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KAHLO

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KAHLOKA

HL

O

PS Kahlo 4C ok.qxp 6/23/2007 9:47 AM Page 2

© Sirrocco, Londres (edição portuguesa)

ISBN: 978-1-78042-573-3

Todos os direitos de adaptação e de reprodução reservados paratodos os países.Salvo menção contrária, os direitos das obras reproduzidasencontram-se junto dos fotógrafos que são os autores. Apesar dasnossas pesquisas, foi-nos impossível estabelecer os direitos deautor em alguns casos. Em caso de reclamação, solicitamos-lheque se dirija à casa de edição.

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Frida

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Apintora e a personagem Frida Kahlo são a mesma pessoa, impossíveis de separar,

mas, no entanto, ela usou muitas máscaras. No círculo de amigos que lhe eram mais

íntimos, Frida era o centro das atenções com os seus comentários humorísticos e

mordazes, a sua singular, mas distante, identificação com os camponeses do México, a crítica

sarcástica que lançava aos Europeus e à categorização a que sujeitavam os seus trabalhos: os

Impressionistas, os Pós-Impressionistas, os Expressionistas, os Surrealistas, os Realistas

Sociais, etc., que procuravam dinheiro e patronos ricos ou um lugar nas academias. No

entanto, anos mais tarde, ela passou a desejar algum reconhecimento para si própria e para

os seus quadros que em tempos teria oferecido como recordações. O que começara como um

passatempo, depressa se apoderou da sua vida. A sua vida pessoal alternava entre a

exuberância e o desespero, já que ela se debatia com dores causadas por lesões na coluna,

nas costas, no pé e perna direitos, doenças provocadas por fungos, viroses abortivas e

tratamentos experimentais realizados pelos seus médicos. A única alegria constante na sua

vida era o seu marido, Diego Rivera. Frida suportou as infidelidades do seu companheiro e

ripostou envolvendo-se amorosamente com homens e mulheres muito atraentes, romances

que tiveram lugar em três continentes diferentes. No entanto, depois das várias separações do

casal, Diego e Frida acabavam por voltar a juntar-se. No final da sua vida, Diego apoiou-a

determinadamente tal como o México, que tinha sido lento a aperceber-se da importância do

tesouro que ela constituía.

Tendo-lhe sido negado o reconhecimento do seu valor como artista na sua terra natal até

aos últimos anos da sua vida, Frida Kahlo realizou apenas uma exposição individual no

México, na cidade onde nasceu. Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón nasceu em

Coyoacán, no México, a 6 de Julho de 1907. A sua mãe, Matilde Calderón, uma católica

devota, mestiça de origem índia e europeia, tinha ideias profundamente conservadoras sobre

o papel social que uma mulher deveria desempenhar no mundo. Por outro lado, o pai de Frida,

artista e fotógrafo de algum mérito, incentivava-a a pensar por ela própria. Ele tinha

esperança que Frida seguisse os seus passos nas artes criativas. Assim, tornou-se o seu

primeiro mentor e afastou-a das obrigações domésticas tradicionais, aceites pela maioria das

mulheres mexicanas. Ela tornou-se sua fotógrafa assistente e começou a aprender o ofício.

Frida Kahlo era mimada, obsequiada e impressionável. Para lhe assegurar uma boa educação,

inscreveram-na na Escuela Nacional Preparatoria, em San Ildefonso, em 1922. Livre das entediantes

tarefas domésticas, associou-se a alguns grupos organizados dentro da estrutura social da

escola. Sentiu-se especialmente atraída pela malta dos Cachuchas - um grupo de boémios

intelectuais, cujo nome se devia do tipo de chapéus que usavam. Alejandro Gómez Arias, o líder

deste grupo elitista e heterogéneo, referia repetidamente em inúmeros discursos que para surgir

um novo despertar no México era essencial “optimismo, sacrifício, amor, alegria” e uma liderança

arrojada. Ela permaneceu uma Comunista convicta para o resto da vida.

1. Frida Kahlo aos 18

anos, 1926. Fotografia

de Guillermo Kahlo.

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A atmosfera na Cidade do México estava inflamada por perigos e debates políticos.

