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FREDERICH LIST E A PROTEÇÃO A INDUSTRIA NACIONAL

As negociações realizadas no âmbito da Organização Mundial do Comércio,

para possibilitar a ampliação do comércio global, não foram bem sucedidas devido a

discordâncias sobre mecanismo de proteção.

Neste trabalho lembramos as origens históricas da teoria do livre comércio e

suas contestações teóricas fazendo uma re-leitura dos textos de Adam Smith, Alexander

Hamilton e Frederich List.

The negotiations of a global free trade that happened at United Nations

Conference on trade and Development did not succeed due to lack of agreement on

protection measures adopted by some countries.

In this paper we describe the historic origins of the theory of free trade and its

earlier contest through a reading of the texts of Adam Smith, Alexander Hamilton and

Frederich List.

Nome do autor: Rabeno Ronnie Hemsi

Doutorando em História Econômica pela Universidade de São Paulo

Endereços:

[email protected]@uol.com.br

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1

No livro quarto – Sistemas de Economia Política - capítulos II de A Riqueza das

Nações, Adam Smith trata das “Restrições à Importação de Mercadorias Estrangeiras

que Podem ser produzidas no Próprio País”. O seu pensamento pode ser sintetizado

pelas seguintes frases:

“ Constituem pura loucura as restrições comerciais impostas em

defesa da indústria interna de um país: cada nação, como cada indivíduo,

deve comprar lá onde os produtos apresentam preços mais baratos; a fim

de atingir o mais alto grau de prosperidade nacional, temos que seguir

simplesmente a máxima de deixar as coisas andarem (laisser faire et

laisser aller)”. (o griffo é nosso)

“Outorgar o monopólio do mercado interno ao produto da

atividade nacional, em qualquer arte ou ofício, equivale, de certo modo, a

orientar pessoas particulares sobre como devem empregar seus capitais -

o que, em quase todos os casos, representa uma norma inútil ou danosa.

Se os produtos fabricados no país podem ser nele comprados tão barato

quanto os importados, a medida é evidentemente inútil. Se, porém, o

preço do produto nacional for mais elevado que o importado, a norma é

necessariamente prejudicial. Todo pai de família prudente tem como

princípio jamais tentar fazer em casa aquilo que custa mais fabricar do

que comprar...” (o griffo é nosso)

“ O que é prudente na conduta de qualquer família particular

dificilmente constituíra insensatez na conduta de um grande reino. Se um

país estrangeiro estiver em condições de nos fornecer uma mercadoria a

preço mais baixo do que a mercadoria fabricada por nós mesmos, é

melhor comprá-la com uma parcela da produção de nossa própria

atividade, empregada de forma que possamos auferir alguma vantagem.”

(o griffo é nosso)

“Sem dúvida, tais restrições às vezes permitem que possamos

adquirir determinada mercadoria com maior rapidez do que se ela tivesse

de ser importada e, depois de certo tempo, ela poderá ser fabricada a

preço tão baixo ou até mais baixo do que a mercadoria produzida fora do

país. Embora, porém, a atividade da sociedade possa ser dessa forma

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dirigida com vantagem para um canal específico mais rapidamente do

que de outra forma aconteceria, de maneira alguma resulta que tal

regulamento restritivo possa jamais aumentar a soma total da atividade

ou da renda do país. A atividade da sociedade só pode aumentar na

proporção em que aumenta seu capital, e este só pode aumentar na

proporção em que puder aumentar o que se poupa gradualmente de sua

renda. Mas o efeito imediato de todas essas restrições às importações é

diminuir a renda do país, e o que diminui essa renda certamente não tem

muita probabilidade de aumentar o capital da sociedade mais

rapidamente do que teria aumentado espontaneamente, caso se tivesse

deixado o capital e a atividade encontrarem os seus empregos naturais.”

(o griffo é nosso)

Adam Smith admite, entretanto, duas situações em que alguma proteção pode ser

justificável. São elas:

“ Contudo parece haver dois casos nos quais geralmente será

vantajoso impor alguma restrição à atividade estrangeira, para estimular a

nacional.”

