fotografia e historia da educação

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Discussão sobre o uso da fotografia como fonte de História da Educação

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  • 1FOTOGRAFIA E HISTRIA DA EDUCAO

    Zita Rosane Possamai1 UFRGS

    [email protected]

    Resumo: A fotografia vem sendo progressivamente investigada peloshistoriadore/as brasileiro/as. Nesse texto, levanto trs problemticasenvolvendo a contribuio dos estudos em fotografia para a Histria: aconsiderao da fotografia enquanto artefato e objeto de consumo; aimagem fotogrfica como representao visual e a preocupao com apreservao dos acervos fotogrficos. Busco indagar como essas trsquestes imbricam-se com os estudos em fotografia na rea da Histriada Educao, partindo de algumas consideraes sobre o projeto depesquisa que desenvolvo tendo como temtica a histria visual daeducao no Rio Grande do Sul, entre 1890 e 1940.

    Nos ltimos anos, os historiadores/as vm incluindo entre seus

    objetos de investigao e suas fontes documentais a cultura visual. A

    fotografia, o cinema, as obras artsticas, os monumentos, a arquitetura

    apresentam novas indagaes pesquisa histrica, anteriormente

    pautada exclusivamente pelos documentos escritos. Abre-se um domnio

    a ser descoberto e que no envolve apenas as sociedades do passado do

    ponto de vista simblico e cultural, mas tambm as esferas sociais,

    polticas e mesmo econmicas. Paulatinamente, descortina-se o universo

    da visualidade1, apresentando especificidades prprias e que ao lado de

    outras dimenses configuram representaes e prticas sociais.

    Dentre o vasto repertrio composto pela cultura visual, deter-me-ei,

    nesse texto, na fotografia. No Brasil, a partir principalmente dos anos

    1990, observa-se uma crescente preocupao com a investigao das

    imagens fotogrficas no mbito da Histria2. So inmeros os temas e

    contextos abordados a partir da imagem fotogrfica, assim como esta

    vem sendo investigada em mltiplas formas de veiculao: vistas, cartes

    postais, retratos, fotojornalismo, publicidade, lbuns.

    1 Professora da Faculdade de Educao/UFRGS.

  • 2A contribuio dos estudos em fotografia para a Histria apresenta

    vrios aspectos, dentre os quais enumerarei trs.

    Em primeiro lugar, a fotografia vem sendo investigada como

    artefato, ou seja, como engenho tcnico inventado pela sociedade

    moderna e que, como tal, pode ser estudado nas suas variveis de

    produo, circulao, consumo e recepo, o que Annateresa Fabris3

    denomina circuito social da fotografia. A partir dessa perspectiva importa

    no apenas ver as imagens fotogrficas enquanto portadoras de

    representaes da sociedade que a criou, mas pensar a fotografia

    inserida dentro de padres de visualidade criados pela modernidade, tal

    como o cinematgrafo e o cinema. Assim, a fotografia e a cultura visual

    modernas inauguram novos hbitos de consumo, relacionados

    representao visual do mundo e das coisas. A fotografia expressa uma

    determinada forma de representao visual para os homens e as

    mulheres, que passa pela cmera fotogrfica, tornando a fotografia um

    objeto de desejo dos consumidores. Assim, num primeiro momento, os

    mais afortunados adquiriram o retrato fotogrfico, retocado por um artista

    associado ao fotgrafo-retratista. Posteriormente, os cartes postais

    popularizaram as vistas fotogrficas. Finalmente, com a inveno das

    cmeras portteis, foi possvel estender a muitos o acesso ao processo

    de produo de imagens fotogrficas, antes restrito apenas aos

    profissionais.

    E o mbito da produo da fotografia o outro lado dessa cadeia,

    envolvendo os fotgrafos profissionais e seus estdios, em contexto de

    produo ainda restrita, e chegando aos amadores de toda sorte que

    chegam aos dias de hoje, sem esquecer dos amadores, reunidos, muitas

    vezes, em fotoclubes. Assim, a esfera de produo da fotografia traz

    informaes sobre um ofcio particular no mundo do trabalho, mas

    tambm mostra como a fotografia esteve ligada a formas de lazer e

    sociabilidade.

