frustraÇÃo e conflito_apontamentos

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FRUSTRAÇÃO E CONFLITO Frustração Essência da frustração ser impedido/privado de atingir uma meta. 1 Questão fundamental no estudo da frustração: Que acontece quando um organismo/sujeito se encontra impossibilitado de atingir um objecto/meta? Três fontes principais da frustração 1) Meio físico . O cão não pode roer o osso que foi lançado para fora do alcance da sua corrente; a criança não pode jogar com a bola, porque a atirou para o quintal do vizinho e é muito pequena para saltar o muro. 2) Meio social . A criança que entra no meio do ano escolar é impedida de arranjar muitos amigos em virtude das barreiras constituídas pelas amizades já existentes. As barreiras sociais podem ter consequências muito profundas; o facto de um sujeito não ser aceite pelos outros membros do grupo pode trazer-lhe problemas bastante graves. 3) Muitas vezes também somos frustrados devido às nossas imperfeições pessoais ou àquilo que julgamos serem imperfeições pessoais. Modalidades/tipos da frustração A) Frustrações primárias quando o objecto não existe. Exemplo: quero uma torrada, mas não há pão. Não existe o objecto capaz de satisfazer a motivação inicial. Pulsão objecto inexistente. B) Frustrações secundárias O objecto que permite satisfazer a necessidade existe. No entanto, surge um 1 Frustração situação do indivíduo quando, por ausência do objecto esperado/desejado ou por interposição de um obstáculo (agente frustrante) é impedido de atingir a meta. 1

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Page 1: FRUSTRAÇÃO E CONFLITO_Apontamentos

FRUSTRAÇÃO E CONFLITO

Frustração

Essência da frustração ser impedido/privado de atingir uma meta.1

Questão fundamental no estudo da frustração: Que acontece quando um organismo/sujeito se encontra impossibilitado de atingir um objecto/meta?

Três fontes principais da frustração

1) Meio físico. O cão não pode roer o osso que foi lançado para fora do alcance da sua corrente; a criança não pode jogar com a bola, porque a atirou para o quintal do vizinho e é muito pequena para saltar o muro.

2) Meio social. A criança que entra no meio do ano escolar é impedida de arranjar muitos amigos em virtude das barreiras constituídas pelas amizades já existentes. As barreiras sociais podem ter consequências muito profundas; o facto de um sujeito não ser aceite pelos outros membros do grupo pode trazer-lhe problemas bastante graves.

3) Muitas vezes também somos frustrados devido às nossas imperfeições pessoais ou àquilo que julgamos serem imperfeições pessoais.

Modalidades/tipos da frustração

A) Frustrações primárias quando o objecto não existe. Exemplo: quero uma torrada, mas não há pão. Não existe o objecto capaz de satisfazer a motivação inicial.

Pulsão objecto inexistente.

B) Frustrações secundárias O objecto que permite satisfazer a necessidade existe. No entanto, surge um obstáculo que impede satisfazer essa necessidade. Exemplo: caso da criança que não pode jogar à bola porque não consegue saltar o muro do vizinho para ir buscá-la.

Pulsão obstáculo objecto

Conflito

Conflito situação resultante, no mesmo indivíduo, de impulsos (ou opções) incompatíveis.

Entre o conflito e a frustração há uma correlação evidente. O sujeito numa situação conflitual encontra-se entre dois extremos ou entre duas situações que se excluem; assim, optando por uma frustra sempre o seu desejo pela outra.

Exemplos:

1 Frustração situação do indivíduo quando, por ausência do objecto esperado/desejado ou por interposição de um obstáculo (agente frustrante) é impedido de atingir a meta.

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- Se escolho a primeira cor, sacrifico a segunda; se escolho a segunda, posso arrepender-me de não ter escolhido a primeira. Do conflito saio pela frustração.

- Ele e ela têm encontro marcado numa hora certa. Um deles chega, o outro tarda. Que fazer? Ser compreensivo e esperar, ou dar uma “lição” de pontualidade, indo embora? Entre a indulgência e a severidade, como optar? Da frustração o sujeito sai pelo conflito.

- Uma pessoa pode desejar meter-se em grandes aventuras, mas o medo coloca-a sempre numa situação de indecisão, de conflito.

Alguns modelos de conflito

Atracção – atracçãoNeste tipo de conflito o organismo encontra-se entre dois objectos atraentes/apetecidos.

A fábula do burro entre dois montes de feno caracteriza este tipo de conflito.

Repulsão – repulsãoExemplo: fim de semana invernoso. Passar o dia em casa (o que é aborrecido) ou expor-

me à chuva (o que é desagradável)? Opção entre duas alternativas igualmente desagradáveis.«Num conflito de repulsão-repulsão o organismo é apanhado no meio de duas situações

repulsivas ou negativas, as quais procura evitar.» Kendler

Atracção – repulsãoO rato tem a comida à vista (pólo do prazer), mas pelo preço de um choque eléctrico

(pólo do medo). O indivíduo envolvido num conflito de atracção-repulsão é atraído e repelido pela mesma coisa.

Comportamentos produzidos pela frustração

A frustração gera, muitas vezes, novas formas de comportamento. Por exemplo, a criança ataca um companheiro de jogo que lhe tirou o brinquedo; um aluno, que não está a sair-se bem, reage convencendo-se a si e aos outros que os professores “lhe querem mal”.