“O primeiro ocorre quando se trata de um tipo específico de

atividade necessária para a defesa do país...”

“O segundo caso, em que geralmente será vantajoso impor

alguma forma de restrição à indústria estrangeira para estimular a

nacional, ocorre quando dentro do país se impõe alguma taxa aos

produtos nacionais. Neste caso parece razoável impor uma taxa igual ao

produto similar do país estrangeiro.”

Georg Frederich List, foi o primeiro a questionar sobre as teorizações de Adam

Smith e a elaborar um tratado de economia propondo a necessidade da intervenção do

Estado através de políticas protecionistas para incentivar a industrialização e o

desenvolvimento.

Georg Frederich List nasceu em Reutlingen em 1789, numa “Alemanha” semi-

feudal composta por um enorme conjunto de principados, ducados, cidades livres e

nações que variavam desde o tamanho da Áustria e Prússia, até a Saxônia, Bavária e

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3

Wurttemberg, além de minúsculos estados livres. Com menos de 30 anos foi nomeado

professor de administração pública na universidade de Wurttemberg, tornando-se

posteriormente o ideólogo e ferrenho defensor do estabelecimento de uma união

aduaneira dos estados alemães (Zollverein), que eliminasse as tarifas internas entre seus

vários estados e estabelecesse tarifas para o comércio com o resto do mundo.

O Zollverein foi iniciado em 1818 com o estabelecimento pela Prússia de uma

união aduaneira dentro do seu estado. Em 1821 Anhalt aderiu, em 1826 Mecklemburg-

Schwerin aderiu e assim por diante, sendo os últimos a aderirem Schleswig-Holstein,

Lauenburg e Mecklemburg em 1861. Em 1871 Alsace-Lorraine aderiu após ser

conquistada pela Alemanha após a guerra franco-prussiana e finalmente em 1888 as

cidades de Hamburgo e Bremen aderiram.

A união aduaneira alemã foi muito mais que uma aliança entre os vários estados

germânicos. Ela estabeleceu a base para a unificação da Alemanha sob dominância da

Prússia.

Eleito para a Assembléia de Wurttemberg e perseguido politicamente por suas

idéias em defesa da indústria e da moralização administrativa, List partiu para os

Estados Unidos onde recebeu a encomenda de um estudo da Sociedade da Filatelia para

a Promoção da Industria Nacional. Este trabalho foi publicado em 1827 sob patrocínio

desta associação com o nome de: “Outlines of a New System of Political Economy”.

O seu grande livro sob o título de: “O Sistema Nacional de Economia Política:

Comércio Internacional, Política Comercial e a União Aduaneira Germânica” só foi

publicado em 1841 na Alemanha.

A bem da verdade, antes mesmo de List publicar o seu livro, já em 1792,

Alexander Hamilton, Secretário do Tesouro dos recém independentes Estados Unidos,

apresentara ao Congresso um documento denominado “Report on Manufactures” no

qual defendia o uso, temporario, de tarifas protecionistas sob o argumento de que as

indústrias européias também eram protegidas e que havia necessidade de proteger as

indústrias nascentes como forma, também de criar um mercado interno.

Embora o “Report on Manufactures” não seja exatamente um tratado de

economia, o seu texto incorpora lições importantes. Diz Hamilton:

“…It is not an unreasonable supposition, that measures, which

serve to abridge the free competition of foreign Articles, have a

tendency to occasion an enhancement of prices and it is not to be

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4

denied that such is the effect, in a number of Cases…”1

“…But though it were true, that the immediate and certain effect of

regulations controlling the competition of foreign with domestic

fabrics was an increase of Price, it is universally true, that the contrary

is the ultimate effect with every successful manufacture. When a

domestic manufacture has attained to perfection, and has engaged in

the prosecution of it a competant number of Persons, it invariably

becomes cheaper... “2

“…Whence it follows, that it is the interest of a community, with a

view to eventual and permanent economy, to encourage the growth of

manufactures. In a national view, a temporary enhancement of price

must always be well compensated by a permanent reduction of it.”3

Em relação à escolha entre produzir bens agrícolas ou manufaturas, diz

Hamilton:

“There seems to be a moral certainty, that the trade of a country

which is both manufacturing and Agricultural will be more lucrative

and prosperous than that of a Country, which is merely Agricultural.”4

“…Hence, while the necessities of nations exclusively devoted to

Agriculture, for the fabrics of manufacturing states, are constant and

regular, the wants of the latter for the products of the former, are liable

to very considerable fluctuations and interruptions…. This uniformity

of demand on one side, and unsteadiness of it on the other, must

necessarily have a tendency to cause the general course of the

exchange of commodities between the parties to turn to the

1 “Não é uma suposição irrazoável, que medidas que servem para limitar a livre competição de produtos estrangeiros, tem uma tendência a ocasionar um aumento de preços e não pode ser negado que este é o efeito em inúmeros casos....” 2 “Mas apesar de ser verdade, que os efeitos imediatos da regulação controlando a competição das fabricas estrangeiras com as domesticas seja um acréscimo de preço, é universalmente verdade que o contrário é o efeito final em toda manufatura bem sucedida. Quando uma manufatura domestica atinge a perfeição, e um número qualificado de pessoas se engajam na execução da mesma, ela invariavelmente se torna mais barata.” 3 “Donde se concluí, que é do interesse de uma comunidade, que visa uma economia final e permanente, encorajar o crescimento de manufaturas. Do ponto de vista nacional, um acréscimo temporário de preço deverá ser sempre bem compensado por uma permanente redução do mesmo.” 4 “Parece haver uma certeza moral, que o intercambio comercial de um país que é ambos manufatureiro e agrícola será mais lucrativo e prospero do que o de uma país que é meramente agrícola.”

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disadvantage of the merely agricultural States. “5

“A third circumstance, perhaps not inferior to either of the other

two, conferring the superiority which has been stated, has relation to

the stagnations of demand for certain commodities which at some time

or other, interfere more or less with the sale of all. The nation which

can bring to Market but few articles is likely to be more quickly and

sensibly affected by such stagnations, than one which is always

possessed of a great variety of commodities. The former frequently

finds too great a proportion of its stock of materials for sale or

exchange lying on hand– or is obliged to make injurious sacrifices to

supply its wants of foreign articles which are Numerous and urgent, in

proportion to the smallness of the number of its own. The latter

commonly finds itself indemnified, by the high Prices of some

articles, for the low prices of others– and the Prompt and

advantageous sale of those articles which are in demand, enables its

merchants the better to wait for a more favorable change in respect to

those which are not. There is ground to believe that a difference of

situation, in this particular, has immensely different effects upon the

wealth and prosperity of Nations.”6

Hamilton também opina em relação à segurança nacional:

“Not only the wealth, but the independence and security of a

Country, appear to be materially connected with the prosperity of

5 “ Enquanto as necessidades das nações exclusivamente dedicadas à agricultura, em relação as fabricas dos países manufatureiros, são constantes e regulares, as demandas destes em relação aos produtos do primeiro, estão sujeitas a consideráveis flutuações e interrupções....Esta uniformidade da demanda de um lado, e irregularidade no outro, deve necessariamente levar a tendência de fazer com que a troca de mercadorias entre as partes, se torne desvantajosa para os países meramente agrícolas.” 6 “Uma terceira circunstancia,…, conferindo a superioridade que foi constatada, tem relação com a estagnação da demanda para certas mercadorias que de época em época, interferem mais ou menos com a venda de todas. As nações que pode levar ao mercado somente poucos artigos tem a probabilidade de ser mais rapidamente e profundamente afetada por estas estagnações, do que as nações que oferecem uma grande variedade de mercadorias. Os primeiros encontram frequentemente uma proporção grande de seu estoque de produtos a venda ficando sem comprador, ou são obrigados a fazer grandes sacrifícios para suprir sua necessidades de artigos estrangeiros que são numerosos e urgentes, em proporção a pequenez do número dos seus.demandados. Os segundos muitas vezes são compensados pelos preços altos alcançados por alguns artigos que compensam o preço baixo de outros, e venda rápida e vantajosa desses artigos, que tem demanda, permite aos seus comerciantes esperar por um momento mais favoráveis para comercializar aqueles que não estão em demanda. Esta diferença de situação, neste particular, tem efeitos diferentes imensos sobre o bem estar e prosperidade das Nacões.”