    Em segundo lugar, o estudo das imagens fotogrficas,

    propriamente ditas, aponta para formas especficas de construo de

  • 3visualidades modeladas e que modelam representaes visuais em

    contextos histricos determinados. A fotografia no apenas pode ser

    considerada veculo de representaes visuais, como tambm conforma

    visualmente realidades desejadas ou projetadas pelos sujeitos histricos.

    Isso significa dizer que o olhar fotogrfico no registra fielmente a

    realidade como espelho conforme se costuma pensar mas constri

    uma segunda realidade, segundo Boris Kossoy4, ou o que prefiro chamar

    de representao visual da realidade.

    Em terceiro lugar, os estudos que tm a fotografia como objeto vem

    contribuindo sobremaneira para a reunio, conservao, organizao e

    documentao dos acervos fotogrficos brasileiros. Este um aspecto de

    grande relevncia, tendo em vista a precariedade na qual muitas vezes

    esses acervos se encontram.

    Fotografia e Histria da Educao

    Preocupando-me, sobretudo, com a temtica de nosso Simpsio -

    Guardar para mirar: acervos e histria da educao - tentarei verificar de

    que maneira os trs aspectos acima levantados interseccionam-se com a

    Histria da Educao.

    O circuito social da fotografia, por exemplo, aponta para

    indagaes quanto presena da fotografia e de seus autores, os

    fotgrafos, no ambiente escolar. Quem eram esses fotgrafos? H

    fotgrafos que se especializaram em fotografias escolares? So estes

    fotgrafos itinerantes que perambulavam de instituio em instituio,

    buscando consumidores para a sua arte? Ou eram estes os mesmos

    estdios e fotgrafos profissionais consagrados pela sociedade,

    chamados pela escola para elaborar imagens visuais no seu interior?

    Dificilmente uma instituio escolar, mesmo aquela que

    minimamente tenha se preocupado em preservar os suportes de sua

    memria, no tenha imagens fotogrficas guardadas de sua trajetria. Se

    esta no possui fotografias, certamente os professores e professoras,

  • 4alunos e alunas guardam ao menos uma fotografia do tempo de escola.

    Posso, talvez, arriscar dizendo que mesmo estudantes de origem popular,

    freqentadores das escolas pblicas brasileiras, tenham entre seus

    guardados uma fotografia escolar em cpia ou num monculo. Isso

    suscita vrios aspectos a considerar: a existncia de um mercado

    consumidor de imagens fotogrficas; a preocupao com a perpetuao

    atravs da fotografia dos momentos vividos na escola; a quase

    obrigatoriedade do registro fotogrfico escolar. Qual era o lugar dessa

    imagem na vida dos alunos e alunas e suas famlias? Qual era o seu

    custo econmico e qual o seu peso no oramento familiar?

    Estudantes uniformizados, sentados atrs de uma mesa, sobre a

    qual uma pilha de livros e o globo eram ordenados, conformavam uma

    cena cujo pano de fundo era a bandeira brasileira. Aqueles que como eu

    foi aluno ou aluna de escolas pblicas brasileiras nos anos 1970,

    certamente tm uma dessas fotografias. Por que esse padro visual?

    Quais os significados a presentes? As imagens fotogrficas escolares de

    tempos mais remotos tambm trazem seus padres de visualidade. Os

    mestres uniformizados e sempre fotografados com preciso simtrica

    tentavam imitar um corpo visual coeso?

    As imagens fotogrficas produzidas sobre a escola e a tendo como

    cenrio dos personagens fotografados, podem indicar a presena de

    visualidades elaboradas no sentido de criao de determinadas

    representaes sobre a escola, os alunos, os professores. Entre essas

    imagens, destacam-se, sobretudo, as fotografias de arquitetura escolar e

    seus espaos, mas tambm so recorrentes os retratos individualizados

    ou em grupo de alunos e professores. As representaes visuais

    produzidas na escola esto em sintonia ou entram em contradio com as

    informaes trazidas pelas fontes escritas? Qual era a importncia da

    representao visual no ambiente escolar e que sentidos eram por esta

    engendrados? Estas so apenas algumas indagaes possveis.

