francelina albuquerque chaves · e pela amizade. ao professor dr sandino hoff e à professora...
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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP
FRANCELINA ALBUQUERQUE CHAVES
A PRODUÇÃO DA CERÂMICA TERENA DA ALDEIA CACHOEIRINHA EM
MIRANDA, MS.
CAMPO GRANDE – MS
2015
FRANCELINA ALBUQUERQUE CHAVES
A produção da cerâmica Terena da aldeia Cachoeirinha em Miranda, MS.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional da
Universidade Anhanguera-Uniderp, como
parte dos requisitos para a obtenção do
título de Mestre em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional.
Orientação ou Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Gilberto Luiz Alves
Profa. Dra. Rosemary Matias
CAMPO GRANDE – MS
2015
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, que me capacitou e guardou para a
realização deste trabalho. Dedico este resultado ao meu esposo Rodrigo e a
minha princesinha Eduarda, que chegou durante essa caminhada e juntas
trilhamos com sucesso.
Agradeço, igualmente, aos meus pais, que me deram a vida. Ao meu
Professor Dr Gilberto Luiz Alves, pelas aulas do curso e pela preciosa
orientação, que possibilitou um maior conhecimento. À minha Professora Dra
Rosemary Matias, pela orientação zelosa, pela confiança, pelos ensinamentos
e pela amizade. Ao Professor Dr Sandino Hoff e à Professora Samira Saad P.
Lancillotti por todas as contribuições dadas a este trabalho durante a
qualificação.
À doutoranda Karolinne Sotomayor A. Canazilles que dividiu comigo
seus conhecimentos na área indígena e da vida. À mestra e amiga Fernanda
Mussi Fontoura, principal incentivadora para o meu ingresso no mestrado. Às
técnicas de laboratório da Universidade Anhanguera Uniderp, Karen da Silva
Santos e Evaneza Francisco da Silva, pelo apoio nas pesquisas.
À Universidade Anhanguera Uniderp, aos professores doutores e aos
colegas do Curso de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional
e à Alinne Freitas Signorelli, secretária do curso, sempre atenciosa. À CAPES –
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa de
estudos.
Agradeço, ainda, à comunidade de artesãs da Aldeia Cachoeirinha de
Miranda, MS, pela troca de informações preciosas. Às autoridades indígenas
da Aldeia, que colaboraram com este trabalho, e aos novos amigos
conquistados dentro da Aldeia, que me auxiliaram na realização desta
pesquisa.
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SUMÁRIO
1. Resumo Geral.................................................................................................7
2. General Summary..........................................................................................8
3. Introdução Geral............................................................................................9
4. Revisão de Literatura..................................................................................11
4.1 Trajetória Histórica ...........................................................................16
5. Referências Bibliográficas..........................................................................20
6. Artigo
A produção da cerâmica Terena da aldeia Cachoeirinha em Miranda - MS...
...........................................................................................................................22
Resumo.............................................................................................................22
Abstract............................................................................................................23
Introdução........................................................................................................24
Material e Métodos...........................................................................................27
Resultados e Discussão..................................................................................33
Conclusão.........................................................................................................64
Referências Bibliográficas..............................................................................65
7. Conclusão Geral .........................................................................................71
Apêndice...........................................................................................................72
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1. Resumo Geral
Este trabalho tem por objeto a produção da cerâmica Terena da Aldeia
Cachoeirinha em Miranda, Mato Grosso do Sul. Integra a linha de pesquisa
Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável e seu objetivo
geral é analisar o processo de produção da cerâmica da etnia em referência.
Sobre a relevância do objeto dizem os fatos de o artesanato Terena ter sido
registrado como patrimônio imaterial histórico, artístico e cultural de Mato
Grosso do Sul pelo Governo do Estado e a cerâmica, em especial, se constituir
em expressivo instrumento de reconhecimento e diferenciação da etnia. Fontes
teóricas foram buscadas em estudos de Oliveira, Ribeiro e Alves. A revisão
bibliográfica e o levantamento de fontes secundárias priorizaram as
abordagens sobre os Terena, mas se estenderam a outras etnias indígenas da
região, também, por força da necessidade de análises comparativas. Quanto
às fontes primárias, foram realizados levantamentos a campo na Reserva
Indígena Cachoeirinha, além de observações sistemáticas, registros
fotográficos do processo de produção e entrevistas semiestruturadas com as
artesãs oleiras, que ajudou a entender a maneira de produção desse artefato.
Foram descritas e analisadas matérias-primas como argila e água, temperatura
de queima, técnicas de produção e características do produto final. Entre os
resultados, foram constatadas mudanças recentes na cerâmica Terena.
Distanciando-se da pigmentação avermelhada, característica da etnia, algumas
peças passaram a ganhar a coloração preta, oriunda de um mineral de cor
escura e brilhosa, chamado “pedra canga”. Para produção da cerâmica, a
argila possui granulometria adequada (>60% de argila). A qualidade da água e
a temperatura de queima, no entanto, podem prejudicar a resistência e o tempo
de vida das peças cerâmicas produzidas pelas artesãs. A partir do
levantamento feito a campo foram identificadas 83 artesãs Terena. Atualmente,
45 permanecem em atividade e a maioria encontra-se na faixa etária de 26 a
50 anos. A produção da cerâmica é realizada exclusivamente pelas mulheres e
se tornou importante fonte de complementação da renda familiar.
Palavras-chave: Desenvolvimento Regional, Reserva Indígena Cachoeirinha,
Artesanato Indígena, Ceramistas Terena.
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2. General Summary
This work aims at the production of Terena Pottery Village Cachoeirinha in
Miranda, Mato Grosso do Sul. Integrates the line of research Society,
Environment and Sustainable Regional Development and its overall aim is to
analyze the production characteristics ceramic the ethnic in reference. On the
relevance of the object tell the facts the Terena craft was registered as
historical, artistic and cultural intangible heritage of Mato Grosso do Sul by the
State Government. The Terena ceramics, in particular, is strong and expressive
instrument of recognition and ethnic differentiation.Theoretical sources were
sought in studies of Oliveira, Ribeiro and Alves. The literature review and
survey of secondary sources prioritized approaches on the Terena, but
extended to other indigenous groups of the region, also by virtue of the need for
comparative analysis. To understand it, field surveys were conducted in
Cachoeirinha Indian Reservation, in Miranda-MS, and systematic observation,
photographic records of the production process and semi-structured interviews
with potters artisans which helped to understand the way of production of this
artifact. Have been described and examined the raw material (clay and water)
and firing temperature, the production techniques and quality of the final
product. It was discovered that recent changes in Terena ceramics. Besides the
reddish pigmentation, characteristic of this ethnic group, some pieces began to
win the black color, derived from a mineral dark and glossy, called 'yoke stone'.
For production Ceramic clay has adequate grain size except water quality and
the firing temperature that can interfere with resistance and life of the ceramic
material time produced by artisans. From the survey the field were identified 83
artisans Terena. Currently, 45 remain active. Most of the artisans is in the age
group 26-50 years. The production of pottery is made exclusively by women
and has become an important source to supplement the family income.
Keywords: Regional Development, Indian Reserve Cachoeirinha, Indian
handicrafts, Terena Craft.
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3. Introdução Geral
O artesanato indígena é a forma mais expressiva do artesanato
ancestral em Mato Grosso do Sul; os artesanatos das etnias Kadiwéu e Terena
se sobressaem quantitativamente (ALVES, 2014). O artesanato Kadiwéu é um
dos mais conhecidos no Brasil. Sua notoriedade se propagou inclusive em
países do exterior como Itália e Alemanha (CANAZILLES, 2013).
O artesanato Terena foi registrado como patrimônio imaterial histórico,
artístico e cultural de Mato Grosso do Sul pelo Governo do Estado, por meio do
decreto normativo Nº 12.847, de 16 de novembro de 2009 (MATO GROSSO
DO SUL, 2009). Segundo RIBEIRO (1980), não possui a mesma popularidade
da cerâmica kadiwéu, mas, sua técnica de fabricação é muito mais apurada.
A cerâmica Terena apresenta boa resistência. Seus artefatos podem
ser usados como peças utilitárias, a exemplo das panelas, travessas, jarras e
pratos, ou como peças decorativas, como as miniaturas e os bichinhos de
cerâmica (GODOY, 2001). Em Mato Grosso do Sul, a comercialização do
artesanato Terena tem significativa expressão como complemento de renda
das famílias das artesãs. Em Campo Grande, tem como principais locais de
comercialização o Memorial da Cultura Indígena, a Praça Comendador Oshiro
Takimori, a Feira Central de Campo Grande, além da Casa do Artesão1 e da
Feira Permanente de Artesanato, dentre outros.
Os estudos existentes sobre o artesanato, mais especificamente sobre
a cerâmica Terena2, ainda são incipientes (ALVES, 2013). Diante deste dado, e
considerando minhas raízes - tenho descendência Terena, por parte materna,
surgiu o desejo de estudar mais detidamente a cultura e o artesanato dessa
etnia. Vale ressaltar que devido ao fato da minha mãe ainda residir na reserva
nos dias atuais, tive a possibilidade de contato direto com as artesãs.
1 A Casa do Artesão: tem como objetivo principal desenvolver serviços públicos que auxiliem e fomentem
as atividades artesanais no Estado de MS. Funciona em prédio construído entre 1918 e 1923. A
edificação é tombada como patrimônio histórico estadual.
2 Obedecendo a Convenção para grafia de nomes indígenas assinada na 1ª Reunião Brasileira de
Antropologia, em 1953, no Rio de Janeiro, os nomes tribais quer usados como substantivos, quer como
adjetivos, não terão flexão de gênero e de número, a não ser que sejam de origem portuguesa ou
morficamente aportuguesados. Como são substantivos próprios iniciarão sempre em maiúsculo e poderão
ser escritos com as letras K,W,Y. As palavras que designam as etnias são substantivos coletivos.
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Durante a realização deste trabalho, foi encontrada dificuldade relativa à
falta de domínio da língua, por não ter crescido e não residir na comunidade, já
que algumas artesãs não falam fluentemente o português, causando problemas
na comunicação. Outra dificuldade vivenciada foi a de que algumas artesãs
não queriam ser entrevistadas, devido a constante busca de pesquisadores
pelas informações que elas detêm.
A pesquisadora MUSSI (2006, p. 44), relata “nesse sentido, observa-se
ainda que os Terena, por serem muito visados por pesquisadores, instituições
governamentais, não-governamentais e outros, acabam criando estratégias
próprios de defesa. Quando eles não omitem as informações, negando-se a
responder, falam aleatoriamente a fim de se livrarem o mais rápido possível da
pessoa que os interroga”.
Como referências teóricas para este trabalho, foram buscadas em
estudos de Oliveira, Ribeiro e Alves. A revisão bibliográfica e o levantamento
de fontes secundárias priorizaram as abordagens sobre os Terena, mas se
estenderam a outras etnias indígenas da região, também, por força da
necessidade de análises comparativas.
Escritos de Jorge Luiz Gonzaga Vieira, Vânia Perrotti Pires Graziato,
Lelian Chalub Amim Paschoalick, Anelise Flausino Godoy, Karolinne
Sotomayor Azambuja Canazilles e de Luciana Scanoni Gomes, relatam o
resultado de seus estudos com as etnias indígenas do estado de Mato Grosso
do Sul, possibilitando um maior entendimento sobre cada etnia.
O objetivo geral deste trabalho foi analisar o processo de produção da
cerâmica Terena da Aldeia Cachoeirinha em Miranda, MS. Visou descrever e
analisar as matérias-primas como argila e água, temperatura de queima,
técnicas de produção e características do produto final.
Quanto às fontes primárias, foram realizados levantamentos a campo, a
fim de apreender e registrar informações através de observações sistemáticas,
registros fotográficos do processo de produção e entrevistas semiestruturadas
com as artesãs oleiras, que ajudou a entender a situação da produção.
Também foram coletadas amostras da argila utilizada na produção da
cerâmica e adquiridos alguns artefatos produzidos na aldeia. A classificação
ocorreu por meio da composição física, química e granulométrica. A água
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empregada na confecção das peças artesanais também foi obtida e analisada
quanto às características físicas, químicas e microbiológicas.
4. Revisão de Literatura
Existem muitos estudos que contribuem para o entendimento da
trajetória histórica dos Terena em Mato Grosso do Sul, possibilitando a
compreensão da família linguística, o percurso migratório desde a saída do
Chaco Paraguaio até a chegada em terras brasileiras e sua participação na
Guerra da Tríplice Aliança. Permite também entender seu aldeamento em
Cachoeirinha, Miranda-MS. Entre eles, é relevante a obra de Oliveira, que
afirma ser essa etnia pertencente à família linguística Guaná e um dos maiores
grupos indígenas do Brasil que vive no cerrado e suas matas do Mato Grosso
(OLIVEIRA, 1976).
O autor menciona que os Guaná teriam migrado para o Brasil em
meados do século XVIII e que se instalaram próximo ao rio Miranda.
“Os demais grupos Guaná acima referidos (Terêna,
Layâna, Kinikináu e Exoaladi) teriam atravessado o rio
Paraguai, em ondas sucessivas, a partir da segunda
metade do século XVIII, e se instalaram na região banhada
pelo rio Miranda, entre os paralelos de 19º e 21º de
latitude, onde foram encontrá-los os viajantes do século
XIX...” (OLIVEIRA, 1976, p. 26).
OLIVEIRA (1968, p. 40), menciona que a fixação dos Terena no Mato
Grosso, ainda despovoado, deu-se após a Guerra do Paraguai, depois de
1869, período marcado pelas ondas pastoris e o fim do conflito Brasil-Paraguai.
Supõe terem “(...) os Terena, tanto quanto os demais subgrupos Guaná,
sentido intensamente os efeitos do contato interétnico”.
Esse processo de expansão dá-se devido a conflitos com outras tribos,
disputas por terras e o fato da colonização e formação do estado de Mato
Grosso.
Por volta de 1904, quando a Comissão Rondon percorre a região
meridional de Mato Grosso construindo as linhas telegráficas, surgem as
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primeiras reservas. Nesse período foram criadas as Reservas de Cachoeirinha,
Bananal/Ipegue e Lalima, todas no antigo município de Miranda (OLIVEIRA,
1968).
“A área indígena do Cachoeirinha foi criada e
regulamentada, conforme a DOCUMENTAÇÃO DO ATO DE
RESERVA (1950), através do Ato nº 217, no dia 06 de maio
de 1904, ficando estabelecido que fossem reservadas duas
áreas: uma de 7.200 hectares para Aldeia de Taunay e
Ipegue e outra, de 3.200 hectares, para Cachoeirinha.” (Ato
de Reserva, M.A.- S.P.I. – I.R.6, confere com o original, em
19 de setembro de 1950, apud MUSSI, 2006, p. 8).
Conforme dados do censo do IBGE de 2010, a população brasileira
corresponde a 190.755.799 milhões de habitantes, sendo que 817.963 mil são
indígenas, divididas em 305 etnias (FUNAI, 2015). O estado de Mato Grosso
do Sul possui a segunda maior população indígena do Brasil. Entre tantas
outras, aqui vive a etnia Terena, a segunda maior do estado, ficando atrás
apenas da etnia Guarani-Kaiowá (SANTOS, 2011).
Em Mato Grosso do Sul estima-se uma população Terena de 16 mil
pessoas, segundo censo de 2001, vivem em áreas fragmentadas cercada por
fazendas. Encontram-se nos municípios de Miranda, Aquidauana, Anastácio,
Dois Irmãos do Buriti, Sidrolândia, Nioaque e Rochedo. Também há famílias
Terena em Porto Murtinho na terra Indígena Kadiwéu, Dourados na Terra
Indígena Guarani e no estado de São Paulo na Terra Indígena Araribá
(RICARDO, 2011). Na Aldeia Cachoeirinha em Miranda, vivem 1.507 pessoas
(FUNASA, 2015).
OLIVEIRA (1976, p. 21), discorre que essa etnia desperta interesse
científico por causa de sua integração e resistência diante da sociedade
nacional. Os Terena são um dos subgrupos Guaná, pertencente ao grupo
Aruák. Deram importante contribuição para a formação do sudoeste brasileiro
enquanto produtores de bens de consumo, principalmente de gêneros
agrícolas e como força de trabalho nas fazendas devotadas à pecuária, após a
Guerra da Tríplice Aliança. Durante este conflito, lutaram contra o exército
paraguaio.
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De acordo com BITTENCOURT e LADEIRA (2000, p. 12), os Terena
são descendentes do tronco Aruák, “(...) nome que vem de povos que
habitavam principalmente as Guianas, região próxima ao norte do Brasil e
algumas ilhas da América Central, na região das Antilhas”.
Segundo essas estudiosas, “(...) todos esses grupos possuem ou
possuíram formas de organização internas características, sendo
tradicionalmente agricultores e conhecedores das técnicas de tecelagem e
cerâmica” (BITTENCO8URT e LADEIRA, 2000, p. 18).
As autoras ainda afirmam que uma forma de conhecer o passado dos
Terena é por meio de produtos da cultura material, que envolve elementos
como a cerâmica, a tecelagem e artefatos que revelam os antigos costumes e
tradições, muitos já extintos. Outra forma, também, é por meio dos “(...) textos
escritos, desenhos, pinturas e fotografias feitas pelos brancos que tiveram
contato com essa etnia”, além da oralidade dos mais antigos, que relatam sua
história (BITTENCOURT e LADEIRA, 2000, p. 11).
Descrevem ainda, os três acontecimentos históricos que marcaram a
vida dos Terena, sendo que o primeiro foi a saída do Êxiva - Chaco Paraguaio,
denominado como Tempos Antigos. O segundo acontecimento foi a Guerra do
Paraguai, entre os anos de 1864 e 1870, com o envolvimento de quatro
nações: Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai denominado de Tempos de
Servidão e o terceiro acontecimento, foi a delimitação das Reservas Terena,
iniciado com a comissão construtora das Linhas Telegráficas sob o comando
do Marechal Rondon. Este período se desenrola até o presente na vida dos
Terena, que buscam o reconhecimento de autonomia e de direitos. Por isso
ainda não existe uma denominação (BITTENCOURT e LADEIRA, 2000).
Essa pesquisa relata o processo de produção da cerâmica Terena da
Aldeia Cachoeirinha em Miranda, MS, complementando e atualizando
informações sobre esse processo, que revela singularidade no acabamento e é
identificada pela coloração avermelhada, brilhante e com delicados desenhos
em tons de branco-aguado, característica do artesanato dessa etnia.
GODOY (2001, p. 23), trata sobre os aspectos da produção da
cerâmica Terena e afirma que “essa cerâmica é produzida atualmente em
aldeias da região de Miranda, mais frequentemente em Cachoeirinha”. E para
muitas famílias é sua fonte de complemento de renda, segundo a autora:
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“Os mais jovens desconhecem os procedimentos técnicos
e os mais idosos, com cerca de sessenta anos, já estão em
vias de paralisação devido ao grande esforço exigido
durante todo o processo de fabricação desta cerâmica; que
ainda resiste, em sua delicada aparência e ornamentação”
(GODOY, 2001, p. 33).
