em relação aos bens e serviços da biodiversidade.

Marco regulatório: principais acordos globais e legislação aplicável no Brasil

A principal convenção internacional hoje existente no tema de biodiversidade e

ecossistemas é a Convenção da Diversidade Biológica (CDB). A CDB é uma

colaboração internacional, concebida no âmbito do Programa das Nações Unidas

para o Meio Ambiente (PNUMA), do qual são signatários 168 países (CBD, 2012a) e

que visa à “conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus

componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização

dos recursos genéticos, mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos

genéticos e a transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta

todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento

adequado” (CBD, 2012b).

A CDB é governada pela Convenção das Partes (Convention of the Parties – COP),

órgão responsável pela aplicação da Convenção, o que se dá por meio de decisões

tomadas em suas reuniões periódicas, promovidas a cada dois anos. A COP10,

realizada em 2010 em Aichi, no Japão, resultou em duas importantes resoluções

para a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas, e para o tema de

Pagamento por Serviços Ambientais: o Protocolo de Nagoya e as 20 Metas de Aichi.

O Protocolo de Nagoya é um acordo que visa estabelecer um regime internacional

que garanta a repartição justa e equitativa de benefícios derivados exploração da

biodiversidade e de seus recursos genéticos. O Brasil, embora signatário desde

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Fevereiro de 2011, ainda aguarda o envio da proposta de ratificação para o

Congresso Nacional (Portal Globo.com, 2012).

A definição das 20 Metas do Plano Estratégico 2011-2020, conhecidas como Metas

de Aichi, surgiu em decorrência do fracasso de primeiro conjunto de metas

estabelecidas para o período 2002-2010. O novo Plano Estratégico da CDB define a

visão desejada para 2050 - “a biodiversidade valorizada, conservada, restaurada e

utilizada com sabedoria, mantendo os serviços ecossistêmicos, sustentando um

planeta saudável e fornecendo benefícios essenciais para todas as pessoas” - e está

organizado em cinco Objetivos (CBD, 2012c):

A. Tratar das causas fundamentais de perda de biodiversidade fazendo com que

preocupações com biodiversidade permeiem governo e sociedade.

B. Reduzir as pressões diretas sobre biodiversidade e promover o uso sustentável.

C. Melhorar a situação de biodiversidade protegendo ecossistemas, espécies e

diversidade genética.

D. Aumentar os benefícios de biodiversidade e serviços ecossistêmicos para todos.

E. Aumentar a implementação por meio de planejamento participativo, gestão de

conhecimento e capacitação.

O tema de Pagamento por Serviços Ambientais está contemplado dentro do Objetivo

A, Meta 3: “Até 2020, no mais tardar, incentivos lesivos à biodiversidade, inclusive os

chamados subsídios perversos, terão sido eliminados ou reformados, ou estarão em

vias de eliminação visando minimizar ou evitar impactos negativos. Incentivos

positivos para a conservação e uso sustentável de biodiversidade terão sido

elaborados e aplicados, de forma consistente e em conformidade com a CDB e

outros compromissos internacionais relevantes, levando em conta condições

socioeconômicas nacionais”.

No contexto brasileiro, existem diversas leis e instrumentos que se aplicam direta e

indiretamente aos temas de Pagamento por Serviços Ambientais e Pagamento por

Biodiversidade, conforme descrito mais abaixo na Tabela 4.

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É preciso destacar que o tema tem como base dois importantes princípios do Direito

Ambiental, os quais devem ser considerados no desenvolvimento e aplicação de

mecanismos de Pagamento por Serviços Ambientais e por Biodiversidade: o

Princípio da Precaução e o Principio do Protetor-Recebedor.

Principio da Precaução

O Principio 15 da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, elaborada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992, também conhecida por

Rio-92, determina que “com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da

precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas

capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência

de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de

medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental” (ONU,

1992).

Analisando sob a ótica da biodiversidade e dos ecossistemas, é possível perceber

que o Princípio da Precaução se configura em um importante fundamento legal

sobre o qual deve se apoiar a concepção e o desenvolvimento dos mecanismos de

Pagamento por Serviços Ambientais, especialmente para o tema de biodiversidade.

Um dos pilares do Principio da Precaução é a incerteza do dano ambiental, o que se

aplica totalmente ao tema em debate. Uma vez que não se conhece com

profundidade a exata interdependência entre biodiversidade, ecossistemas e os

serviços por eles oferecidos, nem os reais danos que intervenções em seu

funcionamento podem causar à vida das pessoas, desenvolver medidas de incentivo

à proteção e recuperação da biodiversidade e dos ecossistemas tornam-se

essenciais para assegurar a manutenção dos produtos e serviços oferecidos por

eles e assim garantir a qualidade de vida e bem estar humano hoje e no futuro.

Princípios do Usuário-Pagador e do Protetor-Recebedor

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Dois importantes princípios do Direito Ambiental, e sobre os quais também devem

ser fundamentados os mecanismos de Pagamento por Serviços Ambientais, são os

Princípios do Usuário-Pagador e do Protetor-Recebedor. O Princípio do Usuário-

Pagador estabelece que o utilizador do recurso deve suportar os custos que tornam

possível o uso do recurso, bem como os custos de sua própria utilização.

O Princípio do Protetor-Recebedor (ou Provedor-Recebedor) é a “outra perna” do

princípio acima. Ou seja, ele reconhece a importância do incentivo econômico

àqueles que adotam práticas protecionistas em favor da biodiversidade e dos

ecossistemas uma vez que, ao fazerem isso, estão “abrindo mão” de oportunidades

econômicas individuais em favor de bens e serviços que serão desfrutados não só

por eles, mas por toda a sociedade.

Pode-se dizer, do ponto de vista de gestão ambiental, que o Princípio do Usuário-

Pagador estabelece a inserção na economia das chamadas externalidades

negativas, enquanto que o Princípio do Protetor-Recebedor trata da inserção das

externalidades positivas.

Arcabouço legal aplicado ao tema de PSA no Brasil

Existe hoje no Brasil um conjunto de leis e instrumentos relacionados ao tema de

Pagamento por Serviços Ambientais. Os principais deles seguem apresentados na

tabela abaixo:

Lei Número Como se relaciona com o tema de PSA

Política Nacional do

Meio Ambiente

Lei 6.938/1981 Prevê que a Política Nacional do Meio

Ambiente visará “à imposição, ao usuário, da

contribuição pela utilização de recursos

ambientais com fins econômicos e à

imposição ao poluidor e ao predador da

obrigação de recuperar e/ou indenizar os

danos causados (art. 4º, VII).

Código Florestal Lei 4.771/1965 Embora não aborde diretamente o tema de

incentivos econômicos, estipula a proteção

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legal de Áreas de Preservação Permanente1

e de Reserva Legal2, criando uma demanda

por áreas de vegetação nativa conservadas

e manejadas sustentavelmente, bem como

por medidas de compensação (no caso das

Reservas Legais), possibilitando a criação de

um mercado de oferta e demanda de áreas

para a proteção da biodiversidade e

podendo apoiar os sistemas de PSA por

biodiversidade.

Sistema Nacional de

Unidades de

Conservação

(SNUC)

Lei 9.985/2000 Nos seus Artigos 47 e 48, prevê que órgãos

ou empresas, públicos ou privados, que

façam uso de recursos hídricos ou

responsáveis pelo abastecimento de água

ou pela geração e distribuição de energia

elétrica, sendo beneficiários da proteção

oferecida por uma unidade de conservação,

devem contribuir financeiramente para a

proteção e implementação da unidade.

Política Nacional de

Recursos Hídricos

Lei 9.433/1997 Também chamada de “Lei das Águas”, é

considerada um dos pilares para o

estabelecimento de sistemas de PSA de

proteção dos recursos hídricos no Brasil.

Tem entre seus principais fundamentos o

fato de que a água é um recurso natural

limitado, dotado de valor econômico. Sendo

limitado, denota escassez e por ter valor

econômico, permite a cobrança por seu uso,

através da implantação do princípio do

poluidor/usuário-pagador (MMA/2011).

Medida

Provisória

Criada para atender ao que estabelece o

terceiro objetivo da Convenção sobre

1 Área protegida nos termos dos arts. 2o e 3o do Código Florestal, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. 2 Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente,

necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas.

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2.186-16/2001 Diversidade Biológica, determina a

repartição justa e equitativa dos benefícios

da utilização do patrimônio genético

brasileiro e dos conhecimentos tradicionais

dos povos indígenas e comunidades locais

do Brasil. A legislação brasileira determina

ainda que os benefícios sejam utilizados

exclusivamente para a conservação da

biodiversidade (MMA, 2011).

ICMS Ecológico Lei Estadual3,

seu número

varia de acordo

com o estado

em que está

implementada

O ICMS Ecológico é a denominação de

qualquer critério ambiental utilizado para

calcular o percentual do ICMS que será

destinado aos municípios de um estado em

função da questão ambiental. Através do

ICMS Ecológico, estados podem, por

exemplo, determinar que municípios que

possuam áreas protegidas recebam uma

parcela do ICMS em função deste critério e

também pela qualidade da conservação e

gestão destas áreas (MMA, 2011).

Tabela 4. Arcabouço legal relacionado ao tema de Pagamento por Serviços Ambientais

Vale citar também que diversos estados brasileiros já possuem instrumentos legais

para a implementação de iniciativas de PSA, entre eles Amazonas, o próprio estado

de Minas Gerais, através do Programa Bolsa Verde, Espírito Santo, São Paulo,

Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Pernambuco. Esse é o

caso também de diversos municípios brasileiros, a exemplo de Extrema.