    Finalmente, a mirada da histria da educao para as fotografias e

    para o domnio da cultura visual pode levar a um processo de descoberta

  • 5de repertrios ainda no conhecidos e que no esto colocados ao

    acesso pblico, localizados, sobretudo, nas instituies escolares. Esses

    acervos podem dar origem formao, criao, organizao de

    centros de documentao, arquivos ou museus escolares. Os acervos

    pblicos que contm fotografias concernentes histria da educao, por

    outro lado, podem vir a receber um sopro renovador, no sentido de sua

    melhor conservao, documentao e difuso. Nessa perspectiva,

    importa pensar que a investigao est intimamente imbricada com a

    preservao dos acervos com os quais lida a histria da educao, sendo

    dever tico dos pesquisadores contribuir para a sua melhor gesto, com

    vistas salvaguarda dos documentos da memria da educao brasileira,

    em seus mltiplos aspectos.

    Felizmente j temos alguns pesquisadores brasileiros preocupados

    com a divulgao dos acervos fotogrficos sobre a histria da educao.

    Stela Borges Almeida5 elaborou um guia de fontes fotogrficas sobre a

    histria da educao da Bahia, enquanto Armando Barros e Alda Torres

    Pinto6 levam a efeito levantamento semelhante no Rio de Janeiro.

    Alm desses corpus visuais, no podem ser negligenciadas as

    imagens fotogrficas presentes nas revistas ilustradas, lbuns e relatrios

    oficiais produzidos pelos poderes pblicos. Cada um desses repertrios

    fotogrficos pode dar Histria da Educao elementos no apenas

    complementares s fontes escritas, mas novas indagaes e respostas a

    velhos e novos problemas envolvendo a temtica.

    Uma Pedagogia Visual

    Essas consideraes tm sido levadas em conta no projeto de

    pesquisa Uma pedagogia visual: um olhar sobre a histria da educao

    no Rio Grande do Sul (1889-1940), que desenvolvo na Faculdade de

    Educao/UFRGS. O projeto compreende a cultura visual de uma forma

    bastante ampla, tendo como objetivo construir uma histria visual da

    educao no Rio Grande do Sul e em Porto Alegre. Minha hiptese

  • 6principal a da construo de uma pedagogia visual calcada sobre

    princpios da doutrina positivista.

    Os republicanos rio-grandenses, entre os quais muitos positivistas,

    davam especial importncia educao pblica, considerando-a condio

    para alcanar o progresso da sociedade, devido a sua ao civilizadora, e

    meio de sanear o corpo social. Desde o final do sculo XIX, os

    positivistas comearam a atuar na instruo pblica a partir de trs

    princpios bsicos: educao enciclopdica; educar a partir do concreto;

    nfase na educao tcnica profissionalizante7. No Rio Grande do Sul,

    um dos maiores expoentes do positivismo, Julio de Castilhos, acreditava

    ser a educao primria um dever do Estado e, nesse sentido, deu

    especial ateno escola elementar, cujo objetivo maior seria formar o

    que consideravam cidados ntegros para a prtica poltica do viver s

    claras8. O resultado dessa poltica fez do Rio Grande do Sul o estado

    com maior taxa de alfabetizao do pas, em 1920. Alm do ensino

    primrio, os positivistas deram ateno ao ensino superior, inspirados na

    concepo de Augusto Comte de uma universidade tcnica. A partir da

    criao da Escola de Engenharia, em 1896, foram criados diversos

    institutos de formao tcnica secundria, entre os quais se encontrava o

    Instituto Parob.

    Nesse sentido, o perodo republicano no Rio Grande do Sul foi

    marcado pela criao de inmeras instituies, que direta ou

    indiretamente, estavam voltadas ao ideal cvico e educativo: Escola

    Complementar, Colgio Elementar Fernando Gomes, Instituto Parob,

    Biblioteca Pblica, Museu do Estado. Foi ainda Julio de Castilhos o

    incentivador da criao de vrias dessas instituies, pois acreditava ser

    este um passo a ser dado rumo sociedade cientfica9. No bastava

    apenas cri-las, era mister torn-las visveis no espao urbano. Dessa

    forma, a capital recebeu a maior parte dessas construes suntuosas, por

    ser considerada o carto de visitas do Rio Grande do Sul, a partir do

    qual o restante do Brasil e os estrangeiros poderiam constatar o grau

    civilizatrio a que chegara o estado mais meridional do Brasil.

