fundaÇÃo getÚlio vargas escola de ...‡Ão getÚlio vargas escola de administraÇÃo de empresas...

227
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO LUCIANO EDUARDO MALUF PATAH POR QUE 90%? Uma análise das taxas de cesárea em serviços hospitalares privados do município de São Paulo SÃO PAULO 2008

Upload: doanlien

Post on 25-Jul-2019

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

LUCIANO EDUARDO MALUF PATAH

POR QUE 90%? Uma análise das taxas de cesárea em serviços hospitalares privados do município

de São Paulo

SÃO PAULO 2008

LUCIANO EDUARDO MALUF PATAH

POR QUE 90%? Uma análise das taxas de cesárea em serviços hospitalares privados do município

de São Paulo

Tese de Doutorado apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito para obtenção do título de Doutor em Administração de Empresas.

Campo do Conhecimento: Administração Hospitalar e Gestão de Sistemas de Saúde

Orientadora: Profa. Drª. Ana Maria Malik

SÃO PAULO 2008

LUCIANO EDUARDO MALUF PATAH

POR QUE 90%? Uma análise das taxas de cesárea em serviços hospitalares privados do município de

São Paulo

Tese de Doutorado apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito para obtenção do título de Doutor em Administração de Empresas. Campo do Conhecimento: Administração Hospitalar e Gestão de Sistemas de Saúde DATA DE APROVAÇÃO: ______/________/_____

BANCA EXAMINADORA

_________________________________ Profa. Drª. Ana Maria Malik (orientadora) FGV-EAESP

Profa. Drª. Hilegonda Maria Ditilh Novaes FMUSP

Prof. Dr. Álvaro Escrivão Júnior FGV-EAESP

Prof. Dr. Edmund Chada Baracat FMUSP _________________________________ Prof. Dr. Wladimir Taborda UNIFESP

Aos meus pais, Eduardo e Célia, pelo estímulo e exemplo de caráter sempre presentes.

À minha família, em especial à minha esposa Karen, pelo amor, carinho e dedicação, mantendo a harmonia e a ordem em nossa família e permitindo que eu pudesse me dedicar nesse trabalho.

Às minhas filhas Giovanna e Gabriela, diamantes que iluminam nossas vidas.

AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Professora Doutora Ana Maria Malik, sempre presente durante essa jornada, oferecendo, mais do que apenas orientações desse trabalho, motivação, amizade e exemplo de perseverança. Ao Professor Doutor José Manoel de Camargo Teixeira, pelos incentivos, amizade e exemplo no campo profissional. Ao Professor Doutor Álvaro Escrivão Júnior, responsável por iniciar e fomentar as discussões sobre esse tema da Tese, agradeço também pelos incentivos dados ao longo de todo o curso. Ao Professor Djair Picchiai pelos ensinamentos durante a pós-graduação. Aos colegas da pós-graduação e pós-graduados do GV Saúde pelo companheirismo e auxílio nas horas difíceis. Aos funcionários da FGV-EAESP, em especial a Sra. Leila Dall’Aqua, pela competência, dedicação e carinho aos alunos dessa instituição. Ao Professor Doutor Corintio Mariani Neto, pelos ensinamentos e pelo exemplo de vocação na administração de serviço público de saúde. Ao Professor Doutor Valdir Tadini, pelos incentivos no início da trajetória pela Administração Hospitalar. Ao colega Manoel Carlos Sampaio, epidemiologista que forneceu seu conhecimentos na análise estatística dos dados. À Professora Doutora Denise Schout pelos incentivos e auxílios na pesquisa. À CAPES e à GV Pesquisa, pelo auxílio financeiro por meio da concessão da bolsa de estudos durante a pós-graduação. Aos médicos e pacientes que prontamente aceitaram participar desse trabalho. À todos aqueles que, por ventura deixei de mencionar, mas que de alguma forma participaram e me auxiliaram, meus mais sinceros agradecimentos.

“A vida é breve e a arte é longa; só há portanto um meio de atenuar essa desvantagem inerente à condição humana: o de utilizar inteligentemente o tempo que nos cumpre viver.”

Hipócrates, 460-377 aC

RESUMO

As taxas de cesárea têm apresentado elevação progressiva nos últimos vinte anos em diversos países, inclusive no Brasil. Esse fato, considerado um problema de saúde pública, tem suscitado questionamentos sobre os fatores envolvidos na decisão do tipo de parto. O presente estudo teve como objetivo analisar os fatores associados à escolha pela cesárea no sistema privado de saúde brasileiro, que apresenta as maiores taxas do mundo desse procedimento. Partiu-se da premissa de que a forma de organização da prática obstétrica nesse modelo privado de assistência, envolvendo fatores sócio-culturais e econômicos das gestantes e dos médicos, propiciaria essa situação. Esta análise foi feita por meio de entrevistas com 250 mulheres após o parto e com 122 médicos que prestaram assistência a essas pacientes. Os resultados demonstraram associação significativa entre a realização de cesáreas, maior nível de escolaridade, renda superior a 10 salários mínimos e emprego entre as mulheres, que foram submetidas a essa cirurgia em 88% dos partos realizados. Essas pacientes demonstraram elevado poder de negociação com os médicos, com quem desenvolvem estreito relacionamento médico-paciente, observando-se a participação de 80% delas na escolha do tipo de parto e acima de 95% de satisfação com o parto realizado. Dentre os fatores envolvidos na decisão pela cesariana para as pacientes, a praticidade em agendar o parto foi o mais relevante. Constatou-se que, numa parcela considerável das mulheres, houve mudança de opinião quanto ao tipo de parto desejado durante a gravidez, particularmente entre aquelas que desejavam parto normal no início e que optaram por uma cesariana no final da gestação. Para os médicos, os principais fatores associados à realização da cirurgia foram a insegurança materna pelo parto vaginal, a solicitação de cesárea pela gestante, a forma de remuneração pelo procedimento e a formação médica atual. Ao perguntar para as médicas que tipo de parto desejariam ter se estivessem grávidas, 40% delas disseram optar pela cesariana. Apesar dessa preferência, a taxa de cesárea encontrada entre as médicas e esposas dos médicos foi menor em relação à taxa desse procedimento na amostra de pacientes entrevistadas. Observamos a percepção de que a cesárea é uma forma segura de parto, tanto para as pacientes, como para os médicos. Concluímos, a partir da percepção de dois agentes dessa cadeia de assistência, que as taxas de cesárea atingem cifras ao redor de 90% em decorrência da forma de organização da prática obstétrica inserida no modelo privado de saúde brasileiro, das características sócio-culturais das mulheres assistidas por esse sistema de saúde e da formação dos profissionais de medicina.

ABSTRACT The rates of cesarean section have shown a progressive growth in the last twenty years in several countries, including Brazil. Such fact, considered a public health problem, has raised questions about the factors involved in deciding the type of delivery. This study aimed to analyze the factors associated with the choice for cesarean sections in the Brazilian private health system, which has the highest rates in the world for this procedure. It was assumed that the way the obstetric practice is organized in this private health insurance system, which involves socio-cultural and economic factors of both pregnant women and doctors, would favor this situation. This analysis was carried out through interviews with 250 women who had given birth and with 171 doctors who had provided care to these patients. Results have shown a meaningful association between cesarean sections and a higher level of education, income greater than 10 minimum wages and employment among the women who were subjected to surgical procedures in 88% of the deliveries made. These patients showed high negotiation power with doctors, with whom they develop a close doctor-patient relationship: 80% of them considered they were participants in the decision making regarding the type of delivery and above 95% of satisfaction with the delivery made was found. Among the factors involved in the decision for a cesarean section by the patients, the possibility to schedule the delivery was the most relevant one. It was found that a considerable number of women changed their minds as to the type of delivery desired during the pregnancy, particularly among those who wanted normal delivery at the beginning and finally chose a cesarean section at the end of the gestation. For the doctors, main factors associated with the surgery were maternal insecurity regarding vaginal delivery, request for caesarean section made by pregnant women, form of remuneration for this kind of procedure and current medical training. When women doctors were asked what kind of delivery they would like to have if they were pregnant, 40% said they would choose the cesarean section. In spite of this preference, the cesarean section rate found among women doctors and doctors’ wives was lower when compared to the rate of this procedure among interviewed patients. We have noticed that a cesarean section is perceived as a safe means of birth both by the patients and the doctors. We have concluded, from the perception of two players within this health care chain, that the cesarean section rates reach figures around 90% due to the organization way of the obstetric practice inserted in the Brazilian private health care model, the socio-cultural characteristics of women assisted by this health system and the educational background of physicians.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1– Taxas de cesárea (percentual por 100 nascidos-vivos) dos países da OECD..................................................................................................................37

Gráfico 2– Evolução das taxas de cesárea (percentual por 100 nascimentos), 1990 à 2002 ....................................................................................................................38

Gráfico 3– Taxas de cesárea em regiões urbanas e rurais de países da África e América Latina ....................................................................................................39

Gráfico 4– Evolução das taxas de cesárea nos EUA................................................46 Gráfico 5 – Evolução das Taxas de cesárea no Brasil, de 1996 a 2005 ...................77 Gráfico 6 - Proporção de Cesarianas, segundo sistemas de saúde - Gráfico

comparativo entre taxas de cesárea do Setor Suplementar e taxa de cesárea total (sistema público e privado) – Brasil .............................................................78

Gráfico 7– Evolução das taxas de cesárea no SUS, Brasil, 1995-2005....................81

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Distribuição da população brasileira, por região e sexo, Brasil 2000 .....75 Quadro 2 – Proporção de Partos Cesáreos no Brasil, segundo regiões da federação,

2005 ....................................................................................................................76 Quadro 3 – Conjunto de variáveis utilizadas no questionário para entrevistas com as

pacientes selecionadas .....................................................................................122 Quadro 4– Conjunto de variáveis utilizadas no questionário para entrevistas com as

médicos selecionados .......................................................................................123 Quadro 5 – Partos realizados nas principais maternidades do município de São

Paulo, segundo tipo de parto.............................................................................124 Quadro 6 – Número e proporção de mulheres e de gestantes entre 40 e 49 anos e

percentual de cesáreas, Brasil 2005. ................................................................133

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Características sócio-culturais das pacientes (n=250), Hospital, 2007. 135 Tabela 2 – Características das pacientes com relação aos antecedentes obstétricos

(n=250), Hospital, 2007 .....................................................................................138 Tabela 3 – Taxas de cesárea segundo características sócio-econômicas, Hospital,

2007 ..................................................................................................................140 Tabela 4 – Quantidade de Consultas e Informações Recebidas na Assistência Pré-

natal, segundo o tipo de parto, Hospital, 2007 ..................................................142 Tabela 5 - Informações obtidas sobre o parto segundo sobre tipo parto, Hospital,

2007 ..................................................................................................................143 Tabela 6 – Associação entre o desejo materno no início da gestação e eventual

mudança de opinião e o tipo de parto realizado, Hospital, 2007.......................144 Tabela 7 – Associação entre grau de participação materna na decisão do tipo de

parto e tipo parto realizado, Hospital, 2007......................................................145 Tabela 8 – Fatores que estariam associados à decisão sobre o tipo de parto, em

relação ao tipo parto realizado, Hospital Santa Catarina, 2007.........................149 Tabela 9– Satisfação das pacientes em relação ao tipo de parto realizado (n=250),

Hospital, 2007 ...................................................................................................153 Tabela 10 – Relação entre o tipo de parto realizado nas mães das pacientes e o tipo

de parto realizado nas pacientes (n=250), Hospital, 2007. ...............................154 Tabela 11 – Comentários feitos pelas mães das pacientes sobre os diferentes tipos

de parto (n=250), Hospital, 2007.......................................................................154 Tabela 12 – Escolha do tipo de parto numa futura gestação segundo tipo de parto

(n=250), Hospital, 2007 .....................................................................................156 Tabela 13 – Desejo das mulheres em relação a uma eventual futura gravidez,

excluindo pacientes que não desejam outra gravidez ou não sabem referir, segundo tipo de parto, Hospital, 2007...............................................................156

Tabela 14– Grau de importância para as mulheres das questões relacionadas à perda de elasticidade vaginal e a problemas de bexiga decorrentes do parto normal e sua associação com o tipo de parto realizado, Hospital, 2007...........157

Tabela 15 – Concordância com a prática de fazer pré-natal com um médico e dar à luz com outro, segundo tipo de parto, Hospital, 2007. .....................................158

Tabela 16– Proporção de mulheres satisfeitas com o resultado do parto segundo tipo de parto e variáveis sócio-culturais, Hospital, 2007 .........................................159

Tabela 17– Proporção de mulheres que apontam o “medo das dores após parto cesáreo” como fator que influenciou a decisão pelo o tipo de parto, segundo tipo de parto e número de partos anteriores, Hospital, 2007 ..................................160

Tabela 18 - Proporção de mulheres que apontam o “medo das dores após parto cesáreo” como fator que influenciou a decisão sobre o tipo de parto, segundo tipo de parto e variáveis sócio-culturais, Hospital, 2007...................................160

Tabela 19– Proporção de mulheres que apontam o “desejo da praticidade de agendar o parto” como fator que influenciou a decisão sobre o tipo de parto, segundo tipo de parto e número de partos anteriores, Hospital, 2007 .............161

Tabela 20 – Proporção de mulheres que apontam o “desejo da praticidade de agendar o parto”como fator que influenciou a decisão sobre o tipo de parto, segundo tipo de parto e variáveis sócio-culturais, Hospital, 2007 ....................161

Tabela 21- Características dos médicos entrevistados (n=122), Hospital, 2007....163 Tabela 22 - Atividades profissionais além do consultório (n=70), Hospital, 2007....164

Tabela 23 – Quantidade e tipo de partos realizados pelos médicos entrevistados (n=122), Hospital, 2007 .....................................................................................165

Tabela 24 – Opinião dos médicos sobre as maiores dificuldades para realizar o parto normal, Hospital, 2007 ......................................................................................165

Tabela 25 - Opinião dos médicos sobre a atuação das enfermeiras obstetras, Hospital, 2007 ...................................................................................................167

Tabela 26 – Proporção de médicos que possui seguro contra má prática, Hospital, 2007 ..................................................................................................................167

Tabela 27 – Proporção de médicos que acreditam que ações judiciais são responsáveis por realização de cesáreas, Hospital, 2007 ................................168

Tabela 28 – Atitude do obstetra frente a uma solicitação de cesárea eletiva pela paciente em gestação sem complicações, Hospital, 2007 ................................168

Tabela 29 - Percepção dos médicos sobre as taxas de cesáreas em serviços hospitalares privados do município de São Paulo, Hospital, 2007 ....................169

Tabela 30 – Opinião dos médicos sobre a relação do tipo de parto com a mortalidade materna e/ou perinatal, Hospital, 2007 ..........................................169

Tabela 31– Concordância dos médicos sobre a mudança nas taxas de cesárea decorrente da remuneração diferenciada para o parto normal na medicina privada em São Paulo, Hospital, 2007 ..............................................................172

Tabela 32– Proporção de médicos que acredita que a formação atual na área de obstetrícia influencia na taxa de cesárea do município de São Paulo, Hospital, 2007 ..................................................................................................................173

Tabela 33– Opinião dos médicos sobre a relação entre uso de fórcipe no parto vaginal e taxa de cesárea, Hospital, 2007.........................................................173

Tabela 34– Opinião dos médicos sobre a importância das questões culturais relativas à sexualidade feminina na escolha do tipo de parto, Hospital, 2007...174

Tabela 35 – Tipo de parto preferido pelas médicas obstetras caso estivessem grávidas.............................................................................................................174

Tabela 36 – Tipo de parto realizados em médicas e esposas de médicos, Hospital, 2007 ..................................................................................................................175

Tabela 37 – Tipo de parto realizados nas paciente segundo tipo de parto realizado em médicas e esposas de médicos (n=76), Hospital, 2007 .............................175

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACOG - American College of Obstetrics and Gynecology

AMB - Associação Médica Brasileira

ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar

CDC - Centers for Disease Control and Prevention

CEINFO - Coordenação de Epidemiologia e Informação da Secretaria

Municipal de Saúde de São Paulo

CEP - Comitê de Ética em Pesquisa

CFM - Conselho Federal de Medicina

CID - Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas

Relacionados à Saúde

COFEN - Conselho Federal de Enfermagem

CREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo

DATASUS - Departamento de Informação e Informática do SUS

ELAC - Estudo Latino-Americano de Cesáreas

EUA - Estados Unidos da América

FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FIGO - Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia

gl - Graus de Liberdade

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IC 95% - Intervalo de 95% de Confiança

IDB - Indicadores e Dados Básicos

ILH - Índice de Letalidade Hospitalar

INPS - Instituto Nacional de Previdência Social

MS - Ministério da Saúde

NIH - National Institute of Health

OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development

OMS - Organização Mundial da Saúde

ONU - Organização das Nações Unidas

OSS - Organização Social de Saúde

PAISM - Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher

PHPN - Programa de Humanização no Pré-Natal e no Nascimento

PMI - Programa Materno-Infantil

PNHAH - Programa Nacional de Humanização na Assistência Hospitalar

RIPSA - Rede Interagencial de Informações para a Saúde

SEADE - Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados

SES - Secretaria de Estado da Saúde

SINASC - Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos

SM - Salário Mínimo

SUS - Sistema Único de Saúde

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

WHO - World Health Organisation

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO – A MAGNITUDE DA QUESTÃO DA CESÁREA..........................16

2 OBJETIVOS DA TESE...........................................................................................24

2.1 Pergunta Principal ............................................................................................24

2.2 Premissa ..........................................................................................................24

2.3 Objetivos ..........................................................................................................24

3 DESENVOLVIMENTO DO REFERENCIAL TEÓRICO..........................................26

3.1 Evolução e História da Obstetrícia, do Parto e da Cesárea .............................26

3.2 Dogmas e Recomendações Universais sobre as Taxas de Cesárea...............33

3.3 Taxas Ideais de Cesárea existem? ..................................................................37

3.4 Cenário Mundial da Organização da Assistência ao Parto...............................40

3.4.1 Cesárea a Pedido ou Por Solicitação Materna...........................................42

3.4.2 Modelos Assistenciais ................................................................................44

3.4.3 Fatores Associados ao Médico Influenciando a Decisão do Tipo de Parto 61

3.5 Cenário da Organização da Assistência ao Parto no Brasil .............................65

3.5.1 Histórico da Saúde da Mulher no Brasil .....................................................65

3.5.2 Sistemas de Saúde do Brasil .....................................................................70

3.5.3 Taxas de Cesárea no Brasil - Evolução, Diferenças Regionais, Locais e

entre os Sistemas de Saúde ...............................................................................74

3.5.4 Ações Governamentais e Não Governamentais para Reduzir as Taxas de

Cesárea...............................................................................................................79

3.5.5 A Organização do Trabalho na Assistência ao Parto .................................82

3.5.6 Fatores Associados a Decisão do Parto Cesáreo no Brasil .....................107

4 METODOLOGIA...................................................................................................119

4.1 Área de Interesse ...........................................................................................119

4.2 Referencial Teórico ........................................................................................119

4.3 Tipo de Pesquisa............................................................................................120

4.4 Etapas da Investigação ..................................................................................121

4.4.1 Seleção de Variáveis e Construção do Instrumento de Pesquisa ............121

4.4.2 Trabalho de Campo..................................................................................123

4.4.3 Compilação dos Dados ............................................................................128

4.4.4 Tratamento Estatístico dos Dados............................................................128

4.4.5 Problemas Metodológicos Encontrados e Limitações do Estudo .............129

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................130

5.1 Aspectos Relacionados à Pesquisa de Campo..............................................130

5.2 Resultados das Entrevistas com as Pacientes e Discussão ..........................133

5.3 Resultados das Entrevistas com os Médicos e Discussão.............................162

6 CONCLUSÕES ....................................................................................................178

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................183

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................185

ANEXOS ...............................................................................................................................213

16

1 INTRODUÇÃO – A MAGNITUDE DA QUESTÃO DA CESÁREA

Gravidez e parto são eventos marcantes na vida das mulheres e de suas famílias.

Embora o parto seja reconhecido como um fenômeno de natureza fisiológica, em

nenhuma sociedade ele é tratado apenas sob este prisma. Pelo contrario, ele é visto

como um evento bio-psico-social, cercado de valores culturais, sociais, emocionais e

afetivos (DOMINGUES; SANTOS; LEAL, 2004).

Ao longo das últimas duas décadas, tem havido debates sobre a assistência ao

parto. Diversas análises realizadas, que tentam retratar a complexidade dos fatores

que cercam o parto e sua assistência, têm suscitado uma série de questionamentos,

envolvendo desde a qualidade da atenção obstétrica até a construção do significado

da experiência do nascimento para as mulheres (BARBOSA et al., 2003).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o objetivo da assistência ao parto

é obter como resultado mulheres e recém-nascidos sadios, com o mínimo de

intervenções médicas, compatível com a segurança de ambos (ORGANIZAÇÃO

MUNDIAL DA SAÚDE, 2005). Dessa maneira, independentemente de ocorrer por

parto vaginal ou por cesárea, essa entidade orienta que o profissional de saúde deve

intervir somente quando necessário. Apesar dessa orientação, observa-se crescente

incidência do parto cesáreo em diversos países, sendo, por isso, motivo de análise

em muitos estudos internacionais e nacionais.

Cesáreas são intervenções cirúrgicas originalmente concebidas para reduzir o risco

de complicações maternas e/ou fetais durante a gravidez e o trabalho de parto. Por

sua vez, essas intervenções não são isentas de risco (REZENDE, 1969). A evolução

da operação cesariana pode ser considerada um destaque entre os avanços obtidos

na qualidade da assistência obstétrica por meio da ciência e da tecnologia nesse

campo do conhecimento. De um procedimento antes só realizado em mulheres

mortas, para salvar a vida do feto, passou a proporcionar segurança à vida, salvando

a gestante e seu filho em algumas situações de maior complexidade (CASTRO;

CLAPIS, 2005). Essa evolução, ocorrida ao longo do século XX, época em que os

17

inúmeros avanços da medicina transformaram a cesariana numa alternativa segura

ao parto vaginal quando há possibilidade de problema para a mulher ou para o feto,

tornou necessário ou, pelo menos conveniente, que o parto deixasse o âmbito

domiciliar e adentrasse o hospital.

Entretanto, desde a década de 70, as indicações de cesariana vêm crescendo

indiscriminadamente. Esta cirurgia tem sido utilizada de forma considerada abusiva

em vários países (FAÚNDES; CECCATTI, 1991; KORST; GORNBEIN; GREGOTY,

2005). No período de vinte anos compreendido entre 1970 e 1990, o grande

aumento das taxas de cesariana em todo o mundo se tornou foco de discussão,

chamando a atenção para riscos da morbimortalidade materna e perinatal e para

custos associados com esse procedimento (SHEARER, 1983; WAGNER, 2000;

ENGLAND DEPARTMENT OF HEALTH, 2001; BOST, 2003).

Se para algumas mulheres há excesso de intervenções, observam-se, em outras

situações, dificuldades de acesso à serviços de saúde de qualidade, levando à

mortes que poderiam ter sido evitadas com a realização de procedimentos

adequados. Em algumas regiões da África estima-se que uma a cada 12 mulheres

morre por causas obstétricas, possivelmente por restrição de acesso à assistência

médico hospitalar (OKONOFUA, 2001).

As taxas de cesárea no mundo, e em especial no Brasil, têm sido motivo de muito

debate nos últimos anos. Este assunto tem se mostrado relevante em muitas

análises, com foco em saúde pública e em fatores econômicos, porém sem que se

verificasse consenso entre os teóricos dos diversos campos do conhecimento. Os

estudos que abordam este tema, em geral, não consideram de modo articulado os

diversos aspectos relacionados com o aumento dessas taxas, ocorrido desde os

anos de 1970. Portanto, apresentam resultados divergentes sobre as possíveis

complicações para a saúde, sobre os fatores que motivam este procedimento e

sobre a análise de custos relacionados às diferentes formas de parto. Verifica-se a

existência de trabalhos avaliando práticas obstétricas e abordagens sobre a

autonomia e a satisfação das mulheres durante a assistência à gestação e ao parto,

realizados em contextos sócio-culturais e assistenciais diversos do brasileiro,

18

dificultando a extrapolação de seus resultados para a nossa realidade

(DOMINGUES; SANTOS; LEAL, 2004).

Temas relacionados à maternidade têm extrema relevância no Brasil, onde a

principal causa de internação hospitalar, nas redes pública e privada, refere-se aos

diagnósticos inclusos na denominação Gravidez-Parto-Puerpério, do Código

Internacional de Doenças (CID). O Brasil tem apresentado elevadas taxas de

cesárea, ainda crescentes no decorrer dos anos: 38,89 em 2000, 39,3 em 2001,

39,71% em 2002, 41,02 em 2003, 42,72 em 2004, e finalmente 43,2% em 2005,

último dado disponível (DATASUS, acesso em: 05/01/2008).

Vigora no Brasil um modelo de atenção ao parto definido como evento médico ou

tecnológico: a gestante é tratada como paciente, os nascimentos são, em sua

maioria, hospitalares e o médico é o profissional responsável pela sua execução

(DOMINGUES; SANTOS; LEAL, 2004). Esse modelo tem sido comparado com o de

outros países, principalmente aqueles com baixas taxas de cesárea, como Holanda,

onde grande parte dos partos é realizada por parteiras. No Brasil, há mais de cem

anos, a primeira parteira diplomada do país, Maria Josefina Matilde Durocher,

publicou um trabalho de grande repercussão intitulado “Deve ou não haver

parteiras?”. Esta pergunta mantém sua atualidade, apesar das transformações

ocorridas no sistema de saúde e na assistência obstétrica no século XX.

Atualmente, quase um quarto dos nascimentos do Brasil ocorre nos serviços

hospitalares privados, sendo que as taxas de cesárea no sistema da saúde privado

atingem cifras ao redor de 80% (ANS, acessado em 25 de março de 2007).

Não obstante o movimento denominado “humanização da assistência ao parto e ao

nascimento”, endossado inclusive pelo Ministério da Saúde (DOMINGUES;

SANTOS; LEAL, 2004), observam-se, recentemente, críticas ao modelo assistencial

obstétrico brasileiro, tanto em trabalhos científicos como em instrumentos de

comunicação de massa. O “Wall Street Journal” publicou, em 2001, reportagem

ressaltando a popularidade da cesárea como cirurgia rotineira entre as mulheres

brasileiras, ocorrendo em 80 a 90% dos partos em hospitais privados (JORDAN,

2001) O autor ressaltou a cultura enraizada na população, num país em que se

19

interrompe a programação da televisão para anunciar o nascimento da filha de uma

celebridade nacional – Xuxa - por meio de uma cesariana. Em uma revista nacional

de fácil acesso à população, especialmente mulheres grávidas, publicou-se um

artigo em março de 2004 sobre o medo das mulheres brasileiras em ter parto

vaginal. Em “Você tem medo de quê?“, título dessa publicação, há comparação entre

os índices de cesárea de nosso país e de outros, como Estados Unidos, Canadá,

Inglaterra e Holanda, que apresentam, além de diferentes taxas desse

procedimento, modelos de assistência obstétrica também diversos do nosso

(KANAREK, 2004).

A revista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) de

junho de 2006 publicou artigo intitulado “Escolha Errada”, cujo enfoque é a cesariana

a pedido. Nesse artigo, relata-se a “cultura nacional da cesárea, onde as mães

acreditam ser esse o tipo de parto mais seguro para a criança”, enfatizando a

necessidade de implantar mecanismos para informar adequadamente as mulheres

sobre os riscos e benefícios desse procedimento (ZORZETTO, 2006).

A Folha de São Paulo trouxe diversas vezes reportagens sobre a questão das

cesáreas. Em janeiro e em setembro de 2006, esse jornal reforça o Brasil como

recordista mundial de cesáreas na rede privada de saúde, destacando em sua

manchete: “Fisioterapeuta não acha quem faça parto natural” (COLLUCCI, 2006).

Mais recentemente, ainda para a comunidade leiga brasileira, a revista “Pais e

Filhos”, de março de 2007, publica reportagem incentivando as mulheres a contratar

serviços de uma “doula”1, pessoa que oferece apoio emocional e físico às gestantes

durante o trabalho de parto, referindo que, com isso, teríamos 50% a menos de

cesárea (TREVIZAN, 2007).

Aspectos relacionados à presença de “doulas” em maternidades, aos partos

domiciliares, à instalação de Casas de Parto e à execução de partos sem a presença

de médicos têm causado muitas discussões entre as entidades de profissionais da

saúde. O Conselho Federal de Medicina busca a regulamentação da profissão

1 O termo “doula” tem sido usado para denominar pessoas, em geral do sexo feminino, que acompanham a gestante durante o seu período gestacional e durante o trabalho de parto, incentivando o parto natural.

20

médica e a definição de quais procedimentos são exclusivos do exercício da

Medicina, denominados Atos Médicos. Estão incluídos nesse rol a assistência ao

trabalho de parto e ao parto, que devem ser, portanto, executados ou

supervisionados por esses profissionais (JORNAL DA FEBRASGO, 2002).

Reforçando o posicionamento das entidades médicas sobre a questão ato médico e

parto, há opiniões de representantes institucionais, como o Presidente da

Associação Médica Brasileira, Dr. José Luiz Gomes do Amaral, que relatou: “Não

conheço nenhuma enfermeira desse país que tendo a possibilidade de ser assistida

por equipe multiprofissional, (...), deixe de fazê-lo, ainda que em gravidez de baixo

risco, para ser assistida numa Casa de Parto.” Ainda, na mesma reportagem, a Sra.

Marília Barbosa, Presidente da Unidas, entidade que congrega em nível nacional as

operadoras de auto-gestão em saúde, declarou: “Como administradora de um

programa de saúde, não credenciaria qualquer prestador de serviço que não tivesse

médico para atender meus pacientes. Principalmente no momento do parto…”

(JORNAL DO CFM, jul. 2006).

Há, portanto, no Brasil, movimentações a favor de e contrárias à presença do

médico na assistência obstétrica, à realização do parto em ambiente hospitalar e à

realização de cesáreas. Para buscar um consenso entre os diferentes interessados

no assunto, o Ministério Público Federal Regional São Paulo convocou, em 26 de

setembro de 2007, uma Audiência Pública. Foi um encontro de entidades

representativas das sociedades médica e civil, envolvendo dirigentes de hospitais

privados e públicos e de entidades de classe (CREMESP, COFEN, Federação

Nacional dos Hospitais, entre outros), representantes do Ministério da Saúde, da

Agência Nacional de Saúde Suplementar, Organizações Não Governamentais e

cidadãos interessados no tema tipo de parto. A audiência decorreu do ingresso de

uma ação civil pública no Ministério Público Federal, movida por pessoas

pertencentes a Organizações Não Governamentais favoráveis ao parto natural,

como a entidade “Parto do Princípio”, liderada por doulas que trabalham nesse

mercado assistencial. Nessa ação, invocam-se como motivadores dos elevados

índices de cesárea a participação dos médicos e a falta de regulamentação e

fiscalização da ANS sobre o modelo de atendimento ao parto no setor de saúde

suplementar.

21

Taxas diferentes de cesárea em pacientes de serviços públicos e privados no Brasil

e em outros países sugerem que fatores não relacionados às indicações clínicas ou

obstétricas, como ganhos econômicos e pressões da prática médica privada,

motivariam médicos a executar partos cirúrgicos. Para Lee et al. (2005), pesquisas

envolvendo o modo de nascimento e suas correlações, bem como o entendimento

dos fatores que afetam a incidência de cesárea, poderiam auxiliar na identificação

das características maternas e dos provedores de cuidados de saúde que

demandam esse procedimento, para que políticas públicas possam ter maior

efetividade em suas ações. Para Berguella et al. (2005), a elevação da incidência do

parto cesáreo decorre de motivos médicos clínicos como o aumento da incidência

das gestações múltiplas, a redução dos partos vaginais em mulheres com cesárea

anterior ou em partos de apresentação pélvica (situação em que o feto se posiciona

com as nádegas mais próximas da pelve materna do que a cabeça) e, mais

recentemente, motivos não médicos, como a solicitação de realização de cesáreas

pelas mulheres, que percebem nesse procedimento menor número de complicações.

Ainda nessa última categoria de motivação para a execução da cesárea, outros

autores indicam o aumento do uso de tecnologias para o parto, medo de litígio em

ações judiciais por má prática médica, incentivos financeiros, preferências dos

médicos e formação médica (GAMBLE; HEALTH; CREEDY, 2000).

Há, em nosso país, trabalhos que agrupam os fatores que influenciam a opção por

um parto cesáreo (BARBOSA et al., 2003) em:

• Organização da atenção obstétrica, pautada pela conveniência de uma

intervenção programada e pela insegurança do médico frente à gama de

variações que ocorrem durante o desenrolar de um parto vaginal, decorrente

de treinamento insuficiente;

• Fatores institucionais ligados à forma de pagamento para equipe médica e

hospitais e à exclusão de pagamento para anestesia para partos vaginais pelo

Sistema Único de Saúde (SUS), situação revista pelo Ministério da Saúde (MS)

em 1998, mas não modificada em todos os hospitais;

• Esterilização cirúrgica, realizada freqüentemente durante as cesáreas eletivas;

• Fatores sócio-culturais, como medo da dor, medo de lesões anatômicas e

fisiológicas da vagina e crença de que o parto vaginal é mais arriscado, que

22

levariam à preferência, por parte das mulheres e de profissionais de saúde, por

parto cirúrgico.

Como mulheres e obstetras concluem que os riscos para tentar um parto vaginal são

tão elevados? Porque algumas mulheres buscam a medicalização do parto?

(BÉHAGUE; VICTORA; BARROS, 2002). Para Hotimsky et al. (2002), os discursos

feministas de direitos da mulher à escolha, visando a melhoria da qualidade da

assistência e a construção da cidadania, vêm sendo apropriados para justificar a

“cesárea a pedido”, porém a aparente liberdade de escolha vem acompanhada de

assimetria de informações. Para Massoneto e Porto (1998) a argumentação para

realização da cesariana, no sistema privado brasileiro, baseada em má remuneração

por parte dos convênios médicos, falta de tempo para acompanhar o trabalho de

parto e “segurança” do parto previsto, com hora marcada, sem transtornos para o

médico e para a gestante, deve passar por uma reflexão profunda e por uma

mudança, no sentido de uma assistência ao parto mais ativa e moderna, com maior

segurança para a gestante, seu filho e o obstetra.

A polêmica questão da cesariana ronda todos os meios, inclusive as academias de

Medicina e Obstetrícia. Na seção Debate da Revista Ser Médico do CREMESP, em

setembro de 2004 (CESÁREA A PEDIDO, 2004) os dois Professores Titulares de

Obstetrícia de duas das mais respeitadas universidades do país debateram sobre o

tema “Cesárea a Pedido: Aceitar ou Não”. Refere-se o tema à realização da cesárea

na ausência de indicação médica, de forma eletiva e por desejo da paciente. O

Professor Doutor Marcelo Zugaib, da Universidade de São Paulo, declarou: “Os

tempos são outros e as pessoas que defendem a via de parto vaginal se valem de

estatísticas ultrapassadas”, referindo-se a trabalhos com metodologia enviesada e

conclusões questionáveis sobre os resultados na saúde materna e neonatal.

Segundo o Professor Doutor Luiz Camano, da Universidade Federal de São Paulo -

Escola Paulista de Medicina, não há consenso sobre o tema e “a Universidade tem a

obrigação de responder a perguntas sobre as vantagens e desvantagens da cesárea

a pedido”.

Cada vez mais tem sido preconizada a necessidade de identificação de fatores

associados ao parto cesáreo para a formulação de políticas com vistas a reduzir as

23

elevadas taxas presentes em vários países (VAN ROSSMALEN, 1995). Essa

preocupação tem se tornado relevante a ponto de, em 2002, o editor-chefe da

revista Obstetrics and Gynecology fazer a seguinte declaração: o uso aparentemente

excessivo da cesárea em quase todos os países do mundo tem gerado um estado

de ‘estarmos em uma era dedicada a reduzir as taxas de cesárea’ (SCOTT, 2002,

p.967, tradução nossa). Essa conclusão, vinda de um formador de opinião no meio

médico obstétrico, reforça a relevância mundial do tema.

Em nosso país, ao observarmos grande disparidade regional na realização dessa

cirurgia (Norte e Nordeste apresentaram em 2005 taxas de cesárea na ordem de

32,35% e 31,98% respectivamente, enquanto Centro-Oeste, Sudeste e Sul

realizaram 49,35%, 50,46% e 48,22% desse procedimento (DATASUS, acessado

em 05/01/2008)), devemos refletir sobre como compreender esta diversidade. Em

função de todas essas observações, entendemos relevante e necessária a análise

das taxas de cesárea nos serviços privados do município de São Paulo, em torno de

90%, certamente as maiores do mundo, suscitando profundas reflexões sobre essa

prática.

24

2 OBJETIVOS DA TESE

Área de interesse da tese – As taxas de cesárea em serviços hospitalares privados

do município de São Paulo.

2.1 Pergunta Principal

Considerando-se as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da

Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) e as taxas de cesárea

no SUS, em torno de 27%, por que as taxas de cesárea atingem 90% na assistência

médica suplementar do município de São Paulo?

2.2 Premissa

A premissa da qual partimos é que as taxas de cesárea dos serviços hospitalares

privados do município de São Paulo estão relacionadas à forma de organização da

prática obstétrica, com enfoque no modelo de assistência ao parto desenvolvido na

medicina suplementar e envolvendo fatores sociais, culturais, econômicos e jurídicos

das gestantes e dos médicos.

2.3 Objetivos

Objetivo Geral:

Identificar os fatores associados à decisão pelo tipo de parto, levando as taxas de

cesárea a atingirem 90% na assistência médica suplementar do município de São

Paulo.

25

Objetivos Específicos:

• Identificar a percepção de pacientes e médicos sobre este fenômeno;

• Identificar, sob o ponto de vista das gestantes, os fatores associados que

determinam a escolha do tipo de parto;

• Analisar, pela percepção do médico, os motivos que determinam o desejo das

gestantes em relação ao tipo de parto;

• Analisar o desejo das gestantes em relação ao tipo de parto durante o pré-natal

e sua realização após o parto;

• Analisar a satisfação das gestantes em relação ao tipo de parto realizado;

• Analisar o grau de participação das gestantes na decisão do tipo de parto;

• Analisar o grau de concordância das pacientes em realizar o parto com um

profissional diferente daquele que fez seu pré-natal;

• Analisar os fatores que influenciam os médicos na decisão pelo tipo de parto;

• Identificar o grau de aceitação dos médicos a uma solicitação de cesárea pela

paciente;

• Analisar o tipo de parto desejado pelas médicas em caso de uma gestação

sem complicações;

• Analisar o tipo de parto realizado nas médicas e nas esposas dos médicos

entrevistados e comparar essa incidência àquela da amostra de pacientes

desse estudo.

26

3 DESENVOLVIMENTO DO REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo, abordam-se os temas de relevância para o presente trabalho,

fornecendo embasamento teórico para fundamentar a pesquisa empírica, a análise

dos dados do trabalho de campo e o desenvolvimento da discussão baseada nos

resultados obtidos. Procurou-se estabelecer uma contextualização do assunto em

estudo utilizando literatura brasileira e internacional, sem a pretensão de cobrir todos

os temas exaustivamente.

3.1 Evolução e História da Obstetrícia, do Parto e da Cesárea

O vocábulo obstetrícia foi usado pela primeira vez em 1812 por Osiander, da

Universidade de Gottingen. Vem do verbo latino obstare que significa “estar ao lado”,

prática comum e necessária da parteira que, ao assistir à parturiente, permanecia

literalmente ao seu lado para auxiliá-la. (DELASCIO; GUARIENTO, 1987). Como

sinônimo temos a tocologia, do grego tocos – parto, logos – tratado. Cesárea, parto

cesáreo, cesariana, talho cesáreo ou tomotócia é o ato cirúrgico que consiste em

incisar o abdome e o útero para libertar o concepto aí desenvolvido (REZENDE,

1969).

Em todos os mamíferos quadrúpedes, o parto se realiza com o novo ser nascendo

inicialmente pelas nádegas e por último desprendendo-se a cabeça, denominado

parto em apresentação pélvica. Há cerca de 5 milhões de anos, o ser humano passa

a ter postura ereta, tornando-se bípede, com decorrente modificação na pelve

(bacia) feminina e alteração no mecanismo de nascimento de sua prole. Essa

mudança levou à inversão na ordem das primeiras estruturas a nascer: o parto

passou a ocorrer inicialmente pela cabeça e depois pelas nádegas, tornando o

processo de nascimento mais difícil no homem que nos demais mamíferos (SILVA,

2007).

27

A mulher, a partir dessa postura bípede, sempre buscou instintivamente posições

verticalizadas na hora do parto, ilustradas em hieróglifos egípcios e esculturas da

Antiguidade. Engelmann2 (1882 apud SILVA et al., 2007), famoso historiador do

século XIX, descreveu as técnicas e práticas utilizadas com ênfase nas diversas

movimentações e posições de mulheres primitivas na hora de parir, ressaltando a

preferência da parturiente por posições diversas da horizontal. Este autor defendia a

idéia de que, quanto mais primitivos fossem os povos, maior facilidade teriam

durante a parturição, em decorrência da maior atividade física das mulheres

reforçando as estruturas musculares e da menor miscigenação de raças, propiciando

a formação de casais por pessoas do mesmo grupo, gerando fetos proporcionais à

bacia da mulher. O temor e a apreensão em relação ao parto existiam, para esse

autor, apenas entre as mulheres “civilizadas”, para quem o sedentarismo provocado

pelo seu estilo de vida tornaria esse momento mais doloroso, demorado e difícil.

Historicamente, a assistência ao parto foi exercida por parteiras, mulheres de

confiança da gestante ou de experiência reconhecida pela comunidade, preferidas

por razões psicológicas, humanitárias e devido ao tabu de mostrar os genitais a

homens. Até o século XVI, o atendimento ao nascimento era atividade desvalorizada

e, portanto, poderia ser deixado aos cuidados dessas mulheres, pois não estava à

altura do cirurgião – o homem da arte (NAGAHAMA; SANTIAGO, 2005).

Hipócrates, pai da Medicina (460 aC), doutrinava que a conduta obstétrica era

confiar na parteira, salvo em caso de complicações. Assim, durante muitos séculos,

a obstetrícia permaneceu nas mãos dessas mulheres, sendo o médico chamado

apenas em casos graves, onde o óbito materno ou fetal era quase inevitável. Com

isso, as parturientes evitavam o médico e este, sem a observação direta dos partos,

não tinham como melhorar a técnica obstétrica (DELASCIO; GUARIENTO, 1987).

O processo de horizontalização do parto se processou simultaneamente à

medicalização do nascimento, com o aparecimento dos cirurgiões obstétricos. Foi

sob a influência da escola francesa, liderada por François Mauriceau, no século XVII,

que o parto horizontal foi introduzido. Mauriceau, com grande influência na corte

2 ENGELMANN, G.L. Labor among primitive peoples. JH Chambers: St. Louis, 1882.

28

francesa de Luis XIV, ao assistir o parto da rainha, o fez numa cama de parto, para

que o rei também pudesse assistir (SILVA, 2007). Assim, com o progresso da

obstetrícia, as ajudantes, parentes e amigas, mulheres que auxiliavam a mulher

durante a parturição, foram substituídas por médicos que, com o auxílio da cadeira

obstétrica, inauguraram uma nova forma de partejar (ENGELMANN2 ,1882 apud

SILVA et al., 2007). Esse tipo especial de cadeira, utilizada para ajudar o parto

mantendo a parturiente na posição semi-sentada, um dos primeiros símbolos da

medicalização da assistência ao parto, foi idealizada na Grécia Antiga, caindo no

esquecimento nos primeiros séculos da era cristã. Seu uso retornou à Europa do

século XVII ao XIX, quando a posição de decúbito dorsal (com a mulher deitada na

cama) passou a ser adotada naquele continente. A posição horizontal e o uso do

fórcipe, instrumento criado por Chamberlein no século XVII, facilitavam as

intervenções médicas, marginalizando o saber empírico e a prática das parteiras a

partir do século XVIII (SILVA, 2007). Com isso, a profissão da parteira sofre declínio

e a obstetrícia passa a ser aceita como uma disciplina técnica, científica e dominada

por homens. Portanto, o uso do fórcipe permitiu a intervenção masculina e a

substituição do paradigma não intervencionista pela idéia do parto como um ato

controlado pelo homem. Paralelamente, a Igreja e o Estado regulamentam a prática,

exigindo que as parteiras chamassem cirurgiões para auxiliá-las, centralizando o

saber acerca da cura das doenças nas Universidades, criadas durante o

Renascimento (NAGAHAMA; SANTIAGO, 2005).

Com o capitalismo industrial, consolida-se a prática da assistência ao parto exercida

pelo médico. O discurso médico relativo à obstetrícia no século XIX caracterizou-se

pela defesa da hospitalização do parto e pela criação de maternidades, onde o

nascimento deixou de ser evento privado, íntimo e feminino, passando a ser vivido

de maneira pública, com interferência de outros atores sociais (NAGAHAMA;

SANTIAGO, 2005).

Em 1920, De Lee3 (1920 apud SILVA et al., 2007), reforçando a preponderância

médica na assistência à parturiente, postulou que “os partos em primíparas

(mulheres que nunca tiveram partos) deveriam ser realizados por um especialista

3 DE LEE, J.B. The prophylactic forceps operation. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 1920, n. 1, p. 34-44.

29

em obstetrícia sob o sono crepuscular da anestesia geral, com o auxílio de um

fórcipe eletivo e episiotomia” (corte cirúrgico na musculatura da vagina e vulva

realizado no momento do nascimento).

Para Delascio e Guariento (1987, p.1), “o atraso em que ficou a especialidade da

obstetrícia é justificado pelo fato de haver sido exercida, durante cerca de dois

milênios, por profissionais incultas, embora inteligentes e devotadas”, já que

somente a partir do início do século XIX admitiam-se médicos na Maternidade de

Paris.

No século XX presenciamos a evolução da medicina e das noções de assepsia e

controle de infecções, compreendendo-se melhor a importância médico-social da

obstetrícia. “Ao obstetra, permanece a tarefa de assegurar a vida materna e a do

recém-nascido, utilizando, para isso, seus conhecimentos médicos e praticando,

quando necessário, o parto cesáreo” (DELASCIO; GUARIENTO, 1987, p.1).

Historicamente, observamos que este procedimento cirúrgico teve, em diferentes

épocas, motivos diversos para sua execução. Na Idade Antiga, a indicação para

realização do “talho cesáreo” seria somente na mulher morta em estado de gravidez.

Um texto de Hamurabi da Babilônia (1795-1750 aC) parece ser a mais antiga

evidência documentada de uma cesárea, realizada em uma grávida após sua morte

(JARCHO4, 1934, apud SILVA, et al. 2007). Na mitologia, o parto cesáreo

relacionava-se a uma glorificação onde, se o recém-nascido sobrevivesse, o destino

teria uma intenção para esta pessoa (LURIE, 2005).

A primeira referência jurídica sobre a cesárea baseia-se numa lei romana. Trata-se

da Lex Regia, a lei dos reis, anunciada por Numa Pompílio, antigo rei de Roma (716-

673 aC). Esta lei ordenava a abertura do ventre de mulheres mortas em estado de

gravidez, com a intenção de salvar seu filho ou de enterrá-los separadamente

(REZENDE, 1969, p. 952; LURIE, 2005).

4 JARCHO, J. Postures and practices during labor among primitive peoples. New York: Paul Hoeber, 1934.

30

Apesar de ser um procedimento antigo, a denominação de cesárea ou cesariana é

controversa. Alguns a atribuem a Plinius, associando-a ao nome do imperador Júlio

César, que teria assim nascido. Porém, como sua mãe Aurélia permaneceu viva

após seu nascimento, possivelmente esse imperador não nasceu por cesariana

colocando em dúvida essa associação de nomes (REZENDE, 1969, p.953). Outros

atribuem essa denominação ao jesuíta Teófilo Raynaudus, no século XVII, derivando

do latim sectio caesarea, cujo significado seria cortar (REZENDE, 1969, p 954).

Na Idade Média, a Igreja Católica manteve a determinação da Lex Regia, já na

época chamada Lex Caesarea, adotando-a como recurso para que, em casos de

mulheres grávidas moribundas ou mortas, membros do clero tivessem autorização

para realizar a cesárea a fim de batizar o nascituro, salvando-lhe a alma (LURIE,

2005). Houve, na época, questionamentos sobre a necessidade de apressar a morte

de mulheres grávidas para praticar nelas o parto cesáreo. São Tomás de Aquino

(1225-1274 dC) posicionou-se contrário a esta medida, ressaltando que a mulher

não deveria ser morta com o objetivo de batizar a criança (LURIE, 2005). Portanto,

no período medieval, a cesárea não era um ato médico, mas um evento cultural-

religioso com a finalidade de salvar o feto e, se possível, batizá-lo.

O objetivo para realizar essa operação se modificou radicalmente no Renascimento

e na Idade Moderna. Em 1500, na Suíça, um castrador de porcos chamado Jacques

Nuffer, desesperado com a ineficácia da assistência prestada por muitas parteiras à

sua mulher, que estava há vários dias em trabalho de parto, resolveu agir. Após

licença prévia das autoridades locais e utilizando instrumentos de seu ofício, realiza

a primeira cesariana da história na qual a mulher e o recém nascido sobreviveram à

cirurgia. Além de sobreviver, sua mulher engravidou outras seis vezes, tendo filhos

por partos normais (REZENDE, 1969, p.955). Após essa ocorrência e com a

publicação da primeira obra científica que descreve a cesárea, por Francis Rousset

em 1581, a história desse procedimento tomou outro rumo, passando a ser usado

para salvar a mulher em dificuldades para parir. Assim, no Renascimento e na Idade

Moderna, o parto cesáreo emerge como um procedimento médico.

31

Chega-se ao século XX com a assistência obstétrica assistida por médicos, dividida

entre cesáreas executadas em ambiente hospitalar e partos vaginais domiciliares,

realizados sob anestesia geral, com o intuito de “apagar” as experiências dolorosas

das mulheres das elites sociais da Europa e Estados Unidos (parto sob o sono

crepuscular ou “twilight sleep”). O modelo de assistência acima descrito, de sedação

completa associada ao parto instrumental, com freqüência realizado em ambiente

domiciliar e iniciado em 1910, foi abandonado após várias décadas, devido à

elevada morbimortalidade materna e perinatal (DINIZ, 2005).

Inicialmente restrito às elites e às indigentes que acorriam às maternidades-escola, o

modelo hospitalar se expandiu como padrão da assistência nas áreas urbanas. Na

metade do século XX, o processo de hospitalização do parto estava instalado em

muitos países. Segundo Diniz (2005), mesmo sem que tivesse havido qualquer

evidência científica consistente de que fosse mais seguro que o parto domiciliar ou

em casas de parto, em alguns países a obstetrícia não-médica, leiga ou “culta”,

tornou-se ilegal, assim como o parto não-hospitalizado. Nesse século, a medicina

caminhou a passos largos e as indicações de cesariana baseavam-se em motivos

médicos relacionados a problemas com a mãe, o feto ou o trabalho de parto.

Melhorias nas técnicas cirúrgicas, medidas de prevenção contra infecção e

transfusões sanguíneas permitiram indicar o procedimento também para a satisfação

dos anseios da mãe e/ou da família (LURIE; GLEZERMAN, 2003; LURIE, 2005).

Esses avanços, desenvolvidos principalmente na segunda metade do século XX,

trouxeram modificações no cenário mundial, com grande elevação das taxas de

cesárea em países desenvolvidos e em desenvolvimento. A obstetrícia “arte”,

conhecida pelas manobras e intervenções ousadas, potencialmente traumáticas

para a mãe e para o feto, transforma-se na obstetrícia “ciência”, baseada nos

conhecimentos e na tecnologia recém desenvolvidos (CAMANO et al., 2001). Para

MINKOFF (2006), a era do “parto vaginal heróico” chega ao seu final.

No Brasil, a primeira cesárea foi realizada em 1822 por José Correa Picanço, o

Barão de Goiana. Alguns anos antes, em 1809, o português Joaquim da Rocha

Mazarén, vindo com a corte de D. João VI, foi o primeiro “professor de Partos” da

Escola Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro (BRENES, 1991). Porém somente após

32

os trabalhos de Fernando de Magalhães em 1915 esse procedimento passou a ter

maior relevância no país (REZENDE, 1969, p.965). Esse professor do início do

século XX foi criticado na época pelo lançamento de uma “profecia”, que dizia que o

parto do futuro seria natural ou cesáreo, ressaltando que “a natureza não podendo

seguir seu destino, a arte traçará seu rumo”, por meio da operação cesariana,

prevendo assim que os partos vaginais cirúrgicos, como o fórcipe, deixariam de

ocorrer (BELFORT, 2000).

O balanço entre os benefícios e os riscos associados aos resultados do parto

cesáreo mudou dramaticamente durante o século XX. Com o advento de antibióticos

eficazes, bancos de sangue, avanços na anestesia e outras tecnologias, as

restrições para essa e outras cirurgias foram drasticamente reduzidas. Para

Rezende (1969), a cesárea atingiu na segunda metade do século XX o ápice de seu

aperfeiçoamento técnico, onde os riscos da intervenção se amenizam dia a dia,

manifestos em resultados que se igualam ou superam os de qualquer outra grande

cirurgia. O mesmo autor referiu em 2002 que a ciência obstétrica pode ser

considerada um dos ganhos da civilização moderna, sendo responsável por

importantes reduções na mortalidade materna e neonatal. Essa segurança

proporcionada à cesárea permitiu o aumento da sua utilização nos últimos anos

(REZENDE, 2002).

A partir do entendimento de que a gravidez fosse um processo fisiológico na vida

normal das mulheres, passamos para definições feitas por Mauriceau no século

XVII, inalteradas nos séculos seguintes, sobre os riscos e a necessidade de o parto

ser feito por médicos. Magalhães5 (1917, apud REZENDE, 1969) manteve a

percepção patológica do nascimento, reforçando que o papel do médico seria de

amparar e proteger a gestante para “atingir o seu termo na luta entre o instinto de

conservação do indivíduo e o da espécie”.