Além disso, é de grande importância mencionar que, em nível federal, está em

tramitação na Câmara dos Deputados o substitutivo ao Projeto de Lei (PL) 792/2007

e seus apensos, que visa instituir a Política Nacional dos Serviços Ambientais

(PNPSA), o Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais (ProPSA), o

3 Os seguintes estados possuem hoje uma Lei de ICMS Ecológico: Acre, Amapá, Ceará, Goiás, Mato Grosso,

Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Tocantins (TNC, 2012).

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Fundo Federal de Pagamentos por Serviços Ambientais (FunPSA) e o Cadastro

Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais.

O ProPSA será operacionalizado através de três subprogramas: Floresta, RPPN e

Água. O Subprograma Floresta visa gerir ações de pagamento aos povos e

comunidades tradicionais, povos indígenas, assentados de reforma agrária e

agricultores familiares (PL 5.487/2009, Art. 7º). O Subprograma RPPN (Reserva

Particular do Patrimônio Natural) visa incentivar os proprietários a criarem tais

reservas. São previstos pagamentos para serviços ambientais de propriedades com

até quatro módulos fiscais, que sejam reconhecidas pelo órgão ambiental federal

competente, excluídas as áreas de Reserva Legal, de Preservação Permanente

(APP), bem como as áreas destinadas para servidão florestal (PL 5.487/2009, Art.

8º). Outro Projeto de Lei, PL 5.586-A/2009, referente à criação de Reduções

Certificadas de Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal (RCEDD), foi

apresentado para debate com a sociedade. Este projeto visa permitir a emissão de

certificados comercializáveis de redução de emissões oriundas de florestas nativas

ou recuperadas, os quais poderiam servir como títulos no mercado de carbono

nacional e internacional (MMA, 2011).

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3. Metodologia

A escolha do projeto Conservador das Águas como estudo de caso se deveu ao seu

pioneirismo, tanto por ser primeiro no Brasil a regulamentar uma lei de Pagamentos

por Serviços Ambientais, quanto por sua capacidade de envolver setor público,

privado e sociedade civil. Os aprendizados e resultados do projeto têm servido de

referência ao desenvolvimento de outros projetos de PSA no Brasil e conquistado

prêmios nacionais e internacionais. Mais ainda, os aprendizados do Conservador

das Águas subsidiaram a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais

(Projeto de Lei no 792/2007), que está em tramitação na Câmara dos Deputados.

Para atingir os objetivos apresentados no tópico Introdução e Objetivos, a pesquisa

de campo foi orientada por duas questões principais:

a) Em que medida o modelo de PSA em Extrema contempla a conservação

da biodiversidade?

b) Qual o nível de motivação das partes interessadas em participar de

iniciativas de PSA voltadas à proteção da biodiversidade?

O método adotado para responder à pergunta (a) combinou a investigação das

características do modelo de PSA em Extrema, à investigação de bibliografia sobre

a contribuição proporcionada por Áreas de Preservação Permanente (APPs) e

Reservas Legais à proteção da biodiversidade, e entrevistas com o Departamento

de Meio Ambiente de Extrema, responsável pela gestão do projeto, e a The Nature

Conservancy, parceira técnica do projeto.

Para responder à pergunta (b), foram realizadas entrevistas com os principais atores

do projeto (listados na Tabela 5), a partir de roteiros semi-estruturados, elaborados

com base nas informações levantadas no item a. Os roteiros seguem apresentados

no Anexo 1. A análise da percepção dos proprietários rurais foi realizada através do

levantamento de dados secundários, tendo como base a tese de mestrado Why do

farmers join payment for environmental services (PES) schemes? An assessment of

pes-water project participation in Brazil, de Matheus Zanella (2011).

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Instituição Entrevistado Papel no

Projeto

Meio de

Entrevista

Data

Departamento

de Meio

Ambiente de

Extrema

Diretor de Meio

Ambiente

Executor Entrevista

pessoal

Dezembro,

2011

Laticínio Serra

Dourada

Gerente de Meio

Ambiente

Empresa

parceira

Entrevista

pessoal

Dezembro,

2011

Bauducco Gerente de Meio

Ambiente e

Segurança

Empresa

parceira

Entrevista

pessoal

Janeiro,

2012

The Nature

Conservancy

Cientista Sênior Parceiro

Técnico

Skype Janeiro,

2012

The Nature

Conservancy

Especialista em

Restauração

Florestal

Parceiro

Técnico

Email Fevereiro,

2012

Tabela 5. Relação de entrevistados

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4. Resultados e Análises

Apresentação do projeto Conservador das Águas, Extrema, Minas Gerais

Município de Extrema

O município de Extrema está localizado no Espigão Sul da Serra da Mantiqueira, no

extremo sul de Minas Gerais, Bioma da Mata Atlântica. Tem população de

aproximadamente 28.000 habitantes e ocupa uma área de 24.370 hectares.

Extrema é um dos quatro municípios mineiros que integram a Bacia Hidrográfica

Piracicaba-Capivari-Jundiaí (Bacia PCJ). Repleta de nascentes, constitui um dos

principais mananciais de abastecimento do chamado Sistema Cantareira4,

construído com o objetivo de abastecer a região metropolitana de São Paulo, além

de uma série de outros municípios pertencentes à bacia do Rio Piracicaba. Quase

metade da população da região metropolitana de São Paulo, ou mais de 9 milhões

de pessoas, utiliza a água produzida pelo Sistema Cantareira, sendo, portanto,

beneficiários das águas que nascem em Extrema e, por consequência, das ações

promovidas pelo Conservador das Águas.

Em Extrema, a principal atividade agropecuária é a pecuária leiteira, amplamente

praticada na área rural, especialmente em pequenas e médias propriedades.

Do ponto de vista de vegetação e fauna, é possível destacar os seguintes aspectos

(TNC, 2011):

• cobertura vegetal em 22% da área;

• 156 espécies de formações vegetais, incluindo a canela sassafrás, em perigo de

extinção, de acordo com o Ibama;

• 194 espécies de aves e 23 espécies de mamíferos.

4 O Sistema Cantareira é considerado um dos maiores do mundo e abastece uma população da ordem de 9

milhões, na Grande São Paulo. Desse volume, os municípios mineiros de Extrema, Camanducaia, Itapeva e Toledo são responsáveis, em média, por dois terços do volume total captado pelo sistema (Jardim, 2010).

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É importante destacar que todo o território de Extrema está dentro da Área de

Proteção Ambiental (APA) Fernão Dias e do Corredor Ecológico da Serra da

Mantiqueira.

Descrição geral do Projeto

O projeto Conservador das Águas é uma das primeiras iniciativas de PSA do Brasil.

Baseado no Programa Produtor de Água, desenvolvido pela Agência Nacional de

Águas (ANA), o projeto nasceu com a promulgação da Lei Municipal 2.100, de 21 de

Dezembro de 2005, a primeira lei municipal no Brasil a regulamentar o Pagamento

por Serviços Ambientais relacionados com a água (Dep. Meio Ambiente Extrema,

2010).

O grande diferencial da lei é o artigo 2º, que autoriza a utilização de recursos

municipais no pagamento de incentivos ao produtor rural que se dispõe a cumprir as

metas estabelecidas de adequação de suas propriedades com o objetivo de oferecer

melhorias na qualidade da água e ampliar sua oferta. A lei autoriza ainda o

município a firmar convênios com parceiros, possibilitando apoio técnico e financeiro

ao projeto (TNC, 2011).

Base Conceitual, Objetivos e Metas

O projeto Conservador das Águas foi concebido a partir da seguinte base conceitual

(Dep. Meio Ambiente Extrema, 2010):

• Adesão voluntária;

• Flexível no que diz respeito a práticas e manejos propostos;

• Pagamento baseado no cumprimento de metas estabelecidas;

• Pagamentos feitos durante e após a implantação do projeto.

O projeto tem por objetivos:

1. Aumentar a cobertura vegetal nas sub-bacias hidrográficas e implantar micro

corredores ecológicos;

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2. Reduzir os níveis de poluição difusa rural, decorrentes dos processos de

sedimentação e eutrofização, e de falta de saneamento ambiental;

3. Difundir o conceito de manejo integrado de vegetação, solo e água, na bacia

hidrográfica do Rio Jaguari;

4. Garantir a sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos manejos e práticas

implantados, por meio de incentivos financeiros aos proprietários.

Segundo estabelecido no Decreto 1.703/2006, que regulamenta a Lei Municipal

2.100/2005, o projeto conta ainda com as seguintes metas:

1) Adoção de práticas conservacionistas de solo, com finalidade de abatimento

efetivo da erosão e da sedimentação;

2) Implantação de sistema de saneamento ambiental rural;

3) Implantação e manutenção de Áreas de Preservação Permanente;

4) Implantação da Reserva Legal.

Metodologia do Projeto

O projeto Conservador das Águas vem sendo implantado nas sete principais sub-

bacias de Extrema, priorizando as regiões do manancial de abastecimento de

Extrema e as sub-bacias com menor área de cobertura vegetal nativa. Dessa forma,

o projeto segue a seguinte ordem de implantação: 1º: Posses, 2º: Salto de Cima, 3º:

Forjos, 4º: Juncal, 5º: Furnas, 6º: Tenentes e 7º: Matão. A implantação das

atividades dentro de cada sub-bacia é realizada nas propriedades rurais das

nascentes para a foz do curso d’água (TNC, 2011).

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Figura 1. Sub-bacias do projeto Conservador das Águas (TNC, 2011).

O projeto é executado pela Prefeitura Municipal de Extrema, responsável por sua

gestão administrativa, técnica e financeira, incluindo a gestão de recursos

financeiros para o pagamento dos proprietários, pela assistência técnica aos

produtores, pelo mapeamento das propriedades e pela criação de unidades de

conservação no âmbito do projeto.