  • 7Essas edificaes foram inseridas em um projeto de modernizao

    da cidade orientado pelo Plano de Moreira Maciel, publicado em 1914 e

    reeditado em 1926, e que previa remodelar o centro da cidade, a partir de

    trs princpios: a higiene, o trnsito e o embelezamento. Ruas foram

    abertas, becos foram alargados, praas foram remodeladas, iluminao

    pblica eltrica foi implementada. Enfim, ps e picaretas abriram a cidade

    em verdadeira cirurgia urbana para deix-la o mais prxima possvel da

    visualidade desejada.

    Nessa visualidade ganhava especial destaque edificaes, cujas

    construes mantinham uma relao estreita com a histria da educao

    no estado. Por outro lado, pude perceber analisando os lbuns

    fotogrficos de Porto Alegre nas dcadas de 1920 e 193010 que as

    edificaes destinadas s instituies educacionais esto presentes na

    forma de imagens fotogrficas, inseridas nessas publicaes. Em alguns

    casos, davam a ver as obras realizadas pelo Governo do Estado, ao

    construir edifcios destinados a escolas, como so exemplo as imagens

    da Escola Complementar e do Colgio Elementar Fernando Gomes. Em

    outros casos, nos lbuns de edio privada, as imagens fotogrficas

    dessas edificaes tambm estavam presentes, quer se tratassem de

    instituies pblicas ou privadas, como o Ginsio Anchieta, Escola de

    Medicina, Escola de Engenharia, entre outros.

    Muitas dessas instituies receberam construes arquitetnicas

    afinadas com o gosto da poca, no qual o ecletismo figurava como o

    estilo de uma burguesia ascendente desejosa de igualar-se aos padres

    de consumo das elites europias. A anlise dessas edificaes escolares

    na visualidade da cidade de Porto Alegre investigao que pode

    levantar elementos interessantes para a histria visual da educao no

    Rio Grande do Sul.

    Assim, o escopo do projeto abrange quatro problemticas a serem

    investigadas:

    a) Anlise da configurao espacial e visual da

    cidade, no sentido de verificar a hiptese de construo

  • 8de uma pedagogia visual presente nas edificaes

    escolares;

    b) Anlise da configurao espacial e visual da

    cidade, no sentido de verificar a hiptese de construo

    de uma pedagogia visual presente nas edificaes no

    escolares: objeto especial de investigao a Praa da

    Matriz;

    c) Anlise da criao e gesto do Museu do

    Estado, posteriormente denominado Museu Julio de

    Castilhos, no sentido de verificar a sua relao com uma

    pedagogia visual inserida no ideal educativo dos

    positivistas republicanos;

    d) Anlise de imagens fotogrficas e lbuns

    fotogrficos relacionados direta ou indiretamente ao

    universo educativo no sentido de verificar a construo

    de uma pedagogia visual, presente nas representaes

    disseminadas pelas imagens fotogrficas.

    Tendo em vista a amplitude da proposta, iniciei o desenvolvimento

    da pesquisa, partindo da ltima problemtica e tendo como objeto

    principal de anlise as imagens fotogrficas. Os principais acervos

    fotogrficos j foram mapeados, assim como j foram levantadas as

    imagens fotogrficas existentes nos relatrios da Secretaria de Obras

    Pblicas do Governo do Estado e relatrios da Intendncia da capital. A

    partir desses repertrios encontrados, verificar-se- a possibilidade de

    constituio de sries que possibilitem o tratamento metodolgico

    adequado, assunto que gostaria de me deter.