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manufactures. Every nation, with a view to those great objects, ought

to endeavour to possess within itself all the essentials of national

supply. These comprise the means of Subsistence, habitation, clothing,

and defence”7

Apesar dos esforços de Alexander Hamilton, as tarifas adotadas pelo Congresso

Americano foram muito baixas e foi a guerra de 1808, que impediu o comércio com a

Europa, permitiu o desenvolvimento de manufaturas locais.

A dificuldade de lidar com a questão do protecionismo já se fez evidente nos

debates no Congresso dos Estados Unidos, na época, onde os atores políticos defendiam

seus interesses específicos. Em 1820 uma lei de proteção aprovada na Câmara foi

rejeitada pelo Senado.

O grande livro de Frederich List, sob o título de: “O Sistema Nacional de

Economia Política: Comércio Internacional, Política Comercial e a União Aduaneira

Germânica” só foi publicado em 1841 na Alemanha. Esta obra apresenta-se em três

partes: a) A História – na qual analisa o processo de evolução econômica de 10

sociedades (entre os quais os espanhóis e portugueses); b) A Teoria - na qual procura

formular uma explicação do processo de evolução econômica diferentemente dos

clássicos de sua época; c) A Política – na qual formula a luz da teoria uma política para

a Alemanha.

Afirma List na introdução do seu livro:

“En ninguna rama de la economía política domina tan gran

diversidad de opiniones entre teóricos y prácticos como respecto al

comercio internacional y la política mercantil. A la vez, no existe

cuestión alguna en el sector de esta ciencia que posea una importancia

tan alta en orden al bienestar y a la civilización de las naciones, como

respecto a su independencia, poderío y estabilidad. Países pobres,

impotentes y bárbaros han logrado convertirse, gracias a una sabia

política comercial, en imperios rebosantes de riqueza y poderío, y

otros, por razones opuestas, han decaído de un elevado nivel de

7 “ Não somente o bem estar, mas a independência e segurança de um País, parecem ser materialmente relacionadas a prosperidade das manufaturas. Cada nação, com uma visão de grandes objetivos, deve se empenhar a possuir internamente o fornecimento de todos os elementos essenciais. Isto compreende os meios se subsistência, habitação, vestimenta e defesa”.

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prestigio nacional a la insignificancia absoluta; en efecto, hemos

conocido ejemplos de naciones que han perdido su independencia y

hasta su existencia política, precisamente porque sus sistemas

comerciales no sirvieron al desarrollo y robustecimiento de su

nacionalidad. “

“Más que en cualquier otro tiempo, ha adquirido en nuestros días

un interés predominante la aludida cuestión, frente a otras de la

Economía política. En efecto, cuanto más rápidamente progresa el

afán inventivo de la industria y el espíritu de perfeccionamiento, el

anhelo de la integración social y política, tanto mayor es la distancia

que existe entre las naciones estancadas y las progresistas, y es tanto

más peligroso quedarse atrás. Si en otros tiempos fueron precisos para

monopolizar la fabricación de la lana, el sector manufacturero más

importante de pasadas épocas, bastaron algunos decenios para lograr

el monopolio de la manufactura del algodón, sector no menos

importante, y en nuestros días bastó una ventaja de pocos años para

colocar la Gran Bretaña en situación de atraer hacía sí la industria

linera del Continente europeo.”

“En ningún otro tiempo ha visto el mundo tampoco una

supremacía manufacturera y mercantil que dotada con energía

inmensas como la de nuestro días, aplicase un sistema tan consecuente

y poderoso, con tendencia a monopolizar todas las industrias

manufactureras, todos los grandes negocios mercantiles, toda la

navegación, todas las colonias importantes, todo el dominio de los

mares, y a hacer vasallos suyos a todas las naciones, como los indios,

en el orden manufacturero y comercial.”8

List contesta a idéia de Adam Smith, “ O que é prudente na conduta de qualquer

família particular dificilmente constituíra insensatez na conduta de um grande reino...”

afirmando9:

“...Por ventura o que constitui sabedoria na economia privada,

8 LIST, Georg Frederich. Sistema Nacional de Economía Política. Fondo de Cultura Económica, México, 1942. pp. 31-49 9 LIST, Georg Frederich. Sistema Nacional de Economia Política. São Paulo, Abril Cultural 1983, pp. 115-121.