Em Extrema, os pagamentos pelos serviços ambientais são feitos via orçamento da

prefeitura, conforme determina a Lei Municipal 2.100. A fonte desse recurso é o

Fundo Municipal para Pagamentos por Serviços Ambientais (FMPSA), estabelecido

através da Lei Municipal nº 2.482/2009. O capítulo III, artigo 4º da referida lei

estabelece que constituem receitas do FMPSA: i) dotação orçamentária, consignada

no Orçamento Anual do Município; ii) transferência da esfera Federal e do Estado de

Minas Gerais; iii) recursos resultantes da cobrança de taxas e/ou da imposição de

práticas pecuniárias nos termos da legislação ambiental; iv) recursos resultantes da

cobrança pelo uso da água e do fundo de recursos hídricos; v) ações, contribuições,

subvenções, transferências e doações de origem nacional e internacional, públicas

ou privadas; vi) recursos provenientes de convênios ou acordos, contratos,

consórcios e termos de cooperação firmados com instituições públicas ou privadas;

vii) rendimentos e juros resultantes de aplicações financeiras de seu patrimônio (do

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fundo); viii) ressarcimento decorrente por força de Termos de Ajustamento de

Conduta (TAC) e Termos de Compromisso Ambiental (TCA) firmados com o

Departamento de Serviços Urbanos e Meio Ambiente (DSUMA); ix) receitas

advindas da venda, negociação ou doações de crédito de carbono; x) outros

recursos financeiros que lhe forem destinados.

O pagamento é feito pela propriedade como um todo, visando promover a

adequação ambiental de toda a sua área. Para isso, são três os critérios verificados:

cobertura vegetal, conservação do solo e saneamento (TNC, 2011).

Segundo o Decreto 1.703/2006, o produtor rural, para ser elegível a participar do

projeto, deve:

• ter a propriedade inserida na sub-bacia hidrográfica trabalhada no projeto;

• ter propriedade de área igual ou superior a dois hectares;

• desenvolver na propriedade atividade agrícola com finalidade econômica;

• ter o uso da água, na propriedade rural, regularizado.

O funcionamento do projeto ocorre da seguinte forma:

� O projeto de cada propriedade tem início com o levantamento planimétrico e a

elaboração da planta digital do imóvel rural, indicando a situação atual e a situação

futura projetada para ele.

� O Departamento Municipal de Serviços Urbanos e Meio Ambiente (DSUMA)

desenvolve o projeto técnico de cada propriedade, definindo ações e metas

conforme as características da propriedade.

� Com base no projeto técnico e nas ações e metas estabelecidas, é celebrado um

Termo de Compromisso entre o proprietário e o município de Extrema.

� Mensalmente é realizado o monitoramento da propriedade para verificar a

execução das ações e o cumprimento das metas.

� O DSUMA expede um relatório atestando o cumprimento das metas e o

pagamento é então realizado, mensalmente. O não cumprimento das metas acarreta

na interrupção do pagamento (situação que nunca ocorreu até hoje).

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O valor do pagamento foi definido com base no custo de oportunidade da atividade

mais comum na área rural de Extrema, o arrendamento da terra para pastagem.

Com base nesse método de valoração, o valor determinado pela Lei 2.100 para o

pagamento pelos serviços ambientais é de 100 Unidades Fiscais de Extrema (Ufex)

por hectare por ano, correspondentes, em Janeiro de 2012, a cerca R$ 200 por

hectare/ano. A Ufex é reajustada anualmente pelo Índice Nacional de Preços ao

Consumidor (INPC).

Cabe ressaltar que o custo de um projeto de PSA vai além do custo de oportunidade

o qual se traduz no pagamento pelo serviço ambiental ao proprietário. Ele envolve

também custos de pré-implementação (construção do projeto, diagnóstico),

implementação (gestão, mapeamento das propriedades, restauração florestal, etc.) e

de pós-implementação (monitoramento). Na Bacia de Posses, por exemplo, o custo

dos pagamentos aos proprietários representou apenas 22,5% do custo total das

ações (TNC, 2011).

Parceiros do Projeto

Um dos principais fatores de sucesso do projeto Conservador das Águas está em

sua ampla e diversificada rede de parceiros, conforme apresentado na tabela

abaixo:

Parceiro Papel no Projeto

Secretaria de Meio Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) /

Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG)

Parceiro estadual que financia os

insumos para o cercamento das áreas e

para as ações de restauração (cercas,

adubos, calcário, herbicidas), além de

apoiar as ações de comando e controle e

a averbação das Reservas Legais das

propriedades rurais.

Agência Nacional de Águas (ANA) Apoio à equipe técnica de Extrema,

através do monitoramento da qualidade e

quantidade da água e da provisão de

recursos para as ações de conservação

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do solo.

The Nature Conservancy (TNC) Responsável por financiar atividades de

plantio, manutenção e cercamento das

áreas (mão de obra). Também auxilia,

com assessoria técnica, a gestão do

projeto, o monitoramento dos resultados,

sua sustentabilidade e a definição dos

próximos passos.

Comitê da Bacia Hidrográfica Piracicaba-

Capivari-Jundiaí (PCJ)

Parceiro que financia Projetos Executivos

por meio dos recursos da cobrança pelo

uso da água.

SOS Mata Atlântica Organização que fornece as mudas para

restauração, por meio do programa

Clickarvore.

Melhoramentos Florestal Empresa florestal que doou insumos para

o cercamento e o plantio, como mourões

e mudas de árvores nativas.

Bauducco Indústria de Alimentos Empresa que aderiu ao Compromisso

das Águas e apoia financeiramente a

adequação ambiental de cerca de 60

hectares, com base na pegada hídrica

das operações de sua planta em

Extrema.

Laticínio Serra Dourada Empresa que dá apoio financeiro aos

produtores participantes do projeto,

através de bônus de 10% no preço pago

ao leite.

Indústria Dalka do Brasil Empresa que fez a doação de

biodigestores Acqualimp para tratamento

de efluentes domésticos das

propriedades rurais.

Tabela 6. Parceiros do projeto Conservador das Águas (adaptado de TNC, 2011)

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Resultados do Projeto

As ações do projeto Conservador das Águas tiveram início com a sub-bacia de

Posses, em 2007, e em seguida prosseguiram para a sub-bacia do Salto, onde

estão atualmente em execução.

Na sub-bacia de Posses, com 1.202 hectares, a implementação do projeto já foi

concluída com demarcação e restauração das áreas de preservação permanente.

Ao todo, 75.000 mudas de espécies nativas foram plantadas em Posses. Ali, o

projeto restaurou 85,1 hectares de área ciliar e cerca de 20% das APPs ocupadas

por atividades agrícolas e outros usos foram restauradas através do plantio de

florestas nativas ou por regeneração natural (TNC, 2011).

No período de 2005 a 2011, o projeto Conservador das Águas apresentou os

seguintes resultados (Jornal Nosso Meio Por Inteiro, 2011):

• Assinatura de 100 contratos com proprietários;

• R$ 1.074.292,00 pagos aos proprietários através do PSA;

• Plantio de mais de 220.000 mudas de árvores nativas;

• Instalação de 20 biodigestores;

• Construção de 1.000 bacias e contenção de águas pluviais;

• Construção de terraços em 100 hectares;

• Implantação de práticas de conservação de solo, de saneamento ambiental e

Pagamento por Serviços Ambientais em 100 propriedades rurais, totalizando

mais de 3.000 hectares.

É importante destacar também que, conforme apontado pela TNC (2011), o

Conservador das Águas, por meio do sistema de PSA e, principalmente, da

conservação dos ecossistemas que fornecem os serviços ambientais, incentivou os

proprietários rurais a adotarem práticas para a manutenção ou melhoria da

qualidade da água ofertada à sociedade, sem inviabilizar as atividades econômicas

da sua propriedade.

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Análise do projeto Conservador das Águas sob a luz das questões de pesquisa

A partir das informações levantadas para composição do referencial teórico e das

entrevistas realizadas com os principais atores do projeto Conservador das Águas,

foi possível construir análises sobre cada um dos objetivos de pesquisa colocados,

conforme apresentado abaixo.

Objetivo 1: Investigar o modelo de PSA em Extrema e sua contribuição à

conservação da biodiversidade.

Dentre as metas do projeto Conservador das Águas, duas têm especial importância

para o tema da biodiversidade: Implantação e manutenção de Áreas de Preservação

Permanente, e Implantação da Reserva Legal.

Conforme citado por Metzger (2010), a importância de florestas ripárias foi

evidenciada em diferentes biomas brasileiros, e para diferentes grupos taxonômicos,

e não há dúvidas que independentemente do bioma ou do grupo taxonômico

considerado, toda paisagem deveria manter corredores ripários, dado os seus

benefícios para a conservação das espécies.

Da mesma forma, Metzger destaca a importância da Reserva Legal para a

conservação da biodiversidade, citando sua função de acordo com o Código

Florestal como áreas voltadas para:

[...] uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos

processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de

fauna e flora nativas (Código Florestal).

Estudos específicos sobre biodiversidade também reforçam a importância das Áreas

de Preservação Permanente e de Reserva Legal para a biodiversidade. Para as

aves, grupo indicador de qualidade ambiental, Develey e Pongiluppi (2010) apontam

que, em paisagens fragmentadas, as APPs funcionam como corredores, permitindo

a dispersão das aves através da matriz. O estudo de Develey e Pongiluppi reforça

ainda Metzger (2010), no sentido de que as áreas de Reserva Legal devem ser

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mantidas de forma complementar às APPs, já que a composição da avifauna varia

entre as áreas de vegetação nativa situadas próximas e distantes de corpos d’água.

A heterogeneidade ambiental é crucial para a manutenção da integridade das

comunidades de aves.

Finalmente, Develey e Pongiluppi destacam o papel das aves como importantes

predadoras, dispersoras e polinizadoras em agroecossistemas, especialmente em

áreas tropicais onde uma maior riqueza de aves está correlacionada com uma maior

taxa de remoção de artrópodes, incluindo pestes.