O grande avanço e a incorporação de novas tecnologias na Medicina a partir de

1950 trouxeram questões médicas e éticas a serem debatidas. A preocupação com

a elevação progressiva da incidência de cesárea em diversos países do mundo

5 MAGALHÃES, F. Lições de clínica obstétrica. Rio de Janeiro: Castilho, 1917.

33

culminou com a ação de entidades internacionais, no sentido de orientar instituições

de saúde e médicos com relação às indicações e riscos do parto operatório. Esses

questionamentos, em especial, o direito das mulheres na escolha pelo tipo de parto

e os fatores associados à decisão pela cesárea, estão na pauta de discussão no

início do século XXI.

3.2 Dogmas e Recomendações Universais sobre as Taxas de Cesárea

Na história da Medicina, observam-se determinados conceitos que, em algumas

circunstâncias, tornam-se dogmas e se perpetuam por muitos anos, mesmo que haja

grande evolução dos conhecimentos médicos. Um exemplo é a recomendação de

Craigin, de 1916, para repetir a cesárea sempre que a paciente tiver sido submetida

a esse procedimento em gestação anterior. Embora extremamente correta para as

condições da época, quando a técnica operatória era diferente da executada nos

dias atuais, acarretando maiores riscos para o parto normal após uma cesariana,

esta recomendação tem sido questionada em função da evolução da Medicina. Kerr6

em 1926 (KERR, 1926, apud LURIE, 2005) introduziu uma nova técnica operatória

para a cesárea, derrubando o postulado de Craigin e propiciando maior segurança a

partos vaginais após uma cesariana.

Iniciou-se, no final da década de 1970 e inicio da seguinte, uma colaboração

internacional para avaliar a assistência ao parto, culminando, em 1985, com a

realização de uma “Conferência sobre Tecnologia Apropriada para o Parto”

coordenada pela OMS. Esse encontro foi um marco na saúde pública e na defesa de

direitos das mulheres, assim como a resultante Carta de Fortaleza (WHO, 1985),

texto que teve a capacidade de inspirar muitas ações de mudança. Recomendava a

participação das mulheres no desenho e na avaliação dos programas, a liberdade de

posições maternas no parto, a presença de acompanhantes, o fim de certas medidas

assistenciais durante o trabalho de parto como uso rotineiro da episiotomia e da

indução medicamentosa do parto, dentre outras. Argumentava que as menores

6 KERR, J.M.M. The technique of cesarean section, with special reference to the lower uterine segment incision. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 1926, n. 12, p. 729-734.

34

taxas de mortalidade perinatal estão nos países que mantêm o índice de cesárea

abaixo de 10%, afirmando que nada justifica índices superiores a 10%-15% (WHO,

1985). Publicada na revista médica Lancet, esta recomendação, em que a OMS

definiu a taxa ideal de parto cesáreo para o mundo, pode ser criticada em virtude de

não diferenciar países e regiões com características culturais e sistemas de saúde

diversos. Ela tampouco foi atualizada até 2007, apesar das novas tecnologias

disponíveis e de mudanças comportamentais ocorridas no período.

A OMS, acompanhando uma tendência mundial de resgatar a qualidade e a

humanização da assistência ao nascimento e parto, elaborou em 1996 uma série de

recomendações descritas no documento "Care in Normal Birth: A Practical Guide"

(OMS, 1996). Segundo esta publicação, o objetivo principal da assistência ao parto

normal deve ser o de ter uma mãe e uma criança saudáveis, com o menor nível de

intervenção compatível com a segurança e que qualquer intervenção deve estar

respaldada por uma razão válida e fundamentada. Neste contexto, o profissional de

saúde deve estar preparado para dar apoio à mulher, ao seu parceiro e à sua família

durante o trabalho de parto, no momento do nascimento e no pós-parto. Ainda nessa

publicação, aborda-se mais de duzentas práticas de assistência perinatal quanto à

sua efetividade e segurança, sem menções às taxas ideais de cesárea. Essas

recomendações foram adaptadas e publicadas no Brasil pelo Ministério da Saúde,

em 2000, sob o título Assistência ao Parto Normal – Um Guia Prático, e enviadas

aos ginecologistas-obstetras e enfermeiras obstetrizes do país, com o objetivo de

conscientizar os profissionais de saúde a respeito da humanização da assistência ao

parto e reduzir as intervenções médicas executadas sem justificativa técnica durante

essa assistência (DINIZ, 2005).

O Comitê para Aspectos Éticos da Reprodução Humana e Saúde da Mulher da

Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), em 1999, declarou

não haver evidências científicas favoráveis à realização de cesárea por razões não

médicas. Para a FIGO, há grande preocupação das entidades médicas com a

elevação das taxas de cesárea por diversos fatores, como temor de médicos por

litígios desencadeados contra eles por pacientes, além de aspectos psicológicos e

sócio-culturais das gestantes e incentivos financeiros para os médicos (FIGO,1999).

35

Em contraste com a orientação da FIGO, o Colégio Americano de Ginecologia e

Obstetrícia (ACOG) recomendou que

na ausência de dados significativos sobre os riscos e benefícios do parto cesáreo (....), se o médico acredita que a cesárea promoverá maior saúde e bem-estar à mulher e ao feto do que o parto vaginal, ele estará eticamente justificado em realizar o parto cesáreo (ACOG 2003 p.1105, tradução nossa).

Por outro lado, esse órgão orienta o médico a que não realize o procedimento caso

não concorde com a solicitação da paciente e não consiga convencê-la do contrário,

encaminhando-a a outro profissional (ACOG, 2003). Em outro momento, o ACOG

emitiu nova recomendação, aprovando eticamente a realização de cesárea a pedido

materno (ACOG 2005).

Apesar dessas recomendações da OMS e da FIGO, tem se observado uma

ampliação da utilização deste tipo de parto no mundo, e em especial no Brasil,

sendo motivo de questionamentos a freqüência com que é praticada, suas

repercussões sobre a saúde da mulher e do recém-nascido, o maior consumo de

recursos hospitalares e financeiros e a taxa ideal desse procedimento. Da mesma

forma que em outros países, houve no Brasil uma elevação importante na incidência

de partos cesárea desde 1980. Ao mesmo tempo, observou-se uma virtual

universalização da hospitalização na assistência ao parto, passando-se de 95% de

parto hospitalar em 1973/1974 para 99% em 1984/1985. Nesse período, houve

aumento expressivo na taxa de cesáreas, de 25,3% para 47,8% dos partos.

Observa-se, a partir daí, uma estabilização da taxa de cesárea em valores próximos

a 50% (RATTNER, 1996). Isso motivou entidades representativas nacionais a

recomendar o controle da incidência de cesárea nos hospitais.

No Estado de São Paulo, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) definiu em 30% o

limite de aceitabilidade para taxa de cesárea (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO

PAULO, 1989), limitando a remuneração dos hospitais conveniados ao SUS com

taxas acima desse parâmetro. Esta restrição financeira possivelmente acarretou

distorção nas informações encaminhadas à SES. Seguindo esse mesmo raciocínio,

a Secretaria determina, em seu Contrato de Gestão com as entidades envolvidas em

parcerias público-privadas, conhecidas como Organizações Sociais de Saúde

36

(OSS), limites percentuais de 30% de partos cesáreos sobre o total de nascidos

vivos (IBANEZ et al., 2001). O Conselho Regional de Medicina do Estado de São

Paulo (CREMESP) afirma que as cesáreas realizadas sem consistência na indicação

podem ser encaradas como procedimentos desnecessários, aumentando os riscos

de mortalidade e morbidade maternas. Reafirma que o obstetra deve estar

qualificado para assistir ao trabalho de parto com toda a segurança para o bem estar

materno e fetal e para terminá-lo de forma conveniente, evitando a realização da

cesárea por insegurança nas suas capacitações em realizar o parto vaginal

(CREMESP, 2002a). Nesse sentido, o CREMESP tem procurado investigar o perfil

dos médicos do Estado e reforçar questões éticas na execução de certos

procedimentos, de acordo com o artigo 42 do Código de Ética Médica: “Art. 42, Cap.

III – Da Responsabilidade Profissional - é vedado ao médico praticar ou indicar atos

médicos desnecessários ou proibidos pela Legislação do País (CREMESP, 2007b,

p.11)”.

A Agencia Nacional de Saúde Suplementar (ANS), por sua vez, iniciou campanha

em 2006 junto às operadoras de planos de saúde a fim de estimular a redução da

incidência da cesariana nos hospitais privados, responsáveis pelas maiores taxas de

cesárea do país e do mundo. Essa agência publicou em setembro de 2007 o

Programa de Qualificação da Saúde Suplementar. Entre as iniciativas da ANS estão

a mudança nas regras exigidas no registro de novos planos de saúde, que serão

obrigados a apresentar estrutura adequada para a realização de partos normais na

sua rede assistencial e a qualificação das operadoras de planos de saúde, incluindo

as taxas de cesárea como um dos critérios de sua avaliação. Assim, as operadoras

de planos de saúde compartilharão com sua rede assistencial a responsabilidade de

garantir o cumprimento das metas de qualidade estabelecidas nesse programa,

buscando estimular sua clientela a realizar o parto normal (ESCRIVÃO JÚNIOR;

KOYAMA, 2007).

37

3.3 Taxas Ideais de Cesárea existem?

Embora a OMS recomende, desde 1985, que as taxas de cesárea não ultrapassem

cifras entre 10 e15% observamos, no gráfico abaixo, publicado no relatório da

Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) do Paises

Europeus, que em quase todas as nações as taxas são maiores que a

recomendação (OECD, HEALTH AT GLANCE 2005).

Gráfico 1– Taxas de cesárea (percentual por 100 nascidos-vivos) dos países da OECD

Fonte: HEALTH AT GLANCE, 2005, p. 61. Notas: 1. Em Portugal, estão incluídos apenas partos em hospitais públicos, portanto os

resultados poderão ser superestimados. 2. Dados de 2001. 3. Os dados de OECD correspondem à média dos principais países desse grupo.

Ainda nesse relatório (OECD, HEALTH AT GLANCE 2005), todos os países

apresentaram aumento de suas taxas de cesárea desde 1990, demonstrando

uma tendência mundial desse fato.

38

Gráfico 2– Evolução das taxas de cesárea (percentual por 100 nascimentos), 1990 à 2002

Fonte: HEALTH AT GLANCE, 2005, p. 61.

Notas: 1. Em Portugal, estão incluídos apenas partos em hospitais públicos, portanto os

resultados poderão ser superestimados. 2. Dados de 2001. 3. Dados de 1997.

Essa tendência mundial estende-se a países subdesenvolvidos ou em

desenvolvimento, conforme se observa no Relatório Mundial de Saúde de

2005 da OMS (2005).

39

Gráfico 3– Taxas de cesárea em regiões urbanas e rurais de países da África e América Latina

Fonte: OMS, Relatório Mundial de Saúde, 2005.

Observamos que países africanos muito pobres têm baixos índices de cesárea.

Porém esse fato é decorrente de falta de disponibilidade de assistência médico-

hospitalar e barreiras de acesso à população, caracterizando, inclusive, a redução

ou a manutenção do número desses procedimentos entre 1993 e 2003.

Essa elevação das taxas de cesárea, bem como as diferenças observadas entre os

países, devem ser contextualizadas em função das características sócio-culturais de

cada sociedade, bem como do modelo de saúde praticado em cada local, levando a

fatores associados à escolha pelos diversos tipos de parto.

Para muitos autores, as taxas ideais propostas pela OMS (1985) são meramente

referenciais e não um objetivo normativo para os diversos países. O coordenador, de

saúde da família e da comunidade da OMS, Dr. José Villar, declarou em 2001 que a

recomendação da Organização (OMS, 1985) era bastante razoável e estava

40

baseada nas opiniões de especialistas e no conhecimento médico daquela época.

Ele relata que há países com populações de alto risco que necessitariam de maior

número de operações cesarianas do que recebem hoje e outras regiões, com

populações de baixo risco, que abusam das cesáreas, necessitando-se identificar

localmente a taxa ideal dessa intervenção (LAZLO, 2001).

Rezende declarou que mais importante que as taxas de cesárea seria o resultado

dessa prática na saúde materna e neonatal (REZENDE, 2002). Esse emérito

professor de obstetrícia publicou há cerca de quatro décadas que

não há que se negar que a incidência de cesárea aumenta, o que alarma alguns partidários da obstetrícia tradicional, mas não sensibiliza os tocólogos de boa linhagem: conceito fundamental hoje não é a percentagem arbitrária da incidência da operação, mas qual o melhor método para a mãe e filho quando há doença intercorrente ou surge complicação obstétrica (REZENDE, 1969).

Chou et al. (2006) sugerem utilizar informações sobre como os médicos usam a

cesárea para si e seus familiares como referência de taxa ideal de cesárea para a

população em geral de um país ou região, em virtude da dificuldade de aplicar-se

uma mesma taxa para todos, devido à heterogeneidade na sociedade, cultura,

desenvolvimento médico e sistemas de saúde de cada local.

Conclui-se que como não houve, após as recomendações de 1985 da OMS, outras

manifestações desta entidade nem de outras relevantes no meio médico sobre as

taxas ideais de cesárea, seria inviável padronizar uma taxa ideal de parto cesáreo,

provavelmente por que os modelos assistenciais são diferentes nos vários países,

tornando difícil a sua determinação.

3.4 Cenário Mundial da Organização da Assistência ao Parto

Em quase todo o mundo observamos a realização cada vez mais freqüente do parto

cesáreo. As principais justificativas encontradas na literatura internacional para este

fato são fatores sociais, demográficos, culturais e econômicos das gestantes,

41

associados à solicitação materna pelo tipo de parto e fatores relacionados ao

modelo assistencial desenvolvido nesses países, envolvendo aspectos do trabalho

médico e de outros profissionais, preferências médicas e interesses econômicos dos

diferentes atores desse processo.

Neme (1995) resumiu os mais importantes fatores para a elevação da incidência de

cesariana no mundo em:

• Condições que propiciaram menor risco e maior segurança materna

(antimicrobianos, transfusão de sangue, técnicas anestésicas, etc.);

• Maior valorização da vida e de sua qualidade (evitar seqüelas para os

conceptos);

• Maior risco de processos legais por má prática;

• Maior incidência de primigestas idosas e adolescentes;

• Diagnóstico mais apurado e precoce de anomalias e sofrimento fetal;

• Interferência da paciente sob a forma de “cesárea a pedido” ou de solicitação

de ligadura tubárea feita no momento do parto cesáreo;

• Condição econômica da paciente, associando maior incidência de cesariana à

clínica privada do que ao serviço público;

• Conveniência para o obstetra, pelo maior tempo necessário para a assistência

ao parto normal;

• Repetição de cesárea em mulheres com esse procedimento em gestação

anterior.

Os fatores clínicos determinantes da cesárea estão relacionados às condições

patológicas de saúde maternas e fetais, que não diferem substancialmente nas

diversas regiões do mundo. Por opção do autor, não iremos abordar as indicações

clínicas para a realização da cesárea, enfocando-se apenas os fatores não clínicos

associados à essa decisão.

Observa-se, em diferentes países, características peculiares quanto à forma como

se organiza a assistência à saúde, relacionadas às prioridades em saúde pública, ao

modelo político estabelecido e ao grau de intervenção e participação do Estado nos

diversos níveis de assistência. Diferenças nas condições sociais, educacionais e

42

econômicas da sociedade também são relevantes. A organização da assistência à

gestante se molda a essas características, determinando o modelo de atendimento

ao parto e influenciando as taxas nacionais de cesárea. O modelo de assistência ao

parto, baseado no atendimento hospitalar e com intervenções médicas, nem sempre

aceitas pelos estudiosos do assunto, sofre críticas originadas na sociedade e na

comunidade acadêmica, com questionamentos contundentes no campo da

obstetrícia.

Partindo-se da premissa de que modelos diferentes de assistência ao parto,

associados aos fatores que determinam a escolha pelo tipo de parto, definiriam a

forma de organização da prática médica estabelecida nos diversos países,

intimamente associada à incidência de cesárea nesses locais, analisaremos essa

organização da assistência obstétrica discorrendo sobre os modelos assistenciais

praticados em alguns países, envolvendo fatores sócio-culturais de pacientes e

médicos e citando suas taxas de cesárea nos últimos anos. Iniciaremos definindo a

questão da cesárea a pedido ou por desejo materno e, posteriormente, abordaremos

questões relacionadas ao comportamento médico perante os riscos de processos

por má prática e aos aspectos econômicos envolvidos na escolha do tipo de parto.

3.4.1 Cesárea a Pedido ou Por Solicitação Materna

Cesárea por escolha ou solicitação da paciente, cesárea por demanda e cesárea a

pedido são sinônimos de parto cesáreo eletivo na ausência de indicação médica.

Trata-se de assunto extremamente polêmico, sendo considerado um dos grandes

fatores associados ao aumento das cesáreas, envolvendo aspectos relacionados

aos direitos e à autonomia de pacientes, fornecimento adequado de informações e

tipo de relacionamento médico-paciente. Esse conceito foi introduzido na literatura

mundial por Feldman e al., em 1985. Estimulados por casos de litígio médico-legal

devido a problemas neurológicos no recém-nascido, esses autores publicaram um

artigo intitulado “Prophylactic cesarean at term?” (FELDMAN; FREIMAN, 1985). A

partir daí, a indicação médica e a aceitação pelo médico da cesárea a pedido têm

sido amplamente estudadas em diversos países, em particular nos Estados Unidos

43

(EUA), devido ao aumento de suas taxas desde 1970. Um levantamento em 16

estados americanos demonstrou aumento de 42% nas cesáreas a pedido da

gestante entre 1999 e 2002 (HEALTH GRADES, 2004).

As estatísticas desse tipo de indicação podem variar em diferentes países ou

estudos. Em alguns estudos, cesáreas a pedido correspondem entre 4 e 18% de

todas as cesáreas realizadas, devido ao medo do parto vaginal, ao receio de lesões

ao recém-nascido ou ao temor por possíveis alterações nos seus órgãos genitais.

Em outros estudos, sua incidência está entre 14 e 22% de todos os procedimentos

eletivos (SCHINDL; BIRNER; REINGRABNER, et al., 2003; TRANQUILLI;

GIANNUBILO, 2004). Essa indicação médica apresenta-se, na literatura

internacional, com percentuais muito variáveis, justificados por diferenças de

amostragem e de conceituação do termo “por demanda” (HABIBA et al., 2006;

MEIKLE et al., 2005). Há, eventualmente, inclusão de casos onde havia outras

indicações para a realização desse procedimento, ou ainda, o registro em prontuário

de uma indicação médica para a cesárea ao invés de declarar a sua execução por

desejo materno (HABIBA, et al., 2006).

Land et al. (2001) analisaram, do ponto de vista do médico, os motivos pelos quais

suas pacientes solicitaram o parto cirúrgico, encontrando como motivos mais

alegados para a escolha pela cesárea:

• medo do nascimento por parto vaginal (27% dos médicos),

• lesões na região genital (80-93% dos médicos),

• lesões fetais (24-39% dos médicos),

• lesões anais (83% dos médicos),

• alterações urinárias (81% dos médicos),

• disfunção sexual (58-59% dos médicos),

• conveniência materna (17-39% dos médicos),

• melhor controle do parto (39% dos médicos);

• medo da dor do parto vaginal (7% dos médicos)

44

Em outro estudo, realizado com mulheres que já tinham dado à luz, a solicitação de

cesárea ocorreu, em perticular, devido a experiências anteriores ruins com o parto

vaginal (WAX et al., 2004).

A cesárea a pedido está diretamente relacionada à elevação das taxas de cesárea e

imbricada no modelo assistencial em vigor em cada localidade.

3.4.2 Modelos Assistenciais

O grau de intervenção nos processos saúde-doença está intimamente relacionado

com o modelo de atenção à saúde. Segundo Wagner (2001), existem três modelos

de atenção ao parto praticados no mundo:

• o modelo altamente medicalizado, com uso de alta tecnologia e pouca

participação de obstetrizes, encontrado nos EUA, Irlanda, Rússia, República

Tcheca, França, Bélgica e regiões urbanas do Brasil;

• o modelo menos medicalizado, chamado “humanizado” pela autora, com maior

participação de obstetrizes e menor freqüência de intervenções, encontrado na

Holanda, Nova Zelândia e países escandinavos;

• o modelo intermediário, encontrado na Grã-Bretanha, Canadá, Alemanha,

Japão e Austrália.

A autora não incluiu países subdesenvolvidos nessa classificação, possivelmente

pela existência de barreiras de acesso à assistência obstétrica nesses locais.

Tampouco foi abordado o Chile, recordista mundial em cesáreas até o ano 2000,

país em vias de desenvolvimento.

Em cada um desses modelos e países, com sistemas de saúde semelhantes ou não,

há comportamentos médicos e sociais diferentes e conseqüentemente, taxas de

cesárea diversas. Utilizaremos a classificação de Wagner (2001) para analisar, em

alguns países selecionados, aspectos do modelo assistencial, os fatores

determinantes das cesáreas - ressaltando as preferências médicas e de pacientes -

e as taxas de realização desse procedimento.

45

No grupo de países com modelo de atenção altamente medicalizado, os EUA são

onde mais se estuda a questão da incidência de cesarianas, uma vez que essas

correspondem ao procedimento cirúrgico mais comum entre as mulheres. Nesse

país, a taxa de cesárea aumentou progressivamente de 1970 até meados da década

de 1980, quando atingiu pico de 25%. Após esse pico, houve redução para 22,6%

em 1991 e para 20,7% em 1996, determinada pelo incremento dos partos vaginais

em mulheres com cesárea anterior, incentivada por programas governamentais. A

partir desse ano as taxas voltaram a crescer, devido ao aumento da freqüência do

procedimento em mulheres sem cesárea anterior (cesárea primária) e redução de

parto vaginal em mulheres com cesárea previa. Em 2000 atingiram a cifra de 22,9%

(MENACKER, 2001) e em 2002, 26,1%. Houve novo aumento na percentagem

desses procedimentos entre as americanas em 2003, chegando a 27,6% dos partos

- mais de um milhão de procedimentos no ano (CDC NATIONAL VITAL

STATISTICS, 2003) e em 2004, quando 1,2 milhão de mulheres tiveram seu parto

realizado por cesárea, representando 29,1% de todos os nascimentos (MENACKER;

DECLERCQ; MACDORMAN, 2006). Os estudos norte-americanos atribuem esse

fato às questões médico-legais por má prática e à escolha do tipo de parto pela

paciente (FLAMM, 2004). Os últimos dados acessíveis estimam que, em 2005,

ocorreu um novo recorde de cesáreas, com taxa de 30,2 para cada 100 nascimentos

(CDC NATIONAL VITAL STATISTICS, 2005).

46

Gráfico 4– Evolução das taxas de cesárea nos EUA

Fonte: MENACKER; DECLERCQ; MACDORMAN, 2006.

Notas: 1. VBAC: parto vaginal após uma cesárea anterior; 2. Total cesarean: percentual de cesáreas incluindo as cesáreas primárias e as repetidas; 3. Primary cesarean: cesárea realizada em mulher que nunca se submeteu a esse

procedimento.

Nesse país, de maneira semelhante ao que acontece na Bélgica e no Brasil, o

modelo de assistência se caracteriza pela atuação de obstetras nos cuidados da

maternidade, incluindo o acompanhamento pré-natal e a realização do parto normal

e/ou cesáreo, realizados em ambiente intra-hospitalar. Enquanto as pacientes de

serviços privados são atendidas por médicos de sua escolha, aquelas dos serviços

públicos o são pelo obstetra de plantão nas maternidades. Nesse modelo, a

incidência de cesáreas em pacientes privadas pode ser devida à conveniência

médica (WAGNER, 2000), seja pela falta de tempo e gerenciamento da agenda, seja

pelo modelo de remuneração. Há melhor remuneração para o médico que atende

mulheres com seguros privados, condição em que se realizam mais cesáreas, do

que para aquele que presta assistência pelo Medicaid (GRANT, 2005). Analisando a

incidência de cesárea nos EUA, Grant classificou os fatores determinantes, de forma

detalhada, em cinco grupos:

• Fatores clínicos relacionados à gestante e/ou feto: apresentação pélvica,

sofrimento fetal, falha de progressão do trabalho de parto, alterações na

placenta e idade materna;

• Características individuais não clínicas: educação materna, raça, rendimentos;

47

• Fatores relacionados à relação médico-paciente;

• Modelo de remuneração do procedimento;

• “Estilo da prática” do médico, isto é, preferência médica pelo tipo de parto.

Ainda segundo este autor, os fatores não são independentes: mulheres de nível

econômico elevado, com seguros privados ou particulares, tendem a engravidar em

idade mais avançada e, por isso, têm mais complicações médicas e são submetidas

mais amiúde à cesariana. Também refere associação positiva entre taxas de

cesárea por desejo materno e maior grau de educação materna, raça branca e

renda elevada.

Kabir et al. (2004) analisaram gestantes da Louisiana, em primeira gestação ou com

uma cesárea prévia, e encontraram maiores taxas de cesárea do que de partos

vaginais em mulheres da raça branca, quando comparadas com mulheres não-

brancas, fato anteriormente demonstrado por Butcher et al. (1997). Essa relação

também ocorre em mulheres americanas com elevado grau de instrução e idade

mais avançada. (MENACKER, 2001).

A cesárea por desejo materno tem sido ressaltada nos estudos como importante

causa para a realização desse procedimento. Em seu artigo, Wagner (2000) critica o

modelo americano de assistência ao parto ressaltando o grau de aceitação da

sociedade para com a escolha materna pela cesárea e para com o

comprometimento médico na fraude ao sistema de saúde:

Com uma cesárea agendada, você e seu médico acordaram a hora em que você entrará no hospital de forma tranqüila e vagarosa, e ele retirará seu bebê por meio de uma pequena incisão acima dos seus pêlos pubianos. Há muitas razões para agendar uma cesárea – há mulheres que desejam a cesárea para manter o tônus vaginal de uma adolescente e seus médicos encontrarão uma justificativa médica para os planos de saúde (WAGNER, 2000, tradução nossa).

Apesar do aumento de 42% de cesáreas a pedido nos EUA (HEALTH GRADES,

2004) e da argumentação de Wagner (2000), observou-se, por meio de uma

pesquisa com mulheres de diversos estados dos EUA, pequeno interesse no parto

48

por cesárea: apenas 6% das mulheres primíparas desejavam esse tipo de parto

(DECLERCQ et al., 2002).

Ainda nos EUA, Thurman et al. (2004) entrevistaram mulheres não grávidas em

busca de respostas sobre preferência pelo tipo de parto numa possível gravidez

futura, encontrando apenas 13,3% de mulheres que desejariam cesárea. Para os

autores, ao entrevistar mulheres fora do período de gestação, pode se evitar

quadros de ansiedade antes do parto, experiências ruins após o parto, dores após o

parto e outros fatores que poderiam influenciar as respostas das entrevistadas.

Em função da questão da cesárea por solicitação da gestante, o Instituto Nacional

de Saúde (NIH) dos EUA publicou o resultado de uma conferência sobre esse tema,

analisando riscos e benefícios dessa prática (STATE-OF-THE-SCIENCE-

CONFERENCE STATEMENT - CESAREAN DELIVERY ON MATERNAL

REQUEST, 2006). Os conferencistas declararam que:

• Há insuficientes evidências para avaliar riscos e benefícios de cesárea a

pedido materno quando comparada ao parto vaginal;

• Qualquer decisão para realizar cesárea a pedido deve ser cuidadosamente

individualizada e contemplar princípios éticos;

• Devido aos riscos de placenta prévia e acreta (alterações na localização e na

aderência da placenta no interior do útero durante a gestação), a cesárea a

pedido não é recomendada para mulheres que desejam muitos filhos;

• Cesárea a pedido não deve ser realizada antes de 39 semanas de gestação ou

sem verificação da maturidade pulmonar.

McCandlish publicou, em revista direcionada a enfermeiras obstetras, críticas às

conclusões dessa conferência, demonstrando conflito de interesses em diferentes

grupos profissionais. Para a autora, além de a cesárea não ser uma intervenção

isenta de riscos, o resultado dessa conferência induz à consideração de que o parto

cesáreo é o parto normal (McCANDISH, 2006, tradução nossa). Também

contrariando o resultado da Conferência do NIH, Leeman e Plante (2006) declararam

que a pressão crescente para o parto cesáreo na ausência de indicação médica

49

pode levar as mulheres a não ter outra opção para o nascimento, influenciadas pela

cultura médica e submetidas à assimetria de informações.

Alguns estudos foram realizados para avaliar se há influência da cultura médica na

cesárea a pedido, pelo tipo de parto para si ou para alguma familiar, bem como o

grau de aceitação desses profissionais frente a uma solicitação de cesárea pela

gestante. No trabalho de Wax et al. (2005), 21,1% dos obstetras americanos,

situados no Estado de Maine, desejariam para si ou para seus parentes um parto

cesáreo, numa situação de gravidez não complicada. Sua justificativa seria, na

maioria das respostas, a prevenção de disfunções gênito-urinárias ou sexuais. Esses

autores observaram ainda que 84,5% dos médicos aceitariam a solicitação da

cesárea a pedido da gestante, não havendo diferenças nas respostas entre

obstetras homens e mulheres. Uma outra pesquisa, ainda naquele país, foi realizada

com obstetras de 15 estados americanos e alguns territórios canadenses, durante

um encontro regional do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG).

Nesta, foi detectado que 46,2% desses médicos optariam por cesárea para si ou

seus familiares, subindo esse percentual para 70% na hipótese de feto com peso

estimado acima de 4000 gramas (GABBE; HOLZMAN, 2001). Em 2004, o próprio

ACOG realizou pesquisa com 301 mulheres obstetras americanas durante o

congresso da especialidade, onde 36% das mesmas afirmaram que não realizariam

cesárea a pedido da gestante (ACOG, 2004).

Guetti et al. (2004) realizaram estudo com obstetras de Oregon, apresentando

dezessete cenários hipotéticos em uma possível gravidez de 9 meses e avaliando a

disposição dos médicos em realizar uma cesárea na presença e na ausência de

indicações obstétricas. Os autores observaram elevada aceitação de cesárea em

casos de indicação médica clara (68 a 98%, dependendo do caso) e baixíssima nos

casos sem indicação (2 a 9%), contrariando estudos anteriores. Ressalta-se que no

estudo de Guetti et al. (2004) as mulheres foram mais resistentes do que os homens

em aceitar a cesárea a pedido.

Na tentativa de reduzir a incidência de cesáreas, algumas políticas de saúde pública

vêm sendo desenvolvidas nos EUA nos últimos 25 anos. Como exemplo, no

programa “Healthy People Year 2010”, um dos objetivos é reduzir a taxa desse tipo

50

de parto em mulheres com gestação de baixo risco, para 15% em mulheres sem

cesárea anterior e para 63% em mulheres com uma cesárea anterior (MENACKER,

2005). Para isso, será necessária uma redução total de 36% e 29%,

respectivamente, das taxas de 2003 até 2010.

Na Europa, observamos que muitos países têm apresentado elevação das taxas de

cesárea nos últimos vinte anos, desencadeando discussões sobre suas causas e

conseqüências. O modelo assistencial nesses países não é homogêneo. Há países

onde a assistência ao parto, de caráter privado, é realizada pelo médico obstetra

escolhido pela paciente e remunerado por procedimentos, enquanto em outros o

modelo de saúde é estatal e a assistência é realizada por profissionais, médicos ou

parteiras, remunerados de forma assalariada. Na Europa há regulamentação própria

para o trabalho e autonomia das parteiras (EUROPEAN PARLIAMENT EUROPEAN

COUNCIL, 2005), cuja aceitação não é igual em todos os países. Em 1996, um

Comitê Europeu de Regulamentação das Parteiras (EUROPEAN MIDWIVES

LIAISON COMMITTEE, 1996) definiu sua autonomia, incluindo a execução de

cuidados durante o parto para mulheres saudáveis. A Holanda e a Grã-Bretanha

aceitam bem essa posição das parteiras, enquanto na Bélgica, essas profissionais

lutam para alcançar um mínimo de atividades autorizadas por lei (MEAD;

BOGAERTS; REYNS, 2006). Paradoxalmente, as taxas de cesárea na Grã-Bretanha

são maiores do que as belgas.

Na Bélgica, um dos países classificados por Wagner como medicalizados, a

organização do sistema de saúde oferece incentivos financeiros que encorajam

obstetras a realizar os partos, remunerando-os por procedimento. Estas atividades

poderiam ser executadas por parteiras, oficialmente habilitadas para esse trabalho

(MEAD; BOGAERTS; REYNS, 2006). Nesse país, 94% dos partos são executados

ou supervisionados por médicos obstetras (MEAD; BOGAERTS; REYNS, 2006).

Apesar de suas baixas taxas de cesárea, estas passaram de 10,5% em 1990 para

15,9% em 1999 (HEALTH AT A GLANCE, 2005). Enquanto poucos médicos belgas

(em torno de 2%) desejariam cesárea para si ou seus familiares (DOES VAN DER;

ROOSMALEN VAN, 2001), 30% dos obstetras realizariam o procedimento por

solicitação da gestante (JACQUEMYN; AHANKOUR; MARTENS, 2003).

51

A Irlanda, outro país citado por Wagner como medicalizado, também apresentou

elevação das taxas de cesárea nos últimos 15 anos. Lá havia 10,5% desse

procedimento em 1990 e em 2002, 23,4% (HEALTH AT A GLANCE, 2005), embora

somente 7% das médicas irlandesas desejassem cesárea para si ou familiares (MC

GURGAN; COULTER-SMITH; O’DONOVAN, 2001). Observa-se na França, cuja

assistência à saúde é garantida pelo Estado, o mesmo fenômeno de crescimento,

embora em menor velocidade. Em 1999, apresentava taxas de cesárea em 16,1%.

Passou a 17,1%, 17,9%, 18,7% e 18,8% nos anos de 2000, 2001, 2002 e 2003,

respectivamente (WORLD HEALTH STATISTICS, 2007).

Dentre os países com menor intervenção médica na atenção ao parto, a Holanda é

destaque por sua reduzida taxa de cesáreas dentre os países desenvolvidos. Nesse

país, onde a freqüência de intervenções médicas é pequena e cerca de 30% dos

partos de baixo risco ocorre no domicílio da gestante, a assistência obstétrica é

realizada por parteiras que, quando suspeitam de que poderá haver complicações

no parto, encaminham a parturiente para o hospital. O modelo holandês tem sido

usado para demonstrar que a assistência ao parto fora do hospital e por parteiras

traz bons resultados (KWEE et al., 2004). Porém, também na Holanda observa-se

aumento das taxas de cesárea, passando de 7,4% em 1990 para 13,5% em 2002

(HEALTH AT A GLANCE, 2005). Em um estudo realizado sobre a aceitação de

cesáreas a pedido, poucos médicos, em especial os mais experientes, estariam

propensos a realizá-las sem indicação médica (KWEE et al., 2004). Além disso,

apenas 1,4% das médicas holandesas (DOES VAN DER; ROOSMALEN VAN, 2001)

desejariam para si esse modo de nascimento numa situação hipotética de gravidez.

A Suécia, pais cujas taxas de cesáreas também são baixas, tem seu modelo

assistencial caracterizado pelo atendimento por parteiras e por pouca intervenção

médica no parto. Como na Holanda, porém, verificou-se aumento nas taxas de

cesárea, de 10,8% em 1990 para 16,4% em 2002 (HEALTH AT A GLANCE, 2005),

atingindo, em certos hospitais de Estocolmo, taxas de 22-23% (COUNTY COUNCIL

OF STOCKHOLM, 2004), atribuídas a alterações nas características sócio-culturais

da população e nas práticas clínicas (ODLIND et al., 2003; KWEE et al., 2004;

KÁLLEN et al., 2005). Além dos motivos tradicionais, como apresentação pélvica e

idade materna, nesse país o índice de massa corpórea elevado é relatado como

52

importante causa de indicação de cesárea (KWEE et al., 2004). Encontra-se nas

estatísticas de saúde suecas a inserção do diagnóstico de “indicação psico-social”

para realização da cesárea, que inclui os medos da gestante, a conveniência da

gestante e do médico e outros fatores. Esta é a principal indicação de cesárea

eletiva na Suécia (HILDINGSSON, 2006), sendo que, dentre todas foi a que mais

cresceu entre 1992 e 2002 nos partos de gestação de baixo risco (KÁLLEN et al.,

2005). Em estudo de Hildingsson et al. (2002), apenas 8% das mulheres suecas,

quando questionadas no início de gestação, preferiam parto cesárea. Os autores

encontraram correlação entre essa preferência e algumas características

demográficas e comportamentais, como idade maior de 35 anos, mulheres solteiras,

fumantes e que apresentavam uma gravidez não planejada. Embora sem relação

direta de causa e efeito, provavelmente essa complexa mistura de fatores sociais,

demográficos e culturais estaria associada a esses resultados. O aumento de 50%

nas taxas de cesárea entre 1990 e 2002, motivou novo estudo de Hildingsson,

envolvendo quase três mil mulheres, para tentar compreender se o modo idealizado

pelas suecas para o nascimento influenciaria a decisão pelo tipo de parto. Das 236

mulheres que desejavam ter parto cesáreo no início da gestação, 30,5% deram à luz

por cesárea eletiva e 15% tiveram cesárea de urgência: a preferência da gestante

pode ter importante papel no tipo de parto realizado (HILDINGSSON, 2006).

Kolas et al. (2003) identificaram as principais indicações médicas de cesáreas na

Noruega: apresentação pélvica, repetição de cesárea após cesárea prévia, suspeita

de sofrimento fetal e falha na tentativa de parto vaginal. Nesse país, onde a taxa de

cesáreas é relativamente baixa (16,1% em 2002, segundo a OECD), poucos

médicos desejariam esse tipo de parto para si ou seus parentes, sendo que estudos

demonstraram que somente 2% das médicas norueguesas (BACKE; SALVESEN;

SVIGGUM, 2002) desejariam esse modo de nascimento numa situação hipotética de

gravidez.

Entre os obstetras dinamarqueses, 37,6% concordam que a mulher tem o direito de

solicitar a cesárea para o nascimento de seu filho (BERGHOLT et al. 2004). A

Dinamarca apresentou 17,6% desse tipo de parto em 2002 (HEALTH AT A

GLANCE, 2005).

53

Dentre os países caracterizados por um modelo intermediário entre o uso intensivo

de tecnologia médica e a assistência pouco intervencionista, Grã-Bretanha, Canadá

e Austrália vêm analisando a incidência de cesáreas e suas causas. Nesses países,

o modelo assistencial se baseia na participação de parteiras e médicos generalistas

no atendimento à gestante, porém com menor tendência ao deslocamento do parto

para o ambiente domiciliar que na Holanda e na Escandinávia.

Wilkinson et al. (1998) identificaram que as principais indicações médicas de

cesáreas eletivas, em 8098 casos de gestantes inglesas, foram apresentação

pélvica e repetição de cesárea após cesárea prévia, enquanto as cesáreas de

urgência e emergência foram devidas à suspeitas de sofrimento fetal e falha de

progressão de trabalho de parto. Além dessas indicações clínicas há, na Inglaterra,

estudos que sugerem a solicitação materna como uma das maiores causas para

indicações de cesárea (COTZIAS; PATERSON-BROWN; FISK, 2001). Há

pesquisadores ingleses que criticam a realização deste tipo de parto por desejo da

mulher, afirmando que esta pode ser influenciada por falta de informações médicas.

Para eles, esta aparente “liberdade de escolha” é, na prática, freqüentemente

induzida pela manipulação das informações prestadas sobre os riscos envolvidos

nos procedimentos do parto (AMU; RAJENDRAN; BOLAJI, 1998). Não se trata de

preocupação recente entre os britânicos: em 1993, o governo lançou um documento

chamado “Changing Childbirth” (Modificando o Nascimento), com o objetivo de

motivar a gestante a buscar todas as informações necessárias antes de escolher seu

tipo de parto (DEPARTMENT OF HEALTH, 1993).

O primeiro trabalho internacional a relatar a preferência das médicas obstetras pela

via de parto, caso estivessem grávidas, foi feito em 1996 na Inglaterra, por Al-Mufti

et al. (1996). A partir daí, surgiram outros estudos, em diversos paises, com

resultados controversos, sobre a preferência dos médicos. Esse estudo chamou a

atenção da comunidade médica atenta à questão das cesarianas, causando grande

polêmica. Al-Mufti et al. (1996) relataram que 31% das mulheres obstetras

escolheriam para si o parto cesárea eletivo, mesmo na ausência de indicações

formais. Em 1997, os mesmos autores publicaram artigo sobre uma pesquisa com

médicos trainees em obstetrícia e ginecologia na Grã-Bretanha, relatando que 17%

do total dos entrevistados e 31% das médicas obstetras escolheriam a cesárea para

54

si ou seus parentes se estivessem grávidas, sendo essa decisão baseada no receio

de distúrbios urinários ou sexuais decorrentes do parto vaginal (AL-MUFTI;

MCCARTHY; FISK, 1997). No mesmo país, Groom et al. (2002) relataram que

apenas 15% de obstetras, independentemente do sexo, escolheriam cesárea para si

ou para parentes, mesmo percentual encontrado em 2001 por Wright et al. (2001),

porém entre médicas inglesas trainees. Na Escócia, onde também 15% das médicas

participantes de uma pesquisa escolheriam a cesárea para o nascimento de seu

filho, observou-se que, dentre aquelas que experimentaram o parto vaginal em

gestação anterior, nenhuma desejaria outro tipo de parto (MACDONALD; PINION;

MACLEOD, 2002).

Com relação à aceitação do obstetra em relação ao pedido de cesárea pela

paciente, cerca de 69% dos médicos ingleses (COTZIAS; PATERSON-BROWN,

FISK, 2001) aceitariam a solicitação de cesárea por medo de processos judiciais e

pressões das pacientes. A Inglaterra também tem acompanhado de perto a evolução

da incidência da cesariana. Entre as inglesas, observou-se que a taxa dessa cirurgia

passou de 11,3% em 1989-1990, para 15,4% em 1994-1995 e para 17% em 1997-

1998 (QUINLIVAN,1999). Em 2001 observa-se duplicação da taxa de cesárea desde

1989, atingindo 22% (DEPARTMENT OF HEALTH, 2002). Esse aumento pode ser

atribuído à conduta médica defensiva pelo receio de litígio por má prática, ao

aumento da idade materna (CAESAREAN, 2000) e à melhora do nível sócio-

econômico da população (ALVES; SHEIKH, 2005). Nova elevação da incidência de

cesáreas foi observada em 2004, quando 22,7% das inglesas tiveram o nascimento

de seus filhos por esse tipo de parto (GOVERNMENT STATISTICAL SERVICE,

2005).

O Canadá, país onde o modelo de assistência ao parto foi classificado como

intermediário, apresenta um sistema de saúde público que assiste a toda a

população. Lá, os partos são realizados por médicos e parteiras e financiados pelo

governo. Estudo mostra que os médicos optariam por cesárea para si, para seus

familiares e para seus pacientes se houvesse indícios de necessidade de uso do

fórcipe no auxílio ao parto vaginal (FARREL; BASKETT; FARREL, 2005). Ainda

nesse estudo, 23% dos médicos aceitariam a solicitação da gestante, acreditando no

seu direito de escolha, principalmente médicos canadenses do sexo masculino. Esta

55

diferença entre os sexos se justifica, segundo os autores, pela provável crença das

médicas de que o parto vaginal tenha papel fundamental na experiência de ser

mulher. Ali havia, em 1995, 17,5% de cesáreas, passando para 20,9% em 2000 e

23,4% em 2002. Preocupado com essa elevação, em 2000, o Conselho de Saúde

da Mulher de Ontário organizou o Grupo de Trabalho de Cesárea, identificando 12

fatores críticos de sucesso para reduzir essas taxas, entre os quais questões

relacionadas à mudança de cultura, reforçando a idéia de parto normal ser

fisiológico, a trabalho em equipe multidisciplinar e a mudança das práticas

obstétricas (CAESAREAN SECTION WORKING GROUP, 2000).

A Austrália também vem apresentando elevação na incidência de cesárea, que

passou de 17,5% em 1990 para 23,3% em 2000 (AUSTRALIAN INSTITUTE OF

HEALTH AND WELFARE, 2000), elevando-se para 26,5% em 2002. Quinllivan et al.

(1999) analisaram as causas para o aumento nas taxas de cesárea entre 1990 e

1997 na Austrália, identificando o medo do obstetra perante o litígio, o aumento no

uso de monitoramento fetal levando a diagnóstico falso-positivo de sofrimento fetal, a

persistência do paradigma de Craigin do início do século XX (“uma vez cesárea,

sempre cesárea”), apresentação pélvica e vontade materna. Nesse estudo, com

1624 mulheres submetidas a cesárea em um hospital público australiano, o desejo

das pacientes foi a principal indicação das cesáreas eletivas, por recusa à tentativa

de parto vaginal após cesárea anterior. A percepção de risco na gravidez e parto tem

ajudado a aumentar a incidência deste procedimento, apontando para o fato de que

o incremento da cesárea a pedido é complexo e multifatorial. Walker et al. (2004),

em estudo realizado enviando questionários a mulheres sete semanas após o parto,

demonstraram que as australianas, independentemente de variáveis sócio-

demográficas, concordam com a percepção de que a cesárea representa um tipo de

parto mais fácil e conveniente para o nascimento, reforçando a cultura favorável a

esse procedimento. Essa conclusão contraria estudo anterior, de Gamble e Creedy

(2000), que fizeram uma revisão na literatura de trabalhos sobre cesárea a pedido,

identificando que poucas mulheres solicitariam cesárea na ausência de

complicações obstétricas atuais ou prévias. Para essas autoras, ligadas à Faculdade

de Enfermagem de Brisbane, Austrália, os trabalhos, em geral, têm resultados

enviesados pois, se os obstetras se sentirem pressionados a justificar os altos

índices de cesárea, transfeririam o ônus dessa responsabilidade para as mulheres.

56

Analisando os trabalhos, as autoras relataram falhas metodológicas ou não registro

de questões relevantes, como nível de informação médica recebida pelas pacientes,

motivos do desejo pela cesárea, incluindo medos ou traumas psicológicos, inclusão

de pacientes com cesárea anterior e a execução das entrevistas pelo time

assistencial, ao invés de um pesquisador mais isento, que minimizaria interpretações

distorcidas das respostas.

No Japão, há mais de 300 casas de parto dirigidas por enfermeiras obstetras,

fornecendo atenção no pré-natal, parto e puerpério a aproximadamente 20% das

mulheres (d’ORSI et al., 2005). Esse modelo de assistência favorece a realização de

maior número de partos vaginais, culturalmente aceitos pelas gestantes e pela

sociedade. Tradicionalmente as japonesas recebem os cuidados pré-natais em seu

domicílio e a prática de parto domiciliar permaneceu até alguns anos após a

Segunda Guerra Mundial, quando passou a ser executada em instituições oficiais

como hospitais e casas de parto. No Japão, essas instituições governamentais não

prestam assistência gratuita na área de obstetrícia pelo fato de gravidez e parto não

serem considerados doença (HOGA, 2005).

A Alemanha tem apresentado aumento nas taxas de cesárea, partindo de 19,8% em

1999, passando para 20,88% em 2000, 21,99% em 2001, 23,6% em 2002,

aumentando para 24,8% em 2003, chegando a 25,9% em 2004 (WHO REGIONAL

OFFICE FOR EUROPE, 2006). Nesse país, desenvolvido economicamente, o

sistema de saúde é assegurado pelo Estado, por meio de fundos de contribuição

(fundos de doença) que garantem o seguro saúde à população. O financiamento e

provisão de serviços de saúde estão baseados em contratos entre os fundos de

doença e as organizações de provedores médicos.

Outros países, não descritos por Wagner em sua classificação, também vêm

apresentando questionamentos em relação ao aumento das cesáreas. Temos o

caso de Israel, onde os serviços médicos são providos pelo Estado de forma gratuita

e os partos normais ocorrem em ambiente hospitalar, sendo realizados, em sua

grande maioria, por enfermeiras sob supervisão médica. Gonen et al. (2002)

entrevistaram médicos israelenses sobre suas preferências quanto ao tipo de parto,

encontrando 91% de obstetras que acreditam que o parto vaginal é o mais indicado

57

para gestações não complicadas. No entanto, ao serem questionados sobre sua

aceitação com relação à cesárea a pedido, cerca de 50% dos israelenses

declararam-se a favor da sua realização por solicitação da gestante, por respeito à

autonomia da paciente. Israel apresentou 17,4% de cesarianas em 2003 (WORLD

HEALTH STATISTICS, 2007).

Na Itália, é previsto em lei o direito de a mulher participar da escolha do tipo de parto

a que será submetida. Esta medida elevou em 4% a taxa de cesárea entre mulheres

com gestação não complicada (TRANQUILLI; GARZETTI, 1997). A Itália é um dos

países europeus com maior taxa de cesáreas: em 1999, 32,4%; em 2000, 33,3%;

em 2001, 34,8%; em 2002, 36,2% e em 2003, 36,4% (WHO REGIONAL OFFICE

FOR EUROPE, 2006). Em estudos realizados nesse país (ZANETTA et al., 1999) e

na América Latina (NUTTALL, 2000; BÉHAGUE; VICTORA; BARROS, 2002), há

referências sobre a disseminação, na comunidade, da cultura pela maior aceitação

da cesárea como tipo de parto.

Há um grande estudo analisando as taxas de cesárea em dezenove países da

América Latina (BELIZAN, et al., 1999). Dentre esses, sete países apresentaram

taxas de cesarianas abaixo de 15% (Haiti, Guatemala, Bolívia, Peru, Paraguai,

Honduras e El Salvador). No entanto, nos outros doze países do continente, onde

ocorreram 81% de todos os partos da América Latina, as taxas variavam de 16,8% a

40%, sendo que alguns apresentaram taxas mais altas, como o Chile (40,0%), o

Brasil (27,1%), a República Dominicana (25,9%) e a Argentina (25,4%), e outras

taxas menores, como Colômbia (16,8%), Panamá (18,2%) e Equador (18,5%). O

Chile disputa com o Brasil as mais elevadas taxas de cesárea do mundo. Em 2000,

40% dos seus partos foram realizados por cesariana, fato decorrente, segundo

Murray (2005), de maiores incentivos econômicos para os médicos ao realizar esse

procedimento.

No continente asiático, a China, relevante entre outros aspectos pelo tamanho de

sua população, também se encontra entre os países que vêm apresentando

crescimento das taxas de cesárea. O sistema de saúde chinês está dividido em

assistência pública subsidiada pelo governo, seguros de saúde ligados ao

empregador e assistência privada particular, que corresponderam, respectivamente,

58

a 17%, 27,1% e 55,9% dos gastos em saúde em 2004 naquele país (TANG; LI; WU,

2006). Ao analisar as taxas de parto cesáreo, Tang et al. (2006) identificaram uma

tendência de crescimento, passando de 18,16% no período 1990-1992 para 24,05%

entre 1996-1997 e daí para 39,51% em 1998-2002. Esses autores analisaram os

fatores motivadores das cesáreas em primigestas na China, encontrando forte

associação entre elevado nível educacional e idade mais avançada e incidência

elevada de partos cesáreos.

Em Taiwan, as taxas de cesárea na última década ficaram estáveis em torno de

32,9% (HU; HUANG, 2005). Alguns acreditam que aquelas mulheres que preferem

cesárea pelo medo de alterações gênito-urinárias e sexuais, ocasionalmente

associadas ao parto vaginal (YOUNG, 2003), poderiam perder esse medo, evitando

uma cirurgia, se tivessem informação adequada. Para avaliar se a diferença de

informações influenciaria a decisão pelo tipo de parto, Chou et al. (2006) analisaram

a incidência de cesáreas em três grupos de mulheres: médicas obstetras, mulheres

parentes de médicos e mulheres de alto nível sócio-econômico de Taiwan. A

premissa era que a melhor informação sobre os riscos associados ao parto cesáreo,

supostamente presente nos grupos das médicas e das gestantes parentes de

médicos, traria redução na sua utilização. Ao analisar mais de 800.000 nascimentos,

Chou et al. (2006) encontraram incidência de 31,8% e 33,7% de cesáreas em

médicas e parentes de médicos, respectivamente, resultado menor do que o

encontrado nas mulheres de alto nível sócio-econômico (35,4%). Eles concluíram

que essa diferença decorreu do maior acesso ou melhor compreensão das

informações médicas. Os autores ressaltaram que sua escolha metodológica de

analisar o tipo de parto efetivamente realizado em gestantes médicas ou em

parentes de médicos reflete de forma mais fiel a verdadeira preferência desses

profissionais pela cesariana, quando comparada com os resultados de outros

estudos que utilizam questionários com casos hipotéticos de gestação não

complicada.

Em outro estudo realizado em Taiwan, autores analisaram a prática da cesárea sob

a ótica dos movimentos de mercado, com base na lei de oferta e demanda. Para

eles, um dos fatores de demanda seria a expectativa materna: as gestantes que

buscam maior acesso à tecnologia dirigir-se-iam a grandes hospitais, onde há

59

maiores taxas de cesárea. Outro fator de demanda seria a religião chinesa. A cultura

tradicional na Ásia Oriental traz a crença de que a hora de nascimento determinará o

destino e a fortuna do indivíduo (HU; HUANG, 2005). Assim, muitas pessoas

escolhem a hora para seus filhos nascerem, tornando a cesárea com hora marcada

muito popular nesse país (LO, 2003).

Para avaliar os motivos de solicitação de cesárea pelas pacientes foi realizado um

estudo com 160 mulheres em Cingapura, onde 60% delas declararam que as

maiores causas para terem solicitado a realização de cesárea foram a rejeição pelo

trabalho de parto e a tentativa de minimizar o sofrimento fetal. Houve, nesse estudo,

menos de 10% de mulheres que justificavam a cesárea como melhor e mais

moderna ou padrão ouro para o nascimento em mulheres ricas (CHONG;

MONGELLI, 2003, tradução nossa).

Na Coréia do Sul, antes de 1980, período caracterizado por baixas taxas de

cesárea, os partos cirúrgicos eram considerados, dentre os cuidados de saúde, os

mais modernos e mais caros, dos quais somente mulheres com elevada posição

sócio-econômica poderiam se beneficiar (LEE; KHANG; YUN; JO, 2005). Dessa

forma, a combinação “maior renda e maior educação” relacionava-se ao acesso a

esses cuidados. Nesse país foi observada elevação, em nove vezes, das taxas de

cesárea a partir de 1980, passando de 4,4% em 1982 para 37,7% em 2000,

ocorrendo uma estabilização a partir de 2001 na faixa de 39% (LEE; KHANG; YUN;

JO, 2005) e 39,2% em 2002 (HEALTH AT A GLANCE, 2005). Esse aumento ocorreu

devido ao incremento na renda da população, ao deslocamento dos partos

domiciliares para dentro dos hospitais e à melhora de atendimento pré-natal,

estreitando o relacionamento médico-paciente e facilitando a negociação do tipo de

parto. Porém, segundo Lee et al. (2005), as taxas de cesárea atingiram um plateau e

não deverão aumentar nem diminuir nos próximos anos.