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constitui automaticamente sabedoria na economia nacional? Está

por ventura na natureza dos indivíduos levar em consideração as

necessidades dos séculos futuros, como acontece com a nação e o

Estado?...Pode por ventura o indivíduo, ao promover sua

economia privada, levar em consideração a defesa do país, a

segurança pública, e os mil outros objetivos que só podem ser

atingidos com a ajuda de toda a comunidade?”

“A verdade é outra. Na economia nacional, pode ser

sabedoria o que é absurdo na economia privada, e vice-versa,. . e

pela mesma razão que uma família é algo diferente de uma

comunidade de milhões de famílias, que uma casa é algo muito

diferente de um grande território nacional.”

“Por motivos similares, o Estado não somente tem o

direito, mas também o dever de impor certas normas e restrições

ao comércio (...) na salvaguarda dos interesses superiores da

nação. Com as proibições as taxas protecionistas, o Estado não

orienta os indivíduos sobre como empregar suas forças produtivas

e seu capital (como alega sofisticamente a escola popular);...Diz

apenas: É vantajoso para a nossa nação que nós mesmos

produzamos esses ou aqueles artigos; mas já que pela livre

concorrência poderemos obter essa vantagem, impusemos

restrições a tal concorrência, pois em nosso ponto de vista é

necessário proporcionar àqueles nossos concidadãos que investem

seu capital nesses novos setores da indústria e àqueles que

consagram suas forças ....a garantia que não perderão seu capital e

não falharão a sua vocação na vida.”

“Se a escola popular sustenta que as taxas protecionistas

asseguram às manufaturas nacionais um monopólio em

desvantagem dos consumidores do país, isto constitui um

argumento fraco. Pois, já que cada indivíduo da nação tem

liberdade para participar dos lucros do mercado interno, dessa

forma assegurado para a indústria nacional, isto não consituí de

forma alguma um monopólio privado mas privilégio assegurado a

todos os nossos compatriotas. Não é nem um privilégio que

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prejudica exclusivamente os consumidores; pois, se os produtores

de início obtêm preços mais altos, em compensação assumem

maiores riscos, tendo que arcar com aquelas perdas e sacrifícios

consideráveis que estão sempre ligados a toda fase inicial da

atividade manufatureira. Mas os consumidores tem amplas

garantias de que esses lucros extraordinários não atingirão limites

absurdos ou não se tornarão perpétuos pela competição interna

que virá mais tarde, competição essa que, via de regra, sempre

abaixa os preços a níveis inferiores aos vigentes em regime de

livre concorrência dos estrangeiros. Se também os agricultores

,que são os principais consumidores dos manufatores, são

obrigados a pagar preços mais altos serão amplamente

compensados dessa desvantagem pela maior demanda de produtos

agrícolas de preços mais altos obtidos por eles.”

“ A escola não reconhece nenhuma distinção entre as

nações que atingiram um estágio superior de desenvolvimento

econômico e as que ainda estão em estágio inferior de evolução.

Em toda parte a escola procura excluir a ação do poder do Estado;

em todas parte, segundo ela, afirma-se que o indivíduo será capaz

de produzir tanto mais, quanto menos o poder do Estado de se

ocupar com ele. Na realidade, a ser verdadeira esta teoria, as

nações selvagens deveriam ser as mais produtivas e as mais ricas

do mundo, já que em nenhuma outra nação o indivíduo tem tanta

liberdade individual como ali, em nenhuma é menos perceptível a

ação do Estado”.