Em entrevistas com o parceiro técnico do projeto The Nature Conservancy (TNC),

também ficou evidente a contribuição do projeto para a conservação da

biodiversidade. A Cientista Sênior da TNC, Anita Diederichsen, destaca o fato de

Extrema estar localizada na Serra da Mantiqueira, remanescente representativo de

um bioma altamente ameaçado, hotspot para conservação da biodiversidade

mundial: a Mata Atlântica. Ao implementar ações de restauração e formação de

corredores, o projeto Conservador das Águas está promovendo a conectividade

entre os fragmentos, favorecendo assim a conservação da biodiversidade em um

contexto de paisagem. Ricardo Viani, Especialista em Restauração Florestal da

TNC, confirma essa visão:

Embora o enfoque seja para a água, as práticas executadas no âmbito do projeto

contribuem sim para a conservação da biodiversidade. Ou seja, implicitamente o

projeto está relacionado à conservação da biodiversidade e prestação de serviços

ambientais relacionados à biodiversidade também. [...] O cercamento de

remanescentes florestais e o isolamento do gado contribuem para a regeneração e

conservação de espécies típicas de sub-bosque, tanto da flora como da fauna. A

restauração das APP melhora a conectividade da paisagem pela formação de

corredores e cria novos habitats. Estes aspectos melhoram o fluxo gênico e,

consequentemente, a conservação da biodiversidade. E mesmo a melhoria da

qualidade da água, conseguida pela redução da erosão com práticas de solo como

terraceamento e construção de barraginhas, pode trazer benefícios para a

conservação da fauna aquática.

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Dessa forma, é possível sim afirmar que o projeto em Extrema tem importância para

a conservação da biodiversidade e, a partir dessa observação, concluir que de forma

geral mecanismos de PSA com foco água contribuem para a biodiversidade.

Entretanto, como o foco do projeto até o momento – tanto sob o ponto de visto

técnico e cientifico de implementação das ações e de monitoramento, quanto

estratégico, de sensibilização da comunidade, de comunicação, de captação de

recursos e até de pagamento aos proprietários - tem sido a questão hídrica devido à

importância da região para esse tema, o aspecto biodiversidade não foi incorporado

diretamente à estratégia do projeto, não sendo monitorado de forma sistemática.

Assim, não há evidências científicas que comprovem de fato a contribuição do

projeto para a conservação da biodiversidade.

É importante, porém, destacar que essa é uma questão que já vem sendo estudada

pelo projeto Conservador das Águas e que deve ser endereçada na nova fase do

projeto que tem início em 2012. Nessa nova fase, o projeto será ampliado para

contemplar de forma mais direta os aspectos de biodiversidade, carbono (seguindo

os critérios do CCBA, Climate Community & Biodiversity Alliance, e VCS, Voluntary

Carbon Standard) e comunidade, os quais serão monitorados de forma regular.

As ações em biodiversidade terão como foco a criação de Reservas Particulares do

Patrimônio Natural (RPPN), unidade de conservação privada, de proteção integral.

Além do Plano de Manejo, a RPPN possuirá plano de controle e combate a

incêndios, infraestrutura demarcatória e de proteção dos limites, e nela serão

desenvolvidos projetos de restauração, pesquisa e monitoramento da

biodiversidade, além de ações de fiscalização, administração e controle e

saneamento ambiental.

A expectativa é que o hectare de RPPN seja remunerado pelo dobro do valor (R$

200 Ufex/hectare) estimulando assim o proprietário para sua criação. Os recursos

para o pagamento serão captados junto ao setor privado, dentro de uma lógica de

compensação, através de Convênio a ser assinado entre o município de Extrema e o

empreendedor.

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A captação de recursos junto ao setor privado será feita via pacote de serviços,

estratégia conhecida por Bundling, que permite a oferta de serviços ambientais de

uma única área de maneira agrupada, em “pacotes”. A adoção dessa estratégia

considera que a proteção de uma área natural, dependendo de suas características,

pode ao mesmo tempo conservar a biodiversidade, proteger os recursos hídricos e

armazenar/reduzir emissões de carbono. A estratégia permite ao provedor melhores

retornos, ao mesmo tempo em que reduz seus custos de transação, e para o

investidor é uma forma efetiva de maximizar os resultados de seu investimento. Um

bom exemplo de Bundling que combina os serviços de carbono e biodiversidade são

os mecanismos de REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e

Degradação Florestal, incluindo o papel da conservação, do manejo sustentável e do

aumento dos estoques de carbono das florestas em países em desenvolvimento).

Objetivo 2: Identificar junto aos principais envolvidos no projeto – poder

público, empresas e proprietários rurais – a motivação na adoção de modelos

de PSA e potencial interesse na incorporação de mecanismos de pagamento

por biodiversidade.

Poder Público

Em Extrema, o envolvimento com a questão ambiental vem de longa data. Em 1996,

a prefeitura iniciou o projeto “Recuperar e Preservar a Quantidade e Qualidade das

Águas dos Mananciais de Consumo e Desenvolvimento do Médio Sapucaí”, em

parceria com outros seis municípios do Sul de Minas. Em 1999, com o apoio do

Consórcio das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, foi criado o primeiro

termo de referência para elaboração do diagnóstico ambiental dos recursos hídricos

nas sub-bacias. Em 2001, foi desenvolvido o projeto “Água é Vida – Manejo e

Monitoramento em Sub-Bacias Hidrográficas”, cuja meta era a obtenção do

Diagnóstico Ambiental de Extrema. Em 2002, foi discutida a proposta de criação do

Comitê Federal das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Nessa

oportunidade, foi mencionado o Programa Produtor de Águas da ANA, e o conceito

de PSA, e então surgiu a ideia do Conservador das Águas. Em 2003 e 2004, foi

elaborada a Agenda 21 de Extrema, oportunidade em que foi discutido o conceito do

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projeto Conservador das Águas com a sociedade, o que culminou com sua criação

oficial em 2005 (Dep. Meio Ambiente Extrema, 2010).

Esse histórico ambiental, sem dúvida, é um fator que responde em grande parte pelo

sucesso do projeto. Extrema é o segundo melhor dos 853 municípios mineiros

segundo o Índice Mineiro de Responsabilidade Social (FJP, 2012). Estar tão bem

colocado no ranking – e todos os desdobramentos que isso trás, como por exemplo,

a visibilidade – é motivo de orgulho para o município e estimula, tanto por parte do

governo quanto da sociedade, a adoção de práticas que perpetuem esse status.

A entrevista com o Departamento de Meio Ambiente de Extrema e a consulta a

fontes secundárias de informação, reforçam a percepção acima. Para o poder

público, a adoção de modelos de PSA tem como motivador uma maior visibilidade e,

com ela, a atração de apoios e investimentos no município, tanto em termos de

turismo, uma vez que o município ganha destaque por suas riquezas naturais,

quanto de negócios. Exemplo disso é a implementação em Extrema da futura fábrica

de refrigeradores e máquinas de lavar roupa da Panasonic, motivada entre outros

fatores pela política ambiental do município e do estado de Minas Gerais como um

todo. A instalação da fábrica, cujas operações devem iniciar no primeiro semestre de

2012, proporcionará a Extrema um investimento na ordem de R$ 200 milhões,

gerando de 250 a 400 empregos diretos (Gazeta da Cidade, 2011).

A incorporação de forma consistente de mecanismos de pagamento por

biodiversidade ao modelo já existente pode trazer ainda mais destaque ao

município, tornando-o referência para demais iniciativas no País. Além disso, a

expectativa de aprovação da Política Nacional dos Serviços Ambientais pode

beneficiar o município com novas fontes de recursos para suas ações ambientais.

Empresas

Por meio das entrevistas realizadas com o Laticínio Serra Dourada e a Bauducco foi

possível identificar que a motivação geral dessas empresas em participar do projeto

reside em sua preocupação com a temática ambiental e na legitimidade conferida

pelo projeto à atuação das empresas nesse tema. Ambas ressaltaram também a

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participação no projeto como uma forma de se adequar à crescente cobrança do

consumidor por um comportamento responsável por parte das empresas. Mesmo

sem terem ainda retornos financeiros, ambas acreditam que a participação no

projeto poderá diferenciá-las junto ao consumidor, trazendo ganhos no futuro.

Analisando especificamente cada uma das empresas, é possível identificar outras

motivações.

Segundo o Laticínio Serra Dourada, o projeto contribui para uma maior capacitação

dos produtores rurais, sensibilizando-os para as questões ambientais e tornando-os

mais responsáveis também com a produção. É importante destacar que o Laticínio

Serra Dourada oferece aos produtores que participam do projeto Conservador das

Águas um bônus de 10% no preço pago ao leite. Em Dezembro de 2011, dos 154

produtores fornecedores de leite ao laticínio, doze recebiam o bônus por

participarem do projeto. Esses produtores forneciam em Dezembro cerca de 11% do

total do leite adquirido pelo laticínio.

Além disso, o Laticínio Serra Dourada apontou que a participação no projeto

fortaleceu sua imagem frente aos produtores rurais, à sociedade local e também

junto aos funcionários, e tem ajudado a atrair colaboradores mais qualificados.

Em relação à Bauducco, foi identificada especificamente como motivação para

participação no projeto a busca da empresa em utilizar os recursos naturais de

forma cada vez mais eficiente, minimizando ao máximo seu consumo. Nesse

sentido, é importante destacar que a participação da Bauducco no projeto visa

garantir a equivalência entre o que a fábrica em Extrema consome de água e o que

é “produzido” na natureza. Para isso, foi calculada a quantidade de litros de

água/segundo consumida pela fábrica da Bauducco e feita a equivalência com base

nos litros de água/segundo produzidos um hectare preservado. Esse estudo apontou

que, para a Bauducco “zerar” sua pegada hídrica em Extrema, seria necessária a

restauração de uma área de cerca de 60 hectares, trabalho que motivou a

participação da empresa do projeto e que será desenvolvido ao longo de 5 anos.