Há quem entenda que a solicitação da cesárea pode ser encarada como um

fenômeno mundial, decorrente do modelo da economia moderna, direitos humanos e

cidadania, bem como da emancipação feminina, onde a mulher tenha o papel

decisivo na escolha pelo tipo de parto. Por outro lado, há autores que sugerem a

existência de relação entre a aceitação da solicitação materna e a preferência dos

60

médicos frente a um modelo de parto que consideram ideal para si e seus familiares.

A proporção de médicas obstetras que desejam parto cesáreo para si próprias ou

seus parentes reflete sua percepção de segurança ou outras vantagens desse tipo

de procedimento em relação ao parto vaginal. Como conseqüência desse

comportamento médico, haveria crescente aceitação desse profissional pela

execução de cesárea a pedido, sem indicações clínicas (HABIBA et al., 2006).

Assim, sob a chancela da preferência médica, ocorreriam a aceitação e a realização

da cesárea a pedido da paciente (COTZIAS; PATERSON-BROWN; FISK, 2001;

LAND et al., 2001; MACDONALD; PINION; MACLEOD, 2002; GONEN; TAMIR;

DEGANI, 2002). Para analisar a atitude médica perante a solicitação de cesárea

pela gestante na ausência de razões clínicas, relacionando-a à sua preferência pelo

tipo de parto, Habiba et al. (2006) entrevistaram 1530 médicos obstetras europeus

em maternidades de oito países (França, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Holanda,

Espanha, Suécia e Grã-Bretanha). Em todos os países, exceto em Luxemburgo, a

maioria dos médicos trabalha em tempo integral dentro do hospital, atendendo

pacientes institucionais e, eventualmente, de sua clínica privada. Os resultados

variaram de acordo com os países analisados: obstetras da Espanha, França e

Holanda declararam-se pouco favoráveis à realização de cesárea a pedido,

enquanto que os ingleses e alemães foram os mais favoráveis a esse procedimento.

Essas diferenças não puderam ser explicadas por variações profissionais ou

demográficas das maternidades analisadas, mas sim por fatores culturais e por

diferentes modelos nacionais de atenção pré-natal e ao parto (HABIBA et al., 2006).

Na Holanda, por exemplo, a baixíssima taxa de cesárea (WHO REGIONAL OFFICE

FOR EUROPE, 2006) está relacionada ao modelo de assistência ao pré-natal e ao

parto em gestantes de baixo risco por parteiras e médicos generalistas (“general

practioners”), reforçando a característica médica de não aceitação da solicitação de

cesárea sem indicações clínicas (KWEE et al., 2004).

Porém, a relação entre a aceitação da cesárea a pedido e o aumento das taxas

desse procedimento não foi encontrada no estudo de Habiba et al. (2006). Na

Espanha, onde foi baixa a aceitação médica pela cesárea a pedido, há a segunda

maior taxa de cesárea da Europa, com 22,1% em 2001 (HEALTH AT A GLANCE,

2005), abaixo apenas da Itália (WHO REGIONAL OFFICE FOR EUROPE, 2006); na

Grã-Bretanha, cuja taxa de cesárea é a quarta dentre os países europeus, observou-

61

se elevada aceitação médica por essa prática, enquanto, na Holanda, tanto a taxa

de cesárea quanto a concordância médica são baixas (FEINMANN, 2002; HABIBA

et al., 2006).

3.4.3 Fatores Associados ao Médico Influenciando a Decisão do Tipo de

Parto

As questões relacionadas ao comportamento médico perante os incentivos

econômicos e riscos de processos judiciais por má prática, que podem estar

envolvidos na escolha do tipo de parto, fazem parte da análise da forma de

organização da prática no campo da assistência ao parto. Entende-se, aqui, por

aspectos relacionados a interesses econômicos as formas de remuneração que

incentivariam a execução de determinado tipo de procedimento e a conveniência

médica influenciando as decisões desses profissionais em benefício próprio.

Em países onde os partos são conduzidos por médicos e não por parteiras, a

cesárea eletiva pode ser mais conveniente e, talvez, economicamente mais

interessante, sendo difícil distinguir se a cesárea ocorreu por desejo materno ou

médico (WAGNER, 2000). Na ausência de controles de utilização, diferenças no

pagamento podem influenciar os tipos de cuidado à paciente (DE JAEGHER;

JEGERS, 2000; TURCOTTE; ROBST; POLACHEK, 2005).

Favoráveis à argumentação de incentivos financeiros, Keller e Brodie (1993) diziam

que esses incentivos econômicos levavam a um número excessivo de cesáreas,

enquanto Gruber e Owings (1996) observaram aumento na incidência desse

procedimento de 240%, entre 1970 e 1982, devido a condições econômicas

favoráveis para os médicos. Seguindo o raciocínio da relação utilização-

remuneração, Currie e Gruber (1997) observaram que havia menor demanda

médico-induzida para procedimentos como a cesárea em pacientes do Sistema

Medicaid e em pacientes sem seguros médicos em relação às pacientes

particulares, devido a diferenças na remuneração médica nos EUA.

62

Contrariando o argumento de que esse procedimento é mais comum para mulheres

por cuja assistência os médicos recebem maiores valores de reembolso, Turcotte et

al. (2005) analisaram a relação entre intervenções médicas e cobertura por um

sistema de saúde nos EUA, não encontrando diferenças significativas nas taxas de

cesárea entre mulheres com seguros privados e mulheres do Sistema Medicaid ou

não seguradas. Grant (2005) tampouco encontrou relação entre remuneração e

incidência de cesáreas nos EUA. Para Grant, incentivos econômicos de forma

isolada não foram significativamente responsáveis pelo aumento na taxa desse tipo

de parto no seu país, afirmando que alterações nesses incentivos não reduziriam de

forma substancial a incidência desse procedimento. A autora sugeriu que os índices

de cesárea poderiam ser reduzidos se houvesse mudança na assistência obstétrica,

modificando a forma de pensar e agir dos profissionais que realizam o pré-natal e o

parto. Habiba et al. (2006) ratificaram a conclusão de Grant (2005), de que

incentivos financeiros pessoais não influenciariam as decisões médicas com relação

à realização de cesárea a pedido, pelo menos na Europa, ao observarem menor

grau de aceitação dessas solicitações entre médicos que tinham atividade em clinica

privada e se beneficiariam desse procedimento.

No modelo assistencial chinês, Tang et al. (2006) sugeriram que, devido ao modelo

perverso de financiamento baseado em pagamento por serviços naquele país,

obstetras ignorariam critérios médicos para realização de cesárea para gerar

maiores rendimentos para os hospitais, já que estes rendimentos seriam convertidos

em pagamentos de bônus para os próprios médicos. Tsai e Hu (2002) já haviam

relatado que fatores econômicos e a cobertura pelo Sistema Nacional de Seguro

Saúde, implantado em Taiwan em 1995, estiveram fortemente associados à

incidência de cesárea, que foi 4 a 5 vezes maior em mulheres com seguro saúde do

que naquelas sem esse benefício.

Sob o prisma da análise de mercado, Hu e Huang (2005) dividiram os fatores de

tomada de decisão pela cesárea, em Taiwan, em dois pilares: o lado da oferta e o da

demanda. Com relação à oferta, esses autores incluíram questões de pagamento

médico e faturamento hospitalar, enquanto que a demanda seria influenciada por

aspectos associados à religião, renda per capita regional e o sistema nacional de

seguro saúde. A incidência de cesárea no país é sempre maior em hospitais

63

públicos do que em privados. Nos hospitais públicos, o salário médico é misto, com

uma parte fixa pequena somada a um pagamento por performance. Assim, os

médicos têm incentivos para aumentar seu salário pelo seu desempenho, realizando

maior número de cesáreas (HU; HUANG, 2005). Faz-se necessária uma reflexão

sobre os efeitos gerenciais, como aspectos de recompensas do sistema ou dos

agentes, geralmente negligenciados na questão da decisão pelo tipo de parto. O

valor pago para os hospitais, pelo Instituto Nacional de Seguro Saúde, é 84% maior

em casos de cesárea em relação ao pagamento do parto vaginal, diferença que faz

com que os gestores hospitalares incentivem os médicos a realizar o procedimento

cirúrgico. Esse incentivo ocorre por meio de remuneração 77% maior para os

obstetras que assistem ao parto por cesariana ao invés de fazê-lo por via vaginal

(HU; HUANG, 2005).

No Chile, um dos maiores líderes em cesarianas no mundo, Murray e Elston (2005)

relataram que a motivação principal era a remuneração médica pelo sistema de

saúde chileno e a praticidade da realização do parto com horário previamente

definido, propiciando ao médico a oportunidade de organizar melhor sua agenda.

Observa-se, portanto, que trabalhos que buscam analisar a relação entre interesses

econômicos dos médicos e as taxas de cesárea apresentam resultados

controversos, dependendo, dentre outros fatores, do modelo assistencial de cada

país.

Outro aspecto a ser discutido é o comportamento médico perante os riscos de

processos jurídicos por má prática médica e sua relação com as taxas de cesárea.

A prática obstétrica tem sido percebida freqüentemente como uma “atividade de

risco” já que os litígios nessa especialidade têm aumentado nos países ocidentais.

Diferentemente de outras especialidades médicas, onde com freqüência as doenças

se apresentam de forma mais agressiva e com evidente comprometimento do estado

geral do paciente, na obstetrícia os insucessos geralmente são vistos como falha na

execução do tratamento médico (GENTILE; LOPES; CUNHA, 2000). O aumento de

reclamações por má prática e o conseqüente temor por processos fizeram com que

muitos ginecologistas-obstetras excluíssem a obstetrícia de sua prática ou evitassem

64

realizar procedimentos de maior risco (CHANDRAHARAN; ARULKUMARAN, 2006).

Um aspecto peculiar da obstetrícia é a presença do feto, que causa dificuldades no

processo decisório no momento de avaliar riscos e benefícios para o binômio mãe-

feto. Isso pode resultar em atraso na tomada de decisão ou em tratamento

inadequado, levando ao aumento dos riscos judiciais. Sabe-se que a maior parte

dos casos de litígio é devida a resultados ruins ou inesperados e não

necessariamente a má prática, mas isso não evita as ações judiciais

(CHANDRAHARAN; ARULKUMARAN, 2006). Wagner (2000) chama este fenômeno

de “obstetrícia defensiva”; no entanto, assumindo que a ação do medico deveria

sempre ser em beneficio do paciente, se o médico realiza a cesárea com medo de

processos ou dos custos por indenizações, ele não estará praticando a boa

medicina.

Já em 1993, uma pesquisa britânica mostrava que 42% dos obstetras locais

consideravam que a razão do aumento das cesáreas seria o medo de ações médico-

legais por alegações de má-prática médica (SAVAGE,1993). Mais recentemente,

Habiba et al. (2006) relataram que os médicos europeus aceitavam a solicitação

materna de cesárea por temor de litígio em casos de complicações durante o parto

vaginal, enquanto em países com baixo índice de processos médico-judiciais, como

Suécia e Holanda, o medo por litígio foi pouco significante na decisão pela

realização da cesárea a pedido nesse estudo.

O litígio em obstetrícia é uma realidade mundial. Entre 1990 e 1998, ocorreu na

Irlanda um aumento de 450% em reclamações por negligência médica, sendo quase

metade referente a casos de ginecologia e obstetrícia (BIRCHARD, 1999). O custo

de litígio na Grã-Bretanha para todas as especialidades médicas é de

aproximadamente 400 milhões de libras esterlinas anualmente, sendo que os

serviços de maternidade representam 26% dos processos judiciais e respondem por

60 a 70% do total dos pagamentos indenizatórios. As conseqüências disso são

drásticas: menor procura após a graduação médica pela especialidade, causando

uma crise no recrutamento de obstetras; aumento de procedimentos para “proteção”

e aumento dos custos dos procedimentos, sobrecarregando o orçamento o sistema

de saúde (CHANDRAHARAN; ARULKUMARAN, 2006).

65

Para Chandraharan e Arulkumaran (2006), o parto pode ser comparado à mais

perigosa jornada que devemos realizar em toda a nossa vida, já que no pequeno

trajeto de aproximadamente 30 centímetros em que o feto deverá “viajar” para poder

nascer ocorre, paradoxalmente, o maior número de ações judiciais da obstetrícia e

da medicina, decorrentes de qualquer contratempo nesse curto caminho.

3.5 Cenário da Organização da Assistência ao Parto no Brasil

Para analisarmos o cenário brasileiro da organização da assistência ao parto,

desenvolveremos, de maneira breve, aspectos relacionados ao histórico da saúde

da mulher em nosso país, ao desenvolvimento do sistema de saúde brasileiro,

público e privado, as taxas de cesárea e a forma como a organização do trabalho

nessa assistência à gestante se estabeleceu em nosso meio, envolvendo questões

de formação e treinamento médico, cenário atual do trabalho médico e reserva de

mercado na assistência ao parto.

3.5.1 Histórico da Saúde da Mulher no Brasil

A partir do final do século XIX e no início do século XX observa-se pouco

desenvolvimento da ciência e das técnicas em saúde no Brasil, onde as instituições

governamentais restringem sua atuação a fiscalização e regulamentação das

condições sanitárias do meio. A população recorria diretamente a médicos,

cirurgiões, curandeiros, parteiras e curiosas, sendo que os pobres eram assistidos

por iniciativas filantrópicas (SINGER7, 1998, apud MANDU, 2002). A assistência ao

parto era feita no domicílio.

No século XX, ocorreram expressivas mudanças na interpretação e efetivação dos

direitos em saúde, nos conhecimentos médicos e nos modelos e práticas

7 SINGER, P., CAMPOS, O., OLIVEIRA, E.M. Prevenir e curar: o controle social através dos serviços de saúde. Rio de Janeiro: Forense-Unversitária; 1988.

66

assistenciais, que influenciaram toda a assistência à saúde no Brasil e no mundo

(MANDU, 2002). Observamos iniciativas estratégicas de organização da saúde pelo

governo federal, a partir do começo desse século.

Na década de 1920, desenvolve-se a base inicial da atenção médico-previdenciária

no Brasil, dirigida a trabalhadores inseridos no mercado de trabalho urbano e

direcionada aos processos de cura mediante serviços médicos específicos,

diferentemente dos serviços governamentais voltados para o controle de doenças

via medidas de higiene e educação sanitária, chamada atenção médico-sanitária

(COHN8, 1995, apud MANDU, 2002). Progressivamente, entre 1930 e 1945, a

atenção previdenciária projeta-se, favorecida pelo financiamento do Estado,

inicialmente mediante auxílios e subvenções, e depois pela compra de serviços,

inclusive com a expansão significativa de serviços hospitalares públicos e privados

(COHN, 1995 apud MANDU, 2002). Ocorre o desenvolvimento dos diversos setores

da saúde pública e privada, simultaneamente à criação de institutos e

departamentos governamentais para organizar a atenção médica em áreas

específicas, como a de saúde materno-infantil. Em 1937, foi criada a Diretoria de

Proteção à Maternidade e Infância para fornecer apoio técnico e financeiro às

instituições públicas e privadas voltadas a essa área (CANESQUI9, 1987, apud

MANDU, 2002). Depois de meados da década de 40, essa atividade de assistência

firma-se, apoiada no Departamento Nacional da Criança, criado para normatizar e

planejar programas integrados de proteção pública e privada à maternidade, infância

e adolescência (NAGAHAMA; SANTIAGO, 2005). Assim, na primeira metade do

século XX, assentam-se as bases de uma responsabilidade governamental com a

maternidade, em consonância com a importância dada ao seu controle para o

desenvolvimento econômico-social do Brasil, ligada à preocupação com a saúde

infantil (MANDU, 2002). Buscava-se garantir crianças saudáveis para se tornarem

mão-de-obra eficiente visando ao crescimento do país.

Na segunda metade do século XX, observa-se avanço da industrialização nacional e

fortalecimento dos movimentos e forças sociais, incorporação de políticas

8 COHN, A. Mudanças econômicas e políticas de saúde no Brasil. In: Laurell A.C., organizadora. Estado e políticas sociais no neoliberalismo. São Paulo: Cortez; 1995, p. 225-244. 9 CANESQUI, A.M. Assistência médica e a saúde e reprodução humana. Campinas: Núcleo de

Estudos de População -NEPO/UNICAMP; 1987.

67

específicas e prioritárias para a saúde pública e privada no país. Em 1953, foi criado

o Ministério da Saúde, que coordenou, em nível nacional, a assistência materno-

infantil, cujas diretrizes tinham o cunho nacionalista: “dever imperioso de defender de

maneira eficaz a criança brasileira, em verdade, ainda o melhor elemento a

salvaguardar o futuro da nacionalidade” (NAGAHAMA; SANTIAGO, 2005). A

institucionalização da assistência médica individual tem marco significativo com a

criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) em 1967 (MORAES;

GOLDENBERG, 2001). Durante a década de 70, observa-se demandas crescentes

por atenção médica e uma crise financeira da Previdência Social, suscitando

medidas governamentais. Ocorre, então, ampliação da cobertura assistencial,

observando-se também um aumento no numero de cesarianas, que dobraram entre

1970 e 1980 (MORAES; GOLDENBERG, 2001). Pagando as cesáreas de forma

diferenciada em comparação ao parto normal, a Previdência acabou estimulando a

generalização dessa prática (MORAES; GOLDENBERG, 2001).

Em 1974/1975, o Ministério da Saúde reformula as diretrizes gerais da assistência à

saúde. No campo materno-infantil, lança o Programa Materno-Infantil (PMI),

formalizando ações de assistência a gravidez, parto e puerpério, de estimulo à

amamentação e outras práticas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1975). Concomitante a

isso, nos anos 70, inúmeras clínicas e maternidades são construídas no Brasil,

crescendo o número de leitos públicos e privados para o cuidado aos problemas

relacionados ao ciclo gravídico-puerperal. O trabalho das parteiras/obstetrizes, até

então valorizado, é praticamente substituído pelo trabalho de profissionais

especializados, médicos obstetras, que buscam maiores rendimentos com a

assistência ao parto (MANDU, 2002). Respondendo à expansão das taxas de

cesáreas, não só no setor privado como também nas instituições conveniadas e

públicas, a Previdência, que subsidiava as cesáreas pagando mais por elas do que

pelo parto normal, passou a fazê-lo de forma igual para todos os tipos de parto a

partir de 1979, porém sem conseguir modificar essa realidade (MORAES;

GOLDENBERG, 2001).

Simultaneamente a essas ocorrências na saúde pública brasileira, há movimentos

internacionais direcionados aos direitos humanos e à “humanização” da assistência

à saúde, abrindo espaço para discussões mais profundas sobre que tipo de

68

assistência à saúde, inclusive durante a gestação e o parto, a mulher deseja ter. A

Declaração Universal dos Direitos do Homem se funda nas noção de dignidade e

igualdade de todos os seres humanos (ONU, 1948. Disponível em:

<www.who.int/entity/genomic/elsi/en>). A partir de então, diversos eventos ocorrem

pelo mundo sob essa ótica. No caso em estudo, trata-se dos direitos da mulher,

tendo em 1975 e 1985 ocorrido a I e a II Conferência Internacional da Mulher. Como

decorrência, realiza-se, em Brasília, em 1986 a Primeira Conferência Nacional de

Direitos da Mulher, para debater políticas e propostas assistenciais mais amplas,

lançadas pelo Ministério da Saúde em 1983/1984, por meio do Programa de

Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1984).

Ocorreram, no Brasil, fóruns de amplitude internacional para a discussão das

questões ligadas à atenção ao parto e ao uso de tecnologias (DESLANDES, 2005).

Fortaleza foi sede de duas conferências internacionais promovidas pela OMS para

discutir propostas de uma nova cultura de atenção ao parto (WHO, 1985; UMENAI et

al., 2001). Nesta segunda conferência, onde estavam presentes mais de 23 países,

a UNICEF e a OMS, o conceito de humanização no atendimento ao paciente foi

reformulado, como significando um processo de comunicação e cuidado entre

pessoas, levando à autotransformação e compreensão do espírito de vida, podendo

ser aplicado a qualquer tipo de cuidado à saúde, não somente ao parto (UMENAI et

al., 2001). Seria um meio para encorajar e dar poder aos indivíduos e grupos,

devendo ser um conceito-chave para o desenvolvimento de uma sociedade

sustentável no século XXI. Conclamaram-se todos os governos, entidades

participantes da ONU, organizações internacionais e não-governamentais (ONGs) a

desenvolver ações para promover a humanização (UMENAI et al., 2001).

Como reflexo dessas conferências, e em virtude da realidade brasileira com elevada

taxa de mortalidade materna e infantil e abuso da utilização da cesariana, alguns

países e ONGs iniciaram projetos em nosso país para tentar modificar esse cenário.

Em 1996, a Agencia de Cooperação Internacional do Japão (JAICA), responsável

pela implementação de programas e projetos de cooperação técnica com países em

desenvolvimento, iniciou projeto de colaboração para incentivar o parto humanizado

em parceria com o Estado do Ceará. Esse programa, chamado Projeto Luz, que

buscava introduzir uma série de condutas e políticas para melhorar a assistência ao

69

parto no Ceará, foi mantido até 2001 (UMENAI, 2001). Como resultado, houve

redução da mortalidade infantil e maior capacitação de não médicos para o

atendimento ao parto. Outro projeto que segue a linha de assistência humanizada no

parto é o Projeto “Midwifery”, desenvolvido em Natal/RN em 1997, tendo como

parceiros a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Projeto Pró-Natal,

Secretaria Municipal de Saúde de Natal e University of the West of England – Bristol,

baseado em conceitos e habilidades em atenção à saúde da gestante, parturiente e

puérpera, tanto em nível institucional quanto das ações básicas de saúde.

Estas reflexões, que até então faziam parte de questionamentos internos ao campo

da saúde e à prática de seus profissionais, são incorporadas como um conjunto de

diretrizes que constituirão o escopo de diversos programas e políticas de saúde no

Brasil a partir da década de 1990. Tanto que no âmbito do governo também houve

reflexos dos movimentos internacionais. Respondendo a essa pressão social, com

foco na saúde materno-infantil mas com ampliação do olhar sobre os direitos

humanos, na década de 1990, o conceito de humanização foi estabelecido como

princípio de dois programas de saúde no setor público brasileiro. O Ministério da

Saúde lançou o Programa de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH)

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001) e o Programa de Humanização no Pré-natal e

Nascimento (PHPN) (MINISTÉRIO DA SAÚDE 2002). Trata-se de um conjunto de

ações que visa à integralidade da assistência obstétrica e à afirmação dos direitos

da mulher (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

O PHPN não pode ser visto sem que se considere sua relação com o Programa de

Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), implantado em 1984 (VAITSMAN;

ANDRADE, 2005). Esse programa não entrou em detalhes sobre o modelo de parto

humanizado – objeto de disputa política e ideológica – mas estabeleceu alguns

princípios e recomendou uma série de procedimentos aceitos dentro de uma

plataforma mais geral, como número mínimo de consultas e exames no pré-natal e

puerpério, o direito da gestante saber previamente em que maternidade será

realizado o seu parto e ter assegurado o acesso a ela, além da assistência

humanizada e segura à mulher e ao recém-nascido no decorrer da gestação, parto e

puerpério (VAITSMAN; ANDRADE, 2005).

70

O PNHAH surge como uma tentativa de enfrentar os problemas relativos à qualidade

nas várias áreas do atendimento hospitalar, voltando-se para as necessidades de

usuários e profissionais. Incentiva o acolhimento das pessoas, a promoção de uma

cultura de respeito e valorização humana no cuidado aos usuários e a ampliação da

qualidade técnica da assistência (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). O PNHAH foi

substituído, posteriormente, pela Política Nacional de Humanização – Humaniza

SUS, em 2004 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).

Por meio dessas ações, o governo federal buscou adaptar-se aos anseios da

sociedade, objetivando melhorar a assistência à saúde fortalecendo as relações

entre o prestador e o usuário dos serviços de saúde. Apesar desses esforços, não

se observa modificação, em nosso país, da elevada utilização das tecnologias

médicas, em especial da cesariana, na assistência ao parto.

3.5.2 Sistemas de Saúde do Brasil

No Brasil, desde 1990, têm ocorrido modificações no perfil do Sistema de Saúde,

inclusive com a sua normatização definida pela Constituição de 1988. No entanto, o

modelo de saúde brasileiro apresenta deficiências relacionadas à qualidade,

suficiência e equidade da atenção prestada, com problemas de ordem financeira e

gerencial cuja resolução é muito complexa. Pensar o gerenciamento da saúde no

Brasil requer identificar e analisar dois grandes blocos de assistência presentes: o

atendimento privado e o público. Ambos se apresentam, na maioria das vezes, como

um sistema fragmentado e não articulado.

No âmbito público, em 1986, foi criado o Sistema Unificado e Descentralizado de

Saúde (SUDS). Com a Constituição de 1988 surge o Sistema Único de Saúde, que

representou a unificação formal da assistência à saúde no país (BRASIL, 1988). O

SUS incorporou os hospitais universitários do Ministério da Educação e as redes

públicas e privadas conveniadas de saúde nos Estados e Municípios, formando um

sistema de abrangência nacional.

71

O Sistema Único de Saúde (SUS) é, por definição constitucional, um sistema público

de saúde, nacional e de caráter universal, baseado na concepção de saúde como

direito de cidadania, na noção de unicidade e ao mesmo tempo na diretriz

organizativa de descentralização com comando único em cada esfera de governo,

entre outras. Tem como diretrizes a eqüidade, a universalidade, a integralidade e o

controle social (BRASIL, 1988). A Carta Magna define que a saúde é um “direito de

cidadania” que deve ser garantido por políticas sociais e econômicas. O

aprofundamento do processo de descentralização deveria enfatizar a regionalização

e o aumento da eqüidade, buscando a organização de sistemas de saúde funcionais

que envolvessem todos os níveis de atenção, formando redes de assistência

regionalizadas e resolutivas.

Há problemas em qualquer sistema de saúde, não sendo diferente para o nosso

sistema público. Para Riesco e Fonseca (2002), a concepção do SUS, cabível num

Estado com políticas públicas condizentes às necessidades sociais, opera com

incompatibilidades de ordem estrutural, sendo que na área da saúde da mulher, não

obstante o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher e programas

correlatos, sua construção e sua implementação vêm sendo regidas por uma lógica

que privilegia grupos prestadores de serviços, em disputa por um mercado

constituído de usuárias com cidadania restrita. Além disso, o SUS depara-se com

financiamento insuficiente e burocratização no nível das instâncias de decisão,

dificultando o cumprimento de seus princípios (RIESGO; FONSECA, 2002).

Se por um lado temos esse grande sistema público de saúde com suas dificuldades

e seus avanços, por outro observamos a presença do sistema privado de saúde,

denominado Saúde Suplementar. Esse sistema não é recente, tendo se

desenvolvido desde a década de 1950. Historicamente, alguns dos atuais esquemas

de assistência privada à saúde, baseados na captação de recursos de empresas

empregadoras e de seus empregados, foram criados nos anos 40 e 50. Como por

exemplo, temos a implantação da Caixa de Assistência aos Funcionários do Banco

do Brasil (Cassi) e a assistência patronal para os servidores do Instituto de

Aposentadorias e Pensões dos Industriários (atual Geap) e, mais tarde, a inclusão

da assistência médico-hospitalar entre os benefícios oferecidos aos empregados das

recém-criadas empresas estatais, fato similar ocorrido também entre as empresas

72

privadas, como na indústria automobilística, particularmente das montadoras

estrangeiras (KORNIS; CAETANO, 2002).

A partir de meados da década de 60, as relações entre financiadores e provedores

de serviços foram substancialmente modificadas. Os denominados convênios

médicos entre empresas empregadoras e empresas médicas (cooperativas médicas

e empresas de medicina de grupo), mediados pela Previdência Social, contando

inicialmente com suas redes próprias, ganharam força na organização dos

prestadores de serviços, em detrimento da prática médica liberal e da autonomia de

cada estabelecimento hospitalar. As medicinas de grupo organizaram-se,

inicialmente, em torno de proprietários e/ou acionistas de hospitais. Tais empresas,

especializadas na comercialização de planos de saúde, logo ampliaram suas redes

de serviços, formando suas redes assistenciais próprias. Mas, em virtude da

presença de poderoso financiador de serviços, a Previdência Social, e diante da

resistência médica à perda de autonomia, tornaram-se compradoras de consultas

realizadas pelos médicos em seus próprios consultórios e de serviços, por meio do

credenciamento de profissionais, laboratórios e hospitais. O sistema Unimed surge

como alternativa, estruturando uma rede de consultórios e serviços médicos na

forma de cooperativa de trabalho, complementada por meio de credenciamento de

hospitais e laboratórios.

As décadas de 60 e 70 foram marcadas pela constituição de redes de serviços

privados, contratadas pelo Estado e por instituições privadas. Vigoravam, ainda,

regimes diferenciados de atendimento onde, em um mesmo hospital, poderia haver

acomodações diferenciadas para trabalhadores urbanos e rurais, destinando quartos

particulares, e acompanhamento de médicos escolhidos pelos clientes, para os que

efetuassem pagamento suplementar.

No final da década de 80, revelou-se a existência de razoável mercado de planos de

saúde. Ao mesmo tempo em que se observa baixos investimentos setoriais e

conseqüente queda da qualidade dos serviços públicos, ocorre uma progressiva

migração dos indivíduos de classe média para os planos e seguros privados (MALTA

et al., 2004). Com isso, há intensificação da comercialização de planos individuais, a

entrada de grandes seguradoras no ramo da saúde, a adesão de novos grupos de

73

trabalhadores à assistência médica supletiva e a vinculação de empresas privadas

ao financiamento da assistência médica suplementar. Ocorre uma re-organização da

rede assistencial, onde um hospital, conveniado, simultaneamente, com o SUS e

com empresas de assistência suplementar, podia tornar-se, também, empresa de

plano de saúde.

Com o plano real, em 1994, a perspectiva de aumento do poder de compra de

expressivo contingente populacional e a informalidade do mercado de trabalho

estimularam a comercialização de planos individuais, por intermédio de hospitais

filantrópicos e empresas médicas. Foi elevada a expansão do modelo no país,

chegando a cobrir cerca de 24% da população com algum tipo de atendimento

privado (IBGE, 2005). Conforme dados da ANS de junho de 2006, o setor de saúde

suplementar cobre cerca de 43 milhões de beneficiários assistidos por mais de 2.000

empresas operadoras de planos de saúde, milhares de médicos, dentistas e outros

profissionais, hospitais, laboratórios e clínicas (SAUDE BRASIL, 2006; ESCRIVÃO

JUNIOR; KOYAMA, 2007).

Esses números expressam as profundas alterações que a prestação dos serviços de

saúde veio sofrendo ao longo dos anos, havendo a necessidade do estabelecimento

de um ordenamento jurídico legal para o setor pelo governo, que incorpore a

regulamentação desse mercado privado e a definição das suas responsabilidades.

No setor privado, a regulamentação e o controle do sistema de saúde foram

praticamente iniciados com a Lei 9656/98 (BRASIL, 1998a) e com a criação da

Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), vinculada ao Ministério da Saúde,

pela Lei 9961/00, em 2000 (BRASIL, 2000a). A ANS trabalha para promover o

equilíbrio nas relações entre as operadoras setoriais, prestadores e consumidores,

cuja missão é promover a defesa do interesse público na assistência suplementar à

saúde, para construir, em parceria com a sociedade, um mercado sólido, equilibrado

e socialmente justo.

Essa regulamentação começou em 1998, mas ainda existe um grande percurso para

sua consolidação (BRASIL, 1998a). Convive-se com uma grande heterogeneidade

nos padrões de qualidade do setor, fragmentação e descontinuidade da atenção,

que comprometem a efetividade e a eficiência do sistema como um todo, atingindo

74

as redes de cuidados básicos, especializados e hospitalares, que atendem a

clientela de planos de saúde. Em função disso, a ANS vem trabalhando essa

questão por meio de um plano de qualificação da assistência médica suplementar no

país.

A população brasileira sofre, com muita freqüência, as desigualdades existentes

entre os sistemas público e privado de saúde. Em um estudo qualitativo sobre a

adesão ao sistema suplementar, Farias (2001) identificou três dimensões analíticas

que levam os entrevistados a identificar superioridade dos planos de saúde em

relação ao SUS: qualidade da atenção, condições de acesso e segurança na

assistência. No mesmo estudo, há a constatação de que os médicos do SUS não

diferem dos médicos dos planos de saúde em relação à competência técnica já que,

na opinião dos sujeitos da pesquisa, muitos profissionais trabalham em ambos os

sistemas, o que é constatado também em alguns estudos e pesquisas nacionais

(MACAHDO, 1995; CREMESP, 2002).

3.5.3 Taxas de Cesárea no Brasil - Evolução, Diferenças Regionais,

Locais e entre os Sistemas de Saúde

Nosso país, de dimensões continentais, apresenta enormes diferenças regionais

com relação à assistência à saúde. Há preocupações em localizar a problemática

assistencial do ponto de vista geográfico, que induz à análise do quadro

epidemiológico com base na distribuição espacial dos recursos de saúde e torna

pouco explícitos os determinantes de ordem política, demográfica e sócio-

econômica. As diferenças entre a assistência ao parto em São Paulo e no restante

do país salientam diversidades em recursos, cultura e acesso a serviços de saúde.

Apesar dos problemas na assistência obstétrica – mortes maternas, cesarianas,

intervenções desnecessárias, partos à mercê do poder médico – serem de âmbito

nacional, as soluções parecem ser absolutamente localizadas, em função dos

recursos disponíveis, sugerindo limitações para estabelecer propostas abrangentes

para realidades diferenciadas (RIESCO; FONSECA, 2002). Interessa-nos descrever

sucintamente essas diferenças regionais sob o prisma da assistência ao parto.

75

A população brasileira no ano 2000 tinha a seguinte distribuição geográfica (Quadro

1):

Território (Km²) População Região extensão % Número

(milhões) %

Homens Mulheres

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro

Oeste

3.829

1.531

936

681

1.531

45

18

11

8

18

12,9

47,8

72,4

25,1

11,6

8

28

42

15

7

6,5

23,4

35,4

12,4

5,8

6,4

24,4

37,0

12,7

5,8

Brasil 8.509.11 169,8 83,5 86,3

Quadro 1 – Distribuição da população brasileira, por região e sexo, Brasil 2000

Fonte: IBGE. Contagem populacional e projeções demográficas preliminares

A ocupação das regiões é desproporcional quando comparada com a sua extensão

territorial. Por exemplo, a Região Sudeste possui extensão correspondente a 11%

do país e abriga 42% da população total (concentração), enquanto que a Região

Norte, com 45% do território, possui o equivalente a 8% da população nacional.

Há, no país, grande diferença de cobertura populacional de acordo com o sistema

de saúde. Observa-se em 2005 que cerca de 18% da população apresentava planos

privados de saúde, correspondendo a aproximadamente 37 milhões de brasileiros,

enquanto que os 82% restantes são atendidos pelo sistema público de saúde. Cada

um desses grupos, distribuídos de forma desigual pelo país, apresenta suas próprias

características sócio-demográficas e de utilização de recursos em saúde, havendo,

também, diferenças nas taxas de cesárea regionais. Há coberturas populacionais de

planos de saúde heterogêneas pelas unidades federativas do país, com maior

concentração nos estados das regiões Sudeste e Sul do país e no Distrito Federal. O

Estado de São Paulo apresentava 38,48% de sua população assistida pela saúde

76

suplementar em 2005, enquanto em Roraima apenas 2,28% das pessoas tinham

esse benefício (IDB, 2006, acessado em 10 dezembro 2007).

Quando observamos a assistência à saúde sob o prisma do modelo assistencial,

percebe-se que a organização da prática da assistência ao parto se estabeleceu de

maneira diversa no sistema público e no privado. Dessa maneira, haverá grande

variabilidade nas taxas de cesárea dependendo das unidades de análise: regiões de

federação, estados, municípios, bairros ou regiões municipais e hospitais

(BARBOSA et al., 2003). Além disso, numa mesma cidade, há grandes

discrepâncias entre o número de cesáreas entre hospitais, especialmente quando

comparamos hospitais públicos e privados. As maternidades públicas no Brasil

geralmente atendem a maior parte das mulheres que não têm condições de

consumir os serviços oferecidos pelas instituições privadas de saúde. A assistência

ao parto nesses serviços é particularmente perversa porque pode anular de diversas

formas a possibilidade de a mulher e sua família vivenciarem os aspectos

agradáveis desse momento (DIAS; DOMINGUES, 2005).

Analisando o país por regiões, observa-se variação importante na incidência de

cesáreas, sendo as maiores taxas encontradas nas regiões Sudeste, Sul e Centro-

Oeste, destacando-se os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro que

responderam por 45% de todas as cesáreas do país em 2004 (IDB 2006, acessado

em 10 de dezembro de 2007), possivelmente relacionadas às condições sócio-

econômicas e à maior cobertura pela medicina suplementar nessas regiões.

Região 2000 2001 2002 2003 2004 Média Região Norte 29,58 29,74 30,34 31,85 33,22 30,97 Região Nordeste 26,68 27,69 28,11 29,64 31,51 28,72 Região Sudeste 46,92 47,43 47,94 49,12 50,46 48,34 Região Sul 42,38 43,45 44,29 46,07 48,22 44,8 Região Centro-Oeste 43,68 44,32 44,46 45,97 47,61 45,2 Total 38,89 39,3 39,71 41,02 42,72 40,31

Quadro 2 – Proporção de Partos Cesáreos no Brasil, segundo regiões da federação, 2005

Fonte: IDB 2006. Acesso em: 10 de dez. de 2007.

77

Gráfico 5 – Evolução das Taxas de cesárea no Brasil, de 1996 a 2005

Fonte: SINASC/MS.

Dados do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Saúde Suplementar

mostram um total de 41,02% de cesáreas no país em 2003 (Gráfico 5). Observamos

marcante diferença entre esses índices dependendo do sistema de saúde, sendo

que no sistema público de saúde as taxas foram, em 2003, de 26,39% e em 2004 de

27,53% enquanto que na rede de saúde suplementar atingiram cifras maiores de

80% em 2004 (Gráfico 6). Há, atualmente, hospitais privados que realizam 90% de

cesáreas.

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

1996 1997 1998 1999' 2000' 2001' 2002' 2003' 2004' 2005*

%

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

78

Gráfico 6 - Proporção de Cesarianas, segundo sistemas de saúde - Gráfico comparativo entre taxas de cesárea do Setor Suplementar e taxa de cesárea total (sistema público e privado - SINASC) – Brasil

Fonte: Dados do SINASC – DATASUS/SINASC. Dados da Saúde Suplementar – SIP/ANS

Embora as medidas governamentais federais e/ou estaduais tenham buscado a

redução da incidência de partos cesáreos no sistema público de saúde, a

organização da assistência obstétrica no sistema privado vem contribuindo para a

elevação das taxas desse procedimento. A Região Sudeste tem, percentualmente, o

maior número de habitantes, apresentando também a maior cobertura populacional

de planos de saúde do país. O Estado de São Paulo apresenta uma população

estimada, para dezembro de 2007, de 41,2 milhões de habitantes (FUNDAÇÃO

SEADE, acessado em 10 de dezembro de 2007, disponível em

http://www.seade.gov.br), dos quais mais de 10,6 milhões situam-se na capital

paulista. O município de São Paulo apresentou, em 2006, 52% dos seus partos por

cesariana (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, SAÚDE, BOLETIM CEInfo

2006, acesso em 10 de dez. de 2007, disponível em:

<http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/saude/publicacoes/0004/Boleti

mCEInfo07-07.pdf>), certamente a localidade com a maior taxa desse procedimento

no país. Observamos, ainda nesse boletim, diferenças nas taxas de cesárea entre as

diversas regiões da cidade, variando de 72,2% na região da Lapa/Pinheiros à 39,4%

em Cidade Tiradentes, possivelmente justificáveis pelas diferenças sócio-

econômicas da população.

Proporção de Cesarianas

81,69 82,63 83,95

39,95 41,75

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

2003 2004 2005

Ano

Total de cesarianas/Total de

Partos * 100

SINASC

Saúde Suplementar

79

3.5.4 Ações Governamentais e Não Governamentais para Reduzir as

Taxas de Cesárea

Em função da incidência de parto cesáreo no Brasil como um todo e nos seus

estados, algumas medidas foram tomadas para tentar reverter esse quadro.

Historicamente, a fim de responder à expansão das taxas de cesáreas, não só no

setor privado como também nas instituições conveniadas e públicas, a Previdência

Social, que subsidiava as cesáreas pagando mais por elas do que pelo parto normal,

passou a fazê-lo de forma igual para todos os tipos de parto, a partir de 1979

(MORAES; GOLDENBERG, 2001). Apesar disso, permaneceram no Brasil e, em

especial, nos estados do Sudeste, taxas acima de 30%. Com o intuito de reduzí-las,

a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, por meio da Resolução SS-143 de

18/08/1989 (SÃO PAULO, 1989) e da Deliberação CIS/SP 39/90 (SÃO PAULO,

1990), estabeleceu que nenhum hospital próprio, conveniado ou contratado pelo

SUS, poderia apresentar proporções de cesarianas acima de 30%, sob pena de ter

revisadas suas contas referentes à assistência obstétrica. Apesar da intenção

política não propiciar os resultados desejados, estimulando inclusive possíveis

fraudes no sistema, essas medidas regulatórias fomentaram a implantação do

Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), importante mecanismo de

controle que passou a monitorar a realização de todos os partos no âmbito estadual

(MORAES & GOLDENBERG, 2001).

Algumas entidades de classe vêm apresentando iniciativas, em conjunto com órgãos

governamentais, para conscientizar a população sobre riscos das cesáreas. Em

1997, o Conselho Federal de Medicina iniciou campanha de incentivo ao parto

normal, intitulada “Natural é parto Normal”, sendo um dos fatores que motivou o

Ministério da Saúde à intensificação do Programa de Assistência à Saúde da Mulher

(JORNAL CFM 2007). O Conselho Federal de Enfermagem, em 1999, por meio da

resolução 223, buscou incentivar a participação dos profissionais de enfermagem

obstétrica (enfermeiros com especialização em obstetrícia) no acompanhamento ao

pré-natal e parto de gestantes de baixo risco (COFEN, 1999; BRASIL, 2000c). Essa

80

prática se desenvolveria nos serviços públicos, com intensidade variável segundo as

regiões do país (ÂNGULO-TUESTA et al., 2003).

Ainda em 1998, o Governo Federal, por meio da Portaria 2816 de 29/05/98 e sua

redefinição pela Portaria 865 de 03/07/99, publicadas pelo Ministério da Saúde

(BRASIL, 1998b; 1999), traçou um conjunto de medidas para melhorar a qualidade

da assistência ao parto no SUS. Dentre as medidas, ressalta-se:

• Aumento no valor da remuneração pelo parto normal.

• Introdução do pagamento de analgesia para parto normal.

• Introdução de pagamento do parto realizado por enfermeira obstétrica.

• Definição de percentual máximo de 40% de cesáreas para o 2º. semestre de

1998, com reduções progressivas chegando a 30% no 1º. semestre de 2000.

Procedimentos realizados acima do limite estabelecido não seriam pagos.

Após essas ações, observou-se redução nas taxas de cesárea nos hospitais do

SUS, a partir de 1998, com nova tendência de elevação nos anos subseqüentes,

conforme Gráfico 7.

81

Gráfico 7– Evolução das taxas de cesárea no SUS, Brasil, 1995-2005

Para Cecatti10 (CECATTI, 2002, apud TEDESCO et al., 2004) o Brasil, que era o

líder mundial na realização de cesáreas, pôde comemorar a perda desse recorde

para o Chile em 2000 em função dos resultados advindos da decisão da Portaria

2816 de 29/05/98 de não pagar a conta hospitalar dos partos acima do limite

acordado.

Em 2000, nova portaria do Ministério da Saúde (BRASIL, 2000b, Portaria n.466 de

14/6/2000) institui um Pacto para Redução das Taxas de Cesarianas, firmado entre

o Governo Federal e os estados e o Distrito Federal. Este pacto estabelece limite

percentual máximo para cada estado/DF, isto é, taxas diferentes para cada região,

de acordo com suas características locais. Porém todos deveriam garantir uma

redução gradativa das taxas de cesárea, chegando a 25% até 2007. Em breve,

saberemos qual foi o resultado dessa medida.

10 CECATTI, J.G. Brasil comemora perda de um recorde: o de cesarianas. Jornal da UNICAMP 2002 set 2-8;n. 188, p. 9.

Taxas de Cesárea no SUS - 1995-2005 - Brasil e Regiões

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

BRASIL NORTE NORDESTE SUDESTE SUL CENTRO-OESTE

82

O fato de 23% das internações hospitalares pagas pelo SUS em 2005

corresponderem ao diagnóstico de gravidez, parto e puerpério, tratando-se portanto

de importante fonte de gastos em saúde, reforça a relevância do monitoramento

dessas internações pelo Governo (IDB, 2006). Por outro lado, como os dados

demográficos têm mostrado redução da taxa de fecundidade no Brasil (YAZAKI,

2003), o número de “clientes” grávidas do SUS será menor a cada ano, permitindo

que os serviços possam aprimorar e aumentar a qualidade do atendimento. Além

disso, poderá haver mais recursos possibilitando melhor remuneração para os

procedimentos. De acordo com Rattner (1996), no Brasil, muitas cesáreas poderiam

ser evitadas e os recursos públicos utilizados para esse fim, que são escassos,

poderiam ser melhor aplicados. Uma relação custo-benefício mais adequada é

obtida com início precoce do pré-natal, além de melhores condições educacionais e

de higiene para a população, cabendo à sociedade o questionamento sobre qual

modelo de assistência lhe convém.

Para Rattner (1996), a melhor atenção nos cuidados pré-natais e as melhores

práticas de parto e cuidados neonatais devem estar na pauta dos legisladores e

atores envolvidos no processo de tomada de decisão a fim de obter reduções de

morbidade materna e neonatal com a melhor relação custo- efetividade e qualidade.

3.5.5 A Organização do Trabalho na Assistência ao Parto

A forma como se organizou o trabalho na assistência à gestante no Brasil foi

influenciada de maneira relevante pelas características da formação médica, tanto

na faculdade como na residência, bem como pelo mercado de trabalho médico, que

se modificou no final do século XX. Associadas a isso há questões de poder e

disputa de mercado do obstetra com outros profissionais de saúde, levando a um

cenário conturbado na organização da prática obstétrica.

1. Formação Médica Geral e em Ginecologia e Obstetrícia

83

Os homens, ansiosos por explicar os fenômenos que os cercavam e por elaborar e

expressar aquilo que não conheciam, criaram e se utilizaram de mitos, explicações

mágicas ou sobrenaturais, que constituíram os primórdios do conhecimento sobre

eles próprios e o mundo. Assim ocorreu também em relação à medicina e ao que

seriam saúde e doença, estabelecendo analogias entre corpo e natureza e seus

processos (CASTOLDI11, 1996 apud GILBERT; CARDOSO; WUILLAUME, 2006). É

a partir de Hipócrates de Cós que a medicina ganha contornos mais científicos e

menos mágicos no que se refere ao entendimento das doenças. Os conceitos

gregos sobre saúde e doença são ampliados por Galeno, no século II, e

permanecem dogmáticos por cerca de 14 séculos (CASTOLDI, 1996 apud

GILBERT; CARDOSO; WUILLAUME, 2006).

No final do séc. XVIII, dois grandes temas associados ao exercício da Medicina se

estabelecem: o do poder médico, equivalente ao poder clerical, e o da eliminação da

doença, resultado de uma sociedade cujo controle médico ajudou a organizar

(FOUCAULT12, 2003 apud GILBERT; CARDOSO; WUILLAUME, 2006). Com base

nesses dois tópicos, estabelecem-se a Medicina contemporânea e o ensino médico.

A formação médica tem sido objeto de estudo da antropologia desde a década de

1960 (HOWARD BECKER et al.13, (2002), apud HOTIMSKY; SCHRAIBER, 2005),

sendo considerada um dos mais longos ritos de passagem. A aprendizagem do

exercício da medicina é analisada por estes autores não apenas como processo de

aquisição de conhecimentos científicos e aptidões técnicas, mas também como

iniciação a um novo status. Segundo Good e Good14 (1993 apud HOTIMSKY;

SCHRAIBER, 2005), a cultura médica nos EUA, à semelhança do Brasil, é

caracterizada por uma ideologia baseada em duas dimensões. Uma delas, por eles

denominada “competência”, refere-se ao conhecimento técnico e científico e se

expressa na linguagem das ciências básicas; a outra, o “cuidado”, refere-se à

11 CASTOLDI, M.A. Tornar-se pediatra: o desenvolvimento do raciocínio clínico na residência médica do IFF. Dissertação (Mestrado) – Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. 1996. 12 FOUCAULT, M. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária. 2003. 13 BECKER, H.S. et al. Boys in white: student culture in medical school. Transaction Publishers, New Brinswick. Publicado originalmente em 1961 pela University of Chicago Press. 2002. 14 GOOD, B.J.; GOOD, M.D. Learning medicine: the construction of medical knowledge at Harvard Medical School, 1993,p. 87-101. In: S. Lindenbaum & M. Lock (orgs). Knowledge, power and practice: the anthropology of medicine and everyday life. University of California Press, Berckley.

84

dimensão intersubjetiva, isto é, às interações entre os sujeitos em relação ao ato

assistencial, que se expressa na linguagem de valores, atitudes e emoções. Essas

duas dimensões gozam de valorização desigual não só no ensino (GOOD; GOOD,

1993), como também no exercício do trabalho médico (HOTIMSKY; SCHRAIBER,

2005), à medida que se privilegia o desempenho técnico científico, enquanto a

dimensão intersubjetiva tende a ser tratada como aspecto secundário do trabalho e

da socialização em medicina. Esta valorização se dá tanto do ponto de vista dos

próprios profissionais de saúde quanto da sociedade de modo geral. (SCHRAIBER,

1997).

Em virtude dessa dicotomia entre o técnico e o humanístico, vários estudos têm

apontado para a necessidade de mudanças no ensino da medicina e sugerem a

busca de novas perspectivas de se relacionar com o paciente. Alguns propõem a

introdução do ensino de humanidades (CARSON, 2000) e da Bioética, de forma a

ampliar o olhar do estudante (RODRIGUEZ et al., 2004; SIQUEIRA; EISELE, 2000).

Para Gilbert et al. (2006), talvez a questão seja mais profunda do que o acréscimo

de informação. Eventualmente falte abrir arenas de discussão, não apenas para

aprender sobre novas tecnologias diagnósticas e terapêuticas, mas para refletir

sobre o processo de construção de identidade profissional do médico. Nesse

processo, encontram-se inseridos o desenvolvimento da competência narrativa, a

importância da sensibilidade no aprimoramento do raciocínio clínico, as dúvidas e

inseguranças inerentes à transição entre aluno e profissional e, principalmente, as

teias de relações nas quais se encontram envolvidos médicos e pacientes em um

contexto cultural específico, compartilhando valores, conceitos, padrões que estão

presentes e atuantes, ainda que de forma subliminar, no momento da consulta

(GILBERT; CARDOSO; WUILLAUME, 2006).

A questão das mudanças no ensino médico passa pelos valores e posturas dos

professores universitários. Talvez a variação na grade curricular seja expressão do

valor da autonomia universitária e, mais especificamente, da autonomia de que

gozam professores e/ou colegiados dos departamentos, no desenvolvimento dos

seus programas na escola médica (HOTIMSKY; SCHRAIBER, 2005). Nesse

contexto dicotômico forma-se o médico, seguindo em sua especialização na

residência médica. Esta é uma fase de intensas modificações na cultura e no

85

comportamento do profissional da medicina. É, portanto, um período de construção

da identidade profissional, conjugando informação e experiência. Além disso, a atual

dificuldade de absorção dos profissionais médicos pelo mercado de trabalho no

Brasil, aliada ao aumento do número de cursos de graduação de qualidade

duvidosa, estabelece a residência médica como um diferencial na profissão

(GILBERT; CARDOSO; WUILLAUME, 2006). Importante ressaltar que, embora a

residência médica tenha papel fundamental na formação do médico nos dias atuais,

não há falta de vagas no país. Das 26.991 vagas disponíveis, somente 16.483

estavam ocupadas em 2007. Em entrevista para o Jornal da Associação Médica

Brasileira, Lopes (2007) relata que há uma má distribuição de médicos, que

procuram os grandes centros, buscando tecnologia de ponta, acreditando que sem

essa tecnologia a residência não será adequada.

A formação médica deve integrar na faculdade ou na residência, além dos aspectos

técnico-científicos, aspectos humanísticos, fundamentais na relação entre o médico

e a paciente a qual experimenta durante a gestação momentos de intensas

modificações físicas e emocionais. A questão das cesarianas passa

fundamentalmente pela experiência, pelos ensinamentos e valores oferecidos ao

residente de obstetrícia. O papel das escolas médicas é fundamental na revisão dos

conceitos sobre a assistência ao parto, considerando as normas da OMS e as

evidências, que devem embasar o uso de intervenções, lembrando que, para essa

entidade, as intervenções médicas devem ser mínimas, assegurando a saúde da

mãe e seu filho (WHO, 1996). Nesse sentido, a introdução dessas normas deveria

ser de competência dos professores durante os estágios e residência médica em

obstetrícia. Porém, alguns estudos mostram resultados que comprometem essas

ações.

Moraes e Goldenberg (2001), em seu trabalho, observaram que havia entre os

docentes da Faculdade de Medicina entrevistados a valorização das cesáreas,

desconsiderando os riscos associados a essa prática. Da mesma maneira,

residentes e alunos entrevistados nesse trabalho relataram que, embora

valorizassem formalmente o parto normal, estavam convencidos, ao término de sua

formação, da inviabilidade de sua realização na vida prática.