A cerâmica torna-se a identidade de muitas culturas indígenas que são
identificadas pela ornamentação e pelo grafismo. Os Terena destacam-se pela
especialidade na arte da cerâmica (PASCHOALICK, 2008).
A autora discute a história de resistência dos Terena em manter sua
cultura e os aspectos da arte desta etnia. Relata que a “preocupação em
recuperar a cultura material se deve sobretudo à necessidade de se afirmar
como etnia, pois o objeto é sempre testemunho da relação do homem com as
coisas externas e com o seu grupo” (PASCHOALICK, 2008, p. 99).
Ela observa ainda a inexistência de jovens nesse processo de
manutenção da tradição e afirma que isso ocorre devido ao contato com o
entorno, pois acabam se distanciando de suas tradições em busca de meios de
sobrevivência, seja nas usinas de álcool, nas fazendas ou na cidade.
Porém, durante a realização da pesquisa de campo, constatou-se que
há presença de jovens na produção da cerâmica na Aldeia Cachoeirinha. O
que pode-se dizer é que existem jovens nas famílias das artesãs que
participam do processo e existem jovens de famílias não artesãs que são
avessos ao processo de produção e preferem outras atividades, como por
exemplo, trabalhar no comercio local de Miranda.
A leitura de GRAZIATO (2008, p. 1) foi importante para um maior
entendimento deste artesanato. Conforme a autora “a produção da cerâmica
indígena brasileira está associada à esfera familiar e é praticada na maioria das
etnias pelas mulheres”. E cabe as mulheres a lida com o “barro”, as palhas e os
fios, elas se ocupam com os trançados, a tecelagem e a cerâmica,
característica das indígenas do estado de Mato Grosso do Sul (GRAZIATO,
2008, p. 1).
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Conforme GOMES (2008, p. 6), as mulheres da etnia Terena tem
exclusividade na produção que está ligada à comercialização, a qual visa a
atender turistas e compradores, descaracterizando o artesanato tradicional e
utilitário.
CANAZILLES (2013, p. 78), descreve sobre a comercialização dos
artesanatos indigenas na cidade de Bonito, relata a precariedade desse
artefato e cita que os encontrados são das etnias Kadiwéu, Terena e Kinikinau.
ALVES (2014, p. 48), cujo tema central é o artesanato em Mato
Grosso do Sul, concorreu com a construção da visão geral do artesanato e
suas modalidades, que são o artesanato ancestral, artesanato espontâneo e
artesanato induzido, propiciando o entendimento de suas peculiaridades.
O artesanato indígena está na categoria ancestral e, atualmente, é
utilizado como mercadoria para a sociedade capitalista.
“Não têm a mesma resitência nem a beleza originais. São
meros adornos, artefatos precários que os turistas adquirem
na Casa do Artesão e outros postos de comercialização no
Estado. São mercadorias. São valores de troca, o que
testemunha a subordinação da cultura indìgena ao modo de
produzir típico da sociedade capitalista” (ALVES, 2014, p.
67).
Ainda segundo ALVES (2014, p. 59), nos primórdios, as peças
produzidas eram utensílios que atendiam necessidades materiais básicas à
existência dos homens. Ganhavam, por isso, o caráter de artesanato ancestral.
ALVES (2003, p. 4) evidencia, ainda, as transformações do uso
ocorridas no artesanato indígena quando o índio entra em contato com a
sociedade capitalista.
As obras do antropólogo RIBEIRO (1980), intituladas “Kadiwéu –
ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza”, e RIBEIRO (1986), “Os
índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil
moderno”, cooperou para o enriquecimento das informações referente às
populações indígenas, pois, discutem como as populações indígenas se
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articulam na sociedade brasileira, o preconceito e a perda de seus costumes
tradicionais.
Já a obra de RIBEIRO (1987), “O índio na história do Brasil”, retrata a
história dos índios e suas contribuições para a sociedade brasileira. “O
Dicionário do artesanato indígena” (RIBEIRO, 1988) trata sobre a arte, seus
elementos e significados, proporcionando um melhor entendimento e discussão
ao tema da pesquisa. RIBEIRO (1989) escreve sobre a produção do artesanato
indígena e afirma:
“Para o público endógeno prevalecia o dogma da
estabilidade: exigia-se que se fizesse bem feito o que
sempre se fez. Para o público forâneo, o objeto deve ser
portátil, durável, prático e dotado de beleza ao gosto do
comprador. O valor mercantil da produção é que determina
sua qualidade, o esforço, a matéria-prima e o tempo nela
empregado” (RIBEIRO, 1989, p. 139).
A produção do artesanato indígena é influenciada pela forma de
apropriação imposta pela sociedade capitalista. O ritmo dessa produção é
ditado por esses clientes, que sinalizam quais peças e a quantidade que será
produzida. Atualmente, as peças são produzidas para atender esse mercado,
sejam turistas, visitantes ou pessoas que passam pelos locais que vendem os
artefatos.
4.1 Trajetória Histórica
A história do índio no Brasil faz constante referência à chegada dos
portugueses à esta terra, em 1500, devido à escassez de material escrito com
informações anteriores a esta data, prejudicando a reconstituição e construção
da história indígena neste país.
De acordo com BERNAND (1997) apud MARQUES e SOUZA (2009, p.
2), antes do “descobrimento”, os povos que hoje chamamos de “índios” eram
conhecidos entre si como Terena, Macuxi, Guaicuru, Guarani, entre outros, ou
seja, povos distintos, com culturas, crenças, organizações sociais, distintas e,
que variavam de acordo com cada comunidade. A denominação “índio” é uma
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nomenclatura adotada pelos colonizadores, com a função de generalizar e
homogeneizar os povos que habitavam o país na época da chegada dos
europeus e que predomina até os dias atuais, como forte consequência de uma
história unilateral.
No Brasil, a família Aruák pode ser encontrada nos estados de Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e São Paulo.
“Os Guaná ou Chaná, grupo a que se filiam os Terena do
Sul de Mato Grosso, não podem ser considerados índios
tipicamente brasileiros, pois os elementos de sua cultura
estão mais ligados às culturas dos índios do território do
Chaco de onde provém [...]”. (SILVA, 1949, p. 275).
As migrações que os Guaná realizaram ao longo de sua história, em
especial quando saíram do Chaco Paraguaio para terras brasileiras, abrangem
uma multiplicidade de situações diferentes, com histórias diversas, desde
situações em que seus territórios foram ocupados por outros povos, até
situações em que optaram por melhores condições de vida. Os Guaná
mudaram-se para o Brasil objetivando preservar a comunidade dos riscos de
dominação por outros povos.
SILVA (1949), afirma que no início do século XIX, devido à crescente
pressão de outras tribos do Chaco ou talvez atraídos pelas vantagens de um
tráfico com os europeus, os Guaná começaram a se deslocar para a margem
oriental do rio Paraguai, penetrando no Território Brasileiro em levas
sucessivas, que perduraram até fins do século. Distribuíram-se pelos arredores
de Albuquerque confinando seus territórios com os dos Guató com quem
mantinham relações hostis.
O Brasil, desde tempos passados, tem uma extensão territorial ampla e
com áreas de difícil acesso. Com tamanho espaço geográfico os perigos e
dificuldades que os Guaná enfrentavam eram imensos e variados, como por
exemplo: ataques e invasões de europeus e conflitos com tribos inimigas. Além
disso, a sobrevivência dos Guaná provinha basicamente da agricultura,
plantações de milho, mandioca, feijão, batata-doce, entre outros. Como não
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produziam utensílios de metal, sozinhos não conseguiriam deter ataques e
invasões, assim, uniram-se aos Guaicuru e Guarani.
E depois que os portugueses e espanhóis invadiram e exploraram o
Êxiva onde residiam os Guaná, obrigando-os e aos demais grupos indígenas a
descerem o rio Paraguai em direção da atual cidade de Miranda, tanto os
Guaná quanto os Guaicuru reconstruíram suas aldeias perto do Forte Coimbra
e das vilas da Serra de Albuquerque, assim, passaram a produzir uma
variedade em mercadorias para assegurar sua subsistência, para venderem e
trocarem com os portugueses.
No dia 7 de setembro de 1822 ocorreu a Independência do Brasil,
tornando-se um país e a partir desse período, iniciaram-se as disputas por
delimitações de fronteiras e demarcações de terras, em especial com o
Paraguai. O Grande alvo de disputa entre os dois países era o direito de
tráfego de navegação no Rio da Prata, Rio Paraguai e no Rio Paraná. Para o
Brasil era de extrema importância a navegação no Rio Paraguai, pois suas
exportações e importações seguiam por este rio com destino a província de
Mato Grosso. Solano Lopes, presidente do Paraguai, declarou guerra ao Brasil,
iniciando seus ataques na Região da Província de Mato Grosso. Para se
defender dos ataques paraguaios o Brasil uniu-se a Argentina e ao Uruguai,
assinando o Tratado da Tríplice Aliança.
Nessa Guerra houve uma grande participação do grupo indígena
Terena como soldados combatentes, “e sua apropriação dessa participação
como uma forma de reivindicarem os territórios que, tradicionalmente,
ocupavam antes desse conflito, na região do então Sul de Mato Grosso –
atualmente Mato Grosso do Sul” (VARGAS, 2005, p. 1).
O estado de Mato Grosso do Sul se destaca entre um dos estados
onde mais prevalece a população indígena brasileira, possui a segunda maior
população indígena do Brasil. Entre tantas outras, aqui apresenta-se a tribo
Terena, a segunda maior do estado, com 16 mil pessoas, segundo censo de
2001 (RICARDO, 2011).
Daí a relevância desta pesquisa, que pode contribuir como suporte
para novos estudos no universo acadêmico, pois, apresenta informações
atualizadas sobre o tema.
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5. Referências Bibliográficas
ALVES, G. L. Arte, artesanato e desenvolvimento regional: Temas Sul-
Mato-Grossenses. Campo Grande: Ed. UFMS, 2014.103p.
ALVES, G. L. Mato Grosso do Sul: o universal e o singular. Campo Grande:
Ed. UNIDERP, 2003.100p.
BERNAND, C.; GRUZINSKI, S. História do Novo Mundo: da descoberta a
conquista, uma experiência europeia, 1492-1550. São Paulo: EDUSP, 1997.
BITTENCOURT, C. M.; LADEIRA, M. E. A história do povo Terena. Brasília:
MEC, 2000.156p.
CANAZILLES, K. S. A. A produção e a comercialização do artesanato
Kinikinau em Mato Grosso do Sul. 2013. 109f. Dissertação (Mestrado em
Meio ambiente e Desenvolvimento Regional) - Universidade Anhanguera
Uniderp, Campo Grande.
FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO - FUNAI. Brasil – Terras Indígenas.
Brasília, 1997.
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6. Artigo
A produção da cerâmica Terena da aldeia Cachoeirinha em Miranda, MS.
Francelina Albuquerque Chaves
Resumo
Este trabalho tem por objeto a produção da cerâmica Terena da Aldeia
Cachoeirinha em Miranda, Mato Grosso do Sul. Integra a linha de pesquisa
Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável e seu objetivo
geral é analisar o processo de produção da cerâmica da etnia em referência.
Sobre a relevância do objeto dizem os fatos de o artesanato Terena ter sido
registrado como patrimônio imaterial histórico, artístico e cultural de Mato
Grosso do Sul pelo Governo do Estado e a cerâmica, em especial, se constituir
em expressivo instrumento de reconhecimento e diferenciação da etnia. Fontes
teóricas foram buscadas em estudos de Oliveira, Ribeiro e Alves. A revisão
bibliográfica e o levantamento de fontes secundárias priorizaram as
abordagens sobre os Terena, mas se estenderam a outras etnias indígenas da
região, também, por força da necessidade de análises comparativas. Quanto
às fontes primárias, foram realizados levantamentos a campo na Reserva
Indígena Cachoeirinha, além de observações sistemáticas, registros
fotográficos do processo de produção e entrevistas semiestruturadas com as
artesãs oleiras, que ajudou a entender a maneira de produção desse artefato.
Foram descritas e analisadas matérias-primas como argila e água, temperatura
de queima, técnicas de produção e características do produto final. Entre os
resultados, foram constatadas mudanças recentes na cerâmica Terena.
Distanciando-se da pigmentação avermelhada, característica da etnia, algumas
peças passaram a ganhar a coloração preta, oriunda de um mineral de cor
escura e brilhosa, chamado “pedra canga”. Para produção da cerâmica, a
argila possui granulometria adequada (>60% de argila). A qualidade da água e
a temperatura de queima, no entanto, podem prejudicar a resistência e o tempo
de vida das peças cerâmicas produzidas pelas artesãs. A partir do
23
levantamento feito a campo foram identificadas 83 artesãs Terena. Atualmente,
45 permanecem em atividade e a maioria encontra-se na faixa etária de 26 a
50 anos. A produção da cerâmica é realizada exclusivamente pelas mulheres e
se tornou importante fonte de complementação da renda familiar.
Palavras-chave: Desenvolvimento Regional, Reserva Indígena Cachoeirinha,
Artesanato Indígena, Ceramistas Terena.
2. General Summary
This work aims at the production of Terena Pottery Village Cachoeirinha in
Miranda, Mato Grosso do Sul. Integrates the line of research Society,
Environment and Sustainable Regional Development and its overall aim is to
analyze the production characteristics ceramic the ethnic in reference. On the
relevance of the object tell the facts the Terena craft was registered as
historical, artistic and cultural intangible heritage of Mato Grosso do Sul by the
State Government. The Terena ceramics, in particular, is strong and expressive
instrument of recognition and ethnic differentiation.Theoretical sources were
sought in studies of Oliveira, Ribeiro and Alves. The literature review and
survey of secondary sources prioritized approaches on the Terena, but
extended to other indigenous groups of the region, also by virtue of the need for
comparative analysis. To understand it, field surveys were conducted in
Cachoeirinha Indian Reservation, in Miranda-MS, and systematic observation,
photographic records of the production process and semi-structured interviews
with potters artisans which helped to understand the way of production of this
artifact. Have been described and examined the raw material (clay and water)
and firing temperature, the production techniques and quality of the final
product. It was discovered that recent changes in Terena ceramics. Besides the
reddish pigmentation, characteristic of this ethnic group, some pieces began to
win the black color, derived from a mineral dark and glossy, called 'yoke stone'.
For production Ceramic clay has adequate grain size except water quality and
the firing temperature that can interfere with resistance and life of the ceramic
material time produced by artisans. From the survey the field were identified 83
artisans Terena. Currently, 45 remain active. Most of the artisans is in the age
group 26-50 years. The production of pottery is made exclusively by women
and has become an important source to supplement the family income.
24
Keywords: Regional Development, Indian Reserve Cachoeirinha, Indian
handicrafts, Terena Craft.
Introdução
Este trabalho objetivou analisar o processo de produção da cerâmica
Terena da Aldeia Cachoeirinha em Miranda, MS. Para tanto, foi realizada
revisão de literatura sobre a matéria e levantamento a campo no período entre
2013 e 2015, bem como entrevistas semiestruturadas com as oleiras
indígenas, que ajudou a entender a maneira de produção desse artefato.O
objetivo central foi descrever e analisar as matérias-primas como argila e água,
temperatura de queima, técnicas de produção e características do produto final.
O estado de Mato Grosso do Sul possui a segunda maior população
indígena do Brasil. Entre tantas outras, nele vive a etnia Terena, a segunda
maior do estado, ficando atrás apenas da etnia Guarani-Kaiowá (SANTOS,
2011).
Entre as etnias que vivem em Mato Grosso do Sul está a Terena, um
dos subgrupos Guaná, pertencente ao grupo Aruák, que vive em áreas
fragmentadas, cercadas por fazendas. Sua população distribui-se pelos
municípios de Miranda, Aquidauana, Anastácio, Dois Irmãos do Buriti,
Sidrolândia, Nioaque e Rochedo. Também há famílias Terena em Porto
Murtinho, na Reserva Indígena Kadiwéu, em Dourados, na Reserva Indígena
Guarani e no Estado de São Paulo na Terra Indígena Araribá (RICARDO,
2011).
Segundo OLIVEIRA (1976), essa etnia desperta interesse científico por
causa de sua integração e resistência diante da sociedade nacional e por ter
dado importante contribuição para a formação do sudoeste brasileiro, enquanto
produtora de bens de consumo, principalmente de gêneros agrícolas, e pela
força de trabalho que assegurou às fazendas devotadas à pecuária, após a
Guerra da Tríplice Aliança.
Para BITTENCOURT e LADEIRA (2000, p. 11), os Terena “possuem
ou possuíram formas de organização internas características, sendo
tradicionalmente agricultores e conhecedores das técnicas de tecelagem e
cerâmica”. As autoras ainda afirmam que uma forma de conhecer o passado
dos Terena é por meio de produtos da cultura material, que revelam muito dos
25
hábitos e costumes antigos que já não existem mais. Outra forma, também, é
por meio dos “textos escritos, desenhos, pinturas e fotografias feitas pelos
brancos que tiveram contato com essa etnia”, além da oralidade dos mais
antigos, que relatam sua história (BITTENCOURT e LADEIRA 2000, p. 11).
O reconhecimento da importância do artesanato indígena, em Mato
Groso do Sul, pode ser ilustrado com o fato de o artesanato Terena, por
exemplo, ter sido registrado como patrimônio imaterial histórico, artístico e
cultural, pelo Governo do Estado, por meio do decreto normativo Nº 12.847, de
16 de novembro de 2009 (MATO GROSSO DO SUL, 2009, p. 2).
Segundo ALVES (2014, p. 48), os produtos artesanais indígenas
enquadram-se na categoria artesanato ancestral, pois “é um artesanato de
caráter coletivo, as atividades artesanais correspondentes tendem a reiterar, no
geral, os procedimentos, as técnicas, a utilização de recursos naturais e a
divisão sexual do trabalho praticados por gerações anteriores”. Em Mato
Grosso do Sul, o artesanato ancestral envolve as produções das etnias Terena,
Kadiwéu, Guarani e Kinikinau (GABOARDI et al., 2008) e Guató
(BORTOLOTTO e GUARIM NETO, 2005).
Especificamente quanto ao artesanato Terena, desde sua origem teve
caráter utilitário. Os potes cerâmicos, secularmente, eram utilizados para servir
água mais fresca ao homem (ALVES, 2014, p. 59).
Quanto aos aspectos da produção da cerâmica Terena, GODOY (2001,
p. 33) afirma que ela “é produzida atualmente em aldeias da região de Miranda,
mais frequentemente em Cachoeirinha”. Para muitas famílias, a produção da
cerâmica é fonte de complementação de renda. Enquanto as artesãs mais
idosas, com cerca de sessenta anos, já estão em vias de paralisação devido ao
grande esforço exigido durante todo o processo de fabricação desta cerâmica,
as mais jovens, em grande parte, desconhecem os procedimentos técnicos
(GODOY, 2001).