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É interessante notar que nenhuma das duas empresas, até a conclusão desse

trabalho, havia divulgado sua participação no projeto junto aos seus consumidores,

através de ações de marketing e comunicação. Embora tenham interesse em fazê-

lo, ambas afirmaram que preferem divulgar o apoio ao projeto quando os resultados

de sua participação estiverem melhor consolidados. Esse aspecto reforça a

percepção acima de que uma das principais motivações para sua participação no

projeto está na preocupação com a temática ambiental.

Ambas as empresas manifestaram ainda interesse em continuar no projeto e desejo

que esse fosse estendido para outros municípios, abrangendo um maior número de

proprietários rurais. Entretanto, reforçaram que a ampliação de sua atividades vai

depender dos resultados atingidos, algo que só poderá ser avaliado no futuro, uma

vez que sua adesão ao projeto é ainda recente (ambas iniciaram suas atividades no

projeto Conservador das Águas em Março de 2011).

Além disso, cabe destacar que ambas as empresas enfatizaram que o sucesso dos

mecanismos de PSA e da efetiva proteção dos serviços ambientais só será possível

com um trabalho paralelo, consistente e contínuo, de educação, tanto na ponta do

produtor rural, de forma que sua atitude de conservação não esteja condicionada a

uma remuneração financeira e, na outra ponta, do consumidor, que deve ser

sensibilizado para a importância de mudar seus hábitos de consumo e de fato fazer

escolhas que sejam compatíveis com a preservação dos recursos naturais.

Sob o ponto de vista de biodiversidade, cabe ressaltar que nenhuma das empresas

atua com o tema, pois entendem que ele não tem relação direta com a atividade que

exercem. Ambas consideram que o projeto, se bem planejado e executado para os

componentes água e carbono, pode trazer ganhos à biodiversidade.

Com base nas entrevistas acima, poder-se-ia concluir que os mecanismos de PSA,

devido a sua complexidade e o fato de implicarem em parcerias de longo prazo,

tendem a atrair empresas que possuem um interesse mais aprofundado na questão

socioambiental. Entretanto, para que isso possa de fato ser afirmado é necessária

maior investigação sobre o tema.

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Proprietários Rurais

A motivação do proprietário rural foi verificada a partir do levantamento de dados

secundários, tendo como base a tese de mestrado Why do farmers join payment for

environmental services (PES) schemes? An assessment of pes-water project

participation in Brazil, desenvolvida por Matheus Zanella (2011). A tese em questão

acessou os motivos que levam os produtores rurais a participarem de mecanismos

de PSA com foco em água a partir da análise de três estudos de caso, sendo um

deles o projeto Conservador das Águas em Extrema.

O estudo de Zanella identificou como principais motivadores da adesão de

produtores rurais a mecanismos de PSA com foco em água:

1) Compreensão a respeito das interações ecológicas que proporcionam o serviço

ambiental e reconhecimento da importância do PSA para sua manutenção.

2) Envolvimento de associações de produtores rurais no desenho e implantação do

projeto e em suas estruturas de governança.

3) Entendimento sobre a mecânica de funcionamento do PSA e envolvimento/

preocupação com a temática ambiental.

4) Custos de oportunidade, no sentido de que projetos de participação voluntária

têm maior adesão de produtores cujas propriedades têm menor custo de

oportunidade.

Fazendo uma análise desses motivadores à luz do aspecto biodiversidade, e

especialmente considerando a complexidade do tema, é possível inferir que a

adesão do proprietário rural a mecanismos de PSA com foco biodiversidade estará

profundamente atrelada à identificação e envolvimento do proprietário com o tema.

Isso é especialmente válido em Extrema, onde a estratégia principal para o tema de

biodiversidade será a criação de RPPNs. Sendo esta uma unidade de conservação

de proteção integral, cuja criação é ato voluntário do proprietário e tem caráter

perpétuo, a participação do proprietário irá depender de seu envolvimento com a

temática ambiental e de sua compreensão a respeito do papel exercido pelas

RPPNs na conservação da biodiversidade.

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Essa conclusão é reforçada pela observação prática do perfil de proprietários de

RPPN. Na maioria dos casos são pessoas/famílias que possuem vínculo pessoal e

afetivo com a terra e os recursos naturais nela existentes, para as quais benefícios

financeiros como a isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) e a possibilidade de

geração de renda a partir de atividades de ecoturismo são fatores considerados

secundários na decisão de criação da RPPN.

É importante ressaltar que a análise acima não elimina de forma alguma a

importância do mecanismo de pagamento, ao contrário, ele pode atuar como um

estímulo e, acima de tudo, um reconhecimento ao proprietário por sua contribuição à

natureza e à sociedade.

Objetivo 3: Analisar possíveis formas de enriquecer o modelo de PSA

existente, com a incorporação de mecanismos de pagamento por

biodiversidade.

A Matriz SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças) abaixo foi

desenvolvida para analisar possíveis formas de enriquecer o modelo de PSA em

Extrema no tocante ao aspecto de biodiversidade:

Forças

- Histórico (temática ambiental é parte

da agenda político-administrativa há

15 anos) e experiência acumulada no

tema (o projeto existe há 6 anos).

- “Popularidade” do projeto

- Rede de Parceiros

- Nova fase do projeto em 2012 irá

incorporar a criação de RPPNs,

instrumento de grande importância

para assegurar a conservação da

biodiversidade no longo prazo.

Fraquezas

- Ausência de monitoramento do

impacto sobre a biodiversidade das

ações realizadas até hoje.

- Importância relativa de Extrema para

o tema de biodiversidade.

- Criação de RPPNs, foco do projeto a

partir de 2012 no aspecto de

biodiversidade, é um instrumento que

por suas características geralmente

encontra resistência por parte do

proprietário.

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Oportunidades

- Crescente atenção ao tema de PSA

e possível criação da Política

Nacional de Serviços Ambientais,

assim como,

- Novo Código Florestal, que propõe o

Pagamento por Serviços Ambientais,

trazem ao projeto em Extrema um

amparo legal em nível federal,

podendo atrair novos parceiros e

apoiadores, novas fontes de recursos

e favorecer sua ampliação e

incorporação do aspecto

biodiversidade.

Ameaças

- Difícil entendimento pela sociedade

sobre o que é biodiversidade e sua

relevância para o dia-a-dia das

pessoas e dos negócios.

- O novo Código Florestal, ao

abrandar as exigências relativas às

APPs e Reservas Legais, torna a

conservação dessas áreas mais

dependente do interesse voluntário do

proprietário e de maior remuneração

financeira no caso do PSA.

- Crises econômicas podem afetar o

orçamento do projeto enfraquecendo-

o como mecanismo econômico

- Mudanças no cenário político local

podem afetar a continuidade do

projeto.

A análise da Matriz acima permite identificar algumas possibilidades para o

fortalecimento do projeto Conservador das Águas em relação à biodiversidade, que

seguem apresentadsd abaixo (algumas delas inclusive já previstas na nova fase do

projeto que se inicia em 2012):

1) Monitoramento dos impactos do projeto sobre a bidiversidade

Uma vez que não foi monitorado o impacto sobre a biodiversidade das ações

realizadas até o momento - não havendo assim um histórico de potenciais melhorias

alcançadas nesse aspecto - compilar e sistematizar estudos e levantamentos

existentes no meio acadêmico sobre a biodiversidade da região, combinando

inclusive com o testemunho da comunidade local, poderia de certa forma servir

como uma linha de base. A partir desses dados poderiam ser definidos indicadores

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para inclusão nas ações de monitoramento que terão início na nova fase do projeto

a partir de 2012.

É preciso destacar que o monitoramento da biodiversidade é um processo complexo

e custoso, visto que os resultados muitas vezes só são percebidos no longo prazo.

Por isso, contar com parceiros técnicos experientes no tema e apoiadores que

tenham interesse e valorizem esse tipo de trabalho é vital para assegurar um

processo de monitoramento consistente e continuo.

2) Engajamento dos proprietários rurais

Em sua nova fase, o projeto irá atuar fortemente na criação de RPPNs. Reforçando

o que foi dito anteriormente, este é instrumento valioso para a conservação da

biodiversidade por se tratar de uma unidade de conservação de proteção integral e

por ter caráter de perpetuidade. Entretanto, essas mesmas características dificultam

sua adoção pelo proprietário, ainda que ele seja remunerado pela criação e

manutenção da RPPN.

Para que essa iniciativa seja bem sucedida, é importante identificar os proprietários

com maior afinidade e interesse no tema e desenvolver junto a eles um trabalho de

sensibilização e engajamento, para que possam compreender o papel

desempenhado pela biodiversidade e a contribuição das RPPNs para sua

conservação. Esse trabalho deve percebê-los como parceiros, que podem colaborar

no desenvolvimento das ações e no engajamento de outros proprietários ao projeto.

Além disso, como o trabalho de engajamento envolve um grande investimento

financeiro e de tempo, atrair parceiros e apoiadores que tenham experiência e

interesse em atuar com o tema de sensibilização e engajamento é fator estratégico,

pois terão maior capacidade de contribuir tecnicamente e de lidar com os desafios

ligados ao envolvimento dos proprietários, burocracias no processo de criação das

RPPNs, tempo para obtenção dos resultados, entre outros. Cabe considerar como

parceiro técnico associações de proprietários de RPPNs, uma vez que podem

contribuir no diálogo e engajamento com o proprietário rural.

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3) Financiamento do pagamento por biodiversidade

O projeto Conservador das Águas, em sua nova fase a partir de 2012, prevê a

abordagem dos temas biodiversidade, carbono e comunidade, através de

subprojetos que terão como principal fonte de financiamento o setor empresarial.