86

Dias e Deslandes (2004) entrevistaram duas gerações de médicos com uma

diferença de 20 anos de formação, identificando que nesse período ocorreu o

abandono das técnicas de operatória obstétrica transpélvica (por exemplo o uso de

fórcipe) e sua substituição, na resolução das complicações do trabalho de parto,

pela cesariana. O ensino e a prática destas técnicas usadas no parto vaginal difícil

foram praticamente extintos, deixando os novos profissionais pouco capacitados

para enfrentar situações em que sua utilização evitaria a cesariana. A insegurança

na realização destas manobras, associada ao receio de um processo judicial, faz

com que sua utilização esteja reservada às situações desesperadoras, quando não

há mais a possibilidade de realizar uma cesariana e portanto com grandes chances

de um mau resultado neonatal. Como na análise dos dados neonatais

desfavoráveis, resultantes dos partos vaginais, levanta-se quase sempre a

possibilidade de que uma cesariana poderia ter evitado o desfecho negativo sem

avaliar possíveis complicações maternas ou fetais decorrentes desse procedimento,

reitera-se a impressão de que é mais seguro realizar a cirurgia.

Para Faúndes e Silva (1998), a preparação dos alunos para a boa assistência ao

parto tem sido falha, formando de maneira inadequada seus obstetras. Tedesco et

al. (2004) acreditam ser essencial a quebra da resistência cultural nas escolas

médicas, começando pela mudança na formação do estudante de Medicina,

ajustando sua conduta aos imperativos da ética médica e boas práticas clínicas.

Para Dias e Deslandes (2004), a própria deficiência na formação obstétrica serve

como justificativa para ampliar as indicações de cesariana, já que, havendo muitas

cesarianas indicadas, não existe a possibilidade de que um residente não tenha a

oportunidade de realizar várias destas cirurgias durante o seu programa de

residência. Por outro lado, as manobras obstétricas de assistência ao parto pélvico,

ao parto gemelar ou mesmo a aplicação de fórcipe são realizadas raramente,

fazendo com que os residentes e os próprios médicos obstetras tenham cada vez

menos a oportunidade de praticá-las (DIAS; DESLANDES, 2004). Este círculo

vicioso faz com que as manobras de operatória obstétrica e o parto fórcipe sejam

utilizados com menor freqüência. Com o passar do tempo, um número menor de

profissionais estará treinado para realizá-las e conseqüentemente ensiná-las aos

novos obstetras.

87

2. Cenário Atual do Trabalho Médico no Brasil

A atuação de intermediários no trabalho médico, a mercantilização da profissão, a

transformação do exercício liberal da Medicina, as deficiências no ensino médico, a

abertura desenfreada de novos cursos de Medicina, a concentração de profissionais

nos grandes centros, as dificuldades do Sistema Único de Saúde e as falhas de

regulamentação dos planos privados de saúde são alguns dos fatores que compõem

um complexo cenário que repercute, não só na oferta de empregos, mas também

nas condições dignas de trabalho e de remuneração dos médicos no Brasil

(CREMESP, 2002b).

O caráter tradicionalmente liberal da Medicina tem sido alterado significativamente

nos últimos tempos. Em nosso país, boa parte dos mais de 260 mil médicos que

atuam na profissão médica alia trabalho assalariado e prática autônoma em

consultórios e organizações hospitalares, numa jornada em que chega-se a

acumular três ou mais empregos. Enquanto nos hospitais da rede pública predomina

a contratação de médicos de forma assalariada, no setor privado prevalece a

vinculação desses profissionais como autônomos ou como prestadores de serviços

terceirizados, por meio de cooperativas ou empresas médicas (CREMESP, 2002b).

O trabalho médico está sujeito às leis gerais de mercado, que estabelecem as

relações de oferta e demanda, considerando-se como oferta a totalidade de

indivíduos que trabalham ou que buscam trabalho num determinado setor e como

demanda os postos de trabalho, ocupados ou não, naquele setor (MACIEL FILHO;

PIERANTONI, 2004). Há dois fatores institucionais que determinam o mercado de

mão de obra para o médico: o sistema de ensino, que pode limitar a oferta de

trabalho regulando o número de vagas e o modelo de atenção à saúde, que atua

sobre a demanda e a composição da força de trabalho. Tanto a estrutura quanto o

volume de oferta são regulados pelo sistema formador, sendo pressionados por

demandas sociais, demográficas, político-ideológicas e econômicas. O volume e a

estrutura da demanda refletem as formas de organização da assistência à saúde,

afetadas pelo direcionamento de políticas sociais e pelas mudanças tecnológicas no

setor (MACIEL FILHO; PIERANTONI, 2004). No Brasil, diferentemente do que

88

ocorre em outros países, não há uma política de regulação de vagas de acordo com

a demanda, seja para a formação, seja para a especialização de profissionais.

Maciel Filho e Pierantoni (2004) relatam que, desde a segunda metade do século

XX, além dessas leis gerais de mercado, a força de trabalho na área da saúde vem

subordinada às especificidades do mercado de saúde. Dos anos 1960 a meados da

década de 1980, a ação estatal fomentou e financiou o desenvolvimento de um

complexo médico-industrial de produção de insumos e serviços, por meio de

contratos com a rede privada, organizando a prática médica em moldes

essencialmente capitalistas. Houve grande expansão da rede hospitalar privada,

correspondendo esse setor a 81% da rede de serviços hospitalares do país em

1979. O crescimento do setor privado com fins lucrativos contribuiu para transformar

o profissional médico num trabalhador assalariado, fixando padrões de compra e

venda de força de trabalho e de serviços. Desde essa época, devido à queda de

salários reais dos médicos, a prática do multi-emprego foi estimulada,

comprometendo a motivação e a dedicação da categoria médica em relação às suas

atividades profissionais. Surgem os planos de saúde na intermediação desse

mercado de saúde, fazendo com que o modelo hegemônico da prática médica,

baseado na relação individualizada entre médicos e pacientes, sem intermediários

que estipulassem tempo, forma ou valor da consulta, fosse substituído por relações

intermediadas e mais complexas no exercício da atividade profissional (MACIEL

FILHO; PIERANTONI, 2004).

Com essas modificações, no final do século XX percebeu-se a necessidade de

estudar o trabalho e o perfil do médico, figura central na assistência médica que viu

seu papel, aos poucos, se modificar. O primeiro grande trabalho nacional, intitulado

“Perfil dos Médicos do Brasil”, foi realizado em 1995, pelo Núcleo de Estudos e

Pesquisas em Recursos Humanos em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública

em parceria com Conselho Federal de Medicina (CFM), Federação Nacional dos

Médicos, Associação Médica Brasileira (AMB) e Ministério da Saúde (MS). Em nível

estadual, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP)

realizou, em 2000, por meio do instituto Datafolha, pesquisa com médicos paulistas.

Esse trabalho foi ampliado pelo CREMESP, em parceria com o Núcleo de Estudos

em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Minas Gerais (NESCON), com o

89

apoio da Organização Pan-americana de Saúde. Seu produto foi o estudo “Mercado

de Trabalho Médico no Estado de São Paulo” (CREMESP, 2002b) que, devido a

características estruturais e de grandeza, o tornam um dos maiores e mais

complexos mercados de trabalho do mundo. Esse trabalho foi finalizado em 2002.

Em 2004, o Conselho Federal de Medicina elaborou novo estudo nacional, “O

Médico e seu Trabalho”. Com esses trabalhos, é possível avaliar as mudanças pelas

quais o mercado de saúde passou em uma década e inferir algumas tendências

para os próximos anos. Mais recentemente, temos pesquisa do CREMESP sobre o

perfil dos médicos em 2007. Também há um trabalho de Pinto et al. (2003) que

analisa especificamente o mercado de trabalho dos obstetras e ginecologistas.

O trabalho “Perfil dos Médicos do Brasil” (MACHADO, 1995) identificou algumas

características dos médicos brasileiros (na época 183.052 profissionais) em nível

nacional e por estados. Alguns números do Brasil e do Estado de São Paulo, em

1995:

• Apenas 1,7% dos médicos do país abandonaram a profissão sendo que, em

São Paulo, apenas 0,2% o fizeram;

• O sexo masculino era preponderante, com 67,3% de homens médicos no país;

• A distribuição dos médicos no país não acompanhava, na mesma proporção, a

distribuição populacional, pois enquanto apenas 24,0% da população residia

nas capitais, nesses locais exerciam a profissão cerca de 65,9% dos médicos,

numa relação de 3,28 médicos para cada 1000 habitantes, enquanto que, no

interior, a relação era de 0,53 médicos para cada 1000 habitantes;

• O estado de São Paulo concentrava o maior número de médicos do país,

distribuídos de forma semelhante entre capital e interior;

• A maioria dos médicos brasileiros (63,8%) tinha menos de 45 anos e, entre os

paulistas, esse percentual chegava a 75%, como conseqüência do boom das

escolas médicas nas décadas de 70 e 80;

• Altos índices de parentesco entre médicos sugeriam uma linhagem médica

familiar: 48,2% possuíam parentes diretos (pai, irmãos ou filhos) que também

eram médicos; entre os paulistas, essa taxa era de 46,9%;

• Dentre as especialidades, a ginecologia e obstetrícia foi a segunda mais

procurada, com 11,8% no país, o mesmo ocorrendo no estado de São Paulo;

90

• 75,6% dos médicos brasileiros tinham até três atividades profissionais e 24,4%

tinham quatro ou mais atividades, demonstrando o multi-emprego,

comportamento observado em todas as regiões do Brasil;

• Os consultórios destacaram-se como a modalidade de trabalho que mais se

aproximava da condição de profissional liberal (70 a 85% dos médicos

realizavam essa atividade); 75 a 90% desses profissionais declararam

depender diretamente dos convênios com empresas de saúde, medicina de

grupo, cooperativas médicas, entre outros, para a manutenção de seu

consultório; em São Paulo, 82% dos médicos do interior e 74% da capital

tinham consultório, igualmente dependentes das operadoras de saúde;

• 50% dos médicos paulistas faziam plantão e mais de 50% não se

consideravam profissionais liberais;

• Quanto ao rendimento mensal proveniente do trabalho médico, a moda

nacional era de 1.280 dólares;

• Na análise nacional, 74,1% dos médicos fizeram residência médica e 40,7%

algum curso de especialização, semelhante ao observado no contexto

paulista;

• Com a franca deterioração dos rendimentos médicos, houve redução da sua

participação em encontros científicos e no acesso às inovações técnico-

científicas, através de publicações (somente 13,7% tinham acesso a

publicações internacionais);

• A maioria dos médicos (80%), em todas as regiões, considerou a profissão

desgastante e menos de 20% eram otimistas com relação ao futuro da

atividade médica.

Dentre as conclusões dos coordenadores desse estudo, observa-se que os médicos

estavam insatisfeitos com o mercado, com o salário e com as condições de trabalho,

bem como inseguros com a pressão da sociedade. Apesar disso, 80% dos médicos

declararam gostar da atividade profissional que executavam.

Em 2000 o Instituto Datafolha executou, para o CREMESP, pesquisa de opinião

para verificar a percepção dos médicos sobre a atuação do Conselho e para analisar

o seu perfil (CREMESP 2002b). Com relação à pesquisa nacional, os dados são

91

muito semelhantes. Dentre as conclusões, a maioria (53%) dos médicos estava

parcialmente satisfeita e apenas 34% totalmente satisfeita com a profissão. Havia

ainda predomínio masculino no Estado, com 64% de homens exercendo a profissão.

A média de idade era de 41,5 anos, com 16 anos de atuação na área médica e 46%

dos médicos com renda familiar mensal superior a R$ 7.550,00 (incluindo outras

fontes de renda da família). Comparando-se os dados da pesquisa nacional de 1995

e essa de 2000, a atividade médica em consultório foi reduzida em torno de 20% no

estado de São Paulo e houve aumento de 9% da atividade médica no setor público,

principalmente no interior do estado. Para os pesquisadores, essa retração foi

causada, provavelmente, pelo descredenciamento de médicos, promovido pelos

planos de saúde no final da década de 1990, e pela inviabilidade crescente da

atividade liberal devida a essa intermediação na relação médico-paciente.

Em 2002, publicou-se o estudo do CREMESP com o NESCON, também com

enfoque no Estado de São Paulo. Cerca de 30% de todos os médicos do país,

estimados naquele ano em 260 mil profissionais, atuavam no Estado. Observou-se a

elevada participação da administração pública no estoque de empregos médicos

(60,9% em São Paulo), com alta prevalência de vínculos estatutários (vínculo

empregatício de funcionários públicos com regime jurídico e estatuto próprios,

diferente da CLT) nesse mercado, demonstrando a forma hegemônica de

contratação do setor público para o emprego formal assalariado. Os resultados

desse estudo corroboram os anteriores, confirmando que menos de 20% dos

profissionais do Estado exerciam apenas uma atividade. A remuneração média por

vínculo trabalhista era de R$2.585,79, com ampla variação (de R$1.554,81 a

R$5.750,52 dependendo do tipo de atividade exercida) (CREMESP, 2002b).

Em nível nacional, novo trabalho foi desenvolvido pelo Conselho Federal de

Medicina em 2003 e divulgado em 2004, ratificando algumas tendências do trabalho

médico no Brasil observadas no estudo de Machado (1995). Trata-se do estudo “O

Médico e seu Trabalho” (CFM, 2004):

• Total de médicos no Brasil passou de 197.557 em 1995 para 234.554 em 2003

(incremento de 18,7%);

92

• Ampliou-se o exercício profissional baseado em múltiplos vínculos, passando

de 24,4% em 1995 para 28,2% em 2003 a porcentagem de médicos com mais

de três atividades profissionais;

• Houve redução do número de médicos que atuam em consultório, de 74,7%

para 67%, bem como daqueles que atuam no setor privado, de 59,3% para

53,8%, permanecendo inalterada a percentagem daqueles no setor público

(69,7%), o qual passa a ocupar o primeiro lugar como empregador em 2003;

• Aumento do percentual de médicos que trabalham em regime de plantão,

passando de 48,9% em 1995 para 51,8% em 2003;

• Mantiveram-se inalterados os percentuais de atuação médica

predominantemente hospitalar, a constituição etária, principalmente jovem,

desses profissionais e a tendência de aumento de ingressos femininos na

profissão médica.

Em 2007 o CREMESP divulgou a mais recente pesquisa sobre o perfil dos médicos

do Estado de São Paulo (JORNAL DO CREMESP, out. 2007, p.6). Este trabalho

declara que, pela primeira vez, o número de mulheres superou o de homens em

novos registros no mercado médico estadual. Formaram-se 3.030 médicos em 2006,

dos quais 1.568 (51,75%) mulheres, apesar de que, no conjunto total de 92.558

médicos atuantes, 61,65% ainda são do sexo masculino. Observa-se uma

concentração de médicos em São Paulo, atraídos de outras localidades do país:

38% dos médicos formaram-se em outros estados.

Outros dados observados nesse estudo:

• número de profissionais médicos cresce mais que a população, isto é, de 1980

a 2006 a população cresceu 63,94% enquanto o número de médicos aumentou

247,41%. Assim, enquanto em 1980 havia 1,06 médicos para cada 1.000

habitantes, em 2006 esse índice passou a 2,3 médicos para cada 1.000

habitantes;

• algumas cidades apresentam taxas elevadas de médicos por habitante, como

Botucatu, com 6,1 e São Paulo com 3,96 médicos para cada 1.000 habitantes;

• menos de 40% dos médicos no Estado cursaram Residência Médica;

93

• médicos jovens são cada vez mais freqüentes, com 28,7% formados há nove

anos ou menos.

Quando procuramos estudos sobre o mercado de trabalho em determinadas

especialidades, encontramos dificuldades. Em 2003, foi publicado trabalho de Pinto

et al. (2003) intitulado “O Mercado de Trabalho dos Médicos Gineco-Obstetras no

Brasil”. Trata-se de uma análise utilizando três bases de dados secundárias,

desenvolvidas por entidades diferentes: a primeira é o já mencionado trabalho de

Machado de 1997, um levantamento amostral de dados nacional, com dados

projetados para o ano 2000 a partir de informações disponibilizadas pelo Conselho

Federal de Medicina; a segunda é a “Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária”

produzida pelo IBGE em 1999, de natureza censitária, fornecendo dados de

recursos físicos e humanos do sistema de saúde; a terceira é o Sistema Nacional de

Informações coordenado pelo Ministério da Saúde e que forneceu dados de

remuneração dos prestadores de serviço no ano de 2000.

Esse trabalho estimou que havia, em 2000, 28.500 profissionais médicos

ginecologistas e obstetras no Brasil, representando a segunda maior especialidade,

com 12% do total de 223.000 médicos brasileiros. Desses gineco-obstetras, 60,6%

moram nas capitais e 60,9% são do sexo masculino. Quase 50% tem menos de 40

anos de idade, ou seja, menos de 15 anos de formado. Igualmente ao resultado de

outros estudos, o parentesco médico é outra característica marcante, sendo o

número médio de parentes na profissão igual a dois. Além disso, semelhante às

outras especialidades, os gineco-obstetras atuam em três atividades em média,

combinando o consultório médico (87,3%), a prática no setor público (74,5%) e a

atuação no privado (60,1%). Noventa por cento dos médicos que atuam em

consultório dependem dos convênios com operadoras de planos de saúde. Até os

40 anos de idade, 60% dos gineco-obstetras realizam plantões em instituições

públicas ou privadas. A renda mensal média desses profissionais era de 2.853

dólares em 2000.

Foi realizada nesse estudo (PINTO et al., 2003) análise do acesso ao médico

ginecologista e obstetra pela população. A distância média a ser percorrida por um

habitante até encontrar uma unidade de saúde com disponibilidade de cuidado por

94

esse profissional varia, de acordo com o tamanho da cidade, desde 22-23

quilômetros para localidades com menos de 20.000 habitantes até 2 quilômetros

para grandes cidades. Isso demonstra a distribuição desigual de médicos dessa

especialidade no país. De maneira geral, os estabelecimentos públicos são os

maiores empregadores desses especialistas no Brasil, exceção feita às cidades com

mais de 200.000 habitantes, onde o maior empregador são os estabelecimentos

exclusivamente privados, não conveniados ao SUS.

A análise do mercado de trabalho médico não deve estar descolada da reflexão

sobre a formação médica e o aumento da oferta de mão de obra a esse mercado.

Os dados revelam uma ampliação dos cursos e das vagas de graduação em

medicina, observando-se de 1995 a 2001 a criação de 21 novos cursos, com

incremento de quase 37% na disponibilidade de vagas, principalmente no setor

privado de ensino (VIEIRA et al., 2004).

Além da expansão houve distribuição heterogênea das escolas de Medicina. Dados

da Associação Brasileira de Educação Médica demonstram que, em 2003, havia 112

escolas médicas no Brasil, das quais 68% estavam concentradas nas regiões

Sudeste e Sul (VIEIRA et al., 2004). Embora exista uma oferta substancial de

egressos de Medicina no país, identifica-se uma desproporção quantitativa de

profissionais por habitante nas diferentes regiões, concentrando-se em grandes

centros urbanos (VIEIRA et al., 2004). Aliada à proliferação de escolas,

primordialmente privadas, e à massificação do ensino, segundo Vieira et al. (2004),

verifica-se uma queda na qualidade do ensino médico, sendo que nem sempre as

escolas criadas apresentam capacidade técnica e instalações adequadas às

necessidades dessas formações, que exigem importantes laboratórios, tecnologia e

infra-estrutura. A falta de articulação histórica entre o setor educacional e o da

saúde, refletida na crescente autorização de funcionamento de cursos de graduação

em Medicina em instituições vinculadas ao setor privado da educação, e a baixa

capacidade regulatória do Estado na política de formação de especialistas, merecem

ser revistas pelos setores saúde e educação em conjunto com a sociedade (MACIEL

FILHO; PIERANTONI, 2004).

95

Transcorridas quase duas décadas da implantação do SUS, os principais obstáculos

à garantia de universalização e equidade da atenção à saúde continuam sendo os

desequilíbrios econômicos, regionais e institucionais que caracterizam o setor saúde

e que compõem o quadro geral de desigualdades da sociedade desde seus

primórdios (MACIEL FILHO; PIERANTONI, 2004). Dessa maneira, ao se caracterizar

o mercado de trabalho médico no Brasil no Estado de São Paulo e o mercado

nacional para ginecologistas e obstetras, poderemos analisar melhor as condições

da organização do trabalho e o modelo assistencial em nosso país.

3. Modelo Assistencial Obstétrico no Brasil

Hotimsky et al. (2002) identificam que as taxas de cesárea apresentam como forte

componente desencadeador a forma como se organizou a assistência obstétrica em

nosso sistema de saúde, público e privado, onde se observam duas realidades bem

distintas, cada uma com seu modelo característico de assistência ao parto.

Há uma parcela pequena da população, de nível sócio-econômico privilegiado, que

possui planos ou seguros de saúde e, por isso, pode escolher os profissionais

médicos que desejar e negociar com eles o tipo de assistência médica que lhe

convém. Essa clientela, assistida pelo Sistema de Saúde Suplementar, geralmente é

atendida pelo mesmo médico tanto no pré-natal como durante o parto, mantendo

estreito relacionamento médico-paciente. Na clínica privada, é freqüente o

acompanhamento minucioso do pré-natal pelo médico que vai realizar o parto.

Entretanto, para Hotimsky et al. (2002), a sobrecarga na jornada de trabalho do

obstetra, que inclui atividades em consultório particular, plantão em hospitais

públicos, atendimento ao parto em hospitais privados e, às vezes, atividades de

ensino e pesquisa dificulta ou até inviabiliza o acompanhamento do trabalho de

parto, favorecendo a decisão pela cesariana. No modelo privado, predominante nos

hospitais particulares, a decisão sobre o tipo de parto depende do obstetra e da

mulher, sofrendo pouca ou nenhuma influência do hospital, que não estabelece

normas ou rotinas a serem seguidas, fornecendo apenas a estrutura para a qual

médicos trazem suas pacientes particulares para serem atendidas durante o parto.

Existe um obstetra de plantão, mas a maioria dos partos é realizada por obstetras

externos que vêm ao hospital privado somente para acompanhar suas pacientes

96

particulares. O atendimento é pago pela mulher, seja diretamente ou por meio de

seguros-saúde aceitos pelo hospital. O modelo de assistência médica privada

baseia-se na estreita relação médico-paciente na população mais rica, favorecendo

a realização da cesárea eletiva, supondo-se que isso garantiria à paciente a

execução do seu parto assistido pelo seu médico (GOMES et al., 1999). Essa

clientela, em geral, não aceita ser assistida por outro profissional no momento do

parto.

A outra parte da população brasileira, bem maior que a primeira, é atendida pelo

Sistema Único de Saúde, que presta serviços de assistência médica pelo serviço

público, ambulatorial e hospitalar. Hotimsky et al. (2002) entendem que gestantes

sem acesso a convênios médicos ou serviços particulares freqüentemente não têm a

chance de escolher o médico que irá assisti-las e, provavelmente, não terão poder

de negociação sobre o tipo de parto de sua preferência ou a forma de atendimento

que desejam. De maneira corriqueira, o parto é feito por um profissional médico

diferente daquele que fez o pré-natal. Essa desvinculação entre o pré-natal e o parto

no serviço público pode ser considerada fator contribuinte para a realização de

cesáreas, em função da ausência de informações, no momento do parto, sobre a

gestação atual e anteriores. Além disso esse médico, geralmente de plantão nos

hospitais que atendem o SUS, não estabelece uma relação médico-paciente

adequada por não ter conhecido previamente a gestante (HOTIMSKY; RATTNER;

VENANCIO; BOGUS; MIRANDA, 2002). Há relatos de que em alguns hospitais

públicos não se permite que parturientes permaneçam em evolução de trabalho de

parto entre um turno de plantão e outro, prevalecendo a conduta de que todos os

casos devem “ser resolvidos” no próprio plantão (FREITAS15, 1999, apud d’ORSI

2003). No modelo público, o atendimento é gratuito e existem normatizações e

propostas de melhoria da qualidade e humanização da assistência ao parto.

Geralmente há uma coordenação ou gerência que busca regular a prática obstétrica

de acordo com as diretrizes propostas pelo hospital e pelo SUS, envolvendo

inclusive a realização de cesarianas (HOTIMSKY; RATTNER; VENANCIO; BOGUS;

MIRANDA, 2002).

15 FREITAS, P.F. The epidemic of caesarean sections in Brazil, factors influencing type of delivery in Florianópolis, South Brazil. Phd (Thesis) - London School of Hygiene and Tropical Medicine. 1999.

97

Assim, a realização desse procedimento cirúrgico segue lógicas próprias a depender

do contexto em que se encontram médico e gestante.

Observa-se que clientelas atendidas em diferentes modelos assistenciais poderão

desfrutar de formas diversas referentes ao relacionamento médico-paciente, fator

que pode influenciar a decisão pelo tipo de parto.

A relação médico-paciente foi classificada por Emanuel e Emanuel (1992) em quatro

tipos: paternalístico, informativo, interpretativo e deliberativo. Cada um desses

modelos assume diferentes tipos de comunicação. O modelo paternalista, raramente

aplicado na medicina atual, determina que o médico pode reconhecer e aplicar

valores e fatos, facultando pequena autonomia ao paciente. Nesse caso, o médico

decide e age, independente de qualquer autorização do paciente. Do lado oposto,

temos o modelo informativo, onde o médico, provido de informações técnicas e

objetivas, relata apenas os riscos e benefícios e o paciente assume e toma as

devidas decisões no cuidado de sua saúde. O paciente tem completo controle sobre

as decisões terapêuticas. Nesse modelo, como não há interferência das

recomendações ou opiniões medicas, não há parceria entre médico e paciente no

processo de tomada de decisão. No modelo interpretativo, o médico assiste ao

paciente, integrando os valores do mesmo ao planejamento dos cuidados. Já o

modelo deliberativo permite ao médico guiar o paciente para a escolha das melhores

intervenções de acordo com seus valores. Esse modelo é semelhante ao

interpretativo, porém há mais comunicação ao paciente sobre os valores do próprio

médico.

No aconselhamento para a decisão pelo tipo de parto, o modelo deliberativo seria o

mais adequado. O médico forneceria informações sobre as vantagens e

desvantagens da cesárea para a mãe e para o feto, com o cuidado de evitar

qualquer coerção nessa relação, reconhecendo que os seus valores não

necessariamente são os mesmos de sua paciente (MINKOFF, 2006). Dessa forma, o

autor define que a paciente teria o direito de escolher seu tipo de parto e o médico,

de acordo com sua consciência e seus conhecimentos técnicos, de aceitar ou

rejeitar o seu pedido. Dependendo do modelo de relação médico-paciente

empregado, diferentes princípios éticos emergem como relevantes na tomada de

98

decisão (ACOG, 2003). Os princípios éticos que norteiam essas relações são a

autonomia (após devidamente informada sobre os riscos e benefícios, a paciente

tem o direito a escolher, aceitar ou recusar procedimentos médicos), beneficência

(obrigação médica em promover a saúde e o bem estar do paciente), não-

maleficência (obrigação médica em não prejudicar o paciente), justiça (dentre outras

definições, implica em considerar os pedidos dos pacientes para procedimentos

eletivos como qualquer outro pedido de pacientes e alocar recursos da maneira mais

racional para a sociedade) e veracidade (falar a verdade de acordo com os preceitos

e o conhecimento da prática médica) (ACOG, 2003).

Apesar de o princípio da autonomia requerer informação adequada para a mulher

poder exercer esse direito, observa-se uma assimetria de informações, levando a

uma hegemonia de poder e respeito pelas decisões médicas praticamente sem

contestações. Na medida em que o saber se dissemina, perde-se a hegemonia e

inicia-se a discussão sobre qual tipo de assistência é melhor para a paciente.

Obviamente, esse fato também gera iniqüidades, a partir do fato de que o acesso às

informações não é homogêneo para todas as classes sociais. Essa diferença é mais

um fator que traz comportamentos e relacionamentos diferenciados entre os

modelos de assistência à saúde.

Nesse mesmo olhar, em um trabalho com médicos residentes de ginecologia e

obstetrícia, para todos os entrevistados, o poder, além de sua articulação com o

saber, vincula-se à capacidade de “convencimento” da paciente da veracidade

desse saber, por parte do médico, garantindo a boa relação entre eles. O poder de

convencer é proporcional à capacidade de elaborar uma boa relação médico-

paciente, vista como condição sine qua non para atingir o não-questionamento e a

concordância (GILBERT; CARDOSO; WUILLAUME, 2006). Em alguns relatos, as

relações entre saber e poder também se refletem nas afirmações acerca das

responsabilidades do médico no setor público e no privado. No primeiro, elas são

consideradas mais diluídas do que no segundo, em função da existência de uma

relação não muito próxima com a paciente, e também em razão do desnível sócio-

cultural assumido como fato. Na clínica privada, a noção geral é de que a cobrança é

sistemática, inclusive, implicando uma prática da medicina cada vez mais defensiva

99

por receio da industria dos processos médico-legais (GILBERT; CARDOSO;

WUILLAUME, 2006).

No sistema privado de saúde, em decorrência da interposição dos planos de saúde

intermediando as relações contratuais entre cliente e médico, bem como de

movimentos de aumento de cidadania e busca de direitos humanos pela sociedade

civil, observam-se mudanças na relação médico-paciente. O maior acesso às

informações por parte dessa clientela privada também interferiu de maneira

marcante nesse relacionamento, tornando-o mais complexo. Anos atrás, os

pacientes apresentavam seus sintomas aos médicos e estes estabeleciam o

diagnóstico e então recomendavam o tratamento. Usualmente, as recomendações

eram aceitas pelas pacientes sem maiores questionamentos. As decisões eram

delegadas apenas à equipe médica. Em contraste, atualmente, na primeira visita

pré-natal, abre-se discussão sobre o planejamento do nascimento, incluindo

preferências pela anestesia, episiotomia, uso de fórcipe, parto cesáreo,

amamentação e outros aspectos relevantes para a cliente, que hoje dispõe de

acesso a essas informações (ACOG, 2003).

Mesmo com realidades distintas, os dois modelos assistenciais presentes em nosso

país apresentam elevadas taxas de cesárea. Observa-se que, no setor público de

saúde, embora o atendimento seja em sua maioria realizado pelo médico, este

modelo é semelhante ao de muitos países europeus, pois o parto é realizado por um

profissional vinculado à instituição hospitalar, sendo remunerado por carga de

trabalho e não por produção de serviços (exceto em alguns casos onde há

pagamento por produtividade). Apesar dessa semelhança, nossas taxas de cesárea

são muito diferentes das européias. Dias e Deslandes (2004) definem como

paradoxal a relação entre as taxas de cesárea em serviços públicos do Rio de

Janeiro e a organização da prática obstétrica nesse sistema. Nestas maternidades o

atendimento é gratuito e a remuneração dos profissionais não varia de acordo com o

tipo de parto; os médicos trabalham em equipe onde, teoricamente, as limitações

técnicas de um poderiam ser compensadas pela expertise de outro plantonista,

reduzindo a probabilidade de se optar por não realizar parto vaginal devido a

limitações na sua formação profissional. Também o tempo de evolução do trabalho

de parto não deveria pressionar os profissionais no sentido de acelerar o

100

nascimento, já que os mesmos trabalham em regime de plantão, com horários

determinados e os cuidados com a paciente serão continuados por uma nova equipe

ao fim de sua jornada de trabalho. As hipóteses, para esses autores, foram que as

taxas de cesarianas das maternidades públicas são maiores do que as esperadas

porque as indicações cirúrgicas são também regidas por questões ligadas à

formação médica e às tendências culturais da assistência.

Trabalho em equipe médica foi analisado em 1999-2000, na América Latina, por

meio do Estudo Latino-Americano de Cesáreas (ELAC), envolvendo 40 hospitais de

cinco países, Argentina, Brasil, Cuba, Guatemala e México. Um de seus objetivos foi

testar a estratégia de segunda opinião médica como intervenção para reduzir a

incidência de cesáreas (OSIS et al., 2006). Basicamente, o médico que estivesse

atendendo a uma parturiente consultaria outro profissional de igual ou maior

hierarquia, dito consultor, frente à decisão de realizar uma cesárea, eletiva ou de

emergência. Então, ambos analisariam a situação e tomariam a decisão com base

em parâmetros e critérios de protocolos previamente elaborados para facilitar a

conduta. Osis et al. (2006) entrevistaram médicos que participaram desse trabalho

no Brasil, realizado apenas em hospitais públicos do estado de São Paulo e da

cidade de Recife, concluindo que a estratégia da segunda opinião médica seria

capaz de reduzir as taxas de cesárea em instituições públicas e universitárias,

porém não seria factível em serviços privados, onde os médicos não aceitariam a

interferência de outro colega sobre sua decisão de realizar uma cesárea.

Uma das tentativas de mudar a forma de organização assistencial tem sido a

proposta do Ministério da Saúde e de várias secretarias estaduais e municipais de

saúde de introduzir profissionais não médicos na realização dos partos, por meio de

financiamento de cursos de especialização em enfermagem obstétrica e portarias

ministeriais, para inclusão do parto normal assistido por enfermeira obstétrica na

tabela de pagamentos do SUS (RIESCO; FONSECA, 2002). Para Bonadio et al.

(1999), devido à progressiva incorporação da tecnologia e à elevação das taxas de

cesarianas, ocorreu ao longo dos anos um impacto negativo sobre as oportunidades

de capacitação e atuação das enfermeiras obstétricas no parto, levando à limitação

número de profissionais qualificadas pelas escolas de enfermagem do Brasil.

101

Essa ação de estimular a participação das enfermeiras obstétricas é apoiada por

Caron e Silva (2002) que consideram que a atuação dessa profissional nas

maternidades públicas e privadas reduziria os índices de mortalidade e morbidade

perinatal e materna e diminuiria o número de intervenções cirúrgicas no parto. Em

sua tese de doutorado, Osava (1997) defende a participação de não médicos na

assistência ao parto, como uma estratégia para a transformação do atual modelo

assistencial e redução das intervenções médicas no nascimento. Riesco e Fonseca

(2002) identificaram que a escassez e a heterogeneidade de recursos humanos para

atendimento ao parto foi uma tônica na maioria das entrevistas realizadas com

médicos e enfermeiros. Segundo os depoentes, tanto nas cidades como na zona

rural há auxiliares de enfermagem e parteiras assistindo aos partos, além das

iniciativas governamentais para que os agentes de saúde possam realizar essa

assistência. Essas auxiliares, parteiras e agentes atuam nos serviços de saúde, ao

lado de um número reduzido de obstetrizes, enfermeiras e enfermeiras obstétricas,

realizam partos à margem da legislação e assumem, por vezes, a responsabilidade

de médicos mantidos em “plantão à distância”. Essa situação pode produzir

conseqüências assistenciais e legais, como atendimento precário à parturiente e

processos jurídicos por exercício ilegal da medicina.

Para Riesco e Fonseca (2002), essa mobilização a favor da mudança do modelo

assistencial brasileiro com a participação da enfermeira obstetra ou parteira (embora

haja diferenças conceituais, ambas são profissionais não médicos que atuariam na

assistência ao parto) na assistência ao parto não é aceita de forma homogênea por

todos os stakeholders desse processo. Para os médicos obstetras, essa profissional

poderia ser uma ajudante, que permaneceria ao lado da parturiente durante as horas

de trabalho de parto, para que o próprio médico pudesse cuidar de outros afazeres,

até que o período de dilatação chegasse ao final ou enquanto não surgissem

complicações; para os técnicos em planejamento, poderia ser alguém que integrasse

a equipe de saúde, com baixo custo e disponibilidade de se manter em regiões de

carência de recursos; para a enfermeira obstétrica, poderia ser a especialista que,

depois do curso de graduação em enfermagem, galgaria a carreira no nível de pós-

graduação e poderia adquirir competências e autonomia para assistir à mulher de

forma integral. Para outros, profissionais ou não, essa é uma interrogação a ser

estudada frente às condições concretas de mudança, como parte da proposta de um

102

modelo assistencial, em que a mulher e a família possam ser sujeitos no processo

de nascimento de um filho, com dignidade e direito de acesso aos serviços de

saúde. Porém deve ser perguntado para a gestante que tipo de profissional ela

deseja na assistência ao parto.

Diversos estudos demonstraram que o trabalho em equipe multi-profissional era

complexo e de difícil implantação nos serviços públicos (RIESCO; FONSECA, 2002;

ÂNGULO-TUESTA; GIFFIN; GAMA; CHOR; d’ORSI; et al., 2003; CASTRO; CLAPIS,

2005). Deslandes (2005), em seu trabalho com gestores de saúde, observou em

relação ao trabalho em equipe que, se em algumas maternidades esta prática era

bem incorporada nas suas relações e na divisão do trabalho, noutras constituía

arena de embates sutis ou abertos. Como confirmam Riesco e Tsunechiro (2002) e

Deslandes (2005), este é um tema bastante complexo, que envolve disputas de

saber científico, status profissional, atribuições de responsabilidades técnico-

institucionais e jurídicas, posição hierárquica e mercado de trabalho.

Seja como for, há resistência à atuação da enfermagem na assistência ao parto.

Com o objetivo de vencer os obstáculos e otimizar resultados maternos e perinatais,

a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES/SP), por meio da

Coordenadoria de Saúde da Região Metropolitana da Grande São Paulo, a partir de

maio de 2000, implementou em quatro maternidades estaduais o projeto "Inserção

da Enfermeira Obstétrica na Assistência ao Parto na Secretaria de Estado da

Saúde", vinculado à diretriz política do Ministério da Saúde para a área de saúde da

mulher e ao Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, confirmando a

existência de muitas situações a serem superadas, entre elas o relacionamento

interno na equipe obstétrica.

Embora a prática da assistência obstétrica no sistema privado de saúde tenha se

organizado de maneira distinta à do modelo público, também há resistência à

participação de outros profissionais na realização do parto. Os médicos que

trabalham para os convênios médicos, bem como aqueles que prestam atendimento

a pacientes particulares, têm interesse em dominar totalmente esse mercado de

trabalho em função da lógica de remuneração. Nesse modelo, o pagamento decorre

do serviço prestado, sendo, na maioria das vezes, de valor semelhante para parto

103

vaginal ou cesáreo. Verifica-se a presença de enfermeiras obstétricas de plantão em

muitas maternidades, que atendem à parturiente até a chegada do médico obstetra.

Riesco e Fonseca (2002) acreditam que o excesso de cesarianas está associado ao

modelo de remuneração médica, à limitação da experiência em assistir ao parto

vaginal e à falta de disponibilidade do médico para acompanhar o trabalho de parto,

levando à programação da cesariana de forma eletiva e atendendo interesse próprio,

da família da gestante, da própria gestante ou da instituição.

Para Massoneto e Porto (1998) as maternidades, em especial as que atendem

pacientes do sistema privado de saúde, deveriam desenvolver programas de

assistência obstétrica ativa do trabalho de parto. Dessa maneira, o médico se

sentiria mais seguro se sua paciente esperasse por ele internada, aguardando um

parto normal, acompanhada por uma enfermeira obstétrica e monitorizada por

equipamentos e exames subsidiários, reduzindo os riscos da especialidade. Esse

modelo de trabalho em equipe, se bem estruturado, poderia, segundo os autores,

aumentar a qualidade e reduzir o custo da assistência ao parto em nosso país.

Pela legislação profissional de enfermagem, os não-médicos que podem realizar o

parto normal são a enfermeira e a obstetriz/enfermeira obstétrica, assim como a

parteira titulada no Brasil até 1959 ou portadora de diploma/certificado estrangeiro,

reconhecido ou revalidado até 1988 (BRASIL, 1986). Em contrapartida, o Conselho

Federal de Medicina, que busca a regulamentação da profissão médica por meio do

projeto de Lei 7703/06 em trâmite na Câmara dos Deputados, determina que a

assistência ao parto é um ato médico, só podendo ser realizado por esse profissional

(CFM, Projeto de Lei sobre o Ato Médico n. 7703/06; CFM, Resolução sobre Ato

Médico n. 1627/01 de 23/10/2001). O CREMESP, em sua resolução n. 111 de 23 de

novembro de 2004, veda ao médico exercer atividades nas Casas de Parto, locais

autorizados pelo Ministério da Saúde a funcionar independente da presença de

médicos. O Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CREMERJ)

pronunciou-se, em função da inserção da enfermeira obstétrica para assistir ao parto

na cidade do Rio de Janeiro, com a publicação de resolução que colocava sob

responsabilidade do profissional médico toda a assistência praticada dentro do

hospital, inclusive aquela praticada por enfermeira na assistência ao parto de baixo

risco (CREMERJ, Resolução n.160/2000). Na mesma resolução colocava também a

104

obrigatoriedade da informação, aos usuários do serviço de saúde, de que na

instituição os partos eram assistidos tanto por médicos quanto por enfermeiros.

Estas medidas têm o objetivo claro de, em última instância, pressionar o médico

para que ele não abra espaço na assistência ao parto de baixo risco para a

enfermeira obstetra (DIAS; DOMINGUES, 2005).

Alguns entrevistados no trabalho de Riesco e Fonseca (2002) colocaram em

evidência os interesses econômicos e corporativos que perpassam a relação

médico/não-médico na assistência ao parto. Embora seja apresentada de forma

bastante determinante em certas falas, essa questão é muitas vezes omitida nas

discussões. Os autores concluíram que, com a remuneração pela assistência ao

parto sob forma de pagamento por procedimento, médicos e enfermeiras passariam

a disputar sua realização. Essa situação seria exacerbada na medida em que o

médico depende cada vez mais do trabalho assalariado e da vinculação a

convênios, pois os sistemas de saúde não pagam, no modelo atual, para que

médico fique à distância, na retaguarda dos partos assistidos pela parteira.

Riesco e Fonseca (2002) identificaram ainda questionamentos sobre quais mulheres

aceitariam ser atendidas por profissionais não médicos, devido à resistência das

mulheres, em particular de camada sócio-econômica mais elevada, em serem

assistidas por uma pessoa diferente daquela que realizou seu pré-natal. Por outro

lado, há a defesa de uma demanda indiscriminada do ponto de vista social, sendo

que a expansão do parto assistido por não médicos somente na rede pública poderia

gerar, segundo esses autores, a idéia de ser uma “assistência para pobres”.

Para Hotimsky e Schraiber (2005), há uma desvalorização da enfermeira obstétrica,

que enfrenta dificuldades para conquistar um espaço próprio e ser reconhecida na

comunidade como profissional capaz. Essa desvalorização é observada por essas

autoras nos comentários dos alunos de medicina sobre um Curso de Obstetrícia da

Zona Leste a ser inaugurado, questionando sua validade. Trata-se de um curso para

obstetrizes que enfrenta resistências dos médicos pois, como declarou recentemente

o presidente da FEBRASGO: “Somos contra o nome desse curso. Obstetrícia é uma

especialidade médica” (FOLHA DE SÃO PAULO, 13 de março de 2005). Hotimsky e

Schraiber (2005) observaram conflitos com relação ao posicionamento da enfermeira

105

obstétrica no contexto de assistência ao parto. Quanto ao papel desempenhado pela

enfermeira obstetra na atenção ao parto, os alunos de medicina entendem que a

atuação de não médicos representaria um cerceamento de seu campo de atuação e

de sua autonomia profissional, uma vez que apenas alguns procedimentos da

assistência continuariam sendo atribuição médica. O fato de este estar fora da “cena

de parto” quando o procedimento é normal, é contrastado com a organização da

assistência no Hospital-Escola, onde geralmente os partos são realizados por

médicos ou por internos com supervisão de um médico responsável.

Para alguns pesquisadores, certas ações realizadas durante a assistência ao parto

serviriam para manter o médico em seu papel central nesse processo. Assim, a

prática de analgesia de rotina seria um elemento para garantir a permanência do

parto dentro do hospital e sob cuidados médicos, além de incorporar à equipe de

atenção ao parto normal um profissional (o anestesista) não incluso na proposta

ministerial nacional. Entretanto a proposta da analgesia esbarraria em outra

dificuldade: o seu emprego no parto estaria associado à tendência a estacionar o

trabalho de parto, tornando-se, por vezes, necessário o uso de fórcipe. Como seu

manejo é pouco treinado em muitas faculdades de medicina, motivo pelo qual os

obstetras freqüentemente manifestam insegurança em utilizá-lo, esta poderia se

tornar uma alegação freqüente para a indicação da cesárea (DIAS; DESLANDES,

2004).

Outro profissional não médico, a doula, pessoa que acompanha as parturientes,

dando-lhes apoio físico e psicológico, vem buscando sua inserção nesse processo

de nascimento, justificada pelo fato de que, em maternidades com grande número

de leitos, dificilmente há profissionais não médicos ou de enfermagem que forneçam

suporte emocional e físico durante o pré-parto. Além disso, a falta de privacidade

nas enfermarias de pré-parto, com muitas gestantes no mesmo local, torna

impeditivo, em algumas maternidades, tanto públicas como privadas, a presença de

acompanhantes do sexo masculino, excluindo assim a presença do pai (d’ORSI et

al., 2005). Dessa maneira, sob a ótica de seus incentivadores, sua presença seria

importante para a mulher, reduzindo inclusive a incidência de cesáreas ao incentivar

a parturiente a tentar o parto vaginal.

106

Nessa disputa de mercado da assistência obstétrica entre médicos e não médicos,

argumenta-se que a inserção desses outros profissionais traria para a gestante um

tipo de atendimento menos intervencionista, mais “humanizado”. Na assistência ao

parto, o termo humanizar é utilizado há muitas décadas, com sentidos os mais

diversos. Fernando Magalhães (1916 apud REZENDE, 1969), o Pai da Obstetrícia

Brasileira, e o Professor Jorge de Rezende (1969) já o utilizaram, respectivamente

no início e na segunda metade do século XX. Ambos defendiam que a narcose e o

uso de fórcipe vieram “humanizar” a assistência aos partos. Esses conceitos eram

difundidos por autoridades em obstetrícia no cenário internacional. A obstetrícia

passa a reivindicar seu papel de resgatar as mulheres, trazendo, desde 1916, “uma

preocupação humanitária de resolver o problema da parturição sem dor, revogando

assim a sentença do Paraíso, iníqua e inverídica, com que há longos séculos a

tradição vem atribulando a hora bendita da maternidade” (MAGALHÃES, 1916, apud

REZENDE, 1969). Revisão bibliográfica de Cascate e Correa (2005) revela a

existência de artigos produzidos no âmbito da saúde, especialmente da

enfermagem, desde os fins da década de 1950. Os principais sentidos atribuídos à

humanização do atendimento vão desde uma perspectiva caritativa, messiânica de

“doar-se ao próximo”, até a integração mais recente, a partir dos anos 90, do

discurso dos direitos do cidadão em ter acesso a uma atenção de qualidade,

inserindo-se no contexto de um projeto político para a Saúde Pública (DESLANDES,

2005). O Movimento pela Humanização do Parto e do Nascimento é um

desdobramento recente do que se chama “Ideário do Parto sem Dor”, iniciado nos

anos 1950 com as idéias de Dick-Read e Lamaze, obstetras de vanguarda

preocupados em minimizar as dores do parto e transformá-lo em um evento mais

prazeroso, propondo para isso o uso de técnicas comportamentais de controle da

dor (TORNQUIST, 2002).

Para Castro e Clapis (2005), embora não se possa negar que as taxas de cesariana

são evidências do processo de medicalização da mulher no momento do

nascimento, diminuí-las não significará tornar humanizado o parto, pois para isso

será necessário haver mudanças de paradigmas. Para esses autores, a inserção da

enfermagem no processo de humanização se deu por imposição política

governamental com o objetivo de reduzir as taxas de cesárea e a melhorar a

assistência à mulher. Dias e Domingues (2005) acreditam que o grande desafio para

107

todos os profissionais de saúde que atendem ao parto deve ser o de minimizar o

sofrimento das parturientes, tornando o momento do nascimento uma experiência

agradável. Percebe-se que a questão não é simples, pois há atores e interesses

diversos nesse cenário de assistência à gestante. Para d’Orsi et al. (2005) e

Tornquist (2002), é necessário rever a forma de organização da prática obstétrica

para que ocorram mudanças na assistência ao parto, buscando respeitar a fisiologia

da mulher e ir de encontro aos interesses de todos os envolvidos.

3.5.6 Fatores Associados à Decisão do Parto Cesáreo no Brasil

O aumento das taxas de cesariana no Brasil, observado predominantemente a partir

de 1970, ressalta a importância de se identificar e estudar os fatores associados à

decisão do tipo de parto. Na cadeia de assistência ao parto há diversos agentes,

interessados e atuantes, influenciando todo o processo assistencial. Esses múltiplos

atores, incluindo médicos, pacientes e seguradoras (seguros de saúde para

pacientes e seguros para médicos contra processos por má-prática médica), além

dos hospitais e do governo, por meio de políticas em saúde, determinam a utilização

de procedimentos médicos, sendo necessário identificar a motivação de cada ator e

seu efeito sobre esse uso (TURCOTTE; ROBST; POLACHEK, 2005). Existem ainda

nesse contexto questões culturais disseminadas entre a comunidade influenciando

na decisão pelo tipo de parto e profissionais não médicos buscando sua participação

nessa cadeia assistencial.

Há diversas classificações para as indicações de um parto cesáreo. Boisselier et. al.

(1997) classifica-as em três grupos: absolutas que impossibilitam o parto vaginal; de

prudência, onde o parto por via baixa é possível, mas pode implicar em um risco

materno-fetal aumentado; e de necessidade, o parto vaginal também é possível, a

depender do tratamento e correção da condição prévia que levou à indicação. Em

função da constatação de que apenas as indicações clínico-obstétricas não

poderiam justificar o aumento da incidência de cesáreas nos últimos vinte anos,

passou-se a categorizá-las em indicações médicas e não médicas, como fatores

108

psico-sociais, aspectos sócio-econômicos, preocupações ético-legais e

características culturais de pacientes e médicos (CURY; TEDESCO, 2003).

Nessa tese, definimos como motivos que determinam a escolha pelo tipo de parto

fatores clínicos, sócio-culturais e relacionados ao modelo assistencial. Com a

exceção dos fatores clínicos, que não serão abordados nesse trabalho, os demais

serão analisados sob a perspectiva das pacientes e dos médicos.

1. Fatores Sócio-culturais

Características demográficas, como idade e raça, sociais como nível sócio-

econômico e características culturais relacionadas à preferência pelo tipo de parto,

aos temores com relação à dor e às alterações sexuais integram, neste trabalho, o

grupo de fatores sócio-culturais.

Os fatores demográficos e sociais freqüentemente se imbricam, havendo correlação

entre populações femininas de raça branca com maior nível educacional e maior

poder aquisitivo e a incidência de cesáreas. No Brasil, as taxas de cesariana são

mais altas entre as mulheres com melhores condições socioeconômicas, de raça

branca e aquelas atendidas em hospitais privados. Além disso, mudanças

comportamentais têm ocorrido nas sociedades ocidentais nos últimos anos, aonde a

mulher busca desenvolvimento da carreira profissional em detrimento da

maternidade. Na ânsia de manter suas conquistas profissionais e de evoluir no seu

trabalho, as mulheres têm adiado cada vez mais a maternidade, fato que implica em

maiores riscos na gravidez e em dificuldades para engravidar (SOUEN, 2003). Como

conseqüência, observa-se em regiões mais desenvolvidas redução progressiva da

fecundidade, havendo menor número de gestações, que ocorrem em idade mais

avançada. Modificações na economia e no sistema produtivo, seguidas de intenso

processo de assalariamento da população, têm sido apontadas como substrato

estrutural dessa queda da fecundidade em diversos países, inclusive no Brasil,

associadas ao uso de métodos contraceptivos (MORAES; GOLDENBERG, 2001).

Por outro lado, regiões com populações de menor nível educacional e menor poder

aquisitivo apresentam maior número de gestações e menor acesso ao parto

cesáreo.

109

Essa desigualdade sócio-demográfica e correspondente taxa de cesárea tem sido

descrita há mais de vinte anos. Em 1983, Camano e Mattar (1983) encontraram

incidência mais elevada desse tipo de parto em mulheres que não dependiam do

serviço público. Barros et al. (1986) observaram entre 7 mil mulheres de Pelotas, Rio

Grande do Sul, incidência muito maior de cesáreas em mulheres de baixo risco e

elevada renda familiar. Resultados semelhantes foram encontrados posteriormente

por Yazlle et al. (2001) em Ribeirão Preto, interior do Estado de São Paulo, que

observaram incidência total de cesáreas na ordem de 48,8%, havendo um gradiente

crescente desse tipo de parto à medida que se eleva o nível social das pacientes:

32,1% em mulheres com partos financiados pelo SUS, 77,9% para mulheres que

dispunham de convênios e planos de saúde e 81,8% em pacientes particulares.

Béhague et al. (2002) e Silveira e Santos (2004) também encontraram associação

entre renda e taxa de cesárea. Freitas et al. (2005) observou, em primíparas do Rio

Grande do Sul, correlação entre a ocorrência de cesárea e o nível de

desenvolvimento regional, sendo maior a incidência em regiões mais ricas e com

melhores indicadores de saúde.

Para Osava (1997), essas diferenças ocorrem, não somente pelas distâncias sócio-

demográficas, mas também pelas diversas representações do parto estruturadas

pelos sujeitos de acordo com a classe social da clientela, estando mais relacionadas

a um ato “instintivo” para as mulheres das classes populares, e mais relacionadas a

um ato “cultural” para as mulheres das classes mais elevadas.

Um estudo ecológico sobre a incidência e as implicações das cesarianas na América

Latina realizado por Belizan et al. (1999) apontou uma correlação positiva e

significativa entre o produto nacional bruto per capita por país e as taxas de

cesariana, sendo que taxas maiores da cirurgia foram encontradas em hospitais

privados do que em hospitais públicos. No Brasil, Rattner (1996) analisou as taxas

de cesárea do Estado de São Paulo, identificando uma associação positiva entre as

altas taxas desse procedimento e elevado nível econômico regional, aferido pelo

potencial de consumo da cidade e pelo número de agencias bancárias per capita,

considerando o parto cesáreo um bem de consumo, disponível para aqueles que

detêm maior poder aquisitivo. Essa constatação já havia sido feita por Faúndes e

110

Cecatti (1991), que relataram maior incidência de cesáreas, de 1970 a 1980, nas

capitais, nas macrorregiões mais ricas do País e entre as famílias de renda mais

elevada.