A cerâmica torna-se marca cultural das etnias indígenas, pois as peças
resultantes são identificadas pela ornamentação e pelo grafismo peculiares. Os
Terena destacam-se pela especialidade na arte da cerâmica (PASCHOALICK,
2008). As peças cerâmicas Terena são as mais resistentes entre as etnias
oleiras da região e ganham singularidade pelo acabamento de coloração
26
avermelhada, brilhante, e pelos delicados desenhos em tons de branco-
aguado.
Em Mato Grosso do Sul, a Aldeia Cachoeirinha de Miranda tem
relevância na produção de cerâmica Terena, pois mantém uma relação intensa
de troca de mercadorias. Atualmente a produção visa atender ao mercado
consumidor e muitas familias estão envolvidas nesse processo. Houve avanço,
sob esse aspecto, pois Oliveira (1968) afirmara, na década de 1960, que:
“... apenas duas ou três famílias – dedicam-se à
comercialização de sua cerâmica ... A arte oleira entre
os Terena ressente-se da mesma baixa produtividade do
artesanato tribal; não está voltada para a
comercialização” (OLIVEIRA, 1968, p. 79).
A produção da cerâmica é atribuição feminina. São as mulheres que
realizam todo o processo, desde a coleta do “barro” até a venda das peças. Em
geral, são mulheres casadas e, com a venda das peças, contribuem com o
orçamento familiar. Essa atividade é ensinada de geração a geração. As mães
ou avós ensinam as meninas ainda pequenas. Elas ficam juntas das artesãs
adultas enquanto fazem a cerâmica, aprendendo através da observação e
brincando com o “barro” (GOMES, 2008).
Quando as ceramistas vão fazer as peças, antes tomam mate. Depois
delegam a função de cuidar da casa, do almoço e dos irmãos a uma filha.
Nesse dia a ceramista irá cuidar somente de produzir suas peças. O volume de
venda das peças cerâmicas tem elevado a renda dessas artesãs e tem gerado
mudanças comportamentais nas famílias. Elas acabam ganhando autonomia
para sair das aldeias para negociar suas peças, participar de feiras e
exposições de artesanato e até repassar seu conhecimento teórico-prático por
meio de cursos financiados por órgãos públicos ou ONGs (GOMES, 2008).
As artesãs, através do contato com o mercado estão sendo
influenciadas a produzir peças que atendem a reclamos externos. Antes
produziam peças utilitárias para atender necessidades básicas de suas
famílias, como cozinhar, armazenar água e alimentos (panelas, pratos, jarras,
travessas, potes). Atualmente produzem peças moldadas de acordo com as
27
exigências do mercado consumidor formado por turistas e visitantes do estado.
Para facilitar o transporte, as dimensões são miniaturizadas e, para atender
finalidade decorativa, ganham primeiro plano as formas zoomorfas (galinhas,
jacarés, capivaras, bois, tatus, porcos e peixes) (ALVES, 2014, p. 67).
Devido ao amistoso contato dos Terena com a sociedade nacional e ao
movimento gerado pelo turismo, houve aumento no consumo de suas peças
artesanais. Com isso, o artesanato se tornou importante elemento de
complementação de renda das mulheres trabalhadoras.
Material e Métodos
O universo da pesquisa é a comunidade de artesãs Terena da Aldeia
Cachoeirinha (Figura 1), distante 15 km da cidade de Miranda em Mato Grosso
do Sul. Miranda localiza-se a oeste do Estado, na Microrregião de Aquidauana
e na Mesorregião do Pantanal Sul-Mato-Grossense. Sua altitude é de 126
metros, e fica a 194 km da capital, Campo Grande, com acesso pela rodovia
BR 262 ou MS 335, que a liga a Bodoquena.O município de Miranda localiza-
se entre as coordenadas geográficas latitude 20º14'26"sul e longitude
56º22'42" oeste, ocupando uma superfície de 5 478,627 km².
Figura 1: Mapa de localização da Aldeia Cachoeirinha, Miranda, MS. Fonte:
AUTORA (2015).
A área total da Aldeia Cachoeirinha é de 36.288 (trinta e seis mil,
duzentos e oitenta e oito) hectares (FUNAI, 2015), equivalente a
aproximadamente 6,62% da área do município. E vivem 1.507 habitantes
(FUNASA, 2015).
28
Figura 2. Aldeia Cachoeirinha: Entrada da Aldeia (A) e Marco Zero da Aldeia
(B). Fotos: AUTORA (2014).
Os instrumentos empíricos utilizados para atender ao objetivo de traçar
a trajetória histórica associada ao desaldeamento e ao reagrupamento dos
Terena na Reserva Indígena Cachoeirinha, foram fontes documentais e fontes
historiográficas.
Para atender ao objetivo de identificar e descrever o processo de
produção da cerâmica Terena, foi realizada a observação direta em situação de
trabalho na Aldeia Cachoeirinha em Miranda, MS. A coleta da matéria prima, as
técnicas da produção, os recursos naturais empregados até a queima e
obtenção do produto final, envolveram levantamentos a campo nos meses de
julho de 2013 a janeiro de 2015.
29
Os instrumentos utilizados durante os levantamentos a campo
constituíram-se de observação sistemática em situação de trabalho, registros
fotográficos, entrevistas semiestruturadas com as artesãs oleiras e coleta de
materiais como argila e água.
As entrevistas ocorreram com algumas artesãs e o acompanhamento
das etapas de produção da cerâmica que é comum as demais artesãs,
ocorreram com o grupo da ceramista Rosenir Batista, Rosilene de Arruda,
Zenilda Batista e Ana Alice Correa Arruda (mãe, filhas e nora), observando
indicação do Cacique Adilson.
Com intuito de obter informações quanto aos tipos de argila utilizada na
confecção das peças cerâmicas e classificá-las por meio da composição física,
química e granulométrica, foram realizadas coletas de amostras em três sítios
utilizados pelas artesãs.
A amostra A1 foi coletada no local denominado pelas artesãs como
buraco do barro vermelho. Esse tipo de argila, rico em hematita, é usado para
dar a pigmentação vermelha às peças. A amostra A2 foi coletada a 2,5 km de
distância da casa da artesã Rosenir, local onde sua avó também retirava argila.
É usada para modelar as peças. A amostra A3, retirada próxima da Aldeia
Argola, onde a artesã Arlene busca sua matéria prima. Quando ela vai buscar o
barro usa a expressão “Miyokuti Mote3”. A amostra A4, obtida próximo ao centro
da aldeia pela artesã Neucilene, também se refere ao tipo de argila utilizada
para modelar as peças cerâmicas.
As amostras foram coletadas no horizonte superficial (profundidade
30 cm), transportadas ao Laboratório de Análise de Solos da Universidade
Anhanguera-UNIDERP e acondicionadas em bandejas até a secagem.
3 Expressão antiga que significa tirar argila, provavelmente usada pelas artesãs anciãs.
30
Figura 3. Foto de uma das etapas de análise da argila da análise
granulométrica das amostras de argila (A, B, C e D), Laboratório de Análise de
Solos da Universidade Anhanguera-UNIDERP: Fotos: AUTORA (2014).
As impurezas (raízes, entre outros elementos vegetais) foram retiradas
manualmente. Em seguida, foram desintegradas, com ajuda de um pístolo de
madeira, e peneiradas a 120µ (100 mesh). Foram separadas aproximadamente
200g de cada amostra para serem submetidas à análise granulométrica
(Figuras 3 e 4) (EMBRAPA, 1997) e os resultados analisados com base na
EMBRAPA (2006).
31
Figura 4. Foto de uma das etapas de análise da argila (A, B, C, D e E) e
máquina agitadora (F). Laboratório de Análise de Solos da Universidade
Anhanguera-UNIDERP. Fotos: AUTORA (2015).
Na confecção de uma peça cerâmica, tanto na etapa de moagem,
quanto na etapa de acabamento final antes da queima, a água possui
fundamental importância, pois além de agentes suspensores possui íons
dissolvidos e microorganismos em seu meio (CANAZILLES, 2013), e estes
precisam ser conhecidos e estudados a fim de que não contribuam
nocivamente para o processo de produção e consequentemente para a
resistência das peças produzidas pelas artesãs Terena.
A água utilizada para a confecção das peças de cerâmica foi coletada na
caixa d’água da residência da artesã Rosenir. A fonte utilizada para abastecer
as casas das famílias da aldeia é um poço artesiano e a água, além do uso nas
atividades diárias da família (banho, alimentação, entre outras), serve, também,
à produção da cerâmica. As amostras de água foram acondicionadas em caixa
de isopor, à temperatura de 4ºC e transportadas para o Laboratório de
Hidroquímica Ambiental da Universidade Anhanguera-UNIDERP e submetidas
a análise física, química e microbiológica, estas analises foram realizadas em
triplicadas e seguiram os procedimentos descritos no Standart Methods (APHA,
1995 e 1998).
Os parâmetros selecionados para as análises físicas e químicas foram:
cor (colorímetro), turbidez (turbidímetro), pH (pHmetro), condutividade elétrica
(condutivímetro), acidez e dureza total (Método titulométrico), oxigênio
dissolvido (OD) (Oxímetro), demanda bioquímica de oxigênio (DBO) (incubação
durante 5 dias à 21ºC), e demanda química oxigênio (DQO) (digestor de
DQO/Titulometria), e esta escolha foi baseada nos parâmetros preconizados na
RESOLUÇÃO CONAMA no 396, de 3 de abril de 2008 (BRASIL, 2008) para
qualidade de águas subterrâneas. Para as análises microbiológicas (Figura 5),
a técnica empregada foi a de tubos múltiplos, para determinar o Número Mais
Provável (NMP) de Coliformes Totais e Termotolerantes (APHA, 1995).
32
Figura 5. Foto de uma das etapas de analise microbiológica das amostras de
agua coletadas na Aldeia (A e B), Laboratório de Hidroquímica Ambiental da
Universidade Anhanguera-UNIDERP. Fotos: SANTOS (2014).
Os dados obtidos foram registrados em planilhas e comparados com os
parâmetros físicos, químicos e microbiológicos para águas subterrâneas,
estabelecidos pela RESOLUÇÃO CONAMA no396, de 3 de abril de 2008
(BRASIL, 2008).
Outro fator importante para a qualidade da cerâmica é a temperatura
de queima utilizada pelas artesãs Terena. Assim, para determinar a
temperatura utilizada, foi acompanhado o processo de queima de nove peças
cerâmicas da ceramista Rosilene. O processo de queima foi realizado em um
buraco com circunferência de 1.60 x 1.60m. Primeiramente, foi colocado a
lenha e sobre esta uma placa de ferro, em sequencia as cerâmicas para a
queima, este é o processo usado por todas as artesãs da Aldeia Cachoerinha.
Como na literatura não há registro de uma metodologia padrão para medida da
temperatura de queima, in loco, da cerâmica, neste estudo as medidas de
temperatura foram registradas com um termômetro infravermelho digital com
mira laiser (Marca Incoterm ScanTemp ST-1000), a uma distância de 2 metros
da fogueira em quatro pontos (Figura 6). Os intervalos de cada medida foi de
quinze minutos e a duração total de queima foi de cinquenta minutos. Os
valores foram registrados e a média e desvio padrão calculados.
33
Figura 6. Aldeia Cachoeirinha: Protocolo de medida da temperatura de queima
das peças de cerâmica. Fotos: AUTORA (2014).
Resultados e Discussão
A produção da Cerâmica Terena na Atualidade
De acordo com a lista de nomes do grupo de ceramistas, fornecida
pelo professor e pesquisador Aronaldo Júlio, residente na aldeia, foram
identificadas 43 artesãs. Entretanto, no Centro de Referência da Cultura
Terena foi informada uma lista com 62 nomes, sendo 8 homens. Com o
aprofundamento da pesquisa, foi esclarecido que esses artesãos do sexo
masculino não são ceramistas. Eles confeccionam outros tipos de peças
artesanais, como cocar, colares e flechas. Como alguns deles também levavam
peças de cerâmica até o referido Centro, constam no seu registro.
Confrontando as duas listas e desprezando os 14 nomes repetidos em
ambas, temos um total de 83 artesãs, sendo que 38 deixaram de produzir.
Corroborando os dados apresentados, o levantamento feito a campo
na Aldeia Cachoeirinha identificou as 83 artesãs Terena. No período de 31 de
julho de 2013 a 11 de Janeiro de 2015, foi constatado, porém, que 45
permanecem em atividade, ou seja, 54 % do total de artesãs. As faixas etárias
das artesãs que continuam em atividade são: de 12 a 18 anos, 8,43%; de 19 a
34
25 anos, 25,3%; de 26 a 50 anos, 39,75%; de 51 a 64 anos, 14,45%, e, acima
de 64 anos, 12,04%. Portanto, o maior número de artesãs encontra-se na faixa
etária de 26 a 50 anos.
Essa quantidade de artesãs em atividade revela crescimento nos
últimos cinquenta anos, pois, na década de 1960, o antropólogo OLIVEIRA
(1968, p. 79) afirmava:
“A contribuição do trabalho feminino que poderia ter lugar
na esfera artesanal, principalmente na manufatura de
potes de “barro”, é irrisória: apenas duas ou três famílias -
tomando-se ainda Cachoeirinha - dedicam-se à
comercialização de sua cerâmica, que é vendida na
estação de Duque Estrada ou em Miranda”.
A Aldeia de Cachoeirinha sempre foi referência como produtora de
artesanato cerâmico. E se o número de artesãs oleiras tem crescido, tal
resultado contraria as conclusões de GODOY (2001), que, no início do século,
afirmou que essa atividade estava em declínio. Na Aldeia foi constatado que,
mesmo entre as jovens, existem aquelas que afirmam gostar de produzir
cerâmica artesanal e percebem nessa atividade a possibilidade de aumentar
sua renda. Algumas jovens revelam desinteresse pelo artesanato, pois alegam
que a produção da cerâmica dá muito trabalho. Preferem estudar, pois
acreditam que o diploma pode conferir melhores condições de vida e de
trabalho na cidade.
OLIVEIRA (1968, p. 80), ainda relatava:
“Já em outras aldeias, não vemos qualquer artesanato,
seja oleiro, seja trançado ou outro qualquer. Em Lalima,
Buriti e Brejão, por exemplo, não se faz cerâmica alguma,
sob a justificação de que falta “barro” bom. O que há é
que as técnicas artesanais vão desaparecendo,
especialmente nas aldeias reorganizadas ou naquelas de
composição étnica múltipla”.
35
A observação do processo de produção da cerâmica acompanhou, em
especial, o trabalho do grupo de artesãs liderado por Rosenir Batista (43 anos),
e que tem como participantes suas filhas, Rosilene de Arruda (21 anos) e
Zenilda Batista (30 anos), além da nora Ana Alice (31 anos). Esse grupo foi
apontado pelo Cacique Adilson Antônio como aquele que se destaca pela
produção contínua. Juntas, as quatro artesãs produzem em média 220 peças
por mês. São produtos variados como bichinhos em miniatura, mini potes, mini
pratos, mini travessas, vasos, panelas e travessas.
Rosilene, exclusivamente, vem reproduzindo peças antropomorfas que
remetem ao cotidiano das mulheres. Ela, que começou fazendo potes, depois
de observar as mães com os filhos, decidiu que iria reproduzi-los. A temática
da maternidade aflorou. São tocantes peças de mães amamentando ou
segurando seus bebês no colo. “As primeiras saíram feinhas”, ela diz
(ARRUDA, 2014). Depois, com a repetição e o desejo de aperfeiçoá-las, as
peças ganharam equilíbrio e expressão e passaram a motivar a procura dos
turistas. Ao afirmar que procurou fazer o que as outras artesãs não faziam,
além de sua dedicação ao aprimoramento dos resultados de seu trabalho, não
há como deixar de reconhecer em Rosilene uma artista. Nela se constata, a
“preocupação estética”, a “vontade de beleza”, que “resulta numa obra de alta
perfeição técnica” (RIBEIRO, 1980, p. 257-8).
Nota-se, hoje, uma diversificação das peças cerâmicas Terena. Os
produtos, no passado, eram compostos basicamente por utensílios domésticos,
como vasos, cuias, panelas, moringas. Eram usados nas atividades cotidianas
das famílias na aldeia. No presente, são constituídos por objetos de decoração,
que assumem formas de animais e aves, além de colares de sementes e penas
(LOSNAK, 2010).
No interior da sociedade capitalista, o índio tornou-se produtor de
mercadorias. Seus produtos artesanais são produzidos para venda no mercado
e não mais para atender necessidades utilitárias no cotidiano como
antigamente. Esse artesanato, ao ser produzido como valor de troca, perde sua
finalidade cultural de origem. Segundo ALVES (2003, p. 4), as peças artesanais
produzidas na atualidade “são, basicamente, mercadorias que permitem ao
‘artesão’ adquirir, no mercado, as demais mercadorias que, sob as novas
condições hegemonizadas pelo capital, asseguram a sua subsistência”.
36
Conforme Rosenir, é necessária a produção frequente por conta do
mercado consumidor. Ela afirma que não pode ficar sem peças prontas, pois
sempre tem gente procurando (BATISTA, 2014). A artesã passou a se dedicar
à cerâmica em 2006, quando retornou à Aldeia, depois de ter vivido algum
tempo em Campo Grande. Em situação de trabalho foi observado que o núcleo
familiar de artesãs em referência está sempre produzindo.
O processo de produção da cerâmica Terena na Aldeia Cachoeirinha,
realizado pelo grupo de Rosenir, foi acompanhado in loco. Ele se inicia com a
coleta da matéria-prima essencial, ou seja, a argila ou “barro” (Figura 7). São
necessários três tipos de “barro”: um para dar a forma desejada e compor o
corpo das peças cerâmicas, chamado de “barro escuro”; o “barro vermelho”,
para conferir a sua cor característica e o “barro branco”, utilizado para
ornamentar as peças com grafismos.
GOMES (2008, p. 9), confirma a utilização dos três tipos de “barro” pelas
ceramistas. O mais escuro dá forma ao artefato. O “barro vermelho” lhe confere
a “cor da tradição terena” e o brilho, que o grupo identifica como tradicional, e o
“barro” branco é utilizado para o acabamento final, ou seja, para ‘bordar’ as
peças com motivos florais, pontilhados e mistos. Ainda segundo a autora,
esses traços são, para o povo Terena, indicativos de sua identidade.
Figura 7. Aldeia Cachoeirinha: Caminho para buscar o “barro” (A); Rosenir
coletando argila (B). Fotos: AUTORA (2014).
Foi constado que a cerâmica Terena da Aldeia Cachoeirinha vem
apresentando mudanças. Contrariando a tradicional pigmentação avermelhada,
algumas peças estão sendo confeccionadas com pigmentação preta (Figura 8).
37
Essa nova tonalidade é obtida por meio de um mineral de cor preta e brilho
metálico denominado de “pedra canga”.
Figura 8. Centro de Referência da Cultura Terena: Cerâmica com pigmentação
vermelha (A); cerâmica com pigmentação preta (B). Fotos: AUTORA (2014).