List foi um dos primeiros a vislumbrar a noção de etapas do desenvolvimento10:

“El desarrollo económico nacional puede señalarse las siguientes

etapas principales de la evolución: estado salvaje, estado pastoril, estado

agrícola-manufacturero, estado agrícola-manufacturero-comercial.”

10 LIST, Georg Frederich. Sistema Nacional de Economía Política. Fondo de Cultura Económica, México, 1942. pp. 31-49

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10

“Es evidente que cuando una nación cuenta con variadas riquezas

naturales y, disponiendo de una gran población, reúne la agricultura, las

manufacturas, la navegación, el comercio interior y exterior, dicha nación

se halla políticamente más formada y poderosa que un simple país

agrícola.”

“Ahora bien, las manufacturas son la base del comercio interior y

exterior de la navegación y de la agricultura perfeccionada, y, en

consecuencia, de la civilización y del dominio político; una nación que

lograra monopolizar el total de la energía manufacturera del globo

terráqueo y oprimir de tal modo a las demás naciones en su desarrollo

económico que en ellas sólo pudieran producirse artículos agrícolas y

materias primas, e instaurarse las industrias locales más indispensable,

necesariamente lograría el dominio universal.”

“En la evolución económica de las naciones debida al comercio

internacional, pueden señalarse cuatro períodos distintos: en el primero,

la agricultura nacional se eleva mediante la importación de artículos

industriales extranjeros y la exportación de productos agrícolas del país;

en el segundo, las manufacturas nacionales se desarrollan conjuntamente

con la importación de artículos industriales del exterior; en el tercero, las

manufacturas nacionales abastecen en su mayor parte el mercado propio;

en el cuarto, se exportan grandes cantidades de artículos industriales de la

propia nación, importándose, en cambio materias primas y productos

agrícolas de otros países.”

“El sistema aduanero, como medio de fomentar la evolución

económica nacional, gracias a la regulación del comercio exterior, debe

siempre tomar como guía el principio de la educación industrial de la

nación.”

“Los tratados de comercio sólo son legítimos y útiles cuando

procuran recíprocas ventajas. Son tratados mercantiles ilegítimos y

nocivos aquellos en que la energía industrial incipientemente

desarrollada de una nación se sacrifica a otra, para lograr concesiones

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11

relativas a la exportación de productos agrícolas; por ejemplo, los

tratados al estilo del de Methuen11, verdaderos tratados leoninos.”

“Aunque el arancel protector encarece por algún tiempo los

artículos industriales del país, garantiza en el futuro precios más baratos,

a causa de la competencia extranjera; en efecto, una industria que haya

llegado a alcanzar su total desarrollo, puede abaratar tanto más lo precios

de sus artículos cuanto que la exportación de materias primas y artículos

alimenticios y la importación de artículos fabricados tienen que reportar

costo de transporte y beneficios mercantiles.”

“La pérdida que para la nación resulta como consecuencia del

arancel protector, consiste sólo en valores; en cambio, gana energías,

mediante las cuales queda situada para siempre en disposición de

producir incalculables sumas de valores. El gasto de valores debe

considerarse solamente como el precio de la educación industrial de la

nación.”

“La protección arancelaria sobre los artículos industriales no

graba a los agricultores de la nación protegida. La exaltación de la

energía industrial en el país incrementa la riqueza, la población y, como

consecuencia, la demanda de productos agrícolas, así como la renta y el

valor en cambio de la propiedad rústica, mientras que con el tiempo

disminuyen de precio los artículos industriales requeridos por los

agricultores. Estos beneficios superan diez veces las pérdidas que sufren

los agricultores a consecuencia de una transitoria elevación de los

artículos industriales.”

O texto de List é tão atual que é citado frequentemente em debates sobre

liberalização do comércio internacional, como no artigo do economista da UNCTAD –

11 No capítulo V da edição da editora Abril, List discute os prejuízos que o tratado de Methuen trouxe a Portugal e polemiza com o texto do livro de Adam Smith que afirma que os ingleses não levaram nenhuma vantagem especial com este tratado. List considera o tratado de Asiento celebrado com a Espanha em 1713 também prejudicial ao país Ibérico. Diz ele: “Constamos, pois, que em todos os tratados comerciais concluídos pelos ingleses existe uma tendência a estender a venda dos seus produtos manufaturados a todos os países com os quais negociam, oferencendo-lhes em troca vantagens aparentes no tocante à importação de produtos agrícolas e matérias primas. Em toda parte os esforços dos ingleses visam arruinar a força manufatureira destes países...”