Essa associação entre classificação sócio-econômica e tipo de parto, para alguns

autores, poderia decorrer da percepção das mulheres de que a assistência ao parto

por meio de uma cesariana seria a mais adequada para ela e seu filho. Assim,

baseadas em uma “cultura” da cesárea, construída a partir de fatores sócio-culturais

e da organização da prática obstétrica (MELLO e SOUZA, 1994; MORAES;

GOLDENBERG, 2001), mulheres acreditariam nos benefícios desse tipo de parto,

solicitando-o ao seu médico. Para a parturiente e sua família, a cesariana significaria

acesso a atendimento médico diferenciado (parto sem dor, ausência de riscos ao

nascimento, sexualidade preservada). Para o obstetra, significaria maior controle do

ato médico e de seu horário de trabalho, influenciando assim a decisão pelo tipo de

parto (FREITAS et al., 2005). Assim, mulheres com menores condições

socioeconômicas e, conseqüentemente, maior risco de complicações no parto,

teriam menor probabilidade de cesariana do que aquelas com baixo risco obstétrico

e alto poder aquisitivo. Mulheres com maior renda solicitam e conseguem se

submeter à cesariana, que passa a simbolizar qualidade de atendimento. Essa

clientela teria o direito de definir a via de parto de sua preferência, cabendo ao

médico aceitar ou não essa decisão (COTZIAS, PATERSON-BROWN, FISK, 2001).

Para as mulheres mais pobres, isso pode ser interpretado como discriminação no

atendimento, por não conseguirem pagar pela cirurgia (FREITAS et al., 2005).

Embora se diga que o princípio do direito da mulher ao poder e controle sobre o

próprio corpo foi apropriada por médicos para justificar a prática de cesárea

desnecessária, então denominada cesárea a pedido (MELLO e SOUZA, 1994), o

que se observa são taxas atuais de cesárea em cifras de 40% em nosso país e falta

de consenso sobre esse assunto. Béhague et al. (2002) identificaram que 40% das

mulheres, antes de chegar ao hospital, tinham o desejo de ter um parto cesáreo,

justificado pela crença de que o parto vaginal traria maiores riscos enquanto a

cesárea representaria o melhor em qualidade de cuidado. Além disso, na tentativa

de evitar parto vaginal, mulheres que não têm condições de pagar uma cesárea,

buscaram métodos indiretos para interferir na fisiologia do nascimento, como ir ao

111

hospital muito precocemente no trabalho de parto para pressionar os médicos a

realizar a intervenção, ir mais vezes ao hospital para conhecer a equipe médica,

entre outros. Resultado semelhante já havia sido encontrado por Moraes e

Goldenberg (2001), em cuja pesquisa 41,1% das mulheres assumiram ter solicitado

a cesariana em um município do interior do Estado de São Paulo.

Contrariamente a esses resultados observa-se, em outros estudos brasileiros, maior

preferência materna por parto vaginal. Hopkins (2000) realizou um estudo nas

cidades de Porto Alegre (Rio Grande do Sul) e Natal (Rio Grande do Norte), cujos

resultados demonstram que a maioria das primíparas referiu preferir o parto vaginal

enquanto que, entre aquelas com cesárea anterior, cerca de 75% (maternidade

privada) e 80% (maternidade pública) afirmaram que não queriam que seu parto

tivesse sido cesáreo. Potter et al. (2001) relataram que 70-80% das gestantes de

serviços público e privado entrevistadas desejavam parto vaginal, sendo que essa

cifra se reduzia em mulheres com cesariana prévia, concluindo que a motivação

para o parto vaginal diminuía devido a experiência cirúrgica anterior, especialmente

se esta tivesse sido satisfatória (58% desejavam repetir a cirurgia). Em maternidades

públicas do Rio de Janeiro, Barbosa et al. (2003) encontraram que 75,5% das

mulheres não desejavam fazer cesárea, inclusive aquelas submetidas a esse tipo de

parto. A preferência pelo parto vaginal foi encontrada também em estudos de Faisal-

Cury e Menezes (2006) em sua clínica privada.

No estudo de Barbosa et al. (2003), para aquelas que desejavam o parto cesáreo,

as justificativas foram a dor e a expectativa de sofrimento durante o trabalho de

parto, o desejo por laqueadura e a experiência prévia de cesárea, enquanto Tedesco

et al. (2004) observaram que 90% de mulheres com preferência pelo parto vaginal o

desejavam pela maior praticidade e para evitar a dor após o parto cesáreo. Hopkins

(2000) e Osis et al. (2001) já haviam observado que as mulheres atendidas no

serviço público diferenciavam a dor durante o trabalho de parto do parto vaginal da

dor após o parto cesáreo. Perante esses dois tipos de dor, pareceu nesses estudos

ser mais fácil para a mulher tolerar a dor do parto vaginal, permitindo o retorno às

suas atividades mais brevemente do que a dor pós-operatória, mais persistente e

incapacitante por um período maior.

112

A questão do medo da dor do parto observada nos trabalhos tem papel importante

na escolha pelo tipo de parto. Existe forte associação entre a sensação ou

expectativa de dor do parto e questões sócio-culturais e religiosas femininas,

acrescida de relevantes alterações psicológicas durante a gestação, influenciando

diretamente a escolha pelo tipo de parto. A gravidez é um período no qual a mulher

experimenta alterações biológicas, psicológicas e sociais. No início da gestação, o

parto costuma ser vivido como realidade distante. Nos últimos meses a maioria das

mulheres relata aumento do medo e ansiedade, não só por se tratar de situação

irreversível e certa, mas também pela ansiedade pela chegada do bebê e de todas

as mudanças e adaptações que traz consigo (CONSONNI et al., 2003). O temor de

que algo ruim aconteça a si própria e ao filho é universal e manifesta-se em

intensidades variadas. Com a proximidade do parto, o nível de ansiedade tende a

elevar-se, sendo especialmente intenso nos dias que antecedem a data prevista do

parto. Os sentimentos são contraditórios: a vontade de ter o filho e terminar a

gravidez ao lado do desejo de prolongá-la e adiar a necessidade de novas

adaptações decorrentes da vinda do bebê. Em meio às incertezas, a gestante

vivencia crises de ansiedade nas quais expressa o temor à morte, à dor, ao parto

traumático e à saúde do filho A ambivalência materna é experimentada de várias

formas, coexistindo sentimentos de aceitação e rejeição, de amor e ódio

(CONSONNI et al., 2003). Para Parker (1997), a ambivalência, produto das grandes

mudanças físicas, sociais e psíquicas que implicam perdas e ganhos, não é por si só

um problema. Para ele, a questão principal é o modo como a mãe administra a culpa

e a angústia provocadas por essa ambivalência. No aspecto emocional, a própria

ansiedade pode gerar o embotamento da percepção (CONSONNI et al., 2003).

Para avaliar se houve mudança de preferência do tipo de parto durante a gestação,

Potter et al. (2001) apresentam um estudo prospectivo realizado em quatro capitais

brasileiras (Porto Alegre, Belo Horizonte, Natal e São Paulo), com mulheres

atendidas nos setores público e privado em três momentos do ciclo gravídico-

puerperal: no início da gravidez, um mês antes do parto e com um mês de pós-parto.

Os autores mostraram que, apesar das diferenças existentes nas taxas de cesárea

entre o setor público e o privado, a preferência da maioria das mulheres (70% a

80%) antes do nascimento era pelo parto vaginal.

113

Embora a dor de parto seja motivo de preocupação, é possível que essa sensação

seja concebida como algo inerente ao processo de nascimento, onde as dores são

consideradas parte da experiência de amadurecimento da mulher. Trata-se de um

processo de “naturalização” do sofrimento associado à forma como ocorre a

construção social de gênero prevalente entre as camadas populares brasileiras

(DINIZ, 2005).

Se, socialmente, a dor do parto está relacionada à condição feminina e à construção

de sua identidade, por outro lado é a dor o símbolo do descaso na assistência

obstétrica. O trabalho brasileiro de Mello e Souza (1994) buscou contribuir para a

compreensão do processo de legitimação social do parto cesáreo, tanto pelos

médicos como pelas pacientes, como um tipo de parto que propicia segurança,

ausência de dor, modernidade tecnológica, enfim ideal para qualquer grávida. Há

destaque pela forma na qual valores culturais referentes à dor do parto vaginal, à

imagem corporal feminina e ao fascínio pela tecnologia foram manipulados pela

biomedicina a fim de acomodar essa prática dentro da orientação geral da medicina

ocidental. Assim, o medo da dor passa a ser rotulado de “falta de preparo

psicológico para o trabalho de parto”, transformando-se em justificativa médica para

a cesárea.

A inclusão, na tabela de remuneração do SUS, da anestesia para o parto normal

objetivou reduzir a influência da dor na escolha do tipo de parto a ser executado

(BRASIL, 2000d, Portaria MS/GM no 572 de 01/06/00). Ressalta-se que a OMS

recomenda apenas práticas não farmacológicas e não invasivas para alívio da dor,

como massagens e técnicas de relaxamento (WHO, 1996) o que, eventualmente,

pode não ser suficiente para a comodidade da mulher durante o nascimento por via

vaginal.

Potter et al. (2001), ao questionar mulheres que preferiam cesárea, identificaram

como um dos motivos a preocupação com a preservação da função sexual,

resultado já observado por Faúndes et al. (1993). Em ambos os estudos, a obtenção

da ligadura de tubas para esterilização feminina também esteve presente entre os

motivos para a escolha da cesárea. As questões relacionadas à função sexual

também foram observadas entre os profissionais médicos. Hotimsky e Schraiber

114

(2005) observaram que, em sala de aula e em plantões, vários médicos assistentes

sugeriram que uma desvantagem do parto normal seria a possibilidade de afetar o

tônus do períneo ou a elasticidade da vagina, reforçando, particularmente entre as

alunas de medicina, receios em relação à vida sexual. Essa preferência pessoal e

profissional pela “via alta” (jargão obstétrico significando parto por cesárea) entre

profissionais da área, aparentemente comum, exerce, sem dúvida, grande influência

entre os alunos, no sentido de considerá-la um procedimento seguro (DIAS;

DESLANDES, 2004). Para Wagner (2000), a ausência de dor como benefício para a

mãe é uma falsa promessa, sendo o agendamento da cesárea apenas uma

conveniência para a mulher e sua família.

Apesar de vários países estarem trabalhando para reduzir os temores pelo parto

vaginal, tem-se observado crescente elevação das taxas de cesárea no mundo,

sugerindo que este esforço não tem trazido os resultados esperados. Um exemplo é

o uso de fórcipe nos partos, temido ainda por muitas mulheres. Esse temor advém

da percepção de que o uso do fórcipe seria responsável por seqüelas nas crianças.

Há gestantes que optariam por cesárea, caso tivessem que se submeter ao parto

fórcipe, pois, para elas este tipo de parto associa-se a riscos maiores do que os de

uma cesariana (HOTMINSKY; RATTNER; VENANCIO; BOGUS; MIRANDA, 2002).

Educação, fundamental no comportamento social de uma mulher, pode ter diferentes

significados em contextos e tempos diversos. Elevado nível de educação não é

somente relevante para ajudar a obter melhores empregos e maior renda, mas

também se relaciona com maior obtenção de informações sobre riscos e benefícios

de saúde. Béhague et al. (2002) entendem que, apesar das tentativas da saúde

pública no Brasil de aumentar a educação das pessoas com relação ao processo de

nascimento e riscos da cesárea, essas não serão suficientes, pois não abrangem as

razões pelas preferências maternas nem as variáveis biológicas, institucionais e

sociais que interferem na execução da cesariana. Observa-se, portanto, diferenças

nos resultados dos trabalhos, sugerindo a reflexão de que a questão da cesárea é

complexa, multifatorial e dependente do modelo assistencial e de interesses dos

diversos agentes da cadeia de assistência ao parto.

2. Fatores Relacionados ao Modelo Assistencial Brasileiro

115

O modelo assistencial dominante em uma região ou sociedade, que apresenta

variáveis como formas de remuneração, constituição de equipe assistencial, local de

realização, conflito de interesses em reserva de mercado de trabalho, entre outras,

exerce papel preponderante na escolha pelo tipo de parto. Portanto, entendemos

que o modelo de assistência obstétrica definido por um determinado país, estado,

região ou financiador será fator de extrema relevância na relação médico-paciente,

nos incentivos econômicos, na utilização de tecnologia médica e na realização de

parto cesáreo. Os aspectos relacionados aos processos judiciais por má prática

médica e a percepção dos médicos sobre o desejo materno pelo tipo de parto

também fazem parte da organização da prática médica. Sob o enfoque dos

interesses médicos influenciando a decisão pela cesárea, há poucos trabalhos

abordando aspectos econômicos e incentivos médicos que devem ser analisados

contextualmente sobre o modelo de assistência médica e as formas de remuneração

dessa prestação de serviços em determinado país, região ou clientela atendida.

Yazle e al. (1985) não encontraram diferenças na incidência de cesárea no período

de 1978 a 1981, época em que se igualou o valor de pagamento, pelo sistema

previdenciário, para parto normal e cesáreo, sugerindo a presença de outros fatores

envolvidos na gênese dessa questão. Comparando os partos ocorridos em nove

maternidades privadas do Rio de Janeiro, entre 1968 e 1993, Gentile et al. (1997)

verificaram que houve aumento significativo de cesáreas, apesar de terem sido

igualados naquele período os honorários médicos para o parto por cesárea e por via

vaginal, sugerindo que a escolha do tipo de parto estaria relacionada ao tipo de

“contrato” que se estabelece entre a paciente e o médico e não aos incentivos

econômicos. Por isso, esses autores sugeriram evitar o reducionismo na formulação

de hipóteses ao privilegiar apenas uma teoria de cunho predominantemente

econômico, uma vez que a remuneração do parto não determinou, de forma isolada,

a prevalência de cesarianas observada nesse estudo.

Contrariando esses estudos, alguns trabalhos brasileiros (POTTER et al., 2001) e

chilenos (MURRAY; ELSTON, 2005) relacionaram o aumento das taxas de cesárea

por desejo materno à maior conveniência dos prestadores médicos que realizaram

cesariana sem uma clara indicação médica. Para esses autores, em países onde a

116

remuneração ao profissional de saúde é feita com base na produtividade, fica difícil

distinguir se a indicação da cesárea foi devida à solicitação da gestante ou ao

interesse médico. Em outro estudo, os autores sugerem que o medo do parto vaginal

e a segurança superestimada da cesárea percebida pelas gestantes seriam

induzidos pelos obstetras em favor de seus próprios interesses, já que a maioria das

gestantes desejava ter parto normal e foram submetidas a cesárea (HOPKINS,

2000). Nesse mesmo sentido, outros autores sugeriram que esse convencimento

médico seria facilitado pela assimetria de informações, levando a risco moral e a

tratamento eventualmente desnecessário (HU; HUANG, 2005). Em modelos

assistenciais baseados na assistência individualizada e remunerada por execução

de serviços ou procedimentos, particularmente em situações onde o médico assiste

aos partos e recebe por eles, a cesárea eletiva pode ser mais conveniente e, talvez,

economicamente mais interessante (WAGNER, 2000).

Potter et al. (2001) ao entrevistar mulheres atendidas nos sistemas público e privado

de saúde, durante o pré-natal e após o parto, abordando seu desejo com relação ao

tipo de parto, concluíram que as discrepâncias entre as taxas de cesárea em ambos

tipos de serviço poderiam ser decorrentes da maior conveniência das cesáreas

agendadas, propiciando otimização do tempo ao evitar o trabalho de parto. Em seu

trabalho, Hotimsky e Schraiber (2005) relataram a conclusão de uma professora de

faculdade de medicina, de que a maior responsabilidade pela disseminação das

cesáreas sem indicações cientificamente fundadas recairia sobre os próprios

médicos, configurando uma crise ética justificada pela comodidade de planejar o

parto, pela concepção (que qualifica de fantasiosa) de que o parto vaginal afrouxa a

vagina, prejudicando a vida sexual futura, e pela concepção de que o parto cesáreo

é menos estressante, exigindo menos preparo emocional e possibilitando maior

controle da situação, com mais segurança para o bebê.

Faúndes et al. (2004) sugeriram que as altas prevalências de cesárea poderiam ser

justificadas pela maior conveniência em função da necessidade de um tempo menor

para realizar a cesárea em relação ao parto normal e devido ao temor por acusações

sobre inabilidade técnica em casos de partos vaginais complicados. Como os casos

em que há necessidade de utilizar o fórcipe ou de realizar procedimentos vaginais

estão geralmente associados a maior risco materno ou fetal, muitas vezes opta-se

117

pela realização da cesárea, evitando esses riscos e a possibilidade de o médico

envolver-se em processos judiciais (DIAS; DESLANDES, 2004).

Portanto, o movimento dos processos judiciais contra médicos deve estar na pauta

da discussão sobre as taxas de cesárea no mundo e no Brasil. Em nosso país,

observa-se um crescente na quantidade de médicos indiciados e processados por

erros médicos, sendo a especialidade de ginecologia e obstetrícia uma das mais

envolvidas nesses processos judiciais. No entanto, a “indústria das indenizações por

má prática”, comum em muitos países, ainda não se instalou no Brasil.

Há estudos brasileiros que abordam a percepção do médico sobre o desejo e a

satisfação das pacientes sobre o tipo de parto, porém sem abordar a preferência de

cesárea do obstetra para si ou para seus parentes. O relatório da Pesquisa sobre

Saúde Reprodutiva e Práticas Obstétricas no Brasil reportou que 89% dos médicos

entrevistados em São Paulo e no Rio Grande do Sul achavam que as mulheres

preferiam o parto cirúrgico (NÚCLEO DE ESTUDOS DE POPULAÇÃO, 1996 apud

BARBOSA et al., 2003).

Mais recentemente, Faúndes et al. (2004) analisaram a opinião de médicos e

mulheres brasileiros sobre as preferências da via de parto, encontrando um

contraste entre o que os médicos declararam perceber como sendo a opinião das

gestantes e o que as próprias manifestaram como suas preferências. Para os

médicos, a questão do medo ao parto vaginal e à dor durante o parto pelas

gestantes figurou preponderantemente, entendendo que por isso elas preferissem a

cesárea, enquanto que o que mais preocupava as mulheres era a dor após a

cesariana. Quando questionados sobre qual o grau de satisfação das mulheres após

uma cesárea, quase 50% dos médicos achavam que as mulheres ficavam

satisfeitas, sendo que os principais motivos para essa satisfação seriam, na

percepção dos médicos, evitar as dores do parto e aceitar culturalmente que a

cesárea traria um risco menor para o recém-nascido. Esse estudo demonstrou

incompatibilidade na percepção das gestantes e dos médicos sobre essa questão.

Dias e Deslandes (2004) estudaram a percepção dos riscos da cesárea entre

médicos obstetras plantonistas e residentes de obstetrícia de uma maternidade

118

pública do Rio de Janeiro, cuja taxa de cesárea naquele ano foi de 31,5%. A

percepção reinante sobre cesarianas entre os profissionais estudados, técnicos

treinados que as executam dezenas de vezes, é de que são cirurgias seguras,

rápidas e sem complicações, melhores para as mulheres, para os bebês e também

para os médicos. Os médicos, principalmente os obstetras do quadro, minimizam os

riscos das cesarianas, uma vez que os mesmos, na maior parte, não acompanham o

pós-operatório das pacientes que operaram durante o plantão ou para as quais

indicaram a cirurgia.

Dessa maneira, percebe-se por meio desses estudos que haveria interesses

médicos, caracterizados por uma “cultura médica pela cesárea”, desencadeando o

convencimento da sociedade sobre o tipo de parto ideal. Assim, sob a percepção

médica, as mulheres desejariam a cesariana e estariam satisfeitas com os

resultados.

No entanto, seria simplista apenas responsabilizar a decisão medica pelas elevadas

taxas de cesárea, ignorando aspectos do relacionamento médico-paciente, bem

como aspectos do contexto social e do atual modelo assistencial, público e privado,

em vigor no país (OSIS; PADUA; DUARTE; SOUZA; FAÚNDES, 2001). Portanto, a

análise das taxas de cesárea em qualquer unidade de análise necessitará dessa

contextualização sócio-cultural e econômica da população estudada, avaliando os

interesses de todos os envolvidos nessa cadeia assistencial, evitando resultados

contraditórios ou irreais.

119

4 METODOLOGIA

4.1 Área de Interesse

A tese aborda a questão dos fatores que levam à realização de cesáreas em taxa

considerada muito acima da esperada nas mulheres assistidas pelo sistema de

saúde suplementar no município de São Paulo. Esta preocupação faz parte dos

discursos das entidades governamentais, representadas pelo Ministério da Saúde e

Agência Nacional de Saúde Suplementar. O município de São Paulo é a capital

brasileira com a maior taxa de cesárea do país: certos hospitais privados aí

existentes atingem proporção de 90% desse procedimento, cifra não observada em

outros locais.

Para o desenvolvimento da tese, foi construída uma pesquisa com base na

delimitação dos objetivos definidos, considerando alguns dos elementos pertinentes

para responder a questão formulada e a exeqüibilidade do estudo.

4.2 Referencial Teórico

Para o desenvolvimento do referencial teórico realizou-se levantamento bibliográfico

em literatura nacional e internacional de publicações relacionadas ao assunto, junto

às bases de dados CAPES e Proquest, compreendendo o período 1999-2007.

Alguns trabalhos, considerados relevantes pelo pesquisador e anteriores ao período

definido, foram incluídos para alicerçar a base conceitual.

No levantamento bibliográfico foram identificadas as seguintes palavras-chave ou

temas: “cesárea”; “parto”, “taxas de cesárea”, “modelo de saúde”, “modelos

assistenciais”, “fatores decisórios”, “fatores determinantes”, “poder e obstetrícia”. A

partir dessas palavras-chave, fez-se a revisão teórica sobre o assunto, aprofundando

120

os conhecimentos sobre o assunto e fornecendo subsídios para o delineamento da

pesquisa e a construção do instrumento de entrevistas.

Este referencial teórico confirmou ao pesquisador a relevância do assunto proposto

para estudo, sob diversas óticas. Por meio dessas diferentes análises, o pesquisador

construiu os alicerces da tese, dividindo-a em tópicos com assuntos afins. Assim,

partiu-se para a pesquisa de campo para obtenção de dados necessários para

responder à questão formulada.

4.3 Tipo de Pesquisa

As pesquisas podem ser bibliográficas, descritivas e experimentais. Pesquisas

descritivas são investigações cuja finalidade é delinear ou analisar fenômenos,

avaliar programas ou isolar variáveis-chave. Estas parecem as mais adequadas para

o melhor entendimento a respeito do comportamento de vários fatores e elementos

que influenciam determinados fenômenos. O estudo descritivo pode utilizar

abordagem quantitativa, que estabelece proporções e correlações entre variáveis

observadas, procurando elementos que permitam a comprovação de hipóteses, ou

qualitativa, que não emprega dados estatísticos como centro do processo de análise

de um problema (OLIVEIRA, 2004).

Pesquisas quantitativas baseiam-se na idéia básica do positivismo, segundo o qual o

mundo social existe externamente ao homem e suas propriedades devem ser

medidas utilizando métodos objetivos. Em estudos quantitativos, o pesquisador

conduz seu trabalho a partir de um plano pré-estabelecido, com hipóteses

claramente especificadas e variáveis operacionalmente definidas, preocupando-se

com a medição objetiva e com a quantificação dos resultados (GODOY, 1995).

Trata-se de um método para comparação de grupos, pois busca verificar resultados

a partir de objetivos previamente definidos por meio de estabelecimento de relações

entre variáveis (MINAYO, ASSIS; SOUZA, 2005).

121

Com o intuito de atingir os objetivos propostos, o campo da presente tese se

caracterizou por um estudo do tipo descritivo, utilizando ferramentas de análise

quantitativa, baseado na busca da identificação e análise, pela ótica de pacientes e

médicos, dos fatores associados às decisões do tipo de parto. Não foi abordada a

visão de outros atores da cadeia produtiva nessa assistência, como diretores ou

donos de hospitais, representantes de convênios e de governo etc.

4.4 Etapas da Investigação

4.4.1 Seleção de Variáveis e Construção do Instrumento de Pesquisa

Para atingir os objetivos propostos neste estudo, construiu-se um instrumento de

pesquisa para entrevistar pacientes e médicos nos hospitais selecionados. Para

tanto, após a revisão bibliográfica na qual se verificou os atributos mais

freqüentemente analisados nos estudos sobre o tema, procedeu-se à elaboração de

um roteiro de atributos a serem pesquisados, separadamente para pacientes e

médicos, em que se procuraram dados relacionados a dois pilares básicos: os

fatores sócio-culturais e o modelo assistencial em obstetrícia.

Inseriu-se no atributo fatores sócio-culturais os seguintes grupos de variáveis:

• variáveis sócio-demográficas das pacientes e dos médicos;

• variáveis relacionadas à preferência materna e médica pelo tipo de parto;

• variáveis relacionadas ao nível de informações obtidas pela paciente;

• variáveis relacionadas aos fatores motivadores na escolha pelo tipo de parto;

• variáveis relacionadas à satisfação com o tipo de parto.

Com relação ao atributo modelo assistencial, inserimos as seguintes variáveis:

• variáveis relacionadas ao relacionamento médico-paciente;

• variáveis relacionadas ao treinamento e experiência médica;

• variáveis relacionadas à organização do trabalho médico;

122

• variáveis relacionadas a questões de processos judiciais por má prática

médica.

No processo de construção do questionário, as posições e conceitos do pesquisador

foram importantes na identificação de atributos e na formatação do modelo final de

análise, resultando em dois instrumentos de pesquisa, um para os pacientes e outro

para os médicos.

VARIÁVEIS UTILIZADAS NO QUESTIONÁRIO PARA PACIENTES

Atributo Grupo de variáveis

variáveis Questão

idade 2 raça 3

escolaridade 4

trabalho atual 5

variáveis socio-demográficas

renda familiar 6

número de partos anteriores

7

tipo de parto anterior 8

grau de satisfação do parto anterior

9

tipo de parto desejado

15,16,17

Variáveis relacionadas à preferência materna pelo

tipo de parto

participação na decisão

19, 20

número de consultas pré-natal

10

tipo de informação 11

quantidade de informações

12,13,14

Variáveis relacionadas ao nível de informações da

paciente

influências da mãe da paciente

23,24,25

Variáveis relacionadas aos fatores motivadores da escolha materna

fatores envolvidos na decisão

21, 27

Fatores sócio-

culturais

Variáveis relacionadas à satisfação materna

grau de satisfação do parto atual

22, 26

Fatores envolvidos no modelo assistencial

Relacionamento médico-paciente 28

Quadro 3 – Conjunto de variáveis utilizadas no questionário para entrevistas com as pacientes selecionadas

Fonte: Elaboração própria.

123

VARIÁVEIS UTILIZADAS NO QUESTIONÁRIO PARA MÉDICOS

Atributo grupo de variáveis

variáveis Questão

idade 2 sexo 3 variáveis socio-

demográficas caracterização da produção médica

6, 7

aceitação da solicitação materna

10 fatores sócio-culturais

variáveis relacionadas às preferências dos médicos percepção médica

11, 17, 18, 19, 20

tempo de formação médica

4 variáveis relacionadas a formação e experiência médica nível de formação

médica 15, 16

multi-emprego 5 fatores de decisão 8,12, 14,

variáveis relacionadas a do organização do trabalho médico equipe de trabalho 9

fatores envolvidos no modelo assistencial

variáveis relacionadas a questões de processos judiciais

13, 14

Quadro 4– Conjunto de variáveis utilizadas no questionário para entrevistas com as médicos selecionados

Fonte: Elaboração própria.

4.4.2 Trabalho de Campo

Para realização do trabalho de campo definiu-se como unidade amostral o evento

“parto” em instituições privadas no município de São Paulo. Com base nessa

definição, buscou-se a identificação do universo e da amostra a serem estudados.

Para identificar o universo, analisaram-se as bases de dados disponíveis sobre

nascidos vivos no município de São Paulo, nos bancos de dados do Boletim CEInfo

2006 e do SINASC. De acordo com essa base de dados, há registro de 166.277

nascidos vivos nessa cidade em 2006, dos quais 52% ocorreram pelo parto cesáreo.

Observando-se a base de dados do SINASC, da prefeitura municipal de São Paulo,

identificamos um total de 104 hospitais que realizaram pelo menos um parto em

2006 (BOLETIM CEInfo, 2006, disponível em:

124

<http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/saude/publicacoes/0004/Boleti

mCEInfo07-07.pdf>, acesso em: 12 de março de 2007).

Este estudo teve como recorte a análise dos partos realizados em instituições

privadas do município de São Paulo. Por isso, excluímos os hospitais públicos e os

hospitais privados conveniados com o SUS, por meio de consulta ao banco de

dados do Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES), restando 45

instituições. Estes 45 hospitais realizaram, em 2006, 60.826 partos, ou seja, 36,6%

de todos os nascimentos ocorridos no município nesse ano, e apresentaram em

conjunto uma taxa de cesárea de 82,6%. Procurou-se selecionar uma amostra

dentre este grupo de hospitais privados que, em conjunto, representasse o universo

de hospitais que atendem às gestantes do sistema privado de saúde no município

de São Paulo, com número significativo de partos e elevada taxa de cesárea.

Identificamos cinco hospitais que realizaram, em conjunto, 40% de todos os partos

do setor suplementar em São Paulo no ano de 2006 (Quadro 5). Cada um desses

hospitais apresentou em 2006 taxas de cesárea superiores às do conjunto de

hospitais privados do município de São Paulo no mesmo ano (82,6%), realizando

médias mensais superiores à 280 partos. Esse grupo de hospitais, composto em

decorrência do interesse do estudo e da viabilidade da execução, detém

qualificações pertinentes aos elementos buscados na pesquisa, possibilitando a

validação ou negação da premissa principal e a resposta aos objetivos propostos.

Hospital Tipo de Parto

Vaginal Cesário Ignorado Total

taxa de cesárea

(%)

media mensal de

partos SANTA JOANA HOSPITAL E MAT 533 7113 2 7648 93,0 637,3 SAO LUIZ HOSP E MAT 649 5539 0 6188 89,5 515,7 PRO MATRE PAULISTA S A 675 4793 0 5468 87,7 455,7 SANTA MARINA HOSP E MATERNIDADE 460 4133 0 4593 90,0 382,8 SANTA CATARINA HOSPITAL 259 3120 0 3379 92,3 281,6

Quadro 5 – Partos realizados nas principais maternidades do município de São Paulo, segundo tipo de parto

Fonte: Elaboração própria.

125

A fim de atender a resolução número 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e da

Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), que regulamenta pesquisas

com seres humanos, o projeto deste estudo e seus instrumentos para obtenção de

dados foram encaminhados para a Comissão de Ética em Pesquisa (CEP) do

Hospital Santa Catarina, pela maior facilidade do pesquisador em estar

freqüentemente presente nessa instituição, para sua análise e aprovação. Esta

Comissão entendeu que este estudo preenchia os requisitos necessários,

aprovando-o na íntegra e autorizando, portanto, a sua execução.

Após a aprovação pelo CEP e a seleção do grupo de hospitais, encaminhou-se

solicitação formal às Diretorias daqueles nosocômios selecionados para

conhecimento do trabalho e autorização das entrevistas. Para melhor

esclarecimento, o pesquisador apresentou pessoalmente aos diretores destas

instituições os objetivos do estudo, a proposta metodológica e a garantia de

confidencialidade das informações, as quais seriam utilizadas apenas para essa

pesquisa.

O pesquisador esclareceu aos diretores que o método a ser adotado seria identificar

e entrevistar as pacientes internadas, no segundo dia após o parto, após o devido

entendimento do termo de consentimento livre e esclarecido pelas mesmas. Durante

a aplicação do questionário, identificaríamos o médico que assistiu ao parto para

que, numa segunda fase da pesquisa de campo, ele fosse entrevistado. Essa

proposta visava a analisar as percepções sobre o mesmo parto vistas sob ângulos

diferentes. Diretores de três hospitais não autorizaram a execução das entrevistas

de acordo com a proposta metodológica de contatar inicialmente as pacientes e

após aplicar o questionário ao seu médico assistente. Seria apenas oferecida,

segundo os diretores, a possibilidade de contato com pacientes após a autorização

do seu médico. O pesquisador entendeu que esse fato poderia gerar viés de seleção

da amostra, já que somente haveria acesso às pacientes indicadas pelo médico

assistente. Apenas um hospital selecionado forneceu a autorização para o

pesquisador realizar a pesquisa conforme a metodologia desenhada. Um segundo

hospital forneceu a autorização somente quando já haviam sido entrevistadas todas

as pacientes da amostra preliminarmente proposta, não tendo sido portanto utilizado

no trabalho de campo.

126

O pesquisador, por ser médico obstetra, optou por não realizar as entrevistas ele

próprio, a fim de evitar qualquer constrangimento com o médico da paciente.

Contratou-se uma empresa especializada em pesquisa de campo na área da saúde,

o Centro de Estudos Augusto Leopoldo Ayrosa Galvão (CEALAG), para realizar as

entrevistas. Três pessoas, todas do sexo feminino, para evitar qualquer embaraço

com as pacientes, foram escaladas para realizar as entrevistas. Houve três reuniões

com as entrevistadoras para ajustes conceituais e melhor entendimento da proposta

do estudo. Para confirmação deste entendimento e para ajustar o instrumento, foram

realizadas quatro entrevistas na forma de pré-teste, para médicos e pacientes

voluntários, que não participariam da pesquisa, cujo resultado demonstrou a

compreensão das entrevistadoras e dos entrevistados e a adequação do

questionário aos propósitos propostos para o trabalho.

Definiu-se que, inicialmente, seriam entrevistadas, pessoalmente no hospital, todas

as pacientes que deram à luz naquele período, independentemente do tipo de parto.

A partir das pacientes entrevistadas, identificou-se os médicos responsáveis pela

assistência ao parto. Esses médicos foram então convidados a participar da

pesquisa, por meio de entrevista por telefone, a fim de comparar suas perspectivas

com as de suas clientes.

A todas as mulheres em estudo, foi explicado que seus dados seriam utilizados

anonimamente em uma pesquisa sobre a assistência ao parto, sendo facultada às

mesmas a possibilidade de não participar da investigação. Foi-lhes assegurada a

confidencialidade e o anonimato das informações. Todos os contatos com as

pacientes foram precedidos por uma extensa explicação feita pelas entrevistadoras

sobre os objetivos do estudo, ressaltando a não divulgação individualizada das

informações fornecidas, seguida da assinatura voluntária do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido, no qual se mostravam de acordo em participar

da pesquisa, seguindo as recomendações da legislação brasileira (Resolução

número 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, disponível em:

<http://www.conselho.saude.gov.br/docs/Reso196.doc>) e da legislação

internacional – Declaração de Helsinque (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989,

127

1966 e 2000, disponível em:

<http://www.unifesp.br/reitoria/orgaos/comites/etica/Helsinque.doc>).

A aplicação dos questionários com as pacientes foi realizada pessoalmente no

próprio hospital, no segundo dia após o parto, a fim de evitar maiores transtornos a

elas e seus familiares. Todas as pacientes que davam à luz eram previamente

informadas e questionadas pela enfermeira supervisora da Maternidade sobre a

possibilidade de uma entrevistadora ir ao seu apartamento para convidá-la a

participar de uma pesquisa. Essa comunicação prévia pela enfermagem aumentou a

receptividade das pacientes à entrevistadora, facilitando o trabalho.

As entrevistas com as pacientes ocorreram no período de 24 de março de 2007 a 09

de maio de 2007. Procurou-se não realizar entrevistas durante a semana onde

houve feriados nacionais, já que há uma prática corrente de realizar partos cesáreos

em maior quantidade nas vésperas destes dias. Foram incluídas mulheres que

tiveram partos normais, fórcipe ou cesáreos, ocorridos em todos os dias da semana

a fim de evitar possíveis distorções de escolha do tipo de parto de acordo com

preferências por dias da semana.

O tamanho da amostra de pacientes foi calculado ajustando-se à possibilidade de

realizar entrevistas em apenas um hospital, considerando-se uma proporção de

partos cesáreos esperada na amostra de 80%, uma precisão desejada de 5%, um

nível de confiança de 95% e um efeito de desenho de 1, através do software EPI-

INFO for Windows versão 3.4.1 de julho de 2007, gerando um número de 246

pacientes. Optou-se por realizar entrevistas com 250 pacientes.

Todas as respostas foram registradas por escrito nos questionários e anexadas ao

TCLE com a devida autorização e assinatura das pacientes. A partir desta amostra

de 250 pacientes participantes, obteve-se 171 médicos responsáveis pelos partos

realizados, já que alguns destes profissionais realizaram mais de um parto nessa

amostra de pacientes.

Em virtude do modelo de trabalho do médico na atualidade e da sua falta de tempo

para diversas atividades, optou-se por realizar as entrevistas por telefone. Para isso,

128

a relação de médicos obtida a partir da amostra de pacientes foi entregue à

secretária da Diretoria Clínica do hospital participante. Esta secretária foi

encarregada de realizar contato telefônico com o médico, informando-o e indagando

sobre a possibilidade de participar de uma pesquisa, solicitando ao mesmo a

permissão para fornecer seu número telefônico a uma entrevistadora. Pretendia-se,

por meio desse contato prévio, facilitar o acesso da entrevistadora ao médico, na

medida em que esse profissional, ao saber do estudo, informava seu interesse ou

não em participar, bem como o número do telefone disponível e o melhor dia e

horário para ser entrevistado.

4.4.3 Compilação dos Dados

Os dados coletados foram digitados e inseridos em um banco de dados Epi-Info e

transportados para uma planilha no formato EXCELL. Essas informações foram

então submetidas à analise estatística para consolidação e discussão dos resultados

obtidos

4.4.4 Tratamento Estatístico dos Dados

Após a realização do trabalho de campo e da compilação das informações em banco

de dados, procedeu-se à análise estatística dos mesmos. Iniciou-se com uma

análise descritiva das variáveis estudadas para avaliar as características das

amostras de pacientes e médicos entrevistados. Realizou-se uma análise estatística

uni e bivariada, estabelecendo-se um nível de significância (alfa) de 0,05 e

utilizando-se o teste do Qui-quadrado, o teste do qui-quadrado com correção de

Yates e o teste Exato de Fisher. Além disso, calculou-se para todas as estimativas

relevantes um intervalo de confiança de 95%. Algumas variáveis demonstraram

significância estatística. Para estas, procedeu-se uma análise estatística

estratificada, tendo sido realizados testes do Qui-quadrado para avaliação da

existência de interação.

129

Todas as análises estatísticas dos dados obtidos nos questionários realizados com

pacientes e médicos foram realizadas por meio do programa EPI-INFO for Windows

versão 3.4.1 de julho de 2007.

4.4.5 Problemas Metodológicos Encontrados e Limitações do Estudo

Esse estudo apresentou algumas limitações ou situações de dificuldade que devem

ser explicitadas. A primeira delas foi a impossibilidade de executar a entrevista com

as pacientes em mais de uma instituição hospitalar. Embora a clientela que utiliza os

serviços do hospital em que se realizou o estudo seja sócio-demograficamente

semelhante à dos demais hospitais selecionados, fazendo com que os resultados

encontrados possam refletir a realidade que ocorre em outras instituições

hospitalares privadas, em particular na capital paulista, o pesquisador entende que a

limitação de acesso para a investigação a outros hospitais possa trazer dificuldades

na extrapolação dos resultados para outros hospitais.

A segunda limitação refere-se à execução das entrevistas com médicos por telefone.

Esse fato poderia, em algumas questões, trazer distorções nas respostas por falta

de entendimento adequado da pergunta formulada ou por respostas automáticas

devido à maior demora na realização da entrevista.

Outra questão relevante refere-se ao fato de a entrevista com a paciente ocorrer no

segundo dia após o parto. Isso poderia trazer um viés em algumas respostas, como

por exemplo, o grau de satisfação em relação ao parto, em que a respondente

poderia estar satisfeita com o resultado final e com a saúde de seu recém-nascido,

independentemente de sua satisfação com o tipo de parto realizado. O dia da

aplicação do questionário fez parte do desenho da investigação, portanto esta

limitação era conhecida desde o início.

A consideração desses limites metodológicos, no entanto, não invalida os resultados

obtidos nesse estudo.

130

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta parte do trabalho apresentamos e discutimos os resultados da aplicação dos

questionários nas amostras selecionadas. A discussão dos resultados foi conduzida

de forma a apresentá-los separadamente, para pacientes e médicos.

5.1 Aspectos Relacionados à Pesquisa de Campo

Ao analisar o cenário da assistência ao parto no ano de 2006 no município de São

Paulo, observamos que, no sistema de saúde suplementar, 52% dos nascimentos

ocorreram pelo parto cesáreo. Esse dado tem grande relevância, principalmente

quando associado à informação do percentual de cobertura dos planos de saúde.

Dos mais de 37 milhões de brasileiros com o benefício da medicina suplementar em

dezembro de 2006, 6,6 milhões eram residentes no município de São Paulo, (ANS,

2006, disponível em:

<http://anstabnetans.gov.br/tabcgi.exe?dados/TABNET_02.DEF>, acesso em: 10 de

dez. de 2006), correspondendo a 59,80% da população dessa capital (IDB, 2006,

disponível em <http://tabnetdatasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2006/f16.def>, acesso

em 10 de dez. de 2007).

O município de São Paulo pode ser considerado um local adequado para estudo

sobre taxas de cesárea em serviços privados de assistência ao parto. Apenas 45

instituições hospitalares no município de São Paulo, onde foi realizado ao menos um

parto em 2006, caracterizavam-se como exclusivamente privadas, sem qualquer

relacionamento com o SUS sob o ponto de vista de financiamento. Destas, seguindo

os critérios estabelecidos para inclusão, selecionou-se cinco hospitais para realizar a

pesquisa de campo. Estes hospitais apresentavam taxas de cesárea semelhantes,

ao redor de 90%, índice superior ao divulgado pela ANS sobre as taxas desse

procedimento no setor suplementar no Brasil em 2006 (80,47%) (BRASIL, 2007).

131

Algumas características de clientela e de organização do trabalho médico são

semelhantes, nesses hospitais. Trata-se de instituições privadas, com ou sem fins

lucrativos, de grande porte, caracterizadas por terem a capacidade de atender a

gestantes de alto risco materno e neonatal. Recebem uma clientela oriunda de

planos de saúde ou particular e, portanto, com características sócio-culturais

semelhantes. Além disso, são instituições tradicionais em São Paulo, cujo Corpo

Clínico é aberto (qualquer profissional médico habilitado, com a autorização do

diretor clínico, pode ali exercer sua profissão e atender seus clientes). Como a

maioria dos médicos em São Paulo atua em mais de uma instituição hospitalar

privada, possivelmente os obstetras entrevistados em uma instituição também

exercem suas atividades nos outros hospitais da amostra. Apesar de essas

características não definirem os critérios de inclusão na escolha dos hospitais

conforme descrito na metodologia, elas permitem acreditar que o único hospital

utilizado no trabalho de campo seja representativo das demais instituições.

As entrevistadoras contratadas tiveram seus encontros com 250 pacientes, no

segundo dia após o parto, no período de 24 de março a 09 de maio de 2007, tempo

necessário para atingir a amostra proposta. Inicialmente identificadas e informadas

pelas enfermeiras supervisoras da maternidade sobre a execução da pesquisa, as

pacientes declaravam sua aceitação ou não em receber a entrevistadora. Obtida a

permissão para receber a entrevistadora, esta se apresentava à paciente e

solicitava-lhe a participação na pesquisa, informando-lhe seus direitos, entre os

quais o de não participar, o de declinar de qualquer pergunta e o de interromper o

questionário a qualquer momento, além da confidencialidade das respostas. As

entrevistas foram realizadas depois da leitura, aceitação e assinatura do TCLE. Após

a informação da enfermeira supervisora, 40 pacientes se recusaram a receber a

entrevistadora e apenas uma se recusou a participar da pesquisa após receber a

entrevistadora e ler o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Não foram

obtidas informações sobre os motivos dessas recusas na participação da pesquisa.

A partir da amostra de 250 pacientes, obtivemos 171 médicos responsáveis pela

assistência ao parto das mesmas, já que um profissional pode ter feito dois ou mais

partos dessa amostra. Coube à secretária da Diretoria Clínica do hospital

participante da pesquisa solicitar a esses profissionais a autorização para

132

fornecimento do seu número do telefone para que a entrevistadora entrasse em

contato, informando-lhes sobre a entrevista por telefone. Dos 171 médicos

relacionados, a secretária da Diretora Clínica somente conseguiu contatar 157, pois

os demais não estavam com o cadastro atualizado ou não responderam a

mensagem deixada em caixa postal telefônica. Dezessete médicos se recusaram a

receber o telefonema da entrevistadora, informando à secretária não ter interesse

em participar. Os 140 médicos restantes foram contatados pelas entrevistadoras. Ao

ligar para o médico, a entrevistadora informava os objetivos da pesquisa e solicitava

autorização para realização da mesma, declarando que esta seria gravada. Após

esse esclarecimento, ressaltando o expresso compromisso de confidencialidade e

sigilo das respostas dos entrevistados, 12 médicos se recusaram a participar e três

informaram não terem tempo disponível para responder. Outros três médicos

informaram às entrevistadoras que somente responderiam por e-mail, sendo por isso

excluídos da amostra, evitando inserir respostas obtidas por meio de procedimentos

de coleta diferentes. Desta maneira, obtivemos uma amostra de 122 médicos

participantes da pesquisa, correspondendo a 71,34% do número de médicos que

realizaram o parto das 250 pacientes.

Apesar da aceitação em participar da pesquisa, o contato com os médicos foi muito

difícil, em virtude da falta de tempo disponível dos mesmos. Foram necessários, em

média, oito contatos telefônicos por médico até conseguir realizar a entrevista. As

entrevistas foram realizadas no período de 17 de maio a 10 de julho de 2007, em

função das dificuldades de agendamento. O tempo de aplicação de cada

questionário foi de aproximadamente 12 minutos, sendo que todas as entrevistas

foram gravadas e as respostas foram posteriormente registradas para construção do

banco de dados.

Apesar de ter sido assegurado o direito de declinar de responder a qualquer das

questões formuladas ou de interromper a entrevista a qualquer momento, em

nenhuma vez esse direito foi exercido, seja por médicos ou por pacientes.

133

5.2 Resultados das Entrevistas com as Pacientes e Discussão

A amostra de pacientes entrevistadas apresentava características sócio-culturais

específicas de uma sociedade de níveis sócio-econômico e educacional elevados

(Tabela 1). Cerca de 63% das pacientes apresentava idade maior ou igual a 30

anos, chamando a atenção a quantidade de gestantes acima dos 40 anos (6,8%).

Esse dado demonstra dois fatos relevantes: primeiramente, as características das

mulheres atendidas nessa instituição se assemelham àquelas descritas na literatura

sobre a mulher do século XXI, que prioriza suas atividades profissionais em relação

à maternidade, freqüentemente adiada. Além disso, gestações acima dos 40 anos

são consideradas de alto risco, elevando a probabilidade de realização de cesariana.

Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em

2005, 11% da população feminina do país e 13,2% do município de São Paulo

estavam na faixa etária compreendida entre 40 e 49 anos. Nesse ano, em nosso

país, houve 3.035.096 nascidos vivos, dos quais 62.226 nasceram de mulheres

entre 40 e 49 anos, correspondendo a 2% das gestantes (IBGE/DATASUS/MS, 2005

disponível em: <http://tabnetdatasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvuf.def>,

acesso em: 20 de setembro de 2007). A taxa de cesárea no Brasil em 2005 para o

grupo entre 40 e 49 anos foi de 53,17%. Já no município de São Paulo, no mesmo

ano, observamos 179.025 nascidos vivos, dos quais 5.005 (2,8%) em gestantes

entre 40 e 49 anos, sendo nesse grupo 68% o índice de cesariana (Quadro 6).

Brasil Município de São Paulo

população total estimada 184.184.074 10.927.985 população feminina estimada 93.513.055 5.720.007 população feminina de 40 a 49 anos 10762879 7.594.451 gestantes de 40 a 49 anos 62.226 5.005 parto cesáreo em mulheres com 40 a 49 anos (%) 53,17 68

Quadro 6 – Número e proporção de mulheres e de gestantes entre 40 e 49 anos e percentual de cesáreas, Brasil 2005.

Fonte: IBGE/ Datasus/MS, 2005.

134

Além das características demográficas, observamos em nossos resultados que três

quartos da amostra apresentavam elevado nível de escolaridade (mulheres com

ensino superior completo ou incompleto). Ainda é possível observar que 5,6% das

pacientes tinham pós-graduação, dado que demonstra uma população que

possivelmente priorizou suas conquistas profissionais em relação à maternidade.

Essas características, associadas ao fato de quase 80% das pacientes estarem

empregadas (variável “trabalha fora de casa”), leva-nos à suposição de se tratar de

uma parcela da população com elevado grau de autonomia e discernimento das

informações necessárias para o exercício de sua cidadania e escolha pelo tipo de

assistência à saúde que deseja.

A amostra dessa pesquisa apresenta-se ainda formada por 82% de mulheres

brancas, cuja renda familiar, na sua maioria (55%), está acima de dez salários

mínimos. Ao compararmos este resultado com os dados da Pesquisa de Orçamento

Familiar (POF) realizada pelo IBGE, segundo a qual o rendimento familiar mensal

em nosso país gira em torno de R$1.800,00, (IBGE, Pesquisa de Orçamento

Familiar, 2003, disponível em:

<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/Tabela/protabl.asp?z=t&o=20&i=P>, acesso em:

10 de dezembro de 2007) concluímos que essa amostra está inserida em um grupo

sócio-econômico favorecido.

135

Tabela 1 – Características sócio-culturais das pacientes (n=250), Hospital, 2007.

Variáveis Freqüência Absoluta %

Faixa Etária (1)

17-29 92 36,8

30-39 141 56,4

40 e + 17 6,8

Escolaridade

Até 2º Grau Completo 64 25,6

3º Grau e + 186 74,4

Cor/Raça

Branca 205 82,0

Parda 23 9,2

Negra 6 2,4

Amarela 12 4,8

Ignorada 4 1,6

Trabalha Fora

Sim 199 79,6

Não 51 20,4

Renda Familiar

10 SM ou menos 109 45,0

Mais de 10 SM 133 55,0

(1) Idade: Média=31,4, DP=5,3, mínimo=17 e máximo=47

Nota: SM – salário-mínimo

A inter-relação dos aspectos demográficos, sociais e econômicos, descrita por

Butcher et al. (1997), Menacker e Curtin (2001) e Kabir et al. (2004), entre outros,

onde mulheres brancas geralmente têm maior renda e escolaridade e estão

relacionadas à realização de cesarianas, também foi encontrada em nossa amostra,

formada em sua maioria por mulheres de cor branca, com taxa de cesárea de 88,4%

(Tabela 2). Esse padrão sócio-cultural, associado ao fato de essas mulheres serem

atendidas no modelo assistencial privado, favorece o estreitamento na relação

médico-paciente, onde o poder de negociação e de realização de escolhas pode ser

exercido com maior intensidade.

Conforme observado na Tabela 2, quase 60% das mulheres dessa amostra estavam

na sua primeira gestação. Entre as que já haviam tido filhos, estes nasceram por

parto cesáreo em 76,2% dos casos. Esse dado, associado à média de idade, ao

136

redor de 31 anos, corrobora uma das características da mulher moderna, também

presente em nossa amostra, o adiamento da primeira gestação em função de outras

prioridades pessoais. O grau de satisfação com o parto anterior é muito elevado,

independentemente do tipo de parto realizado (Tabela 2). Das 101 mulheres que

tiveram um ou mais partos anteriores, 90,8% daquelas que tiveram cesárea e 79,2%

das que tiveram parto vaginal, ficaram satisfeitas, não havendo diferenças

estatisticamente significantes quanto ao tipo de parto (Qui-quadrado=2,33; 1 grau de

liberdade; p=0,13).

Existem vários modelos que medem a satisfação do paciente, mas todos têm como

pressupostos as percepções do paciente em relação às suas expectativas, valores e

desejos (LINDER-PELZ, 1982; WILLIAMS, 1994). Linder-Pelz (1982) definiu

satisfação do paciente como as avaliações positivas individuais de distintas

dimensões do cuidado à saúde. Com Donabedian (1990), a noção de satisfação do

paciente tornou-se um dos elementos da avaliação da qualidade em serviços de

saúde, premissa relevante no contexto atual. O atributo satisfação do paciente

passa a incorporar o conceito de qualidade, tornando-se um objetivo em si e não

apenas um meio de produzir a adesão do paciente ao tratamento (VAITSMANN;

ANDRADE, 2005).

A discussão sobre a influência da experiência anterior sobre a escolha do tipo de

parto é muito polêmica. Há estudos que demonstram que o nível de satisfação da

mulher é maior na cesárea eletiva do que no parto vaginal (SCHINDL et al., 2003),

enquanto em outros o resultado é oposto (TEDESCO et al., 2004; FAÚNDES et al.,

2004). Essas análises devem estar contextualizadas ao modelo do sistema de saúde

em prática para aquela população estudada. Satisfação é um conceito difícil de

medir e interpretar, sendo influenciado pelo tipo de atendimento recebido no pré-

natal e no parto e fortemente dependente dos resultados adversos, maternos e

neonatais (FAISAL-CURY; MENEZES, 2006), questões que podem ou não ser

lembradas pelas pacientes.

No trabalho de Waldenström (2003) avaliando a memória das mulheres sobre o

parto, comparando sua opinião dois meses e doze meses após o nascimento, 60%

das mulheres mantiveram sua opinião, fosse ela positiva ou negativa, mesmo um

137

ano após o evento, enquanto que 24% das mulheres passaram de opinião positiva

para negativa. Essa mudança poderia ser justificada pela sensação de término do

parto ou pela euforia com o nascimento de um bebê saudável, tornando sua opinião

positiva. Para Waldenström (2003), depois de doze meses, a mulher estaria mais

preparada para encarar aspectos negativos do seu parto, como trabalho de parto

longo, lembrança das dores, intervenções médicas indesejadas ou insatisfação com

a equipe que assistiu ao parto. Para identificar os motivos de mudança de opinião, o

mesmo autor realizou outro trabalho, observando que as dores e as complicações de

parto foram mais comuns entre as mulheres que mudaram de opinião positiva para

negativa do que entre aquelas cuja opinião não se modificou, concluindo que as

percepções intra-parto da mulher são importantes para a memória de longo prazo

(WALDENSTRÖM, 2004).

Em nosso trabalho, fizemos uma análise pontual da satisfação em relação ao parto

anterior, não avaliando possíveis mudanças de opinião ao longo do tempo. O

pesquisador buscou apenas obter a percepção e o grau de satisfação das pacientes

que tiveram parto anterior, em sua maioria do tipo cesáreo, supondo que as que

ficaram satisfeitas desejariam o mesmo tipo de parto na gestação atual, enquanto as

insatisfeitas solicitariam outro tipo de parto. No entanto, em virtude do pequeno

grupo formado por pacientes insatisfeitas com o parto anterior, não foi possível

demonstrar essa associação por meio das análises estatísticas.