A coleta do “barro escuro” (Figura 9) é realizada no período de seca, no
córrego que atravessa a aldeia. Ele é referido pela artesã Rosenir como “córgo
da argila”. No Pantanal, o período de seca compreende os meses de Junho a
Setembro. As artesãs retiram o “barro” quando o córrego está sem fluxo de
água, ou seja, nos meses de Abril, Maio e Agosto. Algumas ainda seguem a
estação lunar e coletam o “barro” na época da lua crescente ou cheia. Dizem
que a argila coletada na estação da lua nova racha ou estoura na hora da
queima. O núcleo da artesã Rosenir retira “barro” uma vez por mês, pois há
grande demanda para seus produtos. Transportam, em média, 10 sacos de 40
quilos cada e voltam para buscar mais, caso necessitem. Segundo a líder das
artesãs, com cada saco de “barro” é possível produzir aproximadamente 20
peças grandes ou 40 pequenas (BATISTA, 2014).
A artesã explica que a mesma quantidade de “barro” necessário para
fazer um pote grande pode ser usada para produzir entre cinco e seis panelas.
Ela prefere fazer essas peças, pois vende mais rápido e com ganho maior.
38
Figura 9. Aldeia Cachoeirinha: “Barro escuro” (argila) utilizado para a produção
do corpo das peças cerâmicas. Fotos: AUTORA (2014).
Na aldeia Cachoerinha, foi observado que as mulheres e seus familiares
se reúnem para fazer a coleta da argila. O trajeto da aldeia até o local, de difícil
acesso, é feito à pé. O “barro” coletado, dentro de sacos plásticos, no passado
era transportado por carrinhos de mão ou em baldes sobre a cabeça.
Rosenir relatou que a distância de sua casa, na aldeia, ao ponto de
coleta (‘córgo da argila’) é de 2,5 km. Para o transporte da argila conta com a
ajuda do filho, que dispõe de uma motocicleta para tal (BATISTA, 2014).
GODOY (2001) também constatou a ajuda de membros masculinos da famílias
das artesãs nessa fase de coleta da argila.
Durante a coleta do “barro”, a artesã faz uma limpeza superficial dentro
do córrego, retirando galhos e folhas. Em seguida, o “barro” é recolhido a uma
profundidade aproximada de 30 centímetros. O material é retirado em grande
quantidade, armazenado em sacolas plásticas e estocados na lateral das casas
das artesãs para utilização futura. O “barro” seco, quando da produção de
novas peças é reidratado e, a seguir, utilizado.
Na Aldeia Cachoeirinha verificou-se que a produção da cerâmica é uma
atividade basicamente feminina, que tem significativa expressão como
complemento de renda para as artesãs e suas famílias. Os homens se aplicam
à cestaria, à caça e à pesca. É o que reconhecem, também, GRUBITS (2014) e
GOMES (2008).
39
“A prática de cerâmica entre os Terena é uma atividade
adulta, em geral das mulheres casadas, que contribuem
com o orçamento familiar, vendendo os artefatos nas
cidades próximas da aldeia ou para algum visitante, que vai
até a área seja à procura dos artefatos, como os donos de
lojas, seja para visitar amigos e parentes. [...] As
ceramistas são reconhecidas dentro da aldeia por serem as
detentoras do conhecimento sobre a cerâmica; pela
dificuldade inerente ao processo de produção das peças,
pois é um trabalho considerado difícil e pesado; e também,
mais recentemente, por contribuírem com a renda da
família, vendendo os artefatos na cidade” (GOMES, p. 7,
2008).
A argila rica em hematita é retirada de um local denominado por
Rosenir como “buraco do barro vermelho”. A artesã demonstra preocupação
com o lugar onde é colhido esse “barro”, pois a construção de casas da aldeia
está avançando e já se aproxima do ponto de coleta. Esse é o único local onde
todas as artesãs retiram o “barro vermelho”. Conforme relato da artesã, desse
local onde os antepassados também recolhiam argila somente um pedaço é
bom (Figura 10). Ela informa que já experimentou argila de outro lugar, porém
o “material não foi bom para fazer cerâmica” (BATISTA, 2014).
40
Figura 10. Aldeia Cachoeirinha: Local de retirada do “barro vermelho” com
água (A) e casas próximas (B). Fotos: AUTORA (2014).
O “barro vermelho”, utilizado para dar a cor vermelha característica da
cerâmica Terena, antes de ser aplicado é dissolvido em água. A seguir, as
artesãs aplicam até três demãos em cada peça (Figura 11).
As ceramistas Terena da aldeia Água Branca, localizada a 70 Km da
cidade de Aquidauana-MS, usam outro procedimento. Devido à predominância
do arenito, a terra vermelha empregada no acabamento das cerâmicas vem de
formigueiros. A terra é umedecida com água e o material pastoso produzido é
espalhado em volta do objeto. Em seguida é alisado até a obtenção de uma
textura homogênea e brilhante (SEBASTIÃO, 2012).
41
Figura 11. Aldeia Cachoeirinha: Coleta do “barro” vermelho pela artesã
Zenilda (A); “barro vermelho” triturado (B) e dissolvido em água (C). Fotos:
AUTORA (2014).
Outro material utilizado para pigmentar as peças é a “pedra canga”
(Figura 12), que, segundo Rosenir, assegura um diferencial ao artefato. Ela
afirma que o mineral é difícil de ser encontrado e que nem todas as artesãs o
utilizam. O mineral é quebrado e triturado em pilão. Ao pó é adicionado água,
mistura usada para dar a tonalidade preta à peça, obtida após a aplicação de
duas demãos. A líder artesã informa que uma única demão confere à peça
cerâmica a cor marrom (BATISTA, 2014).
O “barro branco” é retirado de um local distante da moradia da artesã,
um lago denominado Campão Babaçu, dentro da área da aldeia Cachoeirinha.
Para evitar desperdício e a perda de suas propriedades, a matéria-prima é
armazenada em sacolas plásticas, conforme relato da artesã Rosenir
(BATISTA, 2014).
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Figura 12. Aldeia Cachoeirinha: “Pedra canga” (A), Rosenir socando a pedra
(B), “pedra canga” triturada (C) e peça recebendo pigmentação antes da
queima (D). Fotos: AUTORA (2014).
O ‘“barro branco” é empregado na etapa de ornamentação, ou seja, na
aplicação dos grafismos. Os desenhos são feitos antes da queima das peças.
O “barro” é dissolvido em água, ficando com a consistência aquosa. É, então,
aplicado delicadamente sobre a superfície das peças secas. Para realizar os
desenhos as artesãs contam com o auxílio de gravetos que substituem a
função os pincéis (Figura 13).
Depois de coletadas as matérias-primas (“barro escuro”, “barro
vermelho”, “pedra canga” e “barro branco”), inicia-se a segunda etapa da
produção. Trata-se da limpeza do “barro” escuro”. Feita manualmente, elimina
as impurezas visualizadas macroscopicamente como gravetos, folhas, ramos,
pedras e qualquer outro elemento que possa interferir na textura do “barro”.
43
Figura 13. Aldeia Cachoeirinha: “Barro branco” sólido (A) e “barro” branco
dissolvido em água (B). Fotos: AUTORA (2014).
Após a limpeza a artesã adiciona ao “barro escuro” pequena
quantidade de um pó obtido do descarte de cerâmica que já foi queimada ou de
pedaços de telhas ou tijolos triturados (Figura 14). A utilização de tijolos, em
nossos dias, é um indicador da intensificação da produção cerâmica Terena.
No passado eram usadas, exclusivamente, peças de descarte decorrentes de
quebra ou de defeito na queima.
Figura 14. Aldeia Cachoeirinha: Tijolos utilizados como ‘katipe’ pela artesã
Rosenir. Foto: AUTORA (2014).
44
O pó obtido da trituração de tijolos ou restos de cerâmicas já
queimadas recebe o nome de chamote. No idioma Terena a artesã chama esse
pó de ‘katipe’. GRAZIATO (2008, p. 29) esclarece a função do chamote.
“o corpo cerâmico queimado e triturado para ser adicionado
à pasta, utilizado pelas índias Kadiwéu e por muitas outras
etnias, tem a função de facilitar a confecção de grandes
objetos, pois dá estabilidade à modelagem, impedindo que
o corpo do pote, quando muito alto, comece a achatar e
deformar. Por se tratar ainda de um corpo cerâmico, que já
sofreu transformações físico-químicas, o ‘chamote’ é
material estável, não sofrendo retrações. Este material,
quando acrescentado ao ‘barro’ em proporções adequadas,
reduz os coeficientes de retração durante a queima”.
O “katipe” ou “chamote”, portanto, é usado para dar plasticidade à
argila. Ao ser incorporado ao “barro escuro”, o processo de amaciamento ou
sova é iniciado (Figuras 14 e 15). A artesã Rosenir relata que leva até três
horas sovando o “barro” para conseguir o ponto exato da massa cerâmica. Só
atendida essa condição poderá iniciar a etapa de modelagem (BATISTA,
2014).
A mistura deve estar ajustada para atingir o ponto maleável e a
consistência necessária para a modelagem, regulados pela quantidade de
água acrescida à massa (GRAZIATO, 2008). Observou-se o alto grau de
concentração da artesã para conseguir o ponto exato da maleabilidade da
massa.
Rosenir relata que durante a etapa de modelagem suas mãos devem
estar livres de sal ou farelo de pão. Segundo ela, se houver qualquer impureza
nessa etapa a resistência da peça ficará comprometida, podendo ocorrer
rachaduras durante a queima.
GODOY (2001) confirma a preocupação das artesãs com a limpeza
das mãos. Na produção das peças elas não podem ter vestígios de sal, farelo
de alimentos, gordura ou suor, a fim de evitar que as peças rachem, trinquem
ou estourem durante a queima.
45
Figura 15. Aldeia Cachoeirinha: Artesã Ana Alice misturando o “barro escuro”
com o ‘katipe’ e sovando a massa. Foto: AUTORA (2014).
Figura 16. Aldeia Cachoeirinha: “barro escuro” utilizado para modelar a peça
cerâmica (A); Rosenir, com sua neta Ana Paula aprendendo, iniciando a
modelagem (B) e dando forma à peça com a técnica do acordelado (C e D).
Foto: AUTORA (2014).
46
Com o “barro” já “temperado” com o “katipe”, a artesã vai do passo da
sova para a modelagem. O objeto criado em sua mente ganha forma livre no
“barro”. Rosenir inicia a modelagem em uma porção de argila com a técnica de
modelagem direta formando a base da peça. Em seguida, utiliza a técnica do
acordelado sobrepondo roletes (Figura 16). Com o “barro” ainda úmido são
feitas cordas que passam a ser sobrepostas umas às outras até atingir a forma
do objeto desejado.
Em Mato Grosso do Sul, tanto a mistura do pó de cerâmica quanto a
técnica do acordelado são utilizadas, também, pelas ceramistas das etnias
Kinikinau (CANAZILLES, 2012) e Kadiwéu (GRAZIATO, 2008). Segundo
RIBEIRO (1989), a técnica do acordelado, que se realiza pela modelagem da
argila por superposição de roletes, à mão livre, é geral entre as etnias
indígenas brasileiras que produzem artigos cerâmicos.
GODOY (2001, p. 26) explica a técnica.
“Para a confecção de peças grandes, como os potes,
inicia-se pelo fundo, onde a argila deve ser trabalhada
com uma tira de aproximadamente 2 cm. e enrolada em
espirais, sobrepostas, que vão dando o aspecto estrutural
da forma desejada. Em seguida, trabalha-se em sentido
contrário, com uma espátula de madeira ou pedaço de
cabaça para corrigir os defeitos na aparência da
cerâmica, deixando-a lisa e fazendo o acabamento
necessário”.
Para unir os roletes e dar forma uniforme à peça é necessário alisar a
massa cerâmica. Para peças pequenas a artesã utiliza uma faca e, para alisar
peças grandes, faz uso de um pedaço de madeira (Figura 15). Ambos são
imersos em água para facilitar o deslizamento sobre a peça e possibilitar o
acabamento final.
O tratamento interno e externo requer a ajuda de um implemento
simples, um pedaço de cuia, seixo rolado ou noz para alisar as paredes (Figura
17).
47
Figura 17. Aldeia Cachoeirinha: Faca para alisar peça pequena (A) e madeira
para alisar peça grande (B). Foto: AUTORA (2014).
Após o alisamento e finalização da peça, a artesã Rosenir iniciou o
processo de secagem em um local fresco. O tempo de secagem varia, segundo
ela, de trinta minutos a uma hora, a depender do vento (Figura 18).
Figura 18. Aldeia Cachoeirinha: Rosenir finalizando uma peça (A) e secagem
(B). Foto: AUTORA (2014).
Após o processo de secagem, a peça recebe a pigmentação de cor
preta (Figura 19) ou a avermelhada, mais tradicional, utilizando,
respectivamente a “pedra canga” ou o “barro vermelho”. Em seguida, as peças
48
são polidas com seixo rolado, uma pequena pedra lisa, de forma arredondada,
colhida em rios.
“Definida a forma e concluída a secagem, é aplicada de
uma a três camadas de uma mistura avermelhada,
espessa, conhecida como hematita (oxido de ferro natural)
que podemos considerar como uma ‘tinta’, de consistência
mais pastosa, que deve ser aplicada à peça utilizando as
mãos, geralmente só na parte externa dos objetos, num
total de até três demãos intercaladas” (GODOY, 2001, p.
26).
Figura 19. Aldeia Cachoeirinha: Inicio da aplicação da pigmentação preta feita
com pedra canga (A); peça com pigmentação já finalizada(B). Foto: AUTORA
(2014).
Em Miranda foi implantado em 2004 o Centro Referencial da Cultura
Terena, que comercializa artesanato da etnia. Localizada na BR 262, sua sede
foi construída em carandá, pedra e sapé (Figura 20). Funciona de segunda a
sexta-feira das 07h00 ás 21h00 e, aos sábados, domingos, feriados e dias
facultativos, abre das 08h00 ás 20h00. O prédio, os funcionários e os materiais
49
como sacolas e etiquetas são cedidos pela prefeitura do município. No local os
artesãos deixam suas peças com valores estipulados por eles próprios e, após
a venda, são feitos os pagamentos, conforme informado pela atendente
Marinalva.
Figura 20. Miranda: Centro Referencial da Cultura Terena. Foto: AUTORA
(2013).
Foi observado no Centro Referencial da Cultura Terena, peças com
pigmentação escura. São produzidas apenas pelo núcleo familiar da artesã
Rosenir. A artesã Jaqueline, prima de Rosenir, por influência desta também
tem utilizado esse recurso, além da artesã Valentina.
Rosenir relata que queria um diferencial em suas peças, por isso
começou a usar a coloração preta (BATISTA, 2014).
As pigmentações vermelha ou preta, depois de fixadas à peça, não
devem secar antes de receber o polimento. Segundo relato da artesã Rosenir,
é necessário saber exatamente o ponto de polimento da peça para obter o
brilho desejado (BATISTA, 2014). O polimento é feito com seixo-rolado
umedecido em água e, segundo a informante, é necessária muita força no
braço para polir uma peça (Figura 21).
50
Figura 21. Aldeia Cachoeirinha: Artesãs Rosilene (A) e Rosenir(B) polindo
peças. Foto: AUTORA (2014).
Com cuidado e zelo, as artesãs começam a polir as peças ainda
úmidas. O polimento é realizado com seixos rolados. Não foi constatado o uso
de semente do jatobá, como relatado anteriormente em trabalhos de outros
autores. A artesã Rosenir diz que sempre usou o seixo no polimento, assim
como sua avó. Ela lembra que a avó dava sementes de jatobá para as crianças
brincarem de polir, mas ela só usava o seixo (BATISTA, 2014).
“Para os Terena, esse momento é de muito zelo com a
cerâmica, pois além de ser a ocasião em que consegue dar
um brilho intenso à peça, é o instante no qual ela poderá
quebrar se não forem tomadas algumas cautelas, como,
por exemplo, proteger do vento” (GOMES, 2008, p. 10).
Após receber o brilho, as peças são pintadas com desenhos florais,
pontilhados, lineares ou mistos que identificam a cerâmica Terena (GODOY,
2001). Para esse tipo de ornamentação é utilizada uma tinta de coloração
branca, feita com a mistura de argila de mesma cor e água (Figura 22).
Conforme relato das artesãs cada uma tem seu jeito de pintar. Aprenderam os
grafismos com suas mães e avós, mas não sabem os significados dos
desenhos. Apenas reproduzem o que aprenderam (ARRUDA, 2014).
51
Figura 22. Aldeia Cachoeirinha: Artesãs Rosilene (A) e Rosenir (B)
ornamentando peças cerâmicas. Fotos: AUTORA (2014).
“No preparo das ‘tintas’ é utilizada somente água para diluir
e regular a consistência das mesmas. Os padrões
desenhados com mais frequência, possuem motivos
naturalistas ou abstratos, muitas vezes herdados ou
criados pela própria artista. Os desenhos são pintados
utilizando-se de um pincel improvisado em forma de
pauzinho ou pena” (GODOY, 2001, p. 27).
Após a ornamentação, inicia-se a fase de secagem anterior à queima.
As peças são expostas ao sol. A secagem é feita no quintal da casa da artesã
sobre um jirau, constituído por estrado de varas sobre forquilhas de madeira
cravadas no chão (Figura 23).
A autora observou que o tempo da secagem varia de acordo com o
tamanho da peça. GODOY (2001, p. 27) confirma, “... as peças vão para sol,
onde secarão por um período que varia de três dias a uma semana, de acordo
com o formato e tamanho das peças que estão sendo confeccionadas”. A
velocidade do vento e o calor são ameaças, pois fazem a peça secar muito
rápido ocasionando a perda total do serviço. Conforme relato de Rosenir, não
se produz no mês de Agosto porque venta muito (BATISTA, 2014).
52
Figura 23. Aldeia Cachoeirinha: Peças ornamentadas secando sobre o jirau
antes da queima. Foto: AUTORA (2014).
Com a cerâmica já no ponto para a queima, a artesã prepara o local do
fogo com lenhas apropriadas (Figura 24). A operação de queima das peças
começa pela manhã e se estende até às 11 horas. Rosenir informa ser este o
horário que, por motivos fisiológicos, o calor é suportável. Depois, a queima é
retomada às 15 horas e continua enquanto houver claridade. Segundo a
artesã, é preciso cuidar para que as peças não fiquem com a coloração escura,
tornando-se assim inúteis (BATISTA, 2014).
Figura 24. Aldeia Cachoeirinha: Rosenir cortando a madeira “carvão branco“
(A); lenhas e gravetos colhidos na mata (B). Fotos: AUTORA (2014).
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Rosenir utiliza a lenha Toko Vetekeke, o carvão branco em idioma
Terena, a mesma que sua avó utilizava. Ela assegura boa queima com pouca
fumaça. Também são utilizados gravetos recolhidos na mata próxima de sua
casa. Outras lenhas utilizadas são lixeira, graveto de angico, peito de pomba,
costa de jacaré, cascas de aroeira e Caa (BATISTA, 2014).
GODOY (2001) explica que a lenha utilizada é coletada nas imediações
da reserva e tem que estar seca, de forma a facilitar a obtenção de fogo.