Oradores que desafiassem qualquer regime político que exercesse o poder no momento eram

abatidos a tiro no meio da rua ou deixavam-se absorver pela corrupção. Porfírio Diaz foi

substituído por Madero, que aguentou 13 meses no poder, até ser atingido por uma dose letal

de balas atiradas pelo seu general, Victoriano Huerta.

Mais tarde, enquanto Huerta fugia do México, Venustiano Carranza assumiu o poder e não

foi muito melhor do que os que o precederam. Aqui e ali ouviam-se ideais do proletariado da

revolução Comunista que varrera a Rússia após o assassinato do Czar e da sua família, em

1917. As teorias socialistas de Marx e Engels pareciam promissoras depois do massacre da

interminável Revolução Mexicana. No entanto, apesar do debate e da progressiva dialéctica

política, Frida reteve alguns ensinamentos católicos da sua mãe e desenvolveu uma paixão

pela tradição mexicana. Nesta altura, o pai deu-lhe um conjunto de tintas e pincéis. Era usual

ele levar consigo as tintas e a máquina fotográfica em expedições e outras missões.

Frida tornou-se uma estudante despreocupada na Escuela Nacional Preparatoria, tirando

mais partido do estímulo por parte dos seus amigos intelectuais do que dos estudos formais.

Nesta altura, ela soube que o Ministro da Educação tinha encomendado a pintura de um

grande mural para o pátio da Escola. O seu título era Creation e cobria 150 metros quadrados

de parede. O pintor era o artista Mexicano Diego Rivera que tinha trabalhado na Europa nos

catorze anos anteriores. Para Frida, a criação de uma cena que se expandia gradualmente

sobre o branco da parede era fascinante. Ela esgueirava-se frequentemente para o auditório

com alguns amigos para verem o trabalho de Rivera.

Desde muito cedo que Frida aprendera com o seu pai a apreciar a arte da pintura. Como

parte da sua educação, ele encorajava-a a copiar as pinturas e os desenhos de outros artistas.

Para atenuar a situação financeira em casa, ela tornou-se aprendiz de um gravador, Fernando

Fernandez. Fernandez elogiou o seu trabalho e deu-lhe tempo para ela copiar pinturas e

desenhos com caneta e tinta – como um passatempo, como uma expressão pessoal, não como

“arte”, pois Frida não pensava vir a tornar-se uma artista profissional. Ela considerava as

habilidades de artistas como Diego Rivera para além das suas capacidades. Até que num

acontecimento tudo mudou para sempre. Nas palavras de Kahlo para a autora Raquel Tibol:

“Naquele tempo, os autocarros eram muito frágeis; tinham começado a circular e tinham

muito sucesso, mas os eléctricos estavam vazios. Eu entrei no autocarro com Alejandro

Gomez Arias e sentei-me ao lado dele numa das extremidades perto do corrimão.

Momentos depois, o autocarro chocou contra um eléctrico da linha de Xochimilco e o

eléctrico esmagou o autocarro contra a esquina da rua. Foi uma colisão estranha, não

violenta, atordoante mas lenta, e magoou toda a gente incluindo a mim que fiquei

gravemente ferida...”

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2. Arsenal – Frida Kahlo

distribuindo armas.

Detalhe do ciclo Ideal

Político do Povo

Mexicano

(no Fiesta Court), 1928,

2,03 x 3,98 m.

Secretaría de Educación

Pública – SEP,

Cidade do México.

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A cena do acidente era horrível. O corrimão de ferro atravessou-lhe a coxa e a vagina. Uma

fonte de sangue jorrou-lhe do ventre. No meio do caos, um dos presentes insistiu que o

corrimão fosse tirado de dentro dela. Ele baixou-se e arrancou-o do seu ventre. Ela gritou tão

alto que a sirene da ambulância que se aproximava não foi ouvida.