    Fotografia e histria: aproximaes terico-metodolgicas

    Muito j se enfatizou sobre o despreparo dos historiadore/as em

    lidar com as imagens visuais11. No caso das imagens fotogrficas esse

    problema acentua-se sobremaneira, tendo em vista que a forma de

  • 9representao da fotografia apresenta extrema semelhana ao seu

    referente12. Assim, no incomum os estudos histricos utilizarem as

    fotografias sem ultrapassar o mero aspecto ilustrativo de informaes j

    trazidas por outras fontes e sem contribuir com indagaes concernentes

    visualidade.

    Para tentar fugir dessas armadilhas, diversos estudos, que tomam

    as imagens fotogrficas como objeto da pesquisa histrica, tm levado

    em conta algumas etapas metodolgicas a serem seguidas. A anlise

    quantitativa uma das possibilidades metodolgicas que permitem o

    manejo dos documentos fotogrficos, principalmente quando se trata de

    um conjunto bastante amplo de imagens. Assim, um dos primeiros

    procedimentos a serem seguidos seria o da identificao e definio de

    uma srie extensa e homognea sobre o tema ou problemtica a

    estudar13. Essas sries poderiam ser definidas pela origem ou

    procedncia, autoria, meio de circulao (revistas ilustradas, cartes

    postais, lbuns), entre outras possibilidades.

    No estudo de caso que estou propondo investigar, necessitarei

    subdividir os corpus visuais localizados entre duas procedncias bsicas:

    aquela que se origina a partir da produo de rgos oficiais do Governo

    do Estado e da Intendncia e aquela que se origina da sociedade de

    forma mais ampla. Nesse segundo corpus estariam os acervos

    particulares, de instituies privadas, de revistas ilustradas, entre outros.

    Embora de uma riqueza mpar a ser investigada futuramente, essas

    sries so inadequadas para o projeto de pesquisa. A seleo recair

    sobre a produo oficial presente em lbuns e relatrios.

    Obtida a srie, o passo seguinte a definio de uma grade

    interpretativa que permita um tratamento quantitativo das imagens

    fotogrficas. A elaborao dessa grade condicionada s problemticas

    investigadas, s indagaes a serem feitas s imagens. Solange Ferraz

    de Lima e Vnia Carneiro14 propem duas maneiras de indagao s

    imagens fotogrficas e que corresponderiam identificao dos

    elementos fotografados e forma como esses elementos so

  • 10

    fotografados. Assim, ter-se-ia no primeiro caso, atributos icnicos da

    imagem (edificao, rua, rvore, veculo, pessoa) e, no segundo caso,

    atributos formais. Estes ltimos, relacionados s escolhas tcnicas e

    estticas feitas pelo fotgrafo no momento em que apertou o boto (vista

    area, ponto de vista diagonal, cmera alta, alto contraste).

    A partir dessa grade e sua aplicao a todas as unidades

    fotogrficas do conjunto escolhido, possvel quantificar os atributos

    elencados. A visualizao quantitativa permite ir alm do que o olho v,

    pois muitas vezes este trai o leitor visual. Nunca podemos esquecer que a

    imagem elaborada com determinada inteno por parte do seu autor. O

    fotgrafo recorta a cena a ser fotografada, valoriza determinados

    elementos, exclui ou desvaloriza outros. O tratamento quantitativo uma

    estratgia metodolgica que busca fugir das amarras impostas pela

    imagem e por sua forma de representao. A simples quantificao de

    cada atributo j permite verificar a recorrncia de determinados referentes

    e das escolhas formais feitas pelo autor da fotografia. Importantes

    concluses podem da ser advindas.

    Um passo seguinte permite estabelecer relaes entre diversos

    atributos, criando-se padres temtico-visuais no conjunto estudado. So,

    por exemplo, determinados elementos fotografados sempre da mesma

    forma. Os padres ainda permitem agregar diversas variveis correlatas,

    permitindo obter-se dados quantitativos desses sub-conjuntos.

    Alm da perspectiva quantitativa, tenho buscado tratar

    determinadas sries como narrativas visuais. Para realizar tal intento

    necessrio, no entanto, que o corpus a ser investigado siga uma

    ordenao de criao, como so, por exemplo, os lbuns fotogrficos.

    Nesse procedimento, importa a ordenao das imagens dispostas no

    interior de um dado conjunto; as relaes construdas entre duas imagens

    ou entre vrias imagens por meio do dispositivo de agrupamento das

    mesmas.