A proposta é que a empresa possa compensar seus impactos disponibilizando

recursos que serão investidos em uma área indicada pelo projeto com base no

impacto causado (água, carbono, biodiversidade) e nas possibilidades de sua

compensação. A proposta segue a estratégia de “pacote de serviços” (bundling), que

considera que uma mesma área pode oferecer diversos serviços e, assim, a

possibilidade de compensar múltiplos impactos.

De forma geral, os projetos de restauração oferecem uma importante contribuição à

biodiversidade, mas sua conservação efetiva depende de iniciativas que

proporcionem proteção integral no longo prazo. Por isso, a criação de RPPNs foi a

estratégia adotada pelo Conservador das Águas.

Entretanto, é necessário considerar que Extrema não é uma região crítica para

conservação da biodiversidade em termos de espécies e hábitats endêmicos ou

ameaçados, o que pode torná-la pouco atrativa sob esse aspecto. Soma-se a isso o

fato de que financiar a criação e manutenção de RPPNs não é uma prática comum

no setor empresarial.

Dessa forma, para que essa iniciativa possa ganhar força e apoio, recomenda-se

associar a criação das RPPNs a outros benefícios além da conservação da

biodiversidade, como a proteção dos recursos hídricos, o armazenamento de

carbono, e também com a própria questão social, de geração de renda à

comunidade rural através do PSA, e de qualidade ambiental, por meio da

preservação de áreas naturais.

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5. Considerações Finais

É fato: a riqueza do Brasil reside em seus recursos naturais. Por isso, em um

momento como o que está sendo vivido atualmente pelo País, de reprimarização da

economia, o uso sustentável dos recursos naturais é condição sine qua non para

manter a economia em funcionamento e assegurar qualidade de vida para a

sociedade, hoje e no futuro.

Um estudo publicado na revista Bioscience de Janeiro de 2012 (Turner et al, 2012)

identificou que os serviços ecossistêmicos fornecidos por dezessete dos principais

hotspots no mundo podem chegar ao valor de US$ 1 trilhão ao ano. Mais ainda, o

estudo mostrou que esses serviços estão diretamente relacionados ao

desenvolvimento social, podendo desempenhar papel fundamental na melhoria da

qualidade de vida de populações em situação de pobreza. Entretanto, os autores

ressaltam que sozinhos, os fluxos biofísicos e de serviços ecossistêmicos não são

suficientes para tirar as pessoas da pobreza; é preciso implementar mecanismos

efetivos e justos para garantir que os beneficiários dos serviços ecossistêmicos

remunerem adequadamente os responsáveis por sua provisão. Os autores apontam

ainda que os resultados do estudo reforçam a ideia de que há uma importante

conexão entre biodiversidade, serviços ecossistêmicos e pobreza, que deve ser

considerada pelos formuladores de políticas públicas no desenho de mecanismos

financeiros voltados a combater a pobreza e a perda da biodiversidade.

O Brasil, apesar de ser um dos países com maior biodiversidade no mundo, está

entre aqueles que apresentam altos índices de desmatamento, degradação

ambiental, espécies e hábitats ameaçados de extinção e, também, altos níveis de

pobreza em determinadas regiões. Há ainda uma grande dificuldade em sensibilizar

a sociedade para a importância da biodiversidade e, dessa forma, atribuir-lhe valor.

Em nosso País, a preservação da biodiversidade tem se apoiado principalmente no

poder público, seus instrumentos legais e sua decorrente fiscalização. Entretanto,

sendo o Brasil um País de dimensões continentais, existe uma série de desafios que

impedem a efetiva implementação da legislação, que vão desde problemas de

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governança das instituições ambientais e de falta de infraestrutura de fiscalização,

até, infelizmente, corrupção.

Os desafios existentes no poder público e na legislação vigente não respondem

sozinhos pela situação crítica em que se encontra a biodiversidade brasileira. Ao

contrário, existe outro vilão ainda mais poderoso: o modelo econômico atual que

estimula fortemente o consumo, cuja cadeia de produção se alimenta justamente

dos recursos naturais.

Portanto, a equação de conservação da biodiversidade e de seus serviços tem

outras duas importantes variáveis além do poder público, que são as empresas e o

mercado consumidor. Daí se conclui que a efetiva conservação da biodiversidade e,

portanto, dos serviços ecossistêmicos, deve se basear em uma combinação entre

instrumentos de comando e controle e instrumentos de mercado, como os PSAs.

No Brasil, os projetos de PSA que têm maior abrangência são baseados em leis,

como é o caso do próprio Conservador das Águas. Principalmente no processo de

criação de demanda ou mercados para os serviços ambientais, os governos podem

ter um papel chave (MMA, 2011). Portanto, o caminho para a implementação bem

sucedida de mecanismos de PSA por biodiversidade deve passar pela

regulamentação.

Nesse sentido, tem papel determinante a aprovação do Projeto de Lei que visa

instituir a Política Nacional dos Serviços Ambientais. A criação de uma legislação

federal oficializa, disciplina, empodera e, acima de tudo, propõe uma nova lógica

social, tendo grande importância especialmente em assuntos pouco assimilados

pela sociedade. A Política Nacional irá também fortalecer as políticas estaduais e

municipais existentes, impulsionando a esfera local onde as ações de pagamento,

restauração e conservação de fato acontecem.

Os instrumentos de mercado não devem se resumir aos mecanismos de PSA, ao

contrário, eles devem incluir também outras ferramentas como subsídios e incentivos

fiscais a produtos desenvolvidos de forma social e ambientalmente correta (produtos

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orgânicos, por exemplo) e/ou que contribuam para o uso eficiente dos recursos

naturais, para estimular sua produção e torná-los mais acessíveis ao consumidor.

Por outro lado, produtos e serviços que incorram no uso intensivo dos recursos

naturais deveriam ser taxados de forma mais rigorosa, e os recursos dessa taxação

serem revertidos a fundos para a conservação da biodiversidade e de PSAs, como

se pretende, por exemplo, fazer caso seja aprovada a Política Nacional dos Serviços

Ambientais. Nesse caso será criado o Fundo Federal de Pagamentos por Serviços

Ambientais, cuja fonte principal serão os royalties do petróleo. Outras indústrias de

alto impacto como a química, farmacêutica, papel e celulose, e mineração também

deveriam ser chamadas a contribuir para esse fundo.

É necessário ainda fortalecer e ampliar mecanismos que façam com que os usuários

dos recursos naturais, pessoas físicas e jurídicas, de fato paguem pelo uso desses

serviços. Isso já vem sendo aplicado à água, através da Política Nacional de

Recursos Hídricos, e poderia ser ampliado para outros produtos e serviços críticos

do ponto de vista de consumo de recursos naturais, especialmente em mercados de

commodities como soja, açúcar, gado e combustível.

O caminho, porém, não é simples, pois envolve um delicado arranjo institucional,

isso sem mencionar as questões culturais. Por isso, em paralelo, são necessárias

iniciativas públicas e privadas que promovam o uso de produtos social e

ambientalmente corretos e que eduquem o consumidor sobre o seu papel, como é o

exemplo da campanha Copa Orgânica e Sustentável (Portal Brasil, 2012) e do

movimento Gastronomia Responsável (2012).

Além disso, são essenciais iniciativas que valorizem o patrimônio natural dentro de

uma perspectiva econômica, como é o caso do Projeto de Lei 2.900/11, que

estabelece o Produto Interno Bruto (PIB) Verde. Pelo projeto, o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo do PIB, divulgará

anualmente o PIB-Verde, em cujo cálculo será considerado, além dos critérios e

dados econômicos e sociais tradicionalmente utilizados, o patrimônio ecológico

nacional. Pelo indicador, os países devem atribuir valor econômico a serviços

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ambientais prestados pelos ecossistemas, de modo que esses valores possam ser

incorporados à contabilidade do setor produtivo, sendo também utilizados para a

nova metodologia de cálculo do PIB, que passaria a ser um indicador conjunto dos

processos econômicos, da sustentabilidade ambiental e do bem-estar da sociedade

(Mercado Ético, 2012).

Como força motriz da economia mundial, as empresas têm papel determinante

nesse contexto. Três quartos do PIB e dois terços dos empregos no mundo são

gerados pelo setor privado (Guardian.co.uk, 2011). Pavan Sukhdev, em entrevista à

Revista Veja, comenta que o impacto das 3.000 principais corporações do mundo na

mudança climática, nos recursos hídricos, no desperdício de material e na poluição é

estimado em U$ 2,25 trilhões por ano. Isso representa 3% da economia global e não

inclui acidentes ambientais como o ocorrido no Golfo do México (Veja.com, 2010).

Mas apesar desses dados surpreendentes, para grande parte das empresas a

biodiversidade ainda é um tema nebuloso, que não faz parte da agenda empresarial.

Políticas e estratégias de gestão da biodiversidade geralmente são adotadas por

empresas que têm grande impacto e/ou dependência dos recursos naturais. Para as

demais, o desafio reside em entender porque e como atuar com o tema. Uma

ferramenta valiosa nesse sentido são os inventários de impacto sobre a

biodiversidade. A questão é que esse é um trabalho que envolve investimento –

financeiro, pessoal e tempo – e a empresa dificilmente irá direcionar recursos se não

compreender a importância do tema.

Parar isso, uma estratégia importante é associar a preservação da biodiversidade à

gestão de riscos, através da garantia do acesso a matérias primas e recursos no

longo prazo e da "licença para operar", via apoio e aceitação da empresa e de suas

operações por parte da sociedade civil e comunidades.

Outra estratégia para abordar o tema junto às empresas, inclusive aquelas que não

possuem impacto e/ou dependência direta sobre os recursos naturais, é integrar a

biodiversidade às já consolidadas estratégias de gestão de água e carbono. O link

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entre os temas é direto e alguns esforços importantes já existem nesse sentido,

especialmente no caso do carbono, como é o caso dos mecanismos de REDD+.