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12

United Nation Conference on Trade and Development - Shafaeddin Mehdi12:

“List recommended selective, rather than across-the-board,

protection of infant industries and that he was against neither

international trade nor export expansion. In fact, he emphasizes the

importance of trade and envisages free trade as an ultimate aim of all

nations; he regards protection as an instrument for achieving

development, massive export expansion and ultimately free trade.

List´s theory was a dynamic one, with dimensions of time and

geography. Makinga distinction between "universal association" and

national interest, he argues that infant industry protection is

necessary for countries at early stages of industrialization if some

countries "outdistanced others in manufactures". Nevertheless,

protection should be temporary, targeted and not excessive. Domestic

competition should in due course be introduced, preceded by

planned, gradual and targeted trade liberalization. List guards,

however, against premature liberalization. He is aware of the

limitation of size for infant industry protection but claims that in

most cases this obstacle could be overcome through collaboration

with other countries. To List, trade policy is not a panacea; it is an

element in his general theory of "productive power" (development);

industrial development also requires a host of other socio-economic

measures. The infant industry argument is not only still valid, if

properly applied, but, in fact, it is at present ever more relevant

owing to recent technological revolution and changes in the

organization of production. But despite this increased need, the

means to achieving it have been restricted by international trade

rules. The study also refers to significant incidences of targeted

protection of production and exports in advanced countries, while

universal and across-the-board liberalization is recommended for

developing countries. International trade rules need to be revised to

aim at achieving a fair trading system, in which the differential

12 MEHDI, SHAFAEDDIN. Free trade or fair trade? An enquiry into the causes of failure in recent

trade negotiations. United Nations conference on trade and development, Doc n°153, December 2000, pg. 16 (in http://www.unctad.org/en/docs/dp_153)

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13

situations of countries at various stages of development are taken into

greater consideration.”13

13“ List recomendou uma proteção seletiva e não total, das indústrias nascentes e não era contrário ao comércio internacional ou a expansão das importações. De fato, ele enfatiza a importância do comercio e vê que o livre comércio com o objetivo final de todas as nações: ele vê a proteção como um instrumento para se alcançar o desenvolvimento, expansão massiva das exportações e finalmente o livre comércio. A teoria de List é dinâmica, com dimensões de tempo e geografia. A distinção feita por Makinga entre “associação universal” e interesse nacional, ele argumenta que a proteção as indústrias nascentes é necessária para países no estagio inicial de industrialização em alguns países “distanciado dos outros nas manufaturas.” Entretanto a proteção deve ser temporária, e não exessiva. A competição doméstica deve ser introduzida no momento certo, precedida por uma liberalização planejada e gradual. List adverte entretanto quando a liberalização prematura. Ele está ciente da limitação da proteção das industrias nascentes mas afirma que em muitos casos este obstáculo deve ser superado pela colaboração com outros países. Para List, a política de troca não é uma panacéia; é um elemento de sua teoria geral de “poder produtivo” (desenvolvimento); o desenvolvimento industrial requer também um conjunto de outras medidas socioeconômicas. O argumento da indústria nascente é não somente ainda válido, se adequadamente aplicado, mas de fato, é no presente mais relevante considerando as recentes revoluções tecnológicas e mudanças na organização da produção. Mas apesar desta necessidade aumentada, as formas de realizá-la tem sido restrita pelas leis internacionais do comercio. Este estudo também se refere a incidência significativa de proteção de produção e exportações em países avançados, enquanto recomenda-se liberalização das fronteiras nos países em desenvolvimento. As regras do comercio internacional devem ser revistas para permitir um sistema de comercio justo, no qual as situações diferenciadas dos países em níveis diferentes de desenvolvimento devem ser tomadas em maior consideração.”

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BIBLIOGRAFIA

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