A maioria dos partos estudados na amostra analisada foi cesariana (88,4%), taxa

essa similar às cifras observadas em 2006 nos hospitais selecionados, refletindo a

possibilidade de extrapolação da amostra para o universo de mulheres atendidas no

sistema privado de saúde do município de São Paulo. Observa-se, ainda na Tabela

2, que não houve diferença estatisticamente significante na taxa de cesárea entre

mulheres que não tinham partos anteriores e aquelas com um ou mais partos

anteriores, 89,0% 87,1%, respectivamente (Qui-quadrado=0,21, 1 gl, p=0,34)

138

Tabela 2 – Características das pacientes com relação aos antecedentes obstétricos (n=250), Hospital, 2007

Variáveis Freqüência absoluta

%

Partos Anteriores

Nenhum 146 59,1

Um ou mais 101 40,9

Tipo de Parto Anterior

Vaginal 24 23,8

Cesárea 77 76,2

Satisfação com Partos

Anteriores (1)

Satisfeita 88 88,0

Insatisfeita 12 12,0

Tipo de Parto Atual (2)

Cesárea 221 88,4

Vaginal 29 11,6

(1) Satisfação: IC95%: 80,0-93,6%

(2) Cesárea: IC95%: 83,8-92,1%

Como em nossa amostra somente duas mulheres deram à luz por parto fórcipe,

essas foram agrupadas àquelas que tiveram parto normal, sendo então classificadas

como parto vaginal. O outro grupo foi chamado de pacientes que tiveram cesárea.

Agrupamos as pacientes de acordo com o tipo de parto realizado na gestação em

estudo, denominado evento-chave, e analisamos as variáveis em cada grupo, com o

intuito de encontrar fatores associados à realização de determinado tipo de parto.

Separamos as pacientes em três faixas etárias, conforme Tabela 3, e analisamos o

tipo de parto realizado. Embora em nossa amostra houvesse 63,2% de mulheres

com 30 anos ou mais, caracterizando uma população de mulheres maduras, levando

à expectativa de maior número de cesáreas entre essas pacientes, não encontramos

diferenças estatisticamente significantes entre o tipo de parto e as faixas etárias

definidas. Nas três faixas etárias, as taxas de cesárea foram superiores a 84%

(Tabela 3).

Buscou-se analisar a associação entre o tipo de parto realizado e o grau de

escolaridade. Observa-se diferença estatisticamente significante entre essas

139

variáveis: o grupo de mulheres com nível educacional a partir de superior apresentou

maior associação com realização de cesáreas, enquanto que aquelas com nível

educacional até segundo grau completo tiveram mais partos vaginais (Tabela 3).

As demais variáveis sócio-culturais também foram analisadas em relação ao evento-

chave. Além da maior prevalência de parto cesárea em mulheres de maior nível

educacional, houve diferença estatisticamente significante entre o tipo de parto e o

trabalho fora do lar. Aquelas pacientes que trabalham fora de casa tiveram mais

partos cesáreos, enquanto as que não tinham trabalho fora de casa tiveram mais

partos vaginais. Isso pode ser explicado por uma eventual praticidade e

conveniência para a paciente que trabalha fora em agendar seu parto, adaptando

sua vida profissional à pessoal.

Observamos ainda maior prevalência de cesáreas entre as mulheres com renda

familiar maior de 10 salários-mínimos (SM). Ao analisarmos as pacientes que

tiveram parto vaginal, observamos forte associação entre esse tipo de parto e renda

familiar inferior a essa cifra, definida como ponto de corte, sugerindo que essa

clientela, embora inclusa no modelo de saúde privado, tivesse um comportamento

diverso do restante da amostra.

Em todas as raças houve predomínio de cesáreas em relação a parto normal. Porém

mulheres da raça amarela tiveram, de forma estatisticamente significante, maior

incidência de partos vaginais (Tabela 3). Embora haja estudos que sugerem

diferenças entre o nível de tolerância à dor em determinados grupos populacionais,

não foi encontrada, no referencial teórico, justificativa para tal resultado. Uma

explicação possível seria a característica cultural de mulheres de raça amarela em

tolerar mais facilmente as sensações dolorosas, favorecendo a tentativa de parto

vaginal.

140

Tabela 3 – Taxas de cesárea segundo características sócio-econômicas, Hospital, 2007

Variáveis Cesárea

%

Vaginal

%

Qui-quadrado; gl (3); p

Faixa Etária

17-29 anos 84,8 15,2 1,95;2; 0,377

30-39 anos 90,8 9,2

40 anos ou mais 88,2 11,8

Escolaridade

Até 2º Grau Completo 79,7 20,3 6,37; 1; 0,012 (2)

3º Grau e mais 91,4 8,6

Cor/Raça (1)

Branca 90,2 9,8 p=0,031

Negra/Parda 89,7 10,3

Amarela 66,7 33,3

Trabalha Fora

Sim 90,5 9,5 4,01;1;0,045 (2)

Não 80,4 19,6

Renda

10 SM ou menos 81,7 18,3 7,62; 1; 0,006 (2)

Mais de 10 SM 93,2 6,8

(1) Comparando-se taxa de cesárea de mulheres da raça amarela com outras encontramos uma

diferença estatisticamente significante (p=0,031 pelo Teste Exato de Fisher)

(2) Testes com significância estatística

(3) gl. = graus de liberdade

Na Tabela 4 detalhamos as variáveis relacionadas à quantidade de consultas

realizadas no pré-natal e às informações obtidas durante essa assistência, buscando

associá-las ao tipo de parto realizado. Observando a amostra como um todo (coluna

Geral % da Tabela 4), identificamos que 93,6% das pacientes realizou mais de 7

consultas pré-natal, demonstrando adequação da assistência nessa fase da

gravidez, visto ser consenso publicado pelo Ministério de Saúde que um total de seis

ou mais consultas caracteriza assistência pré-natal completa favorecendo,

juntamente com outros quesitos fundamentais dessa assistência, a preservação da

saúde da mãe e do seu feto (BRASIL, 2000c). Em relação a esta variável não houve

associação entre tipo de parto e número de consultas maior ou menor a 7. Alguns

trabalhos da literatura relatam que a quantidade de consultas de pré-natal atua como

fator de risco para a realização da cesariana. Cabral (2003) identificou que pré-natal

141

inadequado, caracterizado por um número de consultas inferior a 6, propiciou maior

incidência de parto cesáreo em uma maternidade pública. Hernandez et al. (2000),

estudando assistência obstétrica em serviço privado, não constataram relação entre

essa variável e o tipo de parto realizado. Possivelmente, devido a diferenças entre

as clientelas dos sistemas público e privado, não seja factível estabelecer uma regra

para essa associação sem levar em consideração o modelo assistencial oferecido.

As demais variáveis descritas na Tabela 4 referem-se a algumas informações que

poderiam ser fornecidas no pré-natal e que poderiam influenciar na escolha pelo tipo

de parto. Não houve diferenças significativas entre o tipo de parto e as variáveis

informações recebidas sobre anestesia para parto normal, informações sobre dores

do trabalho de parto e sintomas após o parto normal e informações sobre os riscos

para os dois tipos de parto. Essas informações em geral permeiam o imaginário das

mulheres durante a gestação levando, eventualmente, a escolhas ou preferências

por determinado tipo de parto. No entanto, os resultados demonstraram que, do

ponto de vista da paciente, as informações recebidas ou compreendidas por elas

para esclarecer eventuais dúvidas que ocorrem durante a gestação foram

semelhantes nos dois grupos de mulheres.

Algumas informações recebidas durante o pré-natal apresentaram-se de forma

diferente entre os grupos de pacientes nos diferentes tipos de parto. Embora os

testes estatísticos não tenham demonstrado significância, o nível de informação

recebida sobre os tipos de parto parece estar associado ao tipo de parto realizado,

em especial entre aquelas que se submeteram à cesariana. Observa-se, no entanto,

que o grupo de mulheres que tiveram cesárea recebeu de forma significativa mais

informações sobre a anestesia nesse tipo de parto e sobre os sintomas após o parto

cirúrgico. A reflexão sobre esses resultados não traz uma resposta definitiva. Uma

possível explicação seria que, para esse grupo, previamente interessado em realizar

essa cirurgia, algumas informações referentes à cesárea fossem primordiais e

necessárias para sua escolha, e por isso essas pacientes as teriam buscado de

forma intencional (Tabela 4).

142

Tabela 4 – Quantidade de Consultas e Informações Recebidas na Assistência Pré-natal, segundo o tipo de parto, Hospital, 2007

Variáveis Cesárea

%

Vaginal

%

Geral

%

Qui-quadrado; gl; p

Consultas pré-natal (n=249)

Até 7 consultas 6,8 3,4 6,4 0,48; 1; 0,487

Mais de 7 93,2 96,6 93,6

Informações sobre:

Tipo de parto

Sim 90,5 79,3 89,2 3,33; 1; 0,068

Não 9,5 20,7 10,8

Anestesia parto normal

Sim 59,3 55,2 58,8 0,018; 1; 0,673

Não 40,7 44,8 41,2

Anestesia parto cesárea

Sim 69,2 48,3 66,8 5,07; 1; 0,024 (1)

Não 30,8 51,7 33,2

Dores trabalho de parto

Sim 56,1 48,3 55,2 0,63; 1; 0,425

Não 43,9 51,7 44,8

Sintomas após parto normal

Sim 49,3 48,3 49,2 0,01; 1; 0,915

Não 50,7 51,7 50,8

Sintomas após parto cesárea

Sim 64,3 41,4 61,6 5,67; 1; 0,017 (1)

Não 35,7 58,6 38,4

Riscos parto normal

Sim 44,3 34,5 43,2 1,01; 1; 0,313

Não 55,7 65,5 56,8

Riscos parto cesárea

Sim 50,2 37,9 48,8 1,55;1; 0,213

Não 49,8 62,1 51,2

(1) Testes com significância estatística

Embora Hotimsky et al. (2002) tenham relatado que a abordagem médico-cirúrgica

do parto tenderia a superestimar os riscos inerentes ao processo fisiológico do parto

normal, levando à gestante a percepção de que não há riscos no parto cesáreo,

observa-se na presente pesquisa que as mulheres relataram ter recebido

informações sobre os riscos de ambos os tipos de parto. Os resultados

143

apresentados na Tabela 5 confirmam essa afirmação, uma vez que, do ponto de

vista das pacientes, o nível de informação recebida no pré-natal foi considerado

suficiente nos dois grupos estudados.

Apesar de a maioria das mulheres não ter realizado curso de gestante, programa

oferecido pelas grandes maternidades para essa clientela, elas obtiveram

informações por meio de outras fontes às quais tinham acesso, como revistas,

internet etc. (Tabela 5). Esse fato realça a relevância dos fatores sócio-culturais

dessas gestantes, refletindo seu elevado nível educacional e a possibilidade de

acesso a diversos meios de informação.

Tabela 5 - Informações obtidas sobre o parto segundo sobre tipo parto, Hospital, 2007

Variáveis Cesárea Vaginal Geral (1) Qui-quadrado; gl; p

% % %

Nível de informação sobre tipos de

partos

Suficiente 91,3 96,4 91,9 0,87;1; 0,348

Insuficiente 8,7 3,6 8,1

Curso durante gravidez

Sim 17,3 13,8 16,9 0,22; 1; 0,638

Não 82,7 86,2 83,1

Outras fontes informação

Sim 81,0 75,9 80,4 0,429; 1; 0,512

Não 19,0 24,1 19,6

(1) Inclui toda a amostra de pacientes.

Vários estudos brasileiros e internacionais estudaram a preferência das mulheres

sobre o tipo de parto (FAUNDES, 2004; WAX et al., 2004; FAISAY-CURY;

MENEZES, 2006). Em nosso estudo, 54% das mulheres desejavam ter parto normal

no início da gestação, enquanto 34% desejavam cesárea. Quando observamos o

tipo de parto realizado em relação ao desejo no inicio da gestação, vemos que, das

que tiveram parto normal, 76% desejavam esse tipo de parto desde o início. Esse

fato corrobora o estudo sueco de Hildingsson (2006), que demonstrou a influência

do desejo materno no tipo de parto realizado. Por outro lado, 51% das mulheres que

foram submetidas à cesariana tinham, inicialmente, desejo pelo parto normal (Tabela

144

6), fato que sugere mudança de opinião materna durante a gravidez, excetuando-se

os casos onde o médico tomou a decisão independentemente da vontade materna.

Analisou-se, então as mudanças de opinião das gestantes após o recebimento de

informações no decorrer da gestação. Observa-se que, tanto entre as mulheres que

tiveram parto normal, quanto entre aquelas que tiveram cesárea, apenas 18%

mudaram de opinião. No entanto, ao observarmos somente as pacientes que

mudaram de opinião durante a gestação, associando esta mudança ao tipo de parto

realizado, identificamos uma diferença estatisticamente significante. Vinte e quatro

por cento das mulheres que desejavam parto normal no inicio mudaram de opinião

no decorrer da gestação, enquanto apenas 7,1% das que desejavam cesárea

mudaram seu desejo (Qui-quadrado=10,81, 1 gl, p=0,001) (Tabela 6). Esses

resultados demonstram que há fatores associados à dinâmica da assistência

obstétrica que influenciam as decisões pelo tipo de parto, como por exemplo

oscilações psicológicas e/ou emocionais maternas durante a gravidez, adaptações

ou conveniência da mulher, da família ou do médico, dentre outros.

Tabela 6 – Associação entre o desejo materno no início da gestação e eventual mudança de opinião e o tipo de parto realizado, Hospital, 2007

Variáveis Cesárea Vaginal Geral Qui-quadrado; gl; p

% % %

Desejo início gestação (n=249)

Parto normal 51,4 75,9 54,2 6,22; 2; 0,045 (1)

Parto cesárea 36,4 17,2 34,1

Indiferente 12,2 6,9 11,7

Mudou com informações (n=244)

Sim 19,1 13,8 18,4 0,47; 1; 0,491

Não 80,9 86,2 81,6

(1) teste com significância estatística

Notas: 1. 54,2% das mulheres desejavam parto normal no início da gestação (IC95%: 47,8-60,5%)

A maioria das pacientes da amostra desse estudo disse ter participado da decisão

pelo tipo de parto. Somente 20,8% delas declararam que não influenciaram na

escolha, enquanto 79,2% percebe ter participado de maneira integral (a escolha

dependeu apenas do seu desejo) ou parcial (a escolha foi feita em conjunto com o

médico). Com relação ao tipo de parto, houve diferenças estatisticamente

145

significantes na participação materna: 100% das mulheres que tiveram parto vaginal

dizem ter participado da decisão, sendo que na maioria dos casos (82,8%) essa

participação foi considerada por elas como integral (Tabela 7).

Tabela 7 – Associação entre grau de participação materna na decisão do tipo de parto e tipo parto realizado, Hospital, 2007

Variáveis Cesárea Vaginal Geral Qui-quadrado; gl; p

Participação % % %

Integral 35,7 82,8 41,2 24,3; 2 <0,001 (1)

Parcial 40,7 17,2 38,0

Nenhuma 23,6 - 20,8

Momento da decisão (2) (n=204)

Início 38,8 79,4 44,5 16,1; 1; <0,001(1)

Final gestação 40,6 10,4 36,3

Após internação 10,3 3,4 9,3

Após informação médico 8 3,4 7,4

Após informações outras fonte 2,3 3,4 2,5

(1) testes com significância estatística.

(2) Para essa análise, unimos os resultados de final de gestação, após a internação, após a

informação do médico e de outras fontes, comparando-os aos dados do início da gestação.

Esses resultados corroboram o poder de negociação de mulheres com o perfil sócio-

cultural encontrado atendidas no sistema privado de saúde. Como pudemos

observar em nossa amostra, há mulheres de faixa etária mais elevada, com alto grau

de instrução e que consideram satisfatório o nível de informações obtidas durante a

gestação. Essas características, associadas ao modelo assistencial privado de

nosso país, levam a um relacionamento médico-paciente propício para possíveis

negociações sobre escolhas referentes ao tipo de assistência obstétrica desejado.

A análise dos fatores motivadores para o tipo de parto deve ser realizada sob ótica

interdisciplinar, onde as relações de poder e dominação do corpo da mulher por

meio da práxis obstétrica estão intimamente associadas aos desejos e necessidades

dos personagens desse “jogo”, a gestante e seu médico, que negociam alternativas,

independentemente do que propõem as normas de boa conduta técnica, numa

relação de poder (GENTILE; LOPES; CUNHA, 2000). Para as mulheres atendidas

no modelo privado de saúde, há possibilidade de escolhas, inclusive do profissional

146

que irá atendê-las, o qual, frequentemente, realizará o seu pré-natal e o parto.

Assim, estabelece-se um contrato tácito entre as partes, cujas decisões e condutas

muitas vezes permeiam a relação médico-paciente e necessitam ser consensuais.

Para essas mulheres encaixa-se a definição de consumidor ou cliente, termos que

começaram a ser usados de maneira mais freqüente a partir dos anos 1990,

paralelamente à de paciente e usuário. Sitzia e Wood (1997) defendem a idéia de

que o termo consumidor confere maior autonomia ao relacionamento profissional-

paciente, ao contrário do tradicional termo “paciente”, que estaria associado à falta

de poder e dependência em relação ao médico. Alguns autores associam o termo

consumidor a um indivíduo racional, consciente de suas escolhas e capaz de

defender seus direitos. Esta visão seria a do “bom consumidor” – aquele que faz

escolhas e assimila informações, para cumprir seu papel. Ou seja, sujeito de desejo,

vontade, informação e direitos.

Para Dinsdale et al.16 (2000, apud VAITSMANN; ANDRADE, 2005), também é

preciso levar em conta algumas diferenças relevantes quando se avaliam serviços

públicos e privados. No setor público, o usuário pode se colocar ora como

consumidor, avaliando os serviços do ponto de vista de seus ganhos individuais, ora

como cidadão, avaliando os serviços ao levar em conta a sociedade como um todo.

Como consumidor, ele pode desejar um tempo de espera menor para a consulta e

atendimento mais ágil mas, como cidadão, pode querer que todas as pessoas sejam

atendidas, implicando em um tempo de espera maior. Para esses autores, no que se

refere à escolha, no setor privado, o cliente pode procurar outro serviço ou outro

profissional, enquanto no setor público essa possibilidade é limitada, quando não

impossível. Portanto, podemos entender que as pacientes da amostra exerceram

seu papel de consumidoras, assumindo o direito de escolha do tipo de parto. Para

Hotimsky et al. (2002), dentre as explicações para as taxas de cesárea no Brasil

estão a organização da assistência obstétrica e a demanda por cesarianas pelas

parturientes, considerada por essas demandantes uma prática segura.

16 DINSDALE, G.B., MANSON, D.B., SCHMIDT F., STRICKLAND, T. Metodologia para medir a satisfação do usuário no Canadá: desfazendo mitos e redesenhando roteiros. Brasília, ENAP, 2000, n. 20.

147

Dentre os resultados apresentados na Tabela 7, há aqueles relacionados ao

momento da decisão das pacientes que participaram na escolha do tipo de parto e

sua relação com o parto realizado. Entre as mulheres que tiveram parto vaginal e

participaram dessa escolha, essa decisão ocorreu predominantemente no início da

gestação, enquanto que a maioria das mulheres submetidas à cesariana tomou essa

decisão no final da gravidez. Esse resultado, analisado em conjunto com aquele

apresentado sobre a mudança de opinião do tipo de parto desejado (Tabela 6),

demonstra que algo possivelmente ocorre durante a gravidez, levando à decisão

pela cesárea. Ao longo de nove meses ocorrem grandes transformações no corpo e

na vida emocional da mulher. Cada gestante vivencia essas transformações à sua

maneira. Surpresas, dúvidas, medos, alegrias e angústias, ou seja, uma diversidade

de estados e sentimentos que vão da plenitude total à angústia e pânico, permeiam

essa experiência, seja ela vivida pela primeira vez ou não (CONSONNI et al., 2003).

Szejer e Stewart17 (1997, apud CONSONNI et al., 2003) concluem que, do ponto de

vista psíquico, o final da gestação é um período atormentado. A perspectiva de

separar-se do filho reaviva na futura mãe suas experiências anteriores de

separação. Muitas não se sentem preparadas e vivem dolorosas angústias.

Para Szejer e Stewart (1997 apud CONSONNI et al., 2003), existiria a possibilidade

de um convencimento do médico de que um determinado tipo de parto seria “melhor”

para a mãe e seu feto. Em nosso estudo, partindo da premissa de que a mudança

do tipo de parto não ocorreu por motivos clínico-obstétricos e sim por alterações no

desejo materno, suspeita-se que esta tenha sido devida às alterações emocionais ou

psicológicas da gestante ou à maior conveniência para a família e/ou para o médico.

Em função do aspecto psicológico influenciando a escolha pelo tipo de parto, muitos

estudos sugerem a necessidade de os serviços de saúde se empenharem na

conscientização da sociedade sobre os riscos do parto cirúrgico, buscando reduzir

os receios do parto vaginal. Numa revisão sistemática do Instituto Cochrane sobre

essas iniciativas, avaliando trabalhos publicados sobre as informações fornecidas à

gestante sobre parto cesáreo, Horey et al. (2004) encontraram apenas dois estudos

randomizados e controlados, um norte-americano e um finlandês, envolvendo, ao

17 SZEJER, M., STEWART, R. Nove meses na vida da mulher: uma abordagem psicanalítica da gravidez e do nascimento. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1997.

148

todo, 1451 mulheres. Ambos trabalhos almejavam reduzir as taxas de cesárea

encorajando as mulheres a tentar o parto vaginal, por meio de programas de pré-

natal ou terapias cognitivas para reduzir o medo. No entanto, esses programas não

surtiram efeito na redução do parto cesáreo.

Os resultados apresentados na Tabela 8 buscaram definir os motivos que

influenciaram a decisão materna sobre o tipo de parto escolhido. Contrariando

muitos estudos (LAND, 2001; CONSONNI et al., 2003), não foi observada diferença

estatisticamente significante entre motivos como ansiedade pelo término da

gestação, medo das dores do parto normal, receio de problemas sexuais após o

parto vaginal ou temores sobre eventuais problemas com o recém-nascido,

decorrentes de um ou outro tipo de parto e o tipo de parto realizado. No entanto, a

variável medo das dores após o parto cesáreo foi estatisticamente significante entre

mulheres submetidas ao parto vaginal, demonstrando que essas pacientes

distinguiam claramente a dor do trabalho de parto daquela após a cirurgia, optando

pela primeira, conforme já demonstrado nos trabalhos de Hopkins (2000), Osis et al.

(2001) e Tedesco et al. (2004). Por outro lado, a praticidade de agendar o parto foi

extremamente relevante para a escolha do parto cesáreo.

149

Tabela 8 – Fatores que estariam associados à decisão sobre o tipo de parto, em relação ao tipo parto realizado, Hospital Santa Catarina, 2007

Fatores Cesárea Vaginal Geral Qui-quadrado; gl; p

% % %

Ansiedade ao término gestação

(n=207)

Sim 39,3 51,7 41,1 1,58;1; 0,208

Não 60,7 48,3 58,9

Medo da dor parto normal (n=207)

Sim 37,6 24,1 35,7 1,97;1;0,159

Não 62,4 75,9 64,3

Medo da dor após parto cesárea

(n=208)

Sim 30,7 55,2 34,1 6,63;1;0,010 (1)

Não 69,3 44,8 65,9

Medo de problemas de sexualidade

após parto normal (n=205)

Sim 7,4 3,4 6,8 0,61; 1; 0,436

Não 92,6 96,6 93,2

Praticidade de agendar parto

(n=207)

Sim 36,0 6,9 31,9 9,69; 1; 0,002 (1)

Não 64,0 93,1 68,1

Medo de problemas recém-nascido

devido à cesárea (n=205)

Sim 13,6 17,2 14,1 0,391(1)

Não 86,4 82,8 85,9

Medo problemas recém-nascido

devido ao parto normal (n=200)

Sim 22,2 17,2 21,5 0,364; 1; 0,546

Não 77,8 82,8 78,5

Realização ligadura de tubas

(n=195)

Sim 9,0 - 7,7 0,089(2)

Não 91,0 100,0 92,3

(1) testes com significância estatística

(2) Teste Exato de Fisher

150

Observa-se que essa população representada na amostra de pacientes, além de

participar integral ou parcialmente nas escolhas pelo tipo de parto, de ter elevado

grau de escolaridade e de trabalhar fora, opta pelo parto cesáreo possivelmente por

ele ser mais conveniente para si, já que o agendamento do parto pode ser muito

prático na organização da vida profissional.

As questões relacionadas à sexualidade, também apresentadas na Tabela 14, são

freqüentemente discutidas como um dos fatores fortemente associados à escolha

pela cesárea (FAÚNDES; CECATTI, 1991; HOTIMSKY; SCHRAIBER, 2005). No

entanto, esse aspecto não apresentou importância para a amostra em geral, nem

esteve associado ao tipo de parto realizado. Da mesma maneira, essas mulheres da

amostra não relataram, em sua maioria, medo de problemas com o recém-nascido

decorrentes do parto, em ambos os tipos analisados. Provavelmente, o maior acesso

às informações e o seu entendimento propiciaram esses resultados, tornando as

mulheres mais confiantes e seguras. Outro fator envolvido nessa sensação de

segurança materna quanto aos resultados neonatais está na forma de

relacionamento médico-paciente, que ocorre de maneira estreita no modelo

assistencial privado. A mulher escolhe seu obstetra para realizar seu pré-natal,

confiando-lhe a responsabilidade de realizar seu parto.

Alguns autores relataram que a ligadura das tubas uterinas para a esterilização

feminina definitiva tem sido uma das grandes causas de cesárea em nosso país

(FAÚNDES; CECATTI, 1991, HOPKINS, 2000). De certa maneira, essa relação de

causa e efeito faz sentido quando, no serviço público de saúde, observamos as

dificuldades de acesso a métodos contraceptivos. Em contrapartida, para mulheres

assistidas no sistema privado, onde geralmente há acesso a esses métodos, ocorre

outro fato que favoreceria a realização da cesárea para execução da ligadura das

tubas: ausência de cobertura da maioria dos planos de saúde para a realização

desse procedimento. Ou seja, uma vez que os planos de saúde não dão cobertura

para realização da esterilização definitiva, masculina ou feminina, a mulher

necessitaria internar-se em uma unidade hospitalar e arcar com os custos médicos e

hospitalares desse procedimento. Assim, para evitar esse desembolso, a paciente

utilizaria a internação hospitalar para dar à luz, realizando durante uma cesariana a

ligadura das tubas uterinas. Em nossa amostra, no entanto, essa relação de causa e

151

efeito não foi evidenciada, uma vez que somente quatro em 221 mulheres (1,8%)

executaram esse procedimento durante a cirurgia. (Tabela 8).

Domingues et al. (2004), em estudo brasileiro avaliando a satisfação de 246

puérperas de parto vaginal de um serviço público, identificaram aproximadamente

33% de mulheres com algum grau de insatisfação, o que é expressivo, pois foram

excluídos da amostra os casos de resultados neonatais negativos, como óbitos.

Suas queixas baseavam-se principalmente no sofrimento durante o parto, na demora

do parto e na precária atenção da equipe. O relacionamento da mulher com a equipe

dos profissionais de saúde é tido como um dos fatores que mais afetam a memória

das mulheres em relação à experiência do parto, influenciando o grau de satisfação.

Consta que as gestantes (como aliás boa parte dos pacientes hospitalizados)

valorizam conforto físico, suporte psicológico, cuidado personalizado, privacidade e

cuidado fornecido por um número pequeno de profissionais que respondam as suas

perguntas e reconheçam suas necessidades (MURRAY; WILCOCK; KOBAYASHI,

1996).

Pode-se associar a valorização do atendimento recebido e seu grau de satisfação ao

tipo de contato que o paciente tem com o profissional de saúde. Embora o modelo

assistencial público de saúde possa fornecer assistência aos seus usuários de

maneira personalizada, com o conforto e os cuidados desejados por esses, a forma

de organização da prática obstétrica no modelo privado tem maiores condições de

viabilizar esse tipo de atendimento, onde a usuária tem a possibilidade de escolher o

profissional que deseja e que forneça os cuidados mencionados, havendo maior

probabilidade de ficar satisfeita.

Cohen (2005) demonstrou correlação entre o nível de satisfação das pacientes com

os cuidados pré-natais e o índice de cesáreas. Nesse estudo, embora declarada

pelo próprio autor a limitação da relação de causa e efeito entre essas variáveis,

observou-se que os profissionais que tinham menor índice de cesáreas eram

aqueles que apresentavam os maiores níveis de satisfação durante o pré-natal das

suas pacientes.

152

Há muitas iniciativas internacionais para conhecer as percepções das mulheres a

respeito da assistência obstétrica e suas experiências individuais com a

maternidade. O Canadá realizou uma grande Pesquisa Nacional sobre a Experiência

da Maternidade. Em 2002/2003, esse país realizou um teste piloto para validar o

instrumento de pesquisa e para ajustar a metodologia. Observou-se 65% de

mulheres muito satisfeitas e 23% de mulheres satisfeitas com a assistência ao parto

(DZAKPASU; CHALMERS, 2005). O estudo completo, com mais de 6500 mulheres,

foi realizado em 2005 e será divulgado provavelmente em 2008. Domingues et al.

(2004) retratam as dificuldades, relatadas na literatura, com relação à complexidade

de avaliar a satisfação das mulheres em relação à assistência ao parto. As

pacientes, em geral, têm dificuldade em criticar o serviço de saúde e os profissionais

que as atenderam. Além disso, as mulheres tendem a se sentir aliviadas,

agradecidas e com sentimentos positivos após o nascimento de uma criança

saudável, compensando qualquer experiência negativa durante o atendimento.

Porém os estudos geralmente abordam mulheres assistidas pelo sistema público de

saúde. Membros de classes sociais distintas relacionam-se de forma diferenciada

com os cuidados de saúde, seja pela percepção de suas necessidades, pelas

expectativas que alimentam ou pelos recursos de que dispõem (FARIAS, 2001).

Embora possa haver dúvidas na relação entre satisfação após a cesárea e a

preferência sobre esse tipo de parto, pois poderia haver uma aceitação da paciente

perante os motivos dados pelo médico para a realização deste procedimento ou

sentimentos de agradecimento, consideramos que as mulheres da amostra em

nossa pesquisa, caracterizadas por elevado nível sócio-cultural e autonomia, não

desempenhariam um papel passivo nessa avaliação de satisfação. No presente

estudo observamos que, independentemente do tipo de parto realizado, o grau de

satisfação das mulheres com a assistência foi elevadíssimo, acima de 96% (Tabela

9).

153

Tabela 9– Satisfação das pacientes em relação ao tipo de parto realizado (n=250), Hospital, 2007

Tipo de Parto Satisfação IC95%

%

Cesárea 97,3 94,2-99,0

Vaginal 96,6 82,2-99,9

Geral 97,2 94,3-98,9

Qui-quadrado= 0,05, 1gl, p=0,822

O envolvimento no processo decisório e no controle da situação tem sido apontado

como quesito fundamental para a satisfação das mulheres com os serviços ou

profissionais que realizam seus partos (MURRAY; WILCOCK; KOBAYASHI, 1996).

Nossos resultados corroboram estes achados, uma vez que também se verificou

elevado grau de participação na decisão. Além disso, ao analisar o grau de

satisfação das pacientes em função do tipo de parto desejado no início da gestação,

não houve diferença estatisticamente significante entre essas variáveis (p>0,05),

apesar de parte das mulheres da amostra terem desejado um tipo de parto no início

da gestação e sido submetidas a outro.

Antes dos anos 1980 era comum as mulheres terem maior número de filhos, a

maioria nascendo por parto vaginal, sendo a primeira gestação em idades abaixo

dos 30 anos e, eventualmente, como se observa até hoje, freqüentemente durante a

adolescência. Durante esta pesquisa analisamos a história obstétrica das mulheres

dessa geração anterior, ou seja, das mães das pacientes entrevistadas.

Identificamos que 73,2% das mães das pacientes tiveram três ou mais filhos, sendo

que somente 22% delas tiveram todos os seus partos por cesárea, confirmando

uma mudança comportamental ocorrida em nossa sociedade no período. Buscamos

identificar se pessoas próximas à gestante, em particular sua mãe, influenciaram na

escolha do tipo de parto. Partindo-se da premissa de que a experiência prévia e as

opiniões que suas mães tinham em relação aos tipos de parto teriam elevado peso

sobre as decisões tomadas pelas gestantes, realizou-se análises estatísticas para

estudar essas associações. No entanto, não encontramos diferenças

estatisticamente significantes entre os tipos de parto das parturientes e de suas

154

mães (Tabela 10). Segundo as pacientes, suas mães não teceram comentários

sobre sua experiência no parto em 32,4% das vezes, enquanto 32% se

manifestaram sobre as desvantagens da cesárea e vantagens do parto normal.

Somente 16,8% das mulheres referiram que suas mães abordaram vantagens da

cesariana e desvantagens do parto normal (Tabela 11). Possivelmente, em função

do índice de cesáreas em nosso trabalho, as experiências vividas pelas mães das

pacientes de nossa amostra não influenciaram nas escolhas pelo tipo de parto.

Tabela 10 – Relação entre o tipo de parto realizado nas mães das pacientes e o tipo de parto realizado nas pacientes (n=250), Hospital, 2007.

Tipo de parto da mãe Cesárea Vaginal Qui-quadrado; gl; p

% %

Cesárea 85,7 14,3 2,83; 2 gl; 0,242

Vaginal 94,5 5,5

Variado 87,2 12,8

Fórceps(1) 100,0 -

(1) Apenas 2 mulheres

Tabela 11 – Comentários feitos pelas mães das pacientes sobre os diferentes tipos de parto (n=250), Hospital, 2007

Dificuldade (1) % IC95%

Nunca comentou 32,4 26,6-38,6

Vantagens do parto normal 22,0 17,0-27,7

Desvantagens do parto cesárea 10,0 6,6-14,4

Desvantagens do parto normal 9,6 6,2-13,9

Vantagens e desvantagens de ambos 8,8 5,6-13,0

Vantagens do parto cesárea 7,2 4,3-11,1

Não me lembro 1,6 0,4-4,0

Nota: (1) As categorias não são excludentes, possibilitando a cada respondente escolher mais de uma alternativa.

Podemos entender que, na época em que as mães dessas pacientes deram à luz,

as questões relativas à utilização de tecnologia,à disponibilidade de informação, ao

modelo assistencial baseado em planos de saúde, entre outras, eram diversas das

do momento atual. Essas mudanças de comportamento podem estar associadas

ainda à emancipação feminina e inserção da mulher no mercado de trabalho, à

ampliação da utilização de métodos contraceptivos, por exemplo. Observamos, nas

155

palavras de um dos maiores professores de obstetrícia do país a mudança

comportamental das pacientes e dos médicos nos últimos anos: “No domínio das

indicações, há preconceitos a erradicar. A cesárea é ainda considerada por alguns

como o “último recurso” ou o malogro da assistência obstétrica, quando deveria ser

encarada como uma das duas grandes ‘vias’ do parto e ser realizada sem grande

demora quando o tirocínio e a sagacidade do obstetra assim o decidam. Servir-se do

‘talho cesáreo’ como último recurso é obter ominosa constante: baixa incidência de

cesárea e alta mortalidade perinatal. A filosofia de que todo parto vaginal é vitória da

arte obstétrica é perigosa atitude” (REZENDE, 1969, p.984). Observa-se uma

mudança de comportamento médico acadêmico, transitando da década de 1950

quando se evitava ao máximo procedimentos cirúrgicos, aos dias atuais, onde a

tecnologia médica favorece melhores resultados (ABOUZAHR; WARDLAW, 2001;

VADNAIS; SACHS, 2006). “Não é surpreendente que se ampliem as indicações,

aumentando a incidência de cesarianas, pois ambas caminham paralelamente com

os avanços da tecnologia e com a progressiva redução da mortalidade materna e

perinatal” (REZENDE, 1969).

Na Tabela 12 relatamos o desejo por tipo de parto numa eventual gravidez futura. A

maioria das mulheres entrevistadas (64,8%) não deseja outra gestação ou não sabe

se terá mais filhos, fato compreensível em virtude do momento de realização da

pesquisa. Logo após o nascimento, ainda na maternidade, é pouco provável que a

mulher pense em nova gestação. Na análise estatística, não observamos diferença

significativa entre o desejo por tipo de parto em futura gravidez e o parto realizado.

Independentemente do tipo de parto a que a paciente se submeteu, 22% de

mulheres (Intervalo de Confiança de 95%: 17,0-27,7%) desejariam ter o mesmo

parto numa eventual futura gestação, enquanto 13,2% (Intervalo de Confiança de

95%: 9,3-18,0%) prefeririam outro tipo (Qui-quadrado=4,44, 3 gl, p=0,218).

156

Tabela 12 – Escolha do tipo de parto numa futura gestação segundo tipo de parto (n=250), Hospital, 2007

Tipo de parto Cesárea Vaginal Total

% % %

Mesmo 20,8 31,0 22,0

Outro 14,5 3,5 13,2

Não deseja outra gestação 37,1 44,8 38,0

Não sabe 27,6 20,7 26,8

Nota: Qui-quadrado=4,44, 3 gl, p=0,218

Fizemos uma outra análise sobre esses dados, excluindo as pacientes que relataram

não desejar outra gestação ou não saber que tipo de parto desejarão, com o objetivo

de verificar o tipo de parto desejado em eventual futura gravidez de acordo com o

tipo de parto realizado. Pudemos observar que 90% das mulheres que tiveram parto

vaginal desejariam realizar o mesmo tipo de parto, e que 41% das que fizeram

cesárea desejariam ter parto vaginal em eventual futura gravidez, embora sem

significância estatística (p>0,05), conforme ilustrado na Tabela 13. Esse achado

demonstra que, embora as pacientes tenham ficado, em sua maioria, satisfeitas com

o tipo de parto, a satisfação é algo extremamente complexo, que envolve não só o

resultado final da prestação de serviço mas todo o rol de eventos e comportamentos

ocorridos durante a assistência obstétrica, necessitando de análises em maior

profundidade para o seu real entendimento.

Tabela 13 – Desejo das mulheres em relação a uma eventual futura gravidez, excluindo pacientes que não desejam outra gravidez ou não sabem referir, segundo tipo de parto, Hospital, 2007

Desejo Cesárea

%

Vaginal

%

Teste Exato de

Fisher – p

Realizar o mesmo tipo de parto 59,0 90,0 0,052

Realizar outro tipo de parto 41,0 10,0

Faúndes e Cecatti (1991) declararam que um dos motivos para o desejo materno

pela cesárea seria o temor das mulheres por problemas de ordem sexual ou urinária

decorrentes do parto vaginal, resultados confirmados em outros estudos (AL-MUFTI

et al., 1997; LAND, 2001). Perguntando às pacientes da amostra sobre o grau de

importância que teriam questões relativas à perda da elasticidade vaginal ou

157

problemas de bexiga decorrentes de parto normal na decisão pelo tipo de parto,

embora quase 65% das mulheres achem essas questões importantes, verificamos

que estas não serviriam de base para a tomada de decisão pelo tipo de parto.

Somente 9,6% das mulheres submetidas à cesárea declararam que essas

preocupações seriam decisivas na escolha. Cerca de 35% (IC 95%: 29,2-41,4%) das

mulheres entrevistadas acham que questões em relação à perda de elasticidade

vaginal e a problemas de bexiga decorrentes do parto normal não são importantes

na decisão pelo tipo de parto.

Tabela 14– Grau de importância para as mulheres das questões relacionadas à perda de elasticidade vaginal e a problemas de bexiga decorrentes do parto normal e sua associação com o tipo de parto realizado, Hospital, 2007

Dúvidas Cesárea Vaginal Total

% % %

São importantes e definem parto cesárea 9,6 13,8 10,1

São importantes, mas não definem parto

cesárea

56,6 41,4 54,8

Não são importantes 33,8 44,8 35,1

Nota: Qui-quadrado=2,42, 2 gl, p=0,298

A medicina pode ser entendida como prática técnica baseada na produção de

serviços de saúde subordinada à mediação de um conjunto de relações

interpessoais (MACIEL FILHO; PIERANTONI, 2004). Essas relações dependem dos

tipos diferentes do processo de trabalho médico, quais sejam trabalho autônomo,

associado às praticas liberais, trabalho assalariado público ou privado. O modelo

assistencial privado em nosso país caracteriza-se por apresentar estreito

relacionamento obstetra-gestante, reforçado durante o pré-natal, garantindo à

mulher maior segurança em saber que esse profissional, já conhecido por ela, fará a

assistência ao seu parto. Isso pode ser visualizado nos resultados apresentados na

Tabela 15, sobre a concordância das pacientes em ter o seu parto assistido por um

profissional médico diferente daquele que realizou seu pré-natal. Observamos que,

de forma estatisticamente significante (Qui-quadrado=8,97, 2 gl, p=0,011), 73,6% (IC

95%: 67,7-79,0%) das entrevistadas não aceitariam essa prática, comum no sistema

público de saúde nacional e em muitos países europeus. Analisando essa variável

concordância segundo o tipo de parto realizado, pode-se observar que 76,5% das

158

mulheres que se submeteram a cesárea e 51,7% das que tiveram parto vaginal não

concordariam de fazer seu parto com outro profissional.

Tabela 15 – Concordância com a prática de fazer pré-natal com um médico e dar à luz com outro, segundo tipo de parto, Hospital, 2007.

Concordância Cesárea Vaginal Total

% % %

Concorda 20,4 37,9 22,4

Indiferente 3,1 10,4 4,0

Discorda 76,5 51,7 73,6

Nota: Qui-quadrado=8,97, 2 gl, p=0,011

Com o objetivo de aprofundar as análises das informações obtidas nas entrevistas

com as pacientes, selecionamos algumas variáveis de interesse, analisando-as em

conjunto no sentido de identificar possíveis interações entre elas. Dizemos que há

interação entre variáveis quando o efeito simultâneo de duas ou mais variáveis é

diferente da soma de seus efeitos separados (MALHOTRA, 2006, p. 230). Os

resultados obtidos nas entrevistas mostram que a maioria das mulheres

participantes deste estudo, de elevado nível sócio-cultural, participou na decisão

pelo tipo de parto e ficou satisfeita com a assistência recebida, em função do

relacionamento estreito existente entre elas e seus médicos. Ao mesmo tempo, a

maioria (88,4%) dos partos foi por cesárea. Isto pode sugerir que esse modelo

assistencial é percebido pelas mulheres como adequado à sua necessidade. Para

verificar se este raciocínio está correto, procuramos extrair informações que

permitissem essa análise. Decidiu-se incluir a satisfação com o parto realizado e os

fatores associados à decisão pela cesárea na percepção das pacientes que tiveram

significância estatística nessa análise.

O grau de satisfação das pacientes com relação ao parto realizado demonstraria que

a forma de organização da prática obstétrica no modelo privado de saúde, embora

caracterizado por taxas de cesárea acima de 80%, é percebida como adequada pela

cliente. Segmentamos então a parte da amostra que ficou satisfeita com o parto e

procuramos identificar se havia diferenças no comportamento de algumas variáveis

sócio-culturais. Havia dúvidas se o nível de instrução e a renda da mulher

influenciariam o seu grau de satisfação após o parto, supondo que aquelas com

159

nível sócio-cultural mais elevado teriam maior probabilidade de obter informações e

elevado poder de negociação com o médico. Para essa análise, estratificamos a

amostra segundo essas variáveis e observamos que não houve interação. Esse

resultado sugere que o comportamento da variável satisfação em função do tipo de

parto realizado foi semelhante nos diversos estratos de renda e de escolaridade da

amostra (Tabela 16).

Tabela 16– Proporção de mulheres satisfeitas com o resultado do parto segundo tipo de parto e variáveis sócio-culturais, Hospital, 2007

Variáveis Cesárea

%

Vaginal

%

Teste Exato de Fisher –

p

Renda (1)

Até 10 S.M. (n=109) 97,8 100,0 0,665

10 S.M. ou mais (n=133) 96,8 88,9 0,299

Escolaridade (1)

Até 2º grau completo (n=64) 100,0 92,3 0,203

3º grau ou + (n=186) 96,5 100,0 0,578

Nota: (1) Não houve interação

Dentre os fatores apontados pelas pacientes que estariam associados à decisão

pelo tipo de parto (Tabela 8) com significância estatística, identifica-se a variável

“medo das dores do parto cesáreo”. Isolamos as pacientes que referiram esse fator

como relevante na escolha pelo tipo de parto e procuramos verificar se essa variável

se comportava de maneira diferente dependendo de a mulher já ter tido filhos ou

não. Imagina-se que esse temor à dor após a cesariana deveria ser mais freqüente

em mulheres que nunca tiveram filhos, enquanto que nas demais esse fator poderia

não ser tão relevante. Essa mesma análise foi feita utilizando algumas variáveis

sócio-culturais, supondo que a análise conjunta dessas variáveis poderia explicar

melhor o comportamento da variável “medo de parto cesáreo”.

O medo das dores de parto cesáreo foi identificado como um fator importante na

decisão pelo tipo de parto, particularmente entre as mulheres que tiveram um ou

mais partos anteriores, entre aquelas com características sócio-culturais de menor

renda e maior escolaridade e entre aquelas que trabalham fora (Tabelas 17 e 18).

No entanto, identificou-se que a variável “medo das dores do parto cesáreo” não

160

sofreu nenhuma interação com variável “número de partos anteriores”,

independentemente do tipo de parto realizado (Tabela 17). Também observamos

que não houve interação entre as variáveis sócio-culturais e o medo das dores da

cesárea (Tabela 18). Portanto, a estratificação da amostra por meio das variáveis

selecionadas não agregou informações relevantes à análise desse fator associado à

decisão pelo tipo de parto, sugerindo que o comportamento da variável “medo das

dores após o parto cesáreo” em função do tipo de parto realizado foi semelhante

para mulheres que tiveram partos anteriores ou não, sendo também semelhante

para os diversos extratos de renda, escolaridade e emprego.

Tabela 17– Proporção de mulheres que apontam o “medo das dores após parto cesáreo” como fator que influenciou a decisão pelo o tipo de parto, segundo tipo de parto e número de partos anteriores, Hospital, 2007

Partos anteriores Cesárea

%

Vaginal

%

Teste Exato de Fisher –

p

Um ou mais (n=88) 25,3 61,5 0,013

Nenhum (n=118) 34,3 50,0 0,174

Nota: Não houve interação

Tabela 18 - Proporção de mulheres que apontam o “medo das dores após parto cesáreo” como fator que influenciou a decisão sobre o tipo de parto, segundo tipo de parto e variáveis sócio-culturais, Hospital, 2007

Variáveis Cesárea

%

Vaginal

%

Teste Exato de Fisher –

p

Renda (1)

Até 10 S.M. (n=91) 31,0 60,0 0,018

10 S.M. ou mais (n=112) 30,1 44,4 0,294

Escolaridade (1)

Até 2º grau comp. (n=55) 16,7 30,8 0,232

3º grau ou + (n=153) 35,0 75,0 0,003

Trabalha (1)

Sim (n=164) 31,0 63,2 0,007

Não (n=44) 29,4 40,0 0,393

Nota: (1) Não houve interação

Outro fator relevante associado à decisão pelo tipo de parto identificado no

questionário das pacientes é a praticidade de agendar o parto. Procedeu-se, então,

161

a análises estatísticas associando os resultados dessa variável aos das variáveis

sócio-culturais selecionadas e ao número de partos anteriores. Não encontramos

interação em nenhuma das duas análises, o que pode ser visualizada nas Tabelas

19 e 20, sugerindo que o comportamento da variável praticidade de agendar o parto

em função do tipo de parto realizado foi semelhante nos diferentes estratos

analisados.

Tabela 19– Proporção de mulheres que apontam o “desejo da praticidade de agendar o parto” como fator que influenciou a decisão sobre o tipo de parto, segundo tipo de parto e número de partos anteriores, Hospital, 2007

Número de Partos Anteriores Cesárea

%

Vaginal

%

Teste Exato de Fisher –

p

Um ou mais (n=88) 34,7 7,7 0,045

Nenhum (n=117) 37,6 6,3 0,009

Nota: Não houve interação

Tabela 20 – Proporção de mulheres que apontam o “desejo da praticidade de agendar o parto”como fator que influenciou a decisão sobre o tipo de parto, segundo tipo de parto e variáveis sócio-culturais, Hospital, 2007

Variáveis Cesárea

%

Vaginal

%

Teste Exato de Fisher –

p

Renda (1)

Até 10 S.M. (n=90) 32,9 5,0 0,008

10 S.M. ou mais (n=112) 37,9 11,1 0,103

Escolaridade (1)

Até 2º grau completo (n=54) 39,0 7,7 0,031

3º grau ou + (n=153) 35,0 6,3 0,014

Trabalha (1)

Sim (n=164) 36,6 10,5 0,017

Não (n=44) 33,0 - 0,034

Nota: (1) Não houve interação

Fizemos ainda uma análise mais aprofundada das mulheres que mudaram de

opinião sobre o tipo de parto desejado durante a gravidez, buscando avaliar se

características de renda familiar e nível de escolaridade mudariam o comportamento

daquela variável, trazendo maiores explicações. No entanto, não houve associação

estatisticamente significante entre renda e escolaridade e mudança do desejo sobre

162

o tipo de parto durante a gravidez (Qui-quadrado de 0,565 e 0,807 com valores de p

0,452 e 0,369, respectivamente).

Devido à elevação da incidência de cesáreas no mundo e no Brasil, decorrentes da

solicitação materna por esse tipo de procedimento, Barbosa et al. (2003) em seu

trabalho refletiram sobre as seguintes questões:

• Se o fato de uma gestante pedir uma cesárea indicaria que ela realmente

acredita que esse procedimento é melhor do que um parto vaginal?

• Se as mulheres a solicitam, em que contexto e por que o fazem?

• Esse pedido poderia estar relacionado às condições do atendimento prestado

às mulheres nos serviços de saúde, ao desejo de laqueadura ou significa a

noção de que o parto cesáreo é a melhor opção?

Freitas (1999 apud d’ORSI, 2003), em seu trabalho realizado no Sul do Brasil,

demonstrou que apenas uma minoria das mulheres solicitou uma cesárea durante o

trabalho de parto. Nesse estudo, os obstetras raramente se colocaram como

responsáveis pelas altas taxas de cesárea e, quando o fizeram, dividiram a

responsabilidade com a organização dos serviços de saúde. Isso nos leva a analisar

a percepção médica sobre essa e outras questões envolvidas nessa organização.

5.3 Resultados das Entrevistas com os Médicos e Discussão

Para analisar a participação médica na decisão pelo tipo de parto e sua percepção

sobre a forma de organização da prática obstétrica, discutiremos os resultados

obtidos a partir das entrevistas com estes profissionais.

Conforme já mencionado, dos 171 médicos responsáveis pelos partos das 250

pacientes da amostra, obtivemos a participação, após consentimento informado, de

122 médicos. Os demais não participaram, por não terem sido localizados, por não

terem interesse ou por terem se recusado a participar da pesquisa.

163

Para caracterizar a amostra dos médicos respondentes desse estudo, comparamos

suas características com aquelas encontradas nos estudos de perfil dos médicos no

Brasil e no Estado de São Paulo, abordadas no referencial teórico.

Na Tabela 21, podemos observar que há predominância do sexo masculino (68,9%),

coincidindo com a prevalência de gênero encontrada em nosso país e no Estado. A

amostra contou com médicos com idade média em torno de 46,8 +/- 7,3 anos,

portanto mais avançada em comparação à idade média desses profissionais no

Brasil. Apenas 15,6% (IC 95%: 9,6-23,2%) dos médicos a quem foi aplicado o

questionário tinham menos de 39 anos. A média em anos após a formação

profissional mostra, aparentemente, que a amostra foi composta de profissionais

experientes, com 22 anos em média de atividade profissional, sendo que apenas

5,7% (IC 95%: 2,5-11,9%) dos médicos tinham tempo de formação inferior a 10

anos. Essa característica certamente influencia as decisões pelo tipo de parto, já que

a falta de experiência em partos vaginais, assunto abordado na literatura nacional

(FAÚNDES; SILVA, 1998; DIAS; DESLANDES, 2004), provavelmente não ocorre no

grupo analisado.

Tabela 21- Características dos médicos entrevistados (n=122), Hospital, 2007

Variáveis Freqüência absoluta %

Sexo

Masculino 84 68,9

Feminino 38 31,1

Idade

Média 46,8

Desvio Padrão 7,3

Mín.-Máx. 29-70

Tempo de Formação

Média 22,1

Desvio Padrão 6,8

Mín.-Máx. 6-40

Número de empregos

Apenas consultório 52 42,6

Consultório + um emprego 57 46,7

Consultório + dois empregos 13 10,7

164

No Brasil, têm ocorrido mudanças na profissão médica e no cenário do mercado de

trabalho nos últimos anos, caracterizadas por perda de autonomia e assalariamento

médico, levando o médico a assumir muitos empregos. Ou seja, esse profissional foi

gradativamente deixando de viver apenas do consultório privado e passou a

depender de outros empregadores, públicos e privados, aumentando assim sua

carga horária de trabalho (MACIEL FILHO; PIERANTONI, 2004). Com relação a

essa questão presente no modelo assistencial brasileiro, 42,6% (IC 95%:31,8-

51,9%) dos médicos da amostra desse estudo, trabalha apenas em seu consultório

particular (Tabela 21). Dentre aqueles que têm outros empregos, há predomínio do

serviço público como maior empregador dos médicos (Tabela 22), dado já

mencionado nos estudos nacionais de Machado (1995).

Tabela 22 - Atividades profissionais além do consultório (n=70), Hospital, 2007

Emprego público diarista 19,7%

Emprego público plantão 21,3%

Emprego CLT 15,6%

Para caracterizar os médicos da amostra em função de sua atividade obstétrica,

buscou-se pesquisar a quantidade de partos realizada e a porcentagem de cesárea

realizada mensalmente pelos profissionais entrevistados. Observa-se que 67,2% (IC

95%:58,1-75,4%) dos obstetras entrevistados realiza de 1 a 5 partos por mês,

enquanto que um terço assiste a mais de 6 partos no mesmo período. Eles referiram

executar o parto cirúrgico com grande freqüência, já que quase 80% (IC 95%: 71,3-

81,3%) dos entrevistados realizaram acima de 60% de cesáreas nos últimos seis

meses (Tabela 23). Esta informação, associada à predominância de profissionais

que só trabalham em consultório com prática liberal, demonstra uma prática

obstétrica com parto cirúrgico altamente prevalente nesse modelo assistencial.