    Seja qual for a metodologia a ser utilizada, o importante que cada

    vez mais os historiadore/as da educao preocupem-se em investigar a

  • 11

    cultura visual, em especial as imagens fotogrficas. Muitas imagens

    mudas, empoeiradas e amarelecidas aguardam nosso olhar. Um olhar

    inquiridor que alm de guardar esses documentos, busque mirar as

    representaes visuais construdas por homens e mulheres ao longo do

    tempo.

    Colgio Elementar Fernando Gomes em Porto Alegre (ttulo original). Projeto da

    secretaria de Obras Pblicas (legenda original).

    Fonte: ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. [Secretaria de Obras Pblicas].

    Obras pblicas: centenrio da Independncia. Porto Alegre: Officinas Graphicas

    dA Federao, 1922.

    Acervo: AHRGS.

  • 12

    Colgio Elementar Souza Lobo, em Porto Alegre (ttulo original). Projeto da

    secretaria de Obras Pblicas (legenda original).

    Fonte: ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. [Secretaria de Obras Pblicas].

    Obras pblicas: centenrio da Independncia. Porto Alegre: Officinas Graphicas

    dA Federao, 1922.

    Acervo: AHRGS.

  • 13

    1 MENESES, Ulpiano Bezerra de. Fontes visuais, cultura visual, Histriavisual. Balano provisrio, propostas cautelares. Revista brasileira deHistria, So Paulo, v. 23, n. 45, p. 11-36, 2003.

    2 KOSSOY, Boris. Fotografia e histria. So Paulo: tica, 1989.;TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposies naera do espetculo (1839-1889). Rio de Janeiro: Rocco, 1995. LIMA,Solange Ferraz de; MAUAD, Ana Maria. Atravs da imagem: fotografia ehistria, interfaces. Tempo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 73-98, 1996.

    3 FABRIS, Annateresa. O circuito social da fotografia: estudo de caso 1.In: ________. Fotografia: usos e funes no sculo XIX. So Paulo:Edusp, 1991. P. 39-57.

    4 KOSSOY, Boris. Realidades e fices na trama fotogrfica. 3. Ed. SoPaulo: Ateli Editorial, 2002.

    5 ALMEIDA, Stela Borges. Guia de fontes fotogrficas para a histria daeducao na Bahia. Braslia: MEC/INEP, 1995.

    6 BARROS, Armando Martins de. PINTO, Alda Torres. Elaborao de guiafotogrfico da histria da educao Fluminense: 1890/1930. BeloHorizonte: Anped, 1990.

    7 VIOLA, Slon Eduardo Annes. As propostas educativas das escolaspblicas no incio do sculo. In: GRAEBIN, Cleusa Maria G; LEAL,Elisabete. Revisitando o positivismo. Canoas: Editora La Salle, 1998. P.183-196.

    8 VIOLA, op. cit., p. 185.

    9 TAMBARA, Elomar. Positivismo e educao: a educao no Rio Grandedo Sul sob o castilhismo. Pelotas: Ed. Universitria, 1995.

    10 POSSAMAI, Zita Rosane. Cidade fotografada: memria e esquecimentonos lbuns fotogrficos Porto Alegre, dcadas de 1920 e 1930. 2 v.Tese (Doutorado em Histria) - Programa de Ps-Graduao em Histria,Instituto de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal do RioGrande do Sul, Porto Alegre, 2005.

    11 BURKE, Peter. Visto y no visto: el uso de la imagen como documentohistrico. Barcelona: Editorial Crtica, 2001; MENESSES, op. cit.

    12 MACHADO, Arlindo. A iluso espetacular: Introduo fotografia. SoPaulo: Brasiliense, 1984.

  • 14

    13 MAUAD, Ana Maria. Atravs da imagem: fotografia e histria,interfaces. Tempo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 73-98, 1996. p. 89.

    14 CARVALHO, Vnia Carneiro de. Fotografia e cidade: da razo urbana lgica do consumo. lbuns de So Paulo (1887-1954). So Paulo:Mercado de Letras, 1997.