A agressãoA agressão pode ser expressa numa grande variedade de maneiras, desde o ataque físico

às insinuações hostis. É comum que o comportamento agressivo seja consequência da frustração.

Exemplos da relação agressão-frustração.- «Conservou-se toda a noite acordado um grupo de universitários, sob o pretexto de

que estavam a servir de sujeitos numa experiência para medir os efeitos da fadiga. Proibia-se-lhes também fumar e, sempre que começavam a falar, ordenava-se-lhes que estivessem calados. Além disso, negava-se-lhes propositadamente jogos e alimentos até então permitidos. A esta situação frustrante os sujeitos respondiam com agressão directa, fazendo comentários desagradáveis acerca da experiência e pondo em questão a sanidade dos psicólogos que a dirigiam. Um sujeito com fracos talentos artísticos desenhou um esboço de corpos mutilados e sangrentos. Interrogado sobre o significado da figura, respondeu logo: “Psicólogos”.» (Kendler)

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Nesta experiência a agressão foi dirigida contra a fonte da frustração. Mas a agressão pode ser deslocada, isto é, dirigida contra um objecto ou pessoa inocente, não responsável pela frustração (Exemplos: Um indivíduo severamente criticado pelo patão/chefe, chega a casa e é violento/agressivo para a mulher e os filhos, sem qualquer razão evidente; a criança castigada puxa a cauda do gato ou atira pedras ao cão; etc.).

- A agressão aberta é muitas vezes inibida. Uma pessoa pode não manifestar abertamente o comportamento agressivo, mas nem por isso podemos concluir que ela não acalenta sentimentos agressivos. O soldado raso pode aparentar humilde submissão à punição do sargento e estar, na realidade, a ferver com impulsos agressivos, que não pode exprimir com medo das represálias. Mais tarde, seguro no meio dos colegas, a sua agressividade levá-lo-á provavelmente a fazer uma amarga caricatura do sargento.

- A frustração pode ter efeitos cumulativos. Um indivíduo que espera com antecipado prazer um domingo agradável e relaxado em casa, pode reagir a uma série de frustrações secundárias visita inesperada de familiares, impertinência dos filhos sem efeito aparente. Mas com mais uma frustração secundária por exemplo, encontrar o jornal espalhado na sala de estar repentinamente “irá aos arames”. O que acontece é que se acumulam doses sucessivas de frustração até à última gota que faz transbordar o copo. De repente, a agressão torna-se bastante forte, em consequência do efeito cumulativo da frustração, para se transformar em hostilidade aberta.

- O comportamento agressivo, em especial a violência física, não é ordinariamente tolerado na nossa sociedade, sendo frequente punirem-se as crianças que a ela recorrem. Contudo, em vez de reduzir a tendência à agressão, parece que a punição a aumenta2.

São várias as razões desta relação. Um dos factores pode ser o das crianças imitarem os pais. Quando um pai pune um filho fisicamente, tem de lembrar-se que está a servir-lhe de modelo.

A apatiaO organismo responde, às vezes, a uma situação frustrante com apatia. A apatia é

caracterizada pela extrema indiferença ao ambiente e por um geral desinteresse.

A racionalizaçãoFábula da raposa: como não chega às uvas, diz que estão verdes. A raposa não aceita o

insucesso; nega o fracasso, racionaliza-o.Exemplo com uma sugestão pós-hipnótica. Diz-se a um sujeito hipnotizado que, depois

de acordar, irá abrir a janela sempre que vir o hipnotizador tirar um lenço do bolso e que irá esquecer-se de que lhe deram essas instruções. Assim, mesmo em conversa com outras pessoas, quando ele vê o hipnotizador tirar o lenço do bolso, dirige-se para a janela e hesita; como não compreende o desejo de abrir a janela e quer comportar-se racionalmente, diz: «Não está abafado aqui?». Tendo apresentado uma razão plausível para o que vai fazer, abre a janela.3

Outro exemplo. Consideremos uma criança ensinada a ter êxito, mas que foi mal sucedida na escola. O insucesso significa que ela não é esperta ou é preguiçosa. Ora, ela aprendeu que tais qualidades são antipáticas. Por isso, quando é mal sucedida, tem de convencer-se que o exame foi injusto. Tal racionalização permite-lhe evitar uma auto-avaliação negativa.

2 Em várias sondagens, verificou-se que as mães que mais puniam severamente eram as que tinham os filhos mais agressivos.3 Somos sempre levados a encontrar uma explicação razoável para o que fazemos.

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A racionalização é um processo de desculpabilização, acompanhado de forte argumentação, para (eventualmente) iludir a própria responsabilidade, aliviar a ocasião frustrante e não abalar muito a auto-estima.

A compensação(,,,)

A fantasia4

A frustração gera muitas vezes a fantasia, porque pode ser mais facilmente superada em imaginação do que na realidade.

Exemplos: as crianças que “sonham” ser heróis; os adultos que “sonham” com o sucesso e a riqueza. Os devaneios podem ajudar a suportar as frustrações inevitáveis da vida.

A sublimaçãoModo de deslocar a pulsão inaceitável para fins socialmente aceites e úteis.

A regressão(,,,)

…/…

4 Ou devaneio.

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