165

Tabela 23 – Quantidade e tipo de partos realizados pelos médicos entrevistados (n=122), Hospital, 2007

Quantidade e tipos de parto realizados Frequência %

Número de partos por mês

1 a 5 82 67,2

6 ou mais 40 32,8

Proporção média de parto cesáreo a cada 10

partos realizados nos últimos 6 meses

1-5 cesáreas 25 20,5

6 ou mais cesáreas 97 79,5

No presente estudo (Tabela 24), dois terços dos médicos declararam que a vontade

materna ou a insegurança da paciente com relação ao parto normal representa uma

das maiores dificuldades para realizar o parto normal em sua clientela. Essa

informação confere com o resultado encontrado nas entrevistas com as pacientes

onde, embora 54% das mulheres desejassem parto vaginal no início da gestação,

24,4% delas mudaram de opinião durante a gravidez.

Tabela 24 – Opinião dos médicos sobre as maiores dificuldades para realizar o parto normal, Hospital, 2007

Dificuldades Concorda

%

Indiferente

%

Discorda

%

Vontade materna ou insegurança da paciente pelo

parto normal.(n=121)

66,9 19,1 14,0

Dificuldades de locomoção em São Paulo. (n=121) 44,6 15,7 39,7

Imprevisibilidade no momento do trabalho de parto.

(n=122)

43,4 23,0 33,6

Remuneração pelo procedimento. (n=122) 41,8 19,7 38,5

Falta de tempo para acompanhar o trabalho de parto.

(n=122)

36,1 24,6 39,3

Imprevisibilidade do resultado neonatal (n=122) 29,5 29,5 41,0

Temor de ações judiciais originadas pela paciente.

(n=122)

27,9 18,0 54,1

Insegurança quanto ao acompanhamento no pré-

parto pela enfermeira. (n=120)

20,0 20,8 59,2

Falta de estrutura física hospitalar para a execução

do parto normal. (n=122)

13,9 12,3 73,8

166

Na Tabela 24 vê-se que pouco menos da metade dos médicos entrevistados

(44,3%) concordam que as dificuldades de locomoção em uma metrópole como São

Paulo representaria uma dificuldade para a realização do parto normal. As grandes

maternidades do município, em sua maioria, estão localizadas em regiões centrais,

locais de grande concentração de consultórios médicos. Mas em uma cidade como

essa metrópole em que, nos horários de maior trânsito, curtas distâncias são

percorridas em longos intervalos de tempo, supõe-se que haveria necessidade de

uma organização da prática médica favorável para a realização dos partos normais.

Assim, uma vez internada a gestante em trabalho de parto, a maternidade forneceria

condições físicas e pessoas com habilitação necessária para o adequado

acompanhamento dessa parturiente até que o médico assistente conseguisse

chegar a esse estabelecimento. Para que isso ocorra, o trabalho em equipe

multiprofissional deveria estar alinhado às necessidades da gestante e do obstetra.

Para analisar a percepção dos médicos sobre as condições necessárias, indagamos

sua opinião sobre a atuação da enfermagem obstétrica nessas maternidades. Com

relação ao trabalho de acompanhamento de enfermagem durante o trabalho de

parto e a infra-estrutura hospitalar, os médicos foram afirmativos no sentido de que

esses aspectos estariam adequados nos hospitais em que atuam para a execução

do parto normal (Tabela 24). No modelo assistencial, onde os médicos realizam o

pré-natal e fazem os partos, necessitando organizar sua agenda, a participação das

enfermeiras no processo seria fundamental. Ângulo-Tuesta et al. (2003) observaram

em seu trabalho que, embora se proclame a introdução de profissionais não médicos

para a assistência ao parto, houve relatos de que os médicos não reconhecem o

trabalho das enfermeiras, excluindo-as desse processo. Segundo esses autores,

para a construção do trabalho em equipe é necessário o aprimoramento da

capacitação técnica das enfermeiras, fortalecendo a autonomia profissional,

aumentando o reconhecimento de seu trabalho pelos médicos, reduzindo os

conflitos e as tensões e garantindo benefícios para as pacientes (ÂNGULO-TUESTA

et al., 2003). Em nossa pesquisa, para os médicos entrevistados, a atuação dessas

profissionais foi avaliada como excelente ou boa em 74,6% das vezes, fazendo crer

que eles se sintam seguros com o acompanhamento de suas pacientes por elas no

pré-parto (Tabelas 24 e 25).

167

Tabela 25 - Opinião dos médicos sobre a atuação das enfermeiras obstetras, Hospital, 2007

Opinião

Freqüência

absoluta %

Indiferente-ruim 31 25,4(1)

Excelente-boa 91 74,6

Total 122 100,0

Nota: (1) IC95%:17,7-33,1%

Outra constatação em nossos resultados foi a discordância dos médicos em relação

à influência do temor de ações judiciais originadas pelas pacientes quando da

execução do parto normal. Apenas 27,9% dos profissionais acredita que o litígio

judicial por má prática influenciaria sua decisão pelo tipo de parto (Tabela 24).

Ressalta-se que a “indústria” dos processos médico-legais, muito presente em

países como os EUA e Inglaterra, não apresenta a mesma pressão em nosso país.

Os resultados apresentados na Tabela 26 mostram que 75,4% dos profissionais não

têm contratos com seguradoras contra processos por má prática médica,

demonstrando que a maioria desses obstetras não considera fundamental esse tipo

de seguro para exercer sua atividade médica. Por outro lado, metade dos

entrevistados (50,8% com IC 95%: 41,9-59,7%) acredita que a execução da

cesariana possa ocorrer por medo de ações judiciais, prática denominada “medicina

defensiva” (Tabela 27). Esse resultado é corroborado pelas constatações de

trabalhos internacionais que alegam como um dos motivos para o aumento de

cesarianas o temor de ações judiciais (CHANDRAHARAN; ARULKUMARAN, 2006;

HABIBA et al., 2006)

Tabela 26 – Proporção de médicos que possui seguro contra má prática, Hospital, 2007

Possui seguro Freqüência absoluta %

Sim 30 24,6(1)

Não 92 75,4

Total 122 100,0

Nota: (1)IC95%:16,9-32,2%

168

Tabela 27 – Proporção de médicos que acreditam que ações judiciais são responsáveis por realização de cesáreas, Hospital, 2007

Acredita

Freqüência

absoluta %

Sim 62 50,8(1)

Não 60 49,2

Total 122 100,0

Nota: (1)IC95%: 41,9-59,7%

Vários estudos têm relatado a aceitação dos médicos frente à solicitação da cesárea

pela paciente. Esses trabalhos apresentam freqüências variadas, dependendo do

país ou do modelo assistencial em vigor (SCHINDL et al., 2003; HABIBA et al.,

2006). Outros autores discutem que a aceitação depende do tempo de formação

profissional, sendo que os médicos mais experientes têm maior tendência a aceitar

essa solicitação (KWEE et al., 2004). Na amostra de médicos entrevistados para

esta tese, caracterizada por elevado tempo de formação profissional, 88,5% (IC95%:

82,7-94,2%) dos profissionais declararam aceitar o pedido materno para realizar

uma cesariana sem indicação clínico-obstétrica (Tabela 28) corroborando achados

de estudos europeus.

Tabela 28 – Atitude do obstetra frente a uma solicitação de cesárea eletiva pela paciente em gestação sem complicações, Hospital, 2007

Aceitaria a Solicitação Freqüência absoluta %

Sim 108 88,5(1)

Não 14 11,5

Total 122 100,0

Nota: (1) IC95%:82,7-94,2%

Perguntou-se aos médicos sobre sua percepção a respeito das taxas de cesárea em

serviços hospitalares privados do município de São Paulo. A maioria dos

entrevistados (51,6%) relatou acreditar que essas taxas são muito elevadas, sendo

necessários esforços para reduzí-las (Tabela 29).

169

Tabela 29 - Percepção dos médicos sobre as taxas de cesáreas em serviços hospitalares privados do município de São Paulo, Hospital, 2007

Percepção

Freqüência

absoluta %

As taxas são muito elevadas e deve haver

esforços para reduzí-las. 63 51,6

As taxas são muito elevadas, porém não há

motivos para reduzí-las. 19 15,6

As taxas são adequadas para o modelo de

assistência à saúde no município 23 18,9

O médico é indiferente às taxas. 17 13,9

Total 122 100,0

Este resultado pode sugerir que realmente haja preocupação dos profissionais

entrevistados ou que as respostas apresentadas tiveram um viés de declarações

“politicamente corretas”. A segunda hipótese pode ser reforçada por meio da análise

dos resultados apresentados na Tabela 30, onde somente 27% (IC 95%:19,6-36,0%)

dos profissionais entrevistados concorda com a afirmação de que o parto cesáreo

aumenta a mortalidade materna e/ou perinatal. Talvez, para os entrevistados, a

percepção da necessidade de redução das taxas de cesárea no município não

esteja ligada ao modelo assistencial privado, mas sim a todos os atendimentos

públicos e privados às gestantes em nosso país, enquanto que as respostas sobre a

mortalidade estejam relacionadas à sua prática assistencial privada.

Tabela 30 – Opinião dos médicos sobre a relação do tipo de parto com a mortalidade materna e/ou perinatal, Hospital, 2007

Relação tipo de parto x mortalidade Concorda

%

Indiferente

%

Discorda

%

Parto cesárea aumenta a mortalidade

materna e/ou perinatal

27,0(1) 14,8 58,2

Parto vaginal reduz a mortalidade materna

e/ou perinatal

34,7(2) 25,6 39,7

Notas:

(1)IC95%: 19,6-36,0%

(2)IC95%: 26,4-44,0%

170

A mortalidade materna é determinada por uma série de fatores, desde a dificuldade

de acesso à educação e aos serviços de saúde, abrange questões étnico-raciais e

envolve falhas de atendimento propriamente ditas (COMITÊ DE MORTALIDADE

MATERNA, 2002). A OMS considera como aceitável uma Razão de Mortalidade

Materna em torno de 20 mortes maternas para cada 100.000 nascidos vivos. Em

2006, a FIGO lançou o Relatório Mundial da Saúde da Mulher, determinando como

meta para 2015 a redução de três quartos da mortalidade materna global (WORLD

REPORT ON WOMEN’S HEALTH, 2007). Desde 2003, a morte materna em nosso

país é evento de notificação compulsória: seu registro e comunicação aos órgãos

competentes são obrigatórios (Portaria Ministerial 653 de 28/05/2003). O último dado

oficial, obtido pelo acesso aos indicadores da RIPSA/IDB 2006, indica que houve, no

Brasil em 2000, 52,36 mortes maternas para cada 100.000 nascidos vivos (IDB,

2006), estando nosso país classificado abaixo de alguns países da América Latina,

como o Chile, que apresentou no mesmo ano 17,3 casos. No entanto, a questão da

mortalidade materna deve ser analisada sob o contexto social-demográfico e de

acordo com o modelo assistencial da população estudada. Para os médicos

entrevistados neste trabalho, a mortalidade materna e neonatal estava vinculada à

população paulistana e à sua experiência pessoal na assistência obstétrica,

lembrando que boa parte dos médicos da amostra trabalham apenas em seu

consultório, sob o modelo privado de assistência à saúde.

A prefeitura do município de São Paulo analisa, por meio do Comitê de Mortalidade

Materna, os casos de óbito de mulheres em período gestacional. Esse comitê, que

iniciou suas atividades em 1992, recentemente publicou um relatório compilado de

10 anos de atividades (COMITÊ DE MORTALIDADE MATERNA, 2002), no qual se

observa uma média de 31,8 mortes maternas por causa direta (mortes resultantes

de complicações obstétricas do estado gestacional, de intervenções, omissões ou

tratamentos incorretos) para cada 100 mil nascidos vivos, e 23,1 mortes maternas

por causas indiretas (resultantes de doença pré-existente ou que se desenvolve

durante a gravidez, não devidas a causas diretas mas agravadas pelos efeitos

fisiológicos da gravidez) para cada 100.000 nascidos vivos. Esse predomínio das

causas diretas é característico de países em desenvolvimento, pois trata-se de

óbitos devidos a causas relacionadas à condição de gestação. Essas mortes

poderiam ser evitadas com maior aporte de recursos.

171

Para avaliar se há diferenças nesses indicadores dependendo do tipo de esfera

administrativa do hospital, esse comitê tem efetuado cálculo de Índice de Letalidade

Hospitalar (ILH). O ILH é resultado da divisão do numero de casos de mortes

maternas por causas diretas e indiretas de um determinado hospital pelo número de

nascidos vivos naquele hospital (sendo aplicado o fator de ajuste de 100.000 à

semelhança da Razão de Morte Materna). Em 2002, o ILH dos hospitais privados foi

de 14,6, enquanto que nos hospitais municipais e estaduais foram respectivamente

105,8 e 67,1 (COMITÊ DE MORTALIDADE MATERNA, 2002). Embora não haja

intenção, nesta tese, de abordar as causas de mortalidade materna ou neonatal,

nem tampouco de buscar explicações sobre essas diferenças de razão de

mortalidade materna entre os diferentes tipos hospital, o fato de o ILH de 2002 nos

hospitais privados ter sido menor em relação às demais instituições hospitalares do

município reforçaria a hipótese de que os médicos entrevistados, embora tenham

respondido que as taxas de cesárea devem ser reduzidas, não acreditem que o

parto cesáreo aumente a mortalidade materna e/ou perinatal. Possivelmente, a

percepção dos médicos a respeito dos riscos maternos e neonatais perante os

diversos tipos de parto esteja vinculada ao cenário observado em São Paulo nas

unidades hospitalares privadas nas quais eles atuam.

Embora 41,8% dos médicos entrevistados achem que a remuneração pela

assistência ao parto normal seja uma das dificuldades para sua realização (Tabela

24), 68,3% (IC 95%: 60,01- 76,7%) acreditam que, se houvesse remuneração

diferenciada para este tipo de parto, haveria mudanças nas taxas de cesárea

(Tabela 31). No modelo assistencial privado brasileiro, em geral, o pagamento

médico é realizado por serviços, comumente chamado de fee for service. Os

médicos se dividem entre muitos empregos e necessitam adequar melhor sua

agenda. Uma vez que os valores pagos pelas operadoras de planos de saúde são

iguais para qualquer tipo de parto, torna-se mais conveniente realizar uma cesariana

ao invés de aguardar um parto vaginal, já que, segundo esses médicos, essa

cirurgia não traz aumento de riscos para a mulher. As tabelas de referência para

remuneração dos procedimentos médicos praticadas pela maioria dos convênios

médicos no sistema de saúde suplementar brasileiro, confeccionadas na década de

1990, definem pagamento igual para parto normal e cesariana, embora haja uma

172

intensa mobilização das entidades médicas em implantar uma nova Tabela,

chamada Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos

(CBHPM), que remunera o parto vaginal e as horas de assistência médica durante o

trabalho de parto, incentivando dessa maneira a execução desse tipo de parto.

Tabela 31– Concordância dos médicos sobre a mudança nas taxas de cesárea decorrente da remuneração diferenciada para o parto normal na medicina privada em São Paulo, Hospital, 2007

Concordância

Freqüência

absoluta %

Sim 82 68,3(1)

Não 38 31,7

Total 120 100,0

Nota: IC95%: 60,01- 76,7%

Questionados quanto à formação atual dos médicos na faculdade de medicina,

residência/especialização médica na área de obstetrícia e sua relação com as taxas

de cesárea, 53,7% (IC 95%: 44,4-62,8%) dos médicos acreditam que a falta de

preparo profissional pode estar relacionada a essa incidência (Tabela 32). Além

disso, os entrevistados, em sua maioria (65,6%), acreditam que a falta de

treinamento médico adequado em utilizar o fórcipe poderia aumentar o número de

cesarianas (Tabela 33). Em 2002 foi publicado em revista da Federação Brasileira

das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) artigo de uma das

celebridades nacionais no campo do conhecimento obstétrico, Jorge de Rezende

(2002). Nesse artigo, o professor declara “sou cesarianista convicto”, reforçando sua

opinião com base na sua visão da formação médica recente, onde a “geração atual

de obstetras (...) nos últimos trinta anos, desaprendeu ou nunca se adestrou nas

operações transpelvinas”, referindo-se à habilidade em executar manobras

obstétricas e ao uso de fórcipe.

O parto fórcipe é considerado por muitas mulheres como um fator de risco para os

recém-nascidos. Segundo os médicos entrevistados, 57,4% (IC 95%: 48,1-66,2%)

acreditam que esse temor da gestante poderia levar ao aumento no número de

cesáreas no momento da decisão pelo tipo de parto (Tabela 33).

173

Tabela 32– Proporção de médicos que acredita que a formação atual na área de obstetrícia influencia na taxa de cesárea do município de São Paulo, Hospital, 2007

Acredita

Freqüência

absoluta %

Sim 65 53,7(1)

Não 56 46,3

Total 121 100,0

Nota: (1)IC 95%: 44,4-62,8%

Tabela 33– Opinião dos médicos sobre a relação entre uso de fórcipe no parto vaginal e taxa de cesárea, Hospital, 2007

Relação parto fórcipe e tipo de parto Concorda

%

Indiferente

%

Discorda

%

Aumento da taxa de cesárea devido ao temor da

gestante quanto ao uso ao fórcipe.

57,4(1) 18,0 24,6

Aumento da taxa de cesárea devido à falta de

treinamento médico em utilizar adequadamente o

fórcipe.

65,6(2) 18,0 16,4

Não interferem na decisão pelo tipo de parto a

ser realizado.

25,4(3) 23,0 51,6

Notas:

(1)IC95%: 48,1-66,2%

(2)IC95%: 56,4-73,8%

(3)IC95%: 18,2-34,2%

Outros temores maternos relatados em estudos brasileiros (FAÚNDES; CECATTI,

1991; HOTIMSKY; SCHRAIBER, 2005) e internacionais (LAND, 2001) que

influenciariam a escolha da cesárea são relacionados ao medo das mulheres em

relação a alterações na elasticidade vaginal comprometendo sua sexualidade. Na

opinião dos médicos entrevistados, somente 17,2% (IC 95%: 11,0-25,1%) acreditam

que essa questão seja determinante na escolha pela cesárea, enquanto que 63,1%

(IC 95%: 53,9-71,7%) entendem ser ela importante mas não fundamental nessa

decisão (Tabela 34). A opinião dos médicos coincide com a das mulheres

entrevistadas, onde a minoria acredita que a preservação da função sexual levaria à

não execução do parto vaginal (Tabela 14).

174

Tabela 34– Opinião dos médicos sobre a importância das questões culturais relativas à sexualidade feminina na escolha do tipo de parto, Hospital, 2007

Opinião dos médicos sobre a crença das pacientes

Freqüência

absoluta %

As crenças são importantes e determinantes do tipo

de parto 21 17,2(1)

As crenças são importantes, mas não fundamentais

na escolha do tipo de parto 77 63,1(2)

As crenças não são importantes para as pacientes 24 19,7

Total 122 100,0

Notas:

(1)IC95%: 11,0-25,1%

(2)IC95%: 53,9-71,7%

A preferência médica sobre os tipos de parto é freqüentemente citada como

relevante nas decisões pela cesariana em suas pacientes. Em nosso trabalho,

procuramos saber a preferência das médicas obstetras sobre o tipo de parto que

desejariam ter se estivessem grávidas na ausência de complicações. Na Tabela 35,

observamos que para 40,5% (IC 95%: 24,80-57,9%) das médicas entrevistadas, a

cesárea seria o tipo de parto preferido por elas, resultado concordante com alguns

estudos internacionais (AL-MUFTI et al., 1996; 1997; GROMM et al., 2002;

MACDONALD et al., 2002).

Tabela 35 – Tipo de parto preferido pelas médicas obstetras caso estivessem grávidas

Tipo de parto Freqüência absoluta %

Vaginal 16 43,2

Cesárea 15 40,5(1)

Deixaria à critério do médico 6 16,2

Total 37 100,0

Nota: (1)IC 95%: 24,80-57,9%

Buscamos então analisar que tipo de parto efetivamente tinha sido realizado entre

as médicas e esposas de médicos entrevistados que tinham filhos, com o intuito de

relacionar esses dados às taxas de cesárea das pacientes entrevistadas. Podemos

observar na Tabela 36 que, entre as 29 médicas que tinham filhos, 72,4% delas só

tiveram parto cesáreo, enquanto entre as esposas dos obstetras essa taxa foi de

175

68,4%. Podemos identificar diferença estatisticamente significante entre a taxa de

cesárea nas pacientes da amostra nessa tese (88,4%) e as taxas dessa cirurgia

encontradas nas médicas e nas esposas de médicos (qui-quadrado com correção de

Yates de 4,47, 1 gl, p=0,034 e 17,09, 1 gl, p<0,001, respectivamente). Esse

resultado pode sugerir que outros fatores além das preferências médicas devem

influenciar a decisão pela cesariana na população em geral.

Tabela 36 – Tipo de parto realizados em médicas e esposas de médicos, Hospital, 2007

Tipo de parto Médicas Esposas Freqüência

absoluta % Freqüência absoluta %

Normal 8 27,6 24 31,6 Cesáreo 21 72,4 52 68,4 Total 29 100,0 76 100,0

Nota: Qui-quadrado =0,160, 1 gl, p=0,691

Para entendermos melhor essa diferença entre o tipo de parto realizado nas médicas

e nas esposas dos médicos e a prática desses profissionais em suas pacientes,

procuramos realizar um cruzamento dos dados, identificando o tipo de parto

realizado nas pacientes da amostra e os partos de seus respectivos médicos (Tabela

37).

Tabela 37 – Tipo de parto realizados nas paciente segundo tipo de parto realizado em médicas e esposas de médicos (n=76), Hospital, 2007

Tipo de parto nas Tipo de parto nas médicas e esposas dos médicos Pacientes Normal Cesáreo % % Normal 25,0 75,0 Cesáreo 13,5 86,5 Nota: Qui-quadrado =1,54, 1 gl, p=0,214

Embora não se possa demonstrar diferença estatisticamente significante entre o tipo

de parto que os médicos realizam e aquele ao qual se submetem ou aceitam em

seus familiares, podemos observar que para 75% das pacientes que tiveram parto

normal, sua obstetra ou a esposa do seu médico se submeteram a cesariana em sua

gestação. Esse resultado pode ser um reflexo da multi-causalidade envolvida no

processo decisório pelo tipo de parto realizado. A análise superficial pode levar a

erros de interpretação sobre os fatores associados à realização da cesariana, que

176

não deve estar descolada da abrangência da organização da prática obstétrica

articulada e inserida no modelo assistencial privado de saúde em nosso país.

Esses resultados demonstram que a existência de uma preferência materna pelo

tipo de parto, no início desejado como parto normal (54% das mulheres), porém que

se modificou no decorrer da gestação, junto com a elevada participação das

mulheres nesse processo decisório, esteve associada à realização de quase 89% de

partos cesáreos nessa amostra. Além disso, é possível identificar a associação entre

cesariana e a variável praticidade de agendar o parto bem como alto grau de

satisfação dessas mulheres. Essas condições, associadas ao modelo de trabalho

médico atual e à aceitação dos profissionais em realizar uma cesárea por solicitação

da paciente na ausência de complicações, representam alguns dos fatores que

propiciaram a realização dessa proporção de procedimentos cirúrgicos.

Esses achados corroboram a proposição de Ângulo-Testa et al. (2003), onde sempre

que houver uma abordagem da assistência ao parto, essa deva ser realizada de

maneira multidimensional, contextualizada socialmente por um sistema complexo de

valores e envolvendo interações entre grupos sociais e interesses de todos os

agentes da cadeia assistencial.

Nessa contextualização temos o modelo assistencial privado brasileiro, onde,

segundo Moraes e Goldenberg (2001) a predominância de cesáreas reflete sua

valorização e conveniência em meio à ordem de trabalho médico, regida pela lógica

da produtividade na organização empresarial e no atendimento de massa. Por outro

lado, temos os aspectos sócio-culturais, poder aquisitivo e relacionamento médico-

paciente, influenciando o desejo da mulher pelo tipo de parto. Nos dias atuais, o

indivíduo possui um espaço de liberdade na orientação de suas ações e seus

desejos, garantido pela ordem dos direitos individuais. Com isso, os principais

mecanismos nas tomadas de decisão, além da lógica organizacional, são as

escolhas pessoais e as normas sociais (FARIAS, 2001), fatores inseridos também na

escolha pela cesárea.

Percebe-se que a polêmica questão da realização da cesárea a pedido da paciente,

colocada em evidência como causa relevante da elevação das taxas de cesárea no

177

mundo e no Brasil (DINIZ, 2005), é proveniente de questões complexas, envolvendo

a percepção médica e materna sobre vantagens e riscos desse procedimento.

Também devem ser lembrados os interesses e a conveniência dos médicos, além

dos temores por processos envolvendo má prática médica.

Por que não reconhecer que há inadequadas evidências para suportar ou refutar a

cesárea eletiva e iniciar estudos apropriadamente desenhados? (SCOTT, 2002,

tradução nossa). Com essa declaração, o editor-chefe da prestigiosa revista

Obstetrics and Gynecology reforça a necessidade de estudos que avaliem essas

questões em profundidade, com adequada metodologia, evitando resultados

duvidosos.

Estas considerações põem em relevo a propriedade de levar em conta não só a

interação entre variáveis que pinçam isoladamente facetas de uma realidade

complexa - a realização da cesárea - mas a necessidade de realizar futuros

trabalhos articulando essas variáveis associadas à decisão pelo tipo de parto,

contextualizados ao modelo assistencial privado de saúde em nosso país e às

características sócio-culturais da população analisada.

178

6 CONCLUSÕES

O presente trabalho teve como objetivo geral identificar os fatores associados à

decisão pelo tipo de parto, levando as taxas de cesárea a atingirem cifras ao redor

de 90% em serviços privados hospitalares do município de São Paulo. Sob essa

ótica, estabeleceram-se alguns objetivos específicos, detalhados no capítulo

“Objetivos da Tese”, a serem analisados nesse trabalho.

A abordagem escolhida foi fazer uma análise de dois agentes chave dessa cadeia

assistencial, as gestantes e os médicos. Para isso, procedeu-se ao trabalho de

campo, realizado por meio de questionário estruturado e de entrevistas realizadas

com mulheres dois dias após o parto e com os obstetras responsáveis por seus

partos.

Para a análise dos resultados e seu devido entendimento, foi necessária a

caracterização sócio-cultural das mulheres atendidas no sistema de saúde

suplementar. Identificamos que a amostra entrevistada pertencia a uma parcela da

população feminina caracterizada por idade materna, em sua maioria, na faixa de 30

a 40 anos, com elevado nível educacional, de cor branca e que trabalha atualmente

fora de suas casas. Essas particularidades permitem presumir que esse grupo de

mulheres faz parte de uma população que tem como prioridade o seu

desenvolvimento profissional, em detrimento de maternidade.

Outra característica observada é o exercício de autonomia e a possibilidade de

escolha do tipo de parto a ser realizado por essas mulheres, em função do elevado

nível educacional e amplo acesso às informações necessárias para essa finalidade.

Neste trabalho evidenciou-se elevada taxa de cesárea, freqüentemente associada

ao maior desenvolvimento sócio-cultural da população atendida.

Em relação aos objetivos específicos, foi possível chegar a algumas respostas.

Perguntou-se aos médicos e às pacientes sobre sua percepção a respeito das taxas

de cesárea em serviços hospitalares privados na capital paulista e suas

considerações sobre os riscos desse procedimento. A maioria dos médicos relatou

179

acreditar que as taxas são muito elevadas e que deveria haver esforços para reduzí-

las. No entanto, esses profissionais não percebem aumento dos riscos maternos e

neonatais decorrentes do parto cesáreo. Nas entrevistas com as mulheres não foi

detectado, de forma significante, medo de problemas com o recém-nascido

provenientes do parto normal ou da cesariana, demonstrando que para essa

clientela há percepção de segurança em ambos tipos de parto. Conclui-se, portanto,

que para os dois agentes estudados, o parto cesáreo é percebido como uma forma

segura de nascimento, tanto quanto o parto vaginal.

Buscou-se identificar os principais fatores associados à escolha pelo tipo de parto.

Foi possível demonstrar uma forte associação entre características sócio-culturais

das mulheres e o tipo de parto realizado, caracterizada pela realização mais

freqüente de cesáreas entre aquelas com maior nível educacional e que trabalham

fora de casa. Para as pacientes entrevistadas, um dos principais fatores para a

escolha do procedimento cirúrgico foi a praticidade de agendar o parto. É possível

concluir que a adequação da vida profissional da gestante está diretamente

relacionada à escolha pela cesariana. Como fator decisivo para a escolha pelo parto

normal observamos que a questão do medo da dor após a cesariana foi relevante

para essa clientela. Embora, para as mulheres entrevistadas, a ansiedade ou os

medos não tenham influenciado na decisão pelo parto cesáreo, na percepção dos

médicos uma das maiores dificuldades para a realização do parto normal encontra-

se na insegurança materna do parto vaginal e/ou na vontade materna pelo

procedimento cirúrgico. Para os profissionais, o temor da gestante com relação ao

uso do fórcipe estimularia também a realização de cesariana. Não obstante haver

referências sobre a preocupação das mulheres com relação a problemas de

elasticidade vaginal interferindo nas funções sexuais e urinárias decorrentes do

parto normal, não observamos neste trabalho esses fatores associados à escolha do

tipo de parto, nem sob o ponto de vista das pacientes nem sob a percepção dos

médicos.

Analisou-se o desejo das gestantes em relação ao tipo de parto durante o pré-natal

e sua realização após o parto. Percebeu-se que, embora apenas um terço das

mulheres desejasse parto cesáreo no início da gravidez, parte significativa da

amostra entrevistada mudou de opinião no decorrer do pré-natal, passando a

180

desejar o procedimento cirúrgico. Isso também se identifica na verificação de que

mais da metade das mulheres que tiveram seu parto pela cesárea desejavam outro

tipo de parto no início da gestação. Esses resultados demonstram que ocorrem

mudanças substanciais na percepção da gestante durante a gravidez. Essas

mudanças mereceriam ser analisadas em maior profundidade.

Observamos elevado grau de satisfação das mulheres após o nascimento,

independente do tipo de parto realizado. Essa satisfação também ocorreu com os

partos anteriores, entre as mulheres que já tiveram filhos. Um desdobramento desse

objetivo foi a análise da satisfação nos casos em que houve mudança entre o tipo de

parto desejado no início da gestação e o parto realizado. Observamos que as

mulheres ficaram satisfeitas, independentemente de eventual discordância entre o

tipo de parto desejado e o realizado. No entanto, embora o grau de satisfação tenha

sido muito elevado, identificamos que quase todas as mulheres que tiveram parto

vaginal desejariam o mesmo tipo de parto em eventual futura gravidez, fato que não

seguiu a mesma preferência entre aquelas que se submeteram a uma cesariana.

Isso demonstra a complexidade do tema satisfação após o parto, havendo

necessidade de análises em maior profundidade sobre essa questão.

O grau de participação das mulheres na decisão do tipo de parto também fazia parte

dos objetivos específicos. Observamos que a grande maioria das mulheres exerceu

seu direito de escolha, ao declararem que participaram integral ou parcialmente na

escolha do parto. Outra constatação é que todas as mulheres que tiveram parto

vaginal disseram ter participado integralmente nessa decisão. Isso demonstra o

elevado poder de negociação das mulheres atendidas no sistema privado de saúde,

baseado no estreito relacionamento médico-paciente.

Com relação ao grau de concordância das pacientes em realizar o parto com um

profissional diferente daquele que fez seu pré-natal, observou-se que, de forma

significativa, as mulheres não aceitariam essa prática. Fica assim demonstrada uma

das características mais relevantes da assistência obstétrica no sistema privado de

saúde, o estreito relacionamento médico-paciente.

181

Analisaram-se os fatores que influenciam os médicos na decisão pelo tipo de parto.

Para essa amostra de médicos, caracterizada pela prevalência do sexo masculino,

com muitos anos de experiência e maturidade profissional, identificamos que, com

exceção da vontade materna pela cesárea e da insegurança da gestante em relação

ao parto vaginal, a remuneração e o receio por processos judiciais decorrentes de

má prática médica têm importância no momento da decisão. Em função da forma de

organização da prática obstétrica e da necessidade de múltiplos empregos, uma

remuneração diferenciada para o parto vaginal, segundo os obstetras, faria com que

houvesse uma redução das taxas de cesárea no sistema privado de saúde. Outros

fatores associados à realização de cesarianas seriam a deficiência atual na

formação dos médicos especialistas e a falta de prática nas manobras obstétricas,

como o uso do fórcipe, para o parto vaginal difícil. Conforme relatado anteriormente

nesta tese, alguns renomados professores de obstetrícia vieram, ao longo dos anos,

mudando sua postura com relação à execução da cesariana, declarando

publicamente que a opção pelo parto cirúrgico poderia ser mais benéfica para a

gestante e seu feto em função do despreparo médico. A prática da cesárea

associada ao temor por ações judiciais decorrentes de má prática médica advém,

em grande parte, dessa deficiência na formação, procedendo-se a medicina

“defensiva”.

Com relação à aceitação dos médicos perante uma solicitação de cesárea pela

gestante, observamos que elevado percentual de obstetras aceitaria realizar a

cesárea a pedido.

Buscou-se analisar o tipo de parto desejado pelas mulheres obstetras em eventual

gestação sem complicações. Observou-se que quase a metade delas desejaria se

submeter a uma cesariana, proporção semelhante àquelas que desejariam parto

vaginal. Procurou-se então identificar o tipo de parto realizado nas médicas e nas

esposas dos médicos dessa amostra, comparando a incidência de cesárea desse

grupo e da amostra de pacientes estudada. Observou-se uma taxa de cesárea entre

as médicas e as esposas dos médicos, embora elevada (69,5%), inferior à taxa

observada entre as pacientes (88,4%). Essa diferença, estatisticamente significante,

sugere que há múltiplos fatores, além das preferências médicas, associados à

decisão pelo tipo de parto.

182

Com base nesses resultados, esta tese permite concluir que as taxas de cesárea na

assistência médica suplementar do município de São Paulo atingem cifras ao redor

de 90% em decorrência da forma de organização da prática obstétrica inserida

nesse modelo assistencial e da característica da clientela assistida por esse modelo,

capaz de negociar e decidir o tipo de parto a ser realizado. Associa-se a essas as

questões relacionadas à formação médica geral e obstétrica, tornando mais

complexa essas relações.

183

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elevação das taxas de cesárea é um fenômeno mundial desde os anos 1980.

Concomitantemente a isso, um número significativo de trabalhos acadêmicos e

análises não acadêmicas tem sido publicado freqüentemente, analisando essa

questão sob diferentes pontos de vista.

Observa-se também que esses estudos estão vinculados a contextualizações

localizadas, que se baseiam particularmente no modelo assistencial obstétrico e nas

características sócio-culturais das mulheres assistidas nesses locais.

Antes da finalização desta tese ocorreram duas publicações interessantes. A Folha

de São Paulo publicou em 24 de janeiro de 2008 uma reportagem sobre a “Cesárea

Humanizada”. Trata-se de uma forma encontrada por alguns obstetras de tornar o

momento da cirurgia “mais natural”. Isso demonstra uma movimentação no sentido

de modificar não o tipo de parto mas sim a forma de realizá-lo.

Outra publicação relevante, cujo impacto ainda não está claro, foi a resolução

normativa n. 167 da ANS de 10 de janeiro de 2008 ampliando o rol de

procedimentos que devem ser cobertos e assegurados pelas operadoras de planos

de saúde. Nessa resolução, a agência determina que os convênios deverão

remunerar os partos normais assistidos por enfermeiros obstetras. Essa ação,

aparentemente desenvolvida no intuito de reduzir as taxas de cesárea no sistema de

saúde privado brasileiro, trará certamente muita discussão sobre o mercado de

assistência obstétrica e as disputas profissionais que nele se encontram.

Não há evidências claras sobre a taxa “adequada” de cesáreas. Certamente no

Brasil e em muitos locais do mundo essas taxas são superiores à preconizada pela

OMS. Porém, o “bom parto”, seja ele vaginal ou cesáreo, deve ser aquele possível

para cada mulher e que assegure o bem-estar da mãe e do recém-nascido. Com

certeza, as decisões pelo tipo de parto devem considerar as preferências das

gestantes, desde que elas tenham domínio das informações sobre esses

procedimentos. Além disso, as análises das taxas de cesárea não devem estar

184

descoladas do modelo assistencial em vigor, tampouco das características sociais e

culturais de determinada sociedade.

Com base em conceitos identificados e resultados obtidos nessa tese, este trabalho

trouxe contribuições para uma melhor compreensão de como se estabeleceu a

prática obstétrica privada no município de São Paulo. Não obstante os desafios e

obstáculos que levaram a limitações encontrados nesse trabalho, certamente foi

possível identificar resultados relevantes para uma reflexão sobre o atual modelo da

assistência ao parto, levantando novas e maiores possibilidades de estudo de

questões e abrindo o campo para maiores discussões.

185

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABOUZAHR, C.; WARDLAW, T. Maternal mortality at the end of decade: a sign of progress? Bulletin of the World Health Organization, 2001, n. 79, a. 6, p. 561-573.

AL-MUFTI, R.; MCCARTHY, A.; FISK, N.M. Obstetricians' personal choice and mode of delivery. Lancet, 1996, n. 347, p. 544.

AL-MUFTI, R.; MCCARTHY, A.;FISK, N.M. Survey of obstetricians' personal preference and discretionary practice. European Journal of Obstetrics and Gynaecology and Reprodutive Biology, 1997, n. 73, p. 1-4.

ALVES, B.; SHEIKH, A. Investigating the relationship between affluence and elective caesarean sections. British Journal of Obstetric and Gynaecology, 2005, n. 11, p. 994-996.

AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS COMMITTE ON ETHICS. Committe Opinion. Surgery and patient choice: the ethics of decision making. ACOG Committe Opinion n.289, nov., 2003, n. 102, a. 5, p. 1101-1106.

AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS (ACOG). ACOG unveils survey of women ob-gyns at media briefing. ACOG Today, 2004, fev., n. 48, a. 2.

AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS (ACOG). Maternal Decision Making, ethic and the law. ACOG Committe Opinion. Obstetrics and Gynecology, 2005, n. 321, v. 106, p. 1127-1137.

AMU, O.; RAJENDRAN, S.; BOLAJI, II. Should doctors perform elective caesarean section on request? Maternal choice alone should not determine method of delivery. British Medical Journal, 1998, n. 317, p. 463-465.

ÂNGULO-TUESTA, A.; GIFFIN, K., GAMA, A.S.; D'ORSI, E.; BARBOSA, G.P. Saberes e práticas de enfermeiros e obstetras: cooperação e conflito na assistência ao parto. Caderno de Saúde Pública, 2003, n. 19, a. 5, p. 1425-1436.

186

ARSIERI, R.; FORMISANO, V.; PUGLIESE, A.; SAPORITO, M.; TRIASSI, M. Prevalence of cesarean section and its relation to type of delivery facility. Bollettino Epidemiologico Nazionale, 2002, n.15, v.6, p. 1-2.

ASSOCIAÇÃO MÉDICA MUNDIAL. Declaração de Helsinque (reformulada em 1975, 1983, 1989, e 2000). 1964. Disponível em: <http://www.unifesp.br/reitoria/orgaos/comites/etica/Helsinque.doc>. Acesso em: 12/02/2007.

AUSTRALIAN INSTITUTE OF HEALTH AND WELFARE (NPSU). Australian mothers and babies 2000. Perinatal Statistics Series n.12. Camberra: AIHW National Perinatal Statistics Unit. 2003. Disponível em: <http://www.npsu.unsw.edu.au/NPSUweb.nsf/resources/AMB_1999-2002/$file/ps12.pdf>. Acesso em: 2/10/2006.

AVILA, M.B. Modernidade e cidadania reprodutiva. Revista de Estudos Feministas. 1993, n. 2, p. 382-393.

BACKE, B.; SALVESEN, K.A.; SVIGGUM, O. Norwegian obstetrician prefer vaginal route of delivery. Lancet, 2002, n. 359, p. 629.

BARBOSA, G.P.; GIFFIN, K.; ÂNGULO-TUESTA, A.; GAMA, A.S.; CHOR, D.; D'ORSI, E. et al. Parto cesáreo: Quem o deseja? Em que circunstâncias? Caderno de Saúde Pública, 2003, n. 19, a. 6, 1611-1620.

BARROS, F.C.; VAUGHAM, J.P.; VICTORA, C.G. Why so many caesarean sections? The need for a further policy change in Brazil. Health Policy Planning, 1986, n. 1, p. 19-29.

BECKER, H.S. et al. Boys in white: student culture in medical school. Transaction Publishers, New Brinswick. 2002.

BÉHAGUE, D.P.; VICTORA, C.G.; BARROS, F.C. Consumer demand for caesarean sections in Brazil: informed decision making, patient choice or social inequality? A population based birth cohort study linking ethnographic and epidemiological methods. British Medical Journal, 2002, n. 324, p. 942-947.

BELFORT, P. De aforismos obstétricos e outros do dicionário. (Editorial). GO Atual, 2000, n. 5, p. 3.

187

BELIZAN, J.M.; ALTHABE, F.; BARROS, F.C. et al. Rates and implications of caesarean sections in Latin America: ecological study. British Medical Journal, 1999, n. 319: p. 1397-1400.

BERGHOLT, T.; OSTBERG, B.; LEGARTH, J., et. al. Danish obstetricians' personal preference and general attitude to elective cesarean section on maternal request: a nation-wide postal survey. Acta Obstetrica Gynaecologyc Scandivavica, 2004, n. 3, p. 262-266.

BERGUELLA, V.; BAXTER, J.K.; CHAUHAN, S.P. Evidence-based surgery for cesarean delivery. American Journal Of Obstetrics and Gynecology, 2005, n. 193, p. 1607-1617.

BIRCHARD, K. Defence union suggest new approach to handling litigation costs in Ireland. Lancet, 1999, 354, 1710.

BOISSELIER, P.;, MAGHIORACOS, P.; MARPEAU, L.; HAJALI, B.; BARRAT. J. Changes in indications for cesarean section from 1977 to 1983. Journal of Gynecology, Obstetrics Biological Reproduction, 1997, n. 16, a. 2, p. 251-260.

BONADIO, I.C.; RIBEIRO, S.A.O.; RIESCO, M.L.G.; ORTIZ, A.C.V. Formação de enfermeiros obstetras nos últimos 20 anos no Brasil. Nursing, 1999, a. 2, n. 8, p. 25-29.

BOST, B.W. Cesarean delivery on demand: what will it cost? American Journal of Obstetrics and Gynecology, 2003, n. 188, a. 6, p. 1418-1423.

BRASIL (1984). Ministério da Saúde. Centro de Documentação do Ministério da Saúde. Assistência Integral à Saúde da Mulher: bases de ação programática. Brasilia (DF): Ministério da Saúde. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac_atencao_mulher.pdf>. Acesso em: 22/08/2007.

BRASIL. (1988) Constituição da República Federativa do Brasil. Capítulo da Saúde, de 05 de outubro de 1988. Brasília. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 12/02/2007.

BRASIL. (1998a) Lei n.º 9656, de 03 de junho de 1998. Dispõe sobre os Planos e Seguros Privados de Assistência à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde. 1998. Disponível em

188

<http://www.ans.gov.br/portal/site/legislacao/legislacao_integra.asp?id_original=455>. Acesso em: 20/08/2007.

BRASIL (1998b). Ministério da Saúde. Portaria n º 2816, de 29 de maio de 1998. Define percentuais máximos de cesarianas em relação ao total de partos por hospital. Brasília: Diário Oficial da União, 2 jun. 1998. Seção 1, pp. 47-48. Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/sas/portarias/port98/GM/GM-2816.htm>. Acesso em: 20/08/2007.

BRASIL (2000a). Lei nº. 9661, de 28 de janeiro de 2000. Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e dá outras providências. Disponível em: <http://www.ans.gov.br/portal/site/legislacao/legislacao_integra.asp?id_original=8>. Acesso em: 20/08/2007.

BRASIL (2000b). Ministério da Saúde. Portaria MS/GM n.º 466, de 14 de junho de 2000. Define percentuais máximos de cesarianas em relação ao total de partos por hospital, com limites específicos para cada Estado e para o DF e define um pacto com os Estados para redução das taxas de cesariana. Brasília: Ministério da Saúde. Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/PORT2000/GM/GM-466.htm>. Acesso em; 20/08/2007.

BRASIL (2000c). Ministério da Saúde. Portaria MS/GM n.º 569, de 1 de junho de 2000. Institui o programa de humanização do pré-natal e nascimento e implantação de centrais de regulação obstétrica e neonatal. Brasília: Ministério da Saúde. Disponível em: <http://www.spp.org.br/Portaria_569_GM.pdf>. Acesso em: 22/08/2007.

BRASIL (2000d). Ministério da Saúde. Portaria MS/GM n.º 572, de 01 de junho de 2000. Institui o componente III do programa de humanização no pré-natal e nascimento - nova sistemática de pagamento a assistência ao parto. Disponível em: <http://www.mp.ba.gov.br/atuacao/cidadania/gesau/legislacao/temas/saude/portaria_GM_572_2000.pdf>. Acesso em: 22/08/2007.

BRASIL (2001). Ministério da Saúde. Programa de Humanização da Assistência Hospitalar. Secretaria de Assistência à Saúde. Programas e Relatórios n.20. Brasília: Ministério da Saúde. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pnhah01.pdf> Acesso em: 10/07/2007.

BRASIL (2002). Ministério da Saúde. Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento. Cartilha de Informações para Gestores e Técnicos. Secretaria de Políticas de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde. Disponível em:

189

<http://www.atencaoprimaria.to.gov.br/downloads/cartilha_informacoes_gestores_e_tecnicos.doc>. Acesso em 10/07/2007.

BRASIL (2003). Ministério da Saúde. HumanizaSUS: política nacional de humanização. Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico de Política Nacional de Humanização. Brasília. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/humanizaSus.pdf>. Acesso em: 2/08/2007.

BRASIL (2006a). Ministério da Saúde. Assistência Pré-natal e Puerpério. Manual Técnico. Brasília: Ministério da Saúde. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Manual%20Puerperio%202006.pdf>. Acesso em: 21/08/2007.

BRASIL (2006b) Ministério da Saúde. DATASUS. Indicadores e dados básicos (IDB) 2006. Brasil. Disponível em: <http://tabnetdatasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2006/f16.def>. Acesso em: 18/12/2007.

BRASIL (2006c). Ministério da Saúde. Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Brasil tem uma das maiores taxas de cesariana na Saúde Suplementar. Disponível em <http://www.ans.gov.br/portal/site/home2/destaque_22585_2.asp?secao=Home>. Acesso em: 25/03/2007.

BRASIL. (2006d). Ministério da Saúde. Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Informações Sobre Cobertura Saúde Suplementar, Disponível em: <http://anstabnetans.gov.br/tabcgi.exe?dados/TABNET_02.DEF>. Acesso em: 10/12/2006.

BRASIL. (2007a). Ministério da Saúde. Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Programa de Qualificação da Saúde Suplementar. Rio de Janeiro: ANS, 2007. Disponível em: <www.ans.gov.br/portal/site/_qualificacao/pdf/texto_base.pdf>. Acesso em: 21/11/2007.

BRASIL (2007b). Ministério da Saúde. DATASUS. Nascidos Vivos no Brasil. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvuf.def>. Acesso em: 05/01/2008.

BRASIL. (2007c). Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Saúde Suplementar. Projeto da Gerencia-Geral Técnico-Assistencial dos Produtos para Ações de Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças na Saúde Suplementar,.

190

Disponível em: <http://www.ans.gov.br/portal/upload/perfil_operadoras/PromoPrev_Diretrizes_Seminario_Final.pdf>. Acesso em: 21/11/2007.

BRENES, A.C. História da parturição no Brasil, século XIX. Cadernos de Saúde Pública, 1991, n. 7, a. 2, p. 135-149.

BUTCHER, A.H., FOS, P.J., ZUNIGA, M., PANE, G. Racial variations in cesarean section rates: an analysis of Medicaid in Louisiana. Journal of Public Health Management Practice, 1997, n. 3, p. 41-48.

CABRAL, S.A.L.C.S. Análise multivariada dos fatores de risco anteparto para ocorrência de cesárea. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, Pernambuco, Brasil. 2003.

CADASTRO NACIONAL DE ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE (CNES). Disponível em <http://cnes.datasus.gov.br/Index.asp?Configuracao=800&bro=Microsoft%20Internet%20Explorer.>

CAESAREAN SECTION WORKING GROUP. Attaining and maintaining best practices in the use of caesarean sections. Toronto: Ontario Women's Health Council. 2000. Disponível em: <http://www.womenshealthcouncil.on.ca/userfiles/page_attachments/3842819_Caesarean_Section.pdf>. Acesso em: 12/09/2007.

CAESAREAN... Caesarean section on the rise (Editorial). Lancet, 2000, n. 356, p. 1697.

CAMANO, L., MATTAR, R. Reflexões sobre a incidência de cesárea. Revista Paulista de Medicina, 1983, n. 101, p. 160-164.

CAMANO, L.; SOUZA, E.; SANTOS, J.F.K.; SASS, N., MATTAR, R.; GUARÉ, S.O. Segunda opinião para indicação da cesariana. Femina, 2001, n. 29, a. 6, p. 345-350.

CAMMU, H.; MARTENS, G.; De COEN, K., et. al. Perinatale activiteiten in Vlaanderen 2004. Studiecentrum voor Perinatale Epidemiologie, Brussels. 2005. Disponível em: <http://www.iph.fgov.be/epidemio/morbidat/nl/bases/MAT7.htm>. Acesso em: 22/09/ 2007.

191

CAMPANIA. BOLLETTINO EPIDEMIOLOGICO NAZIONALE, 2002, n. 15, a. 6. Acesso em: 20/10/2006. Disponível em: <http://www.epicentro.iss.it/ben/pre_2002/giugno02/2_en.htm>.

CARON, O.A.F.; SILVA, I.A. Parturiente e equipe obstétrica: a difícil arte da comunicação. Revista Latino-americana de Enfermagem, 2002, n. 10, a. 4, p. 485-492.

CARSON, R.A. The formation of medical imagination. Revista Brasileira de Educação Médica, 2000, n. 24, a. 1, p. 31-35.

CASCATE, J.C.; CORREA, A.K. Humanização do atendimento em saúde: conhecimento veiculado na literatura brasileira de enfermagem. Revista Latino-americana de Enfermagem, 2005, n. 13, a. 1, p. 105-111.

CASTOLDI, M.A. Tornar-se pediatra: o desenvolvimento do raciocínio clínico na residência médica do IFF. 1996. Dissertação (Mestrado) - Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.

CASTRO, J.C.; CLAPIS, M.J. Parto humanizado na percepção das enfermeiras obstétricas envolvidas com a assistência ao parto. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 2005, n. 13, a. 6, p. 960-967.

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). National Vital Statistics Report. Births: data for 2003. Disponível em http://www.cdc.gov/nchs/data/nvsr/nvsr53/nvsr53_09tables.pdf>. Acesso em: 2/11/2007.

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). National Vital Statistics Report. Births: preliminary data for 2005. Disponível em http://www.cdc.gov/nchs/data/hestat/prelimbirths05_tables.pdf#4>. Acesso em: 2/11/2007.

CENTRO LATINOAMERICANO DE PERINATOLOGIA Y DESARROLLO (CLAP). El nacimiento por cesarea hoy. Salud Perinatal, 1988, n. 3, p. 101-108.

CHANDRAHARAN, E.; ARULKUMARAN, S. Medico-legal problems in obstetrics. Current Obstetrics and Gynaecology, 2006, n. 16, p. 206-210.

192

CHONG, E.S.Y.; MONGELLI, M. Attitudes of Singapore women toward cesarean and vaginal deliveries. International Journal of Gynecology and Obstetrics, 2003, n. 80, p. 189-194.

CHOU, Y.J.; HUANG, N.; LIN, I.F.; DENG, C.Y.; TSAI, Y.W.; CHEN, L.S., et al. Do physicians and their relatives have a decreased rate of cesarean section? A 4-year population-based study in Taiwan. Birth, 2006, n. 33, a. 3, p. 195-202.

COHEN, J.R. Patient satisfaction with the prenatal care provider and the risk of cesarean delivery. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 2005, n. 192, p. 2029-2034.

COLLUCCI, C. Plano de saúde é recordista em cesarianas. Folha de São Paulo, janeiro 11, p. C1, 2006.

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Resolução 223. Dispõe sobre a atuação de enfermeiros na assistência à mulher no ciclo gravídico-puerperal. Rio de Janeiro: COFEN. 1999. Disponível em: <http://www.coren-df.org.br/legis_parec/resolucoes/223.html>. Acesso em; 22/08/2007.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM). Resolução n. 1627/01, de 23 de outubro de 2001. Define o ato profissional de médico como todo procedimento técnico-profissional praticado por médico legalmente habilitado. Diário Oficial da União, Poder Executivo, n. 219, 16 nov. 2001. Seção 1. Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2001/1627_2001.htm>. Acesso em: 20/09/2007.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM). O médico e seu trabalho. Carneiro, M.B. & Gouveia, V.V. (Orgs.). Brasília: CFM. 2004. Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/include/biblioteca_virtual/medico_e_seu_trabalho/regiao_nordeste/005.htm>. Acesso em: 20 de setembro de 2007.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM). Ato Médico. Debate. Jornal de Medicina., jul.-ago.-set., 2006, p. 15.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM). Campanha "Natural é Parto Normal". Jornal do CFM, 2007, ago. p.5. Brasil: Author.

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução n. 196/1996, de 10 de outubro de 1996. Orienta quanto as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas

193

envolvendo seres humanos. 1996. Disponível em <http://www.bioetica.ufrgs.br/res19696.htm>. Acesso em 20/02/2007.

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO (CREMESP, 2002a). Ética em ginecologia e obstetrícia. Cadernos CREMESP. 2.ª ed. São Paulo, Brasil: Author.2002.