Rosenir afirma, contudo, que está cada vez mais difícil encontrar as madeiras
apropriadas para queimar a cerâmica. É obrigada a andar cada vez mais longe
para apanhá-las. A situação se agrava com o crescimento populacional da
aldeia. A construção de novas casas é acompanhada de desmatamento,
gerando o desaparecimento de várias espécies. Por isso, a artesã tem
contratado um trator para trazer suas lenhas. Uma carreta é suficiente para
apenas três queimas, o que dá a ideia da elevada quantidade de madeira
necessária à queima das peças (BATISTA, 2014).
Para a queima de peças cerâmicas é usado um buraco no chão do
quintal, feito especialmente para a realização dessa operação. Antes, a artesã
retira a cinza que restou da queima anterior de dentro do buraco. Em seguida,
acomoda nele as lenhas, que devem ficar bem próximas umas das outras.
Assim fechadas, evitam a ocorrência de fumaça.
Na sequência, Rosenir improvisa uma estrutura com tijolos e sobre ela
coloca um suporte de ferro para acomodar as peças a serem queimadas
(Figura 25).
Figura 25. Aldeia Cachoeirinha: local para a queima. Fotos: AUTORA (2013).
54
Após esse procedimento, deposita as peças no local, cuidadosamente,
de forma que não encostem umas nas outras e não quebrem (Figura 26). A
artesã ainda informa que as peças fechadas, como as índias, precisam ganhar
um furo na base para que o ar circule e evite o estouro.
Em seu estudo, GODOY (2001) descreveu os mesmos procedimentos
e a utilização de suporte de ferro dentro do buraco no qual será ateado fogo.
Durante a queima, caso ocorra muita fumaça, a peça fica escura
(Figura 27), prejudicando sua aparência. Quando isso acontece a peça é
inutilizada, servindo apenas como ‘katipe’.
Figura 26. Aldeia Cachoeirinha:
Artesã Rosenir ajeitando as
peças. Fotos: AUTORA (2013).
Figura 27. Aldeia Cachoeiriha: Peça
inutilizada devido à fumaça. Fotos: AUTORA
(2013).
Para registrar as temperaturas médias em cada etapa do processo, foi
acompanhada a queima de nove peças. Esse processo é realizado em um
buraco com circunferência de 1.60 x 1.60m (Figura 28), em média, no qual é
colocada a lenha e sobre esta uma placa de ferro.
55
Figura 28. Aldeia Cachoeirinha: Queima de peças cerâmicas (A e B). Fotos:
JÚLIO (2013).
A temperatura média inicial do fogo era de 42,7 ± 0,9 ºC. Após 15
minutos, as peças foram acondicionadas sobre a placa de ferro (Figura 25).
Inicialmente as peças foram colocadas sobre o ferro, porém sem lenha por
cima. Nesse momento, a temperatura média era de 395,0 ± 34,7ºC. Passados
mais quinze minutos, as peças foram cobertas por lenha enquanto a
temperatura média atingia 544,8 ± 6,4 ºC e permaneceu constante nos vinte
últimos minutos de queima (545,8 ± 4,9 ºC). Durante a queima das cerâmicas
ventava, o que acelerou o processo e o tempo do início ao final da queima foi
de cinquenta minutos. Segundo Rosenir, a queima adequada exige que o fogo
mantenha temperatura alta e constante (BATISTA, 2014). O controle desta
temperatura é feito de forma empírica, com base no tamanho das chamas e no
tempo de queima. A coloração que as peças adquirem durante a queima é
usado como referência para a retirada das peças da fogueira.
A artesã Rosenir relata que normalmente leva, em média, cerca de três
horas o processo da queima, que inclui a preparação inicial da lenha no
buraco, a colocação das peças no local e a queima propriamente dita. Durante
este tempo, ela observa a cor da cerâmica e revolve as peças para que as
peças tenha a queima por igual e para evitar que a queima passe do ponto
(BATISTA, 2014).
As peças maiores requerem uma quantidade maior de lenha e de
tempo de queima. Neste caso, a duração pode se estender por até 50 minutos
ou mais. Já para a queima de peças pequenas pode durar entre 30 a 45
minutos, dependendo do clima e do vento. O conjunto do trabalho, desde a
56
busca do barro, a preparação da argila, a modelagem das peças até a queima
pode durar até três semanas (JULIO, 2015).
Após atingir o ponto ideal de queima, as artesãs Terena retiram as
peças do fogo com o auxílio de varas de taquara (Figura 29).
Figura 29. Aldeia Cachoeirinha: Artesã Arlene retirando peças do fogo, após a
queima. Foto: JÚLIO (2013).
Depositadas sobre suportes de tijolos, começam a esfriar. Logo que
saem do fogo, as peças têm uma coloração escura que vai clareando a medida
em que esfriam (Figura 30).
Conforme GODOY (2001, p. 9), a queima da cerâmica deve atingir entre
8000C e 1.1000C para adquirir maior resistência e porosidade. A temperatura
da queima é fundamental por interferir na dureza e impermeabilidade da peça.
Constatou-se que, durante a queima de cerâmica na Aldeia Cachoeirinha, a
temperatura máxima atingida não utrapassou 550oC.
57
Figura 30. Aldeia Cachoeirinha: Peças com coloração mais escura, recém-
retiradas do fogo. Foto: AUTORA (2014).
Durante a queima, segundo GODOY (2001), as artesãs ficam atentas
para não deixar passar do ponto. Usam como referência a coloração das
peças, que varia do vermelho escuro ao marrom.
“A transformação do ‘barro’ em cerâmica se dá pela ação
do fogo. É durante a queima que ocorrem diversas
transformações físico-químicas que tornam o corpo
cerâmico resistente e com relativa impermeabilidade.
Durante a cozedura, a água incorporada à massa, que
permitiu a modelagem, vai ser totalmente eliminada, assim
como a água da sua composição química; as moléculas de
quartzo existentes serão reorganizadas, permitindo a fusão
de alguns componentes, bem como a volatização de
outros. As consequências mais flagrantes desse processo
são endurecimento, alteração da cor e textura do material,
menor porosidade e maior dureza. É a temperatura da
queima que determina as características finais do objeto”
(GRAZIATO, 2008, p. 44).
Depois de finalizadas, as peças são comercializadas no Centro
Referencial da Cultura Terena, em Miranda, e nas cidades de Bonito e Campo
58
Grande ou são vendidas diretamente aos turistas que vão até a aldeia (Figura
31).
Figura 31. Peças finalizadas. Aldeia Cachoeirinha (A e B); Centro de
Referência da Cultura Terena (C): Fotos: AUTORA (2013).
Análise química e física da argila
A argila é matéria prima principal da cerâmica; é composta por partículas
coloidais de diâmetro inferior a 0,005 mm, com elevada plasticidade quando
úmidas e que, secas, formam um material solido resistente, porém a
caracterização físico-química desta matéria prima é fundamental para a
obtenção de peça com qualidade. Dentre as propriedades da argila, a
granulometria é uma importante analise física para determinar a porcentagem
dos componentes minerais (argila, silte e areia). Argilas que apresentam alta
porcentagem (~50%) de fração areia (material não-plástico), influencia na
capacidade de conformação, retração de secagem, porosidade e
comportamento de queima (RIBEIRO et al., 2004).
Os resultados referentes à análise granulométrica das quatro amostras
de argila coletadas na Adeia Cachoeirinha, município de Miranda-MS, estão
apresentadas na tabela 1.
59
Tabela 1. Resultados da análise granulométrica das quatro amostras de argila
(A1, A2, A3 e A4) utilizadas pelas artesãs da Aldeia Cachoeirinha, município de
Miranda-MS
Amostras Areia Total Silte Argila
% % %
A14 45,0 17,0 38,0
A25 22,0 17,0 61,0
A36 20,4 16,0 63,5
A47 4,27 13,0 82,7
Os resultados da análise física (granulométrica) indicam que a amostra
A4, que é obtida próximo ao centro da aldeia, apresentou teor de argila superior
em relação às demais. A amostra A1, que é coletada no local denominado pelas
artesãs como buraco do barro vermelho e utilizada por todas para a
pigmentação das peças, apresentam teor de argila inferior a 50%.
Conforme GOMES (1988) e PETRUCCI (1988), a
granulometria das argilas tem intima relação com a
resistência mecânica (...) no estado seco, é uma das
caracteristicas mais importantes dos minerais argilosos e
interfere em muitas outras propriedades, tais como
plasticidade e a permeabilidade... (Apud MORAIS e
SPOSTO, 2006, p. 35)”.
Um alto valor no percentual de areia interfere na resistência da cerâmica
e quanto maior o teor de silte melhor será a qualidade da peça. A composição
da argila empregada para a produção das peças cerâmicas Terena estudadas
4 Argila utilizada por todas as artesãs para a pigmentação das peças.
5 Argila coletada próxima à casa da artesã Rosenir, utilizada para a modelagem das peças.
6 Argila coletada próxima da Aldeia Argola, utilizada para a modelagem das peças.
7 Argila coletada próximo ao centro da aldeia, utilizada para a modelagem das peças.
60
não mantém um padrão no teor da argila, silte e areia, podendo atrapalhar a
qualidade das peças.
De acordo com BAPTISTA FILHO (1999, p. 100)
“As argilas (argilo-minerais) pertencem à classe dos
filosilicatos e são essencialmente silicatos hidratados de
alumínio, de composições diversas podendo conter teores
de ferro, cálcio, magnésio e potássio. São os principais
constituintes dos solos e se formam pela decomposição
direta (em condições superficiais) de silicatos primários
(olivinas, piroxênios, anfibólicos, micas, feldspatos, etc.),
formadores das principais rochas ígneas, metamórficas e
sedimentares. É comum encontrarem-se argilas misturadas
com quantidade variável de quartzo finamente pulverizado.
Seus tipos principais são ilita, caolinita e montmorillonita”.
No trabalho de CANAZILLES (2013), das quatro amostras de argila
utilizada pela ceramista Agda Roberto nenhuma apresentou os percentuais
considerados ideais por Petrucci, que afirma que a composição granulométrica
mais adequada de uma argila a ser empregada na indústria cerâmica vermelha
é aquela que tem substâncias argilosas em torno de 60%, estando o resto do
material dividido igualmente entre silte, areia fina e media (Apud MORAIS;
SPOSTO, 2006).
Análise química, física e microbiológica da água
Para CANAZILLES (2013), a água utilizada para compor a massa
cerâmica durante a fase de sova e modelagem é um requisito importante e
deve ser considerado na confecção da cerâmica.
Conforme MORAIS e SPOSTO (2006), essa massa necessita de uma
dosagem de água precisa para que o artefato não apresente defeitos devido à
retração, como fissuras, que ocorrem em geral durante o processo de secagem
e de queima. Assim, a água utilizada para compor a massa cerâmica durante a
fase de sova e modelagem é um requisito importante e deve ser considerado
na confecção da cerâmica. Segundo os autores, o uso da água tem como
61
objetivo amolecer a argila, formar a pasta, facilitar a modelagem, e por fim
favorecer o endurecimento.
Os resultados das análises físicas, químicas e microbiológicas da
amostra de água coletada na caixa d’água da casa da artesã Rosenir, estão
expostos na tabela 2, assim como os parâmetros estabelecidos pela Resolução
do no 396, de 3 de abril de 2008 (BRASIL, 2008).
Os resultados dos parâmetros: cor, turbidez, pH e fosfato total (Tabela 2)
atendem os padrões estabelecidos pela legislação (BRASIL, 2008) para águas
subterrâneas destinadas ao abastecimento para consumo humano.
Tabela 2. Valores médios das variáveis físicas (T.; Turbidez), químicas (CE;
OD; DBO; DQO) e microbiológica (C.T.) da amostra de água coletada na caixa
d’água, da casa de uma das artesãs Terena da Aldeia Cachoeirinha em
Miranda-MS.
Parâmetros Em Resultados Resolução do
CONAMA no396/2008
Cor mgPT-cor L-1 5,0 ± 0,08 Cor verdadeira
Turbidez U.N.T. 1,65 ± 0,2 até 40
pH - 6,0 ± 0,05 6,0 – 9,0
C.E. S cm-1 171,4 ± 0,4 **
Alc. Bicarb. mg L-1 CaCO3 128,3 ± 0,02 **
Acidez Total mg L-1CaCO3 53,3 ± 0,6 **
Dureza mg L-1 CaCO3 64,3 ± 0,05 500
Fosfato Total mg L-1 0,015 ± 0,6 0,1
OD mg L-1 5,7 ± 0,8 6
DBO mg L-1 3,6 ± 0,5 < 3,0
DQO mg L-1 14,10 ± 0,6 **
C. Totais N.M.P. em 100 mL 1100 ± 0,2 **
C. Termot. N.M.P. em 100 mL 1100 ± 0,1 200
*Fonte: Resolução CONAMA no396/2008 (BRASIL, 2008). **Não há parâmetros de qualidade
nesta legislação. C.E.= condutividade elétrica. Alc. Bicarb.= Alcalinidade por bicarbonato. OD=
Oxigênio Dissolvido. DBO= Demanda bioquímica de oxgênio. DQO= Demanda Química de
Oxigênio. C. Totais= coliformes totais. C. Termot.= Coliformes termotolerantes.
62
Neste estudo, com base na Resolução do CONAMA no396/2008
(BRASIL, 2008), as águas subterrâneas destinadas ao abastecimento para
consumo humano devem estar isentas de coliformes termotolerantes e para
uso de contato direto não deve exceder a 200 coliformes por 100 mL de
amostra de água, o que não ocorreu para a amostra de água coletada na caixa
d’água, da casa da artesã Rosenir, esta agua é utilizada para consumo
humano e para a confecção das peças artesanais (Tabela 2), sendo impropria
para o consumo e para contato direto com o corpo humano. Os resultados de
oxigênio dissolvido (OD) e demanda bioquímica de oxigenio confirmam esta
contaminação (Tabela 2).
O grupo coliforme é dividido em coliformes totais e termotolerantes
também chamado de fecais e são os indicadores de contaminação mais
usados para monitorar a qualidade sanitária da água (MACÊDO, 2001). No
grupo dos coliformes totais inclui cerca de 20 espécies de bacterias, dentre as
quais se encontram tanto bactérias originárias do trato gastrintestinal de
humanos e outros animais homeotérmicos, como também diversos gêneros e
espécies de bactérias não entéricas (SILVA et al., 2005).
Os coliformes termotolerantes são um grupo de bactérias exclusivo da
contaminação oriundas do trato intestinal humano e têm tido grande atenção da
saúde pública por estar associados a um elevado número de patologias (VON
SPERLING, 1996) como infecções intestinais, os coliformes podem ainda estar
envolvidos ou ter participação em diversas outras patologias, como meningites,
intoxicações alimentares, infecções urinárias e pneumonias, inclusive as
nosocomiais (KONEMAN et al., 2001). Como os resultados de coliformes totais
e coliformes termotolerantes foram iguais, isto indica que a contaminação é
exclusiva de contaminação de origem fecal humana.
As caraterísticas físicas, químicas e microbiológicas da água utilizada
como uma das matérias primas para a confecção da cerâmica Terena da aldeia
Cachoeirinha pode estar interferindo negativamente na qualidade da cerâmica,
por apresentar microorganismos (coliformes fecais) e positivamente pela
salinidade (condutividade elétrica = 171,4 ± 0,4 S cm-1), alcalinidade (128,3 ±
0,02 mg L-1 CaCO3), dureza moderada (64,3 ± 0,05 mg L-1 CaCO3) e baixa
acidez (53,3 ± 0,6 mg L-1 CaCO3), caraterísticas importantes para uma material
cerâmico. MARTINS (2000, p.10-17) aponta em seu trabalho que águas moles
63
(dureza inferior a 50 mg L-1 CaCO3) e moderadamente duras (dureza entre 50 a
150 mg L-1 CaCO3) não provocam defeitos como bolhas no material cerâmico,
assim como na textura e perda de brilho. Pode-se afirmar com estas
informações que a água incorporada à massa para dar maleabilidade,
modelagem e posteriormente realizar o alisamento, acabamentos e finalização
das peças pelas artesãs possui características químicas compatíveis para obter
um material de qualidade.
Segundo GRAZIATO (2008, p. 31), a incorporação da água à massa é
chamada de “modelagem, em que as mãos trabalham diretamente no ‘barro’,
dando forma ao objeto livremente, ou usando a técnica do acordelado, que
consiste em sobrepor roletes que vão sendo agregados uns aos outros,
definindo a forma” e também desempenha um papel importante à medida que
facilita no alisamento, acabamento e finalização da peça.
Para CANAZILLES (2013), a presença de matéria orgânica e de
microorganismos em grande quantidade em amostras de água empregadas na
confecção de cerâmicas Kinikinau facilitam o aparecimento de patologias
futuras no material cerâmico e a temperatura de queima utilizada (300ºC)
utilizada pelos Kinikinau pode não ser suficiente para matar esses
microorganismos. A autora descreve ainda que a água utilizada para compor a
massa cerâmica durante a fase de sova e modelagem é um requisito
importante na confecção da cerâmica, principalmente no processo de
amaciamento da argila para formar a massa, facilitar a modelagem e favorecer
o endurecimento.
Para a boa qualidade das peças, o tempo de amaciamento ou sova deve
ser suficiente para homogeneizar, retirar as bolhas de ar que contribuem para
proliferação de microrganismos e dar consistência adequada à massa
cerâmica; a quantidade de água deve ser moderada para evitar o desequilíbrio
do material e o aparecimento de fissuras pós-queima e a temperatura de
queima deve ser mantida acima de 800 °C para impedir o surgimento de
patologias futuras no artefato cerâmico. Por outro lado, as artesãs devem ser
orientadas quanto ao risco de contaminação das peças pelo uso de água
contaminada por coliformes fecais no processo de amolecimento da argila, a
obtenção da pasta, a modelagem e no acabamento final e assim evitar o
aparecimento de poros nas cerâmicas.
64
Assim, a caracterização física, química e microbiológica das matérias-
primas empregadas na produção da cerâmica é fundamental para a obtenção
de peças com propriedades finais desejadas, que juntamente ao conhecimento
das artesãs e um melhor controle das etapas do processo, podem eliminar ou
reduzir defeitos do produto e colocar a cerâmica Terena em maior evidência
para sua comercialização.
Conclusão
Os Terena tem se empenhado em manter seus valores culturais. Como
artesãos, suas tradições e cultura material fazem parte do patrimônio do estado
de Mato Grosso do Sul.
Exclusivo trabalho das mulheres na aldeia, o ceramismo vem
contribuindo significativamente para a geração de renda e melhora na
qualidade de vida das artesãs Terena, proporcionando melhora na renda
familiar.
Apesar do artesanato indígena ser apontado por alguns autores como
passível de extinção, na aldeia Cachoeirinha a realidade contraria esse modo
de pensar,pois, são encontradas artesãs de várias faixas etárias, que
trabalham ativamente para atender as demandas do mercado consumidor. A
produção da cerâmica Terena não apresenta sinais de declínio nesta região, já
que seus números indicam regularidade no processo produtivo, confirmados
ainda pelo fato de que as artesãs tem lançado mão da compra de tijolos para
fazer o katipe, usado para dar ponto ao “barro” a ser moldado, em substituição
ao material de descarte utilizado tradicionalmente, já que a demanda por peças
novas supera o número de peças quebradas ou manchadas, por exemplo, que
as categorizam como passíveis de serem reidratadas para sua reutilização em
novas peças.