Um estudo divulgado na revista Nature Climate Change demonstra que um mercado

de créditos de carbono realmente eficiente poderia diminuir a perda de

biodiversidade nas florestas tropicais. A conclusão dos pesquisadores é que quanto

maior o valor do crédito de carbono no mercado, mais sobrevida ganham as

florestas e os animais que vivem nelas (Folha.com, 2012). O estudo destaca, porém,

que os impactos dos créditos de carbono na preservação das espécies dependem

da biodiversidade da floresta e variam em cada região. Por isso, é importante saber

quais áreas valem mais a pena serem preservadas para direcionar políticas. O

estudo publicado na revista Bioscience, mencionado anteriormente, reforça esse

aspecto ao afirmar que áreas prioritárias para a conservação (que representam

menos de ¼ da superfície terrestre) proporcionam mais da metade dos serviços

ecossistêmicos do planeta. Os benefícios que essas áreas oferecem valem mais do

que três vezes o custo de protegê-las.

Assim, é importante que mecanismos de PSA que integrem a biodiversidade tenham

como prioridade áreas consideradas críticas, como os sítios BAZE (definidos pela

Aliança Brasileira para a Extinção Zero – BAZE) e as Áreas Importantes para a

Conservação das Aves (Important Bird Areas, definidas pela BirdLife International/

SAVE Brasil). Cabe ressaltar que iniciativas de pagamento por biodiversidade como

a que terá inicio no projeto Conservador das Águas, embora não localizadas em

áreas criticas em termos de espécies e hábitats, são fundamentais dentro de um

contexto de paisagem e, portanto, devem receber apoio na medida da capacidade

de sua contribuição.

As informações coletadas e análises feitas ao longo desse trabalho permitiram

concluir que mecanismos de PSA focados em água, como é o caso do projeto

Conservador das Águas, e também em carbono, podem de fato contribuir para a

conservação da biodiversidade. É importante, porém, que esses mecanismos

insiram o aspecto de biodiversidade na abordagem científica do projeto - através de

monitoramento especifico, com indicadores e metas, e de metodologias de

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pagamento que sejam condizentes com esses aspectos, combinando, por exemplo,

o custo de oportunidade ao estágio de regeneração da floresta - e em sua estratégia

de gestão, enfatizando os aspectos de biodiversidade nas ações de comunicação e

sensibilização, desenhando uma estratégia de captação de recursos que considere

o aspecto de biodiversidade no cálculo dos custos do projeto e selecionando

parceiros e apoiadores envolvidos com o tema.

As análises levaram também à conclusão de que poder público, empresas e

proprietários rurais participam de tais iniciativas por motivações diversas, sendo que

o denominador comum é a identidade com a temática ambiental. Para o aspecto

biodiversidade essa conclusão aplica-se com muito mais ênfase, dada a

complexidade e a intangibilidade dos serviços prestados.

Essa intangibilidade acabou levando à invisibilidade econômica dos serviços

naturais enfraquecendo, por conseguinte, as políticas e legislações ambientais

existentes, tornando-as incapazes de conter a destruição da biodiversidade.

Pavan Sukhdev descreve bem essa problemática: “A invisibilidade econômica da

natureza não pode continuar, porque incentivo e desincentivo econômicos são muito

poderosos. A economia tornou-se a moeda das políticas públicas. E a menos

que tratemos dessa invisibilidade, teremos os resultados que vemos agora, que são

a perda e degradação progressiva desse valioso bem natural” (TEDGlobal, 2011).

Daí a importância de mecanismos de PSA como forma de reconhecer o valor da

biodiversidade, de cobrar o impacto sobre ela e de buscar restaurá-la,

recompensando o proprietário rural que “abre mão” de uma atividade agrícola que é

sua fonte de renda para assegurar benefícios que serão usufruídos pela sociedade.

É preciso, porém, cautela para não abordar o PSA seguindo a lógica tradicional de

mercado - que tem por objetivo justamente acelerar o consumo - e torná-lo um mero

instrumento de compensação. Em relação à biodiversidade, o aspecto da

compensação é ainda mais critico e delicado, devido à grande variabilidade de

organismos vivos e as complexas interações ecológicas das quais fazem parte.

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Mecanismos de pagamento e compensação são valiosos, mas devem

necessariamente ocorrer em paralelo a medidas efetivas de redução dos impactos

por parte de governos, empresas e consumidor. Sem mudanças nos padrões de

consumo, as medidas de pagamento e compensação serão apenas paliativas, sem

efeito significativo sobre a conservação da biodiversidade.

Finalmente, cabe enfatizar que embora mecanismos legais e de mercado sejam

alicerces essenciais, a base da questão reside de fato em valores éticos, na

capacidade de compreender a importância intrínseca da biodiversidade e respeitar

seu direito de existência independente de seu valor.

Como o próprio Pavan Sukhdev coloca “untouched wildernesses have a value

beyond the resources and other utility that can be extracted from them”. Essa é a

visão de um grande economista e é interessante notar que, em sua essência, ela

tem muita relação com o poema do brasileiro Manoel de Barros: “...que a

importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem

barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo

encantamento que a coisa produza em nós.”

Isso mostra que biodiversidade, economia e poesia têm muito mais em comum do

que imaginamos. Basta saber se seremos capazes de perceber essa relação em

tempo.

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Anexos

Roteiro para entrevista com o Departamento de Meio Ambiente de Extrema

Data: 22/12/2011 Entrevistado: Paulo Henrique Pereira Cargo: Diretor de Meio Ambiente Questões para discussão Contexto de criação do projeto

1. Que problemas, desafios e oportunidades motivaram a Prefeitura de Extrema a

desenvolver o projeto Conservador das Águas e a criar a Lei Municipal 2.100/2005?

Funcionamento do projeto

2. Como é feita a seleção dos proprietários?

3. O projeto remunera tanto proprietários que preservam as áreas quanto os que restauram?

4. Além do apoio técnico, o projeto também dá apoio financeiro aos produtores para que

possam regularizar as propriedade e restaurar, conservar as áreas naturais?

5. Podem participar do projeto todos os proprietários inseridos nas sete subbacias, desde que atendam os critérios estabelecidos no Decreto 1.703/2006, ou apenas aqueles cujas propriedades estão inseridas em áreas mais críticas com relação ao tema da água (com presença de matas ciliares e/ou nascentes)?

6. O beneficiário do projeto deve ser exclusivamente uma Pessoa Físca?

7. Como se chegou ao valor de 100 Ufex/hectare, utilizando o custo de oportunidade?

8. Qual a duração do Termo de Compromisso assinado com cada proprietário? O termo prevê metas mensais para cada proprietário? Existem penalidades no caso de não cumprimento das metas?

9. Como é feito o monitoramento do projeto junto aos produtores?

10. Que empresas apóiam hoje o projeto? Há um contrato assinado com as empresas? A

parceria varia caso a caso? Qual a duração?

11. O projeto beneficia-se do ICMS ecológico? 11.1. Em caso negativo, por que não? Há planos de se beneficiar no futuro?

12. Em sua opinião, o que motiva os proprietários rurais e as empresas (Bauducco, Laticínio

Serra Dourada, etc.) a fazer parte do projeto?

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13. Em quais microbacias o projeto atua hoje? Quantos proprietários hoje participam do projeto e são remunerados por ele? Há a intenção de aumentar esse número? Quanto isso representa em hectares? E em recursos repassados?

Relação com o tema de biodiversidade

14. O projeto hoje incorpora o tema de biodiversidade?

15. Se não, quais as principais razões?

16. Sem sim, 16.1. Como? 16.2. Quais as motivações e benefícios em incorporar o tema de biodiversidade ao

projeto? 16.3. Quais os desafios de incorporar o tema de biodiversidade?

17. Você acredita que o projeto hoje contribua para a conservação da biodiversidade? De

que forma?

18. Como o projeto Conservador das Águas se relaciona com o Programa Água é Vida, Programa Extrema Biodiversidade e Programa Extrema Saudável?

19. Como está o andamento da criação do Parque Natural Municipal Conservador das

Águas? Onde ele está localizado (subbacias)? Houve desapropriação?

20. Como está sendo feita a implantação dos micro corredores ecológicos nas áreas do projeto?

21. Qual o incentivo dado à criação das RPPNs nas áreas do projeto? Quais os resultados do projeto com relação a esse tema?

Avaliação geral do projeto e resultados

22. Quais os principais pontos fortes e pontos de melhoria do projeto?

23. De forma geral, o projeto tem uma relação custo-benefício positiva?

24. Quais os principais desafios do projeto?

25. Quais os principais resultados do projeto nesses seis anos (2005-2011)? • Número de proprietários envolvidos • Número de hectares restaurados • Aumento da cobertura vegetal • Volume de recursos repassados aos proprietários • Outros resultados

Perspectivas futuras

26. Existe alguma intenção de incorporar o cálculo da pegada hídrica e ecológica, mediante

compensação, às empresas da região (por exemplo, o Laticinio Serra Dourada)?

27. Acredita que o Programa poderá ser descontinuado por Prefeitos nos próximos anos? 27.1. Se não, por que? 27.2. Se sim, por que?

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27.3. Que principais medidas deveriam ser tomadas de hoje em diante para evitar a descontinuidade?

28. Quais os próximos passos/planos futuros do projeto?

29. A Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais, em tramitação hoje no

Congresso Nacional irá impactar o projeto em Extrema? De que forma?

30. As recentes mudanças no Código Florestal podem afetar o projeto? De que forma?

31. Está sendo cogitado a inclusão e pagamento por parte de outros usuários (agrícolas, industriais e pessoas físicas) que são beneficiados fora dos limites de Extrema, como forma de assegurar a continuidade do projeto e sua sustentabilidade financeira?