A devastação causada ao corpo de Frida Kahlo pode ser apenas imaginada, mas as

implicações foram muito piores assim que ela se apercebeu que iria sobreviver. Esta jovem

rapariga vivaz, com um sem número de possibilidades de carreira, fora reduzida a uma

inválida que passaria grande parte do tempo acamada. Só a sua juventude e vitalidade lhe

salvaram a vida. Com a crise económica que se sentia no México, o seu pai enfrentava agora

dificuldades em ganhar dinheiro suficiente para sustentar a família e pagar as despesas

médicas. Isto obrigou a prolongar a sua estadia no hospital da Cruz Vermelha, superlotado e

com falta de pessoal, durante um mês.

Mais tarde regressaria a casa ainda acamada, envolvida em gesso e ligaduras.

Gradualmente, a sua indomável força de vontade iria afirmar-se e ela começou a decidir

pela sua vida enfrentando um leque de possibilidades reduzidas. Em Dezembro de 1925,

3. Acidente, 1926.

Lápis sobre papel,

20 x 27 cm.

Colecção Rafael

Coronel, Cuernavaca,

Morelos.

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recuperou o uso das pernas. A primeira das dolorosas viagens que realizou depois do acidente

foi à Cidade do México. Pouco depois, foi acometida por dores lancinantes nas costas e mais

médicos entraram na sua vida. Foram descobertas três fracturas na coluna vertebral que ainda

não tinham sido diagnosticadas e ela foi novamente engessada.

Encurralada e imobilizada após aqueles breves dias de liberdade, começou a estreitar as

opções de forma realista. À medida que os dias de introspecção continuavam, Frida passava

o tempo a pintar cenas de Coyoacán e retratos dos parentes e amigos que a visitavam.

Ficou surpreendida pelos elogios às suas pinturas e começou a decidir a quem as iria

oferecer, mesmo antes de executá-las. Oferecia-os como recordações. Com estes quadros,

começou uma incrível série de reflexões totalmente conscientes de Frida Kahlo, introspectivas

e reveladoras, que examinavam o mundo pelos seus próprios olhos e a partir do interior

daquele corpo retalhado. Em 1928, Frida recuperara o suficiente para pôr de lado os

espartilhos ortopédicos e escapar ao mundo restrito da sua cama, saindo da Casa Azul

novamente e regressando à confusão política que era a Cidade do México. Nesta altura

recomeçou a explorar o emocionante mundo das artes e da política do México.

Não perdeu tempo em juntar-se aos seus antigos camaradas dos vários grupos da Escola

preparatória. À medida que se movimentava de um círculo para o outro, começou a

relacionar-se com uma variedade de aspirantes a políticos, anarquistas e comunistas que

gravitavam em redor de uma americana expatriada, Tina Modotti. Durante a Primeira Guerra

Mundial e no início dos anos 20, muitos intelectuais, artistas, poetas e escritores americanos

saíram dos Estados Unidos para o México e mais tarde para a França, em busca de uma vida

fácil e de idealismo político. Elogiavam ou criticavam os trabalhos uns dos outros, entre si, e

escreviam manifestos longos mas com pouco conteúdo, enquanto participavam numa longa e

inebriante festa que durou vários anos, indo do apartamento para a taberna, de uma taberna

para outra e de volta ao apartamento. Estes expatriados criaram uma visão romântica do

nobre camponês a trabalhar nos campos e promoviam o estilo de vida Mexicano, com fiestas

e siestas que eram interrompidas ocasionalmente por uma revolta sangrenta de camponeses e

assassinatos de políticos.

Foi nesta sociedade de debate, influenciada por tequilha, que apareceu Diego Rivera, o

pródigo, de volta a casa após 14 anos no estrangeiro e de ter sido expulso de Moscovo.

Embora fosse maltratado pelos críticos de arte Estalinistas e apesar do governo Russo o ter

ameaçado caso ele não saísse do país, Diego abraçou o Comunismo como a salvação do

mundo. Pouco depois da sua chegada em 1921, ele procurou movimentos de arte pró-

mexicanos, pintores de muros e pintores de cavalete, fotógrafos e escritores. No contexto deste

ambiente profundamente apoiante das tradições mexicanas, o círculo de expatriados e

viajantes em volta de Tina Modotti ajustava-se perfeitamente aos circuitos sociais festivos.

Frida aproximou-se deste grupo de agitadores.

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