A miniaturização das peças utilitárias, como potes e jarras, por exemplo,
demonstra claramente uma resposta à exigência do mercado consumidor, já
que esta foi uma alternativa encontrada para facilitar o transporte das referidas
peças nas sacolas e malas dos turistas, minimizando a possibilidade de que
estas se quebrem ou sofram algum dano.
Observações criteriosas revelaram neste trabalho que novos padrões
foram inseridos no artesanato Terena, passando a figurar, em algumas peças,
65
a cor preta, decorrente da pintura com o pó da pedra canga, encontrado e
coletado na área da aldeia. Esse achado enriquece consideravelmente os
registros atuais, já que sinaliza o dinamismo existente entre as artesãs, que
buscam novas possibilidades e aumento nas vendas.
A argila empregada para a confecção da cerâmica possui granulometria
adequada, acima de 50% de argila, porém a água que é incorporada à massa e
posteriormente utilizada para modelagem, alisamento e acabamentos
apresentou, em análise realizada neste trabalho, contaminação microbiológica,
o que pode contribuir para o aparecimento de patologias futuras no material
cerâmico, que, se somado à temperatura de queima inferior a 600 ºC, interfere
na resistência das peças.
Desta maneira, projetos norteadores que busquem melhoria no padrão
de qualidade, que viabilizem a expansão de seu mercado e que contribuam
com a melhoria das condições mínimas de existência dessas famílias se fazem
necessários.
O registro atual da produção faz-se importante, para que futuras
gerações conheçam sobre esse patrimônio étnico sul-mato-grossense, suas
características, sua tradição e suas mudanças.
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71
7. Conclusão Geral
Os Terena deram importante contribuição para a formação do sudoeste
brasileiro enquanto produtores de bens de consumo, principalmente de
gêneros agrícola e como força de trabalho nas fazendas devotadas à pecuária,
após a Guerra da Tríplice Aliança. Durante este conflito, foram aliados do Brasil
contra o exército paraguaio.
Atualmente, a produção da cerâmica é mantida na Aldeia Cachoeirinha
exclusivamente pelas mulheres, muitas são jovens e adultas, a maioria
encontra-se na faixa etária de 26 a 50 anos, que tem no comércio de suas
peças uma importante fonte de renda, contribuindo para a melhora na condição
minima de existência digna de suas famílias. A partir do levantamento feito a
campo, foram identificadas 83 artesãs Terena. Atualmente, 45 permanecem em
atividade.
Considerando a grande procura por parte de pesquisadores, que
buscam estudar a população indígena, bem como a consequência do convívio
com outras sociedades, encontra-se certa resistência por parte de algumas
índigenas da Aldeia Cachoeirinha em contribuírem com estes trabalhos, muitas
vezes afirmando não mais manterem as atividades, como ferramenta para
esquivar-se da busca constante dos estudiosos pelo conhecimento que elas
detêm.
As características do processo de produção da cerâmica Terena da
Aldeia Cachoeirinha, foram descritas, discutidas e ordenadas. Para tal, foi
realizada revisão bibliográfica, levantamento de fontes secundárias e
levantamentos a campo, além de observações sistemáticas, registros
fotográficos do processo de produção e entrevistas semiestruturadas com as
artesãs oleiras que ainda permanecem na produção. Foram descritas e
analisadas as matérias-primas: a classificação da argila ocorreu por meio da
composição física, química e granulométrica e a água foi analisada quanto às
características físicas, químicas e microbiológicas; as temperaturas médias em
cada etapa do processo de queima foram registradas com um termômetro
infravermelho digital com mira laser, a uma distância de 2 metros da fogueira
em quatro pontos.
Com a concretização deste estudo, conclui-se que a atividade ceramista
nesta localidade não se encontra em declínio. Ela está voltada principalmente
72
para atender o mercado do turismo, modificando a sua função inicial, que era a
de atender a demanda das próprias famílias nas aldeias, com a produção de
itens de consumo, como potes, panelas e jarros, por exemplo, passando a
produzir peças menores e com bastante ênfase ornamental.
Constataram-se mudanças na cerâmica Terena: além da pigmentação
avermelhada, característica desta etnia, algumas peças passaram a ganhar a
coloração preta, oriunda de um mineral de cor escura e brilhosa, chamado
‘pedra canga’. Para produção da cerâmica, a argila possui granulometria
adequada (>60% de argila). Entretanto, a qualidade da água e a temperatura
de queima verificadas podem interferir na resistência e no tempo de vida do
material cerâmico produzido pelas artesãs, conforme registros de outros
autores.
Projetos norteadores que integrem as atividades artesanais à sociedade
capitalista se fazem necessários, para que busquem melhoria no padrão de
qualidade, que viabilizem a expansão de seu mercado e que contribua com a
melhoria das condições mínimas de existência dessas familias.
Roteiro Semi-estruturado – Entrevista – Artesãs. Nome da entrevistada: Rosenir Batista Idade: 43 Profissão: Artesã Casada e tem 3 filhos Etnia: Terena F - Onde nasceu? R – Aqui mesmo. F - Onde seus pais e familiares nasceram? R – Aqui também. F - Desde quando faz cerâmica? R – Desde 2006, quando voltei de Campo Grande. F - Quem ensinou? Como foi o ensinamento? R – Minha avó, via ela fazendo. F - De onde é retirada a argila para a produção da cerâmica? R – Fica uns 2 kilometros daqui. F - Quem retira? Como é retirado? R – Meu esposo, por causa que meu braço, acho que de tanto fazer dói, ele retira com uma pá. F - Quem busca? Qual a quantidade de barro que traz? Como traz? R – Nós mesmos, uns dez sacos de moto é pesado. F - Retiravam o barro de outro local? R – Não, sempre dali. F - O que é considerado sujeira no barro? R – Eu limpo, tiro pedacinhos de pau, folhas.
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F - Como guarda esse barro? R – No saco plástico para não endurecer. F - Como é o preparo do barro para a sova? R – Se não pegar no ponto da mistura, se tá bom, não tem problema, agente consegue levantar a peça, faz todo o trabalho, mas só que não passa no fogo F - Vocês utilizam água para molhar a argila? Essa água é coletada de onde? R – sim, da caixa d água. F - Como é feita a modelagem? R – Primeiro faz a base e depois com rolinhos, tudo faz assim com rolinhos, vai mudar se mais finos ou mais grossos. F - O barro vermelho dá para fazer peças? Por quê? R – Não ele não segura. F - De onde é retirado o barro vermelho? R – Lá do buraco do barro vermelho. F - Como é o preparo da tinta vermelha? R – Mistura com um pouco de água. F - Como sabe que a peça está pronta para ser polida? R – Quando está firme. F - O que usa para polir as peças? Por quê? R – Pedrinhas, porque é melhor para alisar. F - Usava outro instrumento? Por que não usa mais? R – Não. F - Quanto tempo dura o polimento? R – É duas horas, antes de passar o barro vermelho. Agente começa trabalhando essa pedra, polindo ela, pra ficar bem lisinha, pra poder continuar alisar ela. F - Quais os materiais utilizados para a pintura? R – Um pauzinho e o barro branco. F - Esse barro tem outra utilização além da pintura? Por quê? R – Não só pintura, não dá certo. F - O que você utiliza como pincel? Por quê? R – Pauzinho porque já acostumei. F - Como são feitos os desenhos? Quem ensinou? R – Com a peça já polida, minha avó. F - Como são queimadas as peças? R – No buraco, ali no canto. F - Quantas peças são queimadas por vez? R – As peças quando é grande, os tamanhos das minhas panelas vai cinco peças e os potes vai só um só, agora das pequenas vai bastante. F - Qual madeira usa para a queima? Por quê? R – Carvão branco, porque é boa, não dá muita fumaça. F - Tem alguma que não usa mais? Por quê? R – Tem umas que minha avó usava, mas não sei o nome. F - De onde é retirada a madeira? R – Aqui no mato. F - Quem queima? Quanto tempo dura a queima? R – Só eu, se tiver muitas peças leva o dia inteiro. F - Quanto tempo se leva para fazer um vaso grande? Quantos dias? R – Uma semana. F - Tem alguma época especial para fazer a cerâmica? Colher o barro, a lenha? R – Tem que esperar a lua nova. F - Tem algum cuidado especial para fazer a cerâmica? R – Não pode estar com a mão suja. F - Por que nem todas fazem cerâmicas?
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R - Dá trabalho, por isso que acho que muita mulherada já desitiu de fazer, tem que ter coragem F - Quais peças você produz? R – Minha peça é panela e travessa de peixe e as moringas. F- Por que produz essas peças? R – Porque eu gosto e sempre tem gente procurando minhas peças. F – Teve algum período que deixou de fazer cerâmica? Se sim, por quê? R – Desde que voltei de Campo Grande, não parei de fazer. F - Morou fora da aldeia em algum momento? R – Sim, em Campo Grande. F - Quem faz cerâmica na sua família? R – Eu, minha filha Rosilene, Zenilda e minha nora Ana Alice. F - Somente as mulheres fazem? Fazem todas juntas? Somente a família? R – Sim, fazemos todas juntas. F - Os homens fazem cerâmicas? Por quê? Qual a ajuda deles? R – Não, acho que eles não gostam, ajuda a buscar o barro. F - Qual a ocupação deles na aldeia? R – Quem tem terra faz roça. F - Vocês utilizam essa cerâmica ou artesanato no dia a dia ou é apenas para venda? R – Não. F - Vocês utilizam o artesanato em rituais, festas? Quais artesanatos e como? R – Não. F - Qual a frequência da produção? Faz todo dia? Por quê? R – Todo dia, sempre tem que ter peças. F - Qual a quantidade de peça que produz por mês? R – Umas cem peças F - Ensina para alguém como fazer as peças? R – Essa minha netinha que eu cuido está aprendendo. F - Onde você vende as peças? R – Vem gente aqui comprar, levo no centro referencial e também para Campo Grande. F - Como vocês colocam preços nas peças? R – Pelo tamanho. F - Quem organiza as vendas? Vocês têm alguma associação para negociar? R – Eu mesma, não. F - Quem embala as peças para vender? Quebram muitas peças? R – Eu, não é só arrumar direitinho. Nome da entrevistada: Rosilene Arruda Idade: 21 anos Profissão: Artesã Casada e tem 1 filho. Etnia: Terena F - Onde nasceu? R – Aqui mesmo. F - Onde seus pais e familiares nasceram? R – Aqui também. F - Desde quando faz cerâmica? R – Tem uns cinco anos. F - Quem ensinou? Como foi o ensinamento? R – Minha mãe eu via ela e fui fazendo. F - De onde é retirada a argila para a produção da cerâmica?
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R – Aqui mesmo. F - Quem retira? Como é retirado? R – Minha mãe e minha irmã, com uma pá mesmo. F - Quem busca? Qual a quantidade de barro que traz? Como traz? R – Elas, traz um monte de moto. F - Retiravam o barro de outro local? R – Não, sempre dali. F - O que é considerado sujeira no barro? R – Folha, galho. F - Como guarda esse barro? R – No saco plástico pra não endurecer. F - Como é o preparo do barro para a sova? R – Misturado com o Katipe, água e amassa bastante. F - Vocês utilizam água para molhar a argila? Essa água é coletada de onde? R – sim, da caixa d` água. F - Como é feita a modelagem? R – Começa com a base daí vai fazendo rolinhos até formar a peça. F - O barro vermelho dá para fazer peças? Por quê? R – Não, é só para dar cor. F - De onde é retirado o barro vermelho? R – Do buraco do barro vermelho. F - Como é o preparo da tinta vermelha? R - Mistura com um pouco de água. F - Como sabe que a peça está pronta para ser polida? R – Quando já está firme. F - O que usa para polir as peças? Por quê? R – Uma pedrinha, é melhor. F - Usava outro instrumento? Por que não usa mais? R – Não. F - Quanto tempo dura o polimento? R– Depende do tamanho da peça. F- Quais os materiais utilizados para a pintura? R – O barro branco dissolvido com um pouco de água e um pauzinho. F - Esse barro tem outra utilização além da pintura? Por quê? R – Não, quando molha fica muito mole. F - O que você utiliza como pincel? Por quê? R – Pauzinho porque é melhor. F - Como são feitos os desenhos? Quem ensinou? R – Depois de polir a peça, minha mãe. F - Como são queimadas as peças? R – Ali no buraco. F - Quantas peças são queimadas por vez? R – Depende do tamanho, vaso grande um só e das pequenas umas vinte . F - Qual madeira usa para a queima? R – Minha mãe usa, carvão branco e graveto. F - Tem alguma que não usa mais? Por quê? R - Não sei. F - De onde é retirada a madeira? R – Aqui mesmo, na mata. F - Quem queima? Quanto tempo dura a queima? R – Só minha mãe, depende quando tem muitas peças leva o dia inteiro. F - Quanto tempo se leva para fazer um vaso grande? R – Uma semana. F - Tem alguma época especial para fazer a cerâmica? Colher o barro, a lenha?
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R– Para buscar o barro tem que esperar a lua crescente. F - Tem algum cuidado especial para fazer a cerâmica? R - T em que estar com a mão limpa. F - Por que nem todas fazem cerâmica? R- Acho que porque dá muito trabalho. F - Quais peças você produz? R – Vasinhos, indias, corujas, cobras, periquitos. F – Por que produz essas peças? R – Porque eu gosto e também para vender. F - Teve algum período que deixou de fazer a cerâmica? Se sim, Por quê? R- Não. F - Morou fora da aldeia em algum momento? R – Morei com minha mãe em Campo Grande. F - Quem faz cerâmica na sua família? R – Eu, minha mãe, minha irmã e minha cunhada. F - Somente as mulheres fazem? Fazem todas juntas? Somente a família? R – Nos reunimos e fazemos todas juntas. F - Os homens fazem cerâmica? Por quê ? Qual a ajuda deles? R – Não, eles ajudam a carregar o barro e a lenha. F – Qual a ocupação deles na aldeia? R – Alguns trabalham na roça, outros saem da aldeia para trabalhar. F - Vocês utilizam essa cerâmica ou artesanato no dia a dia ou é apenas para venda? R – Não, só para vender. F - Vocês utilizam o artesanato em rituais, festas? R – Não. F - Qual a frequência da produção? R – Todo dia, tem muita procura. F - Qual a quantidade de peça que produz por mês? R – Umas cinquenta peças. F - Ensina para alguém como fazer as peças? R – Não. F - Onde você vende as peças? R – Vem gente comprar aqui, deixamos no centro referencial e também Campo Grande. F -- Como vocês colocam preços nas peças? R – Pelo tamanho. F - Quem organiza as vendas? Vocês têm alguma associação para negociar? R – Eu e minha mãe, não. F - Quem embala as peças para vender? Quebram muitas peças? R - Eu e minha mãe, não. Nome da entrevistada: Zenilda Batista Idade: 30 anos Profissão: Artesã Casada e tem 5 filhos. Etnia: Terena F - Onde nasceu? Z – Aqui mesmo. F - Onde seus pais e familiares nasceram? Z– Aqui também. F - Desde quando faz cerâmica? Z– Tem uns cinco anos. F - Quem ensinou? Como foi o ensinamento?
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Z – Minha mãe, e também via minha avó fazendo. F - De onde é retirada a argila para a produção da cerâmica? Z – Lá de baixo. F - Quem retira? Como é retirado? Z – Junto com minha mãe, com uma pá. F - Quem busca? Qual a quantidade de barro que traz? Como traz? Z – Nós mesmas, uns dez sacos, de moto. F - Retiravam o barro de outro local? Z – Não, só dali. F - O que é considerado sujeira no barro? Z – Areia, folha, galho. F - Como guarda esse barro? Z – No saco plástico. F - Como é o preparo do barro para a sova? Z – Mistura com um pouco de água, com o katipe e amassa bem. F - Vocês utilizam água para molhar a argila? Essa água é coletada de onde? Z – sim, daqui da caixa d` água. F - Como é feita a modelagem? Z – Vai fazendo uns rolinhos e juntando até virar a peça. F - O barro vermelho dá para fazer peças? Por quê? Z – Não, porque não dá liga, é só para dar cor. F - De onde é retirado o barro vermelho? Z – Lá do buraco do barro vermelho. F - Como é o preparo da tinta vermelha? Z – É misturado com um pouco de água. F - Como sabe que a peça está pronta para ser polida? Z – Minha mãe que fala quando já está boa. F - O que usa para polir as peças? Por quê? Z – Uma pedrinha, sempre fiz assim. F - Usava outro instrumento? Por que não usa mais? Z – Não. F - Quanto tempo dura o polimento? Z– Depende do tamanho da peça. F- Quais os materiais utilizados para a pintura? Z – Usamos o barro branco misturado com água. F - Esse barro tem outra utilização além da pintura? Por quê? Z – Não, não dá é só para pintar. F - O que você utiliza como pincel? Por quê? Z – Um pauzinho, porque sim. F - Como são feitos os desenhos? Quem ensinou? Z – Na peça seca com um pauzinho, minha mãe. F - Como são queimadas as peças? Z – No buraco, ali nos fundos. F - Quantas peças são queimadas por vez? Z – Das pequenas umas vinte. F - Qual madeira usa para a queima? Z – As mesmas que minha usa, carvão branco e graveto. F - Tem alguma que não usa mais? Por quê? Z - Não. F - De onde é retirada a madeira? Z – Buscamos na mata. F - Quem queima? Quanto tempo dura a queima? Z – Só minha mãe, se tiver muitas peças fica o dia inteiro só queimando. F - Quanto tempo se leva para fazer um vaso grande? Z – Uma semana.
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F - Tem alguma época especial para fazer a cerâmica? Colher o barro, a enha? Z– Tem que esperar a lua crescente pra buscar o barro. F - Tem algum cuidado especial para fazer a cerâmica? Z - Não pode estar com a mão suja de sal. F - Por que nem todas fazem cerâmica? Z- Porque elas tem preguiça, risos. Porque quando não querem fazer, dizem eu não faço. F - Quais peças você produz? Z – Vasos grandes, bichinhos. F – Por que produz essas peças? Z – Para vender. F - Teve algum período que deixou de fazer a cerâmica? Se sim, Por quê? Z - Não, sempre fiz. F - Morou fora da aldeia em algum momento? Z – Morei com minha mãe em Campo Grande por um tempo. F - Quem faz cerâmica na sua família? Z – Eu, minha mãe, minha irmã e minha cunhada. F - Somente as mulheres fazem? Fazem todas juntas? Somente a família? Z – Sim, nos reunimos e fazemos todas juntas. F - Os homens fazem cerâmica? Por quê ? Qual a ajuda deles? Z – Não, eles não querem. Ajudam a carregar o barro e a lenha. F – Qual a ocupação deles na aldeia? Z – Alguns mexem com roça. F - Vocês utilizam essa cerâmica ou artesanato no dia a dia ou é apenas para venda? Z – Não, é só para vender. F - Vocês utilizam o artesanato em rituais, festas? Z – Não. F - Qual a frequência da produção? Z – Todo dia nós mexemos com o barro. F - Qual a quantidade de peça que produz por mês? Z – Umas cinquenta peças. F - Ensina para alguém como fazer as peças? Z – Não. F - Onde você vende as peças? Z – No centro referencial. F -- Como vocês colocam preços nas peças? Z – Pelo tamanho. F - Quem organiza as vendas? Vocês têm alguma associação para negociar? Z – Eu, não. F - Quem embala as peças para vender? Quebram muitas peças? Z - Eu mesma, não porque levo aqui perto. Nome da entrevistada: Ana Alice Correia Arruda Idade: 31 anos Profissão: Artesã Casada e tem 6 filhos: Etnia: Terena F - Onde nasceu? A - Aldeia Lalima. F - Onde seus pais e familiares nasceram? A – Ela é de Lalima. E meu pai é daqui, da Cachoeirinha. F - Desde quando faz cerâmica?