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Roteiro para entrevista com o Laticínio Serra Dourada Data: 22/12/2011 Entrevistado: Jovane Mendes Soares Cargo: Gerente de Meio Ambiente

Questões para discussão 1. Quando teve início a participação do Laticínio Serra Dourada no projeto Conservador

das Águas?

2. O que motivou o Laticínio Serra Dourada a participar do projeto?

3. Com quantos produtores o Laticínio Serra Dourada trabalha hoje? São todos da região de Extrema?

4. Todo leite utilizado pelo Laticínio Serra Dourada vem de terceiros (produtores) ou uma

parte do volume é oriunda de gado leiteiro próprio?

5. Quantos produtores são beneficiados hoje com o bônus de 10%? Existe a intenção de aumentar esse número?

6. Quais são os critérios para pagamento do bônus aos produtores do projeto?

7. De que forma é feito o pagamento e com que freqüência?

8. Qual o volume de recursos, em R$, repassado aos produtores por ano em razão do bônus de 10%?

9. O volume de leite fornecido pelos produtores beneficiados pelo bônus representa que porcentagem do total de leite utilizado pelo Laticínio hoje?

10. Existe um contrato assinado com os produtores participantes do projeto? O contrato prevê metas e condições para pagamento ao produtor? Qual a duração?

11. No produto final existe alguma menção à parceria com o projeto Conservador das

Águas? Se sim, de que forma (por exemplo, informação na embalagem)?

12. Quais os principais pontos fortes e pontos de melhoria da parceira com o projeto Conservador das Águas?

13. Quais os principais desafios da parceria?

14. Quais os principais benefícios e resultados da parceria para o Laticínio Serra Dourada (aumento de vendas, imagem de marca, motivação dos funcionários, etc.)?

15. O Laticínio já observou que a população local reconheceu a importância do programa e

que poderia ser a guardiã para estimular a manutenção das boas práticas pelos produtores de leite?

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16. O Laticínio Serra Dourada tem alguma atuação, direta ou indireta, com o tema de

biodiversidade?

17. Qual o entendimento do Laticínio do significado e da importância da manutenção da biodiversidade para a produção do gado leiteiro?

18. O Laticínio consideraria viável e teria interesse em expandir o PSA para proteção e manutenção da biodiversidade? Se sim, precisaria de apoio técnico para promover programa similar ao PSA Água?

19. Se o escopo do projeto Conservador das Águas fosse ampliado para incluir também o

aspecto de proteção da biodiversidade (por exemplo, apoiando proprietários interessados na criação de reservas, em desenvolver corredores de biodiversidade, etc.), o Laticínio Serra Dourada teria interesse em aplicar o bônus de 10% também a esses produtores? Por que?

20. Quais os próximos passos/planos futuros do Laticínio Serra Dourada em relação ao

projeto?

21. Já foi cogitado o cálculo da pegada hídrica do Laticínio e recuperação de áreas? O Laticínio teria interesse?

22. O Laticínio conta com o apoio de órgãos públicos ou de ações (p.ex Política Pública)

para conduzir o programa de PSA junto aos produtores?

23. O Laticínio tem dificuldades para monitorar a qualidade das práticas e os compromissos de manejo contratadas ou negociadas com os produtores?

24. A iniciativa do Laticínio motivou, estimulou ou foi percebida por outras empresas,

especialmente de outros segmentos de negócio?

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Roteiro para entrevista com a Bauducco Data: 25/01/2012 Entrevistado: Leandro Lenhari Cargo: Gerente de Meio Ambiente e Segurança

Questões para discussão 1. Quantas fábricas a Bauducco tem na região de Extrema? Que produtos são produzidos

nessa(s) fábrica(s)?

2. Quando teve início a participação da Bauducco no projeto Conservador das Águas? Ela tem prazo de duração?

3. O que motivou a Bauducco a participar do projeto?

4. Com funciona a participação da Bauducco no projeto (cálculo da pegada hídrica e recuperação de áreas)?

5. As áreas a serem recuperadas são selecionadas pela Secretaria de Meio Ambiente e a

Bauducco contribui com o aporte financeiro?

6. A Bauducco financia 100% do valor de recuperação dessas áreas?

7. O cálculo da pegada hídrica se aplica a todas as plantas da Bauducco na região (caso haja mais de uma)? O pagamento é feito sobre 100% da água consumida pela Bauducco na região?

8. Quantos hectares já forem recuperados até hoje através do cálculo de pegada hídrica da Bauducco?

9. Existe algum outro insumo produtivo ou matéria-prima utilizada na produção da

Bauducco em Extrema que seja oriundo da região (por ex. leite)?

10. No produto final existe alguma menção à parceria com o projeto Conservador das Águas? Se sim, de que forma (por exemplo, informação na embalagem)?

11. Quais os principais pontos fortes e pontos de melhoria da parceira com o projeto Conservador das Águas?

12. Quais os principais desafios da parceria?

13. Quais os principais benefícios e resultados da parceria para a Bauducco (aumento de vendas, imagem de marca, motivação dos funcionários, etc.)?

14. A Bauducco está envolvida em projetos semelhantes ao Conservador das Águas em

outras regiões do Brasil onde suas fábricas estão instaladas?

15. A fábrica da Bauducco em Extrema tem Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente averbadas?

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16. A Bauducco tem alguma atuação, direta ou indireta, com o tema de biodiversidade em Extrema ou em outras regiões do Brasil? Se sim, como é essa atuação?

17. Se o escopo do projeto Conservador das Águas fosse ampliado para incluir também o

aspecto de proteção da biodiversidade (por exemplo, apoiando proprietários interessados na criação de reservas, em desenvolver corredores de biodiversidade, etc.), a Bauducco teria interesse em apoiá-lo? Por quê?

18. Quais os próximos passos/planos futuros da Bauducco em relação ao projeto?

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Roteiro para entrevista com The Nature Conservancy Data: 31/01/2012 Entrevistado: Anita Diederichsen Cargo: Cientista Sênior

Questões para discussão 1. Qual a definição e diferença entre Serviços Ambientais e Serviços Ecossistêmicos? O

conceito de Pagamento se aplica a ambos?

2. Qual a importância da região de Extrema para biodiversidade?

3. O projeto hoje (focado em Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente) contribui para a conservação da biodiversidade? 3.1. Se não, quais as principais razões? 3.2. Sem sim,

3.2.1. Como? 3.2.2. O impacto na biodiversidade está sendo medido de alguma forma?

4. A partir de 2012 o projeto irá incluir também biodiversidade (com o envolvimento da

Panasonic), mas através de pegada hídrica e compensação e não do cálculo da pegada de biodiversidade. Quais as vantagens e desvantagens desse modelo para a conservação da biodiversidade?

5. Quais as motivações e benefícios em incorporar o tema de biodiversidade ao projeto? E os desafios?

6. Que melhorias teriam que ser feitas no modelo para incluir o tema de biodiversidade de forma efetiva?

7. Quais os principais benefícios e desafios de mensurar a pegada de biodiversidade?

8. Em sua opinião, o Pagamento por Biodiversidade é viável em Extrema? Por que?

9. Você conhece algum projeto bem sucedido de Pagamento por Biodiversidade? Onde?

10. Que características e condições são imprescindíveis para viabilizar um projeto de

Pagamento por Biodiversidade?

Avaliação geral do projeto e resultados

11. Quais os principais pontos fortes, pontos de melhoria e desafios do projeto?

12. O custo de R$ 2.172 milhões apresentado no documento Passo a Passo (pág. 51) é referente a quanto tempo de projeto? Para qual escala (1.2 mil hectares, 108 proprietários, ou para 925 hectares, 53 proprietários)?

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13. Em 6 anos de projeto, quantos hectares foram preservados/recuperados e reservas legais averbadas? Que outros resultados relevantes merecem ser destacados?

14. O projeto prevê o monitoramento de longo-prazo dos serviços ecossistêmicos da região

de Extrema? Em caso positivo, quais indicadores estão sendo utilizados? Perspectivas futuras

15. Se o apoio financeiro aos proprietários acabar, corre-se o risco dos proprietários

voltarem a desmatar?

16. Que principais medidas deveriam ser tomadas para evitar a descontinuidade do projeto?

17. Está sendo cogitado o pagamento por parte de outros usuários (agrícolas, industriais e pessoas físicas) que são beneficiados fora dos limites de Extrema, como forma de assegurar a continuidade do projeto e sua sustentabilidade financeira?

18. Quais os próximos passos/planos futuros do projeto?

19. A Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais, em tramitação hoje no

Congresso Nacional irá impactar o projeto em Extrema? De que forma?

20. As recentes mudanças no Código Florestal podem afetar o projeto? De que forma?

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Roteiro para entrevista com The Nature Conservancy Data: 14/02/2012 Entrevistado: Ricardo A. Gorne Viani Cargo: Especialista em Restauração Florestal

Questões para discussão

1. Qual a importância da região de Extrema para biodiversidade?

2. O projeto hoje (focado em Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente) contribui para a conservação da biodiversidade? 2.1. Se não, quais as principais razões? 2.2. Sem sim, como?

3. Existe algum tipo de monitoramento/avaliação do impacto das ações do projeto sobre a biodiversidade (tanto flora quanto fauna)?

4. Como é feito esse monitoramento (indicadores, metodologia)?

5. O Secretário Paulo Henrique Pereira comentou que alguns proprietários relatam dados interessantes, como por exemplo, a observação de lobo-guará que há muito tempo não era visto na região. Você acha que esse pode ser um resultado das ações do projeto Conservador das Águas?

6. Quais as motivações e benefícios em incorporar o tema de biodiversidade ao projeto? E

os desafios?

7. Que melhorias teriam que ser feitas no modelo para favorecer a conservação da biodiversidade de forma efetiva?

8. Em sua opinião, o Pagamento por Biodiversidade é viável em Extrema? Por que?