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO (CREMESP,2002,b). Mercado de Trabalho Médico no Estado de São Paulo. São Paulo, Brasil: Author. 2002. Disponível em: <http://www.cremesp.org.br/library/modulos/publicacoes/pdf/mercado_trabalho.pdf>. Acesso em 2/08/2007.

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO (CREMESP, 2007a). CREMESP traça o perfil do médico que atua no Estado de São Paulo. Jornal do CREMESP, 2007, out, p.6. São Paulo, Brasil: Author.

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO (CREMESP, 2007,b). Código de Ética Médica. 2.ª ed. São Paulo, Brasil: Author. 2007.

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (CREMERJ) . Resolução n.º 160, de 25 de outubro de 2000. Dispõe sobre a responsabilidade do diretor técnico em relação aos integrantes da equipe multidisciplinar na Assistência Materno-Infantil. Rio de Janeiro: CREMERJ. 2000. Disponível em: <http://www.cremerj.org.br/skel.php?page=legislacao/resultados.php>. Acesso em: 2/08/2007.

CONSONNI, E.B., CALDERON, I.M.P., CONSONNI, M., RUDGE, M.V.C. Aspectos psicológicos na gravidez e parto. Femina, 2003, n. 31, a. 7, p. 577-581.

COTZIAS, C.S.; PATERSON-BROWN, S.; FISK, N.M. Obstetricians say yes to maternal request for elective caesarean section: a survey of current opinion. European Journal of Obstetrics and Gynaecology and Reprodutive Biology, 2001, n. 97, p. 15-16.

CRAIGIN, E.B. Conservatism in obstetrics. New York Medical Journal, 1916, n. 104, p. 1-3.

CURRIE, J., GRUBER, J. The technology of birth: health insurance, medical interventions and infant health.National Bureau of Economic Research. Working

194

Paper 5985. 1997. Disponível em: <http://www.nber.org/papers/w5985.pdf>. Acesso em: 1/12/2006.

CURY, A.F., TEDESCO, J.J.A. Aspectos polêmicos na indicação da cesariana. Femina, 2003, n. 31, a. 9, p. 809-812.

DE JAEGHER, K.; JEGERS, M. A model of physician behavior with demand inducement. Journal of Health Economics, 2000, n. 19, p. 231-259.

DECLERCQ, E.R.; SAKALA, C.; CORRY, M.P.; APPLEBAUM, S.; RISHER, P. Listening to mothers: report of the first national U.S. survey of women's childbearing experiences. New York, N.Y., Maternity Center Association, October, 2002. Disponível em: <http://www.childbirthconnection.org/pdfs/LtMreport.pdf>. Acesso em: 11/10/2007.

DELASCIO D.; GUARIENTO, A. Obstetricia Normal Briquet. 3ª.ed. São Paulo, Brasil: Sarvier. 1987.

DE LEE, J.B. The prophylactic forceps operation. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 1920, n. 1, p. 34-44. apud SILVA, L.B.; SILVA, M.P.; SOARES, P.C.M.; FERREIRA, Q.T.M. Posições maternas no trabalho de parto e parto. Femina, 2007. n. 35, a. 2, p. 101-106.

DESLANDES, S.F. A ótica dos gestores sobre a humanização da assistência nas maternidades municipais do Rio de Janeiro. Ciência e Saúde Coletiva. 2005, n. 10, a. 3, p. 615-626.

DIAS, M.A.B.; DESLANDES, S.F. Cesarianas: percepção de risco e sua indicação pelo obstetra em uma maternidade pública no Município de São Paulo. Caderno de Saúde Pública, 2004, n. 20, a. 1, p. 109-116.

DIAS, M.A.B.; DOMINGUES, R.M.S.M. Desafios na implantação de uma política de humanização da assistência hospitalar ao parto. Ciência e Saúde Coletiva, 2005. n. 10, a. 3, p. 699-705.

DINIZ, C.S.G. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento. Ciência e Saúde Coletiva, 2005, n. 10, a. 3, p. 627-637.

DINSDALE, G.B., MANSON, D.B., SCHMIDT F., STRICKLAND, T. Metodologia para medir a satisfação do usuário no Canadá: desfazendo mitos e redesenhando

195

roteiros. Brasília, ENAP, 2000 apud VAITSMAN, J.; ANDRADE, G.R.B. Satisfação e responsividade: formas de medir a qualidade e a humanização da assistência à saúde. Ciência e Saúde Coletiva, 2005, n. 10, a. 3, p. 599-613.

DOES VAN DER, J.; ROOSMALEN VAN, J. Obstetricians' choice of delivery. European Journal of Obstetrics and Gynaecology and Reprodutive Biology, 2001, n. 99, p. 139.

DOMINGUES, R.M.S.; SANTOS, E.M.; LEAL, M.C. Aspectos da satisfação das mulheres com assistência ao parto: contribuição para o debate. Caderno de Saúde Pública, 2004, n. 20 (supl1), S-52-S62.

DONABEDIAN, A. The seven pillars of quality. Archives of Pathology and Laboratory Medicine, 1990, n. 114, p. 1115-1118.

DONATI, S.; GRANDOLFO, M.E.; ANDREOZZI, S. Do italian mothers prefer cesarean delivery? Birth, 2003, n. 30, a. 2, p. 89-93.

D'ORSI, E. Fatores associados à realização de cesáreas e qualidade de atenção ao parto no município do Rio de Janeiro. Tese (Doutorado) - Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, Brasil. 2003.

D'ORSI, E.; CHOR, D.; GIFFIN, K.; ÂNGULO-TUESTA, A.; BARBOSA, G.P.; GAMA, A.S., et al. Qualidade da atenção ao parto em maternidades do Rio de Janeiro. Revista de Saúde Pública, 2005, n 39, a. 4, p. 646-654.

DZAKPASU, S.; CHALMERS, B. Canadian maternity experiences survey pilot study. Birth, 2005, n. 32, a. 1, p. 34-38.

EMANUEL E.J.; EMANUEL, L.L. Four models of the physician-patient relationship. Journal of American Medical Association, 1992, n. 267, p. 2221-2226.

ENGELMANN, G.L. Labor among primitive peoples. JH Chambers: St. Louis, 1882 apud SILVA, L.B., SILVA, M.P., SOARES, P.C.M., FERREIRA, Q.T.M. Posições maternas no trabalho de parto e parto. Femina, 2007. n. 35, a. 2, p. 101-106.

ENGLAND. DEPARTMENT OF HEALTH. Changing childbirth. Report of the Expert Maternity Group. London: Majesty's Stationary Officce, 1993.

196

ENGLAND. DEPARTMENT OF HEALTH. Why mothers die. Report on confidential enquires into maternal deaths in the United Kingdom, 1997-1999. London: Department of Health, 2001. Disponível em: <http://homepages.ed.ac.uk/asb/SHOA2/confidential_enquiries.htm>. Acesso em: 10/02/ 2007.

ENGLAND. DEPARTMENT OF HEALTH. Government Statistical Service, 2005. NHS Maternity Statistics, England: 2003-2004. Bulletin2005/10. Department of Health, London. 2005. Disponível em: <http://www.dh.gov.uk/en/Publicationsandstatistics/Publications/PublicationsStatistics/DH_4107060>. Acesso em: 22/09/2007.

ESCRIVÃO JUNIOR, A., KOYAMA, M.F. O relacionamento entre hospitais e operadoras de planos de saúde no âmbito do Programa de Qualificação da Saúde Suplementar da ANS. Ciência e Saúde Coletiva, 2007, n. 12, a. 4, p. 903-914.

EUROPEAN MIDWIVES LIAISON COMMITTEE, 1996. Activities, Responsibilities and Independence of Midwives within the European Union. EMLC, the Netherlands. Disponível em: <http://www.midwifery.org.uk/europe.htm>. Acesso em: 29/10/2007.

EUROPEAN PARLIAMENT EUROPEAN COUNCIL. Directive 2005/36/EC of the European Parliament and of the Council on the Recognition of Professional Qualifications. European Union, Brussels. 2005. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/site/en/oj/2005/l_255/l_25520050930en00220142.pdf>. Acesso em: 25/10/2007.

FAISAL-CURY, A.; MENEZES, P.R. Fatores associados à preferência por cesariana. Revista de Saúde Pública. 2006, n. 40, a. 2, p. 226-232.

FARIAS, L.O. Estratégias individuais de proteção à saúde: um estudo da adesão ao sistema de saúde suplementar. Ciência e Saúde Coletiva, 2001, n. 6, a. 2, p. 405-416.

FARRELL, S.A.; BASKETT, T.F., FARRELL, K.D. The choice of elective cesarean delivery in obstetrics: a voluntary survey of Canadian health care professionals. International Urogynecology Journal, 2005, n. 16, p. 378-383

FAÚNDES, A.; CECCATTI, J.G. A operação cesárea no Brasil. Incidência, tendências e propostas de ação. Caderno de Saúde Pública, 1991, n. 7, p. 150-173.

197

FAÚNDES, A.; SILVA, J.L.P. O equilíbrio entre o parto vaginal e a cesárea na assistência obstétrica atual. Femina, 1998, n. 26, p. 669-673.

FAÚNDES, A.; PÁDUA, K.S.; OSIS, M.J.D.; CECATTI, J.G.; SOUZA, M.H. Opinião de mulheres e médicos brasileiros sobre a preferência pela via de parto. Revista de Saúde Pública, 2004, n. 38, a. 4, p. 488-494.

FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS SOCIEDADES DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (FEBRASGO). Assistência ao parto na ótica da FEBRASGO (Editorial). Jornal da FEBRASGO, abril, 2002.

FEINMANN, J. How to limit caesareans on demand - too NICE to push? (Editorial). Lancet, 2002, n. 359, p. 774.

FELDMAN G.B.; FREIMAN, J.A. Prophylactic cesarean at term? New England Journal of Medicine, 1985, n. 312, p. 1264-1267.

FIGO. Committee for the ethical aspects of human reproduction and women's health. Ethical aspects regarding cesarean section for non-medical reasons. International Journal of Gynecology and Obstetrics, n. 64, p. 317-322.

FLAMM, B.L. C-section rate is all-time U.S. high at 29%: medical, legal and choice combine. Obstetric and Gynecology News, 2004, n. 40, p. 1-3. Disponível em <http//:www.txobgyn.org>. Acessado em 20 de outubro de 2007.

FOLHA DE SÃO PAULO. Novo Uspiano desbravará mercado. Obstetrícia: bandeira é incentivar parto normal. 2005, março, n. 13, Seção Empregos, p.3.

FOUCAULT, M. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária. 2003.

FREITAS, P.F.; DRACHLER, M.L.; LEITE, J.C.C.; GRASSI, P.R. Desigualdade social nas taxas de cesariana em primíparas no Rio Grande do Sul. Revista de Saúde Pública, 2005, n. 39, a. 5, p. 761-767.

FREITAS, P.F. The epidemic of caesarean sections in Brazil, factors influencing type of delivery in Florianópolis, South Brazil. Phd (Thesis), London School of Hygiene and Tropical Medicine, 1999. apud D'ORSI, E. Fatores associados à

198

realização de cesáreas e qualidade de atenção ao parto no município do Rio de Janeiro. Tese (Doutorado) - Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, Brasil. 2003.

FUNDAÇÃO SEADE. Indicadores do Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.seade.gov.br>. Acesso em: 18 de outubro de 2007.

GABBE, S.G.; HOLZMAN, G.B. Obstetricians' choice of delivery. Lancet, 2001, n. 357, p. 722.

GAMBLE, J.A.; HEALTH, M.; CREEDY, D.K. Women's request for a cesarean section: a critique of the literature. Birth, 2000, n. 27, a. 4, 256-263.

GENTILE, F.P.; NORONHA FILHO, G.; CUNHA, A.A. Associação entre remuneração da assistência ao parto e a prevalência de cesariana em maternidades do Rio de Janeiro: uma revisão da hipótese de Carlos Gentile de Melo. Caderno de Saúde Pública, 1997. n. 13, p. 221-226.

GENTILE, F.P.; LOPES, C.A.F.; CUNHA, A.A. Práxis obstétrica: a relação de poder médico x gestante na escolha do parto. GO Atual, 2000. n. 11/12, p. 36-41.

GILBERT, A.C.B.; CARDOSO, M.H.C.A.; WUILLAUME, S.M. Médicos residentes e suas relações com/e no mundo da saúde e da doença: um estudo de caso institucional com residentes em Obstetrícia/Ginecologia. Interface, Comunicação, Saúde e Educação, 2006, n. 9, a. 18, p. 103-116.

GODOY, A.S. A pesquisa qualitativa e sua utilização em administração de empresas. Revista de Administração de Empresas de São Paulo, 1995, n. 35, a. 2: p. 57-63

GOMES, U.A.; SILVA, A.M.; BETTIOL, H., et al. Risk factors for the increasing cesarean section rate in Southeast Brazil: a comparison of two birth cohorts, 1978-1979 and 1994. International Journal of Epidemiology, 1999, n. 28, p. 687-694.

GONEN, R.; TAMIR, A.; DEGANI, S. Obstetricians' opinions regarding patient choice in cesarean delivery. Obstetrics and Gynecology, 2002, n. 99, p. 577-580.

GOOD, B.J.; GOOD, M.D. Learning medicine: the construction of medical knowledge at Harvard Medical School, 1993, p. 87-101. In: LINDENBAUM, S.; LOCK, M. (orgs).

199

Knowledge, power and practice: the anthropology of medicine and everyday life. University of California Press, Berckley.

GRANT, D. Explaining source of payment differences in U.S. cesarean rates: why do privately insured mothers receive more cesareans than mothers who are not privately insured? Health Care Management Science, 2005, n. 8, p. 5-17.

GROOM, K.M.; PATERSON-BROWN, S.; FISK, N.M. Temporal and geographical variation in UK obstetricians' personal preference regarding mode of delivery. European Journal of Obstetrics and Gynaecology and Reprodutive Biology, 2002, n. 100, p. 185-188.

GRUBER, J.; OWINGS, M. Physician financial incentives and cesarean section delivery. The Rand Journal of Economics, 1996. n. 27, p. 99-123.

GUETTI C.; CHAN, B.K.S.; GUISE, J.M. Physicians' responses to patient-requested cesarean delivery. Birth. 2004, n. 31, a. 4, p. 280-284.

HABIBA, M.; KAMINSKI, M.; DA FRE, M.; MARSAL, K.; BLEKER, O.; LIBRERO, J. et al. Caesarean section on request: a comparison of obstetrician's attitudes in eight European countries. British Journal of Obstetric and Gynaecology, 2006, n. 113, p. 647-656.

HEALTH AT A GLANCE. OECD Indicators 2005. OECD Publishing. 2005.

HEALTH GRADES. Number of "patient choice" c-sections rises by 25 percent, Health Grades Study Finds. 2004. Disponível em; <http://www.healthgrades.com/media/DMS/pdf/PatientChoiceCSectionsRiseJune2004.pdf> Acesso em: 22/09/2007.

HERNANDEZ, B.T.; PÉREZ, C.E.T.; SILVA, M.R. Factores de riesgo para cesárea: um enfoque epidemiológico. Obstetricia e Gynecologia del Mexico, 2000, n. 68, p. 306-311.

HILDINGSSON, I. How much influence do women in Sweden have on caesarean section? A follow-up study of women's preferences in early pregnancy. Midwifery, 2006, doi:10.1016/j.midw.2006.07.007.

200

HILDINGSSON, I.; RADESTAD I.; RUBERTSSON, C.; WALDENSTROM U. Few women wish to be delivered by caesarean section. British Journal of Obstetric and Gynaecology, 2002, n. 109, p. 618-623.

HOGA, L.A.K. Estágio em uma casa de parto do Japão: relato de experiência. Interface, Comunicação, Saúde e Educação, 2005, n. 9, c. 18, p. 611-620.

HOPKINS, K. Are brazilian women really choosing to deliver by cesarean? Social Science and Medicine, 2000, n. 51, p. 725-740.

HOREY, D.; RUSSELL, H. Information for pregnant women about caesarean birth (Cochrane Review). 2004. In: The Cochrane Library, Issue 1, 2004. Disponível em <http://www.cochrane.org/reviews/en/ab003858.html> Acesso em: 30/10/2007.

HOTIMSKY, S.N.; RATTNER, D.; VENANCIO, S.I.; BOGUS, C.M.; MIRANDA, M.M. (2002). O parto como eu vejo...ou como eu o desejo? Expectativas de gestantes, usuárias do SUS, acerca do parto e da assistência obstétrica. Caderno de Saúde Pública, n. 18, a. 5, p. 1303-1311.

HOTIMSKY, S.N.; SCHRAIBER, L.B. Humanização no contexto da formação em obstetrícia. Ciência e Saúde Coletiva, 2005, n. 10, a. 3, p. 639-649.

HU, J.L.; HUANG, Y.F. The effect of managerial factors on the incidence of medical operations: the case of cesarean sections. International Journal of Management, 2005, n. 22(3), 463-471.

IBANEZ, N.; BITTAR, O.J.N.V.; SÁ, E.N.C.; YAMAMOTO, E.K.; ALMEIDA, M.F.; CASTRO, C.G.J. Organizações Sociais de Saúde. Um modelo do Estado de São Paulo. Ciência e Saúde Coletiva, 2001, n. 6, a. 2, p. 391-404.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa de Orçamento Familiar. 2003. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/Tabela/protabl.asp?z=t&o=20&i=P>. Acesso em: 10/12/2007.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estatísticas da Saúde Assistência Médico Sanitária. 2005. Disponível em <http://www.ibge.gov.br> Acesso em: 21/10/2007.

201

JACQUMYN Y.; AHANKOUR, F.; MARTENS, G. Flemish obstetricians' personal preference regarding mode of delivery and attitude towards caesarean section on demand. European Journal of Obstetrics and Gynaecology and Reprodutive Biology, 2003, n. 111, a. 2, p. 164-166.

JARCHO, J. Postures and practices during labor among primitive peoples. New York: Paul Hoeber, 1934. apud SILVA, L.B.; SILVA, M.P.; SOARES, P.C.M.; FERREIRA, Q.T.M. Posições maternas no trabalho de parto e parto. Femina, 2007, n. 35, a. 2, p. 101-106.

JORDAN, M. Routine Surgery: for brazilian women, caesarean sections are surprisingly popular- to save money, many doctors operate even it's unnecessary- becoming sterile at age 22. Wall Street Journal, 2001, jun 14, p.A1

KABIR, A.A.; STEINMANN, W.C.; MYERS, L.; KHAN, M.M.; HERRERA, E.A.; YU, S.; JOOMA, N.. Unnecessary cesarean delivery in Louisiana: an analysis of birth certificate data. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 2004, n. 190, p. 10-19.

KALLÉN, K.; RYDSTROM, H.;, OTTERBLAD OLAUSSON, P. et. al. Caesarean section in Sweden 1990-2001. Epidemiological Center, Swedish National Board of Health na Welfare, Stockholm. 2005. Disponível em: <http://www.socialstyrelsen.se/en/Statistics/statsbysubject/Swedish+Medical+BirthRegistry.htm>. Acesso em: 25/10/2007.

KANAREK, D. Você tem medo de que? Revista Crescer, ed.Globo, 2004, p. 39-43.

KEELER, E.B.; BRODIE, M.A. Economic incentives in the choice between vaginal delivery and cesarean section. Milbank Quaterly, 1993, 71, 365-404.

KOLAS, T.; HOFOSS, D.; DALTVEIT, A.K.; NILSEN, S.T.; HENRIKSEN, T.; HAGER, R., et al. Indications for cesarean deliveries in Norway. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 2003, n. 188, a. 4, p. 864-870.

KORNIS, G.E.; CAETANO, R. Dimensão e Estrutura Econômica da Assistência Médica Suplementar no Brasil. In: A. TEIXEIRA (org.). Regulação & Saúde: Estrutura, Evolução e Perspectivas da Assistência Médica Suplementar. Ministério da Saúde, Brasil: ANS. 2002.

202

KORST, L.M.; GORNBEIN, J.A.; GREGORY, K.D. Rethinking the cesarean rate. How pregnancy complications may affect interhospital comparisons. Medical Care, 2005, n. 43, a. 3, p. 237-245.

KWEE, A.; COHLEN, B.J.; KAHNAI, H.H., et. al. Caesarean section on request: a survey in the Netherlands. European Journal of Obstetrics and Gynaecology and Reprodutive Biology, 2004, n. 2, p. 186-190.

LAND, R.; PARRY, E.; RANE, A., et al. Personal preferences of obstetricians towards childbirth. Australian and New Zeland Journal of Obstetrics and Gynecology, 2001, n. 41, p. 249-251.

LAZLO, D. Why so many caesarean sections? The need for a further policy change in Brazil. Bulletin of the World Health Organization, 2001, n. 79, a. 12, p. 1173.

LEE, S.; KHANG, Y.H, YUN, S.; Jo, M.W. Rising rates, changing relationships: caesarean section and its correlates in South Korea, 1988-2000. British Journal of Obstetric and Gynaecology, 2005. 112, 810-819.

LEEMAN, M.L.; PLANTE, L.A. Patient-choice vaginal delivery? Annals of Family Medicine, 2006, 4(3), 265-268.

LINDER-PELZ, S. Toward a theory of patient satisfaction. Social Science and Medicine, 1982, 16, 577-582.

LO, J.C. Patients' attitudes versus physicians' determination: implications for cesarean sections. Social Science and Medicine, 2003, n. 57, p. 91-96.

LOPES, A.C. Entrevista: Futuro da Residência Médica no País. Jornal da Associação Médica Brasileira, set-out 2007, p.2-3.

LURIE, S. The changing motives of cesarean section: from the ancient world to the twenty-first century. Archives Gynecological and Obstetrics, 2005, n. 271, p. 281-285.

LURIE, S.; GLEZERMAN, M. The history of cesarean technique. American Journal of Obstetric and Gynecology, 2003, n. 189, p. 1803-1806.

203

MACDONALD, C.; PINION, S.B.; MACLEOD, U.M. Scottish female obstetricians' views on elective caesarean section and personal choice for delivery. Journal of Obstetrics and Gynaecology, 2002, n. 22, p. 586-589.

MACHADO, M.H. Dados da pesquisa do perfil dos médicos do Brasil. 1995. Disponível em: <http://www.ensp.fiocruz.br/rorehs/o_perfil.html>. Acesso em: 11/02/2007.

MACIEL FILHO, R.; PIERANTONI, C.R. O médico e o mercado de trabalho em saúde no Brasil: revendo conceitos e mudanças. 2004. In: A.F.R. Barros (Org), Observatório de Recursos Humanos em Saúde no Brasil: estudos e análise, Brasília, Brasil: Ministério da Saúde. p. 139-161.

MAGALHÃES, F. Lições de clínica obstétrica. Rio de Janeiro: Castilho, 1917, apud REZENDE, J. Obstetrícia. Rio de janeiro, Brasil: Guanabara Koogan. 1969. c 46 B, p.952-991.

MALHOTRA, N.K. Concepção de pesquisa causal: experimentação. 2006. In: MALHOTRA, N.K. Pesquisa de Marketing. c. 7, p. 212-240. Porto Alegre: Bookman.

MALTA, D.C.; CECILIO, L.C.O.; MERHY, E.E.; FRANCO, T.B.;JORGE, A.O.; COSTA, M.A. Perspectivas da regulação na saúde suplementar diante dos modelos assistenciais. Ciência e Saúde Coletiva, 2004, n. 9, a. 2, p. 433-444.

MANDU, E.N.T. Trajetória assistencial no âmbito da saúde reprodutiva e sexual - Brasil, século XX. Revista Latino-americana de Enfermagem, 2002, n. 10, a. 3, p. 358-371.

MASSONETO, J.C.; PORTO, A.G.M. Parto natural é o parto normal. Femina, 1998, n. 26, a. 5, p. 439-442.

Mc GURGAN, P.; COULTER-SMITH, S.; O'DONOVAN, P.J. A national confidential survey of obstetrician's personal preferences regarding mode of delivery. European Journal of Obstetrics and Gynaecology and Reprodutive Biology, 2001. n. 97, p. 17-19.

MCCANDLISH, R. Meeting maternal request for caesarean section: paving the road to hell? Midwifery, 2006, n. 22, 204-206.

204

MEAD, M.; BOGAERTS, A.; REYNS, M. Midwives' perception of the intrapartum risk of healthy nulliparae in spontaneous labour, in the Flanders, Belgium. Midwifery, doi:10.1016/j.midw.2006.05.003. 2006.

MEIKLE, S.F.; STEINER, C.A.; ZHANG, J.; LAWRENCE, W.L. A national estimate of the elective primary cesarean delivery rate. Obstetrics and Gynecology, 2005, n. 105, p. 751-756.

MELLO e SOUZA, C.C. Sections as ideal births: the cultural constructions of beneficence and patiets' rights in Brazil. Cambridge Quaterly of Healthcare Ethics, 1994, n. 3, p. 358-366.

MENACKER, F. Trends in cesarean rates for first births and repeat cesarean rates for low-risk women: US, 1990-2003. National Vital Statistics Reports, n. 54, a. 4, sept., 2005.

MENACKER, F.; CURTIN, S.C. Trends in cesarean birth and vaginal birth after previous cesarean, 1991-99. National Vital Statistics Reports, 2001, n. 49, p. 1-15.

MENACKER, F.; DECLERCQ, E.; MACDORMAN, M.F. (2006). Cesarean delivery: background, trends and epidemiology. Seminaries of Perinatology, 30:235-241.

MINAYO, M.C.S.; ASSIS, S.G.; SOUZA, E.R. (Orgs.). Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. Rio de janeiro, Brasil: Editora Fiocruz. 2005.

MINKOFF, H. The ethics of cesarean section by choice. Seminaries of Perinatology, 2006, n. 30, p. 309-312.

MORAES, M.S.; GOLDENBERG, P. Cesáreas: um perfil epidêmico. Caderno de Saúde Pública, 2001, n. 17, a.3, p. 509-519.

MURRAY, I.; WILCOCK, A.; KOBAYASHI, L. Obstetrical patient satisfaction. Journal of Health Care Marketing, 1996, n. 16, p. 54-57.

MURRAY, S.F.; ELSTON, M.A. The promotion of private health insurance and its implications for the social organisation of healthcare: a case study of private sector obstetric practice in Chile. Sociology of Health & Illness, 2005. n. 27, v. 6, p. 701-721.

205

NAGAHAMA, E.E.I.; Santiago, S.M. A institucionalização médica do parto no Brasil. Ciência e Saúde Coletiva, 2005, n. 10, a. 3, p. 651-657.

NATIONAL INSTITUTE OF HEALTH (NIH). State-of-the-Science-Conference Statement on Cesarean Delivery on Maternal Request, 2006, v. 23, c. 1, mar, 2006. Disponível em: <http://consensus.nih.gov/2006/CesareanStatement_Final053106.pdf>. Acesso em: 12/03/2007.

NEME, B. Intervenções durante o parto - cesárea abdominal. 1995. In NEME, B. Obstetricia Básica. São Paulo, Brasil: Sarvier. c. 115, p. 818-841.

NIH STATE-OF-THE-SCIENCE CONFERENCE STATEMENT. Cesarean delivery on maternal request. 2006 Disponível em <http://consensus.nih.gov/2006/2006cesareanSOS027statementhtml.htm>. Acesso em: 10/09/2007.

NÚCLEO DE ESTUDOS DE POPULAÇÃO. Pesquisa sobre Saúde Reprodutiva e Práticas Obstétricas no Brasil. Campinas: Núcleo de Estudos de População, Universidade Estadual de Campinas, 1996.

NUNES, E.D. Saúde coletiva: história de uma idéia e de um conceito. Revista Saúde e Sociedade, 1994, n. 3, a. 2, p. 5-21.

NUTTALL, C. The cesarean culture of Brazil (letter). British Medical Journal, 2000, n. 320, p. 1072.

ODLIND V.; HAGLUNG, B.; PAKKANEN, M., et. al. Deliveries, mothers and newborn infants in Sweden, 1973-2000. Trends in obstetrics as reported to the Swedish Medical Birth Register. Acta Obstetrica Gynaecologyc Scandivavica, 2003, n. 6, p. 516-528.

OKONOFUA, F. Optimising caesarean-section rates in west Africa. Lancet, 2001, n. 358, p. 1289.

OLIVEIRA, S.L. Tratado de Metodologia Científica. São Paulo, Brasil: Pioneira Thomson Learning. 2004

206

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) (1948). Declaração Universal dos Direitos do Homem. Disponível em <www.who.int/entity/genomic/elsi/em>. Acesso em: 22/08/2007.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Relatório Mundial da Saúde 2005. Recém-nascidos nunca mais passarão desapercebidos 2005, c. 5, p.98.

OSAVA R.H. Assistência ao parto no Brasil: o lugar do não-médico. Tese (Doutorado) - Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. 1997.

OSIS, M.J.D.; CECATTI, J.G.; PADUA, K.S.; FAÚNDES, A. Brazilian doctors' PERSPECTIVE on the second opinion strategy before a C-section. Revista de Saúde Pública, 2001, n. 40, a. 2, p. 233-239.

OSIS, M.J.D.; PADUA, K.S.; DUARTE, G.A.; SOUZA, T.R.; FAÚNDES,A. The opinion of brazilian women regarding vaginal labor and cesarean section. International Journal of Gynecology and Obstetrics, 2001, n. 75, S59-S66.

PARKER, R. A mãe dividida: a experiência da ambivalência na maternidade. Rio de Janeiro, Brasil: Record. 1997.

PEREIRA NETO, A.de F. Ser médico no Brasil: o presente no passado. Rio de Janeiro, Brasil: Fiocruz. 2001.

PINTO, L.F.; SORANZ, D.R.; FEITOZA, L.M.; COSTA NETO, W.G. O mercado de trabalho dos médicos gineco-obstetras no Brasil. Femina, 2003, n. 31, a.4, p. 361-368.

POTTER, J.E.; BERQUÓ, E.; PERPÉTUO, I.G.H.O.; LEAL, O.F.; HOPKINS, K., SOUZA, M.R. et. al. Unwanted cesarean sections among public and private patients in Brazil: prospective study. British Medical Journal, 2001, n. 323, p. 1155-1158.

RATTNER, D. Sobre a hipótese de estabilização das taxas de cesárea do Estado de São Paulo, Brasil. Revista de Saúde Pública, 1996, n. 30, a. 1. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89101996000100004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt> Acesso em: 15/01/2007.

REZENDE, J. Operação cesariana. In: REZENDE, J. Obstetrícia. Rio de janeiro, Brasil: Guanabara Koogan. 1969. c 46 B, p.952-991.

207

REZENDE, J. A falácia do parto humanizado. Femina, 2002, n. 30, a. 7, p. 481-484.

RIESCO, M.L.G.; FONSECA, R.M.G.S. Elementos constitutivos da formação e inserção de profissionais não-médicos na assistência ao parto. Caderno de Saúde Pública, 2002, n. 18, a. 3, p. 685-698.

RIESCO, M.L.G.; TSUNECHIRO, M.A. Formação profissional de obstetrizes e enfermeiras: velhos problemas ou novas possibilidades? Estudos Feministas, 2002, a. 10, 2. sem., p. 449-459.

RODRIGUEZ, C.A.; POLI NETO, P.P.; BEHRENS, M.A. Paradigmas educacionais e a formação médica. Revista Brasileira de Educação Médica, 2004, n. 28, a. 3, p. 234-241.

SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Saúde. Resolução 143, de 18.08.89. Dispõe sobre medidas que visam reduzir o uso indiscriminado de operação cesariana. 1989. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, 19 de agosto de 1989. Seção I, p.9.

SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Saúde. Deliberação CIS/SP 39/90. Medidas complementares à Resolução 143 de 18.08.89. São Paulo: Diário Oficial do Estado de São Paulo, 26 de setembro de 1990. P.13.

SÃO PAULO (Município). Secretaria Municipal de Saúde. Comitê de Mortalidade Materna. Relatório compilado de 10 anos das atividades do comitê de mortalidade materna do município de São Paulo (1993-2002). Prefeitura Municipal de São Paulo. 2004. Disponível em <http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/saude/mulher/0007/Compilado_10anos.pdf>. Acesso em: 10/07/2007.

SAÚDE BRASIL. Uma análise da desigualdade na saúde. Brasília: Ministério da Saúde. 2006. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/saude_brasil_2006.pdf>. Acesso em 18/09/2007.

SER MÉDICO. Cesárea a pedido: atender ou não? 2004, jul-ago-set, p. 28-34.

208

SCHINDL, M.; BIRNER, P.; REINGRABNER, M.; JOURA, E.A.; HUSSLEIN, P.; LANGER, M. Elective cesarean section versus spontaneous delivery: a comparative study of birth experience. Acta Obstetrica Gynaecologyc Scandivavica, 2003, n. 188, p. 864-870.

SCHRAIBER, L.B. No encontro da técnica com a ética: o exercício de julgar e decidir no cotidiano do trabalho em medicina. Interface, Comunicação, Saúde e Educação, 1997, n. 1, a. 1, p. 123-138.

SCOTT, J.R. Putting elective cesarean into perspective. (Editorial). Obstetrics and Gynecology, 2002, n. 99, a. 6, p. 967-968.

SHEARER, E.L. Cesarean section: medical benefits and costs. Social Science and Medicine, 1983, n. 37, p. 1223-1231.

SILVA, L.B.; SILVA, M.P.; SOARES, P.C.M.; FERREIRA, Q.T.M. Posições maternas no trabalho de parto e parto. Femina, 2007, n. 35, a. 2, p. 101-106.

SILVEIRA, D.S.; SANTOS, I.S. Fatores associados à cesariana entre mulheres de baixa renda em Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Caderno de Saúde Pública, 2004, n. 20, supl.2, S231-S241.

SIQUEIRA, J.E.; EISELE, R.L. O ensino da ética no curso de medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, 2000, n. 24, a. 1, p. 22-26.

SITZIA, J.; WOOD, N. Patient satisfaction: a review of issues and concepts. Social Science and Medicine, 1997, n. 45, a.12, p. 1829-1843.

SOUEN, J. A mulher no novo milênio- aspectos sociais e suas implicações médicas. Femina, 2003, n. 31, a. 7, p. 657.

SZEJER, M., STEWART, R. Nove meses na vida da mulher: uma abordagem psicanalítica da gravidez e do nascimento. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1997. apud CONSONNI, E.B., CALDERON, I.M.P., CONSONNI, M., RUDGE, M.V.C. Aspectos psicológicos na gravidez e parto. Femina, 2003, n. 31, a. 7, p. 577-581.

TANG, S.; LI, X.; WU, Z. Rising cesarean delivery rate in primiparous women in urban China: evidence from three nationwide household health surveys. American Journal of Obstetrics and Gynecology, 2006, n. 195, p. 1527-1532.

209

TEDESCO, R.P.; MAIA FILHO, N.L.; MATHIAS, L.; BENEZ, A.L.; CASTRO, V.C.L.; BOURROUL, G.M., et al. Fatores determinantes para as expectativas de primigestas acerca da via de parto. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 2004, n. 26, a. 10, p. 791-798.

THURMAN, A.R.; ZOLLER, J.S.; SWIFT, S.E. Non-pregnant patiets' preference for delivery route. International Urogynecology Journal Including Pelvic Floor Dysfunction, 2004, n. 15, a. 5, p. 308-312.

TIZZOT, E.L.A. Princípios da relação contratual entre o médico e a paciente. Femina, 2007, n. 35, a. 8, p. 529-531.

TORNQUIST, C.S. Armadilhas da nova era: natureza e maternidade no ideário da humanização do parto. Estudos Feministas, 2002, 2º. sem., p. 483-492.

TRANQUILLI, A.L.; GARZETTI, G.G. A new ethical and clinical dilemma in obstetric PRACTICE: cesarean section "on maternal request". American Journal of Obstetrics and Gynecology, 1997, n. 177, p. 245-246.

TRANQUILLI, A.L.; GIANNUBILO, S.R. Cesarean delivery on maternal request in Italy. International Journal of Gynecology and Obstetrics, 2004, n. 84, p. 169-170.

TREVIZAN, D. Senhora do parto. Revista Pais e Filhos. março de 2007, p.64-67.

TSAI, Y.W.; HU, T.W. National health insurance, physician financial incentives and primary cesarean deliveries in Taiwan. American Journal of Public Health, 2002, n. 92, a. 9, p. 1514-1517.

TURCOTTE, L.; ROBST, J.; POLACHEK, S. Medicaid coverage and medical interventions during pregnancy. International Journal of Health Care Finance and Economics, 2005, n. 5, p. 255-271.

UMENAI, T. Forewords of the international conference on the humanization of childbirth held on 2-4 november 2000, in Fortaleza, Ceará, Brazil. International Journal of Gynecology and Obstetrics, 2001, n. 75, S1-S2.

UMENAI, T., WAGNER, M.; PAGE, L.A.; FAUNDES, A.; RATTNER, D.; DIAS, M.A.; et.al. Conference agreement on the definition of humanization and humanized care. International Journal of Gynecology and Obstetrics, 2001, n. 75, S3-S4.

210

VADNAIS, M.; SACHS, B. Maternal mortality with cesarean delivery: a literature review. Seminaries of Perinatology, 2006, n. 30, p. 242-246.

VAITSMAN, J.; ANDRADE, G.R.B. Satisfação e responsividade: formas de medir a qualidade e a humanização da assistência à saúde. Ciência e Saúde Coletiva, 2005, n. 10, a. 3, p. 599-613.

VAN ROOSMALEN, J.; DOES, V. Caesarean birth rates worldwide. Tropical and Geographical Medicine, 1995, n. 47, a. 1, p. 19-22.

VIEIRA, A.L.S.; GARCIA, A.C.P.; AMÂNCIO FILHO, A.; PIERANTONI, C.R., FERRAZ, C.A.; OLIVEIRA, E.S., et al. Tendências do sistema educativo no Brasil: medicina, enfermagem e odontologia. 2004. In: A.F.R. Barros (Org), Observatório de Recursos Humanos em Saúde no Brasil: estudos e análise. Brasília, Brasil: Ministério da Saúde. p. 183-202.

WAGNER, M. Choosing caesarean section. Lancet, 2000, n. 356, p. 1677-1680.

WAGNER, M. Fish can't see water. The need to humanize birth. International Journal of Gynecology and Obstetrics, 2001, n. 75, S25-S37.

WALDENSTRÖM, U. Women's memory of childbirth at two months and one year after birth. Birth, 2003, n. 30, p. 248-254.

WALDENSTRÖM, U. Why do some women change their opinion about childbirth over time? Birth, 2004, n. 31, a.2, p. 102-107.

WALKER, R.; TURNBULL, D.; WILKINSON, C. Increasing cesarean section rates: exploring the role of culture in an australian community. Birth, 2004, n. 31, a. 2, p. 117-124.

WAX, J.R.; CARTIN,A.; PINETTE, M.G.; BLACKSTONE, J. Patient choice cesarean: an evidence-based review. Obstetrical and Gynecological Survey, 2004, n. 59, a. 8, p. 601-616.

WAX, J.R.; CARTIN,A.; PINETTE, M.G.; BLACKSTONE, J. Patient choice cesarean - the Maine experience. Birth, 2005, n. 32, a. 3, p. 203-206.

211

WHO REGIONAL OFFICE FOR EUROPE. Cesarean section per 1000 live births. European Health for all database (HFA-DB). 2006. Disponível em: <www.dataeuro.sho.int/hfa/db> Acesso em: 21/03/2006.

WILKINSON, C.; MCILWAINE, G.; BOULTON-JONES, C.; COLE, S. Is a rising caesarean section rate inevitable? British Journal of Obstetric and Gynaecology, 1998, n. 105, p. 45-52.

WILLIAMS, B. Patient satisfaction: a valid concept? Social Science and Medicine, 1994, n. 38, a. 4, p. 509-516.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Appropriate technology for birth. Lancet, 1985, n. 2, p. 436-437.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Joint Interregional Conference on Appropriate Technology for Birth, Fortaleza, 1985, n. 22-26 april, 1985

WORLD HEALTH STATISTICS. 2007. Disponível em <http://www.who.int/whosis/whostat2007.pdf>. Acesso em: 10/12/2007.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO) Care in Normal Birth: A Practical Guide: maternal and newborn health/safe motherhood unit. Geneva. 1996. Disponível em: <http://www.who.int/reproductive-health/publications/MSM_96_24/care_in_normal_birth_practical_guide.pdf>. Acesso em: 21/04/2007.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Regional Office for Europe Caesarean section per 1000 live births. European health for all database (HFA-DB). 2006. Disponível em: <www.data.euro.who.int/hfa/db>. Acesso em: 31/10/2007.

WORLD REPORT ON WOMEN'S HEALTH. Editorial. International Journal of Gynecology and Obstetrics, 2007, n. 97, p. 80-81.

WRIGHT, J.B.; WRIGHT, A. L., SIMPSON, N., et. al. A survey of trainee obstetricians preferences for childbirth. European Journal of Obstetrics and Gynaecology and Reprodutive Biology, 2001, n. 97, p. 23-25.

YAZAKI, L.M. Fecundidade da mulher paulista abaixo do nível de reposição. Estudos Avançados, 2003, n. 49, v. 17, p. 65-86.

212

YAZLE ROCHA, J.S.; ORTIZ, P.C.; FUNG, Y.T. A incidência de cesáreas e a remuneração da assistência ao parto. Caderno de Saúde Pública, 1985, n. 1, p. 457-466.

YAZLE, M.E.H.D.; ROCHA, J,S.Y.; MENDES, M.C.; PATTA, M.C.; MARCOLIN, A.C.; AZEVEDO, G.D. Incidência de cesáreas segundo fonte de financiamento da assistência ao parto. Revista de Saúde Pública, 2001, n. 35, a. 2, p. 202-206.

YOUNG, D. The push against vaginal birth (editorial). Birth, 2003, n. 30, p. 149-152.

ZANETTA, G.; TAMPIERI, A.; CURRADO, I., et al. Changes in cesarean delivery in na Italian university hospital, 1982-1996: a comparasion with the national trend. Birth, 1999, n. 26, p. 144-148.

ZORZETTO, R. Escolha errada. Pesquisa FAPESP, jun, 2006, p.39-44.

213

ANEXOS

214

215

216

217

218

INSTRUMENTO DE PESQUISA PARA PACIENTES Data do parto: ____________ Hora do parto:____ h e ____min Tipo de acomodação: ( ) apartamento individual ( ) enfermaria Nome do médico: __________________________________________________________ 1. Nome (paciente): _______________________________________________________ 2. Idade: _______anos 3. Raça: ( ) Branca ( ) Negra ( ) Amarela 4. Nível de escolaridade:

a. ( ) 1ª. a 3ª. séries (elementar incompleto)

a. ( ) até a 4ª. séries (elementar completo)

a. ( ) 5ª. a 8ª. séries

a. ( ) 2º. Grau (ensino médio)

a. ( ) ensino superior

a. ( ) pós-graduação 5. Trabalha atualmente? ( ) Sim ( ) Não 6. Renda média familiar mensal:

a. ( ) até 1 salário mínimo (até R$350,00)

a. ( ) 1 a 2 salários mínimos (R$350,00 a R$700,00)

a. ( ) 2 a 3 salários mínimos (R$700,00 a R$1050,00)

a. ( ) 3 a 5 salários mínimos (R$1050,00 a R$1750,00)

a. ( ) 5 a 10 salários mínimos (R$1750,00 a R$3500,00)

a. ( ) 10 a 15 salários mínimos (R$3500,00 a R$5250,00)

a. ( ) 15 a 20 salários mínimos (R$5250,00 a 7000,00)

a. ( ) acima de 20 salários mínimos (mais de R$7000,00) 7. Quantos partos já teve?

a. ( ) nenhum, este é o primeiro

a. ( ) um

a. ( ) dois

a. ( ) três ou mais 8. Os partos anteriores a esse foram: (colocar o número de partos normais, fórcipe e cesáreas)

Partos Normais (nº) Partos Fórcipes (nº) Partos Cesárias (nº)

219

9. Com relação ao seu(s) parto(s) anterior(es), a sra. ficou:

Totalmente satisfeita

Satisfeita Nem satisfeita

nem insatisfeita

Insatisfeita Totalmente insatisfeita

10. Número de consultas durante esse pré-natal:

a. ( ) até 3 consultas

b. ( ) 4 a 7 consultas

c. ( ) mais de 7 consultas 11. Durante o pré-natal, quais informações lhe foram transmitidas: (múltipla escolha)

a. ( ) informações sobre os tipos de parto

b. ( ) informações sobre a anestesia em parto normal

c. ( ) informações sobre anestesia em cesárea

d. ( ) informações sobre dores durante o trabalho de parto

e. ( ) informações sobre os sintomas após o parto normal

f. ( ) informações sobre os sintomas após o parto cesárea

g. ( ) informações sobre os riscos para a mãe e para o recém-nascido devido ao parto

normal

h. ( ) informações sobre os riscos para a mãe e para o recém-nascido devido ao parto

cesárea 12. Na sua opinião, o nível de informação sobre os tipos de parto obtido durante o

pré-natal foi:

Totalmente suficiente para decisão do tipo

de parto

Suficiente para decisão do tipo de parto

Nem suficiente nem

insuficiente Insuficiente

Totalmente insuficiente para decisão do tipo de parto

13. A sra. fez cursos de gestante durante a gravidez? ( ) Sim ( ) Não 14. A senhora teve acesso a outras fontes de informação sobre os tipos de parto (revistas,

internet, amigos, TV, etc.)?

a. Sim ( )

Quais?____________________________________________________________

b. Não ( )

15.Qual era seu desejo com relação ao tipo de parto no início da gestação?

a. ( ) gostaria de ter parto normal

b. ( ) gostaria de ter parto cesárea

220

c. ( ) não tinha nenhuma preferência

16.Com as informações obtidas com as consultas de pré-natal e outras fontes (cursos de

gestantes, revistas, internet etc.), esse desejo pelo parto mudou durante a gravidez?

a. ( ) Sim

b. ( ) Não

17.Por quê? _______________________________________________________________

__________________________________________________________________________ 18. O parto realizado foi: ( ) Normal ( ) Fórcipe ( ) Cesárea 19. Qual sua participação na decisão pelo tipo de parto realizado?

Participei integralmente na decisão (a paciente decidiu e o médico aceitou)

Participei parcialmente (paciente e médico

concordaram com a decisão)

Não participei na decisão (não opinou na decisão)

Participei mas meu medico me convenceu que estava errada

Discordei totalmente do médico, mas prevaleceu sua

decisão

20. Caso a sra. tenha participado da decisão pelo tipo de parto, em que momento essa

decisão foi tomada?

a. ( ) no início da gravidez

b. ( ) após as orientações recebidas pelo meu médico

c. ( ) após as informações obtidas por outras fontes (cursos de gestante, revistas,

internet, programas de televisão etc)

d. ( ) no final da gestação

e. ( ) após a internação no hospital 21. Caso a sra. tenha participado da decisão pelo tipo de parto, qual a importância dos

fatores abaixo para motivar essa decisão?

Concordo totalmente

Concordo Não

concordo nem discordo

Discordo Discordo totalmente

Estava ansiosa para terminar a gestação

Estava com medo das dores do parto normal

Estava com medo das dores após o parto cesáreo

Tinha medo com relação a problemas de sexualidade decorrentes do parto normal

desejo de praticidade para agendar o parto

221

medo de problemas para o recém-nascido decorrentes da cesárea

medo de problemas para o recém-nascido decorrentes do parto normal

realização de laqueadura das trompas durante a cesárea

a. outras razões para decisão do tipo de parto : _________________________________

_______________________________________________________________________ 22. Com relação à sua satisfação em relação ao tipo de parto realizado, a sra.:

Totalmente satisfeita

Satisfeita

Nem satisfeita nem

insatisfeita

Insatisfeita Totalmente insatisfeita

23. Sua mãe teve quantos partos?

a. ( ) um

b. ( ) dois

c. ( ) três ou mais 24. Esses partos foram:

a. ( ) todos normais

b. ( ) todos cesárea

c. ( ) um ou mais fórcipe

d. ( ) mix (escrever o número) ___P Normal ___ P Fórcipe ____P Cesárea 25. Sua mãe costumava comentar com a sra. sobre as dificuldades dos partos que teve?

a. ( ) Nunca comentou muito

b. ( ) Gostava de comentar sobre as desvantagens do parto normal

c. ( ) Gostava de comentar sobre as vantagens do parto normal

d. ( ) Gostava de comentar sobre as desvantagens do parto cesárea

e. ( ) Gostava de comentar sobre as vantagens do parto cesárea

f. ( ) Falava igualmente sobre as vantagens e desvantagens dos dois tipos de parto

g. ( ) Não me lembro

h. ( ) Não procede 26. Numa eventual gravidez futura, a sra. gostaria de:

a. ( ) realizar o mesmo tipo de parto

b. ( ) realizar outro tipo de parto

222

c. ( ) não deseja outra gestação

d. ( ) não sabe 27. Existem dúvidas relacionadas com o parto normal, como a perda da elasticidade vaginal

comprometendo a sexualidade feminina, a possibilidade futura de problemas de bexiga

etc. A sra. acha que essas questões:

a. ( ) são muito importantes e por isso muitas mulheres desejam parto cesárea

b. ( ) são importantes, mas não fundamentais na escolha pelo tipo de parto pela

gestante

c. ( ) não são importantes 28. Em alguns países desenvolvidos, existe a prática de a mulher fazer o pré-natal com um

médico e dar à luz com outro médico, geralmente de plantão no hospital. Com relação a

essa prática, a Sra.:

Concordaria totalmente

Concordaria

Não concordaria

nem discordaria

Discordaria Discordaria totalmente

223

INSTRUMENTO PARA QUESTIONÁRIO DE PESQUISA PARA MÉDICOS

1. Nome: __________________________________________________

2. Idade (anos): ________

3. Sexo: ( ) M ( ) F

4. Tempo de formação médica (anos): _______

5. Atividades Profissionais além do Consultório:

a. ( ) emprego público diarista

b. ( ) emprego público plantão

c. ( ) emprego CLT (carteira assinada)

d. ( ) emprego autônomo

6. Quantidade média de partos por mês:

a. ( ) 1 a 5 partos

b. ( ) 6 a 10 partos

c. ( ) 11 a 15 partos

d. ( ) mais de 15 partos

7. De cada 10 partos realizados nos últimos 6 meses, qual seu percentual de partos

cesárea em média? _____

8. Em relação à execução de parto normal, qual sua percepção sobre os fatores que possam criar dificuldades para realiza-lo:

Concordo

totalmente

Concordo Não concordo

nem discordo

Discordo Discordo

totalmente

Remuneração não

diferenciada pelo

procedimento

imprevisibilidade do

resultado neonatal

imprevisibilidade do

momento do

trabalho de parto

temor de ações

judiciais originadas

pela paciente

dificuldades de

locomoção em São

Paulo (trânsito,

riscos de violência,

etc)

falta de tempo para

224

acompanhar o

trabalho de parto

(outras atividades

profissionais)

falta de estrutura

física hospitalar para

execução do parto

normal

insegurança quanto

ao acompanhamento

no pré-parto pela

enfermeira

obstétrica

vontade materna ou

insegurança da

paciente pelo parto

normal

9. Em sua opinião, a atuação das enfermeiras obstetras nos hospitais privados atualmente

tem sido:

a. ( ) excelente

b. ( ) boa

c. ( ) indiferente

d. ( ) ruim

e. ( ) péssima

10. O sr. aceita o desejo materno como indicação de cesárea em gestações de baixo risco?

a. ( ) S Porque? _________________________________________

b. ( ) N Porque? _________________________________________

11. Partindo-se do fato de haver cerca de 80% de cesárea em serviços hospitalares

privados do município de São Paulo, qual sua percepção sobre esta taxa de cesárea?

a. ( ) é muito elevada e deve haver esforços para reduzi-la

b. ( ) é muito elevada, porém não há motivos para reduzi-la

c. ( ) é adequada para o modelo de assistência a saúde no município

d. ( ) sou indiferente a esta taxa

12. Se houvesse remuneração diferenciada para parto normal, o sr. acredita que haveria

mudanças nas atuais taxas de cesárea na medicina privada em São Paulo?

( ) S ( ) N

13. O Sr. possui seguro de responsabilidade médica (seguro feito por médicos para

“proteção” contra ações judiciais)?

( ) S ( ) N

225

14. O sr. acredita que o medo de ações judiciais pode ser um motivo relevante para a

realização do parto cesárea no município de São Paulo?

( ) S ( ) N

15. O sr. acredita que a formação atual dos médicos na faculdade e na

residência/especialização na área de obstetrícia é um motivo relevante para justificar

as taxas de cesárea no município de São Paulo?

( ) S ( ) N

16. O Sr. acredita que a possibilidade de haver necessidade de utilizar o fórcipe para

realizar o parto vaginal pode:

Concordo

totalmente

Concordo Não concordo

nem discordo

Discordo Discordo

totalmente

aumentar a taxa de

cesárea pelo temor das

gestantes quanto ao uso

do fórcipe

aumentar a taxa de

cesárea pela falta de

treinamento médico em

utilizar adequadamente

o fórcipe

não interfere na decisão

pelo tipo de parto a ser

realizado

17. Há muita discussão sobre os malefícios que o parto cesárea, sem indicação médica

absoluta, poderia trazer à mãe e ao recém-nascido. Na sua experiência profissional,

atendendo pacientes particulares e de convênios:

Concordo

totalmente

concordo Não concordo

nem discordo

discordo Discordo

totalmente

o parto cesárea aumenta a

morbi-mortalidade materna

e/ou perinatal

o parto cesárea não interfere

na morbi-mortalidade materna

e/ou perinatal

o parto vaginal reduz a morbi-

mortalidade materna e/ou

perinatal

226

18. Em sua experiência profissional, questões culturais, como a perda da elasticidade

vaginal após parto vaginal, comprometendo a sexualidade feminina:

a. ( ) são muito importantes para a maioria das gestantes, e por isso desejam parto

cesárea

b. ( ) são importantes para a maioria das gestantes, mas não fundamentais na

escolha pelo tipo de parto

c. ( ) não são importantes para a maioria das gestantes

19. Somente para médicas:

a. Paridade: ____Gesta ____ Parto Vaginal _____ Parto Cesárea

se a senhora estivesse grávida, a sua preferência seria realizar:

i. ( ) parto vaginal

ii. ( ) parto cesárea

iii. ( ) deixaria a critério do médico obstetra

20. Somente para médicos:

a. Quantos filhos o sr. tem? ________

b. Quantos nasceram por parto vaginal? _______

c. O Sr. participou na decisão do tipo de parto de sua esposa?

iv. ( )S

v. ( )N Por que? ______________________________________