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A - Tem cinco anos. F - Quem ensinou? Como foi o ensinamento? A – Eu aprendi com minha sogra. Eu sempre acompanhava ela, ajudava assim, ai só que não sabia o ponto, misturava e eu dava para ela, ai ela começou falar pra mim como era o ponto. F - De onde é retirada a argila para a produção da cerâmica? A - Daqui mesmo, fica uns dois quilometros. F - Quem retira? Como é retirado? A – Nós mesmas, com uma pá. F - Quem busca? Qual a quantidade de barro que traz? Como traz? A - Nós busca junto ( referindo-se a sogra Rosenir), eu, ela, minha cunhada, meu sogro, as vezes vai meu marido. F - Retiravam o barro de outro local? A – Não, sempre dali mesmo. F - O que é considerado sujeira no barro? A - As folhas, galhos. F - Como guarda esse barro? A – No plástico, não pode tomar vento senão seca. F - Como é o preparo do barro para a sova? A – Mistura com água, telha ou tijolo. F - Vocês utilizam água para molhar a argila? Essa água é coletada de onde? A – Sim, da caixa d’água daqui. F - Como é feita a modelagem? A – Com rolinhos. F - O barro vermelho dá para fazer peças? Por quê? A - Não, só para pintar. F - De onde é retirado o barro vermelho? A – Do buraco do barro vermelho. F - Como é o preparo da tinta vermelha? A – o barro é misturado com água. F - Como sabe que a peça está pronta para ser polida? A – Ela tem que estar firme, mas não seca. F - O que usa para polir as peças? Por quê? Onde busca? A – Com uma pedrinha molhada. F - Usava outro instrumento? A – Não. F - Quanto tempo dura o polimento? A – Demora mais ou menos uma hora, para dar brilho na peça. F - Quais os materiais utilizados para a pintura? A - Pincéis de pauzinho e o barro branco misturado com água. F - Esse barro tem outra utilização além da pintura? Por quê? A – Não, não dá liga. F - O que você utiliza como pincel? Por quê? A – Um pauzinho, é mais fácil. F - Como são feitos os desenhos? Quem ensinou? A – Pinto, faço florzinha. Vendo elas também fazendo. F - Como são queimadas as peças? A – As peças são queimadas tudo junto com da minha sogra e das minhas cunhadas. F - Quantas peças são queimadas por vez? A - Das grandes umas cinco e das pequenas umas vinte. F - Qual madeira usa para a queima? Por quê? A – Minha sogra que queima, usa carvão branco. F – Tem alguma que não usa mais? Por quê? A – Isso não sei.
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F - De onde é retirada a madeira? Como? A – Daqui mesmo do mato, vamos tudo junto. F - Quem queima? Quanto tempo dura a queima? A – Minha sogra, depende da quantidade de peças que tiver, o dia todo. F – Quanto tempo se leva para fazer um vaso grande? Quantos dias? A – Demora uma semana. F - Tem alguma época especial para fazer a cerâmica? Colher o barro, a lenha? A – Tem que esperar a lua nova. F - Tem algum cuidado especial para fazer a cerâmica? A -Tem que estar com as mãos limpas. F - Por que nem todas fazem cerâmica? A – Não sei, porque isso aqui tem que ter muita paciência com ele, muita paciência. F - Quais peças você produz? A – Moringa, bichinhos, jarras. F – Por que produz essas peças? A – Para vender. F – Teve algum período que deixou de fazer cerâmica? Se sim, por quê? A – Não. F - Quem faz cerâmica na sua família? A – Ninguém. F – Somente as mulheres fazem? Fazem todas juntas? Somente a familia? A – Quando faço, venho aqui na casa da minha sogra. F – Os homens fazem cerâmicas? Por quê? Qual a ajuda deles? A – Não, acho que não gostam, ajudam a carregar o barro e a lenha. F – Qual a ocupação deles na aldeia? A – Trabalham na roça ou nas fazendas. F - Vocês utilizam essa cerâmica ou artesanato no dia a dia ou é apenas para venda? A – Não, é só para venda. F - Vocês utilizam o artesanato em rituais, festas? A – Não. F - Qual a frequência da produção? Faz todo dia? Por quê? A - Quando tenho tempo, porque é dificil ter tempo. F - Qual a quantidade de peça que produz por mês? A - Dez peças das pequenas, quando é grande cinco no máximo. F – Ensina para alguém como fazer as peças? A – Não. F - Onde você vende as peças? A - Deixo lá no centro cultural e aqui junto da minha sogra. F - Como vocês colocam preços nas peças? A - Pelo tamanho. F – Quem organiza as vendas? Vocês têm alguma associação para negociar? A – Não. F - Quem embala as peças para vender? Quebram muitas peças? A – Eu mesma, não. Nome da entrevistada: Rosana Canale Idade: 37 anos Profissão: Artesã Casada e tem 3 filhos: Etnia: Terena
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F - Onde nasceu? R – Aqui mesmo. F - Onde seus pais e familiares nasceram? R – Aqui também. F - Desde quando faz cerâmica? R – Puxa, mais de trinta anos. F - Quem ensinou? Como foi o ensinamento? R – Minha mãe passou pra mim, daí faço até hoje. F - De onde é retirada a argila para a produção da cerâmica? R – Daqui mesmo, aqui perto. F - Quem retira? Como é retirado? R – Eu mesma, com uma pá. F - Quem busca? Qual a quantidade de barro que traz? Como traz? R – Nós mesmas, uns três saco no carrinho de mão. F - Retiravam o barro de outro local? R – Não sempre dali mesmo. F - O que é considerado sujeira no barro? R – Galhos, folhas. F - Como guarda esse barro? R – Na lata. F - Como é o preparo do barro para a sova? R – Mistura com água. F - Vocês utilizam água para molhar a argila? Essa água é coletada de onde? R – Sim, da torneira. F - Como é feita a modelagem? Espirais sobrepostos? R – Depois de amassar bem, faz rolinhos. F - O barro vermelho dá para fazer peças? Por quê? R – Não,por que não dá o ponto. F - De onde é retirado o barro vermelho? R – Daqui mesmo. F - Como é o preparo da tinta vermelha? R – Mistura o barro com água. F - Como sabe que a peça está pronta para ser polida? R – Quando já está firme. F - O que usa para polir as peças? Por quê? R - Pedrinha, é melhor. F - Usava outro instrumento? Por que não usa mais? R – Não, minha mãe usava, semente de jatobá ela falou para mim. F – Quanto tempo dura o polimento? R – É demorado. F - Quais os materiais utilizados para a pintura? R – Barro branco misturado com água. F - Esse barro tem outra utilização além da pintura? Por quê? R – Não, não dá para fazer peças. F - O que você utiliza como pincel? Por quê? R – Um pauzinho, é melhor. F - Como são feitos os desenhos? Quem ensinou? R – Com os pauzinhos na peça polida, minha mãe. F - Como são queimadas as peças? R – Eu queimo lá nos fundos, num buraco. F – Quantas peças são queimas por vez? R – Depende do tamanho, as grandes umas cinco as pequenas umas vinte. F – Qual madeira usa para a queima? Por quê? R – Peito de pombo, gravetos, porque é boa. F - De onde é retirada a madeira?
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R – Daqui mesmo, na mata. F - Quem queima? Quanto tempo dura a queima? R – Eu mesma, a tarde toda. F - Quanto tempo se leva para fazer um vaso grande? Quantos dias? R – Uma semana. F - Tem alguma época especial para fazer a cerâmica? Colher o barro, a lenha? R – Isso aí, só minha mãe que sabe, quando ela chama nós vamos. F - Tem algum cuidado especial para fazer a cerâmica? R – Tem que estar com a mão limpar, sem farinha, sem pão. F - Por que nem todas fazem cerâmica? R – Por que a maioria, quer deixar de fazer a cultura, tem pessoa que tem vergonha, também e também essa cerâmica é muito trabalho. F - Quais peças você produz? R – Vasos, fruteiras, panelas, chaleiras, travessa, variado. F - Por que produz essas peças? R – Porque gostei muito de fazer cerâmica. F – Teve algum período que deixou de fazer a cerâmica? Se sim, por quê? R – Não. F – Morou fora da aldeia em algum momento? R – Não. F - Quem faz cerâmica na sua família? R – Minha mãe, minha irmã Matilde e eu. F - Somente as mulheres fazem? Fazem todas juntas? Somente a família? R – Cada um faz o seu. F – Os homens fazem cerâmica? Por quê? Qual a ajuda deles? R – Não, não sei, as vezes ajudam a carregar a lenha. F - Qual a ocupação deles na aldeia? R – Quem tem roça, trabalha na roça, quem não tem, sai para fora da aldeia para trabalhar. F - Vocês utilizam essa cerâmica ou artesanato no dia a dia ou é apenas para venda? R – Usa também, mas faz para vender, tem diferença na produção, para enfeite tem que caprichar mais, para uso não precisa tanto. F - Vocês utilizam o artesanato em rituais, festas? R – Não. F - Qual a frequência da produção? Faz todo dia? Por quê? R – Durante a semana. F - Qual a quantidade de peça que produz por mês? R – Quarenta, cinquenta peças por mês. F - Ensina para alguém como fazer as peças? R – Só minha cunhada. F - Onde você vende as peças? R – É a nossa dificuldade é isso aí, né? Por que a cerâmica, por que tem que sair, qualquer lugar, Bonito, Nioaque, Campo Grande, Aquidauana. F - Como vocês colocam preços nas peças? Pelo tamanho? Pelos grafismos? R – Por tamanho, depende do tamanho. F - Quem organiza as vendas? Vocês têm alguma associação para negociar? R – Eu mesma, não tem não. F - Quem embala as peças para vender? Quebram muitas peças? R – Eu mesma, depende se arrumar direito. Nome da entrevistada: Candida da Silva Idade: 64 anos
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Profissão: Artesã Casada e tem 14 filhos: Etnia: Terena F - Onde nasceu? C – Aqui. F - Onde seus pais e familiares nasceram? C – Também aqui. F - Desde quando faz cerâmica? C - Desde quando tinha dez anos. F - Quem ensinou? Como foi o ensinamento? C – Via o pessoal fazer, minha tia, minha mãe, daí comecei a fazer. F - De onde é retirada a argila para a produção da cerâmica? C – Daqui ó, apontando para o fundo do quintal. F - Quem retira? Como é retirado? C - Eu mesma, com uma pá. F – Quem busca? Qual a quantidade de barro que traz? Como traz? C – Eu e minhas filhas, uns cinco sacos, no carrinho de mão. F - Retiravam o barro de outro local? C – Não. F – O que considera sujeira no barro? C – É resto de folhas, galhos. F – Como guarda o barro? C – No saco plástico. F – Como é o preparo do barro para a sova? C – Mistura com um pouco de água e o katipe. F - Vocês utilizam água para molhar a argila? Essa água é coletada de onde? C – Sim, da torneira. F – Como é feita a modelagem? C – Com rolinhos. F – O barro vermelho dá para fazer peças? Por quê? C – Não, não dá liga. F – De onde é retirado o barro vermelho? C – Do buraco do barro vermelho. F – Como é o preparo da tinta vermelha? C – Mistura com um pouco de água. F – Como sabe que a peça está pronta para ser polida? C – Quando já está seca. F - O que usa para polir as peças? Por quê? C – Pedrinha, é melhor F - Usava outro instrumento? Por que não usa mais? C – Não. F – Quanto tempo dura o polimento? C – É demorado, tem que ficar bem lisinho. F – Quais os materias utilizados para a pintura? C – O barro branco molhado com água. F – Esse barro tem outra utilização além da pintura? Por quê? C – Não, é muito aguado. F – O que você utiliza como pincel? Por quê? C – Um pauzinho, é mais fácil. F – Como são feitos os desenhos? Quem ensinou. C – Com um pauzinho, minha mãe. F – Como são queimadas as peças? C – Ali nos fundos. F – Quantas peças são queimadas por vez?
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C – Depende das grandes umas cinco das pequenas cabe bastante. F – Qual madeira usa para a queima? Por quê? C – Peito de pombo, gravetos. Porque não dá muita fumaça. F – Tem alguma que não usa mais? Por quê? C – Tem, porque não acho mais. F – de onde é retirada a madeira? Como? C – Lá da mata, traz de trator. F – Quem queima? Quanto tempo dura a queima? C – Eu mesma. Se tiver bastante peça o dia inteiro. F - Quanto tempo se leva para fazer um vaso grande ? Quantos dias? C – Uma semana. F - Tem alguma época especial para fazer a cerâmica? Colher o barro, a lenha? C – Colhe na lua cheia. F – Tem algum cuidado especial para fazer a cerâmica? C – não pode ter sal na mão. F - Quais peças você produz? C – Panelas, pratos, chaleiras, travessas, fruteira. F - Por que produz essas peças? C – Para vender. F – Teve algum período que deixou de fazer a cerâmica? Se sim, por quê? C – Não, sempre fiz. F – Morou fora da aldeia em algum momento? C – Não. F - Quem faz cerâmica na sua família? C – Minha filha Rosana, Daiane e minha nora . F – Somente as mulheres fazem? Fazem todas juntas? Somente a família? C – Faço com minhas filhas e nora. F – Os homens fazem cerâmica? Por quê? Qual a ajuda deles? C – Não, não gostam, ajudam a carregar o barro. F - Qual a ocupação deles na aldeia? C – Trabalham na roça e também fora da aldeia. F - Vocês utilizam essa cerâmica ou artesanato no dia a dia ou é apenas para venda? C – Usa, mas também para venda. F - Vocês utilizam o artesanato em rituais, festas? C – Não. F - Qual a frequência da produção? Faz todo dia? Por quê? C – Fazemos todo dia. C – Uma vez por semana, até terminar. F - Qual a quantidade de peça que produz por mês? C – Quarenta peças . F – Ensina para alguém como fazer as peças? C – Minhas filhas e nora. F - Onde você vende as peças? C - Campo Grande ou aqui mesmo em Miranda. F - Como vocês colocam preços nas peças? C – Pelo tamanho. F - Quem organiza as vendas? Vocês têm alguma associação para negociar? C – Eu mesma, não. F - Quem embala as peças para vender? Quebram muitas peças? C – Eu mesma, as vezes, por causa da estrada.
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Nome da entrevistada: Antonia Pedro Idade: 46 anos Profissão: Ceramista Casada e tem 4 filhos. Etnia: Terena F - Onde nasceu? A – Nasci aqui (referindo-se a aldeia Cachoeirinha). F - Onde seus pais e familiares nasceram? A – Nasceram aqui também. F - Desde quando faz cerâmica? A – Desde quando tinha uns dez anos. F - Quem ensinou? Como foi o ensinamento? A – Comecei ajudar minha mãe, ela e minha irmã mais velha trabalhava os dois juntas. F - De onde é retirada a argila para a produção da cerâmica? A - De lá, no mato, lá em baixo. F - Quem retira? Como é retirado? A – Nós mesmas, no máximo de quatro pessoas. Tem que tirar tudo folha, areia e tira com a pá. F - Quem busca? Qual a quantidade de barro que traz? Como traz? A – No máximo de quatro pessoas, cada um traz um saco na cabeça. F - Retiravam o barro de outro local? A - Não, sempre retiramos desse local. F - O que é considerado sujeira no barro? A – Pedaços de galhos e folhas. F – Como guarda o barro? A – Em saco plástico. F – Como é o preparo do barro para a sova? A – Pega o barro mistura com katipe e um pouco de água e amassa. F - Vocês utilizam água para molhar a argila? Essa água é coletada de onde? A – Sim, é encanada. F – Como é feita a modelagem? A – Começa com rolinhos até formar a peça. F – O barro vermelho dá para fazer peças? Por quê? A – Não, não dá certo. F – De onde é retirado o barro vermelho? A – Do buraco do barro vermelho. F – Como é o preparo da tinta vermelha? A – Um pouco do barro misturado com água. F – Como sabe que a peça está pronta para ser polida? A – Quando já está firme. F - O que usa para polir as peças? Por quê? A – Uma pedra, é mais fácil. F - Usava outro instrumento? Por que não usa mais? A – Não, sempre esse. F – Quanto tempo dura o polimento? A – Depende do tamanho da peça, é demorado e cansa o braço. F – Quais os materias utilizados para a pintura? A – Barro branco misturado com água e um pauzinho. F – Esse barro tem outra utilização além da pintura? Por quê? A – Não, é muito ralinho. F – O que você utiliza como pincel? Por quê? A – Pauzinho, é melhor. F – Como são feitos os desenhos? Quem ensinou.
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A – Com a peça seca, desenho com um pauzinho, minha mãe. F – Como são queimadas as peças? A – Em um buraco lá nos fundos. F – Quantas peças são queimadas por vez? A – Das grandes umas cinco das pequenas umas vinte. F – Qual madeira usa para a queima? Por quê? A – Peito de pombo, gravetos, porque é boa. F – Tem alguma que não usa mais? Por quê? A – Não. F – de onde é retirada a madeira? Como? A – Aqui mesma da mata. F – Quem queima? Quanto tempo dura a queima? A – Eu mesma, quando tem bastante peça queimo o dia todo. F - Quanto tempo se leva para fazer um vaso grande ? Quantos dias? A – Demora uma semana. F - Tem alguma época especial para fazer a cerâmica? Colher o barro, a lenha? A – não, qualquer dia, qualquer hora. F – Tem algum cuidado especial para fazer a cerâmica? A – Tem que estar com a mão limpa. F - Por que nem todas fazem cerâmica? A – Eles não quê, acham dificil . F - Quais peças você produz? A – Eu faço miudinhos, eu faço tartaruguinhas, eu faço potinhos, jarrinhas eu faço peixinhos. F - Por que produz essas peças? A – Por que eu gosto e também pra vender. F – Teve algum período que deixou de fazer a cerâmica? Se sim, por quê? A – Não. F – Morou fora da aldeia em algum momento? A – Não. F - Quem faz cerâmica na sua família? A – Eu, minha mãe e minha irmã que mora lá no Morrinho. F – Somente as mulheres fazem? Fazem todas juntas? Somente a família? A – Faço com minha mãe. F – Os homens fazem cerâmica? Por quê? Qual a ajuda deles? A – Não, acho que eles não gostam, as vezes ajudam a carregar o barro. F - Qual a ocupação deles na aldeia? A – Trabalham na roça e tem uns que saem para fora da aldeia para trabalhar. F - Vocês utilizam essa cerâmica ou artesanato no dia a dia ou é apenas para venda? A – Não , só para venda. F - Vocês utilizam o artesanato em rituais, festas? A – Não. F - Qual a frequência da produção? Faz todo dia? Por quê? A - Uma vez por semana, porque agente tem que alisar, por no sol até ficar pronto. F - Qual a quantidade de peça que produz por mês? A - O meu aqueles miudinhos faço no máximo 20. F - Ensina para alguém como fazer as peças? A - Não, eles não querem, acham dificil passar pedra em cima, alisar. F - Onde você vende as peças? A - No centro de referencia em Miranda. F - Como vocês colocam preços nas peças? A - Eles que sabem lá.
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F - Quem organiza as vendas? Vocês têm alguma associação para negociar? A – Eu mesma, não. F - Quem embala as peças para vender? Quebram muitas peças? A - Eu mesma, não. Nome da entrevistada: Arlene Julio Idade: 45 anos Profissão: Artesã Casada e tem 7 filhos: Etnia: Terena F - Onde nasceu? A – Aqui mesmo. F - Onde seus pais e familiares nasceram? A – Aqui também. F - Desde quando faz cerâmica? A – Desde os dez anos. F - Quem ensinou? Como foi o ensinamento? A – Minha avó, me ensinou, né. F - De onde é retirada a argila para a produção da cerâmica? A – Perto da Babaçu. F - Quem retira? Como retira? A – Nós mesmas, a mulherada, minhas filhas, com uma pá. F - Quem busca? Qual a quantidade de barro que traz? Como traz? A – Nós mesmas, cada uma traz uma lata, traz na cabeça. F - Retiravam o barro de outro local? A – Não, só dali mesmo. F - O que é considerado sujeira no barro? A – Folha, galho. F - Como guarda esse barro? A – Longe da cozinha, na lata. F - Como é o preparo do barro para a sova? A – Com um pouco de água. F - Vocês utilizam água para molhar a argila? Essa água é coletada de onde? A – sim, é encanada. F - Como é feita a modelagem? A – Com rolinhos. F - O barro vermelho dá para fazer peças? Por quê? A – Não dá liga. F - De onde é retirado o barro vermelho? A – Do buraco do barro vermelho. F - Como é o preparo da tinta vermelha? A – Mistura com um pouco de água. F - Como sabe que a peça está pronta para ser polida? A – Quanto já está seca. F - O que usa para polir as peças? Por quê? A – Uma pedra, é melhor . F - Usava outro instrumento? Por que não usa mais? A – Não. F - Quanto tempo dura o polimento? A – Depende do tamanho da peça. F – Quais os materias utilizados para a pintura? A – O barro branco e um pauzinho. F – Esse barro tem outra utilização além da pintura? Por quê?
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A – Não, só serve para pintar. F – O que você utiliza como pincel? Por quê? A – Pauzinho, é mais fácil. F – Como são feitos os desenhos? Quem ensinou. A – Com um pauzinho, minha mãe. F - Como são queimadas as peças? A – No buraco, ali nos fundos. F - Quantas peças são queimadas por vez? A – Das peças pequenas até cinquenta. F - Qual madeira usa para a queima? A – Eu uso, aquele peito de pomba, graveto. F - Tem alguma que não usa mais? Por quê? A - Tem, só que não lembro o nome. F - De onde é retirada a madeira? A – Daqui mesmo, na mata. F - Quem queima? Quanto tempo dura a queima? A – Eu mesma, depende da quantidade de peça. F - Quanto tempo se leva para fazer um vaso grande? A – Uma semana pra fazer tudo. F - Tem alguma época especial para fazer a cerâmica? Colher o barro, a lenha? A – Tem que esperar a lua crescente. F - Tem algum cuidado especial para fazer a cerâmica? A - Tem que estar com a mão limpa, não pode ficar na cozinha, quando a gente mexe. F - Por que nem todas fazem cerâmica? A- Acho que porque é muito trabalho. F - Quais peças você produz? A – Canecas, panelas, jarras, bichinhos. F – Por que você produz essas peças? A – Para vender. F -Teve algum período que deixou de fazer a cerâmica? Se sim, Por quê? A – Não, sempre fiz. F - Morou fora da aldeia em algum momento? A – Sempre morei aqui. F - Quem faz cerâmica na sua família? A – Eu e minhas filhas, Aline, Alenir, Darlene e Raqueline. F - Somente as mulheres fazem? Fazem todas juntas? Somente a família? A – Sim, só as mulheres. F - Os homens fazem cerâmica? Por quê ? Qual a ajuda deles? A – Não, as vezes ajuda a buscar o barro e cortar a lenha. F – Qual a ocupação deles na aldeia? A – Trabalham na roça. F - Vocês utilizam essa cerâmica ou artesanato no dia a dia ou é apenas para venda? A – Não. F - Vocês utilizam o artesanato em rituais, festas? A – Não. F - Qual a frequência da produção? A – Todo dia. F - Qual a quantidade de peça que produz por mês? A – Mais de cinquenta peças. F - Ensina para alguém como fazer as peças? A – Minhas filhas. F - Onde você vende as peças?
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A – As vezes eu levo lá no artesão,em Campo Grande, no centro cultural. F - Como vocês colocam preços nas peças? A – Pelo tamanho. F - Quem organiza as vendas? Vocês têm alguma associação para negociar? A – Eu mesma, não. F - Quem embala as peças para vender? Quebram muitas peças? A - Eu mesma, não. Nome da entrevistada: Maria Rita Muchacho Idade: 43 anos Profissão: Artesã Casada. Etnia: Terena F - Onde nasceu? M – Aqui mesmo. F - Onde seus pais e familiares nasceram? M – Aqui também. F -Desde quando faz cerâmica? M – Desde pequena, nem lembro. F - Quem ensinou? Como foi o ensinamento? M – Minha avó, eu ficava olhando assim, né. F -De onde é retirada a argila para a produção da cerâmica? M - Ali, perto da Argola, bem aqui perto. F - Quem retira? Como é retirado? M - Eu mesma, do buraco seco com uma pá. F - Quem busca? Qual a quantidade de barro que traz? Como traz? M - Eu mesma, uma lata, traz na cabeça. F - Retiravam o barro de outro local? M - Não, só dali mesmo. F - O que é considerado sujeira no barro? M - Folha, galho. F - Como guarda esse barro? M - Na lata, no saco plástico pra não secar. F - Como é o preparo do barro para a sova? M - Com um pouco de água. F - Vocês utilizam água para molhar a argila? Essa água é coletada de onde? M - sim, é encanada. F - Como é feita a modelagem? M - Com rolinhos. F - O barro vermelho dá para fazer peças? Por quê? M - Não dá liga. F - De onde é retirado o barro vermelho? M - Do buraco do barro vermelho. F - Como é o preparo da tinta vermelha? M - Misturado com água. F - Como sabe que a peça está pronta para ser polida? M - Quanto já está firme. F - O que usa para polir as peças? Por quê? M - Pedrinha, é mais fácil . F - Usava outro instrumento? Por que não usa mais? M - Não. F - Quanto tempo dura o polimento? M - Depende do tamanho da peça.
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F – Quais os materias utilizados para a pintura? M – Barro branco misturado com água e um pauzinho. F – Esse barro tem outra utilização além da pintura? Por quê? M – Não, porque não dá certo. F – O que você utiliza como pincel? Por quê? M – Um pauzinho tem que der firme para dar certo. F – Como são feitos os desenhos? Quem ensinou. M – Na peça seca, pinto com um pauzinho,aprendi com minha avó. F - Como são queimadas as peças? M - No buraco, ali nos fundos. F - Quantas peças são queimadas por vez? M - Depende do tamanho das peças. F - Qual madeira usa para a queima? M - Tem que ser um pau, assim não muito forte, né, tem um que chama de peito de pomba. F - Tem alguma que não usa mais? Por quê? M - Não, só essa mesmo. F - De onde é retirada a madeira? M – Por aqui mesmo. F - Quem queima? Quanto tempo dura a queima? M – Eu mesma, depende da quantidade de peça. F - Quanto tempo se leva para fazer um vaso grande? M – Uma semana. F - Tem alguma época especial para fazer a cerâmica? Colher o barro, a lenha? M - Tem que esperar a lua cheia, só para o barro a lenha não. F - Tem algum cuidado especial para fazer a cerâmica? M - Tem que estar com a mão limpa, não pode ter sal. F - Quais peças você produz? M - Todas as peças em miniatura, vasinho, prato. F - Teve algum período que deixou de fazer a cerâmica? Se sim, Por quê? M - É eu parei,sabe que eu parei mesmo de fazer cerâmica, por causa desse meu neto que tem deficiência, para cuidar bem dele. F - Quem faz cerâmica na sua família? M - Eu e minha filha. F - Somente as mulheres fazem? Fazem todas juntas? Somente a família? M – Sim, só as mulheres. F - Os homens fazem cerâmica? Por quê ? Qual a ajuda deles? M – Não, as vezes ajuda a buscar o barro e a lenha. F – Qual a ocupação deles na aldeia? M – Tocam roça. F - Vocês utilizam essa cerâmica ou artesanato no dia a dia ou é apenas para venda? M – Não. F - Vocês utilizam o artesanato em rituais, festas? M – Não. F - Qual a frequência da produção? M – Todo dia. F - Qual a quantidade de peça que produz por mês? M – Das pequenas sessenta. F - Ensina para alguém como fazer as peças? M - Minha filha Marivania. F - Onde você vende as peças? M - No centro cultural. F - Como vocês colocam preços nas peças?
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M - Pelo tamanho. F - Quem organiza as vendas? Vocês têm alguma associação para negociar? M – Eu mesma, não. F - Quem embala as peças para vender? Quebram muitas peças? M - Eu mesma, não. Nome da entrevistada: Ivone Polidório Idade: 53 anos Profissão: Artesã Casada. Etnia: Terena F - Onde nasceu? I – Aqui mesmo. F - Onde seus pais e familiares nasceram? I – Aqui também. F - Desde quando faz cerâmica? I – Desde pequena. F - Quem ensinou? Como foi o ensinamento? I – Minha mãe, eu ficava olhando e fui fazendo. F - De onde é retirada a argila para a produção da cerâmica? I – Aqui mesmo, lá embaixo. F - Quem retira? Como é retirado? I – Nós mesmas, lá no buraco com uma pá. F - Quem busca? Qual a quantidade de barro que traz? Como traz? I – Nós mesmas, cada uma traz uma lata, traz na bicicleta, na cabeça. F - Retiravam o barro de outro local? I – Não, sempre dali. F - O que é considerado sujeira no barro? I – Areia, folha, galho. F - Como guarda esse barro? I – No saco plástico. F - Como é o preparo do barro para a sova? I – Com água e amassa bastante. F - Vocês utilizam água para molhar a argila? Essa água é coletada de onde? I – sim, aqui da torneira. F - Como é feita a modelagem? I – Começa com um rolinho e vai juntando até formar a peça. F - O barro vermelho dá para fazer peças? Por quê? I – Não, não dá para amassar. F - De onde é retirado o barro vermelho? I – Do buraco do barro vermelho. F - Como é o preparo da tinta vermelha? I – Misturado com água. F - Como sabe que a peça está pronta para ser polida? I – Tem que olhar e ver quando já está boa. F - O que usa para polir as peças? Por quê? I – Uma pedrinha, o meu eu pegava em Corumbá , é melhor. F - Usava outro instrumento? Por que não usa mais? I – Eu usava, sabe porque essa semente de jatobá,conforme a gente vai usando, vai acabando aquela casquinha, por isso que paramos de usar . F - Quanto tempo dura o polimento? I– Depende do tamanho da peça. F – Quais os materias utilizados para a pintura?
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I – Barro branco misturado com água e um pauzinho. F – Esse barro tem outra utilização além da pintura? Por quê? I – Não, só dá para pintar. F – O que você utiliza como pincel? Por quê? I – Um pauzinho, é melhor. F – Como são feitos os desenhos? Quem ensinou. I – Na peça seca e polida, minha mãe que ensinou. F - Como são queimadas as peças? I – Ali no fundo, no buraco. F - Quantas peças são queimadas por vez? I – Umas vinte das pequenas por vez. F - Qual madeira usa para a queima? I – Não sei como fala o nome em português. F - Tem alguma que não usa mais? Por quê? I - Não. F - De onde é retirada a madeira? I – Aqui mesmo, no mato. F - Quem queima? Quanto tempo dura a queima? I – Eu e minha filha já queima também. Depende da quantidade de peça. F - Quanto tempo se leva para fazer um vaso grande? I – Uma semana pra fazer tudo. F - Tem alguma época especial para fazer a cerâmica? Colher o barro, a lenha? I – Tem que esperar a lua crescente pra buscar o barro. F - Tem algum cuidado especial para fazer a cerâmica? I - Quem faz barro, não pode mexer com panela, por causa do sal. F - Por que nem todas fazem cerâmica? I - Eles não querem. F - Quais peças você produz? I – Tudo variado, passarinho, bichinho, potinho, tudo pequeno. F – Por que produz essas peças? I – Para vender. F - Teve algum período que deixou de fazer a cerâmica? Se sim, Por quê? I - Não, sempre fiz. F - Morou fora da aldeia em algum momento? Quanto tempo? I – Sempre morei aqui. F - Quem faz cerâmica na sua família? I – Eu, minha filha, minha nora e minha neta. F - Somente as mulheres fazem? Fazem todas juntas? Somente a família? I – É, nós todas juntas. F - Os homens fazem cerâmica? Por quê ? Qual a ajuda deles? I – Não, eles não querem. As vezes busca o barro e a lenha. F – Qual a ocupação deles na aldeia? I – Quem tem terra faz roça, quem não tem sai para fora para trabalhar. Vocês utilizam essa cerâmica ou artesanato no dia a dia ou é apenas para venda? I – É só para vender. F - Vocês utilizam o artesanato em rituais, festas? I – Não. F - Qual a frequência da produção? I – Quando tem encomenda, tem que fazer todo dia. F - Qual a quantidade de peça que produz por mês? I – Mais de quarenta peças. F - Ensina para alguém como fazer as peças? I – Minha neta.
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F - Onde você vende as peças? I – Em Miranda, no centro referencial. F -- Como vocês colocam preços nas peças? I – Pelo tamanho. F - Quem organiza as vendas? Vocês têm alguma associação para negociar? I – Eu mesma, não. F - Quem embala as peças para vender? Quebram muitas peças? I - Eu mesma, não é só embalar direito. Nome da entrevistada: Dina Sebastião Nunes Idade: 50 anos Profissão: Artesã Casada e tem 4 filhos Etnia: Terena F - Onde nasceu? D – Nasci aqui mesmo. F - Onde seus pais e familiares nasceram? D – Aqui também. F - Desde quando faz cerâmica? D - Tem uns dez anos. F - Quem ensinou? Como foi o ensinamento? D – Minha mãe, ficava olhando. F - De onde é retirada a argila para a produção da cerâmica? D – Pega lá no Babaçu. F - Quem retira? Como é retirado? D - Nós mesmas, com uma pá . F - Quem busca? Qual a quantidade de barro que traz? Como traz? D – Eu, meus filhos, as crianças, traz sacos na cabeça. F - Retiravam o barro de outro local? D – Não, só dali. F - O que é considerado sujeira no barro? D - Folha, galho. F - Como guarda esse barro? D - No saco plástico. F - Como é o preparo do barro para a sova? D – Mistura com água e amassa bem. F - Vocês utilizam água para molhar a argila? Essa água é coletada de onde? D – sim, da torneira. F - Como é feita a modelagem? D – Com rolinhos até fazer a peça. F - O barro vermelho dá para fazer peças? Por quê? D – Não, é só para dar cor. F - De onde é retirado o barro vermelho? D – Lá do buraco do barro vermelho. F - Como é o preparo da tinta vermelha? D – Com um pouco de água. F - Como sabe que a peça está pronta para ser polida? D – Quando já está seca. F - O que usa para polir as peças? Por quê? D – Uma pedra, é melhor. F - Usava outro instrumento? Por que não usa mais? D –Não. F - Quanto tempo dura o polimento? D – Demora, porque tem que ficar bem lisinha.
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F – Quais os materias utilizados para a pintura? D – O barro branco com água e um pauzinho. F – Esse barro tem outra utilização além da pintura? Por quê? D – Não, só serve para pintar. F – O que você utiliza como pincel? Por quê? D – Um pauzinho firme, porque assim é mais fácil. F – Como são feitos os desenhos? Quem ensinou. D – Com esse pauzinho, minha mãe que ensinou. F - Como são queimadas as peças? D – No buraco, lá nos fundos. F - Quantas peças são queimadas por vez? D – Umas vinte, vinte e cinco pequenas . F - Qual madeira usa para a queima? D – Carvão branco. F - Tem alguma que não usa mais? Por quê? D - Não. F - De onde é retirada a madeira? D – Na mata. F - Quem queima? Quanto tempo dura a queima? D – Eu mesma, depende da quantidade de peça. F - Quanto tempo se leva para fazer um vaso grande? D – Demora uma semana. F - Tem alguma época especial para fazer a cerâmica? Colher o barro, a lenha? D– Tem que esperar a lua nova. F - Tem algum cuidado especial para fazer a cerâmica? D – A mão tem que estar limpa. F - Por que nem todas fazem cerâmica? D - Acho que é porque dá muito trabalho. F - Quais peças você produz? D – Travessas, fruteiras, pratos, jarras, bichinhos. F – Por que produz essas peças? D – Para vender. F - Teve algum período que deixou de fazer a cerâmica? Se sim, Por quê? D - Não, sempre fiz. F - Morou fora da aldeia em algum momento? D – Sempre morei aqui. F - Quem faz cerâmica na sua família? D – Eu e minha filha. F - Somente as mulheres fazem? Fazem todas juntas? Somente a família? D – Só nós duas. F - Os homens fazem cerâmicas ? Por quê? Qual a ajuda deles? D – Não, as vezes ajuda a buscar o barro a lenha. F – Qual a ocupação deles na aldeia? D – Meu marido é professor, alguns trabalham na roça. F - Vocês utilizam essa cerâmica ou artesanato no dia a dia ou é apenas para venda? D – É só para vender. F - Vocês utilizam o artesanato em rituais, festas? D – Não. F - Qual a frequência da produção? D – Todo dia. F - Qual a quantidade de peça que produz por mês? D – Cinquenta peças grandes. F - Ensina para alguém como fazer as peças?
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D – Minha filha. F - Onde você vende as peças? D – As vezes chega turista aqui, a outra a gente leva na casa do Artesão em Campo Grande e também aqui no centro referencial. F -- Como vocês colocam preços nas peças? D – Pelo tamanho. F - Quem organiza as vendas? Vocês têm alguma associação para negociar? D – Eu, não. F - Quem embala as peças para vender? Quebram muitas peças? D – Eu, não é só arrumar direito.